Temperatura e sua medição - Universidade do Porto
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<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Alcinda Maria da Costa Anacleto<br />
Departamento de Física<br />
Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />
2007
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Alcinda Maria da Costa Anacleto<br />
Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> para<br />
obtenção <strong>do</strong> grau de Mestre em Física para o Ensino<br />
Departamento de Física<br />
Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />
2007
I often say that when you can measure what you are speaking about, and<br />
express it in numbers, you know something about it; but when you cannot<br />
measure it, when you cannot express it in numbers, your knowledge is of a<br />
meagre and unsatisfactory kind.<br />
i<br />
Lord Kelvin<br />
Uma teoria tem tanto mais impacte quanto maior for a simplicidade das <strong>sua</strong>s<br />
premissas, quanto mais diversas forem as coisas relacionadas e quanto maior for<br />
a <strong>sua</strong> área de aplicabilidade. Daí a impressão profunda que a Termodinâmica<br />
clássica me causou. É a única teoria física de conteú<strong>do</strong> universal a respeito da<br />
qual estou convenci<strong>do</strong> que, no quadro da aplicabilidade <strong>do</strong>s seus conceitos<br />
básicos, nunca será ultrapassada. Somente por estas razões é uma parte muito<br />
importante da formação de um físico.<br />
Albert Einstein<br />
Deve-se dar mais crédito à observação <strong>do</strong> que às teorias, e a estas só até<br />
ao ponto em que são confirmadas pelos factos observa<strong>do</strong>s.<br />
Aristóteles<br />
A natureza não esconde os seus segre<strong>do</strong>s por malícia, mas devi<strong>do</strong> à <strong>sua</strong><br />
própria imensidão.<br />
Albert Einstein<br />
Ao meu mari<strong>do</strong>, Joaquim, e aos meus filhos, Joaquim e Inês.
Agradecimentos<br />
Ao meu orienta<strong>do</strong>r, Professor Doutor Manuel Joaquim Bastos Marques, é devi<strong>do</strong><br />
um agradecimento especial, pela disponibilidade que sempre manifestou, pelo seu<br />
inestimável apoio e incentivo, e pelas <strong>sua</strong>s valiosas sugestões científicas de cariz teórico<br />
e prático.<br />
Agradeço ao Eng. Paulo Cabral, responsável pelo laboratório de Metrologia da<br />
<strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> Instituto Electrotécnico Português, pela simpatia demonstrada e pela<br />
calibração <strong>do</strong> termómetro que foi usa<strong>do</strong> como referência no trabalho experimental. É<br />
também devida uma palavra de agradecimento ao técnico <strong>do</strong> laboratório, Sr. Inácio<br />
Gonçalves, que realizou a calibração e que esclareceu amavelmente algumas questões<br />
com ela relacionadas.<br />
Ao Departamento de Física da Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>,<br />
agradeço a disponibilidade <strong>do</strong>s seus Laboratórios e, em particular, da oficina para a<br />
construção de algum equipamento.<br />
Ao INESC-<strong>Porto</strong>, um agradecimento por disponibilizar o laboratório e o<br />
equipamento necessários à realização da experiência <strong>do</strong> termómetro de Brillouin.<br />
Ao IFIMUP, agradeço a construção <strong>do</strong> termopar Cobre-Constantan.<br />
Um obriga<strong>do</strong> à minha colega e amiga Silvina por me ouvir durante as caminhadas e<br />
pela revisão <strong>do</strong> resumo em Francês. E à minha colega e amiga Anabela Coelho agradeço<br />
os comentários sobre a Tese.<br />
Finalmente, uma palavra de agradecimento a to<strong>do</strong>s os que, de alguma forma,<br />
contribuíram para a realização deste trabalho.<br />
iii
Sumário<br />
A temperatura é, provavelmente, uma das grandezas físicas mais medidas e<br />
controladas. A temperatura está de algum mo<strong>do</strong> presente nas mais variadas situações,<br />
desde o nosso dia-a-dia até à investigação científica. As grandezas e os fenómenos físicos<br />
dependem quase sempre da temperatura, o que a torna um parâmetro da maior relevância.<br />
Além disso é uma variável importante na Termodinâmica, a qual é parte importante <strong>do</strong>s<br />
currículos <strong>do</strong> ensino básico e secundário.<br />
O trabalho apresenta<strong>do</strong> centra-se no estu<strong>do</strong> teórico e experimental da temperatura e<br />
da <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>.<br />
Numa primeira parte são aborda<strong>do</strong>s os conceitos fundamentais da Termodinâmica<br />
necessários para uma melhor compreensão <strong>do</strong>s tópicos seguintes, introduzin<strong>do</strong>-se de<br />
seguida os fundamentos de metrologia de temperatura. Estuda-se a problemática da<br />
<strong>medição</strong> de temperatura na exploração <strong>do</strong>s diversos tipos de termómetros e <strong>do</strong>s<br />
princípios físicos que lhes são subjacentes.<br />
Apresentam-se de seguida o resulta<strong>do</strong> de uma calibração de um termómetro de<br />
resistência de platina e uma intercomparação e calibração de vários termómetros, alguns<br />
<strong>do</strong>s quais basea<strong>do</strong>s em tecnologias de fibra óptica. Outras actividades experimentais,<br />
directamente relacionadas com alguns <strong>do</strong>s conceitos termodinâmicos aborda<strong>do</strong>s, são<br />
também apresentadas.<br />
Finalmente, o trabalho é concluí<strong>do</strong> apresentan<strong>do</strong>-se uma discussão centrada na<br />
definição teórica de temperatura absoluta, com base nos conceitos de Termodinâmica, e<br />
na possibilidade de definir temperatura com base em leis fundamentais da Física e da<br />
constante de Boltzmann.<br />
v
Abstract<br />
Nowadays, temperature is probably the most controlled and measured physical<br />
entity. Temperature is present in a lot of situations from scientific research to day-life.<br />
The physical phenomena and values are temperature dependent, making it an important<br />
parameter. Moreover it is a fundamental parameter in Thermodynamics; which is an<br />
important topic in Basic and Secondary School curricula.<br />
This work is built around the theoretical and experimental study of temperature and<br />
it measurement.<br />
In a first part fundamental concepts from Thermodynamics are touched. These<br />
concepts are needed to a better understanding of the next topics followed by the<br />
fundamentals of temperature metrology. The problems linked to the measurement of<br />
temperature in the context of the different thermometers, together with the physical<br />
phenomena relevant to their work are discussed.<br />
In a second part we present the calibration of a platinum thermometer in a reference<br />
laboratory and a comparison and calibration of several thermometers, some of them<br />
based on optical fibre technology. Some other experimental activities, related to some of<br />
the thermodynamic concepts discussed, are also presented.<br />
The work is concluded with a discussion focused in the theoretical definition of<br />
absolute temperature based on the Thermodynamic concepts and in the possibility of a<br />
new definition of temperature based on the fundamental laws of Physics and on the<br />
Boltzmann constant.<br />
vii
Résumé<br />
Aujourd’hui, la température est probablement l'entité physique la plus contrôlée et<br />
la plus mesurée. La température est présente dans beaucoup de situations soit dans la<br />
recherche scientifique soit dans notre quotidien. Les phénomènes et les valeurs physiques<br />
dépendent de la température, ce qui la rend un paramètre important. En plus c'est un<br />
paramètre fondamental en Thermodynamique qui est une matière importante dans des<br />
programmes d'études d'école secondaire et de base.<br />
Ce travail est établi autour de l'étude théorique et expérimentale de la température<br />
et de sa mesure.<br />
Dans une première partie, sont touchés des concepts fondamentaux de la<br />
Thermodynamique. Ces concepts sont nécessaires pour une meilleure compréhension des<br />
prochaines matières suivies des principes fondamentaux de la métrologie de la<br />
température. On étudie les problèmes liés à la mesure de la température dans le contexte<br />
des différents thermomètres, ainsi que les phénomènes physiques qui les concernent.<br />
Ensuite, on présente le calibrage d'un thermomètre de platine dans un laboratoire de<br />
référence et une comparaison et un calibrage de plusieurs thermomètres, certains d'entre<br />
eux basés sur la technologie de fibre optique. Quelques autres activités expérimentales,<br />
directement rapportées à certains des concepts thermodynamiques discutés, sont aussi<br />
présentées.<br />
On conclut le travail avec une discussion focalisée dans la définition théorique de<br />
la température absolue basée sur les concepts thermodynamiques et dans la possibilité<br />
d'une nouvelle définition de la température basée sur les lois fondamentales de la<br />
physique et sur la constante de Boltzmann.<br />
ix
Índice<br />
1 Introdução...................................................................................................................... 1<br />
1.1 Objectivos ............................................................................................................. 1<br />
1.2 A relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.......................................................................................... 1<br />
1.3 Enquadramento curricular..................................................................................... 2<br />
1.4 Estrutura da Tese................................................................................................... 6<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica............................................................................ 9<br />
2.1 Domínio da Termodinâmica ................................................................................. 9<br />
2.2 Definições fundamentais..................................................................................... 12<br />
2.2.1 Sistema, vizinhança e fronteira .................................................................. 12<br />
2.2.2 Propriedades de um sistema ....................................................................... 13<br />
2.2.3 Variáveis intensivas, extensivas e conjugadas ........................................... 14<br />
2.2.4 Equilíbrio termodinâmico........................................................................... 14<br />
2.2.5 Trabalho e calor.......................................................................................... 15<br />
2.2.6 Ligações ..................................................................................................... 16<br />
2.2.7 Processos termodinâmicos ......................................................................... 17<br />
2.2.8 Fonte de calor e fonte de trabalho .............................................................. 18<br />
2.3 Primeira Lei da Termodinâmica e Calor............................................................. 19<br />
2.3.1 Trabalho adiabático e energia interna......................................................... 19<br />
2.3.2 Formulação matemática da Primeira Lei.................................................... 20<br />
2.4 A Segunda Lei da Termodinâmica...................................................................... 21<br />
2.4.1 Enuncia<strong>do</strong>s de Kelvin-Planck e de Clausius da 2ª Lei ............................... 22<br />
2.4.2 Processos reversíveis e irreversíveis .......................................................... 24<br />
2.4.3 O ciclo e o teorema de Carnot .................................................................... 25<br />
3 Lei zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong>................................................................. 27<br />
3.1 Noção intuitiva de temperatura ........................................................................... 27<br />
3.1.1 <strong>Temperatura</strong> como sensação ...................................................................... 27<br />
3.1.2 Capacidade térmica .................................................................................... 28<br />
3.1.3 Capacidade térmica mássica da água; a caloria.......................................... 32<br />
3.1.4 Condutividade térmica ............................................................................... 33<br />
3.2 Conceito de temperatura ..................................................................................... 39<br />
3.2.1 Equilíbrio térmico ...................................................................................... 39<br />
3.2.2 Lei zero da Termodinâmica........................................................................ 40<br />
3.2.3 Definição de temperatura ........................................................................... 41<br />
3.2.4 O ponto de vista microscópio..................................................................... 46<br />
3.3 Radiação térmica................................................................................................. 49<br />
3.3.1 A teoria clássica da radiação <strong>do</strong> corpo negro ............................................. 55<br />
3.3.2 A distribuição de Boltzmann...................................................................... 62<br />
3.3.3 A teoria de Planck da radiação <strong>do</strong> corpo negro.......................................... 66<br />
4 Metrologia da temperatura........................................................................................... 71<br />
4.1 Introdução ........................................................................................................... 71<br />
4.2 Breve história da <strong>medição</strong> de temperatura.......................................................... 72<br />
4.3 Termometria e escalas termométricas................................................................. 79<br />
4.3.1 Escalas de temperaturas e princípios gerais ............................................... 79<br />
4.3.2 Termómetro de gás a volume constante ..................................................... 83<br />
4.3.3 Calibração e padrões de medida................................................................. 86<br />
4.3.4 Padrão de temperatura termodinâmica ....................................................... 89<br />
4.4 A Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong> (ITS-90) ............................................... 89<br />
xi
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação...................................................... 93<br />
5.1 Termómetros de dilatação ................................................................................... 93<br />
5.1.1 Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong>........................................................... 93<br />
5.1.2 Termómetros de dilatação de sóli<strong>do</strong>s (termómetro bimetálico) ................. 98<br />
5.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s no efeito Seebeck........................................................... 99<br />
5.2.1 Constituição................................................................................................ 99<br />
5.2.2 Características gerais ................................................................................ 100<br />
5.2.3 Princípio de funcionamento...................................................................... 100<br />
5.2.4 Efeito Seebeck .......................................................................................... 101<br />
5.2.5 O termopar................................................................................................ 103<br />
5.2.6 Efeito Peltier............................................................................................. 105<br />
5.2.7 Efeito de Thomson ................................................................................... 107<br />
5.2.8 As leis <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong>s termopares................................................ 108<br />
5.2.9 Termopares mais u<strong>sua</strong>is e <strong>sua</strong>s características ......................................... 111<br />
5.3 Termómetro de resistência ................................................................................ 114<br />
5.3.1 Termo-resistências metálicas.................................................................... 115<br />
5.3.2 Termístores............................................................................................... 120<br />
5.4 Termómetros de pressão de gás ........................................................................ 122<br />
5.5 Termómetro de radiação infravermelha e visível.............................................. 123<br />
5.5.1 Termopilha ............................................................................................... 123<br />
5.5.2 Pirómetro .................................................................................................. 124<br />
5.6 Outros termómetros e algumas curiosidades..................................................... 129<br />
5.6.1 Termómetros basea<strong>do</strong>s em cristais líqui<strong>do</strong>s ............................................. 130<br />
5.6.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s em dío<strong>do</strong>s............................................................ 131<br />
5.6.3 Termómetro decorativo de Galileu........................................................... 133<br />
5.6.4 Inferência de temperaturas atmosféricas passadas ................................... 133<br />
5.6.5 Determinação da temperatura <strong>do</strong> interior da Terra e de formação das rochas<br />
136<br />
5.6.6 Curiosidades ............................................................................................. 136<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros.......................................................... 139<br />
6.1 Calibração de um TRP (Pt-100)........................................................................ 139<br />
6.1.1 Introdução................................................................................................. 139<br />
6.1.2 Resulta<strong>do</strong> da calibração............................................................................ 140<br />
6.1.3 Curvas de ajuste <strong>do</strong>s pontos de calibração ............................................... 141<br />
6.2 Comparação e calibração de diversos termómetros .......................................... 143<br />
6.2.1 Equipamento experimental utiliza<strong>do</strong> ........................................................ 143<br />
6.2.2 Procedimento experimental ...................................................................... 145<br />
6.2.3 Resulta<strong>do</strong>s da inter-comparação............................................................... 146<br />
6.2.4 Análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s .............................................................................. 146<br />
6.2.5 Caracterização e calibração <strong>do</strong>s termístores............................................. 151<br />
6.2.6 Caracterização e calibração <strong>do</strong> termómetro de mercúrio.......................... 154<br />
6.2.7 Caracterização e calibração de uma rede de Bragg em fibra óptica ......... 155<br />
6.3 Caracterização e calibração de um Termómetro de Brillouin........................... 160<br />
6.3.1 Princípio de funcionamento...................................................................... 160<br />
6.3.2 Caracterização experimental..................................................................... 161<br />
6.4 Caracterização de uma termopilha usan<strong>do</strong> uma lâmpada de filamento de<br />
tungsténio 164<br />
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta............................................................................................. 167<br />
7.1 Definição de temperatura absoluta.................................................................... 167<br />
7.2 O zero absoluto e eficiência de Carnot.............................................................. 171<br />
7.3 A temperatura absoluta e a dada por um gás..................................................... 172<br />
7.4 <strong>Temperatura</strong> termodinâmica e termómetros primários ..................................... 173<br />
8 Conclusão................................................................................................................... 179<br />
xii
xiii<br />
3 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Referências........................................................................................................................ 181<br />
Índice de figuras................................................................................................................ 185<br />
A1 Certifica<strong>do</strong> de calibração <strong>do</strong> Pt-100......................................................................... 191<br />
A2 Laboratório de <strong>Temperatura</strong> – IPQ .......................................................................... 193<br />
A3 Laboratórios de <strong>Temperatura</strong> acredita<strong>do</strong>s................................................................ 195<br />
A4 Procedimento experimental...................................................................................... 197
1 Introdução<br />
1.1 Objectivos<br />
Com este trabalho pretende-se abordar o conceito de temperatura e a <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>.<br />
A temperatura é provavelmente a grandeza física mais medida e que se revela importante<br />
em contextos muito diversifica<strong>do</strong>s, desde o científico até ao <strong>do</strong> quotidiano.<br />
A temperatura é uma variável essencial em Termodinâmica, área da Física que<br />
aborda os fenómenos físicos <strong>do</strong> ponto de vista macroscópico e cujas leis – em particular<br />
a primeira e a segunda leis – ditam a evolução <strong>do</strong>s sistemas físicos. Por isso, e porque a<br />
Termodinâmica é, com bastante ênfase, parte integrante <strong>do</strong>s programas <strong>do</strong> ensino básico<br />
e secundário (sobretu<strong>do</strong> nos 7º e 10º anos), um outro objectivo <strong>do</strong> presente trabalho é<br />
uma abordagem sucinta <strong>do</strong>s conceitos fundamentais da Termodinâmica.<br />
Como qualquer grandeza física, a temperatura precisa de ser traduzida num número<br />
e respectiva unidade o que nos leva ao problema da <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>. Nesta perspectiva,<br />
pretende-se abordar a metrologia da temperatura e os termómetros utiliza<strong>do</strong>s em diversas<br />
situações e gamas de temperaturas. A Metrologia como ciência da <strong>medição</strong> compreende<br />
to<strong>do</strong>s os aspectos teóricos e práticos relativos à <strong>medição</strong> pelo que é essencial para<br />
assegurar a qualidade das medições e a <strong>sua</strong> validade. Assim pretende-se usar um<br />
termómetro de resistência de platina calibra<strong>do</strong> nas actividades experimentais de<br />
intercomparação de vários termómetros.<br />
Para além <strong>do</strong>s objectivos específicos referi<strong>do</strong>s, pretende-se também desenvolver<br />
actividades experimentais de <strong>medição</strong> de temperatura que envolvam uma diversidade<br />
considerável de instrumentação. Em particular o contacto com alguns termómetros que<br />
envolvem tecnologias de fibra óptica.<br />
1.2 A relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />
O enriquecimento a nível científico e tecnológico justificaria, por si só, a escolha<br />
<strong>do</strong> tema aborda<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, as vantagens que advêm deste estu<strong>do</strong> para a actividade<br />
profissional não poderiam deixar de ser realçadas.<br />
1
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Apesar de estar bem presente no quotidiano, a dificuldade <strong>do</strong> conceito de<br />
temperatura é bem patente quan<strong>do</strong> se aborda o conceito <strong>do</strong> ponto de vista científico num<br />
contexto de ensino/aprendizagem. A <strong>sua</strong> relação com as leis da Termodinâmica deve ser<br />
bem estabelecida o que implica uma compreensão abrangente da teoria, nomeadamente,<br />
de definições, de conceitos e de leis.<br />
No ensino das ciências, em particular da Física, a Metrologia, é um pré requisito<br />
importante para promover a relação ensino/aprendizagem, visto as ciências dependerem<br />
<strong>do</strong> conhecimento de grandezas que têm de ser medidas.<br />
Os alunos apresentam, frequentemente, desconhecimento de unidades e grandezas,<br />
têm dificuldades em adequar a linguagem ao significa<strong>do</strong> técnico, de acor<strong>do</strong> com as<br />
normas estabelecidas pelo Sistema Internacional de Medidas (Silva, 2005). Revelam<br />
também dificuldades em realizar procedimentos de <strong>medição</strong>.<br />
São poucos os processos de controlo ou propriedades físicas e químicas <strong>do</strong>s<br />
materiais que não dependam da temperatura. Torna-se assim importante realçar a<br />
necessidade da calibração <strong>do</strong>s sistemas de <strong>medição</strong> de temperatura, particularmente os<br />
sensores que influenciam o processo que está sob estu<strong>do</strong>, de forma a obter<br />
rastreabilidade, medir com a exactidão exigida e com uma incerteza conhecida (Castanho<br />
et al, 2004).<br />
A experiência da maioria <strong>do</strong>s laboratórios de calibração revela que cerca de 15% de<br />
to<strong>do</strong>s os instrumentos, incluin<strong>do</strong> termómetros, estão fora das especificações <strong>do</strong>s<br />
fabricantes (Castanho et al, 2004; Nicholas et al, 1995).<br />
1.3 Enquadramento curricular<br />
A reflexão que tem vin<strong>do</strong> a ser desenvolvida a partir <strong>do</strong>s anos 80 <strong>do</strong> século XX, à<br />
escala internacional, sobre as finalidades da educação científica <strong>do</strong>s jovens levou a que<br />
cada vez mais se acentuem perspectivas mais culturais sobre o ensino das ciências. O seu<br />
objectivo é a compreensão da Ciência e da Tecnologia, das relações entre uma e outra e<br />
das <strong>sua</strong>s implicações na Sociedade e no Ambiente e, ainda, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como os<br />
acontecimentos sociais se repercutem nos próprios objectos de estu<strong>do</strong> da Ciência e da<br />
Tecnologia (Ministério da Educação, 2001). Os pesquisa<strong>do</strong>res têm aponta<strong>do</strong> a<br />
importância das actividades experimentais como estratégia <strong>do</strong> ensino da Física para<br />
minimizar dificuldades de se aprender e de se ensinar de mo<strong>do</strong> significativo e consistente<br />
(Moraes et al, 2000). As actividades experimentais são ainda, no processo de<br />
ensino/aprendizagem, promotoras <strong>do</strong> desenvolvimento de competências, permitin<strong>do</strong><br />
2
3<br />
1 Introdução<br />
recuperar atrasos e contribuir para um nível de literacia e cultural mais eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
alunos que frequentam a escola, aproximan<strong>do</strong>-os <strong>do</strong>s seus colegas de países mais<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s (Ministério da Educação, 2001).<br />
Sob o ponto de vista da ciência, a visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> depende da compreensão <strong>do</strong>s<br />
fenómenos e das leis que regem esses fenómenos. Esse conhecimento, por <strong>sua</strong> vez, está<br />
vincula<strong>do</strong> ao conhecimento quantitativo das grandezas que constituem esses fenómenos.<br />
Em Física a dificuldade de aprendizagem conceptual está relacionada com a falta<br />
de compreensão da quantificação de grandezas físicas fundamentais como comprimento,<br />
tempo, massa, temperatura e <strong>do</strong>s conceitos matemáticos como o da fracção, medida e<br />
número decimal (Cunha et al, 2004). Talvez por isso o tema Grandezas e Medidas é<br />
reconheci<strong>do</strong> em <strong>do</strong>cumentos curriculares oficiais portugueses como sen<strong>do</strong> promotor da<br />
aprendizagem conceptual.<br />
Medições de grandezas físicas em geral, e em particular de temperatura, estão<br />
intimamente associadas ao trabalho experimental, que está presente em to<strong>do</strong>s os níveis de<br />
ensino associa<strong>do</strong> à Física e à Química.<br />
Assim no Ensino Básico uma das finalidades <strong>do</strong> ensino é: A compreensão da<br />
importância das medições, classificações e representações como forma de olhar para o<br />
mun<strong>do</strong> perante a <strong>sua</strong> diversidade e complexidade (Ministério da Educação, 2001).<br />
No programa de Física e Química A <strong>do</strong> Ensino Secundário, um <strong>do</strong>s objectivos é a<br />
realização de registos e de medições, utilizan<strong>do</strong> instrumentos e unidades adequadas, nas<br />
actividades experimentais. Pode ler-se: “As actividades desenvolvem-se em continuidade<br />
e articulação com a parte prática de Química, onde os alunos foram sensibiliza<strong>do</strong>s para<br />
o erro inerente à <strong>medição</strong>, <strong>sua</strong>s causas, assim como aos procedimentos a a<strong>do</strong>ptar com o<br />
fim de o minimizar e ainda para o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s algarismos significativos. Os alunos<br />
devem, portanto, continuar a ter em conta estes aspectos em todas as actividades.<br />
Terão oportunidade de, aos poucos, aprofundarem os conhecimentos sobre erros<br />
experimentais”.<br />
Nos erros experimentais está inserida a problemática da calibração <strong>do</strong>s<br />
instrumentos de <strong>medição</strong>, mas parte-se <strong>do</strong> pressuposto que estes estão calibra<strong>do</strong>s,<br />
ten<strong>do</strong>-se apenas em conta a sensibilidade da escala utilizada para a apresentação <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s. Na verdade, o conceito de calibração, de cadeia metrológica e de<br />
rastreabilidade <strong>do</strong>s instrumentos não são aborda<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>, dever-se-ia transmitir que<br />
estes conceitos são muito importantes e que, em geral, os instrumentos não se adquirem<br />
calibra<strong>do</strong>s. Muitas vezes a calibração de um instrumento tem um custo superior ao <strong>do</strong><br />
próprio instrumento e, além disso, a calibração tem de ser realizada periodicamente.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Os conceitos trata<strong>do</strong>s neste trabalho são estuda<strong>do</strong>s, em parte, no ensino básico,<br />
principalmente no 7º ano de escolaridade e no ensino secundário, em toda a componente<br />
de Física <strong>do</strong> programa de Física e Química A <strong>do</strong> 10º ano.<br />
No 7º ano de escolaridade um <strong>do</strong>s temas a estudar é o da “Energia”, ten<strong>do</strong>,<br />
sobretu<strong>do</strong>, uma contextualização social. Os conceitos de temperatura, calor e energia<br />
interna já são aborda<strong>do</strong>s nesta altura. Estes conceitos também são muito foca<strong>do</strong>s na área<br />
da Química, em diversas situações e em vários anos de escolaridade.<br />
No 10º ano de escolaridade, em toda a componente da Física, os conceitos<br />
aborda<strong>do</strong>s neste trabalho são aí explora<strong>do</strong>s. Assim, pode ler-se no programa de Física e<br />
Química A, “O programa <strong>do</strong> 10º ano desenvolve-se em torno da compreensão da Lei da<br />
Conservação da Energia, permitin<strong>do</strong> o enquadramento de diversos conceitos (de áreas<br />
como a Termodinâmica, a Mecânica e a Electricidade) numa perspectiva de educação<br />
ambiental”. Mais em pormenor, os objectivos de ensino são:<br />
MÓDULO INICIAL – Das fontes de energia ao utiliza<strong>do</strong>r<br />
1. Situação energética mundial e degradação da energia<br />
• Fontes de energia e estimativas de “consumos” energéticos nas principais<br />
actividades humanas<br />
• Transferências e transformações de energia<br />
• Degradação de energia. Rendimento<br />
• Uso racional das fontes de energia<br />
2. Conservação da energia<br />
• Sistema, fronteira e vizinhança. Sistema isola<strong>do</strong><br />
• Energia mecânica<br />
• Energia interna. <strong>Temperatura</strong><br />
• Calor, radiação, trabalho e potência<br />
• Lei da Conservação da Energia. Balanços energéticos<br />
UNIDADE 1 – Do Sol ao aquecimento<br />
Esta unidade tem como objectivo central a compreensão de que os fenómenos que<br />
ocorrem na Natureza obedecem a duas leis gerais – a 1ª e a 2ª leis da Termodinâmica –<br />
que, em conjunto, regem a evolução <strong>do</strong> Universo: o mo<strong>do</strong> como as mudanças se<br />
processam é condiciona<strong>do</strong> por uma característica sempre presente – a conservação da<br />
energia em sistemas isola<strong>do</strong>s.<br />
4
5<br />
1 Introdução<br />
1. Energia – <strong>do</strong> Sol para a Terra<br />
• Balanço energético da Terra<br />
• Emissão e absorção de radiação. Lei de Stefan-Boltzmann. Lei <strong>do</strong> deslocamento<br />
de Wien<br />
• Sistema termodinâmico<br />
• Equilíbrio térmico. Lei Zero da Termodinâmica<br />
• A radiação solar na produção da energia eléctrica – painel fotovoltaico<br />
2. A energia no aquecimento/arrefecimento de sistemas<br />
• Mecanismos de transferência de calor: condução e convecção<br />
• Materiais condutores e isola<strong>do</strong>res <strong>do</strong> calor. Condutividade térmica<br />
• 1ª Lei da Termodinâmica<br />
• Degradação da energia. 2ª Lei da Termodinâmica<br />
• Rendimento<br />
UNIDADE 2- Energia em movimentos<br />
Aqui, pretende-se continuar a explorar a ideia da conservação da energia em<br />
sistemas isola<strong>do</strong>s, dan<strong>do</strong> agora ênfase apenas a sistemas puramente mecânicos.<br />
1. Transferências e transformações de energia em sistemas complexos –<br />
aproximação ao modelo da partícula material<br />
• Transferências e transformações de energia em sistemas complexos (meios de<br />
transporte)<br />
• Sistema mecânico. Modelo da partícula material (centro de massa)<br />
• Validade da representação de um sistema pelo respectivo centro de massa<br />
• Trabalho realiza<strong>do</strong> por forças constantes que actuam num sistema em qualquer<br />
direcção<br />
• A acção das forças dissipativas<br />
2. A energia de sistemas em movimento de translação<br />
• Teorema da energia cinética<br />
• Trabalho realiza<strong>do</strong> pelo peso<br />
• Peso como força conservativa<br />
• Energia potencial gravítica<br />
• Conservação da energia mecânica<br />
• Acção das forças não conservativas<br />
• Rendimento. Dissipação de energia
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
1.4 Estrutura da Tese<br />
Embora não sen<strong>do</strong> a parte central da Tese, optou-se por apresentar a teoria<br />
relacionada com a temperatura e termómetros seguin<strong>do</strong> algumas obras apresentadas na<br />
bibliografia. Tal opção permite ao leitor encontrar num único lugar não só a parte<br />
inova<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> trabalho como também conceitos com ela relacionada.<br />
Este trabalho está organiza<strong>do</strong> em oito capítulos. No presente capítulo são<br />
apresenta<strong>do</strong>s os objectivos <strong>do</strong> trabalho, a relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e a <strong>sua</strong> inserção nos<br />
currículos da disciplina de Física e Química A.<br />
Os segun<strong>do</strong> e terceiro capítulos são em grande parte transcrições de (Anacleto,<br />
2004) e enriqueci<strong>do</strong>s com algumas actividades experimentais.<br />
Os conceitos básicos de Termodinâmica são aborda<strong>do</strong>s no segun<strong>do</strong> capítulo, onde<br />
se apresentam as leis fundamentais e as principais definições.<br />
No terceiro capítulo aborda-se conceptualmente o conceito de temperatura e a <strong>sua</strong><br />
relação com a lei zero da Termodinâmica. É também apresentada sucintamente uma<br />
interpretação microscópica da temperatura deixan<strong>do</strong>-se uma discussão mais aprofundada<br />
da temperatura absoluta para o sétimo capítulo. Estan<strong>do</strong> a radiação térmica directamente<br />
relacionada com a temperatura <strong>do</strong>s corpos e, por isso, usada na <strong>medição</strong> de temperatura,<br />
faz-se também um estu<strong>do</strong> das principais leis da radiação.<br />
O quarto capítulo é dedica<strong>do</strong> à Metrologia da temperatura. Inicia-se com uma breve<br />
história da termometria, seguin<strong>do</strong>-se uma abordagem <strong>do</strong>s aspectos metrológicos e a<br />
escala ITS-90.<br />
O quinto capítulo aborda tipos de termómetros, a <strong>sua</strong> constituição e os princípios<br />
físicos que lhes estão associa<strong>do</strong>s.<br />
O sexto capítulo é pre<strong>do</strong>minantemente de ín<strong>do</strong>le prática. São tratadas actividades<br />
experimentais, que incluem a calibração de um termómetro de resistência de platina, a<br />
intercomparação e calibração de diversos termómetros.<br />
O sétimo capítulo é dedica<strong>do</strong> ao problema teórico da definição de temperatura<br />
absoluta que ainda não está fecha<strong>do</strong>. O problema é actual e enquadra-se num avanço<br />
científico e tecnológico associa<strong>do</strong> à <strong>medição</strong> de temperatura e à qualidade da medida. A<br />
primeira parte <strong>do</strong> capítulo aborda a definição encontrada habitualmente na literatura,<br />
seguin<strong>do</strong> de perto (Zemansky et al, 1997), (Güémez et al, 1998) e (Anacleto, 2004),<br />
haven<strong>do</strong> transcrições deste último, com o objectivo de confrontá-la com uma nova<br />
redefinição, tratada na segunda parte <strong>do</strong> capítulo.<br />
6
7<br />
1 Introdução<br />
Finalmente, na Conclusão apresentam-se as contribuições <strong>do</strong> trabalho e algumas<br />
dificuldades encontradas.<br />
Como é importante no contexto <strong>do</strong> trabalho apresenta-se em anexo o <strong>do</strong>cumento de<br />
calibração <strong>do</strong> termómetro de platina utiliza<strong>do</strong> como referência nas actividades<br />
experimentais. Também se apresenta em anexo informação sobre o Laboratório de<br />
<strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> IPQ e uma indicação aos laboratórios nacionais de metrologia da<br />
temperatura acredita<strong>do</strong>s.
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
Este capítulo trata <strong>do</strong>s conceitos básicos de Termodinâmica e é em grande parte<br />
transcrição de (Anacleto, 2004). Uma das dificuldades no estu<strong>do</strong> da Termodinâmica é,<br />
muitas vezes, a falta de uma clara compreensão <strong>do</strong>s seus conceitos e definições. A<br />
reforçar esta dificuldade está também a linguagem usada que, por vezes, conflitua com a<br />
usada no dia-a-dia. Além disso, ainda perpetuam em manuais escolares alguns termos<br />
desadequa<strong>do</strong>s, que tiveram origem no percurso histórico da Termodinâmica, em etapas<br />
onde alguns conceitos não eram bem compreendi<strong>do</strong>s.<br />
Por isso, uma clarificação <strong>do</strong>s conceitos básicos de Termodinâmica, bem como <strong>do</strong>s<br />
termos e definições usa<strong>do</strong>s, afigura-se imprescindível. Uma linguagem pouco reflectida e<br />
usada com ambiguidade, algumas vezes confundin<strong>do</strong> os significa<strong>do</strong>s correntes com os<br />
significa<strong>do</strong>s científicos é por vezes utilizada, o que, alia<strong>do</strong> ao grau de abstracção inerente<br />
a alguns conceitos da Termodinâmica, não facilita o processo de ensino-aprendizagem.<br />
A linguagem não é apenas uma forma convencional de nos exprimirmos, ela é<br />
indissociável da forma de pensar, das representações abstractas inerentes a qualquer<br />
modelo físico-matemático da realidade.<br />
2.1 Domínio da Termodinâmica<br />
Etimologicamente, a palavra Termodinâmica deriva das palavras gregas therme<br />
(calor) e dynamis (potência), sen<strong>do</strong> uma descrição <strong>do</strong>s primeiros esforços para converter<br />
“calor em potência” (Çengel et al, 2001). Segun<strong>do</strong> estes autores, actualmente a palavra<br />
Termodinâmica é utilizada para referir to<strong>do</strong>s os aspectos relaciona<strong>do</strong>s com a energia e as<br />
<strong>sua</strong>s transformações.<br />
Encontra-se na literatura várias definições de Termodinâmica. Para além da já<br />
citada, podemos referir outras:<br />
• É definida frequentemente como a Ciência que estuda a dependência com a<br />
temperatura, de certas propriedades da Matéria.<br />
• Segun<strong>do</strong> Callen a Termodinâmica é o estu<strong>do</strong> das consequências a nível<br />
macroscópico de um elevadíssimo número de coordenadas atómicas que, em virtude de<br />
9
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
um cálculo estatístico de médias, não aparecem explicitamente na descrição<br />
macroscópica <strong>do</strong> sistema (Callen, 1985).<br />
• Para J. Deus, a Termodinâmica trata das transformações energéticas dentro de<br />
um sistema e das transformações energéticas, sob a forma de calor e trabalho, entre um<br />
sistema e o exterior (Deus et al, 2000).<br />
• Para Zemansky é o ramo das ciências maturais que trata das propriedades<br />
macroscópicas da natureza e inclui sempre a coordenada macroscópica temperatura<br />
(Zemansky et al, 1997).<br />
Algumas das definições encontradas para Termodinâmica reforçam concepções<br />
existentes nos alunos para o calor, como por exemplo a dada por Tipler: é a investigação<br />
da temperatura, <strong>do</strong> calor e das trocas de energia (Tipler, 1994).<br />
A Termodinâmica Clássica, ou simplesmente Termodinâmica, ocupa-se <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />
das propriedades macroscópicas <strong>do</strong>s sistemas, não assumin<strong>do</strong> um modelo para a<br />
constituição da matéria. O único requisito para que um sistema esteja sob a alçada da<br />
Termodinâmica é que ele seja macroscópico, característica que requer um critério para<br />
ser verificada. O sistema será macroscópico se puder ser descrito por variáveis cuja<br />
especificação e definição sejam totalmente independentes de qualquer assunção acerca da<br />
constituição da matéria ao nível corpuscular (Güémez et al, 1998).<br />
A compreensão da estrutura íntima da matéria, nomeadamente a certeza científica<br />
de existência <strong>do</strong>s átomos é muito recente. Feynman referia-se à importância e dificuldade<br />
em se estabelecer cientificamente a teoria atómica consideran<strong>do</strong> que se, por hipótese,<br />
to<strong>do</strong> o conhecimento fosse destruí<strong>do</strong>, com excepção de apenas um facto científico,<br />
aquele que deveria ser preserva<strong>do</strong> para permitir às gerações vin<strong>do</strong>uras a mais rápida<br />
evolução científica seria o conhecimento de que “a matéria é constituída por átomos”.<br />
É, sem dúvida, um conhecimento recente, embora uma ideia antiga (desde Demócrito).<br />
No entanto, as leis da Termodinâmica são independentes de qualquer conhecimento ou<br />
consideração a nível microscópico.<br />
Há outras áreas da ciência que abordam os sistemas <strong>do</strong> ponto de vista<br />
macroscópico, como por exemplo a Mecânica e a Óptica Geométrica. O que distingue a<br />
Termodinâmica dessas outras áreas são, basicamente, os seguintes aspectos:<br />
- A variável tempo não é considerada explicitamente em Termodinâmica.<br />
- As coordenadas espaciais não são relevantes, ou seja, a Termodinâmica não é<br />
uma teoria de campos.<br />
- A variável temperatura é essencial em Termodinâmica para descrever os sistemas<br />
e as <strong>sua</strong>s propriedades.<br />
10
11<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
Uma abordagem <strong>do</strong>s sistemas em que se tenha em conta a constituição da matéria,<br />
e onde se requer o conhecimento sobre propriedades médias das partículas individuais,<br />
basea<strong>do</strong> no tratamento estatístico <strong>do</strong> comportamento de grandes grupos de partículas é<br />
chamada Termodinâmica Estatística ou Mecânica Estatística.<br />
Embora se possa questionar se os <strong>do</strong>is pontos de vista, o macroscópico e o<br />
microscópico, são ou não incompatíveis, verifica-se que ambos, quan<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>s ao<br />
mesmo sistema, levam às mesmas conclusões. Os <strong>do</strong>is pontos de vista são conciliáveis<br />
porque as poucas propriedades mensuráveis, cuja especificação constitui o ponto de vista<br />
macroscópico, são médias, durante um da<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de tempo, de um grande número de<br />
propriedades microscópicas.<br />
A grandeza física porventura mais largamente utilizada é a energia. Embora se<br />
tenha a percepção intuitiva <strong>do</strong> que é a energia, esta grandeza é difícil de ser definida, ou<br />
mesmo impossível. Talvez a melhor forma de a definir será pelos princípios da<br />
conservação onde está envolvida. A energia pode ser vista como a capacidade de<br />
provocar alterações (Çengel et al, 2001). Para um sistema, a energia traduz a <strong>sua</strong><br />
capacidade, por interacção com o seu meio exterior, de produzir trabalho ou transferir<br />
calor (Deus et al, 2000). Trabalho e calor são assim transferências de energia,<br />
constituin<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is mecanismos gerais de troca de energia entre sistemas.<br />
O conceito de energia é, sem dúvida, o conceito mais unifica<strong>do</strong>r em Física,<br />
obedecen<strong>do</strong> ao Princípio da Conservação da Energia. Este princípio estabelece que<br />
durante uma interacção, se levarmos em conta todas as transformações, verificamos que<br />
há uma grandeza que permanece constante – a energia. A energia pode mudar de forma,<br />
mas a quantidade total permanece constante, isto é, a energia não pode ser criada nem<br />
destruída. Este princípio está expresso na Primeira Lei da Termodinâmica, que referida a<br />
um sistema fecha<strong>do</strong> pode escrever-se 1 D U = Q+ W , onde D U é a variação da energia<br />
interna <strong>do</strong> sistema 2 e Q e W são o calor e o trabalho, respectivamente, as duas interacções<br />
fundamentais para as trocas de energia. U é uma propriedade <strong>do</strong>s sistemas enquanto que<br />
Q e W referem-se a interacções (entre o sistema e a vizinhança) e dependem <strong>do</strong>s<br />
processos que levam à transformação <strong>do</strong> sistema. Por outras palavras, U é uma função de<br />
esta<strong>do</strong> e Q e W são funções de processo.<br />
1 Há autores que defendem que uma formulação mais actual desta lei deve incluir o termo radiação<br />
(Caldeira et al, 2007), embora tal formulação seja controversa (Cruz et al, 2004).<br />
2 Admite-se aqui, sem perda de generalidade conceptual, que as energias potencial e cinética<br />
macroscópicas permanecem constantes durante o processo.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Mesmo observan<strong>do</strong>-se a conservação da energia, nem to<strong>do</strong>s os processos são<br />
possíveis, ou seja, há condições adicionais a impor à forma de como decorrem os<br />
processos termodinâmicos. Estas restrições constituem a Segunda Lei da<br />
Termodinâmica. Como consequência desta lei, verifica-se uma diminuição da energia<br />
disponível para produzir trabalho, o que é caracteriza<strong>do</strong> pela grandeza termodinâmica<br />
entropia: num sistema isola<strong>do</strong> 3 a entropia não pode diminuir. Assim, podemos encarar a<br />
Termodinâmica como a ciência que estuda as interacções entre sistemas e as<br />
propriedades <strong>do</strong>s sistemas numa perspectiva da conservação da energia e da não<br />
diminuição da entropia.<br />
2.2 Definições fundamentais<br />
2.2.1 Sistema, vizinhança e fronteira<br />
O estu<strong>do</strong> de qualquer ramo das ciências começa com a definição de uma região<br />
restrita <strong>do</strong> espaço (ou de uma porção de matéria), recorren<strong>do</strong>-se a uma superfície<br />
fechada, real ou imaginária, chamada fronteira. Se a fronteira for real tem o nome de<br />
parede. A região dentro da fronteira e sobre qual recai a nosso estu<strong>do</strong> é o que<br />
designamos por sistema. Tu<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> sistema e que pode interagir com este chama-se<br />
vizinhança ou exterior, que pode ser considerada outro sistema (ver Figura 2.1). O<br />
conjunto <strong>do</strong> sistema e exterior é o universo. Um sistema pode ser dividi<strong>do</strong> em<br />
subsistemas ou ele próprio ser um subsistema de um outro maior.<br />
exterior<br />
Figura 2.1 Sistema termodinâmico constituí<strong>do</strong> pelos subsistemas A, B e C. A<br />
fronteira separa o sistema <strong>do</strong> meio exterior, e a vizinhança é a<br />
parte <strong>do</strong> exterior que interage com o sistema (Anacleto, 2004).<br />
3 Em rigor, basta que o sistema seja isola<strong>do</strong> termicamente (Güémez et al, 1998).<br />
A<br />
vizinhança<br />
12<br />
B<br />
fronteira<br />
C
13<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
O sistema pode ser fecha<strong>do</strong> ou aberto e isola<strong>do</strong> ou não-isola<strong>do</strong>. É fecha<strong>do</strong> se não<br />
troca substância com o exterior; caso contrário é aberto. É considera<strong>do</strong> isola<strong>do</strong> se não<br />
troca energia com o exterior, caso contrário diz-se não-isola<strong>do</strong>. Encontra-se<br />
frequentemente na literatura, incluin<strong>do</strong> os manuais escolares, a definição de sistema<br />
fecha<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> aquele que não troca matéria com o exterior (Güémez et al, 1998).<br />
No entanto o termo matéria não é adequa<strong>do</strong> por estar associa<strong>do</strong> à massa a qual, pela<br />
relação<br />
2<br />
E = mc , é equivalente a energia 4 . Um sistema termodinâmico fica especifica<strong>do</strong><br />
se se conhecer as <strong>sua</strong>s propriedades físico-químicas e as características da fronteira que o<br />
separa da vizinhança. Se a composição química e as propriedades físicas locais são iguais<br />
em to<strong>do</strong>s os pontos o sistema é dito homogéneo. Quan<strong>do</strong> o sistema é composto de vários<br />
subsistemas homogéneos é designa<strong>do</strong> heterogéneo.<br />
As interacções entre diferentes sistemas têm o nome de contactos termodinâmicos<br />
e dependem da natureza <strong>do</strong>s sistemas e <strong>do</strong> tipo de fronteiras. O esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema é<br />
defini<strong>do</strong> indican<strong>do</strong> o conjunto de propriedades ou variáveis físico-químicas que o<br />
caracterizam. É uma evidência experimental, o facto de que to<strong>do</strong>s os sistemas<br />
termodinâmicos isola<strong>do</strong>s têm esta<strong>do</strong>s, designa<strong>do</strong>s por esta<strong>do</strong>s de equilíbrio, cujas<br />
propriedades permanecem constantes (Güémez et al, 1998).<br />
2.2.2 Propriedades de um sistema<br />
Qualquer característica de um sistema é chamada propriedade ou variável<br />
termodinâmica. A título de exemplo, os sistemas mais simples podem ser caracteriza<strong>do</strong>s<br />
pela pressão P, a temperatura T, o volume V, e a massa m.<br />
Nem todas as propriedades são independentes, algumas são definidas em função<br />
das outras, tal como no caso de um gás a uma pressão muito baixa (gás ideal), para o<br />
qual se verifica a equação de esta<strong>do</strong> PV = n RT , onde n é a quantidade de substância<br />
expressa em moles e R é a constante molar <strong>do</strong>s gases de valor<br />
-1 -1<br />
R = 8,314 J mol K .<br />
Em termodinâmica clássica a estrutura atómica de uma substância não é<br />
considerada, sen<strong>do</strong> a substância tida como contínua, homogénea, não apresentan<strong>do</strong><br />
orifícios macroscópicos. Esta idealização é válida desde que se trabalhe com volumes,<br />
áreas e comprimentos que se apresentem demasia<strong>do</strong> grandes em relação aos espaços<br />
intermoleculares.<br />
4<br />
A relação<br />
a <strong>sua</strong> energia total E, onde c é a velocidade da luz no vazio, cujo valor exacto é<br />
2<br />
E = mc , devida a Einstein, estabelece a equivalência entre a massa m de um sistema e<br />
1<br />
299792 458 ms - .
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
2.2.3 Variáveis intensivas, extensivas e conjugadas<br />
As propriedades são extensivas se o valor da variável <strong>do</strong> sistema é igual à soma <strong>do</strong>s<br />
seus valores em qualquer conjunto de subsistemas no qual o sistema se decomponha.<br />
São, por isso, ditas variáveis globais. Como exemplo, refira-se a massa, o volume e a<br />
entropia. As propriedades são intensivas se assumirem um valor defini<strong>do</strong> em cada parte<br />
<strong>do</strong> sistema, sen<strong>do</strong> assim ditas variáveis locais. Como exemplo, temos a temperatura e a<br />
pressão. As propriedades intensivas de um sistema são independentes da massa, ao<br />
contrário das extensivas, que são proporcionais à massa.<br />
É, por vezes, útil exprimir as variáveis extensivas dividin<strong>do</strong>-as pela quantidade de<br />
substância (o que só é possível se houver uma única substância), obten<strong>do</strong>-se então<br />
variáveis molares. Se se dividirem as propriedades extensivas pela massa, obtêm-se as<br />
variáveis mássicas.<br />
Um conceito muito importante em Termodinâmica é o de variáveis conjugadas.<br />
Diz-se que duas variáveis, uma extensiva, X, e outra intensiva, Y, são conjugadas se o<br />
produto YdX for uma grandeza infinitesimal com dimensões de energia.<br />
As variáveis independentes de um sistema a que se dão valores arbitrários<br />
designam-se por parâmetros de esta<strong>do</strong>. As funções de esta<strong>do</strong> são variáveis <strong>do</strong> sistema<br />
que não se consideram independentes, uma vez que são funções <strong>do</strong>s parâmetros de<br />
esta<strong>do</strong>. A distinção entre parâmetros e funções de esta<strong>do</strong> é basicamente uma questão de<br />
conveniência. As equações de esta<strong>do</strong> relacionam as diferentes variáveis de um sistema.<br />
2.2.4 Equilíbrio termodinâmico<br />
Um sistema está em equilíbrio termodinâmico se as variáveis que o caracterizam<br />
estão definidas e permanecem constantes. Por questões conceptuais e de análise, o<br />
equilíbrio termodinâmico divide-se em equilíbrio térmico, mecânico e químico.<br />
A existência de um esta<strong>do</strong> de equilíbrio num sistema depende da <strong>sua</strong> proximidade<br />
de outros sistemas, e da natureza da fronteira que o separa <strong>do</strong>s outros sistemas.<br />
Quan<strong>do</strong> a resultante das forças e o momento resultante são nulos, no interior <strong>do</strong><br />
sistema e entre este a <strong>sua</strong> vizinhança, o sistema está num esta<strong>do</strong> de equilíbrio mecânico.<br />
Quan<strong>do</strong> estas condições não são observadas, o sistema e/ou a <strong>sua</strong> vizinhança sofrem uma<br />
mudança de esta<strong>do</strong>, que cessará quan<strong>do</strong> o equilíbrio mecânico é restabeleci<strong>do</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> um sistema em equilíbrio mecânico não tende a sofrer espontaneamente<br />
uma mudança na <strong>sua</strong> estrutura interna, tal como uma reacção química, ou uma<br />
14
15<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
transferência de substância de uma parte <strong>do</strong> sistema para outra, então está num esta<strong>do</strong> de<br />
equilíbrio químico.<br />
Um sistema em equilíbrio mecânico e químico, separa<strong>do</strong> da <strong>sua</strong> vizinhança por<br />
paredes diatérmicas 5 , está em equilíbrio térmico quan<strong>do</strong> não há mudança espontânea das<br />
<strong>sua</strong>s coordenadas termodinâmicas. No equilíbrio térmico, todas as partes <strong>do</strong> sistema<br />
estão à mesma temperatura, sen<strong>do</strong> esta a mesma que a temperatura da vizinhança.<br />
Quan<strong>do</strong> estas condições não são satisfeitas, ocorre uma mudança de esta<strong>do</strong> até o<br />
equilíbrio térmico ser atingi<strong>do</strong>. Se o sistema estiver separa<strong>do</strong> da vizinhança por paredes<br />
adiabáticas 6 , não há interacção na forma de calor e o equilíbrio termodinâmico depende<br />
apenas <strong>do</strong>s equilíbrios mecânico e químico.<br />
Se to<strong>do</strong>s os três tipos de equilíbrio são verifica<strong>do</strong>s, o sistema está num esta<strong>do</strong> de<br />
equilíbrio termodinâmico. Estes esta<strong>do</strong>s podem ser descritos em termos de coordenadas<br />
macroscópicas que não envolvem o tempo, isto é, em termos de coordenadas<br />
termodinâmicas.<br />
Quan<strong>do</strong> qualquer um <strong>do</strong>s três tipos de equilíbrio não se verifica, o sistema está num<br />
esta<strong>do</strong> de não-equilíbrio, não poden<strong>do</strong> ser descrito por coordenadas termodinâmicas<br />
que se referem ao sistema como um to<strong>do</strong>.<br />
2.2.5 Trabalho e calor<br />
Os termos trabalho e calor têm significa<strong>do</strong>s distintos em ciência e na linguagem <strong>do</strong><br />
dia-a-dia. Esta razão por si só justifica fazer-se uma referência crítica a estes conceitos.<br />
Contu<strong>do</strong>, actualmente os conceitos de trabalho e calor e as <strong>sua</strong>s definições científicas<br />
ainda são objecto de debate, conforme mostram algumas publicações recentes (Anacleto<br />
et al, 2007; Gislason et al, 2005; Besson, 2003).<br />
As interacções que permitem modificar o esta<strong>do</strong> de um sistema com base em<br />
variações expressas por um par de variáveis conjugadas mecânicas dizem-se interacções<br />
<strong>do</strong> tipo trabalho. Distinguem-se duas formas fundamentais de trabalho: trabalho de<br />
configuração e trabalho dissipativo (Güémez et al, 1998). O trabalho de configuração<br />
corresponde à organização macroscópica <strong>do</strong> sistema, como, por exemplo, no caso da<br />
variação de volume associa<strong>do</strong> ao movimento de um êmbolo. O trabalho dissipativo<br />
5<br />
Paredes diatérmicas são paredes que permitem a transferência de energia por calor entre o sistema<br />
e a vizinhança.<br />
6 Paredes adiabáticas são paredes que não permitem a transferência de energia por calor entre o<br />
sistema e a vizinhança, mesmo haven<strong>do</strong> entre eles uma diferença de temperatura.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
corresponde a uma transferência de energia para o sistema na forma de trabalho, mas não<br />
implica uma variação de volume. Como exemplo, podemos pensar na agitação de um<br />
líqui<strong>do</strong> com uma vareta.<br />
Pode também modificar-se o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema de outra forma, por exemplo,<br />
colocan<strong>do</strong> o sistema em contacto com outro sistema a uma temperatura diferente. Este<br />
tipo de interacção, que não se pode identificar com uma interacção <strong>do</strong> tipo trabalho<br />
designa-se por interacção térmica, por contacto térmico ou simplesmente por calor<br />
(Güémez et al, 1998).<br />
Os conceitos de trabalho e calor referem-se a <strong>do</strong>is tipos distintos de interacções<br />
termodinâmicas entre o sistema e a <strong>sua</strong> vizinhança e só têm significa<strong>do</strong> enquanto ocorrer<br />
a transformação <strong>do</strong> sistema.<br />
Num esta<strong>do</strong> de equilíbrio as grandezas trabalho e calor não têm significa<strong>do</strong>. Ainda<br />
se lê frequentemente “troca (ou fluxo) de calor”, mas o que se quer dizer é “troca (ou<br />
fluxo) de energia por calor”. O mesmo se verifica para a grandeza trabalho: “troca de<br />
trabalho” significa “troca de energia por trabalho”. Assim, os termos calor e trabalho<br />
aparecem-nos, por vezes, com <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s em simultâneo: o valor da energia<br />
trocada e o tipo de interacção, o que pode sugerir que o calor (ou o trabalho) é uma<br />
substância que pode passar de uns sistemas para outros, o que é erra<strong>do</strong> 7 .<br />
2.2.6 Ligações<br />
As paredes impõem condições restritivas designadas por ligações. A imposição de<br />
um volume constante é conseguida por meio de paredes rígidas. Caso contrário, as<br />
paredes são móveis ou êmbolos. As paredes rígidas não permitem a troca de energia por<br />
trabalho de configuração.<br />
A condição de sistema fecha<strong>do</strong> é originada por paredes impermeáveis. Os sistemas<br />
abertos, pelo contrário, têm paredes permeáveis.<br />
Pode fabricar-se paredes que reduzem bastante os contactos térmicos. O caso ideal<br />
e limite deste tipo de parede é o conceito de parede adiabática, que é isola<strong>do</strong>ra térmica<br />
total. Diz-se que um sistema está rodea<strong>do</strong> por uma parede adiabática quan<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong><br />
meio exterior, só for possível provocar mudanças no sistema por meio de contactos <strong>do</strong><br />
tipo trabalho. Uma parede adiabática impede a troca de energia por calor entre o sistema<br />
e a vizinhança. Uma parede não adiabática designa-se por parede diatérmica.<br />
7 Na literatura anglo-saxónica aparecem frequentemente os termos heat exchange, work exchange,<br />
heat transfer, heat capacity, entre outros.<br />
16
2.2.7 Processos termodinâmicos<br />
17<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
Designa-se por processo termodinâmico uma transformação de um esta<strong>do</strong> de<br />
equilíbrio noutro, durante a qual as propriedades <strong>do</strong> sistema variam.<br />
Quan<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> final coincide com o esta<strong>do</strong> inicial diz-se que o processo é cíclico,<br />
caso contrário diz-se que é um processo aberto.<br />
Um processo é espontâneo quan<strong>do</strong> ocorre naturalmente em consequência da<br />
eliminação de uma ou mais ligações. Durante um processo espontâneo o sistema passa,<br />
geralmente, mas não necessariamente, por situações de não-equilíbrio.<br />
Um processo infinitesimal é aquele para o qual, ao eliminarmos ou alterarmos uma<br />
ou mais ligações, as variáveis <strong>do</strong> sistema sofrem variações infinitesimais, não sain<strong>do</strong><br />
praticamente o sistema <strong>do</strong> equilíbrio. Assim, num processo finito que ocorra mediante<br />
sucessivos processos infinitesimais – processo muito lento ou quase-estático – to<strong>do</strong>s os<br />
esta<strong>do</strong>s intermédios são (praticamente) de equilíbrio.<br />
A representação <strong>do</strong>s processos quase-estáticos em diagramas de variáveis<br />
termodinâmicas correspondem a linhas contínuas que ligam os esta<strong>do</strong>s de equilíbrio<br />
inicial e final <strong>do</strong> sistema. Os processos que passam por situações de não-equilíbrio<br />
(processos não quase-estáticos) não podem ser representa<strong>do</strong>s por linhas contínuas, e<br />
representam-se, por exemplo, por linhas a traceja<strong>do</strong> (ver Figura 2.2).<br />
Y<br />
Y A<br />
dY<br />
YB<br />
A<br />
Processo não quase-estático<br />
(necessariamente irreversível)<br />
Processo quase-estático<br />
(reversível ou não)<br />
Processo infinitesimal<br />
X A<br />
dX B<br />
X X<br />
Figura 2.2 Representação, num diagrama das variáveis X e Y, de esta<strong>do</strong>s de<br />
equilíbrio e de processos termodinâmicos. Os processos quaseestáticos<br />
podem ser representa<strong>do</strong>s por linhas contínuas definidas;<br />
os processos não quase-estáticos representamos por linhas a<br />
traceja<strong>do</strong> (Anacleto, 2004).<br />
B
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
De entre os processos termodinâmicos, salienta-se os seguintes:<br />
• Processo reversível e quase-estático. É uma transformação constituída por uma<br />
sucessão de processos infinitesimais que se pode inverter em cada passo<br />
mediante uma mudança infinitesimal da vizinhança. O termo quase-estático não<br />
é equivalente ao termo reversível. Contu<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s os processos reversíveis são<br />
necessariamente quase-estáticos e, entre o sistema e a vizinhança, as trocas de<br />
energia por calor dão-se sob diferenças infinitesimais de temperatura, e as trocas<br />
de energia por trabalho dão-se por variações simétricas das variáveis<br />
deslocamento e com diferenças infinitesimais entre as forças de interacção.<br />
• Processo irreversível e quase-estático. É uma transformação constituída por<br />
uma sucessão de processos infinitesimais que não podem surgir por ordem<br />
inversa. Os esta<strong>do</strong>s são de equilíbrio, mas a troca de trabalho é dissipativa e/ou a<br />
trocas de energia por calor é originada por diferenças finitas de temperatura<br />
entre o sistema e a vizinhança.<br />
• Processo não quase-estático. É uma transformação durante a qual o sistema não<br />
passa por esta<strong>do</strong>s de equilíbrio. To<strong>do</strong>s os processos não quase-estáticos são<br />
irreversíveis e não podem representar-se em diagramas por linhas contínuas. Ao<br />
contrário, um processo quase-estático é uma sucessão de esta<strong>do</strong>s de equilíbrio<br />
que requer que as trocas de energia se processem muito lentamente.<br />
A distinção entre reversibilidade e irreversibilidade é crucial em Termodinâmica,<br />
pois nos sistemas isola<strong>do</strong>s termicamente, a entropia mantém-se nos processos<br />
reversíveis, mas aumenta nos processos irreversíveis (Anacleto, 2004).<br />
2.2.8 Fonte de calor e fonte de trabalho<br />
O conceito de fonte tem um papel relevante em Termodinâmica. São sistemas com<br />
características particulares:<br />
• Fonte de calor (ou reservatório de calor). É um sistema em completo equilíbrio<br />
interno que interage com outros trocan<strong>do</strong> energia apenas por calor. To<strong>do</strong>s os<br />
processos que nele ocorrem são reversíveis por definição. A temperatura de uma<br />
fonte de calor é bem definida.<br />
18
19<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
• Fonte de trabalho. É um sistema que interage com outro trocan<strong>do</strong> energia<br />
apenas por trabalho. To<strong>do</strong>s os processos que nele ocorrem são reversíveis e a<br />
<strong>sua</strong> pressão (mais genericamente, a força generalizada de interacção) é bem<br />
definida.<br />
A principal vantagem na descrição das interacções termodinâmicas recorren<strong>do</strong>-se<br />
aos conceitos de fontes reside no facto de to<strong>do</strong>s os fenómenos irreversíveis terem lugar<br />
no interior <strong>do</strong> próprio sistema e nas interacções deste com a <strong>sua</strong> vizinhança, não haven<strong>do</strong><br />
irreversibilidades no exterior <strong>do</strong> sistema.<br />
2.3 Primeira Lei da Termodinâmica e Calor<br />
A Primeira Lei da Termodinâmica traduz no essencial o Princípio da Conservação<br />
da Energia. Relaciona os conceitos de calor e de trabalho com o conceito de energia<br />
interna <strong>do</strong> sistema.<br />
2.3.1 Trabalho adiabático e energia interna<br />
Quan<strong>do</strong> um sistema fecha<strong>do</strong> é completamente envolvi<strong>do</strong> por uma fronteira<br />
adiabática, o sistema só pode interagir com a vizinhança através de troca de energia por<br />
trabalho. A experiência mostra que o trabalho adiabático, W a , é o mesmo para to<strong>do</strong>s os<br />
processos que ligam o mesmo esta<strong>do</strong> inicial ao mesmo esta<strong>do</strong> final. Este resulta<strong>do</strong><br />
constitui o postula<strong>do</strong> restrito da Primeira Lei da Termodinâmica (Zemansky et al, 1997):<br />
Quan<strong>do</strong> um sistema fecha<strong>do</strong> sofre processos adiabáticos entre os mesmos<br />
esta<strong>do</strong>s inicial e final, haven<strong>do</strong> portanto apenas trocas de energia por trabalho,<br />
então a energia trocada por trabalho é a mesma para to<strong>do</strong>s os processos<br />
adiabáticos considera<strong>do</strong>s.<br />
Existe, portanto, uma função de esta<strong>do</strong> cuja diferença <strong>do</strong>s valores correspondentes<br />
aos esta<strong>do</strong>s final e inicial é igual à energia trocada por trabalho adiabático entre o sistema<br />
e a <strong>sua</strong> vizinhança. Esta função é designada por energia interna, U . Temos então<br />
U - U = W<br />
(2.1)<br />
f i<br />
a
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
2.3.2 Formulação matemática da Primeira Lei<br />
Consideremos agora um processo termodinâmico arbitrário. Na Figura 2.3 está<br />
representa<strong>do</strong> um processo não-adiabático. As paredes <strong>do</strong> sistema são diatérmicas estan<strong>do</strong><br />
o gás em contacto térmico com uma chama a uma temperatura superior, ao mesmo tempo<br />
que sofre uma expansão, o que significa que houve troca de energia por trabalho, W .<br />
Gás<br />
Figura 2.3 Um gás que sofre um processo não-adiabático. Há trocas de<br />
energia por calor e por trabalho (Anacleto, 2004).<br />
Para este tipo de processos, o trabalho (diatérmico) W não é igual a U f - Uie<br />
o<br />
princípio da conservação da energia leva-nos a ter que concluir que houve transferência<br />
de energia por outros processos diferentes <strong>do</strong> trabalho. Esta energia transferida entre o<br />
sistema e a vizinhança devi<strong>do</strong> a uma diferença de temperatura entre o sistema e a <strong>sua</strong><br />
vizinhança é designada por calor, Q . Temos então a definição de calor dada por<br />
( f i)<br />
Q = U -U - W<br />
(2.2)<br />
e a Primeira Lei da Termodinâmica pode ser então escrita como<br />
D U = Q+ W<br />
(2.3)<br />
onde D U é a variação da energia interna <strong>do</strong> sistema durante o processo e Q e W as<br />
energias trocadas por calor e por trabalho, respectivamente. As grandezas energia<br />
interna, trabalho e calor têm como unidade SI o joule (J).<br />
20
21<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
A Primeira Lei expressa três ideias relacionadas entre si (Zemansky et al, 1997):<br />
(1) a existência duma função de esta<strong>do</strong>, a energia interna; (2) o princípio da conservação<br />
da energia; e (3) a definição de calor como a troca de energia que não pode ser descrita<br />
como trabalho termodinâmico.<br />
Historicamente, não foi fácil compreender que calor estava relaciona<strong>do</strong> com<br />
energia. A ideia de que calor é uma transferência de energia foi referida em 1839 por M.<br />
Séguin, um engenheiro Francês. Em 1842, Mayer, um físico Alemão, descobriu a<br />
equivalência entre calor e trabalho e formulou o Princípio da Conservação da Energia<br />
(Primeira Lei da Termodinâmica).<br />
Para um processo infinitesimal (processo que envolve variações infinitesimais das<br />
coordenadas termodinâmicas) a Primeira Lei toma a forma<br />
dU = dQ+ dW<br />
(2.4)<br />
A equação (2.4) mostra que a diferencial exacta dU é a soma de duas diferencias<br />
inexactas, d Q e d W . É interessante notar que a inexactidão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito da equação<br />
não seja encontrada no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>. Notemos que dU se refere a uma propriedade <strong>do</strong><br />
sistema (energia interna), enquanto que d Q e d W não estão relaciona<strong>do</strong>s com<br />
propriedades <strong>do</strong> sistema, mas referem-se à vizinhança, que interage com o sistema por<br />
processos de transferência de energia. d W pode ser representa<strong>do</strong> em termos <strong>do</strong> produto<br />
de uma grandeza intensiva (força generalizada) pela diferencial de uma grandeza<br />
extensiva (deslocamento generaliza<strong>do</strong>) – variáveis conjugadas. Por <strong>sua</strong> vez, d Q<br />
também pode ser expresso em termos de coordenadas termodinâmicas conjugadas, a<br />
temperatura e a entropia, d Q = TdS.<br />
2.4 A Segunda Lei da Termodinâmica<br />
Em princípio, podemos ter processos cíclicos para os quais a energia recebida por<br />
trabalho numa parte <strong>do</strong> ciclo possa ser totalmente cedida por calor noutra parte <strong>do</strong> ciclo.<br />
Por outras palavras, temos Q =- W com W > 0 , sen<strong>do</strong> a transformação de trabalho em<br />
calor é obtida com 100 % de eficiência.<br />
A situação inversa é contu<strong>do</strong> impossível. Para que ciclicamente calor seja<br />
transforma<strong>do</strong> em trabalho é necessário trocar energia por calor com, pelo menos, duas<br />
fontes, uma que cede energia por calor ao sistema e outra que recebe energia por calor <strong>do</strong>
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
sistema. Assim, a eficiência não poderá ser 100 %. A fonte que cede a energia por calor<br />
ao sistema, Q 1,<br />
é designada por fonte quente e a fonte que recebe energia por calor <strong>do</strong><br />
sistema, Q 2 , é designada por fonte fria.<br />
Um sistema que sofra um processo cíclico (designa<strong>do</strong> por máquina) e que troca<br />
energia por calor com apenas duas fontes é designa<strong>do</strong> por máquina ditérmica.<br />
Se Q 1 > 0 , Q 2 < 0 , 0<br />
W < , sen<strong>do</strong>, pela Primeira Lei, 1 2<br />
22<br />
Q > Q , então a máquina<br />
que origina o ciclo é chamada uma máquina térmica. O propósito de tal máquina é<br />
fornecer continuamente energia por trabalho ao exterior descreven<strong>do</strong> o mesmo ciclo<br />
repetidamente. A energia trocada por trabalho é a energia útil fornecida pelo sistema, e a<br />
energia trocada por calor com a fonte quente é a energia absorvida. A eficiência térmica<br />
da máquina, h , é definida como<br />
trabalho realiza<strong>do</strong><br />
Eficiência térmica = energia recebida por calor , ou seja,<br />
W W Q<br />
2<br />
h = = - = 1+<br />
(2.5)<br />
Q1 Q1 Q1<br />
2.4.1 Enuncia<strong>do</strong>s de Kelvin-Planck e de Clausius da 2ª Lei<br />
2.4.1.1 Postula<strong>do</strong> de Kelvin-Planck<br />
A Figura 2.4 a) mostra um esquema de uma máquina térmica. A experiência mostra<br />
que nenhuma máquina converte a energia extraída por calor da fonte quente em energia<br />
cedida por trabalho sem rejeitar alguma energia por calor para a fonte fria. Esta restrição<br />
negativa constitui a Segunda Lei da Termodinâmica e pode ser formulada de várias<br />
formas. Uma delas é o postula<strong>do</strong> de Kelvin-Planck (PK):<br />
PK: É impossível construir uma máquina térmica que, operan<strong>do</strong> ciclicamente,<br />
não produza nenhum outro efeito para além <strong>do</strong> de extrair energia por calor de<br />
uma fonte e realizar uma quantidade equivalente de trabalho.
FONTE<br />
QUENTE<br />
Q 1<br />
Q 2<br />
23<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
a) b)<br />
Figura 2.4 Representação esquemática da operação de: a) uma máquina<br />
térmica; e b) uma máquina frigorífica (Anacleto, 2004).<br />
2.4.1.2 Postula<strong>do</strong> de Clausius<br />
Se imaginarmos um ciclo realiza<strong>do</strong> numa sequência de transformações oposta à da<br />
máquina térmica, obtemos o que se designa por máquina frigorífica, conforme se ilustra<br />
na Figura 2.4 b). Pela Primeira Lei, Q1+ Q2 + W = 0 , sen<strong>do</strong> agora Q 1 < 0 , Q 2 > 0 e<br />
W > 0 , o que nos permite escrever<br />
Q1 = W + Q2<br />
(2.6)<br />
O propósito de uma máquina frigorífica é retirar energia por calor da fonte fria ou<br />
ceder energia por calor à fonte quente. No primeiro caso, a eficiência, h F , é definida por<br />
Q2 Q1<br />
h F = = -1- (2.7)<br />
W W<br />
No segun<strong>do</strong> caso, a máquina frigorífica é designada por bomba de calor, e a<br />
eficiência, h BC , é definida mais convenientemente por<br />
W<br />
Q1 Q2<br />
h BC = = 1+<br />
(2.8)<br />
W W<br />
W<br />
FONTE<br />
QUENTE<br />
Q 1<br />
Sistema Sistema<br />
FONTE<br />
FRIA<br />
Q 2<br />
FONTE<br />
FRIA
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
O propósito da máquina frigorífica é extrair a máxima energia por calor Q 2 da<br />
fonte fria com o menor dispêndio possível de trabalho. É sempre necessário haver troca<br />
de energia por trabalho para se transferir energia por calor de uma fonte fria para uma<br />
fonte quente. Esta constatação restritiva leva-nos ao postula<strong>do</strong> de Clausius da Segunda<br />
Lei (PC):<br />
PC: É impossível construir uma máquina frigorífica que, funcionan<strong>do</strong><br />
ciclicamente, não produza nenhum outro efeito para além <strong>do</strong> de transferir energia<br />
por calor de uma fonte para outra a uma temperatura superior.<br />
Os <strong>do</strong>is postula<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> à primeira vista diferentes, são equivalentes e constituem<br />
possíveis enuncia<strong>do</strong>s da Segunda Lei (Zemansky et al, 1997). Há outros enuncia<strong>do</strong>s da<br />
Segunda Lei, tais como o de Sears-Kestin e o de Carathéo<strong>do</strong>ry (Güémez et al, 1998).<br />
2.4.2 Processos reversíveis e irreversíveis<br />
O conceito de processo reversível é fundamental em termodinâmica. Um processo<br />
é dito reversível se ocorre de tal forma que, no final <strong>do</strong> mesmo, quer o sistema quer o<br />
exterior podem ser restituí<strong>do</strong>s aos seus esta<strong>do</strong>s iniciais sem produzir quaisquer<br />
mudanças no resto <strong>do</strong> Universo. Um processo que não satisfaz totalmente estes<br />
requisitos é dito irreversível (Zemansky et al, 1997).<br />
A questão que imediatamente se levanta é se os processos naturais, em particular,<br />
os processos que nos são familiar, são reversíveis ou não. Como fenómenos dissipativos<br />
estão presentes em to<strong>do</strong>s os processos reais, então, to<strong>do</strong>s os processos naturais são<br />
irreversíveis. Contu<strong>do</strong>, o conceito de processo reversível é uma idealização útil, pois<br />
podemos na prática ter processos aproximadamente reversíveis, e porque permite<br />
introduzir o conceito de entropia.<br />
Um processo será reversível se ocorrer quase-estaticamente e se não for<br />
acompanha<strong>do</strong> por nenhum efeito dissipativo (por exemplo atrito). Como é impossível<br />
satisfazer estas duas condições perfeitamente, é óbvio que um processo reversível é uma<br />
abstracção ideal, muito útil em cálculos teóricos, mas afastada da realidade.<br />
24
2.4.3 O ciclo e o teorema de Carnot<br />
25<br />
2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />
Um ciclo de Carnot é um processo cíclico reversível constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is processos<br />
adiabáticos e <strong>do</strong>is processos isotérmicos. Durante o ciclo o sistema troca energia por<br />
calor com duas fontes. A fonte com maior temperatura, T 1 , é a fonte quente e a fonte com<br />
temperatura menor, T 2 , é a fonte fria. As energias trocadas por calor com as fontes<br />
quente e fria são denota<strong>do</strong>s por Q 1 e Q 2 , respectivamente. Em princípio, um ciclo de<br />
Carnot pode ser leva<strong>do</strong> a cabo por qualquer sistema termodinâmico. A Figura 2.5<br />
representa um ciclo de Carnot num diagrama P-V.<br />
Uma máquina que opera num ciclo de Carnot é designada por máquina de Carnot.<br />
A máquina de Carnot é uma máquina reversível. O ciclo pode ser realiza<strong>do</strong> em qualquer<br />
senti<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> é realiza<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> oposto ao considera<strong>do</strong> na Figura 2.5 obtemos um<br />
frigorífico de Carnot.<br />
P<br />
2<br />
1<br />
Q 1<br />
Q 2<br />
V<br />
Figura 2.5 Ciclo de Carnot representa<strong>do</strong> num diagrama P-V (Anacleto,<br />
2004).<br />
A máquina de Carnot tem uma eficiência máxima. Este facto constitui o Teorema<br />
de Carnot, que pode ser enuncia<strong>do</strong> da seguinte forma:<br />
Nenhuma máquina térmica que opere entre duas fontes pode ser mais eficiente<br />
<strong>do</strong> que uma máquina de Carnot operan<strong>do</strong> entre as mesmas fontes.<br />
3<br />
4<br />
T 1<br />
T 2
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A prova <strong>do</strong> teorema pode ser encontrada em vários livros de texto de<br />
Termodinâmica (por exemplo, Zemansky et al, 1997). Decorre <strong>do</strong> teorema de Carnot o<br />
seguinte corolário <strong>do</strong> teorema de Carnot pode ser demonstra<strong>do</strong> facilmente (Zemansky et<br />
al, 1997):<br />
Todas as máquinas de Carnot que operam entre as mesmas fontes têm a<br />
mesma eficiência.<br />
A natureza <strong>do</strong> sistema que realiza o ciclo de Carnot não tem influência na<br />
eficiência da máquina de Carnot. A característica essencial de uma máquina de Carnot é<br />
que é reversível e opera entre duas fontes apenas. Além disso, as características da<br />
máquina de Carnot são independentes <strong>do</strong> sistema termodinâmico que realiza o ciclo.<br />
26
3 Lei zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
A primeira parte deste capítulo contém algumas transcrições de (Anacleto, 2004),<br />
enriquecidas com actividades experimentais.<br />
3.1 Noção intuitiva de temperatura<br />
A temperatura é, talvez, a grandeza física mais considerada no dia-a-dia. No<br />
<strong>do</strong>mínio científico a temperatura está presente em quase to<strong>do</strong>s os fenómenos naturais e<br />
quase todas as grandezas físicas dependem da temperatura. Contu<strong>do</strong> a <strong>sua</strong> compreensão<br />
não é fácil e requer uma reflexão demorada.<br />
3.1.1 <strong>Temperatura</strong> como sensação<br />
O conceito de temperatura teve uma origem nas vivências <strong>do</strong> homem. Segun<strong>do</strong> J.<br />
Deus, a noção de temperatura está ligada às sensações de quente e de frio, ou seja, à<br />
quantidade de aquecimento (Deus et al, 2000). Para Abreu, a temperatura é a grandeza<br />
que nos diz quão quente ou frio está um corpo (Abreu et al, 1994). Quan<strong>do</strong> sentimos que<br />
um corpo está “quente”, dizemos que a <strong>sua</strong> temperatura é elevada. De mo<strong>do</strong> análogo,<br />
quan<strong>do</strong> sentimos que um corpo está “frio”, dizemos que a <strong>sua</strong> temperatura é baixa. No<br />
entanto, a nossa percepção de quente e frio é, por vezes, engana<strong>do</strong>ra. Por exemplo, sentese<br />
a sensação de frio quan<strong>do</strong> se anda descalço e se passa de um chão de alcatifa para um<br />
de tijoleira à mesma temperatura.<br />
A resposta <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s relativamente à temperatura de um corpo é subjectiva e<br />
qualitativa. Além disso, podemos ter sensações que não correspondem à relação entre as<br />
temperaturas <strong>do</strong>s corpos em que tocamos. Para além das condições fisiológicas <strong>do</strong><br />
indivíduo, as sensações são determinadas em função de certas grandezas físicas que, no<br />
caso da temperatura, são fundamentalmente a capacidade térmica mássica e a<br />
condutividade térmica das substâncias. Abordaremos seguidamente estas duas grandezas<br />
e apresentamos a <strong>sua</strong> determinação experimental para <strong>do</strong>is metais.<br />
27
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
3.1.2 Capacidade térmica<br />
A capacidade térmica refere-se à quantidade de energia por calor necessária para<br />
que a temperatura de um sistema de massa m aumente de uma unidade (1 K). O termo<br />
“capacidade calorífica”, que ainda é muito utiliza<strong>do</strong> (sobretu<strong>do</strong> nos manuais <strong>do</strong> ensino<br />
superior), implica que o sistema possa armazenar calor, o que é uma ideia errada, pois o<br />
calor não é uma função de esta<strong>do</strong>, ao contrário da energia interna. Uma possibilidade<br />
seria dizer-se capacidade energética interna, mas optámos pelo termo capacidade<br />
térmica, porque pretendemos relacionar a energia trocada por calor com a variação de<br />
temperatura <strong>do</strong> sistema.<br />
Quan<strong>do</strong> um sistema recebe energia por calor, uma mudança da <strong>sua</strong> temperatura<br />
pode ou não ocorrer, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo que o sistema sofre. Se a temperatura de<br />
um sistema variar de T i para T f durante a troca de Q unidades energia por calor com a<br />
<strong>sua</strong> vizinhança, a capacidade térmica média <strong>do</strong> sistema é definida pela razão<br />
Capacidade térmica média<br />
=<br />
Q<br />
T - T<br />
f i<br />
28<br />
(3.1)<br />
Quan<strong>do</strong> a diferença Tf- Titende<br />
para zero, esta razão aproxima-se de um valor<br />
limite, designa<strong>do</strong> por capacidade térmica C,<br />
C =<br />
lim<br />
Tf ÆTi<br />
Q<br />
T -T<br />
f i<br />
ou, à temperatura T i ,<br />
(3.2)<br />
d Q<br />
C = (3.3)<br />
dT<br />
A capacidade térmica C é medida em<br />
1<br />
JK - no sistema SI. Notemos que o segun<strong>do</strong><br />
membro de (3.3) não é a derivada de uma função, mas sim a razão de duas grandezas<br />
infinitesimais d Q e dT . A capacidade térmica mássica é definida como<br />
C 1 d Q<br />
c = = (3.4)<br />
m m dT<br />
onde m é a massa <strong>do</strong> sistema, ten<strong>do</strong> c como unidade<br />
-1 - 1<br />
JK kg .
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Uma mole é definida como a quantidade de substância que contém tantas entidades<br />
elementares (átomos, moléculas, iões, electrões, ou outras partículas) como de átomos<br />
existentes em, exactamente, 0,012 kg de 12 C. Este número de átomos de 12 C é chama<strong>do</strong><br />
número de Avogadro N A e é igual a<br />
23<br />
6,022 ¥ 10 partículas por mole. Se a massa de um<br />
átomo for m, então a massa de uma mole de átomos é M = mNA<br />
. Esta quantidade é a<br />
massa molar M, sen<strong>do</strong> a quantidade de substância n dada por ( massa total)<br />
n= M . Se C<br />
é a capacidade térmica de n moles, então a capacidade térmica molar c, ten<strong>do</strong> como<br />
unidade<br />
-1 - 1<br />
JK mol , é definida por<br />
C 1 d Q<br />
c = = (3.5)<br />
n n dT<br />
As capacidades térmicas mássicas e molares eram anteriormente designadas por<br />
calores específicos, mas tal designação é inadequada e prejudicial à compreensão <strong>do</strong><br />
conceito de calor, corroboran<strong>do</strong> a teoria <strong>do</strong> calórico.<br />
A capacidade térmica pode ser negativa, zero, positiva, ou infinita, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
processo que o sistema sofre durante a transferência de energia por calor. A capacidade<br />
térmica tem um valor defini<strong>do</strong> apenas para um processo defini<strong>do</strong>. Para um sistema<br />
hidrostático 8 , d QdTtem<br />
um valor único para todas as medições realizadas a pressão<br />
constante. Nestas condições, C é chama<strong>do</strong> a capacidade térmica a pressão constante e é<br />
denotada por C P , sen<strong>do</strong><br />
C<br />
P<br />
ÊdQˆ = Á<br />
Ë<br />
˜<br />
dT ¯ (3.6)<br />
P<br />
Analogamente, a capacidade térmica a volume constante, C V , é o resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong><br />
manten<strong>do</strong> o volume constante; assim,<br />
C<br />
V<br />
ÊdQˆ = Á<br />
Ë<br />
˜<br />
dT ¯<br />
V<br />
(3.7)<br />
8<br />
Um sistema hidrostático é um sistema termodinâmico com massa e composição constantes e que<br />
exerce sobre a <strong>sua</strong> vizinhança uma pressão hidrostática uniforme, na ausência de campos<br />
gravitacionais e electromagnéticos. Os sistemas hidrostáticos são normalmente caracteriza<strong>do</strong>s<br />
pelas variáveis pressão, P, volume, V, e temperatura, T (Zemansky et al, 1997).<br />
29
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Em geral, P C e V C assumem valores diferentes, com CP> CV,<br />
e são funções da<br />
pressão e da temperatura 9 .<br />
A capacidade térmica mássica a volume constante depende da temperatura da<br />
forma como é ilustrada na Figura 3.1. A altas temperaturas o valor de c V é próximo de<br />
3R , onde<br />
-1 -1<br />
R = 8,314 J K mol é a constante <strong>do</strong>s gases ideais. As altas temperaturas<br />
também incluem as temperaturas ambiente vulgares. O facto de c V ser aproximadamente<br />
igual a 3R para altas temperaturas independentemente da substância é chamada lei de<br />
Dulong et Petit.<br />
O desvio desta lei a temperaturas baixas é evidente da Figura 3.1, quan<strong>do</strong> T<br />
decresce, c V também decresce, e anula-se no zero absoluto. Perto <strong>do</strong> zero absoluto a<br />
capacidade térmica mássica c V é proporcional a<br />
30<br />
3<br />
T . A explicação deste comportamento<br />
é dada pela teoria quântica, por exemplo, pelos modelos de Einstein e Debye para a<br />
capacidade térmica mássica (Omar, 1993).<br />
c V<br />
3R<br />
0<br />
T / K<br />
Figura 3.1 Capacidade térmica mássica a volume constante, c V , em função<br />
da temperatura. c V tende para zero quan<strong>do</strong> T tende para zero.<br />
A determinação da capacidade térmica mássica de uma substância pode ser obtida<br />
pelo méto<strong>do</strong> das misturas (ver anexo A4). No caso da determinação da capacidade<br />
térmica de um sóli<strong>do</strong>, recorre-se a um calorímetro de capacidade térmica conhecida, onde<br />
se mistura uma dada quantidade de água, à temperatura q água , com uma amostra <strong>do</strong><br />
9<br />
Uma questão interessante a colocar aos alunos é: por que é que P C é maior que C V ?
31<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
sóli<strong>do</strong>, à temperatura q sóli<strong>do</strong> , obten<strong>do</strong>-se a temperatura final da mistura no equilíbrio q f .<br />
Usan<strong>do</strong> o princípio da conservação da energia, a capacidade térmica mássica <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong>,<br />
c , é dada pela expressão<br />
( mágua + E)(<br />
qf-qágua )<br />
c =<br />
c<br />
m<br />
( q -q<br />
)<br />
sóli<strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> f<br />
água<br />
(3.8)<br />
onde m água e m sóli<strong>do</strong> são as massas da água e <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong>, respectivamente; c água é a<br />
capacidade térmica mássica da água e E é a capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro expressa<br />
em quantidade equivalente de água.<br />
O equivalente em água <strong>do</strong> calorímetro, E , pode ser determina<strong>do</strong> misturan<strong>do</strong> no<br />
calorímetro quantidades de água a temperaturas diferentes e medin<strong>do</strong> o desvio da<br />
temperatura final da mistura em relação ao valor espera<strong>do</strong>. O conhecimento deste valor é<br />
importante para minimizar o erro experimental, e, para o calorímetro usa<strong>do</strong> nesta<br />
actividade, foi obti<strong>do</strong> um valor de E = 1,23 g .<br />
Para um sóli<strong>do</strong> teoricamente feito de aço, <strong>do</strong>s valores da Tabela 3.1, consideran<strong>do</strong><br />
-1 -1<br />
cágua<br />
= 4,186J ºC g e E = 1,23 g e utilizan<strong>do</strong> a expressão (3.8), obtivemos para a<br />
capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço o valor de<br />
-1 -1<br />
c = 0,46 kJ kg ºC .<br />
Para calcularmos a incerteza <strong>do</strong> valor calcula<strong>do</strong>, analisemos os erros <strong>do</strong>s termos da<br />
equação (3.8). Os aparelhos usa<strong>do</strong>s nas medições eram digitais, pelo que tomamos a<br />
incerteza no último algarismo <strong>do</strong> número li<strong>do</strong>. Assim, os erros relativos, E r , <strong>do</strong>s termos<br />
È ˘<br />
Î ˚<br />
da equação (3.8) são: E ( q q )<br />
-4<br />
[ sóli<strong>do</strong> ] 2,00 10<br />
r f - água = 0,07<br />
È ˘<br />
Erm = ¥<br />
-5<br />
e Er Î( mágua + E)<br />
˚<br />
= 4,85 ¥ 10<br />
contribuição para o erro <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> é ( qf qágua)<br />
Er ÈÎ qsóli<strong>do</strong> - qf<br />
˘˚<br />
= 1, 7 ¥ 10 ,<br />
-3<br />
, ( )<br />
. O termo que tem maior<br />
- , cujo valor é de apenas 1,5 ºC. O erro<br />
relativo total é 0,072, o que corresponde termos para valor da capacidade térmica mássica<br />
-1 -1<br />
<strong>do</strong> aço o valor de c ( 0,46 0,03) kJ kg ºC<br />
O valor tabela<strong>do</strong> é<br />
= ± .<br />
-1 -1<br />
c = 0, 469 kJ kg ºC , que está dentro <strong>do</strong> intervalo de erro.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Determinação da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço<br />
m água m aço q água q aço q f<br />
206,17 g 50,04 g 16,9 ºC 74,3 ºC 18,4 ºC<br />
Tabela 3.1 Valores medi<strong>do</strong>s das grandezas intervenientes na determinação<br />
experimental da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço.<br />
3.1.3 Capacidade térmica mássica da água; a caloria<br />
Quan<strong>do</strong> a calorimetria foi desenvolvida em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII, as medições<br />
eram restritas à gama de temperaturas entre os pontos de fusão e ebulição da água. A<br />
unidade de calor julgada mais conveniente foi chamada caloria (abreviadamente cal) e<br />
foi definida como a energia por calor necessária para elevar a temperatura de 1 ºC de um<br />
sistema constituí<strong>do</strong> por 1 g de água. Para medir a energia por calor transferida da<br />
vizinhança para a amostra da água, era apenas necessário fazer duas medições: a da<br />
massa da água e a da variação de temperatura da água. Mais tarde, as medições<br />
aperfeiçoaram-se, tornan<strong>do</strong>-se mais precisas, e foram feitas correcções, verifican<strong>do</strong>-se<br />
que a energia por calor necessária para elevar 1 g de água de 0 a 1 ºC era diferente da<br />
energia por calor necessária para elevar, por exemplo, de 30 a 31 ºC. A caloria foi<br />
definida então como sen<strong>do</strong> a energia por calor necessária para elevar 1 g de água de 14,5<br />
a 15,5 ºC.<br />
A energia por trabalho que tem de ser dissipada na água, por unidade de massa,<br />
para elevar a temperatura de 14,5 a 15,5 ºC foi chamada o equivalente mecânico <strong>do</strong><br />
calor, o qual foi medi<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong><br />
1<br />
4,1860 J cal - . Nos anos 20 <strong>do</strong> séc. XX, foi<br />
reconheci<strong>do</strong> que a <strong>medição</strong> <strong>do</strong> equivalente mecânico <strong>do</strong> calor era realmente uma <strong>medição</strong><br />
da capacidade térmica mássica da água, usan<strong>do</strong> o joule como unidade de calor. Como o<br />
calor é energia que se transfere e o joule é a unidade SI de energia, a caloria tornou-se<br />
dispensável. Actualmente, entre os físicos e os químicos, a caloria não é usada, e todas as<br />
quantidades térmicas são expressas em joule. Não há nenhum equivalente mecânico <strong>do</strong><br />
calor, mas sim capacidade térmica mássica da água, cuja variação com a temperatura de<br />
0 a 100 ºC é mostrada na Figura 3.2.<br />
32
33<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Figura 3.2 Capacidade térmica mássica da água em função da temperatura<br />
à pressão atmosférica normal (Zemansky et al, 1997).<br />
3.1.4 Condutividade térmica<br />
Como se refere na secção 3.2.4., a temperatura de um corpo está relacionada como<br />
o esta<strong>do</strong> de vibração das partículas que o constituem.<br />
No processo de calor por condução, as partículas <strong>do</strong> sistema que está a uma maior<br />
temperatura vibram com uma energia cinética média maior, relativamente ao sistema que<br />
está a uma temperatura menor. Por contacto, as partículas <strong>do</strong> sistema a uma temperatura<br />
menor, adquirem maior energia de vibração que se transmite às partículas adjacentes,<br />
sen<strong>do</strong> este mecanismo um processo de transferência de energia por calor, designa<strong>do</strong> por<br />
condução.<br />
O calor por condução, que é característico essencialmente <strong>do</strong>s sóli<strong>do</strong>s, é um<br />
fenómeno que ocorre sem transporte de matéria e que depende da diferença de<br />
temperatura, das substâncias que constituem os sistemas e da área de contacto.<br />
Os metais são bons condutores térmicos. Além disso, como sabemos, são também<br />
bons condutores eléctricos, o que indicia que há um mecanismo subjacente comum aos<br />
<strong>do</strong>is fenómenos. De facto, para além da transmissão de energia devi<strong>do</strong> às vibrações <strong>do</strong>s<br />
iões da rede, os metais têm electrões livres, os quais têm um papel preponderante no<br />
calor por condução, permitin<strong>do</strong> uma transmissão rápida da energia de uns átomos para os<br />
outros. Portanto, a condução térmica nos metais resulta da combinação <strong>do</strong>s efeitos da<br />
vibração <strong>do</strong>s iões na rede cristalina e da energia transportada pelos electrões livres. Os<br />
sóli<strong>do</strong>s não metálicos são, geralmente, maus condutores térmicos, porque a transmissão<br />
de energia se faz apenas entre átomos, moléculas ou iões.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Nos flui<strong>do</strong>s, que são os líqui<strong>do</strong>s e os gases, o calor por condução também ocorre.<br />
Neste caso, deve-se às colisões das moléculas durante o seu movimento aleatório. Nos<br />
flui<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong>, o mecanismo <strong>do</strong> calor mais relevante é a convecção.<br />
Consideremos uma porção de um material, na forma de um paralelepípe<strong>do</strong>, como se<br />
mostra na Figura 3.3. A energia por calor Q cd por condução que atravessa a área A num<br />
intervalo de tempo D t é da<strong>do</strong> por<br />
Q T<br />
k A<br />
t x<br />
D<br />
=-<br />
cd<br />
D D (3.9)<br />
onde D T = T2 - T1,<br />
k é a condutividade térmica <strong>do</strong> material e D x é a espessura <strong>do</strong><br />
material.<br />
A condutividade térmica, k , define-se como a energia transmitida por segun<strong>do</strong><br />
através de uma camada de material de 1 m 2 de área e de 1 m de espessura, quan<strong>do</strong> a<br />
diferença de temperatura entre as duas superfícies é 1 K. A unidade SI da condutividade<br />
térmica é<br />
-1 - 1<br />
Wm K .<br />
Figura 3.3 Fluxo de energia por calor através de uma camada de espessura<br />
D x e área A, submetida a uma diferença de temperaturas<br />
D T = T - T .<br />
2 1<br />
Fazen<strong>do</strong> tender para zero a espessura e a área da camada, DxÆ 0 e A Æ 0,<br />
a<br />
equação (3.9) transforma-se na forma diferencial<br />
T 1<br />
D x<br />
T 2<br />
Área<br />
A<br />
d Qcd dT<br />
=- k<br />
(3.10)<br />
dAdt dx<br />
34<br />
Energia<br />
por calor<br />
x
35<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
A equação anterior é designada por Lei de Fourier da condução por calor. Fazen<strong>do</strong><br />
uma generalização para o caso tridimensional obtém-se a seguinte equação vectorial<br />
(Feynman et al, 1975)<br />
ÊdT dT dT ˆ <br />
J =- k Á , , =- k — T<br />
Ë dx dy dz<br />
˜<br />
¯<br />
(3.11)<br />
onde J é o vector densidade de fluxo de energia por calor, cujo módulo é da<strong>do</strong> por<br />
J = d Q dAdt.<br />
A constante de proporcionalidade κ é a condutividade térmica, e é uma<br />
cd<br />
grandeza positiva pois o escoamento da corrente térmica dá-se no senti<strong>do</strong> contrário ao <strong>do</strong><br />
gradiente de temperatura.<br />
Um <strong>do</strong>s vários méto<strong>do</strong>s para medirmos a condutividade térmica de metais consiste<br />
em utilizarmos os materiais em forma de barra, sen<strong>do</strong> uma das extremidades aquecida<br />
electricamente (por exemplo) enquanto que a outra extremidade é mantida a uma<br />
temperatura constante, por exemplo, utilizan<strong>do</strong> gelo fundente (0ºC), conforme mostra a<br />
Figura 3.5. A superfície da barra é isolada termicamente, e as perdas de energia através<br />
<strong>do</strong> isolamento são calculadas subtrain<strong>do</strong> a taxa a que a energia entra na água da taxa a<br />
que a energia eléctrica é fornecida. Em muitas situações, a perda de energia através da<br />
superfície é muito pequena em comparação com a que flúi através da barra.<br />
Quan<strong>do</strong> a substância a investigar é um não-metal, usamos uma amostra em forma de<br />
um disco fino, e o mesmo méto<strong>do</strong> geral é utiliza<strong>do</strong>. O disco é coloca<strong>do</strong> entre <strong>do</strong>is blocos<br />
de cobre, um <strong>do</strong>s quais é aqueci<strong>do</strong> electricamente e o outro arrefeci<strong>do</strong> a uma determinada<br />
temperatura usan<strong>do</strong> água. Na maioria <strong>do</strong>s casos, a taxa a que a energia é fornecida é<br />
praticamente igual à taxa a que entra na água, o que mostra que as perdas pelos bor<strong>do</strong>s<br />
são desprezáveis.<br />
A condutividade térmica <strong>do</strong>s metais é bastante sensível às impurezas. A mudança de<br />
estrutura devida a um aquecimento contínuo ou um aumento grande de pressão também<br />
afecta o valor da condutividade térmica, k . Contu<strong>do</strong>, nos sóli<strong>do</strong>s e nos líqui<strong>do</strong>s o valor<br />
de k não muda apreciavelmente com variações moderadas de pressão. A liquefacção<br />
provoca sempre uma diminuição de k , e para um líqui<strong>do</strong> k u<strong>sua</strong>lmente aumenta com o<br />
aumento da temperatura. Os sóli<strong>do</strong>s não-metálicos têm um comportamento idêntico ao<br />
<strong>do</strong>s líqui<strong>do</strong>s. À temperatura ambiente, estes são maus condutores térmicos. Em geral, a<br />
condutividade térmica diminui à medida que a temperatura aumenta. Para temperatura<br />
muito baixas, contu<strong>do</strong>, o comportamento é bastante diferente, como se vê na Figura 3.4.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
-1 - 1<br />
k /Wm K<br />
Figura 3.4 Condutividade térmica em função da temperatura para algumas<br />
substâncias (adapta<strong>do</strong> de Zemansky et al, 1997).<br />
A condutividade térmica de alguns metais mantém-se aproximadamente constante<br />
num grande intervalo de temperatura. Assim, a prata, o cobre, e o ouro, por exemplo, têm<br />
elevadas condutividades térmicas de 100 a 1000 K. Como regra geral, a condutividade<br />
térmica <strong>do</strong>s metais aumenta à medida que a temperatura diminui, até ser atingi<strong>do</strong> um<br />
máximo. A continuação da diminuição da temperatura origina uma diminuição da<br />
condutividade térmica para zero.<br />
Os gases são os piores condutores <strong>do</strong> calor. Para pressões acima de certo valor,<br />
dependen<strong>do</strong> da natureza <strong>do</strong> gás e das dimensões <strong>do</strong> recipiente que o contém, a<br />
condutividade térmica é independente da pressão. A condutividade térmica de um gás<br />
aumenta sempre com o aumento da temperatura.<br />
Seguin<strong>do</strong> um procedimento semelhante ao descrito anteriormente, determinou-se a<br />
condutividade térmica de alguns condutores, utilizan<strong>do</strong> a montagem da Figura 3.5 (ver<br />
anexo A4). Apresenta-se os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s para o cobre.<br />
A barra de cobre utilizada tinha um diâmetro médio de 2,5 cm e estava furada para<br />
que se pudesse medir a temperatura na direcção longitudinal, introduzin<strong>do</strong>-se nos<br />
orifícios um termopar. A distância entre os furos era de 3,5 cm. Para se determinar a<br />
36<br />
T / K
37<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
variação da temperatura ao longo da barra, uma das extremidades era aquecida com água<br />
em ebulição e na outra extremidade era mantida à temperatura <strong>do</strong> gelo fundente.<br />
Figura 3.5 Fotografia da montagem experimental para a determinação da<br />
condutividade térmica de uma barra condutora.<br />
Quan<strong>do</strong> se atinge o regime estacionário, estabelece-se uma variação linear da<br />
temperatura ao longo da barra, como se mostra na Figura 3.6. Poden<strong>do</strong> esta situação ser<br />
tratada a uma dimensão, o declive <strong>do</strong> gráfico corresponde a - dT dx na equação (3.10).<br />
Figura 3.6 Variação da temperatura ao longo da barra depois de atingi<strong>do</strong> o<br />
regime estacionário de propagação de energia por calor.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A área é obtida a partir <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> diâmetro da barra e o fluxo de energia<br />
ao longo desta é determina<strong>do</strong> medin<strong>do</strong> o aumento de temperatura em função <strong>do</strong> tempo de<br />
uma dada massa de água (a uma temperatura próxima de 0 ºC) em contacto com a<br />
extremidade fria. O fluxo de energia ao longo da barra é, portanto, da<strong>do</strong> pelo produto <strong>do</strong><br />
declive <strong>do</strong> gráfico da Figura 3.7 pela capacidade térmica da água, C (C = mc,<br />
sen<strong>do</strong><br />
-1 -1<br />
m = 335g e c = 4,186 J ºC g ) .<br />
Da lei de Fourier, expressa pela equação (3.10), obtivemos para a condutividade<br />
-1 -1 -1<br />
térmica da barra (teoricamente feita de cobre) o valor de k = 4,9 J s cm ºC .<br />
Figura 3.7 Aumento da temperatura da água em função <strong>do</strong> tempo. O declive<br />
é proporcional à taxa de propagação da energia por calor na<br />
barra.<br />
O erro relativo <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> é da<strong>do</strong> pela soma <strong>do</strong>s erros relativos <strong>do</strong>s termos da<br />
equação (3.10). Os erros absolutos <strong>do</strong>s declives das rectas <strong>do</strong>s gráficos foram obti<strong>do</strong>s a<br />
-1<br />
partir da aplicação Origin (da OriginLab Corporation): ( )<br />
-1<br />
e ( )<br />
38<br />
dT dx = - 1,154 ± 0, 023 K cm<br />
dT dt = 0,0200 ± 0,0007 K s . As outras grandezas que contribuem para o erro final<br />
têm os seguintes valores: diâmetro da barra = ( 2,5 ± 0,1) cm e ( )<br />
m = 335 ± 1 g . Soman<strong>do</strong><br />
os erros relativos correspondente aos termos da equação (3.10) obtemos para erro relativo<br />
<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> o valor 0,10.
-1 -1 -1<br />
Assim, o resulta<strong>do</strong> final vem ( 4,9 0,5) J s cm ºC<br />
39<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
k = ± . O valor tabela<strong>do</strong> para<br />
-1 -1 -1<br />
o cobre é k = 3,851 J s cm ºC , que não pertence ao intervalo de incertezas <strong>do</strong> valor<br />
calcula<strong>do</strong>. Uma explicação possível pode ser o facto de que a barra não ser de cobre puro<br />
e, como se referiu anteriormente, a condutividade térmica <strong>do</strong>s metais é bastante sensível<br />
às impurezas. Outro aspecto a considerar é o facto de que ao medirmos o fluxo de energia<br />
por calor na barra, a extremidade à temperatura mais baixa não era exactamente 0 ºC<br />
(gráfico da Figura 3.7).<br />
3.2 Conceito de temperatura<br />
Antes da compreensão <strong>do</strong> conceito científico de temperatura procurou-se dar um<br />
carácter quantitativo à distinção subjectiva entre quente e frio, aprenden<strong>do</strong> a medir a<br />
temperatura de um corpo muito antes de compreendermos a <strong>sua</strong> natureza física.<br />
A temperatura pode ser vista como um indica<strong>do</strong>r da energia cinética molecular<br />
média de um corpo (Tipler, 1994). No entanto, só a energia cinética de translação<br />
contribui para a grandeza temperatura, aspecto que por vezes não é referi<strong>do</strong>.<br />
3.2.1 Equilíbrio térmico<br />
A abordagem <strong>do</strong> conceito de temperatura sem se recorrer ao de equilíbrio térmico e<br />
à Lei Zero resulta em ideias confusas, reforçadas pela nossa intuição e percepções<br />
sensoriais. Por isso, é importante introduzir e discutir a temperatura numa base<br />
cientificamente correcta, pois tal atitude trará num médio prazo aos alunos uma<br />
compreensão confortável, e menos conflituosa <strong>do</strong> ponto de vista conceptual.<br />
O equilíbrio térmico é atingi<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is sistemas depois de estes estarem em<br />
contacto através de uma parede diatérmica. No equilíbrio térmico as coordenadas<br />
termodinâmicas de ambos os sistemas não podem ter valores quaisquer, pois a condição<br />
de equilíbrio térmico impõe uma relação restritiva para os seus valores. O conceito de<br />
equilíbrio térmico traduz uma relação de equivalência com as seguintes propriedades<br />
(Güémez et al, 1998):<br />
a) Reflexiva: to<strong>do</strong> o sistema está em equilíbrio térmico consigo próprio.<br />
b) Simétrica: se um sistema A está em equilíbrio térmico com sistema B, então B<br />
também está em equilíbrio térmico com A.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
c) Transitiva: verifica-se experimentalmente que, se A está em equilíbrio térmico<br />
com B, e se B está em equilíbrio térmico com C, então A está em equilíbrio térmico com<br />
C (Lei Zero da Termodinâmica).<br />
A Figura 3.8 ilustra a evolução da temperatura de <strong>do</strong>is sistemas constituí<strong>do</strong>s por<br />
água a diferentes temperaturas, coloca<strong>do</strong>s em contacto térmico dentro de um calorímetro.<br />
Utilizou-se <strong>do</strong>is sensores de temperatura e um sistema automático de aquisição de da<strong>do</strong>s,<br />
verifican<strong>do</strong>-se a evolução no senti<strong>do</strong> de uma temperatura de equilíbrio comum a ambos<br />
os sistemas.<br />
É importante que os alunos tomem contacto com diferentes tecnologias de<br />
equipamentos laboratoriais, nomeadamente de aquisição automática de da<strong>do</strong>s e diferentes<br />
tipos de termómetros. A observação da necessidade de tempo para se atingir o equilíbrio<br />
térmico é também importante para que compreendam a necessidade de levar em conta o<br />
tempo de resposta de um termómetro.<br />
Esta actividade foi realizada em contexto de aula e insere-se no currículo de Física<br />
e Química A, componente de Física, <strong>do</strong> 10º ano de escolaridade.<br />
Figura 3.8 Fotografias que ilustram a actividade experimental <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
equilíbrio térmico.<br />
3.2.2 Lei zero da Termodinâmica<br />
A última propriedade da relação de equivalência referida constitui a Lei Zero da<br />
Termodinâmica e está na base <strong>do</strong> conceito de temperatura, na construção de termómetros<br />
e escalas de temperatura.<br />
A temperatura é pois definida como a propriedade que indica se um sistema está ou<br />
não em equilíbrio térmico com outros sistemas. É uma grandeza escalar e intensiva. A<br />
40
41<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
atribuição de um número à temperatura consiste na construção de um termómetro e no<br />
estabelecimento de uma escala de temperatura.<br />
3.2.3 Definição de temperatura<br />
A Lei Zero implica a existência de uma função de esta<strong>do</strong>, chamada temperatura.<br />
Suponhamos <strong>do</strong>is sistemas, A e B, em equilíbrio térmico, e consideremos, por<br />
simplicidade, que os esta<strong>do</strong>s de equilíbrio são determina<strong>do</strong>s pelas variáveis X e Y.<br />
Existe, portanto, uma função ( )<br />
, , , 0<br />
sistema A se pode escrever em função de A X , B X e Y B ,<br />
( , , )<br />
A AB A B B<br />
fAB XAYAXBY B = tal que a variável A<br />
Y <strong>do</strong><br />
Y = h X X Y<br />
(3.12)<br />
Por outro la<strong>do</strong>, se os sistemas A e C estiverem também em equilíbrio térmico,<br />
verifica-se a equação ( )<br />
( , , )<br />
A AC A C C<br />
f X , Y , X , Y = 0 e, analogamente, podemos escrever<br />
AC A A C C<br />
Y = h X X Y<br />
(3.13)<br />
Então, pela Lei Zero, B e C estão em equilíbrio térmico, e deve verificar-se a<br />
equação ( )<br />
f X , Y , X , Y = 0 (independentemente das propriedades de A), pelo que<br />
BC B B C C<br />
X A não deve aparecer na equação<br />
( , , ) ( , , )<br />
Y = h X X Y = h X X Y<br />
(3.14)<br />
A AB A B B AC A C C<br />
Existe, portanto, uma função, q ( X , Y ) q ( X , Y )<br />
= , que depende apenas <strong>do</strong><br />
B B B C C C<br />
esta<strong>do</strong> de cada sistema. Pelo mesmo raciocínio, mas agora partin<strong>do</strong> de B em equilíbrio<br />
térmico com A e C, e consideran<strong>do</strong>, pela Lei Zero, também A e C em equilíbrio térmico,<br />
obtemos, quan<strong>do</strong> os três sistemas se encontrarem em equilíbrio térmico,<br />
( X , Y ) ( X , Y ) ( X , Y )<br />
q = q = q . (3.15)<br />
A A A B B B C C C
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Existem, assim, funções das coordenadas X e Y (funções <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de cada<br />
sistema), sen<strong>do</strong> estas funções todas iguais quan<strong>do</strong> os sistemas estão em equilíbrio<br />
térmico entre si.<br />
A função q é a temperatura. A temperatura de um sistema é pois a propriedade<br />
que indica se ele está ou não em equilíbrio térmico com outros sistemas. Tem um<br />
carácter escalar, sen<strong>do</strong> indicada por um número. Como cada subsistema deve estar em<br />
equilíbrio com os outros, uma consequência da propriedade reflexiva, a temperatura tem<br />
de ser uma grandeza intensiva, toman<strong>do</strong> o mesmo valor em qualquer ponto <strong>do</strong> sistema. A<br />
forma da função θ, e o número de variáveis necessárias para a especificar, dependem <strong>do</strong><br />
sistema termodinâmico em causa.<br />
A Lei Zero da Termodinâmica pode enunciar-se, portanto, numa formulação mais<br />
recente, <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />
Existe uma grandeza escalar, chamada temperatura, que é uma propriedade<br />
intensiva <strong>do</strong>s sistemas termodinâmicos em equilíbrio, tal que a igualdade de<br />
temperatura é a condição necessária e suficiente de equilíbrio térmico.<br />
Nas classes de equivalência referidas anteriormente existe uma Relação de Ordem.<br />
Uma classe de equivalência q 1,<br />
classifica-se como de ordem superior à classe q 2 se,<br />
colocan<strong>do</strong> em contacto qualquer sistema da classe q 2 com qualquer sistema da classe q 1,<br />
o primeiro ( q 2 ) aumentar a <strong>sua</strong> temperatura e o segun<strong>do</strong> ( q 1)<br />
a diminuir. Esta relação de<br />
ordem satisfaz as seguintes propriedades:<br />
a) Antissimétrica: se o sistema A aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com o<br />
sistema B, B não a aumenta em contacto com A.<br />
b) Transitiva: se o sistema A aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com o<br />
sistema B, e B aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com o sistema C, então A<br />
também aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com C.<br />
As relações de equivalência e de ordem referidas estão na base da construção das<br />
escalas termométricas.<br />
3.2.3.1 Isotérmicas<br />
Consideremos um sistema A, no esta<strong>do</strong> X1, Y 1,<br />
em equilíbrio térmico com outro<br />
sistema B, no esta<strong>do</strong> X1¢ , Y1¢.<br />
Se A é tira<strong>do</strong> <strong>do</strong> contacto de B e o seu esta<strong>do</strong> é altera<strong>do</strong>, é<br />
possível obter um segun<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> X 2, Y 2 que esteja em equilíbrio térmico com o esta<strong>do</strong><br />
42
original X1, Y1<br />
X1, Y 1;<br />
2, 2<br />
43<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
¢ ¢ <strong>do</strong> sistema B. A experiência mostra que há um conjunto de esta<strong>do</strong>s<br />
X Y ; X 3, Y 3;<br />
... , cada um em equilíbrio térmico com o esta<strong>do</strong> X1¢ , Y1¢<br />
de B, e<br />
to<strong>do</strong>s eles, pela Lei Zero, estão em equilíbrio uns com os outros. To<strong>do</strong>s esses esta<strong>do</strong>s,<br />
quan<strong>do</strong> representa<strong>do</strong>s num diagrama YX, - pertencem a uma curva como a I representada<br />
na Figura 3.9. Tal curva é chamada isotérmica. Uma isotérmica é o conjunto de to<strong>do</strong>s os<br />
pontos que representam esta<strong>do</strong>s de um sistema em equilíbrio térmico com um da<strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> de outro sistema.<br />
Analogamente, em relação ao sistema B, encontramos um conjunto de esta<strong>do</strong>s –<br />
X Y<br />
X Y<br />
X , Y<br />
X Y <strong>do</strong><br />
1¢ , 1¢;<br />
2¢ , 2¢;<br />
3¢ 3¢;<br />
... – to<strong>do</strong>s em equilíbrio térmico com um esta<strong>do</strong> 1, 1<br />
sistema A, e, portanto, em equilíbrio térmico uns com os outros. Estes esta<strong>do</strong>s,<br />
representa<strong>do</strong>s no diagrama Y¢ -X¢<br />
da Figura 3.9, constituem a isotérmica I¢ . Pela Lei<br />
Zero, to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s da isotérmica I <strong>do</strong> sistema A estão em equilíbrio térmico com<br />
to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s da isotérmica I¢ <strong>do</strong> sistema B. I e I¢ são isotérmicas correspondentes<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sistemas.<br />
Sistema A Sistema B<br />
Y Y ¢<br />
X1, Y 1<br />
X 2, Y 2<br />
X 3, Y<br />
3<br />
III<br />
II<br />
I<br />
X ¢ , Y ¢<br />
X ¢ , Y ¢<br />
Figura 3.9 Isotérmicas correspondentes de <strong>do</strong>is sistemas termodinâmicos<br />
diferentes A e B (Anacleto, 2004).<br />
Se a experiência fosse repetida com condições iniciais diferentes, outro conjunto de<br />
esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sistema A pertencentes à curva II podiam ser encontra<strong>do</strong>s, cada um em<br />
equilíbrio térmico com cada esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema B pertencente à curva II¢ . Assim, a<br />
família de isotérmicas I, II, III, ... , <strong>do</strong> sistema A e a família correspondente I¢ , II¢ , III¢ ,<br />
... , <strong>do</strong> sistema B podem ser encontradas. Pela Lei Zero da Termodinâmica, podem ser<br />
obtidas isotérmicas correspondentes em outros sistemas C, D, ... .<br />
Notemos que a metrologia da temperatura através da utilização de um termómetro<br />
é uma aplicação directa da Lei Zero e <strong>do</strong> conceito de equilíbrio térmico. Se o termómetro<br />
1 1<br />
2 2<br />
III¢<br />
II¢<br />
X X ¢<br />
I¢<br />
X ¢ , Y ¢<br />
3 3
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
(sistema A) tiver esta<strong>do</strong> em equilíbrio térmico com um padrão à temperatura T 0 (sistema<br />
B), e se agora está em contacto térmico com um sistema cuja temperatura queremos<br />
medir (sistema C) e indica o valor T 0 , então a temperatura a determinar é a mesma que a<br />
temperatura <strong>do</strong> padrão, T 0 , pois, pela Lei Zero, o sistema cuja temperatura queremos<br />
medir está em equilíbrio térmico com o padrão, embora estes nunca tenham esta<strong>do</strong> em<br />
contacto térmico.<br />
3.2.3.2 Equação de esta<strong>do</strong> térmica<br />
Para além <strong>do</strong> conceito de temperatura, a Lei Zero permite introduzir o conceito de<br />
equação de esta<strong>do</strong> ou equação de esta<strong>do</strong> térmica, que relaciona, no equilíbrio, as<br />
propriedades de um sistema termodinâmico.<br />
Para o sistema A, a temperatura é dada por q ( X , Y ) q ( X , Y ) q ( X , Y )<br />
seja, podemos escrever a seguinte relação<br />
44<br />
= = , ou<br />
1 1 2 2 3 3<br />
f ( X, Y, q ) = 0<br />
(3.16)<br />
que é a equação de esta<strong>do</strong> térmica. A existência de uma equação deste tipo é geral não se<br />
limitan<strong>do</strong> a sistemas termodinâmicos particulares, poden<strong>do</strong> envolver outras variáveis<br />
para além das X e Y consideradas.<br />
A Termodinâmica, através da Lei Zero, garante a existência de uma equação de<br />
esta<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os sistemas em equilíbrio, embora não especifique a <strong>sua</strong> forma. Esta<br />
equação permite relacionar variações de grandezas termodinâmicas.<br />
3.2.3.3 Pontos fixos<br />
Uma questão diferente da definição conceptual de temperatura é a construção<br />
efectiva de uma escala termométrica empírica, usan<strong>do</strong> um termómetro particular. É<br />
necessário encontrar um ou mais esta<strong>do</strong>s de referência e substâncias com propriedades<br />
termométricas adequadas. Os esta<strong>do</strong>s escolhi<strong>do</strong>s para referência são designa<strong>do</strong>s por<br />
pontos fixos, e devem ter como principal característica a <strong>sua</strong> fácil reprodutibilidade.<br />
Costumava tomar-se o gelo fundente e água em ebulição como pontos fixos, mas<br />
actualmente toma-se só um ponto fixo como referência, o ponto triplo da água. Este<br />
esta<strong>do</strong> corresponde ao esta<strong>do</strong> de equilíbrio entre as três fases da água, ou seja, o ponto<br />
em que a água está em equilíbrio com o gelo e o seu vapor. Este esta<strong>do</strong> termodinâmico é<br />
realiza<strong>do</strong> à pressão de 0,612 kPa e é-lhe atribuí<strong>do</strong> a temperatura de 273,16 K (0,01 ºC).
45<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Por outro la<strong>do</strong>, a propriedade da substância usada no termómetro deve variar muito<br />
quan<strong>do</strong> a temperatura varia pouco (elevada sensibilidade).<br />
Convém chamar a atenção que se <strong>do</strong>is sistemas estão à mesma temperatura, isto<br />
não significa necessariamente que se encontrem em equilíbrio termodinâmico completo.<br />
Para que tal aconteça devem verificar-se mais duas condições: a de equilíbrio mecânico e<br />
a de equilíbrio químico.<br />
Na Figura 3.10 mostra-se os registos de um aluno e a montagem experimental para<br />
a determinação <strong>do</strong>s pontos de fusão e de ebulição da água.<br />
Partin<strong>do</strong> de uma mistura de água (líquida) e gelo, aqueceu-se até se obter o esta<strong>do</strong><br />
de ebulição.<br />
Figura 3.10 Fotografias de um caderno de um aluno (à esquerda) e da<br />
montagem experimental (à direita) relativas à actividade da<br />
determinação <strong>do</strong>s pontos de fusão e de ebulição da água.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s são os que se mostram no gráfico da Figura 3.11. Os pontos fixos<br />
correspondentes ao gelo fundente e à água em ebulição correspondem aproximadamente<br />
às temperaturas de 0 ºC e 100 ºC, respectivamente.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 3.11 Gráfico da evolução da temperatura no aquecimento da água<br />
desde o ponto de fusão até ao ponto de ebulição.<br />
3.2.4 O ponto de vista microscópio<br />
Notemos que o conceito de temperatura apresenta<strong>do</strong> é muito abstracto, o que se<br />
revela no facto de os alunos, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensino básico, sentirem muita dificuldade em<br />
compreender este conceito desta forma. Mesmo insistin<strong>do</strong> exaustivamente nesta<br />
abordagem <strong>do</strong> conceito de temperatura, os alunos pautam os seus raciocínios para<br />
explicar certos fenómenos por ideias intuitivas e conceptuais alicerçadas nas <strong>sua</strong>s<br />
experiências vividas e na linguagem que usam de forma sistemática.<br />
A abordagem da temperatura recorren<strong>do</strong>-se a uma descrição microscópica é uma<br />
tentativa para facilitar a compreensão <strong>do</strong> conceito, de uma forma menos abstracta, por<br />
isso, mais intuitiva. Notemos contu<strong>do</strong>, que o conceito de temperatura é um conceito<br />
macroscópico.<br />
Experimentalmente, observa-se que desde que não haja transição de fase, quan<strong>do</strong><br />
se fornece energia ao sistema a temperatura aumenta. A <strong>sua</strong> energia interna também<br />
aumenta originan<strong>do</strong> um aumento da energia das partículas constituintes <strong>do</strong> sistema.<br />
A energia média de uma partícula, num sistema em equilíbrio estatístico, tem um<br />
valor bem defini<strong>do</strong> da<strong>do</strong> por:<br />
E nE 1 1+ n2E2 + nE 3 3 + <br />
E = =<br />
N n + n + n + (3.17)<br />
1 2 3<br />
onde i n é o número de partículas com energia i E , sen<strong>do</strong> Â ni= N o seu número total.<br />
46
47<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
De acor<strong>do</strong> com a estatística de Maxwell-Boltzmann (ver secção 3.3.2), o número<br />
de partículas correspondentes à energia E i na distribuição mais provável para a<br />
temperatura T é da<strong>do</strong> pela expressão<br />
EikT n Ae -<br />
= (3.18)<br />
i<br />
onde k é a constante de Boltzmann, e A é uma constante que depende da temperatura,<br />
<strong>do</strong> número total de partículas e de outras propriedades das partículas <strong>do</strong> sistema. O valor<br />
de A é determina<strong>do</strong> impon<strong>do</strong> a condição de que o número total de partículas <strong>do</strong> sistema<br />
seja N (conservação <strong>do</strong> número de partículas).<br />
O valor da exponencial<br />
e -<br />
EikT da eq. (3.18) aumenta (diminui) à medida que<br />
EikT diminui (aumenta). Podemos concluir que, à medida que EikT aumenta<br />
(diminui), a ocupação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> com energia E i torna-se menor (maior).<br />
Esta definição de temperatura pode harmonizar-se com a que está associada às<br />
sensações de “calor” e de “frio”, uma vez que o nosso sistema nervoso é afecta<strong>do</strong> pela<br />
energia média das moléculas, o que origina diferentes sensações.<br />
No entanto, relacionar a temperatura com as propriedades microscópicas não é<br />
tarefa fácil, apesar de se aceitar que “a temperatura é uma medida da energia cinética<br />
média das partículas que constituem o sistema”.<br />
Da equação (3.18) e consideran<strong>do</strong> uma distribuição contínua de energia ( N de<br />
valor muito grande), obtemos a lei da distribuição das velocidades para a estatística de<br />
Maxwell-Boltzmann (Deus et al, 2000),<br />
32 2<br />
2<br />
4N<br />
Ê m ˆ Ê mv ˆ<br />
nv ( ) = Á v exp -<br />
p Ë<br />
˜<br />
2kT ¯ Á<br />
Ë 2kT˜<br />
¯ (3.19)<br />
onde m é a massa de cada partícula e nv ( ) é o número de partículas com velocidades de<br />
módulo compreendi<strong>do</strong> entre v e v+ dv.<br />
Na Figura 3.12 apresenta-se o gráfico da<br />
equação (3.19) para o Hélio em equilíbrio termodinâmico a três temperaturas diferentes.<br />
Como se pode observar, à medida que aumenta a temperatura <strong>do</strong> equilíbrio, a velocidade<br />
média também aumenta.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 3.12 Distribuição das velocidades de Maxwell-Boltzmann para as<br />
temperaturas de 300 K, 900 K e 1500 K.<br />
A temperatura é um conceito macroscópico (uma partícula não tem temperatura 10 ),<br />
que se pode relacionar com propriedades médias microscópicas. É uma propriedade <strong>do</strong>s<br />
sistemas termodinâmicos, portanto, propriedade macroscópica que não depende (embora<br />
possa ser relacionada) com a estrutura microscópica da matéria.<br />
Quan<strong>do</strong> se pergunta, mesmo depois de se ter explica<strong>do</strong> o conceito de temperatura<br />
com base no equilíbrio térmico, se a madeira e o metal (constituintes de <strong>do</strong>is corpos que<br />
permanecem numa sala durante um longo perío<strong>do</strong> de tempo) têm ou não a mesma<br />
temperatura, a resposta parece ser quase uma fatalidade: “o metal está a uma<br />
temperatura inferior à da madeira”.<br />
A <strong>medição</strong> de temperatura pode ser feita com termómetros de contacto, que<br />
funcionam com base no facto de que <strong>do</strong>is corpos em contacto adquirem, após um certo<br />
perío<strong>do</strong> de tempo, a mesma temperatura, isto é, ficam em equilíbrio térmico 11 . Há vários<br />
tipos de termómetros que se baseiam no facto de poderem seleccionar numa propriedade<br />
<strong>do</strong>s materiais que varia com a temperatura de uma forma previsível e reprodutível,<br />
chamada propriedade termométrica.<br />
10 No entanto o conceito de temperatura pode ser aplica<strong>do</strong> a certas propriedades das partículas. Por<br />
exemplo, há estu<strong>do</strong>s da <strong>medição</strong> da temperatura de núcleos atómicos em função da <strong>sua</strong> energia<br />
de excitação (Melby et al, 1999). Outro exemplo interessante, é atribuir uma temperatura aos<br />
electrões livres num metal a 0 K, cujo valor máximo é designada por temperatura de Fermi, que<br />
está associada à energia de Fermi, mas que não tem uma relação com a temperatura <strong>do</strong> metal<br />
como um to<strong>do</strong> (Omar, 1993).<br />
11<br />
Os pirómetros não são termómetros de contacto. Medem a temperatura com base na radiação<br />
emitida pelos corpos (ver secção 5.5).<br />
48
3.3 Radiação térmica<br />
49<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Os corpos emitem radiação electromagnética pelo facto de estarem a uma dada<br />
temperatura. Esta radiação é designada por radiação térmica. Por outro la<strong>do</strong>, os corpos<br />
também absorvem radiação electromagnética. Em equilíbrio termodinâmico há um<br />
balanço perfeito entre a energia emitida e a energia absorvida. Contu<strong>do</strong>, se um corpo está<br />
inicialmente a uma temperatura superior à da <strong>sua</strong> vizinhança, irá arrefecer, pois a <strong>sua</strong><br />
taxa de emissão de radiação é maior <strong>do</strong> que a <strong>sua</strong> taxa de absorção. Se o corpo estiver<br />
inicialmente a uma temperatura inferior à da <strong>sua</strong> vizinhança irá aquecer. Quan<strong>do</strong> o corpo<br />
e o meio ficam à mesma temperatura, é atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico e as taxas de<br />
emissão e absorção são iguais.<br />
A Figura 3.13 mostra a evolução temporal da temperatura <strong>do</strong> ar conti<strong>do</strong> dentro de<br />
latas pintadas (branca e preta), quan<strong>do</strong>, nas mesmas condições, se fez incidir radiação<br />
emitida por uma lâmpada, sobre cada uma delas. A montagem experimental é mostrada<br />
na Figura 3.14 e a actividade insere-se no currículo de 10º ano da disciplina de Física e<br />
Química A, componente da Física.<br />
Figura 3.13 Evolução temporal da temperatura <strong>do</strong> ar no interior de duas latas<br />
de cores diferentes, quan<strong>do</strong> incide nelas radiação nas mesmas<br />
condições.<br />
Analisan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s podemos concluir que o ar conti<strong>do</strong> na lata recebe, através<br />
desta, parte da energia emitida pela lâmpada, aumentan<strong>do</strong> assim a <strong>sua</strong> temperatura. Essa<br />
energia recebida depende da cor da superfície, já que estas têm a mesma área e a mesma<br />
textura. Com o decorrer <strong>do</strong> tempo, o aumento de temperatura é cada vez menor, o que se<br />
explica pelo facto de a lata também emitir radiação. A intensidade da energia emitida por
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
unidade de tempo e de área da superfície emissora é tanto maior quanto maior for a<br />
temperatura a que o corpo se encontra. Assim a diferença entre a energia que a lata<br />
absorve e a que ele emite é cada vez menor, num mesmo intervalo de tempo, até que essa<br />
diferença se anula, quan<strong>do</strong> é atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico. Neste esta<strong>do</strong>, a rapidez com<br />
que a energia é absorvida é igual àquela com que é emitida.<br />
Figura 3.14 Fotografia da montagem experimental para a comparação <strong>do</strong><br />
poder de absorção de radiação por diferentes superfícies.<br />
A matéria na fase sólida ou líquida emite um espectro contínuo de radiação. O<br />
perfil <strong>do</strong> espectro de radiação emitida depende fundamentalmente da <strong>sua</strong> temperatura,<br />
sen<strong>do</strong> praticamente independente <strong>do</strong> material de que o corpo é composto. Para<br />
temperaturas baixas a maioria <strong>do</strong>s corpos são visíveis, não pela radiação que emitem,<br />
mas devi<strong>do</strong> à luz que reflectem. Se não houver nenhuma luz a incidir sobre eles, não<br />
podem ser vistos. Todavia, a temperaturas muito altas, os corpos têm luminosidade<br />
própria. Podem ser vistos a brilhar num ambiente escuro, pois a radiação térmica por eles<br />
emitida começa a ser significativa na região <strong>do</strong> espectro visível.<br />
A radiação visível 12 , emitida por corpos mesmo a temperaturas de alguns milhares<br />
de Kelvin, é menor que 10% da radiação total emitida, sen<strong>do</strong> esta fundamentalmente<br />
radiação infravermelha. Podemos ilustrar este facto com uma actividade experimental<br />
que consiste no aquecimento de água colocan<strong>do</strong> uma lâmpada acesa no seu seio, cuja<br />
montagem se mostra na Figura 3.15.<br />
12 O olho humano é sensível ao espectro electromagnético na banda espectral de 400 nm a 700 nm.<br />
50
51<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Figura 3.15 Fotografias da montagem experimental para estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
aquecimento da água com uma lâmpada.<br />
A experiência foi repetida com a mesma lâmpada e nas mesmas condições de<br />
alimentação, mas envolvida com folha de alumínio.<br />
O gráfico da Figura 3.16 apresenta a evolução da temperatura da água em função<br />
<strong>do</strong> tempo. O aquecimento é devi<strong>do</strong> essencialmente à emissão na banda <strong>do</strong> infravermelho.<br />
A diferença entre os declives corresponde à emissão no visível, que é pequena quan<strong>do</strong><br />
comparada com a potência total emitida.<br />
Figura 3.16 Gráfico comparativo <strong>do</strong> aquecimento da água com uma lâmpada<br />
com e sem folha de alumínio.<br />
O facto de existir uma relação entre temperatura e emissão de radiação não é em si<br />
surpreendente. De acor<strong>do</strong> com a teoria corpuscular da matéria, a temperatura relaciona-se<br />
com a agitação das partículas constituintes da matéria. Como estas têm carga eléctrica e<br />
como uma carga em movimento acelera<strong>do</strong> emite radiação (Eisberg et al, 1979), o
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
fenómeno da emissão da radiação térmica é qualitativamente explica<strong>do</strong> pelas leis <strong>do</strong><br />
Electromagnetismo 13 . Porém, como veremos, esta teoria revela-se insuficiente para<br />
explicar o espectro de emissão observa<strong>do</strong> experimentalmente.<br />
Em rigor, o perfil <strong>do</strong> espectro da radiação térmica emitida por um corpo quente,<br />
depende de algum mo<strong>do</strong> da composição desse corpo, em particular das características da<br />
<strong>sua</strong> superfície. No entanto, podemos imaginar o caso ideal de corpos que emitem<br />
espectros térmicos com características universais, independentes <strong>do</strong> material de que são<br />
constituí<strong>do</strong>s. Um corpo com essas propriedades é designa<strong>do</strong> por corpo negro, e a <strong>sua</strong><br />
superfície absorve toda a radiação térmica incidente. O nome é sugeri<strong>do</strong> pelo facto de tal<br />
corpo não reflectir a luz, sen<strong>do</strong> percepciona<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> negro. Na natureza não se<br />
conhece nenhum corpo perfeitamente negro, apenas existin<strong>do</strong> boas aproximações que nos<br />
permitem estudar as <strong>sua</strong>s propriedades. Uma boa aproximação a um corpo negro obtém-<br />
-se cobrin<strong>do</strong> um objecto com uma camada de fuligem. Verifica-se que to<strong>do</strong>s os corpos<br />
negros à mesma temperatura emitem radiação térmica com o mesmo espectro.<br />
A distribuição espectral da radiação <strong>do</strong> corpo negro é descrita pela radiância<br />
espectral, RT ( n ) . A radiância espectral é definida como a energia emitida por um corpo,<br />
à temperatura T , com frequência compreendida entre n e n + dn<br />
, por unidade de tempo<br />
e por unidade de área. As primeiras medidas precisas desta grandeza foram feitas por<br />
Lummer e Pringsheim em 1899 (Alonso et al, 1978).<br />
Conforme se observa na Figura 3.17, RT ( n ) depende da temperatura <strong>do</strong> corpo<br />
emissor e da frequência da radiação. Além disso, vemos que a radiância espectral <strong>do</strong><br />
corpo negro tende para zero, tanto para frequências muito grandes como para frequências<br />
muito pequenas, e exibe um máximo para uma certa frequência, cujo valor aumenta com<br />
a temperatura.<br />
A energia total emitida pelo corpo negro, E R , à temperatura T , por unidade de<br />
tempo e de área, designa-se por radiância e é obtida integran<strong>do</strong> a função RT ( n )<br />
•<br />
R T<br />
0<br />
( )<br />
E = Ú R n dn<br />
(3.20)<br />
13 As leis <strong>do</strong> Electromagnetismo são unificadas pelas equações de Maxwell (Alonso et al, 1977).<br />
52
53<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Figura 3.17. Radiância espectral <strong>do</strong> corpo negro para quatro temperaturas<br />
diferentes.<br />
O valor de E R é proporcional à quarta potência da temperatura (Alonso et al, 1978).<br />
Esta relação é chamada a lei de Stefan-Boltzmann, e foi enuncia<strong>do</strong> pela primeira vez em<br />
1879 sob a forma da seguinte equação empírica<br />
R<br />
4<br />
E = s T<br />
(3.21)<br />
onde s é a constante de Stefan-Boltzmann, cujo valor é<br />
-8 -2 -4<br />
5,670 ¥ 10 Wm K . Da<br />
análise da Figura 3.17 também se pode concluir que o valor máximo <strong>do</strong> espectro se<br />
desloca para maiores frequências à medida que a temperatura aumenta. Este resulta<strong>do</strong> é<br />
chama<strong>do</strong> lei <strong>do</strong> deslocamento de Wien e estabelece que a frequência correspondente ao<br />
máximo de R T é proporcional à temperatura:<br />
n μ T<br />
(3.22)<br />
max<br />
Como ln = c , onde l é o comprimento de onda da radiação e c a velocidade de<br />
propagação das ondas electromagnéticas no vazio, a lei de Wien pode ser escrita em<br />
termos <strong>do</strong> comprimento de onda assumin<strong>do</strong> a forma<br />
l T = constante<br />
(3.23)<br />
max
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
onde l max é o comprimento de onda correspondente ao máximo da radiância espectral, a<br />
uma dada temperatura T . O valor determina<strong>do</strong> experimentalmente para a constante de<br />
Wien é de<br />
-3<br />
2,898 ¥ 10 m K .<br />
Uma excelente aproximação de um corpo negro, de grande importância no estu<strong>do</strong><br />
da teoria da radiação, pode ser obtida a partir de um objecto que contém uma cavidade<br />
ligada ao exterior por um pequeno orifício, como se ilustra na Figura 3.18.<br />
A radiação térmica que incide sobre o orifício, vinda <strong>do</strong> exterior, entra na cavidade e<br />
é completamente absorvida por ela devi<strong>do</strong> às sucessivas reflexões nas <strong>sua</strong>s paredes<br />
interiores. Se a área <strong>do</strong> orifício for muito pequena comparada com a área da superfície<br />
interna da cavidade, apenas uma fracção desprezível da radiação incidente sobre o<br />
orifício sai da cavidade e portanto o orifício deve ter propriedades da superfície de um<br />
corpo negro.<br />
Figura 3.18 Cavidade que com um orifício. A radiação que entra é totalmente<br />
absorvida devi<strong>do</strong> às sucessivas reflexões no interior da cavidade,<br />
que se aproxima a um corpo negro.<br />
Se as paredes da cavidade forem uniformemente aquecidas até atingirem uma dada<br />
temperatura T , emitirão radiação térmica que vai encher a cavidade. Uma pequena<br />
fracção dessa radiação, vinda <strong>do</strong> interior da cavidade incide sobre o orifício e vai<br />
atravessá-lo. Portanto este actua como um emissor de radiação térmica. Como ele tem as<br />
propriedades <strong>do</strong> corpo negro, a radiação emitida por ele deve ter um espectro de corpo<br />
negro. Mas como o orifício está apenas a deixar passar para fora uma pequena amostra da<br />
radiação <strong>do</strong> interior da cavidade, é natural que a radiação no seu interior também tenha o<br />
espectro <strong>do</strong> corpo negro. De facto, ela terá um espectro de corpo negro característico da<br />
54<br />
T
55<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
temperatura T das <strong>sua</strong>s paredes. O espectro de radiação emiti<strong>do</strong> pelo orifício da cavidade<br />
pode ser especifica<strong>do</strong> em termos da função radiância espectral, RT ( n ) . No entanto, é<br />
mais útil especificar o espectro da radiação dentro da cavidade, chamada radiação de<br />
cavidade, em termos de uma densidade de energia, rT ( n ) , que é definida como a energia<br />
contida por unidade de volume da cavidade, à temperatura T , no intervalo de frequência<br />
n e n + dn<br />
. É evidente que as duas quantidades são proporcionais entre si, isto é,<br />
( ) ( ) R r n μ n<br />
(3.24)<br />
T T<br />
Portanto, a radiação dentro da cavidade cujas paredes estão a uma temperatura T<br />
tem as mesmas propriedades que a radiação emitida pela superfície de um corpo negro à<br />
mesma temperatura.<br />
3.3.1 A teoria clássica da radiação <strong>do</strong> corpo negro<br />
No início <strong>do</strong> século XX, Rayleigh e Jeans fizeram o cálculo da densidade de<br />
energia da radiação de uma cavidade (ou de um corpo negro), o que mostrou uma séria<br />
discordância com os resulta<strong>do</strong>s experimentais. De facto, esta divergência pôs em causa a<br />
teoria da Física Clássica e foi o início <strong>do</strong> desenvolvimento da Física Quântica.<br />
Rayleigh e Jeans consideraram uma cavidade com paredes metálicas em equilíbrio<br />
térmico à temperatura T . Nestas condições, as paredes emitem radiação térmica que<br />
enche a cavidade, sen<strong>do</strong> o seu espectro o de um corpo negro à temperatura T . No regime<br />
estacionário a radiação electromagnética dentro da cavidade deverá existir na forma de<br />
ondas estacionárias com nós nas superfícies metálicas.<br />
Admitamos que a cavidade cheia de radiação electromagnética tem a forma de um<br />
cubo 14 de la<strong>do</strong> igual a a , conforme se ilustra na Figura 3.19. A radiação reflectida de um<br />
la<strong>do</strong> para o outro entre as paredes pode ser dividida em três componentes ao longo das<br />
três direcções perpendiculares definidas pelas arestas da cavidade, que podem ser<br />
tratadas separadamente. Se se considerar a componente segun<strong>do</strong> x e a parede metálica<br />
em x = 0 , toda a radiação que incide na parede é reflectida por esta e as ondas incidente<br />
e reflectida combinam-se para formar uma onda estacionária.<br />
14 A função densidade de energia dentro da cavidade deve ser independente da <strong>sua</strong> forma. A<br />
escolha da forma cúbica deve-se a uma conveniência <strong>do</strong> ponto de vista matemático.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 3.19 Uma cavidade cúbica, com aresta de comprimento a, preenchida<br />
por radiação electromagnética.<br />
Mas como a radiação electromagnética é uma onda transversal com o vector campo<br />
eléctrico E perpendicular à direcção de propagação, e como a direcção de propagação é<br />
perpendicular à parede em questão, o seu vector campo eléctrico é paralelo à parede. Mas<br />
uma parede metálica não pode suportar um campo eléctrico paralelo à <strong>sua</strong> superfície, já<br />
que isso produzia uma corrente eléctrica no senti<strong>do</strong> de anular tal campo. A superfície de<br />
um condutor em equilíbrio é uma superfície equipotencial e se existir campo eléctrico na<br />
superfície terá que lhe ser perpendicular. Portanto, a conciliação <strong>do</strong> equilíbrio eléctrico<br />
das paredes e a transversalidade da onda electromagnética exige que o vector campo<br />
eléctrico seja nulo nas paredes. Assim, a onda estacionária associada à componente<br />
segun<strong>do</strong> x deve ter um nó em x = 0 e outro em x = a . Analogamente, as componentes<br />
segun<strong>do</strong> y e z , têm nós em y = 0 e y = a,<br />
e em z = 0 e z = a,<br />
respectivamente.<br />
Estas condições colocam limitações nos comprimentos de onda possíveis da<br />
radiação contida na cavidade. Se a radiação de comprimento de onda l e frequência<br />
n = c l se propagara na direcção definida pelos ângulos a , b e g , tal como mostra a<br />
Figura 3.20, e for uma onda estacionária, então as <strong>sua</strong>s componentes segun<strong>do</strong> x , y e z<br />
também são ondas estacionárias. Na Figura 3.20 estão indicadas algumas localizações<br />
<strong>do</strong>s nós fixos desta onda estacionária onde se fez passar em cada um deles um plano<br />
perpendicular à direcção de propagação. A distância entre eles é de l 2 , onde l é o<br />
comprimento de onda.<br />
z<br />
z = a<br />
0<br />
x = a<br />
x<br />
56<br />
y = a<br />
y
57<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Figura 3.20 Planos nodais de uma onde estacionária que se propaga numa<br />
dada direcção na cavidade cúbica.<br />
Os nós das componentes segun<strong>do</strong> x , y e z podem ser da<strong>do</strong>s por:<br />
( ) ( )<br />
( ) ( )<br />
Ï lx2= l 2 cos a<br />
Ô<br />
Ìly2=<br />
l 2 cos b<br />
Ô<br />
Ó<br />
Ô lz2= ( l 2) cos(<br />
g )<br />
z<br />
l y<br />
l z<br />
2 y<br />
2<br />
l z<br />
2<br />
lx<br />
2<br />
(3.25)<br />
As componentes <strong>do</strong> campo eléctrico da onda estacionária segun<strong>do</strong> os três eixos são<br />
dadas pelas expressões<br />
( , ) sin ( 2p l ) sin ( 2pn<br />
)<br />
Ï E x t = A x x t<br />
Ô<br />
Ô<br />
ÌE<br />
y t B y y t<br />
Ô<br />
Ô<br />
ÓE<br />
z t = C z z t<br />
( , ) = sin( 2p l ) sin( 2pn<br />
)<br />
( , ) sin ( 2p l ) sin ( 2pn<br />
)<br />
(3.26)<br />
A componente x é uma onda de amplitude variável, cujo valor máximo é A, com<br />
variações espaciais dadas por sin ( 2 x x )<br />
( x )<br />
g<br />
a<br />
b<br />
p l e com frequência temporal n . Como<br />
sin 2p l x se anula para 2x l x = 0, 1, 2, 3, ... , trata-se de uma onda estacionária cujo<br />
comprimento de onda é l x , uma vez que tem nós separa<strong>do</strong>s por uma distância de<br />
lx<br />
2<br />
l<br />
2<br />
Direcção de<br />
propagação<br />
x
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
x lx<br />
D = 2 . As expressões correspondentes às componentes y e z representam ondas<br />
estacionárias de amplitudes máximas B e C e comprimentos de onda l y e l z ,<br />
respectivamente. É de notar que as equações (3.26) satisfazem as condições de que a<br />
componente x tenha um nó em x = 0 , a componente y em y = 0 e a componente z em<br />
z = 0 . No entanto, para que a componente x tenha um nó em x = a , a componente y<br />
em y = a e a componente z em z = a,<br />
é necessário impor as seguintes condições<br />
Ï 2a<br />
l = n<br />
Ô<br />
Ì2a<br />
l = n<br />
Ô<br />
ÓÔ<br />
2a<br />
l = n<br />
x x<br />
y y<br />
z z<br />
onde n x = 0, 1, 2, 3, ... ; n = 0, 1, 2, 3, ... ; n z = 0, 1, 2, 3, ...<br />
y<br />
(3.27)<br />
Resolven<strong>do</strong> o sistema de equações (3.25) em ordem a l x , l y e l z e substituin<strong>do</strong><br />
os seus valores na equação (3.27), obtemos<br />
( 2 l) cos(<br />
a)<br />
( 2 l) cos(<br />
b)<br />
Ï a = nx<br />
Ô<br />
Ì a = ny<br />
Ô<br />
Ô<br />
Ó(<br />
2a l) cos(<br />
g ) = nz<br />
o que elevadas ao quadra<strong>do</strong> e somadas, resultam na seguinte equação<br />
Ê2aˆ Á<br />
Ë<br />
˜<br />
l ¯<br />
2<br />
( a b g )<br />
2 2 2 2 2 2<br />
cos + cos + cos = nx+ ny + nz<br />
Mas os ângulos a , b e g satisfazem a relação<br />
permite escrever<br />
2 2 2<br />
(3.28)<br />
(3.29)<br />
cos a + cos b + cos g = 1,<br />
o que<br />
2a<br />
2 2 2<br />
= nx+ ny + nz<br />
(3.30)<br />
l<br />
onde x n , y n e n z podem tomar qualquer valor inteiro. Esta equação descreve a restrição<br />
a impor aos comprimentos de onda para a radiação electromagnética contida na cavidade.<br />
58
59<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Por conveniência continuamos a discussão em termos de frequências possíveis em<br />
vez de comprimentos de onda.<br />
c c 2 2 2<br />
n = = nx+ ny + nz<br />
(3.31)<br />
l 2a<br />
Determinemos o número de frequências contidas num intervalo de n a n + dn<br />
.<br />
Para isso definimos uma grelha de forma cúbica desenhada no primeiro octante de um<br />
sistema de coordenadas rectangular, de tal mo<strong>do</strong> que as três coordenadas de cada ponto<br />
da grelha correspondam a um possível valor para os três inteiros n x , y n e n z . Por<br />
construção, cada ponto da grelha corresponde a uma frequência, portanto o número de<br />
frequências possíveis entre n e n dn<br />
+ , N( n ) dn<br />
, é igual a ( )<br />
N r dr, que corresponde ao<br />
número de pontos conti<strong>do</strong>s entre volumes de forma esférica de raios r e r+ dr,<br />
respectivamente, onde<br />
r = n + n + n ,<br />
2 2 2<br />
x y z<br />
ou seja, usan<strong>do</strong> a equação (3.31),<br />
2a<br />
r<br />
c n = (3.32)<br />
Então N( r) dr é igual ao produto <strong>do</strong> volume entre as esferas pela densidade de<br />
pontos da grelha, que por construção é de um ponto por unidade de volume, ou seja, um<br />
ponto por frequência de onda estacionária.<br />
O elemento de volume em coordenadas cartesianas é dada por dV = dx dy dz , onde<br />
dx , dy e dz são os deslocamentos elementares segun<strong>do</strong> x , y e z . Em coordenadas<br />
esféricas ( r, qf , ) o elemento de volume é da<strong>do</strong> por<br />
( )<br />
2<br />
dV r sin dr d d<br />
= f f q<br />
(3.33)<br />
Para calcular o volume elementar entre as duas esferas é necessário integrar a<br />
expressão anterior no primeiro octante:
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
p p<br />
2 2<br />
2<br />
() sin ()<br />
N r dr = ÚÚ r f dfdq dr<br />
0 0<br />
obten<strong>do</strong>-se como resulta<strong>do</strong><br />
()<br />
p<br />
= (3.34)<br />
2<br />
2<br />
N r dr r dr<br />
Da equação (3.32) temos ( 2 )<br />
3<br />
Ê2aˆ 2<br />
N d d<br />
( )<br />
n n = p Á n n<br />
Ë<br />
˜<br />
c ¯<br />
dr = a c dn , obten<strong>do</strong>-se a expressão final de N( n ) dn<br />
60<br />
(3.35)<br />
Com isto fica concluí<strong>do</strong> o cálculo <strong>do</strong> número de ondas estacionárias contidas numa<br />
cavidade cúbica de aresta a . O resulta<strong>do</strong> da equação (3.35) vem multiplica<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is já<br />
que, consideran<strong>do</strong> uma radiação segun<strong>do</strong> o eixo <strong>do</strong>s xx , por exemplo, o seu vector<br />
campo eléctrico, ten<strong>do</strong> uma direcção perpendicular, pode tomar qualquer direcção entre<br />
os eixos yy e zz (<strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s de polarização). A amplitude da radiação pode ser escrita<br />
da seguinte forma:<br />
2 2<br />
y z<br />
A= A + A<br />
Se for considera<strong>do</strong> que o número de radiações é suficientemente eleva<strong>do</strong>, pode-se<br />
dizer que em média Ay = Az,<br />
o que faz que a amplitude média das radiações, A , possa<br />
ser escrita por<br />
A= 2Ay Sen<strong>do</strong> a energia de uma radiação dada pelo quadra<strong>do</strong> da <strong>sua</strong> amplitude, essa energia<br />
será então de<br />
2<br />
2A y , o que significa que se pode multiplicar o número de ondas por um<br />
factor de <strong>do</strong>is e calcular de seguida o valor da energia média de cada componente da<br />
radiação.
61<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Sen<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> o número de ondas estacionárias contidas na cavidade, agora só é<br />
necessário saber qual é a energia média de cada onda para que seja possível calcular a<br />
densidade de energia, por unidade de volume, num certo intervalo de frequências.<br />
Mas segun<strong>do</strong> a teoria cinética clássica, mais concretamente segun<strong>do</strong> a lei da<br />
equipartição da energia, a energia cinética média de uma entidade em equilíbrio térmico<br />
à temperatura T é de kT 2 por grau de liberdade, onde<br />
-23 -1<br />
k = 1,38065 ¥ 10 J K é a<br />
constante de Boltzmann. Como cada uma das ondas estacionárias tem apenas um grau de<br />
liberdade, a amplitude <strong>do</strong> seu campo eléctrico, a <strong>sua</strong> energia cinética média é de kT 2 .<br />
Facilmente se chega à conclusão que para um sistema oscilante com apenas um grau de<br />
liberdade, a energia total é o <strong>do</strong>bro da energia cinética média. A energia total de cada<br />
onda estacionária é dada por<br />
e = kT<br />
(3.36)<br />
Voltan<strong>do</strong> à equação (3.35), que relaciona o número de frequências possíveis com o<br />
volume da cavidade, e saben<strong>do</strong> que em média a energia de uma radiação é dada pela lei<br />
da equipartição da energia traduzida pela equação (3.36), a primeira ideia que surge é que<br />
a densidade de energia por unidade de volume de uma cavidade à temperatura T será<br />
3<br />
dada pela multiplicação das duas expressões, a dividir pelo volume da cavidade ( a ) , ou<br />
seja,<br />
2<br />
8pn<br />
kT<br />
rT ( n) dn = dn<br />
(3.37)<br />
3<br />
c<br />
Esta ideia surgiu pela primeira vez a Rayleigh e Jeans, e embora aparentemente<br />
baseada em teorias sólidas, não coincide com os resulta<strong>do</strong>s experimentais. A Figura 3.21<br />
faz a comparação entre as previsões da equação (3.37) e a experiência. Como se pode<br />
observar da figura, a discrepância é enorme. A baixas frequências as duas curvas são<br />
aproximadamente iguais, no entanto, à medida que a frequência cresce, a previsão teórica<br />
aponta que a energia tende para infinito, enquanto que na prática todas as experiências<br />
conduzem ao resulta<strong>do</strong> de que essa energia tende para zero. A previsão da Física clássica<br />
é conhecida por catástrofe <strong>do</strong> ultravioleta.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 3.21 Comparação entre a previsão da Física clássica e os resulta<strong>do</strong>s<br />
experimentais para a densidade de energia numa cavidade.<br />
3.3.2 A distribuição de Boltzmann<br />
A lei da equipartição da energia surge também no resulta<strong>do</strong> de um cálculo bastante<br />
credível da Mecânica Estatística designa<strong>do</strong> por distribuição de Boltzmann e que é<br />
considera<strong>do</strong> seguidamente.<br />
Considere-se um sistema que contem um número eleva<strong>do</strong> de entidades físicas <strong>do</strong><br />
mesmo tipo em equilíbrio térmico à temperatura T. Para estarem em equilíbrio<br />
necessitam de trocar energia entre si. Nas trocas efectuadas, a energia de cada entidade<br />
flutua em torno de um valor médio. Em cada instante algumas partículas têm mais<br />
energia <strong>do</strong> que o valor médio e outras menos. Segun<strong>do</strong> a teoria clássica da mecânica<br />
estatística essas energias, e , tomam valores de acor<strong>do</strong> com uma função de distribuição<br />
de probabilidade, cuja forma depende da temperatura. O valor médio da energia, e , de<br />
cada partícula é determina<strong>do</strong> pela distribuição de probabilidade e deverá ter um valor<br />
defini<strong>do</strong> para uma temperatura particular (Eisberg et al, 1979).<br />
Consideremos um sistema de partículas <strong>do</strong> mesmo tipo às quais se pode associar<br />
uma dada energia. Se o sistema for isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente que o rodeia, a <strong>sua</strong> energia total<br />
permanece constante, poden<strong>do</strong> apenas ocorrer trocas de energia entre as partículas. Para<br />
simplificar os cálculos, admitamos que a energia de cada partícula toma valores discretos<br />
e múltiplos de D e , ou seja, e = 0,<br />
D e , 2D e , 3D e , 4D e , … . Nos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s,<br />
fazen<strong>do</strong> tender D e para zero obteremos os resulta<strong>do</strong>s correspondentes à possibilidade de<br />
uma partícula poder ter um valor contínuo para a <strong>sua</strong> energia. Também para simplificar,<br />
admitimos que o sistema é constituí<strong>do</strong> por um número pequeno de partículas (quatro, por<br />
62
63<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
exemplo) e que a <strong>sua</strong> energia total é 3D e . Tem-se em mente a generalização posterior<br />
para sistemas com grande número de partículas e para qualquer valor de energia total.<br />
Nº de<br />
e = 0 e =D e e = 2De<br />
e = 3De<br />
e = 4De<br />
possibilidades<br />
i = 1 3 1 4 420<br />
i = 2 2 1 1 12 12 20<br />
i = 3 1 3 4 420<br />
n¢ ( e ) 40 20 24 20 12 20 420 020<br />
Tabela 3.2 Cálculo da distribuição de Boltzmann.<br />
Uma vez que as quatro partículas podem trocar energia entre si, todas as divisões<br />
possíveis da energia 3D e entre as quatro entidades podem ocorrer. Na Tabela 3.2<br />
mostra-se todas as possibilidades de distribuição da energia total pelas quatro partículas,<br />
identificadas pela letra i . Para i = 1,<br />
três partículas têm energia nula, ten<strong>do</strong> a quarta<br />
energia igual a 3D e , ten<strong>do</strong> o sistema a energia e = 3D<br />
e . Nesta situação podem existir<br />
quatro possibilidades diferentes, uma vez que qualquer uma das quatro entidades pode<br />
ser a que tem energia de 3D e .<br />
No caso de i = 2,<br />
duas partículas têm energia nula, a terceira e a quarta têm,<br />
respectivamente, energias e =D e e e = 2D<br />
e . Nesta situação podem existir <strong>do</strong>ze<br />
possibilidades distintas de distribuição da energia (qualquer uma das quatro partículas<br />
pode ter energia e = 2D<br />
e e qualquer uma das restantes três pode ter energia e =D e , ou<br />
seja, 4¥ 3= 12 possibilidades).<br />
Para i = 3 , existem quatro mo<strong>do</strong>s distintos de fazer uma partícula com energia<br />
e = 0 e as restantes três partículas com energia e =D e .<br />
A última hipótese a considerar é a de que todas as possibilidades de dividir a<br />
energia pelas partículas ocorrem com igual probabilidade. Então a probabilidade de<br />
ocorrerem as divisões de determina<strong>do</strong> tipo ( i = 1,<br />
2 ou 3) é proporcional ao número de<br />
divisões distintas desse mesmo tipo. A probabilidade relativa, P i , é então igual ao<br />
número de divisões de determina<strong>do</strong> tipo a dividir pelo número total de divisões. As<br />
probabilidades relativas estão calculadas na coluna da direita da Tabela 3.2.<br />
O parâmetro que falta calcular é o número provável de entidades num da<strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
de energia e , n¢ ( e ) . Para o nível de energia e = 0 existem três entidades em divisões <strong>do</strong><br />
i P
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
tipo i = 1,<br />
com uma probabilidade de ocorrência de 4/20, duas entidades <strong>do</strong> tipo i = 2<br />
com probabilidade de 12 20 e uma entidade <strong>do</strong> tipo i = 3 com probabilidade de 420, o<br />
que faz com que n¢ ( e ) seja igual a 3¥ 4 20+ 2¥ 12 20+1¥<br />
4 20 = 40 20 . Os restantes<br />
valores de n¢ ( e ) estão calcula<strong>do</strong>s na última linha da Tabela 3.2. É de notar que a soma<br />
<strong>do</strong>s n¢ ( e ) é quatro, já que existem quatro partículas no sistema. Na Figura 3.22 estão<br />
marca<strong>do</strong>s os valores de n¢ ( e ) . A curva a cheio da mesma figura é a representação da<br />
função exponencial negativa<br />
( e )<br />
-<br />
= 0<br />
(3.38)<br />
n Ae ee<br />
onde A e e 0 são constantes que foram calculadas de mo<strong>do</strong> que a curva se ajuste o melhor<br />
possível aos pontos calcula<strong>do</strong>s correspondentes a n¢ ( e ) .<br />
Figura 3.22 Comparação entre os resulta<strong>do</strong>s de um cálculo simples e a<br />
distribuição de Boltzmann.<br />
Diminuin<strong>do</strong> o intervalo D e , aumentan<strong>do</strong> assim o número de esta<strong>do</strong>s possíveis, a<br />
função n¢ ( e ) fica definida para valores de e cada vez mais próximos e no limite quan<strong>do</strong><br />
DeÆ 0 , a energia e de uma partícula fica uma variável contínua, como é suposto na<br />
Física clássica e a distribuição n¢ ( e ) torna-se uma função contínua. Se, finalmente, o<br />
64
65<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
número de partículas <strong>do</strong> sistema for muito grande, chega-se à conclusão de que a função<br />
que se encontraria para n¢ ( e ) é idêntica à exponencial negativa da equação (3.38).<br />
No exemplo apresenta<strong>do</strong> anteriormente, outro méto<strong>do</strong> para se calcular a energia<br />
total <strong>do</strong> sistema seria multiplicar cada nível de energia pelo número provável de<br />
entidades com essa energia. No final, a energia total <strong>do</strong> sistema, e s , é dada pela soma de<br />
todas as multiplicações, ou seja, pode ser calculada pela expressão<br />
s<br />
NDe<br />
Â<br />
0<br />
( )<br />
e = e n¢<br />
e<br />
( )<br />
= 0 ¥ 40 20 +D e ¥ 24 20 + 2D e ¥ 12 20 + 3D e ¥ 4 20 = 60 20 D e = 3De<br />
A energia média de cada partícula também pode ser obtida dividin<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong><br />
anterior pelo número total de entidades, que no exemplo apresenta<strong>do</strong> são quatro. Portanto<br />
a energia média de cada entidade será dada por<br />
e =<br />
NDe<br />
Â<br />
0<br />
NDe<br />
Â<br />
0<br />
( )<br />
e n¢<br />
e<br />
n¢<br />
( e )<br />
que neste caso dá ( 34) e<br />
(3.39)<br />
D . Com a generalização para DeÆ 0 e um número de<br />
partículas muito eleva<strong>do</strong>, o valor da energia média de cada partícula será da<strong>do</strong> por<br />
e =<br />
•<br />
Ú<br />
0<br />
•<br />
0<br />
( )<br />
e n e de<br />
Ú<br />
( )<br />
n e de<br />
Substituin<strong>do</strong> n( e ) pelo valor da equação (3.38),<br />
e =<br />
•<br />
-ee<br />
A e 0d<br />
Ú<br />
0<br />
•<br />
-ee<br />
Ae 0d<br />
Ú<br />
0<br />
e e<br />
e<br />
(3.40)<br />
(3.41)
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Se se resolverem os integrais, chega-se à conclusão de que e = e0,<br />
ou seja, a<br />
constante e 0 da exponencial negativa da equação (3.38) é igual à energia média de cada<br />
entidade e não é necessário saber <strong>do</strong> valor de A.<br />
Mas segun<strong>do</strong> a lei da equipartição da energia, o valor médio de energia de uma<br />
partícula é proporcional à <strong>sua</strong> temperatura. Então como o parâmetro e 0 tem o mesmo<br />
valor que e , a equação (3.38) pode ser escrita da seguinte forma:<br />
( e )<br />
kT<br />
n Ae e -<br />
= (3.42)<br />
A equação anterior é a famosa distribuição de Boltzmann. Como o valor de A não<br />
é especifica<strong>do</strong>, na realidade apenas sabemos que, à temperatura T , o número de<br />
entidades com um determina<strong>do</strong> nível de energia, n( e ) , é proporcional a<br />
66<br />
kT<br />
e e -<br />
Em termos de cálculo probabilístico, facilmente se chega à conclusão de que o<br />
número provável de partículas com um determina<strong>do</strong> nível de energia é proporcional à<br />
probabilidade de ser encontrada uma determinada partícula com esse mesmo nível de<br />
kT<br />
energia, ou seja, P( e) μ n(<br />
e)<br />
e se n( ) Ae e -<br />
kT<br />
e = , então P( ) Be e -<br />
e<br />
= , desde que a<br />
constante B seja escolhida apropriadamente. Para que B seja calcula<strong>do</strong> basta resolver a<br />
equação em que a soma de todas as probabilidades de algo acontecer é igual a 1, ou seja,<br />
• •<br />
-e<br />
kT<br />
1<br />
P( e) de = 1¤ B e = 1¤<br />
B =<br />
kT<br />
Ú Ú (3.43)<br />
0 0<br />
e daqui se pode concluir que<br />
P<br />
( e )<br />
-e<br />
kT<br />
e<br />
= (3.44)<br />
kT<br />
3.3.3 A teoria de Planck da radiação <strong>do</strong> corpo negro<br />
Para solucionar a discrepância entre a teoria e a experiência, Planck considerou a<br />
hipótese de que a lei da equipartição da energia não estava correcta. Como a distribuição<br />
de Boltzmann (que usa a dita lei) parece baseada em pressupostos bastante credíveis,<br />
Planck partiu da equação (3.44) para estudar a discrepância entre a teoria e a prática.<br />
.
A energia média de uma radiação pode ser dada por<br />
e =<br />
•<br />
Ú<br />
0<br />
•<br />
0<br />
( )<br />
e P e de<br />
Ú<br />
( )<br />
P e de<br />
67<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
(3.45)<br />
Como o integral <strong>do</strong> denomina<strong>do</strong>r representa a probabilidade da energia ter qualquer<br />
valor de zero a infinito, o seu resulta<strong>do</strong> vai ser igual a um.<br />
Se se resolver o integral <strong>do</strong> numera<strong>do</strong>r, obtemos e = kT .<br />
Observan<strong>do</strong> o gráfico da Figura 3.21, chega-se à conclusão de que a lei clássica dá<br />
resulta<strong>do</strong>s satisfatórios para baixas frequências:<br />
lim e = kT , isto é, a energia média de<br />
n Æ0<br />
uma radiação tende para kT quan<strong>do</strong> a frequência tende para zero. Também se pode<br />
observar a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s experimentais que lim e = 0 .<br />
n Æ•<br />
Ao tentar encontrar uma solução para o problema, Planck supôs que a energia e<br />
poderia ter apenas certos valores discretos, em vez de qualquer valor, e que esses valores<br />
discretos eram múltiplos de um valor mínimo: e = 0,<br />
D e , 2 D e , 3 D e , 4 D e , … ,ou seja<br />
e = n D e , n Œ .<br />
Planck chegou à conclusão de que para a energia média dum sistema tender para<br />
zero quan<strong>do</strong> a frequência tende para infinito bastava fazer D e proporcional à frequência,<br />
ou seja, D e = hn<br />
e e = nhn<br />
, n Œ , onde<br />
-34<br />
h = 6,626 ¥ 10 Js é hoje conhecida como a<br />
constante de Planck.<br />
A equação (3.45) dará lugar a uma forma discreta em que os integrais darão lugar a<br />
somatórios<br />
• • -nhn<br />
kT<br />
e<br />
ÂeP( e) Ânhn<br />
n= 0 n=<br />
0 kT<br />
e = =<br />
• • -nhn<br />
kT<br />
e<br />
ÂP( e ) Â kT<br />
n= 0 n=<br />
0<br />
(3.46)
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Depois de resolvi<strong>do</strong>s os somatórios, é obtida uma expressão para a energia média<br />
que é a seguinte (Alonso et al, 1978)<br />
( )<br />
e n =<br />
h<br />
h kT<br />
e 1<br />
n<br />
n<br />
- (3.47)<br />
e a fórmula que se obtém para a densidade de energia da cavidade com o espectro de<br />
corpo negro é:<br />
8 h<br />
T ( ) d d<br />
3 h kT<br />
c e 1<br />
n<br />
p n<br />
r n n =<br />
n<br />
-<br />
3<br />
68<br />
(3.48)<br />
Esta fórmula, conhecida como lei de Planck está em excelente acor<strong>do</strong> com as<br />
experiências feitas até ao momento.<br />
Em grande parte da literatura a lei de Planck aparece como função <strong>do</strong> comprimento<br />
de onda e não como função da frequência. Para se obter tal expressão basta saber que:<br />
c<br />
c<br />
n = e dn=- dl<br />
2<br />
l<br />
l<br />
Então, temos<br />
( ) d = 5<br />
r l l<br />
8phc<br />
dl<br />
l<br />
l e - 1<br />
T hc kT<br />
(3.49)<br />
A lei de Stefan-Boltzmann, dada pela equação (3.21), traduz a radiação total<br />
emitida por um corpo à temperatura T e é obtida a partir da lei de Planck integran<strong>do</strong> a<br />
densidade de radiação para todas as frequências. Obtêm-se que a densidade de radiação é<br />
proporcional à quarta potência da temperatura (Alonso et al, 1978). Do mesmo mo<strong>do</strong>, a<br />
lei <strong>do</strong> deslocamento de Wien, dada pela equação (3.22), é obtida igualan<strong>do</strong> a primeira<br />
derivada de rT ( n ) a zero. Obtêm-se assim que o máximo da curva é proporcional à<br />
temperatura.<br />
O conceito de corpo negro é uma idealização útil, mas os corpos reais afastam-se<br />
<strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong> corpo negro em maior ou menor grau. O comportamento real é<br />
descrito introduzin<strong>do</strong> um coeficiente, designa<strong>do</strong> por emissividade e denota<strong>do</strong> por e ,<br />
obten<strong>do</strong>-se a lei de Stefan-Boltzmann para corpos reais, onde e < 1,<br />
R<br />
4<br />
E = esT (3.50)
69<br />
3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />
Na Tabela 3.3 são apresenta<strong>do</strong>s os valores de emissividade para vários materiais,<br />
no esta<strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> e líqui<strong>do</strong>, para um comprimento de onda de 0,65μm.<br />
Tabela 3.3 Emissividade de alguns materiais a l = 0,65μm .
4 Metrologia da temperatura<br />
4.1 Introdução<br />
Através <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s o homem trava conhecimento com o mun<strong>do</strong> físico que o<br />
rodeia. A primeira noção de temperatura de um sistema é estabelecida a partir da<br />
sensação térmica que o tacto proporciona, sen<strong>do</strong> traduzida pelos termos frio, quente,<br />
gela<strong>do</strong>, morno, etc.<br />
No entanto, a nossa percepção de quente e frio é, por vezes, engana<strong>do</strong>ra. Por<br />
exemplo, sente-se a sensação de frio quan<strong>do</strong> se mergulha uma mão em água morna<br />
depois de a ter mergulha<strong>do</strong> durante algum tempo em água quente e sente-se a sensação<br />
de quente quan<strong>do</strong> se mergulha a mão na mesma água morna depois de a ter mergulha<strong>do</strong><br />
durante algum tempo em água fria.<br />
Portanto o carácter “sensitivo” não pode, para fins científicos, ser utiliza<strong>do</strong> como<br />
um termómetro pois é um instrumento diferencial, pois só consegue distinguir entre<br />
“mais frio” e “mais quente” em relação à <strong>sua</strong> própria temperatura. Além disso tem um<br />
carácter relativo que depende da pessoa, da condição fisiológica em que se encontrava<br />
anteriormente e da natureza <strong>do</strong>s objectos toca<strong>do</strong>s. Por exemplo, uma maçaneta metálica<br />
“parece mais fria” ao tacto <strong>do</strong> que a porta onde está colocada, apesar de estarem ambas à<br />
mesma temperatura. A explicação tem a ver com os valores das <strong>sua</strong>s condutividades e<br />
capacidades térmicas.<br />
Surge, portanto, a necessidade de se estabelecer um instrumento normaliza<strong>do</strong> de<br />
<strong>medição</strong> de temperatura que seja independente <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r – o termómetro. A<br />
metrologia da temperatura antecede a compreensão <strong>do</strong> conceito científico de temperatura.<br />
De entre todas as grandezas físicas, a temperatura é provavelmente aquela que é<br />
medida com mais frequência, pois é relevante em muitas áreas científicas e tecnológicas.<br />
Citam-se como exemplo de actividades onde é essencial a <strong>medição</strong> de temperatura, as<br />
indústrias químicas, siderúrgicas, de plástico e de papel, alimentar, farmacêutica,<br />
automóvel, aviação, entre outras. Também na meteorologia, na medicina e investigação<br />
científica em geral.<br />
71
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Os termómetros baseiam-se na dependência com a temperatura de propriedades das<br />
substâncias tais como volume, pressão, resistência eléctrica, variação de cor, etc.<br />
Há vários tipos de termómetros, que diferem na exactidão, no méto<strong>do</strong>, na gama de<br />
<strong>medição</strong>, etc. O tipo de termómetro a ser utiliza<strong>do</strong> para a determinação da temperatura de<br />
um sistema depende da aplicação particular pretendida.<br />
4.2 Breve história da <strong>medição</strong> de temperatura<br />
Esta secção baseou-se em algumas fontes, nomeadamente (Pires et al, 2006),<br />
http://home.comcast.net/~igpl/Temperature.html, ten<strong>do</strong> alguma sobreposição com o texto<br />
de Paulo Cabral “Breve História da Medição de <strong>Temperatura</strong>s”.<br />
Primórdios (séculos XVI – XVIII)<br />
Os registos históricos existentes situam a primeira tentativa<br />
de estabelecer uma “escala de temperaturas” por volta de 170 d.c.<br />
O médico grego Claudius Galenus de Pergamum (129 – 201) terá<br />
sugeri<strong>do</strong> que as sensações de quente e de frio fossem medidas<br />
com base numa escala com quatro divisões numeradas acima e<br />
abaixo de um ponto neutro. A essa escala termométrica atribuiu a<br />
Claudius Galenus<br />
temperatura de “4 graus de calor” à água a ferver, a temperatura<br />
de “4 graus de frio” ao gelo e a temperatura de “neutra” à mistura de iguais quantidades<br />
daquelas duas substâncias.<br />
Não obstante a termometria anteceder a épocas tão remotas,<br />
a invenção <strong>do</strong> primeiro termómetro é atribuída ao Físico italiano<br />
Galileu Galilei (1564 – 1642). O equipamento consistia de um<br />
recipiente aberto conten<strong>do</strong> água colorida e sobre a qual se inseria a<br />
extremidade de um tubo fino de vidro suspenso, ten<strong>do</strong> na<br />
extremidade superior uma esfera oca.<br />
Galileu Galilei<br />
Pensa-se que Galileu tenha usa<strong>do</strong> vinho ao invés de água.<br />
Antes da imersão <strong>do</strong> tubo, de alguma forma, foi expelida uma<br />
parte <strong>do</strong> ar contida no seu interior, crian<strong>do</strong> naquela câmara uma pressão menor <strong>do</strong> que a<br />
atmosférica, fazen<strong>do</strong> com que o líqui<strong>do</strong> subisse dentro <strong>do</strong> tubo. Um aumento de<br />
temperatura <strong>do</strong> ar no interior da esfera provocava uma expansão <strong>do</strong> ar e,<br />
consequentemente uma movimentação no nível <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> para baixo e, por outro la<strong>do</strong>,<br />
uma queda de temperatura resultava no movimento <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> para cima. As<br />
flutuações da temperatura da esfera podiam assim ser observadas, anotan<strong>do</strong> a posição <strong>do</strong><br />
72
73<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
líqui<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> tubo. Este primeiro instrumento foi designa<strong>do</strong> por termoscópio<br />
(instrumento que indica variações temperatura por mudança de volume).<br />
Figura 4.1 Termómetro de<br />
Galileu Galilei.<br />
Em 1611, Bartolomeu Telioux, de Roma, desenhou um termoscópio <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de uma<br />
escala. Mas o verdadeiro “termómetro” foi inventa<strong>do</strong> pelo médico Sanctorius Sanctorius,<br />
que, cerca de 1612, desenvolveu um termómetro de ar equipa<strong>do</strong><br />
com uma escala para leitura da temperatura.<br />
Na segunda metade <strong>do</strong> século XVII o termómetro a ar era<br />
já muito conheci<strong>do</strong>, embora a <strong>sua</strong> eficácia não fosse muito boa.<br />
Em 1644, Evangelista Torricelli descobriu a variabilidade da<br />
pressão <strong>do</strong> ar e, cerca de 1660, comprovou-se que o termómetro<br />
a ar reagia não só à variação de temperatura mas também à<br />
Torricelli<br />
variação de pressão. A solução para esse problema (e também o<br />
passo seguinte na <strong>medição</strong> de temperatura) fora da<strong>do</strong> em<br />
1651 por Ferdinan<strong>do</strong> II (1610 – 1670), Gran Duque da<br />
Toscânia, que desenvolveu o primeiro termómetro que usava<br />
líqui<strong>do</strong> em vez de ar como meio termométrico. Selou um<br />
tubo conten<strong>do</strong> álcool e ten<strong>do</strong> gravada uma escala arbitrária,<br />
dividida em 50 graus. Não era referi<strong>do</strong> nenhum ponto fixo<br />
como sen<strong>do</strong> o zero da escala. Nascia assim o termómetro<br />
Ferdinan<strong>do</strong> II<br />
Florentino.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Em 1664, Robert Hook (1635 – 1703), da Lon<strong>do</strong>n Royal<br />
Society, usou tinta vermelha no álcool. A <strong>sua</strong> escala, em que os<br />
graus representavam um incremento no volume equivalente a<br />
cerca de 1/500 <strong>do</strong> volume total <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> no termómetro,<br />
necessitava apenas de um ponto fixo. O ponto fixo que ele<br />
escolheu foi o ponto de solidificação da água. Hook reparou que<br />
a mesma escala poderia ser usada por termómetros de vários<br />
tamanhos.<br />
Em 1702, o astrónomo Olef Roemer (1644 – 1710), oriun<strong>do</strong> de<br />
Copenhaga, utilizou <strong>do</strong>is pontos fixos na <strong>sua</strong> escala (o ponto de<br />
solidificação e o ponto de ebulição da água), dan<strong>do</strong> início à criação<br />
de escalas termométricas que se assemelham às que se conhecem<br />
hoje em dia e à construção de termómetros muito próximos <strong>do</strong>s<br />
modelos actuais.<br />
Século XVIII: a profusão das escalas termométricas<br />
O uso sistemático de termómetros teve um início bastante difícil. Face a problemas<br />
culturais, de comunicação, guerras, diferentes interpretações <strong>do</strong> fenómeno da temperatura<br />
e diferentes maneiras de construir o instrumento, uma enorme quantidade de escalas<br />
termométricas foram propostas ao longo <strong>do</strong> século XVIII, situação que dificultava<br />
enormemente a comparação de resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em diversos países. Há referência a 27<br />
escalas em uso na Europa em 1778 (Pires et al, 2006). Três delas difundiram-se no meio<br />
científico, sen<strong>do</strong> bastante usadas ao longo <strong>do</strong>s séculos XIX e XX.<br />
A escala Réaumur (ºR), <strong>do</strong> francês René-Antoine F. de<br />
Réaumur (1683 – 1757), apresentada em 1730, era baseada na<br />
expansão térmica <strong>do</strong> álcool (etanol). Os pontos fixos eram o ponto<br />
de congelamento da água (0 ºR), e o ponto de ebulição desta<br />
(80 ºR). Como o álcool tem ponto de ebulição baixo (78,3 ºC),<br />
tornava-se difícil medir altas temperaturas. Para resolver o<br />
Réne Réamur<br />
problema, os cientistas misturavam água ao álcool, mas tinha o<br />
inconveniente de a dilatação não ser uniforme.<br />
74<br />
Robert Hooke<br />
Olef Roemer
75<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
Cerca de 1714, Daniel Gabriel Fahrenheit (1686 – 1736), um<br />
fabricante holandês de instrumentos de precisão, fabricou um<br />
termómetro de líqui<strong>do</strong> em vidro, com mercúrio (em vez de álcool),<br />
cuja repetibilidade era a principal qualidade. De considerar ainda<br />
que o mercúrio não adere ao vidro, permanece líqui<strong>do</strong> entre uma<br />
vasta gama de temperaturas e a <strong>sua</strong> aparência prateada torna fácil a Daniel Fahrenheit<br />
leitura. Fahrenheit obteve o primeiro ponto da <strong>sua</strong> escala a partir de<br />
uma mistura de água, gelo e sal (era a temperatura mais baixa que ele conseguia<br />
produzir) e atribuiu-lhe o valor 0 ºF. O segun<strong>do</strong> ponto era obti<strong>do</strong> apenas com água e gelo<br />
(30 ºF). E o terceiro ponto da escala era obti<strong>do</strong> colocan<strong>do</strong> o reservatório <strong>do</strong> termómetro<br />
na boca de um ser humano desejan<strong>do</strong>-lhe medir a temperatura interna (96 ºF). Na <strong>sua</strong><br />
escala, Fahrenheit atribuiu o ponto de ebulição da água a 212 ºF. Mais tarde alterava o<br />
ponto de solidificação da água para 32 ºF, de forma que o intervalo entre o ponto de<br />
solidificação e o de ebulição da água fosse de 180 graus. A unidade atribuída a essa<br />
escala é o grau Fahrenheit.<br />
As pesquisas de Fahrenheit com termómetros confirmaram que cada líqui<strong>do</strong><br />
possuía um ponto de ebulição fixo e que este variava com a pressão. A escala de<br />
Fahrenheit ganhou popularidade, principalmente devi<strong>do</strong> à reprodutibilidade e à qualidade<br />
de construção <strong>do</strong>s termómetros por ele produzi<strong>do</strong>s.<br />
Cerca de 1742, Anders Celsius (1701 – 1744) propôs que o<br />
ponto de fusão <strong>do</strong> gelo e o ponto de ebulição da água fossem<br />
a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>s para definir uma escala de temperaturas. Curiosamente,<br />
atribuiu zero graus ao ponto de ebulição da água e 100 graus ao<br />
ponto de solidificação. Mais tarde Carolus Linnaeus (1707 – 1778)<br />
Anders Celsius<br />
de Upsula, Suécia, definiu a <strong>sua</strong> escala utilizan<strong>do</strong>, também, o ponto<br />
de fusão <strong>do</strong> gelo e o ponto de ebulição da água, sen<strong>do</strong> 0 e 100 graus,<br />
respectivamente (oposta da de Celsius).<br />
Em 1780, J. A. C. Charles, físico francês, verificou que para o<br />
mesmo aumento de temperatura, to<strong>do</strong>s os gases têm o mesmo<br />
Carl Linnaeus<br />
aumento de volume. Devi<strong>do</strong> ao coeficiente de expansão <strong>do</strong>s gases<br />
serem muito próximos, é possível estabelecer uma escala de temperatura baseada num<br />
ponto fixo único ao invés de usar uma escala de <strong>do</strong>is pontos fixos. Isto traz de volta os<br />
termómetros que usam um gás como meio termométrico.<br />
Em 1794, definiu-se que o grau termométrico seria a centésima parte da distância<br />
entre as marcas correspondentes ao ponto de fusão <strong>do</strong> gelo e ao ponto de ebulição da
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
água. Surgia assim a escala centígrada, a outra denominação da escala Celsius (até 1948,<br />
quan<strong>do</strong> a IX Conferência Internacional de Pesos e Medidas mu<strong>do</strong>u o nome para grau<br />
Celsius, ºC).<br />
Século XIX: A consolidação da termometria e o zero absoluto<br />
A partir <strong>do</strong> momento em que a temperatura passou a ser determinada com precisão<br />
satisfatória, várias grandezas ganharam um importante significa<strong>do</strong> prático no<br />
desenvolvimento da Física e da Química a partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XVIII. Conceitos<br />
como capacidade térmica mássica, calores latentes de fusão e de vaporização,<br />
condutividade térmica, etc., foram estabeleci<strong>do</strong>s e ganharam meto<strong>do</strong>logias práticas de<br />
<strong>medição</strong>, inviáveis se a termometria não tivesse atingi<strong>do</strong> o grau de desenvolvimento<br />
verifica<strong>do</strong> a partir da época de Fahrenheit (Pires et al, 2006). As experiências em que o<br />
termómetro desempenhava papel primordial eram bastante numerosas.<br />
Em 1821 Sir Humphrey Davy (1778 – 1829) descobriu que a resistividade <strong>do</strong>s<br />
metais apresentava uma forte dependência da temperatura.<br />
Em 1826 T. J. Seebeck (1770 – 1831) descobriu que a força<br />
electromotriz gerada, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is fios de metais diferentes são<br />
uni<strong>do</strong>s em duas extremidades e um <strong>do</strong>s extremos é aqueci<strong>do</strong>, pode<br />
ser relacionada quantitativamente com a temperatura e o sistema<br />
pode ser usa<strong>do</strong> como termómetro – designa<strong>do</strong> por termopar. Hoje<br />
Thomas Seebeck<br />
em dia o termopar é um importante sensor de temperatura para<br />
aplicações industriais. Merece referência o termopar de platina com<br />
10% de ródio/platina desenvolvi<strong>do</strong> em 1886 por Le Chatelier que foi durante largos anos<br />
usa<strong>do</strong> em laboratórios primários como instrumento de interpolação de escalas<br />
internacionais de temperatura, acima <strong>do</strong>s 630 ºC.<br />
No início <strong>do</strong> século XIX, William Thomson (Lord Kelvin)<br />
(1824 – 1907) desenvolveu uma escala termodinâmica universal<br />
baseada no coeficiente de expansão de um gás ideal. Kelvin<br />
verificou que a pressão de um gás diminuía de 1/273 <strong>do</strong> valor<br />
inicial quan<strong>do</strong> arrefeci<strong>do</strong> a volume constante de 0 a - 1ºC.<br />
Concluiu que a pressão seria nula quan<strong>do</strong> o gás estivesse a<br />
- 273ºC e como consequência a temperatura também o seria, visto<br />
não haver agitação das moléculas (à luz da Física Clássica). A escala criada por Kelvin<br />
tem origem (zero) no zero absoluto e a<strong>do</strong>pta como unidade o kelvin (K). A <strong>sua</strong> escala<br />
veio a tornar-se a base da moderna termometria.<br />
76<br />
Lord Kelvin
77<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
Em 1859, William John Macquorn Rankine (1820 – 1872)<br />
propôs outra escala de temperatura na qual especificava 0 para o<br />
zero absoluto, mas usava como base a escala graus Fahrenheit.<br />
Devi<strong>do</strong> à escala de Rankine ter o mesmo tamanho da escala de<br />
Fahrenheit, o ponto de congelamento da água (32 ºF) e o ponto<br />
de ebulição da água (212 ºF) correspondem respectivamente a<br />
491,67 °Ra e 671,67 °Ra. Esta escala foi mais tarde renomeada<br />
Rankine e <strong>sua</strong> unidade designada graus Rankine (símbolo °Ra).<br />
Em 1871 Sir William Siemens (1823 – 1883), propôs o uso<br />
de termómetros de resistência de platina, com a qual a <strong>medição</strong> da<br />
temperatura seria feita à custa da variação da resistência eléctrica<br />
de um fio de platina com a temperatura. A escolha da platina<br />
deveu-se ao facto de não oxidar a altas temperaturas e de ter uma<br />
relação entre a resistência e a temperatura bastante uniforme<br />
numa vasta gama de temperaturas. Os termómetros de resistência<br />
de platina são termómetros que apresentam excelentes características metrológicas.<br />
Século XX: Revisões e redefinições<br />
William Rankine<br />
William Siemens<br />
1. Termómetro de gás a volume constante<br />
Basea<strong>do</strong> nos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s feitos por P. Chappuis, em 1887, <strong>do</strong>s<br />
termómetros de gás com pressão constante ou com volume constante, usan<strong>do</strong> hidrogénio,<br />
azoto e dióxi<strong>do</strong> de carbono como meio termométrico, o Comité Internacional de Pesos e<br />
Medidas (CGPM) a<strong>do</strong>ptou o termómetro de hidrogénio de volume constante (sen<strong>do</strong> a<br />
propriedade termométrica a pressão) e uma escala baseada nos pontos de solidificação da<br />
água (a 0 ºC) e de ebulição (a 100 ºC) como escala prática para a meteorologia.<br />
As experiências com termómetros de gás mostraram que a diferença nas escalas<br />
para diferentes gases é muito pequena. As experiências também mostraram que é<br />
possível definir uma escala que é independente <strong>do</strong> gás, se este estiver a baixa pressão.<br />
Neste caso, to<strong>do</strong>s os gases se comportam como um gás ideal e tem uma relação muito<br />
simples entre a <strong>sua</strong> pressão, P , o seu volume, V , e a <strong>sua</strong> temperatura, T ,<br />
PV = (constante) T<br />
(4.1)
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Esta é chamada de “temperatura termodinâmica” e é considerada como a medida<br />
fundamental de temperatura. Com um ponto fixo na escala, necessitava-se de outro para<br />
que toda a escala estivesse definida. Em 1933 o Comité Internacional de Pesos e Medidas<br />
a<strong>do</strong>ptou o ponto triplo da água como ponto fixo desta escala, o seu valor é 273,16 K,<br />
sen<strong>do</strong> o kelvin (K) a unidade de temperatura desta escala.<br />
2. Escala Prática Internacional de <strong>Temperatura</strong><br />
Constatou-se a necessidade da existência de uma escala de temperaturas universal,<br />
definida de tal mo<strong>do</strong> que fosse precisa, reprodutível, simples de utilizar e que fornecesse<br />
valores de temperatura tão próximos quanto possível da temperatura termodinâmica.<br />
Foi em 1927 que o CGPM a<strong>do</strong>ptou a primeira Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong><br />
(ITS-27). Essa escala estendia-se desde os - 190 ºC até acima <strong>do</strong>s 1063ºC . Esta escala<br />
foi revista em 1948, passan<strong>do</strong> a ser designada por ITS-48, novamente alterada em 1960,<br />
a<strong>do</strong>ptan<strong>do</strong> nesse ano a designação de IPTS-48; uma revisão mais profunda ocorreu em<br />
1968, sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ptada a Escala Internacional Prática de <strong>Temperatura</strong>s (IPTS-68).<br />
Pouco tempo após a <strong>sua</strong> a<strong>do</strong>pção, constataram-se muitas limitações e deficiências,<br />
sen<strong>do</strong>-lhe introduzidas não só algumas correcções, em 1975, como também lhe foi<br />
acrescentada a Escala Provisória de <strong>Temperatura</strong> de 0,5 K a 30 K (EPT-76), em 1976.<br />
Em 1987, a 18ª CGPM decidiu que fosse desenvolvida uma nova escala de<br />
temperaturas, que viria a entrar oficialmente em vigor em 1 de Janeiro de 1990 sob a<br />
designação de Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong> de 1990 (ITS-90). Esta escala foi<br />
definida com base em fenómenos determinísticos de temperatura, e redefiniu alguns<br />
pontos fixos de temperatura. A Tabela 4.1 mostra algumas alterações introduzidas na<br />
escala ITS-90 relativamente à IPTS-68.<br />
Pontos fixos IPTS-68 ITS-90<br />
Ebulição <strong>do</strong> oxigénio – 182,962 ºC – 182,954 ºC<br />
Ponto triplo da água + 0,010 ºC + 0,010 ºC<br />
Solidificação <strong>do</strong> estanho + 231,968 ºC + 231,928 ºC<br />
Solidificação <strong>do</strong> zinco + 419,580 ºC +419,527 ºC<br />
Solidificação da prata + 961,930 ºC + 961,780 ºC<br />
Solidificação <strong>do</strong> ouro + 1064,430 ºC + 1064,180 ºC<br />
Tabela 4.1 Pontos fixos estabeleci<strong>do</strong>s na ITS-90, compara<strong>do</strong>s com os seus<br />
valores na IPTS-68.<br />
78
4.3 Termometria e escalas termométricas<br />
4.3.1 Escalas de temperaturas e princípios gerais<br />
79<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
Para estabelecer uma escala empírica de temperatura, seleccionamos um sistema<br />
caracteriza<strong>do</strong> pelas coordenadas X e Y como padrão, ao qual chamamos termómetro, e<br />
a<strong>do</strong>ptamos um conjunto de regras para atribuir um valor numérico à temperatura<br />
associada a cada uma das <strong>sua</strong>s isotérmicas. A cada sistema em equilíbrio térmico com o<br />
termómetro, atribuímos o mesmo valor para a temperatura. O procedimento mais simples<br />
é escolher qualquer caminho conveniente no plano X -Y<br />
, tal como é mostra<strong>do</strong> na Figura<br />
4.2 pela linha a traceja<strong>do</strong> Y = Y1,<br />
a qual intersecta as isotérmicas em pontos com a mesma<br />
coordenada Y, mas a diferentes coordenadas X. A temperatura associada a cada<br />
isotérmica é tomada como o valor, neste ponto de intersecção, de uma função<br />
de X adequada.<br />
Figura 4.2 Estabelecimento de uma<br />
escala de temperatura<br />
(Anacleto, 2004).<br />
Isotérmica correspondente<br />
ao ponto triplo da água<br />
Y = Y1<br />
A coordenada X é chamada a propriedade termométrica, e a forma da função<br />
termométrica q ( X ) determina a escala empírica de temperatura. Há muitos tipos de<br />
termómetros diferentes, cada um com a <strong>sua</strong> propriedade termométrica específica.<br />
Consideremos X uma propriedade termométrica e tomemos arbitrariamente uma<br />
escala de temperatura empírica q directamente proporcional a X. Assim, a temperatura<br />
comum ao termómetro e a to<strong>do</strong>s os sistemas em equilíbrio térmico com ele pode ser dada<br />
pela função termométrica<br />
Y<br />
X PT X
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
q ( X) = aX ( Yconstante)<br />
, (4.2)<br />
onde a é uma constante arbitrária. De notar que à medida que X se aproxima de zero, a<br />
temperatura também tende para zero, porque não há nenhuma constante somada à<br />
função. Deve ser nota<strong>do</strong>, ainda, que quan<strong>do</strong> esta relação arbitrária é aplicada a diferentes<br />
tipos de termómetros se obtém escalas empíricas de temperatura diferentes. A equação<br />
(4.2) aplica-se, em geral, a um termómetro posto em contacto com um sistema cuja<br />
temperatura q ( X ) queremos medir. Portanto, aplica-se quan<strong>do</strong> o termómetro é coloca<strong>do</strong><br />
em contacto com um da<strong>do</strong> sistema padrão num esta<strong>do</strong> reproduzível. Este esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
sistema padrão, escolhi<strong>do</strong> arbitrariamente, é designa<strong>do</strong> por ponto fixo, isto é, tem uma<br />
temperatura fixa. Os pontos fixos permitem temperaturas de referência para a construção<br />
de escalas de temperatura.<br />
Antes de 1954, a escala de temperatura internacional era a escala Celsius, a qual<br />
era baseada no intervalo de temperatura entre <strong>do</strong>is pontos fixos: (1) a temperatura à qual<br />
o gelo puro coexiste em equilíbrio, à pressão atmosférica normal 15 , com o ar satura<strong>do</strong> de<br />
vapor de água (o ponto <strong>do</strong> gelo) – ao qual era atribuída a temperatura q PG = 0C ∞ ; e (2) a<br />
temperatura de equilíbrio, à pressão atmosférica normal, entre a água pura e vapor puro<br />
(o ponto de vapor) – ao qual era atribuída a temperatura q PV = 100∞ C . Por esta razão esta<br />
escala era também designada por escala centígrada de temperatura.<br />
Em 1954, foi escolhi<strong>do</strong> um outro ponto fixo de referência, como base de uma nova<br />
escala de temperatura, baseada nas propriedades <strong>do</strong>s gases. Esse ponto corresponde à<br />
temperatura <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> onde gelo, água líquida, e vapor de água coexistem em equilíbrio,<br />
e é designa<strong>do</strong> por ponto triplo (PT) da água.<br />
Quan<strong>do</strong> um gás é manti<strong>do</strong> a volume constante, a <strong>sua</strong> temperatura varia linearmente<br />
com a pressão, se esta for suficientemente baixa. É esta propriedade que torna os gases<br />
importantes em termometria. Utilizan<strong>do</strong> gases diferentes, to<strong>do</strong>s a uma pressão muito<br />
baixa, obtém-se experimentalmente o gráfico da temperatura em função da pressão, para<br />
cada gás, conforme se ilustra na Figura 4.3.<br />
As rectas de ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais intersectam-se no mesmo ponto <strong>do</strong><br />
eixo das temperaturas, obten<strong>do</strong>-se a menor temperatura teórica possível, q =-273,15∞ C .<br />
Considera-se então uma escala de temperatura (escala Kelvin) com a mesma amplitude<br />
15 A pressão atmosférica normal tem o valor exacto de<br />
80<br />
5<br />
1,01325 ¥ 10 Pa .
81<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
em termos de unidade, mas com a origem ( T = 0K ) em -273,15∞ C . Assim, o valor da<br />
temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água é, nesta nova escala, T PT = 273,16 K , o que<br />
corresponde a 0,01 ºC. A temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água pode ser medida com<br />
precisão e reproduzida facilmente. De notar ainda que a palavra “grau” foi suprimida da<br />
escala Kelvin.<br />
Figura 4.3 Gráfico de P em função de θ, obti<strong>do</strong> experimentalmente com o<br />
termómetro de gás a volume constante, utilizan<strong>do</strong> quatro gases<br />
diferentes a baixas pressões (Anacleto, 2004).<br />
Denotan<strong>do</strong> por X PT é o valor da propriedade termométrica no ponto triplo, da<br />
equação (4.2), obtemos<br />
273,16K<br />
a = (4.3)<br />
X<br />
PT<br />
Extrapolação<br />
para P =<br />
0<br />
- 273,15<br />
0 q PT = 0,01 q PV = 100<br />
θ / ºC<br />
e podemos escrever então a função termométrica como<br />
X<br />
q ( X) = 273,16K ( Yconstante)<br />
. (4.4)<br />
X<br />
PT<br />
P<br />
Gás A<br />
Gás B<br />
Gás C<br />
Gás D<br />
A temperatura <strong>do</strong> PT da água é o ponto fixo padrão da termometria. Para obtermos<br />
a temperatura correspondente ao ponto triplo da água, utilizamos uma célula, como se<br />
mostra na Figura 4.4.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 4.4 Célula de ponto-triplo da água (Anacleto, 2004).<br />
A relação entre os valores numéricos da temperatura expressos em graus Celsius e<br />
em Kelvin é dada por<br />
( ) ( )<br />
T ºC = T K - 273,15<br />
(4.5)<br />
A escala Fahrenheit, escala muito utilizada nos países de cultura anglo-saxónica,<br />
em particular nos EUA, aparece com muita frequência nas especificações e<br />
características de equipamentos, por isso é importante conhecê-la. A fixação da escala<br />
Fahrenheit, em 1715, é anterior à definição da escala centígrada. É baseada nas mesmas<br />
referências que a escala centígrada, apenas os valores numéricos atribuí<strong>do</strong>s são<br />
diferentes. Assim, a escala Fahrenheit atribui ao ponto de fusão <strong>do</strong> gelo o valor 32 ºF e ao<br />
ponto de ebulição da água, a 1 atmosfera, o valor 212 ºF. A diferença entre estes <strong>do</strong>is<br />
valores é de 180 ºF. A divisão da escala em 180 partes seguiu um critério análogo ao da<br />
divisão da semicircunferência em graus. A relação entre os valores numéricos da<br />
temperatura expressa em ºF e em ºC é dada por<br />
Ê5º Cˆ<br />
ºC = Á ¥ ºF-32ºF Ë<br />
˜<br />
9º F¯<br />
Vapor<br />
de água<br />
Camada<br />
de água<br />
( )<br />
Termómetro<br />
A Tabela 4.2 apresenta algumas conversões entre escalas de temperatura.<br />
82<br />
Gelo<br />
Água<br />
Sela<strong>do</strong><br />
(4.6)
Conversão de Para Equação<br />
Celsius Fahrenheit ºF = ºC ¥ 1,8 + 32<br />
Celsius Kelvin K = ºC + 273,15<br />
Celsius Rankine ºRa = ºC ¥ 1,8 + 32 + 459,67<br />
Celsius Réaumur ºR = ºC ¥ 0,8<br />
Kelvin Fahrenheit ºF = K ¥ 1,8 - 459,67<br />
Kelvin Rankine ºRa = K ¥ 1,8<br />
Kelvin Réaumur ºR = ( K - 273,15) ¥ 0,8<br />
Tabela 4.2 Algumas conversões de unidades de temperatura.<br />
4.3.2 Termómetro de gás a volume constante<br />
83<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
É mostra<strong>do</strong> na Figura 4.5 um esquema simplifica<strong>do</strong> de um termómetro de gás a<br />
volume constante. Os materiais, a construção, e as dimensões variam de laboratório para<br />
laboratório e dependem da natureza <strong>do</strong> gás e da gama de temperaturas para a qual o<br />
termómetro é concebi<strong>do</strong>.<br />
Gás<br />
Tubo capilar<br />
Ponteiro<br />
h<br />
M M¢<br />
Reservatório<br />
de mercúrio<br />
Figura 4.5 Representação esquemática de um termómetro de gás a volume<br />
constante, sen<strong>do</strong> a propriedade termométrica a pressão<br />
(Anacleto, 2004).
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
O gás está conti<strong>do</strong> num reservatório que comunica com a coluna de mercúrio M<br />
através dum tubo capilar. O volume <strong>do</strong> gás é manti<strong>do</strong> constante por ajustamento da<br />
coluna de mercúrio M até tocar num pequeno ponteiro que se encontra no espaço acima<br />
de M. A coluna M é ajustada elevan<strong>do</strong> ou baixan<strong>do</strong> o reservatório <strong>do</strong> mercúrio.<br />
A pressão no sistema é igual à pressão atmosférica mais a que é devida à diferença<br />
de altura entre M¢ e M, h, e é medida duas vezes: quan<strong>do</strong> o gás está rodea<strong>do</strong> pelo<br />
sistema cuja temperatura queremos medir, obten<strong>do</strong>-se P, e quan<strong>do</strong> está rodea<strong>do</strong> por água<br />
no ponto triplo, obten<strong>do</strong>-se P PT . A temperatura é, então, dada por<br />
P<br />
q ( P) = 273,16K ( V constante) . (4.7)<br />
P<br />
PT<br />
No séc. XIX, o termómetro mais preciso era o termómetro de gás. Foi oficialmente<br />
a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> pelo Comité Internacional de Pesos e Medidas em 1887 como o termómetro<br />
padrão, substituin<strong>do</strong> o termómetro de mercúrio-num-tubo. A base teórica para o<br />
termómetro de gás é a relação entre a pressão, volume, e temperatura expressa pela lei<br />
<strong>do</strong>s gases ideais,<br />
PV = nRT , (4.8)<br />
onde P é a pressão, V é o volume, n é a quantidade de gás, e R a constante molar <strong>do</strong>s<br />
gases. A temperatura T é a temperatura termodinâmica teórica.<br />
Meçamos a temperatura absoluta, dada por um termómetro de gás ideal, no ponto<br />
de ebulição normal (PEN) da água (o ponto de vapor). É introduzida uma quantidade de<br />
gás no reservatório <strong>do</strong> termómetro de gás a volume constante, e medimos P PT quan<strong>do</strong> o<br />
reservatório <strong>do</strong> gás está inseri<strong>do</strong> numa célula de ponto triplo. Suponhamos que P PT é<br />
igual a 120 kPa. Manten<strong>do</strong> o volume constante, seguimos os seguintes procedimentos:<br />
1. Envolvemos o gás com vapor de água em ebulição, à pressão atmosférica<br />
normal, medimos a pressão <strong>do</strong> gás P PEN , e calculamos a temperatura empírica θ,<br />
usan<strong>do</strong> a equação (4.7),<br />
PPEN<br />
q ( PPEN<br />
) = 273,16K .<br />
120<br />
84
85<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
2. Retiramos algum gás de tal maneira que P PT tenha um valor inferior, por<br />
exemplo, 60 kPa. Medimos o novo valor de P PEN e calculamos um novo valor<br />
para θ,<br />
PPEN<br />
q ( PPEN<br />
) = 273,16K .<br />
60<br />
3. Continuamos a reduzir a quantidade de gás no reservatório de tal forma que P PT<br />
e P PEN tenham cada vez valores menores, por exemplo, P PT tenha os valores<br />
40 kPa, 20 kPa, etc. Para cada valor de P PT , calculamos o valor correspondente<br />
da temperatura ( P )<br />
q .<br />
PEN<br />
4. Representamos graficamente ( P )<br />
q PEN versus PT<br />
P e extrapolamos a curva<br />
resultante para obtermos a intersecção no eixo onde P PT = 0,<br />
len<strong>do</strong> <strong>do</strong> gráfico o<br />
valor <strong>do</strong> lim q ( P )<br />
P Æ0<br />
PT<br />
PEN<br />
.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s de uma série de testes desta natureza estão esboça<strong>do</strong>s na Figura 4.6<br />
para três gases diferentes com o objectivo de medir q ( P)<br />
para o ponto de ebulição<br />
normal da água. O gráfico indica que, embora as leituras <strong>do</strong> termómetro de gás a volume<br />
constante dependam da natureza <strong>do</strong> gás a valores ordinários de P PEN , to<strong>do</strong>s os gases<br />
indicam a mesma temperatura se P PT diminuir e tender para zero.<br />
q /K<br />
373,60<br />
373,50<br />
373,40<br />
373,30<br />
373,20<br />
373,10<br />
T (vapor) = 373,124 K<br />
PT<br />
Figura 4.6 <strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> PEN da água dada por diferentes termómetros<br />
de gás, no limite quan<strong>do</strong> PPT Æ 0 (Anacleto, 2004).<br />
/kPa P<br />
0 20 40 60 120<br />
N2<br />
H2<br />
He
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Assim, definimos a temperatura absoluta, T, dada por um termómetro de gás<br />
ideal, pela equação<br />
Ê P ˆ<br />
T = 273,16 K lim ( V constante)<br />
PPT<br />
Æ 0Á<br />
ËP˜ ¯<br />
PT<br />
86<br />
(4.9)<br />
Embora a escala de temperatura termodinâmica dada por um gás ideal seja<br />
independente das propriedades de um gás particular, ela depende ainda das propriedades<br />
<strong>do</strong>s gases em geral. O hélio é o gás mais indica<strong>do</strong> para termometria por duas razões. A<br />
altas temperaturas o hélio não se difunde através da platina, ao contrário <strong>do</strong> hidrogénio.<br />
O hélio torna-se líqui<strong>do</strong> a uma temperatura menor que qualquer outro gás, e, por isso, o<br />
termómetro de hélio pode ser usa<strong>do</strong> para medir temperaturas menores <strong>do</strong> que as que são<br />
possíveis com outro gás.<br />
4.3.3 Calibração e padrões de medida<br />
Entende-se por padrão de medida o instrumento de <strong>medição</strong> ou sistema de <strong>medição</strong><br />
destina<strong>do</strong> a definir ou materializar, conservar ou reproduzir uma unidade ou um ou<br />
vários valores conheci<strong>do</strong>s de uma grandeza para as transmitir por comparação a outros<br />
instrumentos de <strong>medição</strong> (VIM, 2005).<br />
Consoante as <strong>sua</strong>s características metrológicas um padrão pode ter várias<br />
designações. Podemos classificá-los em:<br />
• Padrão internacional: é um padrão reconheci<strong>do</strong> por um acor<strong>do</strong> internacional<br />
para servir de base internacional à fixação <strong>do</strong>s valores de to<strong>do</strong>s os outros padrões da<br />
grandeza a que respeita.<br />
• Padrão primário: é um padrão que apresenta as mais elevadas características<br />
metrológicas num da<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio.<br />
• Padrão secundário: é um padrão cujo valor é fixa<strong>do</strong> por comparação com um<br />
padrão primário.<br />
• Padrão de trabalho: é um padrão que, habitualmente calibra<strong>do</strong> por comparação<br />
com um padrão de referência, sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para calibrar ou verificar os instrumentos<br />
de medida de utilização mais comum.
87<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
Vê-se assim que os diferentes padrões estão hierarquiza<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com as<br />
qualidades metrológicas segun<strong>do</strong> uma escala decrescente <strong>do</strong>s primários para os de<br />
trabalho, agrupan<strong>do</strong>-se em uma das três categorias apresentadas. No que respeita aos<br />
padrões internacionais não faz senti<strong>do</strong>, em geral, falar-se da <strong>sua</strong> exactidão, uma vez que<br />
eles constituem a base de todas as comparações; exceptuam-se os casos em que é<br />
possível reportar os seus valores directamente aos das unidades a que respeitam<br />
realizan<strong>do</strong> as chamadas medidas de acor<strong>do</strong> com a definição dessas unidades. Pode então<br />
pôr-se a questão de saber qual o critério ou critérios que levam à escolha de um padrão<br />
para padrão internacional. Se excluirmos critérios de escolha marginalmente importantes,<br />
como por exemplo os da facilidade de realização ou praticabilidade de utilização, é óbvio<br />
que a escolha terá a ver com <strong>do</strong>is aspectos: a exactidão desse padrão e a conformidade<br />
entre as medições com ele obtidas e os valores previstos pelas teorias pertinentes na<br />
análise de fenómenos em que intervém a grandeza em causa. Assim, quanto menor for o<br />
desvio padrão experimental de um conjunto de intercomparações entre padrões iguais,<br />
melhor será esse padrão <strong>do</strong> ponto de vista de constituir base para a fixação <strong>do</strong>s valores de<br />
outros instrumentos de medida.<br />
Em relação aos padrões primários, secundários e de trabalho o conceito de<br />
exactidão é pertinente, uma vez que se pode tomar como base os padrões internacionais.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, e uma vez que a qualidade metrológica mais importante de um padrão é a<br />
<strong>sua</strong> exactidão, à hierarquia primário, secundário e de trabalho corresponde uma escala<br />
crescente de imprecisões. A essa hierarquia corresponde também uma escala decrescente<br />
de custos <strong>do</strong>s padrões; genericamente, e para uma mesma grandeza, um padrão de<br />
trabalho é mais barato <strong>do</strong> que um secundário e este mais barato que um primário. Como<br />
tal, e também porque as precisões exigidas não são as mesmas em todas as situações de<br />
medida, os diferentes tipos de padrão encontram-se em diferentes tipos de laboratório:<br />
um laboratório nacional de padrões disporá de padrões primários, laboratórios priva<strong>do</strong>s<br />
ou industriais disporão de padrões secundários, os quais são utiliza<strong>do</strong>s como referência<br />
para ajuste e calibração de padrões de trabalho. Este tipo de organização, que pode<br />
revestir diferentes formas, deverá em qualquer caso permitir reportar o valor medi<strong>do</strong> com<br />
um padrão de trabalho a um padrão pelo menos primário mediante uma cadeia<br />
ininterrupta de comparações que se designa por rastreabilidade. O National Institute of<br />
Standards and Technology (NIST) 16 tem uma organização hierárquica das referências<br />
utilizadas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América em três escalões como se segue:<br />
16 http://www.nist.gov
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Escalão I<br />
1. Padrões internacionais.<br />
2. Padrões primários (padrões nacionais).<br />
3. Padrões secundários (padrões de referência <strong>do</strong> NIST).<br />
4. Padrões de trabalho (utiliza<strong>do</strong>s pelo NIST para serviços de calibração).<br />
Escalão II<br />
1. Padrões de referência; padrões secundários manti<strong>do</strong>s por laboratórios<br />
particulares e industriais.<br />
2. Padrões de trabalho; padrões usa<strong>do</strong>s para calibrar e verificar aparelhos de<br />
laboratório de uso geral.<br />
Escalão III<br />
Instrumentos de uso geral para produção, manutenção e ensaios externos.<br />
A designação de padrão de referência diz respeito a um padrão, em geral da mais<br />
elevada qualidade metrológica, disponível num da<strong>do</strong> local, <strong>do</strong> qual derivam as medições<br />
efectuadas nesse local. Por vezes utiliza-se um conjunto de instrumentos de <strong>medição</strong><br />
idênticos, associa<strong>do</strong>s para desempenhar em conjunto o papel de padrão. Ao padrão assim<br />
realiza<strong>do</strong> chama-se padrão colectivo. Reserva-se a designação de colecção padrão para o<br />
conjunto de padrões com valores escolhi<strong>do</strong>s especialmente para reproduzir<br />
individualmente, ou por combinação adequada, uma série de valores de uma grandeza<br />
numa dada gama. As caixas de blocos padrão, usadas em metrologia dimensional,<br />
constituem exemplo típico deste tipo de padrão.<br />
A calibração é um conjunto de operações que estabelecem, em condições<br />
especificadas, a relação entre os valores indica<strong>do</strong>s por um instrumento de <strong>medição</strong> e os<br />
correspondentes valores conheci<strong>do</strong>s da grandeza a medir. São utiliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos de<br />
padrões: o padrão de transferência, utiliza<strong>do</strong> como intermediário na comparação de<br />
padrões ou instrumentos de <strong>medição</strong> entre si e o padrão itinerante, padrão, por vezes de<br />
construção especial, previsto para ser transporta<strong>do</strong> entre diferentes locais.<br />
A conservação <strong>do</strong> padrão é o conjunto de todas as operações necessárias à<br />
preservação das características metrológicas <strong>do</strong> padrão dentro de limites adequa<strong>do</strong>s.<br />
Destaca-se a <strong>sua</strong> calibração, a qual é feita comparan<strong>do</strong> esse padrão com um da mesma<br />
unidade, mas de maior exactidão. A calibração deve ser periódica, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo,<br />
utilização e tempo de vida os intervalos de tempo entre calibrações. Como valor típico,<br />
um padrão de trabalho deve ser calibra<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong> um secundário de 6 em 6 meses.<br />
88
89<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
Além disso, deve ser da<strong>do</strong> especial cuida<strong>do</strong> aos aspectos de utilização e armazenamento<br />
<strong>do</strong> padrão de mo<strong>do</strong> a manter as <strong>sua</strong>s qualidades metrológicas ao longo da <strong>sua</strong> vida útil.<br />
4.3.4 Padrão de temperatura termodinâmica<br />
Os padrões de temperatura são termómetros de diferentes tipos. Assim, o padrão<br />
primário é constituí<strong>do</strong> por um termómetro de resistência de platina de construção<br />
especial de mo<strong>do</strong> a que o fio não seja sujeito a esforços mecânicos. A escala deste<br />
termómetro, u<strong>sua</strong>lmente graduada em ºC (escala prática), é estabelecida com base nos<br />
seguintes valores (à pressão atmosférica normal,<br />
• Fundamental: ponto triplo da água: 0,01ºC<br />
5<br />
1,01325 ¥ 10 Pa ):<br />
• Primários: ponto de ebulição <strong>do</strong> oxigénio: - 182,954ºC<br />
ponto de ebulição <strong>do</strong> enxofre: 444,72ºC<br />
ponto de congelação da prata: 961,78ºC<br />
ponto de congelação <strong>do</strong> ouro: 1064,18ºC<br />
Os valores intermédios são calcula<strong>do</strong>s a partir de fórmulas de ajuste baseadas nas<br />
propriedades <strong>do</strong> fio de resistência de platina.<br />
4.4 A Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong> (ITS-90)<br />
A ITS-90 consiste num conjunto de pontos fixos medi<strong>do</strong>s com o termómetro de gás<br />
primário, e em procedimentos para interpolação entre os pontos fixos usan<strong>do</strong><br />
termómetros secundários. Embora a ITS-90 não tencione suplantar a escala<br />
termodinâmica Kelvin, é construída de forma a ser uma aproximação elevada daquela.<br />
As diferenças entre a escala prática de temperatura T 90 e a escala de temperatura<br />
termodinâmica Kelvin T estão dentro <strong>do</strong>s limites de incerteza das medições em 1990. A<br />
<strong>medição</strong> precisa de temperatura com um termómetro de gás requer anos de trabalho<br />
laboratorial e de computação e, quan<strong>do</strong> completo, torna-se um acontecimento<br />
internacional. Foram medidas as temperaturas de esta<strong>do</strong>s de equilíbrio de vários<br />
materiais, constituin<strong>do</strong> pontos fixos para a ITS-90.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
O limite inferior da ITS-90 é 0,65 K. Abaixo desta temperatura, a escala é,<br />
actualmente, indefinida em termos de um termómetro padrão. Vários intervalos de<br />
temperatura na ITS-90 e termómetros secundários foram estabeleci<strong>do</strong>s:<br />
1. De 0,65 K a 5,0 K. Entre 0,65 K e 3,2 K, a ITS-90 é definida pelas relações<br />
pressão de vapor - temperatura <strong>do</strong> 3 He, e entre 1,25 K e 5,0 K pelas relações de<br />
pressão de vapor - temperatura <strong>do</strong> 4 He.<br />
2. De 3,0 K a 24,5561 K, a ITS-90 é definida pelo termómetro de gás a volume<br />
constante de 3 He ou 4 He.<br />
3. De 13,8033 K a 1234,93 K (–259,3467 ºC a 961,78 ºC), a ITS-90 é definida pela<br />
razão R( T) R PT <strong>do</strong> termómetro de resistência de platina, utilizan<strong>do</strong>-se os<br />
pontos fixos determina<strong>do</strong>s pelo termómetro de gás a volume constante.<br />
Acima de 1234,93 K (961,78 ºC), a ITS-90 é definida por um pirómetro óptico.<br />
Podemos encontrar mais informações sobre a ITS-90 no endereço de Internet<br />
http://www.its-90.com.<br />
Os pontos fixos usa<strong>do</strong>s na ITS-90 são os que se apresentam na Tabela 4.3.<br />
90
<strong>Temperatura</strong><br />
91<br />
4 Metrologia da temperatura<br />
Nº T90/K t90/°C Substância Esta<strong>do</strong> a<br />
1 3 a 5 – 270,15 a – 268,15 He V<br />
2 13,8033 – 259,3467 e-H2 T<br />
3 ~ 17 ~ – 256,15 e-H2 (ou He) V (ou G)<br />
4 ~ 20,3 ~ – 252,85 e-H2 (ou He) V (ou G)<br />
5 24,5561 – 248,5939 Ne T<br />
6 54,3584 – 218,7916 O2 T<br />
7 83,8058 – 189,3442 Ar T<br />
8 234,3156 – 38,8344 Hg T<br />
9 273,16 0,01 H20 T<br />
10 302,9146 29,7646 Ga F<br />
11 429,7485 156,5985 In S<br />
12 505,078 231,928 Sn S<br />
13 692,677 419,527 Zn S<br />
14 933,473 660,323 Al S<br />
15 1234,93 961,78 Ag S<br />
16 1337,33 1064,18 Au S<br />
17 1357,77 1084,62 Cu S<br />
a Os símbolos têm os seguintes significa<strong>do</strong>s:<br />
V – ponto de pressão de vapor;<br />
T – ponto triplo (temperatura à qual as fases sólida, líquida e vapor coexistem em<br />
equilíbrio);<br />
G – ponto <strong>do</strong> termómetro de gás;<br />
F, S – ponto de fusão, ponto de solidificação (temperatura, à pressão de 101 325 Pa, à qual<br />
as fases sólida e líquida coexistem em equilíbrio).<br />
Tabela 4.3 Os pontos fixos usa<strong>do</strong>s na ITS-90 (www.its-90.com).<br />
Consequências práticas da a<strong>do</strong>pção da ITS-90<br />
A introdução dessa nova escala de temperaturas trouxe como consequência a<br />
modificação da quase totalidade <strong>do</strong>s valores numéricos de temperatura. Uma dada<br />
temperatura expressa com base na ITS-90 tem um valor numérico diferente daquele que<br />
tinha quan<strong>do</strong> era expressa a partir da IPTS-68, excepto nos casos <strong>do</strong> zero absoluto (0 K),<br />
da temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água e de alguns outros pontos. A título de exemplo, o<br />
ponto de ebulição da água, à pressão atmosférica "normal" era de 100 ºC pela IPTS-68,<br />
sen<strong>do</strong> agora 99,974 ºC. Outras grandezas muito utilizadas nos vários <strong>do</strong>mínios técnicos e<br />
científicos, que também são afectadas por estas alterações são, por exemplo, a capacidade<br />
térmica mássica e a entropia.
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Na <strong>medição</strong> de temperatura o termómetro, em muitas situações, está em contacto<br />
físico com o sistema <strong>do</strong> qual se quer saber a temperatura, mas situações há em que isso<br />
não é possível, por exemplo se o sistema estiver em movimento ou se a temperatura a<br />
medir for muito elevada como nas siderurgias. Aos termómetros que não estão em<br />
contacto físico com o sistema aquan<strong>do</strong> da <strong>medição</strong> da temperatura chama-se pirómetros e<br />
utilizam a radiação emitida pelos corpos para medir a temperatura.<br />
Os termómetros de contacto podem ser de <strong>do</strong>is tipos: mecânico e eléctrico. Estes<br />
termómetros requerem o equilíbrio térmico com o corpo cuja temperatura queremos<br />
medir, equilíbrio esse que pode ser atingi<strong>do</strong> mais ou menos rapidamente dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
tempo de resposta <strong>do</strong> termómetro (capacidade térmica <strong>do</strong> sensor).<br />
5.1 Termómetros de dilatação<br />
Os materiais, sóli<strong>do</strong>s e líqui<strong>do</strong>s, de um mo<strong>do</strong> geral, aumentam de volume com o<br />
aumento da <strong>sua</strong> temperatura, pois aumenta a distância média entre as partículas<br />
constituintes <strong>do</strong> material. Esta propriedade pode ser utilizada como propriedade<br />
termométrica, principalmente para os materiais em que essa variação se faz de uma<br />
forma uniforme, dentro de uma dada gama de temperaturas. De seguida veremos<br />
exemplos de termómetros que se servem dessa propriedade.<br />
5.1.1 Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong><br />
Princípio de funcionamento<br />
Os termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong>s, baseiam-se na lei de expansão<br />
volumétrica de um líqui<strong>do</strong> com a temperatura dentro de um recipiente fecha<strong>do</strong>.<br />
A equação que rege esta relação é:<br />
( ) ( )<br />
2 3<br />
Vq= V È<br />
0 1+<br />
b1D q + b2 D q + b3 Dq<br />
˘<br />
Î ˚<br />
93
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
onde q é a temperatura <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> em ºC; V 0 é o volume <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> à temperatura inicial<br />
de referência q 0 ; Vq é o volume <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> à temperatura q ; b 1 , b 2 e b 3 são os<br />
coeficientes de expansão <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> em<br />
D q = q - q0.<br />
94<br />
1<br />
ºC - ,<br />
2<br />
ºC - , e<br />
3<br />
ºC - , respectivamente; e<br />
Teoricamente esta relação não é linear, porém como os termos de segunda e<br />
terceira ordem são desprezíveis (Fialho, 2007), por serem relativamente pequenos, na<br />
prática consideramos linear. Temos assim a equação<br />
V V<br />
[ ]<br />
0 1<br />
q = + b D q<br />
Dependen<strong>do</strong> da <strong>sua</strong> construção podemos ter termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong><br />
em recipiente de vidro transparente ou em recipiente metálico.<br />
5.1.1.1 Termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente de vidro<br />
Os termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente de vidro são constituí<strong>do</strong>s por<br />
um reservatório, cujo tamanho depende da sensibilidade desejada, soldada a um tubo<br />
capilar (de secção o mais uniforme possível) fecha<strong>do</strong> na parte superior. O reservatório e<br />
parte <strong>do</strong> capilar são preenchi<strong>do</strong>s com um líqui<strong>do</strong>. Na parte superior <strong>do</strong> capilar existe um<br />
alargamento que protege o termómetro no caso da temperatura ultrapassar seu limite<br />
máximo. A Figura 5.1 mostra termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em vidro.<br />
Figura 5.1 Termómetros de dilatação em recipiente de vidro.<br />
Após a calibração, a parede <strong>do</strong> tubo capilar é graduada em graus ou fracções deste.<br />
A <strong>medição</strong> de temperatura faz-se pela leitura da escala no ponto em que se tem o topo da<br />
coluna líquida.
95<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Os líqui<strong>do</strong>s mais usa<strong>do</strong>s são: Mercúrio, Álcool, Tolueno e Acetona. O álcool etílico<br />
é usa<strong>do</strong> para medições de temperaturas baixas (-38,9 ºC). Costumam-se adicionar<br />
corantes para vi<strong>sua</strong>lizar a leitura (Pires et al, 2006), visto que o álcool etílico é incolor.<br />
Foi muito utiliza<strong>do</strong> o mercúrio por possuir um coeficiente de expansão uniforme,<br />
não molhar o vidro, purificar-se facilmente e tornar fácil a leitura (devi<strong>do</strong> à <strong>sua</strong> aparência<br />
metálica), mas o seu uso traz problemas ambientais, motivo pelo qual tem si<strong>do</strong><br />
substituí<strong>do</strong> por outros.<br />
O termómetro clínico de mercúrio, que foi muito utiliza<strong>do</strong>, é um termómetro de<br />
máxima. O tubo capilar apresenta nas proximidades <strong>do</strong> reservatório um estrangulamento.<br />
Quan<strong>do</strong> a temperatura aumenta, o mercúrio dilata-se, subin<strong>do</strong> na haste, mas, se a<br />
temperatura diminuir, fica o mercúrio no tubo, devi<strong>do</strong> ao estrangulamento, o que permite<br />
determinar a maior temperatura atingida pelo corpo <strong>do</strong> paciente.<br />
Termómetro de máxima e de mínima<br />
A primeira concepção de um termómetro deste tipo parece ser devida a Robert<br />
Hooke que procurou determinar a temperatura <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar (termómetro de mínima).<br />
Contu<strong>do</strong>, o modelo de dupla marcação foi introduzi<strong>do</strong> por Rutherford, combinan<strong>do</strong> um<br />
de mercúrio (temperatura máxima) e outro de álcool (temperatura mínima) (Pires et al,<br />
2006).<br />
Este termómetro dá as temperaturas máximas e mínimas ocorridas durante certo<br />
perío<strong>do</strong>, por exemplo, durante um dia. O reservatório deste termómetro é alonga<strong>do</strong> e o<br />
seu tubo é recurva<strong>do</strong> em forma de U. Na curvatura inferior existe uma pequena porção de<br />
mercúrio que é impelida pelo álcool para o tubo das temperaturas máximas, a<br />
temperatura aumenta, ou para o das temperaturas mínimas, quan<strong>do</strong> a temperatura<br />
diminui. O mercúrio, por <strong>sua</strong> vez, impele <strong>do</strong>is índices, coloca<strong>do</strong> cada um num ramo <strong>do</strong><br />
tubo. Estes índices deslocam-se, no interior <strong>do</strong> tubo, com leve atrito; e fixam-se na<br />
posição em que o mercúrio os deixa, marcan<strong>do</strong> deste mo<strong>do</strong> as temperaturas máxima e<br />
mínima. No início de um novo perío<strong>do</strong> de observação reconduzem-se os índices, que são<br />
de ferro esmalta<strong>do</strong>, para junto <strong>do</strong> mercúrio, por meio de um pequeno íman.<br />
Este tipo de termómetro, Figura 5.2, foi muito usa<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> campo da<br />
Meteorologia e no controle de processos químicos em escala piloto e industrial onde a<br />
temperatura é um parâmetro crítico.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 5.2 Termómetro de máxima e de mínima.<br />
5.1.1.2 Termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente metálico<br />
No termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong>s em recipiente metálico, Figura 5.3 A, o<br />
líqui<strong>do</strong> preenche to<strong>do</strong> o recipiente que sob o aumento de temperatura se dilata,<br />
deforman<strong>do</strong> um elemento extensível (sensor volumétrico).<br />
O recipiente que contem o líqui<strong>do</strong> varia de dimensão, de acor<strong>do</strong> com o tipo de<br />
líqui<strong>do</strong> e com a sensibilidade pretendida.<br />
O tubo capilar deve ter o menor diâmetro interno possível a fim de evitar a<br />
influência da temperatura ambiente, mas não deve oferecer resistência à passagem <strong>do</strong><br />
líqui<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> este se está a expandir.<br />
O elemento de <strong>medição</strong> utiliza<strong>do</strong> é o Tubo de Bour<strong>do</strong>n, Figura 5.3 B, que pode ser<br />
<strong>do</strong>s tipos: C, Helicoidal e Espiral.<br />
Este tipo de termómetro é geralmente aplica<strong>do</strong> na indústria para indicação e<br />
registo, pois permite leituras remotas e por ser o mais preciso <strong>do</strong>s sistemas mecânicos de<br />
<strong>medição</strong> de temperatura (Fialho, 2007).<br />
96
97<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Figura 5.3 A – Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente metálico;<br />
B – Tubos de Bour<strong>do</strong>n utiliza<strong>do</strong>s como elementos de <strong>medição</strong>.<br />
Como exemplo deste termómetro temos o termómetro regista<strong>do</strong>r, Figura 5.4.<br />
Neste modelo, o termómetro registra as temperaturas durante to<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong>, por<br />
exemplo, uma semana. É muito usa<strong>do</strong> nos observatórios de Meteorologia, mas também<br />
encontra emprego industrial, no controlo de processos. Ele é provi<strong>do</strong> de um cilindro<br />
giratório. A agulha conten<strong>do</strong> a tinta é movida por um tubo metálico, flexível, recurva<strong>do</strong> e<br />
cheio de petróleo. As dilatações <strong>do</strong> petróleo obrigam o tubo a distender-se, sen<strong>do</strong> os seus<br />
movimentos transmiti<strong>do</strong>s à agulha por um sistema de pequenas alavancas (Pires e tal,<br />
2006).<br />
Figura 5.4 Termómetro regista<strong>do</strong>r.<br />
A<br />
B
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
5.1.2 Termómetros de dilatação de sóli<strong>do</strong>s (termómetro<br />
bimetálico)<br />
O termómetro bimetálico é constituí<strong>do</strong> por duas ou mais lâminas com coeficientes<br />
de dilatação diferentes, soldadas umas às outras, como se representa na Figura 5.6. Ao<br />
dar-se uma variação na temperatura os metais dilatam-se de forma desigual, como se<br />
pode observar na Figura 5.5, obrigan<strong>do</strong> o conjunto a deformar-se e a actuar um contacto<br />
eléctrico (termóstato) ou a posicionar um ponteiro indica<strong>do</strong>r.<br />
Figura 5.5 Flexão da lâmina bimetálica quan<strong>do</strong> aquecida.<br />
A<br />
Figura 5.6 A - Termóstato; B - Termómetro bimetálico.<br />
Na prática o par bimetálico é enrola<strong>do</strong> em forma de espiral ou hélice, o que<br />
aumenta bastante a sensibilidade. A <strong>sua</strong> extremidade é fixa a um eixo o qual possui na<br />
ponta um ponteiro que girará sobre uma escala de temperatura.<br />
Qualquer deles tem grande difusão na indústria e em aplicações <strong>do</strong>mésticas: citemse<br />
os termóstatos das máquinas de lavar roupa e louça, <strong>do</strong>s aquece<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s<br />
frigoríficos.<br />
98<br />
B
99<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
5.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s no efeito Seebeck<br />
5.2.1 Constituição<br />
Um termopar é um sensor de temperatura, constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is materiais diferentes,<br />
condutores ou semicondutores 17 , liga<strong>do</strong>s entre si. As extremidades onde estão liga<strong>do</strong>s<br />
constituem as junções que vão ser submetidas a temperaturas diferentes, originan<strong>do</strong> uma<br />
força electromotriz. Uma das junções é designada por junção de teste e é submetida à<br />
temperatura que se deseja medir, T . A outra é denominada junção de referência e é<br />
mantida a uma temperatura de referência, T Ref , normalmente um banho de gelo fundente<br />
(Zemansky et al, 1997), conforme se ilustra na Figura 5.7.<br />
T<br />
Metal B<br />
Metal A<br />
eS<br />
Figura 5.7 Termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções <strong>do</strong>s metais A e B, a<br />
junção de <strong>medição</strong> e a junção de referência.<br />
As junções podem ser feitas por vários méto<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> os mais importantes os<br />
apertos <strong>do</strong>s materiais e as soldaduras. Embora se possa, em princípio, construir um<br />
termopar com <strong>do</strong>is metais quaisquer, utilizam-se normalmente algumas combinações<br />
normalizadas de metais, porque possuem tensões de saída previsíveis e suportam grandes<br />
gamas de temperatura.<br />
O termopar é um sensor activo, isto é, ele próprio gera uma força electromotriz 18<br />
(f.e.m.), não sen<strong>do</strong> portanto necessário alimentá-lo.<br />
17<br />
Os termopares com semicondutores têm um comportamento não linear, pelo que são pouco<br />
utiliza<strong>do</strong>s na <strong>medição</strong> de temperatura.<br />
18<br />
Em rigor dever-se-ia dizer tensão electromotriz, em vez de força electromotriz, mas o seu uso<br />
está generaliza<strong>do</strong>.<br />
TRef<br />
Metal B
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
5.2.2 Características gerais<br />
Os termopares podem ser utiliza<strong>do</strong>s para <strong>medição</strong> de temperaturas desde cerca de<br />
- 200ºC até temperaturas superiores a 1000ºC . Para temperaturas muito elevadas são<br />
utiliza<strong>do</strong>s termopares de platina e uma liga de platina e ródio.<br />
As vantagens <strong>do</strong>s termopares como termómetros são várias, das quais se destacam:<br />
• Curtos tempos de resposta (o equilíbrio térmico é atingi<strong>do</strong> rapidamente).<br />
• Elevadas gamas de temperatura.<br />
• Construção compacta.<br />
• Elevada resistência à vibração.<br />
• Estabilidade dura<strong>do</strong>ura.<br />
• Elevada robustez.<br />
5.2.3 Princípio de funcionamento<br />
A termoelectricidade tem a <strong>sua</strong> origem em Alessandro Volta (1800), físico italiano.<br />
Volta concluiu que a electricidade causa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s espasmos nas pernas de sapo, estudadas<br />
por Luigi Galvani (1780), era devida a um contacto entre <strong>do</strong>is metais diferentes. Essa<br />
conclusão foi a precursora <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong> termopar.<br />
Após a descoberta de Volta, outros cientistas passaram a pesquisar os efeitos<br />
termoeléctricos, <strong>do</strong>s quais podem ser destaca<strong>do</strong>s Thomas Seebeck 19 (1821), Jean Peltier 20<br />
(1834) e William Thomson (Lorde Kelvin) 21 (1848-1854), e que deram origem às<br />
denominações <strong>do</strong>s três efeitos básicos da termometria termoeléctrica. Estes efeitos<br />
podem ser relaciona<strong>do</strong>s entre si e são conheci<strong>do</strong>s como efeitos termoeléctricos porque<br />
envolvem temperatura e electricidade.<br />
Os três efeitos referi<strong>do</strong>s são o efeito Seebeck, que é o relevante para os termopares,<br />
e os efeitos Peltier e Thomson, que descrevem o transporte de energia por calor por<br />
intermédio de uma corrente eléctrica. Os efeitos Peltier e Thomson não são importantes<br />
na metrologia da temperatura e quan<strong>do</strong> presentes originam erros na <strong>medição</strong>.<br />
A força electromotriz que é gerada num termopar é função da diferença de<br />
temperatura entre as junções de <strong>medição</strong> e de referência e é medida usan<strong>do</strong> um<br />
voltímetro, liga<strong>do</strong> convenientemente no circuito termoeléctrico. Em medições precisas de<br />
19 Thomas Johann Seebeck foi um físico alemão (1770-1831).<br />
20 Jean Peltier foi um físico francês (1785-1845).<br />
21 William Thomson (Lord Kelvin) foi um físico britânico (1824-1907).<br />
100
101<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
temperatura deve usar-se um bom voltímetro (com elevada resistência interna), para que<br />
a corrente eléctrica no circuito seja suficientemente pequena para que os efeitos Peltier e<br />
Thomson sejam desprezáveis.<br />
Para que sejam evita<strong>do</strong>s possíveis erros causa<strong>do</strong>s por efeitos decorrentes da lei das<br />
temperaturas sucessivas ou intermédias (ver secção 5.2.8), convencionou-se que o ponto<br />
de abertura <strong>do</strong> circuito seria a própria junção de referência, onde fios de cobre seriam<br />
liga<strong>do</strong>s para que esses pontos fossem liga<strong>do</strong>s ao voltímetro, conforme se ilustra na Figura<br />
5.8. Como é descrito pela lei <strong>do</strong>s metais homogéneos (ver secção 5.2.8), a presença<br />
desses fios de cobre não altera a f.e.m. lida no voltímetro.<br />
Figura 5.8 Termopar onde a junção <strong>do</strong>s fios A e B constitui a junção de teste<br />
e a junção de referência consiste em duas junções com fios de<br />
cobre (Anacleto, 2004).<br />
O termopar é, portanto, diferente da maioria <strong>do</strong>s sensores de temperatura uma vez<br />
que a <strong>sua</strong> resposta está directamente relacionada com a diferença de temperatura entre as<br />
junções de <strong>medição</strong> e de referência.<br />
5.2.4 Efeito Seebeck<br />
Thomas Seebeck descobriu a existência de correntes termoeléctricas enquanto<br />
observava efeitos electromagnéticos associa<strong>do</strong>s a circuitos de bismuto/cobre e<br />
bismuto/antimónio. As experiências feitas mostraram que, quan<strong>do</strong> as junções de <strong>do</strong>is<br />
metais distintos formavam um circuito fecha<strong>do</strong> e são submetidas a temperaturas<br />
diferentes, uma força electromotriz é gerada, originan<strong>do</strong> o aparecimento de uma corrente<br />
eléctrica contínua nessa malha.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Uma diferença de temperatura entre <strong>do</strong>is pontos de um condutor (ou semicondutor)<br />
origina uma diferença de potencial eléctrico entre esses pontos. De outra forma, um<br />
gradiente de temperatura num condutor origina um campo eléctrico. Este fenómeno é<br />
designa<strong>do</strong> por efeito Seebeck ou efeito termoeléctrico, e está ilustra<strong>do</strong> na Figura 5.9. O<br />
princípio <strong>do</strong> termopar é basea<strong>do</strong> no efeito Seebeck.<br />
E<br />
E F<br />
1<br />
f ( E )<br />
Diferença de temperatura DT<br />
Quente Frio<br />
Diferença de potencial De<br />
Figura 5.9 O efeito Seebeck: um gradiente de temperatura origina uma<br />
diferença de potencial (em circuito aberto).<br />
A tensão termoeléctrica por unidade de diferença de temperatura é o coeficiente de<br />
Seebeck, e é defini<strong>do</strong> de forma que o sinal representa o potencial eléctrico <strong>do</strong> la<strong>do</strong> frio<br />
em relação ao la<strong>do</strong> quente,<br />
de<br />
a =- (5.1)<br />
dT<br />
Se os electrões se difundem <strong>do</strong> la<strong>do</strong> quente para o la<strong>do</strong> frio, então o coeficiente de<br />
Seebeck é negativo. Se a difusão se der em senti<strong>do</strong> contrário, o coeficiente de Seebeck é<br />
positivo. O coeficiente a é normalmente designa<strong>do</strong> por potência termoeléctrica, o que é<br />
uma designação incorrecta, pois este coeficiente refere-se a uma diferença de potencial e<br />
não a uma potência. A designação mais apropriada é, portanto, coeficiente de Seebeck.<br />
Este coeficiente, da<strong>do</strong> por (5.1) e com valores da ordem de alguns<br />
propriedade <strong>do</strong> material e depende da temperatura.<br />
102<br />
1<br />
μV K - , é uma<br />
Conhecen<strong>do</strong> o coeficiente de Seebeck a ( T ) para um material, a diferença de<br />
potencial entre <strong>do</strong>is pontos a temperaturas T 0 e T é da<strong>do</strong> por<br />
E<br />
E F<br />
1<br />
f ( E<br />
)
T<br />
T0<br />
103<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
D e =Ú adT<br />
(5.2)<br />
A energia média por electrão, E , num metal no qual a densidade de esta<strong>do</strong>s de<br />
energia é g( E) μ E é dada por (Kasap, 2002; Kittel, 1986)<br />
onde F<br />
2<br />
2<br />
È p ÊkTˆ ˘<br />
Í F 1<br />
˙<br />
Í<br />
Á<br />
Ë E ˜<br />
F ¯ ˙<br />
3 5<br />
E = E +<br />
5 12<br />
Î ˚<br />
(5.3)<br />
E é a energia de Fermi (definida a T = 0K ). Da equação (5.3) a energia média<br />
por electrão no la<strong>do</strong> quente é maior que no la<strong>do</strong> frio e, como consequência, os electrões<br />
mais energéticos no la<strong>do</strong> quente difundem-se para o la<strong>do</strong> frio até que a diferença de<br />
potencial que se cria ponha fim ao processo de difusão. Notemos que a energia média por<br />
electrão também depende <strong>do</strong> material através da energia de Fermi, E F . Mostra-se<br />
(Kasap, 2002) que o coeficiente de Seebeck é da<strong>do</strong> aproximadamente por<br />
2 2<br />
p k T<br />
a = (5.4)<br />
2eE<br />
F<br />
Devemos referir que o raciocínio apresenta<strong>do</strong> é basea<strong>do</strong> assumin<strong>do</strong> que os<br />
electrões de condução num metal comportam-se como “electrões livres”. Esta<br />
aproximação só se aplica satisfatoriamente a metais “normais”, como, por exemplo, ao<br />
sódio, potássio e alumínio. A difusão <strong>do</strong>s electrões <strong>do</strong> la<strong>do</strong> quente apara o la<strong>do</strong> frio<br />
pressupõe que na região quente os electrões têm velocidades maiores, de acor<strong>do</strong> com a<br />
teoria <strong>do</strong>s electrões livres nos metais. Contu<strong>do</strong>, teremos que considerar as interacções <strong>do</strong>s<br />
electrões de condução com os iões e as vibrações da rede para compreender alguns<br />
resulta<strong>do</strong>s experimentais, como por exemplo, o facto de alguns metais apresentarem<br />
coeficientes de Seebeck positivos.<br />
5.2.5 O termopar<br />
Consideremos uma barra de um metal A aqueci<strong>do</strong> numa das extremidades e<br />
arrefeci<strong>do</strong> na outra. Se quisermos medir a diferença de potencial D e através da barra<br />
usan<strong>do</strong> ligações ao voltímetro feitas <strong>do</strong> mesmo metal, não o conseguiremos porque
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
aparece uma diferença de potencial simétrica nos fios de ligação ao voltímetro, conforme<br />
se ilustra na Figura 5.10.<br />
Quente<br />
Figura 5.10 Para um termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções de um mesmo<br />
metal A não é possível medir a diferença de potencial.<br />
É possível, contu<strong>do</strong>, medir uma diferença de potencial se ligarmos o voltímetro<br />
utilizan<strong>do</strong> fios de um metal diferente, mais propriamente, utilizan<strong>do</strong> um metal com um<br />
coeficiente de Seebeck diferente. O termopar usa precisamente, pelo menos, <strong>do</strong>is metais<br />
A e B diferentes e duas junções, sen<strong>do</strong> uma mantida a uma temperatura de referência T 0<br />
e a outra é usada para medir a temperatura T , conforme se ilustra na Figura 5.11.<br />
Quente<br />
T<br />
Figura 5.11 Um termopar tem que ser constituí<strong>do</strong> por duas junções de <strong>do</strong>is<br />
metais diferentes A e B.<br />
A diferença de potencial em cada elemento metálico depende <strong>do</strong> seu coeficiente de<br />
Seebeck e consequentemente a f.e.m. <strong>do</strong> termopar, eAB = eA- eB,<br />
depende da diferença<br />
aA - aB,<br />
e, pela equação (5.2), é dada por<br />
( )<br />
Metal A<br />
T T<br />
Ú Ú (5.5)<br />
e = a - a dT = a dT<br />
AB A B AB<br />
T0 T0<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
Metal B<br />
Metal A<br />
e = 0<br />
onde aAB = aA- aBé<br />
defini<strong>do</strong> como a potência termoeléctrica <strong>do</strong> termopar A-B.<br />
Se considerarmos a AB aproximadamente constante, podemos escrever<br />
S<br />
Metal A<br />
e π 0<br />
S<br />
104<br />
-<br />
-<br />
Metal A<br />
-<br />
-<br />
-<br />
Metal B<br />
Frio<br />
Frio<br />
T =<br />
T<br />
0 Ref
( )<br />
AB AB AB 0 AB BA 0<br />
105<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
e = a D T = a T - T = a T + a T<br />
(5.6)<br />
Os <strong>do</strong>is termos da direita na equação anterior, AB T<br />
a e BAT0 potencial geradas nas junções à temperatura T e T 0 , respectivamente.<br />
a , são as diferenças de<br />
O valor de a AB pode ser obti<strong>do</strong> por duas formas: a) como a diferença entre os<br />
coeficientes Seebeck <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is metais relativos a um metal de referência R arbitrário, a AR<br />
e a BR ; ou b) por diferenciação numérica de valores tabela<strong>do</strong>s de e S versus T, para uma<br />
determinada temperatura de referência, conforme a relação (5.5).<br />
De qualquer forma, o coeficiente Seebeck representa, para uma determinada<br />
combinação de materiais, a razão entre a variação na f.e.m. de uma malha e a variação na<br />
temperatura, ou seja:<br />
a<br />
AB<br />
De<br />
de<br />
= lim =<br />
DÆ t 0 DT<br />
dT<br />
AB AB<br />
Deste mo<strong>do</strong>, se uma função<br />
2<br />
e AB = aT + bT é obtida através de uma calibração,<br />
temos aAB = deABdT = a+ 2bT<br />
e podemos então afirmar que para uma determinada<br />
combinação de metais, o coeficiente de Seebeck é função apenas da temperatura.<br />
Uma consequência imediata <strong>do</strong> efeito Seebeck é o facto de que, conhecida a<br />
temperatura de uma das junções pode-se, através da f.e.m. produzida, saber a temperatura<br />
da outra junção. As medições de temperatura são, na realidade, a maior aplicação <strong>do</strong><br />
termopar, bastan<strong>do</strong> conhecer a relação f.e.m. versus a variação de temperatura na junção<br />
<strong>do</strong> termopar. Esta relação pode ser obtida por calibração, ou seja, uma comparação com<br />
um padrão de temperatura.<br />
Os outros <strong>do</strong>is efeitos termoeléctricos – os efeitos de Peltier e de Thomson – são<br />
apresenta<strong>do</strong>s a seguir, apenas porque estão relaciona<strong>do</strong>s com o efeito Seebeck, pois não<br />
têm grande importância para a <strong>medição</strong> de temperatura.<br />
5.2.6 Efeito Peltier<br />
Jean Peltier descobriu efeitos termoeléctricos interessantes quan<strong>do</strong> introduziu<br />
pequenas correntes eléctricas externas num termopar de bismuto-antimónio. As<br />
experiências feitas mostraram que, quan<strong>do</strong> uma pequena corrente eléctrica atravessa a
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
junção de <strong>do</strong>is metais diferentes numa direcção, a junção arrefece, absorven<strong>do</strong> energia<br />
por calor <strong>do</strong> meio em que se encontra. Quan<strong>do</strong> a direcção da corrente é invertida, a<br />
junção aquece, aquecen<strong>do</strong> o meio em que se encontra. Este efeito está presente quer a<br />
corrente seja gerada pelo próprio termopar quer seja originada por uma fonte de tensão<br />
externa. Por isso, na utilização de um termopar deve-se reduzir tanto quanto possível esta<br />
corrente, utilizan<strong>do</strong> voltímetros com elevada resistência interna.<br />
A potência trocada por calor (libertada ou absorvida), d QPdt, é proporcional à<br />
intensidade de corrente eléctrica, I , no circuito<br />
d Q<br />
dt<br />
P<br />
= p I<br />
(5.7)<br />
AB<br />
onde p AB é o coeficiente (ou tensão) de Peltier.<br />
Podemos relacionar os coeficientes de Peltier e de Seebeck, ten<strong>do</strong> em conta que a<br />
potência é dada pelo produto da diferença de potencial pela corrente. Para uma junção<br />
com uma diferença de potencial de Seebeck e S e percorrida por uma corrente eléctrica I<br />
temos, atenden<strong>do</strong> à equação (5.6),<br />
d Q<br />
dt<br />
P<br />
= e I = a TI<br />
(5.8)<br />
S AB<br />
E pela equação (5.7) obtemos<br />
p = a<br />
(5.9)<br />
AB AB T<br />
O significa<strong>do</strong> físico <strong>do</strong> coeficiente p AB é a energia libertada ou absorvida por calor<br />
pela junção por unidade de tempo e por unidade de corrente eléctrica. Tem as unidades<br />
de uma tensão eléctrica. A polaridade e o valor da tensão Peltier, p AB , depende da<br />
temperatura da junção e <strong>do</strong>s materiais usa<strong>do</strong>s na <strong>sua</strong> construção, sen<strong>do</strong>, no entanto,<br />
independente da temperatura da outra junção.<br />
Aquecimento ou arrefecimento exterior da junção provoca o efeito contrário ao<br />
efeito Peltier. Mesmo na ausência de to<strong>do</strong>s os outros efeitos termométricos, quan<strong>do</strong> a<br />
temperatura de uma junção (a junção de referência) é mantida constante e a temperatura<br />
da outra junção é aumentada por calor externo, uma corrente eléctrica será induzida na<br />
106
107<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
malha numa direcção. Se a temperatura desta última diminuir abaixo da primeira por<br />
arrefecimento externo, o senti<strong>do</strong> da corrente eléctrica será inverti<strong>do</strong>. Portanto, o efeito<br />
Peltier está intimamente relaciona<strong>do</strong> ao efeito Seebeck.<br />
O efeito de Peltier aparece adiciona<strong>do</strong> ao efeito de Joule, no qual a passagem de<br />
uma corrente através de uma resistência, neste caso a junção, dá origem à produção de<br />
uma libertação de energia por calor proporcional ao quadra<strong>do</strong> da corrente I. No caso <strong>do</strong>s<br />
metais vulgares, e para as intensidades de corrente eléctrica normalmente usadas, a<br />
potência trocada por calor devida ao efeito de Peltier, d QPdt, é muito menor <strong>do</strong> que a<br />
originada por efeito de Joule, d QJdt. O mesmo já não se passa com a junção de<br />
determina<strong>do</strong>s materiais semicondutores, para os quais poderá ter-se dQP dt dQJ<br />
dt.<br />
O efeito de Peltier é utiliza<strong>do</strong> em electrónica para o controlo de temperatura de<br />
componentes de circuitos. Na indústria é utiliza<strong>do</strong> em pequenos frigoríficos estáticos<br />
(sem compressor).<br />
5.2.7 Efeito de Thomson<br />
William Thomson concluiu que os coeficientes a AB e p AB estão relaciona<strong>do</strong>s<br />
através da temperatura absoluta. Thomson chegou à conclusão que uma corrente eléctrica<br />
produz diferentes efeitos térmicos, dependen<strong>do</strong> da direcção de <strong>sua</strong> passagem <strong>do</strong> ponto<br />
quente para o ponto frio ou <strong>do</strong> frio para o quente, num mesmo metal. Aplican<strong>do</strong> os<br />
princípios da Termodinâmica aos termopares e desprezan<strong>do</strong> o termo 2<br />
I R e outros<br />
processos de troca de energia por calor, Thomson concluiu que, se uma corrente eléctrica<br />
produz somente os efeitos Peltier de aquecimento, então a tensão Peltier na malha seria<br />
igual à tensão Seebeck e seria proporcional à diferença de temperatura das junções <strong>do</strong><br />
termopar.<br />
Este raciocínio conduz a um desacor<strong>do</strong> com os efeitos observa<strong>do</strong>s, isto é,<br />
dedT π constante . Por essa razão, Thomson concluiu que a tensão Peltier na malha<br />
S<br />
não seria a única tensão gerada num circuito termopar, mas que um único condutor por si<br />
só, quan<strong>do</strong> exposto a um gradiente de temperatura longitudinal, seria também uma fonte<br />
de tensão.<br />
O efeito Thomson é a libertação ou a absorção de energia por calor que ocorre<br />
quan<strong>do</strong> uma corrente eléctrica atravessa um material condutor homogéneo, através <strong>do</strong><br />
qual um gradiente de temperatura é manti<strong>do</strong>, não importan<strong>do</strong> se a corrente é introduzida<br />
externamente ou induzida pelo próprio termopar.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A potência por calor libertada ou absorvida num condutor é proporcional à<br />
diferença de temperatura, D T , e à corrente eléctrica no condutor, I , ou seja,<br />
d Q<br />
dt<br />
T<br />
= s I D T<br />
(5.10)<br />
onde s é o coeficiente de Thomson.<br />
Por analogia entre s e a u<strong>sua</strong>l capacidade térmica mássica, c , Thomson referiu-se<br />
a s como o calor específico de electricidade. É importante realçar que s representa a<br />
taxa de absorção ou emissão de energia como calor por unidade de gradiente de<br />
temperatura e por unidade de corrente eléctrica; ao passo que c representa a energia<br />
transferida como calor por unidade de gradiente de temperatura por unidade de massa. O<br />
coeficiente Thomson é visto também como uma representação de f.e.m. por unidade de<br />
diferença de temperatura. Portanto, a tensão Thomson total gerada num condutor pode<br />
ser expressa como:<br />
T<br />
T2<br />
T1<br />
e = Ú s dT<br />
(5.11)<br />
onde a <strong>sua</strong> polaridade e valor dependem <strong>do</strong> valor da temperatura, da diferença de<br />
temperatura e <strong>do</strong> material. Deve-se notar que a tensão de Thompson não pode manter<br />
uma corrente com apenas um condutor homogéneo forman<strong>do</strong> um circuito fecha<strong>do</strong>, pois<br />
duas forças electromotrizes iguais e opostas serão geradas nos <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s entre as<br />
partes quente e fria.<br />
Mais tarde Thomson conseguiu demonstrar indirectamente a existência da tensão<br />
de Thomson. Ele aplicou uma corrente eléctrica externa num circuito fecha<strong>do</strong>, forma<strong>do</strong><br />
por um único condutor homogéneo, submeti<strong>do</strong> a um gradiente de temperatura e percebeu<br />
que o calor produzi<strong>do</strong> por 2<br />
I R aumentava ou diminuía levemente por causa <strong>do</strong> calor<br />
Thomson nos senti<strong>do</strong>s de quente para frio ou de frio para quente, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> senti<strong>do</strong><br />
da corrente e <strong>do</strong> metal <strong>do</strong> condutor.<br />
5.2.8 As leis <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong>s termopares<br />
O funcionamento <strong>do</strong>s termopares pode ser sistematiza<strong>do</strong> pelo enuncia<strong>do</strong> de<br />
algumas leis, que se apresentam seguidamente e se ilustram na Figura 5.12.<br />
108
• Dois metais e duas junções<br />
109<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Um circuito que utilize termopares deve conter pelo menos <strong>do</strong>is metais distintos e<br />
pelo menos duas junções (Figura 5.12a).<br />
• Independência da temperatura <strong>do</strong> percurso<br />
A tensão de saída <strong>do</strong> termopar, e 0 , depende apenas das temperaturas das junções,<br />
T 1 e T 2 , sen<strong>do</strong> independente da forma como a temperatura se distribui pelos condutores,<br />
desde que não haja corrente eléctrica no circuito (Figura 5.12b).<br />
• Lei <strong>do</strong>s metais intermédios 1<br />
Se um terceiro metal homogéneo for inseri<strong>do</strong> no condutor A ou no condutor B de<br />
um circuito com termopares (Figura 5.12c), a tensão de saída e 0 permanece inalterada,<br />
desde que as novas junções estejam à mesma temperatura, Ti = Tj.<br />
• Lei <strong>do</strong>s metais intermédios 2<br />
A instalação de um material intermediário C numa junção AB (Figura 5.12d) não<br />
modifica a tensão de saída e 0 , desde que as novas junções criadas sejam mantidas à<br />
temperatura T 2 .<br />
• Lei das temperaturas sucessivas<br />
Um circuitos de termopares com temperaturas T 1 e T 2 (Figura 5.12e), origina uma<br />
tensão de saída 12 f ( T1, T2)<br />
produz uma tensão f ( T , T )<br />
tensão de saída é dada por<br />
e = . O mesmo circuito submeti<strong>do</strong> às temperaturas T 2 e T 3<br />
( , )<br />
e = f T T = e + e<br />
13 1 3 12 23<br />
e 23 = 2 3 . Se o circuito for submeti<strong>do</strong> às temperaturas T 1 e 3<br />
Essa lei permite que um termopar calibra<strong>do</strong> numa determinada referência de<br />
temperatura, seja usa<strong>do</strong> com qualquer outra referência de temperatura, aplican<strong>do</strong>-se a<br />
correcção adequada.<br />
T a
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A<br />
T i<br />
A<br />
T 1<br />
2 T<br />
+<br />
C<br />
B e B<br />
A<br />
Figura 5.12 Ilustração das leis de funcionamento <strong>do</strong>s termopares.<br />
Uma outra consequência dessa lei é que fios ou cabos de extensão, que tenham as<br />
mesmas características termoeléctricas <strong>do</strong>s fios <strong>do</strong> termopar, podem ser liga<strong>do</strong>s a ele sem<br />
que a f.e.m. térmica da malha seja modificada. Isso é aplica<strong>do</strong> principalmente em<br />
termopares nobres, em virtude <strong>do</strong> custo <strong>do</strong>s termoelementos.<br />
• Lei <strong>do</strong>s metais sucessivos<br />
0<br />
T j<br />
T 1<br />
T3 = T1<br />
+<br />
B e B<br />
13<br />
A<br />
T 1<br />
T2 = T1<br />
+<br />
-<br />
B e B<br />
AB<br />
-<br />
A<br />
T 1<br />
2 T<br />
+<br />
-<br />
-<br />
+<br />
A<br />
B e B<br />
+<br />
12<br />
A<br />
Um termopar constituí<strong>do</strong> pelos materiais A e C e com as junções submetidas às<br />
temperaturas 1 T e 2 T gera uma tensão e AC (Figura 5.12f). Um circuito semelhante<br />
constituí<strong>do</strong> por materiais C e B gera, submeti<strong>do</strong> às mesmas temperaturas, uma tensão<br />
110<br />
-<br />
C e C<br />
AC<br />
-<br />
T 1<br />
B<br />
T2 + T2<br />
T2 + T1<br />
A<br />
T 1<br />
2 T<br />
B e 0 B<br />
B<br />
e 0<br />
B<br />
a) b)<br />
T 6<br />
T 3<br />
c) d)<br />
e)<br />
f)<br />
+<br />
A<br />
-<br />
T 4<br />
+ - 2<br />
e 0<br />
+<br />
B<br />
A<br />
T 2<br />
T<br />
B e B<br />
+<br />
T 5<br />
23<br />
C<br />
-<br />
B e B<br />
CB<br />
-<br />
T 3<br />
T 2
111<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
e CB . Um termopar semelhante na configuração e constituí<strong>do</strong> pelos materiais A e B, gera,<br />
quan<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> ás mesma temperaturas, uma tensão dada por<br />
eAB = eAC + eCB<br />
5.2.9 Termopares mais u<strong>sua</strong>is e <strong>sua</strong>s características<br />
Vários tipos de pares termoeléctricos foram estuda<strong>do</strong>s e, de acor<strong>do</strong> com a<br />
aplicação, alguns foram normaliza<strong>do</strong>s. Os tipos mais comuns de termopares são<br />
identifica<strong>do</strong>s através de letras (T, J, K, E, N, R, S, B), originalmente atribuídas pela<br />
Instrument Society of America (ISA). A aplicação de cada um deles depende de vários<br />
factores, sen<strong>do</strong> a atmosfera (ambiente) e a gama de temperatura, os principais. As<br />
características de cada um deles são:<br />
• O tipo T (Cu-Cu45%Ni) (Cobre-Constantan) é resistente à corrosão em ambientes<br />
húmi<strong>do</strong>s e é excelente para aplicações em temperaturas abaixo de 0°C. O seu limite<br />
superior de temperatura é de 400°C e pode ser usa<strong>do</strong> em vácuo ou atmosferas oxidante,<br />
redutora ou inerte.<br />
• O tipo J (Fe-Cu45%Ni) (Ferro-Constantan) é apropria<strong>do</strong> para uso em vácuo ou<br />
atmosferas oxidante, redutora ou inerte até 760°C. A taxa de oxidação <strong>do</strong> termoelemento<br />
Fe é alta acima de 530°C, portanto o uso de fios de maiores diâmetros é recomenda<strong>do</strong> se<br />
houver necessidade de uso prolonga<strong>do</strong> em alta temperatura. Termopares tipo J de fio nu<br />
não devem ser usa<strong>do</strong>s em ambientes sulfurosos acima de 530°C. Pode ser usa<strong>do</strong> em<br />
temperaturas abaixo de 0°C, mas a possibilidade de oxidação <strong>do</strong> fio de Fe sob essas<br />
condições torna o seu uso menos interessante que o <strong>do</strong> tipo T em baixas temperaturas.<br />
• O tipo K (Ni10%Cr-Ni5%Al,Si) (Cromel-Alumel) é recomenda<strong>do</strong> para uso<br />
contínuo em atmosferas oxidante e inerte até 1372°C. Em virtude da <strong>sua</strong> característica de<br />
resistência à oxidação ser superior à <strong>do</strong>s outros termopares básicos, ele tem grande<br />
aplicação em temperaturas acima de 530°C. O tipo K também pode ser usa<strong>do</strong> em<br />
temperatura negativa até -270°C, mas não pode ser aplica<strong>do</strong> em: a) atmosferas redutoras<br />
ou que estejam alternan<strong>do</strong> entre redução e oxidação, sem um tubo de protecção<br />
apropria<strong>do</strong>; b) atmosferas sulfurosas, sem um tubo de protecção adequa<strong>do</strong>; c) vácuo,<br />
excepto por curto perío<strong>do</strong> de tempo, pois a vaporização preferencial <strong>do</strong> crómio irá alterar<br />
a calibração; d) atmosferas que promovem a deterioração esverdeada <strong>do</strong> termoelemento
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
positivo. Essa corrosão ocorre devi<strong>do</strong> à oxidação preferencial <strong>do</strong> crómio quan<strong>do</strong> o<br />
ambiente em torno <strong>do</strong> termopar tem baixa percentagem de oxigénio numa determinada<br />
gama de temperatura. Normalmente é notada quan<strong>do</strong> o termopar é usa<strong>do</strong> em tubo de<br />
protecção longo e de diâmetro reduzi<strong>do</strong>.<br />
• O tipo E (Ni10%Cr-Cu45%Ni) (Cromel-Constantan) é recomenda<strong>do</strong> para<br />
aplicações e uso na gama de -250°C a 870°C em atmosferas oxidante ou inerte. Em<br />
atmosfera redutora, alternan<strong>do</strong>-se entre redutora e oxidante, pouco oxidante ou vácuo, o<br />
tipo E está sujeito às mesmas limitações <strong>do</strong> tipo K.<br />
• O tipo N (Ni14%Cr1,5%Si-Ni4,5%Si0,1%Mg) (Nicrosil-Nisil) foi construí<strong>do</strong><br />
como uma alternativa ao tipo K e <strong>sua</strong> gama de operação está entre –270°C e 1300°C. Em<br />
comparação com o tipo K, possui uma menor potência termoeléctrica, um coeficiente de<br />
Seebeck bastante semelhante, porém uma maior estabilidade no tempo durante <strong>do</strong> seu<br />
uso. Assim como o tipo K, não deve ser usa<strong>do</strong> em vácuo.<br />
• O tipo R (Pt13%Rh-Pt) (Platina, Ródio-Platina) e o tipo S (Pt10%Rh-Pt) (Platina-<br />
Rhodio) são recomenda<strong>do</strong>s para aplicações de uso contínuo em ambientes oxidante e<br />
inerte, numa gama de temperatura de –50°C a 1768°C. Não devem ser usa<strong>do</strong>s em<br />
atmosferas redutoras ou que contenham vapores metálicos ou não metálicos, a menos que<br />
seja utiliza<strong>do</strong> um tubo de protecção não metálico. Podem ser usa<strong>do</strong>s em vácuo por curto<br />
perío<strong>do</strong> de tempo. O seu uso contínuo em alta temperatura provoca um excessivo<br />
crescimento de grãos, que pode resultar na quebra <strong>do</strong> elemento platina.<br />
• O tipo B (Pt30%Rh-Pt6%Rh) (Platina-Ródio) é recomenda<strong>do</strong> para uso contínuo<br />
em atmosferas oxidante e inerte em temperaturas até 1820°C. Pode ser usa<strong>do</strong> em vácuo,<br />
por curto perío<strong>do</strong> de tempo em alta temperatura, mas, assim como os tipos R e S, não<br />
deve ser aplica<strong>do</strong> em atmosferas redutoras ou que contenham vapores metálicos ou não<br />
metálicos, a menos que seja utiliza<strong>do</strong> um tubo de protecção não metálico. Se for usa<strong>do</strong><br />
um tubo de protecção metálico, esse termopar não deve ser inseri<strong>do</strong> directamente nele.<br />
Quan<strong>do</strong> em alta temperatura, o tipo B apresenta menor crescimento de grãos que os tipos<br />
R e S.<br />
Dos termopares acima, os que são forma<strong>do</strong>s por platina, são conheci<strong>do</strong>s como<br />
termopares nobres (R, S e B) e os demais são chama<strong>do</strong>s de termopares básicos ou<br />
termopares de metal comum. Outros tipos de termopares foram cria<strong>do</strong>s para aplicações<br />
específicas, sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>s termopares especiais e não receberam denominação por<br />
letras.<br />
112
113<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Um termopar é calibra<strong>do</strong> medin<strong>do</strong> a fem na junção de teste a várias temperaturas,<br />
manten<strong>do</strong> a junção de referência a 0 ºC. Os resulta<strong>do</strong>s de tais medições podem,<br />
u<strong>sua</strong>lmente, ser representa<strong>do</strong>s por uma equação cúbica,<br />
2 3<br />
( ) c c c c<br />
eq = + q+ q + q<br />
(5.12)<br />
0 1 2 3<br />
onde e é a f.e.m. térmica, e c 0 , c 1,<br />
c 2 , e c 3 constantes (diferentes para cada termopar).<br />
Sensibilidade<br />
A sensibilidade de um termopar é dada por<br />
S<br />
T<br />
de<br />
= (5.13)<br />
dT<br />
O índice T em S T indica que a sensibilidade, que é função da temperatura, é<br />
referida à temperatura T . A Tabela 5.1 indica a sensibilidade de alguns materiais quan<strong>do</strong><br />
usa<strong>do</strong>s com a platina, para uma temperatura de junção de 0 ºC. Note-se que existe uma<br />
grande variação nas sensibilidades, consoante os materiais. Repare-se que as<br />
sensibilidades são baixas, da ordem <strong>do</strong>s μV/ ºC. Observe-se ainda que para os<br />
semicondutores (quatro últimos materiais da tabela) as sensibilidades são bastante<br />
superiores às <strong>do</strong>s metais. Para que a sensibilidade de um termopar seja elevada, convirá<br />
associar materiais com sensibilidades altas em relação à platina (em módulo), e de sinais<br />
contrários. No entanto, para a construção de termopares há outros critérios a ter em<br />
consideração. Assim, o par Bismuto/Cromel, que tem uma sensibilidade, a 0 ºC, de<br />
72+25,8 = 97,8 μV/ºC, não se utiliza devi<strong>do</strong> ao facto <strong>do</strong> Bismuto ser muito quebradiço e<br />
ter um ponto de fusão baixo (271 ºC).<br />
Dentro da gama de temperaturas desejadas, a selecção <strong>do</strong>s materiais a utilizar na<br />
construção de um termopar deve ter em conta os seguintes critérios: sensibilidade<br />
elevada, linearidade alta, estabilidade alta e custo baixo.<br />
Para se aumentar a sensibilidade <strong>do</strong>s termopares, estes podem ser associa<strong>do</strong>s em<br />
série, desde que se garanta a existência de N junções à temperatura de medida e outras<br />
N + 1 à temperatura de referência.<br />
Os termopares são utiliza<strong>do</strong>s em vários sectores da indústria (química,<br />
petroquímica, farmacêutica, da energia eléctrica, de produtos alimentares e bebidas,<br />
mineira, metalúrgica, siderúrgica, cerâmica, vidro, entre outros). São utiliza<strong>do</strong>s também
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
na Engenharia Mecânica, em diversos equipamentos laboratoriais e em muitos outros<br />
equipamentos.<br />
Material Sensibilidade Material Sensibilidade<br />
µV/ºC<br />
µV/ºC<br />
Bismuto -72 Cobre + 6,5<br />
Constantan -35 Ouro + 6,5<br />
Níquel -15 Tungsténio + 7,5<br />
Alumel -13,6 Nicrosil + 15,4<br />
Nisil -10,7 Ferro + 18,5<br />
Platina 0 Cromel + 25,8<br />
Mercúrio + 0,6 Germânio + 300<br />
Carbono + 3 Silício + 440<br />
Alumínio + 3,5 Telúrio + 500<br />
Estanho + 4 Selénio + 900<br />
Prata + 6,5<br />
Tabela 5.1 Sensibilidade de alguns termopares à temperatura de referência<br />
0 ºC, quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s com a platina.<br />
5.3 Termómetro de resistência<br />
Termo-resistências ou termómetros de resistência, são nomes genéricos para<br />
sensores que variam a resistência eléctrica com a temperatura. Os materiais utiliza<strong>do</strong>s<br />
como elemento sensor destes termómetros são, normalmente, condutores e<br />
semicondutores. Os metais condutores apareceram primeiro, e historicamente são os que,<br />
em senti<strong>do</strong> estrito, são designa<strong>do</strong>s por termómetros de resistência ou termo-resistências.<br />
Os semicondutores são mais recentes e chamam-se de termístores. A diferença<br />
básica é a forma da variação da resistência eléctrica com a temperatura. Nos metais a<br />
resistência aumenta quase linearmente com a temperatura enquanto nos semicondutores<br />
ela varia de maneira não linear de forma positiva ou negativa (ver Figura 5.13). A<br />
variação da resistência eléctrica em função da temperatura ( dR dT ) é designada por<br />
coeficiente de temperatura. O seu valor também é uma função da temperatura.<br />
114
R / W<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
115<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Figura 5.13 Gráfico ilustrativo da variação da resistência com a temperatura<br />
para alguns metais e para um semicondutor.<br />
5.3.1 Termo-resistências metálicas<br />
5.3.1.1 Constituição<br />
Semicondutor<br />
0<br />
–100 100 300 500 700 T / ºC<br />
Uma termo-resistência é constituída por um núcleo de cerâmica, de vidro ou de<br />
outro material isolante em volta <strong>do</strong> qual se encontra depositada ou enrolada a resistência,<br />
que, de acor<strong>do</strong> com a aplicação, pode ser constituída por um fio ou por um filme<br />
metálico (para dimensões mais reduzidas e valores de resistência mais eleva<strong>do</strong>s).<br />
Externamente, existe um revestimento com vista a proteger a resistência de cargas<br />
mecânicas (pressão, flui<strong>do</strong>s) e da corrosão química (ver Figuras 5.14, 5.15 e 5.16).<br />
Figura 5.14 Interior de uma termo-resistencia.<br />
Figura 5.15 Aspecto exterior de uma termo-resistência.<br />
Ni<br />
W<br />
Pt<br />
R ( 0ºC) = 100 W<br />
Cu
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 5.16 Algumas termo-resistências.<br />
5.3.1.2 Campos de aplicação<br />
Os termómetros de resistência são aplica<strong>do</strong>s na gama de temperatura de - 220ºC a<br />
+ 600ºC . As <strong>sua</strong>s vantagens são inúmeras, das quais destacamos as seguintes: elevada<br />
banda dinâmica de medida, resistência mecânica à vibração, elevada imunidade às<br />
interferências eléctricas, estabilidade dura<strong>do</strong>ura, elevada robustez, e elevada exactidão.<br />
Estes termómetros são muito utiliza<strong>do</strong>s na indústria, nomeadamente, química,<br />
petroquímica, farmacêutica, energia eléctrica, mecânica, de produtos alimentares e<br />
bebidas, entre outras. São ainda utilizadas em laboratórios como padrões de temperatura.<br />
5.3.1.3 Princípio de funcionamento<br />
Em 1821 Sir Humphrey Davy descobriu que a resistividade <strong>do</strong>s metais apresentava<br />
uma forte dependência da temperatura. Sir William Siemens propôs, por volta de 1861, o<br />
uso de termómetros de resistência de platina com os quais a <strong>medição</strong> da temperatura seria<br />
feita à custa da variação da resistência eléctrica de um fio de platina (Güths, 1998).<br />
Actualmente, a <strong>medição</strong> de temperaturas por meio de termómetros de platina<br />
assume grande importância em numerosos processos de controlo industrial; são também<br />
usa<strong>do</strong>s termómetros de platina de construção especial como instrumentos metrológicos<br />
de interpolação das escalas internacionais de temperatura, a nível primário. O termómetro<br />
de resistência feito de platina opera na gama de temperatura de - 253ºC a + 1200ºC .<br />
O termómetro de resistência metálico possui como propriedade termométrica a<br />
resistência eléctrica que pode ser dada por uma função cúbica da temperatura, obtida por<br />
calibração, e dada por (norma CEI 751)<br />
116
( )<br />
2 2<br />
È 0 1 100 ˘<br />
117<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Rq= R<br />
Î<br />
+ Aq + Bq + Cq<br />
q -<br />
˚ (5.14)<br />
onde R 0 é a resistência à temperatura de referência, A, B e C são constantes (ver<br />
secção 6.1) e q é a temperatura empírica. Para valores positivos da temperatura é<br />
suficiente uma aproximação quadrática, pelo que se toma C = 0 , obten<strong>do</strong>-se<br />
2<br />
0 1 È ˘<br />
Rq= R<br />
Î<br />
+ Aq + Bq<br />
˚ (5.15)<br />
A sensibilidade ( S ) de uma termo-resistência é a variação relativa da resistência<br />
por unidade de variação de temperatura:<br />
( DR<br />
R)<br />
S =<br />
DT<br />
(5.16)<br />
A sensibilidade é função da temperatura e a expressão anterior é definida<br />
pontualmente para cada temperatura por<br />
1 dR<br />
S = (5.17)<br />
R dT<br />
Na Tabela 5.2 estão indicadas algumas características para 4 termo-resistencias à<br />
temperatura de 0 ºC.<br />
Níquel Cobre Platina Tungsténio<br />
Gama de medida em (ºC) - 100;<br />
500 - 100;<br />
450 - 260;<br />
800 - 70;<br />
2700<br />
Resistividade ( m)<br />
W 8<br />
5,91 10 -<br />
¥<br />
8<br />
1,529 10 -<br />
¥<br />
8<br />
9,81 10 -<br />
¥<br />
8<br />
4,99 10 -<br />
¥<br />
Linearidade baixa alta alta média<br />
1<br />
Sensibilidade a 0ºC ( K ) -<br />
0,0067 0,0042 0,003925 0,0045<br />
Tabela 5.2 Algumas características para 4 termo-resistências, à temperatura<br />
de 0 ºC.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
5.3.1.4 Méto<strong>do</strong>s de <strong>medição</strong><br />
Para se poder ler, ou para transmitir à distância <strong>do</strong> valor da temperatura obti<strong>do</strong> na<br />
utilização de uma termo-resistência, é necessário transformar o valor de R ou o de ΔR<br />
numa corrente eléctrica, ou numa tensão eléctrica. Para este efeito utiliza-se um<br />
condiciona<strong>do</strong>r de sinal.<br />
Descrevem-se a seguir alguns <strong>do</strong>s condiciona<strong>do</strong>res de sinal mais utiliza<strong>do</strong>s com as<br />
termo-resistências, basea<strong>do</strong>s no uso de uma fonte de corrente e na ponte de Wheatstone.<br />
• Fonte de corrente<br />
Este méto<strong>do</strong> exige uma fonte de corrente constante, e pode ter duas configurações<br />
fundamentais: <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios, e a quatro fios 22 .<br />
Medição a <strong>do</strong>is fios<br />
Conhecen<strong>do</strong> o valor da intensidade da corrente que atravessa a termo-resistência, o<br />
valor da <strong>sua</strong> resistência é obti<strong>do</strong> a partir da medida da queda de tensão, tal como indica a<br />
Figura 5.17.<br />
I<br />
Fonte de<br />
corrente<br />
Figura 5.17 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios.<br />
V<br />
I ª<br />
0<br />
V<br />
R fio<br />
R fio<br />
No méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios o sinal é influencia<strong>do</strong> pela resistência eléctrica<br />
<strong>do</strong>s fios de ligação, e por variações desta, especialmente se estes forem longos e<br />
estiverem sujeitos a variações de temperatura. A influência das resistências <strong>do</strong>s fios pode<br />
ser compensada por uma resistência de compensação, sen<strong>do</strong> este o procedimento segui<strong>do</strong><br />
em instrumentação de regulação onde se exige relativa precisão de controlo.<br />
22 Por vezes são utilizadas resistências com três fios. Em alguns casos, como na <strong>medição</strong> por ponte<br />
de Wheatstone, isto trás vantagens evidentes sobre a montagem com <strong>do</strong>is fios, noutras situações<br />
aparece como compromisso entre a montagem com <strong>do</strong>is fios e quatro fios.<br />
118<br />
Termo-resistência
Medição a quatro fios<br />
119<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Na <strong>medição</strong> a quatro fios, ilustrada na Figura 5.18, a intensidade de corrente que<br />
atravessa a termo-resistência é, também, constante e a queda de tensão é medida junto<br />
<strong>do</strong>s seus extremos. Como a corrente que circula pelo voltímetro é praticamente nula,<br />
pode-se considerar a queda de tensão nos fios de ligação nula, eliminan<strong>do</strong> assim a<br />
influência da resistência e da variação de temperatura <strong>do</strong>s fios de ligação. A desvantagem<br />
deste méto<strong>do</strong> é a necessidade de o cabo conter quatro fios, aumentan<strong>do</strong> o custo.<br />
I<br />
Fonte de<br />
corrente<br />
I ª 0<br />
Figura 5.18 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a quatro fios.<br />
V<br />
V<br />
R fio<br />
R fio<br />
R fio<br />
R fio<br />
Termo-resistência<br />
O auto-aquecimento é o problema mais grave das termo-resistências. A circulação<br />
de uma corrente eléctrica pela resistência causa, por efeito Joule, um aumento da <strong>sua</strong><br />
temperatura, originan<strong>do</strong> um erro de <strong>medição</strong>. O erro torna-se crítico quan<strong>do</strong> se fazem<br />
medições em gases, a baixas velocidades, poden<strong>do</strong> chegar a 2 ºC.<br />
A forma de minimizar esse fenómeno é alimentar o sistema com corrente pulsada,<br />
conforme se mostra na Figura 5.19. Como consequência essa forma de resolver o<br />
problema necessita de um circuito electrónico mais sofistica<strong>do</strong> (Güths, 1988).<br />
a)<br />
Corrente<br />
Tensão<br />
6 ms 0,2 ms<br />
Tempo<br />
b)<br />
Tempo<br />
Figura 5.19 Minimização <strong>do</strong> efeito de auto-aquecimento usan<strong>do</strong> uma corrente<br />
pulsada: a) corrente injectada; b) sinal em tensão detecta<strong>do</strong>.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
• Ponte de Wheatstone<br />
A Ponte de Wheatstone é uma técnica muito utilizada pois necessita apenas de uma<br />
fonte de tensão, que é mais simples que uma fonte de corrente. Consideremos o caso da<br />
ligação em três pontos, conforme se ilustra na Figura 5.20. O efeito da variação da<br />
resistência <strong>do</strong> cabo pode ser minimiza<strong>do</strong>, com o custo <strong>do</strong> cabo adicional B.<br />
A tensão de saída, V , da ponte depende da relação entres os valores das<br />
resistências e da tensão de alimentação, e , e é dada por<br />
Ê 1 1 ˆ<br />
V = e -<br />
Ë<br />
Á1+ R R 1+<br />
R R¯<br />
˜<br />
(5.18)<br />
1 2 3<br />
Da expressão anterior podemos escrever<br />
( e )( 1 )<br />
+ ( e )( 1+<br />
)<br />
R3 - RV 3 + R1 R2<br />
R =<br />
R R V R R<br />
1 2 1 2<br />
Fonte de<br />
tensão<br />
Figura 5.20 Ponte de Wheatstone com resistência de três fios.<br />
5.3.2 Termístores<br />
5.3.2.1 Constituição<br />
R 1<br />
R 2<br />
120<br />
R<br />
Termo-resistência<br />
(5.19)<br />
Como já foi dito os termístores são resistências sensíveis à temperatura, construídas<br />
em material semicondutor. Como material semicondutor utilizam-se os óxi<strong>do</strong>s de níquel,<br />
de cobalto e de manganês, e sulfatos de ferro, de alumínio e de cobre, e ainda, para<br />
aumentar a estabilidade, misturas de outros óxi<strong>do</strong>s.<br />
R 3<br />
e V<br />
A<br />
B<br />
C
121<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Os primeiros termístores foram feitos de óxi<strong>do</strong> de manganês, níquel e cobalto,<br />
moí<strong>do</strong>s e mistura<strong>do</strong>s em proporções apropriadas e prensa<strong>do</strong>s.<br />
Figura 5.21 Exemplos de termístores.<br />
5.3.2.2 Características<br />
Existem basicamente <strong>do</strong>is tipos de termístores, os NTC (<strong>do</strong> inglês Negative<br />
Temperature Coefficient), termístores cujo coeficiente de variação de resistência com a<br />
temperatura é negativo: a resistência diminui com o aumento da temperatura de forma<br />
exponencial. Os PTC (<strong>do</strong> inglês Positive Temperature Coefficient) são termístores cujo<br />
coeficiente de variação de resistência com a temperatura é positivo: a resistência aumenta<br />
com o aumento da temperatura.<br />
A gama de medida de um termístor é mais reduzida <strong>do</strong> que a de uma termo-<br />
resistência ( - 100ºC a 300 ºC). Para um termístor a variação da resistência com a<br />
temperatura é elevada, sen<strong>do</strong> a <strong>sua</strong> relação não linear.<br />
A resistência em função da temperatura para um termístor NTC é dada por:<br />
0<br />
Ê1 1 ˆ<br />
b Á -<br />
ËT T<br />
˜<br />
0 ¯<br />
R = R e (5.20)<br />
onde : R - resistência <strong>do</strong> termístor à temperatura absoluta T ( W ),<br />
0 R - resistência <strong>do</strong> termístor à temperatura de referência 0<br />
T e T 0 - temperaturas absolutas ( K ),<br />
T ( W ),<br />
b - parâmetro característico <strong>do</strong> termístor, dependente da <strong>sua</strong> composição ( K ).<br />
O parâmetro b toma valores compreendi<strong>do</strong>s entre 3000 K e 5000 K. Para gamas<br />
de funcionamento restritas pode considerar-se constante. A temperatura de referência,<br />
T 0 , é geralmente tomada a 298 K ( 25ºC ).
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Uma aplicação corrente a nível industrial é a <strong>medição</strong> de temperatura (em motores,<br />
por exemplo), pois podemos com o termístor obter uma variação da <strong>sua</strong> resistência<br />
eléctrica em função da temperatura a que este se encontra.<br />
Os termístores PTC são muito não-lineares e são usa<strong>do</strong>s apenas para protecção<br />
contra sobreaquecimento, limitan<strong>do</strong> a corrente eléctrica quan<strong>do</strong> determinada temperatura<br />
é ultrapassada.<br />
A sensibilidade de um termístor é definida pela relação ente a variação relativa da<br />
resistência e a correspondente variação de temperatura que lhe deu origem.<br />
1 dR<br />
S = (5.21)<br />
R dT<br />
Efectuan<strong>do</strong> este cálculo usan<strong>do</strong> para R( T ) a função dada por (5.20) obtém-se<br />
b<br />
S =- (5.22)<br />
2<br />
T<br />
A título de exemplo, para um termístor com β = 4000 K e para T = 300 K (~26 ºC)<br />
a sensibilidade tem o valor<br />
1<br />
0,044K -<br />
- . Comparan<strong>do</strong> este valor com a sensibilidade da<br />
termo-resistência de platina constata-se que a sensibilidade de um termístor é, em valor<br />
absoluto, cerca de 10 vezes maior <strong>do</strong> que a sensibilidade da termo-resistência. As<br />
elevadas sensibilidades <strong>do</strong>s termístores permitem a detecção de variações de temperatura<br />
da ordem de 0,0005 K.<br />
A sensibilidade varia com a temperatura o que constitui um problema, para o<br />
resolver associa-se uma associação de resistências em paralelo, o que lineariza a variação<br />
da resistência com a temperatura.<br />
5.4 Termómetros de pressão de gás<br />
Fisicamente idêntico ao termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, neste<br />
termómetro, o volume <strong>do</strong> conjunto é constante e preenchi<strong>do</strong> com um gás. A variação de<br />
temperatura implica uma variação de pressão de acor<strong>do</strong> com a lei <strong>do</strong>s gases ideais (ver<br />
secção 4.3.2). Este termómetro, pelas <strong>sua</strong>s características, não é usa<strong>do</strong> no dia-a-dia.<br />
122
123<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
5.5 Termómetro de radiação infravermelha e visível<br />
Pirómetros são sensores de temperatura que utilizam a radiação térmica emitida por<br />
um corpo cuja temperatura se quer medir, não necessitam de estar em contacto físico com<br />
o corpo emissor, não interferin<strong>do</strong>, portanto com o meio e desse mo<strong>do</strong> evitan<strong>do</strong><br />
transferências de energia na <strong>medição</strong> de temperatura, obten<strong>do</strong>-se a temperatura real.<br />
Estes termómetros apresentam ainda as vantagens de não ser necessário esperar que<br />
se atinja o equilíbrio térmico entre o corpo e o termómetro, suporta medições de<br />
temperatura elevada, pode medir a temperatura de materiais corrosivos, bem como medir<br />
a temperatura de um sistema móvel, visto que o pirómetro não está acopla<strong>do</strong> ao corpo.<br />
Um outro sensor de temperatura que também utiliza a radiação térmica emitida por<br />
um corpo cuja temperatura se quer medir é a termopilha.<br />
5.5.1 Termopilha<br />
Uma termopilha consiste em vários elementos térmicos (termopares) coloca<strong>do</strong>s em<br />
série como ilustra<strong>do</strong> na Figura 5.22.<br />
Abertura<br />
Bismuto<br />
Figura 5.22 Esquema de uma termopilha.<br />
Numa termopilha há <strong>do</strong>is lugares característicos onde são colocadas as junções <strong>do</strong>s<br />
elementos, sen<strong>do</strong> que um é chama<strong>do</strong> de lugar das junções quentes e o outro de lugar das<br />
junções frias. As junções quentes da termopilha estão no centro <strong>do</strong> transdutor abaixo de<br />
uma membrana que irá receber a radiação. As junções frias vão estar protegidas da<br />
radiação presas a um substrato que será utiliza<strong>do</strong> como massa térmica.<br />
Prata<br />
e
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
5.5.2 Pirómetro<br />
Os pirómetros podem ser dividi<strong>do</strong>s em duas classes distintas: os pirómetros de<br />
banda larga e os pirómetros de banda estreita. Os pirómetros de banda larga baseiam-se<br />
na lei de Stefan-Boltzmann, que relaciona a potencia total irradiada por um corpo, P ,<br />
com a temperatura absoluta a que ele se encontra, T , a área da superfície de emissora,<br />
A , e a <strong>sua</strong> emissividade, e . Como vimos no Capítulo 3, esta lei expressa-se por<br />
4<br />
P = esAT , onde s é a constante universal de Stefan-Boltmann, cujo valor é<br />
-8 -2 -4<br />
s = 5,6704 ¥ 10 W m K . Pode portanto fazer-se medições de temperatura a partir<br />
de medições de energia emitida pelo corpo.<br />
Os pirómetros são calibra<strong>do</strong>s em relação a um corpo negro, onde a energia<br />
irradiada é máxima ( e = 1).<br />
Quan<strong>do</strong> a <strong>medição</strong> é realizada num corpo com emissividade<br />
diferente da <strong>do</strong> corpo negro deve-se empregar um factor de correcção. Para isso deve-se<br />
conhecer a emissividade <strong>do</strong> corpo cuja temperatura se quer medir, o que é um factor de<br />
incerteza visto que depende por exemplo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> da superfície e da temperatura entre<br />
outros. Outro factor de incerteza diz respeito à influência <strong>do</strong>s corpos vizinhos, a radiação<br />
emitida por um corpo vizinho pode vir a ser reflectida na superfície <strong>do</strong> corpo cuja<br />
temperatura queremos medir e atingir o sensor, influencian<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong>.<br />
A Figura 5.23 refere-se à patente <strong>do</strong> primeiro pirómetro de banda estreita, atribuída<br />
a Samuel Morse em 1899 (www.zytemp.com).<br />
Figura 5.23 Ilustração <strong>do</strong> primeiro pirómetro patentea<strong>do</strong>.<br />
124
5.5.2.1 Pirómetros ópticos (Banda estreita)<br />
125<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
O pirómetro de banda estreita clássico é o chama<strong>do</strong> pirómetro óptico, ilustra<strong>do</strong><br />
esquematicamente na Figura 5.24 A, e é usa<strong>do</strong> para medir temperaturas de 700 ºC a<br />
4000 ºC, onde parte significativa da energia é radiada na zona visível <strong>do</strong> espectro<br />
electromagnético. Usa um méto<strong>do</strong> comparativo. A energia emitida pelo corpo incide<br />
numa lente objectiva e é focada no filamento de uma lâmpada de incandescência. Se a<br />
temperatura <strong>do</strong> corpo exceder os 1300 ºC, é usa<strong>do</strong> um filtro de absorção entre a lente<br />
objectiva e a lâmpada. A energia radiante que provem <strong>do</strong> corpo e <strong>do</strong> filamento da<br />
lâmpada passa por um filtro vermelho com uma frequência de corte de cerca de<br />
12<br />
470 ¥ 10 Hz . A radiação transmitida através <strong>do</strong> filtro é captada por outra lente objectiva<br />
e focada para ser vista pelo observa<strong>do</strong>r através de uma lente ocular (Fialho, 2007).<br />
A<br />
B<br />
Figura 5.24 A – Esquema de um pirómetro óptico. B – Observação.<br />
Se a corrente da lâmpada estiver desligada, o observa<strong>do</strong>r vai ver um filamento<br />
negro num plano de fun<strong>do</strong> de cor clara. Ao aumentar a corrente da lâmpada, chega-se a<br />
um ponto em que há a sensação de que o filamento desaparece, já que a radiação por ele<br />
emitida na frequência <strong>do</strong> filtro vermelho tem a mesma intensidade da radiação emitida<br />
pelo corpo. Ao aumentar ainda mais a corrente da lâmpada o filamento começa a adquirir<br />
uma cor mais clara sobre um plano de fun<strong>do</strong> de cor mais escura, tal como mostra a<br />
Figura 5.24 B.<br />
Na condição em que o filamento deixa de ser visível, a corrente requerida para<br />
produzir o seu brilho é medida e usada para estabelecer a temperatura <strong>do</strong> corpo quente.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Os principais problemas deste pirómetro são:<br />
- Só funciona para temperaturas em que o corpo emite radiação considerável no<br />
espectro visível.<br />
- Só mede correctamente a temperatura de corpos negros, isto é, corpos cuja<br />
superfície tenha emissividade igual a 1. Para to<strong>do</strong>s os outros o aparelho necessita de<br />
calibração. Como é sabi<strong>do</strong>, a radiação emitida por um corpo é menor <strong>do</strong> que a que emite<br />
um corpo negro à mesma temperatura.<br />
Se for conhecida a energia radiada por um corpo e o valor da emissividade da <strong>sua</strong><br />
superfície, pode-se calcular a energia radiada por um corpo negro à mesma temperatura e<br />
no mesmo comprimento de onda. Depois basta usar a lei de Planck que relaciona a<br />
energia emitida por um corpo negro com o comprimento de onda e com a temperatura.<br />
Caso não seja conhecida a emissividade da superfície <strong>do</strong> corpo, podem ser usa<strong>do</strong>s<br />
alguns “truques” para se chegar ao valor da temperatura: Uma porção <strong>do</strong> corpo pode ser<br />
pintada de negro ou coberta por uma cerâmica negra para que a <strong>sua</strong> emissividade seja<br />
próxima de 1. Para temperaturas muito altas, em que não é possível pintar a superfície,<br />
pode ser feito um furo com uma relação profundidade/diâmetro de seis ou mais. Este furo<br />
liga o interior de uma cavidade com o exterior, portanto actua como corpo negro e se o<br />
pirómetro óptico for foca<strong>do</strong> no seu interior, a temperatura <strong>do</strong> corpo pode ser medida com<br />
grande precisão.<br />
Para resolver o problema da dependência da <strong>medição</strong> de temperatura de um corpo<br />
com a <strong>sua</strong> emissividade, o pirómetro pode ser concebi<strong>do</strong> como se ilustra na Figura 5.25.<br />
Neste aparelho existem <strong>do</strong>is sensores que recebem radiação de diferentes<br />
comprimentos de onda (de cor diferente, portanto). A radiação proveniente <strong>do</strong> corpo é<br />
focada por uma lente objectiva, sen<strong>do</strong> depois dividida para os <strong>do</strong>is sensores por um<br />
divisor de feixe dicróico. Este divisor de feixe (espelho quente/frio) reflecte/transmite a<br />
radiação de comprimento de onda maior e transmite/reflecte a radiação de comprimento<br />
de onda menor.<br />
Corpo<br />
Lente<br />
Figura 5.25 Esquema de um pirómetro independente da emissividade.<br />
126<br />
Sensor 2<br />
Divisor de feixe<br />
Sensor 1
127<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Supon<strong>do</strong> que o valor da emissividade <strong>do</strong> corpo é o mesmo para os <strong>do</strong>is<br />
comprimentos de onda, o gráfico da radiância espectral <strong>do</strong> corpo negro (Figura 3.17),<br />
mostra que os valores li<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>is sensores vão ser os <strong>do</strong> gráfico multiplica<strong>do</strong>s por<br />
uma constante menor <strong>do</strong> que um (emissividade). A partir deste princípio, pelo valor<br />
relativo medi<strong>do</strong> pelos <strong>do</strong>is sensores é possível calcular a temperatura <strong>do</strong> corpo. Assim,<br />
em termos qualitativos, olhan<strong>do</strong> para a Figura 5.26 caso o valor medi<strong>do</strong> pelo sensor 1<br />
seja maior <strong>do</strong> que o valor medi<strong>do</strong> pelo sensor 2, então a temperatura é baixa. Se a medida<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sensores for igual, então a temperatura é média. Se a medida <strong>do</strong> sensor 2 for<br />
maior <strong>do</strong> que a <strong>do</strong> sensor 1 então a temperatura é alta.<br />
Sensor 1<br />
Sensor 2<br />
Figura 5.26 Frequências utilizadas pelo pirómetro de duas cores.<br />
De certo mo<strong>do</strong>, o efeito da emissividade é compensa<strong>do</strong>, não totalmente já que,<br />
como foi visto antes, a emissividade não é rigorosamente constante, mas dependente <strong>do</strong><br />
comprimento de onda.<br />
A principal diferença em relação ao pirómetro clássico é que este usa, em vez <strong>do</strong><br />
valor absoluto da energia absorvida pelo sensor, a razão entre as energias recebidas pelos<br />
<strong>do</strong>is sensores a comprimentos de onda diferentes.<br />
5.5.2.2 Pirómetro de infravermelhos (Banda larga)<br />
Para temperaturas abaixo <strong>do</strong>s 700 ºC, as radiações emitidas pelo corpo estão<br />
concentradas na região <strong>do</strong> infravermelho e não são visíveis para o olho humano, não<br />
sen<strong>do</strong> por isso possível usar o pirómetro óptico. Então neste caso usa-se o pirómetro de
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
infravermelhos, que usa um sensor que mede a intensidade da radiação proveniente <strong>do</strong><br />
corpo.<br />
A Figura 5.27 mostra o esquema de um pirómetro de infravermelhos. Uma lente<br />
capta a radiação infravermelha emitida pela superfície incluída na <strong>sua</strong> área de focagem.<br />
A radiação é depois reflectida pelo espelho parabólico e focada no sensor. Como sensor<br />
pode ser usa<strong>do</strong> uma termopilha, uma resistência de platina ou um sensor de efeito<br />
fotoeléctrico. A tensão de saída <strong>do</strong> sensor é uma medida directa da radiação absorvida<br />
por ele. Se se conhecer a quantidade de radiação absorvida pelo sensor, usan<strong>do</strong> a lei de<br />
Planck, pode-se calcular a temperatura da superfície <strong>do</strong> corpo.<br />
Figura 5.27 Pirómetro de radiação infravermelha.<br />
Para este pirómetro, as dimensões <strong>do</strong> corpo e a distância deste à lente são críticos.<br />
O campo de visão <strong>do</strong> pirómetro de infravermelhos depende da distância focal e <strong>do</strong><br />
diâmetro da lente. O sistema óptico <strong>do</strong> aparelho capta toda a radiação proveniente <strong>do</strong>s<br />
objectos que estão no seu campo de visão, e a medida dada por ele representa a média<br />
das temperaturas desses mesmos objectos.<br />
A maioria <strong>do</strong>s pirómetros tem uma lente de distância focal fixa que define o seu<br />
campo de visão. Este campo de visão é expresso normalmente em termos de uma relação<br />
d D em que d representa a distância da lente ao objecto e D o diâmetro <strong>do</strong> campo de<br />
visão na posição d.<br />
Os pirómetros de infravermelhos de uso geral usam lentes com distâncias focais<br />
entre 0,5 m e 1,5 m. Também existem os instrumentos de foco curto que usam lentes com<br />
distâncias focais entre 10 mm e 100 mm e os de foco longo que usam lentes com<br />
distâncias focais de 10 m ou mais.<br />
128
129<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Outro problema <strong>do</strong> pirómetro de infravermelhos é que, tal como o pirómetro<br />
óptico, a <strong>sua</strong> medida depende da emissividade da superfície <strong>do</strong> corpo sobre o qual a<br />
temperatura é medida. Como as superfícies têm emissividade menor <strong>do</strong> que um, a<br />
radiação emitida por elas é menor <strong>do</strong> que a prevista na lei de Planck e o instrumento vai<br />
dar uma leitura menor <strong>do</strong> que a temperatura real da superfície. Os fabricantes deste tipo<br />
de instrumentos corrigem o erro da emissividade instalan<strong>do</strong>-lhes um compensa<strong>do</strong>r de<br />
emissividade. O compensa<strong>do</strong>r de emissividade não é mais <strong>do</strong> que um ajuste de ganho <strong>do</strong><br />
amplifica<strong>do</strong>r que amplifica o sinal <strong>do</strong> sensor.<br />
Este ajuste de ganho também pode ser usa<strong>do</strong> para compensar perdas na transmissão<br />
quan<strong>do</strong> a radiação tem que atravessar vidros, plásticos, fumos, poeiras, vapores, etc.<br />
Como alternativa ao compensa<strong>do</strong>r de emissividade, também se utiliza a divisão <strong>do</strong><br />
feixe em <strong>do</strong>is comprimentos de onda.<br />
Tipicamente, estes aparelhos cobrem a gama de temperaturas de - 20ºC a 1000 ºC,<br />
a <strong>sua</strong> emissividade pode ser ajustada de 0,1 a 1 e conseguem ler até dez temperaturas por<br />
segun<strong>do</strong>, no caso de o sensor ser <strong>do</strong> tipo termopilha (que é o mais comum).<br />
O detector de radiação deve ser manti<strong>do</strong> a uma temperatura muito baixa, para que a<br />
intensidade de radiação absorvida seja maior. Em casos especiais é necessário arrefecer o<br />
detector com azoto líqui<strong>do</strong>.<br />
A Figura 5.28 mostra exemplos de alguns pirómetros comerciais de radiação<br />
infravermelha.<br />
Figura 5.28 Exemplos de pirómetros de radiação infravermelha.<br />
5.6 Outros termómetros e algumas curiosidades<br />
A temperatura relaciona-se com infindáveis fenómenos físicos que permitem<br />
construir os mais varia<strong>do</strong>s termómetros, alguns deles constituem apenas curiosidades,<br />
outros tem mesmo aplicações práticas no senti<strong>do</strong> de tornar a vida <strong>do</strong> dia-a-dia mais<br />
expedita a ponto de o utiliza<strong>do</strong>r não se aperceber <strong>do</strong>s fenómenos e princípios subjacentes<br />
pois a <strong>medição</strong> de temperatura torna-se algo bastante difundi<strong>do</strong>.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Esta diversidade poderia constituir um estu<strong>do</strong> bastante alarga<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong> apenas se<br />
apresentam algumas formas de medir temperatura que não foram estudadas em detalhe e<br />
que, pelos seus campos de aplicação, têm muita importância em diversas áreas.<br />
Apresentam-se igualmente algumas curiosidades relacionadas com a <strong>medição</strong> de<br />
temperatura.<br />
5.6.1 Termómetros basea<strong>do</strong>s em cristais líqui<strong>do</strong>s<br />
Os cristais líqui<strong>do</strong>s proporcionam a criação de termómetros de fácil utilização<br />
que se adaptam à <strong>medição</strong> de temperatura nas mais diversas situações <strong>do</strong> dia-a-dia<br />
tornan<strong>do</strong>-se não só práticos como lúdicos, sen<strong>do</strong> também atracções comerciais. São as<br />
propriedades na <strong>sua</strong> fase colestérica que permitem o seu uso como termómetros. Nestes<br />
cristais líqui<strong>do</strong>s as moléculas estão dispostas em hélice (Figura 5.29) e a cor destes<br />
depende de quão apertada ela está. A hélice fica mais apertada à medida que a<br />
temperatura aumenta (Bechtold, 2005; Martins, 1991).<br />
Figura 5.29 Moléculas de cristais líqui<strong>do</strong>s dispostas em hélice.<br />
Figura 5.30 Anéis de humor feitos de cristais líqui<strong>do</strong>s.<br />
As tiras da figura seguinte são fabricadas com cristal líqui<strong>do</strong> que, calibra<strong>do</strong> a<br />
diferentes temperaturas e impresso sobre papel auto-adesivo actua como um termómetro<br />
convencional, a temperatura a medir aparece sobre tom verde sobre um fun<strong>do</strong> negro.<br />
130
Figura 5.31 Tiras termométricas de cristais líqui<strong>do</strong>s.<br />
131<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Em alguns utensílios de cozinha, como frigideiras e panelas incorporam um<br />
indica<strong>do</strong>r de temperatura sob a forma de um círculo que muda de cor indican<strong>do</strong> a<br />
temperatura adequada de utilização.<br />
As tintas termo-sensíveis têm também várias aplicações<br />
termométricas sen<strong>do</strong> a <strong>sua</strong> principal característica a mudança de<br />
cor quan<strong>do</strong> sujeitas a variações de temperatura. Por exemplo,<br />
são usadas em dispositivos de segurança (indica<strong>do</strong>res de<br />
elevada temperatura), nas notas da lotaria, em artigos varia<strong>do</strong>s<br />
comerciais, entre outros.<br />
5.6.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s em dío<strong>do</strong>s<br />
A introdução de componentes electrónicos<br />
permite concentrar o dispositivo sensor e a<br />
electrónica de processamento num único circuito<br />
integra<strong>do</strong>, possibilitan<strong>do</strong> termómetros electrónicos<br />
de baixo custo. São exemplos os integra<strong>do</strong>s LM35 ( 10mV K ) e 590 KH ( 1μA K ) . De<br />
entre os dispositivos sensores salienta-se os dío<strong>do</strong>s que são elementos semicondutores<br />
cujas características eléctricas dependem da temperatura, permitin<strong>do</strong> assim o seu uso<br />
como sensor.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A variação da corrente <strong>do</strong> dío<strong>do</strong> semicondutor com a tensão aos seus terminais tem<br />
uma forma aproximadamente exponencial: em boa aproximação a corrente I é dada por:<br />
I I e<br />
VVT<br />
( 1)<br />
= s - com T<br />
V = h kT q<br />
(5.23)<br />
onde k é a constante de Boltzmann, T a temperatura absoluta, q a carga <strong>do</strong> electrão, V a<br />
tensão aos terminais <strong>do</strong> dío<strong>do</strong>, e h o factor de idealidade. I s é designada por corrente de<br />
saturação (corrente máxima com polarização inversa). À temperatura ambiente (300 K)<br />
V ª 25mV (w3.ualg.pt/~jmariano/introelec/iae_dio<strong>do</strong>s.pdf).<br />
T<br />
Para utilização como termómetros, os dío<strong>do</strong>s são polariza<strong>do</strong>s directamente com<br />
uma corrente constante, tipicamente da ordem de 10μA , sen<strong>do</strong> a queda de tensão nos<br />
seus terminais função da temperatura, aumentan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a temperatura baixa.<br />
Tensão / V<br />
<strong>Temperatura</strong> / K<br />
Figura 5.32 Tensão eléctrica nos terminais de um dío<strong>do</strong> de Silício polariza<strong>do</strong><br />
directamente com uma corrente de 10 μA em função da<br />
temperatura (www.lakeshore.com/temp/sen/sd670_po.html).<br />
Para utilização a baixas temperaturas na presença de campos magnéticos, surgiu<br />
recentemente (www.lakeshore.com/temp/sen/sd670_po.html) uma alternativa aos dío<strong>do</strong>s<br />
através de termómetros basea<strong>do</strong>s na resistência de cerâmicas especiais, como por<br />
exemplo a Cernox TM .<br />
132
5.6.3 Termómetro decorativo de Galileu<br />
133<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Outro termómetro interessante é o termómetro chama<strong>do</strong> de<br />
Galileu, como se mostra na Figura ao la<strong>do</strong>. Tal termómetro consiste<br />
num tubo de vidro sela<strong>do</strong>, preenchi<strong>do</strong> com água e várias bolhas<br />
flutuantes. As bolhas são esferas de vidro onde se colocou uma<br />
certa quantidade de uma mistura líquida colorida. A cada bolha foi<br />
adiciona<strong>do</strong> uma pequena etiqueta de metal onde está grava<strong>do</strong> um<br />
número correspondente a uma temperatura. Essas etiquetas são<br />
massas calibradas para que a densidade média das bolhas mais<br />
massas difira ligeiramente uma das outras, sen<strong>do</strong> a densidade de<br />
todas elas próxima da da água onde estão inseridas.<br />
O princípio de funcionamento é o princípio de Arquimedes,<br />
em que o sistema, bolha e massa marcada, está sujeito à acção de<br />
duas forças: o peso e a impulsão da água. Varian<strong>do</strong> a temperatura<br />
da água dentro <strong>do</strong> termómetro varia a <strong>sua</strong> densidade, sen<strong>do</strong> esta a propriedade<br />
termométrica. Assim cada sistema (bolha e massa marcada que lhe está associada) vai<br />
ocupar níveis diferentes no seio da água. O sistema que estiver a um nível inferior<br />
relativo indica a temperatura aproximada (http://ciencia.hsw.uol.com.br/questao663.htm).<br />
5.6.4 Inferência de temperaturas atmosféricas passadas<br />
Ilha Signy<br />
Num tempo de alterações climáticas, há certos fenómenos geofísicos que nos<br />
indicam as variações de temperatura que estão a ocorrer a nível global. A título de<br />
exemplo, a Ilha Signy, próxima à Antártida, está a ser considerada um termómetro das<br />
mudanças ambientais. As mudanças <strong>do</strong> clima são percebidas pelo derreter da fina calote<br />
de gelo <strong>do</strong>s lagos. Nos últimos 20 anos, a temperatura média subiu 1,8 ºC.<br />
Uvas pinot noir<br />
Um outro caso interessante é a determinação indirecta da<br />
temperatura usan<strong>do</strong> o ciclo de vida das uvas pinot noir, constituin<strong>do</strong><br />
um termómetro para determinar as mudanças climáticas entre o fim<br />
da Idade Média e o presente (Chuine et al, 2004). Foi possível<br />
determinar como foi o verão em, por exemplo, 1500 sem dispor de<br />
medidas directas das temperaturas da época.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
As uvas pinot noir são plantadas na região de Borgonha, na França, desde a Idade<br />
Média e a data exacta <strong>do</strong> início de <strong>sua</strong> colheita tem si<strong>do</strong> registada fielmente nas<br />
municipalidades e igrejas. Em cada ano a colheita era determinada por decreto, de mo<strong>do</strong><br />
a garantir que as uvas fossem colhidas apenas quan<strong>do</strong> estavam prontas para a produção<br />
de vinho. Usan<strong>do</strong> as datas de início de colheita, os cientistas determinaram a temperatura<br />
média <strong>do</strong>s verões entre 1370 e 2003. Para isso tiveram que entender a relação entre a<br />
velocidade de amadurecimento das uvas e a temperatura. Usaram as temperaturas<br />
fornecidas pelo serviço de meteorologia entre 1964 e 2001, correlacionan<strong>do</strong>-as com as<br />
datas em que a pinot noir floresce, amadurece e finalmente é colhida. Com os da<strong>do</strong>s<br />
recolhi<strong>do</strong>s construíram uma equação que relaciona a temperatura média da primavera e<br />
<strong>do</strong> verão com a data <strong>do</strong> início da colheita. Utilizan<strong>do</strong>-a juntamente com a data da colheita<br />
das uvas calculam a temperatura média de cada verão.<br />
Anéis de árvores<br />
Muitas árvores produzem um anel por<br />
ano, devi<strong>do</strong> ao rápi<strong>do</strong> crescimento na Primavera<br />
e no Verão e ao pouco crescimento no Outono e<br />
no Inverno.<br />
Um ano mais quente resulta em um anel<br />
mais largo. Os padrões na largura, densidade da<br />
madeira e composição isotópica <strong>do</strong> hidrogénio<br />
e oxigénio <strong>do</strong>s anéis das árvores podem ser utiliza<strong>do</strong>s para estimar a temperatura<br />
(www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm).<br />
Corais<br />
Os corais têm esqueletos de carbonato de cálcio<br />
(CaCO3) duro. Alguns corais, à medida que crescem,<br />
formam anéis anuais de carbonato de cálcio que podem<br />
ser usa<strong>do</strong>s para estimar temperaturas. Quan<strong>do</strong> a<br />
temperatura <strong>do</strong> mar é quente, o coral crescerá mais<br />
rápi<strong>do</strong> que se a temperatura for fria, portanto, anos mais<br />
quentes formarão anéis de crescimento mais largos e<br />
anos mais frios criarão anéis mais finos. Isótopos de<br />
oxigénio conti<strong>do</strong>s no carbonato de cálcio também podem<br />
ser usa<strong>do</strong>s para estimar a temperatura da água quan<strong>do</strong> o<br />
coral cresceu (www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm).<br />
134
Núcleos de gelo<br />
135<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
O gelo nos pólos foi acumula<strong>do</strong> durante centenas de<br />
milhares de anos e contém informação sobre o clima e em<br />
particular sobre a temperatura. Retiran<strong>do</strong> núcleos de gelo a<br />
elevadas profundidades podemos estudar certas<br />
propriedades <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Na estação de Vostok na<br />
Antárctica foi retira<strong>do</strong> um núcleo com 2083 metros de<br />
comprimentos, trazi<strong>do</strong> em partes de 1970 a 1974 e de 1982 a<br />
1983. O gelo na parte inferior <strong>do</strong> núcleo tem quase 500 000<br />
anos (www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm).<br />
Observações durante perío<strong>do</strong>s em que a temperatura também era conhecida<br />
levaram a uma relação entre a concentração de deutério (isótopo <strong>do</strong> hidrogénio que<br />
constitui a água) e a temperatura ambiente. Com base nessa relação, o estu<strong>do</strong> das<br />
sucessivas camadas de gelo permite estimar a temperatura <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />
O gelo também contém pó e ar antigos, que a <strong>sua</strong> análise permite inferir,<br />
respectivamente, a existência de importantes erupções vulcânicas e as concentrações de<br />
gases, tais como a de CO2.<br />
Sedimentos de oceanos e lagos<br />
Os rios retiram, continuamente, lama e areia da terra para lagos, mares e oceanos,<br />
onde a lama pára para formar camadas de sedimentos. Os núcleos perfura<strong>do</strong>s nesses<br />
sedimentos podem revelar pequenos fósseis e produtos químicos que podem ajudar na<br />
interpretação <strong>do</strong>s climas passa<strong>do</strong>s. Os grãos de pólen são muito duros e, portanto, são<br />
geralmente bem preserva<strong>do</strong>s em camadas de sedimentos. Cada tipo de planta produz<br />
grãos de pólen de diferentes formatos. Análises de grãos de pólen podem revelar quais<br />
tipos de plantas que existiam na proximidade <strong>do</strong> local onde foi retira<strong>do</strong> o sedimento,<br />
dan<strong>do</strong> uma ideia de como seria o clima.<br />
(www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm)
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
5.6.5 Determinação da temperatura <strong>do</strong> interior da Terra e de<br />
formação das rochas<br />
Os Geofísicos Michael Gillan, Dario Alfé e Geoffrey<br />
Pricein desenvolveram um méto<strong>do</strong> de cálculo computacional<br />
para determinar a temperatura de ferro sujeito a uma pressão<br />
muito elevada, tal como a que existe no centro da Terra. Com<br />
essa simulação chegou-se ao valor de 6400 ºC para a<br />
temperatura no núcleo da Terra se ele fosse composto apenas<br />
por ferro. Contu<strong>do</strong> o núcleo contém cerca de 10% de materiais mais leves, pelo que a <strong>sua</strong><br />
temperatura será inferior ao determina<strong>do</strong> (Bukowinski, 1999).<br />
Na Geologia estuda-se a temperatura de formação das rochas principalmente por<br />
<strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s, inclusões fluidas e da estequiometria de certos minerais existentes nas<br />
rochas (Kornprobst, 1994).<br />
5.6.6 Curiosidades<br />
A primeira curiosidade está ilustrada no cartoon da figura: o ovo como termómetro<br />
(http://oldmail.if.uff.br/ensino/Atividade%201_<strong>Temperatura</strong>.pdf).<br />
Os grilos são um termómetro natural, pois permitem ter<br />
uma ideia da temperatura ambiente. Ao fim de tarde, eles<br />
cantam com uma frequência maior <strong>do</strong> que à noite, por esta ser<br />
mais fresca, ou seja, o seu canto é muito mais lento. Esta<br />
observação foi quantificada e publicada pela primeira vez em<br />
1897 pelo inventor americano Amos Dolbear, num artigo<br />
chama<strong>do</strong> “O grilo como termómetro”, que forneceu a fórmula<br />
q = 10 + - 40 7 , conhecida como lei de Dolbear (dá uma temperatura<br />
empírica ( N )<br />
aproximada da temperatura ambiente) (Dolbear, 1897).<br />
136
137<br />
5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />
Na fórmula, N é o número de vezes que os grilos cantam durante um minuto, q a<br />
temperatura ambiente em graus Celsius. Por exemplo, se os grilos cantarem a uma taxa<br />
de 110 vezes por minuto, a temperatura será de 20 ºC.<br />
O maior termómetro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com 134<br />
pés (40,8 m) de altura situa<strong>do</strong> em Baker na<br />
Califórnia. O termómetro regista regularmente<br />
temperaturas superiores a 100 graus Fahrenheit<br />
no Verão. A <strong>sua</strong> altura está de acor<strong>do</strong> com o<br />
facto de se observarem no local as temperaturas<br />
mais elevadas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s: 134 graus<br />
Fahrenheit (57 ºC) em 1913 (www.roadtripamerica.com/roadside/Baker-Thermometer.htm).
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
6.1 Calibração de um TRP 23 (Pt-100) 24<br />
6.1.1 Introdução<br />
Uma das características fundamentais de qualquer instrumento de <strong>medição</strong> é a <strong>sua</strong><br />
rastreabilidade. Este conceito refere-se à possibilidade de seguir uma cadeia<br />
metrológica, constituída por sucessivas calibrações, até chegarmos ao padrão primário<br />
internacional que define directa ou indirectamente a grandeza a medir.<br />
Como foi já referi<strong>do</strong>, a calibração consiste na comparação de um instrumento com<br />
outro de maior precisão toma<strong>do</strong> como padrão que por <strong>sua</strong> vez foi calibra<strong>do</strong> à custa de um<br />
outro padrão de ordem superior e assim sucessivamente.<br />
No contexto deste trabalho foi feita a calibração de um Pt-100 com o objectivo não<br />
só de compreender a importância e a necessidade de calibração como elo de uma cadeia<br />
metrológica como também de usar o Pt-100 calibra<strong>do</strong> num estu<strong>do</strong> de calibração e<br />
comparação de diversos termómetros.<br />
O processo de calibração exige um padrão rastrea<strong>do</strong> e teve que ser feito num<br />
laboratório de metrologia de temperaturas acredita<strong>do</strong>. O laboratório onde foi realizada a<br />
calibração foi o Laboratório de Metrologia da <strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> Instituto Electrotécnico<br />
Português (IEP). Para termos uma ideia <strong>do</strong>s laboratórios existentes em Portugal<br />
competentes para realizarem calibrações de termómetros, apresentamos no Anexo A3 os<br />
laboratórios nacionais acredita<strong>do</strong>s.<br />
23<br />
TRP é a sigla para Termómetro de Resistência de Platina. Na língua inglesa a sigla é PRT<br />
(Platinum Resistence Thermometer).<br />
24 Pt-100 designa um TRP com uma resistência nominal de 100 Ω a 0 ºC.<br />
139
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
6.1.2 Resulta<strong>do</strong> da calibração<br />
O termómetro que foi calibra<strong>do</strong> consistiu num Pt-100 associa<strong>do</strong> a um multímetro<br />
HP 34401A, nº US36017967, Ref. 020991.<br />
A calibração, em cinco pontos, foi realizada segun<strong>do</strong> a norma CEI 751 com<br />
R = 100,046 W e conforme o procedimento PC/061. O padrão utiliza<strong>do</strong> foi um TRP<br />
0<br />
LMT/704, rastrea<strong>do</strong> ao IPQ 25 . Foi emiti<strong>do</strong> o certifica<strong>do</strong> de calibração em 2007-03-14,<br />
com o nº M-2007-0345, conforme se apresenta em Anexo A1.<br />
Do certifica<strong>do</strong> de calibração apresentamos os resulta<strong>do</strong>s na Tabela 6.1.<br />
Multímetro HP 34401<br />
Resistência<br />
medida em<br />
W<br />
<strong>Temperatura</strong><br />
equivalente em ºC<br />
(CEI 751)<br />
<strong>Temperatura</strong> lida<br />
no padrão em ºC<br />
(TRP LMT/704)<br />
140<br />
Incerteza<br />
em ºC<br />
Erro em<br />
ºC<br />
87,961 -30,76 -30,86 ± 0,11 +0,10<br />
100,046 0,00 0,00 ± 0,10 0,00<br />
117,311 44,45 44,58 ± 0,10 -0,13<br />
134,507 89,31 89,62 ± 0,11 -0,31<br />
149,606 129,22 129,72 ± 0,11 -0,50<br />
Tabela 6.1 Resulta<strong>do</strong>s da calibração <strong>do</strong> PRT Pt-100 (norma CEI 751).<br />
Segun<strong>do</strong> a norma CEI 751, a relação entre a resistência <strong>do</strong> TRP com a temperatura<br />
é estabelecida pela equação<br />
( )<br />
2 2<br />
È 0 1 100 ˘<br />
Rq= R<br />
Î<br />
+ Aq + Bq + Cq<br />
q -<br />
˚ (6.1)<br />
onde R q é a resistência <strong>do</strong> termómetro à temperatura º C<br />
q , 0<br />
R é a resistência <strong>do</strong><br />
termómetro a 0ºC e A , B e C são coeficientes determina<strong>do</strong>s por calibração. Para o<br />
intervalo de temperaturas - 200º C < q < 0º C os coeficientes são da<strong>do</strong>s por<br />
-3 -1<br />
Ï A = 3,90830 ¥ 10 ºC<br />
Ô<br />
- 200º C < q < 0º C Ì B = - 5,77500 ¥ 10 ºC<br />
Ô<br />
ÔÓ<br />
C =- 4,18301¥ 10 ºC<br />
25 IPQ – Instituto Português da Qualidade<br />
-7 -2<br />
-12 -3<br />
(6.2)
141<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
e no intervalo de temperaturas 0º C < q < 850º C os coeficientes A , B são os mesmos<br />
que anteriormente e C é zero,<br />
Ï A = 3,90830 ¥ 10 ºC<br />
Ô<br />
0º C < q < 850º C Ì B = - 5,77500 ¥ 10 ºC<br />
Ô<br />
ÔÓ<br />
C = 0<br />
-3 -1<br />
-7 -2<br />
(6.3)<br />
A norma estabelece também duas classes de precisão correspondentes a tolerâncias<br />
aceitáveis. A classe A com tolerância ± ( 0,15 + 0,002q ) e a classe B com tolerância<br />
± ( 0,3 + 0,005q ) . Da calibração, concluímos que o TRP em causa corresponde a um<br />
termómetro classe B.<br />
O TRP mais usa<strong>do</strong> apresenta um valor nominal de 100W a 0º C . Contu<strong>do</strong> existem<br />
TRPs que apresentam a 0º C resistências de 500W e 1000W , ten<strong>do</strong> como vantagem<br />
principal a maior sensibilidade. Como comparação, apresentam-se na Tabela seguinte as<br />
sensibilidades nominais <strong>do</strong>s TRP Pt-100, Pt-500 e Pt-1000.<br />
Sensibilidade média <strong>do</strong>s diferentes TRP<br />
Pt-100<br />
Pt-500<br />
Pt-1000<br />
1<br />
0,385 K -<br />
W<br />
1<br />
1,925 K -<br />
W<br />
1<br />
3,850 K -<br />
W<br />
Tabela 6.2 Sensibilidades médias <strong>do</strong>s TRP: Pt-100, Pt-500 e Pt-1000<br />
(www.loreme.fr).<br />
6.1.3 Curvas de ajuste <strong>do</strong>s pontos de calibração<br />
Com os pontos de calibração calculámos o ajuste quadrático e cúbico, R( q ) ,<br />
conforme se apresenta na Figura 6.1.<br />
Como se observa, a resistência de platina tem um excelente comportamento linear<br />
com a temperatura. O ajuste cúbico permite, contu<strong>do</strong>, uma maior precisão na<br />
determinação da temperatura. Para valores positivos de temperatura, segun<strong>do</strong> a norma<br />
CEI 751 é suficiente um ajuste quadrático, que se apresenta na Figura 6.2.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 6.1 Funções termométricas R( q ) R0<br />
obtidas por ajuste quadrático e<br />
cúbico <strong>do</strong>s cinco pontos de calibração.<br />
Figura 6.2 Função termométrica R( q ) R0<br />
obtida por ajuste quadrático e<br />
cúbico <strong>do</strong>s quatro pontos de calibração correspondentes a<br />
temperaturas positivas (incluin<strong>do</strong> o zero).<br />
Para efeitos de utilização <strong>do</strong> TRP Pt-100 calibra<strong>do</strong> como padrão na actividade de<br />
comparação e calibração de diversos termómetros, é conveniente fazermos o ajuste<br />
cúbico da função inversa de R( q ) , obten<strong>do</strong>-se assim a função ( R)<br />
apresenta na Figura 6.3.<br />
142<br />
q , conforme se
143<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Figura 6.3 <strong>Temperatura</strong> em função da resistência, q ( R)<br />
, para o TRP Pt-100<br />
calibra<strong>do</strong>.<br />
Os valores de temperatura da<strong>do</strong>s pela função de ajuste q ( R)<br />
, correspondentes aos<br />
valores de resistência medi<strong>do</strong>s, são os que vão ser utiliza<strong>do</strong>s no trabalho de<br />
intercomparação e calibração <strong>do</strong>s vários termómetros.<br />
6.2 Comparação e calibração de diversos termómetros<br />
6.2.1 Equipamento experimental utiliza<strong>do</strong><br />
6.2.1.1 Dispositivo construí<strong>do</strong><br />
Foi construí<strong>do</strong> na oficina <strong>do</strong> Departamento de Física da FCUP um dispositivo<br />
constituí<strong>do</strong> por um bloco em cobre onde são integra<strong>do</strong>s diversos termómetros. A<br />
variação de temperatura era produzida por um elemento peltier coloca<strong>do</strong> na base <strong>do</strong><br />
bloco de cobre. A Figura 6.4 mostra duas fotografias da montagem experimental com o<br />
referi<strong>do</strong> dispositivo. O bloco é monta<strong>do</strong> num dissipa<strong>do</strong>r de alumínio com uma ventoinha,<br />
cujo efeito é garantir uma temperatura uniforme na base <strong>do</strong> elemento peltier. A parte<br />
superior <strong>do</strong> bloco está protegida termicamente por uma placa de material acrílico.<br />
Durante a actividade experimental to<strong>do</strong> o sistema é envolvi<strong>do</strong> em algodão em rama para<br />
o isolar termicamente <strong>do</strong> exterior.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 6.4 Dispositivo constituí<strong>do</strong> por um bloco de cobre e um elemento<br />
peltier onde foram incorpora<strong>do</strong>s os diversos termómetros a<br />
comparar.<br />
6.2.1.2 Termómetros e instrumentos de leitura<br />
Procedeu-se à inter-comparação das medições de temperatura de sete termómetros:<br />
um TRP Pt-100, <strong>do</strong>is termopares, <strong>do</strong>is termístores, um termómetro de mercúrio e uma<br />
rede de Bragg em fibra óptica. Como o TRP Pt-100 foi previamente calibra<strong>do</strong>, este<br />
termómetro serviu como padrão, permitin<strong>do</strong> a calibração <strong>do</strong>s restantes.<br />
As referências e algumas características nominais <strong>do</strong>s termómetros utiliza<strong>do</strong>s, bem<br />
como <strong>do</strong> equipamento de leitura, estão resumidas a seguir:<br />
• Termómetro de mercúrio<br />
Gama de temperaturas: de - 20ºC a + 110ºC<br />
Resolução: escala graduada em 1ºC<br />
• Termopar 1<br />
Tipo K (Cromel/Alumel)<br />
Medi<strong>do</strong>r de temperatura Metrix TH3050<br />
• Termopar 2<br />
Tipo T (Cobre/Constantan)<br />
Sensibilidade:<br />
1<br />
40μV ºC -<br />
Microvoltímetro Thurlby 1905A, 200 mV, 5 1/2 dígitos<br />
144
• Termopar 3<br />
145<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Tipo T (Cobre/Constantan)<br />
Construí<strong>do</strong> no Instituto de Física <strong>do</strong>s Materiais da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> (IFIMUP)<br />
Microvoltímetro Thurlby 1905A, 200 mV, 5 1/2 dígitos<br />
• Termístor 1<br />
Código RS 151-221 com curva R-T ajustada com 5kW a 25ºC .<br />
Gama de temperaturas: de - 80ºC a + 150ºC ; b = 3914K<br />
Instrumento de leitura: Univolt DT-64, 2 kΩ e 20 kΩ<br />
• Termístor 2<br />
Código RS 256-045 (Ref. GM103) com resistência nominal de 10kW a 25ºC<br />
Gama de temperaturas: de + 10ºC a + 100ºC ; b = 3555K<br />
Instrumento de leitura: Datron 1059, 100 kΩ<br />
• TRP Pt-100 4 fios (calibra<strong>do</strong>) (Modelo da RS 158-985, Labfacility)<br />
Instrumento de leitura: HP 34401A, <strong>medição</strong> em 4R<br />
• Rede de Bragg<br />
Fibra óptica SMF28<br />
Rede de valor nominal de reflexão a 1535 nm.<br />
Analisa<strong>do</strong>r de Espectros Óptico (OSA) da FiberSensing.<br />
6.2.2 Procedimento experimental<br />
Fez-se a montagem <strong>do</strong>s termómetros no bloco de cobre, ten<strong>do</strong>-se usa<strong>do</strong> massa<br />
térmica para estabelecer um bom contacto térmico entre cada termómetro e o bloco de<br />
cobre. Ligou-se seguidamente os termómetros aos respectivos aparelhos de <strong>medição</strong>, que<br />
foram liga<strong>do</strong>s e deixa<strong>do</strong>s estabilizar electrónica e termicamente durante uma hora.<br />
A variação da temperatura <strong>do</strong> bloco foi controlada através <strong>do</strong> elemento peltier de<br />
forma muito lenta para garantir estabilidade na temperatura e o equilíbrio térmico entre<br />
to<strong>do</strong>s os termómetros. O dissipa<strong>do</strong>r e a ventoinha incluídas no dispositivo facilitam a<br />
manutenção de uma temperatura estável na base <strong>do</strong> peltier por dissipação de energia (ou<br />
fornecimento de energia) <strong>do</strong> ambiente. Como já foi referi<strong>do</strong>, durante as medições to<strong>do</strong> o<br />
sistema foi isola<strong>do</strong> termicamente com algodão em rama.<br />
Esta actividade é bastante demorada, pois requer estabilidade na temperatura e<br />
equilíbrio térmico aquan<strong>do</strong> das leituras. Como critério para o equilíbrio térmico, as<br />
leituras eram tomadas quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os instrumentos mantinham os mesmos valores
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
durante um certo intervalo de tempo, considera<strong>do</strong> adequa<strong>do</strong>. O equilíbrio térmico, após<br />
alguma prática, era obti<strong>do</strong> actuan<strong>do</strong> na potência fornecida ao Peltier, induzin<strong>do</strong><br />
oscilações de temperatura, de amplitude sucessivamente menores, possibilitan<strong>do</strong> uma<br />
estabilização mais rápida.<br />
6.2.3 Resulta<strong>do</strong>s da inter-comparação<br />
Foram regista<strong>do</strong>s os valores li<strong>do</strong>s das grandezas termométricas para os diversos<br />
termómetros, para equilíbrios térmicos diferentes, com vista à <strong>sua</strong> caracterização.<br />
Relativamente à rede de Bragg, foi necessário repetir a experiência, apenas com a<br />
rede de Bragg e o TRP Pt-100, na <strong>sua</strong> totalidade porque a fibra óptica se partiu (devi<strong>do</strong> à<br />
protecção exterior utilizada se ter <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>).<br />
6.2.4 Análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />
Toman<strong>do</strong> a temperatura <strong>do</strong> TRP Pt-100 como referência, determinou-se, para cada<br />
termómetro, a função termométrica e os erros na temperatura por eles dada.<br />
A temperatura de referência é determinada a partir <strong>do</strong> ajuste cúbico <strong>do</strong>s pontos de<br />
calibração, que foi apresenta<strong>do</strong> no gráfico da Figura 6.3, e é da<strong>do</strong> pela expressão<br />
-4 2 -6<br />
3<br />
Pt Pt Pt<br />
q =- 248,45686 + 2,41822 R + 4,88091¥ 10 R + 1,63458 ¥ 10 R (6.4)<br />
6.2.4.1 Caracterização e calibração <strong>do</strong>s termopares<br />
O termopar 1 (tipo K) estava associa<strong>do</strong> ao medi<strong>do</strong>r de temperatura Metrix TH3050,<br />
obten<strong>do</strong>-se directamente uma leitura em ºC. Com o propósito de comparação, a função<br />
q ( termopar)<br />
versus ( Pt-100)<br />
no gráfico da Figura 6.5.<br />
q foi obtida por ajuste linear e cúbico, conforme se mostra<br />
146
147<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Figura 6.5 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s<br />
pontos experimentais para o termopar 1.<br />
Apesar <strong>do</strong> bom comportamento linear deste termopar, o ajuste cúbico apresenta um<br />
melhor valor para o coeficiente de correlação e deverá ser usa<strong>do</strong> para obtermos menores<br />
incertezas nas medições.<br />
Para avaliar a importância da calibração <strong>do</strong> termómetro e da escolha da curva de<br />
ajuste mais adequada determinou-se os erros em relação à temperatura <strong>do</strong> Pt-100<br />
consideran<strong>do</strong> os valores li<strong>do</strong>s, sem qualquer ajuste, com um ajuste linear e com um ajuste<br />
cúbico. Os ajustes fazem parte <strong>do</strong> processo de calibração.<br />
Para calcular os erros, foi necessário obter os ajustes correspondentes às funções<br />
inversas das apresentadas no gráfico da Figura 6.5, que são<br />
T = 0,95933 + 0,99475q<br />
(6.5)<br />
90 tp1<br />
-4 2 -6<br />
3<br />
90 0,55149 1,01106 tp1 3,8191 10 tp1 6,11873 10 tp1<br />
T = + q + ¥ q - ¥ q (6.6)<br />
sen<strong>do</strong> q tp1 a temperatura lida directamente no aparelho de leitura liga<strong>do</strong> ao termopar 1 e<br />
T 90 a temperatura correspondente na escala ITS-90.<br />
Os erros determina<strong>do</strong>s apresentam-se no gráfico da Figura 6.6. É de salientar que<br />
consideran<strong>do</strong> o ajuste cúbico na calibração deste termopar os valores <strong>do</strong>s erros na gama<br />
de temperaturas considerada estão dentro <strong>do</strong> intervalo de - 0,2 ºC a + 0,2 ºC , com a<br />
excepção de um ponto. Comparan<strong>do</strong> o ajuste linear com o ajuste cúbico, é claro que<br />
apenas este último é adequa<strong>do</strong> no processo de calibração, porque permite a utilização <strong>do</strong>
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
termopar com incertezas muito menores que as incertezas associadas ao termopar não<br />
calibra<strong>do</strong>.<br />
Figura 6.6 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 1 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e<br />
cúbico) e não calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais).<br />
No caso <strong>do</strong> termopar 2, não obtemos directamente leituras em unidades de<br />
temperatura, mas em tensão termoeléctrica. Este termopar é teoricamente <strong>do</strong> tipo T e<br />
estava associa<strong>do</strong> ao multímetro Thurlby 1905A, fazen<strong>do</strong>-se leituras em μV . A função<br />
e ( termopar)<br />
versus ( Pt-100)<br />
no gráfico da Figura 6.7.<br />
q foi obtida por ajuste linear e cúbico, conforme se mostra<br />
Figura 6.7 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s<br />
pontos experimentais para o termopar 2<br />
148
149<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
A sensibilidade de um termopar <strong>do</strong> tipo T (cobre/constantan) é indica<strong>do</strong> na<br />
literatura como sen<strong>do</strong> cerca de<br />
1<br />
40μVºC - a 25 ºC . Contu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s valores experimentais<br />
obti<strong>do</strong>s verifica-se que para este termopar esse valor é cerca de<br />
1<br />
36,7μVºC - .<br />
Para calcular os erros, foi necessário obter os ajustes correspondentes às funções<br />
inversas das apresentadas no gráfico da Figura 6.7, que são<br />
T = 0,24973 + 0,02771e<br />
(6.7)<br />
90 tp2<br />
-7 2 -10<br />
3<br />
90 0,9297 0,02962 tp2 1,80379 10 tp2 1,06899 10 tp2<br />
T =- + e - ¥ e - ¥ e (6.8)<br />
sen<strong>do</strong> e tp2 a tensão termoeléctrica em μV e T 90 a temperatura correspondente na escala<br />
ITS-90.<br />
Consideran<strong>do</strong> a calibração, vemos que apenas o ajuste cúbico permite reduzir<br />
significativamente as incertezas nas medições de temperatura com este termopar,<br />
conforme mostra o gráfico da Figura 6.8.<br />
Figura 6.8 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 2 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e<br />
cúbico).<br />
O termopar 2 foi adquiri<strong>do</strong> numa empresa de equipamento didáctico e é usa<strong>do</strong> nos<br />
laboratórios <strong>do</strong> departamento de Física.<br />
O gráfico da Figura 6.11 mostra a comparação da curva de calibração normalizada<br />
de um termopar tipo T, obtida <strong>do</strong> NIST (National Institute of Standards and Technology),
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
com o termopar 2 e um outro <strong>do</strong> mesmo tipo construí<strong>do</strong> com fios de qualidade no<br />
IFIMUP (termopar 3). Como se pode ver <strong>do</strong> gráfico da Figura 6.10, os erros <strong>do</strong><br />
termopar 2 para temperaturas próximas de 100 ºC excede 12 ºC, enquanto que para o<br />
termopar 3 os erros são cerca de 2 ºC. Estas discrepâncias, em especial a <strong>do</strong> termopar 2,<br />
mostram claramente a necessidade de calibração para se obter resulta<strong>do</strong>s confiáveis e<br />
precisos.<br />
Figura 6.9 Comparação <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 com a curva teórica para o<br />
termopar tipo T (srdata.nist.gov/its90/<strong>do</strong>wnload/type_t.tab).<br />
Figura 6.10 Erros <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 relativamente à curva teórica e erros<br />
após calibração <strong>do</strong> termopar 2.<br />
150
151<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
6.2.5 Caracterização e calibração <strong>do</strong>s termístores<br />
Conforme já foi referi<strong>do</strong> anteriormente, um termístor NTC apresenta uma<br />
resistência eléctrica, R , que varia com a temperatura em kelvin, T , de acor<strong>do</strong> com a<br />
expressão<br />
È Ê1 1 ˆ˘<br />
R = R0exp<br />
Íb Á<br />
- ˙<br />
ËT T ˜<br />
¯<br />
Î 0 ˚<br />
onde 0 R é o valor da resistência à temperatura 0<br />
T e b é um parâmetro de ajuste.<br />
Da expressão anterior podemos obter a função inversa, T( R ) , que é dada por<br />
T =<br />
ln<br />
b<br />
( R R ) + ( b T )<br />
0 0<br />
(6.9)<br />
(6.10)<br />
Normalmente o valor de R 0 é da<strong>do</strong> à temperatura de 25 ºC . Os valores nominais<br />
de 0 R e b para o termístor 1 são 0<br />
R = 5kW<br />
(a 25 ºC ) e b = 3914K .<br />
No gráfico da Figura 6.11 apresenta-se os valores experimentais e o ajuste <strong>do</strong>s<br />
mesmos à função dada pela equação (6.9), consideran<strong>do</strong> T 0 = 298,15K . Do ajuste<br />
obtém-se os valores R 0 = 5,11kW<br />
e b = 3810,6K .<br />
Figura 6.11 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />
T = 298,15K , para o termístor 1.<br />
consideran<strong>do</strong> 0
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Toman<strong>do</strong> para R 0 e b os valores nominais e os obti<strong>do</strong>s pelo ajuste experimental,<br />
calculámos as temperaturas a partir da equação (6.10) e comparámo-las com as<br />
temperaturas de referência dadas pelo TRP Pt-100. Os desvios resultantes são<br />
apresenta<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.12.<br />
Verifica-se mais uma vez que a calibração reduz as incertezas consideravelmente,<br />
sobretu<strong>do</strong> para as baixas temperaturas. Para temperaturas próximas de 100 ºC verifica-se<br />
erros eleva<strong>do</strong>s, mesmo levan<strong>do</strong> em conta a calibração. Isto deve-se ao facto da<br />
sensibilidade <strong>do</strong> termístor tender para zero quan<strong>do</strong> a temperatura tende para infinito.<br />
Assim, para temperaturas elevadas as incertezas nos aparelhos de medida de resistência<br />
são <strong>do</strong>minantes.<br />
0<br />
O termístor 2 é <strong>do</strong> mesmo tipo e os parâmetros R 0 e b têm valores nominais de<br />
R = 10kW<br />
(a 25 ºC ) e b = 3555K .<br />
Figura 6.12 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 1 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos<br />
experimentais à equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais<br />
<strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ).<br />
No gráfico da Figura 6.13 apresenta-se os valores experimentais e o ajuste <strong>do</strong>s<br />
mesmos à função dada pela equação (6.9), consideran<strong>do</strong> T 0 = 298,15K . Do ajuste<br />
obtém-se os valores R 0 = 10,73kW<br />
e b = 3401,3K .<br />
Toman<strong>do</strong> para R 0 e b os valores nominais e os obti<strong>do</strong>s pelo ajuste experimental,<br />
calculámos, tal como anteriormente, as temperaturas a partir da equação (6.10) e<br />
comparámo-las com as temperaturas de referência dadas pelo TRP Pt-100. Os desvios<br />
resultantes são apresenta<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.14.<br />
152
153<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Figura 6.13 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />
T = 298,15K , para o termístor 2.<br />
consideran<strong>do</strong> 0<br />
Figura 6.14 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 2 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos<br />
experimentais à equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais<br />
<strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ).<br />
Verifica-se também que a calibração reduz as incertezas consideravelmente,<br />
sobretu<strong>do</strong> para as baixas temperaturas. Para temperaturas próximas de 100 ºC observa-se<br />
incertezas elevadas, mesmo levan<strong>do</strong> em conta a calibração. A razão é a mesma da<br />
referida anteriormente.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
6.2.6 Caracterização e calibração <strong>do</strong> termómetro de mercúrio<br />
O termómetro de mercúrio apresenta uma excelente linearidade, conforme se<br />
mostra no gráfico da Figura 6.15<br />
Figura 6.15 <strong>Temperatura</strong> lida no termómetro de mercúrio versus temperatura<br />
de referência (dada pelo TRP Pt-100).<br />
Os erros são mostra<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.16. As incertezas mais baixas são<br />
obtidas com um ajuste quadrático, sen<strong>do</strong> mais uma vez de salientar que a calibração é<br />
essencial quan<strong>do</strong> pretendemos fazer medições de temperatura fiáveis.<br />
Figura 6.16 Erros na utilização <strong>do</strong> termómetro de mercúrio calibra<strong>do</strong> (ajustes<br />
linear e quadrático) e não calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais).<br />
154
155<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
6.2.7 Caracterização e calibração de uma rede de Bragg em<br />
fibra óptica<br />
6.2.7.1 Sensores de fibra óptica<br />
Grande parte <strong>do</strong> sucesso das fibras ópticas de sílica reside nas <strong>sua</strong>s propriedades de<br />
reduzi<strong>do</strong> volume e massa, flexibilidade, baixa reactividade química <strong>do</strong> material, longa<br />
distância de transmissão, elevada largura de banda de transmissão, isolamento eléctrico e<br />
imunidade electromagnética.<br />
Umas das aplicações das fibras ópticas são como sensores de diversas grandezas<br />
físicas (acústica, magnética, temperatura, rotação, deformação entre outras). Para além de<br />
apresentarem uma sensibilidade semelhante à <strong>do</strong>s sensores convencionais, apresentam<br />
vantagens específicas: têm geometria versátil, a <strong>sua</strong> natureza dieléctrica permite o seu<br />
uso em alta tensão, a altas temperaturas, em ambientes electricamente rui<strong>do</strong>sos e<br />
corrosivos, e em outras condições agressivas para sensores convencionais. Apresenta<br />
ainda inerente compatibilidade com sistemas de telemetria através de fibra óptica e tem<br />
custos potencialmente baixos (Giallorenzi et al. 1982). Além disso, devi<strong>do</strong> à baixa<br />
atenuação <strong>do</strong>s sinais ópticos transmiti<strong>do</strong>s pela fibra os sensores de fibra óptica podem ser<br />
utiliza<strong>do</strong>s a grandes distâncias.<br />
Relativamente ao uso da fibra óptica como sensor de temperatura, trataremos aqui a<br />
rede de Bragg e na secção 6.3 abordaremos o termómetro basea<strong>do</strong> no efeito de Brillouin.<br />
6.2.7.2 Rede de Bragg e princípio de funcionamento<br />
O surgimento das redes de Bragg nas fibras ópticas permitiu que elas fossem<br />
usadas como sensores de grandezas físicas estáticas e dinâmicas tais como a temperatura,<br />
a pressão e a deformação (Kersey et al, 1997). Estes sensores permitem efectuar medidas<br />
com grande precisão e estabilidade, poden<strong>do</strong> ser usa<strong>do</strong>s em grande número na mesma<br />
fibra, através de técnicas de multiplexagem. O principal desafio na utilização das redes<br />
de Bragg como elementos sensores é determinar os menores deslocamentos possíveis no<br />
comprimento de onda de Bragg.<br />
Como a informação <strong>do</strong> sensor está codificada em comprimento de onda, o sensor<br />
torna-se insensível das flutuações de potencia da fonte óptica e das perdas nas<br />
interligações <strong>do</strong>s vários componentes <strong>do</strong> sistema e devidas a eventuais macro e micro<br />
curvaturas a que a fibra fique sujeita (Keiser, 2000).
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A natureza deste tipo de codificação facilita a multiplexagem por comprimento de<br />
onda, já que cada sensor fica univocamente identifica<strong>do</strong> por uma diferente porção <strong>do</strong><br />
espectro disponível da fonte óptica.<br />
A reflexão no comprimento de onda de banda estreita possibilita a multiplexagem<br />
de várias redes de Bragg ao longo da mesma fibra óptica. A resposta <strong>do</strong> sensor é linear<br />
numa extensa banda dinâmica.<br />
Uma rede de Bragg em fibra óptica (FBG) é uma modulação periódica <strong>do</strong> índice de<br />
refracção <strong>do</strong> núcleo da fibra, ao longo da direcção longitudinal, como ilustra<strong>do</strong> na Figura<br />
6.17. (Silva et al, 2003).<br />
Ao propagar-se luz com espectro de banda larga numa fibra óptica que contém uma<br />
rede de Bragg, ocorre a reflexão na rede através <strong>do</strong> efeito de espalhamento coerente e<br />
sucessivo nas interfaces que separam as regiões com índices de refracção diferentes. O<br />
comprimento de onda central <strong>do</strong> espectro de reflexão é designa<strong>do</strong> por comprimento de<br />
onda de Bragg da rede, l B , e é da<strong>do</strong> por (Hill et al. 1997)<br />
l B = 2neffL<br />
(6.11)<br />
onde n eff é o índice de refracção efectivo na fibra óptica e L é o perío<strong>do</strong> espacial da<br />
modulação <strong>do</strong> índice de refracção.<br />
Intensidade<br />
Intensidade<br />
Luz incidente<br />
l<br />
Luz reflectida<br />
l<br />
Fibra óptica<br />
Rede de Bragg - modulação <strong>do</strong><br />
índice de refracção com perío<strong>do</strong><br />
espacial L<br />
Figura 6.17 Princípio de operação de uma rede de Bragg em fibra óptica.<br />
Qualquer perturbação que altere o índice de refracção ou o perío<strong>do</strong> da FBG altera o<br />
comprimento de onda de Bragg, e consequentemente, pode medir-se um determina<strong>do</strong><br />
parâmetro através da variação <strong>do</strong> pico espectral da luz reflectida pela rede de Bragg. O<br />
156<br />
Intensidade<br />
Luz transmitida<br />
l
157<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
comprimento de onda de reflexão da FBG é dependente das características da rede. Ao<br />
submete-la à variação de um <strong>do</strong>s parâmetros a serem medi<strong>do</strong>s, obtém-se um desvio no<br />
comprimento de onda de Bragg, proporcional à grandeza que se pretende medir.<br />
Uma variação de temperatura na rede, D T , origina uma variação no comprimento<br />
de onda de Bragg, l ( T )<br />
D D , expresso por (Kersey et al. 1997)<br />
B<br />
( )<br />
D l = l a + x D<br />
B B T<br />
onde a é o coeficiente de expansão térmica <strong>do</strong> material da fibra, e x é o coeficiente<br />
termo-óptico da fibra.<br />
A propriedade termométrica de uma rede de Bragg, como sensor de temperatura, é,<br />
portanto, o comprimento de onde de Bragg. Para uma fibra de sílica ( SiO 2 ) , a<br />
sensibilidade da rede é cerca de<br />
1<br />
13 pm ºC - , para uma radiação incidente de<br />
comprimento de onda nominal de 1,55 μm (3ª janela óptica de comunicações).<br />
Do ponto de vista da instrumentação, uma vantagem <strong>do</strong> uso da FBG como sensor é<br />
o facto de que a informação sobre o agente que a perturba está codificada em<br />
comprimento de onda (Hill et al, 1997). Isso permite determinar o valor <strong>do</strong> agente<br />
perturba<strong>do</strong>r da FBG sem um sistema de referência para a potência óptica, que<br />
necessitaria calibração periódica. Outra vantagem é a possibilidade de multiplexar em<br />
comprimento de onda um grande número de sensores, permitin<strong>do</strong> medições multipontuais.<br />
A multiplexagem permite monitorizar estruturas com grandes dimensões como,<br />
por exemplo, cabos de transmissão de energia eléctrica, oleodutos, cascos de navios,<br />
entre outras.<br />
6.2.7.3 Medição de temperatura com uma rede de Bragg<br />
Apresentam-se a seguir os resulta<strong>do</strong>s da <strong>medição</strong> de temperatura usan<strong>do</strong> uma rede<br />
de Bragg em fibra óptica, de valor nominal de 1535 nm. A rede foi fabricada por<br />
exposição UV ( l = 248nm)<br />
da fibra SMF28 através de uma máscara de fase com<br />
perío<strong>do</strong> de 1062 nm estan<strong>do</strong> a fibra sob tensão mecânica.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
As leituras <strong>do</strong> comprimento de onda de Bragg foram feitas num Analisa<strong>do</strong>r de<br />
Espectros Óptico (OSA) fabrica<strong>do</strong> pela FiberSensing.<br />
A rede foi montada no dispositivo da Figura 6.4 e foi um <strong>do</strong>s termómetros<br />
envolvi<strong>do</strong>s na actividade de intercomparação e calibração de termómetros. Durante a<br />
actividade a fibra óptica partiu-se (devi<strong>do</strong> à protecção exterior utilizada se ter <strong>do</strong>bra<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> se atingiram temperaturas elevadas), ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> repetida a experiência apenas<br />
com a rede de Bragg e o TRP Pt-100.<br />
Nos gráficos das Figuras 6.18 e 6.19 apresentam-se a variação <strong>do</strong> comprimento de<br />
onda de Bragg em função da temperatura.<br />
Figura 6.18 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da<br />
rede medida com o TRP Pt-100 (antes da rotura).<br />
A rede correspondente aos resulta<strong>do</strong>s da Figura 6.19 tem as características<br />
nominais acima referidas. O ajuste linear <strong>do</strong>s pontos experimentais apresenta boa<br />
correlação obten<strong>do</strong>-se para a sensibilidade um valor de<br />
concordância com o valor espera<strong>do</strong> teoricamente para uma fibra de sílica.<br />
158<br />
1<br />
12,99 pm ºC - , em excelente
159<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Figura 6.19 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da<br />
rede medida com o TRP Pt-100 (repetida).<br />
Os desvios em temperatura <strong>do</strong>s pontos experimentais em relação à curva linear<br />
obtida por calibração são mostra<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.20. Apesar <strong>do</strong> valor<br />
sensibilidade associa<strong>do</strong> às curva de ajuste, este termómetro apresenta erros que podem<br />
atingir 3 ºC.<br />
Figura 6.20 Erros na utilização da rede de Bragg em função da temperatura<br />
medida com o TRP Pt-100 (para o ajuste linear).
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
6.3 Caracterização e calibração de um Termómetro de<br />
Brillouin<br />
6.3.1 Princípio de funcionamento<br />
O espalhamento estimula<strong>do</strong> de Brillouin (EEB) é um processo não-linear que pode<br />
ocorrer nas fibras ópticas (Agrawal, 2001). Este fenómeno manifesta-se através da<br />
geração de uma onda de Stokes em contra-propagação que transporta a maior parte da<br />
energia incidente, logo que o limiar de Brillouin é atingi<strong>do</strong>. O fenómeno <strong>do</strong> EEB foi<br />
observa<strong>do</strong> em 1964, sen<strong>do</strong> a frequência da onda de Stokes menor que a da onda<br />
incidente. O valor <strong>do</strong> desvio na frequência é determina<strong>do</strong> pelo meio não-linear e é da<br />
ordem de 10 GHz para uma fibra monomodal normalizada. A potência limiar para o EEB<br />
depende da largura espectral associada à onda óptica incidente (bombagem) e <strong>do</strong><br />
comprimento da fibra (Marques et al, 2006). Pode ser da ordem de 1 mW para uma onda<br />
de bombagem contínua ou para onda pulsadas cujos impulsos sejam relativamente largos<br />
( > 1μs)<br />
. Para impulsos muito curtos ( 10ns)<br />
< o EEB não ocorre (Agrawal, 2001).<br />
O processo <strong>do</strong> EEB pode ser descrito classicamente como uma interacção nãolinear<br />
entre o campo óptico de bombagem e os campos ópticos de Stokes através de uma<br />
onda acústica. O campo óptico de bombagem origina uma onda acústica que modula o<br />
índice de refracção <strong>do</strong> meio. Esta rede, induzida pelo campo óptico de bombagem,<br />
espalha a radiação por difracção de Bragg. A radiação espalhada tem uma frequência<br />
deslocada para baixo devi<strong>do</strong> ao efeito <strong>do</strong> deslocamento Doppler associa<strong>do</strong> à velocidade<br />
da onda acústica v A . Como num processo de espalhamento a energia e o momento linear<br />
devem ser conserva<strong>do</strong>s, as frequências e os vectores de onda das três ondas são<br />
relaciona<strong>do</strong>s por<br />
W B = wp - ws<br />
(6.12)<br />
<br />
k<br />
<br />
= k<br />
<br />
-k<br />
(6.13)<br />
A p s<br />
onde w p e w s são as frequências, e kp e ks são os vectores de onda <strong>do</strong> campo de<br />
bombagem e das ondas de Stokes, respectivamente. A frequência W B e o vector de onda<br />
kA da onda acústica satisfazem a relação de dispersão u<strong>sua</strong>l (Agrawal, 2001)<br />
160
B A A A p<br />
( )<br />
161<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
W = n k ª 2n k sin q 2<br />
(6.14)<br />
onde q é o ângulo entre as direcções de propagação <strong>do</strong>s campos de bombagem e de<br />
Stokes, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> kpª kAna<br />
equação (6.13). A equação (6.14) mostra que<br />
a deslocamento em frequência da onda de Stokes depende <strong>do</strong> ângulo de espalhamento.<br />
Em particular, W B toma o valor máximo para a contra-propagação ( q = p)<br />
e anula-se<br />
para a co-propagação ( q = 0)<br />
. Numa fibra óptica monomodal, os campos ópticos<br />
propagam-se apenas na direcção coincidente com o eixo da fibra e, consequentemente, o<br />
EEB apenas ocorre na direcção de contra-propagação e o desvio de Brillouin é da<strong>do</strong> por<br />
n =W 2p = 2nn<br />
l<br />
(6.15)<br />
B B A p<br />
onde a equação (6.14) foi usada com kp= 2p<br />
n lpe<br />
n o índice de refracção modal para<br />
o comprimento de onda l p . Se considerarmos n<br />
A<br />
-1<br />
= 5,96 kms e n = 1, 45 como valores<br />
típicos para uma fibra de sílica, obtemos n B ª 11,1GHz para l p = 1, 55 μm .<br />
O EEB pode ser usa<strong>do</strong> para construir sensores de fibra óptica distribuí<strong>do</strong>s capazes<br />
de medir temperatura e tensões mecânicas em longas distâncias. A ideia básica<br />
subjacente ao uso <strong>do</strong> EEB para aplicações em sensores de fibra óptica é simples e pode<br />
ser compreendida através da equação (6.15). Como o deslocamento Brillouin em<br />
frequência depende <strong>do</strong> índice de refracção efectivo <strong>do</strong> campo modal, ele muda sempre<br />
que o índice de refracção da sílica se altera como resposta às variações locais <strong>do</strong><br />
ambiente. Quer a temperatura quer a tensão mecânica alteram o índice de refracção da<br />
sílica. Monitorizan<strong>do</strong> as variações no deslocamento Brillouin em frequência ao longo da<br />
fibra, é possível obter a distribuição da temperatura ou das tensões mecânicas ao longo<br />
de grandes distâncias.<br />
6.3.2 Caracterização experimental<br />
6.3.2.1 Equipamento e montagem<br />
Usou-se uma fibra monomodal normalizada, de 50 km de comprimento, para medir<br />
experimentalmente o desvio Brillouin em frequência para várias temperaturas da fibra.<br />
A bobina de fibra foi colocada num forno com controlo de temperatura, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />
utiliza<strong>do</strong> o TRP calibra<strong>do</strong> para calibrar o controla<strong>do</strong>r de temperatura.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A Figura 6.21 mostra a montagem experimental, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o seguinte<br />
equipamento:<br />
• Laser Santec TLS (Tunable Laser Source).<br />
• EDFA (Erbium Doped Fiber Amplifier) Photonetics Fiberamp-BT 1400.<br />
• FUT (Fiber under test) Fibra monomodal SMF IG09.<br />
• Fotodetector HP 11982A.<br />
• ESA (Electrical Spectrum Analyser) Tektronix 494P, 10 kHz – 21 GHz.<br />
• Forno Heraeus com controla<strong>do</strong>r de temperatura.<br />
Laser<br />
Fibra<br />
EDFA<br />
Circula<strong>do</strong>r<br />
óptico<br />
Fibra Fibra<br />
Fotodetector<br />
Figura 6.21 Esquema experimental para caracterização <strong>do</strong> termómetro de<br />
Brillouin.<br />
6.3.2.2 Calibração <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno<br />
O gráfico da figura seguinte mostra a relação da temperatura seleccionada no forno<br />
e o valor da temperatura <strong>do</strong> mesmo dada pelo TRP, depois de estabilizada a temperatura.<br />
Figura 6.22 Calibração <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno utiliza<strong>do</strong><br />
para variar a temperatura da fibra óptica.<br />
162<br />
Fibra<br />
Cabo<br />
coaxial<br />
FUT<br />
Forno<br />
ESA
163<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
Do gráfico e <strong>do</strong> ajuste linear efectua<strong>do</strong> concluímos que a linearidade <strong>do</strong><br />
controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno é excelente. Os erros na temperatura <strong>do</strong> forno em<br />
relação à temperatura seleccionada são apresenta<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.23. De<br />
salientar um comportamento linear <strong>do</strong> erro e os seus valores muito baixos, sen<strong>do</strong> o valor<br />
máximo obti<strong>do</strong> para o erro de cerca de 0,2 ºC .<br />
Figura 6.23 Erros <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno relativamente à<br />
temperatura estabilizada obtida pelo TRP calibra<strong>do</strong>.<br />
6.3.2.3 Resulta<strong>do</strong>s experimentais<br />
O gráfico seguinte mostra os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s para o desvio de Brillouin em<br />
função da temperatura.<br />
Figura 6.24 Desvio em frequência da radiação rectro-reflectida em função da<br />
temperatura da fibra óptica.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Como foi referi<strong>do</strong>, a fibra tinha 50 km de comprimento e encontrava-se enrolada<br />
numa bobine, forman<strong>do</strong> uma espessura de vidro com cerca de 3 cm, o que exige bastante<br />
tempo até se atingir o equilíbrio térmico.<br />
O desvio em frequência da onda rectro-reflectida é 10,7 GHz e está de acor<strong>do</strong> com<br />
o previsto teoricamente para uma fibra de sílica. Do gráfico da Figura 6.24, obtemos para<br />
a sensibilidade deste termómetro o valor de<br />
( l = 1550nm)<br />
.<br />
164<br />
1<br />
0,77 MHz ºC - para a radiação utilizada<br />
6.4 Caracterização de uma termopilha usan<strong>do</strong> uma<br />
lâmpada de filamento de tungsténio<br />
Uma termopilha como sensor pode ser caracterizada usan<strong>do</strong> uma lâmpada com<br />
filamento de tungsténio. A Figura 6.25 apresenta um esquema da montagem<br />
experimental utilizada.<br />
Para diferentes valores de tensão e corrente na lâmpada (e e I ) registou-se a<br />
tensão de saída da termopilha, a qual tem uma resposta em tensão de 22 mV mW .<br />
e L Termopilha<br />
A<br />
Figura 6.25 Esquema da montagem experimental para o estu<strong>do</strong> da lei de<br />
Stefan-Boltzmann: V – voltímetro; A – amperímetro; e - fonte de<br />
tensão variável (0 – 12V); L – lâmpada com filamento de<br />
tungsténio.<br />
A temperatura absoluta T <strong>do</strong> filamento de tungsténio de uma lâmpada pode ser<br />
calculada pelas medidas da resistência R <strong>do</strong> filamento utiliza<strong>do</strong> como termómetro. Para<br />
a resistência de um filamento de tungsténio temos a seguinte relação<br />
2<br />
( ) 0 ( )<br />
1 q q q<br />
d<br />
V V<br />
R = R + a + b<br />
(6.16)
onde q é a temperatura em graus Celsius, R 0 a resistência a 0ºC,<br />
-7 -2<br />
b = 6,76 ¥ 10 ºC (Cavalcante et al, 2005).<br />
A resistência R 0 pode ser calculada a partir da equação (6.16)<br />
R<br />
R<br />
( q )<br />
a<br />
0 = 2<br />
1+<br />
aqa + bqa<br />
onde q a é o valor da temperatura ambiente em graus Celsius.<br />
O valor de ( )<br />
a<br />
165<br />
6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />
-3 -1<br />
a = 4,82 ¥ 10 ºC e<br />
(6.17)<br />
R q é obti<strong>do</strong> pela lei de Ohm, R = e I , onde e é a diferença de<br />
potencial nos terminais da lâmpada e I é a corrente no filamento. Devemos usar uma<br />
corrente suficientemente pequena para que se possa desprezar o aquecimento devi<strong>do</strong> ao<br />
efeito de Joule, garantin<strong>do</strong>-se assim que o filamento se encontra à temperatura ambiente,<br />
q a .<br />
Resolven<strong>do</strong> a equação (6.16) em ordem à temperatura q , a temperatura absoluta<br />
<strong>do</strong> filamento vem dada por<br />
1 È<br />
2 Ê R ˆ ˘<br />
T = 273,15 + Í a + 4b -1-a˙ 2bÍ<br />
Á<br />
ËR ˜<br />
0 ¯<br />
Î<br />
˙<br />
˚<br />
(6.18)<br />
onde o valor de R é obti<strong>do</strong> pela lei de Ohm, R = e I , medin<strong>do</strong> a diferença de potencial<br />
e a corrente no filamento.<br />
No gráfico da Figura 6.26 apresenta-se a potência óptica medida no sensor em<br />
função da quarta potência da temperatura da lâmpada. Verifica-se que a potência P<br />
registada no sensor é proporcional a 4<br />
T , com uma boa correlação <strong>do</strong>s pontos<br />
experimentais. A ordenada na origem <strong>do</strong> ajuste tem, contu<strong>do</strong>, o valor de - 0,039mW , o<br />
que pode ter como explicação o facto de o vidro da lâmpada não ser transparente a toda a<br />
radiação emitida por esta. Para T = 0 teríamos um valor da potência próximo de zero,<br />
mas o valor obti<strong>do</strong> pelo ajuste é negativo e significativo.<br />
Podemos também representar graficamente o log10 ( P ) em função <strong>do</strong> log10 ( T ) e<br />
obter o gráfico da Figura 6.27. A ordenada na origem corresponde a log10 ( As ) , onde A<br />
e s são a área <strong>do</strong> sensor e a constante de Stefan-Boltzmann, respectivamente. O declive<br />
corresponde à potência da temperatura (que teoricamente é 4). O valor obti<strong>do</strong> para a
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
potência da temperatura é 4,66, possivelmente explica<strong>do</strong> pela absorção <strong>do</strong> vidro<br />
(sobretu<strong>do</strong> no infravermelho longo).<br />
Figura 6.26 Potência na termopilha em função da quarta potência da<br />
temperatura <strong>do</strong> filamento da lâmpada.<br />
Figura 6.27 Logaritmo da potência na termopilha em função <strong>do</strong> logaritmo da<br />
temperatura <strong>do</strong> filamento da lâmpada.<br />
166
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />
Do ponto de vista conceptual é necessário definir uma temperatura independente<br />
das propriedades termométricas de sistemas termodinâmicos particulares. Tal definição<br />
permitirá obtermos o conceito de temperatura termodinâmica absoluta e terá de ser<br />
obtida à custa das leis universais da Termodinâmica.<br />
7.1 Definição de temperatura absoluta<br />
A Lei Zero da Termodinâmica estabelece a base para a <strong>medição</strong> da temperatura,<br />
mas uma escala empírica tem de ser definida em termos da propriedade termométrica de<br />
uma substância específica e de um termómetro, tal como a escala de temperatura obtida<br />
usan<strong>do</strong> um termómetro de gás a volume constante.<br />
Uma escala de temperatura que seja independente da natureza <strong>do</strong> sistema, é<br />
chamada escala de temperatura termodinâmica absoluta.<br />
A eficiência de um ciclo de Carnot 26 é independente <strong>do</strong> sistema (máquina) que<br />
opera o ciclo e depende apenas das temperaturas das fontes entre as quais opera. Esta<br />
característica permite usar a máquina de Carnot para estabelecer a escala absoluta de<br />
temperatura. Fazemos seguidamente o desenvolvimento de (Anacleto, 2004).<br />
Uma máquina de Carnot absorve a energia 1<br />
167<br />
Q por calor da fonte quente 1<br />
T e<br />
rejeita a energia Q 2 por calor para a fonte fria T 2 , com uma eficiência que é<br />
independente da natureza <strong>do</strong> sistema (Zemansky et al, 1997; Güémez et al, 1998). A<br />
eficiência, dada por h = 1- Q2 Q1<br />
, depende apenas das temperaturas das fontes,<br />
h f<br />
( T, T )<br />
= 1 2 , sen<strong>do</strong> f uma função desconhecida de 1<br />
base da definição de temperatura absoluta.<br />
T e T 2 . Esta propriedade está na<br />
26 Um ciclo de Carnot é um processo cíclico reversível, realiza<strong>do</strong> por um sistema arbitrário,<br />
durante o qual o sistema só troca energia por calor com duas fontes. A fonte que se encontra a<br />
uma temperatura maior é designada por fonte quente e a outra fonte é designada por fonte fria.<br />
Num diagrama, o ciclo de Carnot é constituí<strong>do</strong> por duas curvas adiabáticas e duas curvas<br />
isotérmicas. O teorema de Carnot diz que a eficiência duma máquina de Carnot é máxima, em<br />
relação a uma máquina qualquer que opere entre as mesmas fontes (Zemansky et al, 1997).
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Podemos, portanto, escrever<br />
Q1<br />
1<br />
= = f T T<br />
Q 1 - f T, T<br />
onde ( , )<br />
( )<br />
2 1 2<br />
1 2<br />
( , )<br />
1 2<br />
f T T é também uma função desconhecida das duas temperaturas.<br />
168<br />
(7.1)<br />
Consideremos três máquinas de Carnot, RA, RB e RC, que operam entre três fontes<br />
cujas temperaturas satisfazem a relação T1 > T3 > T2,<br />
conforme ilustra<strong>do</strong> na Figura 7.1.<br />
Figura 7.1 Diagrama esquemático das máquinas de Carnot utilizadas para<br />
estabelecer a escala termodinâmica absoluta de temperatura<br />
(Anacleto, 2004).<br />
Façamos então o seguinte raciocínio toman<strong>do</strong> a figura como suporte. Para a<br />
máquina de Carnot RA, podemos escrever a relação<br />
Q<br />
Q<br />
1<br />
2<br />
T1<br />
T2<br />
( , )<br />
= f T T<br />
(7.2)<br />
1 2<br />
RB<br />
Q 1<br />
Q3<br />
Q 3<br />
Q2<br />
WB<br />
T3 RA W A<br />
RC<br />
W C<br />
Q 1<br />
Q 2
169<br />
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />
A máquina RB é ajustada de forma a absorver uma energia por calor, da fonte T 1 ,<br />
igual à absorvida pela máquina RA, 1<br />
Q ; a energia por calor 3<br />
pela máquina RC. Assim, tem-se para a máquina RB, Q Q f ( T, T )<br />
1 3 1 3<br />
Q rejeitada é absorvida<br />
= .<br />
Pelo corolário de Carnot 27 , como a máquina RA rejeita para a fonte fria a energia<br />
por calor 2 Q , para que as máquinas RB e RC, operan<strong>do</strong> em conjunto, sejam equivalentes<br />
à máquina RA, RC deve também rejeitar para a fonte fria a energia por calor Q 2 . Temos,<br />
então, para a máquina RC, Q Q f ( T , T )<br />
Como<br />
( , )<br />
f T T<br />
1 2<br />
2 2 3<br />
= .<br />
3 2 3 2<br />
Q1<br />
Q1 Q3<br />
= , temos que<br />
Q Q Q<br />
( 1, 3)<br />
( , )<br />
f T T<br />
= (7.3)<br />
f T T<br />
2 3<br />
A temperatura T 3 pode ser escolhida arbitrariamente pois não aparece no primeiro<br />
membro da equação (7.3), e temos, sen<strong>do</strong> y ( T ) uma função arbitrária,<br />
( T1<br />
)<br />
( )<br />
Q1<br />
y<br />
= (7.4)<br />
Q y T<br />
2 2<br />
Escolhen<strong>do</strong> y ( T) = T , a razão no primeiro membro da equação anterior é definida<br />
como a razão de duas temperaturas termodinâmicas, T1 T 2 , ou seja<br />
Q1 T1<br />
= (7.5)<br />
Q T<br />
2 2<br />
Portanto, duas temperaturas na escala termodinâmica estão uma para a outra<br />
como os respectivos valores absolutos das energias por calor absorvida e rejeitada, por<br />
uma máquina de Carnot que opere entre fontes àquelas temperaturas.<br />
27 O corolário de Carnot, obti<strong>do</strong> facilmente <strong>do</strong> teorema de Carnot, estabelece que todas as<br />
máquinas de Carnot que operem entre as mesmas fontes têm a mesma eficiência.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
A escala termodinâmica de temperatura tem de ser independente das características<br />
específicas de qualquer sistema particular. Assim, a máquina de Carnot permite a<br />
universalidade que não é conseguida pela escala baseada num gás ideal. As temperaturas<br />
termodinâmicas são chamadas temperaturas absolutas, pois são independentes <strong>do</strong><br />
sistema. A equação (7.4) é uma relação fundamental baseada na Segunda Lei da<br />
Termodinâmica e no ciclo de Carnot. É necessário apenas que a função arbitrária y seja<br />
função da temperatura termodinâmica.<br />
À primeira vista, pode parecer que a razão de duas temperaturas Kelvin seria<br />
impossível de medir, pois uma máquina de Carnot é uma máquina ideal, bastante difícil<br />
de construir. A situação, contu<strong>do</strong>, não é tão má como parece. A razão de duas<br />
temperaturas Kelvin é a razão de <strong>do</strong>is calores transferi<strong>do</strong>s durante <strong>do</strong>is processos<br />
isotérmicos limita<strong>do</strong>s por duas curvas adiabáticas. As duas fronteiras adiabáticas podem<br />
ser localizadas experimentalmente, e os calores transferi<strong>do</strong>s durante os <strong>do</strong>is processos<br />
isotérmicos “aproximadamente reversíveis” podem ser medi<strong>do</strong>s com precisão elevada.<br />
De facto, este méto<strong>do</strong> é um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s na <strong>medição</strong> de temperaturas abaixo de<br />
1 K.<br />
É necessário ainda completar a definição da escala absoluta de temperatura.<br />
Consideran<strong>do</strong> o ponto triplo da água, T PT , como a temperatura de referência e<br />
atribuin<strong>do</strong>-lhe o valor de 273,16 K (tal como já havíamos feito), temos<br />
T = 273,16 K<br />
(7.6)<br />
PT<br />
Para uma máquina de Carnot que opera entre fontes a temperaturas T e T PT , temos<br />
Q T<br />
= (7.7)<br />
Q T<br />
PT PT<br />
o que permite finalmente escrever<br />
273,16K Q<br />
T = (7.8)<br />
Q<br />
PT<br />
Comparan<strong>do</strong> esta equação com a equação para a temperatura definida por um gás a<br />
volume constante,<br />
170
Ê P ˆ<br />
T = 273,16 K lim ( V constante)<br />
PPTÆ<br />
0 Á<br />
ËP˜ ¯<br />
PT<br />
171<br />
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />
(7.9)<br />
vemos que, na escala absoluta de temperatura, Q desempenha o papel de “propriedade<br />
termométrica” para um ciclo de Carnot, tal como a pressão é a propriedade termométrica<br />
para o termómetro de gás a volume constante. O calor não tem, contu<strong>do</strong>, a objecção<br />
associada à coordenada termodinâmica pressão de um termómetro de gás, pois o<br />
comportamento da máquina de Carnot é independente da natureza <strong>do</strong> sistema.<br />
7.2 O zero absoluto e eficiência de Carnot<br />
Da equação (7.8), vemos que quanto menor for o valor de Q , menor é o valor de T<br />
correspondente. O menor valor possível de Q é zero, e o valor de T que lhe<br />
corresponde é o zero absoluto. Portanto, se um sistema sofresse um processo isotérmico<br />
reversível sem transferir energia por calor, a temperatura à qual este processo ocorreria<br />
é chama<strong>do</strong> zero absoluto. Dito de outra forma, no zero absoluto uma isotérmica e uma<br />
adiabática são idênticas 28 .<br />
Notemos que a definição de zero absoluto é válida para to<strong>do</strong>s os sistemas e é,<br />
portanto, independente das propriedades específicas de qualquer sistema escolhi<strong>do</strong><br />
arbitrariamente. Mais ainda, a definição é feita em termos de conceitos puramente<br />
macroscópicos. Nenhuma referência é feita a átomos ou moléculas. Se o zero absoluto<br />
pode ou não ser atingin<strong>do</strong> é uma questão deixada para a experimentação. Contu<strong>do</strong>, uma<br />
máquina térmica que operasse com uma fonte fria à temperatura <strong>do</strong> zero absoluto violaria<br />
a Segunda Lei, pois produziria trabalho negativo, W < 0 , trocan<strong>do</strong> energia por calor com<br />
uma única fonte (a fonte quente) 29 .<br />
Como uma máquina de Carnot que absorve energia por calor Q 1 da fonte quente à<br />
temperatura T 1 e rejeita energia por calor 2<br />
eficiência dada por<br />
Q para a fonte fria à temperatura 2<br />
T tem uma<br />
28 Uma curva adiabática e uma curva isotérmica não se podem intersectar em mais que um ponto.<br />
29 Esta hipótese violaria o Postula<strong>do</strong> de Kelvin-Planck da Segunda Lei da Termodinâmica.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
2<br />
1 Q<br />
h = - (7.10)<br />
Q<br />
1<br />
e como, pela definição de temperatura absoluta se tem<br />
Q2 T2<br />
= (7.11)<br />
Q T<br />
1 1<br />
concluímos que a eficiência de uma máquina de Carnot pode ser expressa em termos das<br />
temperaturas absolutas das duas fontes,<br />
2 h = - (eficiência de uma máquina de Carnot). (7.12)<br />
T1<br />
1 T<br />
Para um ciclo de Carnot ter uma eficiência de 100 % é necessário que T 2 seja zero.<br />
Apenas quan<strong>do</strong> a fonte fria está à temperatura <strong>do</strong> zero absoluto é que toda a energia<br />
absorvida por calor é convertida em trabalho. Como a natureza não nos proporciona uma<br />
fonte à temperatura <strong>do</strong> zero absoluto, uma máquina térmica com 100 % de eficiência, o<br />
que violaria a Segunda Lei, é uma impossibilidade prática e teórica.<br />
7.3 A temperatura absoluta e a dada por um gás<br />
A temperatura T dada por um termómetro de gás a volume constante foi definida<br />
em termos da razão entre a pressão P, à temperatura T, e a pressão <strong>do</strong> sistema no ponto<br />
triplo da água P PT , no limite das baixas pressões.<br />
Demonstra-se que a temperatura dada por um termómetro de gás a volume<br />
constante é equivalente à temperatura absoluta definida à custa de uma máquina de<br />
Carnot (Zemansky et al, 1997).<br />
Consideran<strong>do</strong> que a temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água é a mesma para ambas as<br />
definições de temperatura, T PT = 273,16K , temos<br />
( dada pelo termómetro de gás a constante) ( absoluta)<br />
T V = T<br />
(7.13)<br />
172
173<br />
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />
A temperatura absoluta é, portanto, numericamente igual à temperatura dada por<br />
um gás ideal e, numa gama adequada, pode ser medida com um termómetro de gás a<br />
volume constante.<br />
7.4 <strong>Temperatura</strong> termodinâmica e termómetros primários<br />
A temperatura T que ocorre nas leis fundamentais da Física é a temperatura<br />
termodinâmica. A escala termodinâmica de temperatura pode ser definida de várias<br />
formas, todas necessariamente equivalentes. Algumas definições são bastante abstractas e<br />
não úteis para medições de temperatura. Como exemplo é a definição dada através da<br />
eficiência de uma máquina de Carnot. Uma definição mais compreensível é aquela<br />
baseada na equação de esta<strong>do</strong> de um gás ideal<br />
PV = N k T<br />
(7.14)<br />
onde P e V são a pressão e o volume <strong>do</strong> gás, respectivamente, N é o número de<br />
partículas de gás (que é muito grande), e k é a constante de Boltzmann.<br />
Esta temperatura é a que aparece noutras leis fundamentais tais como na lei de<br />
radiação de Planck para o corpo negro, na fórmula de Nyquist para o ruí<strong>do</strong> térmico ou na<br />
expressão para o alargamento Doppler da linha espectral de emissão ou absorção de um<br />
gás cujas partículas têm velocidades de acor<strong>do</strong> com a distribuição de Maxwell.<br />
Estas leis servem como base para os termómetros primários que são capazes de<br />
medir a temperatura termodinâmica. Um termómetro primário não precisa de ser referi<strong>do</strong><br />
a outras medidas de temperatura (isto é, não precisa de calibração) mas obtêm a<br />
temperatura de medições de outras grandezas tais como a pressão, a potência da radiação<br />
ou a tensão de ruí<strong>do</strong>. Portanto, podem ser usa<strong>do</strong>s para estabelecer a escala termodinâmica<br />
de temperatura.<br />
Por considerações termodinâmicas e pelas relações da Tabela 7.1 concluímos que<br />
existe um zero absoluto para a temperatura para o qual, por exemplo, a pressão de um gás<br />
ideal a volume constante, a emissão de radiação térmica, e a tensão de ruí<strong>do</strong> térmico se<br />
anulam.<br />
A unidade de temperatura termodinâmica pode ser definida com a ajuda de uma<br />
temperatura de um ponto fixo, à qual se atribui convencionalmente um valor, como foi<br />
proposto por Kelvin em 1854. Um século mais tarde, a 10ª Conferência Geral de Pesos e<br />
Medidas seguiu esta sugestão.
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Termómetro<br />
primário<br />
Lei fundamental subjacente Significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s símbolos<br />
Gás PV = N kT<br />
P – pressão<br />
Constante<br />
dieléctrica de<br />
um gás<br />
e = e + a<br />
0 0 NV<br />
( )<br />
P = kT e - e a<br />
Acústico 2 ( )<br />
Ruí<strong>do</strong><br />
térmico<br />
Radiação<br />
espectral<br />
Radiação<br />
total<br />
Alargamento<br />
0 0<br />
174<br />
V – volume<br />
N – número de partículas<br />
k – constante de Boltzmann<br />
e – permitividade <strong>do</strong> gás<br />
e 0 – permitividade <strong>do</strong> vazio<br />
a 0 – polarizabilidade estática<br />
dipolar de um átomo<br />
ca= cP cV kT m m – massa da partícula<br />
cPc V – razão das capacidades<br />
térmicas molares<br />
( ) 2<br />
D U = 4 kT RD n<br />
(váli<strong>do</strong> para baixas frequências<br />
e no limite das altas<br />
temperaturas)<br />
R<br />
n<br />
2 hn<br />
=<br />
2<br />
c Îh kT ˚<br />
{ exp È n ( ) ˘-1}<br />
4<br />
sT<br />
2p<br />
R = =<br />
p<br />
4<br />
3<br />
( kT)<br />
4<br />
2 3 ( 15ch)<br />
Doppler ( ) 12<br />
È 2<br />
2kT mc ˘<br />
D n D = n<br />
Î ˚ 0<br />
D U – ruí<strong>do</strong> térmico da tensão<br />
eléctrica U na resistência<br />
eléctrica R que ocorre num<br />
banda estreita D n<br />
Rn – radiância espectral <strong>do</strong> corpo<br />
negro<br />
h – constante de Planck<br />
c – velocidade da luz no vazio<br />
R – radiância total <strong>do</strong> corpo<br />
negro<br />
s – constante de<br />
Stefan-Boltzmann<br />
D n - Largura Doppler em<br />
D<br />
frequência da linha com<br />
frequência central n 0 , emitida ou<br />
absorvida por um gás ideal à<br />
temperatura T<br />
Tabela 7.1 Termómetros primários e leis fundamentais que lhes subjazem.<br />
Foi escolhi<strong>do</strong> então como ponto fixo o ponto triplo da água (PTA), o único ponto<br />
no diagrama de fase onde vapor, água líquida e gelo coexistem, conforme se ilustra no<br />
diagrama da Figura 7.2. A temperatura <strong>do</strong> ponto triplo T PT é, por convenção, 273,16 K,<br />
de tal forma que a unidade de temperatura, o Kelvin, vem dada por
PT<br />
175<br />
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />
1K = T 273,16<br />
(7.15)<br />
O valor numérico de 273,16 foi escolhi<strong>do</strong> para que o kelvin estivesse tão próximo<br />
quanto possível <strong>do</strong> grau Celsius usa<strong>do</strong> anteriormente, que era defini<strong>do</strong> como a centésima<br />
parte da diferença de temperaturas entre o ponto de ebulição e o ponto de fusão da água à<br />
pressão atmosférica normal (101,325 kPa).<br />
Figura 7.2 Diagrama de fase para a água. O ponto triplo corresponde à<br />
temperatura de 273,15 K e à pressão de 612 Pa.<br />
A temperatura de fusão da água à pressão atmosférica normal é ligeiramente menor<br />
que a temperatura <strong>do</strong> ponto triplo (a pressão <strong>do</strong> ponto triplo é de apenas 0,612 kPa). A<br />
relação entre as temperatura em grau Celsius e em kelvin é, como vimos, dada por<br />
( ) ( )<br />
T ºC = T K - 273,15<br />
(7.16)<br />
A escala de temperatura Celsius é portanto uma escala de temperatura Kelvin com<br />
o zero desloca<strong>do</strong> para 273,15 K. Portanto, uma diferença de temperaturas tem o mesmo<br />
valor numérico nas duas escalas<br />
( ºC) ( K)<br />
D T = D T<br />
(7.17)
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Notemos que o nome da unidade kelvin (K) não é acompanhada da palavra grau ou<br />
<strong>do</strong> símbolo º, embora originalmente fosse designada por grau kelvin em 1954. Contu<strong>do</strong>,<br />
essa designação foi modificada para kelvin pela Conferência Geral de Pesos e Medidas<br />
(CGPM) em 1967.<br />
A magnitude da unidade da temperatura termodinâmica não pode ser determinada<br />
por considerações termodinâmicas. Isto acontece porque a temperatura T acorre sempre<br />
na combinação kT em todas as leis físicas fundamentais, conforme se pode ver nos<br />
exemplos da<strong>do</strong>s na Tabela 7.1. Esta combinação é referida habitualmente por energia<br />
térmica, pois é proporcional à energia cinética média, E , de uma partícula de um gás em<br />
equilíbrio à temperatura T , E = 3kT 2.<br />
Portanto, em rigor um termómetro primário não mede a temperatura T , mas a<br />
energia térmica kT . Assim, podemos redimensionar T para aT , se esta transformação<br />
for acompanhada e compensada pelo redimensionamento da constante de Boltzmann k<br />
para ka, manten<strong>do</strong>-se assim o valor de kT .<br />
Essencialmente, há duas formas de extrair a temperatura T de uma <strong>medição</strong> da<br />
energia térmica kT . A escolha de definir a temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água, T PT ,<br />
como sen<strong>do</strong> exactamente 273,16 K corresponde à escolha de um valor particular <strong>do</strong><br />
“factor de escala” a e, portanto, implicitamente determina também o valor numérico da<br />
constante de Boltzmann k , a qual tem de ser determinada experimentalmente e de<br />
preferência à temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água. Esta forma é a escolhida actualmente<br />
na definição SI de kelvin, e a constante de Boltzmann no actual SI é dada por 30<br />
-23 -1<br />
k = 1,3806504 ¥ 10 J K<br />
(7.18)<br />
com uma incerteza absoluta de<br />
6<br />
1, 7 10 -<br />
¥ .<br />
176<br />
-23 -1<br />
0,0000024 ¥ 10 J K e uma incerteza relativa de<br />
Esta definição tem a vantagem <strong>do</strong> facto de que diferentes realizações experimentais<br />
precisas da temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água mostraram concordância elevada entre si,<br />
sen<strong>do</strong> as variações relativas menores que<br />
7<br />
3 10 -<br />
¥ , que é cerca de uma ordem de<br />
grandeza menor que a incerteza <strong>do</strong> valor medi<strong>do</strong> da constante de Boltzmann. Como<br />
desvantagem, há um aumento da incerteza na <strong>medição</strong> de temperatura particularmente a<br />
30 Ver http://physics.nist.gov/cuu/Constants/
177<br />
7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />
muito baixas e muito altas temperaturas, pois as medições de temperaturas têm de ser<br />
rastreadas de alguma forma a uma <strong>medição</strong> feita à temperatura T PT .<br />
Outra possibilidade de extrair T da energia térmica kT está presentemente em<br />
discussão. Como alternativa à actual definição SI de kelvin através da temperatura <strong>do</strong><br />
ponto triplo da água, à constante de Boltzmann pode ser atribuída um valor por definição,<br />
deixan<strong>do</strong> de ter uma incerteza associada. Esta redefinição de kelvin teria a vantagem de<br />
não favorecer um valor particular de temperatura ou um determina<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de<br />
<strong>medição</strong>. Além disso, ligar a unidade de temperatura a uma constante fundamental<br />
adequada será mais satisfatório conceptualmente <strong>do</strong> que ligá-la a uma propriedade de<br />
uma material imperfeitamente conhecida, que não é certamente fundamental.<br />
Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu valor experimental, podemos fixar o valor da constante de<br />
Boltzmann em, por exemplo,<br />
-23 -1<br />
k = 1,3806504 ¥ 10 J K , que ligaria o kelvin à unidade<br />
de energia, o joule, da mesma forma que a unidade de comprimento, o metro, é<br />
actualmente ligada com a unidade de tempo, o segun<strong>do</strong>, atribuin<strong>do</strong> o valor exacto de<br />
-1<br />
c = 299792458ms à velocidade da luz no vazio.
8 Conclusão<br />
Este trabalho tem várias contribuições, de diversas ín<strong>do</strong>les, que em conjunto se<br />
traduzem num enriquecimento aos níveis pessoal e profissional.<br />
No que diz respeito à inserção curricular, o estu<strong>do</strong> foi muito relevante, já que os<br />
assuntos trata<strong>do</strong>s fazem parte <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino básico e secundário. É de salientar<br />
a contribuição de natureza teórica para um aprofundamento de conceitos, em geral, e <strong>do</strong><br />
conceito de temperatura, em particular.<br />
O trabalho desenvolvi<strong>do</strong> mostrou que a temperatura não é um conceito fácil, quer<br />
na <strong>sua</strong> compreensão ao nível fundamental, quer na <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>. A temperatura aparece<br />
ligada a uma enorme diversidade de fenómenos físicos e é uma variável especial em<br />
Termodinâmica, uma área onde as subtilezas abundam.<br />
Da contribuição de cariz prático é de sublinhar a realização de 10 experiências e<br />
actividades laboratoriais que proporcionaram um contacto com instrumentação científica<br />
diversificada e com novas tecnologias, poden<strong>do</strong> algumas actividades ser utilizadas ou<br />
adaptadas nas aulas.<br />
Especial ênfase deve ser dada à actividade de intercomparação e de calibração de<br />
diversos termómetros, alguns deles basea<strong>do</strong>s na tecnologia das fibras ópticas, não só pela<br />
diversidade de instrumentação usada, como também porque se utilizou como referência<br />
um termómetro de resistência de platina calibra<strong>do</strong>. A calibração <strong>do</strong> termómetro envolveu<br />
um laboratório de metrologia de temperatura acredita<strong>do</strong> e o ajuste <strong>do</strong>s pontos de<br />
calibração foi realizada por nós, seguin<strong>do</strong> uma norma específica. A importância da<br />
Metrologia, nomeadamente da compreensão <strong>do</strong>s conceitos de calibração, de<br />
rastreabilidade, de cadeia metrológica e de normalização, tornou-se evidente com o<br />
trabalho realiza<strong>do</strong>, de tal forma que somos leva<strong>do</strong>s a preconizar que tais conceitos devam<br />
ser introduzi<strong>do</strong>s nos programas <strong>do</strong> ensino pré-universitário.<br />
O trabalho como um to<strong>do</strong> constitui um <strong>do</strong>cumento útil para ser usa<strong>do</strong> por<br />
professores e alunos, não só como recurso didáctico-científico, mas também como<br />
elemento indutor e polariza<strong>do</strong>r de novas sugestões de trabalhos práticos a realizar nas<br />
aulas ou em estu<strong>do</strong>s futuros.<br />
179
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Contu<strong>do</strong>, apesar de aliciante e motiva<strong>do</strong>r, o tema apresentou algumas dificuldades,<br />
encaradas como fazen<strong>do</strong> parte da natureza das coisas. Uma das dificuldades foi a<br />
abrangência <strong>do</strong> tema, que se foi revelan<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> cada vez maior,<br />
dificultan<strong>do</strong> a organização <strong>do</strong> trabalho, pelo que se fez um corte, de forma significativa,<br />
na parte teórica. Neste senti<strong>do</strong>, temos consciência que o produto final produzi<strong>do</strong> constitui<br />
apenas a ponta <strong>do</strong> iceberg.<br />
Este trabalho permitiu uma consciencialização da problemática de calibração de<br />
instrumentos e de utilização de padrões, e constitui uma contribuição para uma melhor<br />
compreensão <strong>do</strong> conceito de temperatura e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>, nomeadamente aos <strong>do</strong>centes <strong>do</strong><br />
actual 10º ano de escolaridade.<br />
180
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Sites de Internet (instituições e laboratórios)<br />
Consulta<strong>do</strong>s entre Janeiro e Junho de 2007<br />
184
Índice de figuras<br />
Figura 2.1 Sistema termodinâmico constituí<strong>do</strong> pelos subsistemas A, B e C. A fronteira<br />
separa o sistema <strong>do</strong> meio exterior, e a vizinhança é a parte <strong>do</strong> exterior que<br />
interage com o sistema (Anacleto, 2004). 12<br />
Figura 2.2 Representação, num diagrama das variáveis X e Y, de esta<strong>do</strong>s de equilíbrio e<br />
de processos termodinâmicos. Os processos quase-estáticos podem ser<br />
representa<strong>do</strong>s por linhas contínuas definidas; os processos não quase-estáticos<br />
representamos por linhas a traceja<strong>do</strong> (Anacleto, 2004). 17<br />
Figura 2.3 Um gás que sofre um processo não-adiabático. Há trocas de energia por calor<br />
e por trabalho (Anacleto, 2004). 20<br />
Figura 2.4 Representação esquemática da operação de: a) uma máquina térmica; e b) uma<br />
máquina frigorífica (Anacleto, 2004). 23<br />
Figura 2.5 Ciclo de Carnot representa<strong>do</strong> num diagrama P-V (Anacleto, 2004). 25<br />
Figura 3.1 Capacidade térmica mássica a volume constante, c V , em função da<br />
temperatura. c V tende para zero quan<strong>do</strong> T tende para zero. 30<br />
Figura 3.2 Capacidade térmica mássica da água em função da temperatura à pressão<br />
atmosférica normal (Zemansky et al, 1997). 33<br />
Figura 3.3 Fluxo de energia por calor através de uma camada de espessura D x e área A,<br />
submetida a uma diferença de temperaturas D T = T2 - T1.<br />
34<br />
Figura 3.4 Condutividade térmica em função da temperatura para algumas substâncias<br />
(adapta<strong>do</strong> de Zemansky et al, 1997). 36<br />
Figura 3.5 Fotografia da montagem experimental para a determinação da condutividade<br />
térmica de uma barra condutora. 37<br />
Figura 3.6 Variação da temperatura ao longo da barra depois de atingi<strong>do</strong> o regime<br />
estacionário de propagação de energia por calor. 37<br />
Figura 3.7 Aumento da temperatura da água em função <strong>do</strong> tempo. O declive é<br />
proporcional à taxa de propagação da energia por calor na barra. 38<br />
Figura 3.8 Fotografias que ilustram a actividade experimental <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> equilíbrio<br />
térmico. 40<br />
Figura 3.9 Isotérmicas correspondentes de <strong>do</strong>is sistemas termodinâmicos diferentes A e<br />
B (Anacleto, 2004).<br />
Figura 3.10 Fotografias de um caderno de um aluno (à esquerda) e da montagem<br />
experimental (à direita) relativas à actividade da determinação <strong>do</strong>s pontos de<br />
43<br />
fusão e de ebulição da água. 45<br />
185
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 3.11 Gráfico da evolução da temperatura no aquecimento da água desde o ponto de<br />
fusão até ao ponto de ebulição. 46<br />
Figura 3.12 Distribuição das velocidades de Maxwell-Boltzmann para as temperaturas de<br />
300 K, 900 K e 1500 K. 48<br />
Figura 3.13 Evolução temporal da temperatura <strong>do</strong> ar no interior de duas latas de cores<br />
diferentes, quan<strong>do</strong> incide nelas radiação nas mesmas condições.<br />
Figura 3.14 Fotografia da montagem experimental para a comparação <strong>do</strong> poder de<br />
49<br />
absorção de radiação por diferentes superfícies. 50<br />
Figura 3.15 Fotografias da montagem experimental para estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> aquecimento da água<br />
com uma lâmpada. 51<br />
Figura 3.16 Gráfico comparativo <strong>do</strong> aquecimento da água com uma lâmpada com e sem<br />
folha de alumínio. 51<br />
Figura 3.17. Radiância espectral <strong>do</strong> corpo negro para quatro temperaturas diferentes. 53<br />
Figura 3.18 Cavidade que com um orifício. A radiação que entra é totalmente absorvida<br />
devi<strong>do</strong> às sucessivas reflexões no interior da cavidade, que se aproxima a um<br />
corpo negro. 54<br />
Figura 3.19 Uma cavidade cúbica, com aresta de comprimento a, preenchida por radiação<br />
electromagnética. 56<br />
Figura 3.20 Planos nodais de uma onde estacionária que se propaga numa dada direcção<br />
na cavidade cúbica. 57<br />
Figura 3.21 Comparação entre a previsão da Física clássica e os resulta<strong>do</strong>s experimentais<br />
para a densidade de energia numa cavidade.<br />
Figura 3.22 Comparação entre os resulta<strong>do</strong>s de um cálculo simples e a distribuição de<br />
62<br />
Boltzmann. 64<br />
Figura 4.1 Termómetro de Galileu Galilei. 73<br />
Figura 4.2 Estabelecimento de uma escala de temperatura (Anacleto, 2004). 79<br />
Figura 4.3 Gráfico de P em função de θ, obti<strong>do</strong> experimentalmente com o termómetro de<br />
gás a volume constante, utilizan<strong>do</strong> quatro gases diferentes a baixas pressões<br />
(Anacleto, 2004). 81<br />
Figura 4.4 Célula de ponto-triplo da água (Anacleto, 2004). 82<br />
Figura 4.5 Representação esquemática de um termómetro de gás a volume constante,<br />
sen<strong>do</strong> a propriedade termométrica a pressão (Anacleto, 2004). 83<br />
Figura 4.6 <strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> PEN da água dada por diferentes termómetros de gás, no<br />
limite quan<strong>do</strong> PPT Æ 0 (Anacleto, 2004). 85<br />
Figura 5.1 Termómetros de dilatação em recipiente de vidro. 94<br />
Figura 5.2 Termómetro de máxima e de mínima. 96<br />
Figura 5.3 A – Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente metálico; B – Tubos de<br />
Bour<strong>do</strong>n utiliza<strong>do</strong>s como elementos de <strong>medição</strong>. 97<br />
186
187<br />
Índice de figuras<br />
Figura 5.4 Termómetro regista<strong>do</strong>r. 97<br />
Figura 5.5 Flexão da lâmina bimetálica quan<strong>do</strong> aquecida. 98<br />
Figura 5.6 A - Termóstato; B - Termómetro bimetálico. 98<br />
Figura 5.7 Termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções <strong>do</strong>s metais A e B, a junção de <strong>medição</strong><br />
e a junção de referência. 99<br />
Figura 5.8 Termopar onde a junção <strong>do</strong>s fios A e B constitui a junção de teste e a junção<br />
de referência consiste em duas junções com fios de cobre (Anacleto, 2004). 101<br />
Figura 5.9 O efeito Seebeck: um gradiente de temperatura origina uma diferença de<br />
potencial (em circuito aberto). 102<br />
Figura 5.10 Para um termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções de um mesmo metal A não é<br />
possível medir a diferença de potencial. 104<br />
Figura 5.11 Um termopar tem que ser constituí<strong>do</strong> por duas junções de <strong>do</strong>is metais<br />
diferentes A e B. 104<br />
Figura 5.12 Ilustração das leis de funcionamento <strong>do</strong>s termopares. 110<br />
Figura 5.13 Gráfico ilustrativo da variação da resistência com a temperatura para alguns<br />
metais e para um semicondutor. 115<br />
Figura 5.14 Interior de uma termo-resistencia. 115<br />
Figura 5.15 Aspecto exterior de uma termo-resistência. 115<br />
Figura 5.16 Algumas termo-resistências. 116<br />
Figura 5.17 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios. 118<br />
Figura 5.18 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a quatro fios. 119<br />
Figura 5.19 Minimização <strong>do</strong> efeito de auto-aquecimento usan<strong>do</strong> uma corrente pulsada: a)<br />
corrente injectada; b) sinal em tensão detecta<strong>do</strong>. 119<br />
Figura 5.20 Ponte de Wheatstone com resistência de três fios. 120<br />
Figura 5.21 Exemplos de termístores. 121<br />
Figura 5.22 Esquema de uma termopilha. 123<br />
Figura 5.23 Ilustração <strong>do</strong> primeiro pirómetro patentea<strong>do</strong>. 124<br />
Figura 5.24 A – Esquema de um pirómetro óptico. B – Observação. 125<br />
Figura 5.25 Esquema de um pirómetro independente da emissividade. 126<br />
Figura 5.26 Frequências utilizadas pelo pirómetro de duas cores. 127<br />
Figura 5.27 Pirómetro de radiação infravermelha. 128<br />
Figura 5.28 Exemplos de pirómetros de radiação infravermelha. 129<br />
Figura 5.29 Moléculas de cristais líqui<strong>do</strong>s dispostas em hélice. 130<br />
Figura 5.30 Anéis de humor feitos de cristais líqui<strong>do</strong>s. 130<br />
Figura 5.31 Tiras termométricas de cristais líqui<strong>do</strong>s. 131<br />
Figura 5.32 Tensão eléctrica nos terminais de um dío<strong>do</strong> de Silício polariza<strong>do</strong> directamente<br />
com uma corrente de 10 μA em função da temperatura<br />
(www.lakeshore.com/temp/sen/sd670_po.html). 132
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Figura 6.1 Funções termométricas R( q ) R0<br />
obtidas por ajuste quadrático e cúbico <strong>do</strong>s<br />
cinco pontos de calibração. 142<br />
Figura 6.2 Função termométrica R( q ) R0<br />
obtida por ajuste quadrático e cúbico <strong>do</strong>s<br />
quatro pontos de calibração correspondentes a temperaturas positivas<br />
(incluin<strong>do</strong> o zero). 142<br />
Figura 6.3 <strong>Temperatura</strong> em função da resistência, q ( R)<br />
, para o TRP Pt-100 calibra<strong>do</strong>. 143<br />
Figura 6.4 Dispositivo constituí<strong>do</strong> por um bloco de cobre e um elemento peltier onde<br />
foram incorpora<strong>do</strong>s os diversos termómetros a comparar. 144<br />
Figura 6.5 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s pontos<br />
experimentais para o termopar 1. 147<br />
Figura 6.6 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 1 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e cúbico) e não<br />
calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais). 148<br />
Figura 6.7 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s pontos<br />
experimentais para o termopar 2 148<br />
Figura 6.8 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 2 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e cúbico). 149<br />
Figura 6.9 Comparação <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 com a curva teórica para o termopar tipo T<br />
(srdata.nist.gov/its90/<strong>do</strong>wnload/type_t.tab). 150<br />
Figura 6.10 Erros <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 relativamente à curva teórica e erros após<br />
calibração <strong>do</strong> termopar 2. 150<br />
Figura 6.11 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />
T = 298,15K , para o termístor 1. 151<br />
consideran<strong>do</strong> 0<br />
Figura 6.12 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 1 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos experimentais à<br />
equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais <strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ). 152<br />
Figura 6.13 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />
T = 298,15K , para o termístor 2. 153<br />
consideran<strong>do</strong> 0<br />
Figura 6.14 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 2 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos experimentais à<br />
equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais <strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ). 153<br />
Figura 6.15 <strong>Temperatura</strong> lida no termómetro de mercúrio versus temperatura de referência<br />
(dada pelo TRP Pt-100). 154<br />
Figura 6.16 Erros na utilização <strong>do</strong> termómetro de mercúrio calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e<br />
quadrático) e não calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais). 154<br />
Figura 6.17 Princípio de operação de uma rede de Bragg em fibra óptica. 156<br />
Figura 6.18 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da rede medida<br />
com o TRP Pt-100 (antes da rotura). 158<br />
Figura 6.19 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da rede medida<br />
com o TRP Pt-100 (repetida). 159<br />
188
189<br />
Índice de figuras<br />
Figura 6.20 Erros na utilização da rede de Bragg em função da temperatura medida com o<br />
TRP Pt-100 (para o ajuste linear). 159<br />
Figura 6.21 Esquema experimental para caracterização <strong>do</strong> termómetro de Brillouin. 162<br />
Figura 6.22 Calibração <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno utiliza<strong>do</strong> para variar a<br />
temperatura da fibra óptica. 162<br />
Figura 6.23 Erros <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno relativamente à temperatura<br />
estabilizada obtida pelo TRP calibra<strong>do</strong>. 163<br />
Figura 6.24 Desvio em frequência da radiação rectro-reflectida em função da temperatura<br />
da fibra óptica.<br />
Figura 6.25 Esquema da montagem experimental para o estu<strong>do</strong> da lei de Stefan-<br />
Boltzmann: V – voltímetro; A – amperímetro; e - fonte de tensão variável (0<br />
163<br />
– 12V); L – lâmpada com filamento de tungsténio. 164<br />
Figura 6.26 Potência na termopilha em função da quarta potência da temperatura <strong>do</strong><br />
filamento da lâmpada. 166<br />
Figura 6.27 Logaritmo da potência na termopilha em função <strong>do</strong> logaritmo da temperatura<br />
<strong>do</strong> filamento da lâmpada. 166<br />
Figura 7.1 Diagrama esquemático das máquinas de Carnot utilizadas para estabelecer a<br />
escala termodinâmica absoluta de temperatura (Anacleto, 2004). 168<br />
Figura 7.2 Diagrama de fase para a água. O ponto triplo corresponde à temperatura de<br />
273,15 K e à pressão de 612 Pa. 175
A1 Certifica<strong>do</strong> de calibração <strong>do</strong> Pt-100<br />
191
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Laboratório da Metrologia da <strong>Temperatura</strong><br />
Instituto Electrotécnico Português<br />
http://www.iep.pt<br />
192
A2 Laboratório de <strong>Temperatura</strong> – IPQ<br />
193
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Instituto Português da Qualidade<br />
Laboratório de <strong>Temperatura</strong><br />
http://www.ipq.pt/backFiles/LTE.pdf<br />
194
A3 Laboratórios de <strong>Temperatura</strong> acredita<strong>do</strong>s<br />
Instituto Português de Acreditação – IPAC<br />
http://www.ipac.pt/pesquisa/acredita.asp<br />
195
A4 Procedimento experimental<br />
Apresenta-se neste anexo os materiais utiliza<strong>do</strong>s e os procedimentos nas<br />
actividades experimentais de determinação da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço e da<br />
condutividade térmica <strong>do</strong> cobre.<br />
1. Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> aço pelo méto<strong>do</strong> das misturas<br />
Material<br />
• Calorímetro (vaso calorimétrico + agita<strong>do</strong>r + termómetro)<br />
• Gobelé<br />
• Disco eléctrico<br />
• Peça de aço presa com um fio<br />
• Água<br />
• Vaso de Dewer (Garrafa termo)<br />
• 2 Termómetros<br />
• Balança<br />
Procedimento<br />
Deve seguir-se a sequência apresentada, visto o equilíbrio térmico demorar algum<br />
tempo a atingir-se<br />
1. Determinação da massa e da temperatura inicial da peça de aço<br />
• Colocar água no gobelé, e aquecê-la no disco eléctrico<br />
• Determinar a massa da peça de aço, e registar o seu valor maço<br />
• Transferir a água quente para a garrafa termo<br />
• Introduzir a peça de aço suspensa por um fio no interior da garrafa termo e<br />
fechá-la<br />
• Introduzir o termómetro na tampa de mo<strong>do</strong> a que o sensor fique no seio da água<br />
• Esperar que se atinja o equilíbrio térmico e registar o valor dessa temperatura<br />
θaço<br />
197
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
2. Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro<br />
• Pesar o calorímetro e registar o valor da massa<br />
• Colocar água no calorímetro, pesar novamente e, por diferença, determinar a<br />
massa da água introduzida m1<br />
• Agitar a água e logo que seja atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico registar a<br />
temperatura, θ1<br />
• Colocar água no gobelé, aquecer a água, agitan<strong>do</strong>-a até se atingir uma dada<br />
temperatura, θ2<br />
• Transferir a água quente para o calorímetro e tapar<br />
• Agitar para uniformizar a mistura e seguir a evolução da temperatura, registar o<br />
valor máximo atingi<strong>do</strong> θmistura<br />
• Medir a massa total (<strong>do</strong> calorímetro + água fria + água quente) e determinar a<br />
massa da água quente lançada no calorímetro, m2<br />
• Calcular a quantidade de energia transferida para o calorímetro mais água fria,<br />
usan<strong>do</strong> o princípio da conservação da energia.<br />
• Determinar o valor da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro e determinar a<br />
quantidade equivalente de água.<br />
3. Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> aço<br />
• Determinar a massa <strong>do</strong> calorímetro limpo e seco<br />
• Colocar água no calorímetro, de mo<strong>do</strong> a que o corpo a introduzir fique<br />
submerso; voltar a pesar e determinar, por diferença, a massa de água<br />
introduzida, mágua<br />
• Tapar, agitar a água, logo que seja atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico registar a<br />
temperatura, θágua<br />
• Retirar a peça da garrafa termo e introduzi-la no calorímetro, o mais<br />
rapidamente possível.<br />
• Agitar a água e seguir a evolução da temperatura<br />
• Atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico, registar a temperatura, θf<br />
Tabelas de registo<br />
Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro<br />
m1 θ1 θ2 θmistura m2<br />
198
Determinação da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço<br />
mágua maço θágua θaço θf<br />
199<br />
A4 Procedimento experimental<br />
Questões a discutir com os alunos, poden<strong>do</strong> conduzir a alterações no<br />
procedimento ou a procedimentos diferentes com diferentes grupos para<br />
comparações de resulta<strong>do</strong>s<br />
• Na determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro a deve usar-se uma<br />
quantidade de água tal que a energia cedida pela água quente não provoque uma<br />
acentuada variação de temperatura <strong>do</strong> sistema. Porquê?<br />
• Seria preferível partir de água quente no calorímetro e adicionar água fria?<br />
• Na determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> aço será indiferente introduzir a peça<br />
quente na água fria <strong>do</strong> calorímetro ou a peça fria na água quente <strong>do</strong> calorímetro?<br />
2. Determinação da condutividade térmica <strong>do</strong> cobre<br />
Material<br />
O material utiliza<strong>do</strong> constitui um kit da Phywe<br />
• Dois suportes universais<br />
• Grarras e nós<br />
• Barra de cobre com 10 cavidades para encaixes <strong>do</strong>s termómetros e isolada<br />
lateralmente, excepto no extremo que encaixa no vaso calorimétrico<br />
• Vaso calorimétrico, com encaixe na parte inferior para a barra<br />
• Vaso calorimétrico<br />
• Massa térmica<br />
• Resistência eléctrica<br />
• 2 termómetros<br />
• Medi<strong>do</strong>r digital de temperatura<br />
• Balança, craveira, cronómetro
<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />
Procedimento<br />
• Fazer a montagem de acor<strong>do</strong> com a a fotografia da Figura 3.5<br />
No contacto da barra de cobre com o vaso calorimétrico superior usar massa<br />
térmica, a outra extremidade fica imersa na mistura de água e gelo fundente<br />
• Determinar a massa <strong>do</strong> vaso calorimétrico inferior<br />
1. Determinação <strong>do</strong> gradiente de temperatura ao longo da barra<br />
• Medir o diâmetro da barra e a distância entre as cavidades<br />
• Colocar água no vaso calorimétrico superior<br />
• Colocar água e gelo fundente no vaso calorimétrico inferior<br />
• Ligar a resistência eléctrica para aquecer a água até à ebulição e mantê-la<br />
• Deixar que ao longo da barra se atinja um fluxo estacionário de energia, que é<br />
observa<strong>do</strong> pela constância da temperatura nas cavidades da barra.<br />
• Medir a temperatura em cada cavidade ao longo da barra, em regime<br />
estacionário<br />
• Construir o gráfico da temperatura em função da posição da cavidade na barra<br />
2. Determinação <strong>do</strong> fluxo de energia ao longo da barra<br />
• Com a água <strong>do</strong> vaso calorimétrico inferior a uma temperatura o mais próximo<br />
possível de 0 ºC iniciar a <strong>medição</strong> da elevação da temperatura da água ao longo<br />
<strong>do</strong> tempo<br />
• Determinar a massa <strong>do</strong> conjunto vaso calorimétrico inferior + água e calcular a<br />
massa da água<br />
• Construir o gráfico da temperatura da água em função <strong>do</strong> tempo<br />
3. Determinar a condutividade térmica pela expressão (3.10)<br />
Questões a discutir com os alunos<br />
• Discutir as principais fontes de erro da experiência<br />
• Por que é que na determinação <strong>do</strong> fluxo de energia a água no vaso inferior deve<br />
estar o mais próximo possível de 0 ºC?<br />
200