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O que é jornalismo de investigação?

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Eram Woodward e Bernstein realmente lobos<br />

solitários <strong>que</strong> ‘<strong>de</strong>rrubaram um presi<strong>de</strong>nte’?<br />

O <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong>?<br />

Muitos jornalistas só ficaram a saber do famoso escândalo <strong>de</strong> Watergate a partir do filme. Mas a versão cinematográfica, e<br />

por conseguinte a i<strong>de</strong>ia prevalecente sobre Woodward e Bernstein como lobos solitários, <strong>é</strong> incompleta e simplista. Alicia C.<br />

Shepherd, no seu livro “Woodward e Bernstein: Vida à Sombra do Watergate”, indica <strong>que</strong> outros órgãos <strong>de</strong> comunicação social<br />

(incluindo a CBS, o New York Times e o Los Angeles Times) contribuíram com as suas próprias reportagens profundas, <strong>que</strong> houve<br />

um sólido trabalho <strong>de</strong> equipa no próprio jornal dos dois repórteres, o Washington Post, e <strong>que</strong> ‘o <strong>de</strong>rrube do Presi<strong>de</strong>nte’ tamb<strong>é</strong>m<br />

envolveu outros actores <strong>de</strong>ntro do sistema dos EUA como tribunais, júris <strong>de</strong> acusação e comissões do congresso. Os dois<br />

jornalistas sempre indicaram <strong>que</strong> nada acontece no vazio e o reconhecimento <strong>de</strong>ste facto não retira nada aos seus esforços<br />

corajosos, <strong>de</strong>terminados e consi<strong>de</strong>ráveis.<br />

7 Capacida<strong>de</strong>s jornalísticas bem <strong>de</strong>senvolvidas<br />

Isto não significa <strong>que</strong> <strong>é</strong> necessário ter um diploma universitário em <strong>jornalismo</strong>. Mas <strong>é</strong> necessário ter suficiente formação ou<br />

experiência, ou ambas, para saber como i<strong>de</strong>ntificar fontes, planificar a pesquisa <strong>de</strong> uma mat<strong>é</strong>ria, conduzir boas entrevistas (e <strong>de</strong>tectar<br />

respostas <strong>que</strong> soam falsas), assim como redigir com rigor e para informar. Teremos tamb<strong>é</strong>m <strong>de</strong> saber quando chegamos ao limite<br />

das nossas capacida<strong>de</strong>s e ter a humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedir conselhos ou ajuda. Se formos relativamente inexperientes, um bom trabalho<br />

<strong>de</strong> equipa (mais uma vez) ajudar-nos-á a explorar as competências <strong>de</strong> outros quando isto acontece. Por vezes, pessoas <strong>que</strong> não<br />

têm experiência <strong>de</strong> <strong>jornalismo</strong> possuem esta capacida<strong>de</strong>. Os pesquisadores e os trabalhadores comunitários muitas vezes tamb<strong>é</strong>m<br />

receberam formação para entrevistar, assim como i<strong>de</strong>ntificar e peneirar factos, embora possam precisar <strong>de</strong> ajuda <strong>de</strong> especialistas <strong>de</strong><br />

salas <strong>de</strong> redacção para preparar uma mat<strong>é</strong>ria com vista a ser atractiva e acessível para os leitores, os ouvintes ou os telespectadores.<br />

Analisaremos t<strong>é</strong>cnicas eficazes <strong>de</strong> escrita e narração no Capítulo 7.<br />

8 Ampla cultura geral e boa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa<br />

O entendimento do contexto da nossa <strong>investigação</strong> po<strong>de</strong> ajudar-nos a evitar becos sem saída e <strong>de</strong>tectar factos e <strong>que</strong>stões<br />

pertinentes. Mas, se a <strong>investigação</strong> nos levar a uma área com <strong>que</strong> não estejamos familiarizados, <strong>de</strong>vemos ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos<br />

familiarizarmos rapidamente com pelo menos os antece<strong>de</strong>ntes, as convenções, a terminologia, os actores e as <strong>que</strong>stões <strong>de</strong>ssa área.<br />

A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter uma conversa <strong>de</strong> pesquisa e recolha <strong>de</strong> informação com um perito, <strong>de</strong> usar motores <strong>de</strong> buscas na Internet ou<br />

localizar e ler rapidamente livros úteis são todos aspectos vitais aqui. Acima <strong>de</strong> tudo, temos <strong>de</strong> ler – tudo, sempre <strong>que</strong> tivermos<br />

tempo para isso. Nunca sabemos quando uma pe<strong>que</strong>na experiência do passado se po<strong>de</strong> revelar útil para o nosso trabalho.<br />

9 Determinação e paciência<br />

O <strong>jornalismo</strong> <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> levar-nos-á perante todo o tipo <strong>de</strong> obstáculos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fontes <strong>que</strong> <strong>de</strong>saparecem a registos <strong>que</strong><br />

não existem, chefes <strong>de</strong> redacção com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprimir a nossa mat<strong>é</strong>ria por<strong>que</strong> <strong>é</strong> longa ou cara <strong>de</strong> mais. Só a nossa própria<br />

motivação e a convicção <strong>de</strong> <strong>que</strong> a nossa mat<strong>é</strong>ria tem m<strong>é</strong>rito <strong>é</strong> <strong>que</strong> nos ajudarão a ir at<strong>é</strong> ao fim daquilo <strong>que</strong> <strong>é</strong> muitas vezes um longo<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas.<br />

10 Sentido <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong>ontologia sólida<br />

As reportagens <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> po<strong>de</strong>m colocar a segurança, o emprego e mesmo a vida das fontes em perigo. Tamb<strong>é</strong>m<br />

encerram o risco <strong>de</strong> colocar as pessoas visadas em perigo similar se forem feitas acusações levianas. Assim, um repórter <strong>de</strong><br />

<strong>investigação</strong> <strong>de</strong>ve ter um conjunto sólido e explicitamente consciente <strong>de</strong> <strong>é</strong>tica pessoal, para garantir <strong>que</strong> as fontes e os visados sejam<br />

tratados com respeito e, na medida do possível, protegidos <strong>de</strong> danos. Al<strong>é</strong>m disso, as salas <strong>de</strong> redacção <strong>que</strong> apoiam investigações<br />

<strong>de</strong>vem pautar-se por códigos <strong>de</strong> <strong>é</strong>tica e ter um processo estabelecido para discutir e resolver dilemas <strong>é</strong>ticos. Por vezes, a confiança<br />

pública <strong>é</strong> a nossa melhor protecção e per<strong>de</strong>mos essa confiança sem nos portarmos <strong>de</strong> modo anti<strong>é</strong>tico. Mais sobre este assunto no<br />

Capítulo 8.<br />

11 Discrição<br />

A fofoca não contribui para o bom <strong>jornalismo</strong>. Conforme vimos, conversa irresponsável po<strong>de</strong> colocar uma <strong>investigação</strong> – e<br />

vidas – em risco. Por<strong>é</strong>m, alem disso, po<strong>de</strong> alertar rivais comerciais <strong>que</strong> divulgarão <strong>de</strong>pois a nossa mat<strong>é</strong>ria em exclusivo, ou alertar as<br />

pessoas a entrevistar antes <strong>de</strong> termos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar com elas. De formas muito diversas, falar <strong>de</strong> mais po<strong>de</strong> sabotar uma<br />

mat<strong>é</strong>ria.<br />

12 Patriotismo<br />

Os jornalistas <strong>de</strong> <strong>investigação</strong> são muitas vezes atacados como ‘antipatrióticos’, mas não <strong>é</strong> assim <strong>que</strong> olhamos para o nosso<br />

papel. Acreditamos <strong>que</strong> o <strong>que</strong> investigamos e <strong>de</strong>scobrimos <strong>é</strong> motivado por uma preocupação pelo interesse público e por<br />

aquilo <strong>que</strong> melhorará a nossa comunida<strong>de</strong>. E<strong>de</strong>m Djokotoe, radicado na Zâmbia, adverte: “Po<strong>de</strong>mos ter as melhores capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> pesquisa e redacção no mundo, mas se não formos motivados por convicções pessoais a fim <strong>de</strong> contribuir com as nossas<br />

competências para o bem da nossa socieda<strong>de</strong> como cidadãos, a nossa mat<strong>é</strong>ria carecerá <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> e alma.”<br />

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