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y<br />
fÕLKÊR<br />
^^^^^^^^^<strong>o^^m^^^^^^m^^^^^Ooúi</strong>
tluttr.çâo d. M.9h.rH<br />
EDITORIAL<br />
O MEU SEU O<br />
NOSSO FEMINISMO<br />
Para podermos ter uma idéia<br />
de como se encontra o movimento<br />
de mulheres hoje no país, véspera<br />
de eleições, se faz necessário um<br />
pequeno retrospecto histórico e '<br />
assim entender de que maneira es-<br />
tá colocada a questão do movimen-<br />
to (frente o momento eleitoral e '<br />
que posicionamento devemos assumir<br />
em^relação aos partidos políticos<br />
e ãs suas propostas em torno da '<br />
questão. Enfim, tentar compreeder<br />
para onde se dirige a própria or-<br />
ganização do movimento, inserido'<br />
num contesto de luta mais geral.<br />
19 75 - Ano Internacional da<br />
Mulher - surgem no Brasil os pri-<br />
meiros grupos de mulheres. Preo-<br />
cupavam-se em lançar a público '<br />
questões antes não abordadas e '<br />
que não eram colocadas pelos ou -<br />
tros movimentos.<br />
A questão da opressão especí-<br />
fica da mulher. Sua origem. O pa-<br />
pel que a mulher cumpre na socie-<br />
dade. Assuntos que antes ninguém'<br />
ousara colocar na- roda e que ago-<br />
ra geravam, polêmica... o tabu so-<br />
bre o corpo da mulher, o conheci-<br />
mento de sua sexualidade, por e -<br />
exemplo, passavam a serem questio<br />
nados.<br />
A sociedade estava recebendo<br />
uma nova mensagem. Frágil e "in -<br />
trevertida" num primeiro momento,<br />
logo foi captada. De um lado a te<br />
levisão se encarregando de capita<br />
lizâ-la como pudesse... vide os T<br />
esteriótipos criados sobre as fe-<br />
ministas: machorras, mal amadas e<br />
feias ou, como afiram o sr. Millor<br />
Fernandes, "feminista é mulher que<br />
só pensa em ser chofer". De outro,<br />
a própria esquerda e os partidos<br />
políticos que assumiam a discus-^<br />
são meio que colocando: "o que é<br />
que essas mulheres tão queiendo",'<br />
"elas querem é dividir o movimen<br />
toí.. , "formar um partido onde '<br />
homem não entrai.. .<br />
0 movimento de mulheres até<br />
então encontrava-se num momento '<br />
fundamental: a denúncia. Os grupos<br />
eram^compôstos por mulheres clas-<br />
se média (profissionais liberais,<br />
professoras, sociólogas...)e cum-
priam o papel de divulgar, jogar'"<br />
a_público a discussão da liberta-<br />
ção da mulher, de seus problemas '<br />
específicos.<br />
Afinal estávamos sendo ouvi-<br />
das. Mal ou bem estávamos.<br />
"Defendemos a autonomia no<br />
sentido desentender que sofremos'<br />
uma opressão especifica nessa so-<br />
ciedade, a quel deve ser denunci-<br />
ada e combatida. Entendemos que '<br />
nosso movimento, desvinculado de<br />
partidos'-e movido pela capacidade<br />
das próprias mulheres,pode influir<br />
decisivamente sobre o nosso desti-<br />
no, enquanto mulheres dentro da<br />
sociedade".<br />
0 discurso ia por ai. E apar<br />
tir dal surgia outras propostas."<br />
0 discurso não fora aceito por to<br />
dos. Essa questão, mais especifi-<br />
camente, a proposta de organização<br />
autônomas das mulheres, era com -<br />
batida por alguns setores.<br />
Surgem aí, departamentos fe-<br />
mininos dentro de entidades par -<br />
tidárias e sindicais. Era necessá<br />
rio encampar a questão da mulherT<br />
Em agosto de 81, é chamado o<br />
primeiro congresso da mulher gaú-<br />
cha, por setores do PMDB e pelo '<br />
PDT. Ficou cristalino o cunho ele<br />
itoreiro e o caráter oportunista 7<br />
do mesmo. Afinal, "as mulheres re<br />
presentam mais de 509 do eleitora<br />
do". Falam o Simom, o Brisola, o*<br />
Mario Ramos iluminados pelo colo-<br />
rido de centenas de cartazes do '<br />
PMDB, PDT e lencinhos saudando o<br />
Brisola, no pescoço de várias nart.<br />
lheres.<br />
Em todo o Brasil, atitudes *<br />
manipuladoras se manifestam em vá<br />
rios congressos estaduais de mu -<br />
lheres, com os apoiadores do jor-<br />
nal Hora do Povo encabeçando uma*<br />
proposta de federações estaduais<br />
de mulheres. Federações criadas a<br />
partir de aparelhos partidários '<br />
sem a discussão da maioria das mu<br />
lheres .<br />
Proposta de uma "cabeça gigan<br />
te" pata trabalhadoras, donas de' 7<br />
casa e domésticas que continuavam<br />
oprimidas e exploradas, não sentin<br />
do nem cheiro de organização.<br />
Era necessário organizar pe-<br />
la base.<br />
Durante todo esse processo,<br />
muitos grupos foram se dissolven-<br />
do dentro de sua própria fragili-<br />
dade. Outros ainda fecharam-se em<br />
si mesmos numa discussão dada vez<br />
mais viciada. Os que resistiram '<br />
responderam assumindo a defesa da<br />
queles interesses apontados desde<br />
o início - especificidade e auto-<br />
nomia. Viram-se obrigados, alem '<br />
de uma resposta incisiva a uma<br />
proposta onde a organização real<br />
pela base acontecesse.<br />
Partem então para fazer tra-<br />
balhos com mulheres de periferia,'<br />
referendando-se na questão da con<br />
tracepção e sexualidade, presente<br />
uma vez que o governo tenta imple<br />
mentar uma campanha dé controle '<br />
de natalidade em massa das mulhe-<br />
res de baixa renda.<br />
A violência passava a ser de<br />
nunciada. Foram organizados SOSs'<br />
visando aglutinar rablheres agre -<br />
didas em um coletivo solidário, '<br />
Os grupos feministas avançarem '<br />
nessa proposta.<br />
Todas essas coisas foram se<br />
passando num período de 75 para '<br />
cá. Finalmente 82. Anô de elei -<br />
ções diretas no país.<br />
Os partidos articulados e po<br />
sicionados frente o movimento.<br />
Surgem candidatas mulheres. *<br />
Os slogans variam de "mulher vota<br />
em mulher" (Sandra Cavalcanti-BfB)<br />
"mulher coragem" (RuthEScobar - '<br />
PMDB), "presença da mulher" (Derci<br />
Furtado - PDS). Os discursos são<br />
variados e por vezes contraditórios<br />
e confusos.<br />
Cabe a nós feministas, mulhe-<br />
res interessadas em ver nossa ban-<br />
deira colocada no local e da manei-<br />
ra que decidimos, marcar posição no<br />
sentido de quebrar barreiras das '<br />
organizações políticas partidárias.<br />
Criar um espaço onde sejamos nós '<br />
mesmas quem direcionemos nosso mo-<br />
vimento.<br />
Exigimos esse espaço para nos-<br />
sas decisões.<br />
A autonomia do movimento se<br />
tornará real na medida em que massi-<br />
vamente estivermos coesas numa '<br />
mesma palavra de ordem.<br />
UVRB
§<br />
CARTAS<br />
Quando vi "Crônica de um amor louco", não me incomodei<br />
muito.Era evidente que o filme era de caricaturas, nio de<br />
pessoas- e que se tratava simplesmente da viagem vangloriosa<br />
de um poeta americano retomado por Ferrari.<br />
Tudo bem- deixa para lã.<br />
Mas depois vi e oavi tantas críticas elogiando a profundidade<br />
do filme que penso-a risco de ser chamada de careta ou<br />
ouço entendida* alguém tem de desnudar o imperador,<br />
livro pode ser bem escrito, o filme bem rodado, mas o enre-<br />
do é uma serie dos clichês mais cansados do mundo.<br />
Vide:a linda prostituta misteriosa assombrada pelo seu pas-<br />
sado de convento(freudianismo baixo nível, praga de filmes<br />
americanos que vem invadindo a Europa),<br />
a dona de casa gorda e ociosa pronta para se jogar nos braços<br />
do primeiro homem que bate na sua porta,<br />
a loira ninfomaníaca, e enfim...<br />
o macho superior na sua poesia e na sua decadência(e, por<br />
sinal, evidentemente sexualmente irresistível)declamando o<br />
tema do filme:<br />
são os loucos que mais prestam nesta vida.<br />
Muito bom, acontece que concordo,Mas o que Ferrari/Bukowski<br />
nos apresente afinal não são genáos originais gozando da vi-<br />
da ate o^ultimo limite.<br />
São neuróticos dos mais patéticos, presos de sonhos masoquis-<br />
tas que ^lorlficain o sofrimento.<br />
Se os personagens fossem mais sufis, melhor desenvolvidos,<br />
mais críveis, teríamos um estudo interessante mas^ em vez<br />
disso, nos oferece produtosestereotipadosda decadência burgue<br />
sa. E corre atrás de um público que jamais teve contato com<br />
um autêntico marginal da rua.<br />
Afinal o filme trai seu lindíssimo título, "Tales of<br />
Ordinary Madness"(algo como "Contos^da loucura cotidiana").<br />
Por limitar o "cotidiano" ao imaginário hermético do autor, o<br />
filme não chega a ter o significado universalizante de<br />
uma obra de atte.Pelo menos essa espectadora procurou em vão<br />
um ponto que lhe tocasse,<br />
um personagem com quem pudess» se identificar.<br />
(Imagine-se Cass, a prostituta, ê a "mulher mais viva" que o<br />
herói já conheceu-qual é a imagem de nos outras?)<br />
Uma parte importante da minha realidade, por exemplo, como<br />
a de três quartos das mulheres, ê a convivência com os filhos.<br />
Integrar neste contexto a ? loucura, a criatividade, a energia<br />
erótica, seria responder ao desafio do cotidiano.<br />
Mas já viu criança entrar num enredo como o da Crônica?<br />
Só para atrapalhar as forças libidinais Cvide o filho da gorda)<br />
assim enfatizando a velha dicotomia, mulher erótica/mulher mãe.<br />
Em vez de procurar uma saída original da rotina banal,<br />
esse filme reforça uma oposição conservadora entre a grandeza<br />
da marginalidade total e o ridículo da rotina deserotizada.<br />
A anti-normav assim circunscrita, serve só para reforçar a<br />
fatalidade do "normal".<br />
Não estou negando aos ditos marginais, neuróticos, etc<br />
o direito de existir, nem mesmo o valor de sua existência.<br />
Mas e uma reação pueril basear nisso uma moralidade invertida<br />
pela qual um tipo muito específico de loucura seja encarado<br />
como superior ou mais profundo do que uma autêntica loucura<br />
cotidiana.<br />
► Claudia Fonseca-professora de antropologia do Campus da UFRGS
Opinamos favoravelmente ao acréscimo de 1501 ao invés de<br />
sugerido pela Pro-Reitoria da Comunidade Universitária, visto<br />
2!I e iQoA 5 \?oi f * mlllas das cHanças que ingressaram na creche<br />
em 19 80 e 19 81 nao apresentam njvel de carência econômica, tendo<br />
sido classificado como classe média superior. Isto posto sugeri-<br />
?°' q y e - 0 f^f 1 » 0 de s í x proposto seja aplicado através da dis<br />
tribuiçao de bolsás-creche para filhos de funcionários e alunos<br />
oue após uma analise de sua situação s5cio-econoraica sejam cons<br />
aerados carentga<br />
Extraído do parecer 104/81 do<br />
Conselho Universitário sobre "Ta-<br />
xas e Mensalidades para Exercício<br />
de 19 82^. Após esta lydwigiana<br />
conclusio, o parecer aponta para<br />
o seguinte resultado na pratica :<br />
em 19 81, as mensalidades da cre -<br />
che eram respectivamente (Cr$<br />
1.250,00 para um turno e Cr$ ....<br />
2.400,00 por dois turnos, para<br />
1982, com aumento de 1501 as men-<br />
salidades seriam de Cr$ 3.125,00<br />
para um turno e Cr$6.000,00 para<br />
dois.<br />
Aí esta a implantação do ensino<br />
pago, da divisão inicial entre ca<br />
rentes e não carentes, colocada<br />
no piano da assistência aos uni -<br />
versitãrios com filhos. Mas o pro<br />
bleraa não termina aí. A creche dã<br />
UFRGS, padrão de Porto Alegre,não<br />
passa de um enfeite assistencial<br />
no campus universitário. Com suas<br />
90 vagas, 101 destinadas as mulher<br />
res estudantes, ela não chega a<br />
cubrir 41 para a necessidade real<br />
de creches para os estudantes.Sem<br />
falar nas mulheres que não ingres<br />
sam na universidade, ou abandonam<br />
seus cursos por não ter onde dei-<br />
xar os filhos. E a questão não é<br />
so onde deixar as crianças, Como<br />
elas são tratadas e"bem" educadas?<br />
Aproximadamente 88 crianças<br />
são cuidadas por 32 funçionãrias-<br />
desde a coordenadora até as ser »<br />
ventes-na creche da UFRGS. Ura<br />
prédio pequeno de um andar. 0 lax<br />
So corredor centraliza uma série<br />
e portas envidraçadas por onde<br />
se enxerga os vários bercinhos a-<br />
linhados lado a lado. Tudo muito<br />
limpo, azulejo por todo o canto ,<br />
uniformes e silencio. Tudo tem ho<br />
ra, hora de trocar, hora de mamar.<br />
1<br />
hora de comer, hora de dormir. Ho<br />
ra, azulejo, uniforme^ silencio 7<br />
comida. Ordem. Está Ia um engati-<br />
nhando, empurrando um berço sobre<br />
o outro. Perigo, subversão da or-<br />
dem. Pega.* Pega! Põe o berço no<br />
lugar* Põe a criança no lugar. Tu<br />
do certo, como dois e dois são qu<br />
atro.<br />
Num questionário distribuído<br />
pelo DCE a todos nas matrículas<br />
do l 9 semestre de 82, perguntava-<br />
se o numero de filhos e a necessi^<br />
dade de creche. Computámos ©re-<br />
sultado parcial de 2371 alunos<br />
distribuídos em 20 escolas. Multi<br />
pücamos os dados por quatro, con<br />
Siderando que a proporção de 2300<br />
alunos se manteria a mesma para<br />
9400. Concluímos que aproximada -<br />
mente 688 alunos são pais em ...<br />
9484 estudantes homens e mulhe -<br />
res. Destes alunos pais, uma par<br />
cela teria necessidade de creches<br />
o que totalizaria 344 crianças<br />
precisando de berçário ou recrea<br />
ção. A maioria^destes pais não<br />
consegue (ou não tem estímulo pa<br />
ra) vagas na creche da UFRGS.Do?<br />
possíveis 344 crianças necessita<br />
das apenas 10 no máximo conse ~<br />
guem vaga da creche de nossa uni<br />
ve rs idade.<br />
Isto considerando os alunos<br />
que freqüentam, que seriam apro-<br />
ximadamente 10.000. fi preciso a-<br />
inda fazer uma pergunta: dos ou-<br />
tros 5 a 6 mil que não concluem<br />
o curso, quantos abandonaram por<br />
causa dos filhos?<br />
Ainda em relação a falta de<br />
creche na universidade: onde es-<br />
tá o projeto_de uma creche no^no<br />
vo campus? Não sabemos. Ninguém<br />
sabe, Não existe? Não.
Na verdade não existe cre-<br />
che para estudantes na UFRGS. 0-<br />
ra, e por quê deveria existir ,<br />
nao^ê Ludwig? Se o ensino pago<br />
está sendo cada vez mais posto<br />
em pratica nas federais, primei-<br />
ro no RU, depois serão as taxas<br />
de matrícula... Creche? Supérflu<br />
o!<br />
0 direito de escola para to<br />
dos, a escola gratuita e democra<br />
tica, deve ser uma escola com<br />
creches, onde o fato de ter fi-<br />
lhos não impeça o estudo.<br />
Segundo "a Prefeitura, ò nufnero<br />
de crianças
EDI QRARDI ReS - SOflSfROPosTflS ,UMÍ<br />
JUSSARA tfwy ^ss^^ w Aíí/^R.<br />
LIBERTA-Neste ano eleitoral, o que vocês es -<br />
tão pensando sobre o Movimento^de Mulheres?<br />
Jussara:Este é um momento histórico em nosso<br />
paTs, um ano polTtiço muito importante.Chegou<br />
o momento, não só dos partidos políticos, mas<br />
de todo o povo brasileiro dar uma resposta ao<br />
18 anos de opressão, era que nosso povo ficou<br />
marginalizado de todas as decisões^E aT, ai a^<br />
cho que não so as candidatas mas nós mulheres<br />
que participamos de todo este processo, orga-<br />
nizadas em nossos sindicatos, nos partidos po<br />
iTtlcos, nos movimentos autônomos, nas assocT<br />
ações comunitárias, temos que ter muito culda^<br />
do para nao sermos mais uma vez usadas num pro<br />
cesso político onde a mulher deve_ser um fator<br />
decisivo.A minha grande preocupação e que a^ra<br />
vis dos partidos polTticos, através da forma-<br />
ção de entiddades de mulheres, que muitas ve-<br />
zes podem não representar todos os segmentos<br />
de mulheres organizadas, se comece a manipu-<br />
lar as mulheres em funjão de um ano eleitoral<br />
A campanha eleitoral nao deve servir para ma-<br />
nipular as mulheres e sim para avançar a_sua<br />
organização de uma maneira correta, unitária<br />
e que di respostas políticas, porque a quês -<br />
tão i polTtica.Ela deve participar a mil era '<br />
todos os momentos.Agora, em nenhum momento e-<br />
la deve ser manipulada como ha multo^tempo e-<br />
la vem sendo...Se é um momento favorável para<br />
a libertação do povo brasileiro, eu acho que<br />
é também para a libertação da mulher dentro '<br />
deste processo.<br />
Enid:A partir das tris palavras que são as<br />
chaves do Partido dos TRabalh^dores-terra, r<br />
trabalho e liberdade-eu começo pela questão<br />
da liberdade.E uma questão fundamental que as<br />
mulheres estão começando a levantar.A llberda^<br />
de de ter direito a não ser çondicionada-por-<br />
uqe dentro de um processo de opressão a-^ulher<br />
i condicionada Já antes do nascimento.E ques-<br />
tão fundamental gue a indivíduo tenha plena_<br />
liberdade de opção.0 trabalho e outra questão<br />
questionar a forma de trabalho, a liberdade<br />
em relação ao trabalho, o trabalho como um dl<br />
reito de todos.A condição de sexo feminino<br />
não deve condicionar a mulher a um tipo de tra<br />
balho discriminadao em todos os sentidos-no<br />
sentido social, econômico e pplTtico.A terce1_<br />
ra questão é a da terra.No seotido conserva-<br />
dor, muita gente faz analogia MULHER-TERRA-<br />
"assim como a muljer a terra i um ventre",A '<br />
gente tá começando a romper isso aT, a colo -<br />
car em outro sentido.Não o da terra-mulher-<br />
onde se joga e se suga tudo e se devasta se<br />
der lucro, se for ura processo de apropriação<br />
mas justamente o contrario: o da terra livre<br />
e da mulher livre.<br />
A mulher tende a uma radicalização, ela vai<br />
a raiz da questão.AT i fundamental este proc£<br />
so de participação polTtica, colocando a que£<br />
tão do poder e do poder de opressão de deter-<br />
minados setores e classes sobre^outras cias j<br />
ses.O processo eleitoral i riquTssimo, mas não<br />
pode ser privilegiado no sentido de que ele<br />
exclua outras formas de participação.E impor-<br />
tante que a mulher participe em todos os m -<br />
veis, em todas as formas de organização.Hoje ,<br />
quem manipula as eleições não somos nós, quem<br />
tem poder sobre as eleições não somos nos.O<br />
processo de eleições é um direito que nos te-<br />
mos, devemos lutar para que seja limpo e demo<br />
crãtico.E participar não apenas no sentido de<br />
direito de chegar ao poder.<br />
Dercy:Eu gostaria de pedir permissão de voltar<br />
atrás, desde o momento que eu iniciei^ minha<br />
participação na polTtiça.As coisas não eram<br />
tio fáceis.Minha origem i operária e aT que<br />
me criei e fiquei ate casar.Conheci toda a<br />
problemática da mulher operária, e depois co-<br />
nheci outra problemática, outra situação, a<br />
da mulher casada, esposa, dona-de-casa.Com 1s<br />
to eu comecei a me questionar.Comecei em 1946<br />
a trabalhar pela promoção da mulher e foi um<br />
escândalo, fui ate persegui da.Por este traba-<br />
lho fui convidada para concorrer-fiquei muito<br />
surpresa porque nunca tinha pensado em fazer'<br />
polTtica.DaT fui convidada a ir aos EUA para<br />
conhecer os movimentos feministas de lá, pois<br />
eu já tinha o tTtulo e a...não sei se é pecha<br />
eu acho que i uma coisa muito boa de feminis-<br />
ta.Lá, eu aprendi com elas que e ilusão da mu<br />
lher pensar que vai mudar alguma coisa sem lin<br />
gressar na polTtica.E se, graças a Deus, a gen<br />
te plantou uma sementinha, esta sementinha<br />
frutificou, hoje eu vejp com muita alegria os<br />
movimentos feministas, mulheres como vocês, '<br />
com multo mais capacidade doque eu-não estou<br />
bajulando, mas sinto que vocês tem uma mensa-<br />
gem bastante forte.Então, dali para cá, a gen<br />
te vem cada vez mais apoiando o Ingresso da<br />
mulher na polTtica, porque nossos partidos são<br />
muito machistas, na realidade eles nos usam '<br />
muito.A mulher deve participar da_polTt1ca p&<br />
ra fazer valer seus direitos- e só vai depen-<br />
der dela. nós temos que brigar_por isto.<br />
Oussara:Tu colocas ai uma história que vai '<br />
dar muito pano pra manga neste debate...<br />
LIBERTA-Mas...."mulher vota em mulher"?<br />
En1d:Participar e decidir o que se produz. d£<br />
cldlr pra quem se porduz,, ter o direito de u-<br />
sar o que se produz.Participar do poder é de-<br />
cidir o que te Interessa, nao no sentido in -<br />
dlvidual, mas no coletivo."Mulher vota em mu-<br />
lher" me cheira, assim tão machista!<br />
Jussara:E não dar importância polTtica-princj_<br />
palmente no momento atual- a questão do voto.<br />
En1d:E o voto folclórico.<br />
Jussara:Eu acho que i a proposta polTtica da<br />
candidata mulher que vai influenciar_homens e<br />
mulheres.Uma proposta polTtica que di aquele<br />
salto necessário para a^mudança das coisas.A<br />
Dercy colocou a vida dela, uma trajetória que<br />
ela deu um detremlnado enfoque.A gente vai pas<br />
sando por tda esta trajetória e as coisas nao<br />
mudam.Eu faço aT a questão do sistema capita-<br />
lista.<br />
LIBERTA-Dercy, quando tua falas que os homens<br />
estão no governo, então...mulher vota em mu -<br />
lher? 7 ■ ' ■<br />
Dercy:Eu acho esta pergunta muito Importante.<br />
Foi tal a nossa lavage#'cerebral, que o homem<br />
é que pensa, é que SBhUffti hoje a mulher des<br />
confia da profissional, mulher.Nos temos que
1 i i i. . , LIBERTA-Mesmo coercitivo?<br />
t-Ql *. f\ TTVUVnet" Se.hT« mVJUO maiS 5! rc ? t!l1l « Porque o bem comum esta acima do<br />
. , direito do casal de ter 10 ou 12 filhos.Eu '<br />
O OroblCmO. aOi COreSTIO. . da. nao P oss 2 te r tantos fllhOl quantos quiser se<br />
r Io meu pais nao tem condições de produzir ali<br />
M — » \y i _ i—, mentos, estradas, hospitais... "<br />
mtlCXÇCXO ,00^ dUVidO. exTet-hO.... Jussara:Bem. mas o nosso país pode!<br />
Dercy:Sim, o nosso pode.Aqui nao há necesslda<br />
de de um controle coercltivo.Nosso país não T<br />
chegou ao ponto que a China chegou.Acho que '<br />
mudar esta cabeça.Existe esta problemática a s ? a Amiriça Latina continuar com esta explo-<br />
ponto dela desconfiar da mulher poHticí.Ã ' sao demográfica, talvez chegue o dia em que '<br />
ponto dela pensar assini:serã que eu vou dar os casais, assim como na China, nãopoderao '<br />
um voto para mulher, será que ela sabe o que ter n,a ^ s de 2 filhos.<br />
tem pra fazer? Jussara:Dercy, na América Latina não vai hav«r<br />
LIBERTA-Concretamente, dentro da situação da explosão demográfica enquanto houver miséria,<br />
mulher hoje no Brasil, quais são as respostas fome I falta de assitincia ã saúde,<br />
que voeis enquanto candidatas e os partidos ' r^ . ^r\ i<br />
a que pertencem se propoi a dar neste momen- tUniO ! lO^rnClOCXI" d OeCldll- O QUC 6<br />
to de eleições? * l « n ^<br />
Jussara:Pegando, por exemplo, a famosa polTti paiTCX QUftm St proÒOZ Mulnfit- Vrt-<br />
ca do controle de natalidade que o governo " r T v^v^m :>c K « «-, i |VJínor YO-<br />
quer Impor.Eu acho que a grimeira questão i o 'pCX. Cm ITWJmeh mô Che\fCX (X<br />
sistema de saúde e o sistema edu- i /<br />
cadonal .Colocaria também a quês- ro O-CrWSInnO /<br />
tão do modelo econômico e, a partir daT, con-<br />
cluiria que o erro funda,ental e de natureza<br />
polTtlca.Em relação ao aborto e sobre a quês- LIBERTA-Em relação ã questão da legalização<br />
tão ods métodos contraceptivos e de como o co do aborto...<br />
nheclmento deles eu achp que nos devemos lu - Jussara:Eu acho que nós mulheres através de<br />
tar.E nossa luta deve ser a nível parlamentar todas as formas de participação que temos,fa-<br />
ou não, nas entidades comunitárias ou nos mo- zer o mais rápido possível, Ima discussão am-<br />
vimentos de mulheres, ppr métodos contraceptj^ pia sobre o aborto.E contraditório pensar abor<br />
vos que atendam nossos interesses, e dos nos- to dentor do sistema capitalista e depois den-<br />
sos maridos, dos nossos companheiros, que não tro do sistema socialista, mas socialista raes-<br />
firam a saúde nem de homens, nem de mulheres. mo.De repente, ate que gonto hoje ele não vai<br />
E nem da saúde da gurizada qu^ vem aí.Aqui fa ser utilizado como um método anticoncepcional.<br />
1a_uma farmacêutlca.Eu acho que nos, mulheres Por exemplo, se liberarem o aborto, a previ -<br />
naõ devemos carregar sozinhas o ônus do tal ' cia social vai assumir?N5s vamos ter este a -<br />
do controle de natalidade, a responsabilidade tendimento?<br />
de uma gravidez, desejada ou não, da decisão EnidrNo 29 Encontro da Mulher Gaúcha, no RosS-<br />
de evitar ou não ter o filho...A decisão de ' rio, em março de 1981, a discussão era em tor-<br />
ter ou não ter filhos não e do governo, é da no da campanha.Havia alguns setores que que -<br />
mulher, i do casal... riam uma campanha pelo aborto, e a gente avall<br />
—T— • A 4- i -i.— J ava a 1 noportuni dade desta campanha visando *<br />
vj USSOTQ^ t r\rn"€.5 olQ. QVíÇ,STOtO uO justamente o perigo do aborto virar método coji<br />
_i ^.J- ~h-' ^4-— J traceptivo.O ponto que eu quero pegar é a quês<br />
a.OOno # ICX Ck Q0eSTO.O dCX rno- tão da lel-é a questão da criminal idade .Eu a ~<br />
mAtA rirs
não fa çamos duma legalização do aborto, den -<br />
tro de toda a proposta de controle de natalldade<br />
d o governo, um método anticoncepcional.<br />
Eu ach o que a nossa luta i por uma legaliza -<br />
ção do aborto, levantando todas as questões e<br />
deixan do bem claro o uso correto dele...<br />
Edi: . ..Quando ele for necessário, com criterios.<br />
Jussar a: Ex atamen te, com critérios para uma '<br />
legall zação do ab orto, e a nossa participação,<br />
Porque eu v ejo o sistema nacional de saúde '<br />
que na o pro teje o trabalhador brasileiro, serã<br />
que vai protej er a mulher brasileira nesta<br />
questã o?<br />
Enid: Mas, é aT q ue tem uma questão anterior,<br />
Se tu não c oi ocas a questão da mulher ter todas<br />
as cond i ções objetivas para poder optar '<br />
se ela quer ou nã o ter filhos,_tu a joga com<br />
pulsor iamen te a e ntrar numa prática ou noutra^<br />
e e es sa co mpulsã o que a gente tem que contestar.<br />
P orque não e xiste na verdade, uma livre<br />
opção da mu Iher- existe uma compulsão no momento<br />
em qu e ela faz aborto por falta de ou -<br />
tra ai terna tiva.<br />
Jussar a: An tes da questão do aborto, tá a que£<br />
tão do sal ã rio di gno, tá a questão da moradia,<br />
do_san eamen to, da educação, do atendimento ã<br />
saúde<br />
LIBERT A: Nõ s perg untam os, hoje, no Brasil, não<br />
se col oca a quest ão do aborto?<br />
Enid: Se co loca p orque objetivamente as mulhe<br />
res pr atica m o ab orto.<br />
Dercy: A mi nha po si ção como eu j á dis se aqui,<br />
sou a favor do pi aneja mento f ami 1 har e critlco<br />
o m eu go vernp, açus o e co bro d o gov erno que<br />
não^co loca ã di sp osi çã o das mulhe res o s meios<br />
e mito dos c ontrac epti v os. Vo cês a nalis aram o<br />
aborto como uma q uestã o pol T ti ca, eu c oloco co<br />
mo uma quês tão re 1 i g i o sa e m oral. Dent ro do '<br />
meu po nto d e vi st arei igioso e mo ral , eu sou<br />
contra a le g a 1 i z a çao d o abor to. P orque provocar<br />
o abort o pra mime matar uma crian ca .Mas<br />
não so mos n os que vamo s julg ar ni nguém . Mesmo<br />
uma mu lher que gr atico u 10 a 15 a borto s pode<br />
até ga nhar a gl or ia do s céus mais cedo do que<br />
quem n unca pratic ou .Eu nao a cei to o "p orque e<br />
xiste nós t emos q ue le gali za r". N ao po rque e-<br />
xiste o roubo, o assassinato, o assalto, a ina<br />
conha, o pervitim, e não se pode legalizar tjl<br />
do isto.<br />
Jussara: Não é esta a questão.<br />
Enid: E que a Derc^ coloca uma questão indivj^<br />
dual,_eu acho quee uma questão política. C T<br />
questão polTtica é uma questão geral.<br />
Dercy: Eu jamais seria uma parlamentar para de<br />
fender questões políticas que aflijam os meus"<br />
princípios. ,<br />
Edi :A questão_primeira que eu queria colocar<br />
5 que as eleições estão aí, e eu estou vendo<br />
uma coisa muito positiva que é estas eleições<br />
diferirem das outras anteriores por vario as-<br />
pectos. Principalmente no aspecto do período<br />
que passa a nação brasileira-todo o aprofunda^<br />
mento da crise, a crise política, a crise eco<br />
nômica, o^agravamento de toda umasituação le<br />
vou com vários setores da população iniciassem<br />
a participar do processo político partidário'<br />
que é um pedaço de poder muito significativo.<br />
Eu acho que a questão da mulher é muito posi-<br />
tiva pois ela está participando hoje de uma '<br />
forma mais ativa, saindo um pouco daquele es-<br />
tado de passividade como vinha ocorrendo.Não<br />
sõ porque i maioria da população, mas pelos '<br />
problemas que ela começa a enfrentar. Seja e-<br />
la uma profissional liberal, uma trabalhadora,<br />
uma dona de casa, ela sente muito mais inten-<br />
samente todos os problemas que envolvem o país<br />
hoje^ 0 problema da carestia, o problema da in<br />
fiação, da dívida externa, o desemprego, tudo<br />
que gera a política econômica implantada pelo<br />
governo. Em vários partidos políticos cresce '<br />
não sõ o número de participação de mulheres, '<br />
mas o número de mulheres candidatas. Eu acho '<br />
que isso aí e positivo e é um reflexo da difi-<br />
culdade e da ansiedade de participar e mudar<br />
que toma conta do país inteiro e do nosso povo.<br />
LIBERTA: Mas voltando a questão do aborto e da<br />
contracepção, queremos saber se alguém acha que<br />
em algum momento o estado tem o direito, deve<br />
intervir no controle da capacidade reprodutiva<br />
da mulher, sim ou não...<br />
Jussara: Não.<br />
Dercy: Sim.<br />
Edi: E relativo...<br />
Enid: Não.<br />
DECIDI FA2.E.R O AAOHTO<br />
Minha mesntruação e irregu-<br />
lar mesmo, pode ser gue amanha '<br />
pinte, afinal está so 5 dias atra<br />
sada...<br />
Contei pra ele, mas não se<br />
mostrou muito preocupado, disse<br />
que mais cedo ou^mais tarde vi •<br />
ria e que isso só estava aconte-<br />
cendo devido ao meu nervosismo.<br />
Não fiquei muito satisfeita com<br />
estas palavras e senti, pela pri^<br />
meira vez, que estava sozinha na<br />
coisa. Passou-se mais uma semana,<br />
meu desespero aumentava cada dia<br />
Estava insegura, não sabia bem o<br />
que fazer ou como fazer.Comecei<br />
a meíBentir diferente, algo acon<br />
tecia com o meu corpo sobre o T<br />
qual eu não tinha o menor contro<br />
le.Era uma confusão de sensações<br />
estranhas misturada com medo, in<br />
segurança, sei lá.<br />
Não poderia contar com meus<br />
pais, porque eles tomariam a li-<br />
berdade de fazer comigo o que '<br />
bem entendessem, mesmo contra a<br />
minha vontade,Eu tinha uma ami-<br />
ga de colégio que foi obrigada<br />
pelos pais a esperar nove meses<br />
até nascer o filho, e depois de-<br />
ram a criança para um orfanato'<br />
sem que ela ficasse sabendo.Isto<br />
tudo porque eles eram contra o a<br />
borto.<br />
Decidi fazer o aborto.Não '<br />
tinha dinheiro e não sabia a *<br />
quem recorrer.Pro-curei algumas a<br />
migas que já tinham feito.Falei<br />
com uma delas e saí com um ende-<br />
reço nas mãos.Agora o maior pro-<br />
blema era a grana.Pedi para uma<br />
amiga o dinheiro, era a única *<br />
grana que ela tinha para passar<br />
o mês.Me comprometia a pagar o '<br />
quanto antes.Na verdade, eu não<br />
sábia como ia pagar.Me decidi, '<br />
e ela me ievou até lá.
Veio uma<br />
mulher<br />
abrir a<br />
poria,<br />
eunao<br />
5ai>ia<br />
bem o<br />
(|ue dizer.<br />
Era uma rua especialmente<br />
esquisita, não vi ninguém pas -<br />
sar ali, talvez porque estives-<br />
se muito frio.As casas eram to-<br />
das iguais, só as cores varia -<br />
vam um pouco.Aqula situação era<br />
tão irreal que até parecia um so<br />
nho, ou melhor um pesadelo*Meu<br />
nervosismo aumentava conforme '<br />
me aproximava da casa.Bati na .<br />
camgainha, não fez ruído nenhum,<br />
será que ouviyam? Veio umamu h*<br />
lher atender a porta, eu não sa-<br />
bia bem o que dizer, já não ti-<br />
nha certeza se era aquela casa<br />
ou não. Bem, de qualquer manei -<br />
ra, entrei. Era uma sala de es-<br />
tar estilo cojnum, me lembro in-<br />
clusive que a porta da cozinha es^<br />
tava aberta e lã se encontrava ou<br />
tra mulher, passando roupa, tudo<br />
muito familiar.<br />
Sentamos num sofá, minha ami<br />
ga parecia estar tão nervosa quan<br />
to eu. A sala estava cheia de gen<br />
te, a maioria mulheres. De repen-<br />
te, desceu do andar de cima da ca<br />
sa uma moça amparada pela mesma<br />
mulher que havia nos aberto a por<br />
ta. Ela estava meio tonta ainda.<br />
Chamaram pelo próximo nome, algu-<br />
ma coisa como Maria, AÍ um cara<br />
imediatamente disse:<br />
-Sou eu.'<br />
IO<br />
E levantou-se, segurando pe-<br />
lo braço uma moça, que provável -<br />
mente era Maria.<br />
A espera era angustiante, u-<br />
ma mulher sentada ao meu lado no<br />
sofá não parava de fumar. Eu já<br />
estava ficando enjoada e pedi pa-<br />
ra que ela soprasse a fumaça para<br />
outro lado. Ela desculpou-se, dis<br />
se que toda a vez que fazia um a-<br />
borto ficava muito nervosa. Per -<br />
guntei-lhe quantos já havia feito<br />
e ela respondeu:<br />
-Este I o quinto, eu não pos^<br />
so tomar pílula e não consigo me<br />
adaptar com outros métodos,<br />
Bem, enfim chegou a minha ho<br />
ra. Fui chamada e conduzida ao an<br />
dar de cima da casa, onde haviam<br />
mais três mulheres, duas durmindo<br />
ainda e uma outra tentando se a -<br />
cordar. Entrei numa salinha, onde<br />
havia uma daquelas mesas ginecolo<br />
gicas e um armãrip grande, cheio<br />
ae coisas que eu não quis ver.<br />
Tirei minha roupa da cintura<br />
para baixo, como foi mandado, e<br />
me deitei ali. Um velho carrancu-<br />
do veio na minha direção, me io-<br />
Ihou de cima a baixo. E me aper -<br />
tando a barriga disse:<br />
-Você não tem vergonha de<br />
vir aqui com as pernas cabeludas<br />
desse jeito?<br />
Pronto.^Deu pra mim. Eu era<br />
culpada também porque tinha pelos<br />
nas pernas. Fiquei preocupada em<br />
estar nas mãos daquele sujeito.<br />
Meu coração batia tão forte que<br />
mesmo através do pulo ver se nota-<br />
va. Quando a enfermeira arregaçou<br />
a minha manga para aplicar a anes^<br />
tesia, não consegui me segurar ma<br />
is e comecei a chorar. Afinal não<br />
havia feito exame nenhum para me<br />
aplicar uma anestesia geral.<br />
Mas aí já era tarde demais,<br />
as coisas foram escurecendo aos<br />
poucos... Assim como havia adorme<br />
cido, acordei, lentamente, pareci<br />
a ter passado segundos apenas. FT<br />
quei com medo que a anestesia não<br />
tivesse dado certo e que eu esti-<br />
vesse acordando^na hora errada, a<br />
final parecia tão rápido. Mas não,<br />
a enfermeira que estava ao meu Ia<br />
do disse que estava tudo pronto ê<br />
que era pra mim levantar. Eu dis*<br />
se que sentiaumô^dor parecida<br />
com menstruajão 90 que muito mais<br />
forte. Ela nao disse nada so me a<br />
judou a levantar*<br />
Quando saí da salinha, senti um<br />
alivio. Afinal parecia estar tudo<br />
bem. Paguei e regebi uma receita<br />
de alguns antibióticos para tomar<br />
durante uma semana.<br />
Fomos embora, (ly estava tonta a<br />
inda...
mmm N<br />
De<br />
repente des^<br />
cobrimos que esta<br />
mos grávidas. Uma gra<br />
videz inesperada. Por ve«c<br />
zes, falha dos métodos contra<br />
ceptivos, ou então pelo próprio '<br />
desconhecimento dos mesmos. Algo que<br />
parecia estar distante da gente, de repen<br />
te e uma realidade. Um aborto, em clinica do<br />
tipo clandestina, onde o controle e a inspeção<br />
não existem, ainda ê a saída menos perigosa. Isso<br />
quando temos condições de pagar um aborto, apesar<br />
das diversas maneiras de fazê-lo( curetagem, aspiração...)<br />
custa caro. Muitas vezes feito em condições que<br />
^deixam a desejar. E quando não temos dinheiro? Ai a saída<br />
é nos submetermos a um aborto realizado por "curiosos", sem<br />
nenhuma condição de higiene. Ou mesmo, num ato de desespero.,<br />
muitas vezes tentamos provocar o aborto nos mesmas. So no Brasil,<br />
se sabe que o índice de casos avaliados, por complicação do aborto<br />
está próximo aos quinhentos mil. Sabe-se também que de três a *<br />
quatro milhões de mulheres abortam e dessas, dez por cento morrem.<br />
0 aborto em si, realizado com todas as condições e cuidados necessã<br />
rios, não é perigoso. 0 método chamado de "aspiração" é tão simples,<br />
que nos EUA grupos de mulheres aprenderam sua técnica e ficaram habilitadas<br />
a fazê-lo. 0 que existe é muito mito e desinformação a respe^L<br />
to. As leis que restringem e proíbem a pratica do aborto sao calcadas<br />
'^na moral religiosa, determinada pela igreja católica. Em muitos países,<br />
é o estado quem implementa uma^política de controle da natalidade, de a<br />
cordo com seus interesses econômicos e demográficos. As mulheres ficamT<br />
assim, distantes de qualquer tomada de decisão. 0 direito de abortar,im<br />
plicaria em que elas mesmas decidissem por ter ou não o filho. 0 que fc[<br />
ge ao interesse de dominação,de sua capacidade reprodutora,pelos governos.<br />
Assim sendo, no Brasil, um país onde o governo tenta implementar<br />
todo um projeto de controle, fundamentado na distribuição masaiva de '<br />
pílulas, colocação^de DIUs e esterilização, sem qualquer acompanhamento^ou<br />
orientação âs mulheres, a alienação quanto ao conhecimento do '<br />
próprio corpo e a impossibilidade de decisão sobre o mesmo é um fato.<br />
Levar a bandeira da legalização do aborto, pura e simplesmente, pode<br />
ser algo extremamente perigoso. Muito porque, quem continuaria<br />
tendo acesso as clínicas seriam as mesmas mulheres que podem pa-<br />
gar, ao passo que se sabe que as vitimas reais de morte por<br />
to são aquelas que se submetem aos ditos métodos caseiros (apu<br />
lhas de tricô, talo de mamona introduzido na vagina, châs..T<br />
Essas continuariam não tendo opção.0 aborto legalizado deve<br />
ser livre e gratuito. As mulheres devem ter o acesso ao<br />
controle da maneira como venha a ser realizado. Não es-<br />
quecendo que, acima de tudo, deve ser utilizado como ul<br />
tima alternativa e não como método contraceptivo. Daí""<br />
a necessidade de^implementar a pesquisa e ampliar a<br />
discussão dos métodos que existem,com todas as mu<br />
lheres. E que as mulheres,de fato, possam con-<br />
trolar a sua capacidade reprodutora. Que de-<br />
cidam sobre seu próprio corpo.<br />
ahor<br />
II
É pau e pedra e o fim do caminho, e um corpo<br />
sozinho na beira da estrada.<br />
Merda porque eu nio gostei.<br />
Que nojo me arrepia e fico inchada e ardendo.<br />
Ta meio escurinho aqui e a televisão<br />
e clara.Pena que nio ê a cores.<br />
Pelo menos a cerveja tã gelada.E a xota ardendo.<br />
Vontade de botar cerveja na xotinha.<br />
Bucetinha como ele disse respirando no meu ouvido.<br />
E mordeu minha orelha e meu pescoço lambeu, e disse<br />
aquilo, quando esfregava aquele...<br />
dentro de mim.<br />
Dentro de mim eu não sabia o que era, bah,<br />
eu não sabia caramba.Dentro de mim ê uma coisa funda,<br />
quente,<br />
que mexe na minha carne ardendo no meio das pernas.<br />
Naquilo que ê mais meu, meu e ninguém sabe,<br />
Pelo^menos ninguém sabia.E agora o meu choro<br />
tu tá rindo dentro de mim, e tã dizendo<br />
agora ele sabe<br />
e é dele^ele sabe.<br />
Que nem ê dele um pedaço de bife que ele mastiga<br />
com muito gosto e tesão<br />
de escorrer pela boca o caldinho.<br />
E nem parece que ele foi fera, bicho de noite.<br />
Ontem.<br />
Ele tã tão menino ali na frente da televisão vendo<br />
jogo.Tomando trago^e cerveja e vendo a copa.<br />
Bem criança na infância do penar o amor a vitoria,<br />
ingenuamente.<br />
Brasil...il..,il,,,que nem ele fazia quando queria<br />
botar bem fundo quase na^goela minha,<br />
pelo meio da perna onde é macio o<br />
machucado.<br />
Quase com a raiva que nem bateu na bola o Falcão<br />
com a certeza do gol da vitória.<br />
Só que não era^uma raiva de jogador que corre e faz<br />
tudo ligeiro, ê uma raiva de tigre preto numa<br />
noite de lua cheia<br />
a esgajar os dentes e grunhir.<br />
0 que e igual àquele minuto segundo antes do gol<br />
acontecer, que o jogador deu o chute com certeza e<br />
raiva.<br />
Aí, ê que nem a raiva do tigre, ê uma raiva devagar,<br />
que nem quem sabe que é dono,<br />
quanto tempo quiser se quiser a eternidade,<br />
12
Ele ontem me mostrou que em meia hora ele e<br />
dono de minha àima em carne viva inteira,<br />
naquele meio das pernas eternamente se ele quiser.<br />
Não vai acabar nunca, eu pensava, e rezava para que<br />
ele saísse de cima<br />
esmagada que me tinha.<br />
E quando ele respirava animal no meu pescoço<br />
parece ate que dizia...enquanto eu quiser.<br />
Pombinha.<br />
Gatinha.<br />
Bucetinha...<br />
Mas ta tudo bem, tã tudo bem.<br />
Da ate pra cantar, brasil lá Ja lá.<br />
Isto se a gente ganhar.Hoje não precisou trabalhar.<br />
E se a gente ganhar tá tudo bem pro ano que vem<br />
e só se ganhar.<br />
Com este gol do Falcão empata e depois ganha<br />
a classificação.<br />
Ele me explicou num gole de cerveja quando olhou pra<br />
mim.<br />
No intervalo.<br />
E disse e eu ouvi como a virgem dele.Recém-comida<br />
que era deletE ele gostava de um jeito sabor de vitória<br />
que nem a cerveja.<br />
Tâs raladinha nega, bem feito.<br />
Bem feito ujna ova süa idiota.<br />
Eu tenho um pra montar em cima de mim.<br />
E assim mesmo eu me tenho de volta,<br />
secretamente,<br />
nestes momentos,como da hora do jogo e da cerveja,<br />
Tu tá aí com metres de traves abertas (<br />
fria.<br />
E com milhões secando que o centro-avante te foda<br />
com a bola.<br />
Eu tou ardendo-^de solidão presa na garganta<br />
e na^que ele chamou^de dele minha buceta.<br />
Mas e uma solidão ?o minha<br />
e a tua<br />
é de 120 milhões que te querem enprenhada .<br />
No meio da gritaria do gol.<br />
Brasil. ,.11.. .?.l.. .-<br />
Tamos aí e o jogo tá apertado de lascar.<br />
E se perder que jeito ele vai fazer comigo<br />
Acho qu^ vai^ter todas as noites.<br />
Porque ele tá muito querendo,<br />
louco pra casar que tava.<br />
Mas tirando isto tudo vai ser bom.<br />
No começo e difícil<br />
porque a gente não tá acostumada.<br />
Disse a minha mãe,<br />
de noite.<br />
Mas depois a gente ate se acostuma e gosta quando tem<br />
carinho.<br />
Acho que pode ser, e ele e muito bonzinho np resto.<br />
E e muito serio profissional<br />
e vai ser um bom pai»<br />
Vai ser^legal quando tiver um nenê. t<br />
Então tá tudo bem ç o Brasil vou querer que ele ganhe<br />
e a casa tá bem bonita<br />
e eu engulo este choro espremido<br />
no peito<br />
logo logo.<br />
E tu, minha amiga,^vai descansar<br />
No silêncio do estádio vazio<br />
e da televisão apagada.<br />
finalmente.<br />
E eu também vou me esquecer dentro do meu espaço<br />
infinito<br />
de fechar os olhos e esperar que ele acabe<br />
quando vier de noite e for fazer em mim, com raiva<br />
calma e lenta, Brasil ., ,U .. .il. t .U...<br />
TT<br />
\<br />
\<br />
X<br />
N<br />
il"~ N J^<br />
t3 3
DtPÜinLNTODLPOlMLNTODEPOIMENTOOE.POl^í<br />
© mtçú m<br />
mLmmtnm<br />
- O que tu achas de morar na<br />
Casa do Estudante da UFRGS?<br />
- Eu acho uma barra, porque '<br />
todas as pessoas,para quem se fala<br />
que se mora na casa, encaramnos<br />
como prostitutas. Isto sem fa<br />
lar na discriminação dos morado -<br />
res que têm atitudes machistas ao<br />
extremo, como, por exemplo, vir a<br />
te a porta do meu quarto, no meio<br />
da madrugada, e pichar nela-Putas!<br />
)EPOlMLNT0OEP0iMENT0<br />
ôbm H0ME.W, unnM UMâ-HI^L-H-í...<br />
Também sem falar das piadinhas<br />
e os falsos ímpetos de orgasmo '<br />
que eles têm quando nós passamos.<br />
Até os caras do bar não respeitam<br />
de modo algum. Talvez isso tudo '<br />
seja um grande^recalque, pois den<br />
tro da concepção que possuem, to-<br />
da mulher que tem a "falta de éti<br />
ca e moral" para morar junto com""<br />
uma centena de homens, dividindo<br />
corredores e banheiros com eles '<br />
só pode ser uma vadia, uma vaga -<br />
bunda mesmo. O caso é que quando<br />
eles vêem que as coisas não são '<br />
assim, que a gente nem dá bola pa<br />
ra eles, e que ternos coisas mui -<br />
to mais importantes a fazer do '<br />
que corresponder aos seus ataques<br />
eles vêm até minha porta e descar<br />
regam seu spray, numa tentativa ' T<br />
de substituí-lo por um esperma...<br />
Lógico q\xe tem gente muito le<br />
gal aqui, muitos dos moradores, as<br />
senhoras que trabalham na casa, '<br />
limpando o quarto dos maravilhosos<br />
que não podem, como homens, limpar<br />
uma migalha dentro do quarto, quan<br />
to mais arrumar uma cama e, imagi-<br />
nem, lavar sua própria roupa.<br />
Outra barra que nós mulheres '<br />
seguramos, é com os porteiros, que<br />
fazem questão de nos boicotar em '<br />
tudo, não entregam_cartas, nao cha<br />
mam no telefone, não deixam recados<br />
e ainda negam na hora H, depois de<br />
I muito terem conversado com a gente,<br />
que nos conhecem.<br />
Esses dias recebi um telefone-<br />
ma internacional e eles disseram '<br />
que até podiam me conhecer, mas que<br />
como mulher morar lá i ilegal, eles<br />
não me chamariam e desligaram sem<br />
mais . Engolindo tudo isso a seco^ por<br />
que realmente não tenho condições T<br />
de morar em outro lugar por causa '<br />
do maldito dinheiro, ainda dá pra a<br />
char alguns lados positivos. Por e-<br />
xemplo, posso entrar e sair a hora<br />
que quiser, posso trazer amigos,<br />
durmo com meu namorado no meu quar<br />
to e até hoje ninguém se meteu niis<br />
so. A não ser, logicamente, os mo-<br />
radores machistas, que adoram falar<br />
mal de nós, e até inventar históri-<br />
as bem pejorativas, p^ra quebrar a<br />
rotina do papo de aula e futebol...<br />
A própria reitoria boicota as<br />
mulheres quando não permite que,<br />
como em todos os quantos, as senho<br />
ras da limpeza nos deèm limpos len<br />
çóis e papel higiênico. E na hora<br />
de lavar nossas roupas temos que '<br />
esperar que elas vaguem os tanques,<br />
onde lavam a roupa dos simpáticos<br />
rapazes .<br />
Não falando das condições do '<br />
meu quarto, que considerado como i-<br />
nabitado, nao tem trep vidros, tem<br />
uma veneziana completamente estra-<br />
gada, por onde entram o frio e a '<br />
chuva. As paredes estão imundas e<br />
as luzes de cabeceira arrebentadas.
Lembro do debate na Arquitetu<br />
ra onde falávamos como os jovens<br />
transam. Sobre como eles tentam '<br />
encontrar uma alternativa de vida.<br />
E como toda esta procura esta sen<br />
do captada num astral de modismo<br />
ou sendo considerada um desvio in<br />
feliz que a juventude segue, es-<br />
quecendo das "maneiras sadias de<br />
se viver". Uma colega, falando '<br />
das ocas relações familiares, re-<br />
sumiu tri-bem ò sentimento das ca<br />
becas que^não_se conformam com íJS<br />
to^Sei lá, não sei exatamente co<br />
mo quero^viver, só sei o que não<br />
quero. Lá em cais a, meu pai não '<br />
transa mais com. minha mãe, e eu '<br />
durmo do lado do meu irmão que não<br />
tem nada a ver.. Isto eu não quero<br />
prâ mim". E ficar martelando em '<br />
casa, tentando mudar os esquemas,<br />
questionar os conceitos morais que<br />
nos transmitem-. Jizer- pera lá.' '<br />
Quem manda, ou alguém deve mandar?-<br />
leva cada vez piais a se procurar<br />
uma experiência de viver fora de<br />
casa. Numa outra relação de convi<br />
vencia que junte pessoas com os * r<br />
mesmos anseios de negação da faml<br />
lia e que procuram novas formas ' T<br />
de recusar tod^ a repressão, o pa<br />
FINALMENTE , NOSSA RESPOSTA AO ARTIGO DA<br />
REVÍSTA ISTX) E N- OO<br />
COMO<br />
Ê.LES<br />
< TRANSAM<br />
ressucrfa -w^<br />
para Oiue, a partir<br />
ckhojej<br />
(^ família se irahfjbme<br />
& o pai Só/A pe/o meno/<br />
e a mdè j^fa loa/nwi/Do<br />
a terr* - - -<br />
trulhismo, as neuroses e amores possessivos das relações familiares.<br />
"Ne, mãnhe, quero entrar em outra, ser independente, transar a mi-<br />
nha vida. VOu morar com uns amigos...È claro que ainda gosto da senho-<br />
ra.,.". Ê o quê está tentando fazer um grande número de jovens que, '<br />
romperam com as.tradições de só sair de casa para casar ou para estun<br />
dar na; capital. Um movimento espontâneo, que lembra muito as comunida-<br />
des da década de 60.^Mas que trocaram o ar místico de eleitos do mundoj<br />
os da geração de aquários, para a consciência de, pô, temos que se jun<br />
tar para sobreviver. 0 esquema é mais solto, parece impor menos padrões<br />
de conduta ou crença. Parece...juntam-se. Primeiro, por um^mesmo anseio<br />
de independência. Morar fora custa caro - procurar fiador é um saco -<br />
mas compartilhando com outros torna-se possível. E o choque emocional<br />
do cprte do cordão umbilical é mais ameno. Daí em diante a integração<br />
das pessoas cresce afetivamente, na construção de um objetivo comum, e<br />
a formação de uma "nova família" estala aos olhos.<br />
Nao mais umà republica de es-<br />
tudantes, com as loucuras que ire<br />
mos contar prós netos, nem um lar<br />
eterno, fundado no amor também e-<br />
terno. É outra historia e outra '<br />
contradição. Morar num apartamen-<br />
to com mais mei'ã £uzia» ou uma, '<br />
sei lá, de pessoas com atividades<br />
diferentes, ou iguais, numa pers-<br />
pectiva de viver bem enquanto der<br />
pé, não é uma alternativa acabada.<br />
AÍ se entrelaçam relações afeti -<br />
vas e de trabalho? se procura reis<br />
postas ao isolamento» a falta de""<br />
diâloqo,^ã pobreza das relações -<br />
e isto não é fácil- assim como '<br />
qualquer coisa nova, contém os '<br />
resquícios viciados do velho. Há<br />
grande dificuldade de se transar<br />
abertamente. Ê o pai que encarna<br />
na figura dum, no encargo de ser<br />
chato, cobrador de atitudes- "tá<br />
sempre controlando a caixinha".<br />
0 filhinho, tri-irresponsável, •<br />
que nunca lava a louça na pia,que<br />
fica sempre esperando ordens e so<br />
luções-"não sabia que o aluguel<br />
vencia dia 10", ou as traições ma<br />
chistas de esquecer de varrer a ■■<br />
casa, esperando que as guri as o •<br />
façam - e elas fazem.'<br />
15
COMO E-CtS (.NÔ&) TRKNS^M ...<br />
De repente, se tem o espaço<br />
físico para transar, coisa que<br />
não se tinha em casa - os pais po<br />
diam até concordar com sexo antes"<br />
do casamento, mas em casa. Deus<br />
me livrei Não é preciso batalhar<br />
um api de amigo, ou pagar um mo -<br />
tel prã se fazer amor rapidinho.<br />
Temos chance para descobrir uma<br />
nova relação sexual e até uma no-<br />
va maneira de criar os filhos,sem<br />
pais e mães exclusivos.<br />
A individualidade da gente pa<br />
rece num primeiro momento abalada.<br />
P 1 rn-<br />
rv<br />
H<br />
Mas já não se trata daquela indi-<br />
vidualidade que defendemos em ca-<br />
sa, se trancando no banheiro prã<br />
não ouvir sermão. Os amigos, que<br />
em geral tem muito mais a ver com<br />
nossa cabeça, sentem-se no direi-<br />
to de dar palpites e fazer críti-<br />
cas- e aprendemos a transar isto<br />
de outra maneira.<br />
Quebra-se a cabeça, 1unta-se<br />
várias vezes os pedaços. Muitas'<br />
desistências, brigas, confusões.<br />
Dá trabalho viver assim, mas dá<br />
prazer também.<br />
mulher é um anina! de cabelos longos e idéias curtas. Nietzsche<br />
vontade de sucesso na mulher é uma neurose, resultado de um complexo de castração, da<br />
qual ela não se curará a não ser pela total aceitação de seu destino passivo. Freud<br />
uas mulheres são piores que uma.Piauío<br />
s mulheres não são outra coisa que máquinas de produzir filhos. Napoleão<br />
mulher representa uma espécie de etapa intermediária entre os meninos e os homens.<br />
Schopenaauer<br />
^V em todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais. Nelson Rodrigues.<br />
r ma mulher casada é uma escrava que exige ser colocada em um trono. Balzac<br />
ão foi Adão quem se deixou seduzir, mas a mulher que, seduzida, tornou-se culpada<br />
de transgressão. Apesar disso, elaserá salva, na condição de se tornar mãee perseverar com<br />
modéstia na fé, na caridade e na santidade.São Paulo<br />
mulher é um ser ocasional e acidental. São Tomas de Aquino<br />
eminista é uma mulher que só pensa em ser chofer. Milior Fernandes.<br />
sposas, sujeitai-vos a vossos maridos. São Pedro<br />
PKOOJKE. 0 LlBtRT/\ NO DCE-UFR&S -EXTRAíDO DO 3O«M*L ^MULK&WO" N-8