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Temperatura e sua medição - Universidade do Porto

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<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Alcinda Maria da Costa Anacleto<br />

Departamento de Física<br />

Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />

2007


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Alcinda Maria da Costa Anacleto<br />

Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> para<br />

obtenção <strong>do</strong> grau de Mestre em Física para o Ensino<br />

Departamento de Física<br />

Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />

2007


I often say that when you can measure what you are speaking about, and<br />

express it in numbers, you know something about it; but when you cannot<br />

measure it, when you cannot express it in numbers, your knowledge is of a<br />

meagre and unsatisfactory kind.<br />

i<br />

Lord Kelvin<br />

Uma teoria tem tanto mais impacte quanto maior for a simplicidade das <strong>sua</strong>s<br />

premissas, quanto mais diversas forem as coisas relacionadas e quanto maior for<br />

a <strong>sua</strong> área de aplicabilidade. Daí a impressão profunda que a Termodinâmica<br />

clássica me causou. É a única teoria física de conteú<strong>do</strong> universal a respeito da<br />

qual estou convenci<strong>do</strong> que, no quadro da aplicabilidade <strong>do</strong>s seus conceitos<br />

básicos, nunca será ultrapassada. Somente por estas razões é uma parte muito<br />

importante da formação de um físico.<br />

Albert Einstein<br />

Deve-se dar mais crédito à observação <strong>do</strong> que às teorias, e a estas só até<br />

ao ponto em que são confirmadas pelos factos observa<strong>do</strong>s.<br />

Aristóteles<br />

A natureza não esconde os seus segre<strong>do</strong>s por malícia, mas devi<strong>do</strong> à <strong>sua</strong><br />

própria imensidão.<br />

Albert Einstein<br />

Ao meu mari<strong>do</strong>, Joaquim, e aos meus filhos, Joaquim e Inês.


Agradecimentos<br />

Ao meu orienta<strong>do</strong>r, Professor Doutor Manuel Joaquim Bastos Marques, é devi<strong>do</strong><br />

um agradecimento especial, pela disponibilidade que sempre manifestou, pelo seu<br />

inestimável apoio e incentivo, e pelas <strong>sua</strong>s valiosas sugestões científicas de cariz teórico<br />

e prático.<br />

Agradeço ao Eng. Paulo Cabral, responsável pelo laboratório de Metrologia da<br />

<strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> Instituto Electrotécnico Português, pela simpatia demonstrada e pela<br />

calibração <strong>do</strong> termómetro que foi usa<strong>do</strong> como referência no trabalho experimental. É<br />

também devida uma palavra de agradecimento ao técnico <strong>do</strong> laboratório, Sr. Inácio<br />

Gonçalves, que realizou a calibração e que esclareceu amavelmente algumas questões<br />

com ela relacionadas.<br />

Ao Departamento de Física da Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>,<br />

agradeço a disponibilidade <strong>do</strong>s seus Laboratórios e, em particular, da oficina para a<br />

construção de algum equipamento.<br />

Ao INESC-<strong>Porto</strong>, um agradecimento por disponibilizar o laboratório e o<br />

equipamento necessários à realização da experiência <strong>do</strong> termómetro de Brillouin.<br />

Ao IFIMUP, agradeço a construção <strong>do</strong> termopar Cobre-Constantan.<br />

Um obriga<strong>do</strong> à minha colega e amiga Silvina por me ouvir durante as caminhadas e<br />

pela revisão <strong>do</strong> resumo em Francês. E à minha colega e amiga Anabela Coelho agradeço<br />

os comentários sobre a Tese.<br />

Finalmente, uma palavra de agradecimento a to<strong>do</strong>s os que, de alguma forma,<br />

contribuíram para a realização deste trabalho.<br />

iii


Sumário<br />

A temperatura é, provavelmente, uma das grandezas físicas mais medidas e<br />

controladas. A temperatura está de algum mo<strong>do</strong> presente nas mais variadas situações,<br />

desde o nosso dia-a-dia até à investigação científica. As grandezas e os fenómenos físicos<br />

dependem quase sempre da temperatura, o que a torna um parâmetro da maior relevância.<br />

Além disso é uma variável importante na Termodinâmica, a qual é parte importante <strong>do</strong>s<br />

currículos <strong>do</strong> ensino básico e secundário.<br />

O trabalho apresenta<strong>do</strong> centra-se no estu<strong>do</strong> teórico e experimental da temperatura e<br />

da <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>.<br />

Numa primeira parte são aborda<strong>do</strong>s os conceitos fundamentais da Termodinâmica<br />

necessários para uma melhor compreensão <strong>do</strong>s tópicos seguintes, introduzin<strong>do</strong>-se de<br />

seguida os fundamentos de metrologia de temperatura. Estuda-se a problemática da<br />

<strong>medição</strong> de temperatura na exploração <strong>do</strong>s diversos tipos de termómetros e <strong>do</strong>s<br />

princípios físicos que lhes são subjacentes.<br />

Apresentam-se de seguida o resulta<strong>do</strong> de uma calibração de um termómetro de<br />

resistência de platina e uma intercomparação e calibração de vários termómetros, alguns<br />

<strong>do</strong>s quais basea<strong>do</strong>s em tecnologias de fibra óptica. Outras actividades experimentais,<br />

directamente relacionadas com alguns <strong>do</strong>s conceitos termodinâmicos aborda<strong>do</strong>s, são<br />

também apresentadas.<br />

Finalmente, o trabalho é concluí<strong>do</strong> apresentan<strong>do</strong>-se uma discussão centrada na<br />

definição teórica de temperatura absoluta, com base nos conceitos de Termodinâmica, e<br />

na possibilidade de definir temperatura com base em leis fundamentais da Física e da<br />

constante de Boltzmann.<br />

v


Abstract<br />

Nowadays, temperature is probably the most controlled and measured physical<br />

entity. Temperature is present in a lot of situations from scientific research to day-life.<br />

The physical phenomena and values are temperature dependent, making it an important<br />

parameter. Moreover it is a fundamental parameter in Thermodynamics; which is an<br />

important topic in Basic and Secondary School curricula.<br />

This work is built around the theoretical and experimental study of temperature and<br />

it measurement.<br />

In a first part fundamental concepts from Thermodynamics are touched. These<br />

concepts are needed to a better understanding of the next topics followed by the<br />

fundamentals of temperature metrology. The problems linked to the measurement of<br />

temperature in the context of the different thermometers, together with the physical<br />

phenomena relevant to their work are discussed.<br />

In a second part we present the calibration of a platinum thermometer in a reference<br />

laboratory and a comparison and calibration of several thermometers, some of them<br />

based on optical fibre technology. Some other experimental activities, related to some of<br />

the thermodynamic concepts discussed, are also presented.<br />

The work is concluded with a discussion focused in the theoretical definition of<br />

absolute temperature based on the Thermodynamic concepts and in the possibility of a<br />

new definition of temperature based on the fundamental laws of Physics and on the<br />

Boltzmann constant.<br />

vii


Résumé<br />

Aujourd’hui, la température est probablement l'entité physique la plus contrôlée et<br />

la plus mesurée. La température est présente dans beaucoup de situations soit dans la<br />

recherche scientifique soit dans notre quotidien. Les phénomènes et les valeurs physiques<br />

dépendent de la température, ce qui la rend un paramètre important. En plus c'est un<br />

paramètre fondamental en Thermodynamique qui est une matière importante dans des<br />

programmes d'études d'école secondaire et de base.<br />

Ce travail est établi autour de l'étude théorique et expérimentale de la température<br />

et de sa mesure.<br />

Dans une première partie, sont touchés des concepts fondamentaux de la<br />

Thermodynamique. Ces concepts sont nécessaires pour une meilleure compréhension des<br />

prochaines matières suivies des principes fondamentaux de la métrologie de la<br />

température. On étudie les problèmes liés à la mesure de la température dans le contexte<br />

des différents thermomètres, ainsi que les phénomènes physiques qui les concernent.<br />

Ensuite, on présente le calibrage d'un thermomètre de platine dans un laboratoire de<br />

référence et une comparaison et un calibrage de plusieurs thermomètres, certains d'entre<br />

eux basés sur la technologie de fibre optique. Quelques autres activités expérimentales,<br />

directement rapportées à certains des concepts thermodynamiques discutés, sont aussi<br />

présentées.<br />

On conclut le travail avec une discussion focalisée dans la définition théorique de<br />

la température absolue basée sur les concepts thermodynamiques et dans la possibilité<br />

d'une nouvelle définition de la température basée sur les lois fondamentales de la<br />

physique et sur la constante de Boltzmann.<br />

ix


Índice<br />

1 Introdução...................................................................................................................... 1<br />

1.1 Objectivos ............................................................................................................. 1<br />

1.2 A relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.......................................................................................... 1<br />

1.3 Enquadramento curricular..................................................................................... 2<br />

1.4 Estrutura da Tese................................................................................................... 6<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica............................................................................ 9<br />

2.1 Domínio da Termodinâmica ................................................................................. 9<br />

2.2 Definições fundamentais..................................................................................... 12<br />

2.2.1 Sistema, vizinhança e fronteira .................................................................. 12<br />

2.2.2 Propriedades de um sistema ....................................................................... 13<br />

2.2.3 Variáveis intensivas, extensivas e conjugadas ........................................... 14<br />

2.2.4 Equilíbrio termodinâmico........................................................................... 14<br />

2.2.5 Trabalho e calor.......................................................................................... 15<br />

2.2.6 Ligações ..................................................................................................... 16<br />

2.2.7 Processos termodinâmicos ......................................................................... 17<br />

2.2.8 Fonte de calor e fonte de trabalho .............................................................. 18<br />

2.3 Primeira Lei da Termodinâmica e Calor............................................................. 19<br />

2.3.1 Trabalho adiabático e energia interna......................................................... 19<br />

2.3.2 Formulação matemática da Primeira Lei.................................................... 20<br />

2.4 A Segunda Lei da Termodinâmica...................................................................... 21<br />

2.4.1 Enuncia<strong>do</strong>s de Kelvin-Planck e de Clausius da 2ª Lei ............................... 22<br />

2.4.2 Processos reversíveis e irreversíveis .......................................................... 24<br />

2.4.3 O ciclo e o teorema de Carnot .................................................................... 25<br />

3 Lei zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong>................................................................. 27<br />

3.1 Noção intuitiva de temperatura ........................................................................... 27<br />

3.1.1 <strong>Temperatura</strong> como sensação ...................................................................... 27<br />

3.1.2 Capacidade térmica .................................................................................... 28<br />

3.1.3 Capacidade térmica mássica da água; a caloria.......................................... 32<br />

3.1.4 Condutividade térmica ............................................................................... 33<br />

3.2 Conceito de temperatura ..................................................................................... 39<br />

3.2.1 Equilíbrio térmico ...................................................................................... 39<br />

3.2.2 Lei zero da Termodinâmica........................................................................ 40<br />

3.2.3 Definição de temperatura ........................................................................... 41<br />

3.2.4 O ponto de vista microscópio..................................................................... 46<br />

3.3 Radiação térmica................................................................................................. 49<br />

3.3.1 A teoria clássica da radiação <strong>do</strong> corpo negro ............................................. 55<br />

3.3.2 A distribuição de Boltzmann...................................................................... 62<br />

3.3.3 A teoria de Planck da radiação <strong>do</strong> corpo negro.......................................... 66<br />

4 Metrologia da temperatura........................................................................................... 71<br />

4.1 Introdução ........................................................................................................... 71<br />

4.2 Breve história da <strong>medição</strong> de temperatura.......................................................... 72<br />

4.3 Termometria e escalas termométricas................................................................. 79<br />

4.3.1 Escalas de temperaturas e princípios gerais ............................................... 79<br />

4.3.2 Termómetro de gás a volume constante ..................................................... 83<br />

4.3.3 Calibração e padrões de medida................................................................. 86<br />

4.3.4 Padrão de temperatura termodinâmica ....................................................... 89<br />

4.4 A Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong> (ITS-90) ............................................... 89<br />

xi


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação...................................................... 93<br />

5.1 Termómetros de dilatação ................................................................................... 93<br />

5.1.1 Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong>........................................................... 93<br />

5.1.2 Termómetros de dilatação de sóli<strong>do</strong>s (termómetro bimetálico) ................. 98<br />

5.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s no efeito Seebeck........................................................... 99<br />

5.2.1 Constituição................................................................................................ 99<br />

5.2.2 Características gerais ................................................................................ 100<br />

5.2.3 Princípio de funcionamento...................................................................... 100<br />

5.2.4 Efeito Seebeck .......................................................................................... 101<br />

5.2.5 O termopar................................................................................................ 103<br />

5.2.6 Efeito Peltier............................................................................................. 105<br />

5.2.7 Efeito de Thomson ................................................................................... 107<br />

5.2.8 As leis <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong>s termopares................................................ 108<br />

5.2.9 Termopares mais u<strong>sua</strong>is e <strong>sua</strong>s características ......................................... 111<br />

5.3 Termómetro de resistência ................................................................................ 114<br />

5.3.1 Termo-resistências metálicas.................................................................... 115<br />

5.3.2 Termístores............................................................................................... 120<br />

5.4 Termómetros de pressão de gás ........................................................................ 122<br />

5.5 Termómetro de radiação infravermelha e visível.............................................. 123<br />

5.5.1 Termopilha ............................................................................................... 123<br />

5.5.2 Pirómetro .................................................................................................. 124<br />

5.6 Outros termómetros e algumas curiosidades..................................................... 129<br />

5.6.1 Termómetros basea<strong>do</strong>s em cristais líqui<strong>do</strong>s ............................................. 130<br />

5.6.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s em dío<strong>do</strong>s............................................................ 131<br />

5.6.3 Termómetro decorativo de Galileu........................................................... 133<br />

5.6.4 Inferência de temperaturas atmosféricas passadas ................................... 133<br />

5.6.5 Determinação da temperatura <strong>do</strong> interior da Terra e de formação das rochas<br />

136<br />

5.6.6 Curiosidades ............................................................................................. 136<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros.......................................................... 139<br />

6.1 Calibração de um TRP (Pt-100)........................................................................ 139<br />

6.1.1 Introdução................................................................................................. 139<br />

6.1.2 Resulta<strong>do</strong> da calibração............................................................................ 140<br />

6.1.3 Curvas de ajuste <strong>do</strong>s pontos de calibração ............................................... 141<br />

6.2 Comparação e calibração de diversos termómetros .......................................... 143<br />

6.2.1 Equipamento experimental utiliza<strong>do</strong> ........................................................ 143<br />

6.2.2 Procedimento experimental ...................................................................... 145<br />

6.2.3 Resulta<strong>do</strong>s da inter-comparação............................................................... 146<br />

6.2.4 Análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s .............................................................................. 146<br />

6.2.5 Caracterização e calibração <strong>do</strong>s termístores............................................. 151<br />

6.2.6 Caracterização e calibração <strong>do</strong> termómetro de mercúrio.......................... 154<br />

6.2.7 Caracterização e calibração de uma rede de Bragg em fibra óptica ......... 155<br />

6.3 Caracterização e calibração de um Termómetro de Brillouin........................... 160<br />

6.3.1 Princípio de funcionamento...................................................................... 160<br />

6.3.2 Caracterização experimental..................................................................... 161<br />

6.4 Caracterização de uma termopilha usan<strong>do</strong> uma lâmpada de filamento de<br />

tungsténio 164<br />

7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta............................................................................................. 167<br />

7.1 Definição de temperatura absoluta.................................................................... 167<br />

7.2 O zero absoluto e eficiência de Carnot.............................................................. 171<br />

7.3 A temperatura absoluta e a dada por um gás..................................................... 172<br />

7.4 <strong>Temperatura</strong> termodinâmica e termómetros primários ..................................... 173<br />

8 Conclusão................................................................................................................... 179<br />

xii


xiii<br />

3 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Referências........................................................................................................................ 181<br />

Índice de figuras................................................................................................................ 185<br />

A1 Certifica<strong>do</strong> de calibração <strong>do</strong> Pt-100......................................................................... 191<br />

A2 Laboratório de <strong>Temperatura</strong> – IPQ .......................................................................... 193<br />

A3 Laboratórios de <strong>Temperatura</strong> acredita<strong>do</strong>s................................................................ 195<br />

A4 Procedimento experimental...................................................................................... 197


1 Introdução<br />

1.1 Objectivos<br />

Com este trabalho pretende-se abordar o conceito de temperatura e a <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>.<br />

A temperatura é provavelmente a grandeza física mais medida e que se revela importante<br />

em contextos muito diversifica<strong>do</strong>s, desde o científico até ao <strong>do</strong> quotidiano.<br />

A temperatura é uma variável essencial em Termodinâmica, área da Física que<br />

aborda os fenómenos físicos <strong>do</strong> ponto de vista macroscópico e cujas leis – em particular<br />

a primeira e a segunda leis – ditam a evolução <strong>do</strong>s sistemas físicos. Por isso, e porque a<br />

Termodinâmica é, com bastante ênfase, parte integrante <strong>do</strong>s programas <strong>do</strong> ensino básico<br />

e secundário (sobretu<strong>do</strong> nos 7º e 10º anos), um outro objectivo <strong>do</strong> presente trabalho é<br />

uma abordagem sucinta <strong>do</strong>s conceitos fundamentais da Termodinâmica.<br />

Como qualquer grandeza física, a temperatura precisa de ser traduzida num número<br />

e respectiva unidade o que nos leva ao problema da <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>. Nesta perspectiva,<br />

pretende-se abordar a metrologia da temperatura e os termómetros utiliza<strong>do</strong>s em diversas<br />

situações e gamas de temperaturas. A Metrologia como ciência da <strong>medição</strong> compreende<br />

to<strong>do</strong>s os aspectos teóricos e práticos relativos à <strong>medição</strong> pelo que é essencial para<br />

assegurar a qualidade das medições e a <strong>sua</strong> validade. Assim pretende-se usar um<br />

termómetro de resistência de platina calibra<strong>do</strong> nas actividades experimentais de<br />

intercomparação de vários termómetros.<br />

Para além <strong>do</strong>s objectivos específicos referi<strong>do</strong>s, pretende-se também desenvolver<br />

actividades experimentais de <strong>medição</strong> de temperatura que envolvam uma diversidade<br />

considerável de instrumentação. Em particular o contacto com alguns termómetros que<br />

envolvem tecnologias de fibra óptica.<br />

1.2 A relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

O enriquecimento a nível científico e tecnológico justificaria, por si só, a escolha<br />

<strong>do</strong> tema aborda<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, as vantagens que advêm deste estu<strong>do</strong> para a actividade<br />

profissional não poderiam deixar de ser realçadas.<br />

1


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Apesar de estar bem presente no quotidiano, a dificuldade <strong>do</strong> conceito de<br />

temperatura é bem patente quan<strong>do</strong> se aborda o conceito <strong>do</strong> ponto de vista científico num<br />

contexto de ensino/aprendizagem. A <strong>sua</strong> relação com as leis da Termodinâmica deve ser<br />

bem estabelecida o que implica uma compreensão abrangente da teoria, nomeadamente,<br />

de definições, de conceitos e de leis.<br />

No ensino das ciências, em particular da Física, a Metrologia, é um pré requisito<br />

importante para promover a relação ensino/aprendizagem, visto as ciências dependerem<br />

<strong>do</strong> conhecimento de grandezas que têm de ser medidas.<br />

Os alunos apresentam, frequentemente, desconhecimento de unidades e grandezas,<br />

têm dificuldades em adequar a linguagem ao significa<strong>do</strong> técnico, de acor<strong>do</strong> com as<br />

normas estabelecidas pelo Sistema Internacional de Medidas (Silva, 2005). Revelam<br />

também dificuldades em realizar procedimentos de <strong>medição</strong>.<br />

São poucos os processos de controlo ou propriedades físicas e químicas <strong>do</strong>s<br />

materiais que não dependam da temperatura. Torna-se assim importante realçar a<br />

necessidade da calibração <strong>do</strong>s sistemas de <strong>medição</strong> de temperatura, particularmente os<br />

sensores que influenciam o processo que está sob estu<strong>do</strong>, de forma a obter<br />

rastreabilidade, medir com a exactidão exigida e com uma incerteza conhecida (Castanho<br />

et al, 2004).<br />

A experiência da maioria <strong>do</strong>s laboratórios de calibração revela que cerca de 15% de<br />

to<strong>do</strong>s os instrumentos, incluin<strong>do</strong> termómetros, estão fora das especificações <strong>do</strong>s<br />

fabricantes (Castanho et al, 2004; Nicholas et al, 1995).<br />

1.3 Enquadramento curricular<br />

A reflexão que tem vin<strong>do</strong> a ser desenvolvida a partir <strong>do</strong>s anos 80 <strong>do</strong> século XX, à<br />

escala internacional, sobre as finalidades da educação científica <strong>do</strong>s jovens levou a que<br />

cada vez mais se acentuem perspectivas mais culturais sobre o ensino das ciências. O seu<br />

objectivo é a compreensão da Ciência e da Tecnologia, das relações entre uma e outra e<br />

das <strong>sua</strong>s implicações na Sociedade e no Ambiente e, ainda, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como os<br />

acontecimentos sociais se repercutem nos próprios objectos de estu<strong>do</strong> da Ciência e da<br />

Tecnologia (Ministério da Educação, 2001). Os pesquisa<strong>do</strong>res têm aponta<strong>do</strong> a<br />

importância das actividades experimentais como estratégia <strong>do</strong> ensino da Física para<br />

minimizar dificuldades de se aprender e de se ensinar de mo<strong>do</strong> significativo e consistente<br />

(Moraes et al, 2000). As actividades experimentais são ainda, no processo de<br />

ensino/aprendizagem, promotoras <strong>do</strong> desenvolvimento de competências, permitin<strong>do</strong><br />

2


3<br />

1 Introdução<br />

recuperar atrasos e contribuir para um nível de literacia e cultural mais eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

alunos que frequentam a escola, aproximan<strong>do</strong>-os <strong>do</strong>s seus colegas de países mais<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s (Ministério da Educação, 2001).<br />

Sob o ponto de vista da ciência, a visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> depende da compreensão <strong>do</strong>s<br />

fenómenos e das leis que regem esses fenómenos. Esse conhecimento, por <strong>sua</strong> vez, está<br />

vincula<strong>do</strong> ao conhecimento quantitativo das grandezas que constituem esses fenómenos.<br />

Em Física a dificuldade de aprendizagem conceptual está relacionada com a falta<br />

de compreensão da quantificação de grandezas físicas fundamentais como comprimento,<br />

tempo, massa, temperatura e <strong>do</strong>s conceitos matemáticos como o da fracção, medida e<br />

número decimal (Cunha et al, 2004). Talvez por isso o tema Grandezas e Medidas é<br />

reconheci<strong>do</strong> em <strong>do</strong>cumentos curriculares oficiais portugueses como sen<strong>do</strong> promotor da<br />

aprendizagem conceptual.<br />

Medições de grandezas físicas em geral, e em particular de temperatura, estão<br />

intimamente associadas ao trabalho experimental, que está presente em to<strong>do</strong>s os níveis de<br />

ensino associa<strong>do</strong> à Física e à Química.<br />

Assim no Ensino Básico uma das finalidades <strong>do</strong> ensino é: A compreensão da<br />

importância das medições, classificações e representações como forma de olhar para o<br />

mun<strong>do</strong> perante a <strong>sua</strong> diversidade e complexidade (Ministério da Educação, 2001).<br />

No programa de Física e Química A <strong>do</strong> Ensino Secundário, um <strong>do</strong>s objectivos é a<br />

realização de registos e de medições, utilizan<strong>do</strong> instrumentos e unidades adequadas, nas<br />

actividades experimentais. Pode ler-se: “As actividades desenvolvem-se em continuidade<br />

e articulação com a parte prática de Química, onde os alunos foram sensibiliza<strong>do</strong>s para<br />

o erro inerente à <strong>medição</strong>, <strong>sua</strong>s causas, assim como aos procedimentos a a<strong>do</strong>ptar com o<br />

fim de o minimizar e ainda para o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s algarismos significativos. Os alunos<br />

devem, portanto, continuar a ter em conta estes aspectos em todas as actividades.<br />

Terão oportunidade de, aos poucos, aprofundarem os conhecimentos sobre erros<br />

experimentais”.<br />

Nos erros experimentais está inserida a problemática da calibração <strong>do</strong>s<br />

instrumentos de <strong>medição</strong>, mas parte-se <strong>do</strong> pressuposto que estes estão calibra<strong>do</strong>s,<br />

ten<strong>do</strong>-se apenas em conta a sensibilidade da escala utilizada para a apresentação <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s. Na verdade, o conceito de calibração, de cadeia metrológica e de<br />

rastreabilidade <strong>do</strong>s instrumentos não são aborda<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>, dever-se-ia transmitir que<br />

estes conceitos são muito importantes e que, em geral, os instrumentos não se adquirem<br />

calibra<strong>do</strong>s. Muitas vezes a calibração de um instrumento tem um custo superior ao <strong>do</strong><br />

próprio instrumento e, além disso, a calibração tem de ser realizada periodicamente.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Os conceitos trata<strong>do</strong>s neste trabalho são estuda<strong>do</strong>s, em parte, no ensino básico,<br />

principalmente no 7º ano de escolaridade e no ensino secundário, em toda a componente<br />

de Física <strong>do</strong> programa de Física e Química A <strong>do</strong> 10º ano.<br />

No 7º ano de escolaridade um <strong>do</strong>s temas a estudar é o da “Energia”, ten<strong>do</strong>,<br />

sobretu<strong>do</strong>, uma contextualização social. Os conceitos de temperatura, calor e energia<br />

interna já são aborda<strong>do</strong>s nesta altura. Estes conceitos também são muito foca<strong>do</strong>s na área<br />

da Química, em diversas situações e em vários anos de escolaridade.<br />

No 10º ano de escolaridade, em toda a componente da Física, os conceitos<br />

aborda<strong>do</strong>s neste trabalho são aí explora<strong>do</strong>s. Assim, pode ler-se no programa de Física e<br />

Química A, “O programa <strong>do</strong> 10º ano desenvolve-se em torno da compreensão da Lei da<br />

Conservação da Energia, permitin<strong>do</strong> o enquadramento de diversos conceitos (de áreas<br />

como a Termodinâmica, a Mecânica e a Electricidade) numa perspectiva de educação<br />

ambiental”. Mais em pormenor, os objectivos de ensino são:<br />

MÓDULO INICIAL – Das fontes de energia ao utiliza<strong>do</strong>r<br />

1. Situação energética mundial e degradação da energia<br />

• Fontes de energia e estimativas de “consumos” energéticos nas principais<br />

actividades humanas<br />

• Transferências e transformações de energia<br />

• Degradação de energia. Rendimento<br />

• Uso racional das fontes de energia<br />

2. Conservação da energia<br />

• Sistema, fronteira e vizinhança. Sistema isola<strong>do</strong><br />

• Energia mecânica<br />

• Energia interna. <strong>Temperatura</strong><br />

• Calor, radiação, trabalho e potência<br />

• Lei da Conservação da Energia. Balanços energéticos<br />

UNIDADE 1 – Do Sol ao aquecimento<br />

Esta unidade tem como objectivo central a compreensão de que os fenómenos que<br />

ocorrem na Natureza obedecem a duas leis gerais – a 1ª e a 2ª leis da Termodinâmica –<br />

que, em conjunto, regem a evolução <strong>do</strong> Universo: o mo<strong>do</strong> como as mudanças se<br />

processam é condiciona<strong>do</strong> por uma característica sempre presente – a conservação da<br />

energia em sistemas isola<strong>do</strong>s.<br />

4


5<br />

1 Introdução<br />

1. Energia – <strong>do</strong> Sol para a Terra<br />

• Balanço energético da Terra<br />

• Emissão e absorção de radiação. Lei de Stefan-Boltzmann. Lei <strong>do</strong> deslocamento<br />

de Wien<br />

• Sistema termodinâmico<br />

• Equilíbrio térmico. Lei Zero da Termodinâmica<br />

• A radiação solar na produção da energia eléctrica – painel fotovoltaico<br />

2. A energia no aquecimento/arrefecimento de sistemas<br />

• Mecanismos de transferência de calor: condução e convecção<br />

• Materiais condutores e isola<strong>do</strong>res <strong>do</strong> calor. Condutividade térmica<br />

• 1ª Lei da Termodinâmica<br />

• Degradação da energia. 2ª Lei da Termodinâmica<br />

• Rendimento<br />

UNIDADE 2- Energia em movimentos<br />

Aqui, pretende-se continuar a explorar a ideia da conservação da energia em<br />

sistemas isola<strong>do</strong>s, dan<strong>do</strong> agora ênfase apenas a sistemas puramente mecânicos.<br />

1. Transferências e transformações de energia em sistemas complexos –<br />

aproximação ao modelo da partícula material<br />

• Transferências e transformações de energia em sistemas complexos (meios de<br />

transporte)<br />

• Sistema mecânico. Modelo da partícula material (centro de massa)<br />

• Validade da representação de um sistema pelo respectivo centro de massa<br />

• Trabalho realiza<strong>do</strong> por forças constantes que actuam num sistema em qualquer<br />

direcção<br />

• A acção das forças dissipativas<br />

2. A energia de sistemas em movimento de translação<br />

• Teorema da energia cinética<br />

• Trabalho realiza<strong>do</strong> pelo peso<br />

• Peso como força conservativa<br />

• Energia potencial gravítica<br />

• Conservação da energia mecânica<br />

• Acção das forças não conservativas<br />

• Rendimento. Dissipação de energia


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

1.4 Estrutura da Tese<br />

Embora não sen<strong>do</strong> a parte central da Tese, optou-se por apresentar a teoria<br />

relacionada com a temperatura e termómetros seguin<strong>do</strong> algumas obras apresentadas na<br />

bibliografia. Tal opção permite ao leitor encontrar num único lugar não só a parte<br />

inova<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> trabalho como também conceitos com ela relacionada.<br />

Este trabalho está organiza<strong>do</strong> em oito capítulos. No presente capítulo são<br />

apresenta<strong>do</strong>s os objectivos <strong>do</strong> trabalho, a relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e a <strong>sua</strong> inserção nos<br />

currículos da disciplina de Física e Química A.<br />

Os segun<strong>do</strong> e terceiro capítulos são em grande parte transcrições de (Anacleto,<br />

2004) e enriqueci<strong>do</strong>s com algumas actividades experimentais.<br />

Os conceitos básicos de Termodinâmica são aborda<strong>do</strong>s no segun<strong>do</strong> capítulo, onde<br />

se apresentam as leis fundamentais e as principais definições.<br />

No terceiro capítulo aborda-se conceptualmente o conceito de temperatura e a <strong>sua</strong><br />

relação com a lei zero da Termodinâmica. É também apresentada sucintamente uma<br />

interpretação microscópica da temperatura deixan<strong>do</strong>-se uma discussão mais aprofundada<br />

da temperatura absoluta para o sétimo capítulo. Estan<strong>do</strong> a radiação térmica directamente<br />

relacionada com a temperatura <strong>do</strong>s corpos e, por isso, usada na <strong>medição</strong> de temperatura,<br />

faz-se também um estu<strong>do</strong> das principais leis da radiação.<br />

O quarto capítulo é dedica<strong>do</strong> à Metrologia da temperatura. Inicia-se com uma breve<br />

história da termometria, seguin<strong>do</strong>-se uma abordagem <strong>do</strong>s aspectos metrológicos e a<br />

escala ITS-90.<br />

O quinto capítulo aborda tipos de termómetros, a <strong>sua</strong> constituição e os princípios<br />

físicos que lhes estão associa<strong>do</strong>s.<br />

O sexto capítulo é pre<strong>do</strong>minantemente de ín<strong>do</strong>le prática. São tratadas actividades<br />

experimentais, que incluem a calibração de um termómetro de resistência de platina, a<br />

intercomparação e calibração de diversos termómetros.<br />

O sétimo capítulo é dedica<strong>do</strong> ao problema teórico da definição de temperatura<br />

absoluta que ainda não está fecha<strong>do</strong>. O problema é actual e enquadra-se num avanço<br />

científico e tecnológico associa<strong>do</strong> à <strong>medição</strong> de temperatura e à qualidade da medida. A<br />

primeira parte <strong>do</strong> capítulo aborda a definição encontrada habitualmente na literatura,<br />

seguin<strong>do</strong> de perto (Zemansky et al, 1997), (Güémez et al, 1998) e (Anacleto, 2004),<br />

haven<strong>do</strong> transcrições deste último, com o objectivo de confrontá-la com uma nova<br />

redefinição, tratada na segunda parte <strong>do</strong> capítulo.<br />

6


7<br />

1 Introdução<br />

Finalmente, na Conclusão apresentam-se as contribuições <strong>do</strong> trabalho e algumas<br />

dificuldades encontradas.<br />

Como é importante no contexto <strong>do</strong> trabalho apresenta-se em anexo o <strong>do</strong>cumento de<br />

calibração <strong>do</strong> termómetro de platina utiliza<strong>do</strong> como referência nas actividades<br />

experimentais. Também se apresenta em anexo informação sobre o Laboratório de<br />

<strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> IPQ e uma indicação aos laboratórios nacionais de metrologia da<br />

temperatura acredita<strong>do</strong>s.


2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

Este capítulo trata <strong>do</strong>s conceitos básicos de Termodinâmica e é em grande parte<br />

transcrição de (Anacleto, 2004). Uma das dificuldades no estu<strong>do</strong> da Termodinâmica é,<br />

muitas vezes, a falta de uma clara compreensão <strong>do</strong>s seus conceitos e definições. A<br />

reforçar esta dificuldade está também a linguagem usada que, por vezes, conflitua com a<br />

usada no dia-a-dia. Além disso, ainda perpetuam em manuais escolares alguns termos<br />

desadequa<strong>do</strong>s, que tiveram origem no percurso histórico da Termodinâmica, em etapas<br />

onde alguns conceitos não eram bem compreendi<strong>do</strong>s.<br />

Por isso, uma clarificação <strong>do</strong>s conceitos básicos de Termodinâmica, bem como <strong>do</strong>s<br />

termos e definições usa<strong>do</strong>s, afigura-se imprescindível. Uma linguagem pouco reflectida e<br />

usada com ambiguidade, algumas vezes confundin<strong>do</strong> os significa<strong>do</strong>s correntes com os<br />

significa<strong>do</strong>s científicos é por vezes utilizada, o que, alia<strong>do</strong> ao grau de abstracção inerente<br />

a alguns conceitos da Termodinâmica, não facilita o processo de ensino-aprendizagem.<br />

A linguagem não é apenas uma forma convencional de nos exprimirmos, ela é<br />

indissociável da forma de pensar, das representações abstractas inerentes a qualquer<br />

modelo físico-matemático da realidade.<br />

2.1 Domínio da Termodinâmica<br />

Etimologicamente, a palavra Termodinâmica deriva das palavras gregas therme<br />

(calor) e dynamis (potência), sen<strong>do</strong> uma descrição <strong>do</strong>s primeiros esforços para converter<br />

“calor em potência” (Çengel et al, 2001). Segun<strong>do</strong> estes autores, actualmente a palavra<br />

Termodinâmica é utilizada para referir to<strong>do</strong>s os aspectos relaciona<strong>do</strong>s com a energia e as<br />

<strong>sua</strong>s transformações.<br />

Encontra-se na literatura várias definições de Termodinâmica. Para além da já<br />

citada, podemos referir outras:<br />

• É definida frequentemente como a Ciência que estuda a dependência com a<br />

temperatura, de certas propriedades da Matéria.<br />

• Segun<strong>do</strong> Callen a Termodinâmica é o estu<strong>do</strong> das consequências a nível<br />

macroscópico de um elevadíssimo número de coordenadas atómicas que, em virtude de<br />

9


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

um cálculo estatístico de médias, não aparecem explicitamente na descrição<br />

macroscópica <strong>do</strong> sistema (Callen, 1985).<br />

• Para J. Deus, a Termodinâmica trata das transformações energéticas dentro de<br />

um sistema e das transformações energéticas, sob a forma de calor e trabalho, entre um<br />

sistema e o exterior (Deus et al, 2000).<br />

• Para Zemansky é o ramo das ciências maturais que trata das propriedades<br />

macroscópicas da natureza e inclui sempre a coordenada macroscópica temperatura<br />

(Zemansky et al, 1997).<br />

Algumas das definições encontradas para Termodinâmica reforçam concepções<br />

existentes nos alunos para o calor, como por exemplo a dada por Tipler: é a investigação<br />

da temperatura, <strong>do</strong> calor e das trocas de energia (Tipler, 1994).<br />

A Termodinâmica Clássica, ou simplesmente Termodinâmica, ocupa-se <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

das propriedades macroscópicas <strong>do</strong>s sistemas, não assumin<strong>do</strong> um modelo para a<br />

constituição da matéria. O único requisito para que um sistema esteja sob a alçada da<br />

Termodinâmica é que ele seja macroscópico, característica que requer um critério para<br />

ser verificada. O sistema será macroscópico se puder ser descrito por variáveis cuja<br />

especificação e definição sejam totalmente independentes de qualquer assunção acerca da<br />

constituição da matéria ao nível corpuscular (Güémez et al, 1998).<br />

A compreensão da estrutura íntima da matéria, nomeadamente a certeza científica<br />

de existência <strong>do</strong>s átomos é muito recente. Feynman referia-se à importância e dificuldade<br />

em se estabelecer cientificamente a teoria atómica consideran<strong>do</strong> que se, por hipótese,<br />

to<strong>do</strong> o conhecimento fosse destruí<strong>do</strong>, com excepção de apenas um facto científico,<br />

aquele que deveria ser preserva<strong>do</strong> para permitir às gerações vin<strong>do</strong>uras a mais rápida<br />

evolução científica seria o conhecimento de que “a matéria é constituída por átomos”.<br />

É, sem dúvida, um conhecimento recente, embora uma ideia antiga (desde Demócrito).<br />

No entanto, as leis da Termodinâmica são independentes de qualquer conhecimento ou<br />

consideração a nível microscópico.<br />

Há outras áreas da ciência que abordam os sistemas <strong>do</strong> ponto de vista<br />

macroscópico, como por exemplo a Mecânica e a Óptica Geométrica. O que distingue a<br />

Termodinâmica dessas outras áreas são, basicamente, os seguintes aspectos:<br />

- A variável tempo não é considerada explicitamente em Termodinâmica.<br />

- As coordenadas espaciais não são relevantes, ou seja, a Termodinâmica não é<br />

uma teoria de campos.<br />

- A variável temperatura é essencial em Termodinâmica para descrever os sistemas<br />

e as <strong>sua</strong>s propriedades.<br />

10


11<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

Uma abordagem <strong>do</strong>s sistemas em que se tenha em conta a constituição da matéria,<br />

e onde se requer o conhecimento sobre propriedades médias das partículas individuais,<br />

basea<strong>do</strong> no tratamento estatístico <strong>do</strong> comportamento de grandes grupos de partículas é<br />

chamada Termodinâmica Estatística ou Mecânica Estatística.<br />

Embora se possa questionar se os <strong>do</strong>is pontos de vista, o macroscópico e o<br />

microscópico, são ou não incompatíveis, verifica-se que ambos, quan<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>s ao<br />

mesmo sistema, levam às mesmas conclusões. Os <strong>do</strong>is pontos de vista são conciliáveis<br />

porque as poucas propriedades mensuráveis, cuja especificação constitui o ponto de vista<br />

macroscópico, são médias, durante um da<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de tempo, de um grande número de<br />

propriedades microscópicas.<br />

A grandeza física porventura mais largamente utilizada é a energia. Embora se<br />

tenha a percepção intuitiva <strong>do</strong> que é a energia, esta grandeza é difícil de ser definida, ou<br />

mesmo impossível. Talvez a melhor forma de a definir será pelos princípios da<br />

conservação onde está envolvida. A energia pode ser vista como a capacidade de<br />

provocar alterações (Çengel et al, 2001). Para um sistema, a energia traduz a <strong>sua</strong><br />

capacidade, por interacção com o seu meio exterior, de produzir trabalho ou transferir<br />

calor (Deus et al, 2000). Trabalho e calor são assim transferências de energia,<br />

constituin<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is mecanismos gerais de troca de energia entre sistemas.<br />

O conceito de energia é, sem dúvida, o conceito mais unifica<strong>do</strong>r em Física,<br />

obedecen<strong>do</strong> ao Princípio da Conservação da Energia. Este princípio estabelece que<br />

durante uma interacção, se levarmos em conta todas as transformações, verificamos que<br />

há uma grandeza que permanece constante – a energia. A energia pode mudar de forma,<br />

mas a quantidade total permanece constante, isto é, a energia não pode ser criada nem<br />

destruída. Este princípio está expresso na Primeira Lei da Termodinâmica, que referida a<br />

um sistema fecha<strong>do</strong> pode escrever-se 1 D U = Q+ W , onde D U é a variação da energia<br />

interna <strong>do</strong> sistema 2 e Q e W são o calor e o trabalho, respectivamente, as duas interacções<br />

fundamentais para as trocas de energia. U é uma propriedade <strong>do</strong>s sistemas enquanto que<br />

Q e W referem-se a interacções (entre o sistema e a vizinhança) e dependem <strong>do</strong>s<br />

processos que levam à transformação <strong>do</strong> sistema. Por outras palavras, U é uma função de<br />

esta<strong>do</strong> e Q e W são funções de processo.<br />

1 Há autores que defendem que uma formulação mais actual desta lei deve incluir o termo radiação<br />

(Caldeira et al, 2007), embora tal formulação seja controversa (Cruz et al, 2004).<br />

2 Admite-se aqui, sem perda de generalidade conceptual, que as energias potencial e cinética<br />

macroscópicas permanecem constantes durante o processo.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Mesmo observan<strong>do</strong>-se a conservação da energia, nem to<strong>do</strong>s os processos são<br />

possíveis, ou seja, há condições adicionais a impor à forma de como decorrem os<br />

processos termodinâmicos. Estas restrições constituem a Segunda Lei da<br />

Termodinâmica. Como consequência desta lei, verifica-se uma diminuição da energia<br />

disponível para produzir trabalho, o que é caracteriza<strong>do</strong> pela grandeza termodinâmica<br />

entropia: num sistema isola<strong>do</strong> 3 a entropia não pode diminuir. Assim, podemos encarar a<br />

Termodinâmica como a ciência que estuda as interacções entre sistemas e as<br />

propriedades <strong>do</strong>s sistemas numa perspectiva da conservação da energia e da não<br />

diminuição da entropia.<br />

2.2 Definições fundamentais<br />

2.2.1 Sistema, vizinhança e fronteira<br />

O estu<strong>do</strong> de qualquer ramo das ciências começa com a definição de uma região<br />

restrita <strong>do</strong> espaço (ou de uma porção de matéria), recorren<strong>do</strong>-se a uma superfície<br />

fechada, real ou imaginária, chamada fronteira. Se a fronteira for real tem o nome de<br />

parede. A região dentro da fronteira e sobre qual recai a nosso estu<strong>do</strong> é o que<br />

designamos por sistema. Tu<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> sistema e que pode interagir com este chama-se<br />

vizinhança ou exterior, que pode ser considerada outro sistema (ver Figura 2.1). O<br />

conjunto <strong>do</strong> sistema e exterior é o universo. Um sistema pode ser dividi<strong>do</strong> em<br />

subsistemas ou ele próprio ser um subsistema de um outro maior.<br />

exterior<br />

Figura 2.1 Sistema termodinâmico constituí<strong>do</strong> pelos subsistemas A, B e C. A<br />

fronteira separa o sistema <strong>do</strong> meio exterior, e a vizinhança é a<br />

parte <strong>do</strong> exterior que interage com o sistema (Anacleto, 2004).<br />

3 Em rigor, basta que o sistema seja isola<strong>do</strong> termicamente (Güémez et al, 1998).<br />

A<br />

vizinhança<br />

12<br />

B<br />

fronteira<br />

C


13<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

O sistema pode ser fecha<strong>do</strong> ou aberto e isola<strong>do</strong> ou não-isola<strong>do</strong>. É fecha<strong>do</strong> se não<br />

troca substância com o exterior; caso contrário é aberto. É considera<strong>do</strong> isola<strong>do</strong> se não<br />

troca energia com o exterior, caso contrário diz-se não-isola<strong>do</strong>. Encontra-se<br />

frequentemente na literatura, incluin<strong>do</strong> os manuais escolares, a definição de sistema<br />

fecha<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> aquele que não troca matéria com o exterior (Güémez et al, 1998).<br />

No entanto o termo matéria não é adequa<strong>do</strong> por estar associa<strong>do</strong> à massa a qual, pela<br />

relação<br />

2<br />

E = mc , é equivalente a energia 4 . Um sistema termodinâmico fica especifica<strong>do</strong><br />

se se conhecer as <strong>sua</strong>s propriedades físico-químicas e as características da fronteira que o<br />

separa da vizinhança. Se a composição química e as propriedades físicas locais são iguais<br />

em to<strong>do</strong>s os pontos o sistema é dito homogéneo. Quan<strong>do</strong> o sistema é composto de vários<br />

subsistemas homogéneos é designa<strong>do</strong> heterogéneo.<br />

As interacções entre diferentes sistemas têm o nome de contactos termodinâmicos<br />

e dependem da natureza <strong>do</strong>s sistemas e <strong>do</strong> tipo de fronteiras. O esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema é<br />

defini<strong>do</strong> indican<strong>do</strong> o conjunto de propriedades ou variáveis físico-químicas que o<br />

caracterizam. É uma evidência experimental, o facto de que to<strong>do</strong>s os sistemas<br />

termodinâmicos isola<strong>do</strong>s têm esta<strong>do</strong>s, designa<strong>do</strong>s por esta<strong>do</strong>s de equilíbrio, cujas<br />

propriedades permanecem constantes (Güémez et al, 1998).<br />

2.2.2 Propriedades de um sistema<br />

Qualquer característica de um sistema é chamada propriedade ou variável<br />

termodinâmica. A título de exemplo, os sistemas mais simples podem ser caracteriza<strong>do</strong>s<br />

pela pressão P, a temperatura T, o volume V, e a massa m.<br />

Nem todas as propriedades são independentes, algumas são definidas em função<br />

das outras, tal como no caso de um gás a uma pressão muito baixa (gás ideal), para o<br />

qual se verifica a equação de esta<strong>do</strong> PV = n RT , onde n é a quantidade de substância<br />

expressa em moles e R é a constante molar <strong>do</strong>s gases de valor<br />

-1 -1<br />

R = 8,314 J mol K .<br />

Em termodinâmica clássica a estrutura atómica de uma substância não é<br />

considerada, sen<strong>do</strong> a substância tida como contínua, homogénea, não apresentan<strong>do</strong><br />

orifícios macroscópicos. Esta idealização é válida desde que se trabalhe com volumes,<br />

áreas e comprimentos que se apresentem demasia<strong>do</strong> grandes em relação aos espaços<br />

intermoleculares.<br />

4<br />

A relação<br />

a <strong>sua</strong> energia total E, onde c é a velocidade da luz no vazio, cujo valor exacto é<br />

2<br />

E = mc , devida a Einstein, estabelece a equivalência entre a massa m de um sistema e<br />

1<br />

299792 458 ms - .


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

2.2.3 Variáveis intensivas, extensivas e conjugadas<br />

As propriedades são extensivas se o valor da variável <strong>do</strong> sistema é igual à soma <strong>do</strong>s<br />

seus valores em qualquer conjunto de subsistemas no qual o sistema se decomponha.<br />

São, por isso, ditas variáveis globais. Como exemplo, refira-se a massa, o volume e a<br />

entropia. As propriedades são intensivas se assumirem um valor defini<strong>do</strong> em cada parte<br />

<strong>do</strong> sistema, sen<strong>do</strong> assim ditas variáveis locais. Como exemplo, temos a temperatura e a<br />

pressão. As propriedades intensivas de um sistema são independentes da massa, ao<br />

contrário das extensivas, que são proporcionais à massa.<br />

É, por vezes, útil exprimir as variáveis extensivas dividin<strong>do</strong>-as pela quantidade de<br />

substância (o que só é possível se houver uma única substância), obten<strong>do</strong>-se então<br />

variáveis molares. Se se dividirem as propriedades extensivas pela massa, obtêm-se as<br />

variáveis mássicas.<br />

Um conceito muito importante em Termodinâmica é o de variáveis conjugadas.<br />

Diz-se que duas variáveis, uma extensiva, X, e outra intensiva, Y, são conjugadas se o<br />

produto YdX for uma grandeza infinitesimal com dimensões de energia.<br />

As variáveis independentes de um sistema a que se dão valores arbitrários<br />

designam-se por parâmetros de esta<strong>do</strong>. As funções de esta<strong>do</strong> são variáveis <strong>do</strong> sistema<br />

que não se consideram independentes, uma vez que são funções <strong>do</strong>s parâmetros de<br />

esta<strong>do</strong>. A distinção entre parâmetros e funções de esta<strong>do</strong> é basicamente uma questão de<br />

conveniência. As equações de esta<strong>do</strong> relacionam as diferentes variáveis de um sistema.<br />

2.2.4 Equilíbrio termodinâmico<br />

Um sistema está em equilíbrio termodinâmico se as variáveis que o caracterizam<br />

estão definidas e permanecem constantes. Por questões conceptuais e de análise, o<br />

equilíbrio termodinâmico divide-se em equilíbrio térmico, mecânico e químico.<br />

A existência de um esta<strong>do</strong> de equilíbrio num sistema depende da <strong>sua</strong> proximidade<br />

de outros sistemas, e da natureza da fronteira que o separa <strong>do</strong>s outros sistemas.<br />

Quan<strong>do</strong> a resultante das forças e o momento resultante são nulos, no interior <strong>do</strong><br />

sistema e entre este a <strong>sua</strong> vizinhança, o sistema está num esta<strong>do</strong> de equilíbrio mecânico.<br />

Quan<strong>do</strong> estas condições não são observadas, o sistema e/ou a <strong>sua</strong> vizinhança sofrem uma<br />

mudança de esta<strong>do</strong>, que cessará quan<strong>do</strong> o equilíbrio mecânico é restabeleci<strong>do</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> um sistema em equilíbrio mecânico não tende a sofrer espontaneamente<br />

uma mudança na <strong>sua</strong> estrutura interna, tal como uma reacção química, ou uma<br />

14


15<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

transferência de substância de uma parte <strong>do</strong> sistema para outra, então está num esta<strong>do</strong> de<br />

equilíbrio químico.<br />

Um sistema em equilíbrio mecânico e químico, separa<strong>do</strong> da <strong>sua</strong> vizinhança por<br />

paredes diatérmicas 5 , está em equilíbrio térmico quan<strong>do</strong> não há mudança espontânea das<br />

<strong>sua</strong>s coordenadas termodinâmicas. No equilíbrio térmico, todas as partes <strong>do</strong> sistema<br />

estão à mesma temperatura, sen<strong>do</strong> esta a mesma que a temperatura da vizinhança.<br />

Quan<strong>do</strong> estas condições não são satisfeitas, ocorre uma mudança de esta<strong>do</strong> até o<br />

equilíbrio térmico ser atingi<strong>do</strong>. Se o sistema estiver separa<strong>do</strong> da vizinhança por paredes<br />

adiabáticas 6 , não há interacção na forma de calor e o equilíbrio termodinâmico depende<br />

apenas <strong>do</strong>s equilíbrios mecânico e químico.<br />

Se to<strong>do</strong>s os três tipos de equilíbrio são verifica<strong>do</strong>s, o sistema está num esta<strong>do</strong> de<br />

equilíbrio termodinâmico. Estes esta<strong>do</strong>s podem ser descritos em termos de coordenadas<br />

macroscópicas que não envolvem o tempo, isto é, em termos de coordenadas<br />

termodinâmicas.<br />

Quan<strong>do</strong> qualquer um <strong>do</strong>s três tipos de equilíbrio não se verifica, o sistema está num<br />

esta<strong>do</strong> de não-equilíbrio, não poden<strong>do</strong> ser descrito por coordenadas termodinâmicas<br />

que se referem ao sistema como um to<strong>do</strong>.<br />

2.2.5 Trabalho e calor<br />

Os termos trabalho e calor têm significa<strong>do</strong>s distintos em ciência e na linguagem <strong>do</strong><br />

dia-a-dia. Esta razão por si só justifica fazer-se uma referência crítica a estes conceitos.<br />

Contu<strong>do</strong>, actualmente os conceitos de trabalho e calor e as <strong>sua</strong>s definições científicas<br />

ainda são objecto de debate, conforme mostram algumas publicações recentes (Anacleto<br />

et al, 2007; Gislason et al, 2005; Besson, 2003).<br />

As interacções que permitem modificar o esta<strong>do</strong> de um sistema com base em<br />

variações expressas por um par de variáveis conjugadas mecânicas dizem-se interacções<br />

<strong>do</strong> tipo trabalho. Distinguem-se duas formas fundamentais de trabalho: trabalho de<br />

configuração e trabalho dissipativo (Güémez et al, 1998). O trabalho de configuração<br />

corresponde à organização macroscópica <strong>do</strong> sistema, como, por exemplo, no caso da<br />

variação de volume associa<strong>do</strong> ao movimento de um êmbolo. O trabalho dissipativo<br />

5<br />

Paredes diatérmicas são paredes que permitem a transferência de energia por calor entre o sistema<br />

e a vizinhança.<br />

6 Paredes adiabáticas são paredes que não permitem a transferência de energia por calor entre o<br />

sistema e a vizinhança, mesmo haven<strong>do</strong> entre eles uma diferença de temperatura.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

corresponde a uma transferência de energia para o sistema na forma de trabalho, mas não<br />

implica uma variação de volume. Como exemplo, podemos pensar na agitação de um<br />

líqui<strong>do</strong> com uma vareta.<br />

Pode também modificar-se o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema de outra forma, por exemplo,<br />

colocan<strong>do</strong> o sistema em contacto com outro sistema a uma temperatura diferente. Este<br />

tipo de interacção, que não se pode identificar com uma interacção <strong>do</strong> tipo trabalho<br />

designa-se por interacção térmica, por contacto térmico ou simplesmente por calor<br />

(Güémez et al, 1998).<br />

Os conceitos de trabalho e calor referem-se a <strong>do</strong>is tipos distintos de interacções<br />

termodinâmicas entre o sistema e a <strong>sua</strong> vizinhança e só têm significa<strong>do</strong> enquanto ocorrer<br />

a transformação <strong>do</strong> sistema.<br />

Num esta<strong>do</strong> de equilíbrio as grandezas trabalho e calor não têm significa<strong>do</strong>. Ainda<br />

se lê frequentemente “troca (ou fluxo) de calor”, mas o que se quer dizer é “troca (ou<br />

fluxo) de energia por calor”. O mesmo se verifica para a grandeza trabalho: “troca de<br />

trabalho” significa “troca de energia por trabalho”. Assim, os termos calor e trabalho<br />

aparecem-nos, por vezes, com <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s em simultâneo: o valor da energia<br />

trocada e o tipo de interacção, o que pode sugerir que o calor (ou o trabalho) é uma<br />

substância que pode passar de uns sistemas para outros, o que é erra<strong>do</strong> 7 .<br />

2.2.6 Ligações<br />

As paredes impõem condições restritivas designadas por ligações. A imposição de<br />

um volume constante é conseguida por meio de paredes rígidas. Caso contrário, as<br />

paredes são móveis ou êmbolos. As paredes rígidas não permitem a troca de energia por<br />

trabalho de configuração.<br />

A condição de sistema fecha<strong>do</strong> é originada por paredes impermeáveis. Os sistemas<br />

abertos, pelo contrário, têm paredes permeáveis.<br />

Pode fabricar-se paredes que reduzem bastante os contactos térmicos. O caso ideal<br />

e limite deste tipo de parede é o conceito de parede adiabática, que é isola<strong>do</strong>ra térmica<br />

total. Diz-se que um sistema está rodea<strong>do</strong> por uma parede adiabática quan<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong><br />

meio exterior, só for possível provocar mudanças no sistema por meio de contactos <strong>do</strong><br />

tipo trabalho. Uma parede adiabática impede a troca de energia por calor entre o sistema<br />

e a vizinhança. Uma parede não adiabática designa-se por parede diatérmica.<br />

7 Na literatura anglo-saxónica aparecem frequentemente os termos heat exchange, work exchange,<br />

heat transfer, heat capacity, entre outros.<br />

16


2.2.7 Processos termodinâmicos<br />

17<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

Designa-se por processo termodinâmico uma transformação de um esta<strong>do</strong> de<br />

equilíbrio noutro, durante a qual as propriedades <strong>do</strong> sistema variam.<br />

Quan<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> final coincide com o esta<strong>do</strong> inicial diz-se que o processo é cíclico,<br />

caso contrário diz-se que é um processo aberto.<br />

Um processo é espontâneo quan<strong>do</strong> ocorre naturalmente em consequência da<br />

eliminação de uma ou mais ligações. Durante um processo espontâneo o sistema passa,<br />

geralmente, mas não necessariamente, por situações de não-equilíbrio.<br />

Um processo infinitesimal é aquele para o qual, ao eliminarmos ou alterarmos uma<br />

ou mais ligações, as variáveis <strong>do</strong> sistema sofrem variações infinitesimais, não sain<strong>do</strong><br />

praticamente o sistema <strong>do</strong> equilíbrio. Assim, num processo finito que ocorra mediante<br />

sucessivos processos infinitesimais – processo muito lento ou quase-estático – to<strong>do</strong>s os<br />

esta<strong>do</strong>s intermédios são (praticamente) de equilíbrio.<br />

A representação <strong>do</strong>s processos quase-estáticos em diagramas de variáveis<br />

termodinâmicas correspondem a linhas contínuas que ligam os esta<strong>do</strong>s de equilíbrio<br />

inicial e final <strong>do</strong> sistema. Os processos que passam por situações de não-equilíbrio<br />

(processos não quase-estáticos) não podem ser representa<strong>do</strong>s por linhas contínuas, e<br />

representam-se, por exemplo, por linhas a traceja<strong>do</strong> (ver Figura 2.2).<br />

Y<br />

Y A<br />

dY<br />

YB<br />

A<br />

Processo não quase-estático<br />

(necessariamente irreversível)<br />

Processo quase-estático<br />

(reversível ou não)<br />

Processo infinitesimal<br />

X A<br />

dX B<br />

X X<br />

Figura 2.2 Representação, num diagrama das variáveis X e Y, de esta<strong>do</strong>s de<br />

equilíbrio e de processos termodinâmicos. Os processos quaseestáticos<br />

podem ser representa<strong>do</strong>s por linhas contínuas definidas;<br />

os processos não quase-estáticos representamos por linhas a<br />

traceja<strong>do</strong> (Anacleto, 2004).<br />

B


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

De entre os processos termodinâmicos, salienta-se os seguintes:<br />

• Processo reversível e quase-estático. É uma transformação constituída por uma<br />

sucessão de processos infinitesimais que se pode inverter em cada passo<br />

mediante uma mudança infinitesimal da vizinhança. O termo quase-estático não<br />

é equivalente ao termo reversível. Contu<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s os processos reversíveis são<br />

necessariamente quase-estáticos e, entre o sistema e a vizinhança, as trocas de<br />

energia por calor dão-se sob diferenças infinitesimais de temperatura, e as trocas<br />

de energia por trabalho dão-se por variações simétricas das variáveis<br />

deslocamento e com diferenças infinitesimais entre as forças de interacção.<br />

• Processo irreversível e quase-estático. É uma transformação constituída por<br />

uma sucessão de processos infinitesimais que não podem surgir por ordem<br />

inversa. Os esta<strong>do</strong>s são de equilíbrio, mas a troca de trabalho é dissipativa e/ou a<br />

trocas de energia por calor é originada por diferenças finitas de temperatura<br />

entre o sistema e a vizinhança.<br />

• Processo não quase-estático. É uma transformação durante a qual o sistema não<br />

passa por esta<strong>do</strong>s de equilíbrio. To<strong>do</strong>s os processos não quase-estáticos são<br />

irreversíveis e não podem representar-se em diagramas por linhas contínuas. Ao<br />

contrário, um processo quase-estático é uma sucessão de esta<strong>do</strong>s de equilíbrio<br />

que requer que as trocas de energia se processem muito lentamente.<br />

A distinção entre reversibilidade e irreversibilidade é crucial em Termodinâmica,<br />

pois nos sistemas isola<strong>do</strong>s termicamente, a entropia mantém-se nos processos<br />

reversíveis, mas aumenta nos processos irreversíveis (Anacleto, 2004).<br />

2.2.8 Fonte de calor e fonte de trabalho<br />

O conceito de fonte tem um papel relevante em Termodinâmica. São sistemas com<br />

características particulares:<br />

• Fonte de calor (ou reservatório de calor). É um sistema em completo equilíbrio<br />

interno que interage com outros trocan<strong>do</strong> energia apenas por calor. To<strong>do</strong>s os<br />

processos que nele ocorrem são reversíveis por definição. A temperatura de uma<br />

fonte de calor é bem definida.<br />

18


19<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

• Fonte de trabalho. É um sistema que interage com outro trocan<strong>do</strong> energia<br />

apenas por trabalho. To<strong>do</strong>s os processos que nele ocorrem são reversíveis e a<br />

<strong>sua</strong> pressão (mais genericamente, a força generalizada de interacção) é bem<br />

definida.<br />

A principal vantagem na descrição das interacções termodinâmicas recorren<strong>do</strong>-se<br />

aos conceitos de fontes reside no facto de to<strong>do</strong>s os fenómenos irreversíveis terem lugar<br />

no interior <strong>do</strong> próprio sistema e nas interacções deste com a <strong>sua</strong> vizinhança, não haven<strong>do</strong><br />

irreversibilidades no exterior <strong>do</strong> sistema.<br />

2.3 Primeira Lei da Termodinâmica e Calor<br />

A Primeira Lei da Termodinâmica traduz no essencial o Princípio da Conservação<br />

da Energia. Relaciona os conceitos de calor e de trabalho com o conceito de energia<br />

interna <strong>do</strong> sistema.<br />

2.3.1 Trabalho adiabático e energia interna<br />

Quan<strong>do</strong> um sistema fecha<strong>do</strong> é completamente envolvi<strong>do</strong> por uma fronteira<br />

adiabática, o sistema só pode interagir com a vizinhança através de troca de energia por<br />

trabalho. A experiência mostra que o trabalho adiabático, W a , é o mesmo para to<strong>do</strong>s os<br />

processos que ligam o mesmo esta<strong>do</strong> inicial ao mesmo esta<strong>do</strong> final. Este resulta<strong>do</strong><br />

constitui o postula<strong>do</strong> restrito da Primeira Lei da Termodinâmica (Zemansky et al, 1997):<br />

Quan<strong>do</strong> um sistema fecha<strong>do</strong> sofre processos adiabáticos entre os mesmos<br />

esta<strong>do</strong>s inicial e final, haven<strong>do</strong> portanto apenas trocas de energia por trabalho,<br />

então a energia trocada por trabalho é a mesma para to<strong>do</strong>s os processos<br />

adiabáticos considera<strong>do</strong>s.<br />

Existe, portanto, uma função de esta<strong>do</strong> cuja diferença <strong>do</strong>s valores correspondentes<br />

aos esta<strong>do</strong>s final e inicial é igual à energia trocada por trabalho adiabático entre o sistema<br />

e a <strong>sua</strong> vizinhança. Esta função é designada por energia interna, U . Temos então<br />

U - U = W<br />

(2.1)<br />

f i<br />

a


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

2.3.2 Formulação matemática da Primeira Lei<br />

Consideremos agora um processo termodinâmico arbitrário. Na Figura 2.3 está<br />

representa<strong>do</strong> um processo não-adiabático. As paredes <strong>do</strong> sistema são diatérmicas estan<strong>do</strong><br />

o gás em contacto térmico com uma chama a uma temperatura superior, ao mesmo tempo<br />

que sofre uma expansão, o que significa que houve troca de energia por trabalho, W .<br />

Gás<br />

Figura 2.3 Um gás que sofre um processo não-adiabático. Há trocas de<br />

energia por calor e por trabalho (Anacleto, 2004).<br />

Para este tipo de processos, o trabalho (diatérmico) W não é igual a U f - Uie<br />

o<br />

princípio da conservação da energia leva-nos a ter que concluir que houve transferência<br />

de energia por outros processos diferentes <strong>do</strong> trabalho. Esta energia transferida entre o<br />

sistema e a vizinhança devi<strong>do</strong> a uma diferença de temperatura entre o sistema e a <strong>sua</strong><br />

vizinhança é designada por calor, Q . Temos então a definição de calor dada por<br />

( f i)<br />

Q = U -U - W<br />

(2.2)<br />

e a Primeira Lei da Termodinâmica pode ser então escrita como<br />

D U = Q+ W<br />

(2.3)<br />

onde D U é a variação da energia interna <strong>do</strong> sistema durante o processo e Q e W as<br />

energias trocadas por calor e por trabalho, respectivamente. As grandezas energia<br />

interna, trabalho e calor têm como unidade SI o joule (J).<br />

20


21<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

A Primeira Lei expressa três ideias relacionadas entre si (Zemansky et al, 1997):<br />

(1) a existência duma função de esta<strong>do</strong>, a energia interna; (2) o princípio da conservação<br />

da energia; e (3) a definição de calor como a troca de energia que não pode ser descrita<br />

como trabalho termodinâmico.<br />

Historicamente, não foi fácil compreender que calor estava relaciona<strong>do</strong> com<br />

energia. A ideia de que calor é uma transferência de energia foi referida em 1839 por M.<br />

Séguin, um engenheiro Francês. Em 1842, Mayer, um físico Alemão, descobriu a<br />

equivalência entre calor e trabalho e formulou o Princípio da Conservação da Energia<br />

(Primeira Lei da Termodinâmica).<br />

Para um processo infinitesimal (processo que envolve variações infinitesimais das<br />

coordenadas termodinâmicas) a Primeira Lei toma a forma<br />

dU = dQ+ dW<br />

(2.4)<br />

A equação (2.4) mostra que a diferencial exacta dU é a soma de duas diferencias<br />

inexactas, d Q e d W . É interessante notar que a inexactidão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito da equação<br />

não seja encontrada no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>. Notemos que dU se refere a uma propriedade <strong>do</strong><br />

sistema (energia interna), enquanto que d Q e d W não estão relaciona<strong>do</strong>s com<br />

propriedades <strong>do</strong> sistema, mas referem-se à vizinhança, que interage com o sistema por<br />

processos de transferência de energia. d W pode ser representa<strong>do</strong> em termos <strong>do</strong> produto<br />

de uma grandeza intensiva (força generalizada) pela diferencial de uma grandeza<br />

extensiva (deslocamento generaliza<strong>do</strong>) – variáveis conjugadas. Por <strong>sua</strong> vez, d Q<br />

também pode ser expresso em termos de coordenadas termodinâmicas conjugadas, a<br />

temperatura e a entropia, d Q = TdS.<br />

2.4 A Segunda Lei da Termodinâmica<br />

Em princípio, podemos ter processos cíclicos para os quais a energia recebida por<br />

trabalho numa parte <strong>do</strong> ciclo possa ser totalmente cedida por calor noutra parte <strong>do</strong> ciclo.<br />

Por outras palavras, temos Q =- W com W > 0 , sen<strong>do</strong> a transformação de trabalho em<br />

calor é obtida com 100 % de eficiência.<br />

A situação inversa é contu<strong>do</strong> impossível. Para que ciclicamente calor seja<br />

transforma<strong>do</strong> em trabalho é necessário trocar energia por calor com, pelo menos, duas<br />

fontes, uma que cede energia por calor ao sistema e outra que recebe energia por calor <strong>do</strong>


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

sistema. Assim, a eficiência não poderá ser 100 %. A fonte que cede a energia por calor<br />

ao sistema, Q 1,<br />

é designada por fonte quente e a fonte que recebe energia por calor <strong>do</strong><br />

sistema, Q 2 , é designada por fonte fria.<br />

Um sistema que sofra um processo cíclico (designa<strong>do</strong> por máquina) e que troca<br />

energia por calor com apenas duas fontes é designa<strong>do</strong> por máquina ditérmica.<br />

Se Q 1 > 0 , Q 2 < 0 , 0<br />

W < , sen<strong>do</strong>, pela Primeira Lei, 1 2<br />

22<br />

Q > Q , então a máquina<br />

que origina o ciclo é chamada uma máquina térmica. O propósito de tal máquina é<br />

fornecer continuamente energia por trabalho ao exterior descreven<strong>do</strong> o mesmo ciclo<br />

repetidamente. A energia trocada por trabalho é a energia útil fornecida pelo sistema, e a<br />

energia trocada por calor com a fonte quente é a energia absorvida. A eficiência térmica<br />

da máquina, h , é definida como<br />

trabalho realiza<strong>do</strong><br />

Eficiência térmica = energia recebida por calor , ou seja,<br />

W W Q<br />

2<br />

h = = - = 1+<br />

(2.5)<br />

Q1 Q1 Q1<br />

2.4.1 Enuncia<strong>do</strong>s de Kelvin-Planck e de Clausius da 2ª Lei<br />

2.4.1.1 Postula<strong>do</strong> de Kelvin-Planck<br />

A Figura 2.4 a) mostra um esquema de uma máquina térmica. A experiência mostra<br />

que nenhuma máquina converte a energia extraída por calor da fonte quente em energia<br />

cedida por trabalho sem rejeitar alguma energia por calor para a fonte fria. Esta restrição<br />

negativa constitui a Segunda Lei da Termodinâmica e pode ser formulada de várias<br />

formas. Uma delas é o postula<strong>do</strong> de Kelvin-Planck (PK):<br />

PK: É impossível construir uma máquina térmica que, operan<strong>do</strong> ciclicamente,<br />

não produza nenhum outro efeito para além <strong>do</strong> de extrair energia por calor de<br />

uma fonte e realizar uma quantidade equivalente de trabalho.


FONTE<br />

QUENTE<br />

Q 1<br />

Q 2<br />

23<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

a) b)<br />

Figura 2.4 Representação esquemática da operação de: a) uma máquina<br />

térmica; e b) uma máquina frigorífica (Anacleto, 2004).<br />

2.4.1.2 Postula<strong>do</strong> de Clausius<br />

Se imaginarmos um ciclo realiza<strong>do</strong> numa sequência de transformações oposta à da<br />

máquina térmica, obtemos o que se designa por máquina frigorífica, conforme se ilustra<br />

na Figura 2.4 b). Pela Primeira Lei, Q1+ Q2 + W = 0 , sen<strong>do</strong> agora Q 1 < 0 , Q 2 > 0 e<br />

W > 0 , o que nos permite escrever<br />

Q1 = W + Q2<br />

(2.6)<br />

O propósito de uma máquina frigorífica é retirar energia por calor da fonte fria ou<br />

ceder energia por calor à fonte quente. No primeiro caso, a eficiência, h F , é definida por<br />

Q2 Q1<br />

h F = = -1- (2.7)<br />

W W<br />

No segun<strong>do</strong> caso, a máquina frigorífica é designada por bomba de calor, e a<br />

eficiência, h BC , é definida mais convenientemente por<br />

W<br />

Q1 Q2<br />

h BC = = 1+<br />

(2.8)<br />

W W<br />

W<br />

FONTE<br />

QUENTE<br />

Q 1<br />

Sistema Sistema<br />

FONTE<br />

FRIA<br />

Q 2<br />

FONTE<br />

FRIA


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

O propósito da máquina frigorífica é extrair a máxima energia por calor Q 2 da<br />

fonte fria com o menor dispêndio possível de trabalho. É sempre necessário haver troca<br />

de energia por trabalho para se transferir energia por calor de uma fonte fria para uma<br />

fonte quente. Esta constatação restritiva leva-nos ao postula<strong>do</strong> de Clausius da Segunda<br />

Lei (PC):<br />

PC: É impossível construir uma máquina frigorífica que, funcionan<strong>do</strong><br />

ciclicamente, não produza nenhum outro efeito para além <strong>do</strong> de transferir energia<br />

por calor de uma fonte para outra a uma temperatura superior.<br />

Os <strong>do</strong>is postula<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> à primeira vista diferentes, são equivalentes e constituem<br />

possíveis enuncia<strong>do</strong>s da Segunda Lei (Zemansky et al, 1997). Há outros enuncia<strong>do</strong>s da<br />

Segunda Lei, tais como o de Sears-Kestin e o de Carathéo<strong>do</strong>ry (Güémez et al, 1998).<br />

2.4.2 Processos reversíveis e irreversíveis<br />

O conceito de processo reversível é fundamental em termodinâmica. Um processo<br />

é dito reversível se ocorre de tal forma que, no final <strong>do</strong> mesmo, quer o sistema quer o<br />

exterior podem ser restituí<strong>do</strong>s aos seus esta<strong>do</strong>s iniciais sem produzir quaisquer<br />

mudanças no resto <strong>do</strong> Universo. Um processo que não satisfaz totalmente estes<br />

requisitos é dito irreversível (Zemansky et al, 1997).<br />

A questão que imediatamente se levanta é se os processos naturais, em particular,<br />

os processos que nos são familiar, são reversíveis ou não. Como fenómenos dissipativos<br />

estão presentes em to<strong>do</strong>s os processos reais, então, to<strong>do</strong>s os processos naturais são<br />

irreversíveis. Contu<strong>do</strong>, o conceito de processo reversível é uma idealização útil, pois<br />

podemos na prática ter processos aproximadamente reversíveis, e porque permite<br />

introduzir o conceito de entropia.<br />

Um processo será reversível se ocorrer quase-estaticamente e se não for<br />

acompanha<strong>do</strong> por nenhum efeito dissipativo (por exemplo atrito). Como é impossível<br />

satisfazer estas duas condições perfeitamente, é óbvio que um processo reversível é uma<br />

abstracção ideal, muito útil em cálculos teóricos, mas afastada da realidade.<br />

24


2.4.3 O ciclo e o teorema de Carnot<br />

25<br />

2 Conceitos básicos de Termodinâmica<br />

Um ciclo de Carnot é um processo cíclico reversível constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is processos<br />

adiabáticos e <strong>do</strong>is processos isotérmicos. Durante o ciclo o sistema troca energia por<br />

calor com duas fontes. A fonte com maior temperatura, T 1 , é a fonte quente e a fonte com<br />

temperatura menor, T 2 , é a fonte fria. As energias trocadas por calor com as fontes<br />

quente e fria são denota<strong>do</strong>s por Q 1 e Q 2 , respectivamente. Em princípio, um ciclo de<br />

Carnot pode ser leva<strong>do</strong> a cabo por qualquer sistema termodinâmico. A Figura 2.5<br />

representa um ciclo de Carnot num diagrama P-V.<br />

Uma máquina que opera num ciclo de Carnot é designada por máquina de Carnot.<br />

A máquina de Carnot é uma máquina reversível. O ciclo pode ser realiza<strong>do</strong> em qualquer<br />

senti<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> é realiza<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> oposto ao considera<strong>do</strong> na Figura 2.5 obtemos um<br />

frigorífico de Carnot.<br />

P<br />

2<br />

1<br />

Q 1<br />

Q 2<br />

V<br />

Figura 2.5 Ciclo de Carnot representa<strong>do</strong> num diagrama P-V (Anacleto,<br />

2004).<br />

A máquina de Carnot tem uma eficiência máxima. Este facto constitui o Teorema<br />

de Carnot, que pode ser enuncia<strong>do</strong> da seguinte forma:<br />

Nenhuma máquina térmica que opere entre duas fontes pode ser mais eficiente<br />

<strong>do</strong> que uma máquina de Carnot operan<strong>do</strong> entre as mesmas fontes.<br />

3<br />

4<br />

T 1<br />

T 2


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A prova <strong>do</strong> teorema pode ser encontrada em vários livros de texto de<br />

Termodinâmica (por exemplo, Zemansky et al, 1997). Decorre <strong>do</strong> teorema de Carnot o<br />

seguinte corolário <strong>do</strong> teorema de Carnot pode ser demonstra<strong>do</strong> facilmente (Zemansky et<br />

al, 1997):<br />

Todas as máquinas de Carnot que operam entre as mesmas fontes têm a<br />

mesma eficiência.<br />

A natureza <strong>do</strong> sistema que realiza o ciclo de Carnot não tem influência na<br />

eficiência da máquina de Carnot. A característica essencial de uma máquina de Carnot é<br />

que é reversível e opera entre duas fontes apenas. Além disso, as características da<br />

máquina de Carnot são independentes <strong>do</strong> sistema termodinâmico que realiza o ciclo.<br />

26


3 Lei zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

A primeira parte deste capítulo contém algumas transcrições de (Anacleto, 2004),<br />

enriquecidas com actividades experimentais.<br />

3.1 Noção intuitiva de temperatura<br />

A temperatura é, talvez, a grandeza física mais considerada no dia-a-dia. No<br />

<strong>do</strong>mínio científico a temperatura está presente em quase to<strong>do</strong>s os fenómenos naturais e<br />

quase todas as grandezas físicas dependem da temperatura. Contu<strong>do</strong> a <strong>sua</strong> compreensão<br />

não é fácil e requer uma reflexão demorada.<br />

3.1.1 <strong>Temperatura</strong> como sensação<br />

O conceito de temperatura teve uma origem nas vivências <strong>do</strong> homem. Segun<strong>do</strong> J.<br />

Deus, a noção de temperatura está ligada às sensações de quente e de frio, ou seja, à<br />

quantidade de aquecimento (Deus et al, 2000). Para Abreu, a temperatura é a grandeza<br />

que nos diz quão quente ou frio está um corpo (Abreu et al, 1994). Quan<strong>do</strong> sentimos que<br />

um corpo está “quente”, dizemos que a <strong>sua</strong> temperatura é elevada. De mo<strong>do</strong> análogo,<br />

quan<strong>do</strong> sentimos que um corpo está “frio”, dizemos que a <strong>sua</strong> temperatura é baixa. No<br />

entanto, a nossa percepção de quente e frio é, por vezes, engana<strong>do</strong>ra. Por exemplo, sentese<br />

a sensação de frio quan<strong>do</strong> se anda descalço e se passa de um chão de alcatifa para um<br />

de tijoleira à mesma temperatura.<br />

A resposta <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s relativamente à temperatura de um corpo é subjectiva e<br />

qualitativa. Além disso, podemos ter sensações que não correspondem à relação entre as<br />

temperaturas <strong>do</strong>s corpos em que tocamos. Para além das condições fisiológicas <strong>do</strong><br />

indivíduo, as sensações são determinadas em função de certas grandezas físicas que, no<br />

caso da temperatura, são fundamentalmente a capacidade térmica mássica e a<br />

condutividade térmica das substâncias. Abordaremos seguidamente estas duas grandezas<br />

e apresentamos a <strong>sua</strong> determinação experimental para <strong>do</strong>is metais.<br />

27


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

3.1.2 Capacidade térmica<br />

A capacidade térmica refere-se à quantidade de energia por calor necessária para<br />

que a temperatura de um sistema de massa m aumente de uma unidade (1 K). O termo<br />

“capacidade calorífica”, que ainda é muito utiliza<strong>do</strong> (sobretu<strong>do</strong> nos manuais <strong>do</strong> ensino<br />

superior), implica que o sistema possa armazenar calor, o que é uma ideia errada, pois o<br />

calor não é uma função de esta<strong>do</strong>, ao contrário da energia interna. Uma possibilidade<br />

seria dizer-se capacidade energética interna, mas optámos pelo termo capacidade<br />

térmica, porque pretendemos relacionar a energia trocada por calor com a variação de<br />

temperatura <strong>do</strong> sistema.<br />

Quan<strong>do</strong> um sistema recebe energia por calor, uma mudança da <strong>sua</strong> temperatura<br />

pode ou não ocorrer, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo que o sistema sofre. Se a temperatura de<br />

um sistema variar de T i para T f durante a troca de Q unidades energia por calor com a<br />

<strong>sua</strong> vizinhança, a capacidade térmica média <strong>do</strong> sistema é definida pela razão<br />

Capacidade térmica média<br />

=<br />

Q<br />

T - T<br />

f i<br />

28<br />

(3.1)<br />

Quan<strong>do</strong> a diferença Tf- Titende<br />

para zero, esta razão aproxima-se de um valor<br />

limite, designa<strong>do</strong> por capacidade térmica C,<br />

C =<br />

lim<br />

Tf ÆTi<br />

Q<br />

T -T<br />

f i<br />

ou, à temperatura T i ,<br />

(3.2)<br />

d Q<br />

C = (3.3)<br />

dT<br />

A capacidade térmica C é medida em<br />

1<br />

JK - no sistema SI. Notemos que o segun<strong>do</strong><br />

membro de (3.3) não é a derivada de uma função, mas sim a razão de duas grandezas<br />

infinitesimais d Q e dT . A capacidade térmica mássica é definida como<br />

C 1 d Q<br />

c = = (3.4)<br />

m m dT<br />

onde m é a massa <strong>do</strong> sistema, ten<strong>do</strong> c como unidade<br />

-1 - 1<br />

JK kg .


3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Uma mole é definida como a quantidade de substância que contém tantas entidades<br />

elementares (átomos, moléculas, iões, electrões, ou outras partículas) como de átomos<br />

existentes em, exactamente, 0,012 kg de 12 C. Este número de átomos de 12 C é chama<strong>do</strong><br />

número de Avogadro N A e é igual a<br />

23<br />

6,022 ¥ 10 partículas por mole. Se a massa de um<br />

átomo for m, então a massa de uma mole de átomos é M = mNA<br />

. Esta quantidade é a<br />

massa molar M, sen<strong>do</strong> a quantidade de substância n dada por ( massa total)<br />

n= M . Se C<br />

é a capacidade térmica de n moles, então a capacidade térmica molar c, ten<strong>do</strong> como<br />

unidade<br />

-1 - 1<br />

JK mol , é definida por<br />

C 1 d Q<br />

c = = (3.5)<br />

n n dT<br />

As capacidades térmicas mássicas e molares eram anteriormente designadas por<br />

calores específicos, mas tal designação é inadequada e prejudicial à compreensão <strong>do</strong><br />

conceito de calor, corroboran<strong>do</strong> a teoria <strong>do</strong> calórico.<br />

A capacidade térmica pode ser negativa, zero, positiva, ou infinita, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

processo que o sistema sofre durante a transferência de energia por calor. A capacidade<br />

térmica tem um valor defini<strong>do</strong> apenas para um processo defini<strong>do</strong>. Para um sistema<br />

hidrostático 8 , d QdTtem<br />

um valor único para todas as medições realizadas a pressão<br />

constante. Nestas condições, C é chama<strong>do</strong> a capacidade térmica a pressão constante e é<br />

denotada por C P , sen<strong>do</strong><br />

C<br />

P<br />

ÊdQˆ = Á<br />

Ë<br />

˜<br />

dT ¯ (3.6)<br />

P<br />

Analogamente, a capacidade térmica a volume constante, C V , é o resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong><br />

manten<strong>do</strong> o volume constante; assim,<br />

C<br />

V<br />

ÊdQˆ = Á<br />

Ë<br />

˜<br />

dT ¯<br />

V<br />

(3.7)<br />

8<br />

Um sistema hidrostático é um sistema termodinâmico com massa e composição constantes e que<br />

exerce sobre a <strong>sua</strong> vizinhança uma pressão hidrostática uniforme, na ausência de campos<br />

gravitacionais e electromagnéticos. Os sistemas hidrostáticos são normalmente caracteriza<strong>do</strong>s<br />

pelas variáveis pressão, P, volume, V, e temperatura, T (Zemansky et al, 1997).<br />

29


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Em geral, P C e V C assumem valores diferentes, com CP> CV,<br />

e são funções da<br />

pressão e da temperatura 9 .<br />

A capacidade térmica mássica a volume constante depende da temperatura da<br />

forma como é ilustrada na Figura 3.1. A altas temperaturas o valor de c V é próximo de<br />

3R , onde<br />

-1 -1<br />

R = 8,314 J K mol é a constante <strong>do</strong>s gases ideais. As altas temperaturas<br />

também incluem as temperaturas ambiente vulgares. O facto de c V ser aproximadamente<br />

igual a 3R para altas temperaturas independentemente da substância é chamada lei de<br />

Dulong et Petit.<br />

O desvio desta lei a temperaturas baixas é evidente da Figura 3.1, quan<strong>do</strong> T<br />

decresce, c V também decresce, e anula-se no zero absoluto. Perto <strong>do</strong> zero absoluto a<br />

capacidade térmica mássica c V é proporcional a<br />

30<br />

3<br />

T . A explicação deste comportamento<br />

é dada pela teoria quântica, por exemplo, pelos modelos de Einstein e Debye para a<br />

capacidade térmica mássica (Omar, 1993).<br />

c V<br />

3R<br />

0<br />

T / K<br />

Figura 3.1 Capacidade térmica mássica a volume constante, c V , em função<br />

da temperatura. c V tende para zero quan<strong>do</strong> T tende para zero.<br />

A determinação da capacidade térmica mássica de uma substância pode ser obtida<br />

pelo méto<strong>do</strong> das misturas (ver anexo A4). No caso da determinação da capacidade<br />

térmica de um sóli<strong>do</strong>, recorre-se a um calorímetro de capacidade térmica conhecida, onde<br />

se mistura uma dada quantidade de água, à temperatura q água , com uma amostra <strong>do</strong><br />

9<br />

Uma questão interessante a colocar aos alunos é: por que é que P C é maior que C V ?


31<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

sóli<strong>do</strong>, à temperatura q sóli<strong>do</strong> , obten<strong>do</strong>-se a temperatura final da mistura no equilíbrio q f .<br />

Usan<strong>do</strong> o princípio da conservação da energia, a capacidade térmica mássica <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong>,<br />

c , é dada pela expressão<br />

( mágua + E)(<br />

qf-qágua )<br />

c =<br />

c<br />

m<br />

( q -q<br />

)<br />

sóli<strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> f<br />

água<br />

(3.8)<br />

onde m água e m sóli<strong>do</strong> são as massas da água e <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong>, respectivamente; c água é a<br />

capacidade térmica mássica da água e E é a capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro expressa<br />

em quantidade equivalente de água.<br />

O equivalente em água <strong>do</strong> calorímetro, E , pode ser determina<strong>do</strong> misturan<strong>do</strong> no<br />

calorímetro quantidades de água a temperaturas diferentes e medin<strong>do</strong> o desvio da<br />

temperatura final da mistura em relação ao valor espera<strong>do</strong>. O conhecimento deste valor é<br />

importante para minimizar o erro experimental, e, para o calorímetro usa<strong>do</strong> nesta<br />

actividade, foi obti<strong>do</strong> um valor de E = 1,23 g .<br />

Para um sóli<strong>do</strong> teoricamente feito de aço, <strong>do</strong>s valores da Tabela 3.1, consideran<strong>do</strong><br />

-1 -1<br />

cágua<br />

= 4,186J ºC g e E = 1,23 g e utilizan<strong>do</strong> a expressão (3.8), obtivemos para a<br />

capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço o valor de<br />

-1 -1<br />

c = 0,46 kJ kg ºC .<br />

Para calcularmos a incerteza <strong>do</strong> valor calcula<strong>do</strong>, analisemos os erros <strong>do</strong>s termos da<br />

equação (3.8). Os aparelhos usa<strong>do</strong>s nas medições eram digitais, pelo que tomamos a<br />

incerteza no último algarismo <strong>do</strong> número li<strong>do</strong>. Assim, os erros relativos, E r , <strong>do</strong>s termos<br />

È ˘<br />

Î ˚<br />

da equação (3.8) são: E ( q q )<br />

-4<br />

[ sóli<strong>do</strong> ] 2,00 10<br />

r f - água = 0,07<br />

È ˘<br />

Erm = ¥<br />

-5<br />

e Er Î( mágua + E)<br />

˚<br />

= 4,85 ¥ 10<br />

contribuição para o erro <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> é ( qf qágua)<br />

Er ÈÎ qsóli<strong>do</strong> - qf<br />

˘˚<br />

= 1, 7 ¥ 10 ,<br />

-3<br />

, ( )<br />

. O termo que tem maior<br />

- , cujo valor é de apenas 1,5 ºC. O erro<br />

relativo total é 0,072, o que corresponde termos para valor da capacidade térmica mássica<br />

-1 -1<br />

<strong>do</strong> aço o valor de c ( 0,46 0,03) kJ kg ºC<br />

O valor tabela<strong>do</strong> é<br />

= ± .<br />

-1 -1<br />

c = 0, 469 kJ kg ºC , que está dentro <strong>do</strong> intervalo de erro.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Determinação da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço<br />

m água m aço q água q aço q f<br />

206,17 g 50,04 g 16,9 ºC 74,3 ºC 18,4 ºC<br />

Tabela 3.1 Valores medi<strong>do</strong>s das grandezas intervenientes na determinação<br />

experimental da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço.<br />

3.1.3 Capacidade térmica mássica da água; a caloria<br />

Quan<strong>do</strong> a calorimetria foi desenvolvida em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVIII, as medições<br />

eram restritas à gama de temperaturas entre os pontos de fusão e ebulição da água. A<br />

unidade de calor julgada mais conveniente foi chamada caloria (abreviadamente cal) e<br />

foi definida como a energia por calor necessária para elevar a temperatura de 1 ºC de um<br />

sistema constituí<strong>do</strong> por 1 g de água. Para medir a energia por calor transferida da<br />

vizinhança para a amostra da água, era apenas necessário fazer duas medições: a da<br />

massa da água e a da variação de temperatura da água. Mais tarde, as medições<br />

aperfeiçoaram-se, tornan<strong>do</strong>-se mais precisas, e foram feitas correcções, verifican<strong>do</strong>-se<br />

que a energia por calor necessária para elevar 1 g de água de 0 a 1 ºC era diferente da<br />

energia por calor necessária para elevar, por exemplo, de 30 a 31 ºC. A caloria foi<br />

definida então como sen<strong>do</strong> a energia por calor necessária para elevar 1 g de água de 14,5<br />

a 15,5 ºC.<br />

A energia por trabalho que tem de ser dissipada na água, por unidade de massa,<br />

para elevar a temperatura de 14,5 a 15,5 ºC foi chamada o equivalente mecânico <strong>do</strong><br />

calor, o qual foi medi<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong><br />

1<br />

4,1860 J cal - . Nos anos 20 <strong>do</strong> séc. XX, foi<br />

reconheci<strong>do</strong> que a <strong>medição</strong> <strong>do</strong> equivalente mecânico <strong>do</strong> calor era realmente uma <strong>medição</strong><br />

da capacidade térmica mássica da água, usan<strong>do</strong> o joule como unidade de calor. Como o<br />

calor é energia que se transfere e o joule é a unidade SI de energia, a caloria tornou-se<br />

dispensável. Actualmente, entre os físicos e os químicos, a caloria não é usada, e todas as<br />

quantidades térmicas são expressas em joule. Não há nenhum equivalente mecânico <strong>do</strong><br />

calor, mas sim capacidade térmica mássica da água, cuja variação com a temperatura de<br />

0 a 100 ºC é mostrada na Figura 3.2.<br />

32


33<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Figura 3.2 Capacidade térmica mássica da água em função da temperatura<br />

à pressão atmosférica normal (Zemansky et al, 1997).<br />

3.1.4 Condutividade térmica<br />

Como se refere na secção 3.2.4., a temperatura de um corpo está relacionada como<br />

o esta<strong>do</strong> de vibração das partículas que o constituem.<br />

No processo de calor por condução, as partículas <strong>do</strong> sistema que está a uma maior<br />

temperatura vibram com uma energia cinética média maior, relativamente ao sistema que<br />

está a uma temperatura menor. Por contacto, as partículas <strong>do</strong> sistema a uma temperatura<br />

menor, adquirem maior energia de vibração que se transmite às partículas adjacentes,<br />

sen<strong>do</strong> este mecanismo um processo de transferência de energia por calor, designa<strong>do</strong> por<br />

condução.<br />

O calor por condução, que é característico essencialmente <strong>do</strong>s sóli<strong>do</strong>s, é um<br />

fenómeno que ocorre sem transporte de matéria e que depende da diferença de<br />

temperatura, das substâncias que constituem os sistemas e da área de contacto.<br />

Os metais são bons condutores térmicos. Além disso, como sabemos, são também<br />

bons condutores eléctricos, o que indicia que há um mecanismo subjacente comum aos<br />

<strong>do</strong>is fenómenos. De facto, para além da transmissão de energia devi<strong>do</strong> às vibrações <strong>do</strong>s<br />

iões da rede, os metais têm electrões livres, os quais têm um papel preponderante no<br />

calor por condução, permitin<strong>do</strong> uma transmissão rápida da energia de uns átomos para os<br />

outros. Portanto, a condução térmica nos metais resulta da combinação <strong>do</strong>s efeitos da<br />

vibração <strong>do</strong>s iões na rede cristalina e da energia transportada pelos electrões livres. Os<br />

sóli<strong>do</strong>s não metálicos são, geralmente, maus condutores térmicos, porque a transmissão<br />

de energia se faz apenas entre átomos, moléculas ou iões.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Nos flui<strong>do</strong>s, que são os líqui<strong>do</strong>s e os gases, o calor por condução também ocorre.<br />

Neste caso, deve-se às colisões das moléculas durante o seu movimento aleatório. Nos<br />

flui<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong>, o mecanismo <strong>do</strong> calor mais relevante é a convecção.<br />

Consideremos uma porção de um material, na forma de um paralelepípe<strong>do</strong>, como se<br />

mostra na Figura 3.3. A energia por calor Q cd por condução que atravessa a área A num<br />

intervalo de tempo D t é da<strong>do</strong> por<br />

Q T<br />

k A<br />

t x<br />

D<br />

=-<br />

cd<br />

D D (3.9)<br />

onde D T = T2 - T1,<br />

k é a condutividade térmica <strong>do</strong> material e D x é a espessura <strong>do</strong><br />

material.<br />

A condutividade térmica, k , define-se como a energia transmitida por segun<strong>do</strong><br />

através de uma camada de material de 1 m 2 de área e de 1 m de espessura, quan<strong>do</strong> a<br />

diferença de temperatura entre as duas superfícies é 1 K. A unidade SI da condutividade<br />

térmica é<br />

-1 - 1<br />

Wm K .<br />

Figura 3.3 Fluxo de energia por calor através de uma camada de espessura<br />

D x e área A, submetida a uma diferença de temperaturas<br />

D T = T - T .<br />

2 1<br />

Fazen<strong>do</strong> tender para zero a espessura e a área da camada, DxÆ 0 e A Æ 0,<br />

a<br />

equação (3.9) transforma-se na forma diferencial<br />

T 1<br />

D x<br />

T 2<br />

Área<br />

A<br />

d Qcd dT<br />

=- k<br />

(3.10)<br />

dAdt dx<br />

34<br />

Energia<br />

por calor<br />

x


35<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

A equação anterior é designada por Lei de Fourier da condução por calor. Fazen<strong>do</strong><br />

uma generalização para o caso tridimensional obtém-se a seguinte equação vectorial<br />

(Feynman et al, 1975)<br />

ÊdT dT dT ˆ <br />

J =- k Á , , =- k — T<br />

Ë dx dy dz<br />

˜<br />

¯<br />

(3.11)<br />

onde J é o vector densidade de fluxo de energia por calor, cujo módulo é da<strong>do</strong> por<br />

J = d Q dAdt.<br />

A constante de proporcionalidade κ é a condutividade térmica, e é uma<br />

cd<br />

grandeza positiva pois o escoamento da corrente térmica dá-se no senti<strong>do</strong> contrário ao <strong>do</strong><br />

gradiente de temperatura.<br />

Um <strong>do</strong>s vários méto<strong>do</strong>s para medirmos a condutividade térmica de metais consiste<br />

em utilizarmos os materiais em forma de barra, sen<strong>do</strong> uma das extremidades aquecida<br />

electricamente (por exemplo) enquanto que a outra extremidade é mantida a uma<br />

temperatura constante, por exemplo, utilizan<strong>do</strong> gelo fundente (0ºC), conforme mostra a<br />

Figura 3.5. A superfície da barra é isolada termicamente, e as perdas de energia através<br />

<strong>do</strong> isolamento são calculadas subtrain<strong>do</strong> a taxa a que a energia entra na água da taxa a<br />

que a energia eléctrica é fornecida. Em muitas situações, a perda de energia através da<br />

superfície é muito pequena em comparação com a que flúi através da barra.<br />

Quan<strong>do</strong> a substância a investigar é um não-metal, usamos uma amostra em forma de<br />

um disco fino, e o mesmo méto<strong>do</strong> geral é utiliza<strong>do</strong>. O disco é coloca<strong>do</strong> entre <strong>do</strong>is blocos<br />

de cobre, um <strong>do</strong>s quais é aqueci<strong>do</strong> electricamente e o outro arrefeci<strong>do</strong> a uma determinada<br />

temperatura usan<strong>do</strong> água. Na maioria <strong>do</strong>s casos, a taxa a que a energia é fornecida é<br />

praticamente igual à taxa a que entra na água, o que mostra que as perdas pelos bor<strong>do</strong>s<br />

são desprezáveis.<br />

A condutividade térmica <strong>do</strong>s metais é bastante sensível às impurezas. A mudança de<br />

estrutura devida a um aquecimento contínuo ou um aumento grande de pressão também<br />

afecta o valor da condutividade térmica, k . Contu<strong>do</strong>, nos sóli<strong>do</strong>s e nos líqui<strong>do</strong>s o valor<br />

de k não muda apreciavelmente com variações moderadas de pressão. A liquefacção<br />

provoca sempre uma diminuição de k , e para um líqui<strong>do</strong> k u<strong>sua</strong>lmente aumenta com o<br />

aumento da temperatura. Os sóli<strong>do</strong>s não-metálicos têm um comportamento idêntico ao<br />

<strong>do</strong>s líqui<strong>do</strong>s. À temperatura ambiente, estes são maus condutores térmicos. Em geral, a<br />

condutividade térmica diminui à medida que a temperatura aumenta. Para temperatura<br />

muito baixas, contu<strong>do</strong>, o comportamento é bastante diferente, como se vê na Figura 3.4.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

-1 - 1<br />

k /Wm K<br />

Figura 3.4 Condutividade térmica em função da temperatura para algumas<br />

substâncias (adapta<strong>do</strong> de Zemansky et al, 1997).<br />

A condutividade térmica de alguns metais mantém-se aproximadamente constante<br />

num grande intervalo de temperatura. Assim, a prata, o cobre, e o ouro, por exemplo, têm<br />

elevadas condutividades térmicas de 100 a 1000 K. Como regra geral, a condutividade<br />

térmica <strong>do</strong>s metais aumenta à medida que a temperatura diminui, até ser atingi<strong>do</strong> um<br />

máximo. A continuação da diminuição da temperatura origina uma diminuição da<br />

condutividade térmica para zero.<br />

Os gases são os piores condutores <strong>do</strong> calor. Para pressões acima de certo valor,<br />

dependen<strong>do</strong> da natureza <strong>do</strong> gás e das dimensões <strong>do</strong> recipiente que o contém, a<br />

condutividade térmica é independente da pressão. A condutividade térmica de um gás<br />

aumenta sempre com o aumento da temperatura.<br />

Seguin<strong>do</strong> um procedimento semelhante ao descrito anteriormente, determinou-se a<br />

condutividade térmica de alguns condutores, utilizan<strong>do</strong> a montagem da Figura 3.5 (ver<br />

anexo A4). Apresenta-se os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s para o cobre.<br />

A barra de cobre utilizada tinha um diâmetro médio de 2,5 cm e estava furada para<br />

que se pudesse medir a temperatura na direcção longitudinal, introduzin<strong>do</strong>-se nos<br />

orifícios um termopar. A distância entre os furos era de 3,5 cm. Para se determinar a<br />

36<br />

T / K


37<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

variação da temperatura ao longo da barra, uma das extremidades era aquecida com água<br />

em ebulição e na outra extremidade era mantida à temperatura <strong>do</strong> gelo fundente.<br />

Figura 3.5 Fotografia da montagem experimental para a determinação da<br />

condutividade térmica de uma barra condutora.<br />

Quan<strong>do</strong> se atinge o regime estacionário, estabelece-se uma variação linear da<br />

temperatura ao longo da barra, como se mostra na Figura 3.6. Poden<strong>do</strong> esta situação ser<br />

tratada a uma dimensão, o declive <strong>do</strong> gráfico corresponde a - dT dx na equação (3.10).<br />

Figura 3.6 Variação da temperatura ao longo da barra depois de atingi<strong>do</strong> o<br />

regime estacionário de propagação de energia por calor.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A área é obtida a partir <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> diâmetro da barra e o fluxo de energia<br />

ao longo desta é determina<strong>do</strong> medin<strong>do</strong> o aumento de temperatura em função <strong>do</strong> tempo de<br />

uma dada massa de água (a uma temperatura próxima de 0 ºC) em contacto com a<br />

extremidade fria. O fluxo de energia ao longo da barra é, portanto, da<strong>do</strong> pelo produto <strong>do</strong><br />

declive <strong>do</strong> gráfico da Figura 3.7 pela capacidade térmica da água, C (C = mc,<br />

sen<strong>do</strong><br />

-1 -1<br />

m = 335g e c = 4,186 J ºC g ) .<br />

Da lei de Fourier, expressa pela equação (3.10), obtivemos para a condutividade<br />

-1 -1 -1<br />

térmica da barra (teoricamente feita de cobre) o valor de k = 4,9 J s cm ºC .<br />

Figura 3.7 Aumento da temperatura da água em função <strong>do</strong> tempo. O declive<br />

é proporcional à taxa de propagação da energia por calor na<br />

barra.<br />

O erro relativo <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> é da<strong>do</strong> pela soma <strong>do</strong>s erros relativos <strong>do</strong>s termos da<br />

equação (3.10). Os erros absolutos <strong>do</strong>s declives das rectas <strong>do</strong>s gráficos foram obti<strong>do</strong>s a<br />

-1<br />

partir da aplicação Origin (da OriginLab Corporation): ( )<br />

-1<br />

e ( )<br />

38<br />

dT dx = - 1,154 ± 0, 023 K cm<br />

dT dt = 0,0200 ± 0,0007 K s . As outras grandezas que contribuem para o erro final<br />

têm os seguintes valores: diâmetro da barra = ( 2,5 ± 0,1) cm e ( )<br />

m = 335 ± 1 g . Soman<strong>do</strong><br />

os erros relativos correspondente aos termos da equação (3.10) obtemos para erro relativo<br />

<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> o valor 0,10.


-1 -1 -1<br />

Assim, o resulta<strong>do</strong> final vem ( 4,9 0,5) J s cm ºC<br />

39<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

k = ± . O valor tabela<strong>do</strong> para<br />

-1 -1 -1<br />

o cobre é k = 3,851 J s cm ºC , que não pertence ao intervalo de incertezas <strong>do</strong> valor<br />

calcula<strong>do</strong>. Uma explicação possível pode ser o facto de que a barra não ser de cobre puro<br />

e, como se referiu anteriormente, a condutividade térmica <strong>do</strong>s metais é bastante sensível<br />

às impurezas. Outro aspecto a considerar é o facto de que ao medirmos o fluxo de energia<br />

por calor na barra, a extremidade à temperatura mais baixa não era exactamente 0 ºC<br />

(gráfico da Figura 3.7).<br />

3.2 Conceito de temperatura<br />

Antes da compreensão <strong>do</strong> conceito científico de temperatura procurou-se dar um<br />

carácter quantitativo à distinção subjectiva entre quente e frio, aprenden<strong>do</strong> a medir a<br />

temperatura de um corpo muito antes de compreendermos a <strong>sua</strong> natureza física.<br />

A temperatura pode ser vista como um indica<strong>do</strong>r da energia cinética molecular<br />

média de um corpo (Tipler, 1994). No entanto, só a energia cinética de translação<br />

contribui para a grandeza temperatura, aspecto que por vezes não é referi<strong>do</strong>.<br />

3.2.1 Equilíbrio térmico<br />

A abordagem <strong>do</strong> conceito de temperatura sem se recorrer ao de equilíbrio térmico e<br />

à Lei Zero resulta em ideias confusas, reforçadas pela nossa intuição e percepções<br />

sensoriais. Por isso, é importante introduzir e discutir a temperatura numa base<br />

cientificamente correcta, pois tal atitude trará num médio prazo aos alunos uma<br />

compreensão confortável, e menos conflituosa <strong>do</strong> ponto de vista conceptual.<br />

O equilíbrio térmico é atingi<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is sistemas depois de estes estarem em<br />

contacto através de uma parede diatérmica. No equilíbrio térmico as coordenadas<br />

termodinâmicas de ambos os sistemas não podem ter valores quaisquer, pois a condição<br />

de equilíbrio térmico impõe uma relação restritiva para os seus valores. O conceito de<br />

equilíbrio térmico traduz uma relação de equivalência com as seguintes propriedades<br />

(Güémez et al, 1998):<br />

a) Reflexiva: to<strong>do</strong> o sistema está em equilíbrio térmico consigo próprio.<br />

b) Simétrica: se um sistema A está em equilíbrio térmico com sistema B, então B<br />

também está em equilíbrio térmico com A.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

c) Transitiva: verifica-se experimentalmente que, se A está em equilíbrio térmico<br />

com B, e se B está em equilíbrio térmico com C, então A está em equilíbrio térmico com<br />

C (Lei Zero da Termodinâmica).<br />

A Figura 3.8 ilustra a evolução da temperatura de <strong>do</strong>is sistemas constituí<strong>do</strong>s por<br />

água a diferentes temperaturas, coloca<strong>do</strong>s em contacto térmico dentro de um calorímetro.<br />

Utilizou-se <strong>do</strong>is sensores de temperatura e um sistema automático de aquisição de da<strong>do</strong>s,<br />

verifican<strong>do</strong>-se a evolução no senti<strong>do</strong> de uma temperatura de equilíbrio comum a ambos<br />

os sistemas.<br />

É importante que os alunos tomem contacto com diferentes tecnologias de<br />

equipamentos laboratoriais, nomeadamente de aquisição automática de da<strong>do</strong>s e diferentes<br />

tipos de termómetros. A observação da necessidade de tempo para se atingir o equilíbrio<br />

térmico é também importante para que compreendam a necessidade de levar em conta o<br />

tempo de resposta de um termómetro.<br />

Esta actividade foi realizada em contexto de aula e insere-se no currículo de Física<br />

e Química A, componente de Física, <strong>do</strong> 10º ano de escolaridade.<br />

Figura 3.8 Fotografias que ilustram a actividade experimental <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

equilíbrio térmico.<br />

3.2.2 Lei zero da Termodinâmica<br />

A última propriedade da relação de equivalência referida constitui a Lei Zero da<br />

Termodinâmica e está na base <strong>do</strong> conceito de temperatura, na construção de termómetros<br />

e escalas de temperatura.<br />

A temperatura é pois definida como a propriedade que indica se um sistema está ou<br />

não em equilíbrio térmico com outros sistemas. É uma grandeza escalar e intensiva. A<br />

40


41<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

atribuição de um número à temperatura consiste na construção de um termómetro e no<br />

estabelecimento de uma escala de temperatura.<br />

3.2.3 Definição de temperatura<br />

A Lei Zero implica a existência de uma função de esta<strong>do</strong>, chamada temperatura.<br />

Suponhamos <strong>do</strong>is sistemas, A e B, em equilíbrio térmico, e consideremos, por<br />

simplicidade, que os esta<strong>do</strong>s de equilíbrio são determina<strong>do</strong>s pelas variáveis X e Y.<br />

Existe, portanto, uma função ( )<br />

, , , 0<br />

sistema A se pode escrever em função de A X , B X e Y B ,<br />

( , , )<br />

A AB A B B<br />

fAB XAYAXBY B = tal que a variável A<br />

Y <strong>do</strong><br />

Y = h X X Y<br />

(3.12)<br />

Por outro la<strong>do</strong>, se os sistemas A e C estiverem também em equilíbrio térmico,<br />

verifica-se a equação ( )<br />

( , , )<br />

A AC A C C<br />

f X , Y , X , Y = 0 e, analogamente, podemos escrever<br />

AC A A C C<br />

Y = h X X Y<br />

(3.13)<br />

Então, pela Lei Zero, B e C estão em equilíbrio térmico, e deve verificar-se a<br />

equação ( )<br />

f X , Y , X , Y = 0 (independentemente das propriedades de A), pelo que<br />

BC B B C C<br />

X A não deve aparecer na equação<br />

( , , ) ( , , )<br />

Y = h X X Y = h X X Y<br />

(3.14)<br />

A AB A B B AC A C C<br />

Existe, portanto, uma função, q ( X , Y ) q ( X , Y )<br />

= , que depende apenas <strong>do</strong><br />

B B B C C C<br />

esta<strong>do</strong> de cada sistema. Pelo mesmo raciocínio, mas agora partin<strong>do</strong> de B em equilíbrio<br />

térmico com A e C, e consideran<strong>do</strong>, pela Lei Zero, também A e C em equilíbrio térmico,<br />

obtemos, quan<strong>do</strong> os três sistemas se encontrarem em equilíbrio térmico,<br />

( X , Y ) ( X , Y ) ( X , Y )<br />

q = q = q . (3.15)<br />

A A A B B B C C C


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Existem, assim, funções das coordenadas X e Y (funções <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de cada<br />

sistema), sen<strong>do</strong> estas funções todas iguais quan<strong>do</strong> os sistemas estão em equilíbrio<br />

térmico entre si.<br />

A função q é a temperatura. A temperatura de um sistema é pois a propriedade<br />

que indica se ele está ou não em equilíbrio térmico com outros sistemas. Tem um<br />

carácter escalar, sen<strong>do</strong> indicada por um número. Como cada subsistema deve estar em<br />

equilíbrio com os outros, uma consequência da propriedade reflexiva, a temperatura tem<br />

de ser uma grandeza intensiva, toman<strong>do</strong> o mesmo valor em qualquer ponto <strong>do</strong> sistema. A<br />

forma da função θ, e o número de variáveis necessárias para a especificar, dependem <strong>do</strong><br />

sistema termodinâmico em causa.<br />

A Lei Zero da Termodinâmica pode enunciar-se, portanto, numa formulação mais<br />

recente, <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:<br />

Existe uma grandeza escalar, chamada temperatura, que é uma propriedade<br />

intensiva <strong>do</strong>s sistemas termodinâmicos em equilíbrio, tal que a igualdade de<br />

temperatura é a condição necessária e suficiente de equilíbrio térmico.<br />

Nas classes de equivalência referidas anteriormente existe uma Relação de Ordem.<br />

Uma classe de equivalência q 1,<br />

classifica-se como de ordem superior à classe q 2 se,<br />

colocan<strong>do</strong> em contacto qualquer sistema da classe q 2 com qualquer sistema da classe q 1,<br />

o primeiro ( q 2 ) aumentar a <strong>sua</strong> temperatura e o segun<strong>do</strong> ( q 1)<br />

a diminuir. Esta relação de<br />

ordem satisfaz as seguintes propriedades:<br />

a) Antissimétrica: se o sistema A aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com o<br />

sistema B, B não a aumenta em contacto com A.<br />

b) Transitiva: se o sistema A aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com o<br />

sistema B, e B aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com o sistema C, então A<br />

também aumenta a <strong>sua</strong> temperatura em contacto com C.<br />

As relações de equivalência e de ordem referidas estão na base da construção das<br />

escalas termométricas.<br />

3.2.3.1 Isotérmicas<br />

Consideremos um sistema A, no esta<strong>do</strong> X1, Y 1,<br />

em equilíbrio térmico com outro<br />

sistema B, no esta<strong>do</strong> X1¢ , Y1¢.<br />

Se A é tira<strong>do</strong> <strong>do</strong> contacto de B e o seu esta<strong>do</strong> é altera<strong>do</strong>, é<br />

possível obter um segun<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> X 2, Y 2 que esteja em equilíbrio térmico com o esta<strong>do</strong><br />

42


original X1, Y1<br />

X1, Y 1;<br />

2, 2<br />

43<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

¢ ¢ <strong>do</strong> sistema B. A experiência mostra que há um conjunto de esta<strong>do</strong>s<br />

X Y ; X 3, Y 3;<br />

... , cada um em equilíbrio térmico com o esta<strong>do</strong> X1¢ , Y1¢<br />

de B, e<br />

to<strong>do</strong>s eles, pela Lei Zero, estão em equilíbrio uns com os outros. To<strong>do</strong>s esses esta<strong>do</strong>s,<br />

quan<strong>do</strong> representa<strong>do</strong>s num diagrama YX, - pertencem a uma curva como a I representada<br />

na Figura 3.9. Tal curva é chamada isotérmica. Uma isotérmica é o conjunto de to<strong>do</strong>s os<br />

pontos que representam esta<strong>do</strong>s de um sistema em equilíbrio térmico com um da<strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> de outro sistema.<br />

Analogamente, em relação ao sistema B, encontramos um conjunto de esta<strong>do</strong>s –<br />

X Y<br />

X Y<br />

X , Y<br />

X Y <strong>do</strong><br />

1¢ , 1¢;<br />

2¢ , 2¢;<br />

3¢ 3¢;<br />

... – to<strong>do</strong>s em equilíbrio térmico com um esta<strong>do</strong> 1, 1<br />

sistema A, e, portanto, em equilíbrio térmico uns com os outros. Estes esta<strong>do</strong>s,<br />

representa<strong>do</strong>s no diagrama Y¢ -X¢<br />

da Figura 3.9, constituem a isotérmica I¢ . Pela Lei<br />

Zero, to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s da isotérmica I <strong>do</strong> sistema A estão em equilíbrio térmico com<br />

to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s da isotérmica I¢ <strong>do</strong> sistema B. I e I¢ são isotérmicas correspondentes<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sistemas.<br />

Sistema A Sistema B<br />

Y Y ¢<br />

X1, Y 1<br />

X 2, Y 2<br />

X 3, Y<br />

3<br />

III<br />

II<br />

I<br />

X ¢ , Y ¢<br />

X ¢ , Y ¢<br />

Figura 3.9 Isotérmicas correspondentes de <strong>do</strong>is sistemas termodinâmicos<br />

diferentes A e B (Anacleto, 2004).<br />

Se a experiência fosse repetida com condições iniciais diferentes, outro conjunto de<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sistema A pertencentes à curva II podiam ser encontra<strong>do</strong>s, cada um em<br />

equilíbrio térmico com cada esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> sistema B pertencente à curva II¢ . Assim, a<br />

família de isotérmicas I, II, III, ... , <strong>do</strong> sistema A e a família correspondente I¢ , II¢ , III¢ ,<br />

... , <strong>do</strong> sistema B podem ser encontradas. Pela Lei Zero da Termodinâmica, podem ser<br />

obtidas isotérmicas correspondentes em outros sistemas C, D, ... .<br />

Notemos que a metrologia da temperatura através da utilização de um termómetro<br />

é uma aplicação directa da Lei Zero e <strong>do</strong> conceito de equilíbrio térmico. Se o termómetro<br />

1 1<br />

2 2<br />

III¢<br />

II¢<br />

X X ¢<br />

I¢<br />

X ¢ , Y ¢<br />

3 3


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

(sistema A) tiver esta<strong>do</strong> em equilíbrio térmico com um padrão à temperatura T 0 (sistema<br />

B), e se agora está em contacto térmico com um sistema cuja temperatura queremos<br />

medir (sistema C) e indica o valor T 0 , então a temperatura a determinar é a mesma que a<br />

temperatura <strong>do</strong> padrão, T 0 , pois, pela Lei Zero, o sistema cuja temperatura queremos<br />

medir está em equilíbrio térmico com o padrão, embora estes nunca tenham esta<strong>do</strong> em<br />

contacto térmico.<br />

3.2.3.2 Equação de esta<strong>do</strong> térmica<br />

Para além <strong>do</strong> conceito de temperatura, a Lei Zero permite introduzir o conceito de<br />

equação de esta<strong>do</strong> ou equação de esta<strong>do</strong> térmica, que relaciona, no equilíbrio, as<br />

propriedades de um sistema termodinâmico.<br />

Para o sistema A, a temperatura é dada por q ( X , Y ) q ( X , Y ) q ( X , Y )<br />

seja, podemos escrever a seguinte relação<br />

44<br />

= = , ou<br />

1 1 2 2 3 3<br />

f ( X, Y, q ) = 0<br />

(3.16)<br />

que é a equação de esta<strong>do</strong> térmica. A existência de uma equação deste tipo é geral não se<br />

limitan<strong>do</strong> a sistemas termodinâmicos particulares, poden<strong>do</strong> envolver outras variáveis<br />

para além das X e Y consideradas.<br />

A Termodinâmica, através da Lei Zero, garante a existência de uma equação de<br />

esta<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os sistemas em equilíbrio, embora não especifique a <strong>sua</strong> forma. Esta<br />

equação permite relacionar variações de grandezas termodinâmicas.<br />

3.2.3.3 Pontos fixos<br />

Uma questão diferente da definição conceptual de temperatura é a construção<br />

efectiva de uma escala termométrica empírica, usan<strong>do</strong> um termómetro particular. É<br />

necessário encontrar um ou mais esta<strong>do</strong>s de referência e substâncias com propriedades<br />

termométricas adequadas. Os esta<strong>do</strong>s escolhi<strong>do</strong>s para referência são designa<strong>do</strong>s por<br />

pontos fixos, e devem ter como principal característica a <strong>sua</strong> fácil reprodutibilidade.<br />

Costumava tomar-se o gelo fundente e água em ebulição como pontos fixos, mas<br />

actualmente toma-se só um ponto fixo como referência, o ponto triplo da água. Este<br />

esta<strong>do</strong> corresponde ao esta<strong>do</strong> de equilíbrio entre as três fases da água, ou seja, o ponto<br />

em que a água está em equilíbrio com o gelo e o seu vapor. Este esta<strong>do</strong> termodinâmico é<br />

realiza<strong>do</strong> à pressão de 0,612 kPa e é-lhe atribuí<strong>do</strong> a temperatura de 273,16 K (0,01 ºC).


45<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Por outro la<strong>do</strong>, a propriedade da substância usada no termómetro deve variar muito<br />

quan<strong>do</strong> a temperatura varia pouco (elevada sensibilidade).<br />

Convém chamar a atenção que se <strong>do</strong>is sistemas estão à mesma temperatura, isto<br />

não significa necessariamente que se encontrem em equilíbrio termodinâmico completo.<br />

Para que tal aconteça devem verificar-se mais duas condições: a de equilíbrio mecânico e<br />

a de equilíbrio químico.<br />

Na Figura 3.10 mostra-se os registos de um aluno e a montagem experimental para<br />

a determinação <strong>do</strong>s pontos de fusão e de ebulição da água.<br />

Partin<strong>do</strong> de uma mistura de água (líquida) e gelo, aqueceu-se até se obter o esta<strong>do</strong><br />

de ebulição.<br />

Figura 3.10 Fotografias de um caderno de um aluno (à esquerda) e da<br />

montagem experimental (à direita) relativas à actividade da<br />

determinação <strong>do</strong>s pontos de fusão e de ebulição da água.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s são os que se mostram no gráfico da Figura 3.11. Os pontos fixos<br />

correspondentes ao gelo fundente e à água em ebulição correspondem aproximadamente<br />

às temperaturas de 0 ºC e 100 ºC, respectivamente.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 3.11 Gráfico da evolução da temperatura no aquecimento da água<br />

desde o ponto de fusão até ao ponto de ebulição.<br />

3.2.4 O ponto de vista microscópio<br />

Notemos que o conceito de temperatura apresenta<strong>do</strong> é muito abstracto, o que se<br />

revela no facto de os alunos, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensino básico, sentirem muita dificuldade em<br />

compreender este conceito desta forma. Mesmo insistin<strong>do</strong> exaustivamente nesta<br />

abordagem <strong>do</strong> conceito de temperatura, os alunos pautam os seus raciocínios para<br />

explicar certos fenómenos por ideias intuitivas e conceptuais alicerçadas nas <strong>sua</strong>s<br />

experiências vividas e na linguagem que usam de forma sistemática.<br />

A abordagem da temperatura recorren<strong>do</strong>-se a uma descrição microscópica é uma<br />

tentativa para facilitar a compreensão <strong>do</strong> conceito, de uma forma menos abstracta, por<br />

isso, mais intuitiva. Notemos contu<strong>do</strong>, que o conceito de temperatura é um conceito<br />

macroscópico.<br />

Experimentalmente, observa-se que desde que não haja transição de fase, quan<strong>do</strong><br />

se fornece energia ao sistema a temperatura aumenta. A <strong>sua</strong> energia interna também<br />

aumenta originan<strong>do</strong> um aumento da energia das partículas constituintes <strong>do</strong> sistema.<br />

A energia média de uma partícula, num sistema em equilíbrio estatístico, tem um<br />

valor bem defini<strong>do</strong> da<strong>do</strong> por:<br />

E nE 1 1+ n2E2 + nE 3 3 + <br />

E = =<br />

N n + n + n + (3.17)<br />

1 2 3<br />

onde i n é o número de partículas com energia i E , sen<strong>do</strong> Â ni= N o seu número total.<br />

46


47<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

De acor<strong>do</strong> com a estatística de Maxwell-Boltzmann (ver secção 3.3.2), o número<br />

de partículas correspondentes à energia E i na distribuição mais provável para a<br />

temperatura T é da<strong>do</strong> pela expressão<br />

EikT n Ae -<br />

= (3.18)<br />

i<br />

onde k é a constante de Boltzmann, e A é uma constante que depende da temperatura,<br />

<strong>do</strong> número total de partículas e de outras propriedades das partículas <strong>do</strong> sistema. O valor<br />

de A é determina<strong>do</strong> impon<strong>do</strong> a condição de que o número total de partículas <strong>do</strong> sistema<br />

seja N (conservação <strong>do</strong> número de partículas).<br />

O valor da exponencial<br />

e -<br />

EikT da eq. (3.18) aumenta (diminui) à medida que<br />

EikT diminui (aumenta). Podemos concluir que, à medida que EikT aumenta<br />

(diminui), a ocupação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> com energia E i torna-se menor (maior).<br />

Esta definição de temperatura pode harmonizar-se com a que está associada às<br />

sensações de “calor” e de “frio”, uma vez que o nosso sistema nervoso é afecta<strong>do</strong> pela<br />

energia média das moléculas, o que origina diferentes sensações.<br />

No entanto, relacionar a temperatura com as propriedades microscópicas não é<br />

tarefa fácil, apesar de se aceitar que “a temperatura é uma medida da energia cinética<br />

média das partículas que constituem o sistema”.<br />

Da equação (3.18) e consideran<strong>do</strong> uma distribuição contínua de energia ( N de<br />

valor muito grande), obtemos a lei da distribuição das velocidades para a estatística de<br />

Maxwell-Boltzmann (Deus et al, 2000),<br />

32 2<br />

2<br />

4N<br />

Ê m ˆ Ê mv ˆ<br />

nv ( ) = Á v exp -<br />

p Ë<br />

˜<br />

2kT ¯ Á<br />

Ë 2kT˜<br />

¯ (3.19)<br />

onde m é a massa de cada partícula e nv ( ) é o número de partículas com velocidades de<br />

módulo compreendi<strong>do</strong> entre v e v+ dv.<br />

Na Figura 3.12 apresenta-se o gráfico da<br />

equação (3.19) para o Hélio em equilíbrio termodinâmico a três temperaturas diferentes.<br />

Como se pode observar, à medida que aumenta a temperatura <strong>do</strong> equilíbrio, a velocidade<br />

média também aumenta.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 3.12 Distribuição das velocidades de Maxwell-Boltzmann para as<br />

temperaturas de 300 K, 900 K e 1500 K.<br />

A temperatura é um conceito macroscópico (uma partícula não tem temperatura 10 ),<br />

que se pode relacionar com propriedades médias microscópicas. É uma propriedade <strong>do</strong>s<br />

sistemas termodinâmicos, portanto, propriedade macroscópica que não depende (embora<br />

possa ser relacionada) com a estrutura microscópica da matéria.<br />

Quan<strong>do</strong> se pergunta, mesmo depois de se ter explica<strong>do</strong> o conceito de temperatura<br />

com base no equilíbrio térmico, se a madeira e o metal (constituintes de <strong>do</strong>is corpos que<br />

permanecem numa sala durante um longo perío<strong>do</strong> de tempo) têm ou não a mesma<br />

temperatura, a resposta parece ser quase uma fatalidade: “o metal está a uma<br />

temperatura inferior à da madeira”.<br />

A <strong>medição</strong> de temperatura pode ser feita com termómetros de contacto, que<br />

funcionam com base no facto de que <strong>do</strong>is corpos em contacto adquirem, após um certo<br />

perío<strong>do</strong> de tempo, a mesma temperatura, isto é, ficam em equilíbrio térmico 11 . Há vários<br />

tipos de termómetros que se baseiam no facto de poderem seleccionar numa propriedade<br />

<strong>do</strong>s materiais que varia com a temperatura de uma forma previsível e reprodutível,<br />

chamada propriedade termométrica.<br />

10 No entanto o conceito de temperatura pode ser aplica<strong>do</strong> a certas propriedades das partículas. Por<br />

exemplo, há estu<strong>do</strong>s da <strong>medição</strong> da temperatura de núcleos atómicos em função da <strong>sua</strong> energia<br />

de excitação (Melby et al, 1999). Outro exemplo interessante, é atribuir uma temperatura aos<br />

electrões livres num metal a 0 K, cujo valor máximo é designada por temperatura de Fermi, que<br />

está associada à energia de Fermi, mas que não tem uma relação com a temperatura <strong>do</strong> metal<br />

como um to<strong>do</strong> (Omar, 1993).<br />

11<br />

Os pirómetros não são termómetros de contacto. Medem a temperatura com base na radiação<br />

emitida pelos corpos (ver secção 5.5).<br />

48


3.3 Radiação térmica<br />

49<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Os corpos emitem radiação electromagnética pelo facto de estarem a uma dada<br />

temperatura. Esta radiação é designada por radiação térmica. Por outro la<strong>do</strong>, os corpos<br />

também absorvem radiação electromagnética. Em equilíbrio termodinâmico há um<br />

balanço perfeito entre a energia emitida e a energia absorvida. Contu<strong>do</strong>, se um corpo está<br />

inicialmente a uma temperatura superior à da <strong>sua</strong> vizinhança, irá arrefecer, pois a <strong>sua</strong><br />

taxa de emissão de radiação é maior <strong>do</strong> que a <strong>sua</strong> taxa de absorção. Se o corpo estiver<br />

inicialmente a uma temperatura inferior à da <strong>sua</strong> vizinhança irá aquecer. Quan<strong>do</strong> o corpo<br />

e o meio ficam à mesma temperatura, é atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico e as taxas de<br />

emissão e absorção são iguais.<br />

A Figura 3.13 mostra a evolução temporal da temperatura <strong>do</strong> ar conti<strong>do</strong> dentro de<br />

latas pintadas (branca e preta), quan<strong>do</strong>, nas mesmas condições, se fez incidir radiação<br />

emitida por uma lâmpada, sobre cada uma delas. A montagem experimental é mostrada<br />

na Figura 3.14 e a actividade insere-se no currículo de 10º ano da disciplina de Física e<br />

Química A, componente da Física.<br />

Figura 3.13 Evolução temporal da temperatura <strong>do</strong> ar no interior de duas latas<br />

de cores diferentes, quan<strong>do</strong> incide nelas radiação nas mesmas<br />

condições.<br />

Analisan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s podemos concluir que o ar conti<strong>do</strong> na lata recebe, através<br />

desta, parte da energia emitida pela lâmpada, aumentan<strong>do</strong> assim a <strong>sua</strong> temperatura. Essa<br />

energia recebida depende da cor da superfície, já que estas têm a mesma área e a mesma<br />

textura. Com o decorrer <strong>do</strong> tempo, o aumento de temperatura é cada vez menor, o que se<br />

explica pelo facto de a lata também emitir radiação. A intensidade da energia emitida por


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

unidade de tempo e de área da superfície emissora é tanto maior quanto maior for a<br />

temperatura a que o corpo se encontra. Assim a diferença entre a energia que a lata<br />

absorve e a que ele emite é cada vez menor, num mesmo intervalo de tempo, até que essa<br />

diferença se anula, quan<strong>do</strong> é atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico. Neste esta<strong>do</strong>, a rapidez com<br />

que a energia é absorvida é igual àquela com que é emitida.<br />

Figura 3.14 Fotografia da montagem experimental para a comparação <strong>do</strong><br />

poder de absorção de radiação por diferentes superfícies.<br />

A matéria na fase sólida ou líquida emite um espectro contínuo de radiação. O<br />

perfil <strong>do</strong> espectro de radiação emitida depende fundamentalmente da <strong>sua</strong> temperatura,<br />

sen<strong>do</strong> praticamente independente <strong>do</strong> material de que o corpo é composto. Para<br />

temperaturas baixas a maioria <strong>do</strong>s corpos são visíveis, não pela radiação que emitem,<br />

mas devi<strong>do</strong> à luz que reflectem. Se não houver nenhuma luz a incidir sobre eles, não<br />

podem ser vistos. Todavia, a temperaturas muito altas, os corpos têm luminosidade<br />

própria. Podem ser vistos a brilhar num ambiente escuro, pois a radiação térmica por eles<br />

emitida começa a ser significativa na região <strong>do</strong> espectro visível.<br />

A radiação visível 12 , emitida por corpos mesmo a temperaturas de alguns milhares<br />

de Kelvin, é menor que 10% da radiação total emitida, sen<strong>do</strong> esta fundamentalmente<br />

radiação infravermelha. Podemos ilustrar este facto com uma actividade experimental<br />

que consiste no aquecimento de água colocan<strong>do</strong> uma lâmpada acesa no seu seio, cuja<br />

montagem se mostra na Figura 3.15.<br />

12 O olho humano é sensível ao espectro electromagnético na banda espectral de 400 nm a 700 nm.<br />

50


51<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Figura 3.15 Fotografias da montagem experimental para estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

aquecimento da água com uma lâmpada.<br />

A experiência foi repetida com a mesma lâmpada e nas mesmas condições de<br />

alimentação, mas envolvida com folha de alumínio.<br />

O gráfico da Figura 3.16 apresenta a evolução da temperatura da água em função<br />

<strong>do</strong> tempo. O aquecimento é devi<strong>do</strong> essencialmente à emissão na banda <strong>do</strong> infravermelho.<br />

A diferença entre os declives corresponde à emissão no visível, que é pequena quan<strong>do</strong><br />

comparada com a potência total emitida.<br />

Figura 3.16 Gráfico comparativo <strong>do</strong> aquecimento da água com uma lâmpada<br />

com e sem folha de alumínio.<br />

O facto de existir uma relação entre temperatura e emissão de radiação não é em si<br />

surpreendente. De acor<strong>do</strong> com a teoria corpuscular da matéria, a temperatura relaciona-se<br />

com a agitação das partículas constituintes da matéria. Como estas têm carga eléctrica e<br />

como uma carga em movimento acelera<strong>do</strong> emite radiação (Eisberg et al, 1979), o


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

fenómeno da emissão da radiação térmica é qualitativamente explica<strong>do</strong> pelas leis <strong>do</strong><br />

Electromagnetismo 13 . Porém, como veremos, esta teoria revela-se insuficiente para<br />

explicar o espectro de emissão observa<strong>do</strong> experimentalmente.<br />

Em rigor, o perfil <strong>do</strong> espectro da radiação térmica emitida por um corpo quente,<br />

depende de algum mo<strong>do</strong> da composição desse corpo, em particular das características da<br />

<strong>sua</strong> superfície. No entanto, podemos imaginar o caso ideal de corpos que emitem<br />

espectros térmicos com características universais, independentes <strong>do</strong> material de que são<br />

constituí<strong>do</strong>s. Um corpo com essas propriedades é designa<strong>do</strong> por corpo negro, e a <strong>sua</strong><br />

superfície absorve toda a radiação térmica incidente. O nome é sugeri<strong>do</strong> pelo facto de tal<br />

corpo não reflectir a luz, sen<strong>do</strong> percepciona<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> negro. Na natureza não se<br />

conhece nenhum corpo perfeitamente negro, apenas existin<strong>do</strong> boas aproximações que nos<br />

permitem estudar as <strong>sua</strong>s propriedades. Uma boa aproximação a um corpo negro obtém-<br />

-se cobrin<strong>do</strong> um objecto com uma camada de fuligem. Verifica-se que to<strong>do</strong>s os corpos<br />

negros à mesma temperatura emitem radiação térmica com o mesmo espectro.<br />

A distribuição espectral da radiação <strong>do</strong> corpo negro é descrita pela radiância<br />

espectral, RT ( n ) . A radiância espectral é definida como a energia emitida por um corpo,<br />

à temperatura T , com frequência compreendida entre n e n + dn<br />

, por unidade de tempo<br />

e por unidade de área. As primeiras medidas precisas desta grandeza foram feitas por<br />

Lummer e Pringsheim em 1899 (Alonso et al, 1978).<br />

Conforme se observa na Figura 3.17, RT ( n ) depende da temperatura <strong>do</strong> corpo<br />

emissor e da frequência da radiação. Além disso, vemos que a radiância espectral <strong>do</strong><br />

corpo negro tende para zero, tanto para frequências muito grandes como para frequências<br />

muito pequenas, e exibe um máximo para uma certa frequência, cujo valor aumenta com<br />

a temperatura.<br />

A energia total emitida pelo corpo negro, E R , à temperatura T , por unidade de<br />

tempo e de área, designa-se por radiância e é obtida integran<strong>do</strong> a função RT ( n )<br />

•<br />

R T<br />

0<br />

( )<br />

E = Ú R n dn<br />

(3.20)<br />

13 As leis <strong>do</strong> Electromagnetismo são unificadas pelas equações de Maxwell (Alonso et al, 1977).<br />

52


53<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Figura 3.17. Radiância espectral <strong>do</strong> corpo negro para quatro temperaturas<br />

diferentes.<br />

O valor de E R é proporcional à quarta potência da temperatura (Alonso et al, 1978).<br />

Esta relação é chamada a lei de Stefan-Boltzmann, e foi enuncia<strong>do</strong> pela primeira vez em<br />

1879 sob a forma da seguinte equação empírica<br />

R<br />

4<br />

E = s T<br />

(3.21)<br />

onde s é a constante de Stefan-Boltzmann, cujo valor é<br />

-8 -2 -4<br />

5,670 ¥ 10 Wm K . Da<br />

análise da Figura 3.17 também se pode concluir que o valor máximo <strong>do</strong> espectro se<br />

desloca para maiores frequências à medida que a temperatura aumenta. Este resulta<strong>do</strong> é<br />

chama<strong>do</strong> lei <strong>do</strong> deslocamento de Wien e estabelece que a frequência correspondente ao<br />

máximo de R T é proporcional à temperatura:<br />

n μ T<br />

(3.22)<br />

max<br />

Como ln = c , onde l é o comprimento de onda da radiação e c a velocidade de<br />

propagação das ondas electromagnéticas no vazio, a lei de Wien pode ser escrita em<br />

termos <strong>do</strong> comprimento de onda assumin<strong>do</strong> a forma<br />

l T = constante<br />

(3.23)<br />

max


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

onde l max é o comprimento de onda correspondente ao máximo da radiância espectral, a<br />

uma dada temperatura T . O valor determina<strong>do</strong> experimentalmente para a constante de<br />

Wien é de<br />

-3<br />

2,898 ¥ 10 m K .<br />

Uma excelente aproximação de um corpo negro, de grande importância no estu<strong>do</strong><br />

da teoria da radiação, pode ser obtida a partir de um objecto que contém uma cavidade<br />

ligada ao exterior por um pequeno orifício, como se ilustra na Figura 3.18.<br />

A radiação térmica que incide sobre o orifício, vinda <strong>do</strong> exterior, entra na cavidade e<br />

é completamente absorvida por ela devi<strong>do</strong> às sucessivas reflexões nas <strong>sua</strong>s paredes<br />

interiores. Se a área <strong>do</strong> orifício for muito pequena comparada com a área da superfície<br />

interna da cavidade, apenas uma fracção desprezível da radiação incidente sobre o<br />

orifício sai da cavidade e portanto o orifício deve ter propriedades da superfície de um<br />

corpo negro.<br />

Figura 3.18 Cavidade que com um orifício. A radiação que entra é totalmente<br />

absorvida devi<strong>do</strong> às sucessivas reflexões no interior da cavidade,<br />

que se aproxima a um corpo negro.<br />

Se as paredes da cavidade forem uniformemente aquecidas até atingirem uma dada<br />

temperatura T , emitirão radiação térmica que vai encher a cavidade. Uma pequena<br />

fracção dessa radiação, vinda <strong>do</strong> interior da cavidade incide sobre o orifício e vai<br />

atravessá-lo. Portanto este actua como um emissor de radiação térmica. Como ele tem as<br />

propriedades <strong>do</strong> corpo negro, a radiação emitida por ele deve ter um espectro de corpo<br />

negro. Mas como o orifício está apenas a deixar passar para fora uma pequena amostra da<br />

radiação <strong>do</strong> interior da cavidade, é natural que a radiação no seu interior também tenha o<br />

espectro <strong>do</strong> corpo negro. De facto, ela terá um espectro de corpo negro característico da<br />

54<br />

T


55<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

temperatura T das <strong>sua</strong>s paredes. O espectro de radiação emiti<strong>do</strong> pelo orifício da cavidade<br />

pode ser especifica<strong>do</strong> em termos da função radiância espectral, RT ( n ) . No entanto, é<br />

mais útil especificar o espectro da radiação dentro da cavidade, chamada radiação de<br />

cavidade, em termos de uma densidade de energia, rT ( n ) , que é definida como a energia<br />

contida por unidade de volume da cavidade, à temperatura T , no intervalo de frequência<br />

n e n + dn<br />

. É evidente que as duas quantidades são proporcionais entre si, isto é,<br />

( ) ( ) R r n μ n<br />

(3.24)<br />

T T<br />

Portanto, a radiação dentro da cavidade cujas paredes estão a uma temperatura T<br />

tem as mesmas propriedades que a radiação emitida pela superfície de um corpo negro à<br />

mesma temperatura.<br />

3.3.1 A teoria clássica da radiação <strong>do</strong> corpo negro<br />

No início <strong>do</strong> século XX, Rayleigh e Jeans fizeram o cálculo da densidade de<br />

energia da radiação de uma cavidade (ou de um corpo negro), o que mostrou uma séria<br />

discordância com os resulta<strong>do</strong>s experimentais. De facto, esta divergência pôs em causa a<br />

teoria da Física Clássica e foi o início <strong>do</strong> desenvolvimento da Física Quântica.<br />

Rayleigh e Jeans consideraram uma cavidade com paredes metálicas em equilíbrio<br />

térmico à temperatura T . Nestas condições, as paredes emitem radiação térmica que<br />

enche a cavidade, sen<strong>do</strong> o seu espectro o de um corpo negro à temperatura T . No regime<br />

estacionário a radiação electromagnética dentro da cavidade deverá existir na forma de<br />

ondas estacionárias com nós nas superfícies metálicas.<br />

Admitamos que a cavidade cheia de radiação electromagnética tem a forma de um<br />

cubo 14 de la<strong>do</strong> igual a a , conforme se ilustra na Figura 3.19. A radiação reflectida de um<br />

la<strong>do</strong> para o outro entre as paredes pode ser dividida em três componentes ao longo das<br />

três direcções perpendiculares definidas pelas arestas da cavidade, que podem ser<br />

tratadas separadamente. Se se considerar a componente segun<strong>do</strong> x e a parede metálica<br />

em x = 0 , toda a radiação que incide na parede é reflectida por esta e as ondas incidente<br />

e reflectida combinam-se para formar uma onda estacionária.<br />

14 A função densidade de energia dentro da cavidade deve ser independente da <strong>sua</strong> forma. A<br />

escolha da forma cúbica deve-se a uma conveniência <strong>do</strong> ponto de vista matemático.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 3.19 Uma cavidade cúbica, com aresta de comprimento a, preenchida<br />

por radiação electromagnética.<br />

Mas como a radiação electromagnética é uma onda transversal com o vector campo<br />

eléctrico E perpendicular à direcção de propagação, e como a direcção de propagação é<br />

perpendicular à parede em questão, o seu vector campo eléctrico é paralelo à parede. Mas<br />

uma parede metálica não pode suportar um campo eléctrico paralelo à <strong>sua</strong> superfície, já<br />

que isso produzia uma corrente eléctrica no senti<strong>do</strong> de anular tal campo. A superfície de<br />

um condutor em equilíbrio é uma superfície equipotencial e se existir campo eléctrico na<br />

superfície terá que lhe ser perpendicular. Portanto, a conciliação <strong>do</strong> equilíbrio eléctrico<br />

das paredes e a transversalidade da onda electromagnética exige que o vector campo<br />

eléctrico seja nulo nas paredes. Assim, a onda estacionária associada à componente<br />

segun<strong>do</strong> x deve ter um nó em x = 0 e outro em x = a . Analogamente, as componentes<br />

segun<strong>do</strong> y e z , têm nós em y = 0 e y = a,<br />

e em z = 0 e z = a,<br />

respectivamente.<br />

Estas condições colocam limitações nos comprimentos de onda possíveis da<br />

radiação contida na cavidade. Se a radiação de comprimento de onda l e frequência<br />

n = c l se propagara na direcção definida pelos ângulos a , b e g , tal como mostra a<br />

Figura 3.20, e for uma onda estacionária, então as <strong>sua</strong>s componentes segun<strong>do</strong> x , y e z<br />

também são ondas estacionárias. Na Figura 3.20 estão indicadas algumas localizações<br />

<strong>do</strong>s nós fixos desta onda estacionária onde se fez passar em cada um deles um plano<br />

perpendicular à direcção de propagação. A distância entre eles é de l 2 , onde l é o<br />

comprimento de onda.<br />

z<br />

z = a<br />

0<br />

x = a<br />

x<br />

56<br />

y = a<br />

y


57<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Figura 3.20 Planos nodais de uma onde estacionária que se propaga numa<br />

dada direcção na cavidade cúbica.<br />

Os nós das componentes segun<strong>do</strong> x , y e z podem ser da<strong>do</strong>s por:<br />

( ) ( )<br />

( ) ( )<br />

Ï lx2= l 2 cos a<br />

Ô<br />

Ìly2=<br />

l 2 cos b<br />

Ô<br />

Ó<br />

Ô lz2= ( l 2) cos(<br />

g )<br />

z<br />

l y<br />

l z<br />

2 y<br />

2<br />

l z<br />

2<br />

lx<br />

2<br />

(3.25)<br />

As componentes <strong>do</strong> campo eléctrico da onda estacionária segun<strong>do</strong> os três eixos são<br />

dadas pelas expressões<br />

( , ) sin ( 2p l ) sin ( 2pn<br />

)<br />

Ï E x t = A x x t<br />

Ô<br />

Ô<br />

ÌE<br />

y t B y y t<br />

Ô<br />

Ô<br />

ÓE<br />

z t = C z z t<br />

( , ) = sin( 2p l ) sin( 2pn<br />

)<br />

( , ) sin ( 2p l ) sin ( 2pn<br />

)<br />

(3.26)<br />

A componente x é uma onda de amplitude variável, cujo valor máximo é A, com<br />

variações espaciais dadas por sin ( 2 x x )<br />

( x )<br />

g<br />

a<br />

b<br />

p l e com frequência temporal n . Como<br />

sin 2p l x se anula para 2x l x = 0, 1, 2, 3, ... , trata-se de uma onda estacionária cujo<br />

comprimento de onda é l x , uma vez que tem nós separa<strong>do</strong>s por uma distância de<br />

lx<br />

2<br />

l<br />

2<br />

Direcção de<br />

propagação<br />

x


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

x lx<br />

D = 2 . As expressões correspondentes às componentes y e z representam ondas<br />

estacionárias de amplitudes máximas B e C e comprimentos de onda l y e l z ,<br />

respectivamente. É de notar que as equações (3.26) satisfazem as condições de que a<br />

componente x tenha um nó em x = 0 , a componente y em y = 0 e a componente z em<br />

z = 0 . No entanto, para que a componente x tenha um nó em x = a , a componente y<br />

em y = a e a componente z em z = a,<br />

é necessário impor as seguintes condições<br />

Ï 2a<br />

l = n<br />

Ô<br />

Ì2a<br />

l = n<br />

Ô<br />

ÓÔ<br />

2a<br />

l = n<br />

x x<br />

y y<br />

z z<br />

onde n x = 0, 1, 2, 3, ... ; n = 0, 1, 2, 3, ... ; n z = 0, 1, 2, 3, ...<br />

y<br />

(3.27)<br />

Resolven<strong>do</strong> o sistema de equações (3.25) em ordem a l x , l y e l z e substituin<strong>do</strong><br />

os seus valores na equação (3.27), obtemos<br />

( 2 l) cos(<br />

a)<br />

( 2 l) cos(<br />

b)<br />

Ï a = nx<br />

Ô<br />

Ì a = ny<br />

Ô<br />

Ô<br />

Ó(<br />

2a l) cos(<br />

g ) = nz<br />

o que elevadas ao quadra<strong>do</strong> e somadas, resultam na seguinte equação<br />

Ê2aˆ Á<br />

Ë<br />

˜<br />

l ¯<br />

2<br />

( a b g )<br />

2 2 2 2 2 2<br />

cos + cos + cos = nx+ ny + nz<br />

Mas os ângulos a , b e g satisfazem a relação<br />

permite escrever<br />

2 2 2<br />

(3.28)<br />

(3.29)<br />

cos a + cos b + cos g = 1,<br />

o que<br />

2a<br />

2 2 2<br />

= nx+ ny + nz<br />

(3.30)<br />

l<br />

onde x n , y n e n z podem tomar qualquer valor inteiro. Esta equação descreve a restrição<br />

a impor aos comprimentos de onda para a radiação electromagnética contida na cavidade.<br />

58


59<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Por conveniência continuamos a discussão em termos de frequências possíveis em<br />

vez de comprimentos de onda.<br />

c c 2 2 2<br />

n = = nx+ ny + nz<br />

(3.31)<br />

l 2a<br />

Determinemos o número de frequências contidas num intervalo de n a n + dn<br />

.<br />

Para isso definimos uma grelha de forma cúbica desenhada no primeiro octante de um<br />

sistema de coordenadas rectangular, de tal mo<strong>do</strong> que as três coordenadas de cada ponto<br />

da grelha correspondam a um possível valor para os três inteiros n x , y n e n z . Por<br />

construção, cada ponto da grelha corresponde a uma frequência, portanto o número de<br />

frequências possíveis entre n e n dn<br />

+ , N( n ) dn<br />

, é igual a ( )<br />

N r dr, que corresponde ao<br />

número de pontos conti<strong>do</strong>s entre volumes de forma esférica de raios r e r+ dr,<br />

respectivamente, onde<br />

r = n + n + n ,<br />

2 2 2<br />

x y z<br />

ou seja, usan<strong>do</strong> a equação (3.31),<br />

2a<br />

r<br />

c n = (3.32)<br />

Então N( r) dr é igual ao produto <strong>do</strong> volume entre as esferas pela densidade de<br />

pontos da grelha, que por construção é de um ponto por unidade de volume, ou seja, um<br />

ponto por frequência de onda estacionária.<br />

O elemento de volume em coordenadas cartesianas é dada por dV = dx dy dz , onde<br />

dx , dy e dz são os deslocamentos elementares segun<strong>do</strong> x , y e z . Em coordenadas<br />

esféricas ( r, qf , ) o elemento de volume é da<strong>do</strong> por<br />

( )<br />

2<br />

dV r sin dr d d<br />

= f f q<br />

(3.33)<br />

Para calcular o volume elementar entre as duas esferas é necessário integrar a<br />

expressão anterior no primeiro octante:


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

p p<br />

2 2<br />

2<br />

() sin ()<br />

N r dr = ÚÚ r f dfdq dr<br />

0 0<br />

obten<strong>do</strong>-se como resulta<strong>do</strong><br />

()<br />

p<br />

= (3.34)<br />

2<br />

2<br />

N r dr r dr<br />

Da equação (3.32) temos ( 2 )<br />

3<br />

Ê2aˆ 2<br />

N d d<br />

( )<br />

n n = p Á n n<br />

Ë<br />

˜<br />

c ¯<br />

dr = a c dn , obten<strong>do</strong>-se a expressão final de N( n ) dn<br />

60<br />

(3.35)<br />

Com isto fica concluí<strong>do</strong> o cálculo <strong>do</strong> número de ondas estacionárias contidas numa<br />

cavidade cúbica de aresta a . O resulta<strong>do</strong> da equação (3.35) vem multiplica<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is já<br />

que, consideran<strong>do</strong> uma radiação segun<strong>do</strong> o eixo <strong>do</strong>s xx , por exemplo, o seu vector<br />

campo eléctrico, ten<strong>do</strong> uma direcção perpendicular, pode tomar qualquer direcção entre<br />

os eixos yy e zz (<strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s de polarização). A amplitude da radiação pode ser escrita<br />

da seguinte forma:<br />

2 2<br />

y z<br />

A= A + A<br />

Se for considera<strong>do</strong> que o número de radiações é suficientemente eleva<strong>do</strong>, pode-se<br />

dizer que em média Ay = Az,<br />

o que faz que a amplitude média das radiações, A , possa<br />

ser escrita por<br />

A= 2Ay Sen<strong>do</strong> a energia de uma radiação dada pelo quadra<strong>do</strong> da <strong>sua</strong> amplitude, essa energia<br />

será então de<br />

2<br />

2A y , o que significa que se pode multiplicar o número de ondas por um<br />

factor de <strong>do</strong>is e calcular de seguida o valor da energia média de cada componente da<br />

radiação.


61<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Sen<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> o número de ondas estacionárias contidas na cavidade, agora só é<br />

necessário saber qual é a energia média de cada onda para que seja possível calcular a<br />

densidade de energia, por unidade de volume, num certo intervalo de frequências.<br />

Mas segun<strong>do</strong> a teoria cinética clássica, mais concretamente segun<strong>do</strong> a lei da<br />

equipartição da energia, a energia cinética média de uma entidade em equilíbrio térmico<br />

à temperatura T é de kT 2 por grau de liberdade, onde<br />

-23 -1<br />

k = 1,38065 ¥ 10 J K é a<br />

constante de Boltzmann. Como cada uma das ondas estacionárias tem apenas um grau de<br />

liberdade, a amplitude <strong>do</strong> seu campo eléctrico, a <strong>sua</strong> energia cinética média é de kT 2 .<br />

Facilmente se chega à conclusão que para um sistema oscilante com apenas um grau de<br />

liberdade, a energia total é o <strong>do</strong>bro da energia cinética média. A energia total de cada<br />

onda estacionária é dada por<br />

e = kT<br />

(3.36)<br />

Voltan<strong>do</strong> à equação (3.35), que relaciona o número de frequências possíveis com o<br />

volume da cavidade, e saben<strong>do</strong> que em média a energia de uma radiação é dada pela lei<br />

da equipartição da energia traduzida pela equação (3.36), a primeira ideia que surge é que<br />

a densidade de energia por unidade de volume de uma cavidade à temperatura T será<br />

3<br />

dada pela multiplicação das duas expressões, a dividir pelo volume da cavidade ( a ) , ou<br />

seja,<br />

2<br />

8pn<br />

kT<br />

rT ( n) dn = dn<br />

(3.37)<br />

3<br />

c<br />

Esta ideia surgiu pela primeira vez a Rayleigh e Jeans, e embora aparentemente<br />

baseada em teorias sólidas, não coincide com os resulta<strong>do</strong>s experimentais. A Figura 3.21<br />

faz a comparação entre as previsões da equação (3.37) e a experiência. Como se pode<br />

observar da figura, a discrepância é enorme. A baixas frequências as duas curvas são<br />

aproximadamente iguais, no entanto, à medida que a frequência cresce, a previsão teórica<br />

aponta que a energia tende para infinito, enquanto que na prática todas as experiências<br />

conduzem ao resulta<strong>do</strong> de que essa energia tende para zero. A previsão da Física clássica<br />

é conhecida por catástrofe <strong>do</strong> ultravioleta.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 3.21 Comparação entre a previsão da Física clássica e os resulta<strong>do</strong>s<br />

experimentais para a densidade de energia numa cavidade.<br />

3.3.2 A distribuição de Boltzmann<br />

A lei da equipartição da energia surge também no resulta<strong>do</strong> de um cálculo bastante<br />

credível da Mecânica Estatística designa<strong>do</strong> por distribuição de Boltzmann e que é<br />

considera<strong>do</strong> seguidamente.<br />

Considere-se um sistema que contem um número eleva<strong>do</strong> de entidades físicas <strong>do</strong><br />

mesmo tipo em equilíbrio térmico à temperatura T. Para estarem em equilíbrio<br />

necessitam de trocar energia entre si. Nas trocas efectuadas, a energia de cada entidade<br />

flutua em torno de um valor médio. Em cada instante algumas partículas têm mais<br />

energia <strong>do</strong> que o valor médio e outras menos. Segun<strong>do</strong> a teoria clássica da mecânica<br />

estatística essas energias, e , tomam valores de acor<strong>do</strong> com uma função de distribuição<br />

de probabilidade, cuja forma depende da temperatura. O valor médio da energia, e , de<br />

cada partícula é determina<strong>do</strong> pela distribuição de probabilidade e deverá ter um valor<br />

defini<strong>do</strong> para uma temperatura particular (Eisberg et al, 1979).<br />

Consideremos um sistema de partículas <strong>do</strong> mesmo tipo às quais se pode associar<br />

uma dada energia. Se o sistema for isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> ambiente que o rodeia, a <strong>sua</strong> energia total<br />

permanece constante, poden<strong>do</strong> apenas ocorrer trocas de energia entre as partículas. Para<br />

simplificar os cálculos, admitamos que a energia de cada partícula toma valores discretos<br />

e múltiplos de D e , ou seja, e = 0,<br />

D e , 2D e , 3D e , 4D e , … . Nos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s,<br />

fazen<strong>do</strong> tender D e para zero obteremos os resulta<strong>do</strong>s correspondentes à possibilidade de<br />

uma partícula poder ter um valor contínuo para a <strong>sua</strong> energia. Também para simplificar,<br />

admitimos que o sistema é constituí<strong>do</strong> por um número pequeno de partículas (quatro, por<br />

62


63<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

exemplo) e que a <strong>sua</strong> energia total é 3D e . Tem-se em mente a generalização posterior<br />

para sistemas com grande número de partículas e para qualquer valor de energia total.<br />

Nº de<br />

e = 0 e =D e e = 2De<br />

e = 3De<br />

e = 4De<br />

possibilidades<br />

i = 1 3 1 4 420<br />

i = 2 2 1 1 12 12 20<br />

i = 3 1 3 4 420<br />

n¢ ( e ) 40 20 24 20 12 20 420 020<br />

Tabela 3.2 Cálculo da distribuição de Boltzmann.<br />

Uma vez que as quatro partículas podem trocar energia entre si, todas as divisões<br />

possíveis da energia 3D e entre as quatro entidades podem ocorrer. Na Tabela 3.2<br />

mostra-se todas as possibilidades de distribuição da energia total pelas quatro partículas,<br />

identificadas pela letra i . Para i = 1,<br />

três partículas têm energia nula, ten<strong>do</strong> a quarta<br />

energia igual a 3D e , ten<strong>do</strong> o sistema a energia e = 3D<br />

e . Nesta situação podem existir<br />

quatro possibilidades diferentes, uma vez que qualquer uma das quatro entidades pode<br />

ser a que tem energia de 3D e .<br />

No caso de i = 2,<br />

duas partículas têm energia nula, a terceira e a quarta têm,<br />

respectivamente, energias e =D e e e = 2D<br />

e . Nesta situação podem existir <strong>do</strong>ze<br />

possibilidades distintas de distribuição da energia (qualquer uma das quatro partículas<br />

pode ter energia e = 2D<br />

e e qualquer uma das restantes três pode ter energia e =D e , ou<br />

seja, 4¥ 3= 12 possibilidades).<br />

Para i = 3 , existem quatro mo<strong>do</strong>s distintos de fazer uma partícula com energia<br />

e = 0 e as restantes três partículas com energia e =D e .<br />

A última hipótese a considerar é a de que todas as possibilidades de dividir a<br />

energia pelas partículas ocorrem com igual probabilidade. Então a probabilidade de<br />

ocorrerem as divisões de determina<strong>do</strong> tipo ( i = 1,<br />

2 ou 3) é proporcional ao número de<br />

divisões distintas desse mesmo tipo. A probabilidade relativa, P i , é então igual ao<br />

número de divisões de determina<strong>do</strong> tipo a dividir pelo número total de divisões. As<br />

probabilidades relativas estão calculadas na coluna da direita da Tabela 3.2.<br />

O parâmetro que falta calcular é o número provável de entidades num da<strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

de energia e , n¢ ( e ) . Para o nível de energia e = 0 existem três entidades em divisões <strong>do</strong><br />

i P


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

tipo i = 1,<br />

com uma probabilidade de ocorrência de 4/20, duas entidades <strong>do</strong> tipo i = 2<br />

com probabilidade de 12 20 e uma entidade <strong>do</strong> tipo i = 3 com probabilidade de 420, o<br />

que faz com que n¢ ( e ) seja igual a 3¥ 4 20+ 2¥ 12 20+1¥<br />

4 20 = 40 20 . Os restantes<br />

valores de n¢ ( e ) estão calcula<strong>do</strong>s na última linha da Tabela 3.2. É de notar que a soma<br />

<strong>do</strong>s n¢ ( e ) é quatro, já que existem quatro partículas no sistema. Na Figura 3.22 estão<br />

marca<strong>do</strong>s os valores de n¢ ( e ) . A curva a cheio da mesma figura é a representação da<br />

função exponencial negativa<br />

( e )<br />

-<br />

= 0<br />

(3.38)<br />

n Ae ee<br />

onde A e e 0 são constantes que foram calculadas de mo<strong>do</strong> que a curva se ajuste o melhor<br />

possível aos pontos calcula<strong>do</strong>s correspondentes a n¢ ( e ) .<br />

Figura 3.22 Comparação entre os resulta<strong>do</strong>s de um cálculo simples e a<br />

distribuição de Boltzmann.<br />

Diminuin<strong>do</strong> o intervalo D e , aumentan<strong>do</strong> assim o número de esta<strong>do</strong>s possíveis, a<br />

função n¢ ( e ) fica definida para valores de e cada vez mais próximos e no limite quan<strong>do</strong><br />

DeÆ 0 , a energia e de uma partícula fica uma variável contínua, como é suposto na<br />

Física clássica e a distribuição n¢ ( e ) torna-se uma função contínua. Se, finalmente, o<br />

64


65<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

número de partículas <strong>do</strong> sistema for muito grande, chega-se à conclusão de que a função<br />

que se encontraria para n¢ ( e ) é idêntica à exponencial negativa da equação (3.38).<br />

No exemplo apresenta<strong>do</strong> anteriormente, outro méto<strong>do</strong> para se calcular a energia<br />

total <strong>do</strong> sistema seria multiplicar cada nível de energia pelo número provável de<br />

entidades com essa energia. No final, a energia total <strong>do</strong> sistema, e s , é dada pela soma de<br />

todas as multiplicações, ou seja, pode ser calculada pela expressão<br />

s<br />

NDe<br />

Â<br />

0<br />

( )<br />

e = e n¢<br />

e<br />

( )<br />

= 0 ¥ 40 20 +D e ¥ 24 20 + 2D e ¥ 12 20 + 3D e ¥ 4 20 = 60 20 D e = 3De<br />

A energia média de cada partícula também pode ser obtida dividin<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong><br />

anterior pelo número total de entidades, que no exemplo apresenta<strong>do</strong> são quatro. Portanto<br />

a energia média de cada entidade será dada por<br />

e =<br />

NDe<br />

Â<br />

0<br />

NDe<br />

Â<br />

0<br />

( )<br />

e n¢<br />

e<br />

n¢<br />

( e )<br />

que neste caso dá ( 34) e<br />

(3.39)<br />

D . Com a generalização para DeÆ 0 e um número de<br />

partículas muito eleva<strong>do</strong>, o valor da energia média de cada partícula será da<strong>do</strong> por<br />

e =<br />

•<br />

Ú<br />

0<br />

•<br />

0<br />

( )<br />

e n e de<br />

Ú<br />

( )<br />

n e de<br />

Substituin<strong>do</strong> n( e ) pelo valor da equação (3.38),<br />

e =<br />

•<br />

-ee<br />

A e 0d<br />

Ú<br />

0<br />

•<br />

-ee<br />

Ae 0d<br />

Ú<br />

0<br />

e e<br />

e<br />

(3.40)<br />

(3.41)


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Se se resolverem os integrais, chega-se à conclusão de que e = e0,<br />

ou seja, a<br />

constante e 0 da exponencial negativa da equação (3.38) é igual à energia média de cada<br />

entidade e não é necessário saber <strong>do</strong> valor de A.<br />

Mas segun<strong>do</strong> a lei da equipartição da energia, o valor médio de energia de uma<br />

partícula é proporcional à <strong>sua</strong> temperatura. Então como o parâmetro e 0 tem o mesmo<br />

valor que e , a equação (3.38) pode ser escrita da seguinte forma:<br />

( e )<br />

kT<br />

n Ae e -<br />

= (3.42)<br />

A equação anterior é a famosa distribuição de Boltzmann. Como o valor de A não<br />

é especifica<strong>do</strong>, na realidade apenas sabemos que, à temperatura T , o número de<br />

entidades com um determina<strong>do</strong> nível de energia, n( e ) , é proporcional a<br />

66<br />

kT<br />

e e -<br />

Em termos de cálculo probabilístico, facilmente se chega à conclusão de que o<br />

número provável de partículas com um determina<strong>do</strong> nível de energia é proporcional à<br />

probabilidade de ser encontrada uma determinada partícula com esse mesmo nível de<br />

kT<br />

energia, ou seja, P( e) μ n(<br />

e)<br />

e se n( ) Ae e -<br />

kT<br />

e = , então P( ) Be e -<br />

e<br />

= , desde que a<br />

constante B seja escolhida apropriadamente. Para que B seja calcula<strong>do</strong> basta resolver a<br />

equação em que a soma de todas as probabilidades de algo acontecer é igual a 1, ou seja,<br />

• •<br />

-e<br />

kT<br />

1<br />

P( e) de = 1¤ B e = 1¤<br />

B =<br />

kT<br />

Ú Ú (3.43)<br />

0 0<br />

e daqui se pode concluir que<br />

P<br />

( e )<br />

-e<br />

kT<br />

e<br />

= (3.44)<br />

kT<br />

3.3.3 A teoria de Planck da radiação <strong>do</strong> corpo negro<br />

Para solucionar a discrepância entre a teoria e a experiência, Planck considerou a<br />

hipótese de que a lei da equipartição da energia não estava correcta. Como a distribuição<br />

de Boltzmann (que usa a dita lei) parece baseada em pressupostos bastante credíveis,<br />

Planck partiu da equação (3.44) para estudar a discrepância entre a teoria e a prática.<br />

.


A energia média de uma radiação pode ser dada por<br />

e =<br />

•<br />

Ú<br />

0<br />

•<br />

0<br />

( )<br />

e P e de<br />

Ú<br />

( )<br />

P e de<br />

67<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

(3.45)<br />

Como o integral <strong>do</strong> denomina<strong>do</strong>r representa a probabilidade da energia ter qualquer<br />

valor de zero a infinito, o seu resulta<strong>do</strong> vai ser igual a um.<br />

Se se resolver o integral <strong>do</strong> numera<strong>do</strong>r, obtemos e = kT .<br />

Observan<strong>do</strong> o gráfico da Figura 3.21, chega-se à conclusão de que a lei clássica dá<br />

resulta<strong>do</strong>s satisfatórios para baixas frequências:<br />

lim e = kT , isto é, a energia média de<br />

n Æ0<br />

uma radiação tende para kT quan<strong>do</strong> a frequência tende para zero. Também se pode<br />

observar a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s experimentais que lim e = 0 .<br />

n Æ•<br />

Ao tentar encontrar uma solução para o problema, Planck supôs que a energia e<br />

poderia ter apenas certos valores discretos, em vez de qualquer valor, e que esses valores<br />

discretos eram múltiplos de um valor mínimo: e = 0,<br />

D e , 2 D e , 3 D e , 4 D e , … ,ou seja<br />

e = n D e , n Œ .<br />

Planck chegou à conclusão de que para a energia média dum sistema tender para<br />

zero quan<strong>do</strong> a frequência tende para infinito bastava fazer D e proporcional à frequência,<br />

ou seja, D e = hn<br />

e e = nhn<br />

, n Œ , onde<br />

-34<br />

h = 6,626 ¥ 10 Js é hoje conhecida como a<br />

constante de Planck.<br />

A equação (3.45) dará lugar a uma forma discreta em que os integrais darão lugar a<br />

somatórios<br />

• • -nhn<br />

kT<br />

e<br />

ÂeP( e) Ânhn<br />

n= 0 n=<br />

0 kT<br />

e = =<br />

• • -nhn<br />

kT<br />

e<br />

ÂP( e ) Â kT<br />

n= 0 n=<br />

0<br />

(3.46)


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Depois de resolvi<strong>do</strong>s os somatórios, é obtida uma expressão para a energia média<br />

que é a seguinte (Alonso et al, 1978)<br />

( )<br />

e n =<br />

h<br />

h kT<br />

e 1<br />

n<br />

n<br />

- (3.47)<br />

e a fórmula que se obtém para a densidade de energia da cavidade com o espectro de<br />

corpo negro é:<br />

8 h<br />

T ( ) d d<br />

3 h kT<br />

c e 1<br />

n<br />

p n<br />

r n n =<br />

n<br />

-<br />

3<br />

68<br />

(3.48)<br />

Esta fórmula, conhecida como lei de Planck está em excelente acor<strong>do</strong> com as<br />

experiências feitas até ao momento.<br />

Em grande parte da literatura a lei de Planck aparece como função <strong>do</strong> comprimento<br />

de onda e não como função da frequência. Para se obter tal expressão basta saber que:<br />

c<br />

c<br />

n = e dn=- dl<br />

2<br />

l<br />

l<br />

Então, temos<br />

( ) d = 5<br />

r l l<br />

8phc<br />

dl<br />

l<br />

l e - 1<br />

T hc kT<br />

(3.49)<br />

A lei de Stefan-Boltzmann, dada pela equação (3.21), traduz a radiação total<br />

emitida por um corpo à temperatura T e é obtida a partir da lei de Planck integran<strong>do</strong> a<br />

densidade de radiação para todas as frequências. Obtêm-se que a densidade de radiação é<br />

proporcional à quarta potência da temperatura (Alonso et al, 1978). Do mesmo mo<strong>do</strong>, a<br />

lei <strong>do</strong> deslocamento de Wien, dada pela equação (3.22), é obtida igualan<strong>do</strong> a primeira<br />

derivada de rT ( n ) a zero. Obtêm-se assim que o máximo da curva é proporcional à<br />

temperatura.<br />

O conceito de corpo negro é uma idealização útil, mas os corpos reais afastam-se<br />

<strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong> corpo negro em maior ou menor grau. O comportamento real é<br />

descrito introduzin<strong>do</strong> um coeficiente, designa<strong>do</strong> por emissividade e denota<strong>do</strong> por e ,<br />

obten<strong>do</strong>-se a lei de Stefan-Boltzmann para corpos reais, onde e < 1,<br />

R<br />

4<br />

E = esT (3.50)


69<br />

3 Lei Zero da Termodinâmica e <strong>Temperatura</strong><br />

Na Tabela 3.3 são apresenta<strong>do</strong>s os valores de emissividade para vários materiais,<br />

no esta<strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> e líqui<strong>do</strong>, para um comprimento de onda de 0,65μm.<br />

Tabela 3.3 Emissividade de alguns materiais a l = 0,65μm .


4 Metrologia da temperatura<br />

4.1 Introdução<br />

Através <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s o homem trava conhecimento com o mun<strong>do</strong> físico que o<br />

rodeia. A primeira noção de temperatura de um sistema é estabelecida a partir da<br />

sensação térmica que o tacto proporciona, sen<strong>do</strong> traduzida pelos termos frio, quente,<br />

gela<strong>do</strong>, morno, etc.<br />

No entanto, a nossa percepção de quente e frio é, por vezes, engana<strong>do</strong>ra. Por<br />

exemplo, sente-se a sensação de frio quan<strong>do</strong> se mergulha uma mão em água morna<br />

depois de a ter mergulha<strong>do</strong> durante algum tempo em água quente e sente-se a sensação<br />

de quente quan<strong>do</strong> se mergulha a mão na mesma água morna depois de a ter mergulha<strong>do</strong><br />

durante algum tempo em água fria.<br />

Portanto o carácter “sensitivo” não pode, para fins científicos, ser utiliza<strong>do</strong> como<br />

um termómetro pois é um instrumento diferencial, pois só consegue distinguir entre<br />

“mais frio” e “mais quente” em relação à <strong>sua</strong> própria temperatura. Além disso tem um<br />

carácter relativo que depende da pessoa, da condição fisiológica em que se encontrava<br />

anteriormente e da natureza <strong>do</strong>s objectos toca<strong>do</strong>s. Por exemplo, uma maçaneta metálica<br />

“parece mais fria” ao tacto <strong>do</strong> que a porta onde está colocada, apesar de estarem ambas à<br />

mesma temperatura. A explicação tem a ver com os valores das <strong>sua</strong>s condutividades e<br />

capacidades térmicas.<br />

Surge, portanto, a necessidade de se estabelecer um instrumento normaliza<strong>do</strong> de<br />

<strong>medição</strong> de temperatura que seja independente <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r – o termómetro. A<br />

metrologia da temperatura antecede a compreensão <strong>do</strong> conceito científico de temperatura.<br />

De entre todas as grandezas físicas, a temperatura é provavelmente aquela que é<br />

medida com mais frequência, pois é relevante em muitas áreas científicas e tecnológicas.<br />

Citam-se como exemplo de actividades onde é essencial a <strong>medição</strong> de temperatura, as<br />

indústrias químicas, siderúrgicas, de plástico e de papel, alimentar, farmacêutica,<br />

automóvel, aviação, entre outras. Também na meteorologia, na medicina e investigação<br />

científica em geral.<br />

71


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Os termómetros baseiam-se na dependência com a temperatura de propriedades das<br />

substâncias tais como volume, pressão, resistência eléctrica, variação de cor, etc.<br />

Há vários tipos de termómetros, que diferem na exactidão, no méto<strong>do</strong>, na gama de<br />

<strong>medição</strong>, etc. O tipo de termómetro a ser utiliza<strong>do</strong> para a determinação da temperatura de<br />

um sistema depende da aplicação particular pretendida.<br />

4.2 Breve história da <strong>medição</strong> de temperatura<br />

Esta secção baseou-se em algumas fontes, nomeadamente (Pires et al, 2006),<br />

http://home.comcast.net/~igpl/Temperature.html, ten<strong>do</strong> alguma sobreposição com o texto<br />

de Paulo Cabral “Breve História da Medição de <strong>Temperatura</strong>s”.<br />

Primórdios (séculos XVI – XVIII)<br />

Os registos históricos existentes situam a primeira tentativa<br />

de estabelecer uma “escala de temperaturas” por volta de 170 d.c.<br />

O médico grego Claudius Galenus de Pergamum (129 – 201) terá<br />

sugeri<strong>do</strong> que as sensações de quente e de frio fossem medidas<br />

com base numa escala com quatro divisões numeradas acima e<br />

abaixo de um ponto neutro. A essa escala termométrica atribuiu a<br />

Claudius Galenus<br />

temperatura de “4 graus de calor” à água a ferver, a temperatura<br />

de “4 graus de frio” ao gelo e a temperatura de “neutra” à mistura de iguais quantidades<br />

daquelas duas substâncias.<br />

Não obstante a termometria anteceder a épocas tão remotas,<br />

a invenção <strong>do</strong> primeiro termómetro é atribuída ao Físico italiano<br />

Galileu Galilei (1564 – 1642). O equipamento consistia de um<br />

recipiente aberto conten<strong>do</strong> água colorida e sobre a qual se inseria a<br />

extremidade de um tubo fino de vidro suspenso, ten<strong>do</strong> na<br />

extremidade superior uma esfera oca.<br />

Galileu Galilei<br />

Pensa-se que Galileu tenha usa<strong>do</strong> vinho ao invés de água.<br />

Antes da imersão <strong>do</strong> tubo, de alguma forma, foi expelida uma<br />

parte <strong>do</strong> ar contida no seu interior, crian<strong>do</strong> naquela câmara uma pressão menor <strong>do</strong> que a<br />

atmosférica, fazen<strong>do</strong> com que o líqui<strong>do</strong> subisse dentro <strong>do</strong> tubo. Um aumento de<br />

temperatura <strong>do</strong> ar no interior da esfera provocava uma expansão <strong>do</strong> ar e,<br />

consequentemente uma movimentação no nível <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> para baixo e, por outro la<strong>do</strong>,<br />

uma queda de temperatura resultava no movimento <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> para cima. As<br />

flutuações da temperatura da esfera podiam assim ser observadas, anotan<strong>do</strong> a posição <strong>do</strong><br />

72


73<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

líqui<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> tubo. Este primeiro instrumento foi designa<strong>do</strong> por termoscópio<br />

(instrumento que indica variações temperatura por mudança de volume).<br />

Figura 4.1 Termómetro de<br />

Galileu Galilei.<br />

Em 1611, Bartolomeu Telioux, de Roma, desenhou um termoscópio <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de uma<br />

escala. Mas o verdadeiro “termómetro” foi inventa<strong>do</strong> pelo médico Sanctorius Sanctorius,<br />

que, cerca de 1612, desenvolveu um termómetro de ar equipa<strong>do</strong><br />

com uma escala para leitura da temperatura.<br />

Na segunda metade <strong>do</strong> século XVII o termómetro a ar era<br />

já muito conheci<strong>do</strong>, embora a <strong>sua</strong> eficácia não fosse muito boa.<br />

Em 1644, Evangelista Torricelli descobriu a variabilidade da<br />

pressão <strong>do</strong> ar e, cerca de 1660, comprovou-se que o termómetro<br />

a ar reagia não só à variação de temperatura mas também à<br />

Torricelli<br />

variação de pressão. A solução para esse problema (e também o<br />

passo seguinte na <strong>medição</strong> de temperatura) fora da<strong>do</strong> em<br />

1651 por Ferdinan<strong>do</strong> II (1610 – 1670), Gran Duque da<br />

Toscânia, que desenvolveu o primeiro termómetro que usava<br />

líqui<strong>do</strong> em vez de ar como meio termométrico. Selou um<br />

tubo conten<strong>do</strong> álcool e ten<strong>do</strong> gravada uma escala arbitrária,<br />

dividida em 50 graus. Não era referi<strong>do</strong> nenhum ponto fixo<br />

como sen<strong>do</strong> o zero da escala. Nascia assim o termómetro<br />

Ferdinan<strong>do</strong> II<br />

Florentino.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Em 1664, Robert Hook (1635 – 1703), da Lon<strong>do</strong>n Royal<br />

Society, usou tinta vermelha no álcool. A <strong>sua</strong> escala, em que os<br />

graus representavam um incremento no volume equivalente a<br />

cerca de 1/500 <strong>do</strong> volume total <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> no termómetro,<br />

necessitava apenas de um ponto fixo. O ponto fixo que ele<br />

escolheu foi o ponto de solidificação da água. Hook reparou que<br />

a mesma escala poderia ser usada por termómetros de vários<br />

tamanhos.<br />

Em 1702, o astrónomo Olef Roemer (1644 – 1710), oriun<strong>do</strong> de<br />

Copenhaga, utilizou <strong>do</strong>is pontos fixos na <strong>sua</strong> escala (o ponto de<br />

solidificação e o ponto de ebulição da água), dan<strong>do</strong> início à criação<br />

de escalas termométricas que se assemelham às que se conhecem<br />

hoje em dia e à construção de termómetros muito próximos <strong>do</strong>s<br />

modelos actuais.<br />

Século XVIII: a profusão das escalas termométricas<br />

O uso sistemático de termómetros teve um início bastante difícil. Face a problemas<br />

culturais, de comunicação, guerras, diferentes interpretações <strong>do</strong> fenómeno da temperatura<br />

e diferentes maneiras de construir o instrumento, uma enorme quantidade de escalas<br />

termométricas foram propostas ao longo <strong>do</strong> século XVIII, situação que dificultava<br />

enormemente a comparação de resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em diversos países. Há referência a 27<br />

escalas em uso na Europa em 1778 (Pires et al, 2006). Três delas difundiram-se no meio<br />

científico, sen<strong>do</strong> bastante usadas ao longo <strong>do</strong>s séculos XIX e XX.<br />

A escala Réaumur (ºR), <strong>do</strong> francês René-Antoine F. de<br />

Réaumur (1683 – 1757), apresentada em 1730, era baseada na<br />

expansão térmica <strong>do</strong> álcool (etanol). Os pontos fixos eram o ponto<br />

de congelamento da água (0 ºR), e o ponto de ebulição desta<br />

(80 ºR). Como o álcool tem ponto de ebulição baixo (78,3 ºC),<br />

tornava-se difícil medir altas temperaturas. Para resolver o<br />

Réne Réamur<br />

problema, os cientistas misturavam água ao álcool, mas tinha o<br />

inconveniente de a dilatação não ser uniforme.<br />

74<br />

Robert Hooke<br />

Olef Roemer


75<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

Cerca de 1714, Daniel Gabriel Fahrenheit (1686 – 1736), um<br />

fabricante holandês de instrumentos de precisão, fabricou um<br />

termómetro de líqui<strong>do</strong> em vidro, com mercúrio (em vez de álcool),<br />

cuja repetibilidade era a principal qualidade. De considerar ainda<br />

que o mercúrio não adere ao vidro, permanece líqui<strong>do</strong> entre uma<br />

vasta gama de temperaturas e a <strong>sua</strong> aparência prateada torna fácil a Daniel Fahrenheit<br />

leitura. Fahrenheit obteve o primeiro ponto da <strong>sua</strong> escala a partir de<br />

uma mistura de água, gelo e sal (era a temperatura mais baixa que ele conseguia<br />

produzir) e atribuiu-lhe o valor 0 ºF. O segun<strong>do</strong> ponto era obti<strong>do</strong> apenas com água e gelo<br />

(30 ºF). E o terceiro ponto da escala era obti<strong>do</strong> colocan<strong>do</strong> o reservatório <strong>do</strong> termómetro<br />

na boca de um ser humano desejan<strong>do</strong>-lhe medir a temperatura interna (96 ºF). Na <strong>sua</strong><br />

escala, Fahrenheit atribuiu o ponto de ebulição da água a 212 ºF. Mais tarde alterava o<br />

ponto de solidificação da água para 32 ºF, de forma que o intervalo entre o ponto de<br />

solidificação e o de ebulição da água fosse de 180 graus. A unidade atribuída a essa<br />

escala é o grau Fahrenheit.<br />

As pesquisas de Fahrenheit com termómetros confirmaram que cada líqui<strong>do</strong><br />

possuía um ponto de ebulição fixo e que este variava com a pressão. A escala de<br />

Fahrenheit ganhou popularidade, principalmente devi<strong>do</strong> à reprodutibilidade e à qualidade<br />

de construção <strong>do</strong>s termómetros por ele produzi<strong>do</strong>s.<br />

Cerca de 1742, Anders Celsius (1701 – 1744) propôs que o<br />

ponto de fusão <strong>do</strong> gelo e o ponto de ebulição da água fossem<br />

a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>s para definir uma escala de temperaturas. Curiosamente,<br />

atribuiu zero graus ao ponto de ebulição da água e 100 graus ao<br />

ponto de solidificação. Mais tarde Carolus Linnaeus (1707 – 1778)<br />

Anders Celsius<br />

de Upsula, Suécia, definiu a <strong>sua</strong> escala utilizan<strong>do</strong>, também, o ponto<br />

de fusão <strong>do</strong> gelo e o ponto de ebulição da água, sen<strong>do</strong> 0 e 100 graus,<br />

respectivamente (oposta da de Celsius).<br />

Em 1780, J. A. C. Charles, físico francês, verificou que para o<br />

mesmo aumento de temperatura, to<strong>do</strong>s os gases têm o mesmo<br />

Carl Linnaeus<br />

aumento de volume. Devi<strong>do</strong> ao coeficiente de expansão <strong>do</strong>s gases<br />

serem muito próximos, é possível estabelecer uma escala de temperatura baseada num<br />

ponto fixo único ao invés de usar uma escala de <strong>do</strong>is pontos fixos. Isto traz de volta os<br />

termómetros que usam um gás como meio termométrico.<br />

Em 1794, definiu-se que o grau termométrico seria a centésima parte da distância<br />

entre as marcas correspondentes ao ponto de fusão <strong>do</strong> gelo e ao ponto de ebulição da


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

água. Surgia assim a escala centígrada, a outra denominação da escala Celsius (até 1948,<br />

quan<strong>do</strong> a IX Conferência Internacional de Pesos e Medidas mu<strong>do</strong>u o nome para grau<br />

Celsius, ºC).<br />

Século XIX: A consolidação da termometria e o zero absoluto<br />

A partir <strong>do</strong> momento em que a temperatura passou a ser determinada com precisão<br />

satisfatória, várias grandezas ganharam um importante significa<strong>do</strong> prático no<br />

desenvolvimento da Física e da Química a partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XVIII. Conceitos<br />

como capacidade térmica mássica, calores latentes de fusão e de vaporização,<br />

condutividade térmica, etc., foram estabeleci<strong>do</strong>s e ganharam meto<strong>do</strong>logias práticas de<br />

<strong>medição</strong>, inviáveis se a termometria não tivesse atingi<strong>do</strong> o grau de desenvolvimento<br />

verifica<strong>do</strong> a partir da época de Fahrenheit (Pires et al, 2006). As experiências em que o<br />

termómetro desempenhava papel primordial eram bastante numerosas.<br />

Em 1821 Sir Humphrey Davy (1778 – 1829) descobriu que a resistividade <strong>do</strong>s<br />

metais apresentava uma forte dependência da temperatura.<br />

Em 1826 T. J. Seebeck (1770 – 1831) descobriu que a força<br />

electromotriz gerada, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is fios de metais diferentes são<br />

uni<strong>do</strong>s em duas extremidades e um <strong>do</strong>s extremos é aqueci<strong>do</strong>, pode<br />

ser relacionada quantitativamente com a temperatura e o sistema<br />

pode ser usa<strong>do</strong> como termómetro – designa<strong>do</strong> por termopar. Hoje<br />

Thomas Seebeck<br />

em dia o termopar é um importante sensor de temperatura para<br />

aplicações industriais. Merece referência o termopar de platina com<br />

10% de ródio/platina desenvolvi<strong>do</strong> em 1886 por Le Chatelier que foi durante largos anos<br />

usa<strong>do</strong> em laboratórios primários como instrumento de interpolação de escalas<br />

internacionais de temperatura, acima <strong>do</strong>s 630 ºC.<br />

No início <strong>do</strong> século XIX, William Thomson (Lord Kelvin)<br />

(1824 – 1907) desenvolveu uma escala termodinâmica universal<br />

baseada no coeficiente de expansão de um gás ideal. Kelvin<br />

verificou que a pressão de um gás diminuía de 1/273 <strong>do</strong> valor<br />

inicial quan<strong>do</strong> arrefeci<strong>do</strong> a volume constante de 0 a - 1ºC.<br />

Concluiu que a pressão seria nula quan<strong>do</strong> o gás estivesse a<br />

- 273ºC e como consequência a temperatura também o seria, visto<br />

não haver agitação das moléculas (à luz da Física Clássica). A escala criada por Kelvin<br />

tem origem (zero) no zero absoluto e a<strong>do</strong>pta como unidade o kelvin (K). A <strong>sua</strong> escala<br />

veio a tornar-se a base da moderna termometria.<br />

76<br />

Lord Kelvin


77<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

Em 1859, William John Macquorn Rankine (1820 – 1872)<br />

propôs outra escala de temperatura na qual especificava 0 para o<br />

zero absoluto, mas usava como base a escala graus Fahrenheit.<br />

Devi<strong>do</strong> à escala de Rankine ter o mesmo tamanho da escala de<br />

Fahrenheit, o ponto de congelamento da água (32 ºF) e o ponto<br />

de ebulição da água (212 ºF) correspondem respectivamente a<br />

491,67 °Ra e 671,67 °Ra. Esta escala foi mais tarde renomeada<br />

Rankine e <strong>sua</strong> unidade designada graus Rankine (símbolo °Ra).<br />

Em 1871 Sir William Siemens (1823 – 1883), propôs o uso<br />

de termómetros de resistência de platina, com a qual a <strong>medição</strong> da<br />

temperatura seria feita à custa da variação da resistência eléctrica<br />

de um fio de platina com a temperatura. A escolha da platina<br />

deveu-se ao facto de não oxidar a altas temperaturas e de ter uma<br />

relação entre a resistência e a temperatura bastante uniforme<br />

numa vasta gama de temperaturas. Os termómetros de resistência<br />

de platina são termómetros que apresentam excelentes características metrológicas.<br />

Século XX: Revisões e redefinições<br />

William Rankine<br />

William Siemens<br />

1. Termómetro de gás a volume constante<br />

Basea<strong>do</strong> nos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s feitos por P. Chappuis, em 1887, <strong>do</strong>s<br />

termómetros de gás com pressão constante ou com volume constante, usan<strong>do</strong> hidrogénio,<br />

azoto e dióxi<strong>do</strong> de carbono como meio termométrico, o Comité Internacional de Pesos e<br />

Medidas (CGPM) a<strong>do</strong>ptou o termómetro de hidrogénio de volume constante (sen<strong>do</strong> a<br />

propriedade termométrica a pressão) e uma escala baseada nos pontos de solidificação da<br />

água (a 0 ºC) e de ebulição (a 100 ºC) como escala prática para a meteorologia.<br />

As experiências com termómetros de gás mostraram que a diferença nas escalas<br />

para diferentes gases é muito pequena. As experiências também mostraram que é<br />

possível definir uma escala que é independente <strong>do</strong> gás, se este estiver a baixa pressão.<br />

Neste caso, to<strong>do</strong>s os gases se comportam como um gás ideal e tem uma relação muito<br />

simples entre a <strong>sua</strong> pressão, P , o seu volume, V , e a <strong>sua</strong> temperatura, T ,<br />

PV = (constante) T<br />

(4.1)


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Esta é chamada de “temperatura termodinâmica” e é considerada como a medida<br />

fundamental de temperatura. Com um ponto fixo na escala, necessitava-se de outro para<br />

que toda a escala estivesse definida. Em 1933 o Comité Internacional de Pesos e Medidas<br />

a<strong>do</strong>ptou o ponto triplo da água como ponto fixo desta escala, o seu valor é 273,16 K,<br />

sen<strong>do</strong> o kelvin (K) a unidade de temperatura desta escala.<br />

2. Escala Prática Internacional de <strong>Temperatura</strong><br />

Constatou-se a necessidade da existência de uma escala de temperaturas universal,<br />

definida de tal mo<strong>do</strong> que fosse precisa, reprodutível, simples de utilizar e que fornecesse<br />

valores de temperatura tão próximos quanto possível da temperatura termodinâmica.<br />

Foi em 1927 que o CGPM a<strong>do</strong>ptou a primeira Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong><br />

(ITS-27). Essa escala estendia-se desde os - 190 ºC até acima <strong>do</strong>s 1063ºC . Esta escala<br />

foi revista em 1948, passan<strong>do</strong> a ser designada por ITS-48, novamente alterada em 1960,<br />

a<strong>do</strong>ptan<strong>do</strong> nesse ano a designação de IPTS-48; uma revisão mais profunda ocorreu em<br />

1968, sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ptada a Escala Internacional Prática de <strong>Temperatura</strong>s (IPTS-68).<br />

Pouco tempo após a <strong>sua</strong> a<strong>do</strong>pção, constataram-se muitas limitações e deficiências,<br />

sen<strong>do</strong>-lhe introduzidas não só algumas correcções, em 1975, como também lhe foi<br />

acrescentada a Escala Provisória de <strong>Temperatura</strong> de 0,5 K a 30 K (EPT-76), em 1976.<br />

Em 1987, a 18ª CGPM decidiu que fosse desenvolvida uma nova escala de<br />

temperaturas, que viria a entrar oficialmente em vigor em 1 de Janeiro de 1990 sob a<br />

designação de Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong> de 1990 (ITS-90). Esta escala foi<br />

definida com base em fenómenos determinísticos de temperatura, e redefiniu alguns<br />

pontos fixos de temperatura. A Tabela 4.1 mostra algumas alterações introduzidas na<br />

escala ITS-90 relativamente à IPTS-68.<br />

Pontos fixos IPTS-68 ITS-90<br />

Ebulição <strong>do</strong> oxigénio – 182,962 ºC – 182,954 ºC<br />

Ponto triplo da água + 0,010 ºC + 0,010 ºC<br />

Solidificação <strong>do</strong> estanho + 231,968 ºC + 231,928 ºC<br />

Solidificação <strong>do</strong> zinco + 419,580 ºC +419,527 ºC<br />

Solidificação da prata + 961,930 ºC + 961,780 ºC<br />

Solidificação <strong>do</strong> ouro + 1064,430 ºC + 1064,180 ºC<br />

Tabela 4.1 Pontos fixos estabeleci<strong>do</strong>s na ITS-90, compara<strong>do</strong>s com os seus<br />

valores na IPTS-68.<br />

78


4.3 Termometria e escalas termométricas<br />

4.3.1 Escalas de temperaturas e princípios gerais<br />

79<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

Para estabelecer uma escala empírica de temperatura, seleccionamos um sistema<br />

caracteriza<strong>do</strong> pelas coordenadas X e Y como padrão, ao qual chamamos termómetro, e<br />

a<strong>do</strong>ptamos um conjunto de regras para atribuir um valor numérico à temperatura<br />

associada a cada uma das <strong>sua</strong>s isotérmicas. A cada sistema em equilíbrio térmico com o<br />

termómetro, atribuímos o mesmo valor para a temperatura. O procedimento mais simples<br />

é escolher qualquer caminho conveniente no plano X -Y<br />

, tal como é mostra<strong>do</strong> na Figura<br />

4.2 pela linha a traceja<strong>do</strong> Y = Y1,<br />

a qual intersecta as isotérmicas em pontos com a mesma<br />

coordenada Y, mas a diferentes coordenadas X. A temperatura associada a cada<br />

isotérmica é tomada como o valor, neste ponto de intersecção, de uma função<br />

de X adequada.<br />

Figura 4.2 Estabelecimento de uma<br />

escala de temperatura<br />

(Anacleto, 2004).<br />

Isotérmica correspondente<br />

ao ponto triplo da água<br />

Y = Y1<br />

A coordenada X é chamada a propriedade termométrica, e a forma da função<br />

termométrica q ( X ) determina a escala empírica de temperatura. Há muitos tipos de<br />

termómetros diferentes, cada um com a <strong>sua</strong> propriedade termométrica específica.<br />

Consideremos X uma propriedade termométrica e tomemos arbitrariamente uma<br />

escala de temperatura empírica q directamente proporcional a X. Assim, a temperatura<br />

comum ao termómetro e a to<strong>do</strong>s os sistemas em equilíbrio térmico com ele pode ser dada<br />

pela função termométrica<br />

Y<br />

X PT X


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

q ( X) = aX ( Yconstante)<br />

, (4.2)<br />

onde a é uma constante arbitrária. De notar que à medida que X se aproxima de zero, a<br />

temperatura também tende para zero, porque não há nenhuma constante somada à<br />

função. Deve ser nota<strong>do</strong>, ainda, que quan<strong>do</strong> esta relação arbitrária é aplicada a diferentes<br />

tipos de termómetros se obtém escalas empíricas de temperatura diferentes. A equação<br />

(4.2) aplica-se, em geral, a um termómetro posto em contacto com um sistema cuja<br />

temperatura q ( X ) queremos medir. Portanto, aplica-se quan<strong>do</strong> o termómetro é coloca<strong>do</strong><br />

em contacto com um da<strong>do</strong> sistema padrão num esta<strong>do</strong> reproduzível. Este esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

sistema padrão, escolhi<strong>do</strong> arbitrariamente, é designa<strong>do</strong> por ponto fixo, isto é, tem uma<br />

temperatura fixa. Os pontos fixos permitem temperaturas de referência para a construção<br />

de escalas de temperatura.<br />

Antes de 1954, a escala de temperatura internacional era a escala Celsius, a qual<br />

era baseada no intervalo de temperatura entre <strong>do</strong>is pontos fixos: (1) a temperatura à qual<br />

o gelo puro coexiste em equilíbrio, à pressão atmosférica normal 15 , com o ar satura<strong>do</strong> de<br />

vapor de água (o ponto <strong>do</strong> gelo) – ao qual era atribuída a temperatura q PG = 0C ∞ ; e (2) a<br />

temperatura de equilíbrio, à pressão atmosférica normal, entre a água pura e vapor puro<br />

(o ponto de vapor) – ao qual era atribuída a temperatura q PV = 100∞ C . Por esta razão esta<br />

escala era também designada por escala centígrada de temperatura.<br />

Em 1954, foi escolhi<strong>do</strong> um outro ponto fixo de referência, como base de uma nova<br />

escala de temperatura, baseada nas propriedades <strong>do</strong>s gases. Esse ponto corresponde à<br />

temperatura <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> onde gelo, água líquida, e vapor de água coexistem em equilíbrio,<br />

e é designa<strong>do</strong> por ponto triplo (PT) da água.<br />

Quan<strong>do</strong> um gás é manti<strong>do</strong> a volume constante, a <strong>sua</strong> temperatura varia linearmente<br />

com a pressão, se esta for suficientemente baixa. É esta propriedade que torna os gases<br />

importantes em termometria. Utilizan<strong>do</strong> gases diferentes, to<strong>do</strong>s a uma pressão muito<br />

baixa, obtém-se experimentalmente o gráfico da temperatura em função da pressão, para<br />

cada gás, conforme se ilustra na Figura 4.3.<br />

As rectas de ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais intersectam-se no mesmo ponto <strong>do</strong><br />

eixo das temperaturas, obten<strong>do</strong>-se a menor temperatura teórica possível, q =-273,15∞ C .<br />

Considera-se então uma escala de temperatura (escala Kelvin) com a mesma amplitude<br />

15 A pressão atmosférica normal tem o valor exacto de<br />

80<br />

5<br />

1,01325 ¥ 10 Pa .


81<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

em termos de unidade, mas com a origem ( T = 0K ) em -273,15∞ C . Assim, o valor da<br />

temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água é, nesta nova escala, T PT = 273,16 K , o que<br />

corresponde a 0,01 ºC. A temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água pode ser medida com<br />

precisão e reproduzida facilmente. De notar ainda que a palavra “grau” foi suprimida da<br />

escala Kelvin.<br />

Figura 4.3 Gráfico de P em função de θ, obti<strong>do</strong> experimentalmente com o<br />

termómetro de gás a volume constante, utilizan<strong>do</strong> quatro gases<br />

diferentes a baixas pressões (Anacleto, 2004).<br />

Denotan<strong>do</strong> por X PT é o valor da propriedade termométrica no ponto triplo, da<br />

equação (4.2), obtemos<br />

273,16K<br />

a = (4.3)<br />

X<br />

PT<br />

Extrapolação<br />

para P =<br />

0<br />

- 273,15<br />

0 q PT = 0,01 q PV = 100<br />

θ / ºC<br />

e podemos escrever então a função termométrica como<br />

X<br />

q ( X) = 273,16K ( Yconstante)<br />

. (4.4)<br />

X<br />

PT<br />

P<br />

Gás A<br />

Gás B<br />

Gás C<br />

Gás D<br />

A temperatura <strong>do</strong> PT da água é o ponto fixo padrão da termometria. Para obtermos<br />

a temperatura correspondente ao ponto triplo da água, utilizamos uma célula, como se<br />

mostra na Figura 4.4.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 4.4 Célula de ponto-triplo da água (Anacleto, 2004).<br />

A relação entre os valores numéricos da temperatura expressos em graus Celsius e<br />

em Kelvin é dada por<br />

( ) ( )<br />

T ºC = T K - 273,15<br />

(4.5)<br />

A escala Fahrenheit, escala muito utilizada nos países de cultura anglo-saxónica,<br />

em particular nos EUA, aparece com muita frequência nas especificações e<br />

características de equipamentos, por isso é importante conhecê-la. A fixação da escala<br />

Fahrenheit, em 1715, é anterior à definição da escala centígrada. É baseada nas mesmas<br />

referências que a escala centígrada, apenas os valores numéricos atribuí<strong>do</strong>s são<br />

diferentes. Assim, a escala Fahrenheit atribui ao ponto de fusão <strong>do</strong> gelo o valor 32 ºF e ao<br />

ponto de ebulição da água, a 1 atmosfera, o valor 212 ºF. A diferença entre estes <strong>do</strong>is<br />

valores é de 180 ºF. A divisão da escala em 180 partes seguiu um critério análogo ao da<br />

divisão da semicircunferência em graus. A relação entre os valores numéricos da<br />

temperatura expressa em ºF e em ºC é dada por<br />

Ê5º Cˆ<br />

ºC = Á ¥ ºF-32ºF Ë<br />

˜<br />

9º F¯<br />

Vapor<br />

de água<br />

Camada<br />

de água<br />

( )<br />

Termómetro<br />

A Tabela 4.2 apresenta algumas conversões entre escalas de temperatura.<br />

82<br />

Gelo<br />

Água<br />

Sela<strong>do</strong><br />

(4.6)


Conversão de Para Equação<br />

Celsius Fahrenheit ºF = ºC ¥ 1,8 + 32<br />

Celsius Kelvin K = ºC + 273,15<br />

Celsius Rankine ºRa = ºC ¥ 1,8 + 32 + 459,67<br />

Celsius Réaumur ºR = ºC ¥ 0,8<br />

Kelvin Fahrenheit ºF = K ¥ 1,8 - 459,67<br />

Kelvin Rankine ºRa = K ¥ 1,8<br />

Kelvin Réaumur ºR = ( K - 273,15) ¥ 0,8<br />

Tabela 4.2 Algumas conversões de unidades de temperatura.<br />

4.3.2 Termómetro de gás a volume constante<br />

83<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

É mostra<strong>do</strong> na Figura 4.5 um esquema simplifica<strong>do</strong> de um termómetro de gás a<br />

volume constante. Os materiais, a construção, e as dimensões variam de laboratório para<br />

laboratório e dependem da natureza <strong>do</strong> gás e da gama de temperaturas para a qual o<br />

termómetro é concebi<strong>do</strong>.<br />

Gás<br />

Tubo capilar<br />

Ponteiro<br />

h<br />

M M¢<br />

Reservatório<br />

de mercúrio<br />

Figura 4.5 Representação esquemática de um termómetro de gás a volume<br />

constante, sen<strong>do</strong> a propriedade termométrica a pressão<br />

(Anacleto, 2004).


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

O gás está conti<strong>do</strong> num reservatório que comunica com a coluna de mercúrio M<br />

através dum tubo capilar. O volume <strong>do</strong> gás é manti<strong>do</strong> constante por ajustamento da<br />

coluna de mercúrio M até tocar num pequeno ponteiro que se encontra no espaço acima<br />

de M. A coluna M é ajustada elevan<strong>do</strong> ou baixan<strong>do</strong> o reservatório <strong>do</strong> mercúrio.<br />

A pressão no sistema é igual à pressão atmosférica mais a que é devida à diferença<br />

de altura entre M¢ e M, h, e é medida duas vezes: quan<strong>do</strong> o gás está rodea<strong>do</strong> pelo<br />

sistema cuja temperatura queremos medir, obten<strong>do</strong>-se P, e quan<strong>do</strong> está rodea<strong>do</strong> por água<br />

no ponto triplo, obten<strong>do</strong>-se P PT . A temperatura é, então, dada por<br />

P<br />

q ( P) = 273,16K ( V constante) . (4.7)<br />

P<br />

PT<br />

No séc. XIX, o termómetro mais preciso era o termómetro de gás. Foi oficialmente<br />

a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> pelo Comité Internacional de Pesos e Medidas em 1887 como o termómetro<br />

padrão, substituin<strong>do</strong> o termómetro de mercúrio-num-tubo. A base teórica para o<br />

termómetro de gás é a relação entre a pressão, volume, e temperatura expressa pela lei<br />

<strong>do</strong>s gases ideais,<br />

PV = nRT , (4.8)<br />

onde P é a pressão, V é o volume, n é a quantidade de gás, e R a constante molar <strong>do</strong>s<br />

gases. A temperatura T é a temperatura termodinâmica teórica.<br />

Meçamos a temperatura absoluta, dada por um termómetro de gás ideal, no ponto<br />

de ebulição normal (PEN) da água (o ponto de vapor). É introduzida uma quantidade de<br />

gás no reservatório <strong>do</strong> termómetro de gás a volume constante, e medimos P PT quan<strong>do</strong> o<br />

reservatório <strong>do</strong> gás está inseri<strong>do</strong> numa célula de ponto triplo. Suponhamos que P PT é<br />

igual a 120 kPa. Manten<strong>do</strong> o volume constante, seguimos os seguintes procedimentos:<br />

1. Envolvemos o gás com vapor de água em ebulição, à pressão atmosférica<br />

normal, medimos a pressão <strong>do</strong> gás P PEN , e calculamos a temperatura empírica θ,<br />

usan<strong>do</strong> a equação (4.7),<br />

PPEN<br />

q ( PPEN<br />

) = 273,16K .<br />

120<br />

84


85<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

2. Retiramos algum gás de tal maneira que P PT tenha um valor inferior, por<br />

exemplo, 60 kPa. Medimos o novo valor de P PEN e calculamos um novo valor<br />

para θ,<br />

PPEN<br />

q ( PPEN<br />

) = 273,16K .<br />

60<br />

3. Continuamos a reduzir a quantidade de gás no reservatório de tal forma que P PT<br />

e P PEN tenham cada vez valores menores, por exemplo, P PT tenha os valores<br />

40 kPa, 20 kPa, etc. Para cada valor de P PT , calculamos o valor correspondente<br />

da temperatura ( P )<br />

q .<br />

PEN<br />

4. Representamos graficamente ( P )<br />

q PEN versus PT<br />

P e extrapolamos a curva<br />

resultante para obtermos a intersecção no eixo onde P PT = 0,<br />

len<strong>do</strong> <strong>do</strong> gráfico o<br />

valor <strong>do</strong> lim q ( P )<br />

P Æ0<br />

PT<br />

PEN<br />

.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s de uma série de testes desta natureza estão esboça<strong>do</strong>s na Figura 4.6<br />

para três gases diferentes com o objectivo de medir q ( P)<br />

para o ponto de ebulição<br />

normal da água. O gráfico indica que, embora as leituras <strong>do</strong> termómetro de gás a volume<br />

constante dependam da natureza <strong>do</strong> gás a valores ordinários de P PEN , to<strong>do</strong>s os gases<br />

indicam a mesma temperatura se P PT diminuir e tender para zero.<br />

q /K<br />

373,60<br />

373,50<br />

373,40<br />

373,30<br />

373,20<br />

373,10<br />

T (vapor) = 373,124 K<br />

PT<br />

Figura 4.6 <strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> PEN da água dada por diferentes termómetros<br />

de gás, no limite quan<strong>do</strong> PPT Æ 0 (Anacleto, 2004).<br />

/kPa P<br />

0 20 40 60 120<br />

N2<br />

H2<br />

He


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Assim, definimos a temperatura absoluta, T, dada por um termómetro de gás<br />

ideal, pela equação<br />

Ê P ˆ<br />

T = 273,16 K lim ( V constante)<br />

PPT<br />

Æ 0Á<br />

ËP˜ ¯<br />

PT<br />

86<br />

(4.9)<br />

Embora a escala de temperatura termodinâmica dada por um gás ideal seja<br />

independente das propriedades de um gás particular, ela depende ainda das propriedades<br />

<strong>do</strong>s gases em geral. O hélio é o gás mais indica<strong>do</strong> para termometria por duas razões. A<br />

altas temperaturas o hélio não se difunde através da platina, ao contrário <strong>do</strong> hidrogénio.<br />

O hélio torna-se líqui<strong>do</strong> a uma temperatura menor que qualquer outro gás, e, por isso, o<br />

termómetro de hélio pode ser usa<strong>do</strong> para medir temperaturas menores <strong>do</strong> que as que são<br />

possíveis com outro gás.<br />

4.3.3 Calibração e padrões de medida<br />

Entende-se por padrão de medida o instrumento de <strong>medição</strong> ou sistema de <strong>medição</strong><br />

destina<strong>do</strong> a definir ou materializar, conservar ou reproduzir uma unidade ou um ou<br />

vários valores conheci<strong>do</strong>s de uma grandeza para as transmitir por comparação a outros<br />

instrumentos de <strong>medição</strong> (VIM, 2005).<br />

Consoante as <strong>sua</strong>s características metrológicas um padrão pode ter várias<br />

designações. Podemos classificá-los em:<br />

• Padrão internacional: é um padrão reconheci<strong>do</strong> por um acor<strong>do</strong> internacional<br />

para servir de base internacional à fixação <strong>do</strong>s valores de to<strong>do</strong>s os outros padrões da<br />

grandeza a que respeita.<br />

• Padrão primário: é um padrão que apresenta as mais elevadas características<br />

metrológicas num da<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio.<br />

• Padrão secundário: é um padrão cujo valor é fixa<strong>do</strong> por comparação com um<br />

padrão primário.<br />

• Padrão de trabalho: é um padrão que, habitualmente calibra<strong>do</strong> por comparação<br />

com um padrão de referência, sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para calibrar ou verificar os instrumentos<br />

de medida de utilização mais comum.


87<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

Vê-se assim que os diferentes padrões estão hierarquiza<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com as<br />

qualidades metrológicas segun<strong>do</strong> uma escala decrescente <strong>do</strong>s primários para os de<br />

trabalho, agrupan<strong>do</strong>-se em uma das três categorias apresentadas. No que respeita aos<br />

padrões internacionais não faz senti<strong>do</strong>, em geral, falar-se da <strong>sua</strong> exactidão, uma vez que<br />

eles constituem a base de todas as comparações; exceptuam-se os casos em que é<br />

possível reportar os seus valores directamente aos das unidades a que respeitam<br />

realizan<strong>do</strong> as chamadas medidas de acor<strong>do</strong> com a definição dessas unidades. Pode então<br />

pôr-se a questão de saber qual o critério ou critérios que levam à escolha de um padrão<br />

para padrão internacional. Se excluirmos critérios de escolha marginalmente importantes,<br />

como por exemplo os da facilidade de realização ou praticabilidade de utilização, é óbvio<br />

que a escolha terá a ver com <strong>do</strong>is aspectos: a exactidão desse padrão e a conformidade<br />

entre as medições com ele obtidas e os valores previstos pelas teorias pertinentes na<br />

análise de fenómenos em que intervém a grandeza em causa. Assim, quanto menor for o<br />

desvio padrão experimental de um conjunto de intercomparações entre padrões iguais,<br />

melhor será esse padrão <strong>do</strong> ponto de vista de constituir base para a fixação <strong>do</strong>s valores de<br />

outros instrumentos de medida.<br />

Em relação aos padrões primários, secundários e de trabalho o conceito de<br />

exactidão é pertinente, uma vez que se pode tomar como base os padrões internacionais.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, e uma vez que a qualidade metrológica mais importante de um padrão é a<br />

<strong>sua</strong> exactidão, à hierarquia primário, secundário e de trabalho corresponde uma escala<br />

crescente de imprecisões. A essa hierarquia corresponde também uma escala decrescente<br />

de custos <strong>do</strong>s padrões; genericamente, e para uma mesma grandeza, um padrão de<br />

trabalho é mais barato <strong>do</strong> que um secundário e este mais barato que um primário. Como<br />

tal, e também porque as precisões exigidas não são as mesmas em todas as situações de<br />

medida, os diferentes tipos de padrão encontram-se em diferentes tipos de laboratório:<br />

um laboratório nacional de padrões disporá de padrões primários, laboratórios priva<strong>do</strong>s<br />

ou industriais disporão de padrões secundários, os quais são utiliza<strong>do</strong>s como referência<br />

para ajuste e calibração de padrões de trabalho. Este tipo de organização, que pode<br />

revestir diferentes formas, deverá em qualquer caso permitir reportar o valor medi<strong>do</strong> com<br />

um padrão de trabalho a um padrão pelo menos primário mediante uma cadeia<br />

ininterrupta de comparações que se designa por rastreabilidade. O National Institute of<br />

Standards and Technology (NIST) 16 tem uma organização hierárquica das referências<br />

utilizadas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América em três escalões como se segue:<br />

16 http://www.nist.gov


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Escalão I<br />

1. Padrões internacionais.<br />

2. Padrões primários (padrões nacionais).<br />

3. Padrões secundários (padrões de referência <strong>do</strong> NIST).<br />

4. Padrões de trabalho (utiliza<strong>do</strong>s pelo NIST para serviços de calibração).<br />

Escalão II<br />

1. Padrões de referência; padrões secundários manti<strong>do</strong>s por laboratórios<br />

particulares e industriais.<br />

2. Padrões de trabalho; padrões usa<strong>do</strong>s para calibrar e verificar aparelhos de<br />

laboratório de uso geral.<br />

Escalão III<br />

Instrumentos de uso geral para produção, manutenção e ensaios externos.<br />

A designação de padrão de referência diz respeito a um padrão, em geral da mais<br />

elevada qualidade metrológica, disponível num da<strong>do</strong> local, <strong>do</strong> qual derivam as medições<br />

efectuadas nesse local. Por vezes utiliza-se um conjunto de instrumentos de <strong>medição</strong><br />

idênticos, associa<strong>do</strong>s para desempenhar em conjunto o papel de padrão. Ao padrão assim<br />

realiza<strong>do</strong> chama-se padrão colectivo. Reserva-se a designação de colecção padrão para o<br />

conjunto de padrões com valores escolhi<strong>do</strong>s especialmente para reproduzir<br />

individualmente, ou por combinação adequada, uma série de valores de uma grandeza<br />

numa dada gama. As caixas de blocos padrão, usadas em metrologia dimensional,<br />

constituem exemplo típico deste tipo de padrão.<br />

A calibração é um conjunto de operações que estabelecem, em condições<br />

especificadas, a relação entre os valores indica<strong>do</strong>s por um instrumento de <strong>medição</strong> e os<br />

correspondentes valores conheci<strong>do</strong>s da grandeza a medir. São utiliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos de<br />

padrões: o padrão de transferência, utiliza<strong>do</strong> como intermediário na comparação de<br />

padrões ou instrumentos de <strong>medição</strong> entre si e o padrão itinerante, padrão, por vezes de<br />

construção especial, previsto para ser transporta<strong>do</strong> entre diferentes locais.<br />

A conservação <strong>do</strong> padrão é o conjunto de todas as operações necessárias à<br />

preservação das características metrológicas <strong>do</strong> padrão dentro de limites adequa<strong>do</strong>s.<br />

Destaca-se a <strong>sua</strong> calibração, a qual é feita comparan<strong>do</strong> esse padrão com um da mesma<br />

unidade, mas de maior exactidão. A calibração deve ser periódica, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo,<br />

utilização e tempo de vida os intervalos de tempo entre calibrações. Como valor típico,<br />

um padrão de trabalho deve ser calibra<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong> um secundário de 6 em 6 meses.<br />

88


89<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

Além disso, deve ser da<strong>do</strong> especial cuida<strong>do</strong> aos aspectos de utilização e armazenamento<br />

<strong>do</strong> padrão de mo<strong>do</strong> a manter as <strong>sua</strong>s qualidades metrológicas ao longo da <strong>sua</strong> vida útil.<br />

4.3.4 Padrão de temperatura termodinâmica<br />

Os padrões de temperatura são termómetros de diferentes tipos. Assim, o padrão<br />

primário é constituí<strong>do</strong> por um termómetro de resistência de platina de construção<br />

especial de mo<strong>do</strong> a que o fio não seja sujeito a esforços mecânicos. A escala deste<br />

termómetro, u<strong>sua</strong>lmente graduada em ºC (escala prática), é estabelecida com base nos<br />

seguintes valores (à pressão atmosférica normal,<br />

• Fundamental: ponto triplo da água: 0,01ºC<br />

5<br />

1,01325 ¥ 10 Pa ):<br />

• Primários: ponto de ebulição <strong>do</strong> oxigénio: - 182,954ºC<br />

ponto de ebulição <strong>do</strong> enxofre: 444,72ºC<br />

ponto de congelação da prata: 961,78ºC<br />

ponto de congelação <strong>do</strong> ouro: 1064,18ºC<br />

Os valores intermédios são calcula<strong>do</strong>s a partir de fórmulas de ajuste baseadas nas<br />

propriedades <strong>do</strong> fio de resistência de platina.<br />

4.4 A Escala Internacional de <strong>Temperatura</strong> (ITS-90)<br />

A ITS-90 consiste num conjunto de pontos fixos medi<strong>do</strong>s com o termómetro de gás<br />

primário, e em procedimentos para interpolação entre os pontos fixos usan<strong>do</strong><br />

termómetros secundários. Embora a ITS-90 não tencione suplantar a escala<br />

termodinâmica Kelvin, é construída de forma a ser uma aproximação elevada daquela.<br />

As diferenças entre a escala prática de temperatura T 90 e a escala de temperatura<br />

termodinâmica Kelvin T estão dentro <strong>do</strong>s limites de incerteza das medições em 1990. A<br />

<strong>medição</strong> precisa de temperatura com um termómetro de gás requer anos de trabalho<br />

laboratorial e de computação e, quan<strong>do</strong> completo, torna-se um acontecimento<br />

internacional. Foram medidas as temperaturas de esta<strong>do</strong>s de equilíbrio de vários<br />

materiais, constituin<strong>do</strong> pontos fixos para a ITS-90.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

O limite inferior da ITS-90 é 0,65 K. Abaixo desta temperatura, a escala é,<br />

actualmente, indefinida em termos de um termómetro padrão. Vários intervalos de<br />

temperatura na ITS-90 e termómetros secundários foram estabeleci<strong>do</strong>s:<br />

1. De 0,65 K a 5,0 K. Entre 0,65 K e 3,2 K, a ITS-90 é definida pelas relações<br />

pressão de vapor - temperatura <strong>do</strong> 3 He, e entre 1,25 K e 5,0 K pelas relações de<br />

pressão de vapor - temperatura <strong>do</strong> 4 He.<br />

2. De 3,0 K a 24,5561 K, a ITS-90 é definida pelo termómetro de gás a volume<br />

constante de 3 He ou 4 He.<br />

3. De 13,8033 K a 1234,93 K (–259,3467 ºC a 961,78 ºC), a ITS-90 é definida pela<br />

razão R( T) R PT <strong>do</strong> termómetro de resistência de platina, utilizan<strong>do</strong>-se os<br />

pontos fixos determina<strong>do</strong>s pelo termómetro de gás a volume constante.<br />

Acima de 1234,93 K (961,78 ºC), a ITS-90 é definida por um pirómetro óptico.<br />

Podemos encontrar mais informações sobre a ITS-90 no endereço de Internet<br />

http://www.its-90.com.<br />

Os pontos fixos usa<strong>do</strong>s na ITS-90 são os que se apresentam na Tabela 4.3.<br />

90


<strong>Temperatura</strong><br />

91<br />

4 Metrologia da temperatura<br />

Nº T90/K t90/°C Substância Esta<strong>do</strong> a<br />

1 3 a 5 – 270,15 a – 268,15 He V<br />

2 13,8033 – 259,3467 e-H2 T<br />

3 ~ 17 ~ – 256,15 e-H2 (ou He) V (ou G)<br />

4 ~ 20,3 ~ – 252,85 e-H2 (ou He) V (ou G)<br />

5 24,5561 – 248,5939 Ne T<br />

6 54,3584 – 218,7916 O2 T<br />

7 83,8058 – 189,3442 Ar T<br />

8 234,3156 – 38,8344 Hg T<br />

9 273,16 0,01 H20 T<br />

10 302,9146 29,7646 Ga F<br />

11 429,7485 156,5985 In S<br />

12 505,078 231,928 Sn S<br />

13 692,677 419,527 Zn S<br />

14 933,473 660,323 Al S<br />

15 1234,93 961,78 Ag S<br />

16 1337,33 1064,18 Au S<br />

17 1357,77 1084,62 Cu S<br />

a Os símbolos têm os seguintes significa<strong>do</strong>s:<br />

V – ponto de pressão de vapor;<br />

T – ponto triplo (temperatura à qual as fases sólida, líquida e vapor coexistem em<br />

equilíbrio);<br />

G – ponto <strong>do</strong> termómetro de gás;<br />

F, S – ponto de fusão, ponto de solidificação (temperatura, à pressão de 101 325 Pa, à qual<br />

as fases sólida e líquida coexistem em equilíbrio).<br />

Tabela 4.3 Os pontos fixos usa<strong>do</strong>s na ITS-90 (www.its-90.com).<br />

Consequências práticas da a<strong>do</strong>pção da ITS-90<br />

A introdução dessa nova escala de temperaturas trouxe como consequência a<br />

modificação da quase totalidade <strong>do</strong>s valores numéricos de temperatura. Uma dada<br />

temperatura expressa com base na ITS-90 tem um valor numérico diferente daquele que<br />

tinha quan<strong>do</strong> era expressa a partir da IPTS-68, excepto nos casos <strong>do</strong> zero absoluto (0 K),<br />

da temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água e de alguns outros pontos. A título de exemplo, o<br />

ponto de ebulição da água, à pressão atmosférica "normal" era de 100 ºC pela IPTS-68,<br />

sen<strong>do</strong> agora 99,974 ºC. Outras grandezas muito utilizadas nos vários <strong>do</strong>mínios técnicos e<br />

científicos, que também são afectadas por estas alterações são, por exemplo, a capacidade<br />

térmica mássica e a entropia.


5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Na <strong>medição</strong> de temperatura o termómetro, em muitas situações, está em contacto<br />

físico com o sistema <strong>do</strong> qual se quer saber a temperatura, mas situações há em que isso<br />

não é possível, por exemplo se o sistema estiver em movimento ou se a temperatura a<br />

medir for muito elevada como nas siderurgias. Aos termómetros que não estão em<br />

contacto físico com o sistema aquan<strong>do</strong> da <strong>medição</strong> da temperatura chama-se pirómetros e<br />

utilizam a radiação emitida pelos corpos para medir a temperatura.<br />

Os termómetros de contacto podem ser de <strong>do</strong>is tipos: mecânico e eléctrico. Estes<br />

termómetros requerem o equilíbrio térmico com o corpo cuja temperatura queremos<br />

medir, equilíbrio esse que pode ser atingi<strong>do</strong> mais ou menos rapidamente dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

tempo de resposta <strong>do</strong> termómetro (capacidade térmica <strong>do</strong> sensor).<br />

5.1 Termómetros de dilatação<br />

Os materiais, sóli<strong>do</strong>s e líqui<strong>do</strong>s, de um mo<strong>do</strong> geral, aumentam de volume com o<br />

aumento da <strong>sua</strong> temperatura, pois aumenta a distância média entre as partículas<br />

constituintes <strong>do</strong> material. Esta propriedade pode ser utilizada como propriedade<br />

termométrica, principalmente para os materiais em que essa variação se faz de uma<br />

forma uniforme, dentro de uma dada gama de temperaturas. De seguida veremos<br />

exemplos de termómetros que se servem dessa propriedade.<br />

5.1.1 Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong><br />

Princípio de funcionamento<br />

Os termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong>s, baseiam-se na lei de expansão<br />

volumétrica de um líqui<strong>do</strong> com a temperatura dentro de um recipiente fecha<strong>do</strong>.<br />

A equação que rege esta relação é:<br />

( ) ( )<br />

2 3<br />

Vq= V È<br />

0 1+<br />

b1D q + b2 D q + b3 Dq<br />

˘<br />

Î ˚<br />

93


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

onde q é a temperatura <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> em ºC; V 0 é o volume <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> à temperatura inicial<br />

de referência q 0 ; Vq é o volume <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> à temperatura q ; b 1 , b 2 e b 3 são os<br />

coeficientes de expansão <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> em<br />

D q = q - q0.<br />

94<br />

1<br />

ºC - ,<br />

2<br />

ºC - , e<br />

3<br />

ºC - , respectivamente; e<br />

Teoricamente esta relação não é linear, porém como os termos de segunda e<br />

terceira ordem são desprezíveis (Fialho, 2007), por serem relativamente pequenos, na<br />

prática consideramos linear. Temos assim a equação<br />

V V<br />

[ ]<br />

0 1<br />

q = + b D q<br />

Dependen<strong>do</strong> da <strong>sua</strong> construção podemos ter termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong><br />

em recipiente de vidro transparente ou em recipiente metálico.<br />

5.1.1.1 Termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente de vidro<br />

Os termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente de vidro são constituí<strong>do</strong>s por<br />

um reservatório, cujo tamanho depende da sensibilidade desejada, soldada a um tubo<br />

capilar (de secção o mais uniforme possível) fecha<strong>do</strong> na parte superior. O reservatório e<br />

parte <strong>do</strong> capilar são preenchi<strong>do</strong>s com um líqui<strong>do</strong>. Na parte superior <strong>do</strong> capilar existe um<br />

alargamento que protege o termómetro no caso da temperatura ultrapassar seu limite<br />

máximo. A Figura 5.1 mostra termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em vidro.<br />

Figura 5.1 Termómetros de dilatação em recipiente de vidro.<br />

Após a calibração, a parede <strong>do</strong> tubo capilar é graduada em graus ou fracções deste.<br />

A <strong>medição</strong> de temperatura faz-se pela leitura da escala no ponto em que se tem o topo da<br />

coluna líquida.


95<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Os líqui<strong>do</strong>s mais usa<strong>do</strong>s são: Mercúrio, Álcool, Tolueno e Acetona. O álcool etílico<br />

é usa<strong>do</strong> para medições de temperaturas baixas (-38,9 ºC). Costumam-se adicionar<br />

corantes para vi<strong>sua</strong>lizar a leitura (Pires et al, 2006), visto que o álcool etílico é incolor.<br />

Foi muito utiliza<strong>do</strong> o mercúrio por possuir um coeficiente de expansão uniforme,<br />

não molhar o vidro, purificar-se facilmente e tornar fácil a leitura (devi<strong>do</strong> à <strong>sua</strong> aparência<br />

metálica), mas o seu uso traz problemas ambientais, motivo pelo qual tem si<strong>do</strong><br />

substituí<strong>do</strong> por outros.<br />

O termómetro clínico de mercúrio, que foi muito utiliza<strong>do</strong>, é um termómetro de<br />

máxima. O tubo capilar apresenta nas proximidades <strong>do</strong> reservatório um estrangulamento.<br />

Quan<strong>do</strong> a temperatura aumenta, o mercúrio dilata-se, subin<strong>do</strong> na haste, mas, se a<br />

temperatura diminuir, fica o mercúrio no tubo, devi<strong>do</strong> ao estrangulamento, o que permite<br />

determinar a maior temperatura atingida pelo corpo <strong>do</strong> paciente.<br />

Termómetro de máxima e de mínima<br />

A primeira concepção de um termómetro deste tipo parece ser devida a Robert<br />

Hooke que procurou determinar a temperatura <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> mar (termómetro de mínima).<br />

Contu<strong>do</strong>, o modelo de dupla marcação foi introduzi<strong>do</strong> por Rutherford, combinan<strong>do</strong> um<br />

de mercúrio (temperatura máxima) e outro de álcool (temperatura mínima) (Pires et al,<br />

2006).<br />

Este termómetro dá as temperaturas máximas e mínimas ocorridas durante certo<br />

perío<strong>do</strong>, por exemplo, durante um dia. O reservatório deste termómetro é alonga<strong>do</strong> e o<br />

seu tubo é recurva<strong>do</strong> em forma de U. Na curvatura inferior existe uma pequena porção de<br />

mercúrio que é impelida pelo álcool para o tubo das temperaturas máximas, a<br />

temperatura aumenta, ou para o das temperaturas mínimas, quan<strong>do</strong> a temperatura<br />

diminui. O mercúrio, por <strong>sua</strong> vez, impele <strong>do</strong>is índices, coloca<strong>do</strong> cada um num ramo <strong>do</strong><br />

tubo. Estes índices deslocam-se, no interior <strong>do</strong> tubo, com leve atrito; e fixam-se na<br />

posição em que o mercúrio os deixa, marcan<strong>do</strong> deste mo<strong>do</strong> as temperaturas máxima e<br />

mínima. No início de um novo perío<strong>do</strong> de observação reconduzem-se os índices, que são<br />

de ferro esmalta<strong>do</strong>, para junto <strong>do</strong> mercúrio, por meio de um pequeno íman.<br />

Este tipo de termómetro, Figura 5.2, foi muito usa<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> campo da<br />

Meteorologia e no controle de processos químicos em escala piloto e industrial onde a<br />

temperatura é um parâmetro crítico.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 5.2 Termómetro de máxima e de mínima.<br />

5.1.1.2 Termómetros de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente metálico<br />

No termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong>s em recipiente metálico, Figura 5.3 A, o<br />

líqui<strong>do</strong> preenche to<strong>do</strong> o recipiente que sob o aumento de temperatura se dilata,<br />

deforman<strong>do</strong> um elemento extensível (sensor volumétrico).<br />

O recipiente que contem o líqui<strong>do</strong> varia de dimensão, de acor<strong>do</strong> com o tipo de<br />

líqui<strong>do</strong> e com a sensibilidade pretendida.<br />

O tubo capilar deve ter o menor diâmetro interno possível a fim de evitar a<br />

influência da temperatura ambiente, mas não deve oferecer resistência à passagem <strong>do</strong><br />

líqui<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> este se está a expandir.<br />

O elemento de <strong>medição</strong> utiliza<strong>do</strong> é o Tubo de Bour<strong>do</strong>n, Figura 5.3 B, que pode ser<br />

<strong>do</strong>s tipos: C, Helicoidal e Espiral.<br />

Este tipo de termómetro é geralmente aplica<strong>do</strong> na indústria para indicação e<br />

registo, pois permite leituras remotas e por ser o mais preciso <strong>do</strong>s sistemas mecânicos de<br />

<strong>medição</strong> de temperatura (Fialho, 2007).<br />

96


97<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Figura 5.3 A – Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente metálico;<br />

B – Tubos de Bour<strong>do</strong>n utiliza<strong>do</strong>s como elementos de <strong>medição</strong>.<br />

Como exemplo deste termómetro temos o termómetro regista<strong>do</strong>r, Figura 5.4.<br />

Neste modelo, o termómetro registra as temperaturas durante to<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong>, por<br />

exemplo, uma semana. É muito usa<strong>do</strong> nos observatórios de Meteorologia, mas também<br />

encontra emprego industrial, no controlo de processos. Ele é provi<strong>do</strong> de um cilindro<br />

giratório. A agulha conten<strong>do</strong> a tinta é movida por um tubo metálico, flexível, recurva<strong>do</strong> e<br />

cheio de petróleo. As dilatações <strong>do</strong> petróleo obrigam o tubo a distender-se, sen<strong>do</strong> os seus<br />

movimentos transmiti<strong>do</strong>s à agulha por um sistema de pequenas alavancas (Pires e tal,<br />

2006).<br />

Figura 5.4 Termómetro regista<strong>do</strong>r.<br />

A<br />

B


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

5.1.2 Termómetros de dilatação de sóli<strong>do</strong>s (termómetro<br />

bimetálico)<br />

O termómetro bimetálico é constituí<strong>do</strong> por duas ou mais lâminas com coeficientes<br />

de dilatação diferentes, soldadas umas às outras, como se representa na Figura 5.6. Ao<br />

dar-se uma variação na temperatura os metais dilatam-se de forma desigual, como se<br />

pode observar na Figura 5.5, obrigan<strong>do</strong> o conjunto a deformar-se e a actuar um contacto<br />

eléctrico (termóstato) ou a posicionar um ponteiro indica<strong>do</strong>r.<br />

Figura 5.5 Flexão da lâmina bimetálica quan<strong>do</strong> aquecida.<br />

A<br />

Figura 5.6 A - Termóstato; B - Termómetro bimetálico.<br />

Na prática o par bimetálico é enrola<strong>do</strong> em forma de espiral ou hélice, o que<br />

aumenta bastante a sensibilidade. A <strong>sua</strong> extremidade é fixa a um eixo o qual possui na<br />

ponta um ponteiro que girará sobre uma escala de temperatura.<br />

Qualquer deles tem grande difusão na indústria e em aplicações <strong>do</strong>mésticas: citemse<br />

os termóstatos das máquinas de lavar roupa e louça, <strong>do</strong>s aquece<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s<br />

frigoríficos.<br />

98<br />

B


99<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

5.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s no efeito Seebeck<br />

5.2.1 Constituição<br />

Um termopar é um sensor de temperatura, constituí<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is materiais diferentes,<br />

condutores ou semicondutores 17 , liga<strong>do</strong>s entre si. As extremidades onde estão liga<strong>do</strong>s<br />

constituem as junções que vão ser submetidas a temperaturas diferentes, originan<strong>do</strong> uma<br />

força electromotriz. Uma das junções é designada por junção de teste e é submetida à<br />

temperatura que se deseja medir, T . A outra é denominada junção de referência e é<br />

mantida a uma temperatura de referência, T Ref , normalmente um banho de gelo fundente<br />

(Zemansky et al, 1997), conforme se ilustra na Figura 5.7.<br />

T<br />

Metal B<br />

Metal A<br />

eS<br />

Figura 5.7 Termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções <strong>do</strong>s metais A e B, a<br />

junção de <strong>medição</strong> e a junção de referência.<br />

As junções podem ser feitas por vários méto<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> os mais importantes os<br />

apertos <strong>do</strong>s materiais e as soldaduras. Embora se possa, em princípio, construir um<br />

termopar com <strong>do</strong>is metais quaisquer, utilizam-se normalmente algumas combinações<br />

normalizadas de metais, porque possuem tensões de saída previsíveis e suportam grandes<br />

gamas de temperatura.<br />

O termopar é um sensor activo, isto é, ele próprio gera uma força electromotriz 18<br />

(f.e.m.), não sen<strong>do</strong> portanto necessário alimentá-lo.<br />

17<br />

Os termopares com semicondutores têm um comportamento não linear, pelo que são pouco<br />

utiliza<strong>do</strong>s na <strong>medição</strong> de temperatura.<br />

18<br />

Em rigor dever-se-ia dizer tensão electromotriz, em vez de força electromotriz, mas o seu uso<br />

está generaliza<strong>do</strong>.<br />

TRef<br />

Metal B


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

5.2.2 Características gerais<br />

Os termopares podem ser utiliza<strong>do</strong>s para <strong>medição</strong> de temperaturas desde cerca de<br />

- 200ºC até temperaturas superiores a 1000ºC . Para temperaturas muito elevadas são<br />

utiliza<strong>do</strong>s termopares de platina e uma liga de platina e ródio.<br />

As vantagens <strong>do</strong>s termopares como termómetros são várias, das quais se destacam:<br />

• Curtos tempos de resposta (o equilíbrio térmico é atingi<strong>do</strong> rapidamente).<br />

• Elevadas gamas de temperatura.<br />

• Construção compacta.<br />

• Elevada resistência à vibração.<br />

• Estabilidade dura<strong>do</strong>ura.<br />

• Elevada robustez.<br />

5.2.3 Princípio de funcionamento<br />

A termoelectricidade tem a <strong>sua</strong> origem em Alessandro Volta (1800), físico italiano.<br />

Volta concluiu que a electricidade causa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s espasmos nas pernas de sapo, estudadas<br />

por Luigi Galvani (1780), era devida a um contacto entre <strong>do</strong>is metais diferentes. Essa<br />

conclusão foi a precursora <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong> termopar.<br />

Após a descoberta de Volta, outros cientistas passaram a pesquisar os efeitos<br />

termoeléctricos, <strong>do</strong>s quais podem ser destaca<strong>do</strong>s Thomas Seebeck 19 (1821), Jean Peltier 20<br />

(1834) e William Thomson (Lorde Kelvin) 21 (1848-1854), e que deram origem às<br />

denominações <strong>do</strong>s três efeitos básicos da termometria termoeléctrica. Estes efeitos<br />

podem ser relaciona<strong>do</strong>s entre si e são conheci<strong>do</strong>s como efeitos termoeléctricos porque<br />

envolvem temperatura e electricidade.<br />

Os três efeitos referi<strong>do</strong>s são o efeito Seebeck, que é o relevante para os termopares,<br />

e os efeitos Peltier e Thomson, que descrevem o transporte de energia por calor por<br />

intermédio de uma corrente eléctrica. Os efeitos Peltier e Thomson não são importantes<br />

na metrologia da temperatura e quan<strong>do</strong> presentes originam erros na <strong>medição</strong>.<br />

A força electromotriz que é gerada num termopar é função da diferença de<br />

temperatura entre as junções de <strong>medição</strong> e de referência e é medida usan<strong>do</strong> um<br />

voltímetro, liga<strong>do</strong> convenientemente no circuito termoeléctrico. Em medições precisas de<br />

19 Thomas Johann Seebeck foi um físico alemão (1770-1831).<br />

20 Jean Peltier foi um físico francês (1785-1845).<br />

21 William Thomson (Lord Kelvin) foi um físico britânico (1824-1907).<br />

100


101<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

temperatura deve usar-se um bom voltímetro (com elevada resistência interna), para que<br />

a corrente eléctrica no circuito seja suficientemente pequena para que os efeitos Peltier e<br />

Thomson sejam desprezáveis.<br />

Para que sejam evita<strong>do</strong>s possíveis erros causa<strong>do</strong>s por efeitos decorrentes da lei das<br />

temperaturas sucessivas ou intermédias (ver secção 5.2.8), convencionou-se que o ponto<br />

de abertura <strong>do</strong> circuito seria a própria junção de referência, onde fios de cobre seriam<br />

liga<strong>do</strong>s para que esses pontos fossem liga<strong>do</strong>s ao voltímetro, conforme se ilustra na Figura<br />

5.8. Como é descrito pela lei <strong>do</strong>s metais homogéneos (ver secção 5.2.8), a presença<br />

desses fios de cobre não altera a f.e.m. lida no voltímetro.<br />

Figura 5.8 Termopar onde a junção <strong>do</strong>s fios A e B constitui a junção de teste<br />

e a junção de referência consiste em duas junções com fios de<br />

cobre (Anacleto, 2004).<br />

O termopar é, portanto, diferente da maioria <strong>do</strong>s sensores de temperatura uma vez<br />

que a <strong>sua</strong> resposta está directamente relacionada com a diferença de temperatura entre as<br />

junções de <strong>medição</strong> e de referência.<br />

5.2.4 Efeito Seebeck<br />

Thomas Seebeck descobriu a existência de correntes termoeléctricas enquanto<br />

observava efeitos electromagnéticos associa<strong>do</strong>s a circuitos de bismuto/cobre e<br />

bismuto/antimónio. As experiências feitas mostraram que, quan<strong>do</strong> as junções de <strong>do</strong>is<br />

metais distintos formavam um circuito fecha<strong>do</strong> e são submetidas a temperaturas<br />

diferentes, uma força electromotriz é gerada, originan<strong>do</strong> o aparecimento de uma corrente<br />

eléctrica contínua nessa malha.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Uma diferença de temperatura entre <strong>do</strong>is pontos de um condutor (ou semicondutor)<br />

origina uma diferença de potencial eléctrico entre esses pontos. De outra forma, um<br />

gradiente de temperatura num condutor origina um campo eléctrico. Este fenómeno é<br />

designa<strong>do</strong> por efeito Seebeck ou efeito termoeléctrico, e está ilustra<strong>do</strong> na Figura 5.9. O<br />

princípio <strong>do</strong> termopar é basea<strong>do</strong> no efeito Seebeck.<br />

E<br />

E F<br />

1<br />

f ( E )<br />

Diferença de temperatura DT<br />

Quente Frio<br />

Diferença de potencial De<br />

Figura 5.9 O efeito Seebeck: um gradiente de temperatura origina uma<br />

diferença de potencial (em circuito aberto).<br />

A tensão termoeléctrica por unidade de diferença de temperatura é o coeficiente de<br />

Seebeck, e é defini<strong>do</strong> de forma que o sinal representa o potencial eléctrico <strong>do</strong> la<strong>do</strong> frio<br />

em relação ao la<strong>do</strong> quente,<br />

de<br />

a =- (5.1)<br />

dT<br />

Se os electrões se difundem <strong>do</strong> la<strong>do</strong> quente para o la<strong>do</strong> frio, então o coeficiente de<br />

Seebeck é negativo. Se a difusão se der em senti<strong>do</strong> contrário, o coeficiente de Seebeck é<br />

positivo. O coeficiente a é normalmente designa<strong>do</strong> por potência termoeléctrica, o que é<br />

uma designação incorrecta, pois este coeficiente refere-se a uma diferença de potencial e<br />

não a uma potência. A designação mais apropriada é, portanto, coeficiente de Seebeck.<br />

Este coeficiente, da<strong>do</strong> por (5.1) e com valores da ordem de alguns<br />

propriedade <strong>do</strong> material e depende da temperatura.<br />

102<br />

1<br />

μV K - , é uma<br />

Conhecen<strong>do</strong> o coeficiente de Seebeck a ( T ) para um material, a diferença de<br />

potencial entre <strong>do</strong>is pontos a temperaturas T 0 e T é da<strong>do</strong> por<br />

E<br />

E F<br />

1<br />

f ( E<br />

)


T<br />

T0<br />

103<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

D e =Ú adT<br />

(5.2)<br />

A energia média por electrão, E , num metal no qual a densidade de esta<strong>do</strong>s de<br />

energia é g( E) μ E é dada por (Kasap, 2002; Kittel, 1986)<br />

onde F<br />

2<br />

2<br />

È p ÊkTˆ ˘<br />

Í F 1<br />

˙<br />

Í<br />

Á<br />

Ë E ˜<br />

F ¯ ˙<br />

3 5<br />

E = E +<br />

5 12<br />

Î ˚<br />

(5.3)<br />

E é a energia de Fermi (definida a T = 0K ). Da equação (5.3) a energia média<br />

por electrão no la<strong>do</strong> quente é maior que no la<strong>do</strong> frio e, como consequência, os electrões<br />

mais energéticos no la<strong>do</strong> quente difundem-se para o la<strong>do</strong> frio até que a diferença de<br />

potencial que se cria ponha fim ao processo de difusão. Notemos que a energia média por<br />

electrão também depende <strong>do</strong> material através da energia de Fermi, E F . Mostra-se<br />

(Kasap, 2002) que o coeficiente de Seebeck é da<strong>do</strong> aproximadamente por<br />

2 2<br />

p k T<br />

a = (5.4)<br />

2eE<br />

F<br />

Devemos referir que o raciocínio apresenta<strong>do</strong> é basea<strong>do</strong> assumin<strong>do</strong> que os<br />

electrões de condução num metal comportam-se como “electrões livres”. Esta<br />

aproximação só se aplica satisfatoriamente a metais “normais”, como, por exemplo, ao<br />

sódio, potássio e alumínio. A difusão <strong>do</strong>s electrões <strong>do</strong> la<strong>do</strong> quente apara o la<strong>do</strong> frio<br />

pressupõe que na região quente os electrões têm velocidades maiores, de acor<strong>do</strong> com a<br />

teoria <strong>do</strong>s electrões livres nos metais. Contu<strong>do</strong>, teremos que considerar as interacções <strong>do</strong>s<br />

electrões de condução com os iões e as vibrações da rede para compreender alguns<br />

resulta<strong>do</strong>s experimentais, como por exemplo, o facto de alguns metais apresentarem<br />

coeficientes de Seebeck positivos.<br />

5.2.5 O termopar<br />

Consideremos uma barra de um metal A aqueci<strong>do</strong> numa das extremidades e<br />

arrefeci<strong>do</strong> na outra. Se quisermos medir a diferença de potencial D e através da barra<br />

usan<strong>do</strong> ligações ao voltímetro feitas <strong>do</strong> mesmo metal, não o conseguiremos porque


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

aparece uma diferença de potencial simétrica nos fios de ligação ao voltímetro, conforme<br />

se ilustra na Figura 5.10.<br />

Quente<br />

Figura 5.10 Para um termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções de um mesmo<br />

metal A não é possível medir a diferença de potencial.<br />

É possível, contu<strong>do</strong>, medir uma diferença de potencial se ligarmos o voltímetro<br />

utilizan<strong>do</strong> fios de um metal diferente, mais propriamente, utilizan<strong>do</strong> um metal com um<br />

coeficiente de Seebeck diferente. O termopar usa precisamente, pelo menos, <strong>do</strong>is metais<br />

A e B diferentes e duas junções, sen<strong>do</strong> uma mantida a uma temperatura de referência T 0<br />

e a outra é usada para medir a temperatura T , conforme se ilustra na Figura 5.11.<br />

Quente<br />

T<br />

Figura 5.11 Um termopar tem que ser constituí<strong>do</strong> por duas junções de <strong>do</strong>is<br />

metais diferentes A e B.<br />

A diferença de potencial em cada elemento metálico depende <strong>do</strong> seu coeficiente de<br />

Seebeck e consequentemente a f.e.m. <strong>do</strong> termopar, eAB = eA- eB,<br />

depende da diferença<br />

aA - aB,<br />

e, pela equação (5.2), é dada por<br />

( )<br />

Metal A<br />

T T<br />

Ú Ú (5.5)<br />

e = a - a dT = a dT<br />

AB A B AB<br />

T0 T0<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

+<br />

Metal B<br />

Metal A<br />

e = 0<br />

onde aAB = aA- aBé<br />

defini<strong>do</strong> como a potência termoeléctrica <strong>do</strong> termopar A-B.<br />

Se considerarmos a AB aproximadamente constante, podemos escrever<br />

S<br />

Metal A<br />

e π 0<br />

S<br />

104<br />

-<br />

-<br />

Metal A<br />

-<br />

-<br />

-<br />

Metal B<br />

Frio<br />

Frio<br />

T =<br />

T<br />

0 Ref


( )<br />

AB AB AB 0 AB BA 0<br />

105<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

e = a D T = a T - T = a T + a T<br />

(5.6)<br />

Os <strong>do</strong>is termos da direita na equação anterior, AB T<br />

a e BAT0 potencial geradas nas junções à temperatura T e T 0 , respectivamente.<br />

a , são as diferenças de<br />

O valor de a AB pode ser obti<strong>do</strong> por duas formas: a) como a diferença entre os<br />

coeficientes Seebeck <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is metais relativos a um metal de referência R arbitrário, a AR<br />

e a BR ; ou b) por diferenciação numérica de valores tabela<strong>do</strong>s de e S versus T, para uma<br />

determinada temperatura de referência, conforme a relação (5.5).<br />

De qualquer forma, o coeficiente Seebeck representa, para uma determinada<br />

combinação de materiais, a razão entre a variação na f.e.m. de uma malha e a variação na<br />

temperatura, ou seja:<br />

a<br />

AB<br />

De<br />

de<br />

= lim =<br />

DÆ t 0 DT<br />

dT<br />

AB AB<br />

Deste mo<strong>do</strong>, se uma função<br />

2<br />

e AB = aT + bT é obtida através de uma calibração,<br />

temos aAB = deABdT = a+ 2bT<br />

e podemos então afirmar que para uma determinada<br />

combinação de metais, o coeficiente de Seebeck é função apenas da temperatura.<br />

Uma consequência imediata <strong>do</strong> efeito Seebeck é o facto de que, conhecida a<br />

temperatura de uma das junções pode-se, através da f.e.m. produzida, saber a temperatura<br />

da outra junção. As medições de temperatura são, na realidade, a maior aplicação <strong>do</strong><br />

termopar, bastan<strong>do</strong> conhecer a relação f.e.m. versus a variação de temperatura na junção<br />

<strong>do</strong> termopar. Esta relação pode ser obtida por calibração, ou seja, uma comparação com<br />

um padrão de temperatura.<br />

Os outros <strong>do</strong>is efeitos termoeléctricos – os efeitos de Peltier e de Thomson – são<br />

apresenta<strong>do</strong>s a seguir, apenas porque estão relaciona<strong>do</strong>s com o efeito Seebeck, pois não<br />

têm grande importância para a <strong>medição</strong> de temperatura.<br />

5.2.6 Efeito Peltier<br />

Jean Peltier descobriu efeitos termoeléctricos interessantes quan<strong>do</strong> introduziu<br />

pequenas correntes eléctricas externas num termopar de bismuto-antimónio. As<br />

experiências feitas mostraram que, quan<strong>do</strong> uma pequena corrente eléctrica atravessa a


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

junção de <strong>do</strong>is metais diferentes numa direcção, a junção arrefece, absorven<strong>do</strong> energia<br />

por calor <strong>do</strong> meio em que se encontra. Quan<strong>do</strong> a direcção da corrente é invertida, a<br />

junção aquece, aquecen<strong>do</strong> o meio em que se encontra. Este efeito está presente quer a<br />

corrente seja gerada pelo próprio termopar quer seja originada por uma fonte de tensão<br />

externa. Por isso, na utilização de um termopar deve-se reduzir tanto quanto possível esta<br />

corrente, utilizan<strong>do</strong> voltímetros com elevada resistência interna.<br />

A potência trocada por calor (libertada ou absorvida), d QPdt, é proporcional à<br />

intensidade de corrente eléctrica, I , no circuito<br />

d Q<br />

dt<br />

P<br />

= p I<br />

(5.7)<br />

AB<br />

onde p AB é o coeficiente (ou tensão) de Peltier.<br />

Podemos relacionar os coeficientes de Peltier e de Seebeck, ten<strong>do</strong> em conta que a<br />

potência é dada pelo produto da diferença de potencial pela corrente. Para uma junção<br />

com uma diferença de potencial de Seebeck e S e percorrida por uma corrente eléctrica I<br />

temos, atenden<strong>do</strong> à equação (5.6),<br />

d Q<br />

dt<br />

P<br />

= e I = a TI<br />

(5.8)<br />

S AB<br />

E pela equação (5.7) obtemos<br />

p = a<br />

(5.9)<br />

AB AB T<br />

O significa<strong>do</strong> físico <strong>do</strong> coeficiente p AB é a energia libertada ou absorvida por calor<br />

pela junção por unidade de tempo e por unidade de corrente eléctrica. Tem as unidades<br />

de uma tensão eléctrica. A polaridade e o valor da tensão Peltier, p AB , depende da<br />

temperatura da junção e <strong>do</strong>s materiais usa<strong>do</strong>s na <strong>sua</strong> construção, sen<strong>do</strong>, no entanto,<br />

independente da temperatura da outra junção.<br />

Aquecimento ou arrefecimento exterior da junção provoca o efeito contrário ao<br />

efeito Peltier. Mesmo na ausência de to<strong>do</strong>s os outros efeitos termométricos, quan<strong>do</strong> a<br />

temperatura de uma junção (a junção de referência) é mantida constante e a temperatura<br />

da outra junção é aumentada por calor externo, uma corrente eléctrica será induzida na<br />

106


107<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

malha numa direcção. Se a temperatura desta última diminuir abaixo da primeira por<br />

arrefecimento externo, o senti<strong>do</strong> da corrente eléctrica será inverti<strong>do</strong>. Portanto, o efeito<br />

Peltier está intimamente relaciona<strong>do</strong> ao efeito Seebeck.<br />

O efeito de Peltier aparece adiciona<strong>do</strong> ao efeito de Joule, no qual a passagem de<br />

uma corrente através de uma resistência, neste caso a junção, dá origem à produção de<br />

uma libertação de energia por calor proporcional ao quadra<strong>do</strong> da corrente I. No caso <strong>do</strong>s<br />

metais vulgares, e para as intensidades de corrente eléctrica normalmente usadas, a<br />

potência trocada por calor devida ao efeito de Peltier, d QPdt, é muito menor <strong>do</strong> que a<br />

originada por efeito de Joule, d QJdt. O mesmo já não se passa com a junção de<br />

determina<strong>do</strong>s materiais semicondutores, para os quais poderá ter-se dQP dt dQJ<br />

dt.<br />

O efeito de Peltier é utiliza<strong>do</strong> em electrónica para o controlo de temperatura de<br />

componentes de circuitos. Na indústria é utiliza<strong>do</strong> em pequenos frigoríficos estáticos<br />

(sem compressor).<br />

5.2.7 Efeito de Thomson<br />

William Thomson concluiu que os coeficientes a AB e p AB estão relaciona<strong>do</strong>s<br />

através da temperatura absoluta. Thomson chegou à conclusão que uma corrente eléctrica<br />

produz diferentes efeitos térmicos, dependen<strong>do</strong> da direcção de <strong>sua</strong> passagem <strong>do</strong> ponto<br />

quente para o ponto frio ou <strong>do</strong> frio para o quente, num mesmo metal. Aplican<strong>do</strong> os<br />

princípios da Termodinâmica aos termopares e desprezan<strong>do</strong> o termo 2<br />

I R e outros<br />

processos de troca de energia por calor, Thomson concluiu que, se uma corrente eléctrica<br />

produz somente os efeitos Peltier de aquecimento, então a tensão Peltier na malha seria<br />

igual à tensão Seebeck e seria proporcional à diferença de temperatura das junções <strong>do</strong><br />

termopar.<br />

Este raciocínio conduz a um desacor<strong>do</strong> com os efeitos observa<strong>do</strong>s, isto é,<br />

dedT π constante . Por essa razão, Thomson concluiu que a tensão Peltier na malha<br />

S<br />

não seria a única tensão gerada num circuito termopar, mas que um único condutor por si<br />

só, quan<strong>do</strong> exposto a um gradiente de temperatura longitudinal, seria também uma fonte<br />

de tensão.<br />

O efeito Thomson é a libertação ou a absorção de energia por calor que ocorre<br />

quan<strong>do</strong> uma corrente eléctrica atravessa um material condutor homogéneo, através <strong>do</strong><br />

qual um gradiente de temperatura é manti<strong>do</strong>, não importan<strong>do</strong> se a corrente é introduzida<br />

externamente ou induzida pelo próprio termopar.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A potência por calor libertada ou absorvida num condutor é proporcional à<br />

diferença de temperatura, D T , e à corrente eléctrica no condutor, I , ou seja,<br />

d Q<br />

dt<br />

T<br />

= s I D T<br />

(5.10)<br />

onde s é o coeficiente de Thomson.<br />

Por analogia entre s e a u<strong>sua</strong>l capacidade térmica mássica, c , Thomson referiu-se<br />

a s como o calor específico de electricidade. É importante realçar que s representa a<br />

taxa de absorção ou emissão de energia como calor por unidade de gradiente de<br />

temperatura e por unidade de corrente eléctrica; ao passo que c representa a energia<br />

transferida como calor por unidade de gradiente de temperatura por unidade de massa. O<br />

coeficiente Thomson é visto também como uma representação de f.e.m. por unidade de<br />

diferença de temperatura. Portanto, a tensão Thomson total gerada num condutor pode<br />

ser expressa como:<br />

T<br />

T2<br />

T1<br />

e = Ú s dT<br />

(5.11)<br />

onde a <strong>sua</strong> polaridade e valor dependem <strong>do</strong> valor da temperatura, da diferença de<br />

temperatura e <strong>do</strong> material. Deve-se notar que a tensão de Thompson não pode manter<br />

uma corrente com apenas um condutor homogéneo forman<strong>do</strong> um circuito fecha<strong>do</strong>, pois<br />

duas forças electromotrizes iguais e opostas serão geradas nos <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s entre as<br />

partes quente e fria.<br />

Mais tarde Thomson conseguiu demonstrar indirectamente a existência da tensão<br />

de Thomson. Ele aplicou uma corrente eléctrica externa num circuito fecha<strong>do</strong>, forma<strong>do</strong><br />

por um único condutor homogéneo, submeti<strong>do</strong> a um gradiente de temperatura e percebeu<br />

que o calor produzi<strong>do</strong> por 2<br />

I R aumentava ou diminuía levemente por causa <strong>do</strong> calor<br />

Thomson nos senti<strong>do</strong>s de quente para frio ou de frio para quente, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> senti<strong>do</strong><br />

da corrente e <strong>do</strong> metal <strong>do</strong> condutor.<br />

5.2.8 As leis <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong>s termopares<br />

O funcionamento <strong>do</strong>s termopares pode ser sistematiza<strong>do</strong> pelo enuncia<strong>do</strong> de<br />

algumas leis, que se apresentam seguidamente e se ilustram na Figura 5.12.<br />

108


• Dois metais e duas junções<br />

109<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Um circuito que utilize termopares deve conter pelo menos <strong>do</strong>is metais distintos e<br />

pelo menos duas junções (Figura 5.12a).<br />

• Independência da temperatura <strong>do</strong> percurso<br />

A tensão de saída <strong>do</strong> termopar, e 0 , depende apenas das temperaturas das junções,<br />

T 1 e T 2 , sen<strong>do</strong> independente da forma como a temperatura se distribui pelos condutores,<br />

desde que não haja corrente eléctrica no circuito (Figura 5.12b).<br />

• Lei <strong>do</strong>s metais intermédios 1<br />

Se um terceiro metal homogéneo for inseri<strong>do</strong> no condutor A ou no condutor B de<br />

um circuito com termopares (Figura 5.12c), a tensão de saída e 0 permanece inalterada,<br />

desde que as novas junções estejam à mesma temperatura, Ti = Tj.<br />

• Lei <strong>do</strong>s metais intermédios 2<br />

A instalação de um material intermediário C numa junção AB (Figura 5.12d) não<br />

modifica a tensão de saída e 0 , desde que as novas junções criadas sejam mantidas à<br />

temperatura T 2 .<br />

• Lei das temperaturas sucessivas<br />

Um circuitos de termopares com temperaturas T 1 e T 2 (Figura 5.12e), origina uma<br />

tensão de saída 12 f ( T1, T2)<br />

produz uma tensão f ( T , T )<br />

tensão de saída é dada por<br />

e = . O mesmo circuito submeti<strong>do</strong> às temperaturas T 2 e T 3<br />

( , )<br />

e = f T T = e + e<br />

13 1 3 12 23<br />

e 23 = 2 3 . Se o circuito for submeti<strong>do</strong> às temperaturas T 1 e 3<br />

Essa lei permite que um termopar calibra<strong>do</strong> numa determinada referência de<br />

temperatura, seja usa<strong>do</strong> com qualquer outra referência de temperatura, aplican<strong>do</strong>-se a<br />

correcção adequada.<br />

T a


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A<br />

T i<br />

A<br />

T 1<br />

2 T<br />

+<br />

C<br />

B e B<br />

A<br />

Figura 5.12 Ilustração das leis de funcionamento <strong>do</strong>s termopares.<br />

Uma outra consequência dessa lei é que fios ou cabos de extensão, que tenham as<br />

mesmas características termoeléctricas <strong>do</strong>s fios <strong>do</strong> termopar, podem ser liga<strong>do</strong>s a ele sem<br />

que a f.e.m. térmica da malha seja modificada. Isso é aplica<strong>do</strong> principalmente em<br />

termopares nobres, em virtude <strong>do</strong> custo <strong>do</strong>s termoelementos.<br />

• Lei <strong>do</strong>s metais sucessivos<br />

0<br />

T j<br />

T 1<br />

T3 = T1<br />

+<br />

B e B<br />

13<br />

A<br />

T 1<br />

T2 = T1<br />

+<br />

-<br />

B e B<br />

AB<br />

-<br />

A<br />

T 1<br />

2 T<br />

+<br />

-<br />

-<br />

+<br />

A<br />

B e B<br />

+<br />

12<br />

A<br />

Um termopar constituí<strong>do</strong> pelos materiais A e C e com as junções submetidas às<br />

temperaturas 1 T e 2 T gera uma tensão e AC (Figura 5.12f). Um circuito semelhante<br />

constituí<strong>do</strong> por materiais C e B gera, submeti<strong>do</strong> às mesmas temperaturas, uma tensão<br />

110<br />

-<br />

C e C<br />

AC<br />

-<br />

T 1<br />

B<br />

T2 + T2<br />

T2 + T1<br />

A<br />

T 1<br />

2 T<br />

B e 0 B<br />

B<br />

e 0<br />

B<br />

a) b)<br />

T 6<br />

T 3<br />

c) d)<br />

e)<br />

f)<br />

+<br />

A<br />

-<br />

T 4<br />

+ - 2<br />

e 0<br />

+<br />

B<br />

A<br />

T 2<br />

T<br />

B e B<br />

+<br />

T 5<br />

23<br />

C<br />

-<br />

B e B<br />

CB<br />

-<br />

T 3<br />

T 2


111<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

e CB . Um termopar semelhante na configuração e constituí<strong>do</strong> pelos materiais A e B, gera,<br />

quan<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> ás mesma temperaturas, uma tensão dada por<br />

eAB = eAC + eCB<br />

5.2.9 Termopares mais u<strong>sua</strong>is e <strong>sua</strong>s características<br />

Vários tipos de pares termoeléctricos foram estuda<strong>do</strong>s e, de acor<strong>do</strong> com a<br />

aplicação, alguns foram normaliza<strong>do</strong>s. Os tipos mais comuns de termopares são<br />

identifica<strong>do</strong>s através de letras (T, J, K, E, N, R, S, B), originalmente atribuídas pela<br />

Instrument Society of America (ISA). A aplicação de cada um deles depende de vários<br />

factores, sen<strong>do</strong> a atmosfera (ambiente) e a gama de temperatura, os principais. As<br />

características de cada um deles são:<br />

• O tipo T (Cu-Cu45%Ni) (Cobre-Constantan) é resistente à corrosão em ambientes<br />

húmi<strong>do</strong>s e é excelente para aplicações em temperaturas abaixo de 0°C. O seu limite<br />

superior de temperatura é de 400°C e pode ser usa<strong>do</strong> em vácuo ou atmosferas oxidante,<br />

redutora ou inerte.<br />

• O tipo J (Fe-Cu45%Ni) (Ferro-Constantan) é apropria<strong>do</strong> para uso em vácuo ou<br />

atmosferas oxidante, redutora ou inerte até 760°C. A taxa de oxidação <strong>do</strong> termoelemento<br />

Fe é alta acima de 530°C, portanto o uso de fios de maiores diâmetros é recomenda<strong>do</strong> se<br />

houver necessidade de uso prolonga<strong>do</strong> em alta temperatura. Termopares tipo J de fio nu<br />

não devem ser usa<strong>do</strong>s em ambientes sulfurosos acima de 530°C. Pode ser usa<strong>do</strong> em<br />

temperaturas abaixo de 0°C, mas a possibilidade de oxidação <strong>do</strong> fio de Fe sob essas<br />

condições torna o seu uso menos interessante que o <strong>do</strong> tipo T em baixas temperaturas.<br />

• O tipo K (Ni10%Cr-Ni5%Al,Si) (Cromel-Alumel) é recomenda<strong>do</strong> para uso<br />

contínuo em atmosferas oxidante e inerte até 1372°C. Em virtude da <strong>sua</strong> característica de<br />

resistência à oxidação ser superior à <strong>do</strong>s outros termopares básicos, ele tem grande<br />

aplicação em temperaturas acima de 530°C. O tipo K também pode ser usa<strong>do</strong> em<br />

temperatura negativa até -270°C, mas não pode ser aplica<strong>do</strong> em: a) atmosferas redutoras<br />

ou que estejam alternan<strong>do</strong> entre redução e oxidação, sem um tubo de protecção<br />

apropria<strong>do</strong>; b) atmosferas sulfurosas, sem um tubo de protecção adequa<strong>do</strong>; c) vácuo,<br />

excepto por curto perío<strong>do</strong> de tempo, pois a vaporização preferencial <strong>do</strong> crómio irá alterar<br />

a calibração; d) atmosferas que promovem a deterioração esverdeada <strong>do</strong> termoelemento


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

positivo. Essa corrosão ocorre devi<strong>do</strong> à oxidação preferencial <strong>do</strong> crómio quan<strong>do</strong> o<br />

ambiente em torno <strong>do</strong> termopar tem baixa percentagem de oxigénio numa determinada<br />

gama de temperatura. Normalmente é notada quan<strong>do</strong> o termopar é usa<strong>do</strong> em tubo de<br />

protecção longo e de diâmetro reduzi<strong>do</strong>.<br />

• O tipo E (Ni10%Cr-Cu45%Ni) (Cromel-Constantan) é recomenda<strong>do</strong> para<br />

aplicações e uso na gama de -250°C a 870°C em atmosferas oxidante ou inerte. Em<br />

atmosfera redutora, alternan<strong>do</strong>-se entre redutora e oxidante, pouco oxidante ou vácuo, o<br />

tipo E está sujeito às mesmas limitações <strong>do</strong> tipo K.<br />

• O tipo N (Ni14%Cr1,5%Si-Ni4,5%Si0,1%Mg) (Nicrosil-Nisil) foi construí<strong>do</strong><br />

como uma alternativa ao tipo K e <strong>sua</strong> gama de operação está entre –270°C e 1300°C. Em<br />

comparação com o tipo K, possui uma menor potência termoeléctrica, um coeficiente de<br />

Seebeck bastante semelhante, porém uma maior estabilidade no tempo durante <strong>do</strong> seu<br />

uso. Assim como o tipo K, não deve ser usa<strong>do</strong> em vácuo.<br />

• O tipo R (Pt13%Rh-Pt) (Platina, Ródio-Platina) e o tipo S (Pt10%Rh-Pt) (Platina-<br />

Rhodio) são recomenda<strong>do</strong>s para aplicações de uso contínuo em ambientes oxidante e<br />

inerte, numa gama de temperatura de –50°C a 1768°C. Não devem ser usa<strong>do</strong>s em<br />

atmosferas redutoras ou que contenham vapores metálicos ou não metálicos, a menos que<br />

seja utiliza<strong>do</strong> um tubo de protecção não metálico. Podem ser usa<strong>do</strong>s em vácuo por curto<br />

perío<strong>do</strong> de tempo. O seu uso contínuo em alta temperatura provoca um excessivo<br />

crescimento de grãos, que pode resultar na quebra <strong>do</strong> elemento platina.<br />

• O tipo B (Pt30%Rh-Pt6%Rh) (Platina-Ródio) é recomenda<strong>do</strong> para uso contínuo<br />

em atmosferas oxidante e inerte em temperaturas até 1820°C. Pode ser usa<strong>do</strong> em vácuo,<br />

por curto perío<strong>do</strong> de tempo em alta temperatura, mas, assim como os tipos R e S, não<br />

deve ser aplica<strong>do</strong> em atmosferas redutoras ou que contenham vapores metálicos ou não<br />

metálicos, a menos que seja utiliza<strong>do</strong> um tubo de protecção não metálico. Se for usa<strong>do</strong><br />

um tubo de protecção metálico, esse termopar não deve ser inseri<strong>do</strong> directamente nele.<br />

Quan<strong>do</strong> em alta temperatura, o tipo B apresenta menor crescimento de grãos que os tipos<br />

R e S.<br />

Dos termopares acima, os que são forma<strong>do</strong>s por platina, são conheci<strong>do</strong>s como<br />

termopares nobres (R, S e B) e os demais são chama<strong>do</strong>s de termopares básicos ou<br />

termopares de metal comum. Outros tipos de termopares foram cria<strong>do</strong>s para aplicações<br />

específicas, sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>s termopares especiais e não receberam denominação por<br />

letras.<br />

112


113<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Um termopar é calibra<strong>do</strong> medin<strong>do</strong> a fem na junção de teste a várias temperaturas,<br />

manten<strong>do</strong> a junção de referência a 0 ºC. Os resulta<strong>do</strong>s de tais medições podem,<br />

u<strong>sua</strong>lmente, ser representa<strong>do</strong>s por uma equação cúbica,<br />

2 3<br />

( ) c c c c<br />

eq = + q+ q + q<br />

(5.12)<br />

0 1 2 3<br />

onde e é a f.e.m. térmica, e c 0 , c 1,<br />

c 2 , e c 3 constantes (diferentes para cada termopar).<br />

Sensibilidade<br />

A sensibilidade de um termopar é dada por<br />

S<br />

T<br />

de<br />

= (5.13)<br />

dT<br />

O índice T em S T indica que a sensibilidade, que é função da temperatura, é<br />

referida à temperatura T . A Tabela 5.1 indica a sensibilidade de alguns materiais quan<strong>do</strong><br />

usa<strong>do</strong>s com a platina, para uma temperatura de junção de 0 ºC. Note-se que existe uma<br />

grande variação nas sensibilidades, consoante os materiais. Repare-se que as<br />

sensibilidades são baixas, da ordem <strong>do</strong>s μV/ ºC. Observe-se ainda que para os<br />

semicondutores (quatro últimos materiais da tabela) as sensibilidades são bastante<br />

superiores às <strong>do</strong>s metais. Para que a sensibilidade de um termopar seja elevada, convirá<br />

associar materiais com sensibilidades altas em relação à platina (em módulo), e de sinais<br />

contrários. No entanto, para a construção de termopares há outros critérios a ter em<br />

consideração. Assim, o par Bismuto/Cromel, que tem uma sensibilidade, a 0 ºC, de<br />

72+25,8 = 97,8 μV/ºC, não se utiliza devi<strong>do</strong> ao facto <strong>do</strong> Bismuto ser muito quebradiço e<br />

ter um ponto de fusão baixo (271 ºC).<br />

Dentro da gama de temperaturas desejadas, a selecção <strong>do</strong>s materiais a utilizar na<br />

construção de um termopar deve ter em conta os seguintes critérios: sensibilidade<br />

elevada, linearidade alta, estabilidade alta e custo baixo.<br />

Para se aumentar a sensibilidade <strong>do</strong>s termopares, estes podem ser associa<strong>do</strong>s em<br />

série, desde que se garanta a existência de N junções à temperatura de medida e outras<br />

N + 1 à temperatura de referência.<br />

Os termopares são utiliza<strong>do</strong>s em vários sectores da indústria (química,<br />

petroquímica, farmacêutica, da energia eléctrica, de produtos alimentares e bebidas,<br />

mineira, metalúrgica, siderúrgica, cerâmica, vidro, entre outros). São utiliza<strong>do</strong>s também


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

na Engenharia Mecânica, em diversos equipamentos laboratoriais e em muitos outros<br />

equipamentos.<br />

Material Sensibilidade Material Sensibilidade<br />

µV/ºC<br />

µV/ºC<br />

Bismuto -72 Cobre + 6,5<br />

Constantan -35 Ouro + 6,5<br />

Níquel -15 Tungsténio + 7,5<br />

Alumel -13,6 Nicrosil + 15,4<br />

Nisil -10,7 Ferro + 18,5<br />

Platina 0 Cromel + 25,8<br />

Mercúrio + 0,6 Germânio + 300<br />

Carbono + 3 Silício + 440<br />

Alumínio + 3,5 Telúrio + 500<br />

Estanho + 4 Selénio + 900<br />

Prata + 6,5<br />

Tabela 5.1 Sensibilidade de alguns termopares à temperatura de referência<br />

0 ºC, quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s com a platina.<br />

5.3 Termómetro de resistência<br />

Termo-resistências ou termómetros de resistência, são nomes genéricos para<br />

sensores que variam a resistência eléctrica com a temperatura. Os materiais utiliza<strong>do</strong>s<br />

como elemento sensor destes termómetros são, normalmente, condutores e<br />

semicondutores. Os metais condutores apareceram primeiro, e historicamente são os que,<br />

em senti<strong>do</strong> estrito, são designa<strong>do</strong>s por termómetros de resistência ou termo-resistências.<br />

Os semicondutores são mais recentes e chamam-se de termístores. A diferença<br />

básica é a forma da variação da resistência eléctrica com a temperatura. Nos metais a<br />

resistência aumenta quase linearmente com a temperatura enquanto nos semicondutores<br />

ela varia de maneira não linear de forma positiva ou negativa (ver Figura 5.13). A<br />

variação da resistência eléctrica em função da temperatura ( dR dT ) é designada por<br />

coeficiente de temperatura. O seu valor também é uma função da temperatura.<br />

114


R / W<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

115<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Figura 5.13 Gráfico ilustrativo da variação da resistência com a temperatura<br />

para alguns metais e para um semicondutor.<br />

5.3.1 Termo-resistências metálicas<br />

5.3.1.1 Constituição<br />

Semicondutor<br />

0<br />

–100 100 300 500 700 T / ºC<br />

Uma termo-resistência é constituída por um núcleo de cerâmica, de vidro ou de<br />

outro material isolante em volta <strong>do</strong> qual se encontra depositada ou enrolada a resistência,<br />

que, de acor<strong>do</strong> com a aplicação, pode ser constituída por um fio ou por um filme<br />

metálico (para dimensões mais reduzidas e valores de resistência mais eleva<strong>do</strong>s).<br />

Externamente, existe um revestimento com vista a proteger a resistência de cargas<br />

mecânicas (pressão, flui<strong>do</strong>s) e da corrosão química (ver Figuras 5.14, 5.15 e 5.16).<br />

Figura 5.14 Interior de uma termo-resistencia.<br />

Figura 5.15 Aspecto exterior de uma termo-resistência.<br />

Ni<br />

W<br />

Pt<br />

R ( 0ºC) = 100 W<br />

Cu


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 5.16 Algumas termo-resistências.<br />

5.3.1.2 Campos de aplicação<br />

Os termómetros de resistência são aplica<strong>do</strong>s na gama de temperatura de - 220ºC a<br />

+ 600ºC . As <strong>sua</strong>s vantagens são inúmeras, das quais destacamos as seguintes: elevada<br />

banda dinâmica de medida, resistência mecânica à vibração, elevada imunidade às<br />

interferências eléctricas, estabilidade dura<strong>do</strong>ura, elevada robustez, e elevada exactidão.<br />

Estes termómetros são muito utiliza<strong>do</strong>s na indústria, nomeadamente, química,<br />

petroquímica, farmacêutica, energia eléctrica, mecânica, de produtos alimentares e<br />

bebidas, entre outras. São ainda utilizadas em laboratórios como padrões de temperatura.<br />

5.3.1.3 Princípio de funcionamento<br />

Em 1821 Sir Humphrey Davy descobriu que a resistividade <strong>do</strong>s metais apresentava<br />

uma forte dependência da temperatura. Sir William Siemens propôs, por volta de 1861, o<br />

uso de termómetros de resistência de platina com os quais a <strong>medição</strong> da temperatura seria<br />

feita à custa da variação da resistência eléctrica de um fio de platina (Güths, 1998).<br />

Actualmente, a <strong>medição</strong> de temperaturas por meio de termómetros de platina<br />

assume grande importância em numerosos processos de controlo industrial; são também<br />

usa<strong>do</strong>s termómetros de platina de construção especial como instrumentos metrológicos<br />

de interpolação das escalas internacionais de temperatura, a nível primário. O termómetro<br />

de resistência feito de platina opera na gama de temperatura de - 253ºC a + 1200ºC .<br />

O termómetro de resistência metálico possui como propriedade termométrica a<br />

resistência eléctrica que pode ser dada por uma função cúbica da temperatura, obtida por<br />

calibração, e dada por (norma CEI 751)<br />

116


( )<br />

2 2<br />

È 0 1 100 ˘<br />

117<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Rq= R<br />

Î<br />

+ Aq + Bq + Cq<br />

q -<br />

˚ (5.14)<br />

onde R 0 é a resistência à temperatura de referência, A, B e C são constantes (ver<br />

secção 6.1) e q é a temperatura empírica. Para valores positivos da temperatura é<br />

suficiente uma aproximação quadrática, pelo que se toma C = 0 , obten<strong>do</strong>-se<br />

2<br />

0 1 È ˘<br />

Rq= R<br />

Î<br />

+ Aq + Bq<br />

˚ (5.15)<br />

A sensibilidade ( S ) de uma termo-resistência é a variação relativa da resistência<br />

por unidade de variação de temperatura:<br />

( DR<br />

R)<br />

S =<br />

DT<br />

(5.16)<br />

A sensibilidade é função da temperatura e a expressão anterior é definida<br />

pontualmente para cada temperatura por<br />

1 dR<br />

S = (5.17)<br />

R dT<br />

Na Tabela 5.2 estão indicadas algumas características para 4 termo-resistencias à<br />

temperatura de 0 ºC.<br />

Níquel Cobre Platina Tungsténio<br />

Gama de medida em (ºC) - 100;<br />

500 - 100;<br />

450 - 260;<br />

800 - 70;<br />

2700<br />

Resistividade ( m)<br />

W 8<br />

5,91 10 -<br />

¥<br />

8<br />

1,529 10 -<br />

¥<br />

8<br />

9,81 10 -<br />

¥<br />

8<br />

4,99 10 -<br />

¥<br />

Linearidade baixa alta alta média<br />

1<br />

Sensibilidade a 0ºC ( K ) -<br />

0,0067 0,0042 0,003925 0,0045<br />

Tabela 5.2 Algumas características para 4 termo-resistências, à temperatura<br />

de 0 ºC.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

5.3.1.4 Méto<strong>do</strong>s de <strong>medição</strong><br />

Para se poder ler, ou para transmitir à distância <strong>do</strong> valor da temperatura obti<strong>do</strong> na<br />

utilização de uma termo-resistência, é necessário transformar o valor de R ou o de ΔR<br />

numa corrente eléctrica, ou numa tensão eléctrica. Para este efeito utiliza-se um<br />

condiciona<strong>do</strong>r de sinal.<br />

Descrevem-se a seguir alguns <strong>do</strong>s condiciona<strong>do</strong>res de sinal mais utiliza<strong>do</strong>s com as<br />

termo-resistências, basea<strong>do</strong>s no uso de uma fonte de corrente e na ponte de Wheatstone.<br />

• Fonte de corrente<br />

Este méto<strong>do</strong> exige uma fonte de corrente constante, e pode ter duas configurações<br />

fundamentais: <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios, e a quatro fios 22 .<br />

Medição a <strong>do</strong>is fios<br />

Conhecen<strong>do</strong> o valor da intensidade da corrente que atravessa a termo-resistência, o<br />

valor da <strong>sua</strong> resistência é obti<strong>do</strong> a partir da medida da queda de tensão, tal como indica a<br />

Figura 5.17.<br />

I<br />

Fonte de<br />

corrente<br />

Figura 5.17 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios.<br />

V<br />

I ª<br />

0<br />

V<br />

R fio<br />

R fio<br />

No méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios o sinal é influencia<strong>do</strong> pela resistência eléctrica<br />

<strong>do</strong>s fios de ligação, e por variações desta, especialmente se estes forem longos e<br />

estiverem sujeitos a variações de temperatura. A influência das resistências <strong>do</strong>s fios pode<br />

ser compensada por uma resistência de compensação, sen<strong>do</strong> este o procedimento segui<strong>do</strong><br />

em instrumentação de regulação onde se exige relativa precisão de controlo.<br />

22 Por vezes são utilizadas resistências com três fios. Em alguns casos, como na <strong>medição</strong> por ponte<br />

de Wheatstone, isto trás vantagens evidentes sobre a montagem com <strong>do</strong>is fios, noutras situações<br />

aparece como compromisso entre a montagem com <strong>do</strong>is fios e quatro fios.<br />

118<br />

Termo-resistência


Medição a quatro fios<br />

119<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Na <strong>medição</strong> a quatro fios, ilustrada na Figura 5.18, a intensidade de corrente que<br />

atravessa a termo-resistência é, também, constante e a queda de tensão é medida junto<br />

<strong>do</strong>s seus extremos. Como a corrente que circula pelo voltímetro é praticamente nula,<br />

pode-se considerar a queda de tensão nos fios de ligação nula, eliminan<strong>do</strong> assim a<br />

influência da resistência e da variação de temperatura <strong>do</strong>s fios de ligação. A desvantagem<br />

deste méto<strong>do</strong> é a necessidade de o cabo conter quatro fios, aumentan<strong>do</strong> o custo.<br />

I<br />

Fonte de<br />

corrente<br />

I ª 0<br />

Figura 5.18 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a quatro fios.<br />

V<br />

V<br />

R fio<br />

R fio<br />

R fio<br />

R fio<br />

Termo-resistência<br />

O auto-aquecimento é o problema mais grave das termo-resistências. A circulação<br />

de uma corrente eléctrica pela resistência causa, por efeito Joule, um aumento da <strong>sua</strong><br />

temperatura, originan<strong>do</strong> um erro de <strong>medição</strong>. O erro torna-se crítico quan<strong>do</strong> se fazem<br />

medições em gases, a baixas velocidades, poden<strong>do</strong> chegar a 2 ºC.<br />

A forma de minimizar esse fenómeno é alimentar o sistema com corrente pulsada,<br />

conforme se mostra na Figura 5.19. Como consequência essa forma de resolver o<br />

problema necessita de um circuito electrónico mais sofistica<strong>do</strong> (Güths, 1988).<br />

a)<br />

Corrente<br />

Tensão<br />

6 ms 0,2 ms<br />

Tempo<br />

b)<br />

Tempo<br />

Figura 5.19 Minimização <strong>do</strong> efeito de auto-aquecimento usan<strong>do</strong> uma corrente<br />

pulsada: a) corrente injectada; b) sinal em tensão detecta<strong>do</strong>.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

• Ponte de Wheatstone<br />

A Ponte de Wheatstone é uma técnica muito utilizada pois necessita apenas de uma<br />

fonte de tensão, que é mais simples que uma fonte de corrente. Consideremos o caso da<br />

ligação em três pontos, conforme se ilustra na Figura 5.20. O efeito da variação da<br />

resistência <strong>do</strong> cabo pode ser minimiza<strong>do</strong>, com o custo <strong>do</strong> cabo adicional B.<br />

A tensão de saída, V , da ponte depende da relação entres os valores das<br />

resistências e da tensão de alimentação, e , e é dada por<br />

Ê 1 1 ˆ<br />

V = e -<br />

Ë<br />

Á1+ R R 1+<br />

R R¯<br />

˜<br />

(5.18)<br />

1 2 3<br />

Da expressão anterior podemos escrever<br />

( e )( 1 )<br />

+ ( e )( 1+<br />

)<br />

R3 - RV 3 + R1 R2<br />

R =<br />

R R V R R<br />

1 2 1 2<br />

Fonte de<br />

tensão<br />

Figura 5.20 Ponte de Wheatstone com resistência de três fios.<br />

5.3.2 Termístores<br />

5.3.2.1 Constituição<br />

R 1<br />

R 2<br />

120<br />

R<br />

Termo-resistência<br />

(5.19)<br />

Como já foi dito os termístores são resistências sensíveis à temperatura, construídas<br />

em material semicondutor. Como material semicondutor utilizam-se os óxi<strong>do</strong>s de níquel,<br />

de cobalto e de manganês, e sulfatos de ferro, de alumínio e de cobre, e ainda, para<br />

aumentar a estabilidade, misturas de outros óxi<strong>do</strong>s.<br />

R 3<br />

e V<br />

A<br />

B<br />

C


121<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Os primeiros termístores foram feitos de óxi<strong>do</strong> de manganês, níquel e cobalto,<br />

moí<strong>do</strong>s e mistura<strong>do</strong>s em proporções apropriadas e prensa<strong>do</strong>s.<br />

Figura 5.21 Exemplos de termístores.<br />

5.3.2.2 Características<br />

Existem basicamente <strong>do</strong>is tipos de termístores, os NTC (<strong>do</strong> inglês Negative<br />

Temperature Coefficient), termístores cujo coeficiente de variação de resistência com a<br />

temperatura é negativo: a resistência diminui com o aumento da temperatura de forma<br />

exponencial. Os PTC (<strong>do</strong> inglês Positive Temperature Coefficient) são termístores cujo<br />

coeficiente de variação de resistência com a temperatura é positivo: a resistência aumenta<br />

com o aumento da temperatura.<br />

A gama de medida de um termístor é mais reduzida <strong>do</strong> que a de uma termo-<br />

resistência ( - 100ºC a 300 ºC). Para um termístor a variação da resistência com a<br />

temperatura é elevada, sen<strong>do</strong> a <strong>sua</strong> relação não linear.<br />

A resistência em função da temperatura para um termístor NTC é dada por:<br />

0<br />

Ê1 1 ˆ<br />

b Á -<br />

ËT T<br />

˜<br />

0 ¯<br />

R = R e (5.20)<br />

onde : R - resistência <strong>do</strong> termístor à temperatura absoluta T ( W ),<br />

0 R - resistência <strong>do</strong> termístor à temperatura de referência 0<br />

T e T 0 - temperaturas absolutas ( K ),<br />

T ( W ),<br />

b - parâmetro característico <strong>do</strong> termístor, dependente da <strong>sua</strong> composição ( K ).<br />

O parâmetro b toma valores compreendi<strong>do</strong>s entre 3000 K e 5000 K. Para gamas<br />

de funcionamento restritas pode considerar-se constante. A temperatura de referência,<br />

T 0 , é geralmente tomada a 298 K ( 25ºC ).


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Uma aplicação corrente a nível industrial é a <strong>medição</strong> de temperatura (em motores,<br />

por exemplo), pois podemos com o termístor obter uma variação da <strong>sua</strong> resistência<br />

eléctrica em função da temperatura a que este se encontra.<br />

Os termístores PTC são muito não-lineares e são usa<strong>do</strong>s apenas para protecção<br />

contra sobreaquecimento, limitan<strong>do</strong> a corrente eléctrica quan<strong>do</strong> determinada temperatura<br />

é ultrapassada.<br />

A sensibilidade de um termístor é definida pela relação ente a variação relativa da<br />

resistência e a correspondente variação de temperatura que lhe deu origem.<br />

1 dR<br />

S = (5.21)<br />

R dT<br />

Efectuan<strong>do</strong> este cálculo usan<strong>do</strong> para R( T ) a função dada por (5.20) obtém-se<br />

b<br />

S =- (5.22)<br />

2<br />

T<br />

A título de exemplo, para um termístor com β = 4000 K e para T = 300 K (~26 ºC)<br />

a sensibilidade tem o valor<br />

1<br />

0,044K -<br />

- . Comparan<strong>do</strong> este valor com a sensibilidade da<br />

termo-resistência de platina constata-se que a sensibilidade de um termístor é, em valor<br />

absoluto, cerca de 10 vezes maior <strong>do</strong> que a sensibilidade da termo-resistência. As<br />

elevadas sensibilidades <strong>do</strong>s termístores permitem a detecção de variações de temperatura<br />

da ordem de 0,0005 K.<br />

A sensibilidade varia com a temperatura o que constitui um problema, para o<br />

resolver associa-se uma associação de resistências em paralelo, o que lineariza a variação<br />

da resistência com a temperatura.<br />

5.4 Termómetros de pressão de gás<br />

Fisicamente idêntico ao termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, neste<br />

termómetro, o volume <strong>do</strong> conjunto é constante e preenchi<strong>do</strong> com um gás. A variação de<br />

temperatura implica uma variação de pressão de acor<strong>do</strong> com a lei <strong>do</strong>s gases ideais (ver<br />

secção 4.3.2). Este termómetro, pelas <strong>sua</strong>s características, não é usa<strong>do</strong> no dia-a-dia.<br />

122


123<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

5.5 Termómetro de radiação infravermelha e visível<br />

Pirómetros são sensores de temperatura que utilizam a radiação térmica emitida por<br />

um corpo cuja temperatura se quer medir, não necessitam de estar em contacto físico com<br />

o corpo emissor, não interferin<strong>do</strong>, portanto com o meio e desse mo<strong>do</strong> evitan<strong>do</strong><br />

transferências de energia na <strong>medição</strong> de temperatura, obten<strong>do</strong>-se a temperatura real.<br />

Estes termómetros apresentam ainda as vantagens de não ser necessário esperar que<br />

se atinja o equilíbrio térmico entre o corpo e o termómetro, suporta medições de<br />

temperatura elevada, pode medir a temperatura de materiais corrosivos, bem como medir<br />

a temperatura de um sistema móvel, visto que o pirómetro não está acopla<strong>do</strong> ao corpo.<br />

Um outro sensor de temperatura que também utiliza a radiação térmica emitida por<br />

um corpo cuja temperatura se quer medir é a termopilha.<br />

5.5.1 Termopilha<br />

Uma termopilha consiste em vários elementos térmicos (termopares) coloca<strong>do</strong>s em<br />

série como ilustra<strong>do</strong> na Figura 5.22.<br />

Abertura<br />

Bismuto<br />

Figura 5.22 Esquema de uma termopilha.<br />

Numa termopilha há <strong>do</strong>is lugares característicos onde são colocadas as junções <strong>do</strong>s<br />

elementos, sen<strong>do</strong> que um é chama<strong>do</strong> de lugar das junções quentes e o outro de lugar das<br />

junções frias. As junções quentes da termopilha estão no centro <strong>do</strong> transdutor abaixo de<br />

uma membrana que irá receber a radiação. As junções frias vão estar protegidas da<br />

radiação presas a um substrato que será utiliza<strong>do</strong> como massa térmica.<br />

Prata<br />

e


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

5.5.2 Pirómetro<br />

Os pirómetros podem ser dividi<strong>do</strong>s em duas classes distintas: os pirómetros de<br />

banda larga e os pirómetros de banda estreita. Os pirómetros de banda larga baseiam-se<br />

na lei de Stefan-Boltzmann, que relaciona a potencia total irradiada por um corpo, P ,<br />

com a temperatura absoluta a que ele se encontra, T , a área da superfície de emissora,<br />

A , e a <strong>sua</strong> emissividade, e . Como vimos no Capítulo 3, esta lei expressa-se por<br />

4<br />

P = esAT , onde s é a constante universal de Stefan-Boltmann, cujo valor é<br />

-8 -2 -4<br />

s = 5,6704 ¥ 10 W m K . Pode portanto fazer-se medições de temperatura a partir<br />

de medições de energia emitida pelo corpo.<br />

Os pirómetros são calibra<strong>do</strong>s em relação a um corpo negro, onde a energia<br />

irradiada é máxima ( e = 1).<br />

Quan<strong>do</strong> a <strong>medição</strong> é realizada num corpo com emissividade<br />

diferente da <strong>do</strong> corpo negro deve-se empregar um factor de correcção. Para isso deve-se<br />

conhecer a emissividade <strong>do</strong> corpo cuja temperatura se quer medir, o que é um factor de<br />

incerteza visto que depende por exemplo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> da superfície e da temperatura entre<br />

outros. Outro factor de incerteza diz respeito à influência <strong>do</strong>s corpos vizinhos, a radiação<br />

emitida por um corpo vizinho pode vir a ser reflectida na superfície <strong>do</strong> corpo cuja<br />

temperatura queremos medir e atingir o sensor, influencian<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong>.<br />

A Figura 5.23 refere-se à patente <strong>do</strong> primeiro pirómetro de banda estreita, atribuída<br />

a Samuel Morse em 1899 (www.zytemp.com).<br />

Figura 5.23 Ilustração <strong>do</strong> primeiro pirómetro patentea<strong>do</strong>.<br />

124


5.5.2.1 Pirómetros ópticos (Banda estreita)<br />

125<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

O pirómetro de banda estreita clássico é o chama<strong>do</strong> pirómetro óptico, ilustra<strong>do</strong><br />

esquematicamente na Figura 5.24 A, e é usa<strong>do</strong> para medir temperaturas de 700 ºC a<br />

4000 ºC, onde parte significativa da energia é radiada na zona visível <strong>do</strong> espectro<br />

electromagnético. Usa um méto<strong>do</strong> comparativo. A energia emitida pelo corpo incide<br />

numa lente objectiva e é focada no filamento de uma lâmpada de incandescência. Se a<br />

temperatura <strong>do</strong> corpo exceder os 1300 ºC, é usa<strong>do</strong> um filtro de absorção entre a lente<br />

objectiva e a lâmpada. A energia radiante que provem <strong>do</strong> corpo e <strong>do</strong> filamento da<br />

lâmpada passa por um filtro vermelho com uma frequência de corte de cerca de<br />

12<br />

470 ¥ 10 Hz . A radiação transmitida através <strong>do</strong> filtro é captada por outra lente objectiva<br />

e focada para ser vista pelo observa<strong>do</strong>r através de uma lente ocular (Fialho, 2007).<br />

A<br />

B<br />

Figura 5.24 A – Esquema de um pirómetro óptico. B – Observação.<br />

Se a corrente da lâmpada estiver desligada, o observa<strong>do</strong>r vai ver um filamento<br />

negro num plano de fun<strong>do</strong> de cor clara. Ao aumentar a corrente da lâmpada, chega-se a<br />

um ponto em que há a sensação de que o filamento desaparece, já que a radiação por ele<br />

emitida na frequência <strong>do</strong> filtro vermelho tem a mesma intensidade da radiação emitida<br />

pelo corpo. Ao aumentar ainda mais a corrente da lâmpada o filamento começa a adquirir<br />

uma cor mais clara sobre um plano de fun<strong>do</strong> de cor mais escura, tal como mostra a<br />

Figura 5.24 B.<br />

Na condição em que o filamento deixa de ser visível, a corrente requerida para<br />

produzir o seu brilho é medida e usada para estabelecer a temperatura <strong>do</strong> corpo quente.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Os principais problemas deste pirómetro são:<br />

- Só funciona para temperaturas em que o corpo emite radiação considerável no<br />

espectro visível.<br />

- Só mede correctamente a temperatura de corpos negros, isto é, corpos cuja<br />

superfície tenha emissividade igual a 1. Para to<strong>do</strong>s os outros o aparelho necessita de<br />

calibração. Como é sabi<strong>do</strong>, a radiação emitida por um corpo é menor <strong>do</strong> que a que emite<br />

um corpo negro à mesma temperatura.<br />

Se for conhecida a energia radiada por um corpo e o valor da emissividade da <strong>sua</strong><br />

superfície, pode-se calcular a energia radiada por um corpo negro à mesma temperatura e<br />

no mesmo comprimento de onda. Depois basta usar a lei de Planck que relaciona a<br />

energia emitida por um corpo negro com o comprimento de onda e com a temperatura.<br />

Caso não seja conhecida a emissividade da superfície <strong>do</strong> corpo, podem ser usa<strong>do</strong>s<br />

alguns “truques” para se chegar ao valor da temperatura: Uma porção <strong>do</strong> corpo pode ser<br />

pintada de negro ou coberta por uma cerâmica negra para que a <strong>sua</strong> emissividade seja<br />

próxima de 1. Para temperaturas muito altas, em que não é possível pintar a superfície,<br />

pode ser feito um furo com uma relação profundidade/diâmetro de seis ou mais. Este furo<br />

liga o interior de uma cavidade com o exterior, portanto actua como corpo negro e se o<br />

pirómetro óptico for foca<strong>do</strong> no seu interior, a temperatura <strong>do</strong> corpo pode ser medida com<br />

grande precisão.<br />

Para resolver o problema da dependência da <strong>medição</strong> de temperatura de um corpo<br />

com a <strong>sua</strong> emissividade, o pirómetro pode ser concebi<strong>do</strong> como se ilustra na Figura 5.25.<br />

Neste aparelho existem <strong>do</strong>is sensores que recebem radiação de diferentes<br />

comprimentos de onda (de cor diferente, portanto). A radiação proveniente <strong>do</strong> corpo é<br />

focada por uma lente objectiva, sen<strong>do</strong> depois dividida para os <strong>do</strong>is sensores por um<br />

divisor de feixe dicróico. Este divisor de feixe (espelho quente/frio) reflecte/transmite a<br />

radiação de comprimento de onda maior e transmite/reflecte a radiação de comprimento<br />

de onda menor.<br />

Corpo<br />

Lente<br />

Figura 5.25 Esquema de um pirómetro independente da emissividade.<br />

126<br />

Sensor 2<br />

Divisor de feixe<br />

Sensor 1


127<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Supon<strong>do</strong> que o valor da emissividade <strong>do</strong> corpo é o mesmo para os <strong>do</strong>is<br />

comprimentos de onda, o gráfico da radiância espectral <strong>do</strong> corpo negro (Figura 3.17),<br />

mostra que os valores li<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>is sensores vão ser os <strong>do</strong> gráfico multiplica<strong>do</strong>s por<br />

uma constante menor <strong>do</strong> que um (emissividade). A partir deste princípio, pelo valor<br />

relativo medi<strong>do</strong> pelos <strong>do</strong>is sensores é possível calcular a temperatura <strong>do</strong> corpo. Assim,<br />

em termos qualitativos, olhan<strong>do</strong> para a Figura 5.26 caso o valor medi<strong>do</strong> pelo sensor 1<br />

seja maior <strong>do</strong> que o valor medi<strong>do</strong> pelo sensor 2, então a temperatura é baixa. Se a medida<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sensores for igual, então a temperatura é média. Se a medida <strong>do</strong> sensor 2 for<br />

maior <strong>do</strong> que a <strong>do</strong> sensor 1 então a temperatura é alta.<br />

Sensor 1<br />

Sensor 2<br />

Figura 5.26 Frequências utilizadas pelo pirómetro de duas cores.<br />

De certo mo<strong>do</strong>, o efeito da emissividade é compensa<strong>do</strong>, não totalmente já que,<br />

como foi visto antes, a emissividade não é rigorosamente constante, mas dependente <strong>do</strong><br />

comprimento de onda.<br />

A principal diferença em relação ao pirómetro clássico é que este usa, em vez <strong>do</strong><br />

valor absoluto da energia absorvida pelo sensor, a razão entre as energias recebidas pelos<br />

<strong>do</strong>is sensores a comprimentos de onda diferentes.<br />

5.5.2.2 Pirómetro de infravermelhos (Banda larga)<br />

Para temperaturas abaixo <strong>do</strong>s 700 ºC, as radiações emitidas pelo corpo estão<br />

concentradas na região <strong>do</strong> infravermelho e não são visíveis para o olho humano, não<br />

sen<strong>do</strong> por isso possível usar o pirómetro óptico. Então neste caso usa-se o pirómetro de


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

infravermelhos, que usa um sensor que mede a intensidade da radiação proveniente <strong>do</strong><br />

corpo.<br />

A Figura 5.27 mostra o esquema de um pirómetro de infravermelhos. Uma lente<br />

capta a radiação infravermelha emitida pela superfície incluída na <strong>sua</strong> área de focagem.<br />

A radiação é depois reflectida pelo espelho parabólico e focada no sensor. Como sensor<br />

pode ser usa<strong>do</strong> uma termopilha, uma resistência de platina ou um sensor de efeito<br />

fotoeléctrico. A tensão de saída <strong>do</strong> sensor é uma medida directa da radiação absorvida<br />

por ele. Se se conhecer a quantidade de radiação absorvida pelo sensor, usan<strong>do</strong> a lei de<br />

Planck, pode-se calcular a temperatura da superfície <strong>do</strong> corpo.<br />

Figura 5.27 Pirómetro de radiação infravermelha.<br />

Para este pirómetro, as dimensões <strong>do</strong> corpo e a distância deste à lente são críticos.<br />

O campo de visão <strong>do</strong> pirómetro de infravermelhos depende da distância focal e <strong>do</strong><br />

diâmetro da lente. O sistema óptico <strong>do</strong> aparelho capta toda a radiação proveniente <strong>do</strong>s<br />

objectos que estão no seu campo de visão, e a medida dada por ele representa a média<br />

das temperaturas desses mesmos objectos.<br />

A maioria <strong>do</strong>s pirómetros tem uma lente de distância focal fixa que define o seu<br />

campo de visão. Este campo de visão é expresso normalmente em termos de uma relação<br />

d D em que d representa a distância da lente ao objecto e D o diâmetro <strong>do</strong> campo de<br />

visão na posição d.<br />

Os pirómetros de infravermelhos de uso geral usam lentes com distâncias focais<br />

entre 0,5 m e 1,5 m. Também existem os instrumentos de foco curto que usam lentes com<br />

distâncias focais entre 10 mm e 100 mm e os de foco longo que usam lentes com<br />

distâncias focais de 10 m ou mais.<br />

128


129<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Outro problema <strong>do</strong> pirómetro de infravermelhos é que, tal como o pirómetro<br />

óptico, a <strong>sua</strong> medida depende da emissividade da superfície <strong>do</strong> corpo sobre o qual a<br />

temperatura é medida. Como as superfícies têm emissividade menor <strong>do</strong> que um, a<br />

radiação emitida por elas é menor <strong>do</strong> que a prevista na lei de Planck e o instrumento vai<br />

dar uma leitura menor <strong>do</strong> que a temperatura real da superfície. Os fabricantes deste tipo<br />

de instrumentos corrigem o erro da emissividade instalan<strong>do</strong>-lhes um compensa<strong>do</strong>r de<br />

emissividade. O compensa<strong>do</strong>r de emissividade não é mais <strong>do</strong> que um ajuste de ganho <strong>do</strong><br />

amplifica<strong>do</strong>r que amplifica o sinal <strong>do</strong> sensor.<br />

Este ajuste de ganho também pode ser usa<strong>do</strong> para compensar perdas na transmissão<br />

quan<strong>do</strong> a radiação tem que atravessar vidros, plásticos, fumos, poeiras, vapores, etc.<br />

Como alternativa ao compensa<strong>do</strong>r de emissividade, também se utiliza a divisão <strong>do</strong><br />

feixe em <strong>do</strong>is comprimentos de onda.<br />

Tipicamente, estes aparelhos cobrem a gama de temperaturas de - 20ºC a 1000 ºC,<br />

a <strong>sua</strong> emissividade pode ser ajustada de 0,1 a 1 e conseguem ler até dez temperaturas por<br />

segun<strong>do</strong>, no caso de o sensor ser <strong>do</strong> tipo termopilha (que é o mais comum).<br />

O detector de radiação deve ser manti<strong>do</strong> a uma temperatura muito baixa, para que a<br />

intensidade de radiação absorvida seja maior. Em casos especiais é necessário arrefecer o<br />

detector com azoto líqui<strong>do</strong>.<br />

A Figura 5.28 mostra exemplos de alguns pirómetros comerciais de radiação<br />

infravermelha.<br />

Figura 5.28 Exemplos de pirómetros de radiação infravermelha.<br />

5.6 Outros termómetros e algumas curiosidades<br />

A temperatura relaciona-se com infindáveis fenómenos físicos que permitem<br />

construir os mais varia<strong>do</strong>s termómetros, alguns deles constituem apenas curiosidades,<br />

outros tem mesmo aplicações práticas no senti<strong>do</strong> de tornar a vida <strong>do</strong> dia-a-dia mais<br />

expedita a ponto de o utiliza<strong>do</strong>r não se aperceber <strong>do</strong>s fenómenos e princípios subjacentes<br />

pois a <strong>medição</strong> de temperatura torna-se algo bastante difundi<strong>do</strong>.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Esta diversidade poderia constituir um estu<strong>do</strong> bastante alarga<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong> apenas se<br />

apresentam algumas formas de medir temperatura que não foram estudadas em detalhe e<br />

que, pelos seus campos de aplicação, têm muita importância em diversas áreas.<br />

Apresentam-se igualmente algumas curiosidades relacionadas com a <strong>medição</strong> de<br />

temperatura.<br />

5.6.1 Termómetros basea<strong>do</strong>s em cristais líqui<strong>do</strong>s<br />

Os cristais líqui<strong>do</strong>s proporcionam a criação de termómetros de fácil utilização<br />

que se adaptam à <strong>medição</strong> de temperatura nas mais diversas situações <strong>do</strong> dia-a-dia<br />

tornan<strong>do</strong>-se não só práticos como lúdicos, sen<strong>do</strong> também atracções comerciais. São as<br />

propriedades na <strong>sua</strong> fase colestérica que permitem o seu uso como termómetros. Nestes<br />

cristais líqui<strong>do</strong>s as moléculas estão dispostas em hélice (Figura 5.29) e a cor destes<br />

depende de quão apertada ela está. A hélice fica mais apertada à medida que a<br />

temperatura aumenta (Bechtold, 2005; Martins, 1991).<br />

Figura 5.29 Moléculas de cristais líqui<strong>do</strong>s dispostas em hélice.<br />

Figura 5.30 Anéis de humor feitos de cristais líqui<strong>do</strong>s.<br />

As tiras da figura seguinte são fabricadas com cristal líqui<strong>do</strong> que, calibra<strong>do</strong> a<br />

diferentes temperaturas e impresso sobre papel auto-adesivo actua como um termómetro<br />

convencional, a temperatura a medir aparece sobre tom verde sobre um fun<strong>do</strong> negro.<br />

130


Figura 5.31 Tiras termométricas de cristais líqui<strong>do</strong>s.<br />

131<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Em alguns utensílios de cozinha, como frigideiras e panelas incorporam um<br />

indica<strong>do</strong>r de temperatura sob a forma de um círculo que muda de cor indican<strong>do</strong> a<br />

temperatura adequada de utilização.<br />

As tintas termo-sensíveis têm também várias aplicações<br />

termométricas sen<strong>do</strong> a <strong>sua</strong> principal característica a mudança de<br />

cor quan<strong>do</strong> sujeitas a variações de temperatura. Por exemplo,<br />

são usadas em dispositivos de segurança (indica<strong>do</strong>res de<br />

elevada temperatura), nas notas da lotaria, em artigos varia<strong>do</strong>s<br />

comerciais, entre outros.<br />

5.6.2 Termómetros basea<strong>do</strong>s em dío<strong>do</strong>s<br />

A introdução de componentes electrónicos<br />

permite concentrar o dispositivo sensor e a<br />

electrónica de processamento num único circuito<br />

integra<strong>do</strong>, possibilitan<strong>do</strong> termómetros electrónicos<br />

de baixo custo. São exemplos os integra<strong>do</strong>s LM35 ( 10mV K ) e 590 KH ( 1μA K ) . De<br />

entre os dispositivos sensores salienta-se os dío<strong>do</strong>s que são elementos semicondutores<br />

cujas características eléctricas dependem da temperatura, permitin<strong>do</strong> assim o seu uso<br />

como sensor.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A variação da corrente <strong>do</strong> dío<strong>do</strong> semicondutor com a tensão aos seus terminais tem<br />

uma forma aproximadamente exponencial: em boa aproximação a corrente I é dada por:<br />

I I e<br />

VVT<br />

( 1)<br />

= s - com T<br />

V = h kT q<br />

(5.23)<br />

onde k é a constante de Boltzmann, T a temperatura absoluta, q a carga <strong>do</strong> electrão, V a<br />

tensão aos terminais <strong>do</strong> dío<strong>do</strong>, e h o factor de idealidade. I s é designada por corrente de<br />

saturação (corrente máxima com polarização inversa). À temperatura ambiente (300 K)<br />

V ª 25mV (w3.ualg.pt/~jmariano/introelec/iae_dio<strong>do</strong>s.pdf).<br />

T<br />

Para utilização como termómetros, os dío<strong>do</strong>s são polariza<strong>do</strong>s directamente com<br />

uma corrente constante, tipicamente da ordem de 10μA , sen<strong>do</strong> a queda de tensão nos<br />

seus terminais função da temperatura, aumentan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a temperatura baixa.<br />

Tensão / V<br />

<strong>Temperatura</strong> / K<br />

Figura 5.32 Tensão eléctrica nos terminais de um dío<strong>do</strong> de Silício polariza<strong>do</strong><br />

directamente com uma corrente de 10 μA em função da<br />

temperatura (www.lakeshore.com/temp/sen/sd670_po.html).<br />

Para utilização a baixas temperaturas na presença de campos magnéticos, surgiu<br />

recentemente (www.lakeshore.com/temp/sen/sd670_po.html) uma alternativa aos dío<strong>do</strong>s<br />

através de termómetros basea<strong>do</strong>s na resistência de cerâmicas especiais, como por<br />

exemplo a Cernox TM .<br />

132


5.6.3 Termómetro decorativo de Galileu<br />

133<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Outro termómetro interessante é o termómetro chama<strong>do</strong> de<br />

Galileu, como se mostra na Figura ao la<strong>do</strong>. Tal termómetro consiste<br />

num tubo de vidro sela<strong>do</strong>, preenchi<strong>do</strong> com água e várias bolhas<br />

flutuantes. As bolhas são esferas de vidro onde se colocou uma<br />

certa quantidade de uma mistura líquida colorida. A cada bolha foi<br />

adiciona<strong>do</strong> uma pequena etiqueta de metal onde está grava<strong>do</strong> um<br />

número correspondente a uma temperatura. Essas etiquetas são<br />

massas calibradas para que a densidade média das bolhas mais<br />

massas difira ligeiramente uma das outras, sen<strong>do</strong> a densidade de<br />

todas elas próxima da da água onde estão inseridas.<br />

O princípio de funcionamento é o princípio de Arquimedes,<br />

em que o sistema, bolha e massa marcada, está sujeito à acção de<br />

duas forças: o peso e a impulsão da água. Varian<strong>do</strong> a temperatura<br />

da água dentro <strong>do</strong> termómetro varia a <strong>sua</strong> densidade, sen<strong>do</strong> esta a propriedade<br />

termométrica. Assim cada sistema (bolha e massa marcada que lhe está associada) vai<br />

ocupar níveis diferentes no seio da água. O sistema que estiver a um nível inferior<br />

relativo indica a temperatura aproximada (http://ciencia.hsw.uol.com.br/questao663.htm).<br />

5.6.4 Inferência de temperaturas atmosféricas passadas<br />

Ilha Signy<br />

Num tempo de alterações climáticas, há certos fenómenos geofísicos que nos<br />

indicam as variações de temperatura que estão a ocorrer a nível global. A título de<br />

exemplo, a Ilha Signy, próxima à Antártida, está a ser considerada um termómetro das<br />

mudanças ambientais. As mudanças <strong>do</strong> clima são percebidas pelo derreter da fina calote<br />

de gelo <strong>do</strong>s lagos. Nos últimos 20 anos, a temperatura média subiu 1,8 ºC.<br />

Uvas pinot noir<br />

Um outro caso interessante é a determinação indirecta da<br />

temperatura usan<strong>do</strong> o ciclo de vida das uvas pinot noir, constituin<strong>do</strong><br />

um termómetro para determinar as mudanças climáticas entre o fim<br />

da Idade Média e o presente (Chuine et al, 2004). Foi possível<br />

determinar como foi o verão em, por exemplo, 1500 sem dispor de<br />

medidas directas das temperaturas da época.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

As uvas pinot noir são plantadas na região de Borgonha, na França, desde a Idade<br />

Média e a data exacta <strong>do</strong> início de <strong>sua</strong> colheita tem si<strong>do</strong> registada fielmente nas<br />

municipalidades e igrejas. Em cada ano a colheita era determinada por decreto, de mo<strong>do</strong><br />

a garantir que as uvas fossem colhidas apenas quan<strong>do</strong> estavam prontas para a produção<br />

de vinho. Usan<strong>do</strong> as datas de início de colheita, os cientistas determinaram a temperatura<br />

média <strong>do</strong>s verões entre 1370 e 2003. Para isso tiveram que entender a relação entre a<br />

velocidade de amadurecimento das uvas e a temperatura. Usaram as temperaturas<br />

fornecidas pelo serviço de meteorologia entre 1964 e 2001, correlacionan<strong>do</strong>-as com as<br />

datas em que a pinot noir floresce, amadurece e finalmente é colhida. Com os da<strong>do</strong>s<br />

recolhi<strong>do</strong>s construíram uma equação que relaciona a temperatura média da primavera e<br />

<strong>do</strong> verão com a data <strong>do</strong> início da colheita. Utilizan<strong>do</strong>-a juntamente com a data da colheita<br />

das uvas calculam a temperatura média de cada verão.<br />

Anéis de árvores<br />

Muitas árvores produzem um anel por<br />

ano, devi<strong>do</strong> ao rápi<strong>do</strong> crescimento na Primavera<br />

e no Verão e ao pouco crescimento no Outono e<br />

no Inverno.<br />

Um ano mais quente resulta em um anel<br />

mais largo. Os padrões na largura, densidade da<br />

madeira e composição isotópica <strong>do</strong> hidrogénio<br />

e oxigénio <strong>do</strong>s anéis das árvores podem ser utiliza<strong>do</strong>s para estimar a temperatura<br />

(www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm).<br />

Corais<br />

Os corais têm esqueletos de carbonato de cálcio<br />

(CaCO3) duro. Alguns corais, à medida que crescem,<br />

formam anéis anuais de carbonato de cálcio que podem<br />

ser usa<strong>do</strong>s para estimar temperaturas. Quan<strong>do</strong> a<br />

temperatura <strong>do</strong> mar é quente, o coral crescerá mais<br />

rápi<strong>do</strong> que se a temperatura for fria, portanto, anos mais<br />

quentes formarão anéis de crescimento mais largos e<br />

anos mais frios criarão anéis mais finos. Isótopos de<br />

oxigénio conti<strong>do</strong>s no carbonato de cálcio também podem<br />

ser usa<strong>do</strong>s para estimar a temperatura da água quan<strong>do</strong> o<br />

coral cresceu (www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm).<br />

134


Núcleos de gelo<br />

135<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

O gelo nos pólos foi acumula<strong>do</strong> durante centenas de<br />

milhares de anos e contém informação sobre o clima e em<br />

particular sobre a temperatura. Retiran<strong>do</strong> núcleos de gelo a<br />

elevadas profundidades podemos estudar certas<br />

propriedades <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Na estação de Vostok na<br />

Antárctica foi retira<strong>do</strong> um núcleo com 2083 metros de<br />

comprimentos, trazi<strong>do</strong> em partes de 1970 a 1974 e de 1982 a<br />

1983. O gelo na parte inferior <strong>do</strong> núcleo tem quase 500 000<br />

anos (www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm).<br />

Observações durante perío<strong>do</strong>s em que a temperatura também era conhecida<br />

levaram a uma relação entre a concentração de deutério (isótopo <strong>do</strong> hidrogénio que<br />

constitui a água) e a temperatura ambiente. Com base nessa relação, o estu<strong>do</strong> das<br />

sucessivas camadas de gelo permite estimar a temperatura <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

O gelo também contém pó e ar antigos, que a <strong>sua</strong> análise permite inferir,<br />

respectivamente, a existência de importantes erupções vulcânicas e as concentrações de<br />

gases, tais como a de CO2.<br />

Sedimentos de oceanos e lagos<br />

Os rios retiram, continuamente, lama e areia da terra para lagos, mares e oceanos,<br />

onde a lama pára para formar camadas de sedimentos. Os núcleos perfura<strong>do</strong>s nesses<br />

sedimentos podem revelar pequenos fósseis e produtos químicos que podem ajudar na<br />

interpretação <strong>do</strong>s climas passa<strong>do</strong>s. Os grãos de pólen são muito duros e, portanto, são<br />

geralmente bem preserva<strong>do</strong>s em camadas de sedimentos. Cada tipo de planta produz<br />

grãos de pólen de diferentes formatos. Análises de grãos de pólen podem revelar quais<br />

tipos de plantas que existiam na proximidade <strong>do</strong> local onde foi retira<strong>do</strong> o sedimento,<br />

dan<strong>do</strong> uma ideia de como seria o clima.<br />

(www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/causes_co2.htm)


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

5.6.5 Determinação da temperatura <strong>do</strong> interior da Terra e de<br />

formação das rochas<br />

Os Geofísicos Michael Gillan, Dario Alfé e Geoffrey<br />

Pricein desenvolveram um méto<strong>do</strong> de cálculo computacional<br />

para determinar a temperatura de ferro sujeito a uma pressão<br />

muito elevada, tal como a que existe no centro da Terra. Com<br />

essa simulação chegou-se ao valor de 6400 ºC para a<br />

temperatura no núcleo da Terra se ele fosse composto apenas<br />

por ferro. Contu<strong>do</strong> o núcleo contém cerca de 10% de materiais mais leves, pelo que a <strong>sua</strong><br />

temperatura será inferior ao determina<strong>do</strong> (Bukowinski, 1999).<br />

Na Geologia estuda-se a temperatura de formação das rochas principalmente por<br />

<strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s, inclusões fluidas e da estequiometria de certos minerais existentes nas<br />

rochas (Kornprobst, 1994).<br />

5.6.6 Curiosidades<br />

A primeira curiosidade está ilustrada no cartoon da figura: o ovo como termómetro<br />

(http://oldmail.if.uff.br/ensino/Atividade%201_<strong>Temperatura</strong>.pdf).<br />

Os grilos são um termómetro natural, pois permitem ter<br />

uma ideia da temperatura ambiente. Ao fim de tarde, eles<br />

cantam com uma frequência maior <strong>do</strong> que à noite, por esta ser<br />

mais fresca, ou seja, o seu canto é muito mais lento. Esta<br />

observação foi quantificada e publicada pela primeira vez em<br />

1897 pelo inventor americano Amos Dolbear, num artigo<br />

chama<strong>do</strong> “O grilo como termómetro”, que forneceu a fórmula<br />

q = 10 + - 40 7 , conhecida como lei de Dolbear (dá uma temperatura<br />

empírica ( N )<br />

aproximada da temperatura ambiente) (Dolbear, 1897).<br />

136


137<br />

5 Tipos mais u<strong>sua</strong>is de termómetros e <strong>sua</strong> aplicação<br />

Na fórmula, N é o número de vezes que os grilos cantam durante um minuto, q a<br />

temperatura ambiente em graus Celsius. Por exemplo, se os grilos cantarem a uma taxa<br />

de 110 vezes por minuto, a temperatura será de 20 ºC.<br />

O maior termómetro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com 134<br />

pés (40,8 m) de altura situa<strong>do</strong> em Baker na<br />

Califórnia. O termómetro regista regularmente<br />

temperaturas superiores a 100 graus Fahrenheit<br />

no Verão. A <strong>sua</strong> altura está de acor<strong>do</strong> com o<br />

facto de se observarem no local as temperaturas<br />

mais elevadas nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s: 134 graus<br />

Fahrenheit (57 ºC) em 1913 (www.roadtripamerica.com/roadside/Baker-Thermometer.htm).


6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

6.1 Calibração de um TRP 23 (Pt-100) 24<br />

6.1.1 Introdução<br />

Uma das características fundamentais de qualquer instrumento de <strong>medição</strong> é a <strong>sua</strong><br />

rastreabilidade. Este conceito refere-se à possibilidade de seguir uma cadeia<br />

metrológica, constituída por sucessivas calibrações, até chegarmos ao padrão primário<br />

internacional que define directa ou indirectamente a grandeza a medir.<br />

Como foi já referi<strong>do</strong>, a calibração consiste na comparação de um instrumento com<br />

outro de maior precisão toma<strong>do</strong> como padrão que por <strong>sua</strong> vez foi calibra<strong>do</strong> à custa de um<br />

outro padrão de ordem superior e assim sucessivamente.<br />

No contexto deste trabalho foi feita a calibração de um Pt-100 com o objectivo não<br />

só de compreender a importância e a necessidade de calibração como elo de uma cadeia<br />

metrológica como também de usar o Pt-100 calibra<strong>do</strong> num estu<strong>do</strong> de calibração e<br />

comparação de diversos termómetros.<br />

O processo de calibração exige um padrão rastrea<strong>do</strong> e teve que ser feito num<br />

laboratório de metrologia de temperaturas acredita<strong>do</strong>. O laboratório onde foi realizada a<br />

calibração foi o Laboratório de Metrologia da <strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> Instituto Electrotécnico<br />

Português (IEP). Para termos uma ideia <strong>do</strong>s laboratórios existentes em Portugal<br />

competentes para realizarem calibrações de termómetros, apresentamos no Anexo A3 os<br />

laboratórios nacionais acredita<strong>do</strong>s.<br />

23<br />

TRP é a sigla para Termómetro de Resistência de Platina. Na língua inglesa a sigla é PRT<br />

(Platinum Resistence Thermometer).<br />

24 Pt-100 designa um TRP com uma resistência nominal de 100 Ω a 0 ºC.<br />

139


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

6.1.2 Resulta<strong>do</strong> da calibração<br />

O termómetro que foi calibra<strong>do</strong> consistiu num Pt-100 associa<strong>do</strong> a um multímetro<br />

HP 34401A, nº US36017967, Ref. 020991.<br />

A calibração, em cinco pontos, foi realizada segun<strong>do</strong> a norma CEI 751 com<br />

R = 100,046 W e conforme o procedimento PC/061. O padrão utiliza<strong>do</strong> foi um TRP<br />

0<br />

LMT/704, rastrea<strong>do</strong> ao IPQ 25 . Foi emiti<strong>do</strong> o certifica<strong>do</strong> de calibração em 2007-03-14,<br />

com o nº M-2007-0345, conforme se apresenta em Anexo A1.<br />

Do certifica<strong>do</strong> de calibração apresentamos os resulta<strong>do</strong>s na Tabela 6.1.<br />

Multímetro HP 34401<br />

Resistência<br />

medida em<br />

W<br />

<strong>Temperatura</strong><br />

equivalente em ºC<br />

(CEI 751)<br />

<strong>Temperatura</strong> lida<br />

no padrão em ºC<br />

(TRP LMT/704)<br />

140<br />

Incerteza<br />

em ºC<br />

Erro em<br />

ºC<br />

87,961 -30,76 -30,86 ± 0,11 +0,10<br />

100,046 0,00 0,00 ± 0,10 0,00<br />

117,311 44,45 44,58 ± 0,10 -0,13<br />

134,507 89,31 89,62 ± 0,11 -0,31<br />

149,606 129,22 129,72 ± 0,11 -0,50<br />

Tabela 6.1 Resulta<strong>do</strong>s da calibração <strong>do</strong> PRT Pt-100 (norma CEI 751).<br />

Segun<strong>do</strong> a norma CEI 751, a relação entre a resistência <strong>do</strong> TRP com a temperatura<br />

é estabelecida pela equação<br />

( )<br />

2 2<br />

È 0 1 100 ˘<br />

Rq= R<br />

Î<br />

+ Aq + Bq + Cq<br />

q -<br />

˚ (6.1)<br />

onde R q é a resistência <strong>do</strong> termómetro à temperatura º C<br />

q , 0<br />

R é a resistência <strong>do</strong><br />

termómetro a 0ºC e A , B e C são coeficientes determina<strong>do</strong>s por calibração. Para o<br />

intervalo de temperaturas - 200º C < q < 0º C os coeficientes são da<strong>do</strong>s por<br />

-3 -1<br />

Ï A = 3,90830 ¥ 10 ºC<br />

Ô<br />

- 200º C < q < 0º C Ì B = - 5,77500 ¥ 10 ºC<br />

Ô<br />

ÔÓ<br />

C =- 4,18301¥ 10 ºC<br />

25 IPQ – Instituto Português da Qualidade<br />

-7 -2<br />

-12 -3<br />

(6.2)


141<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

e no intervalo de temperaturas 0º C < q < 850º C os coeficientes A , B são os mesmos<br />

que anteriormente e C é zero,<br />

Ï A = 3,90830 ¥ 10 ºC<br />

Ô<br />

0º C < q < 850º C Ì B = - 5,77500 ¥ 10 ºC<br />

Ô<br />

ÔÓ<br />

C = 0<br />

-3 -1<br />

-7 -2<br />

(6.3)<br />

A norma estabelece também duas classes de precisão correspondentes a tolerâncias<br />

aceitáveis. A classe A com tolerância ± ( 0,15 + 0,002q ) e a classe B com tolerância<br />

± ( 0,3 + 0,005q ) . Da calibração, concluímos que o TRP em causa corresponde a um<br />

termómetro classe B.<br />

O TRP mais usa<strong>do</strong> apresenta um valor nominal de 100W a 0º C . Contu<strong>do</strong> existem<br />

TRPs que apresentam a 0º C resistências de 500W e 1000W , ten<strong>do</strong> como vantagem<br />

principal a maior sensibilidade. Como comparação, apresentam-se na Tabela seguinte as<br />

sensibilidades nominais <strong>do</strong>s TRP Pt-100, Pt-500 e Pt-1000.<br />

Sensibilidade média <strong>do</strong>s diferentes TRP<br />

Pt-100<br />

Pt-500<br />

Pt-1000<br />

1<br />

0,385 K -<br />

W<br />

1<br />

1,925 K -<br />

W<br />

1<br />

3,850 K -<br />

W<br />

Tabela 6.2 Sensibilidades médias <strong>do</strong>s TRP: Pt-100, Pt-500 e Pt-1000<br />

(www.loreme.fr).<br />

6.1.3 Curvas de ajuste <strong>do</strong>s pontos de calibração<br />

Com os pontos de calibração calculámos o ajuste quadrático e cúbico, R( q ) ,<br />

conforme se apresenta na Figura 6.1.<br />

Como se observa, a resistência de platina tem um excelente comportamento linear<br />

com a temperatura. O ajuste cúbico permite, contu<strong>do</strong>, uma maior precisão na<br />

determinação da temperatura. Para valores positivos de temperatura, segun<strong>do</strong> a norma<br />

CEI 751 é suficiente um ajuste quadrático, que se apresenta na Figura 6.2.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 6.1 Funções termométricas R( q ) R0<br />

obtidas por ajuste quadrático e<br />

cúbico <strong>do</strong>s cinco pontos de calibração.<br />

Figura 6.2 Função termométrica R( q ) R0<br />

obtida por ajuste quadrático e<br />

cúbico <strong>do</strong>s quatro pontos de calibração correspondentes a<br />

temperaturas positivas (incluin<strong>do</strong> o zero).<br />

Para efeitos de utilização <strong>do</strong> TRP Pt-100 calibra<strong>do</strong> como padrão na actividade de<br />

comparação e calibração de diversos termómetros, é conveniente fazermos o ajuste<br />

cúbico da função inversa de R( q ) , obten<strong>do</strong>-se assim a função ( R)<br />

apresenta na Figura 6.3.<br />

142<br />

q , conforme se


143<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Figura 6.3 <strong>Temperatura</strong> em função da resistência, q ( R)<br />

, para o TRP Pt-100<br />

calibra<strong>do</strong>.<br />

Os valores de temperatura da<strong>do</strong>s pela função de ajuste q ( R)<br />

, correspondentes aos<br />

valores de resistência medi<strong>do</strong>s, são os que vão ser utiliza<strong>do</strong>s no trabalho de<br />

intercomparação e calibração <strong>do</strong>s vários termómetros.<br />

6.2 Comparação e calibração de diversos termómetros<br />

6.2.1 Equipamento experimental utiliza<strong>do</strong><br />

6.2.1.1 Dispositivo construí<strong>do</strong><br />

Foi construí<strong>do</strong> na oficina <strong>do</strong> Departamento de Física da FCUP um dispositivo<br />

constituí<strong>do</strong> por um bloco em cobre onde são integra<strong>do</strong>s diversos termómetros. A<br />

variação de temperatura era produzida por um elemento peltier coloca<strong>do</strong> na base <strong>do</strong><br />

bloco de cobre. A Figura 6.4 mostra duas fotografias da montagem experimental com o<br />

referi<strong>do</strong> dispositivo. O bloco é monta<strong>do</strong> num dissipa<strong>do</strong>r de alumínio com uma ventoinha,<br />

cujo efeito é garantir uma temperatura uniforme na base <strong>do</strong> elemento peltier. A parte<br />

superior <strong>do</strong> bloco está protegida termicamente por uma placa de material acrílico.<br />

Durante a actividade experimental to<strong>do</strong> o sistema é envolvi<strong>do</strong> em algodão em rama para<br />

o isolar termicamente <strong>do</strong> exterior.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 6.4 Dispositivo constituí<strong>do</strong> por um bloco de cobre e um elemento<br />

peltier onde foram incorpora<strong>do</strong>s os diversos termómetros a<br />

comparar.<br />

6.2.1.2 Termómetros e instrumentos de leitura<br />

Procedeu-se à inter-comparação das medições de temperatura de sete termómetros:<br />

um TRP Pt-100, <strong>do</strong>is termopares, <strong>do</strong>is termístores, um termómetro de mercúrio e uma<br />

rede de Bragg em fibra óptica. Como o TRP Pt-100 foi previamente calibra<strong>do</strong>, este<br />

termómetro serviu como padrão, permitin<strong>do</strong> a calibração <strong>do</strong>s restantes.<br />

As referências e algumas características nominais <strong>do</strong>s termómetros utiliza<strong>do</strong>s, bem<br />

como <strong>do</strong> equipamento de leitura, estão resumidas a seguir:<br />

• Termómetro de mercúrio<br />

Gama de temperaturas: de - 20ºC a + 110ºC<br />

Resolução: escala graduada em 1ºC<br />

• Termopar 1<br />

Tipo K (Cromel/Alumel)<br />

Medi<strong>do</strong>r de temperatura Metrix TH3050<br />

• Termopar 2<br />

Tipo T (Cobre/Constantan)<br />

Sensibilidade:<br />

1<br />

40μV ºC -<br />

Microvoltímetro Thurlby 1905A, 200 mV, 5 1/2 dígitos<br />

144


• Termopar 3<br />

145<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Tipo T (Cobre/Constantan)<br />

Construí<strong>do</strong> no Instituto de Física <strong>do</strong>s Materiais da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> (IFIMUP)<br />

Microvoltímetro Thurlby 1905A, 200 mV, 5 1/2 dígitos<br />

• Termístor 1<br />

Código RS 151-221 com curva R-T ajustada com 5kW a 25ºC .<br />

Gama de temperaturas: de - 80ºC a + 150ºC ; b = 3914K<br />

Instrumento de leitura: Univolt DT-64, 2 kΩ e 20 kΩ<br />

• Termístor 2<br />

Código RS 256-045 (Ref. GM103) com resistência nominal de 10kW a 25ºC<br />

Gama de temperaturas: de + 10ºC a + 100ºC ; b = 3555K<br />

Instrumento de leitura: Datron 1059, 100 kΩ<br />

• TRP Pt-100 4 fios (calibra<strong>do</strong>) (Modelo da RS 158-985, Labfacility)<br />

Instrumento de leitura: HP 34401A, <strong>medição</strong> em 4R<br />

• Rede de Bragg<br />

Fibra óptica SMF28<br />

Rede de valor nominal de reflexão a 1535 nm.<br />

Analisa<strong>do</strong>r de Espectros Óptico (OSA) da FiberSensing.<br />

6.2.2 Procedimento experimental<br />

Fez-se a montagem <strong>do</strong>s termómetros no bloco de cobre, ten<strong>do</strong>-se usa<strong>do</strong> massa<br />

térmica para estabelecer um bom contacto térmico entre cada termómetro e o bloco de<br />

cobre. Ligou-se seguidamente os termómetros aos respectivos aparelhos de <strong>medição</strong>, que<br />

foram liga<strong>do</strong>s e deixa<strong>do</strong>s estabilizar electrónica e termicamente durante uma hora.<br />

A variação da temperatura <strong>do</strong> bloco foi controlada através <strong>do</strong> elemento peltier de<br />

forma muito lenta para garantir estabilidade na temperatura e o equilíbrio térmico entre<br />

to<strong>do</strong>s os termómetros. O dissipa<strong>do</strong>r e a ventoinha incluídas no dispositivo facilitam a<br />

manutenção de uma temperatura estável na base <strong>do</strong> peltier por dissipação de energia (ou<br />

fornecimento de energia) <strong>do</strong> ambiente. Como já foi referi<strong>do</strong>, durante as medições to<strong>do</strong> o<br />

sistema foi isola<strong>do</strong> termicamente com algodão em rama.<br />

Esta actividade é bastante demorada, pois requer estabilidade na temperatura e<br />

equilíbrio térmico aquan<strong>do</strong> das leituras. Como critério para o equilíbrio térmico, as<br />

leituras eram tomadas quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os instrumentos mantinham os mesmos valores


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

durante um certo intervalo de tempo, considera<strong>do</strong> adequa<strong>do</strong>. O equilíbrio térmico, após<br />

alguma prática, era obti<strong>do</strong> actuan<strong>do</strong> na potência fornecida ao Peltier, induzin<strong>do</strong><br />

oscilações de temperatura, de amplitude sucessivamente menores, possibilitan<strong>do</strong> uma<br />

estabilização mais rápida.<br />

6.2.3 Resulta<strong>do</strong>s da inter-comparação<br />

Foram regista<strong>do</strong>s os valores li<strong>do</strong>s das grandezas termométricas para os diversos<br />

termómetros, para equilíbrios térmicos diferentes, com vista à <strong>sua</strong> caracterização.<br />

Relativamente à rede de Bragg, foi necessário repetir a experiência, apenas com a<br />

rede de Bragg e o TRP Pt-100, na <strong>sua</strong> totalidade porque a fibra óptica se partiu (devi<strong>do</strong> à<br />

protecção exterior utilizada se ter <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>).<br />

6.2.4 Análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

Toman<strong>do</strong> a temperatura <strong>do</strong> TRP Pt-100 como referência, determinou-se, para cada<br />

termómetro, a função termométrica e os erros na temperatura por eles dada.<br />

A temperatura de referência é determinada a partir <strong>do</strong> ajuste cúbico <strong>do</strong>s pontos de<br />

calibração, que foi apresenta<strong>do</strong> no gráfico da Figura 6.3, e é da<strong>do</strong> pela expressão<br />

-4 2 -6<br />

3<br />

Pt Pt Pt<br />

q =- 248,45686 + 2,41822 R + 4,88091¥ 10 R + 1,63458 ¥ 10 R (6.4)<br />

6.2.4.1 Caracterização e calibração <strong>do</strong>s termopares<br />

O termopar 1 (tipo K) estava associa<strong>do</strong> ao medi<strong>do</strong>r de temperatura Metrix TH3050,<br />

obten<strong>do</strong>-se directamente uma leitura em ºC. Com o propósito de comparação, a função<br />

q ( termopar)<br />

versus ( Pt-100)<br />

no gráfico da Figura 6.5.<br />

q foi obtida por ajuste linear e cúbico, conforme se mostra<br />

146


147<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Figura 6.5 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s<br />

pontos experimentais para o termopar 1.<br />

Apesar <strong>do</strong> bom comportamento linear deste termopar, o ajuste cúbico apresenta um<br />

melhor valor para o coeficiente de correlação e deverá ser usa<strong>do</strong> para obtermos menores<br />

incertezas nas medições.<br />

Para avaliar a importância da calibração <strong>do</strong> termómetro e da escolha da curva de<br />

ajuste mais adequada determinou-se os erros em relação à temperatura <strong>do</strong> Pt-100<br />

consideran<strong>do</strong> os valores li<strong>do</strong>s, sem qualquer ajuste, com um ajuste linear e com um ajuste<br />

cúbico. Os ajustes fazem parte <strong>do</strong> processo de calibração.<br />

Para calcular os erros, foi necessário obter os ajustes correspondentes às funções<br />

inversas das apresentadas no gráfico da Figura 6.5, que são<br />

T = 0,95933 + 0,99475q<br />

(6.5)<br />

90 tp1<br />

-4 2 -6<br />

3<br />

90 0,55149 1,01106 tp1 3,8191 10 tp1 6,11873 10 tp1<br />

T = + q + ¥ q - ¥ q (6.6)<br />

sen<strong>do</strong> q tp1 a temperatura lida directamente no aparelho de leitura liga<strong>do</strong> ao termopar 1 e<br />

T 90 a temperatura correspondente na escala ITS-90.<br />

Os erros determina<strong>do</strong>s apresentam-se no gráfico da Figura 6.6. É de salientar que<br />

consideran<strong>do</strong> o ajuste cúbico na calibração deste termopar os valores <strong>do</strong>s erros na gama<br />

de temperaturas considerada estão dentro <strong>do</strong> intervalo de - 0,2 ºC a + 0,2 ºC , com a<br />

excepção de um ponto. Comparan<strong>do</strong> o ajuste linear com o ajuste cúbico, é claro que<br />

apenas este último é adequa<strong>do</strong> no processo de calibração, porque permite a utilização <strong>do</strong>


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

termopar com incertezas muito menores que as incertezas associadas ao termopar não<br />

calibra<strong>do</strong>.<br />

Figura 6.6 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 1 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e<br />

cúbico) e não calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais).<br />

No caso <strong>do</strong> termopar 2, não obtemos directamente leituras em unidades de<br />

temperatura, mas em tensão termoeléctrica. Este termopar é teoricamente <strong>do</strong> tipo T e<br />

estava associa<strong>do</strong> ao multímetro Thurlby 1905A, fazen<strong>do</strong>-se leituras em μV . A função<br />

e ( termopar)<br />

versus ( Pt-100)<br />

no gráfico da Figura 6.7.<br />

q foi obtida por ajuste linear e cúbico, conforme se mostra<br />

Figura 6.7 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s<br />

pontos experimentais para o termopar 2<br />

148


149<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

A sensibilidade de um termopar <strong>do</strong> tipo T (cobre/constantan) é indica<strong>do</strong> na<br />

literatura como sen<strong>do</strong> cerca de<br />

1<br />

40μVºC - a 25 ºC . Contu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s valores experimentais<br />

obti<strong>do</strong>s verifica-se que para este termopar esse valor é cerca de<br />

1<br />

36,7μVºC - .<br />

Para calcular os erros, foi necessário obter os ajustes correspondentes às funções<br />

inversas das apresentadas no gráfico da Figura 6.7, que são<br />

T = 0,24973 + 0,02771e<br />

(6.7)<br />

90 tp2<br />

-7 2 -10<br />

3<br />

90 0,9297 0,02962 tp2 1,80379 10 tp2 1,06899 10 tp2<br />

T =- + e - ¥ e - ¥ e (6.8)<br />

sen<strong>do</strong> e tp2 a tensão termoeléctrica em μV e T 90 a temperatura correspondente na escala<br />

ITS-90.<br />

Consideran<strong>do</strong> a calibração, vemos que apenas o ajuste cúbico permite reduzir<br />

significativamente as incertezas nas medições de temperatura com este termopar,<br />

conforme mostra o gráfico da Figura 6.8.<br />

Figura 6.8 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 2 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e<br />

cúbico).<br />

O termopar 2 foi adquiri<strong>do</strong> numa empresa de equipamento didáctico e é usa<strong>do</strong> nos<br />

laboratórios <strong>do</strong> departamento de Física.<br />

O gráfico da Figura 6.11 mostra a comparação da curva de calibração normalizada<br />

de um termopar tipo T, obtida <strong>do</strong> NIST (National Institute of Standards and Technology),


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

com o termopar 2 e um outro <strong>do</strong> mesmo tipo construí<strong>do</strong> com fios de qualidade no<br />

IFIMUP (termopar 3). Como se pode ver <strong>do</strong> gráfico da Figura 6.10, os erros <strong>do</strong><br />

termopar 2 para temperaturas próximas de 100 ºC excede 12 ºC, enquanto que para o<br />

termopar 3 os erros são cerca de 2 ºC. Estas discrepâncias, em especial a <strong>do</strong> termopar 2,<br />

mostram claramente a necessidade de calibração para se obter resulta<strong>do</strong>s confiáveis e<br />

precisos.<br />

Figura 6.9 Comparação <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 com a curva teórica para o<br />

termopar tipo T (srdata.nist.gov/its90/<strong>do</strong>wnload/type_t.tab).<br />

Figura 6.10 Erros <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 relativamente à curva teórica e erros<br />

após calibração <strong>do</strong> termopar 2.<br />

150


151<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

6.2.5 Caracterização e calibração <strong>do</strong>s termístores<br />

Conforme já foi referi<strong>do</strong> anteriormente, um termístor NTC apresenta uma<br />

resistência eléctrica, R , que varia com a temperatura em kelvin, T , de acor<strong>do</strong> com a<br />

expressão<br />

È Ê1 1 ˆ˘<br />

R = R0exp<br />

Íb Á<br />

- ˙<br />

ËT T ˜<br />

¯<br />

Î 0 ˚<br />

onde 0 R é o valor da resistência à temperatura 0<br />

T e b é um parâmetro de ajuste.<br />

Da expressão anterior podemos obter a função inversa, T( R ) , que é dada por<br />

T =<br />

ln<br />

b<br />

( R R ) + ( b T )<br />

0 0<br />

(6.9)<br />

(6.10)<br />

Normalmente o valor de R 0 é da<strong>do</strong> à temperatura de 25 ºC . Os valores nominais<br />

de 0 R e b para o termístor 1 são 0<br />

R = 5kW<br />

(a 25 ºC ) e b = 3914K .<br />

No gráfico da Figura 6.11 apresenta-se os valores experimentais e o ajuste <strong>do</strong>s<br />

mesmos à função dada pela equação (6.9), consideran<strong>do</strong> T 0 = 298,15K . Do ajuste<br />

obtém-se os valores R 0 = 5,11kW<br />

e b = 3810,6K .<br />

Figura 6.11 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />

T = 298,15K , para o termístor 1.<br />

consideran<strong>do</strong> 0


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Toman<strong>do</strong> para R 0 e b os valores nominais e os obti<strong>do</strong>s pelo ajuste experimental,<br />

calculámos as temperaturas a partir da equação (6.10) e comparámo-las com as<br />

temperaturas de referência dadas pelo TRP Pt-100. Os desvios resultantes são<br />

apresenta<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.12.<br />

Verifica-se mais uma vez que a calibração reduz as incertezas consideravelmente,<br />

sobretu<strong>do</strong> para as baixas temperaturas. Para temperaturas próximas de 100 ºC verifica-se<br />

erros eleva<strong>do</strong>s, mesmo levan<strong>do</strong> em conta a calibração. Isto deve-se ao facto da<br />

sensibilidade <strong>do</strong> termístor tender para zero quan<strong>do</strong> a temperatura tende para infinito.<br />

Assim, para temperaturas elevadas as incertezas nos aparelhos de medida de resistência<br />

são <strong>do</strong>minantes.<br />

0<br />

O termístor 2 é <strong>do</strong> mesmo tipo e os parâmetros R 0 e b têm valores nominais de<br />

R = 10kW<br />

(a 25 ºC ) e b = 3555K .<br />

Figura 6.12 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 1 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos<br />

experimentais à equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais<br />

<strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ).<br />

No gráfico da Figura 6.13 apresenta-se os valores experimentais e o ajuste <strong>do</strong>s<br />

mesmos à função dada pela equação (6.9), consideran<strong>do</strong> T 0 = 298,15K . Do ajuste<br />

obtém-se os valores R 0 = 10,73kW<br />

e b = 3401,3K .<br />

Toman<strong>do</strong> para R 0 e b os valores nominais e os obti<strong>do</strong>s pelo ajuste experimental,<br />

calculámos, tal como anteriormente, as temperaturas a partir da equação (6.10) e<br />

comparámo-las com as temperaturas de referência dadas pelo TRP Pt-100. Os desvios<br />

resultantes são apresenta<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.14.<br />

152


153<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Figura 6.13 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />

T = 298,15K , para o termístor 2.<br />

consideran<strong>do</strong> 0<br />

Figura 6.14 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 2 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos<br />

experimentais à equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais<br />

<strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ).<br />

Verifica-se também que a calibração reduz as incertezas consideravelmente,<br />

sobretu<strong>do</strong> para as baixas temperaturas. Para temperaturas próximas de 100 ºC observa-se<br />

incertezas elevadas, mesmo levan<strong>do</strong> em conta a calibração. A razão é a mesma da<br />

referida anteriormente.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

6.2.6 Caracterização e calibração <strong>do</strong> termómetro de mercúrio<br />

O termómetro de mercúrio apresenta uma excelente linearidade, conforme se<br />

mostra no gráfico da Figura 6.15<br />

Figura 6.15 <strong>Temperatura</strong> lida no termómetro de mercúrio versus temperatura<br />

de referência (dada pelo TRP Pt-100).<br />

Os erros são mostra<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.16. As incertezas mais baixas são<br />

obtidas com um ajuste quadrático, sen<strong>do</strong> mais uma vez de salientar que a calibração é<br />

essencial quan<strong>do</strong> pretendemos fazer medições de temperatura fiáveis.<br />

Figura 6.16 Erros na utilização <strong>do</strong> termómetro de mercúrio calibra<strong>do</strong> (ajustes<br />

linear e quadrático) e não calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais).<br />

154


155<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

6.2.7 Caracterização e calibração de uma rede de Bragg em<br />

fibra óptica<br />

6.2.7.1 Sensores de fibra óptica<br />

Grande parte <strong>do</strong> sucesso das fibras ópticas de sílica reside nas <strong>sua</strong>s propriedades de<br />

reduzi<strong>do</strong> volume e massa, flexibilidade, baixa reactividade química <strong>do</strong> material, longa<br />

distância de transmissão, elevada largura de banda de transmissão, isolamento eléctrico e<br />

imunidade electromagnética.<br />

Umas das aplicações das fibras ópticas são como sensores de diversas grandezas<br />

físicas (acústica, magnética, temperatura, rotação, deformação entre outras). Para além de<br />

apresentarem uma sensibilidade semelhante à <strong>do</strong>s sensores convencionais, apresentam<br />

vantagens específicas: têm geometria versátil, a <strong>sua</strong> natureza dieléctrica permite o seu<br />

uso em alta tensão, a altas temperaturas, em ambientes electricamente rui<strong>do</strong>sos e<br />

corrosivos, e em outras condições agressivas para sensores convencionais. Apresenta<br />

ainda inerente compatibilidade com sistemas de telemetria através de fibra óptica e tem<br />

custos potencialmente baixos (Giallorenzi et al. 1982). Além disso, devi<strong>do</strong> à baixa<br />

atenuação <strong>do</strong>s sinais ópticos transmiti<strong>do</strong>s pela fibra os sensores de fibra óptica podem ser<br />

utiliza<strong>do</strong>s a grandes distâncias.<br />

Relativamente ao uso da fibra óptica como sensor de temperatura, trataremos aqui a<br />

rede de Bragg e na secção 6.3 abordaremos o termómetro basea<strong>do</strong> no efeito de Brillouin.<br />

6.2.7.2 Rede de Bragg e princípio de funcionamento<br />

O surgimento das redes de Bragg nas fibras ópticas permitiu que elas fossem<br />

usadas como sensores de grandezas físicas estáticas e dinâmicas tais como a temperatura,<br />

a pressão e a deformação (Kersey et al, 1997). Estes sensores permitem efectuar medidas<br />

com grande precisão e estabilidade, poden<strong>do</strong> ser usa<strong>do</strong>s em grande número na mesma<br />

fibra, através de técnicas de multiplexagem. O principal desafio na utilização das redes<br />

de Bragg como elementos sensores é determinar os menores deslocamentos possíveis no<br />

comprimento de onda de Bragg.<br />

Como a informação <strong>do</strong> sensor está codificada em comprimento de onda, o sensor<br />

torna-se insensível das flutuações de potencia da fonte óptica e das perdas nas<br />

interligações <strong>do</strong>s vários componentes <strong>do</strong> sistema e devidas a eventuais macro e micro<br />

curvaturas a que a fibra fique sujeita (Keiser, 2000).


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A natureza deste tipo de codificação facilita a multiplexagem por comprimento de<br />

onda, já que cada sensor fica univocamente identifica<strong>do</strong> por uma diferente porção <strong>do</strong><br />

espectro disponível da fonte óptica.<br />

A reflexão no comprimento de onda de banda estreita possibilita a multiplexagem<br />

de várias redes de Bragg ao longo da mesma fibra óptica. A resposta <strong>do</strong> sensor é linear<br />

numa extensa banda dinâmica.<br />

Uma rede de Bragg em fibra óptica (FBG) é uma modulação periódica <strong>do</strong> índice de<br />

refracção <strong>do</strong> núcleo da fibra, ao longo da direcção longitudinal, como ilustra<strong>do</strong> na Figura<br />

6.17. (Silva et al, 2003).<br />

Ao propagar-se luz com espectro de banda larga numa fibra óptica que contém uma<br />

rede de Bragg, ocorre a reflexão na rede através <strong>do</strong> efeito de espalhamento coerente e<br />

sucessivo nas interfaces que separam as regiões com índices de refracção diferentes. O<br />

comprimento de onda central <strong>do</strong> espectro de reflexão é designa<strong>do</strong> por comprimento de<br />

onda de Bragg da rede, l B , e é da<strong>do</strong> por (Hill et al. 1997)<br />

l B = 2neffL<br />

(6.11)<br />

onde n eff é o índice de refracção efectivo na fibra óptica e L é o perío<strong>do</strong> espacial da<br />

modulação <strong>do</strong> índice de refracção.<br />

Intensidade<br />

Intensidade<br />

Luz incidente<br />

l<br />

Luz reflectida<br />

l<br />

Fibra óptica<br />

Rede de Bragg - modulação <strong>do</strong><br />

índice de refracção com perío<strong>do</strong><br />

espacial L<br />

Figura 6.17 Princípio de operação de uma rede de Bragg em fibra óptica.<br />

Qualquer perturbação que altere o índice de refracção ou o perío<strong>do</strong> da FBG altera o<br />

comprimento de onda de Bragg, e consequentemente, pode medir-se um determina<strong>do</strong><br />

parâmetro através da variação <strong>do</strong> pico espectral da luz reflectida pela rede de Bragg. O<br />

156<br />

Intensidade<br />

Luz transmitida<br />

l


157<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

comprimento de onda de reflexão da FBG é dependente das características da rede. Ao<br />

submete-la à variação de um <strong>do</strong>s parâmetros a serem medi<strong>do</strong>s, obtém-se um desvio no<br />

comprimento de onda de Bragg, proporcional à grandeza que se pretende medir.<br />

Uma variação de temperatura na rede, D T , origina uma variação no comprimento<br />

de onda de Bragg, l ( T )<br />

D D , expresso por (Kersey et al. 1997)<br />

B<br />

( )<br />

D l = l a + x D<br />

B B T<br />

onde a é o coeficiente de expansão térmica <strong>do</strong> material da fibra, e x é o coeficiente<br />

termo-óptico da fibra.<br />

A propriedade termométrica de uma rede de Bragg, como sensor de temperatura, é,<br />

portanto, o comprimento de onde de Bragg. Para uma fibra de sílica ( SiO 2 ) , a<br />

sensibilidade da rede é cerca de<br />

1<br />

13 pm ºC - , para uma radiação incidente de<br />

comprimento de onda nominal de 1,55 μm (3ª janela óptica de comunicações).<br />

Do ponto de vista da instrumentação, uma vantagem <strong>do</strong> uso da FBG como sensor é<br />

o facto de que a informação sobre o agente que a perturba está codificada em<br />

comprimento de onda (Hill et al, 1997). Isso permite determinar o valor <strong>do</strong> agente<br />

perturba<strong>do</strong>r da FBG sem um sistema de referência para a potência óptica, que<br />

necessitaria calibração periódica. Outra vantagem é a possibilidade de multiplexar em<br />

comprimento de onda um grande número de sensores, permitin<strong>do</strong> medições multipontuais.<br />

A multiplexagem permite monitorizar estruturas com grandes dimensões como,<br />

por exemplo, cabos de transmissão de energia eléctrica, oleodutos, cascos de navios,<br />

entre outras.<br />

6.2.7.3 Medição de temperatura com uma rede de Bragg<br />

Apresentam-se a seguir os resulta<strong>do</strong>s da <strong>medição</strong> de temperatura usan<strong>do</strong> uma rede<br />

de Bragg em fibra óptica, de valor nominal de 1535 nm. A rede foi fabricada por<br />

exposição UV ( l = 248nm)<br />

da fibra SMF28 através de uma máscara de fase com<br />

perío<strong>do</strong> de 1062 nm estan<strong>do</strong> a fibra sob tensão mecânica.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

As leituras <strong>do</strong> comprimento de onda de Bragg foram feitas num Analisa<strong>do</strong>r de<br />

Espectros Óptico (OSA) fabrica<strong>do</strong> pela FiberSensing.<br />

A rede foi montada no dispositivo da Figura 6.4 e foi um <strong>do</strong>s termómetros<br />

envolvi<strong>do</strong>s na actividade de intercomparação e calibração de termómetros. Durante a<br />

actividade a fibra óptica partiu-se (devi<strong>do</strong> à protecção exterior utilizada se ter <strong>do</strong>bra<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> se atingiram temperaturas elevadas), ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> repetida a experiência apenas<br />

com a rede de Bragg e o TRP Pt-100.<br />

Nos gráficos das Figuras 6.18 e 6.19 apresentam-se a variação <strong>do</strong> comprimento de<br />

onda de Bragg em função da temperatura.<br />

Figura 6.18 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da<br />

rede medida com o TRP Pt-100 (antes da rotura).<br />

A rede correspondente aos resulta<strong>do</strong>s da Figura 6.19 tem as características<br />

nominais acima referidas. O ajuste linear <strong>do</strong>s pontos experimentais apresenta boa<br />

correlação obten<strong>do</strong>-se para a sensibilidade um valor de<br />

concordância com o valor espera<strong>do</strong> teoricamente para uma fibra de sílica.<br />

158<br />

1<br />

12,99 pm ºC - , em excelente


159<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Figura 6.19 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da<br />

rede medida com o TRP Pt-100 (repetida).<br />

Os desvios em temperatura <strong>do</strong>s pontos experimentais em relação à curva linear<br />

obtida por calibração são mostra<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.20. Apesar <strong>do</strong> valor<br />

sensibilidade associa<strong>do</strong> às curva de ajuste, este termómetro apresenta erros que podem<br />

atingir 3 ºC.<br />

Figura 6.20 Erros na utilização da rede de Bragg em função da temperatura<br />

medida com o TRP Pt-100 (para o ajuste linear).


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

6.3 Caracterização e calibração de um Termómetro de<br />

Brillouin<br />

6.3.1 Princípio de funcionamento<br />

O espalhamento estimula<strong>do</strong> de Brillouin (EEB) é um processo não-linear que pode<br />

ocorrer nas fibras ópticas (Agrawal, 2001). Este fenómeno manifesta-se através da<br />

geração de uma onda de Stokes em contra-propagação que transporta a maior parte da<br />

energia incidente, logo que o limiar de Brillouin é atingi<strong>do</strong>. O fenómeno <strong>do</strong> EEB foi<br />

observa<strong>do</strong> em 1964, sen<strong>do</strong> a frequência da onda de Stokes menor que a da onda<br />

incidente. O valor <strong>do</strong> desvio na frequência é determina<strong>do</strong> pelo meio não-linear e é da<br />

ordem de 10 GHz para uma fibra monomodal normalizada. A potência limiar para o EEB<br />

depende da largura espectral associada à onda óptica incidente (bombagem) e <strong>do</strong><br />

comprimento da fibra (Marques et al, 2006). Pode ser da ordem de 1 mW para uma onda<br />

de bombagem contínua ou para onda pulsadas cujos impulsos sejam relativamente largos<br />

( > 1μs)<br />

. Para impulsos muito curtos ( 10ns)<br />

< o EEB não ocorre (Agrawal, 2001).<br />

O processo <strong>do</strong> EEB pode ser descrito classicamente como uma interacção nãolinear<br />

entre o campo óptico de bombagem e os campos ópticos de Stokes através de uma<br />

onda acústica. O campo óptico de bombagem origina uma onda acústica que modula o<br />

índice de refracção <strong>do</strong> meio. Esta rede, induzida pelo campo óptico de bombagem,<br />

espalha a radiação por difracção de Bragg. A radiação espalhada tem uma frequência<br />

deslocada para baixo devi<strong>do</strong> ao efeito <strong>do</strong> deslocamento Doppler associa<strong>do</strong> à velocidade<br />

da onda acústica v A . Como num processo de espalhamento a energia e o momento linear<br />

devem ser conserva<strong>do</strong>s, as frequências e os vectores de onda das três ondas são<br />

relaciona<strong>do</strong>s por<br />

W B = wp - ws<br />

(6.12)<br />

<br />

k<br />

<br />

= k<br />

<br />

-k<br />

(6.13)<br />

A p s<br />

onde w p e w s são as frequências, e kp e ks são os vectores de onda <strong>do</strong> campo de<br />

bombagem e das ondas de Stokes, respectivamente. A frequência W B e o vector de onda<br />

kA da onda acústica satisfazem a relação de dispersão u<strong>sua</strong>l (Agrawal, 2001)<br />

160


B A A A p<br />

( )<br />

161<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

W = n k ª 2n k sin q 2<br />

(6.14)<br />

onde q é o ângulo entre as direcções de propagação <strong>do</strong>s campos de bombagem e de<br />

Stokes, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> kpª kAna<br />

equação (6.13). A equação (6.14) mostra que<br />

a deslocamento em frequência da onda de Stokes depende <strong>do</strong> ângulo de espalhamento.<br />

Em particular, W B toma o valor máximo para a contra-propagação ( q = p)<br />

e anula-se<br />

para a co-propagação ( q = 0)<br />

. Numa fibra óptica monomodal, os campos ópticos<br />

propagam-se apenas na direcção coincidente com o eixo da fibra e, consequentemente, o<br />

EEB apenas ocorre na direcção de contra-propagação e o desvio de Brillouin é da<strong>do</strong> por<br />

n =W 2p = 2nn<br />

l<br />

(6.15)<br />

B B A p<br />

onde a equação (6.14) foi usada com kp= 2p<br />

n lpe<br />

n o índice de refracção modal para<br />

o comprimento de onda l p . Se considerarmos n<br />

A<br />

-1<br />

= 5,96 kms e n = 1, 45 como valores<br />

típicos para uma fibra de sílica, obtemos n B ª 11,1GHz para l p = 1, 55 μm .<br />

O EEB pode ser usa<strong>do</strong> para construir sensores de fibra óptica distribuí<strong>do</strong>s capazes<br />

de medir temperatura e tensões mecânicas em longas distâncias. A ideia básica<br />

subjacente ao uso <strong>do</strong> EEB para aplicações em sensores de fibra óptica é simples e pode<br />

ser compreendida através da equação (6.15). Como o deslocamento Brillouin em<br />

frequência depende <strong>do</strong> índice de refracção efectivo <strong>do</strong> campo modal, ele muda sempre<br />

que o índice de refracção da sílica se altera como resposta às variações locais <strong>do</strong><br />

ambiente. Quer a temperatura quer a tensão mecânica alteram o índice de refracção da<br />

sílica. Monitorizan<strong>do</strong> as variações no deslocamento Brillouin em frequência ao longo da<br />

fibra, é possível obter a distribuição da temperatura ou das tensões mecânicas ao longo<br />

de grandes distâncias.<br />

6.3.2 Caracterização experimental<br />

6.3.2.1 Equipamento e montagem<br />

Usou-se uma fibra monomodal normalizada, de 50 km de comprimento, para medir<br />

experimentalmente o desvio Brillouin em frequência para várias temperaturas da fibra.<br />

A bobina de fibra foi colocada num forno com controlo de temperatura, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong> o TRP calibra<strong>do</strong> para calibrar o controla<strong>do</strong>r de temperatura.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A Figura 6.21 mostra a montagem experimental, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o seguinte<br />

equipamento:<br />

• Laser Santec TLS (Tunable Laser Source).<br />

• EDFA (Erbium Doped Fiber Amplifier) Photonetics Fiberamp-BT 1400.<br />

• FUT (Fiber under test) Fibra monomodal SMF IG09.<br />

• Fotodetector HP 11982A.<br />

• ESA (Electrical Spectrum Analyser) Tektronix 494P, 10 kHz – 21 GHz.<br />

• Forno Heraeus com controla<strong>do</strong>r de temperatura.<br />

Laser<br />

Fibra<br />

EDFA<br />

Circula<strong>do</strong>r<br />

óptico<br />

Fibra Fibra<br />

Fotodetector<br />

Figura 6.21 Esquema experimental para caracterização <strong>do</strong> termómetro de<br />

Brillouin.<br />

6.3.2.2 Calibração <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno<br />

O gráfico da figura seguinte mostra a relação da temperatura seleccionada no forno<br />

e o valor da temperatura <strong>do</strong> mesmo dada pelo TRP, depois de estabilizada a temperatura.<br />

Figura 6.22 Calibração <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno utiliza<strong>do</strong><br />

para variar a temperatura da fibra óptica.<br />

162<br />

Fibra<br />

Cabo<br />

coaxial<br />

FUT<br />

Forno<br />

ESA


163<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

Do gráfico e <strong>do</strong> ajuste linear efectua<strong>do</strong> concluímos que a linearidade <strong>do</strong><br />

controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno é excelente. Os erros na temperatura <strong>do</strong> forno em<br />

relação à temperatura seleccionada são apresenta<strong>do</strong>s no gráfico da Figura 6.23. De<br />

salientar um comportamento linear <strong>do</strong> erro e os seus valores muito baixos, sen<strong>do</strong> o valor<br />

máximo obti<strong>do</strong> para o erro de cerca de 0,2 ºC .<br />

Figura 6.23 Erros <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno relativamente à<br />

temperatura estabilizada obtida pelo TRP calibra<strong>do</strong>.<br />

6.3.2.3 Resulta<strong>do</strong>s experimentais<br />

O gráfico seguinte mostra os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s para o desvio de Brillouin em<br />

função da temperatura.<br />

Figura 6.24 Desvio em frequência da radiação rectro-reflectida em função da<br />

temperatura da fibra óptica.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Como foi referi<strong>do</strong>, a fibra tinha 50 km de comprimento e encontrava-se enrolada<br />

numa bobine, forman<strong>do</strong> uma espessura de vidro com cerca de 3 cm, o que exige bastante<br />

tempo até se atingir o equilíbrio térmico.<br />

O desvio em frequência da onda rectro-reflectida é 10,7 GHz e está de acor<strong>do</strong> com<br />

o previsto teoricamente para uma fibra de sílica. Do gráfico da Figura 6.24, obtemos para<br />

a sensibilidade deste termómetro o valor de<br />

( l = 1550nm)<br />

.<br />

164<br />

1<br />

0,77 MHz ºC - para a radiação utilizada<br />

6.4 Caracterização de uma termopilha usan<strong>do</strong> uma<br />

lâmpada de filamento de tungsténio<br />

Uma termopilha como sensor pode ser caracterizada usan<strong>do</strong> uma lâmpada com<br />

filamento de tungsténio. A Figura 6.25 apresenta um esquema da montagem<br />

experimental utilizada.<br />

Para diferentes valores de tensão e corrente na lâmpada (e e I ) registou-se a<br />

tensão de saída da termopilha, a qual tem uma resposta em tensão de 22 mV mW .<br />

e L Termopilha<br />

A<br />

Figura 6.25 Esquema da montagem experimental para o estu<strong>do</strong> da lei de<br />

Stefan-Boltzmann: V – voltímetro; A – amperímetro; e - fonte de<br />

tensão variável (0 – 12V); L – lâmpada com filamento de<br />

tungsténio.<br />

A temperatura absoluta T <strong>do</strong> filamento de tungsténio de uma lâmpada pode ser<br />

calculada pelas medidas da resistência R <strong>do</strong> filamento utiliza<strong>do</strong> como termómetro. Para<br />

a resistência de um filamento de tungsténio temos a seguinte relação<br />

2<br />

( ) 0 ( )<br />

1 q q q<br />

d<br />

V V<br />

R = R + a + b<br />

(6.16)


onde q é a temperatura em graus Celsius, R 0 a resistência a 0ºC,<br />

-7 -2<br />

b = 6,76 ¥ 10 ºC (Cavalcante et al, 2005).<br />

A resistência R 0 pode ser calculada a partir da equação (6.16)<br />

R<br />

R<br />

( q )<br />

a<br />

0 = 2<br />

1+<br />

aqa + bqa<br />

onde q a é o valor da temperatura ambiente em graus Celsius.<br />

O valor de ( )<br />

a<br />

165<br />

6 Calibração e intercomparação de termómetros<br />

-3 -1<br />

a = 4,82 ¥ 10 ºC e<br />

(6.17)<br />

R q é obti<strong>do</strong> pela lei de Ohm, R = e I , onde e é a diferença de<br />

potencial nos terminais da lâmpada e I é a corrente no filamento. Devemos usar uma<br />

corrente suficientemente pequena para que se possa desprezar o aquecimento devi<strong>do</strong> ao<br />

efeito de Joule, garantin<strong>do</strong>-se assim que o filamento se encontra à temperatura ambiente,<br />

q a .<br />

Resolven<strong>do</strong> a equação (6.16) em ordem à temperatura q , a temperatura absoluta<br />

<strong>do</strong> filamento vem dada por<br />

1 È<br />

2 Ê R ˆ ˘<br />

T = 273,15 + Í a + 4b -1-a˙ 2bÍ<br />

Á<br />

ËR ˜<br />

0 ¯<br />

Î<br />

˙<br />

˚<br />

(6.18)<br />

onde o valor de R é obti<strong>do</strong> pela lei de Ohm, R = e I , medin<strong>do</strong> a diferença de potencial<br />

e a corrente no filamento.<br />

No gráfico da Figura 6.26 apresenta-se a potência óptica medida no sensor em<br />

função da quarta potência da temperatura da lâmpada. Verifica-se que a potência P<br />

registada no sensor é proporcional a 4<br />

T , com uma boa correlação <strong>do</strong>s pontos<br />

experimentais. A ordenada na origem <strong>do</strong> ajuste tem, contu<strong>do</strong>, o valor de - 0,039mW , o<br />

que pode ter como explicação o facto de o vidro da lâmpada não ser transparente a toda a<br />

radiação emitida por esta. Para T = 0 teríamos um valor da potência próximo de zero,<br />

mas o valor obti<strong>do</strong> pelo ajuste é negativo e significativo.<br />

Podemos também representar graficamente o log10 ( P ) em função <strong>do</strong> log10 ( T ) e<br />

obter o gráfico da Figura 6.27. A ordenada na origem corresponde a log10 ( As ) , onde A<br />

e s são a área <strong>do</strong> sensor e a constante de Stefan-Boltzmann, respectivamente. O declive<br />

corresponde à potência da temperatura (que teoricamente é 4). O valor obti<strong>do</strong> para a


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

potência da temperatura é 4,66, possivelmente explica<strong>do</strong> pela absorção <strong>do</strong> vidro<br />

(sobretu<strong>do</strong> no infravermelho longo).<br />

Figura 6.26 Potência na termopilha em função da quarta potência da<br />

temperatura <strong>do</strong> filamento da lâmpada.<br />

Figura 6.27 Logaritmo da potência na termopilha em função <strong>do</strong> logaritmo da<br />

temperatura <strong>do</strong> filamento da lâmpada.<br />

166


7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />

Do ponto de vista conceptual é necessário definir uma temperatura independente<br />

das propriedades termométricas de sistemas termodinâmicos particulares. Tal definição<br />

permitirá obtermos o conceito de temperatura termodinâmica absoluta e terá de ser<br />

obtida à custa das leis universais da Termodinâmica.<br />

7.1 Definição de temperatura absoluta<br />

A Lei Zero da Termodinâmica estabelece a base para a <strong>medição</strong> da temperatura,<br />

mas uma escala empírica tem de ser definida em termos da propriedade termométrica de<br />

uma substância específica e de um termómetro, tal como a escala de temperatura obtida<br />

usan<strong>do</strong> um termómetro de gás a volume constante.<br />

Uma escala de temperatura que seja independente da natureza <strong>do</strong> sistema, é<br />

chamada escala de temperatura termodinâmica absoluta.<br />

A eficiência de um ciclo de Carnot 26 é independente <strong>do</strong> sistema (máquina) que<br />

opera o ciclo e depende apenas das temperaturas das fontes entre as quais opera. Esta<br />

característica permite usar a máquina de Carnot para estabelecer a escala absoluta de<br />

temperatura. Fazemos seguidamente o desenvolvimento de (Anacleto, 2004).<br />

Uma máquina de Carnot absorve a energia 1<br />

167<br />

Q por calor da fonte quente 1<br />

T e<br />

rejeita a energia Q 2 por calor para a fonte fria T 2 , com uma eficiência que é<br />

independente da natureza <strong>do</strong> sistema (Zemansky et al, 1997; Güémez et al, 1998). A<br />

eficiência, dada por h = 1- Q2 Q1<br />

, depende apenas das temperaturas das fontes,<br />

h f<br />

( T, T )<br />

= 1 2 , sen<strong>do</strong> f uma função desconhecida de 1<br />

base da definição de temperatura absoluta.<br />

T e T 2 . Esta propriedade está na<br />

26 Um ciclo de Carnot é um processo cíclico reversível, realiza<strong>do</strong> por um sistema arbitrário,<br />

durante o qual o sistema só troca energia por calor com duas fontes. A fonte que se encontra a<br />

uma temperatura maior é designada por fonte quente e a outra fonte é designada por fonte fria.<br />

Num diagrama, o ciclo de Carnot é constituí<strong>do</strong> por duas curvas adiabáticas e duas curvas<br />

isotérmicas. O teorema de Carnot diz que a eficiência duma máquina de Carnot é máxima, em<br />

relação a uma máquina qualquer que opere entre as mesmas fontes (Zemansky et al, 1997).


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Podemos, portanto, escrever<br />

Q1<br />

1<br />

= = f T T<br />

Q 1 - f T, T<br />

onde ( , )<br />

( )<br />

2 1 2<br />

1 2<br />

( , )<br />

1 2<br />

f T T é também uma função desconhecida das duas temperaturas.<br />

168<br />

(7.1)<br />

Consideremos três máquinas de Carnot, RA, RB e RC, que operam entre três fontes<br />

cujas temperaturas satisfazem a relação T1 > T3 > T2,<br />

conforme ilustra<strong>do</strong> na Figura 7.1.<br />

Figura 7.1 Diagrama esquemático das máquinas de Carnot utilizadas para<br />

estabelecer a escala termodinâmica absoluta de temperatura<br />

(Anacleto, 2004).<br />

Façamos então o seguinte raciocínio toman<strong>do</strong> a figura como suporte. Para a<br />

máquina de Carnot RA, podemos escrever a relação<br />

Q<br />

Q<br />

1<br />

2<br />

T1<br />

T2<br />

( , )<br />

= f T T<br />

(7.2)<br />

1 2<br />

RB<br />

Q 1<br />

Q3<br />

Q 3<br />

Q2<br />

WB<br />

T3 RA W A<br />

RC<br />

W C<br />

Q 1<br />

Q 2


169<br />

7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />

A máquina RB é ajustada de forma a absorver uma energia por calor, da fonte T 1 ,<br />

igual à absorvida pela máquina RA, 1<br />

Q ; a energia por calor 3<br />

pela máquina RC. Assim, tem-se para a máquina RB, Q Q f ( T, T )<br />

1 3 1 3<br />

Q rejeitada é absorvida<br />

= .<br />

Pelo corolário de Carnot 27 , como a máquina RA rejeita para a fonte fria a energia<br />

por calor 2 Q , para que as máquinas RB e RC, operan<strong>do</strong> em conjunto, sejam equivalentes<br />

à máquina RA, RC deve também rejeitar para a fonte fria a energia por calor Q 2 . Temos,<br />

então, para a máquina RC, Q Q f ( T , T )<br />

Como<br />

( , )<br />

f T T<br />

1 2<br />

2 2 3<br />

= .<br />

3 2 3 2<br />

Q1<br />

Q1 Q3<br />

= , temos que<br />

Q Q Q<br />

( 1, 3)<br />

( , )<br />

f T T<br />

= (7.3)<br />

f T T<br />

2 3<br />

A temperatura T 3 pode ser escolhida arbitrariamente pois não aparece no primeiro<br />

membro da equação (7.3), e temos, sen<strong>do</strong> y ( T ) uma função arbitrária,<br />

( T1<br />

)<br />

( )<br />

Q1<br />

y<br />

= (7.4)<br />

Q y T<br />

2 2<br />

Escolhen<strong>do</strong> y ( T) = T , a razão no primeiro membro da equação anterior é definida<br />

como a razão de duas temperaturas termodinâmicas, T1 T 2 , ou seja<br />

Q1 T1<br />

= (7.5)<br />

Q T<br />

2 2<br />

Portanto, duas temperaturas na escala termodinâmica estão uma para a outra<br />

como os respectivos valores absolutos das energias por calor absorvida e rejeitada, por<br />

uma máquina de Carnot que opere entre fontes àquelas temperaturas.<br />

27 O corolário de Carnot, obti<strong>do</strong> facilmente <strong>do</strong> teorema de Carnot, estabelece que todas as<br />

máquinas de Carnot que operem entre as mesmas fontes têm a mesma eficiência.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

A escala termodinâmica de temperatura tem de ser independente das características<br />

específicas de qualquer sistema particular. Assim, a máquina de Carnot permite a<br />

universalidade que não é conseguida pela escala baseada num gás ideal. As temperaturas<br />

termodinâmicas são chamadas temperaturas absolutas, pois são independentes <strong>do</strong><br />

sistema. A equação (7.4) é uma relação fundamental baseada na Segunda Lei da<br />

Termodinâmica e no ciclo de Carnot. É necessário apenas que a função arbitrária y seja<br />

função da temperatura termodinâmica.<br />

À primeira vista, pode parecer que a razão de duas temperaturas Kelvin seria<br />

impossível de medir, pois uma máquina de Carnot é uma máquina ideal, bastante difícil<br />

de construir. A situação, contu<strong>do</strong>, não é tão má como parece. A razão de duas<br />

temperaturas Kelvin é a razão de <strong>do</strong>is calores transferi<strong>do</strong>s durante <strong>do</strong>is processos<br />

isotérmicos limita<strong>do</strong>s por duas curvas adiabáticas. As duas fronteiras adiabáticas podem<br />

ser localizadas experimentalmente, e os calores transferi<strong>do</strong>s durante os <strong>do</strong>is processos<br />

isotérmicos “aproximadamente reversíveis” podem ser medi<strong>do</strong>s com precisão elevada.<br />

De facto, este méto<strong>do</strong> é um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s na <strong>medição</strong> de temperaturas abaixo de<br />

1 K.<br />

É necessário ainda completar a definição da escala absoluta de temperatura.<br />

Consideran<strong>do</strong> o ponto triplo da água, T PT , como a temperatura de referência e<br />

atribuin<strong>do</strong>-lhe o valor de 273,16 K (tal como já havíamos feito), temos<br />

T = 273,16 K<br />

(7.6)<br />

PT<br />

Para uma máquina de Carnot que opera entre fontes a temperaturas T e T PT , temos<br />

Q T<br />

= (7.7)<br />

Q T<br />

PT PT<br />

o que permite finalmente escrever<br />

273,16K Q<br />

T = (7.8)<br />

Q<br />

PT<br />

Comparan<strong>do</strong> esta equação com a equação para a temperatura definida por um gás a<br />

volume constante,<br />

170


Ê P ˆ<br />

T = 273,16 K lim ( V constante)<br />

PPTÆ<br />

0 Á<br />

ËP˜ ¯<br />

PT<br />

171<br />

7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />

(7.9)<br />

vemos que, na escala absoluta de temperatura, Q desempenha o papel de “propriedade<br />

termométrica” para um ciclo de Carnot, tal como a pressão é a propriedade termométrica<br />

para o termómetro de gás a volume constante. O calor não tem, contu<strong>do</strong>, a objecção<br />

associada à coordenada termodinâmica pressão de um termómetro de gás, pois o<br />

comportamento da máquina de Carnot é independente da natureza <strong>do</strong> sistema.<br />

7.2 O zero absoluto e eficiência de Carnot<br />

Da equação (7.8), vemos que quanto menor for o valor de Q , menor é o valor de T<br />

correspondente. O menor valor possível de Q é zero, e o valor de T que lhe<br />

corresponde é o zero absoluto. Portanto, se um sistema sofresse um processo isotérmico<br />

reversível sem transferir energia por calor, a temperatura à qual este processo ocorreria<br />

é chama<strong>do</strong> zero absoluto. Dito de outra forma, no zero absoluto uma isotérmica e uma<br />

adiabática são idênticas 28 .<br />

Notemos que a definição de zero absoluto é válida para to<strong>do</strong>s os sistemas e é,<br />

portanto, independente das propriedades específicas de qualquer sistema escolhi<strong>do</strong><br />

arbitrariamente. Mais ainda, a definição é feita em termos de conceitos puramente<br />

macroscópicos. Nenhuma referência é feita a átomos ou moléculas. Se o zero absoluto<br />

pode ou não ser atingin<strong>do</strong> é uma questão deixada para a experimentação. Contu<strong>do</strong>, uma<br />

máquina térmica que operasse com uma fonte fria à temperatura <strong>do</strong> zero absoluto violaria<br />

a Segunda Lei, pois produziria trabalho negativo, W < 0 , trocan<strong>do</strong> energia por calor com<br />

uma única fonte (a fonte quente) 29 .<br />

Como uma máquina de Carnot que absorve energia por calor Q 1 da fonte quente à<br />

temperatura T 1 e rejeita energia por calor 2<br />

eficiência dada por<br />

Q para a fonte fria à temperatura 2<br />

T tem uma<br />

28 Uma curva adiabática e uma curva isotérmica não se podem intersectar em mais que um ponto.<br />

29 Esta hipótese violaria o Postula<strong>do</strong> de Kelvin-Planck da Segunda Lei da Termodinâmica.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

2<br />

1 Q<br />

h = - (7.10)<br />

Q<br />

1<br />

e como, pela definição de temperatura absoluta se tem<br />

Q2 T2<br />

= (7.11)<br />

Q T<br />

1 1<br />

concluímos que a eficiência de uma máquina de Carnot pode ser expressa em termos das<br />

temperaturas absolutas das duas fontes,<br />

2 h = - (eficiência de uma máquina de Carnot). (7.12)<br />

T1<br />

1 T<br />

Para um ciclo de Carnot ter uma eficiência de 100 % é necessário que T 2 seja zero.<br />

Apenas quan<strong>do</strong> a fonte fria está à temperatura <strong>do</strong> zero absoluto é que toda a energia<br />

absorvida por calor é convertida em trabalho. Como a natureza não nos proporciona uma<br />

fonte à temperatura <strong>do</strong> zero absoluto, uma máquina térmica com 100 % de eficiência, o<br />

que violaria a Segunda Lei, é uma impossibilidade prática e teórica.<br />

7.3 A temperatura absoluta e a dada por um gás<br />

A temperatura T dada por um termómetro de gás a volume constante foi definida<br />

em termos da razão entre a pressão P, à temperatura T, e a pressão <strong>do</strong> sistema no ponto<br />

triplo da água P PT , no limite das baixas pressões.<br />

Demonstra-se que a temperatura dada por um termómetro de gás a volume<br />

constante é equivalente à temperatura absoluta definida à custa de uma máquina de<br />

Carnot (Zemansky et al, 1997).<br />

Consideran<strong>do</strong> que a temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água é a mesma para ambas as<br />

definições de temperatura, T PT = 273,16K , temos<br />

( dada pelo termómetro de gás a constante) ( absoluta)<br />

T V = T<br />

(7.13)<br />

172


173<br />

7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />

A temperatura absoluta é, portanto, numericamente igual à temperatura dada por<br />

um gás ideal e, numa gama adequada, pode ser medida com um termómetro de gás a<br />

volume constante.<br />

7.4 <strong>Temperatura</strong> termodinâmica e termómetros primários<br />

A temperatura T que ocorre nas leis fundamentais da Física é a temperatura<br />

termodinâmica. A escala termodinâmica de temperatura pode ser definida de várias<br />

formas, todas necessariamente equivalentes. Algumas definições são bastante abstractas e<br />

não úteis para medições de temperatura. Como exemplo é a definição dada através da<br />

eficiência de uma máquina de Carnot. Uma definição mais compreensível é aquela<br />

baseada na equação de esta<strong>do</strong> de um gás ideal<br />

PV = N k T<br />

(7.14)<br />

onde P e V são a pressão e o volume <strong>do</strong> gás, respectivamente, N é o número de<br />

partículas de gás (que é muito grande), e k é a constante de Boltzmann.<br />

Esta temperatura é a que aparece noutras leis fundamentais tais como na lei de<br />

radiação de Planck para o corpo negro, na fórmula de Nyquist para o ruí<strong>do</strong> térmico ou na<br />

expressão para o alargamento Doppler da linha espectral de emissão ou absorção de um<br />

gás cujas partículas têm velocidades de acor<strong>do</strong> com a distribuição de Maxwell.<br />

Estas leis servem como base para os termómetros primários que são capazes de<br />

medir a temperatura termodinâmica. Um termómetro primário não precisa de ser referi<strong>do</strong><br />

a outras medidas de temperatura (isto é, não precisa de calibração) mas obtêm a<br />

temperatura de medições de outras grandezas tais como a pressão, a potência da radiação<br />

ou a tensão de ruí<strong>do</strong>. Portanto, podem ser usa<strong>do</strong>s para estabelecer a escala termodinâmica<br />

de temperatura.<br />

Por considerações termodinâmicas e pelas relações da Tabela 7.1 concluímos que<br />

existe um zero absoluto para a temperatura para o qual, por exemplo, a pressão de um gás<br />

ideal a volume constante, a emissão de radiação térmica, e a tensão de ruí<strong>do</strong> térmico se<br />

anulam.<br />

A unidade de temperatura termodinâmica pode ser definida com a ajuda de uma<br />

temperatura de um ponto fixo, à qual se atribui convencionalmente um valor, como foi<br />

proposto por Kelvin em 1854. Um século mais tarde, a 10ª Conferência Geral de Pesos e<br />

Medidas seguiu esta sugestão.


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Termómetro<br />

primário<br />

Lei fundamental subjacente Significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s símbolos<br />

Gás PV = N kT<br />

P – pressão<br />

Constante<br />

dieléctrica de<br />

um gás<br />

e = e + a<br />

0 0 NV<br />

( )<br />

P = kT e - e a<br />

Acústico 2 ( )<br />

Ruí<strong>do</strong><br />

térmico<br />

Radiação<br />

espectral<br />

Radiação<br />

total<br />

Alargamento<br />

0 0<br />

174<br />

V – volume<br />

N – número de partículas<br />

k – constante de Boltzmann<br />

e – permitividade <strong>do</strong> gás<br />

e 0 – permitividade <strong>do</strong> vazio<br />

a 0 – polarizabilidade estática<br />

dipolar de um átomo<br />

ca= cP cV kT m m – massa da partícula<br />

cPc V – razão das capacidades<br />

térmicas molares<br />

( ) 2<br />

D U = 4 kT RD n<br />

(váli<strong>do</strong> para baixas frequências<br />

e no limite das altas<br />

temperaturas)<br />

R<br />

n<br />

2 hn<br />

=<br />

2<br />

c Îh kT ˚<br />

{ exp È n ( ) ˘-1}<br />

4<br />

sT<br />

2p<br />

R = =<br />

p<br />

4<br />

3<br />

( kT)<br />

4<br />

2 3 ( 15ch)<br />

Doppler ( ) 12<br />

È 2<br />

2kT mc ˘<br />

D n D = n<br />

Î ˚ 0<br />

D U – ruí<strong>do</strong> térmico da tensão<br />

eléctrica U na resistência<br />

eléctrica R que ocorre num<br />

banda estreita D n<br />

Rn – radiância espectral <strong>do</strong> corpo<br />

negro<br />

h – constante de Planck<br />

c – velocidade da luz no vazio<br />

R – radiância total <strong>do</strong> corpo<br />

negro<br />

s – constante de<br />

Stefan-Boltzmann<br />

D n - Largura Doppler em<br />

D<br />

frequência da linha com<br />

frequência central n 0 , emitida ou<br />

absorvida por um gás ideal à<br />

temperatura T<br />

Tabela 7.1 Termómetros primários e leis fundamentais que lhes subjazem.<br />

Foi escolhi<strong>do</strong> então como ponto fixo o ponto triplo da água (PTA), o único ponto<br />

no diagrama de fase onde vapor, água líquida e gelo coexistem, conforme se ilustra no<br />

diagrama da Figura 7.2. A temperatura <strong>do</strong> ponto triplo T PT é, por convenção, 273,16 K,<br />

de tal forma que a unidade de temperatura, o Kelvin, vem dada por


PT<br />

175<br />

7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />

1K = T 273,16<br />

(7.15)<br />

O valor numérico de 273,16 foi escolhi<strong>do</strong> para que o kelvin estivesse tão próximo<br />

quanto possível <strong>do</strong> grau Celsius usa<strong>do</strong> anteriormente, que era defini<strong>do</strong> como a centésima<br />

parte da diferença de temperaturas entre o ponto de ebulição e o ponto de fusão da água à<br />

pressão atmosférica normal (101,325 kPa).<br />

Figura 7.2 Diagrama de fase para a água. O ponto triplo corresponde à<br />

temperatura de 273,15 K e à pressão de 612 Pa.<br />

A temperatura de fusão da água à pressão atmosférica normal é ligeiramente menor<br />

que a temperatura <strong>do</strong> ponto triplo (a pressão <strong>do</strong> ponto triplo é de apenas 0,612 kPa). A<br />

relação entre as temperatura em grau Celsius e em kelvin é, como vimos, dada por<br />

( ) ( )<br />

T ºC = T K - 273,15<br />

(7.16)<br />

A escala de temperatura Celsius é portanto uma escala de temperatura Kelvin com<br />

o zero desloca<strong>do</strong> para 273,15 K. Portanto, uma diferença de temperaturas tem o mesmo<br />

valor numérico nas duas escalas<br />

( ºC) ( K)<br />

D T = D T<br />

(7.17)


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Notemos que o nome da unidade kelvin (K) não é acompanhada da palavra grau ou<br />

<strong>do</strong> símbolo º, embora originalmente fosse designada por grau kelvin em 1954. Contu<strong>do</strong>,<br />

essa designação foi modificada para kelvin pela Conferência Geral de Pesos e Medidas<br />

(CGPM) em 1967.<br />

A magnitude da unidade da temperatura termodinâmica não pode ser determinada<br />

por considerações termodinâmicas. Isto acontece porque a temperatura T acorre sempre<br />

na combinação kT em todas as leis físicas fundamentais, conforme se pode ver nos<br />

exemplos da<strong>do</strong>s na Tabela 7.1. Esta combinação é referida habitualmente por energia<br />

térmica, pois é proporcional à energia cinética média, E , de uma partícula de um gás em<br />

equilíbrio à temperatura T , E = 3kT 2.<br />

Portanto, em rigor um termómetro primário não mede a temperatura T , mas a<br />

energia térmica kT . Assim, podemos redimensionar T para aT , se esta transformação<br />

for acompanhada e compensada pelo redimensionamento da constante de Boltzmann k<br />

para ka, manten<strong>do</strong>-se assim o valor de kT .<br />

Essencialmente, há duas formas de extrair a temperatura T de uma <strong>medição</strong> da<br />

energia térmica kT . A escolha de definir a temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água, T PT ,<br />

como sen<strong>do</strong> exactamente 273,16 K corresponde à escolha de um valor particular <strong>do</strong><br />

“factor de escala” a e, portanto, implicitamente determina também o valor numérico da<br />

constante de Boltzmann k , a qual tem de ser determinada experimentalmente e de<br />

preferência à temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água. Esta forma é a escolhida actualmente<br />

na definição SI de kelvin, e a constante de Boltzmann no actual SI é dada por 30<br />

-23 -1<br />

k = 1,3806504 ¥ 10 J K<br />

(7.18)<br />

com uma incerteza absoluta de<br />

6<br />

1, 7 10 -<br />

¥ .<br />

176<br />

-23 -1<br />

0,0000024 ¥ 10 J K e uma incerteza relativa de<br />

Esta definição tem a vantagem <strong>do</strong> facto de que diferentes realizações experimentais<br />

precisas da temperatura <strong>do</strong> ponto triplo da água mostraram concordância elevada entre si,<br />

sen<strong>do</strong> as variações relativas menores que<br />

7<br />

3 10 -<br />

¥ , que é cerca de uma ordem de<br />

grandeza menor que a incerteza <strong>do</strong> valor medi<strong>do</strong> da constante de Boltzmann. Como<br />

desvantagem, há um aumento da incerteza na <strong>medição</strong> de temperatura particularmente a<br />

30 Ver http://physics.nist.gov/cuu/Constants/


177<br />

7 A <strong>Temperatura</strong> absoluta<br />

muito baixas e muito altas temperaturas, pois as medições de temperaturas têm de ser<br />

rastreadas de alguma forma a uma <strong>medição</strong> feita à temperatura T PT .<br />

Outra possibilidade de extrair T da energia térmica kT está presentemente em<br />

discussão. Como alternativa à actual definição SI de kelvin através da temperatura <strong>do</strong><br />

ponto triplo da água, à constante de Boltzmann pode ser atribuída um valor por definição,<br />

deixan<strong>do</strong> de ter uma incerteza associada. Esta redefinição de kelvin teria a vantagem de<br />

não favorecer um valor particular de temperatura ou um determina<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de<br />

<strong>medição</strong>. Além disso, ligar a unidade de temperatura a uma constante fundamental<br />

adequada será mais satisfatório conceptualmente <strong>do</strong> que ligá-la a uma propriedade de<br />

uma material imperfeitamente conhecida, que não é certamente fundamental.<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu valor experimental, podemos fixar o valor da constante de<br />

Boltzmann em, por exemplo,<br />

-23 -1<br />

k = 1,3806504 ¥ 10 J K , que ligaria o kelvin à unidade<br />

de energia, o joule, da mesma forma que a unidade de comprimento, o metro, é<br />

actualmente ligada com a unidade de tempo, o segun<strong>do</strong>, atribuin<strong>do</strong> o valor exacto de<br />

-1<br />

c = 299792458ms à velocidade da luz no vazio.


8 Conclusão<br />

Este trabalho tem várias contribuições, de diversas ín<strong>do</strong>les, que em conjunto se<br />

traduzem num enriquecimento aos níveis pessoal e profissional.<br />

No que diz respeito à inserção curricular, o estu<strong>do</strong> foi muito relevante, já que os<br />

assuntos trata<strong>do</strong>s fazem parte <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino básico e secundário. É de salientar<br />

a contribuição de natureza teórica para um aprofundamento de conceitos, em geral, e <strong>do</strong><br />

conceito de temperatura, em particular.<br />

O trabalho desenvolvi<strong>do</strong> mostrou que a temperatura não é um conceito fácil, quer<br />

na <strong>sua</strong> compreensão ao nível fundamental, quer na <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>. A temperatura aparece<br />

ligada a uma enorme diversidade de fenómenos físicos e é uma variável especial em<br />

Termodinâmica, uma área onde as subtilezas abundam.<br />

Da contribuição de cariz prático é de sublinhar a realização de 10 experiências e<br />

actividades laboratoriais que proporcionaram um contacto com instrumentação científica<br />

diversificada e com novas tecnologias, poden<strong>do</strong> algumas actividades ser utilizadas ou<br />

adaptadas nas aulas.<br />

Especial ênfase deve ser dada à actividade de intercomparação e de calibração de<br />

diversos termómetros, alguns deles basea<strong>do</strong>s na tecnologia das fibras ópticas, não só pela<br />

diversidade de instrumentação usada, como também porque se utilizou como referência<br />

um termómetro de resistência de platina calibra<strong>do</strong>. A calibração <strong>do</strong> termómetro envolveu<br />

um laboratório de metrologia de temperatura acredita<strong>do</strong> e o ajuste <strong>do</strong>s pontos de<br />

calibração foi realizada por nós, seguin<strong>do</strong> uma norma específica. A importância da<br />

Metrologia, nomeadamente da compreensão <strong>do</strong>s conceitos de calibração, de<br />

rastreabilidade, de cadeia metrológica e de normalização, tornou-se evidente com o<br />

trabalho realiza<strong>do</strong>, de tal forma que somos leva<strong>do</strong>s a preconizar que tais conceitos devam<br />

ser introduzi<strong>do</strong>s nos programas <strong>do</strong> ensino pré-universitário.<br />

O trabalho como um to<strong>do</strong> constitui um <strong>do</strong>cumento útil para ser usa<strong>do</strong> por<br />

professores e alunos, não só como recurso didáctico-científico, mas também como<br />

elemento indutor e polariza<strong>do</strong>r de novas sugestões de trabalhos práticos a realizar nas<br />

aulas ou em estu<strong>do</strong>s futuros.<br />

179


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Contu<strong>do</strong>, apesar de aliciante e motiva<strong>do</strong>r, o tema apresentou algumas dificuldades,<br />

encaradas como fazen<strong>do</strong> parte da natureza das coisas. Uma das dificuldades foi a<br />

abrangência <strong>do</strong> tema, que se foi revelan<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> cada vez maior,<br />

dificultan<strong>do</strong> a organização <strong>do</strong> trabalho, pelo que se fez um corte, de forma significativa,<br />

na parte teórica. Neste senti<strong>do</strong>, temos consciência que o produto final produzi<strong>do</strong> constitui<br />

apenas a ponta <strong>do</strong> iceberg.<br />

Este trabalho permitiu uma consciencialização da problemática de calibração de<br />

instrumentos e de utilização de padrões, e constitui uma contribuição para uma melhor<br />

compreensão <strong>do</strong> conceito de temperatura e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong>, nomeadamente aos <strong>do</strong>centes <strong>do</strong><br />

actual 10º ano de escolaridade.<br />

180


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Sites de Internet (instituições e laboratórios)<br />

Consulta<strong>do</strong>s entre Janeiro e Junho de 2007<br />

184


Índice de figuras<br />

Figura 2.1 Sistema termodinâmico constituí<strong>do</strong> pelos subsistemas A, B e C. A fronteira<br />

separa o sistema <strong>do</strong> meio exterior, e a vizinhança é a parte <strong>do</strong> exterior que<br />

interage com o sistema (Anacleto, 2004). 12<br />

Figura 2.2 Representação, num diagrama das variáveis X e Y, de esta<strong>do</strong>s de equilíbrio e<br />

de processos termodinâmicos. Os processos quase-estáticos podem ser<br />

representa<strong>do</strong>s por linhas contínuas definidas; os processos não quase-estáticos<br />

representamos por linhas a traceja<strong>do</strong> (Anacleto, 2004). 17<br />

Figura 2.3 Um gás que sofre um processo não-adiabático. Há trocas de energia por calor<br />

e por trabalho (Anacleto, 2004). 20<br />

Figura 2.4 Representação esquemática da operação de: a) uma máquina térmica; e b) uma<br />

máquina frigorífica (Anacleto, 2004). 23<br />

Figura 2.5 Ciclo de Carnot representa<strong>do</strong> num diagrama P-V (Anacleto, 2004). 25<br />

Figura 3.1 Capacidade térmica mássica a volume constante, c V , em função da<br />

temperatura. c V tende para zero quan<strong>do</strong> T tende para zero. 30<br />

Figura 3.2 Capacidade térmica mássica da água em função da temperatura à pressão<br />

atmosférica normal (Zemansky et al, 1997). 33<br />

Figura 3.3 Fluxo de energia por calor através de uma camada de espessura D x e área A,<br />

submetida a uma diferença de temperaturas D T = T2 - T1.<br />

34<br />

Figura 3.4 Condutividade térmica em função da temperatura para algumas substâncias<br />

(adapta<strong>do</strong> de Zemansky et al, 1997). 36<br />

Figura 3.5 Fotografia da montagem experimental para a determinação da condutividade<br />

térmica de uma barra condutora. 37<br />

Figura 3.6 Variação da temperatura ao longo da barra depois de atingi<strong>do</strong> o regime<br />

estacionário de propagação de energia por calor. 37<br />

Figura 3.7 Aumento da temperatura da água em função <strong>do</strong> tempo. O declive é<br />

proporcional à taxa de propagação da energia por calor na barra. 38<br />

Figura 3.8 Fotografias que ilustram a actividade experimental <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> equilíbrio<br />

térmico. 40<br />

Figura 3.9 Isotérmicas correspondentes de <strong>do</strong>is sistemas termodinâmicos diferentes A e<br />

B (Anacleto, 2004).<br />

Figura 3.10 Fotografias de um caderno de um aluno (à esquerda) e da montagem<br />

experimental (à direita) relativas à actividade da determinação <strong>do</strong>s pontos de<br />

43<br />

fusão e de ebulição da água. 45<br />

185


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 3.11 Gráfico da evolução da temperatura no aquecimento da água desde o ponto de<br />

fusão até ao ponto de ebulição. 46<br />

Figura 3.12 Distribuição das velocidades de Maxwell-Boltzmann para as temperaturas de<br />

300 K, 900 K e 1500 K. 48<br />

Figura 3.13 Evolução temporal da temperatura <strong>do</strong> ar no interior de duas latas de cores<br />

diferentes, quan<strong>do</strong> incide nelas radiação nas mesmas condições.<br />

Figura 3.14 Fotografia da montagem experimental para a comparação <strong>do</strong> poder de<br />

49<br />

absorção de radiação por diferentes superfícies. 50<br />

Figura 3.15 Fotografias da montagem experimental para estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> aquecimento da água<br />

com uma lâmpada. 51<br />

Figura 3.16 Gráfico comparativo <strong>do</strong> aquecimento da água com uma lâmpada com e sem<br />

folha de alumínio. 51<br />

Figura 3.17. Radiância espectral <strong>do</strong> corpo negro para quatro temperaturas diferentes. 53<br />

Figura 3.18 Cavidade que com um orifício. A radiação que entra é totalmente absorvida<br />

devi<strong>do</strong> às sucessivas reflexões no interior da cavidade, que se aproxima a um<br />

corpo negro. 54<br />

Figura 3.19 Uma cavidade cúbica, com aresta de comprimento a, preenchida por radiação<br />

electromagnética. 56<br />

Figura 3.20 Planos nodais de uma onde estacionária que se propaga numa dada direcção<br />

na cavidade cúbica. 57<br />

Figura 3.21 Comparação entre a previsão da Física clássica e os resulta<strong>do</strong>s experimentais<br />

para a densidade de energia numa cavidade.<br />

Figura 3.22 Comparação entre os resulta<strong>do</strong>s de um cálculo simples e a distribuição de<br />

62<br />

Boltzmann. 64<br />

Figura 4.1 Termómetro de Galileu Galilei. 73<br />

Figura 4.2 Estabelecimento de uma escala de temperatura (Anacleto, 2004). 79<br />

Figura 4.3 Gráfico de P em função de θ, obti<strong>do</strong> experimentalmente com o termómetro de<br />

gás a volume constante, utilizan<strong>do</strong> quatro gases diferentes a baixas pressões<br />

(Anacleto, 2004). 81<br />

Figura 4.4 Célula de ponto-triplo da água (Anacleto, 2004). 82<br />

Figura 4.5 Representação esquemática de um termómetro de gás a volume constante,<br />

sen<strong>do</strong> a propriedade termométrica a pressão (Anacleto, 2004). 83<br />

Figura 4.6 <strong>Temperatura</strong> <strong>do</strong> PEN da água dada por diferentes termómetros de gás, no<br />

limite quan<strong>do</strong> PPT Æ 0 (Anacleto, 2004). 85<br />

Figura 5.1 Termómetros de dilatação em recipiente de vidro. 94<br />

Figura 5.2 Termómetro de máxima e de mínima. 96<br />

Figura 5.3 A – Termómetro de dilatação de líqui<strong>do</strong> em recipiente metálico; B – Tubos de<br />

Bour<strong>do</strong>n utiliza<strong>do</strong>s como elementos de <strong>medição</strong>. 97<br />

186


187<br />

Índice de figuras<br />

Figura 5.4 Termómetro regista<strong>do</strong>r. 97<br />

Figura 5.5 Flexão da lâmina bimetálica quan<strong>do</strong> aquecida. 98<br />

Figura 5.6 A - Termóstato; B - Termómetro bimetálico. 98<br />

Figura 5.7 Termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções <strong>do</strong>s metais A e B, a junção de <strong>medição</strong><br />

e a junção de referência. 99<br />

Figura 5.8 Termopar onde a junção <strong>do</strong>s fios A e B constitui a junção de teste e a junção<br />

de referência consiste em duas junções com fios de cobre (Anacleto, 2004). 101<br />

Figura 5.9 O efeito Seebeck: um gradiente de temperatura origina uma diferença de<br />

potencial (em circuito aberto). 102<br />

Figura 5.10 Para um termopar constituí<strong>do</strong> por duas junções de um mesmo metal A não é<br />

possível medir a diferença de potencial. 104<br />

Figura 5.11 Um termopar tem que ser constituí<strong>do</strong> por duas junções de <strong>do</strong>is metais<br />

diferentes A e B. 104<br />

Figura 5.12 Ilustração das leis de funcionamento <strong>do</strong>s termopares. 110<br />

Figura 5.13 Gráfico ilustrativo da variação da resistência com a temperatura para alguns<br />

metais e para um semicondutor. 115<br />

Figura 5.14 Interior de uma termo-resistencia. 115<br />

Figura 5.15 Aspecto exterior de uma termo-resistência. 115<br />

Figura 5.16 Algumas termo-resistências. 116<br />

Figura 5.17 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a <strong>do</strong>is fios. 118<br />

Figura 5.18 Méto<strong>do</strong> de <strong>medição</strong> a quatro fios. 119<br />

Figura 5.19 Minimização <strong>do</strong> efeito de auto-aquecimento usan<strong>do</strong> uma corrente pulsada: a)<br />

corrente injectada; b) sinal em tensão detecta<strong>do</strong>. 119<br />

Figura 5.20 Ponte de Wheatstone com resistência de três fios. 120<br />

Figura 5.21 Exemplos de termístores. 121<br />

Figura 5.22 Esquema de uma termopilha. 123<br />

Figura 5.23 Ilustração <strong>do</strong> primeiro pirómetro patentea<strong>do</strong>. 124<br />

Figura 5.24 A – Esquema de um pirómetro óptico. B – Observação. 125<br />

Figura 5.25 Esquema de um pirómetro independente da emissividade. 126<br />

Figura 5.26 Frequências utilizadas pelo pirómetro de duas cores. 127<br />

Figura 5.27 Pirómetro de radiação infravermelha. 128<br />

Figura 5.28 Exemplos de pirómetros de radiação infravermelha. 129<br />

Figura 5.29 Moléculas de cristais líqui<strong>do</strong>s dispostas em hélice. 130<br />

Figura 5.30 Anéis de humor feitos de cristais líqui<strong>do</strong>s. 130<br />

Figura 5.31 Tiras termométricas de cristais líqui<strong>do</strong>s. 131<br />

Figura 5.32 Tensão eléctrica nos terminais de um dío<strong>do</strong> de Silício polariza<strong>do</strong> directamente<br />

com uma corrente de 10 μA em função da temperatura<br />

(www.lakeshore.com/temp/sen/sd670_po.html). 132


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Figura 6.1 Funções termométricas R( q ) R0<br />

obtidas por ajuste quadrático e cúbico <strong>do</strong>s<br />

cinco pontos de calibração. 142<br />

Figura 6.2 Função termométrica R( q ) R0<br />

obtida por ajuste quadrático e cúbico <strong>do</strong>s<br />

quatro pontos de calibração correspondentes a temperaturas positivas<br />

(incluin<strong>do</strong> o zero). 142<br />

Figura 6.3 <strong>Temperatura</strong> em função da resistência, q ( R)<br />

, para o TRP Pt-100 calibra<strong>do</strong>. 143<br />

Figura 6.4 Dispositivo constituí<strong>do</strong> por um bloco de cobre e um elemento peltier onde<br />

foram incorpora<strong>do</strong>s os diversos termómetros a comparar. 144<br />

Figura 6.5 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s pontos<br />

experimentais para o termopar 1. 147<br />

Figura 6.6 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 1 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e cúbico) e não<br />

calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais). 148<br />

Figura 6.7 Funções termométricas obtidas por ajuste linear e cúbico <strong>do</strong>s pontos<br />

experimentais para o termopar 2 148<br />

Figura 6.8 Erros na utilização <strong>do</strong> termopar 2 calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e cúbico). 149<br />

Figura 6.9 Comparação <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 com a curva teórica para o termopar tipo T<br />

(srdata.nist.gov/its90/<strong>do</strong>wnload/type_t.tab). 150<br />

Figura 6.10 Erros <strong>do</strong>s termopares 2 e 3 relativamente à curva teórica e erros após<br />

calibração <strong>do</strong> termopar 2. 150<br />

Figura 6.11 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />

T = 298,15K , para o termístor 1. 151<br />

consideran<strong>do</strong> 0<br />

Figura 6.12 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 1 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos experimentais à<br />

equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais <strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ). 152<br />

Figura 6.13 Ajuste <strong>do</strong>s valores experimentais à curva dada pela equação (6.9)<br />

T = 298,15K , para o termístor 2. 153<br />

consideran<strong>do</strong> 0<br />

Figura 6.14 Erros na utilização <strong>do</strong> termístor 2 calibra<strong>do</strong> (ajuste <strong>do</strong>s pontos experimentais à<br />

equação (6.9)) e não calibra<strong>do</strong> (valores nominais <strong>do</strong>s parâmetros R 0 e b ). 153<br />

Figura 6.15 <strong>Temperatura</strong> lida no termómetro de mercúrio versus temperatura de referência<br />

(dada pelo TRP Pt-100). 154<br />

Figura 6.16 Erros na utilização <strong>do</strong> termómetro de mercúrio calibra<strong>do</strong> (ajustes linear e<br />

quadrático) e não calibra<strong>do</strong> (pontos experimentais). 154<br />

Figura 6.17 Princípio de operação de uma rede de Bragg em fibra óptica. 156<br />

Figura 6.18 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da rede medida<br />

com o TRP Pt-100 (antes da rotura). 158<br />

Figura 6.19 Comprimento de onda de Bragg em função da temperatura da rede medida<br />

com o TRP Pt-100 (repetida). 159<br />

188


189<br />

Índice de figuras<br />

Figura 6.20 Erros na utilização da rede de Bragg em função da temperatura medida com o<br />

TRP Pt-100 (para o ajuste linear). 159<br />

Figura 6.21 Esquema experimental para caracterização <strong>do</strong> termómetro de Brillouin. 162<br />

Figura 6.22 Calibração <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno utiliza<strong>do</strong> para variar a<br />

temperatura da fibra óptica. 162<br />

Figura 6.23 Erros <strong>do</strong> controla<strong>do</strong>r de temperatura <strong>do</strong> forno relativamente à temperatura<br />

estabilizada obtida pelo TRP calibra<strong>do</strong>. 163<br />

Figura 6.24 Desvio em frequência da radiação rectro-reflectida em função da temperatura<br />

da fibra óptica.<br />

Figura 6.25 Esquema da montagem experimental para o estu<strong>do</strong> da lei de Stefan-<br />

Boltzmann: V – voltímetro; A – amperímetro; e - fonte de tensão variável (0<br />

163<br />

– 12V); L – lâmpada com filamento de tungsténio. 164<br />

Figura 6.26 Potência na termopilha em função da quarta potência da temperatura <strong>do</strong><br />

filamento da lâmpada. 166<br />

Figura 6.27 Logaritmo da potência na termopilha em função <strong>do</strong> logaritmo da temperatura<br />

<strong>do</strong> filamento da lâmpada. 166<br />

Figura 7.1 Diagrama esquemático das máquinas de Carnot utilizadas para estabelecer a<br />

escala termodinâmica absoluta de temperatura (Anacleto, 2004). 168<br />

Figura 7.2 Diagrama de fase para a água. O ponto triplo corresponde à temperatura de<br />

273,15 K e à pressão de 612 Pa. 175


A1 Certifica<strong>do</strong> de calibração <strong>do</strong> Pt-100<br />

191


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Laboratório da Metrologia da <strong>Temperatura</strong><br />

Instituto Electrotécnico Português<br />

http://www.iep.pt<br />

192


A2 Laboratório de <strong>Temperatura</strong> – IPQ<br />

193


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Instituto Português da Qualidade<br />

Laboratório de <strong>Temperatura</strong><br />

http://www.ipq.pt/backFiles/LTE.pdf<br />

194


A3 Laboratórios de <strong>Temperatura</strong> acredita<strong>do</strong>s<br />

Instituto Português de Acreditação – IPAC<br />

http://www.ipac.pt/pesquisa/acredita.asp<br />

195


A4 Procedimento experimental<br />

Apresenta-se neste anexo os materiais utiliza<strong>do</strong>s e os procedimentos nas<br />

actividades experimentais de determinação da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço e da<br />

condutividade térmica <strong>do</strong> cobre.<br />

1. Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> aço pelo méto<strong>do</strong> das misturas<br />

Material<br />

• Calorímetro (vaso calorimétrico + agita<strong>do</strong>r + termómetro)<br />

• Gobelé<br />

• Disco eléctrico<br />

• Peça de aço presa com um fio<br />

• Água<br />

• Vaso de Dewer (Garrafa termo)<br />

• 2 Termómetros<br />

• Balança<br />

Procedimento<br />

Deve seguir-se a sequência apresentada, visto o equilíbrio térmico demorar algum<br />

tempo a atingir-se<br />

1. Determinação da massa e da temperatura inicial da peça de aço<br />

• Colocar água no gobelé, e aquecê-la no disco eléctrico<br />

• Determinar a massa da peça de aço, e registar o seu valor maço<br />

• Transferir a água quente para a garrafa termo<br />

• Introduzir a peça de aço suspensa por um fio no interior da garrafa termo e<br />

fechá-la<br />

• Introduzir o termómetro na tampa de mo<strong>do</strong> a que o sensor fique no seio da água<br />

• Esperar que se atinja o equilíbrio térmico e registar o valor dessa temperatura<br />

θaço<br />

197


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

2. Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro<br />

• Pesar o calorímetro e registar o valor da massa<br />

• Colocar água no calorímetro, pesar novamente e, por diferença, determinar a<br />

massa da água introduzida m1<br />

• Agitar a água e logo que seja atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico registar a<br />

temperatura, θ1<br />

• Colocar água no gobelé, aquecer a água, agitan<strong>do</strong>-a até se atingir uma dada<br />

temperatura, θ2<br />

• Transferir a água quente para o calorímetro e tapar<br />

• Agitar para uniformizar a mistura e seguir a evolução da temperatura, registar o<br />

valor máximo atingi<strong>do</strong> θmistura<br />

• Medir a massa total (<strong>do</strong> calorímetro + água fria + água quente) e determinar a<br />

massa da água quente lançada no calorímetro, m2<br />

• Calcular a quantidade de energia transferida para o calorímetro mais água fria,<br />

usan<strong>do</strong> o princípio da conservação da energia.<br />

• Determinar o valor da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro e determinar a<br />

quantidade equivalente de água.<br />

3. Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> aço<br />

• Determinar a massa <strong>do</strong> calorímetro limpo e seco<br />

• Colocar água no calorímetro, de mo<strong>do</strong> a que o corpo a introduzir fique<br />

submerso; voltar a pesar e determinar, por diferença, a massa de água<br />

introduzida, mágua<br />

• Tapar, agitar a água, logo que seja atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico registar a<br />

temperatura, θágua<br />

• Retirar a peça da garrafa termo e introduzi-la no calorímetro, o mais<br />

rapidamente possível.<br />

• Agitar a água e seguir a evolução da temperatura<br />

• Atingi<strong>do</strong> o equilíbrio térmico, registar a temperatura, θf<br />

Tabelas de registo<br />

Determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro<br />

m1 θ1 θ2 θmistura m2<br />

198


Determinação da capacidade térmica mássica <strong>do</strong> aço<br />

mágua maço θágua θaço θf<br />

199<br />

A4 Procedimento experimental<br />

Questões a discutir com os alunos, poden<strong>do</strong> conduzir a alterações no<br />

procedimento ou a procedimentos diferentes com diferentes grupos para<br />

comparações de resulta<strong>do</strong>s<br />

• Na determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> calorímetro a deve usar-se uma<br />

quantidade de água tal que a energia cedida pela água quente não provoque uma<br />

acentuada variação de temperatura <strong>do</strong> sistema. Porquê?<br />

• Seria preferível partir de água quente no calorímetro e adicionar água fria?<br />

• Na determinação da capacidade térmica <strong>do</strong> aço será indiferente introduzir a peça<br />

quente na água fria <strong>do</strong> calorímetro ou a peça fria na água quente <strong>do</strong> calorímetro?<br />

2. Determinação da condutividade térmica <strong>do</strong> cobre<br />

Material<br />

O material utiliza<strong>do</strong> constitui um kit da Phywe<br />

• Dois suportes universais<br />

• Grarras e nós<br />

• Barra de cobre com 10 cavidades para encaixes <strong>do</strong>s termómetros e isolada<br />

lateralmente, excepto no extremo que encaixa no vaso calorimétrico<br />

• Vaso calorimétrico, com encaixe na parte inferior para a barra<br />

• Vaso calorimétrico<br />

• Massa térmica<br />

• Resistência eléctrica<br />

• 2 termómetros<br />

• Medi<strong>do</strong>r digital de temperatura<br />

• Balança, craveira, cronómetro


<strong>Temperatura</strong> e <strong>sua</strong> <strong>medição</strong><br />

Procedimento<br />

• Fazer a montagem de acor<strong>do</strong> com a a fotografia da Figura 3.5<br />

No contacto da barra de cobre com o vaso calorimétrico superior usar massa<br />

térmica, a outra extremidade fica imersa na mistura de água e gelo fundente<br />

• Determinar a massa <strong>do</strong> vaso calorimétrico inferior<br />

1. Determinação <strong>do</strong> gradiente de temperatura ao longo da barra<br />

• Medir o diâmetro da barra e a distância entre as cavidades<br />

• Colocar água no vaso calorimétrico superior<br />

• Colocar água e gelo fundente no vaso calorimétrico inferior<br />

• Ligar a resistência eléctrica para aquecer a água até à ebulição e mantê-la<br />

• Deixar que ao longo da barra se atinja um fluxo estacionário de energia, que é<br />

observa<strong>do</strong> pela constância da temperatura nas cavidades da barra.<br />

• Medir a temperatura em cada cavidade ao longo da barra, em regime<br />

estacionário<br />

• Construir o gráfico da temperatura em função da posição da cavidade na barra<br />

2. Determinação <strong>do</strong> fluxo de energia ao longo da barra<br />

• Com a água <strong>do</strong> vaso calorimétrico inferior a uma temperatura o mais próximo<br />

possível de 0 ºC iniciar a <strong>medição</strong> da elevação da temperatura da água ao longo<br />

<strong>do</strong> tempo<br />

• Determinar a massa <strong>do</strong> conjunto vaso calorimétrico inferior + água e calcular a<br />

massa da água<br />

• Construir o gráfico da temperatura da água em função <strong>do</strong> tempo<br />

3. Determinar a condutividade térmica pela expressão (3.10)<br />

Questões a discutir com os alunos<br />

• Discutir as principais fontes de erro da experiência<br />

• Por que é que na determinação <strong>do</strong> fluxo de energia a água no vaso inferior deve<br />

estar o mais próximo possível de 0 ºC?<br />

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