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A cidade e as serras - a casa do espiritismo

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Repetidamente, nos nossos p<strong>as</strong>seios através da Quinta, ele lhe notava a<br />

solidão.<br />

-Faltam aqui animais, Zé Fernandes!<br />

Imaginava eu que ele apetecia em Tormes o ornato elegante de vea<strong>do</strong>s e<br />

pavões. M<strong>as</strong> um Domingo, costean<strong>do</strong> o largo campo da Ribeirinha, sempre<br />

esc<strong>as</strong>so de águ<strong>as</strong>, agora mais ressequi<strong>do</strong> pôr Verão de tanta secura, o meu<br />

Príncipe parou a considerar os três carneiros <strong>do</strong> c<strong>as</strong>eiro, que retouçavam com<br />

penúria uma relvagem pobre.<br />

E, de repente, como magoa<strong>do</strong>:<br />

-Justamente! Aqui está o espaço para um belo pra<strong>do</strong>, um imenso pra<strong>do</strong>,<br />

muito verde, muito farto, com rebanhos de carneiros brancos gordíssimos como<br />

bol<strong>as</strong> de algodão pousad<strong>as</strong> na relva!... Era lin<strong>do</strong>, hem? É fácil, não é verdade,<br />

Zé Fernandes?<br />

-Sim... Trazes a água para o pra<strong>do</strong>. Águ<strong>as</strong> não faltam na serra.<br />

E o meu Príncipe, encadean<strong>do</strong> logo nesta inspirada idéia outra, mais rica e<br />

v<strong>as</strong>ta, lembrou quanta beleza daria a Tormes encher esses pra<strong>do</strong>s, esses verdes<br />

ferregiais, de manad<strong>as</strong> de vac<strong>as</strong>, formos<strong>as</strong> vac<strong>as</strong> ingles<strong>as</strong>, bem nédi<strong>as</strong> e bem<br />

luzidi<strong>as</strong>. Hem? Uma beleza. Para abrigar esses ga<strong>do</strong>s ricos, construiria currais<br />

perfeitos, duma arquitetura leve e útil, toda em ferro e vidro, fundamente<br />

varri<strong>do</strong>s pelo ar, largamente lava<strong>do</strong>s pela água... Hem? Que formosura! Depois,<br />

com tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> vac<strong>as</strong>, e o leite jorran<strong>do</strong>, nada mais fácil e mais diverti<strong>do</strong>, e<br />

até mais moral, que a instalação duma queijeira, à fresca moda holandesa, toda<br />

branca e reluzente, de azulejos e de mármore, para fabricar os Camemberts, os<br />

Bries... os Coulommiers... Para a c<strong>as</strong>a, que conforto! E para toda a serra, que<br />

atividade!<br />

-Pois não te parece, Zé Fernandes?<br />

-Com certeza. Tu tens, em abundância, os quatro elementos: o ar, a água,<br />

a terra, e o dinheiro. Com estes quatro elementos, facilmente se faz uma<br />

grande lavoura. Quanto mais uma queijeira!<br />

-Pois não é verdade? E até como negócio! Está claro, para mim o lucro é o<br />

deleite moral <strong>do</strong> trabalho, o emprego fecun<strong>do</strong> <strong>do</strong> dia... M<strong>as</strong> uma queijaria,<br />

<strong>as</strong>sim perfeita, rende. Rende prodigiosamente. E educa o paladar, incita a<br />

instalações iguais, implanta talvez no pais uma indústria nova e rica! Ora, com<br />

essa instalação perfeita, quanto me poderá custar cada queijo?<br />

Fechei um olho, calculan<strong>do</strong>:<br />

-Eu te digo... Cada queijo, um desses queijinhos re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s, como o<br />

Camembert ou o Rabaçal, pode vir a custar-te, a ti Jacinto queijeiro, entre<br />

duzentos e cinqüenta e trezentos mil-réis.<br />

O meu Príncipe recuou, com os olhos alegres espanta<strong>do</strong>s para mim.<br />

-Como trezentos mil-réis?<br />

-Ponhamos duzentos... Tem certeza! Com to<strong>do</strong>s esses pra<strong>do</strong>s, e os<br />

encantamentos de água, e a configuração de serra alterada, e <strong>as</strong> vac<strong>as</strong><br />

ingles<strong>as</strong>, e os edifícios de porcelana e vidro, e <strong>as</strong> máquin<strong>as</strong>, a extravagância, e<br />

a patuscada bucólica, cada queijo te custa, a ti produtor, duzentos mil-réis. M<strong>as</strong><br />

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