Perfil - Revista Fundações & Obras Geotécnicas
Perfil - Revista Fundações & Obras Geotécnicas
Perfil - Revista Fundações & Obras Geotécnicas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pERFIL<br />
UM HOMEM DE VISÃO,<br />
COM ESpÍRITO EMpREENDEDOR<br />
Com cerca de 50 anos dedicados ao<br />
ensino na escola Politécnica de São<br />
Paulo (Poli-uSP), o professor Carlos<br />
eduardo Maffei é considerado um<br />
ícone do desenvolvimento dos estudos<br />
na interação entre solos e estruturas,<br />
com a elaboração de técnicas<br />
construtivas, hoje consagradas<br />
e utilizadas pelo meio técnico, sendo<br />
um consultor especializado em<br />
túneis e obras enterradas, além de<br />
ter publicado mais de 45 artigos em<br />
vários países.<br />
Formado em 1963 pela Poli-uSP,<br />
como engenheiro civil, tendo optado<br />
pela área de estruturas, o engenheiro<br />
afirma que a escolha da profissão<br />
foi consequência de uma série de<br />
circunstâncias que o levou a seguir<br />
para a área da engenharia civil e, por<br />
fim, para o setor de estruturas.<br />
“Meu pai era médico e dizia que um<br />
bom médico era aquele que entendia<br />
de matemática e química. De<br />
cálculos eu gostava, mas em química<br />
eu não era muito bom. No entanto,<br />
pretendia mesmo assim seguir essa<br />
0 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
o engenheiro carlos eduardo maffei<br />
é referência para alunos, professores<br />
e profissionais da área de estruturas e<br />
pela sua atuação em diversos segmentos<br />
como transportes, saneamento,<br />
mineração, energia e meio ambiente.<br />
Prêmio engenheiro do ano, pela<br />
empresa Promom, em 1977<br />
solenidade de posse como<br />
professor titular, em 1989<br />
– escola Politécnica da<br />
Universidade de são Paulo Maffei e família em 2011<br />
Maffei dançando com<br />
a mãe na formatura do<br />
ginásio em 1955<br />
Maffei e o filho, o engenheiro<br />
Paulo eduardo Maffei – 2006
carreira. Ao fazer a inscrição do cursinho<br />
para prestar o vestibular para<br />
medicina, me deparei com um livro<br />
aberto com informações sobre botânica,<br />
química, e, devido a outras<br />
circunstâncias, como um desconto<br />
no cursinho para engenharia, acabei<br />
seguindo para esta área”, conta.<br />
Já para o campo de estruturas, Maffei<br />
se encaminhou no quarto ano, passando<br />
a desenvolver toda sua carreira<br />
acadêmica junto ao Departamento de<br />
engenharia de estrutura e Geotécnica<br />
da escola Politécnica, tornando-se<br />
doutor em engenharia civil em 1973,<br />
professor livre-docente em 1980, até<br />
obter o cargo de professor titular em<br />
1988, lecionando até 2011.<br />
o professor Maffei considera importante<br />
a interação entre prática e<br />
ensino, pois foi através de uma obra<br />
realizada pela empresa Promon engenharia,<br />
em que ele atuava, em<br />
1969, com a construção do lote três<br />
da linha 1 do metrô de São Paulo, que<br />
ele percebeu a necessidade de compatibilização<br />
de deslocamentos de<br />
estruturas e fundações, levando-o a<br />
se aprofundar na importância da interação<br />
entre solo e estrutura.<br />
“É perceptível que há muita divisão<br />
entre o que é solo e o que é estrutura,<br />
e, com essa obra, percebi a necessidade<br />
de tornar este tema uma disciplina<br />
para ser ensinada nas universidades,<br />
ressaltando a integração e interação<br />
entre solo e estrutura”.<br />
linha 2 – Metrô de são<br />
Paulo – lote 5<br />
Metrô de são Paulo – lote 4<br />
o engenheiro foi responsável pela<br />
criação dos cursos de pós-graduação<br />
de Túneis em solo e Interação Soloestrutura,<br />
em 1980. Segundo Maffei,<br />
o curso de Solo-estrutura envolve tópicos<br />
que falam sobre a interação entre<br />
solo e estrutura em fundações rasas,<br />
profundas (em prédios e portos),<br />
além de abordar a respeito da interação<br />
em valas, galerias e em túneis.<br />
No dia 2 de maio, aconteceu no prédio<br />
da engenharia Civil da escola Politécnica,<br />
a aula magna de encerramento<br />
das atividades didáticas do professor<br />
Carlos eduardo Moreira Maffei, uma<br />
homenagem aos seus cerca de 50<br />
anos de profissão.<br />
“Algumas pessoas deixam marcas<br />
por onde passam, e o professor Maffei<br />
é uma delas. Tenho certeza que a<br />
Poli está aposentando um dos seus<br />
melhores professores. Poucos profissionais<br />
conseguem aliar a teoria,<br />
aula magna de<br />
encerramento<br />
das atividades<br />
didáticas<br />
do professor<br />
Carlos eduardo<br />
Moreira Maffei<br />
a professora do departamento de estruturas<br />
e Geotécnica da escola Politécnica da<br />
UsP e esposa do engenheiro, heloisa helena<br />
silva Gonçalves, durante o evento em<br />
homenagem ao professor Maffei<br />
a prática e a criatividade como ele<br />
tem feito ao longo desses anos”, diz<br />
a professora do Departamento de<br />
estruturas e Geotécnica da escola<br />
Politécnica da uSP e esposa do engenheiro,<br />
Heloisa Helena Silva Gonçalves,<br />
durante a homenagem.<br />
Atualmente, Maffei continua lecionando<br />
na matéria eletiva de Túneis para o<br />
quinto ano da graduação na Poli.<br />
aniversário de 70 anos, em 2011<br />
FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS •
estação lapa –<br />
Metrô de salvador<br />
túnel sob linha Verde –<br />
Centro administrativo<br />
de Minas Gerais – fase<br />
construtiva<br />
Vale do rio doce<br />
– tunnel liner,<br />
diâmetro de 6,72 m<br />
• FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS<br />
edifício núncio<br />
Malzoni – Bloco B<br />
reaprumo do edifício<br />
núncio Malzoni,<br />
Bloco a,durante o<br />
macaqueamento<br />
travessia em<br />
tubos cravados<br />
– radial leste<br />
túnel sob linha Verde<br />
– Centro administrativo<br />
de Minas Gerais –<br />
cobertura de 2,30 m<br />
atuação<br />
Na área acadêmica, além do ensino em pós-graduação,<br />
o professor Maffei lecionou nas disciplinas de Resistência<br />
dos Materiais e estabilidade das Construções e obras<br />
Subterrâneas, na graduação. Também ensinou no Instituto<br />
Superior Técnico de lisboa, em Portugal, na disciplina<br />
Interação Solo-estrutura.<br />
o engenheiro apresentou mais de 30 trabalhos em congressos<br />
e revistas, proferiu palestras e conferências nacionais<br />
e internacionais, participou de banca de doutorado<br />
e mestrado e realizou entrevistas para diferentes tipos de<br />
mídias para abordar sobre principais problemas ocasionados<br />
em relação à construções.<br />
Na parte técnica, Maffei circulou por diversos segmentos<br />
do setor, contribuindo para diferentes áreas, como<br />
transportes, edificações, saneamento, mineração, meio<br />
ambiente e energia, participando como projetista e consultor<br />
tanto do cliente quanto da construtora, atuando<br />
em projetos básicos e executivos, em obras, nas áreas<br />
de cálculos, planejamento de obra, utilização de equipamentos<br />
específicos e métodos construtivos.<br />
em 1964, juntamente com o amigo orlando Botelho Filho,<br />
criaram a empresa engenharia e Construções Botelho-Maffei<br />
ltda. Durante quatro anos realizaram diversas<br />
obras, tipicamente de estruturas, com a construção de<br />
casas e prédios, além da realização do Paço Municipal e<br />
da rodoviária de Aparecida, cidade do interior paulista.<br />
em 1968, Maffei seguiu para a Promon engenharia. em<br />
1979 foi para a Themag engenharia ltda até que, em<br />
1982, fundou a sua própria empresa, Carlos e. M. Maffei<br />
eng. S/C ltda, especializada em Consultoria e Projetos.<br />
Ao longo da carreira, importantes trabalhos foram destaque<br />
como, por exemplo, as obras realizadas na Praça XV, no Rio<br />
de Janeiro; o aumento do calado dos portos de Santos, Fortaleza,<br />
Rio de Janeiro e Santa Catarina; obras nos túneis de<br />
Salvador, São Paulo (túnel Rebouças) e Campinas; e construção<br />
de túneis de baixa cobertura, como o realizado no túnel<br />
de acesso a Cidade Administrativa de Minas Gerais.<br />
“Acredito que contribuí para acabar com certos dogmas,<br />
especialmente em engenharia de túneis, pois antes se falava<br />
que era preciso, principalmente em rodovias, que os<br />
túneis ficassem distantes um do outro, e isso não é necessário,<br />
pois o que é preciso mesmo é ter equilíbrio. Por<br />
exemplo, o túnel Rebouças não tem essa distância, sendo<br />
praticamente um ao lado do outro”, explica.<br />
Maffei participou da construção de diversas estações do<br />
metrô de São Paulo, como luz, São Bento, Sé e Túneis em<br />
Couraça entre estações luz e Brigadeiro e Prolongamento<br />
Norte, da linha Norte-Sul, entre outras; foi consultor e<br />
chefe da comissão de investigação do acidente da estação<br />
Pinheiros da linha 4 do metrô e também fez consul
Palestra soil-structure interaction<br />
Calculation Methods<br />
and engineering Practice, em<br />
saint-Petersburg, russia, 2005<br />
aula magna no auditório Francisco romeu<br />
landi, por ocasião da aposentadoria na<br />
ePUsP – 2 de maio<br />
torias no exterior como a realização<br />
de alternativas para a escavação da<br />
estação Terminal Cais do Sodré, metrô<br />
de lisboa, estudo do escoramento<br />
por meio de paredes diafragma e<br />
estroncas tubulares.<br />
outra obra importante e de grande<br />
visibilidade foi o reaprumo do edifício<br />
Núncio Malzoni, em Santos, prédio com<br />
17 andares e 4% de inclinação, um dos<br />
conhecidos edifícios tortos da cidade.<br />
Maffei também contribuiu para a<br />
revisão da Norma NC-03 da Companhia<br />
do Metropolitano de São Paulo,<br />
em 1981 e 1993.<br />
exemPloS<br />
Ao longo de sua carreira, Maffei conviveu<br />
com profissionais que o influenciaram<br />
e o ensinaram de alguma forma,<br />
contribuindo para sua formação<br />
profissional.<br />
Para Maffei, o engenheiro Paulo Franco<br />
Rocha foi como um pai na engenharia,<br />
ensinando-o tanto na faculdade quanto<br />
na profissão enquanto atuava no<br />
escritório Técnico Franco Rocha.<br />
Grupo brasileiro no<br />
Congresso de túneis em<br />
Budapeste – 2009<br />
Confraternização entre engenheiros portugueses<br />
e brasileiros, em Coimbra, Portugal<br />
Segundo Maffei, Franco Rocha apresentava<br />
os 10 mandamentos da profissão,<br />
e o engenheiro tomou para si<br />
dois que considerava de maior importância:<br />
Não combata esforços sem<br />
necessidade e Não conceba uma estrutura<br />
que não saiba calcular.<br />
outras duas pessoas que o ajudaram<br />
a pensar mais criticamente em relação<br />
aos trabalhos realizados foram,<br />
entre eles, um dos mais reconhecidos<br />
engenheiros geotécnicos do País e<br />
do mundo, Victor de Mello, e a engenheira<br />
e chefe da empresa Promon,<br />
evelina Bloem Souto.<br />
Para Maffei, faltam profissionais<br />
como eles, pois existem poucas pessoas<br />
que saibam realmente fazer uma<br />
análise crítica. “eles eram questionadores<br />
e instigavam sobre o que vinha<br />
sendo feito”. Além destes exemplos,<br />
o professor se inspirou em docentes<br />
e colegas da escola Politécnica.<br />
Segundo Maffei, a esposa, a engenheira<br />
Heloisa Helena Silva Gonçalves,<br />
especializada em solos, é uma<br />
referência pessoal e profissional, especialmente<br />
nesta área de solos.<br />
Futuro<br />
Citando o professor Milton Vargas,<br />
Maffei acredita que os profissionais<br />
tanto do Brasil quanto do mundo<br />
precisam colocar realmente a mão no<br />
solo, visitando as obras, participando<br />
diretamente das construções, unindo<br />
a prática com a teoria.<br />
homenagem do CBt durante o lançamento<br />
do livro Túneis no Brasil<br />
Com o dr. nick Barton, em Gjörvik, noruega<br />
ele também percebe que vem acontecendo<br />
uma dissociação entre o<br />
cálculo e comportamento. “estamos<br />
criando uma geração de engenheiros<br />
esquizofrênicos, pois os profissionais<br />
utilizam o computador, fazem os cálculos<br />
numéricos, mas não analisam<br />
se é aplicável na prática. Veem uma<br />
realidade no computador diferente<br />
da vida real, sem se preocuparem em<br />
ir ao campo para observar como o trabalho<br />
está sendo realizado”, explica.<br />
Segundo Maffei, a escola deve ser um<br />
local destinado a formação do aluno e<br />
não apenas um lugar para se adquirir informação,<br />
pois o conhecimento está em<br />
qualquer lugar. Para ele, o que é preciso<br />
é formar engenheiros capazes de lidar<br />
com a real prática da engenharia.<br />
“uma coisa que aprendemos é que<br />
com a engenharia podemos fazer de<br />
tudo. Temos as implicações com os<br />
custos e materiais, mas em relação à<br />
parte técnica contamos com conhecimento<br />
e especialistas, basta apenas os<br />
profissionais estarem dispostos a colocarem<br />
realmente a mão no solo.”<br />
FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS •