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Herança siciliana Penny Jordan - Publidisa

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<strong>Herança</strong> <strong>siciliana</strong><br />

<strong>Penny</strong> <strong>Jordan</strong>


<strong>Herança</strong> <strong>siciliana</strong><br />

<strong>Penny</strong> <strong>Jordan</strong>


Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.<br />

© 2009 <strong>Penny</strong> <strong>Jordan</strong>. Todos os direitos reservados.<br />

HERANÇA SICILIANA, N.º 1 - Janeiro 2012<br />

Título original: Captive at the Sicilian Billionaire’s Command<br />

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.<br />

Publicado em portugués em 2010<br />

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são<br />

reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de<br />

Harlequin Enterprises II BV.<br />

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança<br />

com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.<br />

®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas<br />

registadas por Harlequin Books S.A.<br />

® e São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e<br />

suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão<br />

registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros<br />

países.<br />

I.S.B.N.: 978-84-9010-653-2<br />

Editor responsável: Luis Pugni


PRÓLOGO<br />

Rocco tirou o chapéu que pusera, enquanto mostrava<br />

o complexo de luxo na Sicília aos potenciais investidores.<br />

Depois, passou a mão pelo cabelo escuro e<br />

grosso com impaciência, pondo o telefone na orelha.<br />

– Queria falar comigo, Dom Falcon? – perguntou,<br />

laconicamente.<br />

Se o seu irmão mais velho se sentiu irritado por<br />

Rocco usar o seu título num tom de brincadeira, não<br />

disse nada.<br />

– Encontrámo-la – limitou-se a dizer. – Esta é a sua<br />

morada de Londres. Sabes o que tens de fazer.<br />

Falcon desligou antes de Rocco conseguir dizer<br />

mais alguma coisa. Então, pegou no seu chapéu e dirigiu-se<br />

para o módulo portátil que servia de escritório.


CAPÍTULO 1<br />

O barulho de um tubo de escape fez com que Julie<br />

olhasse para trás e, depois, verificasse automaticamente<br />

se tinha a mala bem presa no ombro. Era uma<br />

vizinhança perigosa. No outro dia, a supervisora da<br />

creche avisara-a de que não devia deixar nenhum documento<br />

pessoal no seu apartamento porque havia<br />

uma onda de roubos, sobretudo de passaportes. Portanto,<br />

ela tinha sempre tudo na mala.<br />

– Menina Simmonds?<br />

Julie susteve a respiração. Estava tão ocupada a<br />

olhar para trás que não vira o homem que estava à sua<br />

frente, a bloquear-lhe a entrada no edifício remodelado<br />

em que ela arrendara um apartamento pequeno.<br />

Mas só de olhar para ele soube que não se tratava<br />

de nenhum ladrão. Não podia sê-lo com aquele carro<br />

tão caro estacionado ao seu lado, que tinha todo o ar de<br />

ser dele. Julie assentiu com cautela.<br />

– Este é o seu filho?<br />

Julie sentiu uma onda de apreensão enquanto agarrava<br />

com força no seu sobrinho órfão. Afinal de contas,<br />

Josh era seu filho... naquele momento.<br />

A chuva gélida de Março que começara a cair quando<br />

ela saíra da loja onde trabalhava a tempo parcial para<br />

poder ir à creche buscar Josh tinha-lhe ensopado o casaco<br />

e o seu cabelo suave e loiro estava muito molhado.<br />

Para cúmulo, estava presa na rua com um homem que<br />

estava a fazer-lhe perguntas a que não queria responder.<br />

Doíam-lhe os braços por causa do peso de Josh,<br />

em conjunto com o peso da mala e do saco de fraldas.


– Se é um cobrador de dívidas... – começou a dizer.<br />

Julie sentia o coração cheio de pena. Josh era dela. Não<br />

havia razão para pensar que aquele desconhecido podia<br />

ameaçar o seu direito de dizer que Josh era filho dela,<br />

mesmo que não fosse a sua mãe biológica. Isso era o que<br />

conseguia por viver com medo da chegada de mais exigências<br />

de dinheiro. Sentia-se culpada e com os nervos<br />

em franja, mesmo que não houvesse razões para isso.<br />

Se o que aquele homem procurava era dinheiro, então<br />

estava a perder tempo. Já não havia nada para levar.<br />

Julie ergueu o queixo num gesto de orgulho inconsciente.<br />

Até tinham levado o carrinho de Josh para<br />

pagar as dívidas que a sua irmã deixara ao falecer. Não<br />

fazia sentido compadecer-se nem lamentar que os seus<br />

pais não tivessem pensado em deixar um testamento<br />

em condições. A longo prazo, como era a sua única filha<br />

viva, ela herdaria alguma coisa. Esperava que fosse<br />

suficiente para saldar as dívidas de Judy e para comprar<br />

uma casinha para Josh e para ela. Mas, segundo o<br />

seu advogado, o processo poderia demorar bastante<br />

tempo, dado que a situação era complicada.<br />

O facto era que os seus pais, a sua irmã, James, o namorado<br />

da sua irmã, e os pais dele tinham morrido juntamente<br />

com outras vinte pessoas no mesmo acidente de<br />

comboio. Fora um golpe terrível e Julie vira-se obrigada<br />

a ter de cuidar de si própria e do filho da sua falecida<br />

irmã, enquanto recaía sobre ela o pagamento das dívidas<br />

de Judy.<br />

E, claro, tivera de lidar com a morte de James.<br />

Os funerais tinham sido ainda piores do que a notícia<br />

das mortes. Obviamente, Julie, como única sobrevivente<br />

adulta da família, tivera de resolver tudo para<br />

enterrar os seus pais e a sua irmã. Pensara que talvez<br />

Judy devesse ser enterrada com James, mas Annette, a<br />

irmã mais velha de James e sua única familiar, recusara-se<br />

a pensar sequer na ideia e insistira que James<br />

fosse enterrado com os seus pais.<br />

5


6<br />

Como o funeral se celebrara dois dias depois do da<br />

sua família, Julie pudera assistir e descobrir que Annette<br />

era exactamente como James a descrevera: rígida,<br />

vestida com roupa cara, pois o seu marido era<br />

banqueiro, e muito fria.<br />

– Mantém esse menino afastado de mim – dissera-lhe<br />

com secura, afastando-se de Julie. – Este casaco custou-me<br />

uma fortuna.<br />

James contara a Julie que Roger, o marido de Annette,<br />

desejava desesperadamente constituir uma família,<br />

mas que a sua irmã se recusava sequer considerar a<br />

ideia.<br />

James. Os olhos de Julie encheram-se de lágrimas.<br />

O seu único amor. O seu único amante. Se as coisas tivessem<br />

sido diferentes... se tivesse sido ela a conceber<br />

o seu filho... Se pelo menos...<br />

O facto de o ter perdido ainda continuava a doer-lhe.<br />

Quando morreu, ela admitiu que, no mais profundo da<br />

sua alma, estivera a alimentar a esperança de que um dia<br />

voltasse para ela.<br />

Rocco observou como as sombras passavam pelos<br />

olhos cinzentos profundamente expressivos daquela<br />

mulher. Era a única parte dela que parecia estar viva.<br />

Nunca vira uma mulher com um aspecto tão derrotado.<br />

– Um cobrador de dívidas? – Rocco olhou para ela<br />

com arrogância antes de responder. – Pode dizer-se<br />

que sim. Embora eu ache que se trata mais de um embargo.<br />

Embargo? Não havia nada no apartamento que pudesse<br />

embargar. Os funcionários judiciais tinham levado<br />

tudo. Julie tentou parecer mais valente do que se<br />

sentia quando olhou para o homem.<br />

A luz dura da rua outorgava às suas feições um aspecto<br />

de arrogância fria em conjunto com a crueldade.


Era o rosto de um homem sem compaixão, o rosto de<br />

um homem cuja linhagem estava enraizada no perigo,<br />

reconheceu Julie.<br />

Para Rocco, era difícil entender o que o seu jovem<br />

meio-irmão podia ter visto naquela rapariga inglesa pálida<br />

e vulgar. Estava magra até ao extremo da malnutrição<br />

e parecia carecer de encanto ou personalidade. Mas<br />

talvez estivesse a ser injusto. Com champanhe suficiente<br />

e com as drogas ilegais que o seu meio-irmão irmão consumia,<br />

talvez tivesse brilhado da maneira doentia de que<br />

Antonio gostava.<br />

Rocco sentiu-se enojado, tanto devido ao modo de<br />

vida do seu meio-irmão como devido à moral da mulher<br />

que tinha à sua frente, mas sobretudo devido à tarefa<br />

que lhe tinham pedido.<br />

Ele opusera-se desde o começo. As crianças tinham<br />

de estar com a sua mãe. Mas Alessandro tinha assinalado<br />

que o menino continuaria a estar com a sua mãe<br />

em todo momento, porque o encargo de Rocco era trazer<br />

ambos para a Sicília com ele. Na verdade, depois<br />

de ter visto as circunstâncias em que ambos pareciam<br />

estar a viver, Rocco pensava que a sua intervenção<br />

nas suas vidas só poderia trazer benefícios para ambos.<br />

Julie tinha frio e devia resguardar Josh, mas aquele<br />

homem continuava à sua frente. Josh ainda não recuperara<br />

da forte constipação que tinha apanhado no<br />

princípio do Inverno.<br />

Pobre menino, tinha tido tantos problemas desde<br />

que a sua irmã o trouxera ao mundo com três semanas<br />

de antecedência, em Janeiro. Primeiro, fora o facto de<br />

Judy não desejar tê-lo. Depois, fora a sua incapacidade<br />

de se alimentar correctamente, seguida pela descoberta<br />

de que tinha dificuldades para falar o que o levara a<br />

uma pequena operação médica depois da qual tinha<br />

contraído uma infecção. E, então, o destino deixara-o<br />

sem pais e sem avós.<br />

7


8<br />

Mas Julie compensá-lo-ia. Amá-lo-ia e cuidaria<br />

dele. Afinal de contas, era a única coisa que restava de<br />

James e da sua família.<br />

Quando lhe chegara a notícia do acidente de comboio<br />

que tinha matado tanta gente, incluindo a sua família<br />

e a de James, Julie prometera em silêncio ao homem<br />

que tanto tinha amado que amaria e protegeria<br />

aquele bebé, um bebé que ele acreditava ser seu filho.<br />

James tinha-se mostrado orgulhoso e feliz quando<br />

descobrira que Judy estava grávida.<br />

Rocco estava a ficar impaciente. Afinal de contas,<br />

era um Leopardi. E os Leopardi tinham governado as<br />

suas terras e imposto a sua própria lei na Sicília desde<br />

os tempos das Cruzadas. Rocco crescera num ambiente<br />

em que ser um Leopardi significava que a sua<br />

palavra era lei.<br />

– Não sei o que quer embargar – começou Julie a<br />

dizer, com cansaço, – mas o meu... o meu bebé tem<br />

frio e tenho de entrar com ele.<br />

Não lhe apetecia abrir a mala à frente daquele desconhecido,<br />

porém precisava de tirar as chaves para entrar<br />

no apartamento. Era difícil fazê-lo enquanto segurava<br />

em Josh e, quando percebeu como aquele homem<br />

olhava para ela, com uma mistura de irritação masculina<br />

e de impaciência, soube que a sua tentativa de discrição<br />

fora uma perda de tempo.<br />

– Deixe-me segurar no bebé – aquela sugestão inesperada<br />

fez com que Julie esbugalhasse os olhos de espanto.<br />

Parecia que estava habituado a tomar conta de<br />

bebés.<br />

– Tem filhos? – Julie corou ao perceber que aquela<br />

pergunta era pessoal e inapropriada.<br />

– Não – respondeu ele, com secura.<br />

Julie, que continuava a rebuscar na mala com uma<br />

mão, acabou por a deixar cair e várias coisas ficaram<br />

no chão molhado, incluído o porta-moedas, algumas<br />

contas que pertenciam a Judy, as chaves e os seus pas-


saportes. O de Josh era uma lembrança triste da<br />

lua-de-mel que tanto tinha entusiasmado a sua irmã, as<br />

suas primeiras férias em família. Rocco franziu o sobrolho<br />

ao olhar para a calçada molhada e ao ver os<br />

passaportes que, entre outras coisas, tinham caído da<br />

mala da mulher.<br />

Ignorando os protestos de Julie, Rocco baixou-se<br />

para apanhar as contas e os dois passaportes. Tinha-os<br />

na mão. Seria a intervenção da Divina Providência ou<br />

um sinal de que aquela tarefa seria mais simples do<br />

que pensava? Que tipo de mulher tinha os passaportes<br />

na mala?, perguntou-se e respondeu-se imediatamente.<br />

Obviamente, a que esperava a oportunidade de viajar<br />

para o estrangeiro e queria estar preparada. Supunha<br />

que isso seria normal nas caçadoras de fortunas de<br />

classe alta. No entanto aquela mulher patética e pouco<br />

atraente não podia esperar algo assim. Rocco apanhou<br />

também a carteira, que parecia vazia, e as chaves.<br />

Devolveu-lhe tudo, incluindo as chaves. Julie suspirou,<br />

aliviada.<br />

– Terá de resguardar o bebé da chuva e do vento –<br />

Rocco pôs-lhe a mão no braço, apontando em direcção<br />

ao seu carro. – Tenho o carro aqui.<br />

Mexera-se por sua própria vontade ou fora uma<br />

combinação do vento e da mão dele no braço o que a<br />

levara até ao veículo? Julie tremeu. Quais eram as intenções<br />

daquele homem?<br />

– Deixe-me levá-lo – as mãos do desconhecido dirigiram-se<br />

para Josh.<br />

– O que quer? – inquiriu Julie, ansiosa. – Quem o<br />

enviou?<br />

– Ninguém me enviou a lado nenhum – respondeu<br />

ele com frieza. – E não devia perguntar quem sou, mas<br />

de onde venho.<br />

– Não entendo do que está a falar.<br />

– Não? Vamos ver se assim percebe. Venho do país<br />

e da família a que o menino pertence.<br />

9


10<br />

Julie tinha os olhos tão cinzentos como o céu de Londres<br />

em Março e esbugalhou-os com medo ao compreender<br />

o significado daquelas palavras.<br />

– Vem da Sicília? – perguntou-lhe.<br />

– É verdade – respondeu ele.<br />

De todas as possibilidades que Julie tinha imaginado,<br />

aquela nem sequer fizera parte da equação.<br />

– Quem é? – perguntou, aterrorizada.<br />

Rocco não estava habituado a não ser reconhecido.<br />

Olhou para ela com desprezo e cruzou os braços.<br />

– O meu nome é Leopardi. Rocco Leopardi. E<br />

agora que respondi, talvez esteja disposta a dar-me o<br />

menino, o meu sobrinho, para que possa pô-lo carro.<br />

O seu sobrinho. Portanto, aquele não era Antonio, o<br />

playboy siciliano rico com que a sua irmã tinha tido<br />

uma aventura no sul de França e que podia ou não ser<br />

o responsável pela concepção de Josh. Um facto que a<br />

sua irmã a obrigara a não contar a James.<br />

Rocco aproveitou o facto de ela estar pensativa para<br />

lhe tirar o menino do colo e, depois, abrir a porta de<br />

trás do carro.<br />

– O que está a fazer?<br />

Julie sentiu-se invadida pelo pânico quando viu<br />

como Rocco punha Josh numa cadeirinha na parte traseira.<br />

– Estou simplesmente a pôr o bebé a salvo enquanto<br />

nós falamos.<br />

– Está a tentar tirar-mo, não é? – perguntou Julie. –<br />

Quer levá-lo consigo.<br />

Rocco olhou para ela com dureza. Devia ter previsto<br />

que era das que faziam um drama.<br />

Julie estava aterrorizada. Saberia que ela não era a<br />

verdadeira mãe de Josh? Iria provar que não tinha direito<br />

a ter Josh? Era o tipo de homem pertencente ao<br />

tipo de família que não pararia por nada para conseguir<br />

o que desejava e, se quisessem o seu sobrinho... O coração<br />

de Julie estava acelerado. Viu como um homem


11<br />

e uma mulher se aproximavam deles do outro lado da<br />

rua. Abriu a boca para pedir ajuda aos gritos.<br />

– Bom... – Rocco tinha a intenção de lhe dizer que<br />

estava a exagerar, porém parou ao ver que Julie estava<br />

a olhar para o outro lado da rua, para um casal que se<br />

aproximava deles. Percebendo o que pretendia fazer,<br />

reagiu imediatamente. Ela já estava perto do carro,<br />

portanto foi fácil apertá-la entre os seus braços e silenciar<br />

o grito, que tencionara emitir, com a pressão da<br />

sua boca.<br />

Rocco nunca pensaria em beijar uma mulher como<br />

aquela. Chamava-lhe tão pouco a atenção fisicamente<br />

como o repugnava moralmente. Era magra, loira, pálida<br />

e disposta a ter relações sexuais com qualquer homem,<br />

desde que fosse rico.<br />

Gostava de mulheres atraentes, inteligentes e orgulhosas<br />

de tudo o que faziam e do que eram. O seu pai<br />

era o patriarca de uma das famílias aristocráticas mais<br />

antigas da Sicília, até ele tinha também um título, todavia<br />

era milionário por direito próprio, graças às suas<br />

próprias empresas, e estava muito orgulhoso desse sucesso.<br />

Quando chegasse o momento de assentar, queria<br />

uma mulher que fosse igual a ele para ser sua companheira.<br />

Alguém que compreendesse as exigências<br />

inerentes ao seu berço, mas que, ao mesmo tempo, tivesse<br />

criado o seu próprio caminho no mundo.<br />

Uma coisa que aquela mulher não devia fazer, no<br />

entanto, era apaixonar-se por ele ou esperar que se<br />

apaixonasse por ela. A sua mãe amara o seu pai e esse<br />

amor destruíra-a. Não lhe aconteceria algo do género,<br />

nem queria ser responsável pela dor de outra pessoa.<br />

Não tinha intenção de se transformar na vítima que a<br />

sua mãe fora nem no responsável por essa dor, como o<br />

seu pai.<br />

A mãe do menino estava muito rígida entre os seus<br />

braços e Rocco conseguia sentir o batimento acelerado<br />

do seu coração.


12<br />

Teria medo? De quê? Dele? Rocco sentia-se ultrajado.<br />

O facto de provocar receio em alguém e mais em<br />

alguém mais fraco e vulnerável parecia-lhe horrível.<br />

Como é que uma mulher que se entregara ao depravado<br />

do seu meio-irmão podia ter medo dele? A julgar<br />

pelo que ele sabia de Antonio, uma mulher com medo<br />

do contacto masculino não era precisamente do seu estilo.<br />

E a julgar pelo que as fontes de Falcon tinham<br />

descoberto sobre ela, era das que Antonio gostava...<br />

uma suposta modelo cheia de estilo. Embora não houvesse<br />

nada nem remotamente parecido com estilo nela.<br />

E, no entanto, tinha os lábios doces e carnudos e a<br />

sua magreza atraía-o, fazendo com que sentisse vontade<br />

de a abraçar com mais força, tentando-o a explorar<br />

aquela linha fechada que era a sua boca.<br />

Rocco não estava habituado a ser rejeitado pelas<br />

mulheres.<br />

A razão pela qual Julie acabara nos braços dele tinha<br />

ficado sepultada sob uma onda de outros sentimentos<br />

e um tipo de pânico muito diferente. James<br />

fora o único homem que desejara beijar assim, pensou<br />

com dor. Todavia, de certo modo, talvez se devesse ao<br />

cansaço, ao medo ou a ambas as coisas, Julie sentia<br />

como a sua vontade de resistir se via diminuída pelo<br />

calor que emanava dele.<br />

Era assim que sonhava que James a beijasse e a<br />

abraçasse antes de se tornarem em amantes, antes de o<br />

perder para Judy.<br />

Já fora suficientemente duro ter de ouvir dos lábios<br />

de James que, embora gostasse dela e tivessem passado<br />

bons momentos juntos, se apaixonara por Judy.<br />

Mas fora ainda pior ter de ouvir a confissão de Judy<br />

depois de algumas bebidas, quando lhe dissera que não<br />

sabia quem era o pai do filho não desejado que esperava.<br />

Admitira que podia ser do playboy siciliano rico<br />

com quem tivera uma aventura, mas que depois a evi-


13<br />

tara e se recusara a responder às suas cartas. No entanto<br />

ia dizer a James que era dele, porque, tal como<br />

dissera a Julie sem nenhum reparo, podia sê-lo, já que<br />

fora para a cama com James assim que regressara da<br />

sua viagem.<br />

Ter de ouvir Judy a contar-lhe como tinham feito<br />

amor fora uma verdadeira tortura. Julie agarrou-se<br />

com força a Rocco. Eram os seus beijos que queria que<br />

James desejasse. Perdida nas suas emoções, sentiu que<br />

o homem ao qual estava presa se transformava em James,<br />

portanto, beijou-o com todo o desejo e amor que<br />

sentia por ele.<br />

A súbita paixão de Julie apanhou Rocco de surpresa.<br />

Estava a apertar o corpo contra o seu, a abrir a<br />

boca e tinha a respiração agitada. Sem saber porquê,<br />

ele respondeu instintivamente, recebendo a doçura que<br />

os seus lábios lhe ofereciam e permitindo que o gemido<br />

suave de assentimento de Julie quando lhe introduziu<br />

a língua na boca fosse o sinal para deslizar as<br />

mãos pelo seu corpo.<br />

A sensação de umas coxas masculinas duras encostadas<br />

contra ela devolveu Julie à realidade.<br />

Aquele homem não era James.<br />

Assim que sentiu que resistia, Rocco parou de a<br />

beijar e retirou as mãos do seu corpo. Sentiu-se embargado<br />

por uma sensação de desagrado. Desde quando<br />

desejava as sobras de Antonio?<br />

Por muito que desejasse virar-se e deixá-la ali, sabia<br />

que não podia fazê-lo. Os seus deveres para com a<br />

família impediam-no.<br />

– Temos de falar de alguns assuntos – disse a Julie,<br />

com frieza.<br />

– Não permitirei que leves o meu bebé – avisou ela,<br />

com firmeza, tratando-o por tu.<br />

Rocco olhou para ela, franzindo o sobrolho.<br />

– Não sejas ridícula! Ninguém quer levar o teu filho.<br />

Trata-se simplesmente de ambos me acompanha-

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