As Tribos Urbanas as de Ontem até às de Hoje - Repositório ...
As Tribos Urbanas as de Ontem até às de Hoje - Repositório ...
As Tribos Urbanas as de Ontem até às de Hoje - Repositório ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
RESUMO<br />
<strong>As</strong> tribos urban<strong>as</strong> surgiram como<br />
um refl exo da globalização d<strong>as</strong> socieda<strong>de</strong>s<br />
mo<strong>de</strong>rn<strong>as</strong>. Jovens, numa vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se diferenciarem m<strong>as</strong> também <strong>de</strong> se<br />
i<strong>de</strong>ntifi carem, reúnem-se em grupos partilhando<br />
os mesmos i<strong>de</strong>ais e gostos. Algum<strong>as</strong><br />
particularida<strong>de</strong>s comportamentais<br />
e estétic<strong>as</strong> permitem a sua i<strong>de</strong>ntifi cação.<br />
Uma boa comunicação e a não estigmatização<br />
do jovem po<strong>de</strong> ser a chave<br />
para uma boa relação médico-doente<br />
com uma melhor compliance comportamental<br />
ou terapêutica. Aborda-se algum<strong>as</strong><br />
d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> mais típic<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />
“tribos” dos di<strong>as</strong> <strong>de</strong> hoje alertando-se<br />
para alguns dos riscos mais provavelmente<br />
<strong>as</strong>sociados.<br />
N<strong>as</strong>cer e Crescer 2009; 18(3): 209-214<br />
INTRODUÇÃO<br />
Des<strong>de</strong> tempos remotos que a população<br />
se organiza em tribos, ie, grupos<br />
coesos com indumentári<strong>as</strong> e hábitos semelhantes.<br />
Nos povos indígen<strong>as</strong> o termo tribo<br />
traduzia alianç<strong>as</strong> entre clãs, al<strong>de</strong>i<strong>as</strong> ou<br />
povoações; era um tipo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> organizada<br />
com partilha e distribuição dos<br />
papéis, que permitia <strong>de</strong> uma forma mais<br />
efi caz a satisfação d<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s básic<strong>as</strong><br />
como <strong>as</strong> da alimentação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />
pessoal.<br />
<strong>As</strong> socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje ten<strong>de</strong>m<br />
para a globalização com uniformização<br />
e individualismo dos seus elementos. O<br />
conceito <strong>de</strong> “tribo urbana” surge pela<br />
__________<br />
1 Serviço <strong>de</strong> Pediatria do HS António - CHP<br />
2 Serviço <strong>de</strong> Pediatria do CH Alto Minho<br />
<strong>As</strong> <strong>Tribos</strong> <strong>Urban<strong>as</strong></strong><br />
<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Ontem</strong> <strong>até</strong> <strong>às</strong> <strong>de</strong> <strong>Hoje</strong><br />
primeira vez em 1985 com o sociólogo<br />
Michel Maffesoli, referindo-se à criação<br />
<strong>de</strong> pequenos grupos cujos elementos se<br />
unem por partilharem os mesmos princípios,<br />
i<strong>de</strong>ais, gostos musicais ou estéticos<br />
que <strong>as</strong>sumem a sua máxima expressão e<br />
visibilida<strong>de</strong> na adolescência. Est<strong>as</strong> tribos<br />
surgiram num esforço <strong>de</strong> diferenciação<br />
dos jovens e evocam particularida<strong>de</strong>s<br />
que <strong>as</strong> distinguem do resto da socieda<strong>de</strong><br />
e que <strong>as</strong> i<strong>de</strong>ntifi cam.<br />
A pertença a um <strong>de</strong>stes grupos po<strong>de</strong><br />
ser positiva na estruturação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
pessoal ao reforçar sentimentos <strong>de</strong><br />
exclusivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> protecção, <strong>de</strong> tolerância<br />
e <strong>de</strong> partilha com os pares. Infelizmente,<br />
algum<strong>as</strong> tribos são temid<strong>as</strong> pelos<br />
comportamentos violentos, habitualmente<br />
<strong>as</strong>sociados a uma baixa tolerância do<br />
“diferente” - homossociabilida<strong>de</strong>.<br />
Apesar da <strong>de</strong>fi nição algo rigorosa<br />
<strong>de</strong> tribo verifi ca-se que, actualmente, a<br />
maioria dos jovens apen<strong>as</strong> se apropria,<br />
momentaneamente e sem compromisso,<br />
<strong>de</strong> elementos estéticos <strong>de</strong> algum<strong>as</strong> <strong>de</strong>l<strong>as</strong>,<br />
não sendo frequentes os que seguem a<br />
preceito os seus códigos. A transição”<br />
entre tribos habitualmente é pacífi ca, no<br />
entanto entre tribos rivais” po<strong>de</strong> estar<br />
<strong>as</strong>sociada a violência.<br />
Pensamos ser importante para o<br />
Pediatra que lida com adolescentes ter<br />
noção <strong>de</strong>ste tema ao permitir uma melhor<br />
compreensão dos valores que regem <strong>as</strong><br />
su<strong>as</strong> atitu<strong>de</strong>s e, simultaneamente, alertar<br />
para possíveis comportamentos <strong>de</strong> risco<br />
<strong>as</strong>sociados. Nesta faixa etária, uma boa<br />
relação médico-paciente é essencial para<br />
a a<strong>de</strong>são e sucesso da consulta, facilitada<br />
possivelmente se o profi ssional conhecer<br />
alguns dos <strong>as</strong>pectos do “mundo”<br />
do adolescente.<br />
Apresentam-se <strong>as</strong>pectos caracterizadores<br />
<strong>de</strong> algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> “tribos<br />
NASCER E CRESCER<br />
revista do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
ano 2009, vol XVIII, n.º 3<br />
Helena Sofi a Martins <strong>de</strong> Sousa 1 , Paula Fonseca 2<br />
urban<strong>as</strong>”, um<strong>as</strong> mais recentes que outr<strong>as</strong>,<br />
m<strong>as</strong> tod<strong>as</strong> com signifi cado nos di<strong>as</strong><br />
<strong>de</strong> hoje. Com algum humor à mistura<br />
conseguem i<strong>de</strong>ntifi car muitos dos vossos<br />
adolescentes (e não só ) conhecidos!<br />
DESCRIÇÃO DAS TRIBOS<br />
Hippies<br />
Os hippies surgiram no fi nal da década<br />
<strong>de</strong> 1960 a partir do movimento fl o -<br />
wer power em São Francisco, nos EUA,<br />
enquanto <strong>de</strong>corria a guerra do Vietname.<br />
Este foi um movimento <strong>de</strong> “contracultura”<br />
que <strong>de</strong>fendia um modo <strong>de</strong> vida<br />
comunitário e abraçava <strong>as</strong>pectos <strong>de</strong> religiões<br />
como o budismo e o hinduísmo.<br />
Opunha-se ao capitalismo, ao nacionalismo<br />
e à guerra, nomeadamente à do<br />
Vietname. O lema peace and love englobava<br />
uma nova ética que <strong>de</strong>fendia a<br />
paz e a abolição d<strong>as</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
todo o tipo (sexuais, raciais, étnic<strong>as</strong> ou<br />
religios<strong>as</strong>).<br />
Facilmente i<strong>de</strong>ntifi cáveis pelo seu<br />
sentido estético, que privilegia a cor, os<br />
hippies usavam cabelos muito compridos,<br />
roupa informal e colorida, calç<strong>as</strong> ao boca<strong>de</strong>-sino<br />
e sapatos com sol<strong>as</strong> muito alt<strong>as</strong><br />
(fi gura 1). Enfeitavam-se com fl ores, a<br />
fazer lembrar a <strong>de</strong>signação do seu movimento.<br />
Em termos musicais, Janis Joplin,<br />
Pink Floyd, Jimi Hendrix, eram algum<strong>as</strong><br />
adolescência – <strong>de</strong>safi os actuais – mesa redonda<br />
XXI reunião do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia S 209
NASCER E CRESCER<br />
revista do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
ano 2009, vol XVIII, n.º 3<br />
d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong>. Os hippies eram<br />
também <strong>as</strong>sociados ao uso <strong>de</strong> drog<strong>as</strong><br />
como marijuana, haxixe e alucinogéneos<br />
como o LSD, já o tabaco era consi<strong>de</strong>rado<br />
prejudicial...<br />
Apesar do movimento hippie ser<br />
muito característico dos anos 60 e 70, a<br />
verda<strong>de</strong> é que o espírito do fl ower power<br />
e a sua estética conseguiu atravessar gerações<br />
e chegar aos di<strong>as</strong> <strong>de</strong> hoje (com<br />
roup<strong>as</strong> “roubad<strong>as</strong>” dos baús dos progenitores!).<br />
Hip-Hop<br />
Movimento cultural que emergiu nos<br />
subúrbios pobres, negros e latinos, dos<br />
EUA (NY), no fi nal da década <strong>de</strong> 60, surgiu<br />
como forma <strong>de</strong> reacção aos confl itos<br />
sociais e à violência sofrida pel<strong>as</strong> cl<strong>as</strong>ses<br />
urban<strong>as</strong> mais <strong>de</strong>sfavorecid<strong>as</strong> da época.<br />
Uma espécie <strong>de</strong> “cultura d<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>”, um<br />
movimento <strong>de</strong> reivindicação traduzido<br />
numa música com letr<strong>as</strong> questionador<strong>as</strong><br />
e agressiv<strong>as</strong> com ritmo forte e intenso e<br />
n<strong>as</strong> imagens grafi tad<strong>as</strong>. Como movimento<br />
cultural é composto por quatro expressões<br />
artístic<strong>as</strong>: a música rap (rythm and<br />
poetry) (hip-hop po<strong>de</strong> ser usado como<br />
sinónimo <strong>de</strong> rap), a instrumentação dos<br />
DJs (disco-jockey), a dança break dance<br />
e a pintura do grafi tti. O grafi tti representa<br />
<strong>de</strong>senhos, apelidos ou mensagens sobre<br />
qualquer <strong>as</strong>sunto pintados em muros e<br />
pare<strong>de</strong>s, sendo usado como forma <strong>de</strong><br />
expressão e <strong>de</strong>núncia.<br />
Os jovens encontraram ness<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />
form<strong>as</strong> <strong>de</strong> arte uma forma <strong>de</strong> canalizar<br />
a violência em que se encontravam<br />
submersos, começando a competir com<br />
p<strong>as</strong>sos <strong>de</strong> break dance e rim<strong>as</strong> em substituição<br />
d<strong>as</strong> arm<strong>as</strong>. Apesar <strong>de</strong> ter emergido<br />
dum meio hostil o hip-hop veio-se a revelar<br />
uma ferramenta <strong>de</strong> integração social e<br />
<strong>de</strong> combate ao racismo e à violência.<br />
adolescência – <strong>de</strong>safi os actuais – mesa redonda<br />
S 210 XXI reunião do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
<strong>As</strong>sim como nos outros países, o<br />
movimento hip-hop em Portugal ultrap<strong>as</strong>sou<br />
barreir<strong>as</strong> raciais, sociais e culturais.<br />
Ainda que o movimento tenha maior expressão<br />
nos bairros e zon<strong>as</strong> menos favorecid<strong>as</strong>,<br />
a sua música e dança é apreciada<br />
pela generalida<strong>de</strong> dos jovens.<br />
São facilmente reconhecidos (Figura<br />
2), usam calç<strong>as</strong> larg<strong>as</strong> - para permitir<br />
maior amplitu<strong>de</strong> aos movimentos e um<br />
melhor efeito visual à dança - bonés <strong>de</strong><br />
pala ao lado e ténis com atacadores <strong>de</strong><br />
cores fl uorescentes...<br />
Skinheads<br />
Apesar <strong>de</strong> actualmente serem <strong>as</strong>sociados<br />
a polític<strong>as</strong> <strong>de</strong> extrema-direita e a<br />
sentimentos nacionalist<strong>as</strong>, xenófobos e<br />
racist<strong>as</strong>, estes <strong>as</strong>pectos em nada coincidirão<br />
com os skinheads iniciais. A origem<br />
do movimento skinhead remonta aos fi -<br />
nais da década <strong>de</strong> 1960 quando grupos<br />
<strong>de</strong> jovens, brancos e negros, oriundos<br />
do proletariado suburbano londrino começaram<br />
a organizar-se em grupos que,<br />
para além do visual (roup<strong>as</strong> particulares<br />
e cabelo muito curto), partilhavam os<br />
mesmos gostos musicais (ska e reggae),<br />
<strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> território e <strong>de</strong> paixão pelo<br />
futebol.<br />
Os skinheads ganharam notorieda<strong>de</strong><br />
por promoverem confrontos nos estádios<br />
<strong>de</strong> futebol (hooliganismo) e, alguns<br />
<strong>de</strong>les, por usarem a violência contra algum<strong>as</strong><br />
minori<strong>as</strong> étnic<strong>as</strong> e homossexuais.<br />
A conotação política <strong>de</strong> extremadireita<br />
surge com o aproveitamento que<br />
a Frente Nacional fez do movimento, aliciando<br />
para a sua causa alguns skins e<br />
punks. <strong>As</strong>sim surgem os skinheads nazis,<br />
também conhecidos como boneheads,<br />
nos quais <strong>as</strong> juventu<strong>de</strong>s f<strong>as</strong>cist<strong>as</strong><br />
se revêem. Declínio do movimento após<br />
a década <strong>de</strong> 80, com fragmentação dos<br />
skinheads em vários sub-movimentos rivais<br />
com i<strong>de</strong>ologi<strong>as</strong> divergentes, que se<br />
confrontam i<strong>de</strong>ológica e fi sicamente!<br />
Os skinheads apresentam um visual<br />
comum que refl ecte, em parte, a indumentária<br />
operária da Inglaterra <strong>de</strong> 1960:<br />
cabeça rapada, blusões com remendos<br />
e crachás, calç<strong>as</strong> <strong>de</strong> ganga com dobra,<br />
suspensórios e bot<strong>as</strong> <strong>de</strong> biqueira <strong>de</strong> aço<br />
(fi gura 3).<br />
Punks<br />
O movimento punk surgiu como uma<br />
manifestação cultural juvenil com origem<br />
em Londres em meados dos anos 70.<br />
Com início num estilo <strong>de</strong> música –<br />
Punk Rock com band<strong>as</strong> como Os Ramones<br />
e os Sex Pistols - o movimento esten<strong>de</strong>u-se<br />
a comportamentos e uma estética<br />
própria. Os elementos <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> band<strong>as</strong>,<br />
imaginativos e provocadores, usavam suástic<strong>as</strong><br />
e outros símbolos nazi-f<strong>as</strong>cist<strong>as</strong>,<br />
<strong>as</strong>sim como símbolos comunist<strong>as</strong> num<br />
<strong>de</strong>safi o agressivo aos valores políticos,<br />
morais e culturais. A música punk tradicional<br />
apresentava um conteúdo agressivo<br />
<strong>de</strong> crítica social; o seu formato <strong>de</strong> 3<br />
acor<strong>de</strong>s era muito simples po<strong>de</strong>ndo ser<br />
facilmente tocada, o que estimulou na<br />
época vários jovens a criarem band<strong>as</strong>.<br />
Os comportamentos dos seus elementos,<br />
pautados pelo sarc<strong>as</strong>mo, gosto<br />
pelo ofensivo, crítica social, <strong>de</strong>sprezo
pel<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ologi<strong>as</strong> (polític<strong>as</strong> ou morais) e<br />
pel<strong>as</strong> li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong> <strong>as</strong>sumiam uma atitu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ruptura face à socieda<strong>de</strong>. Valorizavam<br />
a liberda<strong>de</strong> individual, a autonomia e o<br />
“faça-você-mesmo” com reutilização <strong>de</strong><br />
roup<strong>as</strong> e objectos.<br />
Tanto a música punk, como o visual<br />
dos seus a<strong>de</strong>ptos - <strong>de</strong>liberadamente<br />
contr<strong>as</strong>tante com a moda vigente e por<br />
vezes ofensivo - são os <strong>as</strong>pectos mais<br />
característicos e evi<strong>de</strong>ntes do punk, e<br />
refl ectem bem o espírito anti-sistema.<br />
O termo moda não é bem aceite neste<br />
grupo já que <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> “comércio, aparência,<br />
aceitação social”. Há que usar<br />
o termo estilo ou visual para se referir<br />
à roupa como “afi rmação pessoal”. O<br />
estilo punk po<strong>de</strong> ser reconhecido pela<br />
combinação <strong>de</strong> jeans r<strong>as</strong>gad<strong>as</strong> ou calç<strong>as</strong><br />
pret<strong>as</strong> just<strong>as</strong>, t-shirts <strong>de</strong> band<strong>as</strong><br />
musicais, cabelo colorido à moicano ou<br />
espetado em crista e acessórios como<br />
brincos, pulseir<strong>as</strong> ou colares <strong>de</strong> picos,<br />
ca<strong>de</strong>ados, alfi netes-<strong>de</strong>-ama e correntes<br />
metálic<strong>as</strong> (fi gura 4).<br />
Existem vários sub-grupos punk <strong>as</strong>sociados<br />
à emergência <strong>de</strong> novos sub-géneros<br />
musicais e infl uênci<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ológic<strong>as</strong><br />
que po<strong>de</strong>m apresentar algum<strong>as</strong> variações<br />
no visual. Inclusivamente, é referido<br />
que o vestuário (roupa e acessórios e sua<br />
combinação) é o factor <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante<br />
da maioria d<strong>as</strong> agressões entre gangues,<br />
membros <strong>de</strong> grupos divergentes do movimento<br />
punk!<br />
Góticos<br />
O movimento cultural gótico teve<br />
início no Reino Unido no fi nal da década<br />
<strong>de</strong> 1970. A subcultura gótica está <strong>as</strong>sociada<br />
a um estilo <strong>de</strong> vida caracterizado<br />
pelos gostos musicais e estéticos e por<br />
um pensamento fi losófi co.<br />
Os góticos distinguem-se d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong><br />
tribos urban<strong>as</strong> pela sua estética obscura<br />
que representa sentimentos <strong>de</strong> “apego ao<br />
nada”, uma falta <strong>de</strong> esperança, um luto<br />
pela situação da humanida<strong>de</strong>. Rapazes e<br />
raparig<strong>as</strong> vestem <strong>de</strong> preto, usam maquilhagem<br />
escura e cabelos lisos, escuros,<br />
compridos e <strong>de</strong>salinhados (fi gura 5).<br />
I<strong>de</strong>ntifi cam-se com a música que<br />
ouvem – o gótico – pautada por sons<br />
que refl ectem situações <strong>de</strong> angústia e<br />
tem<strong>as</strong> que glamourizam a <strong>de</strong>cadência<br />
e o lado sombrio. Pensamentos sobre a<br />
morte e auto-mutilação, como forma <strong>de</strong><br />
expulsar a dor interior, são referidos. De<br />
entre <strong>as</strong> inúmer<strong>as</strong> band<strong>as</strong>/intérpretes<br />
que fazem parte d<strong>as</strong> preferênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>sta<br />
tribo referem-se: Bauhaus, Gene Loves<br />
Jezabel, HIM, Nick Cave and the Bad Seeds,<br />
Paradise Lost, The Cult, The Sisters<br />
of Mercy.<br />
Os elementos <strong>de</strong>sta tribo surgem<br />
pela noite <strong>de</strong>ntro frequentando locais “excêntricos”<br />
(exº cemitérios), tendo alguns<br />
a<strong>de</strong>ptos da wicca (bruxaria) e satanismo.<br />
A referir no entanto que, para a<br />
maioria dos integrantes, o movimento<br />
gótico será fundamentalmente um gosto<br />
musical e uma maneira específi ca <strong>de</strong> se<br />
vestir, sem gran<strong>de</strong>s envolvimentos intelectuais<br />
ou fi losófi cos.<br />
R<strong>as</strong>ta ou R<strong>as</strong>taffari<br />
O movimento R<strong>as</strong>tafari teve origem<br />
no povo da Jamaica no início dos anos<br />
30. É um movimento religioso que proclama<br />
Hailê Sel<strong>as</strong>siê, imperador da Etiópia<br />
como a representação terrena <strong>de</strong> Jah<br />
(Deus). O objectivo era recuperar o modo<br />
<strong>de</strong> vida africano (afrocentrismo), através<br />
da proximida<strong>de</strong> com a natureza e da subsistência<br />
com os recursos naturais. Este<br />
movimento espalhou-se pelo mundo através<br />
do reggae, graç<strong>as</strong> à popularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Bob Marley.<br />
NASCER E CRESCER<br />
revista do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
ano 2009, vol XVIII, n.º 3<br />
A aproximação com a natureza africana<br />
é representada pelo visual (fi gura<br />
6) - dreadlocks (canudos) no cabelo, roup<strong>as</strong><br />
leves e <strong>de</strong>scontraíd<strong>as</strong>, pés <strong>de</strong>scalços<br />
ou com sandáli<strong>as</strong> <strong>de</strong> tir<strong>as</strong> – e pelos<br />
comportamentos – contra <strong>as</strong> alterações<br />
da imagem corporal, vegetarianos, ambientalist<strong>as</strong><br />
e anti-consumist<strong>as</strong>. Por estes<br />
princípios muitos escolhem viver longe<br />
da civilização.<br />
Betos e bet<strong>as</strong><br />
Esta tribo caracteriza-se por viver<br />
em função da marca e da moda. Normalmente<br />
está <strong>as</strong>sociada a bo<strong>as</strong> condições<br />
fi nanceir<strong>as</strong>, já que <strong>as</strong> roup<strong>as</strong> e os acessórios<br />
<strong>de</strong> marca po<strong>de</strong>m ser caros.<br />
adolescência – <strong>de</strong>safi os actuais – mesa redonda<br />
XXI reunião do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia S 211
NASCER E CRESCER<br />
revista do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
ano 2009, vol XVIII, n.º 3<br />
Os rapazes (“betos”) calçam sapatos<br />
<strong>de</strong> vela ou moc<strong>as</strong>sins, usam calç<strong>as</strong><br />
<strong>de</strong> ganga ou <strong>de</strong> corte clássico, camisa<br />
<strong>às</strong> risc<strong>as</strong> ou aos quadradinhos por <strong>de</strong>ntro<br />
d<strong>as</strong> calç<strong>as</strong> e cinto a combinar com<br />
os sapatos. Nos di<strong>as</strong> frescos usam uma<br />
camisola <strong>de</strong> lã sobre <strong>as</strong> cost<strong>as</strong>, com <strong>as</strong><br />
mang<strong>as</strong> a p<strong>as</strong>sarem pelos ombros e a<br />
dar nó à frente (fi gura 7).<br />
<strong>As</strong> raparig<strong>as</strong> (“bet<strong>as</strong>”) normalmente<br />
são loir<strong>as</strong> e usam muitos acessórios (argol<strong>as</strong><br />
gran<strong>de</strong>s, pulseir<strong>as</strong> tipo escrav<strong>as</strong>),<br />
blus<strong>as</strong> ou pólos <strong>às</strong> risc<strong>as</strong> e bot<strong>as</strong> bicud<strong>as</strong><br />
<strong>de</strong> tacão/salto alto. <strong>As</strong> calç<strong>as</strong>, po<strong>de</strong>m ser<br />
<strong>de</strong> ganga, just<strong>as</strong> ou “à boca-<strong>de</strong>-sino” (fi -<br />
gura 8).<br />
Clubbers<br />
Os clubbers são uma d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong><br />
tribos do século XXI. Surgiram em Londres<br />
do clubbing, ie, frequência <strong>as</strong>sídua<br />
<strong>de</strong> discotec<strong>as</strong> (clubs) on<strong>de</strong> se ouve música<br />
house, techno, trance, un<strong>de</strong>rground,<br />
drum n’b<strong>as</strong>s Esta tribo não está <strong>as</strong>sociados<br />
a i<strong>de</strong>ologi<strong>as</strong> nem a polític<strong>as</strong>. O que<br />
adolescência – <strong>de</strong>safi os actuais – mesa redonda<br />
S 212 XXI reunião do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
os move e os une é a paixão pela música<br />
<strong>de</strong> dança e pelo ambiente da noite. Para<br />
esta tribo o DJ é a estrela da noite, um<br />
ídolo que veneram!<br />
Algum<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> diferenciam-nos<br />
dos outros “noctívagos”, quer<br />
pelo <strong>as</strong>pecto extravagante (fi gura 9)<br />
- com roup<strong>as</strong> irreverentes, <strong>de</strong> cores viv<strong>as</strong><br />
e brilhantes, acessórios ousados e<br />
penteados excêntricos com cabelos coloridos<br />
- quer pela atitu<strong>de</strong>, já que não<br />
vão para “engatar miúd<strong>as</strong>” ou “beber<br />
copos” m<strong>as</strong> sim para cumprir o ritual <strong>de</strong><br />
ir “ouvir o seu som”. Os clubbers têm<br />
como ponto <strong>de</strong> encontro <strong>as</strong> raves on<strong>de</strong>,<br />
por vezes, o consumo <strong>de</strong> drog<strong>as</strong> como<br />
o Ext<strong>as</strong>ie lhes permite dançar 24 hor<strong>as</strong><br />
seguid<strong>as</strong> ...<br />
Dreads<br />
Os dreads foram uma d<strong>as</strong> tribos urban<strong>as</strong><br />
mais em voga nos últimos anos.<br />
<strong>As</strong> roup<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ntifi cam-nos, calç<strong>as</strong><br />
muito larg<strong>as</strong> (vários tamanhos acima)<br />
com gran<strong>de</strong>s bolsos e <strong>de</strong>scaíd<strong>as</strong> na<br />
cintura a mostrar os boxers. <strong>As</strong> t-shirts<br />
também são larg<strong>as</strong> e por fora d<strong>as</strong> calç<strong>as</strong>.<br />
Usam gorro ou boné (virado ao<br />
contrário), cabelo (qu<strong>as</strong>e sempre) curto<br />
que <strong>de</strong>ixa ver o brinco ou piercings (fi -<br />
gura 10).<br />
<strong>As</strong> menin<strong>as</strong> dreads usam calç<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />
cinta <strong>de</strong>scid<strong>as</strong> e larg<strong>as</strong>, camisol<strong>as</strong> just<strong>as</strong><br />
ou “tops” e acessórios (argol<strong>as</strong>, pulseir<strong>as</strong>)<br />
seguindo o estilo da musa JLo.<br />
Os dreads estão <strong>as</strong>sociados à prática<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sportos radicais, são frequentes<br />
os skaters, snowboar<strong>de</strong>rs, bikers (ie, praticantes<br />
<strong>de</strong> skateboarding, snowboarding<br />
ou BMX, respectivamente) ou <strong>até</strong> surfi st<strong>as</strong><br />
com este tipo <strong>de</strong> indumentária. Habitualmente<br />
circulam em gran<strong>de</strong>s grupos e<br />
não são violentos.<br />
Nerd<br />
Nerd é um termo <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> Northern<br />
Electric Research and Development<br />
(pesso<strong>as</strong> que trabalhavam árdua e “ininterruptamente”<br />
num laboratório <strong>de</strong> tecnologia<br />
), <strong>de</strong>screve alguém com difi culda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> integração social e que, no entanto,<br />
nutre gran<strong>de</strong> f<strong>as</strong>cínio por conhecimento<br />
ou tecnologia. Existe uma forte correlação<br />
inversa entre ser nerd e ser popular. O<br />
termo nerd e seus “subgrupos” são também<br />
utilizados por <strong>de</strong>terminados grupos<br />
relacionados a interesses específi cos (exº<br />
tecnologia e informática; jogos <strong>de</strong> computador;<br />
fãs do Star Treck/Star Wars ). Apesar<br />
<strong>de</strong> ser estereotipada na comunicação<br />
social, é uma tribo que po<strong>de</strong> ser difícil <strong>de</strong><br />
“reconhecer” já que não tem um padrão<br />
próprio <strong>de</strong> vestuário (fi gura 11).<br />
Os seus elementos, quando inseridos<br />
no “seu ambiente”, são muito sociáveis.<br />
Surfi st<strong>as</strong><br />
Os surfi st<strong>as</strong> são loiros (pela parafi -<br />
na e pelo sol) e bronzeados durante todo<br />
o ano. Apesar do estereótipo do surfi sta<br />
o <strong>as</strong>sociar a alguém que, ainda que bonito,<br />
pouc<strong>as</strong> mais preocupações tem para<br />
além d<strong>as</strong> ond<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> raparig<strong>as</strong>; actualmente<br />
o surfi sta tem sido mais reconhecido<br />
como um jovem com gosto pela natureza<br />
e pela vida saudável. Alguns, apesar<br />
<strong>de</strong> não praticarem surf, partilham o espírito<br />
da tribo e a ela pertencem. Vestem<br />
roup<strong>as</strong> <strong>de</strong> marca Billabong ® e O’Neill ®<br />
(calç<strong>as</strong> ou calções largos e t-shirts com<br />
padrão havaiano) e usam óculos escuros<br />
(fi gura 12). No verão não largam <strong>as</strong><br />
havaian<strong>as</strong>, que substituem por calçado<br />
<strong>de</strong>sportivo durante o Inverno.
<strong>As</strong> raparig<strong>as</strong> também são loir<strong>as</strong> e<br />
bronzead<strong>as</strong>. Raramente praticam surf,<br />
m<strong>as</strong> têm namorados surfi st<strong>as</strong>, o que <strong>as</strong><br />
faz dominar toda a linguagem e código da<br />
tribo. O vestuário também é Billabong ® e<br />
O’Neill ® , com sai<strong>as</strong> curt<strong>as</strong>, calções ou<br />
calç<strong>as</strong> com padrão havaiano, tops ou camisol<strong>as</strong><br />
just<strong>as</strong> e havaian<strong>as</strong> nos pés.<br />
Vegans<br />
Veganismo refere-se a uma fi losofi a<br />
e estilo <strong>de</strong> vida que procura excluir o uso<br />
<strong>de</strong> animais para comid<strong>as</strong>, roup<strong>as</strong> ou outros<br />
propósitos. <strong>As</strong> razões habituais pren<strong>de</strong>m-se<br />
com princípios morais e éticos<br />
<strong>de</strong> protecção dos direitos dos “animais<br />
não-humanos”, preocupação com a saú<strong>de</strong><br />
e ambiente, ou por motivos religiosos<br />
e espirituais.<br />
Vegan <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> vegetarian, e é<br />
<strong>de</strong>fi nida por uma dieta vegetariana estrita,<br />
on<strong>de</strong> é excluída a carne, o peixe, os<br />
ovos, os produtos lácteos bem como o<br />
mel, a gelatina, a c<strong>as</strong>eína, <strong>as</strong> peles, a lã<br />
e a seda (fi gura 13).<br />
O seu estilo <strong>de</strong> vida compreen<strong>de</strong>,<br />
para além do padrão alimentar vegetariano,<br />
a protecção dos direitos dos animais<br />
e o pacifi smo, opondo-se a todos os tipos<br />
<strong>de</strong> activida<strong>de</strong> agressiva.<br />
Estima-se que seja uma tribo com<br />
nº crescente <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ptos e que a faixa<br />
etária mais representada esteja entre os<br />
16 e os 29 anos.<br />
Emos<br />
Emo (abreviação <strong>de</strong> emotional) é<br />
um estilo <strong>de</strong> música <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte do<br />
hardcore.<br />
Os seus primórdios remontam a meados<br />
dos anos 80, nos EUA, com band<strong>as</strong><br />
“emocore”, um hardcore com andamento<br />
mais lento e com letr<strong>as</strong> mais introspectiv<strong>as</strong>.<br />
O género estabeleceu-se “<strong>de</strong>fi nitivamente”<br />
(tanto quanto uma tribo urbana<br />
o permite ) no início do século XXI com<br />
imensos adolescentes a a<strong>de</strong>rirem. <strong>As</strong><br />
músic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> band<strong>as</strong> emo – My Chemical<br />
Romance, Alesana … - têm letr<strong>as</strong> tristes<br />
e abordam problem<strong>as</strong>, com os quais os<br />
fãs se i<strong>de</strong>ntifi cam.<br />
A cultura emo engloba não só um<br />
estilo <strong>de</strong> música, m<strong>as</strong> também um comportamento<br />
e <strong>as</strong>pectos estéticos muito<br />
interessantes que “tocam” em vári<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />
tribos previamente <strong>de</strong>scrit<strong>as</strong> (punks, góticos<br />
e hippies).<br />
Com ida<strong>de</strong>s compreendid<strong>as</strong> entre os<br />
11 e os 18 anos, o seu estado <strong>de</strong> espírito<br />
é habitualmente triste e melancólico, sendo<br />
alguns dos seus elementos apontados<br />
como tendo alguma atracção pela automutilação<br />
e pelo suicídio, uma forma <strong>de</strong><br />
NASCER E CRESCER<br />
revista do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
ano 2009, vol XVIII, n.º 3<br />
fazer acompanhar a dor psicológica com<br />
a física. São também muito sensíveis,<br />
carinhosos e extremamente emotivos<br />
expressando facilmente <strong>as</strong> emoções. Livres<br />
<strong>de</strong> preconceitos, pregam a liberda<strong>de</strong><br />
sexual sendo frequentemente referidos<br />
como bissexuais. São contra a violência<br />
e <strong>as</strong> drog<strong>as</strong>.<br />
O seu estilo é inconfundível e relativamente<br />
indiferente para ambos os sexos<br />
(o que po<strong>de</strong> tornar difícil a i<strong>de</strong>ntifi cação<br />
do género): cabelo escuro esticado<br />
com risca ao lado, com franj<strong>as</strong> <strong>as</strong>simétric<strong>as</strong>,<br />
por vezes colorid<strong>as</strong> que escon<strong>de</strong>m<br />
um olho. Maquilhagem muito marcada<br />
nos olhos, roupa preta com calç<strong>as</strong> just<strong>as</strong>,<br />
ténis All Star ® e vários acessórios piercings,<br />
pulseir<strong>as</strong>, mochil<strong>as</strong> a tira-colo com<br />
imensos pins (fi gura 14). Unh<strong>as</strong> pintad<strong>as</strong><br />
<strong>de</strong> preto e uma lágrima sempre pronta<br />
são elementos indispensáveis!<br />
Uma categoria, os “Emo Fruits” são<br />
muito coloridos e habitualmente mais alegres.<br />
Plocs<br />
Uma d<strong>as</strong> tribos mais recentes do<br />
século XXI, com origem no Japão, m<strong>as</strong> já<br />
com gran<strong>de</strong> representativida<strong>de</strong>.<br />
O ponto <strong>de</strong> união dos elementos relaciona-se<br />
com os <strong>as</strong>pectos estéticos que<br />
traduzem um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> voltar à infância.<br />
Com mais a<strong>de</strong>pt<strong>as</strong> feminin<strong>as</strong>, esta tribo<br />
caracteriza-se pelo uso <strong>de</strong> roup<strong>as</strong> colori-<br />
adolescência – <strong>de</strong>safi os actuais – mesa redonda<br />
XXI reunião do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia S 213
NASCER E CRESCER<br />
revista do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
ano 2009, vol XVIII, n.º 3<br />
d<strong>as</strong> e dos mais variados acessórios com<br />
motivos infantis, sendo actualmente <strong>as</strong><br />
mais famos<strong>as</strong> a Hello Kitty ® , <strong>as</strong> Power<br />
Puff Girls ® e o Tweety ® (fi gura 15). Os cabelos<br />
po<strong>de</strong>m ser pintados <strong>de</strong> arco-íris, <strong>as</strong><br />
unh<strong>as</strong> com cores viv<strong>as</strong>, e roup<strong>as</strong> que po<strong>de</strong>m<br />
combinar roxo, ver<strong>de</strong> e vermelho…<br />
Coleccionam brinquedos “fofi nhos” e peluches,<br />
gostam <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos-animados e<br />
lêem banda-<strong>de</strong>senhada. Ouvem música<br />
Pop e músic<strong>as</strong> infantis.<br />
Traceur e Traceuse<br />
Os traceurs (traceuse para o sexo<br />
feminino) são os praticantes do Parkour<br />
– uma arte do movimento, um método<br />
natural <strong>de</strong> treinar o corpo para que este<br />
seja capaz <strong>de</strong> se mover “adiante” com<br />
agilida<strong>de</strong>, com recurso aos obstáculos<br />
que “nos” ro<strong>de</strong>iam (muros, escad<strong>as</strong>, postes,<br />
árvores...) (fi gura 16). Com início em<br />
França no fi nal dos anos 90, foi divulgado<br />
ao resto do mundo – incluindo Portugal<br />
- no início do século XXI. Recusando a<br />
<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sporto, os seus a<strong>de</strong>ptos<br />
consi<strong>de</strong>ram-no antes uma fi losofi a <strong>de</strong><br />
vida b<strong>as</strong>eada n<strong>as</strong> premiss<strong>as</strong> “apren<strong>de</strong>r a<br />
superar os obstáculos” e “ser forte para<br />
ser útil”. O seu objectivo, explorar todo o<br />
potencial natural do corpo e controlar os<br />
seus movimentos, exige um treino físico<br />
intenso m<strong>as</strong> muito disciplinado. Apesar<br />
<strong>de</strong> alguns problem<strong>as</strong> (compreensíveis…)<br />
com <strong>as</strong> autorida<strong>de</strong>s e os seguranç<strong>as</strong>,<br />
com a divulgação do movimento têm vin-<br />
adolescência – <strong>de</strong>safi os actuais – mesa redonda<br />
S 214 XXI reunião do hospital <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> maria pia<br />
do a ter mais receptivida<strong>de</strong>, simpatia e<br />
admiração pela “população”. Ainda que a<br />
sua prática seja <strong>de</strong> risco, a gran<strong>de</strong> disciplina,<br />
conhecimento e (quem diria ) respeito<br />
que têm pelo corpo faz com que na<br />
maioria d<strong>as</strong> vezes não se magoem com<br />
gravida<strong>de</strong>.<br />
São uma tribo pacífi ca, com preocupação<br />
pelo corpo e hábitos <strong>de</strong> vida saudáveis.<br />
COMENTÁRIOS FINAIS<br />
<strong>As</strong> tribos são um fenómeno sociológico<br />
interessante cuj<strong>as</strong> repercussões a<br />
nível da estruturação da personalida<strong>de</strong><br />
do adolescente po<strong>de</strong>m ser importantes.<br />
Comportamentos <strong>de</strong> risco <strong>as</strong>sociados<br />
são claros po<strong>de</strong>ndo incluir consumo<br />
<strong>de</strong> substância ilícit<strong>as</strong> (hippies, clubbers),<br />
violência (skins, punks), auto-mutilação<br />
(góticos e emos) promiscuida<strong>de</strong> sexual<br />
(emos), <strong>de</strong>sportos perigosos (traceurs) e<br />
…<strong>de</strong>spes<strong>as</strong> (betos e plocs)!<br />
Os autores reforçam no entanto<br />
a noção que a integração do jovem<br />
num <strong>de</strong>stes grupos, só por si, po<strong>de</strong> não<br />
acarretar alarmismo. Mostrar interesse<br />
e conversar com o adolescente para<br />
conhecer <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> do seu grupo permitirá<br />
avaliar a perigosida<strong>de</strong> dos seus<br />
comportamentos.<br />
Este tema, <strong>de</strong> todo, não encerra por<br />
aqui. <strong>As</strong> tribos são um fenómeno dinâmico,<br />
ao sabor dos novos estilos musicais,<br />
interesses e angústi<strong>as</strong> dos jovens…enquanto<br />
um<strong>as</strong> fl orescem, outr<strong>as</strong> esbatemse<br />
no seio d<strong>as</strong> socieda<strong>de</strong>s. Diferenç<strong>as</strong><br />
respeitantes à i<strong>de</strong>ologia são apontad<strong>as</strong><br />
como responsáveis pela rápida renovação<br />
d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> tribos que têm surgido; referid<strong>as</strong><br />
como superfi ciais e relacionad<strong>as</strong><br />
apen<strong>as</strong> à questão estética não apresentam<br />
o mesmo cariz i<strong>de</strong>ológico forte que<br />
criou e manteve tribos como os hippies<br />
ou os punks, actualmente com mais <strong>de</strong><br />
40 anos <strong>de</strong> existência.<br />
N<strong>as</strong>cer e Crescer 2009; 18(3): 209-214<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
Maffesoli, Michel. O Tempo d<strong>as</strong> Tri-<br />
bos: o <strong>de</strong>clínio do individualismo n<strong>as</strong><br />
socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> m<strong>as</strong>sa. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Forense-Universitária 1987.<br />
O jeito <strong>de</strong> cada tribo. Revista Veja, edição<br />
especial 2003.<br />
Etnografi <strong>as</strong> revelam dinâmic<strong>as</strong> d<strong>as</strong><br />
tribos urban<strong>as</strong>. DiverCIDADE, revista<br />
electrónica 2005; 14.<br />
<strong>As</strong> tribos urban<strong>as</strong>. Revista Mundo jovem<br />
1995; 263: 6-7.<br />
<strong>Tribos</strong> urban<strong>as</strong>. Revista Caleidoscópio<br />
2006.<br />
<strong>As</strong> tribos urban<strong>as</strong>. Revista Visão 2006;<br />
703.<br />
www.educação.te.pt<br />
pt.wikipedia.org<br />
NOTA DA AUTORA<br />
O artigo foi parcialmente publicado<br />
em:<br />
H Sousa, I Maciel. <strong>Tribos</strong> <strong>Urban<strong>as</strong></strong>.<br />
Juvenil 2008; 15: 79-83.<br />
NOTA FINAL<br />
Aten<strong>de</strong>ndo <strong>às</strong> pouc<strong>as</strong> publicações<br />
disponíveis, alguns dos dados foram retirados<br />
<strong>de</strong> sites da Internet escritos por jovens<br />
pertencentes a est<strong>as</strong> tribos. Será <strong>de</strong><br />
valorizar uma abordagem mais científi ca<br />
acerca do tema.<br />
CORRESPONDÊNCIA<br />
Helena Sofi a Martins <strong>de</strong> Sousa<br />
Telefone: 222077500<br />
E-mail: helena.sofi a@gmail.com