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O IMPÉRIO DO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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O DEBATE INTERROMPI<strong>DO</strong><br />

Luiz Fernando Santoro<br />

A questão do <strong>de</strong>bate político na TV já vem sendo abordada neste Boletim sob diversos aspectos.<br />

Entretanto, julgamos importante juntar ao processo <strong>de</strong> discussão mais um enfoque, ao comentar o<br />

tratamento que as emissoras <strong>de</strong> TV têm dispensado aos <strong>de</strong>bates.<br />

O último <strong>de</strong>bate entre os candidatos ao governo <strong>de</strong> São Paulo, promovido pela Re<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>iran-<br />

tes <strong>de</strong> TV e o jornal Folha <strong>de</strong> São Paulo, teve alguns elementos até então inéditos: foi o único <strong>de</strong>bate<br />

pela TV em São Paulo com a presença dos cinco candidatos, sofreu uma interrupção para a veicula- 1<br />

ção <strong>de</strong> uma mensagem do presi<strong>de</strong>nte Figueiredo, foi constantemente fragmentado por incontáveis in-<br />

tervalos comerciais e, finalmente, teve o mérito <strong>de</strong> ter sido realmente o último <strong>de</strong>bate pela TV antes<br />

da proibição <strong>de</strong>corrente da Lei Falcão.<br />

Sem o menor pudor, o presi<strong>de</strong>nte participou do <strong>de</strong>bate sem ter sido convidado. Sua participação:<br />

não esteve ao nível do diálogo, como aconteceu com os candidatos, mas teve a conotação <strong>de</strong> uma<br />

comunicação ao povo brasileiro, ao falar dos esforços dispendidos pelo governo fe<strong>de</strong>ral visando me-<br />

lhorar o problema já crônico da Previdência Social. Em ca<strong>de</strong>ia nacional, o presi<strong>de</strong>nte falou olhando<br />

fixamente nos olhos do espectador: apesar <strong>de</strong> ter em mãos o texto <strong>de</strong> sua fala, contou com o mesmo<br />

recurso utilizado pelos apresentadores <strong>de</strong> nossos telejornais, que é o "tele-prompter" — aparelho<br />

que projeta o "script" a ser lido na altura da lente da câmara. O efeito obtido é bem interessante,<br />

enquanto impacto no público em geral: o apresentador dá a impressão <strong>de</strong> falar com o texto <strong>de</strong>cora-<br />

do, ou melhor, <strong>de</strong> expressar um pensamento perfeitamente articulado, reforçando sobremaneira<br />

sua credibilida<strong>de</strong>. Afinal, imagina-se que é um texto próprio daquele que o lê. e não algo escrito<br />

por terceiros, como transparece nos textos lidos diretamente do "script". Claro que o presi<strong>de</strong>nte<br />

esteve longe da <strong>de</strong>scontração dos profissionais dos telejornais, ainda que se preocupasse, vez por<br />

outra, em "virar a página" do texto que tinha em mãos, o que foi realizado em espaços <strong>de</strong> tempo<br />

absolutamente irregulares. Enfim, esteve "no ar" por preciosos minutos, com a inegável conse-<br />

qüência <strong>de</strong> oferecer, vamos até acreditar que por mero acaso, importante elemento <strong>de</strong> reforço ao<br />

candidato do PDS. O fato do <strong>de</strong>bate ter sido exibido em "vi<strong>de</strong>o-tape" impediu que qualquer outro<br />

candidato pu<strong>de</strong>sse fazer alguma referência ao que foi dito pelo presi<strong>de</strong>nte, ou à sua própria "presen-<br />

ça".<br />

Outro aspecto que pareceu-nos marcante foi o <strong>de</strong>srespeito total com o espectador que procurou<br />

assistir ao <strong>de</strong>bate para sentir o clima do antagonismo <strong>de</strong> idéias e a própria reação dos candidatos a<br />

perguntas impertinentes. Antes <strong>de</strong> respostas esperadas, o programa era interrompido para mensa-<br />

gens comerciais, usando a mesma estrutura — <strong>de</strong>sculpem a comparação — <strong>de</strong> uma telenovela. A in-<br />

tenção <strong>de</strong> criar/escrever cenas que terminam num clima <strong>de</strong> tensão crescente é parte integrante do<br />

processo <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> uma telenovela, na evi<strong>de</strong>nte expectativa <strong>de</strong> que o espectador continue sin-<br />

tonizado na emissora e assista suas mensagens comerciais. Isso sem se referir a justificativas <strong>de</strong> que o<br />

intervalo comercial é importante pois possibilita um "relaxamento" emocional por parte da audiên-<br />

cia — como se ela já não estivesse suficientemente relaxada durante o ato <strong>de</strong> ver TV. A seqüência <strong>de</strong><br />

interrupções chegou ao limite do grotesco pois a sonoplastia das vinhetas entrava em "off" no dose<br />

do candidato que reagia à pergunta feita, e tfnhamos que esperar alguns minutos para a resposta. Nes-<br />

se momento, conscientes do quanto inoportunas são tais interrupções para que o espectador possa<br />

ter clara a seqüência <strong>de</strong> idéias abordadas, a emissora repetia a pergunta, ao voltar ao programa após<br />

os comerciais, usando o recurso do "vi<strong>de</strong>o-tape".<br />

Não há menor dúvida que o tratamento dado ao <strong>de</strong>bate político ê o mesmo dado a qualquer<br />

outro programa que preencha os requisitos <strong>de</strong> uma emissora/empresa com fins lucrativos. Ou melhor,<br />

a Re<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>irantes "faturou", em todos os sentidos, em cima <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> programa que parece-<br />

-nos esencial <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> abertura política. O interessante é que as diretrizes da empresa,<br />

em certos momentos, se impõem sobre uma política <strong>de</strong> controle <strong>de</strong>terminada pelo Estado. A simples<br />

audição <strong>de</strong> outros <strong>de</strong>bates levados pela TV, com alguns dos candidatos na Re<strong>de</strong> Globo e na Record,<br />

mostra que o espectador foi, no mínimo, respeitado: os segmentos eram bem mais longos, apesar<br />

dos comerciais inerentes ao nosso mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> TV.<br />

Em tempos <strong>de</strong> transição, como os que estamos atravessando às vésperas das eleições <strong>de</strong> 82, os<br />

meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa e os trabalhadores <strong>de</strong>sses meios, têm, ou po<strong>de</strong>m ter, uma função<br />

um pouco diversa da <strong>de</strong> taxativos meios <strong>de</strong> controle social. O controle do Estado sobre o que é<br />

transmitido não é total, e programas "ao vivo", como os do apresentador Ferreira Neto, tiveram<br />

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