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N.º 187 - Novembro 2007 - 2,00 euros - Inatel

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PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID<br />

Contra a pena de morte<br />

A abolição de pena de morte em todo o mundo é um dos objectivos do Governo<br />

de Portugal, neste segundo semestre de <strong>2<strong>00</strong>7</strong>, em que desempenha a Presidência<br />

da União Europeia.<br />

Inscrever essa meta nos objectivos da<br />

presidência portuguesa tem uma forte carga<br />

simbólica, que importa salientar, ou não<br />

tenha sido Portugal o primeiro país da<br />

Europa, e um dos primeiros do mundo a abolir a<br />

pena capital, no último período do séc. XIX, já lá<br />

vai mais de um século.<br />

Adicionalmente, vale a pena referir que em<br />

todos os países de expressão portuguesa, nunca<br />

vigorou a pena de morte o que também é motivo<br />

de orgulho para todos os cidadãos lusófonos.<br />

Em pleno século XXI, que é muito mais do que<br />

do que o ciclo de luzes (que os nossos antepassados<br />

históricos vislumbraram há trezentos anos),<br />

graças aos avassaladores progressos das novas<br />

Tecnologias, em todas as áreas do conhecimento<br />

humano, fazer uma campanha contra a pena de<br />

morte, parece uma ideia bizarra e uma postura<br />

desadequada. Só o não é pela crueza dos factos: A<br />

pena de morte existe e é ainda uma prática habitual,<br />

quer em países onde há um défice em relação<br />

aos direitos humanos, como em países que são<br />

democracias estabilizadas e onde se defende, no<br />

discurso político e com toda a veemência, a liberdade<br />

e o progresso.<br />

A aplicação e administração da Justiça é uma<br />

obrigação dos Estados organizados, sendo dever<br />

dos cidadãos cumprir as leis. Uma justiça célere,<br />

atempada e acessível a todos os cidadãos, e não<br />

apenas àqueles com maior poder económico, é<br />

igualmente um imperativo das sociedades e constitui,<br />

aliás, um calcanhar de Aquiles em Estados<br />

onde ela é lenta, cara e muitas vezes inacessível a<br />

todos.<br />

A aplicação da justiça é um tema decisivo nas<br />

sociedade contemporânea, e por isso mesmo no<br />

espaço que tem na língua portuguesa o principal<br />

instrumento comum de comunicação. O direito<br />

penal vive em constante evolução, num debate<br />

nunca acabado em relação aos direitos e garantias,<br />

quer daqueles que são vítimas, quer dos prevaricadores,<br />

cuja inocência se presume até ao trânsito<br />

30 TempoLivre <strong>Novembro</strong> <strong>2<strong>00</strong>7</strong><br />

em julgado de uma condenação. Muitos defendem<br />

que há excessos de garantias para os presumíveis<br />

criminosos e criticam as malhas largas<br />

que as leis lhes facultam, para fugir às suas responsabilidades.<br />

Acriminalidade assumiu, a nível global – e<br />

vivemos um tempo cada vez mais intenso<br />

da globalização - uma dimensão<br />

nunca antes vista, com implicações<br />

gravosas para os Estados e para os cidadãos. É por<br />

isso, ou também por isso, que a aplicação da pena<br />

de morte ainda persiste e contra a qual se torna<br />

imperativo continuar a lutar para que ela deixe de<br />

figurar como último recurso na aplicação da<br />

justiça. Na desorientação em que por muito lado<br />

anda a aplicação da justiça, é tentador pensar que<br />

a pena de morte é um poderoso meio preventivo<br />

contra a criminalidade. Mas é incontroverso que<br />

temos de unir esforços para fazer com que ela seja<br />

abolida em todo o mundo. Por isso andou bem a<br />

Presidência portuguesa ao inscrever nos seus<br />

propósitos a abolição da pena de morte. ■

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