O Esoterismo dos Planetas Transpessoais - João Medeiros ...
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O <strong>Esoterismo</strong> <strong>dos</strong> <strong>Planetas</strong> <strong>Transpessoais</strong><br />
Um olhar sobre os Grandes Mestres Espirituais<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos<br />
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”<br />
Introdução<br />
<strong>João</strong> 1:1<br />
Os planetas transpessoais são provavelmente o primeiro e mais polémico tema estruturante<br />
da Astrologia <strong>dos</strong> tempos modernos. Desde as descobertas de Úrano, Neptuno e Plutão, em<br />
1781, 1846 e 1930, respectivamente, que a introdução destes planetas na ciência astrológica<br />
tem sido debatida e estudada, tendo criado a grande cisão da Astrologia.<br />
Mais do que apenas a consideração sobre a introdução e interpretação destes planetas num<br />
horóscopo, os transpessoais vieram trazer grandes discussões e divisões na forma de ver e<br />
actuar da Astrologia.<br />
Até ao aparecimento <strong>dos</strong> planetas transpessoais a Astrologia foca-se apenas no acontecimento<br />
em si, seja ele uma guerra, uma eleição, uma empresa, um evento ou mesmo o nascimento de<br />
uma pessoa, analisando-o, explicando-o e prevendo as suas “acções”. Com Úrano, Neptuno e<br />
Plutão a Astrologia vira-se para o desenvolvimento do indivíduo e da situação, procurando as<br />
suas razões profundas, as raízes, as motivações, trabalhando não só o consciente como<br />
também o inconsciente, trazendo-lhe assim uma dimensão filosófica e metafísica. Ao trabalhar<br />
o inconsciente e trazer esse lado oculto e profundo da situação para o consciente, os<br />
transpessoais carregam para a Astrologia uma dimensão esotérica que sem eles não seria, de<br />
todo, possível.<br />
O <strong>Esoterismo</strong> na Astrologia Ocidental<br />
Não existe propriamente um consenso sobre o que é o <strong>Esoterismo</strong> e também não é objectivo<br />
deste trabalho a sua explicação. No entanto, é importante esclarecer a ligação deste conceito<br />
com a Astrologia.<br />
Antoine Faivre diz, entre outras coisas, que o <strong>Esoterismo</strong> “refere-se a um conjunto de<br />
correntes espirituais na história ocidental moderna e contemporânea que partilham duma<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
certa familiaridade, assim como a «forma de pensamento» que é o seu denominador<br />
comum.” 1 Esta forma de pensamento, refere ainda no mesmo texto, é constituída por seis<br />
elementos, dois intrínsecos – a doutrina das correspondências universais, a natureza viva, a<br />
imaginação/mediação e a transmutação – e dois extrínsecos – a concordância de tradição e a<br />
transmissão de conhecimentos.<br />
É sobre esta plataforma que podemos encontrar o desenvolvimento da Astrologia Ocidental<br />
com o aparecimento <strong>dos</strong> planetas transpessoais. Pois se toda a personalidade e o peso da<br />
sociedade estão conti<strong>dos</strong> nos sete planetas tradicionais, Úrano, Neptuno e Plutão vêm trazer a<br />
necessidade de transmutação. Eles são os grandes desafiadores da nossa evolução, ligando-se<br />
à dimensão oculta da vida e confluindo para o conceito de metafísica que a filosofia nos<br />
trouxe. Mais do que uma simples previsão ou ferramenta de adivinhação, a Astrologia passa a<br />
revestir-se de uma dimensão psicológica, procurando, precisamente, entender como a ligação<br />
energética inconsciente pode motivar-nos a uma transformação que ultrapassa as fronteiras<br />
do pessoal e do social.<br />
O mito tornado caminho<br />
Os planetas transpessoais são planetas lentos no seu movimento de translação à volta do Sol.<br />
Dado que estes planetas demoram mais do que a média de uma vida humana a fazer os seus<br />
movimentos à volta do Sol, a sua influência sobre as pessoas (e situações) não se vai revelar<br />
sobre o lado de personalidade ou sobre o que a sociedade adiciona a cada um de nós, mas sim<br />
sobre gerações em termos globais. Por isso, os planetas transpessoais vão trazer ao horóscopo<br />
o desafio de desenvolvimento que cada um de nós carrega na sua geração.<br />
Por isso, entender este desafio passa por compreender os papéis destes planetas e o que eles<br />
nos solicitam. A melhor forma de o fazer é buscar a sua mitologia primordial, a sua<br />
correspondência com os deuses gregos e romanos, os originadores <strong>dos</strong> seus nomes.<br />
Úrano<br />
Úrano, segundo a mitologia, representa o criador primordial, foi gerado espontaneamente por<br />
Gaia e foi através dela que criou to<strong>dos</strong> os seres. Mais do que apenas criar, é Úrano quem<br />
atribui nomes a to<strong>dos</strong> os seres. Maior parte das suas criações eram grotescas, o que o deixava<br />
insatisfeito. Por isso renegava as suas criações e atirava-as para o ventre de Gaia. Cansada<br />
deste acto, Gaia solicita ajuda aos seus filhos, sendo apenas correspondido por um, Saturno 2 ,<br />
que castra o pai, Úrano, impedindo-o de se reproduzir mais e tomando o seu papel como deus<br />
superior. Após castrá-lo, Saturno atira os seus órgãos sexuais ao mar, formando uma espuma<br />
de onde nasceu Vénus. O sangue de Úrano derramado sobre Gaia nasceram os Gigantes, as<br />
Fúrias e as Melíades.<br />
É nesta perspectiva que Úrano vai actuar sobre o horóscopo. Ele representa a mente cósmica,<br />
é o grande criador que existe em cada um de nós. Úrano mostra-nos a área das nossas vidas<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
(ou da situação) onde é pedida mudança, inovação, originalidade, a transcendência do passado<br />
para ganhar liberdade. Ele diz-nos que a Individuação é o caminho para a Unidade. Mas este<br />
Úrano comporta também um lado negro. Quando ele está tenso ou o nível de consciência não<br />
o permite libertar-se, ele traz frustrações e respostas violentas. Quando está liberto mas sem<br />
enfoque, ele leva a uma criação exagerada e grotesca, que é sucessivamente recusada,<br />
trazendo novamente frustração.<br />
Neptuno<br />
Neptuno era irmão de Júpiter e de Plutão. Ele foi engolido por Saturno, por este ter medo que<br />
um <strong>dos</strong> filhos pudesse tomar o seu lugar como rei <strong>dos</strong> deuses. Após ser liberto por Júpiter, foilhe<br />
atribuída uma parte da ordem do mundo, tornando-se assim o deus <strong>dos</strong> mares profun<strong>dos</strong>,<br />
controlando as águas, os rios, as ondas, as correntes e as marés. Na mitologia são-lhe também<br />
atribuí<strong>dos</strong> outros domínios, como os cavalos e os terramotos . Neptuno era também o dono da<br />
Atlântida. Este era um deus reconhecido pelos seus inúmeros casos amorosos, mas também<br />
pelo seu carácter temperamental, usando muitas vezes o seu poder de uma forma caprichosa.<br />
Por lidar com o domínio das águas, representando o nosso lado emocional denso e profundo,<br />
Neptuno traz ao horóscopo um campo por vezes difícil de entender e lidar. Ele representa o<br />
nosso Cristo interior, o Amor Universal, um lado espiritual de entrega e diluição com a<br />
entidade maior, com algo que é maior que nós próprios. Ele pede-nos a unificação pela fusão<br />
com o colectivo, exigindo-nos que aqui sejamos unos mas individuais. Se esta premissa não<br />
acontece “(…)é-se absorvido pela força colectiva, onde a identidade é anulada.” 3 Mas o<br />
carácter mais negro deste planeta, e por vezes o que é mais explorado, tem a ver com outro<br />
factor, o de este planeta trazer ao consciente os me<strong>dos</strong> mais profun<strong>dos</strong> que muitas vezes<br />
monopolizam a nossa acção. No entanto, isto apenas acontece pois Neptuno protagoniza na<br />
área onde exerce a sua força uma unificação <strong>dos</strong> sentimentos, diluindo-os e criando em nós<br />
um “vazio da alma” que liberta os nossos me<strong>dos</strong> e receios e que necessitamos de colmatar. O<br />
que na verdade ele faz, creio, é dar-nos a imagem desta unificação com o Todo, o que,<br />
consoante a consciência do indivíduo ou da situação, pode abrir caminhos de desenvolvimento<br />
pessoal e espiritual ou amplificar o lado negro da personalidade.<br />
Plutão<br />
Plutão era irmão de Júpiter e de Neptuno. Após ter sido salvo juntamente com o seu irmão<br />
Neptuno por Júpiter, é-lhe atribuída uma parte da ordem do mundo: o submundo. O que<br />
aparentemente seria a pior parte para dominar, revela-se na verdade ser a mais frutuosa, pois<br />
é no submundo que estão as verdadeiras riquezas da Terra. Plutão era assim o senhor do<br />
submundo, ele controlava o mundo <strong>dos</strong> mortos e não permitia aos seus súbditos saírem <strong>dos</strong><br />
seus domínios. A ligação ao submundo é permanente, quem entra nos domínios de Plutão fica<br />
para sempre a ele ligado.<br />
Este é um planeta muito complexo na Astrologia. A polémica à volta das considerações<br />
astronómicas tem sido argumento para muitas vezes colocar de parte este planeta. Mas creio<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
que isso também tem a ver com a importância que ele tem e com o efeito que provoca sobre<br />
cada um de nós enquanto parte de um todo. Não é fácil encarar Plutão de frente, pois ele<br />
representa a aceitação dolorosa do lado obscuro da nossa existência, ele é a morte que leva à<br />
redenção. Plutão traz-nos um processo que devemos aceitar e reverenciar, uma descida ao<br />
inferno do nosso ser para matar, purgar e reintegrar interiormente, de forma a poder revelar<br />
as riquezas do nosso interior. Por isso Plutão é tão temido e tão negligenciado, pois ele revela<br />
o nosso lado negro, o nosso outro eu poderoso e do qual tantas vezes fugimos.<br />
Não obstante o facto destes três planetas actuarem sobre o Eu, eles agem, tal como indicado,<br />
em termos geracionais, pois tome-se em atenção o facto de que Úrano, o mais rápido <strong>dos</strong> três,<br />
passa 7 anos em cada signo. É por isso que eles vão trazer desafios globais por geração que são<br />
ajusta<strong>dos</strong> em cada indivíduo consoante a casa onde se vai situar.<br />
Os bastidores – o desafio transpessoal<br />
Depois de entendermos o âmbito destes planetas, é necessário compreender como é que eles<br />
actuam sobre os indivíduos ou situações numa base de consciência.<br />
Se quisermos usar uma analogia, podemos comparar a vida como um teatro. Não é original, é<br />
um facto, mas encaremos as nossas vidas como peças em que não conhecemos os guiões.<br />
Aqui, na verdade, to<strong>dos</strong> somos espectadores uns <strong>dos</strong> outros, mas no palco demonstramos a<br />
nossa personagem e o ambiente em que ela se desenvolve. No entanto, é nos bastidores que<br />
se prepara a entrada <strong>dos</strong> cenários e das novas personagens.<br />
Ilustração 1 - Esquema de integração da Personalidade<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
O esquema acima reflecte o funcionamento estrutural da personalidade no seu ambiente. A<br />
dualidade, Sol e Lua, são a nossa base de existência, o lado original da construção da<br />
personagem. Estes são influencia<strong>dos</strong> pelos aspectos de personalidade, que são molda<strong>dos</strong> por<br />
Mercúrio, Vénus e Marte e que vão assim formando a personagem, dando-lhe os traços<br />
característicos, os jeitos, as formas de agir. Este conjunto, já por si só bastante complexo, é<br />
ainda moldado pela sociedade, pelo poder de Júpiter e Saturno, que veste a nossa personagem<br />
e a orienta nas suas opções e ideias, nas suas crenças e desafios.<br />
Mas é sobre este conjunto que vão actuar os planetas transpessoais. Não sobre a linha de<br />
influência mas sim sobre to<strong>dos</strong> em conjunto, conferindo-lhe uma perspectiva de<br />
transmutação. No nosso teatro, eles são os bastidores que orquestram a entrada e saída de<br />
cenários, de ambientes, a música de fundo e as luzes, criando-nos desafios acima de nós<br />
próprios e possibilitando-nos explorar as nossas capacidades.<br />
Este é o grande papel <strong>dos</strong> transpessoais, apresentar desafios de consciência a cada um de nós,<br />
mostrar-nos caminhos de desenvolvimento únicos. Por isso consideramos que os <strong>Planetas</strong><br />
<strong>Transpessoais</strong> são a Energia do Universo que nos faz transmutar para além do nosso Ego.<br />
Ilustração 2 - A integração <strong>dos</strong> transpessoais<br />
Isto faz-nos seguir uma perspectiva (que a mitologia já apresenta) de que a acção destes<br />
planetas é uma acção conjunta. É da interacção de Úrano com Neptuno que a acção e Plutão<br />
vai ser benéfica e desbloqueadora. Note-se que Úrano pede a Individuação e Neptuno pede a<br />
Unidade com o Todo. Aparentemente são duas coisas díspares, mas na verdade são um<br />
fortíssimo factor de integração de opostos. Quanto mais individuais nós somos no nosso<br />
percurso, mais diluí<strong>dos</strong> com o Todo conseguimos estar, permitindo uma integração que se<br />
auto-amplia e auto-alimenta. A individualidade sem o propósito do Todo é apenas um<br />
exercício egocêntrico e a diluição no Todo sem qualquer individualização traz-nos a entrega a<br />
algo que nos alimenta por momentos mas não nos constrói.<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
É desta integração e potenciação da individuação com a diluição com o Colectivo que Plutão<br />
pode agir construtivamente. Plutão leva-nos ao resgate da nossa riqueza interior, algo que por<br />
vezes pode ser destrutivo e violento. Para chegarmos a estas riquezas que residem dentro de<br />
nós temos muitas vezes de deitar abaixo tudo o que somos. Se o fizermos com a consciência<br />
do nosso papel criador (Úrano) e de ligação com o Colectivo (Neptuno), Plutão permite-nos<br />
trazer à luz as riquezas do nosso interior, fazendo-nos subir uma oitava no nosso nível de<br />
consciência. Mas se pelo contrário, tentamos lidar ou trabalhar directamente com as nossas<br />
riquezas interiores sem a devida preparação (integração de Úrano e Neptuno), corremos o<br />
risco de entrar em processo de autodestruição.<br />
A relação entre os transpessoais e os signos – a problemática das regências, co-<br />
regências e afinidades<br />
Aquando da descoberta destes planetas, os astrólogos preocuparam-se imediatamente em<br />
atribuir ligações com os signos. No entanto, isto nunca trouxe consenso, pois se no início<br />
atribuíram-se regências destes planetas a determina<strong>dos</strong> signos, mais tarde considerou-se que<br />
retirar as regências <strong>dos</strong> anterior seria demasiado, tendo passado essa regência a co-regência e,<br />
para alguns estudiosos, até se classificaram como sub-regências. Hoje continua-se em muitos<br />
círculos de estu<strong>dos</strong> a viver essa dualidade, não havendo consenso.<br />
Com o desenvolvimento deste estudo sobre os transpessoais, compreendemos que, na<br />
verdade talvez seja abusivo considerar regências ou co-regências, tais como as aplicamos<br />
sobre os restantes planetas em relação aos signos. No entanto, é indiscutível a relação<br />
próxima, a afinidade que cada um deles tem com um signo: Úrano a Aquário, Neptuno a Peixes<br />
e Plutão a Escorpião. Cremos que não é necessário explicar o porquê desta afinidade, pois<br />
basta compreender o que está atrás descrito em relação à energia destes planetas. Mas é<br />
importante justificar o porquê da não regência ou co-regência, pelo que apresentamos três<br />
razões que, em conjunto, permitem uma maior clarificação desta posição.<br />
A primeira e mais directa é descrita no ponto anterior e determina que a influência <strong>dos</strong><br />
transpessoais nota-se sobre o global e não sobre as pessoas ou sobre as sociedades. A sua<br />
influência é planetária e geracional, não afectando directamente a personalidade.<br />
A segunda razão é a de que os seus tempos de translação são superiores à média de uma vida<br />
humana. Úrano demora cerca de 84 anos a dar uma volta ao Sol, Neptuno cerca de 164 anos e<br />
Plutão cerca de 248 anos. Por isso, durante uma vida não recebemos a energia destes planetas<br />
por to<strong>dos</strong> os signos, podendo inclusive não chegar sequer à sua suposta regência, o que nos<br />
leva a considerar que o seu papel não está ligado directamente a um signo que possa reger<br />
mas sim sobre aspectos superiores a nós próprios, o que nos leva à terceira razão.<br />
Na terceira razão confirma-se a afinidade com os signos anteriormente referi<strong>dos</strong> mas pela<br />
energia das Eras Astrológicas. É a transição do Planeta pelas Eras Astrológicas que alimenta e<br />
traz a importância aos planetas 4 , demonstrando que o conceito astrológico destes surge<br />
quando a humanidade está “preparada” para o entender.<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
Esta razão, mais complexa e também por isso mais difícil de entender, juntamente com as<br />
anteriores, justificam uma afinidade destes planetas transpessoais com os três signos, mas<br />
consideramos que atribuir uma regência ou uma co-regência é convencionalista e redutora,<br />
pois se tomarmos como exemplo uma pessoa cuja energia principal é a de Escorpião,<br />
estaríamos a atribuir o papel de planeta regulador desta pessoa a um planeta (Plutão) cujo<br />
intuito é a destruição, a morte simbólica e o resgate interior. Isto só por si não atribui<br />
qualquer estrutura ou dinâmica de personalidade, como Marte faria, neste caso; e com alguma<br />
facilidade chegamos à mesma conclusão relativamente aos outros dois planetas transpessoais.<br />
Os <strong>Planetas</strong> <strong>Transpessoais</strong> como processos evolutivos<br />
A ideia de afinidade entre os planetas transpessoais e os signos leva-nos a outra ideia<br />
igualmente importante, a das ligações entre os transpessoais e os restantes planetas. Sendo<br />
assim, e bastando uma pequena reflexão sobre o indicado anteriormente, entende-se que com<br />
os luminares, Sol e Lua, os transpessoais têm uma influência sobre a nossa base dual, sobre os<br />
nossos dois pólos. Em contrapartida, com os planetas sociais, Júpiter e Saturno, a influência vai<br />
recair sobre a nossa ligação com o meio em que estamos inseri<strong>dos</strong>.<br />
Mas isto leva-nos igualmente à conclusão que com os planetas pessoais a influência <strong>dos</strong><br />
transpessoais é directa, pois estes últimos estão, como o próprio nome indica, além <strong>dos</strong><br />
primeiros. Eles representam, assim, a evolução <strong>dos</strong> planetas pessoais, eles são as suas Oitavas<br />
Superiores.<br />
As Oitavas Superiores são as energias <strong>dos</strong> planetas pessoais elevadas por subida de nível de<br />
consciência, levando a que estes sejam sublima<strong>dos</strong> pelo trabalho interior e pessoal exercido,<br />
que é estimulado pelo correspondente superior.<br />
Assim, entende-se que Úrano é a oitava superior de Mercúrio, Neptuno de Vénus e Marte de<br />
Plutão. Se considerarmos as energias <strong>dos</strong> planetas pessoais e compararmos com as <strong>dos</strong><br />
transpessoais já aqui explicadas, vamos concluir que a sua semelhança reside no ponto de<br />
partida 5 , mas concordamos que os transpessoais levam a energia <strong>dos</strong> pessoais a pontos mais<br />
eleva<strong>dos</strong>.<br />
Por isso, os planetas transpessoais demonstram ser processos evolutivos que vivemos<br />
intrinsecamente e de forma global. Como tal, eles são uma espécie de mapa que revela os<br />
caminhos de desenvolvimento por actuação sobre os planetas pessoais.<br />
Podemos encará-los como charadas que, ao serem desvendadas, abrem portais de consciência<br />
de desenvolvimento. Se quisermos olhar para esta relação de oitava superior de outra forma,<br />
podemos dizer que os transpessoais são os grandes orientadores, demonstrando que Úrano é<br />
o grande desafio de Mercúrio, Neptuno o de Vénus e Marte o de Plutão, o que, em nossa<br />
opinião, reforça o carácter esotérico e revelador de consciência que os transpessoais trazem à<br />
Astrologia.<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
Muito para além do simples desafio de um acontecimento ou de uma personalidade, os<br />
transpessoais trazem à Astrologia a necessidade de olhar o ser humano como um ser<br />
evolucional e espiritual, com desafios que o transportam para além de si mesmo.<br />
Conclusão<br />
Sendo provavelmente um <strong>dos</strong> mais controversos temas da Astrologia moderna, os planetas<br />
transpessoais revelam-se através deste estudo como os Grandes Mestres Espirituais que<br />
residem na centelha divina de cada um de nós.<br />
O primeiro ponto que devemos reter tem a ver com o facto de este ser o factor de cisão da<br />
Astrologia <strong>dos</strong> tempos modernos, trazendo uma dimensão psicológica e esotérica à análise do<br />
horóscopo como até ali não existia. É sob esta premissa que podemos encarar os transpessoais<br />
como energias estruturais de desenvolvimento pessoal e espiritual no sentido de<br />
autoconhecimento. Eles revelam a necessidade estruturada e evolutiva de subida de<br />
consciência para níveis de maior compreensão do nosso lugar no Todo Colectivo.<br />
Da sua análise num horóscopo podemos, primeiro que tudo, entender os pontos de inflexão<br />
na personalidade, desafios globais que vão mexer com o nosso eu e nos vão impelir para lá de<br />
nós mesmos. Por outro lado, os planetas transpessoais vão indicar-nos o caminho para<br />
transcendermos a nossa própria personalidade, funcionando como um mapa que nos dá as<br />
direcções de desenvolvimento e evolução através da acção sobre os planetas pessoais.<br />
A dimensão esotérica destes planetas reside assim na percepção que existe mais em nós do<br />
que nós mesmos, que tem de ser explorado pela interacção entre o desafio de individualidade<br />
que é Úrano e o de diluição consciente com o Todo que é Neptuno. Apenas sendo Unos no<br />
Todo podemos resgatar a essência do nosso eu profundo que Plutão nos solicita.<br />
Desta forma, percebemos que os planetas transpessoais encerram em si uma dimensão<br />
esotérica muito profunda, um conhecimento individual projectado no colectivo, tornando-se<br />
assim verdadeiros motores de transformação das sociedades e das pessoas nelas inseridas.<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011
Bibliografia<br />
LIVROS<br />
FAIVRE, Antoine e Wouter J. Hanegraaff (1998), Western Esotericism and the Science of<br />
Religion. Ed. Peeters. Leuven<br />
RESINA, Luis (2001), Guia de Interpretação Astrológica. Pergaminho. Lisboa<br />
RUDHYAR, Dane (1972), As Casas Astrológicas. Ed. Pensamento. São Paulo<br />
SASPORTAS, Howard (1985), As Doze Casas. Ed. Pensamento. São Paulo<br />
WEBSITES<br />
Encyclopedia Mythica – www.pantheon.org<br />
Wikipedia – www.wikipedia.org<br />
PALESTRAS<br />
MONSARAZ, Maria Flávia, “Úrano, Neptuno e Plutão – os arquétipos vivos”, in Congresso<br />
Ibérico de Astrologia. 13 de Maio de 2010, Estoril<br />
1 Antoine Faivre, Wouter J. Hanegraaff , Western Esotericism and the Science of Religion, Ed. Peeters,<br />
1998, página 2.<br />
2 Neste trabalho não foi feita distinção entre os nomes gregos e os nomes romanos <strong>dos</strong> deuses,<br />
propositadamente para usar apenas a nomenclatura usada na Astrologia.<br />
3 Maria Flávia de Monsaraz, “Úrano, Neptuno e Plutão – os arquétipos vivos”, Palestra inserida no<br />
Congresso Ibérico de Astrologia, 13 de Maio de 2010<br />
4 Note-se que é na Era de Leão que a Humanidade adora o Sol, passando depois, na Era de Caranguejo,<br />
a valorizar a Lua e o Feminino. Na Era de Gémeos surgem a roda, a escrita e as estradas, territórios de<br />
Mercúrio, enquanto que na Era de Touro o homem sedentariza-se, cultivando e criando o casamento<br />
como uma instituição, domínios de Vénus. Na Era de Carneiro surgem os grandes impérios e as grandes<br />
conquistas pela guerra, domínios de Marte, assim como o controlo <strong>dos</strong> povos pelo poder e submissão às<br />
normas, apanágios de Júpiter e Saturno. Seguiu-se a Era de Peixes, em que ainda vivemos, a Era das<br />
Grandes Religiões e das ideologias, do grande desenvolvimento da Humanidade. Se durante mais de um<br />
milénio desta Era viveu-se um desenvolvimento lento, muito toldado ainda por energias de domínio e<br />
imposição radical de fé, é com o caminhar da Era de Peixes para o seu final, a partir do século XV, com a<br />
força oposta de Virgem a actuar, trazendo os descobrimentos, e depois mais tarde a tecnologia, o<br />
mental e o racional, que a mente humana abre-se a novos conceitos, permitindo o aparecimento <strong>dos</strong><br />
planetas transpessoais.<br />
5 Note-se que se Mercúrio tem a ver com o pensamento, linguagem e criatividade, Úrano é a mente<br />
criativa superior, a verdadeira mente cósmica. Por sua vez, se Vénus tem a ver com o amor e como<br />
lidamos com os sentimentos de ligação ao outro, Neptuno refere-se o Amor Universal e Incondicional e<br />
como nos diluímos não só com o outro mas principalmente com o Todo. Por fim, se Marte é a energia<br />
de acção, decisão e atitude, Plutão é a sublimação desta energia para o resgate interior; se Marte é o<br />
incêndio numa floresta, Plutão é a abertura das sementes e a limpeza do terreno trazida pelo fogo.<br />
Leonardo Figueiredo Mansinhos CEIA 2011