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entre o viajar eo narrar: o olhar viajante de d.pedro ii em minas gerais

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Nesse conceito <strong>de</strong> narrativa estão presentes algumas questões fundamentais no que se<br />

refere à escrita auto-referencial: a organização do <strong>de</strong>scontínuo t<strong>em</strong>poral <strong>em</strong> uma or<strong>de</strong>m<br />

contínua; é no ato <strong>de</strong> <strong>narrar</strong> que a or<strong>de</strong>m dos eventos surge, ou seja, a matéria narrada possui<br />

uma in<strong>de</strong>terminação que é própria da vida humana, quando esta matéria se torna uma narração<br />

ela adquire uma or<strong>de</strong>m. Essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o <strong>de</strong>vir humano está na<br />

orig<strong>em</strong> da necessida<strong>de</strong> da escrita. Para D. Pedro II a viag<strong>em</strong>, com toda sua in<strong>de</strong>terminação<br />

adquire um sentido, adquire uma organização t<strong>em</strong>poral e espacial quando ele, passado tudo<br />

isso, narrava os eventos colocando-os <strong>em</strong> seqüência e construindo assim uma continuida<strong>de</strong>.<br />

A narrativa é uma explicação <strong>de</strong> tipo causal, ela vai criando laços <strong>de</strong> significado <strong>entre</strong><br />

um acontecimento e outro, ela nos fala da influência <strong>de</strong> fatos anteriores <strong>em</strong> fatos posteriores e<br />

para isso ela monta uma configuração, um <strong>de</strong>senho significativo da mudança, da passag<strong>em</strong> do<br />

t<strong>em</strong>po. D. Pedro II escreve <strong>de</strong> maneira esqu<strong>em</strong>ática: não é uma escrita corrida, com<br />

parágrafos e frases gran<strong>de</strong>s e elaboradas, ele vai só pontuando as coisas que fez ao longo do<br />

dia. Escreve muitas vezes a hora e imediatamente, s<strong>em</strong> nenhuma outra palavra, o nome do<br />

local visitado acrescido <strong>de</strong> um adjetivo. Ele monta quadros curtos <strong>de</strong>finindo o que fez e o que<br />

achou das pessoas e dos lugares. São instantân<strong>eo</strong>s parciais dos vários momentos da viag<strong>em</strong>.<br />

Vejamos uma passag<strong>em</strong> b<strong>em</strong> ilustrativa <strong>de</strong>sses quadros instantân<strong>eo</strong>s:<br />

[...] 11 h 5’. Vê-se a ponte. Chegamos às 11 ¼. Almoço e pouco <strong>de</strong>pois conversei<br />

com o dr. Mo<strong>de</strong>stino Franco que julga que a estrada <strong>de</strong> ferro <strong>de</strong>ve ir até a foz do<br />

Paraúna. Partida às 12 ½. 1 h 5’. Lugar das estacas resto <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong><br />

mineração. Vamos <strong>de</strong>vagar porque o barco po<strong>de</strong> bater. Ficar perto do lugar<br />

chamado Carreira-Comprida. 1 h 25’. Defronte casa da fazenda da Carreira-<br />

Comprida. 1 ½ acabou a estacada. 2 h 12’. Ponta <strong>de</strong> areia que se adianta da<br />

marg<strong>em</strong> esquerda no lugar Taquaras. 2 h 4’. Passou-se a ilha das Taquaras que t<strong>em</strong><br />

seu comprimento. 2 ¾. Marg<strong>em</strong> direita fazenda <strong>de</strong> Joaquim Moreira das pedras. O<br />

rio é aqui bastante fundo. 3 h 5’ Ribeirão da Mata. 3 h. Muitas macaúbas<br />

(acrocomia selerocarpa). Mat. St. Hilaire — Voyages dans les provinces <strong>de</strong> Rio<br />

etc., 1 ère partie vol. 2 pág. 377. 3 h 35’. Passamos por <strong>de</strong>fronte da casa do engenho<br />

<strong>de</strong> cana do major Fre<strong>de</strong>rico Dolabella, Encerra-bo<strong>de</strong>s, irmão do dr. Mo<strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />

Sta. Luzia. 4 h. Avista-se a serra da Pieda<strong>de</strong> do lado para on<strong>de</strong> o rio corre [..] 2 .<br />

É uma escrita impressionista: ele pincela os quadros <strong>de</strong> maneira rápida e com poucas<br />

cores e, mais, parece não ter muito t<strong>em</strong>po a per<strong>de</strong>r com a escrita, escreve rápido resumindo os<br />

eventos a poucas palavras, ele corre com a escrita tal como correu na viag<strong>em</strong>. Sobrava-lhe<br />

muito pouco t<strong>em</strong>po para esses afazeres mais pessoais. Normalmente o t<strong>em</strong>po para suas notas<br />

2 BEDIAGA, B. (org). Diário do Imperador D. Pedro II. Petrópolis: Museu Imperial, vol. 24, 1999, p. 46-48 do<br />

manuscrito.

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