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Insinuações Semióticas em Arquitetura: do Pós ... - PUC-Rio

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Pontifícia Universidade Católica <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro<br />

Departamento de Artes e Design<br />

Programa de <strong>Pós</strong>-Graduação <strong>em</strong> Design<br />

Linguag<strong>em</strong> de mídia visual: Tradução Inters<strong>em</strong>iótica<br />

Prof. Dr. Luiz Antônio Coelho<br />

Trabalho Final<br />

Aluna Fabíola Macê<strong>do</strong> Ribeiro<br />

xxfabixx@uol.com.br<br />

<strong>Insinuações</strong> <strong>S<strong>em</strong>ióticas</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>Arquitetura</strong>:<br />

<strong>do</strong> <strong>Pós</strong>-Modernismo aos Blobjects<br />

O Modernismo auto-referente e a comunicação<br />

pública <strong>do</strong> <strong>Pós</strong>-modernismo<br />

A s<strong>em</strong>iótica aplicada à arquitetura aparece e se diss<strong>em</strong>ina <strong>do</strong> meio para o final <strong>do</strong>s anos<br />

1960 coincidin<strong>do</strong>, não por acaso, com um movimento e um estilo arquitetônico que logo<br />

se autodenominou pós-modernismo. Os arquitetos e teóricos deste movimento<br />

acusavam o modernismo, então confortavelmente estabeleci<strong>do</strong>, de ter perdi<strong>do</strong> a vontade<br />

de significar, o que era uma preocupação coerente com outros movimentos artísticos<br />

cont<strong>em</strong>porâneos e pertinente à produção modernista da época.<br />

As formas características <strong>do</strong> Alto Modernismo arquitetônico <strong>do</strong>s anos 1950 limitavam-<br />

se a uma auto-referência que queria comunicar menos valores culturais ditos<br />

popularmente como ‘simbólicos’ <strong>do</strong> que processos, técnicas e tecnologias que haviam<br />

torna<strong>do</strong> possível sua existência. Não que essa auto-referência não fosse uma<br />

significação, mas a busca de uma ‘linguag<strong>em</strong>’ universal, racional, neutra, pura, acabou<br />

por tornar a comunicação usuário/construção bastante abstrata, codificada e complexa.<br />

A preocupação de tornar clara a estrutura da edificação, de fazer evidente seu processo<br />

de construção, de deixar explícitas as técnicas utilizadas restringiu, de certa maneira, o<br />

repertório formal <strong>do</strong> modernismo, tornan<strong>do</strong> a sua gramática evidente, mas sen<strong>do</strong> pobre<br />

de significa<strong>do</strong>s simbólicos. A preocupação recaía <strong>em</strong> expressar a relação entre as<br />

diversas partes que compunham o conjunto, partes essas tornadas s<strong>em</strong>pre mais simples e<br />

minimalistas para ser<strong>em</strong> justamente identificadas facilmente como el<strong>em</strong>entos simples<br />

1


obedecen<strong>do</strong> às regras rígidas da composição. Por isso mesmo pod<strong>em</strong>os dizer, toman<strong>do</strong><br />

por referência as categorias de Plaza, que o legissigno que ordena a composição<br />

arquitetônica modernista o faz por coordenação, uma vez que neste caso não existe uma<br />

diferenciação entre el<strong>em</strong>ento <strong>do</strong>minante e el<strong>em</strong>ento <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>, central e periférico, pois<br />

a relação entre el<strong>em</strong>entos corresponde às noções de colaboração. De acor<strong>do</strong> com Plaza,<br />

“na ord<strong>em</strong> por coordenação todas as partes tend<strong>em</strong> a ter a mesma importância,<br />

pre<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> a similaridade e a parataxe entre as partes, segun<strong>do</strong> a idéia de conexão<br />

como rede de relações.” 1 (fig. 1, fig. 2, fig. 3 e fig. 4)<br />

Mies van der Rohe chegaria ao máximo desenvolvimento dessa idéia ao trabalhar<br />

apenas com planos puros como unidades formais agrupadas s<strong>em</strong>pre paralela ou<br />

perpendicularmente. Devi<strong>do</strong> à sua ênfase na gramática visual, poderíamos dizer que este<br />

parti<strong>do</strong> formal r<strong>em</strong>ete a uma terceiridade, a uma lei que rege a sua composição. (fig. 5,<br />

fig. 6, fig. 7)<br />

A construção modernista buscou ser também indicial, revelan<strong>do</strong> <strong>em</strong> sua superfície o<br />

processo de construção, através de texturas e traços como, por ex<strong>em</strong>plo, as marcas das<br />

fôrmas de madeira deixadas no concreto molda<strong>do</strong> in situ, deixadas aparentes como<br />

índices de sua feitura. 2 Uma fase posterior <strong>do</strong> modernismo, o brutalismo, valeu-se<br />

largamente deste expediente para explicitar materiais e condições de execução de obra,<br />

o que era por eles denomina<strong>do</strong> ‘honestidade’ da arquitetura, com relação principalmente<br />

a seus materiais. A idéia era comunicar através da obra construída a ‘veracidade’ de sua<br />

produção, e não mascarar a essência como fazia o ecletismo, que recobria com massa e<br />

revestimentos os traços da construção e mascarava com ornamentos estrutura e pobreza<br />

espacial. As superfícies então como índices deveriam revelar os procedimentos que<br />

moldaram as formas. (fig. 8)<br />

O pós-modernismo de diversas maneiras atacou seus precedentes, cada arquiteto<br />

visan<strong>do</strong> repensar um aspecto que considerava falho ou totalmente erra<strong>do</strong>, e poucos<br />

arquitetos combateram de uma só vez todas as <strong>do</strong>utrinas que o modernismo criou,<br />

chegan<strong>do</strong>, nesse caso, a formular-se como antítese <strong>do</strong> movimento anterior. Mas to<strong>do</strong>s os<br />

que se colocaram sob a denominação de pós-modernos queriam, de uma forma ou de<br />

outra, fazer com que a arquitetura fosse novamente porta<strong>do</strong>ra de símbolos, de signos<br />

convencionais que falass<strong>em</strong> a to<strong>do</strong>s, que comunicass<strong>em</strong> valores culturais que<br />

transbordavam às questões meramente construtivas. Jencks comenta que alguns teóricos<br />

1 PLAZA, 1987, p. 74<br />

2 Segun<strong>do</strong> conceito de ÍNDICE de Charles Peirce.<br />

2


pós-modernos, como Norberg-Schulz “sugere que a percepção da forma t<strong>em</strong> base<br />

cultural e o significa<strong>do</strong> <strong>em</strong> arquitetura é resulta<strong>do</strong> de intenções culturais.” 3<br />

Consideramos, s<strong>em</strong> dúvida, que todas as escolhas <strong>do</strong>s arquitetos, modernistas ou não,<br />

estão fort<strong>em</strong>ente carregadas de pressupostos culturais, mesmo aquelas que diz<strong>em</strong><br />

respeito aos processos construtivos. Mas esses pressupostos são inteligíveis <strong>em</strong> geral<br />

apenas aos inicia<strong>do</strong>s <strong>em</strong> construção e obscuros às d<strong>em</strong>ais pessoas que apreend<strong>em</strong> a<br />

arquitetura como leigos, usuários ou observa<strong>do</strong>res. Os pós-modernistas propuseram-se<br />

então a tarefa de restabelecer o contato <strong>do</strong>s habitantes da cidade com a arquitetura que<br />

os rodeava através da utilização <strong>do</strong> que eles consideraram como signos arquitetônicos<br />

que, <strong>em</strong> terminologia s<strong>em</strong>iótica peirceana, poderíamos chamar de símbolos. (fig. 9)<br />

Quan<strong>do</strong> se vê uma arquitetura que foi criada com igual preocupação com a forma,<br />

função e técnica, esta ambigüidade cria uma experiência multivalente onde se<br />

oscila de significa<strong>do</strong> a significa<strong>do</strong> s<strong>em</strong>pre achan<strong>do</strong> justificação e profundidade<br />

mais além. Não se pode separar méto<strong>do</strong> de propósito porque desenvolveram-se<br />

juntos e tornaram-se liga<strong>do</strong>s através de processo <strong>do</strong> reatroalimentação contínua. 4<br />

Para projetar uma janela, por ex<strong>em</strong>plo, você lida não somente com a função<br />

abstrata de modular raios de luz e brisas para servir o espaço interno mas com a<br />

imag<strong>em</strong> de uma janela – de todas as janelas que você conhece mais outras que<br />

você descobre. Esta abordag<strong>em</strong> é simbólica e funcionalmente convencional, mas<br />

promove uma arquitetura de significa<strong>do</strong>, mais ampla e mais rica ainda que menos<br />

dramática que a arquitetura de expressão. 5<br />

A maior parte destes arquitetos baseou-se na hipótese de os signos arquitetônicos<br />

precisar<strong>em</strong> de t<strong>em</strong>po para estabelecer<strong>em</strong>-se como convenção, e de os estilos absorver<strong>em</strong><br />

certas características da época <strong>em</strong> que floresceram, muito de acor<strong>do</strong> com o que<br />

pensaram vários teóricos <strong>do</strong> ecletismo já na fase final deste outro movimentos <strong>do</strong> século<br />

XIX.<br />

Assim, <strong>em</strong> linhas extr<strong>em</strong>amente generalistas, o gótico representaria o sublime, ou o<br />

sobrenatural ou mesmo qualquer sentimento relaciona<strong>do</strong> ao misticismo religioso, como<br />

terror e <strong>do</strong>minação psicológica. O barroco é comumente associa<strong>do</strong> ao luxo, riqueza,<br />

ostentação, intimidação e dil<strong>em</strong>as existenciais. Da mesma forma, o clássico, grego ou<br />

3 JENCKS, 1997, p. 33. Para conhecer a teoria original ver NORBERG-SCHULZ, 1965<br />

4 “When one sees an architecture which has been created with equal concern for form, function and<br />

technique, this ambiguity creates a multivalent experience where one oscillates from meaning to meaning<br />

always finding further justification and depth. One cannot separate the method from the purpose because<br />

they have grown together and become linked through the process of continual feedback.” JENCKS, 1997,<br />

p.45<br />

5 “To design a win<strong>do</strong>w, for instance, you state not only with the abstract function of modulating light rays<br />

and breezes to serve interior space but with the image of win<strong>do</strong>w – of all the win<strong>do</strong>ws you know plus<br />

others you find out about. This approach is symbolically and functionally conventional, but it promotes an<br />

architecture of meaning, broader and richer if less dramatic than the architecture of expression.”<br />

VENTURI, SCOTT BROWN e IZENOUR, 1972, p. 130<br />

3


omano, r<strong>em</strong>eteria à noção de nobreza, às grandes instituições, ao poder enfim. E estes<br />

signos vão além de r<strong>em</strong>eter simplesmente a processos construtivos da obra <strong>em</strong> questão.<br />

Enfatizar<strong>em</strong>os a imag<strong>em</strong> – imag<strong>em</strong> acima <strong>do</strong> processo ou da forma – asseguran<strong>do</strong><br />

que a arquitetura depende <strong>em</strong> sua criação e percepção de experiências passadas e<br />

associações <strong>em</strong>ocionais e que estes el<strong>em</strong>entos simbólicos e representacionais<br />

pod<strong>em</strong> muitas vezes ser contraditórios à forma, estrutura e programa com os quais<br />

eles se combinam <strong>em</strong> uma mesma edificação. 6<br />

O pós-modernismo, ainda que consideran<strong>do</strong> estas ‘significações’ simbólicas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong><br />

como válidas, não se restringiria a agregar valores significativos à construção de forma<br />

ingênua e óbvia, pelo menos não na intenção <strong>do</strong>s principais teóricos deste movimento.<br />

Ao contrário, a proposta de quebra da hierarquia estrutural tão cara aos modernistas ia<br />

de acor<strong>do</strong> com algumas características <strong>do</strong> pós-modernismo enquanto movimento<br />

artístico, e levaram estes arquitetos a subverter muitas das hierarquias e<br />

predeterminações existentes inerentes aos estilos que utilizavam.<br />

Por causa da busca <strong>do</strong>s fundamentos simbólicos legitima<strong>do</strong>s pela história, o pós-<br />

modernismo na arquitetura ficou marca<strong>do</strong> pelo resgate histórico <strong>do</strong>s estilos, sen<strong>do</strong><br />

muitas vezes reconheci<strong>do</strong> justamente por isso. De fato, a popularização <strong>do</strong> pós-<br />

modernismo tornou a sua prática bastante superficial e a utilização <strong>do</strong> historicismo era<br />

<strong>em</strong>pregada muitas vezes de maneira inconseqüente ou arbitrária o que, de certa forma,<br />

situa-se dentro da pós-modernidade que defende “o declínio da<br />

originalidade/genialidade <strong>do</strong> produtor artístico e a suposição de que a arte pode ser<br />

somente repetição.” 7<br />

Mas <strong>em</strong> sua base teórica a arquitetura pós-modernista era mais propensa a alteração<br />

consciente da ord<strong>em</strong>, visan<strong>do</strong> a “paródia, pastiche, ironia, diversão e a celebração da<br />

‘ausência de profundidade’ da cultura.” 8 Ou ainda, trabalhan<strong>do</strong> com a idéia de signo<br />

como imag<strong>em</strong> e menos como forma, pela utilização de el<strong>em</strong>entos históricos estiliza<strong>do</strong>s<br />

ou simplifica<strong>do</strong>s ao extr<strong>em</strong>o como uma apropriação de imagens antiquadas revisitadas<br />

por modernas técnicas de construção, ou mesmo gastas pelo t<strong>em</strong>po, reconhecidas<br />

apenas <strong>em</strong> sua conformação geral s<strong>em</strong> a riqueza de detalhes que estas imagens<br />

possuíam originalmente. O pós-modernismo, nesse caso, trabalha principalmente com<br />

imagens, o que equivale a dizer que enfatiza a edificação como objeto imediato (a visão<br />

que se t<strong>em</strong> da forma) e menos o objeto dinâmico (a forma tridimensional <strong>em</strong> si).<br />

6 “We shall <strong>em</strong>phasize image – image over process or form – in asserting that architecture depends in its<br />

perception and creation on past experience and <strong>em</strong>otional associations and that these symbolic and<br />

representational el<strong>em</strong>ents may often be contradictory to the form, structure and program with which they<br />

combine in the same building.” VENTURI, SCOTT BROWN e IZENOUR, 1972, p. 87<br />

7 FEATHERSTONE, 1995, p. 25<br />

8 FEATHERSTONE, 1995, p. 25<br />

4


Os projetos de Al<strong>do</strong> Rossi enquadram-se neste caso, <strong>em</strong> que os el<strong>em</strong>entos construtivos<br />

de outros estilos pod<strong>em</strong> ser reconheci<strong>do</strong>s sob novas formas, como frontões, colunas<br />

clássicas e arquitraves que aparec<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s sob a mesma conformação (no mesmo<br />

sintagma) original e por isso mesmo pod<strong>em</strong> ser identifica<strong>do</strong>s, mas dificilmente seriam<br />

vistos como tal se estivess<strong>em</strong> isola<strong>do</strong>s, já que são estiliza<strong>do</strong>s, simplifica<strong>do</strong>s, reduzi<strong>do</strong>s<br />

às suas formas mais puras, mais facilmente reconhecíveis, resgata<strong>do</strong>s de uma m<strong>em</strong>ória<br />

comum meio apagada pelo t<strong>em</strong>po, mas ainda reconhecível <strong>em</strong> seus contornos. Essa<br />

manifestação arquitetônica insere-se na contigüidade por convenção dentro da<br />

classificação de Plaza no tocante ao intracódigo <strong>do</strong>s signos. 9 “Estou referin<strong>do</strong>-me a<br />

mais a objetos familiares, cuja forma e posição já estão fixadas, mas cujos significa<strong>do</strong>s<br />

pode ser modifica<strong>do</strong>s. Celeiros, estábulos, oficinas, etc. objetos arquetípicos cujo apelo<br />

<strong>em</strong>ocional comum revela preocupações im<strong>em</strong>oriais.” 10 (fig. 10, fig. 11)<br />

Já na linha da ironia, símbolos eram acopla<strong>do</strong>s na arquitetura pós-modernista<br />

geralmente dentro de um contexto diferente, ou totalmente fora de contexto, geran<strong>do</strong> um<br />

sintagma novo, diferente <strong>do</strong> tradicional <strong>em</strong> que os símbolos foram origina<strong>do</strong>s. Plaza<br />

denomina “contigüidade por referência” esta forma de atividade sígnica na qual ocorre o<br />

deslocamento espaço-t<strong>em</strong>poral <strong>do</strong> signo. 11 Um frontão grego, por ex<strong>em</strong>plo, poderia<br />

coroar tanto um arranha-céu perfura<strong>do</strong> de janelas de vidro tipicamente moderno quanto<br />

uma estante de madeira de linhas totalmente retas, quase minimalista. Ou ainda, este<br />

frontão poderia (e muitas vezes foi) utiliza<strong>do</strong> <strong>em</strong> ambos os casos mas <strong>em</strong> sua forma<br />

estilizada, simplificada. Charles Moore, numa crítica radical e ao mesmo t<strong>em</strong>po cínica à<br />

excessiva auto-referência estilística <strong>do</strong> modernismo, usan<strong>do</strong> o nonsense e o absur<strong>do</strong><br />

presentes no pós-modernismo projetou <strong>em</strong> Los Angeles a Piazza d’Italia, repleta de<br />

chafarizes onde as água era jorrada não das tradicionais esculturas de cabeças de<br />

animais (<strong>em</strong> geral de leões ou peixes), mas de reproduções de seu próprio rosto.<br />

“Nostalgia. Coisas antigas pod<strong>em</strong> ser reconhecidas. Associações antigas são<br />

respeitadas, talvez se confundidas por uma utilização nova...” 12<br />

Desconstrutivismo<br />

9 PLAZA, 1985, p. 81<br />

10 “I am referring rather to familiar objects, whose form and position are already fixed, but whose<br />

meanings may be changed. Barns, stables, workshops, etc. Archetypal objects whose common <strong>em</strong>otional<br />

appeal reveals timeless concerns.” ROSSI, apud JENCKS, 1997, p. 67<br />

11 Id<strong>em</strong>, p. 80<br />

12 “Nostalgia. Old things can be recognizes. Old associations are respected, if perhaps confounded by<br />

new usage…” SILVER, 1972, p. 168 apud JENCKS, 1997, p. 51<br />

5


Mas importantes teóricos da pós-modernidade, <strong>em</strong> especial Jacques Derrida, Gilles<br />

Deleuze, Michel Foucault e Roland Barthes foram referência crucial para outro<br />

movimento que <strong>em</strong> nada – n<strong>em</strong> <strong>em</strong> intenções n<strong>em</strong> <strong>em</strong> formas – se ass<strong>em</strong>elha ao pós-<br />

modernismo como estilo arquitetônico. O Desconstrutivismo r<strong>em</strong>ete <strong>em</strong> nome a Derrida<br />

e <strong>em</strong> conceito à ‘<strong>do</strong>bra’ de Deleuze (‘le pli’, no original <strong>em</strong> francês). A constante<br />

referência aos grandes filósofos da pós-modernidade entre estes arquitetos os tornou<br />

centro de debates eruditos como há muito não se via na arquitetura.<br />

Geralmente preocupa<strong>do</strong>s com questões estritamente construtivas e absorven<strong>do</strong> apenas<br />

superficialmente os paradigmas culturais de sua época, dificilmente apareceram<br />

arquitetos inclina<strong>do</strong>s a contribuir com discussões conceituais <strong>em</strong> profundidade. Os pós-<br />

modernos, na verdade, chegaram mesmo a dizer que a construção devia ser a obra<br />

primeira e mais evidente <strong>do</strong> arquiteto, ten<strong>do</strong> seus escritos apenas a função de explicar<br />

ou justificar o que já havia si<strong>do</strong> erigi<strong>do</strong> <strong>em</strong> tijolo e cimento. 13 Seguin<strong>do</strong> ainda sua<br />

pr<strong>em</strong>issa de fazer-se compreender pelos não-arquitetos, seus escritos tinham<br />

vocabulário simples e estilo pouco rebusca<strong>do</strong>. Os modernistas, por sua vez, eram mais<br />

propensos a escrever manifestos: sintéticos, radicais, objetivos e com poucas referências<br />

externas – foss<strong>em</strong> filosóficas ou científicas – explicitan<strong>do</strong> assim somente as linhas-guia<br />

de seus projetos e deixan<strong>do</strong> ao observa<strong>do</strong>r a tarefa de visualizá-las expressas nas obras.<br />

Num fluxo contrário ao <strong>do</strong>s pós-modernistas, os desconstrutivistas parec<strong>em</strong> tentar<br />

transformar <strong>em</strong> projeto (ou representação) to<strong>do</strong> o arcabouço teórico adquiri<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

profundidade de ant<strong>em</strong>ão. Arcabouço este de forte teor filosófico de orig<strong>em</strong><br />

principalmente européia e mais especificamente francesa, de Foucault a Baudrillard.<br />

Outra mudança radical de posição <strong>do</strong>s desconstrutivistas, que será o que tentar<strong>em</strong>os<br />

explicitar neste texto, é a de que eles <strong>em</strong> sua maioria – ao menos aqueles que se<br />

expressavam também por escrito – não queriam mais que sua arquitetura comunicasse.<br />

Centra<strong>do</strong>s como os pós-modernistas nas análises sígnicas, a questão <strong>do</strong> significa<strong>do</strong><br />

esteve s<strong>em</strong>pre presente nos manifestos teóricos <strong>do</strong>s arquitetos desconstrutivistas. Mas se<br />

os pós-modernistas exploravam ao máximo os signos simbólicos e a capacidade da<br />

arquitetura de significar através da imag<strong>em</strong>, os desconstrutivistas acreditavam que a<br />

melhor representação da condição atual seria justamente aquela que não poderia<br />

significar.<br />

Dentre os principais desconstrutivistas pod<strong>em</strong>os citar Bernard Tschumi, Daniel<br />

Libeskind, Zaha Hadid e R<strong>em</strong> Koolhaas, ten<strong>do</strong> este último toma<strong>do</strong> caminho diverso e<br />

13 VENTURI, SCOTT BROWN e IZENOUR, 1972, p. 87<br />

6


independente. Tschumi fala, desde 1977, de uma ‘arquitetura <strong>do</strong> prazer’, onde a<br />

sensibilidade <strong>do</strong> inconsciente deve ser despertada, sen<strong>do</strong> necessário dissolver tipologias,<br />

morfologias e lógicas construtivas - o que v<strong>em</strong>os como estruturas. Muito <strong>do</strong> pensamento<br />

desconstrutivista passa pela dissolução das estruturas e hierarquias, um <strong>do</strong>s poucos<br />

pontos onde ele converge com o <strong>Pós</strong>-modernismo, ainda que o desconstrutivismo tenha<br />

tenta<strong>do</strong> ir mais além e não só trabalhar com a quebra da hierarquia dentro de um<br />

repertório conheci<strong>do</strong>, mas mudar também o repertório. (fig. 12, fig. 13)<br />

Tal arquitetura [a <strong>do</strong> prazer] é perversa porque sua significância real está fora da<br />

utilidade ou propósito e <strong>em</strong> seu extr<strong>em</strong>o não está n<strong>em</strong> mesmo necessariamente<br />

direcionada a dar prazer.<br />

(...)<br />

A arquitetura <strong>do</strong> prazer depende de uma característica particular que é a de manter<br />

a arquitetura obcecada consigo mesma de uma forma tão ambígua a ponto de<br />

jamais render-se à boa consciência ou paródia, à debilidade ou neurose delirante. 14<br />

Os desconstrutivistas possuíam aversões tanto à preocupação com a utilidade (e à<br />

dicotomia forma/função) <strong>do</strong>s modernistas quanto à procura de formas tipológicas e<br />

simbólicas <strong>do</strong> pós-modernismo. Libeskind, por ex<strong>em</strong>plo, preocupa<strong>do</strong> <strong>em</strong> entender a<br />

arquitetura através de suas representações, diz que “Este trabalho na procura da<br />

<strong>Arquitetura</strong> não descobriu nenhuma estrutura permanente, nenhuma forma constante e<br />

nenhum tipo universal.” 15 Em vez <strong>do</strong>s tipos constantes, os desconstrutivistas<br />

acreditavam <strong>em</strong> uma apreensão da arquitetura que fosse anterior ao raciocínio, anterior<br />

ao reconhecimento <strong>do</strong>s símbolos, algo que talvez pudéss<strong>em</strong>os entender como uma<br />

apreensão da primeiridade de Peirce.<br />

Acima de tu<strong>do</strong>, entretanto, sou um observa<strong>do</strong>r fascina<strong>do</strong> e um participante<br />

perplexo daquele misterioso desejo que procura uma elucidação radical da précompreensão<br />

original das formas – uma ambição que acredito estar implícita <strong>em</strong><br />

toda a arquitetura. Se existe uma verdadeira abstração aqui (<strong>em</strong> oposição à<br />

generalização) ela não é conseguida pela eliminação de conteú<strong>do</strong>s através de <strong>do</strong><br />

desenvolvimento gradual de um crescente vazio, mas sim um isolamento da<br />

essência estrutural, cuja manifestação <strong>em</strong> duas dimensões ilumina to<strong>do</strong>s os<br />

subsist<strong>em</strong>as de projeção (por ex<strong>em</strong>plo, o espaço tridimensional). 16<br />

Mas o principal arquiteto e teórico <strong>do</strong>s desconstrutivistas foi e continua sen<strong>do</strong> Peter<br />

Eisenman, por sua carreira acadêmica voltada à teoria de projeto e sua colaboração com<br />

os filósofos franceses como Derrida com qu<strong>em</strong> colaborou no livro “Choral Works”. A<br />

evolução <strong>do</strong> pensamento de Eisenman passa primeiramente pela negação <strong>do</strong> classicismo<br />

e de toda e qualquer arquitetura que tenha existi<strong>do</strong>. “Qual pode ser o modelo para a<br />

arquitetura quan<strong>do</strong> a essência <strong>do</strong> que era efetivo no modelo clássico – o presumi<strong>do</strong> valor<br />

14 TSCHUMI, 1977, p. 214<br />

15 LIBESKIND, 1983, p. 5<br />

16 LIBESKIND, 1979, p. 81<br />

7


acional da estrutura, representações, meto<strong>do</strong>logias de origens e fins, e processos<br />

dedutivos – foi d<strong>em</strong>onstra<strong>do</strong> ser uma simulação?” 17<br />

(fig. 14, fig.15)<br />

Sua proposta é a de uma arquitetura que represente a si mesma uma vez que não pode<br />

mais absorver valor da razão. Eisenman questiona a capacidade da arquitetura de ter<br />

origens naturais, divinas ou universais, de forma que ela deve se apresentar artificial e<br />

relativa. Ele também entende que a arquitetura deve ser criada como escrita, dentro de<br />

um sist<strong>em</strong>a de signos que na verdade não pod<strong>em</strong> ser ‘li<strong>do</strong>s’ pois não significam nada.<br />

(fig. 16, fig. 17)<br />

O que está sen<strong>do</strong> proposto é uma expansão além das limitações apresentadas pelo<br />

modelo clássico para a realização de arquitetura como um discurso independente,<br />

livre de valores externos – clássicos ou quaisquer outros; ou seja, a interseção <strong>do</strong><br />

s<strong>em</strong>-significa<strong>do</strong>, <strong>do</strong> arbitrário e <strong>do</strong> at<strong>em</strong>poral no artificial. 18<br />

Eisenman dissocia estas características da idéia de ‘simulação’ de Baudrillard, já que<br />

sua tentativa não é a de perder a distinção entre realidade e representação, que ele<br />

considera clássica e que mantém a construção como um conjunto de convenções<br />

simulan<strong>do</strong> o real. Ele chama sua proposta de ‘dissimulação’, porque <strong>em</strong> lugar de<br />

destruir a diferença entre real e imaginário, a dissimulação trata da diferença entre real e<br />

ilusão. “A relação entre dissimulação e realidade é similar à significação corporificada<br />

na máscara: o signo de se fingir ser não o que se é – ou seja, um signo que parece não<br />

significar nada além de si mesmo (o signo de um signo, ou a negação <strong>do</strong> que está por<br />

trás dele).” 19<br />

Em projeto, o resulta<strong>do</strong> formal dessa dissimulação é bastante característico, radical e<br />

perturba<strong>do</strong>r. Aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> a racionalidade da geometria euclidiana, seus projetos<br />

distorciam a visualização perspectívica e apresentavam estruturas de uma física<br />

aparent<strong>em</strong>ente ilógica. Os projetos desconstrutivistas transgrid<strong>em</strong> as linhas retas e<br />

<strong>em</strong>aranham to<strong>do</strong>s os planos e arestas <strong>em</strong> ângulos diversos, s<strong>em</strong>pre diferentes entre si,<br />

até que a edificação aparente confusão e instabilidade.<br />

Andreas Papadakis considera-os “desenhistas de catástrofes”, porque parte de seu<br />

<strong>em</strong>basamento teórico filosófico é deriva<strong>do</strong> da Teoria das Catástrofes, que eles traduz<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> projeto de forma singular, uma vez que suas obras realmente ass<strong>em</strong>elham-se a<br />

17 EISENMAN, 1984, p. 154<br />

18 EISENMAN, 1984, p. 155<br />

19 “The relationship between dissimulation and reality is similar to the signification <strong>em</strong>bodied in the<br />

mask: the sign of pretending to be not what one is – that is, a sign which se<strong>em</strong>s not to signify anything<br />

besides itself (the sign of a sign, or the negation of what is behind it).” EISENMAN, 1984, p. 155<br />

8


construções tradicionais que sofreram destruição violenta e estão destroçadas, seus<br />

fragmentos amontoa<strong>do</strong>s desordenadamente uns sobre os outros, e vários deles ainda<br />

pendentes da estrutura na posição original. 20 Peter Eisenman acredita que uma nova<br />

arquitetura deva ser criada porque a realidade que vivenciamos é determinada pelo<br />

paradigma eletrônico.<br />

O paradigma eletrônico desafia diretamente a arquitetura porque define a realidade<br />

<strong>em</strong> termos de mídia e estímulo, ele valoriza a aparência <strong>em</strong> detrimento da<br />

existência, o que pode ser visto <strong>em</strong> detrimento <strong>do</strong> que é. Não o visto como o<br />

conhecíamos anteriormente, mas um ver que não pode mais interpretar. A mídia<br />

introduz ambigüidades fundamentais <strong>em</strong> o quê e como v<strong>em</strong>os. A arquitetura t<strong>em</strong><br />

resisti<strong>do</strong> a esta questão porque desde a importação e a absorção da perspectiva<br />

pelo espaço arquitetônico <strong>do</strong> século XV a arquitetura t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> <strong>do</strong>minada pela<br />

mecânica da visão. 21<br />

Suas formas ‘<strong>do</strong>bradas’ são planos e arestas inclina<strong>do</strong>s, fragmenta<strong>do</strong>s e descontínuos<br />

forman<strong>do</strong> s<strong>em</strong>pre ângulos não-retos. Esse envelope instável encerra espaços<br />

desordena<strong>do</strong>s, s<strong>em</strong> hierarquia de formas. É uma outra abordag<strong>em</strong> para a quebra da<br />

organização mental <strong>do</strong> ambiente tridimensional. É uma tentativa de libertar-se da<br />

formatação tradicional de ‘leitura’ da realidade. As formas desconstrutivistas são pouco<br />

ou nada discerníveis, parecen<strong>do</strong>-se mais com fragmentos de formas caoticamente<br />

superpostos. Eisenman pretende que sua arquitetura seja uma resposta ao excesso de<br />

estímulos gera<strong>do</strong>s pelo aparelho da Era da Mídia Eletrônica, que ele supõe destruír<strong>em</strong> a<br />

mecânica da visão que aprisionava as formas arquitetônicas <strong>em</strong> proporções<br />

mat<strong>em</strong>áticas.<br />

Concretizan<strong>do</strong>, então, o paradigma eletrônico, a estética <strong>do</strong>s desconstrutivistas pretendia<br />

ser de difícil decodificação por cérebros acostuma<strong>do</strong>s a decifrar formas<br />

hierarquicamente organizadas no espaço. E para atingir essa meta estes arquitetos<br />

passaram a renegar o que se compreendia até então como perfeição formal segun<strong>do</strong><br />

parâmetros cartesianos.<br />

Com intenção de mudar a relação de projeção perspectivista para espaço<br />

tridimensional é necessário mudar a relação entre desenho de projeto e espaço<br />

real. Isto significaria que não se poderia mais desenhar com qualquer nível de<br />

significa<strong>do</strong> aquele espaço que está sen<strong>do</strong> projeta<strong>do</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, quan<strong>do</strong> não é<br />

mais possível desenhar uma linha que tenha uma relação de escala com outra linha<br />

no espaço, isto não t<strong>em</strong> nada que ver com a razão, da conexão da mente com o<br />

olho. A deflexão da linha no espaço significa que não existe mais uma<br />

correspondência de escala de 1:1.<br />

Meus projetos <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s são um começo primitivo. Neles o sujeito compreende<br />

que ele ou ela não consegue mais conceituar a experiência de espaço da mesma<br />

maneira que ele ou ela faziam no espaço quadricula<strong>do</strong>. Eles tentam promover esse<br />

20 conceito de Andreas Papadakis exposto na Revista AU, ano 12, nº75, dez/jan 1998, p. 59<br />

21 EISENMAN, 1992, p. 22<br />

9


deslocamento <strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong> espaço efetivo; uma idéia de presentidade. Uma vez<br />

que o ambiente se torna afetivo, inscrito <strong>em</strong> uma lógica ou ur-lógica, que não pode<br />

mais ser traduzi<strong>do</strong> pela visão da mente, a razão se torna desprendida da visão. 22<br />

O que se pretende discutir aqui é a análise formal deste movimento como pensamento<br />

<strong>em</strong> signos. Toman<strong>do</strong> como referência principalmente os pensamentos escritos de<br />

Eisenman, tentar<strong>em</strong>os situar <strong>em</strong> que nível de significa<strong>do</strong> se coloca o desconstrutivismo.<br />

Julio Plaza nos oferece uma investigação sobre o t<strong>em</strong>a <strong>do</strong> signo estético que nos parece<br />

pertinente com nossas indagações. Partin<strong>do</strong> da s<strong>em</strong>iótica peirceana, ele define que o<br />

signo estético sob a <strong>do</strong>minância <strong>do</strong> ícone, por este ser um signo que acentua suas<br />

características centrípetas, ou seja, enfatiza seus caracteres materiais, distrai-se da<br />

incompletude <strong>do</strong> signo e <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s fecha<strong>do</strong>s para tornar-se completa e aberta à<br />

interpretação.<br />

Ora sen<strong>do</strong> o ícone um signo s<strong>em</strong> poder de representação, as qualidades materiais<br />

de seu Objeto Imediato não se reportam a algo que está fora <strong>do</strong> signo, mas apenas<br />

apresentam-se a si mesmas. (...) É por isso que o conhecimento que ele está apto a<br />

instaurar é apenas uma possibilidade de compreensão. 23<br />

Nos parece que a negação da razão e da compreensão visual de Eisenman converg<strong>em</strong><br />

com a idéia <strong>do</strong> signo estético icônico de Plaza, que por “estar apto a produzir como<br />

interpretante simplesmente qualidades de sentimento inanalisáveis, inexplicáveis e<br />

inintelectuais.” 24 Eisenman parece querer manter seu formalismo dentro de uma<br />

condição de constante primeiridade, quan<strong>do</strong> ele se refere à “uma idéia de presentidade”,<br />

de estar s<strong>em</strong>pre num primeiro nível de compreensão, de apreensão das qualidades<br />

materiais <strong>do</strong> que se vê s<strong>em</strong> que a imag<strong>em</strong> r<strong>em</strong>eta a uma outra idéia, ou a um outro<br />

significa<strong>do</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> Plaza diz que “no caso <strong>do</strong> signo estético, por seu la<strong>do</strong>, o fundamento não é mais<br />

<strong>do</strong> que a expressão da idéia de possibilidade, indeterminação, talidade, essência e auto-<br />

referência” pod<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar da proposta de Eisenman de um signo “que parece não<br />

significar nada além de si mesmo (o signo de um signo, ou a negação <strong>do</strong> que está por<br />

trás dele)” e a de Tschumi que pretende “manter a arquitetura obcecada consigo mesma<br />

de uma forma tão ambígua a ponto de jamais render-se à boa consciência”.<br />

E se Eisenman insiste por diversas vezes na criação de uma espacialidade que não deva<br />

significar impedin<strong>do</strong> a pessoa que experiência esse espaço de compreendê-lo ou<br />

conceituá-lo, nos parece mesmo a síntese de Plaza sobre o ícone:<br />

22 EISENMAN, 1992, pp. 23-24<br />

23 PLAZA, 1985, pp. 23-24<br />

24 PLAZA, 1985, p. 24<br />

10


Quan<strong>do</strong> t<strong>em</strong>os um ícone, epifania na mente, por um instante de t<strong>em</strong>po, este<br />

instante é irrepetível e intraduzível, pois o ícone, por ser uma forma ou totalidade<br />

sensível indivisível, resiste à análise e incide na consciência como espécie de<br />

interrupção. 25<br />

Ainda que Eisenman admita que suas formas <strong>do</strong>bradas sejam apenas incursões<br />

primitivas na tentativa de manter a iconicidade das formas, devi<strong>do</strong> às reações que esse<br />

tipo de arquitetura causa, de instabilidade e confusão espacial, pode-se argumentar que<br />

talvez sejam conseqüências justamente dessa sensação constante de primeiridade. O<br />

desconstrutivismo colocou ênfase nas qualidades estéticas de seus signos, mas para que<br />

estas sensações foss<strong>em</strong> evidenciadas, as qualidades são perturba<strong>do</strong>ras.<br />

O desenho <strong>do</strong> caos parece ter si<strong>do</strong> a maneira encontrada pelos desconstrutivistas para<br />

fazer com que as formas não se reportass<strong>em</strong> a tipos conheci<strong>do</strong>s da construção. O<br />

desenho caos faz com que coberturas e paredes possam fundir-se ou mesclar-se. Fez<br />

com que não se pudesse mais distinguir, por ex<strong>em</strong>plo, entre duas paredes, uma vez que<br />

fragmentos <strong>em</strong>aranha<strong>do</strong>s não constitu<strong>em</strong> unidades precisas, tornan<strong>do</strong> a compreensão<br />

<strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos difícil. Uma das idéias, aparent<strong>em</strong>ente, seria a de tornar complexa a<br />

leitura das formas por não permitir a s<strong>em</strong>iose completa, através de símbolos, de tipos<br />

convencionaliza<strong>do</strong>s.<br />

Sen<strong>do</strong> as edificações presas pragmaticamente a materiais de construção já conheci<strong>do</strong>s,<br />

mesmo descartan<strong>do</strong>-se signos convencionais os próprios materiais de construção<br />

poderiam servir para r<strong>em</strong>eter a partes definidas de uma edificação. Perfis de alumínio e<br />

painéis de vidro poderiam l<strong>em</strong>brar janelas (inclusive se configurar<strong>em</strong>-se como<br />

aberturas), alvenaria e concreto deveriam fazer parte de paredes de vedação ou<br />

estruturas, na mesma medida <strong>em</strong> que telhas de qualquer material seriam s<strong>em</strong>pre<br />

coberturas. Nesta condição, os arquitetos estariam ainda lidan<strong>do</strong> com ícones, centra<strong>do</strong>s<br />

<strong>em</strong> suas qualidades materiais e dan<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> a partir de relações de similaridade e<br />

s<strong>em</strong>elhança, produzin<strong>do</strong> sentimentos de analogia com a construção.<br />

Os desconstrutivistas, entretanto, não se contentariam com este tipo de iconicidade,<br />

procuran<strong>do</strong> tornar a arquitetura ainda menos comunicativa. Poderíamos fazer aqui um<br />

outro <strong>em</strong>préstimo de fundamentação teórica peirceana, de Santaella e Nöth, quan<strong>do</strong><br />

estes defin<strong>em</strong> a pintura não-figurativa como imag<strong>em</strong> icônica prototípica. 26<br />

25 PLAZA, 1985, p. 42<br />

26 SANTAELLA e NÖTH, 1998<br />

11


Estes autores chegaram a conclusões bastante parecidas com as de Plaza no que se<br />

refere à caracterização <strong>do</strong> signo estético como icônico e explicam que para um quali-<br />

signo icônico é possível, de acor<strong>do</strong> com a teoria de Peirce, haver percepção s<strong>em</strong><br />

referência a um objeto devi<strong>do</strong> à categoria de auto-representatividade <strong>do</strong> signo.<br />

Novamente reportan<strong>do</strong>-nos à analogia de máscara de Eisenman, os autores falam da<br />

capacidade de o ícone ser signo de si mesmo representan<strong>do</strong> uma relação triádica na qual<br />

o objeto é o próprio veículo <strong>do</strong> signo, onde este se revela na verdade como hipoícone,<br />

ou ícone puro. Santaella e Nöth oferec<strong>em</strong> como ex<strong>em</strong>plo de hipoícone ou quali-signo<br />

icônico a pintura não-figurativa, <strong>em</strong> particular a monocromática.<br />

Além da pintura monocromática, que, <strong>do</strong> ponto de vista da teoria da informação<br />

apresenta um máximo de ord<strong>em</strong> estrutural, as imagens não-figurativas que<br />

correspond<strong>em</strong> ao princípio oposto, ao caos estrutural total, também pertenc<strong>em</strong> à<br />

classe <strong>do</strong>s quali-signos icônicos. Imagens produzidas aletoriamente são ex<strong>em</strong>plos<br />

desse outro extr<strong>em</strong>o. O receptor é confronta<strong>do</strong> com formas e constelações<br />

cromáticas totalmente imprevisíveis, nunca antes vistas que, livres de qualquer<br />

tipo de esqu<strong>em</strong>a composicional e s<strong>em</strong> nenhuma tradição de gênero (regularidade,<br />

terceiridade), só têm efeito por sua própria qualidade. Nada se parece com elas e,<br />

exatamente por isso, tu<strong>do</strong> também pode ser s<strong>em</strong>elhante a essas imagens. A relação<br />

de referência é tão aberta quanto no caso da imag<strong>em</strong> monocromática. 27<br />

Se substituirmos a pintura não-figurativa de caos estrutural total pela arquitetura<br />

desconstrutivista nesta linha de pensamento, poder<strong>em</strong>os então considerá-la um quali-<br />

signo icônico “que, como signo puro, se reduz, por sua mera qualidade, ao nível icônico<br />

e, assim, à categoria de primeiridade”. 28 Defend<strong>em</strong>os que pod<strong>em</strong>os substituir um<br />

ex<strong>em</strong>plo por outro porque assim como esta pintura não-figurativa a arquitetura<br />

desconstrutivista também apresenta um caos estrutural total e o receptor é confronta<strong>do</strong>,<br />

de acor<strong>do</strong> com a vontade consciente <strong>do</strong> arquiteto, com formas totalmente imprevisíveis,<br />

livres de esqu<strong>em</strong>as compositivos e s<strong>em</strong> nenhuma tradição de gênero (que seriam os<br />

tipos morfológicos, ancora<strong>do</strong>s nos estilos arquitetônicos).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, manten<strong>do</strong> esta citação de Santaella e Nöth e o ex<strong>em</strong>plo primeiro de<br />

pintura não-figurativa monocromática, tentar<strong>em</strong>os substituí-lo por outra vertente da<br />

arquitetura: a morfologia blob de Greg Lynn e <strong>do</strong> Studio NOx.<br />

Blobjects<br />

E, nesse senti<strong>do</strong>, é interessante observar que a pós-modernidade analisada e exposta<br />

pelos mesmos filósofos pôde ter toma<strong>do</strong> corpo de maneiras tão essencialmente<br />

27 SANTAELLA e NÖTH, 1998, p. 146<br />

28 SANTAELLA e NÖTH, 1998, pp. 145-146<br />

12


diferentes pelos diferentes movimentos que a a<strong>do</strong>taram. A mesma ‘<strong>do</strong>bra’ de Deleuze<br />

que gerou o desconstrutivismo e seu desenho <strong>do</strong> caos também inspirou os blobjects de<br />

Greg Lynn, que <strong>em</strong> lugar das formas contundentes e acidentais trabalha com uma<br />

plástica curvilínea de traços suaves e leves, na busca de uma linha s<strong>em</strong>pre contínua <strong>em</strong><br />

oposição à fragmentação típica <strong>do</strong> desenho <strong>do</strong> caos.<br />

O desconstrutivismo, a propósito, não é considera<strong>do</strong> por Jencks propriamente um<br />

movimento, e sim algo como “uma síndrome de preocupações e táticas construtivas<br />

perseguidas por diversos arquitetos <strong>em</strong> paralelo”. 29 Tal classificação talvez explique a<br />

curta duração da união entre os arquitetos coloca<strong>do</strong>s sob este rótulo, uma vez que foram<br />

reuni<strong>do</strong>s <strong>em</strong> uma exposição <strong>do</strong> MoMA de Nova Iorque organizada por Philip Johnson<br />

s<strong>em</strong> ter a maioria deles contato entre si ou qualquer associação anterior. Logo após a<br />

exposição continuaram <strong>em</strong> rumos diferentes e muitos acabaram mesmo por evoluir <strong>em</strong><br />

formalismos bastante distantes daquele que os categorizaram como desconstrutivistas,<br />

alguns inclusive parec<strong>em</strong> hoje ter a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> as formas blob que pareciam, a princípio, tão<br />

diferentes <strong>do</strong> desconstrutivismo.<br />

Eisenman e Ben van Berkel, <strong>do</strong> U.N. Studio, falam de espaços estrutura<strong>do</strong>s como a tira<br />

de Moebius, mas enquanto o primeiro propõe continuidade entre interior e exterior<br />

através de fragmentos contundentes de construção, van Berkel propõe a continuidade<br />

plástica da própria construção. E é esta a busca que vai caracterizar os arquitetos blob.<br />

(fig. 18)<br />

As experiências plásticas mais atuais <strong>em</strong> arquitetura delineam-se <strong>em</strong> formas soltas que<br />

nasceram de uma tendência inicialmente <strong>do</strong> design cujo principal nome é Karim Hashid,<br />

designer que começa por agora a trabalhar também com interiores e arquitetura.<br />

Diferentes arquitetos lhes dão diferentes nomes, mas a indústria chama de ‘superfícies<br />

de dupla curvatura’ as que são desenhadas com uma geometria complexa, de difícil<br />

visualização e cálculo. Em geral essas superfícies são formadas por múltiplas curvas<br />

livres de pequena dimensão, muito difíceis de ser<strong>em</strong> projetadas por méto<strong>do</strong>s de<br />

representação gráfica tradicionais. A informática facilitou <strong>em</strong> muito a projetação deste<br />

tipo de morfologia e, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> material utiliza<strong>do</strong> <strong>em</strong> sua estrutura ou <strong>em</strong> seu<br />

revestimento, a manufatura só é possível por méto<strong>do</strong>s informatiza<strong>do</strong>s. (fig. 19, fig. 20,<br />

fig. 21, fig. 22) (fig. 23)<br />

Mesmo com o uso de computa<strong>do</strong>res estas formas exig<strong>em</strong> cálculos pesa<strong>do</strong>s e manuseio<br />

especial, <strong>em</strong> arquivos chama<strong>do</strong>s de BLObs, ou Binary Large Objects. A denominação<br />

29 JENCKS, 1997, p. 269<br />

13


que surgiu da meto<strong>do</strong>logia e a tecnologia utilizadas acabou por ser a<strong>do</strong>tada por alguns<br />

designers e arquitetos. Diferent<strong>em</strong>ente <strong>do</strong>s desconstrutivistas, exist<strong>em</strong> poucos teóricos<br />

prolíficos da estética blob, mas o principal parece ser Greg Lynn, que defende tal<br />

estética como a única coerente com o atual conhecimento tecnológico, de física e de<br />

mat<strong>em</strong>ática, pois engloba a complexidade existente <strong>em</strong> nossa percepção de realidade<br />

existente. Realidade esta que ele associa com a filosofia da ‘<strong>do</strong>bra’ de Deleuze para<br />

criar suaves transformações.(fig. 24, 25)<br />

[...] Exist<strong>em</strong> muitas oportunidades para os arquitetos ser<strong>em</strong> influencia<strong>do</strong>s pelo<br />

livro de Gilles Deleuze “Le Pli” (A Dobra). As características formais de<br />

‘<strong>do</strong>brabilidade’ – principalmente formas inexatas e geometrias topológicas –<br />

pod<strong>em</strong> ser viscosas e fluidas ao reagir a exigências. Elas mantêm integridade<br />

formal através de deformações que não racham n<strong>em</strong> sofr<strong>em</strong> cisalhamento<br />

internamente, mas através das quais elas conectam, incorporam e afiliam-se<br />

produtivamente. 30<br />

Tanto Lynn quanto o Studio NOx desenvolv<strong>em</strong> uma morfologia não feita de partes<br />

discerníveis, mas de superfícies curvas que delineam uma plástica suave, contínua, s<strong>em</strong><br />

interrupções. Sua arquitetura geralmente não é constituída de volumes geométricos<br />

combina<strong>do</strong>s, mas de uma única superfície fluida que transpassa interior e exterior, que<br />

se abre e se fecha s<strong>em</strong> se fragmentar. Não exist<strong>em</strong> aqui arestas ou planos defini<strong>do</strong>s. De<br />

certa forma, é a busca de uma continuidade visual que impeça a tradução <strong>do</strong> to<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

el<strong>em</strong>entos mais simples, contrarian<strong>do</strong> a Gestalt. Ben van Berkel, cujos primeiros<br />

trabalhos apresentavam parentesco com os desconstrutivistas, hoje procura<br />

declaradamente inspirar-se na tira de Moebius para desenvolver o estu<strong>do</strong> da linha<br />

infinita, de uma plástica s<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos estáticos decomponíveis e s<strong>em</strong> começo n<strong>em</strong><br />

fim. (fig. 26, 27, 28, 29)<br />

Esta arquitetura blob v<strong>em</strong>os como enquadrada também na definição de ícone de Plaza:<br />

“O mo<strong>do</strong> de apreensão <strong>do</strong> próprio ícone é instantâneo, como imediaticidade s<strong>em</strong><br />

referência a uma outra coisa, como mera qualidade, assim como uma superfície<br />

geométrica, como possibilidade.” 31 As formas blob, por ser<strong>em</strong> organizadas segun<strong>do</strong> a<br />

ord<strong>em</strong> por homogeneidade, ou seja, que “estabelece um mínimo de complexidade , quer<br />

dizer, tende ao desaparecimento, provocan<strong>do</strong> uma qualidade comum a to<strong>do</strong> o<br />

30 “[…] There are many opportunities for architects to be effected by Gilles Deleuze’s book Le Pli. The<br />

formal characteristics of pliancy – inexact forms and topological geometries primarily – can be more<br />

viscous and fluid in response to exigencies. They maintain formal integrity through deformations which<br />

<strong>do</strong> not internally cleave or shear but through which they connect, incorporate and affiliate productively.”<br />

Greg Lynn apud JENCKS, 1997, p. 127<br />

31 PLAZA, 1987, p. 85<br />

14


esqu<strong>em</strong>a” 32 , pod<strong>em</strong> ser comparadas à pintura não-figurativa monocromática dada como<br />

ex<strong>em</strong>plo de iconicidade por Santaella e Nöth.<br />

Uma imag<strong>em</strong> monocromática consistin<strong>do</strong> somente da cor azul, conforme o ponto<br />

de vista, ou não “significa” absolutamente nada, ou se refere a infinitas coisas, a<br />

saber, todas as coisas azuis no mun<strong>do</strong>. Já que ela é tanto referencialmente vazia<br />

como totalmente aberta, o observa<strong>do</strong>r precisa abrir mão da ilusão da referência, da<br />

relação com o objeto, concentran<strong>do</strong>-se somente na materialidade e, assim, no<br />

aspecto da primeiridade da própria imag<strong>em</strong>. 33<br />

Se considerarmos a plástica blob como coerente com sua teoria – de que não existe<br />

interrupções ou el<strong>em</strong>entos destacáveis, <strong>em</strong> sua superfície e toda ela é composta de<br />

curvas suaves perfeitamente interligadas de maneira que não se possa perceber partes<br />

discerníveis mas apenas uma unidade formal complexa – então pod<strong>em</strong>os substituir a<br />

pintura monocromática por plástica blob na citação acima e aceitar a percepção desta<br />

como apenas primeiridade que se nega a participar das categorias da secundidade e<br />

terceiridade.<br />

As formas blob, de fato, negam-se a representar significa<strong>do</strong>s tanto no design quanto na<br />

arquitetura, o que pode ser constata<strong>do</strong> no fato de estes objetos ou edificações não ser<strong>em</strong><br />

a priori reconheci<strong>do</strong>s <strong>em</strong> suas utilidades ou funções. Os objetos blob ou blobjects são<br />

puro formalismo que não comunica a utilidade, que poderíamos chamar de conteú<strong>do</strong>.<br />

As formas <strong>do</strong>s blobjects, <strong>em</strong> oposição à busca <strong>do</strong>s modernistas, não depend<strong>em</strong> e n<strong>em</strong><br />

sequer r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à sua função, ignoran<strong>do</strong> assim também a preocupação pós-modernista<br />

de adaptação de um ‘tipo’ formal adequa<strong>do</strong> à função, não necessariamente dependente<br />

desta, mas relativo à ela de acor<strong>do</strong> com símbolos, legissignos de convenção.<br />

Conclusão<br />

A proposta deste trabalho é a de reconhecer dentro de algumas vertentes da arquitetura<br />

as intenções de seus autores segun<strong>do</strong> a s<strong>em</strong>iótica peirceana. Longe de estabelecer tais<br />

conjecturas como certas, nossa intenção é a de trazer à tona questionamentos pouco<br />

explora<strong>do</strong>s pelo campo da arquitetura. Se exist<strong>em</strong> estu<strong>do</strong>s de s<strong>em</strong>iótica que se utilizam<br />

de obras arquitetônicas como ilustração de conceitos da área, muito pouco pode ser<br />

encontra<strong>do</strong> no caminho inverso, de estu<strong>do</strong>s arquitetônicos que se utilizam de conceitos<br />

sígnicos para compreender a criação e percepção arquitetônica.<br />

32 PLAZA, 1987, p. 74<br />

33 SANTAELLA e NÖTH, 1998, p. 146<br />

15


Pensamos ser de importância para a arquitetura compreender melhor sua produção e<br />

como sua produção é apreendida por seus usuários a partir de uma teoria abrangente<br />

como a s<strong>em</strong>iótica. Chegamos a algumas conclusões que consideramos superficiais mas<br />

relevantes por ser<strong>em</strong> de caráter exploratório.<br />

Inicialmente reconhec<strong>em</strong>os a arquitetura pós-moderna como essencialmente simbólica,<br />

notan<strong>do</strong>, inclusive, que se ela chegou a tal nível de discurso e se pôde realmente<br />

transpor para edificações suas intenções, foi talvez por ser um <strong>do</strong>s poucos movimentos<br />

arquitetônicos que se preocupou <strong>em</strong> estudar a s<strong>em</strong>iótica e aplicá-la pragmaticamente.<br />

Compreend<strong>em</strong>os os arquitetos pós-modernos também <strong>em</strong> contraposição aos<br />

modernistas, que inicialmente tinham muito pouco de simbólico, <strong>em</strong> especial <strong>em</strong> teoria,<br />

já que desconsideravam a convenção cultural e procuravam uma auto-referência<br />

relacionada à função <strong>do</strong>s espaços e <strong>do</strong>s materiais construtivos. Posteriormente, talvez, a<br />

repetição de certas soluções de projeto modernistas tenham vin<strong>do</strong> a tornar-se<br />

simbólicas, convencionadas pelo t<strong>em</strong>po, o que foi também explora<strong>do</strong> pelos pós-<br />

modernos tanto séria como cinicamente.<br />

Em t<strong>em</strong>pos mais recentes, a necessidade de comunicar <strong>do</strong>s pós-modernos parece estar<br />

sen<strong>do</strong> substituída pela contra-comunicação das teorias filosóficas pós-modernas.<br />

Blobjects de design ou arquitetônicos não são auto-referentes, n<strong>em</strong> indiciais, n<strong>em</strong><br />

simbólicos, e mais parec<strong>em</strong> pertencer, assim como as formas desconstrutivistas, à<br />

primeiridade icônica geralmente relacionada às formas artísticas e poéticas. Com<br />

resulta<strong>do</strong>s formais bastante diversos e <strong>em</strong>basamento teórico s<strong>em</strong>elhante,<br />

desconstrutivistas e blobs se val<strong>em</strong> <strong>do</strong>s hipoícones ou quali-sígnos icônicos para<br />

centrar-se nas formas e nas qualidades materiais da arquitetura impedin<strong>do</strong> o processo de<br />

s<strong>em</strong>iose e de compreensão plena de seu espaço. Ainda que alguns teóricos, como<br />

Eisenman e Lynn refiram-se à teoria <strong>do</strong>s signos, muito pouco desta discussão chega às<br />

escolas de arquitetura e aos arquitetos <strong>em</strong> geral, o que ressaltamos como uma lacuna no<br />

aprendiza<strong>do</strong> da arquitetura.<br />

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