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Conservação do Papel de Parede Histórico

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<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico<br />

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<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> <strong>Papel</strong> <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong> <strong>Histórico</strong><br />

http://www.buildingconservation.com/articles/wallpap/wallpap.htm<br />

Phillipa Mapes<br />

Pormenor <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilo ‘Gótico’ <strong>do</strong>s princípios <strong>do</strong><br />

século XVIII, estampa<strong>do</strong> manualmente com tintas <strong>de</strong> têmpera.<br />

Tradução por António <strong>de</strong> Borja Araújo, Engenheiro Civil, I.S.T., Maio <strong>de</strong> 2007


<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico<br />

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Os acabamentos <strong>de</strong>corativos têm tanto impacto sobre o carácter <strong>de</strong> um interior como qualquer<br />

elemento ou material arquitectónico. Os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, em especial, estão entre os mais significativos,<br />

não só por causa <strong>do</strong> impacto visual <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senho, da sua cor e <strong>do</strong> seu acabamento, mas também por<br />

causa da elevada proporção da área superficial <strong>do</strong> interior que po<strong>de</strong> ser afectada. Actualmente os papéis<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos também estão a atrair um interesse crescente, por direito próprio, como objectos <strong>de</strong><br />

arte e <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração. No entanto eles estão entre os mais vulneráveis elementos <strong>de</strong> um edifício, sujeitos às<br />

alterações <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong> gostos, aos danos aci<strong>de</strong>ntais e à <strong>de</strong>gradação, e são raros os exemplos<br />

sobreviventes em interiores históricos, o que confere ainda mais importância à sua conservação e<br />

compreensão.<br />

A conservação <strong>do</strong>s papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos baseia-se nas competências <strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

papel treina<strong>do</strong>. Como elemento <strong>do</strong> interior histórico, a sua conservação <strong>de</strong>ve, necessariamente, apoiar-se<br />

nas competências da pintura em cavalete, da pintura mural e também <strong>do</strong>s conserva<strong>do</strong>res têxteis, e, sen<strong>do</strong><br />

um elemento da fábrica <strong>do</strong> edifício, também po<strong>de</strong> envolver ligações próximas com arquitectos, consultores<br />

sobre edifícios históricos e outros especialistas, especialmente no que disser respeito à <strong>de</strong>gradação.<br />

Em simultâneo com esta abordagem multidisciplinar, o conserva<strong>do</strong>r também <strong>de</strong>ve estar apto a<br />

reconhecer os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> época e os estilos que não só encorajam a apreciação, mas também ajudam<br />

a i<strong>de</strong>ntificar os materiais e as técnicas <strong>de</strong> manufactura contemporâneos. Por seu la<strong>do</strong>, estes têm peso na<br />

escolha <strong>do</strong> tratamento <strong>de</strong> conservação.<br />

ANTECEDENTES HISTÓRICOS<br />

O papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> mais antigo que se conhece na Grã-bretanha data <strong>de</strong> 1509 e foi encontra<strong>do</strong><br />

recobrin<strong>do</strong> as vigas <strong>do</strong> Dining Hall no Christ’s College, em Cambridge. Este papel foi impresso em<br />

monocromia, com blocos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira grava<strong>do</strong>s, sobre o verso <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> folha única. Estes papéis<br />

antigos eram, geralmente, feitos à mão a partir <strong>de</strong> pedaços reconstituí<strong>do</strong>s; eram coladas pequenas folhas<br />

entre si, ao correr <strong>de</strong> uma aresta, para se formar um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> comprimento, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois impressos<br />

com um bloco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou com um stencil (ou uma combinação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is), usan<strong>do</strong>-se tintas à base <strong>de</strong><br />

têmpera ou <strong>de</strong> óleo. Este tipo <strong>de</strong> produção tornou-se a norma para os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> até à<br />

industrialização no século XIX.<br />

Nesta altura, o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> proporcionava uma alternativa menos dispendiosa aos têxteis<br />

suspensos. Assim sen<strong>do</strong>, os <strong>de</strong>senhos imitavam as modas para os têxteis contemporâneos. Os “flock<br />

wallpapers” 1 , que eram produzi<strong>do</strong>s salpican<strong>do</strong>-se lã cortada sobre um <strong>de</strong>senho impresso com cola, eram<br />

reproduções <strong>de</strong>liberadas <strong>do</strong>s cortina<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> da época em damasco e em velu<strong>do</strong> apara<strong>do</strong>. Apesar<br />

da sua reputação actual ser bastante ignóbil, os “flock wallpapers” eram artigos caros e <strong>de</strong> prestígio e, tal<br />

como a maioria <strong>do</strong>s papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, eram bastante populares entre as classes ricas e segui<strong>do</strong>ras da<br />

moda.<br />

O papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> também era importa<strong>do</strong> da China, quer sob a forma <strong>de</strong> papel oriental, quer <strong>de</strong><br />

seda. Estes eram requintadamente pinta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma a exibirem jardins <strong>de</strong> flores, árvores e pássaros, ou<br />

cenas da vida quotidiana tradicional na China. Graças à sua beleza e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução, estes papéis<br />

tornaram-se um lugar comum na maioria das casas senhorias da Grã-bretanha, durante os séculos XVIII e<br />

XIX, e ainda são importantes para a sobrevivência <strong>de</strong>stas na actualida<strong>de</strong>.<br />

1 N.T. – <strong>Papel</strong> <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> aveluda<strong>do</strong>.


<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico<br />

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Por mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> século XIX, a produção <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> juntou-se à revolução industrial. A<br />

crescente procura <strong>de</strong>ste papel foi satisfeita pela utilização da polpa <strong>de</strong> maneira, que era rápida e<br />

economicamente processada, mas que resultava inicialmente num papel áci<strong>do</strong> <strong>de</strong> fraca qualida<strong>de</strong>. Os<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos na maquinaria para a fabricação <strong>de</strong> papel permitiram que passassem a ser produzi<strong>do</strong>s<br />

papéis contínuos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> comprimento. Por seu la<strong>do</strong>, estes podiam ser impressos usan<strong>do</strong>-se as novas<br />

máquinas com rolos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou metálicos. Os <strong>de</strong>senvolvimentos complementares na produção <strong>de</strong><br />

tintas também proporcionaram a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas e mais variadas cores, nas quais se incluem<br />

algumas experiências <strong>do</strong> século XIX com ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> arsénico.<br />

Em paralelo com a corrida pela mecanização, alguns fabricantes ainda estavam a produzir papéis<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong> estampa<strong>do</strong>s com blocos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; entre eles, o cabeça <strong>do</strong> movimento Arts and Crafts,<br />

William Morris, que editou o seu primeiro papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> em 1864. Era forte a concorrência com os<br />

habituais rivais <strong>do</strong>s ingleses, os franceses, que estavam a produzir papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> cénicos<br />

incrivelmente elabora<strong>do</strong>s para um merca<strong>do</strong> Britânico muito aprecia<strong>do</strong>r. Estes enormes “panorâmicos”<br />

consistiam, geralmente, em paisagens ou vistas não repetitivas que se <strong>de</strong>senvolviam, continuamente, em<br />

re<strong>do</strong>r da sala e que podiam exigir o entalhe <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1.000 blocos para se imprimirem os diferentes<br />

elementos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho.<br />

Continuaram a parecer inovações, que criaram uma procura por novos tipos e novos <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong><br />

papel. Pelos finais <strong>do</strong> século XIX, tornaram-se populares os papéis com relevo, tais como o Lincrusta<br />

Walton, e, em especial, os papéis resistentes à humida<strong>de</strong>, que foram especificamente produzi<strong>do</strong>s para as<br />

casas <strong>de</strong> banho e para as cozinhas, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>senvolveram os “sanitários”, os quais eram<br />

mecanicamente impressos com óleos e, <strong>de</strong>pois, enverniza<strong>do</strong>s.<br />

Apesar <strong>de</strong> a industrialização <strong>do</strong> fabrico <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> ser, frequentemente, associada ao<br />

aparecimento <strong>de</strong> materiais e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> fraca qualida<strong>de</strong>, foram produzi<strong>do</strong>s muitos bons exemplos<br />

que ainda po<strong>de</strong>m ser aprecia<strong>do</strong>s na actualida<strong>de</strong>. Deve-se, também, assinalar que esta produção<br />

crescente proporcionou a oportunida<strong>de</strong> para to<strong>do</strong>s os níveis da socieda<strong>de</strong>, com a excepção <strong>do</strong>s muito<br />

pobres, po<strong>de</strong>rem comprar e usufruir <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, e terem orgulho na <strong>de</strong>coração das suas casas.<br />

DEGRADAÇÃO DO PAPEL DE PAREDE<br />

Para se realçarem os principais tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação que afectam in situ os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, as<br />

suas causas po<strong>de</strong>m ser grosseiramente divididas em factores “externos” e “internos”.<br />

FACTORES EXTERNOS<br />

Tal como todas as obras <strong>de</strong> arte feitas sobre papel, os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos estão<br />

susceptíveis a danos por exposição à luz e às flutuações da temperatura e da humida<strong>de</strong> relativa.<br />

Combina<strong>do</strong>s com os efeitos <strong>do</strong>s poluentes atmosféricos, estes factores po<strong>de</strong>m provocar a <strong>de</strong>struição da<br />

camada <strong>de</strong> tinta e <strong>do</strong> suporte <strong>de</strong> papel. Po<strong>de</strong>m aparecer mais problemas em consequência <strong>de</strong> respostas<br />

diferenciadas das diversas laminações das superfícies <strong>de</strong>corativas e <strong>do</strong>s seus substratos às condições<br />

ambientais, pelo que a conservação <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve ser encarada como sen<strong>do</strong> apenas o<br />

tratamento <strong>do</strong> próprio papel. O papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, as colas, os forros, as telas, as fasquias <strong>do</strong> estuque e<br />

outros elementos po<strong>de</strong>m, cada qual, respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma diferente às variações <strong>de</strong> temperatura e <strong>de</strong><br />

humida<strong>de</strong>, por exemplo, e os movimentos dimensionais variáveis são feitos, frequentemente, às custas da


<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico<br />

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camada mais fraca – o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>. Tais condições são magnificadas nos edifícios históricos, on<strong>de</strong> os<br />

respectivos papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> já suportaram as alterações sazonais, a iluminação e o aquecimento com<br />

velas, os fogões <strong>de</strong> óleo e <strong>de</strong> lenha, bem como a instalação <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> aquecimento central e a<br />

redução da ventilação.<br />

Os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos também são susceptíveis aos danos consequentes <strong>do</strong>s problemas<br />

estruturais <strong>do</strong> próprio edifício. As fissuras nas pare<strong>de</strong>s, consequentes <strong>do</strong>s movimentos e <strong>do</strong>s<br />

assentamentos, po<strong>de</strong>m introduzir esforços e enrugar o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> na superfície, assim como as<br />

infiltrações e os pontos <strong>de</strong> humida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m provocar o aparecimento <strong>de</strong> manchas, encorajar o<br />

crescimento <strong>de</strong> bolor e o enfraquecimento físico <strong>do</strong> papel, <strong>do</strong>s pigmentos e das colas. Os papéis <strong>de</strong><br />

pare<strong>de</strong> aplica<strong>do</strong>s directamente sobre pare<strong>de</strong>s estucadas, com ou sem um forro, também po<strong>de</strong>m sofrer<br />

perturbações consequentes da <strong>de</strong>sagregação <strong>do</strong> estuque ou <strong>do</strong>s sais solúveis emanan<strong>do</strong> da pare<strong>de</strong>.<br />

Os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> que, tradicionalmente, eram aplica<strong>do</strong>s sobre telas e molduras po<strong>de</strong>m ter<br />

fica<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong>s, até certo ponto, contra os anteriores factores. No entanto, não é invulgar que as<br />

estruturas em ma<strong>de</strong>iras empenem e/ou que as telas se <strong>de</strong>gra<strong>de</strong>m tornan<strong>do</strong>-se num porta<strong>do</strong>r fraco,<br />

enfola<strong>do</strong> e áci<strong>do</strong> para o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>. As técnicas tradicionais <strong>de</strong> aplicação também po<strong>de</strong>m afectar a<br />

longevida<strong>de</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> por terem usa<strong>do</strong> materiais não permanentes, tais como pregos <strong>de</strong> ferro<br />

ou forros, papéis e colas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> inferior.<br />

Finalmente, os danos mais aparentes nos papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos provêm, geralmente, <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sgaste por utilização, tais como o tráfego humano, os graffiti, os arranhões pela mobília, e os furos para<br />

a suspensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>corações, entre outros factores. Apesar <strong>de</strong> este tipo <strong>de</strong> danos ser mais óbvio, é,<br />

geralmente, menos grave, dada a sua natureza localizada.<br />

FACTORES INERENTES<br />

Os factores que afectam a sobrevivência <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> são, com frequência,<br />

directamente atribuíveis aos materiais e ao méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> fabricação quer <strong>do</strong> papel, quer <strong>do</strong> meio (pintura ou<br />

tinta, por exemplo) pelo qual o <strong>de</strong>senho <strong>do</strong> papel foi impresso. A <strong>de</strong>gradação e a fragilização <strong>de</strong> um<br />

suporte <strong>de</strong> papel data<strong>do</strong> posteriormente a 1850, por exemplo, po<strong>de</strong>m ser consequências directas da fraca<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> lote <strong>de</strong> papel usa<strong>do</strong> nessa época. Pelo contrário, um papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> chinês <strong>do</strong> século XVIII<br />

po<strong>de</strong> ter-se torna<strong>do</strong> frágil, não por causa <strong>de</strong> uma qualida<strong>de</strong> fraca, mas porque a sua construção, finamente<br />

laminada, o fez ser particularmente vulnerável às alterações ambientais.<br />

De forma semelhante, a larga varieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pigmentos e <strong>do</strong>s meios usa<strong>do</strong>s nos papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong><br />

históricos po<strong>de</strong> provocar danos no suporte, ou ser propício à sua própria <strong>de</strong>gradação. Os ligantes <strong>de</strong><br />

ami<strong>do</strong> e <strong>de</strong> cola/gelatina animal não só proporcionam alimento para os insectos, como também são<br />

propícios à dissecação e à retracção. Estas resultam em pulverização, <strong>de</strong>scamação e posterior perda da<br />

camada <strong>de</strong> pigmento. É frequente que as priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho estejam em conflito com os requisitos <strong>de</strong><br />

longevida<strong>de</strong>; uma tinta mate, por exemplo, é frequentemente criada usan<strong>do</strong>-se, <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>liberada,<br />

pigmentos granulares com muito pouco ligante, mas tem como consequência camadas <strong>de</strong> pintura<br />

vulneráveis e mal ligadas. O conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve tentar preservar esta aparência mate não saturan<strong>do</strong> os<br />

pigmentos mas, ao mesmo tempo, voltan<strong>do</strong> a fixar e a consolidar as camadas em <strong>de</strong>scamação.


<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico<br />

TRATAMENTO DE CONSERVAÇÃO<br />

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To<strong>do</strong>s os tratamentos <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico têm que levar em consi<strong>de</strong>ração diversos<br />

factores interrelaciona<strong>do</strong>s; o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, o seu sistema <strong>de</strong> aplicação, bem como os elementos<br />

arquitectónicos e as condições ambientais <strong>do</strong> próprio compartimento. Assim, <strong>de</strong>ve-se assumir que se <strong>de</strong>ve<br />

resolver um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> problema sem se comprometer a integrida<strong>de</strong> histórica da totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

compartimento. Em geral, os tratamentos <strong>de</strong> conservação caem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma ou duas categorias,<br />

conforme o tipo e a severida<strong>de</strong>: tratamento in situ (quan<strong>do</strong> po<strong>de</strong>m ser executadas no próprio local); e<br />

tratamentos que envolvem a remoção e uma nova aplicação <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>.<br />

Os tratamentos in situ são úteis on<strong>de</strong> os danos forem menores e localiza<strong>do</strong>s, por exemplo, uma<br />

pequena área manchada ou <strong>de</strong>stacada. Os tratamentos superficiais são, frequentemente, executa<strong>do</strong>s in<br />

situ, tais como a remoção da sujida<strong>de</strong> ou poeira não granulada e a consolidação <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> meios<br />

<strong>de</strong> pinturas soltos. Os <strong>de</strong>pósitos e as manchas também po<strong>de</strong>m ser, frequentemente, removi<strong>do</strong>s por<br />

tratamentos aquosos localiza<strong>do</strong>s.<br />

Como o trabalho in situ implica apenas o tratamento da superfície <strong>do</strong> papel, não é provável que<br />

seja a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> aos papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> seriamente danifica<strong>do</strong>s ou <strong>de</strong>lamina<strong>do</strong>s. As suas principais<br />

<strong>de</strong>svantagens são que ele não permite o acesso ao suporte <strong>do</strong> papel ou à pare<strong>de</strong> para investigação,<br />

assim como impe<strong>de</strong> trabalhar nestes. No entanto, o tratamento in situ é útil não só para limpeza e para<br />

tratamentos <strong>de</strong> primeiros socorros, como proporciona uma observação geral <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> na sua<br />

posição original. Esta po<strong>de</strong> ser <strong>do</strong>cumentada para auxiliar a monitorização física e ambiental, e<br />

proporciona recomendações para tratamentos futuros.<br />

REMOÇÃO E NOVA APLICAÇÃO<br />

A remoção seguida <strong>de</strong> nova aplicação é o tratamento mais interventivo que se oferece ao<br />

conserva<strong>do</strong>r e só <strong>de</strong>ve ser executa<strong>do</strong> se a pare<strong>de</strong> ou o papel estiverem severamente <strong>de</strong>grada<strong>do</strong>s. Para se<br />

minimizar a perturbação da integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico, este <strong>de</strong>ve ser removi<strong>do</strong> em gran<strong>de</strong>s<br />

secções, <strong>de</strong> preferência a dividi-lo em comprimentos individuais.<br />

Um papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fabricação mecânica, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

século XIX, severamente mancha<strong>do</strong>, antes da conservação.<br />

Quan<strong>do</strong> está aplica<strong>do</strong> sobre tela,<br />

po<strong>de</strong> ser removi<strong>do</strong> o papel <strong>de</strong> uma pare<strong>de</strong><br />

inteira soltan<strong>do</strong>-se a tela <strong>do</strong>s pregos e<br />

retiran<strong>do</strong>-se o papel, usan<strong>do</strong>-se a tela como<br />

suporte. Outros méto<strong>do</strong>s implicam técnicas<br />

físicas a seco, usan<strong>do</strong>-se espátulas e facas<br />

sem bico para se trabalhar por <strong>de</strong>trás <strong>do</strong><br />

papel. Em alternativa, são usadas técnicas<br />

químicas por via húmida, envolven<strong>do</strong> uma<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções e pulverizações<br />

aquosas, e ainda o uso <strong>de</strong> vapor<br />

sobreaqueci<strong>do</strong> e/ou enzimas, para se<br />

<strong>de</strong>sligar a colagem entre o papel e a<br />

pare<strong>de</strong>.


<strong>Conservação</strong> <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico<br />

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Esta remoção permite, então, o tratamento quer da frente, quer <strong>do</strong> verso <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>. Ela<br />

também facilita técnicas mais eficazes <strong>de</strong> limpeza aquosa, consolidação e reparação, assim como permite<br />

a remoção e substituição <strong>do</strong>s forros <strong>de</strong>grada<strong>do</strong>s ou danifica<strong>do</strong>s. A própria superfície da pare<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />

reparada e preparada com um sistema <strong>de</strong> forro novo, mas historicamente a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, sobre o qual se vai<br />

voltar a aplicar o papel já conserva<strong>do</strong>.<br />

O conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> fica, assim, arma<strong>do</strong> com diversas opções <strong>de</strong> tratamento para<br />

conservar o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> histórico. Como os papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> são encara<strong>do</strong>s como obras <strong>de</strong> arte que<br />

fazem parte <strong>de</strong> outra estrutura histórica, essa estrutura histórica <strong>de</strong>ve ser encarada como um to<strong>do</strong>. A<br />

principal priorida<strong>de</strong> <strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>r é a preservação <strong>do</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, no entanto também é importante<br />

o reconhecimento sobre on<strong>de</strong> e como ele estava aplica<strong>do</strong>. Devem ser imita<strong>do</strong>s, tanto quanto possível, os<br />

méto<strong>do</strong>s originais <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> aplicação. No entanto, sempre que seja apropria<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vem ser<br />

usa<strong>do</strong>s matérias <strong>de</strong> conservação mo<strong>de</strong>rnos, com qualida<strong>de</strong>, que irão proteger o papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> em vez<br />

<strong>de</strong> lhe provocarem danos, e que vão ajudar a preservá-lo para o futuro.<br />

AUTOR<br />

PHILLIPA MAPES, BA, HND Con, MA Conserva<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> <strong>Papel</strong> <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong> <strong>Histórico</strong> (RCA/V&A) é uma<br />

sócia comercial <strong>de</strong> Sandiford and Mapes, especialista na conservação <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos e<br />

gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> arte sobre papel. Ela produziu recentemente uma exposição temporária no Museu<br />

Victoria and Albert, abordan<strong>do</strong> a conservação <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> históricos, e recebeu um Conservation<br />

Unit Award por trabalhos em papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> chinês.

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