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GRUMIN - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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&<br />

<strong>GRUMIN</strong><br />

N9 2-GRUPO MULHER-EDUCAÇAO INDÍGENA — JULHO/1989<br />

ENCX)NTRO POTIGUARA<br />

DE LUTA E RESISTÊNCIA<br />

01 Encontro Potíguara ae<br />

Luta e Resistência, promo-<br />

vido pelo Grumin — Grupo<br />

Mulher— Educação Indíge-<br />

na, que se encerrou no dia 19 <strong>de</strong> ju-<br />

. nho último e que reuniu cerca <strong>de</strong><br />

500 índios, das 16 al<strong>de</strong>ias que for-<br />

mam a nação Potiguara, na Baía da<br />

Traição, no litoral norte da Paraíba,<br />

<strong>de</strong>cidiu continuar a luta em <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong> seu território, e, apoiados na<br />

nova Constituição, exigir a re<strong>de</strong>-<br />

marcação <strong>de</strong> sua área, o que impli-<br />

cará na <strong>de</strong>volução das terras hoje<br />

ocupadas por invasores.<br />

A questão da terra ocupou a maior<br />

parte do tempo do encontro indíge-<br />

na, <strong>de</strong> 16 a 19 <strong>de</strong> junho último, tendo<br />

sido aprovada a resolução no sen-<br />

tido <strong>de</strong> que os arrendamentos <strong>de</strong><br />

terras potiguaras às usinas não te-<br />

rão seus contratos renovados. Isto<br />

porque, enten<strong>de</strong>m os índios que a<br />

monocultura da cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />

ameaça a fertilida<strong>de</strong> do solo, inclu-<br />

sive pela aplicação <strong>de</strong> adubos quí-<br />

micos, empobrece o povo e reduz a<br />

produção <strong>de</strong> outros alimentos in-<br />

dispensáveis à subsistência da co-<br />

munida<strong>de</strong>.<br />

No campo da educação o Grumin<br />

— Grupo Mulher — Educação Indí-<br />

gena promoveu uma assembléia,<br />

reunindo todas as professoras que<br />

trabalham nas diversas al<strong>de</strong>ias do<br />

território Potiguara, as mulheres da<br />

comunida<strong>de</strong> e li<strong>de</strong>ranças indígenas<br />

femininas das nações Pankararu e<br />

Xucuru (Pernambuco), ficando evi-<br />

<strong>de</strong>nciada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um en-<br />

sino voltado para a realida<strong>de</strong> indí-<br />

gena e comprometimento com o<br />

resgate da sua cultura, usos, costu-<br />

mes e tradições.<br />

Enten<strong>de</strong>m as mulheres potiguara<br />

e li<strong>de</strong>ranças femininas das nações<br />

visitantes, que, para a execução<br />

<strong>de</strong>sse programa, terá que haver uma<br />

maior participação e apoio das au-<br />

torida<strong>de</strong>s do País, não só fe<strong>de</strong>ral<br />

como estadual e municipal, e <strong>de</strong> en-<br />

tida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio ao índio já que ele<br />

Batista, cacique Potiguara, abriu o Encontro.<br />

exige. Inclusive, a reciclagem e for-,<br />

mação pedagógica das professoras<br />

existentes, embora, na questão his-<br />

tórica e <strong>de</strong> consciência Indígena as<br />

próprias comunida<strong>de</strong>s se encarre-<br />

garão <strong>de</strong>ssa formação, através do<br />

Grumin que, na oportunida<strong>de</strong>, lan-<br />

çou o seu livro-cartilha" A Terra é a<br />

Mãe do índio", <strong>de</strong> autoria da profes-<br />

sora Eliane Potiguara, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte<br />

da al<strong>de</strong>ia potiguara <strong>de</strong> São Miguel.<br />

Preten<strong>de</strong>m, ainda, que os profes-<br />

sores formados para orientar a edu-<br />

cação das crianças e jovens indíge-<br />

nas saiam do seu próprio povo e que<br />

tenham eles acesso às faculda<strong>de</strong>s,<br />

como qualquer outro jovem brasilei-<br />

ro, como em outras partes do mun-<br />

do, on<strong>de</strong>, ainda, há índios.<br />

Na área da saú<strong>de</strong>, reivindicam os<br />

Potiguara que sejam implantados<br />

postos médicos, com a presença <strong>de</strong><br />

médicos e e enfermeiros, e todo o<br />

equipamento necessário para aten-<br />

<strong>de</strong>r aos doentes, principalmente as<br />

parturientes, nas suas 16 al<strong>de</strong>ias.<br />

O I Encontro Potiguara aprovou<br />

moção <strong>de</strong> repúdio à violência que se<br />

vem registrando contra os povos in-<br />

dígenas principalmente contra a al-<br />

<strong>de</strong>ia potiguara <strong>de</strong> Jacaré <strong>de</strong> São<br />

Domingos, com o objetivo <strong>de</strong> Inva-<br />

dor suas terras.<br />

Do mesmo modo, manifestou o<br />

povo Potiguara sua preocupação<br />

quanto à preservação do melo am-<br />

biente e do seu equilíbrio ecológico,<br />

tendo na ocasião sido firmado um<br />

pacto <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> nessa linha <strong>de</strong><br />

ação entre as li<strong>de</strong>ranças Potiguara,<br />

da Paraíba; Pankararu e Pankararé,<br />

<strong>de</strong> Pernambuco; Xocó, <strong>de</strong> Sergipe;<br />

Xucuru e Pataxó Há-hâ-háe, da Ba-<br />

hia, presentes na reunião, que <strong>de</strong>ci-<br />

diram lutar juntos para tornar reali-<br />

da<strong>de</strong> as propostas do Encontro.<br />

NT)


índio sem terra não tem vida:<br />

Potiguara exige terras <strong>de</strong> volta<br />

Marcelino Pankararé, represen-<br />

tante da nação Pankararé, da Bahia<br />

<strong>de</strong>stacou a unida<strong>de</strong> dos povos indí-<br />

genas, na luta pela <strong>de</strong>marcação e<br />

preservação <strong>de</strong> suas terras. "O cor-<br />

dão do índio é um só. Porque somos<br />

um só. Quem sente e conhece um<br />

pouco dos direitos dos índios, sente<br />

o sofrimento". — disse o Pankararé.<br />

"Temos que lutar pelos nossos di-<br />

reitos, precisamos da terra para tra-<br />

balhar, para alimentar nossos filhos,<br />

nossa nação. Estamos juntos, orga-<br />

nizados, e se não fizermos assim<br />

nos tornamos fracos. O índio sem<br />

terra, não tem vida" — concluiu.<br />

No I Encontro Potiguara <strong>de</strong> Luta e<br />

Resistência, a questão da terra, a <strong>de</strong>-<br />

fesa do meio ambiente e ecologia<br />

ocuparam todo o primeiro dia <strong>de</strong><br />

discussão. Estiveram presentes<br />

Pankararé, Pankararus, Xucurus-<br />

Cariris,Xocóse Pataxós.queseuni-<br />

ram ao povo Potiguara construindo<br />

a unida<strong>de</strong> dos índios do Nor<strong>de</strong>ste no<br />

fortalecimento da sua luta comum,<br />

contra os invasores, e pela preser-<br />

vação da sua cultura. Um pacto<br />

nesse sentido foi proposto pelo ca-<br />

cique Nailton Pataxo e aprovado<br />

pelo plenário composto <strong>de</strong> 500 ín-<br />

dios potiguara.<br />

Coube ao índio Raquel, da Al<strong>de</strong>ia<br />

do Galego, levantar a questão do ar-<br />

rendamento, ele que é um arrenda-<br />

tário. Após falar dos prejuízos que-<br />

trazem à terra a cultura da cana-<strong>de</strong>-<br />

açúcar, que hoje ocupa <strong>de</strong> 40 a 70%<br />

dos 20.800 hectares restantes do<br />

território potiguara, fez uma auto-<br />

crítica por ter concordado no pas-<br />

sado como muitos outros irmãos<br />

seus o fizeram, em arrendar terras<br />

aos usineiros, concluindo por pro-<br />

por, que, ao término <strong>de</strong> tais contra-<br />

tos, se cancelassem os arrendamen-<br />

tos, diversificando a produção agrí-<br />

cola, para não só garantir a quali-<br />

da<strong>de</strong> do solo, mas para proporcio-<br />

nar à nação meios <strong>de</strong> subsistência<br />

mais ricos.<br />

Não só a questão do arrendamen-<br />

to, mais outras questões ligadas à<br />

terra, foram levantadas pelos parti-<br />

cipantes do Encontro. Domingos<br />

Barbosa, da al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> São Domin-<br />

gos, propôs a <strong>de</strong>marcação das ter-<br />

ras indígenas e a retirada dos inva-<br />

sores. O representante da Al<strong>de</strong>ia<br />

Tramataia, João Leandro Soares,<br />

propôs que a FUNAI exerça seu pa-<br />

pel <strong>de</strong> órgão do Governo na <strong>de</strong>fesa<br />

dos índios, retirando os invasores e<br />

<strong>de</strong>volvendo as suas terras. O índio<br />

Pompeu, da Baía da Traição, con-<br />

clamou à unida<strong>de</strong> das li<strong>de</strong>ranças e<br />

povos das 16 al<strong>de</strong>ias Potiguara na<br />

luta contra os invasores. O cacique<br />

João Batista Faustino, da al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

São Francisco, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u o prosse-<br />

guimento da luta do seu povo para<br />

reaver as terras Potiguara, para que<br />

elas ocupem o espaço que tradicio-<br />

nalmente lhes pertencem. Elias, da<br />

Al<strong>de</strong>ia Camurupim, ressaltou a im-<br />

portância do I Encontro Potiguara,<br />

cujas conclusões espera tragam re-<br />

sultados positivos para a paz e o <strong>de</strong>-<br />

senvolvimento da nação potiguara.<br />

— "índio sem terra é um favela-<br />

do" — afirmou o ex-cacique Seve-<br />

rino Fernan<strong>de</strong>s, que hoje respon<strong>de</strong><br />

a processo na Justiça por expulsar<br />

invasores <strong>de</strong> suas terras. Propôs en-<br />

tão que unidos os potiguara confi-<br />

nassem até o fim esta luta em <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong> suas terras. Manoel Eufrásio, re-<br />

presentante da Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> São Mi-<br />

guel, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dizer que o povo po-<br />

tiguara é escravo do povo <strong>de</strong> fora,<br />

afirmou que para reconquistar as<br />

terras que lhes foram roubadas<br />

(cerca <strong>de</strong> 13.800 hectares) era ne-<br />

cessário a união <strong>de</strong> todas as 16 al-<br />

<strong>de</strong>ias, "porque cada índio é um elo,<br />

para tornar uma corrente forte". O<br />

representante da Al<strong>de</strong>ia do Forte,<br />

Heleno Santana, reafirmou, então,<br />

que o povo potiguara é unido e tem<br />

condições, assim, <strong>de</strong> resolver seus<br />

problemas".<br />

José Cassiano, índio potiguara,<br />

representando a FUNAI, disse que a<br />

questão do arrendamento nunca<br />

teve o apoio jurídico da FUNAI, até<br />

porque, segundo afirmou, "esses<br />

arrendamentos são ilegais" e <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>u a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reu-<br />

nião entre os índios que arrendaram<br />

terras para plantio <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açú-<br />

car com o órgão para se encontrar<br />

uma saída que, para ele, <strong>de</strong>ve partir<br />

<strong>de</strong> um projeto comum <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvol-<br />

vimento agrícola com a participação<br />

<strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>.<br />

As mulheres presentes ao Encon-<br />

tro tiveram participação importante.<br />

Dona Severina, uma espécie <strong>de</strong> avó<br />

e conselheira do povo da Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

São Francisco, <strong>de</strong>stacou a impor-<br />

tância do Encontro para a conscien-<br />

tização da nação Potiguara na<br />

busca <strong>de</strong> novos rumos para sua li-<br />

bertação, através da sua unida<strong>de</strong>.<br />

Maria Nila Faustino, filha do cacique<br />

João Batista Faustino, também <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>u a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se "pre-<br />

servar o que é do índio; a terra, re-<br />

conquistando o que foi perdido".<br />

Maria Vital, da mesma al<strong>de</strong>ia, consi-<br />

<strong>de</strong>rou fundamental a "expulsão <strong>de</strong><br />

ren<strong>de</strong>iros e posseiros das terras po-<br />

tiguara.<br />

I ENCONTRO MULHER-EDUCAÇÁO<br />

Promovido pelo <strong>GRUMIN</strong><br />

— Grupo Mulher-Educa-<br />

çào Indígena, paralela-<br />

mente ao I Encontro Poti-<br />

guara e Luta e Resistência, reali-<br />

zou-se no dia 19 <strong>de</strong> junho último,<br />

na Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> São Francisco, Baía<br />

da Traição, o I ENCONTRO RE-<br />

GIONAL MULHER-EDUCAÇÁO<br />

INDÍGENA, que concluiu pela<br />

necessida<strong>de</strong> urgente da melho-<br />

ria da qualida<strong>de</strong> do ensino para<br />

as crianças indígenas; melhores<br />

condições <strong>de</strong> assistência médica<br />

não só às crianças, mas às mu-<br />

lheres e aos idosos; reciclagem<br />

da formação das monitoras <strong>de</strong><br />

educação; promoção <strong>de</strong> cursos<br />

profissionalizantes; resgate da<br />

história e cultura indígenas; ela-<br />

boração <strong>de</strong> material didático e<br />

outraa questões específicas da<br />

mulher.<br />

Participaram <strong>de</strong>sse I Encontro,<br />

além das mulheres potiguara,<br />

representantes das nações Pan-<br />

kararu, Xucuru-Cariri, Xocó,<br />

Pankararé e Pataxó, todas do<br />

Nor<strong>de</strong>ste, e a presi<strong>de</strong>nte da As-<br />

sociação Nacional <strong>de</strong> Apoio ao<br />

índio, Hilda Zimmermmann, do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Na ocasião,<br />

uma moção <strong>de</strong> apoio e solidarie-<br />

da<strong>de</strong> ao trabalho que vem sendo<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela coor<strong>de</strong>nadora<br />

do <strong>GRUMIN</strong>, professora Eliane<br />

Potiguara, foi aprovada, com a<br />

recomendação <strong>de</strong> que prossiga<br />

seu trabalho em prol da Educa-<br />

ção do índio em nível nacional,<br />

apesar da resistência <strong>de</strong> uns<br />

poucos grupos que vêm nesse<br />

esforço uma ameaça, pois que a<br />

cultura e conscientização previs-<br />

tas no trabalho do <strong>GRUMIN</strong> forta-<br />

lecem as nações indígenas im-<br />

pedindo o prosseguimento da<br />

ação <strong>de</strong> aniquilamento <strong>de</strong>sses<br />

povos e a conseqüente ocupa-<br />

ção <strong>de</strong> suas terras.<br />

As conclusões e recomenda-<br />

ções do I Encontro Regional Mu-<br />

Iher-Educação Indígena serão<br />

encaminhadas aos órgãos com-<br />

petentes, constituindo-se numa<br />

nova etapa <strong>de</strong> trabalho do GRU-<br />

MIN, encarregado <strong>de</strong> lutar por<br />

aquelas conquistas.<br />

A TERRA É A MAE DO ÍNDIO<br />

De autoria da professora<br />

Eliane Potiguara, com ilustra-<br />

ções do cartunista IKENGA, foi<br />

lançado ao final do encontro o li-<br />

vro-cartilha "A TERRA É A MÃE<br />

DO ÍNDIO", editado pelo jorna-<br />

lista Alcino Soeiro e impresso na<br />

gráfica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e que contou<br />

com o apoio para sua elaboração<br />

do Programa <strong>de</strong> Combate ao Ra-<br />

cismo, do Conselho Mundial <strong>de</strong><br />

Igrejas.<br />

PARTICIPAÇÕES<br />

Coor<strong>de</strong>nado por Eliane Poti-<br />

guara e secretariado pela pro-<br />

fessora Maria Pankararu, o I En-<br />

contro da Mulher-Educação In-<br />

dígena teve a participação <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 100 mulheres indíge-<br />

nas, <strong>de</strong>stacando-se nele as se-<br />

guintes intervenções:<br />

Marilene, professora potigua-<br />

ra: "Sou uma privilegiada por<br />

po<strong>de</strong>r ajudar meu povo. Esse<br />

nosso esforço, porém, necessita<br />

<strong>de</strong> um maior apoio, pois faltam<br />

às nossas crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a me-<br />

renda escolar ao material didáti-<br />

co".<br />

Inés, professora da FUNAI:<br />

"Não só as nações indígenas,<br />

mas todo o Brasil sofre com o<br />

problema da Educação. Alguma<br />

coisa tem que ser feita. No nosso<br />

caso, reclamamos, ainda, o re-<br />

nascer <strong>de</strong> nossa cultura perdida,<br />

incentivando as crianças, atra-<br />

vés <strong>de</strong> pesquisa, a conhecer<br />

nosso passado.<br />

lida Pankararu: Temos difi-<br />

culda<strong>de</strong>s materiais em nossas<br />

escolas. Mas resta-nos a espe-<br />

rança e a fé, além da nossa luta<br />

para resolver esses problemas.<br />

Em minha al<strong>de</strong>ia, também a<br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve merecer atenção das<br />

autorida<strong>de</strong>s, principalmente no<br />

tratamento da água contami-<br />

nada que vem provocando do-<br />

enças intestinais. Não temos<br />

médicos necessários ao atendi-<br />

mento <strong>de</strong> todos os casos, falta-<br />

nos transporte, os políticos che-<br />

gam cheios <strong>de</strong> promessas e nada<br />

cumprem. Temos que nos unir<br />

na luta. Qualquer divisão favo-<br />

rece aqueles que nos querem ti-<br />

rar da terra, nos esmagar."<br />

Severina Faustino — profes-<br />

sora potuguara: "Queremos es-<br />

tudar mais, para nos aperfeiçoar<br />

melhor na nossa missão <strong>de</strong> pro-<br />

fessora. Mas nos falta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

transporte até mesmo ao mate-<br />

rial escolar para os alunos. As<br />

autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser cons-<br />

cientizar para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

criar melhores condições <strong>de</strong> vida<br />

para todos nós e, principalmen-<br />

te, para as crianças."<br />

Valda — professora potiguara:<br />

"Sinto-me feliz em servir ao meu<br />

povo. Mas careço <strong>de</strong> aumentar<br />

meus conhecimentos, para ser-<br />

vir melhor na área da educação.<br />

Não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>sanimar com<br />

tantas dificulda<strong>de</strong>s e, sim, ser-<br />

mos fortes para prosseguir na<br />

nossa luta com o objetivo <strong>de</strong><br />

conquistar tudo aquilo que ne-<br />

cessitamos".<br />

Dona Severina — "Estou sa-<br />

tisfeita e feliz com este Encontro.<br />

É a primeira vez que nos reuni-<br />

mos ao longo <strong>de</strong> nossa história.<br />

O que estamos discutindo é<br />

muito importante e, tenho certe-<br />

za, este é o primeiro passo que<br />

estamos dando para a conquista<br />

<strong>de</strong> uma vida melhor"<br />

Maria Pankararu — "Aqui <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>mos a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos<br />

alunos e por isso exigimos me-<br />

lhores condições <strong>de</strong> ensino nas<br />

nossas escolas, resgatando<br />

nossa cultura, conscientizan-<br />

do-as para a <strong>de</strong>fesa do nosso<br />

meio-ambiente".<br />

Quitéria Pankararu —<br />

"Mesmo não sendo professora,<br />

venho ensinando minha nação<br />

<strong>de</strong> que temos direito a tudo o que<br />

os outros têm: educação, saú<strong>de</strong><br />

e condições dignas <strong>de</strong> viver. Re-<br />

clamamos um ensino que res-<br />

gate nossas tradições, nossas<br />

línguas <strong>de</strong> origem, nossa cultu-<br />

ra. E todas nós mulheres <strong>de</strong>ve-<br />

mos apoiar o trabalho <strong>de</strong> nossas<br />

professoras sacrificadas, que<br />

não ganham o suficiente para ter<br />

uma vida condigna".<br />

Rosália — professora potigua-<br />

ra: "Trabalho na alfabetização<br />

<strong>de</strong> crianças e adultos e, como<br />

todas as professoras <strong>de</strong> áreas<br />

indígenas, careço <strong>de</strong> mais apoio<br />

das autorida<strong>de</strong>s. O que temos é<br />

muito pouco ou quase nada".<br />

Zenilda Tuxá — professora:<br />

"Temos muita preocupação com<br />

a educação dos índios, com mui-<br />

tos problemas na minha área tu-<br />

xá. Os índios, como qualquer ou-<br />

tro povo, são inteligentes e assi-<br />

milam rapidamente os conheci-<br />

mentos que lhes transmitimos.<br />

Mas falta material, principal-<br />

mente voltado para a realida<strong>de</strong><br />

do povo indígena, que resgate,<br />

inclusive, sua verda<strong>de</strong>ira histó-<br />

ria".<br />

Antônia — mulher potiguara:<br />

"Pedimos ajuda a todos os ór-<br />

gãos do Governo para que dêem<br />

apoio aos nossos irmãos índios,<br />

esquecidos em suas al<strong>de</strong>ias".<br />

Hilda Zimmermmann — presi-<br />

<strong>de</strong>nte da ANAÍ: "Lutamos pela<br />

autonomia dos índios, pelo res-<br />

gate <strong>de</strong> sua língua nativa, por um<br />

ensino que resgate seus valores<br />

culturas e sua história como po-<br />

vo". Hilda Zimmermmann com-<br />

pareceu ao Encontro represen-<br />

tanto, também, a União da Mu-<br />

lher Brasileira.<br />

ESTRANHO<br />

NO NINHO<br />

No I Encontro Potiguara <strong>de</strong> Luta e<br />

Resistência se houve uma energia<br />

negativa, esta foi produzida peia pre-<br />

sença <strong>de</strong> um holandês acolhido pelos<br />

brasileiros, feito professor da Univer-<br />

sida<strong>de</strong> da Paraíba, cuja arrogância,<br />

petulância e comportamento <strong>de</strong> colo-<br />

nizador fazem-no acreditar que é o<br />

dono da verda<strong>de</strong>, um super-homem<br />

ou até um super-<strong>de</strong>us. Este homem,<br />

chamado Frans, que os índios cha-<br />

mam <strong>de</strong> Francisco, jogou na divisão<br />

da nação potiguara, intrigou li<strong>de</strong>ran-<br />

ças com li<strong>de</strong>ranças, aproveitou-se da<br />

boa fé <strong>de</strong> uma jornalista para repro-<br />

duzir suas infâmias, numa tentativa<br />

<strong>de</strong>sesperada <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir um encontro<br />

<strong>de</strong> conscientização que, por certo, o<br />

levará a libertar-se social, econômica<br />

e politicamente.<br />

Jamais partiríamos para o terreno<br />

pessoal, se náo estivesse em jogo a<br />

unida<strong>de</strong> do povo potiguara. Mas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que sentimos<br />

um comprometimento político na<br />

açáo <strong>de</strong> um Frans qualquer da vida,<br />

que usando do seu privilegiado co-<br />

nhecimento e até mesmo da compra<br />

<strong>de</strong> consciências utilizando para Isso a<br />

construção <strong>de</strong> uma igreja — como o<br />

faziam os jesuítas —, tenta <strong>de</strong>struir<br />

um trabalho feito com amor à causa<br />

indígena e i<strong>de</strong>ologicamente fortale-<br />

cido, não po<strong>de</strong>mos silenciar.<br />

Afinal, a quem está servindo o<br />

Sr.Frans? Ao povo potiguara que o<br />

acolheu e que lhe permitiu <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

teses e escrever livros (ainda que<br />

chamando potiguares <strong>de</strong> slflifticos e<br />

outras li<strong>de</strong>ranças locais <strong>de</strong> ladrões e<br />

até mesmo <strong>de</strong> prostitutas) ou ao ini-<br />

migo número um dos índios que são<br />

os invasores, como o foram, no pas-<br />

sado, os holan<strong>de</strong>ses?<br />

Como se explicaria o afastamento<br />

da área potiguara, antes ou durante a<br />

permanência do Sr.Frans, <strong>de</strong> antropó-<br />

logos brasileiros comprovadamente<br />

fiéis à causa do índio, não houvesse<br />

por trás um bem urdido e concebido<br />

plano <strong>de</strong> controle da situação interna<br />

da nação potiguara?<br />

Essa é uma questão para reflexão.<br />

Do mesmo modo que <strong>de</strong>vemos me-<br />

ditar sobre a forma covar<strong>de</strong>. Infame,<br />

preconceituosa e discriminatória com<br />

que o Sr.Frans, referiu-se em carta-<br />

circuiar à coor<strong>de</strong>nadora do encontro,<br />

a professora Eliane Potiguara, Irri-<br />

tado porque o índio Tlure (que ajudou<br />

com seu suor e sangue a <strong>de</strong>marcar as<br />

terras potiguara) pediu que se reti-<br />

rasse do Encontro, ao perceber sua<br />

intenção <strong>de</strong> acabar com a assembléia<br />

indígena, nem que para isso usasse<br />

um índio <strong>de</strong> boa-fé.<br />

Covar<strong>de</strong>, infame, preconceituoso e<br />

discriminatória são exatamente, sem<br />

tirar nem por, as características do<br />

caráter do Sr.Frans. A quem estará<br />

servindo, não sabemos. O que sabe-<br />

mos é que, apesar da ação <strong>de</strong>vasta-<br />

dora do holandês, o i Encontro Poti-<br />

guara chegou a conclusões Importan-<br />

tíssimas para os <strong>de</strong>stinos daquela<br />

nação indígena, inclusive com a par-<br />

ticipação ativa da mulher, que antes<br />

nunca teve voz, conforme, aliás, acha<br />

que assim <strong>de</strong>ve ser o Sr.Frans.<br />

Mas, holan<strong>de</strong>ses á parte, a melhor<br />

resposta para um infame como o<br />

Sr.Frans e para aqueles que estão<br />

sustentando no Brasil, é a realização<br />

do trabalho que vimos fazendo em ní-<br />

vel nacional para o resgate dos valo-<br />

res culturais do povo indígena, <strong>de</strong> sua<br />

sobrevivência condigna, do seu<br />

meio-ambiente e do equilíbrio ecoló-<br />

gico <strong>de</strong> seus territórios, só conquis-<br />

tados com a Unida<strong>de</strong>, que o I Encon-<br />

tro Potiguara <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u e que é tam-<br />

bém nossa ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> luta.<br />

<strong>GRUMIN</strong>-Grupo Mulher-Educação<br />

indígena.


<strong>GRUMIN</strong><br />

Inaugurado o <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />

Cultura Potiguara<br />

Em clima <strong>de</strong> festa, que se<br />

encerrou com uma<br />

<strong>de</strong>monstração da dança<br />

indígena locai, o Toré, foi<br />

inaugurado após o I Encontro<br />

Potiguara <strong>de</strong> Luta e Resistência<br />

e o I Encontro Mulher-Educação<br />

Indígena, o <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Cultura<br />

Potiguara, construído em regime<br />

<strong>de</strong> mutirão pelos índios<br />

potiguara, tendo à frente o<br />

cacique João Batista Faustino.<br />

Nesse <strong>Centro</strong>, além <strong>de</strong><br />

funcionar como fórum <strong>de</strong><br />

discussão dos problemas<br />

indígenas, serão realizados<br />

cursos profissionalizantes<br />

(artesanato, tecelagem, corte e<br />

costura), danças e músicas,<br />

exibição <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os e filmes<br />

<strong>de</strong>ntro do programa do Núcleo<br />

<strong>de</strong> <strong>Documentação</strong> e Informação<br />

Cultural da Nação Potiguara, do<br />

<strong>GRUMIN</strong>.<br />

Com cerca <strong>de</strong> 300 metros quadrados, o <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Cultura Potiguara foi construído em mutlrio<br />

em menos <strong>de</strong> uma semana.<br />

O irabamo <strong>de</strong> artesanato, com a<br />

inauguração do <strong>Centro</strong>,<br />

será estimulado, como<br />

parte do resgate da<br />

cultura potiguara.<br />

A Inauguração se <strong>de</strong>u em clima <strong>de</strong> festa. A dança do Toré, um traço cultural Indígena,<br />

teve em, Tia Severina sua gran<strong>de</strong> animadora.<br />

Cacique Batista: a realização <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />

sonho.


O cacique Kanay (Nailton) Pataxó exibiu um exemplar da Constituição para lembrar a necessi-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> os índios continuarem mobilizados para tornar efetivas as <strong>de</strong>terminações do Capítulo<br />

VIII.<br />

Todas as<br />

| propostas do<br />

Encontro<br />

Potiguara<br />

foram<br />

submetidas à<br />

aprovação<br />

Tia Severina, uma das mais<br />

antigas índias da al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> São Francisco, disse que<br />

não quer mais a presença dos invasores nas terras potiguara.<br />

QUESTÃO DE SOBERANIA<br />

A realização do I Encontro Po-<br />

tiguara <strong>de</strong> Luta e Resistên-<br />

cia nasceu <strong>de</strong> uma reunião<br />

da qual participaram inúme-<br />

ras li<strong>de</strong>ranças da nação Potiguara,<br />

em março <strong>de</strong>ste ano. A <strong>de</strong>cisão foi<br />

tomada pela necessida<strong>de</strong> não só da<br />

discussão dos problemas que o<br />

povo indígena vem enfrentando,<br />

mas da fundamental importância<br />

da unida<strong>de</strong> como forma <strong>de</strong> luta.<br />

A questão do arrendamento, no<br />

entanto, provocou um certo cons-<br />

trangimento em algumas li<strong>de</strong>ran-<br />

ças que <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> comparecer<br />

ao encontro, por consi<strong>de</strong>rar que<br />

isso po<strong>de</strong>ria conduzir a caminhos<br />

não favoráveis à relação econô-<br />

mica que atualmente vem sendo<br />

marltida.<br />

* Essa ausência, porém, não che-<br />

gou a tirar o brilho do Encontro. Ao<br />

contrário, fortaleceu o espírito <strong>de</strong><br />

luta daqueles que buscam para a<br />

nação Potiguara um futuro melhor,<br />

a re<strong>de</strong>nção para os seus proble-<br />

mas, o exercício dos seus direitos,<br />

através do encaminhamento <strong>de</strong> so-<br />

luções por eles próprias formula-<br />

das aos órgãos governamentais<br />

competentes. E a esperança <strong>de</strong> que<br />

os representantes das 16 al<strong>de</strong>ias ali<br />

existentes se unam num gran<strong>de</strong><br />

Conselho que há <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberar sobre<br />

os caminhos a percorrer, até a vitó-<br />

ria final.<br />

O <strong>GRUMIN</strong>, que organizou o En-<br />

contro, só teve na iniciativa o cum-<br />

primento <strong>de</strong> sua proposta funda-<br />

mental que é a <strong>de</strong>, junto com os po-<br />

vos indígenas, localizar seus pro-<br />

blemas e trabalhar efetivamente<br />

para que, através da unida<strong>de</strong>, se<br />

encontrem soluções capazes <strong>de</strong><br />

resgatar os seus direitos. Jamais in-<br />

terferindo, porém, na organização<br />

social, política e econômica das<br />

nações indígenas, cuja auto-<br />

Úultérla Pankararu, um exemplo da luta da mulher Indígena pelos direitos à terra, à<br />

educação, saú<strong>de</strong> «'preservação da cultura.<br />

<strong>de</strong>terminação e soberania <strong>de</strong>vem<br />

ser respeitadas.<br />

Foi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espírito <strong>de</strong> res-<br />

peito à soberania das nações indí-<br />

genas e <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />

que o encontro potiguara se <strong>de</strong>-<br />

senvolveu. Tanto que, quando se<br />

discutia a questão da terra, todos<br />

os problemas foram abordados li-<br />

vremente. Exemplo disso é que um<br />

índio potiguara criticou duramente<br />

seu irmão Raquel, da Al<strong>de</strong>ia do Ga-<br />

lego, por arrendar terras para plan-<br />

tio <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar.<br />

Raquel respon<strong>de</strong>u que o fizera<br />

sim, mas que chegara o momento<br />

<strong>de</strong> dizer um basta a isso, concor-<br />

dando em que é preciso preservar a<br />

terra e <strong>de</strong>senvolvê-la com novas<br />

culturas <strong>de</strong> plantio.<br />

Foi quando veio a palavra do pro-<br />

fessor Moacir Madruga, da UFPA,<br />

que advertira em sua exposição an-<br />

terior estar a terra potiguara por um<br />

fio, em termos <strong>de</strong> ecologia, exata-<br />

mente pelo cultivo da cana, que<br />

castiga e esteriliza o solo, afir-<br />

mando com rara oportunida<strong>de</strong>:<br />

"O kararaô potiguara foi dado.<br />

Só que, infelizmente, dado inter-<br />

namente na nação potiguara. O<br />

que é preciso, agora ou em outros<br />

encontros, é que ele seja dado a<br />

quem realmente necessita ser da-<br />

do. Contra os usineiros que além<br />

<strong>de</strong> se instalarem aqui e acabar com<br />

a natureza, introduzem aqui o que é<br />

muito sério na nação potiguara: a<br />

<strong>de</strong>sunião interna, numauniáo que<br />

foi conquistada a duras penas, no<br />

Kararaô que foi dado em 1980.<br />

Em 1980, os potiguara, unidos <strong>de</strong><br />

corpo, alma e coração, <strong>de</strong>marca-<br />

ram seu território. Foi uma bela<br />

lembrança <strong>de</strong> Moacir Madruga,<br />

que <strong>de</strong>ve servir como permanente<br />

reflexão entre os potiguara, para se<br />

manter a necessária unida<strong>de</strong> do<br />

povo.<br />

Apoiònio Xocó (ao centro), como coor<strong>de</strong>nador da UNI-Nor<strong>de</strong>ste, conclamou á união pára o fortale-<br />

cimento dq luta em torno das causas indígenas.<br />

^Xo^^EEEIz^^^<br />

pesca, na Baía da molho <strong>de</strong> camarão e lagosta fo^HPeU c 1 omandou * preparação d<<br />

Traição. nçao<br />

'agosta, fornecidos pelos índios que sT<strong>de</strong>dic«m *


<strong>GRUMIN</strong><br />

A mulher teve presença<br />

marcante no encontro<br />

potiguara. Teve voz e voto, com<br />

uma participação efetiva não só<br />

no I Encontro Mulher-Educação<br />

Indígena, como também nas<br />

questões discutidas no I<br />

Encontro Potiguara <strong>de</strong> Luta e<br />

Resistência. Como mulher,<br />

como mãe, como filha da terra e<br />

integrante da comunida<strong>de</strong><br />

soube <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r cogo garra e<br />

in<strong>de</strong>pendência suas propostas.<br />

Com bastante interesse, as mulheres participaram da discussão dos problemas do seu<br />

povo.<br />

I ENCONTRO POTIGUARA DE LUTA<br />

RESISTÊNCIA<br />

I ENCONTRO REGIONAL MULHER-EDUC<br />

INOI&ENA<br />

16119 da Junho/M<br />

Al<strong>de</strong>ia òe Slo Francisco<br />

Baía da Tralçfo - Paraíba<br />

Projeto Grumln: Grupo Multm<br />

Educação Indígena<br />

UNI - União da NaçÔat Indígenas<br />

Al<strong>de</strong>ia Indígena Potiguara<br />

PELO DIREITO A VIDA<br />

A presença da Juventu<strong>de</strong> feminina potiguara <strong>de</strong>u o toque <strong>de</strong> aiegria ao encontro.<br />

MBBssfc; ~...v.^>^. ^BMifc C \<br />

Até mesmo políticos locais compareceram<br />

ao Encontro, como Jaêmlo Carneiro, presi-<br />

<strong>de</strong>nte do PV da Paraíba.<br />

Hilda, índia Pankararu: a dor <strong>de</strong> uma máe,<br />

que teve seu filho assassinado em sua al-<br />

<strong>de</strong>ia, por Invasores <strong>de</strong> terras Indígenas.


CARTA DO I ENCONTRO<br />

POTIGUARA DE LUTA E RESISTÊNCIA<br />

Opovo Potiguara, distribuído<br />

em 16 al<strong>de</strong>ias, na Baía da<br />

traição, Paraíba, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

quatro dias <strong>de</strong> seu I EN-<br />

CONTRO, após discutir e <strong>de</strong>liberar<br />

<strong>de</strong>mocraticamente sobre as ques-<br />

tões levantadas, <strong>de</strong>cidiu:<br />

Continuar a luta em <strong>de</strong>fesa do ter-<br />

ritório indígena pertencente à nação<br />

Potiguara, e, mais que isso, lutar<br />

para que a parte do mesmo território<br />

que lhe foi roubada na primeira <strong>de</strong>-<br />

marcação, seja reincorporada ao<br />

patrimônio do seu povo.<br />

Não apenas a <strong>de</strong>marcação das<br />

terras dos índios Potiguara, mas<br />

exige o nosso povo também que as<br />

autorida<strong>de</strong>s constituídas, em cum-<br />

primento ao que diz a Constituição,<br />

no capítulo <strong>de</strong>dicado aos índios, li-<br />

bere a área pertencente aos Poti-<br />

guara, e que hoje são ocupadas in-<br />

<strong>de</strong>vidamente por invasores.<br />

A questão da terra é o f u ndamento<br />

da nossa luta. Dizimaram nossa cul-<br />

tura, o nosso povo, hoje reduzido a<br />

pouco mais <strong>de</strong> cinco mil índios;<br />

roubaram nossas terras. Mas não<br />

roubaram nossa consciência indí-<br />

gena, apesar da dilaceração dos<br />

nossos usos, costumes e tradições.<br />

Quiseram nos silenciar. Não extirpa-<br />

ram e não cortaram nossa língua.<br />

Mas, através da colonização, cala-<br />

ram a nossa voz nativa. Nos ensina-<br />

ram a falar com a língua dos invaso-<br />

res. E é com ela que nos expressa-<br />

mos. Expressão <strong>de</strong> dor e sofrimento<br />

pelos nossos guerreiros ancestrais<br />

que tombaram na luta pela resistên-<br />

cia, a quem ren<strong>de</strong>mos nosso luto.<br />

Na questão da terra, <strong>de</strong>stacamos a<br />

nossa consciência <strong>de</strong> que esta terra<br />

é nossa. Sobre ela <strong>de</strong>cidimos seu<br />

<strong>de</strong>stino. E seu <strong>de</strong>stino envolve as<br />

gerações <strong>de</strong> hoje e as gerações do<br />

futuro. Nossos filhos, netos, bisne-<br />

tos e tetranetos têm direito à terra <strong>de</strong><br />

seus ancestrais. Portanto, neste En-<br />

contro, <strong>de</strong>cidimos não mais admitir<br />

a ingerência do branco na nossa vi-<br />

da, no nosso <strong>de</strong>stino. Procuram <strong>de</strong><br />

toda a forma, meios e instrumentos<br />

enganosos para nos tirar daqui. Mas<br />

não conseguirão, graças à nossa lu-<br />

ta, a nossa garra. Queremos que a<br />

terra Potiguara permaneça nas<br />

mãos dos Potiguara. Não uma terra<br />

EXPEDIENTE<br />

<strong>GRUMIN</strong> —GRUPO<br />

MULHER-EOUCAÇAO<br />

INDÍGENA<br />

Pelo direito à vida<br />

Coor<strong>de</strong>nação: Eliane Potiguara<br />

Rua da Quitanda, 185 — sala 503 — CEP<br />

20.091<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro — Telefone (021)<br />

293-1745<br />

seca mas uma terra fértil. Não uma<br />

terra que seja apenas <strong>de</strong> alguns,<br />

mas uma terra que seja <strong>de</strong> todos,<br />

pois ela, historicamente é <strong>de</strong> todos.<br />

Para isso, no caso <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong><br />

arrendamento feitos às usinas que<br />

nos envolvem, <strong>de</strong>verão terminar,<br />

quando do término do prazo. O Po-<br />

tiguara honra o seu nome. Sua pala-<br />

vra é uma só. Terminando o prazo<br />

do arrendamento, toda a terra volta<br />

à mão do índio. Novas culturas agrí-<br />

colas <strong>de</strong>vem ser introduzidas na<br />

nossa terra, pois só assim teremos<br />

garantido o nosso <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

nossa subsistência, auto-suficiên-<br />

cia econômica.<br />

Com uma bem organizada coope-<br />

rativa, teremos a renda que hoje vai<br />

para as mãos dos usineiros, para o<br />

nosso povo. Com a modificação da<br />

política agrícola, voltada para a mo-<br />

nocultura da cana, teremos o sur-<br />

gimento <strong>de</strong> uma nova política agrí-<br />

cola, capaz <strong>de</strong> produzir todos os<br />

alimentos necessários ao nosso<br />

consumo interno e sua distribuição<br />

para o mercado externo. A econo-<br />

mia do povo Potiguara e sua distri-<br />

buição ao Povo Potiguara.<br />

No I Encontro Potiguara <strong>de</strong> Luta e<br />

Resistência também o problema da<br />

educação foi <strong>de</strong>stacado. O <strong>GRUMIN</strong><br />

(Grupo Mulher-Educação Indígena)<br />

realizou o seu I Encontro. Com a<br />

parti cipação, a voz e o voto <strong>de</strong> toda a<br />

comunida<strong>de</strong>, ficou <strong>de</strong>cidido que lu-<br />

taremos para a melhoria das condi-<br />

ções <strong>de</strong> ensino, com amplo material<br />

escolar, com mais professoras, com<br />

um ensino voltado para a realida<strong>de</strong><br />

indígena, voltado para o resgate da<br />

sua cultura, dos seus usos e tradi-<br />

ções.<br />

A nação Potiguara exige uma par-<br />

ticipação maior das autorida<strong>de</strong>s do<br />

País não só fe<strong>de</strong>ral, como Estadual e<br />

Municipal, para a solução <strong>de</strong>sses<br />

problemas.<br />

Somos índios, queremos conti-<br />

nuar sendo índios, com respeito à<br />

nossa cultura, às nossas tradições.<br />

Mas nossos filhos <strong>de</strong>vem ser criados<br />

com as mesmas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

educação que os <strong>de</strong>mais brasileiros,<br />

com o apoio dos governos. Nós que-<br />

remos que nossos professores se-<br />

jam índios, assim como nossos en-<br />

Conselho do <strong>GRUMIN</strong><br />

POTIGUARA (Paraíba) — Maria Nilda<br />

Faustino; Valda Batista; Zenilda Tuxá;<br />

Inês e Severina Faustino.<br />

PANKARARU (Pernambuco) — Maria<br />

Quitéria <strong>de</strong> Jesus e Maria Pankararu.<br />

KAIOWÁ (Mato Grosso) — Dona Marta<br />

Kaiowá.<br />

TERENA (Mato Grosso) — Miriam Terena<br />

e Jupira Terena.<br />

KAIGANG (Paraná) — Marina:<br />

GUARANI (Paraná) - Enaiê Maitê<br />

<strong>GRUMIN</strong><br />

fermeiros, médicos advogados e ou-<br />

tros profissionais.<br />

Não abriremos mão da nova Cons-<br />

tituição, Capítulo VIII, que ampara<br />

os índios. Foi uma conquista. Va-<br />

mos lutar para que, o que ali está,<br />

seja respeitado.<br />

Neste I Encontro inauguramos o<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Cultura Potiguara ("pelo<br />

resgate <strong>de</strong> nossas tradições) e lan-<br />

çamos a cartilha "A Terra é a<br />

Mãe do índio", material <strong>de</strong> apoio às<br />

professoras indígenas.<br />

A questão da saú<strong>de</strong> é fundamental<br />

para o Potiguara. Não temos assis-<br />

tência. Não bastam convênios com<br />

0 INPS ou com outros órgãos. Exi-<br />

gimos a implantação, nas 16 al<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> postos médicos, on<strong>de</strong> existam<br />

médicos, enfermeiros, equipamen-<br />

tos e tudo que for necessário para<br />

aten<strong>de</strong>r aos doentes e às parturien-<br />

tes. Queremos uma ambulância<br />

com equipamentos ncessários aos<br />

primeiros socorros.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que estes problemas<br />

são os mesmos das outras nações<br />

indígenas espalhadas pelo Brasil.<br />

Por isso, <strong>de</strong>claramos a nossa solida-<br />

rieda<strong>de</strong> a todos esse irmãos, daí a<br />

importância <strong>de</strong> unirmos todos num<br />

mesmo objetivo. Os índios que esti-<br />

veram presentes neste Encontro, os<br />

Pankararu, Pankararé (Pernambu-<br />

co), os Xocó (Sergipe), os Xukuru e<br />

Pataxó Hã — Hã — Hãe (Bahia) con-<br />

tam com o apoio dos Potiguara na<br />

sua luta. Só a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as<br />

nações indígenas possibilitará a vi-<br />

tória <strong>de</strong> nosso povo ao longo <strong>de</strong>sses<br />

5 séculos <strong>de</strong> opressão e coloniza-<br />

ção.<br />

Preocupa o povo Potiguara a pre-<br />

servação do meio ambiente, a eco-<br />

logia. Preocupa-nos a violência ins-<br />

talada, a partir dos interesses do<br />

po<strong>de</strong>r econômico. Não queremos<br />

mais em nossas terras a presença <strong>de</strong><br />

quem quer a nossa <strong>de</strong>struição.<br />

Preocupa-nos a PAZ, a VIDA. VIVA-<br />

MOS!<br />

Pela UNIDADE dos povos indíge-<br />

nas.<br />

Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> S. Francisco, 19 <strong>de</strong> junho<br />

<strong>de</strong> 1989<br />

1 ENCONTRO POTIGUARA DE LUTA<br />

E RESISTÊNCIA<br />

GUARANI (R.G.Sul) — ANAI (Associação<br />

Nacional <strong>de</strong> Apoio ao índio) — Hilda<br />

Zimmermann<br />

JORNAL DO <strong>GRUMIN</strong><br />

Editor: Alcino Soeiro (Reg. 11.170 — RJ)<br />

Dlagramação: Luís A. Batista<br />

Composição: W.J. Editora e<br />

Fotocomposição<br />

Arte-flnal; Marcus Ventura<br />

Impressão: Gráfica Urbanltárlos<br />

Apoio: Sindicato dos Urbanltários - RJ

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