45-54 - Universidade de Coimbra
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BEFENSOB DO POVO-1. 1 ANNO Quinta feira, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N . ° 51<br />
Arrematação das carnes<br />
Como dissémos não concorreu nenhum<br />
marchante á nova arrematação annunciada<br />
por edital, e á gréve respon<strong>de</strong>u a camara<br />
tomando sobre si o exclusivo da venda,<br />
abrindo quatro talhos na cida<strong>de</strong>: — um no<br />
bairro alto, outro na praça do Commercio e<br />
dois no mercado.<br />
Depois do que se havia passado entre a<br />
camara e os marchantes, não se podia resolver<br />
outra coisa, se bem que combatamos o<br />
monopolismo, pois é um travão á liberda<strong>de</strong><br />
do commercio, que se quer expansivo.<br />
Mas á camara assistia-lhe o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> ser<br />
energica, e não transigir. Deve-se precaver,<br />
pois que na sua mão está evitar alguma cilada<br />
que se premedite e que a população<br />
soffra as consequências d'uma vingança.<br />
Não pô<strong>de</strong> a camara — nem <strong>de</strong>ve — adiar<br />
por muitas semanas o estabelecimento dos<br />
seus talhos, como não <strong>de</strong>ve limitar-se somente<br />
a dois talhos no mercado, pois que é gran<strong>de</strong><br />
o consumo e muitíssima a concorrência todos<br />
os dias <strong>de</strong> manhã.<br />
E 1 preciso que n'este assumpto se proceda<br />
cautellosamente e não se <strong>de</strong>ixe arrastar a<br />
influencias que po<strong>de</strong>m levar a camara a uma<br />
vergonhosa transigência.<br />
Veremos os resultados.<br />
o<br />
<strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Em congregação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direto<br />
foi resolvido representar ao governo pedindo<br />
o <strong>de</strong>sdobramento do curso do primeiro anno<br />
jurídico.<br />
E' <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vantagem para os alumnos<br />
a obtenção d'este pedido, porque serão mais<br />
vezes chamados, e os professores po<strong>de</strong>rão<br />
formar um conceito mais seguro da sua intelligencia<br />
e applicação.<br />
As faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mathematica e Phylosophia<br />
também representaram ao governo no<br />
mesmo sentido, pela gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alumnos que contam os primeiros annos das<br />
respectivas faculda<strong>de</strong>s.<br />
As arruaças<br />
Parece, que em virtu<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s troças<br />
nos geraes e mais corredores da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />
se pensa em ser transferida as aulas<br />
dos novatos para hora differente da dos veteranos.<br />
O sr. guarda-mór recebeu or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> reprimir<br />
energicamente as arruaças.<br />
Era conveniente essa transferencia, para<br />
evitar dissabores aos turbulentos mancebos.<br />
Dá esperanças<br />
Francisco Sineiro, <strong>de</strong> 14 annos vibrou<br />
uma naifada na cabeça duma rapariguita <strong>de</strong><br />
7 annos, chamada Zélia <strong>de</strong> Mattos.<br />
O heroe dá esperanças...<br />
Tnna Académica<br />
Reuniu segunda feira a Tuna Académica,<br />
para tratar <strong>de</strong> vários assumptos, entre os<br />
quaes são dos seguintes :<br />
Nomear os cargos <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte, vicepresi<strong>de</strong>nte<br />
e thesoureiro, actualmente vagos.<br />
Abrir inscripção para prehencher as vagas<br />
<strong>de</strong> membros executantes.<br />
Marcar o dia para o primeiro ensaio.<br />
A resolução d'estes importantes assumptos<br />
ficou pen<strong>de</strong>nte d'outra reunião, que será<br />
convocada para muito breve.<br />
Folhetim—«Defensor do Povo»<br />
0 CORSÁRIO PORTIGIEZ<br />
ROMANCE MARÍTIMO<br />
ORIGINAL DE<br />
CAPITULO IV<br />
O naufrágio<br />
O abalo foi gran<strong>de</strong>, mas maior foi o que<br />
se lhe seguiu! As vagas atiraram com a fragata<br />
para cima das pedras, arrancaram-lhe<br />
os mastaréus e vergas <strong>de</strong> joanetes, que foram<br />
arremessados pela borda!<br />
O navio estava aberto, e a agua entravalhe<br />
até á braçola da escotilha gran<strong>de</strong>! Tudo<br />
era confusão e gritaria.<br />
A fragata porém escon<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />
agua, e apenas lhe ficou <strong>de</strong>sembaraçado o<br />
castello <strong>de</strong> proa.<br />
Momentos <strong>de</strong>pois, fragmentos dispersos<br />
e membros <strong>de</strong>spedaçados é quanto se via ao<br />
cimo da agua. Era a consequência fatal da<br />
estulta pretensão d'um nobre fidalgo.<br />
Actos <strong>de</strong> benemerencia<br />
O sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva, eximio cirurgião<br />
<strong>de</strong>ntista, n'esta cida<strong>de</strong>, pelas suas excellentes<br />
qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cavalheiro, pela sua bonda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> coração e principalmente pela sua pericia<br />
como profissional, tem merecido as publicas<br />
sympathias d'uma cida<strong>de</strong> e o que é mais, a<br />
gratidão e reconhecimento da pobreza e da<br />
indigência, a quem elle presta os seus soccorros<br />
gratuitamente, afora as corporações, a<br />
quem offereceu os serviços, e as quaes em<br />
seguida enumeramos:<br />
Asylo da Mendicida<strong>de</strong>.<br />
Asylo da Infancia Desvalida.<br />
Orphãos <strong>de</strong> ambos os sexos <strong>de</strong> Santa<br />
Casa da Misericórdia.<br />
Subsidiados da Socieda<strong>de</strong> Philantropico-<br />
Aca<strong>de</strong>mica.<br />
Presos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Santa Cruz.<br />
Ordinandos pobres do Seminário.<br />
Cabos e soldados do 23.<br />
De todas estas corporações recebeu o<br />
nosso amigo, officios <strong>de</strong> recepção, nos quaes<br />
se agra<strong>de</strong>cia, louvando a generosa offerta, e<br />
acceitando-a com reconhecimento.<br />
As duas corporações — Associação dos<br />
Artistas e policias civis — é que parece prescindiram<br />
dos serviços do sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva,<br />
dispensando-lhe o seu benemerito auxilio em<br />
beneficio dos seus socios e dos guardas, pois<br />
que lhes foi feito o mesmo offerecimento e<br />
nunca avisaram a sua recepção.<br />
Estas indifferenças são compensadas por<br />
documentos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração superior, não só<br />
pelas corporações conimbricenses, que acima<br />
Presi<strong>de</strong>nte da camara<br />
Na quinta feira reassumiu a presi<strong>de</strong>ncia<br />
da camara, o sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos,<br />
dirigindo os trabalhos da sessão d'esse dia.<br />
Foi cumprimentado pelos seus collegas,<br />
que o felicitaram pelo seu completo restabelecimento;<br />
e por outros seus amigos.<br />
Km cárcere privado<br />
Dois agentes policiaes d'esta cida<strong>de</strong> dirigiram-se<br />
a Rios Frios freguezia <strong>de</strong> Vil <strong>de</strong><br />
Mattos, para darem liberda<strong>de</strong> a Maria Rosa,<br />
<strong>de</strong> 80 annos, que um sobrinho da mesma,<br />
conservava reclusa em sua casa, ao que se<br />
dizia, ha muito tempo.<br />
A infeliz foi encontrada morta e completamente<br />
abandonada apenas dpis gatos estavam<br />
velando o cadaver.<br />
Pelo exame medico a que vae proce<strong>de</strong>r-se<br />
averiguar-se-á se houve ou não criminalida<strong>de</strong>.<br />
O sr. commissario <strong>de</strong> policia já communicou<br />
este estranho acontecimento ao <strong>de</strong>legado<br />
do ministério publico em vista das<br />
suspeitas <strong>de</strong> ter havido crime.<br />
N'este sinistro morreram duzentas e tantas<br />
pessoas, e salvaram-se apenas cento e<br />
vinte, incluindo o commandante, João Traquete<br />
e o immediato!<br />
Um mez <strong>de</strong>pois d'este doloroso acontecimento<br />
respondiam a conselho <strong>de</strong> guerra o<br />
commandante e o immediato, que cumprira<br />
com o seu <strong>de</strong>ver; mas como não era fidalgo,<br />
e sobre elle pesava a vingança do senhor D.<br />
Francisco <strong>de</strong> Sarmento e Castro, foi con<strong>de</strong>mnado<br />
a ser exautorado <strong>de</strong> todas as suas<br />
honras por tres annos, emquanto que o único<br />
criminoso era absolvido, ficando com a sua<br />
conducta illibada!... E quando o con<strong>de</strong> <strong>de</strong>...,<br />
ministro da marinha, <strong>de</strong>u parte ao príncipe<br />
regente do sinistro, disse-lhe:<br />
— Meu senhor, per<strong>de</strong>u-se a fragata Senhora<br />
da Conceição, e tem vossa alteza real<br />
duzentos súbditos <strong>de</strong> menos e um excellente<br />
vaso <strong>de</strong> guerra, mas resta-lhe a consolação,<br />
que se salvou o commandante, que é o melhor<br />
official da marinha portugueza.<br />
CAPITULO V<br />
Fidalgo e plebeu<br />
Carlos, ao ser-lhe intimada a sentença,<br />
ficou aterrado! Nunca acreditára em tamanha<br />
injustiça, e n'esse mesmo dia pediu a sua<br />
<strong>de</strong>missão.<br />
Aggresísào<br />
Consta que estão sendo instaurados processos<br />
civis e académicos contra os troupistas,<br />
que n'uma das noites passadas tiveram<br />
o mau gosto <strong>de</strong> aggredir o sr. padre Motta,<br />
ainda retido no leito.<br />
E' necessário applicar-lhes um correctivo<br />
energico que os faça arrepen<strong>de</strong>r por uma<br />
vez e para <strong>de</strong> futuro evitar estes lamentaveis<br />
acontecimentos. Lamentamos.<br />
Partido medico<br />
Foi provido no partido medico, creado<br />
pela camara municipal, o sr. dr. Vicente<br />
Rocha clinico distincto e muito estimado, e<br />
único candidato a esse logar.<br />
Como já dissémos, e repetimos, a creaçao<br />
d'este partido era bem dispensado, pois que<br />
o concelho <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> tem clínicos <strong>de</strong> partido<br />
que prestam os seus serviços nas freguezias<br />
ruraes.<br />
Além d 1 isso a cida<strong>de</strong> tem o sufficiente<br />
em soccorros médicos e não ha <strong>de</strong> ser o<br />
cilnico da camara que ha <strong>de</strong> ser chamado<br />
pelas classes pobres, ou remediadas, pois<br />
que têm a Santa Casa da Misericórdia que<br />
Domingo, 27 do corrente, realisar-se-ha<br />
com toda a pompa na freguezia <strong>de</strong> Castello<br />
Viegas, uma solemne festivida<strong>de</strong> em honra<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong>, imagem que<br />
a essa freguezia foi offerecida pelo sr. Jorge<br />
da Silveira Moraes, commerciante n'esta cida<strong>de</strong>.<br />
A ; s oito horas da manhã, <strong>de</strong>pois da<br />
benção do ritual, será a imagem conduzida<br />
processionalmente da ermida <strong>de</strong> S. Pedro<br />
para a egreja, on<strong>de</strong> será cantada a ladainha.<br />
Ao meio dia missa solemne a gran<strong>de</strong><br />
instrumental subindo ao Evangelho ao púlpito<br />
o distincto orador sagrado rev. Alfredo<br />
Augusto do Amaral, digníssimo prior em<br />
Santo Antonio dos Olivaes.<br />
A's quatro horas da tar<strong>de</strong> solemne te-<strong>de</strong>um<br />
e procissão terminando com a benção do<br />
Santíssimo Sacramento. A' noite arraial,<br />
balão e queimar-se-ha um vistoso fogo <strong>de</strong><br />
artificio. Abrilhantará a festivida<strong>de</strong> a bem<br />
conceituada philarmonica <strong>de</strong> Taveiro.<br />
Melhoramento importante<br />
Os bombeiros voluntários vão comprar<br />
um breach para facilitar a saída do material<br />
em casos <strong>de</strong> incêndio fóra da cida<strong>de</strong>.<br />
Seu pae supportou corajoso a triste noticia,<br />
e procurou animal-o, aconselhando-lhe<br />
prudência e resignação.<br />
— Pae, respon<strong>de</strong>u-lhe o pobre mancebo<br />
com o coração ulcerado pela dôr, acceito os<br />
seus conselhos, que são judiciosos! Terei<br />
coragem e resignação; mas hei <strong>de</strong> vingar-me<br />
d'esta injustiça ! Infames, que assim me roubaram<br />
o futuro e as doces esperanças que<br />
alimentava! Já não tenho dragonas, mas<br />
conservo a minha espada e disponho <strong>de</strong> coragem<br />
!<br />
«Em oito dias partirei para Inglaterra,<br />
compro um navio, tiro, carta <strong>de</strong> corso, e<br />
d'ora ávante farei guerra <strong>de</strong> extermínio aos<br />
francezes e aos nobres <strong>de</strong>vassos que, com<br />
um pé sobre os filhos do povo, tentam esmagal-os!<br />
«Mas esmagados serão elles, porque tempo<br />
virá em que os povos hão <strong>de</strong> acordar e sacudir<br />
as odiosas algemas, que a nobreza, auxiliada<br />
pelo po<strong>de</strong>r theocratico, lhes lançou.<br />
O doutor Antonio dos Anjos estava abatido<br />
e soffría ao ver a exaltação <strong>de</strong> seu filho;<br />
e para o afastar da i<strong>de</strong>ia em que estava <strong>de</strong><br />
se vingar; disse-lhe;<br />
— Carlos, para que te resentes dos nobres<br />
? Não vejo n'elles culpa alguma da injustiça<br />
que te fizeram. ..<br />
— Meu pae, respon<strong>de</strong>u o joven, é nobre<br />
sua i<strong>de</strong>ia em querer afastar-me d'uma lucta<br />
perigosa; mas quer saber as causas por que<br />
Uma ladra<br />
Deu-se parte para juizo contra Antónia <strong>de</strong><br />
Jesus, moradora proximo ao Senhor dos Afflictos,<br />
por ter furtado algumas roupas, a Rita<br />
<strong>de</strong> Jesus, resi<strong>de</strong>nte na quinta da Sapato.<br />
Carteira da policia<br />
Qaeixa <strong>de</strong> i - oul>0<br />
Maria <strong>de</strong> Jesus, arrendataria da quinta<br />
do Camazão, em Coselhas, queixou-se na 2. a<br />
esquadra do seguinte:<br />
Que ao regressar da cida<strong>de</strong>, para on<strong>de</strong><br />
tinha vindo em companhia <strong>de</strong> sua filha, encontrára<br />
a porta arrombada e a falta <strong>de</strong><br />
240^000 réis em ouro, prata e papel, além<br />
d'um medalhão, um par <strong>de</strong> brincos, duas<br />
cruzes, um cordão, um fio <strong>de</strong> contas, tudo<br />
d'oiro, no valor <strong>de</strong> 36$ooo réis.<br />
A policia anda em averiguações.<br />
C OMMUNICAD 0<br />
lhes dá esses soccorros e os remedios.<br />
Sr. redactor do Defensor do Povo; peço a v.<br />
Antes <strong>de</strong> sabermos quem lograria o lo- a publicação da carta inclusa, que enviei ao<br />
gar fizemos as nossas consi<strong>de</strong>rações e hoje redactor do Operário <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
repetimol-a, pois vemos na creação d'este Agra<strong>de</strong>cendo, creia-me seu amigo, J. Simões Paes.<br />
partido e no seu prehenchimento uma <strong>de</strong>speza<br />
supérflua, que aggrava os cofres do municí-<br />
Bombeiros Voluntários<br />
pio, seja clinico o sr. dr. Vicente Rocha, ou Sr. redactor — No ultimo numero do seu<br />
outro qualquer.<br />
semanario, em uma noticia ácerca d'uma missa<br />
relacionamos, mas por outras do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, a quem o sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva pres-<br />
Não é questão <strong>de</strong> homens — saibam.<br />
Em crear encargos e em servir amigos,<br />
em suffragio da alma d'um ministro <strong>de</strong> estado<br />
recentemente extincto, lê-se o seguinte:<br />
tou os seus serviços gratuitamente, como era se lava a camara em agua <strong>de</strong> rosas — os «Nem ao menos alli foram (como é da praxe<br />
á Caixa <strong>de</strong> soccorros <strong>de</strong> D. Pedro v, que lhe seus erros e a sua banalida<strong>de</strong> manifestada na n'estas palacoadas) as corporações da cida<strong>de</strong>.»<br />
mereceu um diploma honroso, ao Asylo <strong>de</strong> administração municipal está em todos os Permitta-me que em nome da corporação dos<br />
meninos <strong>de</strong>svalidos, a quem o fallecido impe- actos da sua gerencia.<br />
bombeiros voluntários, <strong>de</strong> que eu sou commanrador,<br />
que era o presi<strong>de</strong>nte d'aquella casa <strong>de</strong> Felizmente que vão <strong>de</strong>ixar em breve es-<br />
beneficencia, lhe conce<strong>de</strong>ra o titulo honorifico sas ca<strong>de</strong>iras, on<strong>de</strong> alguns, não <strong>de</strong>veriam sen-<br />
<strong>de</strong> cirurgião-<strong>de</strong>ntista da casa imperial, — e tar-se, sem ter dado provas da sua compe-<br />
assim a tantas outras corporações.<br />
tência intellectual — pelo menos.<br />
dante, proteste contra a ironia <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa que<br />
resalta d'esse commentario.<br />
Não me indigno só por ver assim menosprezada<br />
unia aggremiaçào que tem por fim exclusivo,<br />
Actos <strong>de</strong>stes não <strong>de</strong>vem ficar olvidados, Que nunca os nossos olhos viram tanta<br />
e aos informes d'um nosso amigo, <strong>de</strong>vemos inépcia; tão falhos <strong>de</strong> bom senso, sem ini-<br />
o ter tido occasião para fazer justiça aos ciativa, subjugando os acisados e os sensatos<br />
méritos profissionaes do sr. Cal<strong>de</strong>ira da Silva — os poucos que ha por lá.<br />
e á acção benefica que tem espalhado pelas<br />
sem a mínima recompensa, arriscar a vida dos<br />
seus membros para salvar a vida e a fazenda em<br />
occasiões <strong>de</strong> incêndios; mas também me revolto,<br />
com duplicada energia, por vêr que n'um jornal,<br />
que se diz <strong>de</strong>fensor das classes trabalhadoras, se<br />
classes pobres e corporações <strong>de</strong> beneficencia.<br />
Honra lhe seja dada.<br />
Festivida<strong>de</strong><br />
estampam allusões aggressivas d'um punhado <strong>de</strong><br />
rapazes operários, que, pela sua coragem philantropia<br />
e abnegação, bem merecem da sua classe<br />
por serem nma honra e uma gloria para ella!<br />
N'outro tempo, quando a frente da corporação<br />
estava um ou outro especulador e aventureiro,<br />
podia suppôr-se, não sem fundado motivo, que ella<br />
seria arrastada a ridículos por quem tinha só em<br />
mira collocar em fóco a sua individualida<strong>de</strong>...<br />
Mas hoje não.<br />
Toda a cida<strong>de</strong> conhece que a actual direcção<br />
não quer <strong>de</strong>sviar a associação para espectaculosas<br />
exhibições.<br />
isto não quer dizer no entanto, que os bombeiros<br />
voluntários não tomem <strong>de</strong> futuro parte em<br />
qualquer <strong>de</strong>monstração festiva ou fúnebre em<br />
honra d'alguem, que directa ou indirectamente lhes<br />
tenha dispensado os seus serviços e a sua protecção.<br />
Creio que v., sr. redactor, não teve em vista<br />
melindrar esta corporação. Faço lhe essa justiça.<br />
Mas por isso mesmo, communicando-lhe a magua<br />
<strong>de</strong> que eu e os meus camaradas nos achamos<br />
possuídos, v. <strong>de</strong>ve congratular-se por lhe se otTerecer<br />
ensejo <strong>de</strong> explicar ou retirar as palavras,<br />
que irreflectidamente lhe saíram dos bicos da<br />
penna.<br />
<strong>Coimbra</strong>, 16 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895.<br />
0 commandante — José Simões Paes,<br />
me revolto contra elles? Leia... leia, e verá<br />
que tenho razão.<br />
Entregou a seu pae uma carta, concebida<br />
nos seguintes termos :<br />
«Ao senhor tenente Carlos Augusto dos<br />
Anjos :<br />
«Um fidalgo nunca <strong>de</strong>ixa impune uma<br />
affronte! Não quiz acceitar a minha protecção<br />
em troca d'um pequeno serviço, receba<br />
as provas do meu resentimento pela sua<br />
solencia !... Os meus parentes e amigo V s,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que lhe constou que o senhor pozera<br />
mãos sacrílegas n'um fidalgo, juraram vingança,<br />
e como appareceu o ensejo, estou vingado.<br />
»<br />
O doutor Antonio dos Anjos ficou como<br />
fulminado, e perguntou a seu filho:<br />
— Mas que significa isto? Don<strong>de</strong> parte<br />
esta perseguição e quaes as causas ?<br />
— Eu lhe digo, meu pae; tinha muita intimida<strong>de</strong><br />
em casa do nosso amigo <strong>de</strong>sembargador<br />
Vasconcellos, on<strong>de</strong> ia muitas vezes um<br />
tal D. Francisco Antonio <strong>de</strong> Sarmento e Castro,<br />
filho d'uma casa titular; este fidalgo <strong>de</strong>vasso<br />
e miserável, nutriu um amor criminoso<br />
por D. Carlota, filha mais nova d'aquelle magistrado,<br />
e teve a audacia <strong>de</strong> me propor um<br />
negocio tão infame como o seu caracter.<br />
Pediu-me protecção, para lhe obter uma entrevista<br />
com a pobre menina, para a raptar<br />
e fazel-a sua amante!<br />
(Continua.)