19.04.2013 Views

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

A cidade e as serras - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

cálice de genebra: e retomou <strong>as</strong> su<strong>as</strong> cart<strong>as</strong>, anuncian<strong>do</strong> também que vinha aí<br />

uma trovoada valente.<br />

Voltan<strong>do</strong> à sala, encontrei Jacinto muito alegre entre <strong>as</strong> senhor<strong>as</strong>, que se<br />

familiarizaram, escutan<strong>do</strong>, chei<strong>as</strong> de riso e gosto, a história da sua chegada a<br />

Tormes, sem mal<strong>as</strong>, sem cria<strong>do</strong>s, tão desprovi<strong>do</strong> que <strong>do</strong>rmira com a camisa da<br />

c<strong>as</strong>eira! M<strong>as</strong> a minha pobre noite de anos findava, desorganizada. A tia<br />

Albergaria rondava de janela em janela, <strong>as</strong>sustada com a volta à Roqueirinha,<br />

espreitan<strong>do</strong> a treva abafada. Calçan<strong>do</strong> lentamente <strong>as</strong> luv<strong>as</strong>, a bela mulher <strong>do</strong><br />

Dr. Alípio perguntava se ainda havia a remissa. E a tia Vicência apressara o chá,<br />

que o Manuel, segui<strong>do</strong> pela Gertrudes, com a bandeja de bolos, já começava a<br />

servir às senhor<strong>as</strong>. Jacinto, de pé, oferecen<strong>do</strong> cháven<strong>as</strong>, gracejava:<br />

-Então tanta pressa, tanto me<strong>do</strong>, pôr causa duma trovoadinha?<br />

El<strong>as</strong> replicavam, familiarizad<strong>as</strong>, numa crescente simpatia pelo meu<br />

Príncipe:<br />

-Ora o senhor fala bem, porque fica debaixo de telh<strong>as</strong>...<br />

-Sempre o queríamos ver... se fosse agora para Tormes, com esta noite<br />

cerrada!<br />

O volante findara n<strong>as</strong> du<strong>as</strong> mes<strong>as</strong>: e aqueles cavalheiros, d<strong>as</strong> janel<strong>as</strong>,<br />

gritavam ordens para o pátio negro, onde <strong>as</strong> carruagens esperavam atrelad<strong>as</strong>:<br />

-Desce a cabeça da vitória, ó Diogo!<br />

-Acende o lampião, Pedro! Sempre ajuda a luz d<strong>as</strong> lantern<strong>as</strong>.<br />

A criada Quitéria chagava à porta com os braços carrega<strong>do</strong>s de xales, de<br />

mantilh<strong>as</strong> de renda. Como uma d<strong>as</strong> Albergari<strong>as</strong> ia no <strong>as</strong>sento de diante, na<br />

vitória, eu corri a buscar o meu c<strong>as</strong>aco de borracha, para ela se abrigar, se a<br />

chuva viesse. E só o D. Teotônio, que tinha até c<strong>as</strong>a apen<strong>as</strong> meia légua de<br />

estrada boa, se não apressava, filia<strong>do</strong> outra vez no meu Príncipe, que levava<br />

para os cantos mais solitários, em convers<strong>as</strong> profund<strong>as</strong>, que o seu de<strong>do</strong> solene,<br />

espeta<strong>do</strong>, sublinhava gravemente. M<strong>as</strong> a tia Albergaria gritou que já chovia – e<br />

então foi uma pressa d<strong>as</strong> senhor<strong>as</strong>, que beijocavam vivamente a tia Vicência,<br />

enquanto os homens, na antecâmara, enfiavam açodadamente os paletós.<br />

Jacinto e eu descemos ao pátio para acompanhar aquela debandada – e<br />

uma a uma, a traquitana <strong>do</strong> Dr. Alípio, a vitória d<strong>as</strong> Albergari<strong>as</strong> a velha e<br />

imensa caleche <strong>do</strong>s Velosos, rolaram sob a noite, entre os nossos desejos de<br />

boa jornada. Pôr fim D. Teotônio calçou <strong>as</strong> luv<strong>as</strong> pret<strong>as</strong> e entrou para sua<br />

caleche, dizen<strong>do</strong> a Jacinto:<br />

-Pois, primo e amigo, Deus permita que, <strong>do</strong> nosso encontro, e <strong>do</strong> mais que<br />

se p<strong>as</strong>sar, algum bem resulte a esta terra!<br />

Subin<strong>do</strong> a escada, o meu Príncipe desabafou:<br />

-Este Teotônio é extraordinário! Sabes o que descobri pôr fim?... Que me<br />

toma pôr um miguelista, e imagina que eu vim para Tormes preparar a<br />

rstauração de D. Miguel?!<br />

-E tu?<br />

-Eu fiquei tão espanta<strong>do</strong>, que nem o desiludi!<br />

130

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!