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A FUNDAÇÃO<br />
PRÓ-MEMÓRIA DE<br />
SÃO CAETANO DO SUL.<br />
Clovis Antonio Esteves<br />
p.4<br />
<strong>11ª</strong> <strong>edição</strong><br />
Novembro 2010<br />
ISSN: 1984-5340<br />
TROPAS, TROPEIROS<br />
E CARGUEIROS PELO<br />
CAMINHO DO MAR.<br />
Luiz Carlos de Souza<br />
p.6<br />
A IGREJA UNIVERSAL<br />
DO REINO DE DEUS NO<br />
CENÁRIO POLÍTICO.<br />
Marcelo Pereira da Cruz<br />
Este informativo é uma publicação do curso de História da Universidade do Grande ABC<br />
p.10<br />
Reitor: Prof. Azurem Ferreira Pinto<br />
Vice-Reitor Acadêmico: Prof. Dr. Márcio Magalhães Fontoura<br />
Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Marcos Júlio<br />
Pró-Reitora Acadêmica Adjunta: Profa. Vera Lucia Maluly<br />
Coordenadora do Curso de História: Profa. Ms. Lucirene Aparecida Carignato<br />
Direção Geral do Projeto: Prof. Dr. Alfedo Oscar Salun<br />
Projeto Gráfico: Alan Sugawara e Everton Ap. Tozeti de Godoi<br />
POESIA<br />
Selma Celegati<br />
p.12
MUSEU BARÃO DE MAUÁ: uma<br />
construção colonial no ABC Paulista<br />
A casa onde está<br />
instalada o Museu Barão de<br />
Mauá é um dos mais<br />
importantes patrimônios<br />
culturais do ABC Paulista.<br />
Inaugurado em 06/11/1982<br />
pelo prefeito Dorival Rezende, o<br />
museu foi assim nomeado em<br />
homenagem ao patrono da<br />
cidade que, segundo se<br />
supunha, teria morado na casa<br />
onde está instalado. Tal fato,<br />
porém, nunca foi comprovado.<br />
O Museu possui um<br />
acervo de cerca de 10 mil itens<br />
que inclui objetos diversos,<br />
fotografias, livros e periódicos,<br />
referentes sobretudo à História<br />
de Mauá e do ABC Paulista. Em<br />
suas instalações realizam-se<br />
exposições periódicas<br />
referentes aos mais diversos<br />
temas, embora com ênfase na<br />
trajetória social e cultural do<br />
município.<br />
A construção na qual o<br />
Museu está instalado é uma<br />
das mais antigas do ABC e um<br />
marco na História da<br />
arquitetura paulista: trata-se de<br />
uma casa bandeirista, erguida<br />
2<br />
Parte superior<br />
de um oratório<br />
interno da<br />
casa.<br />
no início do século XVIII na<br />
técnica de taipa de pilão. Tal<br />
técnica consiste no preparo de<br />
barro com elementos diversos:<br />
pedras, pedaços de madeira,<br />
cipós, crina de cavalo e sangue<br />
de boi. Esse barro era<br />
despejado entre dois pranchões<br />
de madeira e socado. Ficava<br />
secando ao sol, quando eram<br />
retirados os pranchões,<br />
formando, assim, uma parede.<br />
Outros exemplares de casa<br />
bandeirista ainda existentes no<br />
Estado, estão localizados em<br />
São Roque (Sítio do Padre<br />
Inácio), em Santana do<br />
Conselho Editorial:<br />
Renato Alencar Dotta*<br />
Prof.Ms.Lucirene Aparecida Carignato (<strong>UniABC</strong>)<br />
Prof.Dr.Alfredo Oscar Salun (<strong>UniABC</strong>)<br />
Prof.Ms. Renato Dotta (<strong>UniABC</strong>)<br />
Prof.Ms.Agenor Bevilacqua Sobrinho (<strong>UniABC</strong>)<br />
Prof.Dr. Murilo Leal Pereira Neto (UNIFESP)<br />
Prof.Dr. João do Prado Ferraz (UNIFESP)<br />
Parnaíba (Casa do Anhangüera)<br />
e São Paulo (Casas do<br />
Sertanista, do Bandeirante, do<br />
Tatuapé, Sítio da Ressaca),<br />
entre outros.<br />
A casa foi sede da<br />
Fazenda Bocaina, cujas terras<br />
cobriam uma grande área hoje<br />
pertencentes a outros<br />
municípios do ABC (como Santo<br />
André e Ribeirão Pires, além de<br />
Mauá). No século XIX, a<br />
fazenda pertenceu à família do<br />
Capitão João José Barbosa<br />
Ortiz, juiz de paz de São<br />
Bernardo, que hoje nomeia<br />
uma das principais avenidas de<br />
Mauá.<br />
Em 1922, parte da<br />
fazenda foi comprada pela<br />
imobiliária Pacheco, Schmidt &<br />
Victorino, que iniciou um<br />
processo de loteamento do<br />
bairro que passou a ser<br />
conhecido como Vila Bocaina. O<br />
casarão era alugado pela<br />
imobiliária para residência ou<br />
para realizações de eventos<br />
como bailes e festas. Foi sede<br />
de dois times locais, a A. A.<br />
Industrial e o Pilar F.C., que se<br />
revezavam na ocupação do<br />
espaço de 15 em 15 dias.<br />
Em 1930, Adolfo<br />
Ferreira e família, vindos de<br />
São Paulo, compraram o<br />
casarão e ali se instalaram a<br />
partir de 8 de janeiro daquele<br />
ano. A família também alugava<br />
vários cômodos como moradia.<br />
Em 1975, a Prefeitura de Mauá<br />
desapropriou o imóvel,<br />
indenizando a família, até que 7<br />
anos depois foi transformado<br />
no museu da cidade. Em<br />
27/12/1983, foi tombado como<br />
patrimônio cultural do Estado<br />
de São Paulo.<br />
Apesar de não haver<br />
comprovação de que o Barão<br />
de Mauá sequer tenha passado<br />
pela casa, é possível que um<br />
dos principais motivos da<br />
preservação do casarão colonial<br />
foi a sua fama de ter sido a<br />
“Casa do Barão”, sem a qual<br />
provavelmente ela teria o<br />
mesmo fim que outras<br />
construções antigas de Mauá,<br />
como o antigo Grupo Escolar<br />
(demolido em 1978) ou a<br />
antiga estação ferroviária de<br />
Mauá (totalmente destruída e<br />
reconstruída no mesmo ano).<br />
O endereço do Museu<br />
Barão de Mauá é Avenida Dr.<br />
Getúlio Vargas, Nº 276, Vila<br />
Guarani, Mauá. Os telefones<br />
para atendimento são: 4519-<br />
6456 e 4519-4011.<br />
O funcionamento é de<br />
segunda a sexta-feira, das 9 às<br />
16 horas; sábado, das 9 às 15<br />
horas. Entrada franca.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
MEDICI, Ademir. De Pilar a<br />
Mauá. Mauá: Prefeitura<br />
Municipal, 1987.<br />
MEDICI, Ademir. Industrial<br />
de Mauá e os Campeonatos<br />
de Futebol do Grande ABC.<br />
Mauá: Associação Atlética<br />
Industrial, 1997.<br />
PUNTSCHART, William.<br />
Memórias da Cidade. Mauá:<br />
Prefeitura Municipal de Mauá,<br />
2004.<br />
SANTOS, Wanderley dos.<br />
Mauá – Ano 20. São Bernardo<br />
do Campo: Combrig, 1974.<br />
* Renato Alencar Dotta<br />
é Historiador da Coordenadoria<br />
de Cultura de<br />
Mauá/CONDEPHAAT-MA<br />
3
Preservar a memória não<br />
é prioridade apenas do meio<br />
acadêmico, dos historiadores e<br />
de memorialistas. A preservação<br />
da história dos povos faz parte<br />
de projetos instituídos em todo<br />
o mundo, seja na manutenção<br />
de museus e bibliotecas, seja na<br />
criação de instituições<br />
especificas para resguardar a<br />
memória.<br />
Dentre as novas<br />
tendências desse resgate da<br />
memória podemos citar as<br />
fotografias, objetos, obras de<br />
arte, depoimentos, mapas,<br />
livros e muito mais. Seguindo<br />
essa metodologia, surge a<br />
Fundação Pró-Memória de<br />
São Caetano do Sul.<br />
Em 16 de maio de 1989,<br />
uma comissão apresenta o<br />
Projeto para estabelecer novas<br />
diretrizes e metas ao Patrimônio<br />
Histórico de São Caetano do<br />
Sul. O projeto mencionava a<br />
criação da Fundação Pró-<br />
Memória, do Serviço de<br />
Documentação e Pesquisa da<br />
História Local. Em 1992, é<br />
criada a Fundação Pró-Memória<br />
de São Caetano do Sul. A<br />
Fundação incorpora o Museu<br />
Histórico Municipal de São<br />
Caetano, Pinacoteca e Centro de<br />
A Fundação Pró-Memória de São<br />
Caetano do Sul<br />
Documentação Histórica.<br />
Museu<br />
Um dos espaços<br />
mantidos pela Fundação Pró-<br />
Memória é o Museu Histórico<br />
Municipal, que conta com um<br />
acervo significativo de objetos<br />
que resgatam a herança<br />
material da cidade. Criado em<br />
1959, o Museu Histórico<br />
Municipal de São Caetano do<br />
Sul iniciou suas atividades em<br />
23 de julho de 1960.<br />
Atualmente, o Museu<br />
funciona no antigo Palacete De<br />
Nardi, local que foi construído<br />
em 1896 para ser a residência<br />
da tradicional família De Nardi,<br />
imigrantes italianos que<br />
chegaram a São Caetano em 28<br />
de julho de 1877 e tiveram<br />
grande participação no<br />
desenvolvimento da cidade.<br />
O acervo conta com<br />
cerca de 5.200 objetos, que<br />
ficam organizados e<br />
armazenados em uma área de<br />
60 metros quadrados. Seguindo<br />
padrões internacionais de<br />
museologia, as peças são<br />
agrupadas em estantes de aço e<br />
divididas em grupos, o que<br />
Clovis Antonio Esteves*<br />
possibilita maior rotatividade<br />
entre os objetos expostos,<br />
aumento do número de<br />
exposições e condições de<br />
receber novas doações de peças<br />
de valor histórico.<br />
Centro de Documentação<br />
Histórica<br />
Diante da necessidade<br />
de aperfeiçoar as atividades da<br />
instituição, em 1993 foi<br />
inaugurado o Centro de<br />
Documentação Histórica (CDH),<br />
com o objetivo de preservar a<br />
história e a memória coletiva do<br />
município e apoiar pesquisas<br />
sobre a história de São Caetano<br />
do Sul e do Grande ABC. O CDH<br />
torna-se responsável pelos<br />
documentos textuais,<br />
iconográficos, eletrônicos,<br />
fonográficos, audiovisuais e<br />
bibliográficos.<br />
Desde sua criação até<br />
hoje, o CDH conta com a<br />
doação de colaboradores para<br />
enriquecer o acervo, que possui<br />
desde documentos datados do<br />
século XIX até documentos<br />
contemporâneos referentes à<br />
formação histórica,<br />
desenvolvimento econômico,<br />
cultura, educação, política e<br />
cotidiano do município de São<br />
Caetano do Sul e região do ABC.<br />
Existe, ainda, o projeto<br />
de digitalização de imagens,<br />
disponível em banco de dados<br />
interno, são 9.700 fotos<br />
digitalizadas. Além das<br />
atividades de processamento<br />
técnico dos documentos, o<br />
Centro disponibiliza o acervo<br />
para pesquisas, atendendo<br />
estudantes do ensino<br />
fundamental, médio, superior,<br />
pós-graduandos, pesquisadores<br />
e interessados em geral na<br />
história de São Caetano e região<br />
do Grande ABC.<br />
Revista<br />
Uma das principais<br />
publicações da Fundação Pró-<br />
Memória, também voltada ao<br />
resgate da memória, é a<br />
Revista Raízes. Com<br />
publicações semestrais, a<br />
revista se propõe a registrar a<br />
história, principalmente a de<br />
São Caetano, por meio de<br />
entrevistas e pesquisas. Artigos,<br />
crônicas, personagens, memória<br />
fotográfica são algumas das<br />
editorias que complementam o<br />
projeto de preservação<br />
instituída pela Fundação.<br />
Pinacoteca<br />
É um dos acessos à<br />
cultura em São Caetano do Sul.<br />
A Pinacoteca Municipal, um<br />
espaço com 311 metros<br />
quadrados, possui áreas<br />
específicas destinadas à ação<br />
educativa, montagem de<br />
exposições, dentro de modernos<br />
parâmetros da Museologia,<br />
como a preocupação com a<br />
preservação das obras, cuidados<br />
com a iluminação do local,<br />
vigilância e projeção de layout.<br />
Além de valorizar o trabalho de<br />
artistas de São Caetano e<br />
região. A Pinacoteca possui uma<br />
reserva técnica, onde estão<br />
alojadas 221 obras do<br />
acervo, que ficam guardadas<br />
em estantes de aço adaptadas.<br />
Projetos<br />
Restaurando o<br />
Passado- Para não deixar que<br />
a ação do tempo destrua<br />
recordações importantes,<br />
registradas em fotografias, a<br />
Fundação Pró-Memória conta<br />
com o projeto Restaurando o<br />
Passado. Variado, o acervo<br />
apresenta registros fotográficos<br />
de famílias, comércios,<br />
indústrias, paisagens urbanas,<br />
rurais e outros aspectos da<br />
cidade. Dentro desse acervo,<br />
algumas imagens estão<br />
danificadas.<br />
As técnicas de<br />
armazenamento utilizadas pela<br />
Pró-Memória conseguem conter<br />
a deterioração, mas muitas<br />
fotografias já são doadas desta<br />
maneira. Por meio do trabalho<br />
de profissionais especializados<br />
em imagens e fotografias, as<br />
que estão danificadas são<br />
restauradas. Para o trabalho de<br />
reconstrução de uma fotografia<br />
são necessárias referências do<br />
local e da época. Essa pesquisa<br />
é extremamente necessária. O<br />
trabalho é lento e exige muito<br />
cuidado, mas extremamente<br />
necessário.<br />
Cidadão da História-<br />
Dentro do Programa Bairro a<br />
Bairro da Prefeitura Municipal, a<br />
Fundação Pró-Memória<br />
desenvolve o Projeto Cidadão<br />
da História. Esse projeto<br />
homenageia os moradores mais<br />
antigos dos bairros da cidade,<br />
além de comerciantes e<br />
profissionais estabelecidos no<br />
local há mais tempo. O objetivo<br />
é reconhecer e valorizar a<br />
participação dos cidadãos na<br />
formação de cada bairro. O<br />
projeto, além de resgatar as<br />
origens da população,<br />
reconhece os responsáveis pela<br />
construção da cidade.<br />
* Clovis Antonio Esteves é<br />
historiador e presidente da<br />
Fundação Pró-Memória de São<br />
Caetano do Sul<br />
4 5
TROPAS, TROPEIROS E CARGUEIROS PELO<br />
CAMINHO DO MAR, ATRAVÉS DA BORDA DO<br />
CAMPO EM SÃO PAULO, SÉCULOS XVIII/XIX<br />
Pretende-se nesta<br />
síntese apresentar o tema de<br />
pesquisa de TCC desenvolvido<br />
no curso de História: o estudo<br />
do tropeirismo na Borda do<br />
Campo na região do atual<br />
grande ABC, no auge do<br />
transporte da economia<br />
açucareira proveniente de<br />
Campinas em meados do<br />
Século XVIII a meados do<br />
Século XIX. Para construção<br />
desse panorama fez-se um<br />
corte no tempo, priorizou-se<br />
um período de 113 anos (1747<br />
a 1860), periodização de 1747,<br />
quando já se podia realizar o<br />
percurso da serra a cavalo,<br />
porém apeando pôr três vezes.<br />
Depois de três horas, vencia-se<br />
a subida da serra de<br />
Paranapiacaba, seguindo a<br />
trilha, o pernoite geralmente<br />
era feito no rio dos Couros. No<br />
dia seguinte, prosseguiam a<br />
jornada pela Borda do Campo,<br />
para entrar em São Paulo. Com<br />
a descoberta do ouro nas Minas<br />
Gerais, a Capitânia de São<br />
Paulo estagnou, despovoou-se<br />
de tal maneira que em 1758<br />
passou a ser Comarca do Rio<br />
de Janeiro. A restauração se<br />
deu em 1765, a partir do<br />
governo de D. Luiz Antônio de<br />
Souza Botelho, o Morgado<br />
Mateus que visualizou na cana<br />
– de – açúcar um<br />
empreendimento para<br />
6<br />
restauração da Capitânia de<br />
São Paulo, a qual jazia em<br />
grande pobreza, readquirindo<br />
assim sua autonomia<br />
administrativa com a<br />
agricultura canavieira<br />
objetivando maior lucro para a<br />
coroa portuguesa.<br />
Segundo Maria T. S.<br />
Petrone a cultura canavieira era<br />
muito insignificante em meados<br />
do século XVIII, apesar de um<br />
certo florescimento já no século<br />
XVI, na baixada Santista, onde<br />
Martim Afonso de Souza,<br />
segundo tudo indica, fundou o<br />
primeiro engenho no Brasil,<br />
tendo logo em seguida, surgido<br />
mais de uma dúzia de<br />
engenhos.<br />
A cultura canavieira<br />
estagnou e até decaiu,<br />
principalmente porque as<br />
condições geográficas<br />
impunham uma limitação<br />
natural e também porque o<br />
açúcar vicentino não podia<br />
concorrer com o do litoral do<br />
nordeste, que tinha a seu favor<br />
extensas áreas propicias ao<br />
plantio e a maior proximidade<br />
da corte. O interior de São<br />
Paulo se tornou produtor do<br />
açúcar. “Este momento surge<br />
Luiz Carlos de Souza*<br />
quando o preamento de índios<br />
e a busca de ouro não<br />
apresentavam mais suficiente<br />
interesse econômico e os<br />
paulistas resolveram procurar<br />
na agricultura o seu modo de<br />
vida”.²<br />
Nos fins do século XVIII<br />
e na primeira metade do século<br />
XIX, os centros produtores de<br />
açúcar e de aguardente em São<br />
Paulo localizavam-se parte no<br />
litoral norte que se estende<br />
“serra acima”, garantindo<br />
mercado consumidor através do<br />
Rio de Janeiro onde se<br />
efetivava sua exportação e a<br />
região que compreende o<br />
quadrilátero formado por<br />
Sorocaba, Piracicaba, Mogi<br />
Guaçú e Judiai, além das áreas<br />
de Itú e Campinas. Esta deve<br />
sua origem á fabricação de<br />
açúcar, em função de suas<br />
terras pretas. E que por muito<br />
tempo acreditava-se só em Itu<br />
existir esse tipo de terra. “Em<br />
1770, plantar essa gramínea<br />
nas terras vermelho-escuras,<br />
teve enorme êxito” 3.<br />
É assim que Saint<br />
Hilaire, explica a origem de<br />
Campinas, povoação<br />
relativamente recente,<br />
comparada a cidades mais<br />
antigas como Itu. Realmente<br />
Campinas começou a ser<br />
povoada depois de introduzida<br />
a cana de açúcar em suas<br />
terras férteis, o que propiciou o<br />
inicio do transporte do açúcar<br />
pelos tropeiros.<br />
O açúcar proveniente de<br />
Campinas percorria péssimos<br />
caminhos. O sistema viário de<br />
São Paulo era um verdadeiro<br />
obstáculo para<br />
desenvolvimento maior da<br />
cultura canavieira. Essa má<br />
conservação das estradas<br />
piorava nas plagas da Borda do<br />
Campo e na perigosa Serra do<br />
Mar além das condições de<br />
travessia da Baixada Santista,<br />
prejudicaram o grande<br />
comércio do açúcar, que levou<br />
São Paulo, pelo menos o<br />
Planalto Paulista, a integrar-se<br />
pela primeira vez nas correntes<br />
do comércio internacional.<br />
Todos os governadores,<br />
a começar por D. Luiz Antonio<br />
de Souza Botelho Mourão, o<br />
Morgado Mateus, perceberam o<br />
fato e o sistema viário da<br />
Capitania de São Paulo, sofreu<br />
radicais transformações.<br />
A antiga trilha<br />
tupiniquim e o caminho do<br />
padre José, tiveram que passar<br />
por reformas. A via de<br />
pedestres, onde o transporte<br />
de mercadorias se fazia à<br />
costa de indígenas,<br />
transformou-se em estrada de<br />
tropas, que assegurou<br />
escoamento mais ou menos<br />
satisfatório da produção vinda<br />
do planalto.<br />
Os indígenas ficaram<br />
vinculados ao Caminho do Mar,<br />
por constituírem-se na mais<br />
importante mão de obra, a<br />
partir do governo do Morgado<br />
Mateus, que necessitava tornar<br />
transitável o Caminho de<br />
Santos. Segundo Pasquale<br />
Petrone em seu livro<br />
“Aldeamentos Paulistas” relata:<br />
“Enquanto as tropas e os carros<br />
de boi não se transformaram<br />
nos meios comuns de<br />
transporte de carga, o indígena<br />
foi o elemento<br />
fundamental(...)no Caminho de<br />
Santos o transporte de carga e<br />
a manutenção do caminho,<br />
teve no indígena elemento<br />
fundamental, até meados do<br />
século XVII”.<br />
Em 1789, o governador<br />
Bernardo José de Lorena<br />
determinou que as exportações<br />
da Capitania só poderiam ser<br />
feitas através do porto de<br />
Santos e diretamente para o<br />
reino. Em 1791 e 1792, ainda<br />
durante o governo de Lorena, a<br />
estrada no trecho da Serra foi<br />
reformada. Tortuosa, entalhada<br />
entre rochedos, beirando<br />
abismos profundíssimos, a<br />
Calçada do Lorena, foi<br />
pavimentada. Considerada uma<br />
obra avançadíssima para época,<br />
facilitava o percurso de tropas,<br />
mas ainda era uma estrada<br />
estreita e inviável para<br />
carroções. Isto possibilitou o<br />
crescimento da produção da<br />
produção de açúcar e<br />
intensificou o desenvolvimento<br />
do comércio do Porto de<br />
Santos, e o Caminho do Mar se<br />
tornou o Caminho do açúcar. A<br />
estrada do açúcar, ligando o<br />
Planalto Paulista ao Litoral,<br />
torna-se essencial no caminho<br />
das tropas, e como<br />
conseqüência à construção de<br />
ranchos, que servem de apoio e<br />
estalagem para tropas,<br />
tropeiros e cargueiros.<br />
Da tropa, do tropeiro,<br />
da marcha e dos ranchos.<br />
Definida pelos tropeiros<br />
como “uma burrada”, a tropa<br />
pode ser considerada qualquer<br />
reunião de burros, besta ou<br />
mula chucros ou não. Estavam<br />
no caso das chucras, as tropas<br />
vindas dos grandes criatórios<br />
do Rio Grande do Sul, onde<br />
havia uma salinização natural<br />
dos pastos, inexistente em<br />
outras regiões. Os muares<br />
percorriam cerca de dois mil<br />
Km, passando pôr invernadas,<br />
sobretudo nos campos do<br />
Paraná, até chegarem as<br />
famosas feiras de Sorocaba.<br />
Segundo Ronaldo Vainfas, “No<br />
inicio do século XIX, calcula-se<br />
que cerca de 20 mil muares<br />
eram anualmente negociados<br />
em Sorocaba, passando para<br />
cerca de 100 mil na década de<br />
1850, e declinando para 10 mil<br />
a partir dos anos de 1880”.<br />
Havia também criadores<br />
7
de muares em Minas Gerais,<br />
nas cidades de Barbacena e<br />
Entre-Rios de Minas. O<br />
responsável pelo comércio de<br />
muares era denominado<br />
muladeiro e vivia nas regiões<br />
de criatório e revenda. Quanto<br />
à tropa de carga, era um grupo<br />
de burros ou mulas amansados<br />
e preparados para o transporte<br />
de carga. O número de animais<br />
de uma tropa era indiferente.<br />
Quando muito numerosos,<br />
dividia-se em dois lotes. O lote,<br />
estrutura de uma tropa,<br />
compunha-se de um número<br />
variável de animais, conforme a<br />
necessidade do transporte.<br />
Os muares utilizados no<br />
transporte açucareiro viviam<br />
em média quarenta anos,<br />
sempre no trabalho e com a<br />
mesma disposição. Carregadas<br />
de produtos de exportação ou<br />
de gêneros de subsistência, as<br />
tropas percorreram ativamente<br />
o trecho Planalto-Litoral. O<br />
desatendimento das estradas, o<br />
transporte moroso de bens,<br />
práticas compatíveis com a<br />
economia organizada para a<br />
subsistência ou para a<br />
produção, foram preservados<br />
na grande agricultura<br />
comercial. É nesse contexto de<br />
tecnologia rudimentar e grande<br />
empreendimento mercantil da<br />
Capitania de São Paulo, que se<br />
pode situar a figura do tropeiro.<br />
São vários tipos que podem ser<br />
enquadrados dentro da<br />
categoria de tropeiro.<br />
Para que uma tropa<br />
8<br />
fosse colocada na estrada, era<br />
necessário o trabalho de vários<br />
homens. Eram os artesãos,<br />
como o cangalheiro (que<br />
fabricava a armação de uma<br />
boa cangalha, feita com<br />
madeira conhecida como açoita<br />
cavalo), o seleiro (responsável<br />
pela confecção doa<br />
arreamentos dos animais de<br />
sela, trabalhava com sola de<br />
couro cru), o trançador<br />
(artesão de couro cru,<br />
dedicava-se à confecção de<br />
laços, rédeas, peitorais e<br />
chicotes), o funileiro<br />
(confeccionava as panelas,<br />
canequinhas de cobre,<br />
lamparinas e os cincerros da<br />
égua madrinheira), o ferreiro e<br />
o ferrador (prendiam-se tão<br />
somente as ferraduras) e os<br />
jacazeiros e baleeiros ou<br />
cesteiros, (artesão da taquara e<br />
do bambu, que confeccionavam<br />
os jacás e os balaios). Na<br />
condução da tropa, o trabalho<br />
do homem era dividido entre o<br />
madrinheiro, o tocador e o<br />
arreador.<br />
O madrinheiro era<br />
sempre um garoto de oito a<br />
quinze anos. Às vezes referido<br />
como “guiador”, montava<br />
geralmente uma égua mansa,<br />
raramente um cavalo, seguindo<br />
sempre cerca de dez passos<br />
adiante da tropa.<br />
O tocador, também<br />
conhecido como tropeiro, era o<br />
responsável pela condução do<br />
lote e pela carga, e o arreador,<br />
era em geral o dono da tropa<br />
ou um seu representante.<br />
Seguia depois do culateiro,<br />
montado em uma besta<br />
arreada. Era o único homem<br />
calçado da tropa.<br />
Durante a jornada, o dia<br />
completo de uma tropa,<br />
começava não raro, as duas ou<br />
três horas da madrugada,<br />
sendo normal acordarem os<br />
tropeiros antes das quatro<br />
horas, noite ainda escura. A<br />
marcha oficial da tropa era de<br />
três léguas<br />
(6 KM), ganhando a estrada, a<br />
tropa seguia, indo à frente<br />
montado o menino<br />
madrinheiro, mais atrás a besta<br />
dianteira, depois uma a uma,<br />
as bestas de carga, indo por<br />
último a culateira. Um pouco<br />
distante, na besta mais bem<br />
arreada e exibindo suas botinas<br />
ferradas, o arreador.<br />
Como passagem<br />
obrigatória do açúcar para o<br />
porto de Santos, houve nas<br />
terras da Borda do Campo um<br />
aumento no número de tropas,<br />
tropeiros e cargueiros<br />
vizualizou-se a necessidade de<br />
um serviço de atendimento que<br />
foi se aprimorando. Era<br />
desempenhado por uma<br />
população livre, que foi se<br />
fixando nas clareiras da mata<br />
Atlântica. Encontrou no atender<br />
e apoiar tropas, tropeiros e<br />
viajantes, que percorriam a<br />
rota Planalto Paulista-Litoral-<br />
Planalto Paulista, um meio de<br />
sobreviver. Por volta de 1839,<br />
“Após subir a serra, em direção<br />
ao planalto, as tropas e os<br />
viajantes percorriam muitas<br />
milhas até o rancho no Rio<br />
Pequeno e só encontravam<br />
duas casas”. 10 Prosseguindo<br />
viagem, na metade do caminho<br />
São Paulo-Santos, no Rio<br />
Grande.” 11<br />
Em São Bernardo –<br />
década de 30 dos Oitocentos –<br />
existia uma igreja; algumas<br />
casas e um paradouro que<br />
dispunha de serviços de aluguel<br />
de muares e guias. Chegamos à<br />
paróquia de São Bernardo(...)A<br />
principal casa era uma<br />
hospedaria(...)Nos surpreendeu<br />
sermos recebidos com<br />
hospitalidade simples, mas,<br />
leal.” 12 Relata Kidder em suas<br />
anotações”.<br />
Mesmo com intenso<br />
movimento, a região da Borda<br />
do Campo era praticamente<br />
despovoada. Houve uma<br />
preocupação com os ranchos,<br />
pois para ele convergiam todas<br />
as tropas carregadas de açúcar<br />
e eram as condições<br />
atmosféricas prejudiciais ao<br />
produto.<br />
Os tropeiros adquiriram<br />
destaque sem par na economia<br />
açucareira. Eram figuras<br />
importantes. Todos dependiam<br />
deles. O senhor do engenho, o<br />
comerciante exportador de<br />
açúcar, os rancheiros. Segundo<br />
Hércules Florençe, em 1825, “A<br />
quantidade de açúcar<br />
exportado atingiu 500 a<br />
550.000 arrobas (cada arroba<br />
pesa 15 Kg), sendo as terras da<br />
Borda do Campo, servindo de<br />
passagem e abrigo aos que<br />
percorriam a rota Planalto<br />
Paulista-Litoral”. 13<br />
Em 1852, a Estrada da<br />
Maioridade, um novo caminho<br />
na serra, aumentou ainda mais<br />
o movimento de tropas que<br />
passaram pelas terras da Borda<br />
do Campo. O movimento<br />
intenso, com uma média de<br />
3.000 animais por dia. Foi<br />
nessa área, que se estabeleceu<br />
um verdadeiro cinturão de<br />
tropeiros e condutores. Nas<br />
áreas canavieiras, é lógico,<br />
também aparecem os tropeiros.<br />
Os condutores de tropas<br />
começam assim, a fazer parte,<br />
do contexto histórico, da<br />
formação do ABC.<br />
O plano geral do artigo<br />
procurou demonstrar a notável<br />
importância que tiveram tropas,<br />
tropeiros e cargueiros no<br />
contexto econômico da região<br />
compreendida entre o Planalto<br />
Paulista e o litoral, mais<br />
especificamente a Borda do<br />
Campo e o Caminho do Mar,<br />
com a produção açucareira<br />
vinda de Campinas. Se essa<br />
importância decresceu no<br />
âmbito social à medida que<br />
novas formas de transporte,<br />
inicialmente o transporte<br />
ferroviário e depois o veículo<br />
motorizado, passaram a<br />
assumir o lugar do burro, da<br />
besta e da mula, não é menos<br />
certo que todo o fato ligado às<br />
tropas, tropeiros e cargueiros,<br />
estará sempre presente, na<br />
história da formação do grande<br />
ABC.<br />
* Luiz Carlos de Souza é titular<br />
da disciplina de História na rede<br />
estadual de educação.<br />
Graduado pela Universidade do<br />
Grande ABC – UNIABC<br />
9
A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE<br />
DEUS (IURD) NO CENÁRIO POLÍTICO<br />
BRASILEIRO Marcelo Pereira da Cruz*<br />
Este artigo, esta<br />
baseado na dissertação de<br />
mestrado que foi desenvolvida<br />
no departamento de Ciências<br />
da Religião, da PUC/SP, sob<br />
orientação do Professor Dr.<br />
Frank Usarski. A temática<br />
proposta é relacionar o<br />
crescimento da IURD, uma<br />
igreja de origem pentecostal,<br />
com a sua efetiva participação<br />
na esfera política, que ocorreu<br />
graças a transferência, bem<br />
sucedida, do seu capital<br />
religioso para o campo político<br />
partidário, fator que levou esta<br />
instituição a se tornar um<br />
fenômeno social no Brasil, um<br />
país tradicionalmente católico.<br />
As igrejas pentecostais<br />
fazem parte de uma corrente<br />
dentro do protestantismo que<br />
têm como base a ação do<br />
“Espírito Santo”, a conversão<br />
individual e a perspectiva<br />
escatológica. Desde sua<br />
chegada, os pentecostais<br />
cresceram e se multiplicaram<br />
de uma forma espetacular,<br />
contribuindo para o significativo<br />
aumento do número de<br />
evangélicos no Brasil,<br />
especialmente nas últimas<br />
décadas do século XX, que<br />
cresceu 3.5 vezes mais que os<br />
10<br />
católicos no mesmo período.<br />
Os dados do Censo do<br />
IBGE do ano 2000 apontaram<br />
26 milhões de pessoas que se<br />
declararam evangélicos no país,<br />
17,6 milhões (67,7%) eram de<br />
igrejas pentecostais. Esses<br />
dados também apontaram o<br />
extraordinário número de fiéis<br />
conquistados pela IURD que<br />
cresceu 646% num período de<br />
dez anos (1990 a 2000). Em<br />
2002, ao celebrar 25 anos, a<br />
Igreja contava com cerca de 2<br />
milhões de membros no Brasil e<br />
aproximadamente meio milhão<br />
no exterior já que seus templos<br />
estão espalhados por cerca de<br />
oitenta países.<br />
Esse destaque religioso<br />
conquistado pela Igreja<br />
Universal levou a mesma a<br />
entra no campo político. Desde<br />
a redemocratização do nosso<br />
país, após vinte anos de<br />
Ditadura Militar (1964 a 1984),<br />
a IURD, teve uma participação<br />
importante no cenário político<br />
brasileiro elegendo candidatos<br />
em diversas esferas. A<br />
trajetória política da IURD<br />
iniciou-se nas eleições de 1986<br />
com a eleição de 01 deputado<br />
federal e teve o seu ápice nas<br />
eleições de 1998 elegendo 17<br />
deputados federais e 26<br />
deputados estaduais. Destaque<br />
também para a eleição de<br />
2002, que além de eleger 16<br />
deputados federais e 19<br />
estaduais, a Igreja conquistou<br />
uma cadeira no senado, com o<br />
candidato Marcelo Crivella<br />
(PFL/RJ).<br />
Este destaque que a<br />
Igreja conquistou no campo<br />
político elegendo os seus<br />
candidatos e/ou os apoiados<br />
por ela, atraiu os olhares dos<br />
partidos políticos e dos<br />
presidenciáveis, graças ao<br />
extraordinário número de<br />
fieis/eleitores que seguiam<br />
“religiosamente” as orientações<br />
e/ou indicações de seus<br />
pastores. Dessa forma<br />
podemos apontar que a IURD<br />
contribuiu de maneira<br />
significativa nas eleições<br />
presidenciais.<br />
O sucesso da trajetória<br />
política da IURD, foi alcançado<br />
com ousadas estratégias, que<br />
se iniciaram com a escolha de<br />
seus candidatos e<br />
posteriormente com a coligação<br />
ao PL (Partido Liberal) - um<br />
partido de direita, cujos<br />
princípios e ideologias casavam<br />
perfeitamente com os ideais e<br />
crenças iurdianas. No entanto,<br />
a Igreja viveu um momento<br />
difícil no decorrer da década de<br />
1990, devido aos escândalos<br />
internos que envolviam seus<br />
principais líderes e a erros<br />
comedidos pela cúpula da<br />
Igreja, ao apoiarem, por<br />
exemplo, Fernando Collor de<br />
Mello, nas eleições<br />
presidenciais de 1989, bem<br />
como à decepção que a mesma<br />
teve com o governo de<br />
Fernando Henrique Cardoso,<br />
que obteve o apoio da Igreja<br />
nas eleições de 1993 e 1997.<br />
Tais acontecimentos serviram<br />
de trampolim para a mudança<br />
de postura mediante ao Partido<br />
dos Trabalhadores, seu antigo<br />
desafeto de esquerda,<br />
formando uma aliança<br />
vitoriosa entre a IURD/PL e o<br />
PT nas eleições presidenciais<br />
de 2002, que culminou na<br />
vitória do candidato petista Luiz<br />
Inácio Lula da Silva e no<br />
refortalecimento da Igreja<br />
Universal do Reino de Deus.<br />
A mudança de<br />
estratégia no jogo político, que<br />
culminou com a aliança entre<br />
IURD e PT, rendeu ótimos<br />
frutos para Igreja como pode<br />
ser observado nos resultados<br />
das eleições de 2002. Para o<br />
Congresso Nacional foram<br />
eleitos como citado<br />
anteriormente 16 deputados<br />
federais, diretamente ligados à<br />
Igreja. Entre eles, destaque<br />
para a reeleição do bispo Carlos<br />
Rodrigues, que recebeu<br />
192.640 votos, um aumento de<br />
mais de 152% em relação ao<br />
número da eleição anterior<br />
(1998). Podemos destacar<br />
também os deputados eleitos<br />
por São Paulo: bispo João<br />
Batista / PFL, pastor Marcos<br />
Abrão / PFL, bispo Wanderval<br />
Santos / PL e Edna Macedo /<br />
PTB. Esses homens e mulheres,<br />
eleitos de forma democrática,<br />
passaram a fazer parte da base<br />
de apoio do governo do<br />
presidente Luiz Inácio Lula da<br />
Silva. Contudo, vale ressaltar<br />
que parte dos deputados eleitos<br />
pela Universal pertence a<br />
outras legendas partidárias,<br />
inclusive de oposição ao<br />
governo petista. Logo, os<br />
políticos iurdianos teriam de<br />
colocar na balança os<br />
interesses da sua Igreja e do<br />
partido a que eles são filiados.<br />
Ao longo da história,<br />
reis, imperadores, ditadores e,<br />
na concepção moderna da<br />
palavra, políticos diversos<br />
governantes viram na religião<br />
uma grande força para ajudálos<br />
no processo de condução da<br />
sociedade, através da<br />
elaboração de doutrinas e<br />
normas. Essas relações<br />
transformaram os especialistas<br />
religiosos e políticos em<br />
agentes importantes dentro das<br />
sociedades, devido ao controle<br />
que eles exercem nas relações<br />
entre as pessoas.<br />
No Brasil<br />
contemporâneo, a participação<br />
da religião na política é um fato<br />
que se repete com a IURD.<br />
Entretanto, suas práticas e<br />
teologias, que foram adaptadas<br />
ao contexto social em que ela<br />
está inserida, transformaramna<br />
em um fenômeno que<br />
transcendeu as fronteiras<br />
religiosas. O espaço que a<br />
IURD conquistou no campo<br />
religioso, social, midiático,<br />
empresarial e político serviu de<br />
inspiração para outras<br />
denominações religiosas, que<br />
acabaram por seguir os seus<br />
passos.<br />
* Marcelo Pereira da Cruz é<br />
licenciado em História, pela<br />
UNIABC e mestre em Ciências<br />
da Religião, pela PUC-SP.<br />
11
poesia<br />
Sou um turbilhão, um caminhão carregado, um interminável campo de flores.<br />
Mergulho no mar frio com uma pedra no pescoço.<br />
Vôo na velocidade da luz, na direção do vento, nas asas de um pássaro qualquer.<br />
E quando tudo parece ter acabado, o mundo volta a girar e o céu toma ares de verão.<br />
Sinto nas costas o leve e aconchegante calor do sol a queimar minha pele.<br />
Frio na barriga, nó na garganta, suspiro de emoção, 'ais' de prazer.<br />
Querer, desejar, ter.<br />
Enlouqueço, giro no eixo dos meus pensamentos pra encontrar quem sou eu.<br />
Tontura, vertigem, marasmo, loucura.<br />
Chega.<br />
Tô indo já.<br />
Se vou chegar, não sei.<br />
Passo a passo, tropeço, caio.<br />
Depois de uma noite bem dormida e um café quente, já sou eu de novo. Ou de velho.<br />
Mas sou eu e o que quero.<br />
Ser assim. Querida assim. Aceita assim. Amada assim.<br />
Eu fui. Eu sou. E serei.<br />
Porque sonhei. Porque desejei. Porque encontrei.<br />
Me doei. Viajei. Sublimei.<br />
Ah! Quanta sanidade num mar de loucuras!<br />
Quantos encontros no escuro dos olhos fechados!<br />
Quantos renascimentos nos beijos molhados!<br />
Voar com os pés no chão! Que sensação!<br />
Enviar mais sangue ao coração.<br />
Não. Sangue não.<br />
Paixão. E descobrir-se outra dentro de uma.<br />
Ser devolvida à realidade sem tortura.<br />
Leve e repleta.<br />
Da alma antes imaculada, brota a que está tocada, acariciada.<br />
Ânsias sem precipitações.<br />
Sonhos lentos, no meu tempo.<br />
O meu tempo traz o meu vento.<br />
Que me envolve lento.<br />
Nem mais nem menos, no meu momento.<br />
Momento que espero, que é meu, egocêntrico e íntimo.<br />
Respiro, relaxo mas não adormeço.<br />
Sigo atenta aos sinais para chegar aos finais, na mulher, em mim.<br />
Selma Celegati<br />
Quanto tempo tem o tempo?<br />
O tempo de um olhar?<br />
Ou de um breve sussurrar?<br />
É tempo para pensar.<br />
Ou simplesmente devo navegar?<br />
À deriva....naufragar....ou flutuar em alto mar?<br />
Há tempo para me perder?<br />
Mas...e se eu me encontrar?<br />
Se me encontrar não será em vão.<br />
Sempre me perdi na imensidão.<br />
Às vezes, me vi na escuridão.<br />
Mas não sem antes me despir da pele enrugada que cobria meus pensamentos e sentimentos.<br />
Nada me basta na ânsia da busca do fim do abismo.<br />
De olhos fechados há luz onde não há vida.<br />
Na vida falta som, sabor.<br />
E o tempo?<br />
Passou?<br />
Chegou?<br />
Alguém notou?<br />
Há páginas marcadas, repletas de letras.<br />
Perfume doce e inebriante de contos e encontros, de melodias e de fugas alucinantes por<br />
corredores estreitos e úmidos e escuros e sufocantes.<br />
Mas o tempo chegou....<br />
Ah.....o tempo....<br />
Ele trouxe de volta o que não havia perdido.<br />
Fez-me dizer o que já havia dito.<br />
Viver o que não havia vivido.<br />
Encontrei tempo.<br />
Encontrei-me com o tempo.<br />
E sempre é tempo para tudo.<br />
Há tempo para todos.<br />
O tempo é de todos.<br />
Volte, regrida, avance, retroceda, ultrapasse.<br />
Faça o que desejar, mas faça.<br />
O tempo permite fazer.<br />
O tempo pune os que não fazem.<br />
Os que só observam....ficam...no vácuo do tempo desperdiçado que escorre pelo ralo.<br />
Faça o seu tempo.<br />
Seja sua história, sua memória.<br />
Mostre sua cara, descarada.<br />
Respire...transpire.<br />
E responda: em qual tempo se encaixa o seu tempo?<br />
Há tempo para isso?<br />
Sinto muito.<br />
Seu tempo acabou.<br />
Selma Celegati<br />
12 13 13
14<br />
EVENTOS DO CURSO EM 2010<br />
IX ENCONTRO DE PESQUISA em História<br />
(3 a 7 de Maio)<br />
Dr. João do Prado, Ms. Renato Dotta, Prof. Marcel<br />
Martins e Ms. Dildo Brasil.<br />
Grupo de Congada do Parque São Bernardo (SBC).<br />
Bruna (5NA), Angélica (5NA), Dra. Palmira Petratti,<br />
Ms. Agenor Bevilacqua Sobrinho, Prof. Clovis<br />
Antonio Esteves e Marco Antônio (5NA).<br />
Visita a Paranapiacaba (1º Semestre)<br />
Professores e alunos do curso de História na Vila de Paranapiacaba.<br />
X Semana de História (13,14 e 15 de Outubro)<br />
Dra. Ania Cavalcanti, Ms. Rosângela Cristina Guidelli<br />
e Ms. Renato Alencar Dotta.<br />
Dra. Cristina de Toledo Romano e Dra. Maria<br />
Aparecida de Aquino.<br />
15
Imagens da sala do GERP – GEPHILIS<br />
localizada na sala 2A09B na <strong>UniABC</strong><br />
Visite o blog do curso de História da <strong>UniABC</strong>:<br />
www.historiauniabc.blogspot.com<br />
Grupo de Estudos<br />
Regionais e Pesquisa<br />
(GERP)