19.04.2013 Views

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Memórias Póstumas de Brás Cubas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Memórias</strong> <strong>Póstumas</strong> <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong> - as<br />

relações inter-pessoais<br />

O VERGALO<br />

Interrompeu minhas reflexões um ajuntamento;<br />

era um preto que vergalhava outro na praça. O<br />

outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas<br />

únicas palavras: - “Não, perdão, meu senhor,<br />

perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada<br />

súplica, respondia com uma vergalhada nova.<br />

- Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão,<br />

bêbado!<br />

- Meu senhor! gemia o outro.<br />

- Cala a boca, besta! replicava o vergalho.<br />

Parei, olhei ... Justos céus! Quem havia <strong>de</strong> ser o<br />

do vergalho? Nada menos que o meu moleque<br />

Prudêncio, - o que meu pai libertara alguns anos<br />

antes. Cheguei-me; ele <strong>de</strong>teve-se logo e pediu-me<br />

a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era<br />

escravo <strong>de</strong>le.<br />

- É, sim, nhonhô.<br />

- Fez-te alguma coisa?<br />

- É um vadio e um bêbado muito gran<strong>de</strong>. Ainda<br />

hoje <strong>de</strong>ixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá<br />

embaixo na cida<strong>de</strong>, e ele <strong>de</strong>ixou a quitanda para ir<br />

na venda beber.<br />

- Está bom, perdoa-lhe, disse eu.<br />

- Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pe<strong>de</strong>.<br />

Entra para casa, bêbado!<br />

Era um modo que o Prudêncio tinha <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>sfazer das pancadas recebidas, - transmitindoas<br />

a outro.Agora, porém, que era livre, dispunha<br />

<strong>de</strong> si mesmo, dos braços, das pernas, podia<br />

trabalhar, folgar, dormir, <strong>de</strong>sagrilhoado da antiga<br />

condição, agora é que ele se <strong>de</strong>sbancava:<br />

comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto<br />

juro, as quantias que <strong>de</strong> mim recebera. Capítulo 68 -<br />

O Vergalho<br />

Por Douglas Machert

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!