Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Democracia e memória em Joaquim Nabuco<br />
excepcionalida<strong>de</strong> brasileira e portuguesa (daí as conferências sobre Camões,<br />
para <strong>de</strong>monstrar que nós tínhamos uma cultura <strong>de</strong> alcance universal) que um<br />
diálogo entre o Brasil e os Estados Unidos po<strong>de</strong>ria abrir espaço para o Brasil<br />
<strong>de</strong>sempenhar um papel importante em nossa região, a América Latina.<br />
Não era outra a visão <strong>de</strong> Rio Branco. Com uma diferença: Rio Branco era<br />
mais cauteloso na formulação <strong>de</strong> sua política externa, e na formulação das<br />
relações do Brasil com a Europa. Nabuco ficou <strong>de</strong> tal maneira imbuído da<br />
excepcionalida<strong>de</strong> americana, da pre<strong>de</strong>stinação americana, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u com<br />
palavras muito fortes a necessida<strong>de</strong> do pan-americanismo e por isso foi extremamente<br />
criticado. Não lerei seus textos, mas o que ele disse sobre os Estados<br />
Unidos anteriormente pareceria incompatível com a mudança <strong>de</strong> visão. Nabuco<br />
se explica, embora sua explicação possa não convencer ou não diminuir<br />
a crítica que lhe foi feita por sua a<strong>de</strong>são, digamos assim, pouco cautelosa, aos<br />
Estados Unidos. Mas o fato é que ele explica sua posição pelas mudanças<br />
ocorridas no eixo do mundo. E diz algo que é realmente muito, muito interessante:<br />
“Daqui a pouco, Europa, Ásia e África formarão uma só re<strong>de</strong>.” Re<strong>de</strong><br />
é uma expressão que se usa muito hoje. O mundo opera em re<strong>de</strong>. Nabuco já<br />
usava a expressão: “Formarão uma só re<strong>de</strong>. É o sistema político do Globo,<br />
que começa, em vez do sistema antigo europeu. Po<strong>de</strong>-se dizer que estamos<br />
às vésperas <strong>de</strong> uma nova era.” Não está falando em globalização, mas quase.<br />
É quase uma referência à globalização. E não se esqueçam que Nabuco, com<br />
tudo que foi criticado, por ser mo<strong>de</strong>rno, por ser cosmopolita, anteviu muita<br />
coisa. Ele dizia: “hoje em dia, como nós temos o telégrafo, po<strong>de</strong>mos acompanhar<br />
o mundo.” Pelo telégrafo! Ele antevia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um outro<br />
papel para o Brasil neste novo mundo. Quem sabe estivesse <strong>de</strong>lineando para<br />
o Brasil – discute-se se a tese é correta – uma relação mais estreita com os<br />
Estados Unidos (que o Presi<strong>de</strong>nte Lula não me ouça, não, não estou falando<br />
do Irã). Talvez pu<strong>de</strong>sse dar espaço para o Brasil se afirmar mais, em sua área<br />
<strong>de</strong> influência direta daquela época, função para a qual Nabuco nos achava<br />
cre<strong>de</strong>nciados, e o somos, <strong>de</strong> exercer um papel <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração. Daí o Chile, daí<br />
o livro sobre Balmaceda, daí a prédica <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração na América<br />
Latina.<br />
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