outra está pert - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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mAúâ<br />
RURAL<br />
Órgão Oficial da Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores na Agricultura do Estado <strong>de</strong> São Paulo - Agosto <strong>de</strong> 1980<br />
PASSEATA DA VITÓRIA<br />
A Primavera é nossa!<br />
(<strong>outra</strong> <strong>está</strong> <strong>pert</strong><br />
E MAIS:<br />
Assassinaram<br />
outro dirigente!<br />
Patrões se assustam<br />
mas nada <strong>de</strong> aumento<br />
Reunião fortalecerá<br />
assalariado rural<br />
Hospitais maltratam<br />
trabalhadores rurais<br />
Em Piracicaba, Bispo<br />
<strong>de</strong>nuncia hipocrisia<br />
Passeatas, prj<br />
nas bases, concentrações<br />
firmeza para reclamar o<br />
direito pisado. Tudo isso<br />
valeu a pena para os possei-<br />
ros da Fazenda Primavera<br />
<strong>de</strong> Andradina, e também<br />
para os posseiros da Fazen<br />
da Santa Rita do Pontal, <strong>de</strong><br />
Teodoro Sampaio. Em<br />
Julho a Primavera foi<br />
<strong>de</strong>sapropriada e os possei-<br />
ros sairam na "passeata da<br />
vitória", com enchadas e<br />
cartazes, pelas ruqs da<br />
cida<strong>de</strong>. A Santa Rita,<br />
em Teodoro Sampaio, foi<br />
<strong>de</strong>clarada "área <strong>de</strong>voluta"<br />
pelo Juiz <strong>de</strong> Mirante do<br />
Paranapanema. (Veja na<br />
última página). ~<br />
O papa <strong>de</strong>ixou uma<br />
recomendação muito<br />
séria ao governo<br />
iPég. 3}<br />
Com reforma agrária,<br />
produção agrícola<br />
até triplicaria!<br />
Lorena Roberto<br />
Se o Brasil repetisse o exemplo <strong>de</strong> Portugal e fizes-<br />
se uma Reforma Agrária mais extensa, a produção<br />
agrícola não se <strong>de</strong>sorganizaria, mas, ao contrário, ela<br />
dobraria, ou triplicaria, e até no mesmo ano! Foi isso<br />
que o presi<strong>de</strong>nte da Associação Brasileira <strong>de</strong> Refor-<br />
ma Agrária (ABRA), o Eng» Arg* Carlos Lorena,<br />
mostrou aos <strong>de</strong>putados estaduais da Comissão <strong>de</strong><br />
Agricultura da Assembléia Legislativa, há pouco<br />
tempo.<br />
i Nessa ocasião, o presi<strong>de</strong>nte da FETAESP,' Rober-<br />
to Toshio Horíguti, contrariou os <strong>de</strong>putados gover-<br />
nistas, que apontaram os japoneses como exemplo <strong>de</strong><br />
solução. Disse Roberto que hoje "nem os japoneses,<br />
com tradição milenar, agüentam mais essa política<br />
do Governo" (PÂG. 4)|.
VERGONHOSO!<br />
Ém Descalvado, mau<br />
patrão provoca<br />
suicídio <strong>de</strong> um<br />
companheiro <strong>de</strong>sesperado!<br />
O Sindicato dos Traba-<br />
lhadores Rurais <strong>de</strong> Descal-<br />
vado tem um fato muito<br />
triste e vergonhoso para<br />
contar para nós.<br />
A diretoria do Sindicato<br />
tomou conhecimento do<br />
fato no dia 29 <strong>de</strong> maio,<br />
quando dona Maria <strong>de</strong> Oli-<br />
veira Coral, esposa do com-<br />
panheiro Pedro Ângelo<br />
Coral, que trabalhou <strong>de</strong><br />
retireiro na Fazenda Pru-<br />
<strong>de</strong>nte do Morro, em Casa<br />
Branca, durante 19 anos.<br />
Dona Maria contou que o<br />
companheiro precisou afas-<br />
tar-se por 60 dias do serviço<br />
por causa <strong>de</strong> uma doença na<br />
cabeça. Quando acabou a<br />
licença, ele voltou ao médi-<br />
co, que <strong>de</strong>u alta, autorizan-<br />
do a volta ao serviço.<br />
Acontece que quando<br />
Pedro voltou ao serviço, ao<br />
invés <strong>de</strong> ser recebido com<br />
satisfação pelo antigo<br />
pjatrão, Milton Rodrigues,<br />
ele foi recebido como<br />
cachorro. O patrão, carran-<br />
tudo, convidou Pedro para<br />
conversar no escritório<br />
on<strong>de</strong> obrigou o companhei-<br />
ro a assinar uma carta <strong>de</strong><br />
abandono <strong>de</strong> emprego e <strong>de</strong>u<br />
quinze dias para <strong>de</strong>socupar<br />
a casa on<strong>de</strong> ele morava com<br />
sua mulher e os 6 filhos, e<br />
pediu a carteira <strong>de</strong> trabalho<br />
para dar baixa.<br />
Pedro ficou tão <strong>pert</strong>urba-<br />
do que nem se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong><br />
que a lei estava com ele e<br />
que o patrão estava bem<br />
errado. Ele saiu do escritó-<br />
rio, totalmente <strong>de</strong>sesperado<br />
por ter sido mandado embo-<br />
ra por justa causa. Ela ain-<br />
da não se sentia bem <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, pensou na mulher e<br />
nos seis filhos para susten-<br />
tar, ficou pensando na vida<br />
e uma tristeza muito gran<strong>de</strong><br />
tomou conta <strong>de</strong>le.<br />
Então, cego <strong>de</strong> dor, o<br />
companheiro Pedro jogou-<br />
se num poço <strong>de</strong> quatorze<br />
metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>,<br />
morrendo afogado. Isso<br />
aconteceu <strong>pert</strong>o do Natal <strong>de</strong><br />
1978 (21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro }e ele<br />
foi seputlado no dia 25, con-<br />
forme cópia do atestado <strong>de</strong><br />
óbito, que o Presi<strong>de</strong>nte do<br />
Sindicato, Benedito Simel,<br />
mandou para nós. Ele<br />
também mandou cópia da<br />
<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> "abandono<br />
<strong>de</strong> emprego", on<strong>de</strong> quase<br />
nem aparece a assinatura<br />
<strong>de</strong> Pedro, enquanto que<br />
aquela do patrão <strong>está</strong> capri-<br />
chada.<br />
O que é que merece um<br />
patrão <strong>de</strong>stes?<br />
Dirigentes se<br />
animam com a<br />
experiência <strong>de</strong> criar<br />
Núcleos Sindicais<br />
Vários Sindicatos estão<br />
começando a fazer um traba-<br />
lho nos Bairros, visando estru-<br />
turar com o tempo Núcleos<br />
Sindicais, como forma <strong>de</strong> che-<br />
ga mais facilmente até as bases<br />
e tornarem-se mais representa-<br />
tivos, envolvendo mais gente<br />
em suas ativida<strong>de</strong>s.<br />
Recebemos corespondéncia<br />
dos Sindicatos <strong>de</strong> JUNQUEI-<br />
RÓPOLIS E DE Presi<strong>de</strong>nte<br />
Epitàcio. Pedimos aos outros<br />
Sindicatos que também estão<br />
iniciando esse trabalho para<br />
que escrevam ao Realida<strong>de</strong><br />
Rural e contem como estão<br />
fazendo o trabalho, quantos<br />
Núcleos Sindicais já tem<br />
implantados, como pensam<br />
lear o trabalho para frente. De<br />
quanto em quanta tempo os li-<br />
<strong>de</strong>res vão se reunir no Sindica-<br />
to para apresentar seus relatos<br />
e buscar idéias dos companhei-<br />
ros.<br />
ENTUSIASMO<br />
Segundo os dirigentes dos<br />
dois Sindicatos, o trabalho por<br />
enquanto é <strong>de</strong> preparação. O<br />
Sindicato <strong>de</strong> Jmqueirópolis já<br />
realizou 28 reuniões em seus<br />
Bairros (até o dia em que nos<br />
enviou sua carta): Toda a Dire-<br />
toria participou do esforço e as<br />
reuniões somaram ao todo.<br />
mais ou menos 2.000 partici-<br />
pantes. "Para nós valeu a pena<br />
o trabalho" - disse o Presi<strong>de</strong>n-<br />
te, Paulo Silva.<br />
Em Junqueirópoiis, até a<br />
prefeitura colaborou com<br />
caminhão para a mobilização<br />
dos companheiros. Só houve<br />
um mal estar na Fazenda Boa<br />
Vonta<strong>de</strong>, cujo administrador<br />
<strong>de</strong>monstrou, por sinal, má von-<br />
ta<strong>de</strong>, impedindo que a reunião<br />
lá fosse realizada na capela.<br />
Isso até funcionou ao contrá-<br />
rio: conseguiram uma sala na<br />
escola e aí o pessoal da fazen-<br />
da mandou bala nos salários<br />
baixos, direitos trabalhistas<br />
sonegados, etc.<br />
Em Presi<strong>de</strong>nte Epitàcio, as<br />
reuniões estão contando com<br />
muito boa participação, segun-<br />
do seu Presi<strong>de</strong>nte, Sebastião<br />
tda Silva Mello. Ele <strong>está</strong> entu-<br />
siasmado com a satisfação que<br />
os dirigentes estão encontran-<br />
do em falar com suas bases. O<br />
Sindicato <strong>está</strong> tomando conhe-<br />
cimento dos problemas com os<br />
próprios trabalhadores. Logo<br />
logo, tanto Junqueirópoiis<br />
como Presi<strong>de</strong>nte Epitàcio<br />
terão em seus Bairros instala-<br />
dos os Núcleos Sindicais, com<br />
a escolha dos li<strong>de</strong>res.<br />
Pág. 2 REALIDADE RURAL - AGOSTO DE 1980<br />
Senhores<br />
Dirigentes:<br />
pensem nas<br />
perguntas<br />
que esse<br />
Grupo e<br />
essa Comissão<br />
vos fazem.<br />
■}<br />
0 Grupo Regional 1 (região <strong>de</strong> Fernandópolis) sugeriu<br />
e a Comissão Estadual <strong>de</strong> Sindicalismo e Educação acatou<br />
a sugestão, recomendando que os dirigentes sindicais <strong>de</strong><br />
todo o Estado pensem nas seguintes perguntas:<br />
1 - Somos lí<strong>de</strong>res ou apenas dirigentes?<br />
2 - Até que ponto temos representação?<br />
3 - Se temos representação, como a estamos exercen-<br />
do?<br />
4 - Nosso atendimento ao trabalhador rural é <strong>de</strong> gabinete<br />
ou vamos até as bases (nos bairros)?<br />
5 - Nossa atuação não estará longe daquela para a qual<br />
fomos eleitos?<br />
6 - Os trabalhadores rurais não estarão <strong>de</strong>sacreditados<br />
do movimento Sindical, por causa <strong>de</strong> nossa falta <strong>de</strong> interes-<br />
se pelos problemas que mais os afligem?<br />
7 - Se nós, os Dirigentes ou Li<strong>de</strong>res, não temos tempo<br />
para as reuniões, como vamos exigir que os nossos compa-<br />
nheiros compareçam às assembléias?<br />
Assalariados rurais vão ter<br />
encontro nacional em agosto!<br />
Um fato <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para<br />
os trabalhadores rurais assalariados irá<br />
acontecer em Pernambuco, <strong>de</strong> 13 a 18 <strong>de</strong><br />
agosto próximo. Será o ENCONTRO<br />
SOBRE ASSALARIADOS.<br />
Participarão representantes dos Esta-<br />
dos on<strong>de</strong> existem maior concentração <strong>de</strong><br />
trabalhadores rurais assalariados: são o<br />
Paraná, São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Espí-<br />
rito Santo, Minas Gerais, Bahia, Alagoas,<br />
Pernambuco, Paraíba e Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Norte.<br />
Ao todo, serão 80 representantes. De<br />
São Paulo, irão 12. O ENCONTRO será<br />
realizado no <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Treinamento da<br />
FETAPE, em Carpina, a 50 quilômetros<br />
<strong>de</strong> Recife (capital <strong>de</strong> Pernambuco).<br />
NOVAS DIRETORIAS<br />
Durante o mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>ste ano,<br />
tomaram posse novas Diretorias nos<br />
Sindicatos <strong>de</strong>:<br />
Oriente - dia 1' <strong>de</strong> julho - Diretoria<br />
eleita: Cleodorico Soares da . Silva,<br />
Antônio Guidoni e Santo Cardoso <strong>de</strong> Sá.<br />
Barrinha - dia 27 <strong>de</strong> julho - Diretoria<br />
eleita: José Albertini, Antônio Ferreira<br />
<strong>de</strong> Souza e Lázaro Custódio <strong>de</strong> Morais.<br />
Durante o mês <strong>de</strong> agosto estão pro-<br />
gramadas posses nos Sindicatos <strong>de</strong> Ita-<br />
poranga (3 <strong>de</strong> agosto) e Pinhal (18 <strong>de</strong><br />
agosto).<br />
Realizar-se-ão eleições sindicais nos<br />
seguintes Sindicatos:<br />
ELEIÇÕES EM<br />
SINDICATOS<br />
POR QUE UM ENCONTRO DE<br />
ASSALARIADOS?<br />
O ENCONTRO é organizado pela<br />
Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhado-<br />
res na Agricultura (CONTAG) e o gue se<br />
quer com ele é uma troca <strong>de</strong> experiências<br />
sobre a organização, mobilização e apoio<br />
dos trabalhadores rurais à luta dos assala-<br />
riados. Além da troca <strong>de</strong> experiência<br />
sobre como os assalariados estão organi-<br />
zados, o ENCONTRO também preten<strong>de</strong><br />
fazer com que os dirigentes sindicais e<br />
assessores <strong>de</strong> todos os 10 Estados estabe-<br />
leçam pontos comuns <strong>de</strong> ação, para orga-<br />
nizar melhor e facilitar a <strong>de</strong>fesa cada vez<br />
maior do suor dos assalariados e as neces-<br />
sida<strong>de</strong>s dç suas famílias, mantendo alta<br />
nossa: luta pela Reforma Agrária.<br />
Avaré - dias 15, 16 e 17 <strong>de</strong> agosto.<br />
São José dos Campos - dias 22 e 23 <strong>de</strong><br />
agosto.<br />
Franca - dias 23, 24 e 25 <strong>de</strong> agosto.<br />
Olímpia - dias 30 e 31 <strong>de</strong> agosto.<br />
Destacamos a notícia do Reconheci-<br />
mento oficial do Sindicato dos Traba-<br />
lhadores Rurais <strong>de</strong> Itapeva - Carta Sin-<br />
dical assinada a 11 <strong>de</strong> julho e publicada<br />
no Diário Oficial da União a 21 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 1980.<br />
Parabéns às novas Diretorias e ao<br />
recém reconhecido Sindicato.<br />
DEPARTAMENTO DE<br />
ORIENTAÇÃO SINDICAL<br />
(DOS) - FETAESP<br />
"A mulher <strong>de</strong>ve participar e contribuir em Igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
condições com o homem nos processos sociais, econômi-<br />
cos e políticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural e compartilhar<br />
plenamente dos benefícios do melhoramento das condi-<br />
ções <strong>de</strong> vida das Leas rurais".<br />
(Conferência Mundial sobre Reforma Agrária e Desenvol-<br />
vimento Rural/Julho <strong>de</strong> 1979/Roma. FAO - Organização<br />
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).<br />
(DO EDITOR)<br />
Os aqjos do<br />
Brasil estão<br />
<strong>de</strong> férias •••<br />
Abro o jornal, e o que vejo?<br />
CASA POPULAR PARA O<br />
TRABALHADOR VOLAN-<br />
TE. Bonito. Mas eu pergunto:<br />
"Prá morar na vila? Ou será<br />
que vão financiar a Jari multi-<br />
nacional, ou a Attala e<br />
Abdalla, ou um latifundiário<br />
qualquer para fazerem favelas<br />
na roça com o nosso dinheiro?<br />
Não seria melhor fazer <strong>de</strong> uma<br />
vez por todas a Reforma Agrá-<br />
ria, respeitando <strong>de</strong> um cidadão<br />
brasileiro chamado trabalha-<br />
dor rural?".<br />
Na página seguinte do jor-<br />
nal, e o que vejo? O Ministro<br />
da Saú<strong>de</strong> ou <strong>outra</strong> personali-<br />
da<strong>de</strong> do Governo falando <strong>de</strong><br />
PLANEJAMENTO FAMI-<br />
LIAR. Aí eu penso: "Bom, ele<br />
é do Governo, <strong>de</strong>ve saber o<br />
que diz". I Mas comento com<br />
meus botões: "Família bem <strong>de</strong><br />
vida tem pouco filho. £ gente<br />
estudada, gordinha, bonita.<br />
Será que o povo brasileiro<br />
pobre não saberia também<br />
fazer seu planejamento fami-<br />
liar se também tivesse estudo,<br />
alimento, respeito humano?"<br />
A eu pulo umas páginas e<br />
vou na parte que fala <strong>de</strong><br />
dinheiro, <strong>de</strong> economia. Vejo<br />
notícias <strong>de</strong> que INFLAÇÃO<br />
JÁ PASSOU DOS 100%. Ao<br />
lado, vejo empresários e gente<br />
do Governo falando do<br />
PROÃLCOOL, dizendo que é<br />
"a saída para o Pais", etc.<br />
Comento com meus botões, <strong>de</strong><br />
novo: "Diziam que sem voto<br />
direto a inflação acabava e o<br />
Brasil viraria o paraíso. Bom,<br />
<strong>de</strong>ve estar faltando anjo...<br />
E os meus botões, saca-<br />
nas, me cobram um palpite<br />
sobre o PROÃLCOOL. Bem,<br />
então eu penso, cá, prós meus<br />
botões: "Dizem que gasolina e<br />
álcool é prá automóvel. E os<br />
•automóveis só beneficiam a<br />
10% dos brasileiros. E o resto<br />
dos brasileiros vai ter que<br />
carregar esses 10%« nas cos-<br />
tas? Será que só o empresário<br />
e.õ Governo tem que ver com a<br />
coisa?". Meus botões ficaram<br />
contentes. Até comentaram:<br />
"Desta vez, soltaram a vaca.<br />
Ela tá indo direitinho pro bre-<br />
jo, que tá com uma se<strong>de</strong> do<br />
cão..."<br />
Diretoria<br />
RURAL<br />
Roberto Toshio Horiguti<br />
Presi<strong>de</strong>nte.<br />
Francisco Benedito<br />
Rocha<br />
Secretário Geral.<br />
Mário Vatanabe<br />
1» Secretário<br />
Emílio Bertuzzo<br />
2» Secretário<br />
Orlando Izaque Birrer<br />
Tesoureiro Gera!<br />
José Bento <strong>de</strong> Santi<br />
I' Tesoureiro<br />
Antônio David <strong>de</strong> Souza<br />
2' Tesoureiro<br />
Editor Responsável<br />
José Carlos Salvagni (SJP<br />
5177)<br />
Relações Públicas<br />
João Ferreira Neto<br />
Rua Briga<strong>de</strong>iro Tobias,<br />
118, 36» andar - Conj,<br />
3.607<br />
CEP 01032 -<br />
End. Telegráfico:<br />
FETAESP<br />
- Telefones: 228-983?<br />
228-9353 - São Paulo -<br />
AmOrtlka C«ui »í*. IMM<br />
rmmtoÊupan. km. 114 . tum
O papa avisou: ou vêm<br />
reformas, em paz, ou<br />
virão revoluções,..<br />
Com o beijo no asfalto do<br />
aeroporto <strong>de</strong> Brasília, ao<br />
chegar, no dia 30 <strong>de</strong> junho, o<br />
Papa João Paulo II <strong>de</strong>ixou o<br />
Brasil em férias durante 12<br />
dias.<br />
Por uns momentos o sufo-<br />
co ficou <strong>de</strong> lado e o povo vol-<br />
tou a sorrir e a vibrar. Por<br />
uns momentos, o Brasil vol-<br />
tou a ser Brasil.<br />
Em lugar do costumeiro<br />
<strong>de</strong>staque nas emissoras <strong>de</strong><br />
rádio, TV e jornais às entre-<br />
vistas <strong>de</strong> Ministros, infor-<br />
mando que a inflação chega-<br />
va a 100%, ou que iam con-<br />
trolar novamente os salários,<br />
ou que a gasolina subiria, ou<br />
que o Proálcool havia feito<br />
mais miliardários, ou então<br />
que o Fundo Monetário<br />
Internacional (FMI) estava<br />
querendo administrar o Bra-<br />
sil para garantir o pagamento<br />
da nossa dívida externa; em<br />
lugar disso, o povo ouvia a<br />
voz cheia <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> espe-<br />
rança do estrangeiro João<br />
Paulo II, via nos jornais e<br />
revistas fotos e manchetes,<br />
mostrando as gran<strong>de</strong>s multi-<br />
dões vibrando com o Papa.<br />
•SÃO PAULO SÃO<br />
VOCÊS" TRABALHA-<br />
DORES!<br />
O povo brasileiro lavou a<br />
alma nestes 12 dias (inclusive<br />
os não-católicos e não-cren-<br />
tes, segundo a imprensa).<br />
Para quem, há mais <strong>de</strong> 16<br />
anos, não sai à rua para<br />
ouvir um candidato à Presi-<br />
dência da República disputar<br />
o voto direto e mostrando o<br />
que preten<strong>de</strong> fazer, foi maior<br />
ainda a tremenda alegria e<br />
emoção <strong>de</strong> ver o Papa, <strong>de</strong><br />
vermelho e branco (uma<br />
autorida<strong>de</strong> mundial) entrar<br />
no Estádio do Morumbi, em<br />
São Paulo, em carro aberto,<br />
e dizer aos trabalhadores:<br />
"São Paulo são vocês!"<br />
Para nós, trabalhadores,<br />
rurais, a emoção foi dupla,<br />
pois, além do Morumbi, ele<br />
falou para nós também em<br />
Recife, na missa aos traba-<br />
lhadores rurais, quando ele<br />
disse: "Como irmão, quero<br />
dizer-lhes, amados campone-<br />
ses do Brasil, que vocês valem<br />
muito!". Há quanto tempo<br />
não ouvíamos dizer isso...<br />
(E quem não queria estar<br />
no lugar do presi<strong>de</strong>nte da<br />
nossa CONTAG, José Fran-<br />
cisco da Silva, quando, emo-<br />
cionado, <strong>de</strong>u um chapéu <strong>de</strong><br />
palha <strong>de</strong> presente ao Papa,<br />
durante a missa, como home-<br />
nagem da nossa categoria?)<br />
Foi um papa alegre, emo-<br />
cionado, dono da cena, poe-<br />
ta, pastor, diplomata e, natu-<br />
ralmente, político. Muito<br />
atento às necessida<strong>de</strong>s e<br />
sofrimentos do povo, tanto<br />
que aos favelados do Vidigal,<br />
no Rio <strong>de</strong>ixou seu ane! <strong>de</strong><br />
Car<strong>de</strong>al, que lhe foi dado<br />
pelo falecido Papa Paulo VI.<br />
E <strong>de</strong>ixou também um recado<br />
claríssimo: "A Igreja em todo<br />
o mundo quer ser a Igreja dos<br />
pobres. A Igreja era terras<br />
brasileiras quer ser também a<br />
Igreja dos pobres (...)".<br />
E, nessa hora, aos ricos<br />
perguntou: "Olhai um pouco<br />
ao vosso redor! Não vos dói o<br />
coração? Não sentis remorso<br />
na consciência por causa da<br />
vossa riqueza e da vossa abun-<br />
dância?<br />
Esse Papa muito frustrou<br />
certos políticos <strong>de</strong> Brasília,<br />
que estavam querendo ensi-<br />
nar religião aos Bispos e<br />
padres mais atentos aos<br />
pobres...<br />
QUE O BRASIL SEJA<br />
UM BOM PAÍS PARA<br />
SEU POVO. E PARA O<br />
MUNDO DE AMANHÃ.<br />
Por que o Papa ficou 12<br />
dias no Brasil e não 3 ou 4<br />
como tem acontecido? É<br />
porque ele sabe a importân-<br />
cia do Brasil no futuro do<br />
mundo. Ele <strong>de</strong>ixou isso bem<br />
claro logo na chegada, quan-<br />
do ele disse que sua visita,<br />
em primeiro lugar, era um<br />
sonho logamente acalentado.<br />
Mas explicou que o outro<br />
motivo era o fato <strong>de</strong> que "es-<br />
te Pais, <strong>de</strong> imensa maioria<br />
católica, traz evi<strong>de</strong>ntemente<br />
em si uma visão peculiar no<br />
mundo contemporâneo e no<br />
concerto das Nações". E <strong>de</strong>i-<br />
xou claro o que espera do<br />
Brasil: "Em meio às ansieda-<br />
<strong>de</strong>s e incertezas, e, por que<br />
não dize-lo?, aos sofrimentos e<br />
agruras do presente po<strong>de</strong> à<br />
gestar-se um País que ama-<br />
(^ NOSSA POSIÇÃO J A Fetaesp completa 18 anos. Duros tempos.<br />
PARABÉNS PARA NÓS!<br />
A Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores<br />
na Agricultura do Estado <strong>de</strong> São<br />
Paulo (FETAESP) completou no<br />
dia 29 <strong>de</strong> julho, 18 anos <strong>de</strong> existên-<br />
cia. Nessa data, em 1962, foi reali-<br />
zada a Assembléia <strong>de</strong> sua Funda-<br />
ção e em 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1963, foi<br />
reconhecida pelo Ministério do<br />
Trabalho.<br />
Muitas forças (e não apenas<br />
quem fundou a FETAESP) contri-<br />
buíram para que a nossa entida<strong>de</strong><br />
chegasse ao que é hoje, coor<strong>de</strong>-<br />
nando 143 Sindicatos em todo o<br />
Estado e preparando-se para<br />
ampliar ainda mais sua área <strong>de</strong><br />
ação. Nos primeiros tempos, duros<br />
tempos , muitas forças até se cho-<br />
caram na disputa pela sindicaliza-<br />
çâo dos trabalhadores rurais - eter-<br />
nos abandonados. E quanta<br />
incompreensão e perseguição não<br />
houve!<br />
nhã ofereça muito à gran<strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong> internacional".<br />
Quem mergulhar sua visão<br />
no futuro, enten<strong>de</strong> o que ele<br />
quis dizer. Ou seja, nada <strong>de</strong><br />
querer construir um País<br />
potência dominadora às cus-<br />
tas do povo, mas sim, uma<br />
nação nova, sem o ranço das<br />
velhas nações, boa para seu<br />
povo e boa para o mundo,<br />
como ele mesmo explicou:<br />
"Queria Deus - disse ele - que<br />
essa perspectiva aju<strong>de</strong> o Bra-<br />
sil a construir um convívio<br />
exemplar, superando <strong>de</strong>sequi-<br />
líbrios e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, na jus-<br />
tiça e na concórdia, cora luci-<br />
<strong>de</strong>z e coragem, sem choques<br />
nem rupturas. Este será certa-<br />
mente um eminente serviço à<br />
paz internacional e, portanto,<br />
a humanida<strong>de</strong>".<br />
O ser humano, (especial-<br />
mente o pobre, in<strong>de</strong>feso) não<br />
po<strong>de</strong> ser passado para trás<br />
em nada, senão ele se torna<br />
escravo. O ser humano tem<br />
<strong>de</strong> ocupar seu justo lugar na<br />
socieda<strong>de</strong>, tem o direito <strong>de</strong><br />
participar <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> ser<br />
levado em consi<strong>de</strong>ração em<br />
primeiro lugar. Como disse o<br />
Papa: "O homem não po<strong>de</strong><br />
tornar-se escravo das coisas,<br />
das riquezas materiais , do<br />
consumismo, dos sistemas eco-<br />
nômicos, ou daquilo que ele<br />
mesmo produz". (O capitalis-<br />
mo selvagem do Brasil, que<br />
cria o latifúndio, não é um<br />
sistema econômico, que<br />
escraviza?).<br />
AOS GOVERNANTES:<br />
FAÇAM REFORMAS<br />
PROFUNDAS. COM<br />
DECISÃO E CORAGEM!<br />
O Papa falou a todos os<br />
brasileiros. Falou, natural-<br />
mente, aos religiosos. Mas<br />
também aos trabalhadores<br />
rurais (Recife), aos trabalha-<br />
dores em geral (S. Paulo),<br />
aos imigrantes, aos migran-<br />
tes, aos índios (Manaus), aos<br />
favelados, aos leprosos, aos<br />
presos, à família. Mas tam-<br />
bém falou aos diplomatas,<br />
aos políticos, aos intelec-<br />
tuais, aos "construtores <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> pluralista".<br />
E, como já vimos, ao Gover-<br />
no. O que ele disse <strong>de</strong>u um<br />
livro grosso. Mas a gente<br />
po<strong>de</strong> resumir algumas coisas.<br />
1) o bem comum da socieda-<br />
<strong>de</strong> "será sempre o novo nome<br />
da justiça", 2) "A economia<br />
só será viável se for humana,<br />
para o homem é pelo<br />
homem"; 3) "O homem não<br />
po<strong>de</strong> ser feito escravo <strong>de</strong> nin-<br />
guém nem <strong>de</strong> nada"; 4) "A<br />
socieda<strong>de</strong> que não é social-<br />
Se o nosso sindicalismo pu<strong>de</strong>s-<br />
se continuar em plena ativida<strong>de</strong>,<br />
como antes <strong>de</strong> 1964, não teríamos<br />
hoje essa imensidão <strong>de</strong> latifúndios,<br />
esses milhares <strong>de</strong> mortos em con-<br />
flitos <strong>de</strong> terras, esse Proálcool que<br />
nos estrangulará (se continuar do<br />
jeito que <strong>está</strong>). Estas multidões <strong>de</strong><br />
volantes seriam menores. A cons-<br />
ciência política <strong>de</strong> nossos compa-<br />
nheiros seria mais clara. A falta <strong>de</strong><br />
Democracia e <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> política<br />
sempre prejudica os pequenos, os<br />
mais fracos.<br />
Com o Movimento <strong>de</strong> 1964, o<br />
trabalho <strong>de</strong> sindicalização ficou<br />
mais difícil e limitado, a educação<br />
dos companheiros e suas famílias<br />
diminuiu, a Reforma Agrária, ficou<br />
no papel, os que eram ricos fica-<br />
ram ainda mais ricos, as multina-<br />
cionais encontraram o paraíso.<br />
Hoje o sindicalismo <strong>está</strong> embala-<br />
mente justa e não ambiciona<br />
tornar-se tal, põe em perigo o<br />
seu futuro. Pensai, pois, no<br />
passado e olhai para o dia <strong>de</strong><br />
hoje, e projetai o futuro<br />
melhor da vossa inteira socie-<br />
da<strong>de</strong>!"<br />
E <strong>de</strong>ixou uma "batata<br />
quente" para os governantes<br />
que se dizem "cristãos" e<br />
para quem tem po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
influir nas <strong>de</strong>cisões:<br />
- Alguém que reflete sobre a<br />
realida<strong>de</strong> da América Latina,<br />
tal como se apresenta na hora<br />
atual - disse o Papa - é levado<br />
a concordar com a afirmação<br />
<strong>de</strong> que a realização da Justiça<br />
neste Continente <strong>está</strong> diante<br />
<strong>de</strong> um claro dilema: ou se faz<br />
através <strong>de</strong> reformas profundas<br />
e corajosas, segundo princí-<br />
pios que exprimem a suprema-<br />
cia da dignida<strong>de</strong> humana, ou<br />
se faz mas sem resultado dura-<br />
douro a sem benefício para o<br />
homem, disto estou convenci-<br />
do - pelas torças da violência.<br />
Cada um <strong>de</strong> vós <strong>de</strong>ve sentir-se<br />
interpelado por este dilema.<br />
Cada um <strong>de</strong> vós <strong>de</strong>ve fazer a<br />
sua escolha nesta hora históri-<br />
ca. Por isso, ele recomendou<br />
em Brasília, aos responsáveis<br />
pelo bem comum (os gover-<br />
nantes), especialmente os<br />
cristãos, "a empreen<strong>de</strong>rem, a<br />
tempo, essas reformas cora<br />
<strong>de</strong>cisão e coragem, com pru-<br />
dência e eficiência, atendo-se<br />
a critérios e princípios cris-<br />
tãos, à justiça objetiva e a uma<br />
autêntica ética social (...)".<br />
Opinião <strong>de</strong><br />
Caboclo<br />
Pois é, compadre, o<br />
Sindicato é nosso!<br />
Não é do Governo,<br />
nem dos diretores.<br />
Quem manda lá.<br />
somos nós mesmos.<br />
A tal <strong>de</strong> assembléia é<br />
que dá a última palavra.<br />
— E a diretoria, com-<br />
padre?<br />
— Ela executa o que<br />
nós resolvemosi <strong>de</strong>ve<br />
estar atenta aos interes-<br />
ses do trabalhador.<br />
Mas a diretoria não é<br />
o presi<strong>de</strong>nte: é um Tripé.<br />
Lembra-se, compadre,<br />
daquelas máquinas que<br />
EM DEFESA DOS TRA-<br />
BALHADORES RURAIS<br />
E ÍNDIOS<br />
Se há um lugar on<strong>de</strong> são<br />
necessários "Reformas" esse<br />
é o campo, on<strong>de</strong> muita<br />
migração, muitos índios cuja<br />
dignida<strong>de</strong> humana é pisada e<br />
enormes contingentes <strong>de</strong> tra-<br />
balhadores rurais.<br />
Em favor dos índios, o<br />
Papa chamou a atenção dos<br />
governantes e po<strong>de</strong>res públi-<br />
cos para que seja reconheci-<br />
do <strong>de</strong> uma vez por todos seu<br />
direito <strong>de</strong> habitar em paz e<br />
serenida<strong>de</strong> a terra que hoje<br />
eles ocupam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antigüi-<br />
da<strong>de</strong> e sobre a qual eles têm<br />
direitos que são violados). Os<br />
índios, segundo o Papa,<br />
<strong>de</strong>vem sentir-se seguros <strong>de</strong><br />
não .serem <strong>de</strong>salojados <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> vivem em benefício <strong>de</strong><br />
outros, seguros <strong>de</strong> que têm<br />
um espaço on<strong>de</strong> sobrevirão<br />
como seres humanos e povo.<br />
João Paulo II, <strong>de</strong>slumbra-<br />
do com as gran<strong>de</strong>s distâncias<br />
e a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
terras que há no Brasil, disse<br />
em Recife aos trabalhadores<br />
rurais, com en<strong>de</strong>reço certo:<br />
"Não basta efetivamente dis-<br />
por <strong>de</strong> terras em abundância,<br />
como suce<strong>de</strong> aqui no vosso<br />
querido Brasil. É preciso uma<br />
legislação justa em matéria<br />
agrária para se po<strong>de</strong>r dizer<br />
que temos uma socieda<strong>de</strong> a<br />
correspon<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Deus, quanto à terra e às exi-<br />
do <strong>de</strong> novo, preparado para lutas<br />
§ue, certamente, serão vitoriosas.<br />
, na comemoração simples dos<br />
18 anos da FETAESP, nada mais<br />
justo do que lembrar o sacrifício e o<br />
i<strong>de</strong>alismo <strong>de</strong> todos aqueles que<br />
<strong>de</strong>ram seu testemunho e um peda-<br />
ço da sua vida pelo trabalhador<br />
rural.<br />
Nesse momento, não importa a<br />
convicção política. Importa sim o<br />
testemunho daqueles que soube-<br />
ram dá-lo, com seu suor e seu san-<br />
gue, até com o preço <strong>de</strong> suas<br />
vidas, para que o sindicalismo che-<br />
gasse ao que é.<br />
Diante da gran<strong>de</strong>za do i<strong>de</strong>al que<br />
nos anima, seja este um momento<br />
<strong>de</strong> profunda alegria, uma renova-<br />
ção do entusiasmo dos primeiros<br />
tempos.<br />
Parabéns para todos nós!<br />
FETAESP<br />
Presi<strong>de</strong>ncialismo<br />
gências da dignida<strong>de</strong> da pessoa<br />
humana, <strong>de</strong> todas as pessoas<br />
que a habitam".<br />
O Papa disse que o Con-<br />
cho Vaticano II não admitia<br />
que os trabalhadores rurais<br />
fossem reduzidos a meros<br />
"cidadãos <strong>de</strong> segunda<br />
or<strong>de</strong>m". Disse que os traba-<br />
lhadores rurais "<strong>de</strong>sempe-<br />
nhara ura papel <strong>de</strong> enorme<br />
importância na socieda<strong>de</strong> bra-<br />
sileira era nossos dias". Mas,<br />
ao mesmo tempo lamentou<br />
que "enfrentam situações par-<br />
ticularmente dolorosas - <strong>de</strong><br />
marginalização, penúria,<br />
subalimentação, insalubrida-<br />
<strong>de</strong>, analfabetismo, inseguran-<br />
ça".<br />
João Paulo II disse que "a<br />
terra foi posta por Deus à dis-<br />
posição do homem", assina-<br />
lando que "o próprio direito<br />
<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, era si mesmo,<br />
legítimo, <strong>de</strong>ve, numa visão<br />
cristã do mundo, cumprir sua<br />
função e observar sua finalida-<br />
<strong>de</strong> social".<br />
Assinalando que não é líci-<br />
to que a terra, "dora <strong>de</strong><br />
Deus" sirva apenas a uma<br />
minoria privilegiada, prejudi-<br />
cando a maioria, o papa disse<br />
que arrancar o homem "do<br />
chão rural, empurrando-o<br />
para o êxodo incerto em dire-<br />
ção das gran<strong>de</strong>s metrópoles ou<br />
não assegurar os seus direitos<br />
à legitima posse da terra é<br />
<strong>de</strong>srespeitar seus direitos <strong>de</strong>'<br />
homem e filho <strong>de</strong> Deus. É pro-<br />
duzir um perigoso <strong>de</strong>sequi-<br />
líbrio na socieda<strong>de</strong>".<br />
faziam fumaceira e tira-<br />
vam retrato?<br />
Ficavam elas sobre<br />
um tripé; se faltasse uma<br />
das pernas, a vaca iapro<br />
brejo.<br />
Assim, também, a<br />
diretoria em que um só<br />
manda, <strong>está</strong> na corda<br />
bamba.<br />
É como o "tomara<br />
que caia" da comadre<br />
Rosinha. Êta vestido<br />
bom... Não sei porque<br />
não cai. Eu gostava <strong>de</strong><br />
ver...<br />
J.F.N.<br />
Pág. 3
Os <strong>de</strong>putados oposicionistas<br />
apoiaram a Reforma Agrária.<br />
Mas os governistas não. Para<br />
eles, somos números e não pes-<br />
soas, cidadãos brasileiros. Pre-<br />
ferem assistencialismo como<br />
solução para os volantes. (Na<br />
foto, Lorena, Roberto e Fran-<br />
ciscolda esquerda para a direi-<br />
ta). Roberto recusou o assis-<br />
tencialismo e o paternalismo.<br />
Fetaesp e Abra falam a<br />
<strong>de</strong>putados estaduais<br />
"Hoje nem os japoneses,<br />
que trazem uma tradição mile-<br />
nar (como disse o <strong>de</strong>putado)<br />
estão resistindo mais a esta<br />
política do Governo. O peque-<br />
no produtor <strong>está</strong> ai, sendo<br />
massacrado; bóias-frias mar-<br />
ginalizados. Então urge uma<br />
mudança, com a participação<br />
<strong>de</strong> Vossas Excelências".<br />
Essa foi a pronta resposta<br />
que o presi<strong>de</strong>nte da Fetaesp,<br />
Roberto Toshio Horiguti,<br />
<strong>de</strong>u a um <strong>de</strong>putado estadual<br />
governista (Edson Real), em<br />
recente sessão especial da<br />
Comissão <strong>de</strong> Agricultura da<br />
Assembléia Legislativa, on<strong>de</strong><br />
a conversa foi sobre Refor-<br />
ma Agrária. Nessa sessão, o<br />
engenheiro agrônomo,<br />
Carlos Lorena, presi<strong>de</strong>nte da<br />
Associação Brasileira <strong>de</strong><br />
Reforma Agrária (ABRA)<br />
também apresentou um<br />
excelente pronunciamento,<br />
em que mostrou que o Brasil<br />
até duplicaria ou mais sua<br />
produção no mesmo ano<br />
com a Reforma Agrária.<br />
P&r que o presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fetaesp falou dos japoneses?<br />
Foi porque o <strong>de</strong>putado, que<br />
mal conseguia disfarçar sua<br />
posição contrária à Refor-<br />
ma Agrária, havia dito que<br />
nunca havia visto um homem<br />
<strong>de</strong> origem japonesa pedir<br />
esmola ou achar ruim a polí-<br />
tica do Governo, ao contrá-<br />
rio <strong>de</strong> outros paulistas em<br />
bares do interior, que, segun-<br />
do o <strong>de</strong>putado, ficam falando<br />
mal da vida dos outros, falan-<br />
do <strong>de</strong> tudo, menos procuran-<br />
do fazer alguma coisa para<br />
que o País saia <strong>de</strong>ste estado<br />
<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Mas o presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fetaesp também precisou ser<br />
claro com um outro <strong>de</strong>puta-<br />
do governista (Jairo Matos,<br />
agrônomo), dizendo a ele<br />
que "nós dispensamos a assis-<br />
tência paternalistas em nome<br />
da nossa categoria". Esse<br />
<strong>de</strong>putado, que falou bem das<br />
multinacionais, que elogiou<br />
as técnicas apuradas dos lati-<br />
fundiários, que confessou ter<br />
ajudado multinacionais a<br />
comprar terra no Brasil, esse<br />
<strong>de</strong>putado havia dito que o<br />
bóia-fira é um "pária da nos-<br />
sa socieda<strong>de</strong>" (ralé) e ele<br />
seria o mesmo se estivesse na<br />
Angatuba espera ver<br />
cartórios moralizados<br />
"Um dia o povo e a Justiça serão um corpo único, e os valores<br />
éticos, bem como a Lei, serão daqueles aue constróem com suas<br />
mãos as nacionalida<strong>de</strong>s". Esta foi parte aa curta mensagem que o<br />
nosso Sindicato <strong>de</strong> Angatuba entregou no dia 26 <strong>de</strong> maio aos 14<br />
juizes que foram à cida<strong>de</strong> para fazer uma investigação no cartório<br />
a pedido dos trabalhadores rurais. Explica-se: o cartório facilitou<br />
a falsificação <strong>de</strong> documentos que geraram uma grilagem mons-<br />
truosa no município.<br />
Agora os trabalhadores rurais, donos das terras mas ameaçados<br />
pela grilagem vergonhosa, e o nosso Sindicato no município, estão<br />
esperando com muita ansieda<strong>de</strong> que os Juizes divulguem oficial-<br />
mente o resultado <strong>de</strong> suas investigações (correíçáo geral), para<br />
que a vida <strong>de</strong>les possa retornar à tranqüilida<strong>de</strong> e cuidar com mais<br />
atenção <strong>de</strong> suas lavouras.<br />
Em suas ocasiões diferentes, no mése <strong>de</strong> julho o Secretário do<br />
Sindicato, Oilson Donizetii Bertoli e <strong>de</strong>pois o Presi<strong>de</strong>nte, Alci<strong>de</strong>s<br />
Bertoli e a advogada, Marta Alves, estiveram mi capital em busca<br />
<strong>de</strong> uma resposta.<br />
Os trabalhadores e a Diretoria rfo Sindicato querem que o pes-<br />
soal envolvido no escândalo do cartório seja <strong>de</strong>ftnitivantente afas-<br />
tado e punido: também querem receber <strong>de</strong> volta a <strong>de</strong>spesa feita<br />
para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem. Há mais suas reivindicações: que sejam puni-<br />
dos também os funcionários dos cartórios <strong>de</strong> hapetininga e Itú,<br />
que também Jlzeram parte da malandragem e o juiz Paraíba<br />
Campos Filho, hoje em Ibitinga, que foi quem homolou o inventá-<br />
rio falso que gerou a malandragem.<br />
Esse juiz processou a companheira Marta Alves, advogada do<br />
Sindicato, por causa <strong>de</strong> uma entrevista em que ela protestava con-<br />
tra a corrupção no cartório <strong>de</strong> Angatuba.<br />
Pág. 4 REALIDADE RURAL - AGOSTO DK 1980<br />
indústria. E, na opinião <strong>de</strong>le,<br />
é a pessoa em quem mais o<br />
País precisa investir "como<br />
urría proteção social".<br />
FETAESP: A REFORMA<br />
AGRÁRIA É A<br />
ÜNICA SOLUÇÃO<br />
VÁLIDA PORQUE VAI<br />
À RAIZ DO MAL"<br />
Nessa sessão, tanto o pre-<br />
si<strong>de</strong>nte da Fetaesp como o da<br />
ABRA mostraram com fartu-<br />
ra <strong>de</strong> dados e argumentos<br />
que a Reforma Agrária <strong>de</strong>ve<br />
ser feita, para o bem do nos-<br />
so homem do campo e do<br />
próprio Brasil. E sem perda<br />
<strong>de</strong> tempo. Estavam presentes<br />
também o Secretário Geral<br />
da Fetaesp, Francisco Bene-<br />
dito Rocha, a socióloga,<br />
Maria Conceição D'Incao<br />
(que pesquisou e escreveu<br />
um importantíssimo livro<br />
sobre o bóia-fria), o compa-<br />
nheiro Herber Reis, do<br />
<strong>de</strong>partamento jurídico da<br />
Fetaesp, e o sociólogo Fran-<br />
cisco José <strong>de</strong> Toledo, <strong>de</strong><br />
Marília.<br />
Em seu pronunciamento, o<br />
presi<strong>de</strong>nte da Fetaesp,<br />
Roberto Toshio Horiguti, dis-<br />
se aos <strong>de</strong>putados que em São<br />
Paulo, particularmente, a<br />
terra não <strong>está</strong> cumprindo sua<br />
função social, porque <strong>está</strong><br />
cheio <strong>de</strong> latifúndios. Disse<br />
Roberto que existem 15<br />
milhões <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong> lati-<br />
fúndios em São Paulo e que<br />
se fossem distribuídos<br />
dariam para colocar na roça<br />
500 mi! famílias <strong>de</strong> trabalha-<br />
dores rurais, com 30 hectares<br />
cada uma.<br />
Por isso o Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fetaesp assinalou aos <strong>de</strong>puta-<br />
dos que "trata-se, antes <strong>de</strong><br />
mais nada, <strong>de</strong> fazer justiça.<br />
Não queremos nada <strong>de</strong> nin-<br />
guém: queremos aquilo que<br />
sempre nos <strong>pert</strong>enceu e que,<br />
sorrateiramente, nos foi sendo<br />
tirado pelos gananciosos".<br />
E ressaltou: "Queremos<br />
terra, pois coragem e força<br />
para trabalhar sempre tive-<br />
mos".<br />
O presi<strong>de</strong>nte da Fetaesp<br />
advertiu os <strong>de</strong>putados que<br />
nenhuma solução po<strong>de</strong> ser<br />
melhor do que a Reforma<br />
Agrária. Substituir a Refor-<br />
ma Agrária por <strong>outra</strong>s políti-<br />
cas, na verda<strong>de</strong>, não passa <strong>de</strong><br />
uma "visão estrábica da reali-<br />
da<strong>de</strong> rural". E por isso mes-<br />
mo ele con<strong>de</strong>nou a tentativa<br />
<strong>de</strong> gente do Governo querer<br />
trocar a Reforma Agrária<br />
por-um Imposto Territorial<br />
Rural um pouco maior para<br />
os latifúndios mal apro-<br />
veitados.<br />
"A Reforma Agrária - disse<br />
Roberto - é a única solução<br />
válida, porque vai à raiz do<br />
mal", fazendo produzir áreas<br />
não aproveitadas dos latifún-<br />
dios e dando trabalho aos<br />
trabalhadores rurais <strong>de</strong>sem-<br />
pregados ou sub-emprega-<br />
dos. Segundo o Presi<strong>de</strong>nte'<br />
da Fetaesp, a Reforma Agrá-<br />
ria será "o melhor e mais cur-<br />
to caminho" também para<br />
resolver o problema das<br />
favelas nas cida<strong>de</strong>s.que nada<br />
mais são do que o resultado<br />
da saída dos trabalhadores<br />
rurais da terra.<br />
LORENA AVISA: "A<br />
REFORMA AGRÁRIA<br />
NÃO RESOLVE TUDO.<br />
MAS É O COMEÇO DE<br />
TUDO"<br />
O Presi<strong>de</strong>nte da Associa-<br />
ção Brasileira <strong>de</strong> Reforma<br />
Agrária (ABRA), o eng' agr*<br />
Carlos Lorena, é um dos<br />
maiores conhecedores da<br />
política agrícola e agrária do<br />
Brasil e foi um dos principais<br />
responsáveis pelo Estatuto<br />
da Terra, aprovado pelo<br />
Governo e pelo Congresso<br />
Nacional em 1964.<br />
Lorena, em seu pronuncia-<br />
mento, começou dizendo<br />
que "o essencial para o início<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento do Bra-<br />
sil é a solução do problema<br />
"da posse da terra". E esclare-<br />
ceu: "Não quer dizer que, fei-<br />
ta uma Reforma Agrária,<br />
estão solucionados todo sos<br />
problemas do Brasil, mas<br />
enquanto não houver o livre<br />
acesso à posse da terra por<br />
aquele que trabalha a terra e<br />
que precisa da terra para pro-<br />
duzir e viver, não resolveremos<br />
nenhum dos problemas brasi-<br />
leiros".<br />
Lorena disse que não é<br />
católico, não tem religião.<br />
Mas <strong>está</strong> animadíssimo com<br />
os Bispos: "Em nenhum<br />
momento, nós, que há vinte<br />
anos estamos envolvidos nesse<br />
assunto, discutindo, <strong>de</strong>baten-<br />
do, vimos uma força tão gran-<br />
<strong>de</strong>, tão po<strong>de</strong>rosa, tão organi-<br />
zada como a Igreja Católica,<br />
lutando ao lado do trabalhador<br />
rural, pregando a Reforma<br />
Agrária. Achamos que essa<br />
força será <strong>de</strong>cisiva".<br />
O presi<strong>de</strong>nte da ABRA fez<br />
questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>smentir os<br />
<strong>de</strong>putados governistas e<br />
dizer que o trabalhador<br />
volante ("bóia-fria") tem,<br />
sim, condições, e muitas, <strong>de</strong><br />
se tornar um dono <strong>de</strong> terra e<br />
fazê-la produzir:<br />
— Ele não tem capacida<strong>de</strong><br />
para se tornar um operário<br />
especializado na cida<strong>de</strong>, mas<br />
no meio rural on<strong>de</strong> ele nas-<br />
ceu, on<strong>de</strong> ele vive, on<strong>de</strong> ele<br />
conhece, é o trabalhador rural<br />
que <strong>está</strong> produzindo tudo o que<br />
nós comemos.<br />
E <strong>de</strong>u um puxão <strong>de</strong> orelhas<br />
nos dois <strong>de</strong>putados governis-<br />
tas:<br />
— Dizer que ele é analfabe-<br />
to, que ele não é capaz <strong>de</strong> pro-<br />
duzir? - indagou Lorena: É<br />
ele que <strong>está</strong> produzindo! O<br />
patrão <strong>está</strong> jogando no Jockey<br />
Club. Ele é que <strong>está</strong> trabalhan-<br />
do e produzindo. Quando mui-<br />
to recebendo uma pequena<br />
orientação do patrão. Então,<br />
a hora em que ele for dono da<br />
terra, ele vai trabalhar muito<br />
melhor no que é seu.<br />
O Presi<strong>de</strong>nte da AB RA fez<br />
também questão <strong>de</strong> garanti"<br />
que o trabalhador volante<br />
voltaria para a lavoura. Mas-<br />
numa condição: como pro-<br />
prietário da terra. Como<br />
empregado ninguém quer.<br />
Foi o que mostraram duas<br />
pesquisas, uma do Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />
Jacarezinho (PR) e <strong>outra</strong> <strong>de</strong><br />
Goiás. Do contrário, segun-<br />
do Lorena, "preferem ficar<br />
na cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> estão um pou-<br />
co mais <strong>pert</strong>o do médico, da<br />
assistência, da possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> trabalhar direito na cons-<br />
trução civil e dar escolha para,<br />
os filhos para estes irem para<br />
frente".<br />
EM PORTUGAL, A<br />
PRODUÇÃO<br />
DUPLICOU APÔS A<br />
REFORMA AGRÁRIA<br />
Lorena sabe o que <strong>está</strong><br />
acontecendo no mundo. E<br />
uma das coisas que ele quis<br />
<strong>de</strong>ixar claro é que a Reforma<br />
Agrária não <strong>de</strong>sorganiza a<br />
produção, ao contrário do<br />
que diz o Governo. Até que<br />
pelo contrário... Em Portu-<br />
gal, por exemplo, logo <strong>de</strong>pois<br />
da Revolução <strong>de</strong> 1974, a pro-<br />
dução nas regiões on<strong>de</strong> foi<br />
realizada a Reforma Agrária<br />
duplicou e mesmo triplicou,<br />
no mesmo ano! E o uso <strong>de</strong><br />
máquinas até triplicou!<br />
E por que a Reforma<br />
Agrária é necessária? Um<br />
dos motivos é porque<br />
enquanto em 1970 meta<strong>de</strong><br />
dos proprietários rurais do<br />
Brasil era dono <strong>de</strong> apenas<br />
2,9% da área total das pro-<br />
prieda<strong>de</strong>s, enquanto que<br />
apenas 1% dos proprietá-<br />
rios era dono <strong>de</strong> 42,7% da<br />
área total. Em 1975 essa<br />
meta<strong>de</strong> dos proprietários já<br />
tinha perdido tanta terra que<br />
era dona <strong>de</strong> apenas 1,4% do<br />
total, enquanto queos ricões,<br />
do outro lado, aumentavam<br />
sua terra para 44,6%! Ou<br />
seja, em 1970 eram precisas<br />
746 pequenas proprieda<strong>de</strong>s<br />
dos 50% para fazer um gran-<br />
<strong>de</strong>. Em 1975já eram necessá-<br />
rias 1.154!<br />
Só para dar uma idéia: as<br />
proprieda<strong>de</strong>s até 100 hecta-<br />
res produziram em 1970, 58%<br />
do total agrícola, tendo 32%<br />
das terras, enquanto que as<br />
proprieda<strong>de</strong>s com mais <strong>de</strong><br />
100 hectares produziram<br />
apenas 42%, com 68% das<br />
terras!<br />
PARA QUE O BRASIL<br />
SER UMA GRANDE<br />
POTÊNCIA, COM O<br />
POVO FAMINTO?<br />
Á exceção dos dois <strong>de</strong>pu-<br />
tados governistas, os <strong>de</strong>mais<br />
<strong>de</strong>putados (que assistiram a<br />
sessão foram favoráveis à<br />
FETAESP e ABRA, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong><br />
Agricultura, Franco Baru-<br />
selli (que organizou a ses-<br />
são), aos <strong>de</strong>putados Rubens<br />
Lara, Mauro Bragatto e<br />
Doreto Campanari (PMDB e<br />
PT).<br />
Para Franco Baruselli, é<br />
preciso acabar com este<br />
mo<strong>de</strong>lo econômico, porque<br />
senão a dívida externa conti-<br />
nuará a aumentar e a agricul-<br />
tura não vai alimentar o nos-<br />
so povo. O importante mes-<br />
mo é "não fazer do Pais uma<br />
gran<strong>de</strong> potência, mas fazer um<br />
pais <strong>de</strong> gente que po<strong>de</strong> viver,<br />
que tem condições <strong>de</strong> viver".<br />
Para Mauro Bragato, dis-<br />
cutir Reforma Agrária na<br />
Assembléia foi quebra um<br />
tabu na casa dos <strong>de</strong>putados<br />
estaduais. Era como que<br />
"um assunto proibido". Na<br />
opinião <strong>de</strong>le, "o povo, o tra-<br />
balhador rural, o agricultor, o<br />
lavrador, só terão condições<br />
<strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> produção, etc.<br />
quando tivermos um Governo<br />
<strong>de</strong>mocrático que respeite as<br />
aspirações <strong>de</strong>ssas massas<br />
populares que estão na zona<br />
rural e passe inclusive, a enca-<br />
rar o problema do latifúndio<br />
como um problema sério, um<br />
proble,a inclusive, <strong>de</strong> seguran-<br />
ça nacional".<br />
'O <strong>de</strong>putado Doreto Cam-<br />
panari, que é médico, falou<br />
sobre os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
disse que tem 10 mlhões <strong>de</strong><br />
subnutridos no Brasil, falou<br />
da miséria, da pobreza e do<br />
pouco caso do Governo. E<br />
disse que "o homem tem que<br />
voltar para a zona rural e tem<br />
que existir a Reforma Agrá-<br />
ria. Se o Governo não quiser<br />
por bem, isso vai ser por mal,<br />
porque não terá <strong>outra</strong> saída".<br />
Alias, ele acha que a Refor-<br />
ma Agrária tem <strong>de</strong> ser feita<br />
não so no Brasil, como tam-<br />
bém na América Latina na<br />
Ásia e na África, enfim no<br />
Terceiro mundo.
GRUPO REGIONAL 10<br />
QUER UMA SOLUÇÃO<br />
Trabalhadores <strong>de</strong>nunciam<br />
relaxamento em hospitais<br />
Gente é gente, animal é<br />
animal. Mesmo o animal<br />
merece ser bem tratado.<br />
Mas, por incrível que<br />
pareça, tem hospital que<br />
não concorda. Na região <strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte (como<br />
em <strong>outra</strong>s regiões do Esta-<br />
do) há um hospital que<br />
po<strong>de</strong>ria colocar na portaria<br />
uma tabuleta assim: "açou-<br />
gue <strong>de</strong> gente".<br />
É o Hospital São Sebas-<br />
tião, <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>n-<br />
te. Não sabemos se as coisas<br />
melhoraram por lá agora.<br />
Mas no dia 15 <strong>de</strong> julho, na<br />
histórica reunião que hou-<br />
ve entre os provedores <strong>de</strong><br />
hospitais da região, traba-<br />
lhadores rurais, dirigentes<br />
sindicais do GRUPO<br />
REGIONAL 10 e o<br />
INAMPS, (Jorge Narciso),<br />
esse Hospital foi <strong>de</strong>nuncia-<br />
do com freqüência. E casos<br />
<strong>de</strong> arrepiar.<br />
A ESPOSA DE JOÃO<br />
XAVIER FOI OPERADA<br />
TRÊS VEZES,<br />
COMO ANIMAL. E<br />
POR NADA!<br />
Coisa feia!<br />
João Xavier da Silva, tra-<br />
balhador rural <strong>de</strong> Pirapòzi-<br />
nho, contou a dolorida his-<br />
tória <strong>de</strong> sua esposa, que foi<br />
operada três vezes, por<br />
nada.<br />
"Ela chora como criança<br />
quando lembra o que<br />
sofreu" - disse João.<br />
Depois da primeira opera-<br />
ção, ela foi mandada para<br />
casa, antes do tempo. Pre-<br />
cisou voltar ao hospital e<br />
ser operada <strong>de</strong> novo. E em<br />
vez <strong>de</strong> anestesia geral, o<br />
médico fez local, que não<br />
teve efeito. Mas isso não foi<br />
problema para os médicos:<br />
fizeram a operação do mes-<br />
mo jeito, chamando mais<br />
funcionários para ajudar a<br />
segurar a mulher: "Todo o<br />
hospital escutou os gritos<br />
<strong>de</strong>la" - disse João Xavier.<br />
De novo, foi mandada<br />
para casa antes do temPo.<br />
Como da primeira vez, ela<br />
precisou voltar<strong>de</strong> novo ao<br />
hospital, porque havia<br />
piorado. Os médicos disse-<br />
ram que era para fazer<br />
anestesia local. Ela, então,<br />
pulou da mesa da opera-<br />
ção, lembrando das dores<br />
da operação anterior. E dis-<br />
se que não aceitava mais<br />
sofrer daquele jeito, que<br />
não era animal, era gente.<br />
Foi feita a operação,<br />
com anestesia geral. E um<br />
médico queria que ela fosse<br />
levada para casa, ainda sob<br />
efeito da anestesia! Como<br />
da primeira e segunda vez,<br />
a operação não adiantou e<br />
ela precisou retornar ao<br />
hospital. Os médicos,<br />
então, recomendaram que<br />
ela fosse a um neurologista.<br />
Os filhos discordaram e<br />
preferiram levá-la a um mé-<br />
dico particular. Esse médi-<br />
co disse que as operações<br />
que foram feitas "não se<br />
fazem nem em animal". O<br />
médico <strong>de</strong>u remédios. As<br />
três operações não adianta-<br />
ram nada! (João teve <strong>de</strong><br />
pagar exames complemen-<br />
tares, etc), no Hospital São<br />
Sebastião).<br />
Da reunião participaram os companheiros José Bento De<br />
Santi e José Antônio Pancotti, resnectivamente, Diretor e<br />
Assessor jurídico da Fetaesp. Jorge Narciso, chefe da equipe<br />
<strong>de</strong> assistência médica aos trabalhadores rurais, do INAMPS<br />
em S. Paulo, ouviu os Sindicatos pela manhã.<br />
UM CASO NA<br />
JUSTIÇA CONTRA<br />
O HOSPITAL<br />
O presi<strong>de</strong>nte do Sindica-<br />
to dos Trabalhadores<br />
Rurais <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte Pru-<br />
<strong>de</strong>nte, Val<strong>de</strong>mar Nodaelli,<br />
fez uma longa exposição,<br />
na parte da manhã (na reu-<br />
nião entre o INAMPS, os<br />
dirigentes e alguns traba-<br />
lhadores), em que justificou<br />
a preocupação dos dirigen-<br />
tes com a assistência, por-<br />
que Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte<br />
recebe companheiros tra-<br />
balhadores rurais do Norte<br />
do Paraná e do Mato Gros-<br />
so para serem medicados. E<br />
tudo cai em cima do Sindi-<br />
cato.<br />
Val<strong>de</strong>mar, entre os tan-<br />
tos casos, informou que há<br />
um processo na Justiça, em<br />
São Paulo, contra o Hospi-<br />
tal S. Sebastião. Um caso<br />
em que, segundo ele, estava<br />
previsto um parto difícil. O<br />
marido pediu toda a atenção<br />
aos médicos, mas a mulher<br />
ficou três dias sofrendo e<br />
acabou per<strong>de</strong>ndo a criança.<br />
Neuza Milani, esposa <strong>de</strong><br />
Amídio Milani (do Conse-<br />
lho Fiscal do Sindicato),<br />
contou que seu marido<br />
ficou internado quando<br />
aquela mulher estava inter-<br />
nada. Neuza acompanhava<br />
o marido e ouviu a mulher<br />
chorar a noite toda. Segun-<br />
do ela, não há atendimento<br />
durante a noite. O leite, da<br />
manhã, estava azedo, a<br />
comida estragada. Seu<br />
marido <strong>de</strong>ixou o hospital,<br />
porque foi queixar-se do<br />
tratamento com um médico<br />
e este disse, que o aten<strong>de</strong>ria,<br />
se pagasse.<br />
DENUNCIAS<br />
CONTRA OUTROS<br />
HOSPITAIS<br />
Muitas <strong>outra</strong>s <strong>de</strong>núncias<br />
foram feitas por trabalha-<br />
dores e dirigentes sindicais,<br />
mostrando uma certa pre-<br />
venção que existe contra os<br />
trabalhadores rurais - como<br />
se ser trabalhador rural não<br />
fosse uma profissão tão dig-<br />
na como as <strong>outra</strong>s.<br />
O companheiro Braz<br />
Albertini, Presi<strong>de</strong>nte do<br />
STR <strong>de</strong> Regente Feijó,<br />
reclamou da Santa Casa <strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte, que<br />
barra os trabalhadores na<br />
portaria, mandando-os <strong>de</strong><br />
volta sem atendimento.<br />
Também reclamou que a<br />
Santa Casa não faz "cirur-<br />
gias elitivas".<br />
E o companheiro Odair<br />
Vitor, Presi<strong>de</strong>nte do STR<br />
<strong>de</strong> Palmital, <strong>de</strong>nunciou um<br />
abuso que foi cometido<br />
contra" um companheiro<br />
aposentado, que recebeu<br />
conta <strong>de</strong> Cr$ 18.000,00 por<br />
uma operação <strong>de</strong> emergência,<br />
sem discriminação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>spesas. Odair mostrou as<br />
notas a Jorge Narciso, do<br />
INAMPS.<br />
OS HOSPITAIS SE<br />
DEFENDEM,<br />
QUEIXANDO-SE<br />
DO INAMPS<br />
A Santa Casa <strong>de</strong> Presi-<br />
<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-<br />
se, dizendo que faz cirur-<br />
gias "elitivas", explicando<br />
que <strong>está</strong> com sobrecarga <strong>de</strong><br />
serviço, com .lotação <strong>de</strong><br />
20% acima da capacida<strong>de</strong>,<br />
porque é muito procurada<br />
em razão <strong>de</strong> seus serviços<br />
especializados.<br />
Seu representante disse<br />
que a Santa Casa <strong>está</strong><br />
sofrendo um prejuízo enor-<br />
me, por causa do atendi-<br />
mento em convênios com o<br />
Inamps e ex-Funrural. Dis-<br />
se que <strong>de</strong>sconhecia o não<br />
atendimento na portaria.<br />
Já o representante da<br />
Santa Casa <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />
Venceslau disse que a enti-<br />
da<strong>de</strong> aten<strong>de</strong> 1.500 pessoas<br />
por mês, em média, uma<br />
população pobre. Disse<br />
que há "uma certa confu-<br />
são entre previdência social<br />
e assistência social". O<br />
INPS inicialmente visava a<br />
Presidência, mas <strong>de</strong>pois<br />
envolveu-se com a assistên-<br />
cia. E os hospitais estão<br />
sendo <strong>de</strong> certa forma chan-<br />
tageados pelo INPS e pelo<br />
Funrural pela forma que<br />
nos pagam".<br />
O representante previu<br />
a "<strong>de</strong>rrocada" dos hospi-<br />
tais, caso o Funrural não se<br />
organize; reclamou uma<br />
série <strong>de</strong> medidas, entre as<br />
quais a i<strong>de</strong>ntificação do tra-<br />
balhador rural ("para aca-<br />
bar com o comércio parale-<br />
lo <strong>de</strong> guias"); um critério<br />
mais <strong>de</strong>finido para as porta-<br />
rias do INAMPS e Funru-<br />
ral, porque as normas<br />
atuais são instáveis; estabe-<br />
lecer claramente qual o<br />
hospital que <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r<br />
em caráter regional; e,<br />
finalmente, reajuste mais<br />
freqüente, acompanhando<br />
os índices inflacionários,<br />
porque "os hospitais estão<br />
se <strong>de</strong>scapitalizando, em<br />
razão <strong>de</strong> que o custo do lei-<br />
to hospitalar é absurdo".<br />
E uma guerra! Mataram<br />
mais um dirigente nosso!<br />
Elementos ainda não<br />
i<strong>de</strong>ntificados, assassinaram<br />
no dia 20 <strong>de</strong> julho, às oito<br />
horas da noite, o Presi<strong>de</strong>n-<br />
te do Sindicato dos Traba-<br />
lhadores Rurais <strong>de</strong> Brasi-<br />
léia (ACRE), Wilson<br />
Pinheiro <strong>de</strong> Souza, na Se<strong>de</strong><br />
dó Sindicato.<br />
O assassinato do com-<br />
panheiro Wilson ocorreu<br />
28 dias <strong>de</strong>pois que o Secre-<br />
tário municipal <strong>de</strong> Xapuri,<br />
o latifundiário seringalista<br />
Guilherme Lopes, disse<br />
numa reunião da Sudhevea<br />
(Superintendência para o<br />
Desenvolvimento da<br />
Borracha), que os conflitos<br />
<strong>de</strong> terra existentes no Acre<br />
só po<strong>de</strong>riam ser resolvidos<br />
<strong>de</strong> uma maneira: "matando<br />
o Presi<strong>de</strong>nte do Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais,<br />
o Delegado da CONTAG,<br />
e os padres" que, segundo<br />
o latifundiário, "vêm insti-<br />
gando os seringueiros", ou<br />
seja, os trabalhadores<br />
rurais posseiros que culti-<br />
vam a borracha.<br />
O cúmulo s.do absurdo,<br />
segundo a <strong>de</strong>núncia da<br />
Delegacia da CONTAG no<br />
Acre, é que o latifundiário<br />
foi imediatamente apoiado<br />
pelo seringalista Lamberto<br />
Ribeiro e outros, que esta-<br />
vam presentes à reunião. E,<br />
como se não bastasse, o dis-<br />
curso do latifundiário Gui-<br />
lherme Lopes foi transmiti-<br />
do pela Rádio Seis <strong>de</strong><br />
Agosto.<br />
CONTAG, FETAESP,<br />
ABRA, CPT E Cl MI<br />
EXIGEM AÇÃO<br />
ENÉRGICA E EXEM-<br />
PLAR DO GOVERNO.<br />
Segundo a imprensa, cer-<br />
ca <strong>de</strong> 1.500 trabalhadores<br />
rurais e <strong>outra</strong>s personalida-<br />
<strong>de</strong>s estiveram presentes ao<br />
enterro do companheiro;<br />
entre eles, o presi<strong>de</strong>nte da<br />
CONTAG, José Francisco<br />
da Silva; o presi<strong>de</strong>nte cas-<br />
sado do Sindicato dos<br />
Metalúrgicos <strong>de</strong> São Ber-<br />
nardo, Luis Inácio da Silva<br />
(Lula), hoje presi<strong>de</strong>nte do<br />
Partido dos Trabalhadores<br />
(ao qual o companheiro<br />
Wilson estava vinculado);<br />
Jocó Bittar, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Sindicato dos Petroleiros<br />
<strong>de</strong> Campinas (e Secretário<br />
do PT), além do Delegado<br />
da CONTAG no Acre, o<br />
companheiro João Maía<br />
Filho, também ameaçado<br />
<strong>de</strong> morte.<br />
O assassinato foi recebi-<br />
do com muita consternação<br />
e revolta, tanto pela nossa<br />
Confe<strong>de</strong>ração Nacional<br />
dos Trabalhadores na Agri-<br />
cultura (CONTAG) como<br />
pela FETAESP, pela<br />
Comissão <strong>de</strong> Pastoral da<br />
Terra (CPT), Conselho<br />
Indigenista Missionário<br />
(CIMI) e Associação Brasi-<br />
leira <strong>de</strong> Reforma Agrária<br />
(ABRA).<br />
A CONTAG ao comuni-<br />
car à nação a morte do<br />
companheiro, lamentando<br />
o crime, disse que, além <strong>de</strong><br />
uma vida humana, o assas-<br />
sinato também representa<br />
"um atentato contra o sin-<br />
dicalismo e atinge toda a<br />
classe rural".<br />
E o Delegado da CON-<br />
TAG no Acre, o compa-<br />
nheiro João Maía Filho<br />
(paulista) enviou dois dias<br />
<strong>de</strong>pois do assassinato, uma<br />
carta ao Presi<strong>de</strong>nte Figuei-<br />
redo, afirmando que a mor-<br />
te <strong>de</strong> Wilson faz parte <strong>de</strong><br />
"um plano organizado por<br />
certo grupo <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros<br />
do Acre para eliminar diri-<br />
gentes sindicais e agentes<br />
pastorais da Igreja". Além<br />
disso, informou que pedirá<br />
o enquadramento na Lei <strong>de</strong><br />
Segurança Naciohnal <strong>de</strong><br />
alguns fazen<strong>de</strong>iros e a<br />
CONTAG vai pedir a <strong>de</strong>sa-<br />
propriação <strong>de</strong> vários serin-<br />
gais, on<strong>de</strong>, há anos, ocor-<br />
rem conflitos.<br />
FETAESP; "ESSA<br />
LADAINHA DE<br />
VIOLÊNCIAS PRECI-<br />
SA ACABAR"<br />
Informada pela CON-<br />
TAG, a FETAESP distri-<br />
buiu nota à imprensa,<br />
<strong>de</strong>nunciando e <strong>de</strong>plorando<br />
o bárbaro assassinato e soli-<br />
darizando-se com a família<br />
do companheiro e os asso-<br />
ciados do Sindicato. Na<br />
nota, a FETAESP também<br />
advertia o Governo <strong>de</strong> que<br />
"a imediata i<strong>de</strong>ntificação<br />
dos autores do assassinato e<br />
sua rigorosa punição é,<br />
antes <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> interesse<br />
do próprio Governo - se<br />
quiser manter a credibilida-<br />
<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, a<br />
tranqüilida<strong>de</strong> na região<br />
amazônica".<br />
- A morte do compa-<br />
nheiro Wilson e <strong>de</strong> vários<br />
outros dirigentes sindicais<br />
do campo (dizia na nota a<br />
FETAESP) é conseqüên-<br />
cia direta da não realização<br />
da Reforma Agrária, pre-<br />
vista no Estatuto da Terra<br />
há 16 anos. É o que aguça<br />
os conflitos agrários, propi-<br />
ciando a constituição <strong>de</strong><br />
enormes latifúndios - que<br />
forem a cidadania dos tra-<br />
balhadores rurais - e dá<br />
ensejo à livre ação dos<br />
grileiros.<br />
Conheça os novos preços mínimos<br />
e veja se seu trabalho compensa<br />
JVO dia 23 <strong>de</strong> julho o Governo<br />
divulgava os novos preços mí-<br />
nimos (80/81), e parece que o<br />
Governo anda mesrno preocu-<br />
pado com a falta <strong>de</strong> comida,<br />
uma vez que parece estar<br />
querendo estimular maior<br />
plantio <strong>de</strong> alimentos. Aliás, é a<br />
falta <strong>de</strong> comida que vem fazen-<br />
do a inflação namorar com os<br />
100% ao ano.<br />
So isso vai ajudar o Brasil<br />
a ter mais comida?<br />
VEJA ESTE<br />
LEVANTAMENTO<br />
DE PRESIDENTE<br />
PRUDENTE<br />
O companheiro Luis<br />
Kako, diretor tesoureiro do<br />
STR <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte,<br />
(e técnico agrícola) enviou<br />
ao Realida<strong>de</strong> Rural levanta-<br />
mento preciosíssimo do cus-<br />
to <strong>de</strong> produção (safra 79/80),<br />
relativo ao amendoim, algo-<br />
dão, milho e feijão (safra 80).<br />
Pena não po<strong>de</strong>rmos mos-<br />
trar todos os <strong>de</strong>talhes do<br />
levatamento. O amendoim<br />
das águas, para o arrendatá-<br />
rio, que ren<strong>de</strong>m 163 sacas <strong>de</strong><br />
25 quilos, o levantamento<br />
aponta uma <strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> CrS<br />
53.788,75. Na venda, ao pre-<br />
ço mínimo <strong>de</strong> CrS 210,00 (a<br />
partir <strong>de</strong> janeiro), o produtor<br />
obteve CrS 34.230,00. Resul-<br />
tado: um prejuízo <strong>de</strong> CrS<br />
19.558,75, sem contar os 30%<br />
<strong>de</strong> recompensa a que o tra-<br />
balhador rural produtor tem<br />
direito segundo o Estatuto da<br />
Terra. Para o amendoim da<br />
seca, cuja produção foi <strong>de</strong><br />
135 sacas por alqueire, o<br />
OS PREÇOS MÍNIMOS<br />
Produtos Quantida<strong>de</strong> 1979/80 1980/81 Variação<br />
real(%)<br />
SOJA 60 KG 315,00 660,00 5,2<br />
MILHO 60 KG 185,40 474,00 28,3<br />
FEIJÃO 60 KG 612,00 1.800.00 47,7<br />
ALGODÃO 15 KG 201,90 475,20 18,2<br />
ARROZ 60 KG 320,00 720,00 13,0<br />
AMENDOIM 25 KG 180,00 325,00 -9,4<br />
MAMONA 60 KG 380,40 880,20 16,2<br />
MANDIOCA 1T 733,00 1.800,00 23,3<br />
SORO 60 KG 157,80 426,00 35,5<br />
CASTANHA-DO-PARA 1 HL 357,75 746,50 -0.3<br />
CASTANHA-DE-CAJU I KG 6,00 18,00 50.6<br />
CASULO VERDE 1 KG 63,00 134,00 6,8<br />
GIRASSOL 40 KG 143,20 420,00 47,2<br />
GUARANÁ 1KG 78.00 140,00 -9,9<br />
JUTA/MALVA 1-KG 11,70 30.00 28,7<br />
MENTA 1KG 210,00 395,80 -5,4<br />
RAM1 1 KG 11,50 35,10 53,2<br />
BABAÇU 60 KG 196,20 365,60 -3,9<br />
CERADECAF .NAÜBA 15 KG 615,00 950,10 -22,4<br />
Deflator: índice Geral <strong>de</strong> Preços (1GP)<br />
prejuízo foi <strong>de</strong> CrS 23.636,00,<br />
também sem os 30%.<br />
Para o algodão, as <strong>de</strong>spe-<br />
sas por alqueire foram <strong>de</strong><br />
CrS 88.212,67 (para o arren-<br />
dárío). A colheita foi <strong>de</strong> CrS<br />
330 arrobas que, ao preço<br />
mínimo <strong>de</strong> CrS 201,90, totali-<br />
zando, na venda, CrS<br />
66.627,00. Prejuízo <strong>de</strong> CrS<br />
21.585,67, sem os 30% da<br />
mão-<strong>de</strong>-obra.<br />
Para o milho o total das<br />
<strong>de</strong>spesas (arrendatário) foi<br />
<strong>de</strong> CrS 41.456,00, totalizando<br />
na venda CrS 17.820,00, don-<br />
<strong>de</strong> resultou um prejuízo <strong>de</strong><br />
CrS 23.636,00. Também sem<br />
os 30% <strong>de</strong> recompensa.<br />
Já o feijão apresentou a<br />
<strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> CrS 47.491,30 e<br />
na venda dos 30 sacos (a CrS<br />
936,00) resultaram em CrS<br />
28.080,00, dando um saldo<br />
negativo para o produtor <strong>de</strong><br />
CrS 19.411,30. Também sem<br />
os 30% <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />
Ê bom o companheiro tra-<br />
balhador rural produtor com-<br />
para os cálculos e <strong>de</strong>scobrir<br />
que em boca fechada não<br />
entra mosquito, mas também<br />
não entra comida. O arrenda-<br />
mento foi arrendondado<br />
para CrS 2.000,00 ao alqueire<br />
para o amendoim e feijão, e a<br />
CrS 4.000,00 para o milho c<br />
algodão.<br />
Para finalizar, o adubo, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1976 a maio <strong>de</strong><br />
1980, subiu 404,1%. E em<br />
matéria <strong>de</strong> inseticidas e fun-<br />
gicídas, basta observar que o<br />
"folidol", em 9 meses, subiu<br />
248%! O "Audrin" subiu<br />
476%, em 9 meses! E o "sis-<br />
têmico folemati", 340%, em<br />
12 meses!<br />
REALIDADE RURAL - AGOSTO DE 1980 Pág. 5
Em Piracicaba, D. Tomás diz<br />
que indica e trabalhadores<br />
nunca tiveram vez nc Brasil!<br />
Para os trabalhadores<br />
rurais, com pouca terra ou<br />
sem terra, conseguirem<br />
enten<strong>de</strong>r porque eles estão<br />
cada vez mais na miséria,<br />
eles precisam saber disso: as<br />
terras, no Brasil, vem sendo<br />
divididas entre os amigos do,<br />
Governo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o Brasil<br />
foi <strong>de</strong>scoberto.<br />
Primeiro foram os amigos<br />
do rei <strong>de</strong> Portugal, no tempo^<br />
das capitanias hereditárias.<br />
Eles ganhavam pedaços <strong>de</strong><br />
terra do mesmo tamanho ou<br />
até maiores do que a famosa<br />
Jari, lá no Pará, dona <strong>de</strong> qua-<br />
se quatro milhões <strong>de</strong> hecta-<br />
res hoje. Com uma diferen-<br />
ça: os amigos do rei eram<br />
portugueses, enquanto que o<br />
dono da Jari é um america-<br />
no. No fundo é o mesmo.<br />
Depois disso, tornaram-se<br />
amigos do rei (e mais tar<strong>de</strong><br />
do Imperador) os senhores<br />
<strong>de</strong> escravos. Esses senhores,<br />
quando o Brasil virou<br />
República, há 90 anos, vira-<br />
ram fazen<strong>de</strong>iros, e continua-<br />
ram donos <strong>de</strong> enormes peda-<br />
ços do Brasil. Hoje eles<br />
ganharam a companhia <strong>de</strong><br />
banqueiros, industriais e<br />
gran<strong>de</strong>s empresas multina-<br />
cionais.<br />
Esse é, em poucas pala-<br />
vras, um resumo do pensa-<br />
mento nu e cru que o Bispo<br />
<strong>de</strong> Goiás Velho (GO), muito<br />
conhecido, D. Tomás Bal-<br />
duino, apresentou há pouco<br />
tempo em Piracicaba, num<br />
encontro on<strong>de</strong> se conversou<br />
sobre as dificulda<strong>de</strong>s, dos<br />
trabalhadores rurais. O Bis-<br />
po mostrou que em toda a<br />
história do Brasil, o Governo<br />
sempre esteve ao lado dos<br />
po<strong>de</strong>rosos, contra os fracos,<br />
acabando com os índios e<br />
castigando os trabalhadores<br />
rurais.<br />
D. TOMÁS. QUANDO<br />
MORRE UM GRILEI-<br />
RO, É UM ESCÂNDA-<br />
LO...<br />
Nesse encontro estiveram<br />
presentes também o Presi-<br />
<strong>de</strong>nte da Fetaesp, Roberto<br />
Toshio Horiguti; o Presi<strong>de</strong>n-<br />
te do STR <strong>de</strong> Cravinhos,<br />
Antônio Crispim da Cruz; o<br />
padre Miguel Le Moal, <strong>de</strong><br />
Andradina; e o companheiro<br />
Herber Reis, do Departa-<br />
mento Jurídico da Fetaesp.<br />
O encontro foi uma promo-<br />
ção do Comitê Brasileiro<br />
pela Anistia (CBA), <strong>de</strong> Pira-<br />
cicaba, e realizou-se no salão<br />
da Catedral.<br />
Depois <strong>de</strong> falar que no ano<br />
passado até bombas, por<br />
helicóptero, foram jogadas<br />
contra posseiros no Ara-<br />
guaia, o Bispo D. Tomás Bal-<br />
duino falou dos massacres<br />
<strong>de</strong> índios, mostrando sua<br />
revolta pelo fato <strong>de</strong> que os<br />
erileiros e assassinos <strong>de</strong> pos-<br />
seiros e indios andaram à solta.<br />
D. Tomás Balduino,conhe<br />
cido Bispo <strong>de</strong> Goiás Velho<br />
(GO)<strong>de</strong>fensor <strong>de</strong> indiose tra-<br />
balhadores rurais.<br />
sem castigo nenhum. Todos<br />
esses crimes são até naturais<br />
para os grandões.<br />
No entanto, disse D.<br />
Tomás, "quando morre um<br />
grileiro, um grandão, é um<br />
escândalo. Mas quantos<br />
lavradores morrem? Quantas<br />
matanças! Quantos cadáve-<br />
res são encontrados <strong>de</strong>pois!<br />
E os grandões estão impunes,<br />
como a famosa matança do<br />
paralelo 11, cuja família res-<br />
ponsável continua impune<br />
em Cuiabá. João Mineiro,<br />
que entrou numa missão<br />
indígena e matou o padre<br />
Rodolfo Lukenbein, o índio<br />
Simão e feriu vários índios,<br />
<strong>está</strong> ali, solto! E todos esses<br />
assassinos dos pobres estão<br />
ali, porque são aliados do<br />
Governo".<br />
Depois <strong>de</strong> mostrar tam-<br />
bém sua revolta contra o<br />
Governo, que ele acha que é<br />
"hipócrita e anti-<strong>de</strong>mocráti-<br />
co" e faz um verda<strong>de</strong>iro<br />
leilão <strong>de</strong> terras no Brasil, D.<br />
Tomás Balduino disse que os<br />
po<strong>de</strong>rosos do Brasil estão<br />
muito preocupados com a<br />
Igreja por causa do famoso<br />
documento "A Igreja e os<br />
Problemas da terra".<br />
Isso porque, segundo D.<br />
Tomás, esse documento<br />
revela uma caminhada dos<br />
fracos, dos pobres. A Igreja<br />
não faz nada mais do que<br />
apenas apoiar sua organiza-<br />
ção. Os trabalhadores é que<br />
estão se organizando. E o<br />
Governo não gosta <strong>de</strong> que o<br />
povo se organize!<br />
CRISPIM: O NORDES-<br />
TE TEM SOLUÇÃO,<br />
SEM ENGANAÇÃO<br />
No encontro, falaram<br />
várias pessoas, tanto o padre<br />
Le Moal, do Araguaia, mos-<br />
trando a violência que<br />
sofrem os posseiros lá, como<br />
os representantes dos possei-<br />
ros da Fazenda Primavera,<br />
contando sua dura história<br />
<strong>de</strong> resistência.<br />
Crispim fala: Roberto e mais ao fundo. D. Tomás, ou-<br />
vem as críticas aos programas <strong>de</strong> Governo no Nor<strong>de</strong>ste e ao<br />
Proálcool.<br />
Pág. 6<br />
Depois <strong>de</strong>les falou o Presi-<br />
<strong>de</strong>nte da Fetaesp, Roberto<br />
Toshio Horiguti, mostrando<br />
no encontro aos presentes as<br />
mesmas informações que<br />
<strong>de</strong>ixaram os <strong>de</strong>putados esta-<br />
duais <strong>de</strong> boca aberta na<br />
Assembléia Legislativa, com<br />
informações como a <strong>de</strong> que<br />
se os 15 milhões <strong>de</strong> hectares<br />
<strong>de</strong> latifúndios, existentes em<br />
São Paulo, fossem divididos,<br />
caberiam 500 mil famílias,<br />
com 30 hectares cada uma!<br />
'(Veja matéria ao lado).<br />
E falou também o compa-<br />
nheiro Antônio Crispim da<br />
Cruz, Presi<strong>de</strong>nte do STR <strong>de</strong><br />
Cravinhos. Ele começou<br />
contando a viagem que ele<br />
fez em maio para o -Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Norte, on<strong>de</strong> par-<br />
ticipou <strong>de</strong> uma concentra-<br />
ção <strong>de</strong> 20 mil trabalhadores<br />
Rurais, no Vale do Açu on<strong>de</strong><br />
o Governo estuda a <strong>de</strong>sapro-<br />
priação <strong>de</strong> 60 mil hectares <strong>de</strong><br />
terra boa para fazer uma<br />
represa, para fazer irrigação,<br />
por bombeamento, numa<br />
área <strong>de</strong> apenas 20 mil hecta-<br />
res, terras altas, para latifun-<br />
diários. "Coisa mais estúpi-<br />
da" - observou Crispim,<br />
revoltado.<br />
Crispim disse que o que<br />
existe, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, no Nor-<br />
<strong>de</strong>ste, é a "indústria da<br />
seca", que faz os ricos cada<br />
Devaníte Me<strong>de</strong>iros conta<br />
.situação <strong>de</strong> posseiros da Pri-<br />
mavera, <strong>de</strong> Andradina. Com<br />
ela,mais quatro moradores da<br />
Primavera.<br />
vez mais ricos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> toda<br />
a seca com <strong>de</strong>svio e mau<br />
aproveitamento da ajuda do<br />
Governo. Lá, segundo Cris-<br />
pim, não existe interesse por<br />
parte <strong>de</strong> políticos e do<br />
Governo, <strong>de</strong> resolver mesmo<br />
os problemas.<br />
A solução não seria tão<br />
difícil assim. O terreno lá não<br />
é seco. Ele retém a umida<strong>de</strong>,<br />
tanto é que as lagoas agüen-<br />
tam muito tempo. E os poços<br />
artesianos não precisam mais<br />
que 600 metros para jorrar<br />
água boa e abundante,<br />
enquanto que aqui no Sul<br />
precisam <strong>de</strong> 1.000 a 1.500<br />
metros.<br />
Crispim estava também<br />
revoltado com <strong>outra</strong> coisa:<br />
através dos chamados "in-<br />
centivos", vai muito dinheiro<br />
do Sul para o Norte, dinheiro<br />
do povo. E o pessoal do Nor-<br />
te tem uma imagem <strong>de</strong> que o<br />
Sul é <strong>de</strong>senvolvido e vem<br />
para o Sul concorrer com a<br />
mão-<strong>de</strong>-obra daqui, que já<br />
ganha pouco. Resultado:<br />
mais miséria aqui também,<br />
enquanto que lá as coisas<br />
podiam ser bem resolvidas,<br />
sem enganação.-<br />
Crispim falou também do<br />
Proálcool, aqui no Sul. (Veja<br />
matéria nesta edição).<br />
Sindicatos nor<strong>de</strong>stinos <strong>de</strong>nunciam<br />
grandões e hidrelétrica malandra<br />
Os trabalhadores rurais precisam acostu-<br />
mar-se a <strong>de</strong>sconfiar dos belos discursos que<br />
ouvem <strong>de</strong> vez em quando dos governantes<br />
(especialmente dos ministros) falando em<br />
"progresso", em "bem estar" etc. Os Minis-<br />
tros estão muito por fora...<br />
A FETAESP, por exemplo, recebeu qua-<br />
tro documentos dos nossos Sindicatos lá do '<br />
Nor<strong>de</strong>ste, ao longo do Rio São Francisco.<br />
Os trabalhadores rurais naquela região estão<br />
vendo <strong>de</strong> <strong>pert</strong>o o que significa o "progresso"<br />
<strong>de</strong> alguns Ministros, um progresso que não é<br />
para o trabalhador rural, mas sim para os<br />
gran<strong>de</strong>s tubarões!<br />
De 18 a 22 <strong>de</strong> junho houve, em Carnaíba,<br />
o 5 9 Encontro do Vale do São Francisco,<br />
abrangendo os Estados <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />
Pernambuco, Alagoas e Sergipe, sob coor-<br />
<strong>de</strong>nação da nossa CONTAG, das Fe<strong>de</strong>ra-<br />
ções <strong>de</strong>stes cinco estados e com aparticipa-<br />
ção muito especial e estimulante da Comis-<br />
são <strong>de</strong> Pastoral da Terra (CPT) e a Diocese<br />
<strong>de</strong> Juazeiro, e mais 31 Sindicatos.<br />
UMA SUSPEITA MUITO SÉRIA: AS<br />
HIDRELÉTRICAS FABRICAM<br />
ENCHENTES!<br />
As terras ao longo do Rio São Francisco,<br />
são muito cobiçadas pelos ricaços <strong>de</strong> todo o<br />
Brasil e pela patronzada da região. Como se<br />
não bastasse isso, a patronzada e os milioná-<br />
rios estão recebendo uma enorme ajuda da<br />
Companhia Hidrelétrica do Vale do São<br />
Francisco (CHESF) que <strong>está</strong>, construindo<br />
uma série <strong>de</strong> represas ao longo do Rio, e <strong>de</strong><br />
<strong>outra</strong> empresa, chamada CODEVASF<br />
(Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento do Vale<br />
do Sao Francisco)<br />
O nosso Movimento Sindical na região<br />
<strong>está</strong> muito triste e indignado com o que vem<br />
acontecendo.<br />
O Documento Final do V Encontro do<br />
Vale do São Francisco <strong>de</strong>nuncia que tem<br />
crescido a grilagem <strong>de</strong> terras ao jongo do São<br />
Francisco, aumentando as violências contra<br />
os posseios - tudo isso com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
"limpar" as áreas para o estabelecimento <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s empresas agrícolas, engordadas<br />
com incentivos do Governo.<br />
Mas o documento traz uma informação<br />
muito séria: as últimas enchentes, que trou-<br />
xeram mais miséria ainda e sofrimento aos<br />
nossos trabalhadores rurais na região, <strong>de</strong>ixa-<br />
ram a suspeita <strong>de</strong> que essas enchentes são é<br />
planejadas, com o objetivo <strong>de</strong> forçar a popu-<br />
lação a aceitar a transferência para as agro-<br />
vicolas, <strong>de</strong>ixando livres as beiras dos rios.<br />
O PROÁLCOOL TEM UMA CARA<br />
MUITO FEIA. E É MUITO MALVADO<br />
O PROÁLCOOL não <strong>está</strong> complicando a<br />
vida apenas aqui no sul. Lá no Nor<strong>de</strong>ste ele<br />
<strong>está</strong> servindo para engordar muita gente, às<br />
custas dos incentivos do Governo. E em<br />
lugar <strong>de</strong> produzir comida, as terras férteis<br />
vão servir para fazer andar os carros <strong>de</strong><br />
quem tem dinheiro para comprar.<br />
Na região do São Francisco tem um proje-<br />
to <strong>de</strong> 30 mil hectares para produção <strong>de</strong> man-<br />
dioca, chamado "Agroindústria! Camaragi-<br />
be S/A", <strong>de</strong> uma empresa do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Nesse projeto, em Casa Nova (BA) resi<strong>de</strong>m<br />
351 pessoas que não querem <strong>de</strong>ixar a terra<br />
<strong>de</strong> jeito nenhum, nem transferindo-se para<br />
<strong>outra</strong>s áreas, nem ven<strong>de</strong>ndo. E os capitalis-<br />
tas, que moram confortavelmente no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, querem botar os companheiros para<br />
fora <strong>de</strong> qualquer jeito.<br />
O documento do V. Encontro do Vale do<br />
São Francisco diz: Consi<strong>de</strong>ramos justa a <strong>de</strong>ci-<br />
são dos posseiros tanto por terem um direito li-<br />
quido às terras, quanto pelo fato <strong>de</strong> não acei-<br />
tarmos o PROÁLCOOL na sua política <strong>de</strong><br />
promover grupos econômicos sem a mínima<br />
preocupação social. Não consi<strong>de</strong>ramos pro-<br />
gresso a produção <strong>de</strong> álcool para alimentar os<br />
motores dos automóveis em prejuízo da produ-<br />
ção <strong>de</strong> alimentos para o povo' .<br />
O documento <strong>de</strong>nuncia ainda que em<br />
todo o Vale do São Francisco, especialmen-<br />
te em Minas, imensas áreas foram entregues<br />
pelo Governo a gran<strong>de</strong>s empresas refloresta-<br />
doras, a custa <strong>de</strong> gordos incentivos fiscais,<br />
que implantaram os chamados "<strong>de</strong>sertos<br />
ver<strong>de</strong>s", expulsando os trabalhadores rurais<br />
<strong>de</strong> lá.<br />
A POLÍCIA TRANCOU A PORTA DO<br />
SINDICATO!<br />
O pessoal da "Agroindústria! Camaragibe<br />
S/A" <strong>está</strong> com tudo, até com a polícia <strong>de</strong><br />
Casa Nova (BA) nas mãos. Tanto que no dia<br />
5 <strong>de</strong> julho os trabalhadores rurais iriam reu-<br />
nir-se às 10 horas na se<strong>de</strong> do Sindicato, com<br />
a presença <strong>de</strong> dirigentes das Fe<strong>de</strong>rações <strong>de</strong><br />
Pernambuco e Bania, mais os Sindicatos <strong>de</strong><br />
Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Belém<br />
do São Francisco, Floresta, Itacuruba e<br />
Petrolândia (<strong>de</strong> Pernambuco) e Paulo Afon-<br />
so, Glória, Ro<strong>de</strong>las, Juazeiro, Remanso e<br />
Pilão Arcado (da Bahia).<br />
Mas qual a surpresa dos companheiros!<br />
Por volta das nove horas da manhã a porta<br />
do Sindicato passou para o controle da Polí-<br />
cia Militar do Estado, sob coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />
políticos locais, especialmente <strong>de</strong> um tal<br />
Amando Ferna<strong>de</strong>s Braga - conhecido falsifi-<br />
cador <strong>de</strong> assinaturas!<br />
Não se satisfazendo, o falsificador man-<br />
dou para a frente do Sindicato também uma<br />
quadrilha <strong>de</strong> pistoleiros e jagunços,além<br />
<strong>de</strong> um outro tanto <strong>de</strong> agitadores que provo-<br />
cavam os sindicalistas com palavrões e insul-<br />
tos, tentando atingi-los moralmente!<br />
Aon<strong>de</strong> é que estamos, para a autorida<strong>de</strong><br />
cair tanto assim?<br />
Venenos agrícolas: FETAESP<br />
quer Receítuário Agronômico.<br />
O Presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhado-<br />
res na Agricultura do Estado <strong>de</strong> São Paulo (FE-<br />
TAESP), Roberto Toshio Horiguti, enviou à<br />
Comissão <strong>de</strong> Agricultura, da Câmara Fe<strong>de</strong>ral,<br />
telegrama, em que expressa aos <strong>de</strong>putados nossa<br />
posição favorável à adoção do Receituário Agro-<br />
nômico.<br />
Mexer com veneno é risco <strong>de</strong> vida. E o traba-<br />
lhador rural precisa saber com que tipo <strong>de</strong> vene-<br />
no ele <strong>está</strong> lidando, para po<strong>de</strong>r prevenir-se.<br />
É o seguinte, o texto do telegrama: "Respei-<br />
tosamente, encarecemos aos excelentíssimos<br />
membros da Comissão sobre a urgência da ado-<br />
ção obrigatória do Receituário Agronômico<br />
para a saú<strong>de</strong> do trabalhador, para a <strong>de</strong>fesa da<br />
ecologia e da terra, e <strong>de</strong>fesa do consumidor.<br />
Nossa campanha salarial inclui a exigência da<br />
adoção do Receituário. Favor cientificar <strong>de</strong>mais<br />
membros".<br />
CONTAG CONTRA MERCURIAIS<br />
Há pouco tempo, o próprio Conselho <strong>de</strong><br />
Representantes da nossa CONTAG havia dirigi-<br />
do oficio ao Presi<strong>de</strong>nte Figueiredo, adotando<br />
posição contrária à fabricação, venda, importa-<br />
ção e uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos agrícolas à base <strong>de</strong> mer-<br />
cúrio; uso, aliás, proibido em outros países,<br />
menos aqui, que por não haver proibição, segun-<br />
do a CONTAG, propicia às multinacionais do<br />
ramo farmacêutico a que encontrem no Brasil<br />
"o mercado i<strong>de</strong>al para seu lucro fácil às custas<br />
da saú<strong>de</strong> e da vida do trabalhador rural".<br />
Segundo o oficio do Conselho <strong>de</strong> Representan-<br />
tes da CONTAG, os fungicidas mercuríais<br />
orgânicos, por exemplo, são empregados na<br />
lavoura <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, soja, trigo, batata,<br />
sorgo, etc. E a ação no mercúrio no organismo<br />
humano po<strong>de</strong> causar leões no feto, acarretando o<br />
nascimento <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong>feituosas. Ele po<strong>de</strong><br />
entrar no corpo através da pele, da respiração ou<br />
pela ingestão, circulando no sangue por três<br />
meses, sendo a maior parte absorvido pelo siste-<br />
ma nervoso, rins e fígado.<br />
Segundo a CONTAG, as principais manifes-<br />
tações <strong>de</strong> lesões são: tremores nas mãos, lábios e<br />
face; alteração na escrita, dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> falar,<br />
atrofia muscular, fibrilação, irritabilida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>pressão, ansieda<strong>de</strong>, neurite, salivação excessi-<br />
va, mau hálito, queda <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, enfraquecimen-<br />
to das gengivas, dor <strong>de</strong> cabeça, vômitos, diar-<br />
réia, constipação intestinal, oligúria, uremia,<br />
diminuição da visão, pneumonites, eezemas, etc.<br />
A posição da CONTAG foi tomada com base<br />
em estudo feito em Campos (RJ).
O <strong>de</strong>putado (l f à esquerda,<br />
<strong>de</strong> costas) ouviu que o principal^<br />
anseio dos trabalhadores é<br />
TERRA, que <strong>está</strong> cada dia<br />
mais difícil <strong>de</strong> conseguir.<br />
Ouviu também que os traba-<br />
lhadores não querem morar<br />
em casas populares nas vilas,<br />
mas sim na TERRA.<br />
General Salgado leva <strong>de</strong>putado<br />
para explicar atuação a sócios<br />
Há pouco tempo ocorreu<br />
um interessantíssimo encon-<br />
tro, na se<strong>de</strong> do Sindicato dos<br />
Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />
General Salgado. A diretoria<br />
do Sindicato resolveu dar<br />
uma oportunida<strong>de</strong> aos seus<br />
associados para trocarem<br />
idéias com os chamados "re-<br />
presentantes do povo",<br />
cobrando explicações sobre<br />
o que estão eles fazendo em<br />
favor do trabalhador rural.<br />
O escolhido foi o <strong>de</strong>putado<br />
estadual mais votado da<br />
região (Val<strong>de</strong>mar Chubaci,<br />
do Partido Popular). O<br />
encontro foi embaixo <strong>de</strong><br />
duas seringueiras, ao ar livre,<br />
ao qual compareceu o presi-<br />
<strong>de</strong>nte da Fetaesp, Roberto<br />
Toshio Horiguti, além do<br />
prefeito da cida<strong>de</strong>, o Presi-<br />
<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal<br />
Alegria. A Primavera<br />
foi <strong>de</strong>sapropriada.<br />
Mas a luta<br />
não acabou!<br />
A boa noticia chegou ainda no dia 7 <strong>de</strong><br />
julho: o próprio presi<strong>de</strong>nte do INCRA, Paulo<br />
Yokota, telefonava para a Fetaesp, no inicio<br />
da noite, informando pessoalmente; logo<br />
<strong>de</strong>pois, a "Voz do Brasil se encarregava <strong>de</strong><br />
levar a mesma notícia às 300 famílias <strong>de</strong> pos-<br />
seiros da Fazenda Primavera, <strong>de</strong> Andradina e,<br />
particularmente, ao padre René Parren, da<br />
Comissão Justiçai e Paz <strong>de</strong> Andradina, que<br />
acompanha os posseiros (da mesma forma que<br />
o nosso Sindicato na cida<strong>de</strong>) e que casualmen-<br />
te ouvia a "Voz do Brasil".<br />
A boa notícia, há tanto tempo aguardada,<br />
era a <strong>de</strong> que o Presi<strong>de</strong>nte Figueiredo havia<br />
assinado dois <strong>de</strong>cretos, um <strong>de</strong>clarando a área<br />
da Fazenda Primavera toda, como "área prio-<br />
ritária <strong>de</strong> Reforma Agrária" e o outro <strong>de</strong>creto<br />
<strong>de</strong>clarando essa mesma área "<strong>de</strong> interesse<br />
social, para fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação".<br />
O primeiro <strong>de</strong>creto (n» 84.876) dizia que a<br />
área é <strong>de</strong> 9.595,30 hectares, atingindo áreas<br />
dos municípios <strong>de</strong> Andradina, Castilho e<br />
Nova In<strong>de</strong>pendência; dizia que a área ficará 5<br />
anos sob controle governamental, através do<br />
INCRA prazo em que serão criadas, preferen-<br />
cialmente, 300 unida<strong>de</strong>s familiares (módulos)<br />
para as famílias lá resi<strong>de</strong>ntes hoje (posseiros),<br />
reformulando a estrutura fundiária na região.<br />
O segundo <strong>de</strong>creto (tí> 84.877) dizia que a<br />
proprieda<strong>de</strong> da área da Fazenda "é atribuí-<br />
da às indústrias José João Abdalla S.A." e <strong>de</strong>i-<br />
xava bem claro que o Governo ("União") se<br />
reserva o direito <strong>de</strong> "questionar o domínio das<br />
terras tituladas irregularmente". Ou seja, os<br />
her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> J. J. Abdalla (ele morreu) terão<br />
<strong>de</strong> provar que são mesmo dono das terras, o<br />
que parece tarefa bem mais difícil do que sol-<br />
tar gado nas terras dos posseiros...<br />
FESTA NA RUA, FAIXAS, E UM<br />
COMPROMISSO DOS POSSEIROS.<br />
No dia 8, quando os jornais e emissoras <strong>de</strong><br />
Os bois <strong>de</strong> Abdalla ainda<br />
inva<strong>de</strong>m roças, intocáveis!<br />
O nosso advogado, Herber Reis, esteve com<br />
os posseiros, após a notícia da <strong>de</strong>sapropriação.<br />
E conta o que viu.<br />
Primavera. A Fazenda pri-<br />
mavera, da qual se diz proprie-<br />
tário J.J. Abdalla, Já conheci-<br />
do <strong>de</strong> todos, foi <strong>de</strong>sapropriada,<br />
para fins <strong>de</strong> Reforma Agrária<br />
através <strong>de</strong> <strong>de</strong>creto presi<strong>de</strong>n-<br />
cial. E dai?<br />
Fruto <strong>de</strong> uma luta sustenta-<br />
da pela união dos trabalhado-<br />
res posseiros, a <strong>de</strong>sapropriação<br />
da Fazenda Primavera leva-<br />
nos a reações diferentes. Num<br />
primeiro momento, a chegada<br />
da noticia. Choros, passeata,<br />
abraços, cartas e telefonemas<br />
<strong>de</strong> congratulações. Era uma<br />
etapa conquistada na luta<br />
peta posse da terra na qual<br />
encontram, hoje, envolvidos<br />
diretamente milhares <strong>de</strong> com-<br />
panheiros nossos. De um lado,<br />
o latifúndio, <strong>de</strong>sumano, violen-<br />
to, atrabiliário, safado, e,<br />
sobretudo, injusto e ,opressor.<br />
Do outro, centenas <strong>de</strong> famílias,<br />
quase quatrocentas, lutando<br />
para não serem pisadas pelo<br />
boi e cercadas pelo "colo-<br />
nhão", lutando pelo sustento<br />
<strong>de</strong> seus humil<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Cheios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>samparo, mas muito cheios<br />
<strong>de</strong> esperança e <strong>de</strong> fé na força<br />
da união.<br />
Venceram. Mas tudo se<br />
encerra com a <strong>de</strong>sapropriação?<br />
Agora, ainda hoje, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
mais um mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropria-<br />
ção, os bois <strong>de</strong> Abdalla conti-<br />
nuam comendo a lavoura dos<br />
posseiros que lá se encontram.<br />
Comem roças inteiras <strong>de</strong> feijão<br />
no ponto <strong>de</strong> ser colhido:' Em<br />
alguns casos o gado faminto e<br />
solto chegou a invadir os ran-<br />
chos e comer o milho já seco,<br />
colhido na hora <strong>de</strong> ser vendido.<br />
E o povo? Tange boi daqui,<br />
tange boi dacola. Cerca daqui,<br />
cerca dacolá. Vai ao <strong>de</strong>legado,<br />
se queixam, como sempre fize-<br />
ram. O <strong>de</strong>legado, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>outra</strong>s coisas, recomenda que<br />
"ninguém espanque e nem<br />
maltrate os bois..."<br />
E os homens, e os posseiros<br />
da "Primavera"??? Enquanto<br />
os bois do latifundiário se kan-<br />
queteiam nas roças <strong>de</strong> milho,<br />
feijão e. nas hortas, muitas<br />
bocas têm que comer. São as<br />
filhos daquela gente sofrida,<br />
amargurada, espezinhada. O<br />
INCRA não chega. Isso impa-<br />
Pág. 8 REALIDADE RURAL - AGOSTO DE .1980<br />
rádio e TV divulgaram com <strong>de</strong>staque a <strong>de</strong>ci-<br />
são do Governo, os trabalhadores rurais<br />
foram à cida<strong>de</strong>, para comemorar. E comemo-<br />
raram com uma passeata nas ruas, como<br />
foguetes, faixas, etc.<br />
E no dia 19 <strong>de</strong> julho, em reunião à qual<br />
compareceram o Presi<strong>de</strong>nte da Fetaesp,<br />
Roberto Toshio Horiguti, o Presi<strong>de</strong>nte do Sin-<br />
dicato dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Andradi-<br />
na, João Alves dos Santos Sobrinho e o com-<br />
panheiro Herber Reis, do Depto. Jurídico da<br />
Fetaesp, os posseiros da Fazenda Primavera<br />
davam um testemunho <strong>de</strong> sua formação cris-<br />
tã: "Nós queremos que essa Reforma Agrária<br />
seja feita para os outros também" - disseram<br />
seus lí<strong>de</strong>res. E eles mesmo reconheceram que<br />
têm uma gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />
aquilo seja <strong>de</strong> fato uma Reforma Agrária.<br />
Ou seja, uma Reforma Agrária que não<br />
fique apenas na redistribuição das terras, mas<br />
que seja acompanhada <strong>de</strong> assistência técnica<br />
séria, preço justo, comercialização tranqüila<br />
para seus produtos, crédito sem burocracia.<br />
Os trabalhadores têm duas posições claras:<br />
1) querem terras para suas famílias, mas<br />
querem que outros companheiros, trabalha-<br />
aores rurais, também tenham condições <strong>de</strong><br />
possuir terra para plantar e viver dignamente<br />
do trabalho; 2) não abrem mão do direito <strong>de</strong><br />
participar <strong>de</strong> forma ativa e efetiva na monta-<br />
gem do projeto <strong>de</strong> Reforma Agrária da Fazen-<br />
da Primavera.<br />
O Presi<strong>de</strong>nte da "Fetaesp, Roberto Toshio<br />
Horiguti, que diversas vezes esteve em Brasí-<br />
lia, no Incra, para tratar do caso Primavera,<br />
esteve na Coor<strong>de</strong>nadoria do Incra em São<br />
Paulo e <strong>de</strong>pois em Brasília reivindicando<br />
urgência por parte do Incra para se imitir na<br />
posse das terras e coibir a invasão <strong>de</strong> terceiros<br />
fmra não agravar ainda mais a tensão que <strong>está</strong><br />
á, porque o <strong>de</strong>creto beneficia preferencial-<br />
mente as 300 famílias.<br />
cienta o povo, <strong>de</strong>silu<strong>de</strong>, infun<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scrença... O que vamos<br />
fazer? perguntam uns. Isso é<br />
<strong>de</strong>mais, reclamam outros. -<br />
Nós já não tem crédito, finan-<br />
ciamento, já sofremos tanto e<br />
agora, que a gente pensava que<br />
tudo ia ficar mais calmo, vem<br />
os bois e come tudo que agen-<br />
te implantou com tanto sacrifí-<br />
cio.... Assim se exprimiu um<br />
posseiro que teve a sua roça<br />
<strong>de</strong>struida pelos bois.<br />
- A justiça, o <strong>de</strong>legado, tudo<br />
é tão <strong>de</strong>morado... O senhor<br />
arrepare bem\ quando os bois<br />
<strong>de</strong> J.J. Abdalla comeu a roça<br />
<strong>de</strong> Joaquim e <strong>de</strong> outros compa-<br />
nheiros nossos, nósfoiprá Jus-<br />
tiça e até hoje, nada. Como é<br />
que o pobre po<strong>de</strong> viver assim<br />
tão judiado, sem ninguém pres-<br />
tar atenção nele? Seu Sebas-<br />
tião <strong>de</strong>saba, inconformado.<br />
"Os "jagunços" que perse-<br />
guia nós, <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>sapro-<br />
priação tão entrando lá <strong>de</strong>ntro,<br />
tomando áreas, fazendo xacota<br />
dagente, rindo <strong>de</strong> nossa cara.<br />
'V 1<br />
Festa da vitória dos posseiros nas ruas <strong>de</strong> Andradina. Além do sindicalismo na cida<strong>de</strong> e no Esta-<br />
do, também a Associação Brasileira <strong>de</strong> Reforma Agrária (ABRA) e a Comissão <strong>de</strong> Pastoral da<br />
Terra (CPT) enviaram documentos, participando da festa e da alegria.<br />
Outra boa: Juiz <strong>de</strong>clara Faz.<br />
Sta. Rita "área <strong>de</strong>voluta"!<br />
No dia 28 <strong>de</strong> julho, as 100 famílias <strong>de</strong><br />
poesseiros, da Fazenda Santa Rita do Pon-<br />
tal, em Teodoro Sampaio pareciam ter<br />
entrado no paraíso, tal o alívio e a tremen-<br />
da satisfação que lhes causou uma informa-<br />
ção: sentença do juiz <strong>de</strong> Mirante do Para-<br />
napanema <strong>de</strong>clarava "área <strong>de</strong>voluta" todo<br />
o 149 perímetro, que compreen<strong>de</strong> toda a<br />
Fazenda Santa Rita do Pontal, <strong>de</strong> alegada<br />
proprieda<strong>de</strong> até então do latifundiário Jus-<br />
tino <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />
Isso não quer dizer que o sufoco das<br />
famílias já tenha acabado totalmente, por-<br />
que, provavelmente, o latifundiário vai<br />
recorrer da sentença. Mas seus direitos,<br />
praticamente, já estão garantidos. A sen-<br />
tença do juiz reconhece que a terra que Jus-<br />
tino alega ser dono é, na verda<strong>de</strong>, do<br />
Governo.<br />
MESMO SEM CRÉDITO, O FEIJÃO<br />
ESTÁ UMA BELEZA...<br />
A <strong>de</strong>sapropriação da Fazenda Primave-<br />
ra, <strong>de</strong> Andradina, <strong>de</strong>s<strong>pert</strong>ou um verda<strong>de</strong>iro<br />
clima <strong>de</strong> alegria e entusiasmo entre os pos-<br />
seiros da Fazenda Santa Rita do Pontal,<br />
segundo nos contou o Presi<strong>de</strong>nte do Sindi-<br />
Eles diz prá nós que a terra<br />
nunca vai ser nossa, que essa<br />
história <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação é<br />
conversa fiada. Não é <strong>de</strong>mais?<br />
O senhor hão acha? Pergunta<br />
outro.<br />
Assim é a Fazenda Primave-<br />
ra. Desapropriada, pronta<br />
para ser implantada a "Refor-<br />
ma Agrária". Os posseiros<br />
continuam organizados, discu-<br />
tindo como <strong>de</strong>verão fazer para<br />
implantar uma Reforma Agrá-<br />
ria justa, humana, na qual se<br />
respeite todos os direitos do<br />
lavrador. De quem quer a<br />
terra para produzir, para plan-<br />
tar e não para ven<strong>de</strong>r, para<br />
fazer negócio.<br />
Há <strong>de</strong> prevalecer a vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> quem nasceu e se criou e<br />
auer fazer da terra um meio <strong>de</strong><br />
liberação do homem. Por cer-<br />
to, unidos como continuam,<br />
conscientes do papel que eles<br />
mesmo já souberam muito bem<br />
até agora <strong>de</strong>sempanhar, a Pri-<br />
mavera será, <strong>de</strong>ntro em pouco,<br />
a expressão mais clara daquilo<br />
que os trabalhadores precisam<br />
conquistar urgentemente:<br />
REFORMA AGRÁRIA..<br />
AMPLA, MASSIVA e IME-<br />
DIATA.<br />
cato com Trabalhadores Rurais <strong>de</strong> Teodoro<br />
Sampaio, José Ferreira Cruz. Ele esteve<br />
em São Paulo, no fim do mês, antes da sen-<br />
tença do juiz <strong>de</strong> Mirante do Paranapane-<br />
ma, acompanhado do Tesoureiro, Pedro<br />
Campos Biranha, tratanto <strong>de</strong> obter um<br />
ambulatório para o Sindicato (a exemplo<br />
<strong>de</strong> outros dirigentes no Estado).<br />
De acordo com José Ferreira Cruz, a<br />
expectativa entre os trabalhadores era mui-<br />
to gran<strong>de</strong>, e a esperança era enorme. Mes-<br />
mo sem contar com crédito e assistência<br />
técnica, eles plantaram bastante feijão este<br />
ano e a lavoura agora <strong>está</strong> uma beleza.<br />
O gran<strong>de</strong> sonho dos posseiros é contar<br />
com uma cooperativa, e esse sonho <strong>de</strong>verá<br />
se tornar realida<strong>de</strong> em breve, com a regula-<br />
rização <strong>de</strong> suas terras. As suas casas tam-<br />
bém estão muito fracas e precisam ser reno-<br />
vadas, melhoradas. Ate agora o IBDF<br />
bronqueava se eles tiravam ma<strong>de</strong>ira do<br />
mato para isso.<br />
Está programada uma reunião, no próxi-<br />
mo dia 9 <strong>de</strong> agosto, entre os trabalhadores,<br />
o Sindicato, com a presença do Presi<strong>de</strong>nte<br />
da Fetaesp, Roberto Toshio Horiguti.<br />
E em Turmalina já<br />
há clima <strong>de</strong> acordo<br />
Os 19 pequenos proprietários <strong>de</strong> Turmalina<br />
estão esperando que suas preocupações acabem<br />
logo. Eles compraram as terras on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m, já<br />
pagaram, mas havia um litígio entre dois cunhados<br />
(Manoel Bezerra da Silva e Arlindo Marques<br />
Ferreira). Os companheiros compraram as terras<br />
<strong>de</strong> Manoel, que acaba <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r, no Supremo Tri-<br />
bunal Fe<strong>de</strong>ral, a <strong>de</strong>manda e o controle das terras.<br />
Os advogados do Incra têm viajado à cida<strong>de</strong>,<br />
para estudar o caso, segundo conta o advogado<br />
dos companheiro, Laurindo Novaes Neto, em<br />
entrevista que conce<strong>de</strong>u ao jornal "FOLHA DO<br />
OESTE", <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prestígio na região. (Cópia da<br />
entrevista nos foi fornecida pelo STR <strong>de</strong> Santa Fé<br />
do Sul, ao qual agra<strong>de</strong>cemos).<br />
Ao que parece, todas as partes estão interessa-<br />
das numa rápida solução.