23.04.2013 Views

Outubro 1938 (com OCR).pdf

Outubro 1938 (com OCR).pdf

Outubro 1938 (com OCR).pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

NUMERO 42<br />

ANNO XVI<br />

ü l l u s t r o ç ã o<br />

Bcasíleíca<br />

OUTUBRO<br />

DE <strong>1938</strong><br />

MENSARIO EDITADO PELA<br />

SOCIEDADE ANONYMA "O MALHO"<br />

DIRECTOR-GERENTE<br />

ANTONIO A. DE SOUZA E SILVA<br />

Administração e escriptorios: Trav. do Ouvidor, 34<br />

Redacção e officinas: R. Visconde de Itauna, 419<br />

Telephones 23-4422 e 22-8073<br />

End. Tel. OMALHO — Caixa Postal 880 — RIO'<br />

PREÇO DAS ASSIGNATURAS<br />

NO BRASIL NO EXTERIOR<br />

ANNO... 35$000 ANNO... 50$000<br />

6 MEZES. 18$000 6 MEZES 26$000<br />

SOB REGISTRO SOB REGISTRO<br />

NUMERO AVULSO 3$000


S I U U A I U O DOS PIMNCIPAES<br />

ASSUMPTOS DESTA EDIÇÃO<br />

PROFESSOR CARBONATO<br />

Chronica de Afrânio Peixoto<br />

A CIDADE QUE BROTOU NO RASTRO<br />

DE ANHANGUÉRA<br />

A MOEDA —<br />

Reportagem photographica — Redacção<br />

Poesia de Carlos Magalhães de Azeredo<br />

NOVOS HORIZONTES DO<br />

PASSEIO PUBLICO —<br />

Reportagem photographica — Redacção<br />

A CURIOSIDADE —<br />

Chronica de A. Austregésilo<br />

PFDRA BALÃO —<br />

Paysagern photographica — Redacção<br />

O DIA DA PATRIA —<br />

Reportagem photographica — Redacção<br />

O RETRATISTA DE COLOMBO —<br />

RIO ANTIGO —<br />

Chronica de Flexa Ribeiro<br />

Reportagem photographica — Redacção<br />

TELHADO DE ANDORINHAS —<br />

Chronica de Adelmar Tavares<br />

NAVEGANDO O RIO BRANCO —<br />

Chronica de Alvaro de Las Casas<br />

A BONECA DE OLHOS VIVOS —<br />

Conto de Osvaldo Orico<br />

ARTES E ARTISTAS —<br />

Redacção<br />

O JOGO DO POLO —<br />

Chronica de José Faustino Filho<br />

MUNDANISMO — DE MEZ A MEZ —<br />

INSTANTANEO DE TODO O MUNDO. ETC.<br />

Redacção<br />

TRICHROMIAS, DOUBLÉS E DESENHOS DE:<br />

Vicente Leite, Lucília Fraga, Paulo Ama-<br />

ral, Calmon Barreto e Leopoldo<br />

E ,sta é a famosa poudre<br />

de beauté de Coty... Repre-<br />

senta a suprema perfeição<br />

em pós de belleza... E tão<br />

fina que mal se sente sobre<br />

a pelle, e tâo perfumada<br />

<strong>com</strong>o um extracto de Coty...<br />

Procure experimental-a e<br />

verá que delicado tom mat<br />

e avelludado sua tez ganha-<br />

rá. A poudre de beauté de<br />

Coty é offerecida em 8 lin-<br />

das e oriainaes tonalidades:<br />

Q<br />

CRISTAL ROSÉ<br />

PERLE ROSÉE<br />

ROSE THÉ<br />

SOLEIL BRÛLANT<br />

ANTILLES<br />

OTTOMANE N. 1<br />

OTTOMANE N. 2<br />

TEINDOR<br />

LA POUDRE DE BEAU<br />

t<br />

® ©DUO A lã D@§ d<br />

f pn v*<br />

PARIS - RIO<br />

Grande sortimento de Tapetes e Passadeiras<br />

de todas as qualidades, cores e dimensões,<br />

pelos menores preços<br />

Stores - Cortinas - Tecidos - Novidades<br />

(INES<br />

REGISTRADA<br />

a casa digna da sua preferencia<br />

65 Rua da Carioca 67-RIO<br />

%<br />

<strong>Outubro</strong> — 1933 7


Concentrando-se o photographo na<br />

parte artística, a "Contax" resolve<br />

por si só a parte technica.<br />

Encontra-se em todas as boas casas<br />

do ramo a<br />

CONTflX ZEISS IKON<br />

ANNO DE 1902<br />

Dia (Quarta-feira) — Circula o l.° N.° da "Revista de Arte e Philosophia",<br />

de Coliatino Barroso. Em Belem, o diário "Noticias", de Alcides Bahia.<br />

Dia 2 —F.' transferido ao Governo do Estado do Espirito Santo o dominio da<br />

"Ilha do Principe", na bahia d3 Victoria.<br />

Dia 3 — Arthur Timctheo, discipuio de Oreste Coiiva, é incumbido de pintar<br />

um velario para o Theatro S. José.<br />

Dia 4 — Installa-se em Nictheroy. á rua Visconde de Itaborahy, 231, o Tribunal<br />

do Relação, sob a presidencia do Desembargador Antonio Somes.<br />

Dij 5 — A Empresa Santa Luzia annuncia que o preço do gelo seré de 60<br />

réis o kilo, em porção, podendo baixar o preço logo que augmente o consumo.<br />

Dia 6 — O Centro Rio Grandense do Norte manda cunhar uma medalha em<br />

horr.enagom a Augusto Severo, trazendo no revorso a figura do "Pax".<br />

Dia 7 — O Prefeito Leite Ribeiro pretende regularisar o serviço de extincçáo<br />

dos cães, creado> em São Pauio por /^ntonio Prado.<br />

Dia 8 — Acha-se em organização aqui uma empresa para extracção e exportação<br />

da turfa de Marabu.<br />

Dia 9 — O escuiptor Benevonuto Berna é autorisado pelo Club Naval a fundir<br />

em gesso o busto de War.denkolk.<br />

Dia 10 — No Apollo, peia I." vez no Brasil, representa-se a "Ceia dos Cardeaus".<br />

Ma*!os faz o cardeal Rufo, Conde o Cardeal Gonzaga, Taveira o cardeai<br />

de Montmorency.<br />

Dia II —Noticiam os matutinos que na Irtendencia da Guerra ha em deposito<br />

200.000 fusis, 100.000 fardas e 500 canhões.<br />

Dia 12 — Passa na Camara o projecto Henrique Lagden, que supprime os hydrornetros<br />

nesta Capital.<br />

Dia !3 — O Conselheiro Andrade Figueira enceta suas preiecções de Direito<br />

Civil na Faculdade Livre de Sciencias Jurídicas e Sociaes.<br />

Dia 14 — De î a II deste mo2. os impostos de consumo renderam, nesta capi-<br />

tal. 330:492$U00<br />

Dia |5 — Realisa-se no Còsino Fluminense o festival symphonico de Arthur Na-<br />

poleão, que regerá a "Brasiliana".<br />

Dia |6 — E' votado, na Camara, o Projecto 49-A, que manda erigir uma estatua<br />

a Moriano Peixoto.<br />

Dia 17 — haugura-se, no edifício da Directoria Gera! de Saúde do Exercito, o<br />

Depos : to de Maierial Sanitario Militar.<br />

Dia 18 — Julia Lcpes de Almeida inaugura uma exposição de flores para fins<br />

de benefirencia.<br />

Dia 19 — Completa seis an.ios de existencia a Revisia de Jurisprudência", que<br />

e redigida pelo D'. Raia Gabagiia e B. PorteÜa.<br />

Di«» 20 — E' inhumado no Cemite-io do Sacramento (São Paulo) o corpo do<br />

Co'.s. Antonio Carlos, vulto eminente no regimen monarchico.<br />

Did 21 — No poiygono de tiro do Realengo são submettidos a experiencias os<br />

carihões Schneider de 7, 5. tiro rápido, e os Vickers de igual calibre.<br />

Dia 22 — Em Aracaju, é corcada pela Pol-cia a typographia do Movimento";<br />

cujo redactor é o deputado O'egario Dantas.<br />

Dia 23 — Guimarães Passos escreve, na "Gazeta", sobre o livro de versos de<br />

Luiz Murar, "Sarah".<br />

Dia 24 — No Ser.ado, Lopes Trovão apresenta projecto sobre alcoolismo, vadiagem,<br />

mendicidade, prostituição e colonias correcionaes.<br />

Dia 25 — Roune-se no Lyceu de Artes e Officios a S. B. de Estudos Psychicos,<br />

paia tratar da photographia transcendental.<br />

Dia 26 — O S. Taulo Athletic Club vence o campeonato de football disputado<br />

em São PÒUIO. O score é do 2 x I.<br />

Dia 27 — O Presidente Campos Salies edita os seus discursos, pronunciados na<br />

Camara, durante a monarchia. e no Senado, sob a Republica.<br />

Dia 28 — Aos jornalistas argentinos é offerecido peio director de "A Capital".<br />

Alvores de Azevedo Sobrinho, um passeio á Itapuca (Nictheroy).<br />

Dia 29 — Chega a esta motropole o Cons. Rodrigues Alves. Presidente eleito<br />

da Republica.<br />

Dia 30 — A receita do Theatro Municipal, no moz anterior, foi de 2:813$000<br />

e à desposa de 2:850$000.<br />

Did 31 — O l.° secretario do Instituto Histórico. Commendador Raffard. envia<br />

ao Conseiho uma <strong>com</strong>missão para solicitar se dê ao Largo da Gloria o nomo<br />

de Praça Rio Branco.<br />


AS SECCAS NO CEARA'<br />

O clima, na terra de Iracema, não é assim tão insupporlavcl. <strong>com</strong>o sc pensa ca para<br />

o sul. Fm certas planuras ó mesmo aprazível por demais. Annos ha em que se tirita<br />

de frio. Uma vez ou outra, vem um verão mais forte ou um inverno rigoroso, que<br />

damnificam bastante a lavoura, por se prolongarem demasiado.<br />

O fiapo)lo do Ccaió suo as seccas. que se fizeram sentir <strong>com</strong> maior intensidade nos<br />

annos seguintes: 1710-1711. 1723-1727. 1736-1737. 1744-1745. 1777-1778. 1790-1793.<br />

1808-1809. 1816-1817. 1824-1825. havendo algumas durado um quatriennio I<br />

Na secca de 1877. a temperatura. á sombra, elevou-se a 33.°<br />

Durante essas calamidades, desenvolvem-se as epizootias, que levam vários nomes :<br />

mal iriste, nó/o, rengue, catarrl.aes, etc.<br />

Os invernos rigorosos, que maiores damnos originaram nas zonas agrícolas daquelle Es-<br />

tado. foram os de 1776. 1782. 173. 1805. 1819. 1826. 1832. 1839. 1842. 1866 e o<br />

que. principiando no dia 25 de novembro de 1871. terminou em junho de 1872. O<br />

inverno de 1826 durou seis mezes. Fm 1877. o tempo frio foi egualmente longo e cruel.<br />

O iombate ás sc«xvis iniciou-se sob os auspícios do Instituto Polytechnico. no anno de<br />

1877. Em sessões continuas, vultos eminentes da Politica c da Sciencia. taes o Barão<br />

de Capanema, o Ur. Viriato de Medeiros e o Cons. Bcaurcpaire Rohan. debateram o<br />

assumpto, aconselhando medidas e aventando idéias : construcção de cisternas, açudes,<br />

observntorios metcorologicos. armazéns de forragens, etc.<br />

Sob a Republica, fundou-se aqui a repartição denominada de "Obras Contra as Seccas<br />

c construiram-sc importantes açudes. A esses melhoramentos estão ligados os nomes<br />

de Epitácio Pessoa e Arrojado Lisboa.<br />

OS DESCENDENTES DE TIRADENTES<br />

0 Protomsityr da Republica possue ainda descendentes, c um destes é o Sr. C hristia-<br />

no Carlos Xa\ier de Souza, cujo avô era sobrinho do heroe da Inconfidência. Christia-<br />

no nasceu em 1807. está bem conservado, apesar dos embates da vida. E viuvo,<br />

»en lo cinco filhos, dos quaes um do sexo feminino. Reside numa cidade mineira, e<br />

ganha o seu pão <strong>com</strong>o vendedor ambulante. Entrevistado, errta feita, pelo jornalista<br />

Mario Casusanta eisi Brejo das Almas, no extremo norte das Alterosas, referiu-se a seus<br />

antepassados proxinios.<br />

— O meu avô. que se charnaVa Jeronymo Xavier de Souza, era sargento-mór c viera<br />

pari Brejo das Aimas a mando do Imperador, depois de haver <strong>com</strong>mandado. por vá-<br />

rios annos. o Batalhão dos Dragões, em Santo Antonio do Itacambirussin. Deste loga-<br />

rejo. partiu para Brejo das Almas, tendo <strong>com</strong>prado a metade de uma fazenda, em<br />

1833. Cinco annos mais tarde, meu avô falleceu. deixando cinco filhos e duas filhas.<br />

Lembro-me dos nomes de quatro filhos de meu avô : Luiz Modesto Xavier de Souza.<br />

João Carlos Xavier de Souza. José Bernardo Xavier de Souza e Antonio Xavier de<br />

Souza. Este é que foi meu pae. Nunca se poz em duvida o nosso parentesco <strong>com</strong><br />

Tindentes. c isso eu o ouvi. <strong>com</strong> os meus ouvidos, a meus antepassados. Um caso<br />

destes não se inventa. I anto mais que haviam ex-<strong>com</strong>mungado toda a geração de<br />

1 indentes.<br />

A FREQUENCIA NAS ESCOLAS SOB O IMPÉRIO<br />

Fr a natural que os estabelecimentos de instrucção. quer primários quer secundários, no<br />

regimen ir.onarchico, nesta capital, não tivessem uma affluencla de alumnos conside-<br />

rável. <strong>com</strong>o nos dias correntes. Havia menor numero de escolas, não resta duvida,<br />

mas também, a população carioca era de muito inferior á actual. Na época a que<br />

nos leportamos. 1888. a Guanabara contava, mais ou menos, uns 500.000 habitantes.<br />

No anno immediato. os estabelecimentos dc instrucçôo dignos de attenção eram. <strong>com</strong>o<br />

ainda hoje os destinados ao ensino militar, ás sciencias e ás artes. Existiam 1res esco-<br />

las militares no Brasil : uma no Rio. outra em Porto Alegre c outra em Fortaleza. Uma<br />

naval, nesta cidade. Comprehendiam dois cursos • o preparatório, puramente theorico.<br />

tciio em très annos. e o de infantaria o cavalinha, ministrado em um biênnio. A Es-<br />

cola de Marinha possuía um curso preparatório, o Collegio naval, que se fundiu <strong>com</strong><br />

a escola, em virtude do Regulamento de 26 de junho de 1886. Desse consorcio<br />

surgiu a Escola Nóval. de que tanto nos ufanamos.<br />

Duiante 18S8. a frequencia na Escola Naval foi de 62 alumnos c nos cursos prepara-<br />

toiios de 145. Na Academia das Beilas Artes, de 62 alumnos c 25 alumnos livres.<br />

No Consenatorio dc Musica, em 1887. estavam matriculados 181 alumnos. além de<br />

49 livres. Nesse mesmo anno. entravam para o Instituto de Surdos Mudos 33 alumnos<br />

e para o Instituto dos Meninos ( egos. 56.<br />

O CLIMA DO RIO NOUTROS TEMPOS<br />

A proporção do progresso, o clima soffre suas translormaçóes. para melhor ou para<br />

pecr. quanto a temperatura, bem entendido. O grau de calor augmenta conforme o<br />

numero de casas. As grandes cidades devem ter sido mais frias, mais arejadas antes<br />

do seu desflorestamento.<br />

QuòI o clima da Guanabara no fim do XVIII século ? O Padre Vasconcellos achava<br />

que era um dos mais saudáveis do Orbe", e Brito Freire catalogou a nossa capital<br />

no rol das que nunca haviam sido infeccionadas de males contagiosos. De accordo <strong>com</strong><br />

Briio Freire, o nosso tempo era regulado por duas estações apenas : o inverno, que en-<br />

trava em março, e o verão, que vinha em setembro, c a mudança de ambas estações<br />

se mostrava irelhor pela chuva, que pela calma, ou pelo frio .<br />

A Moreira de Aze\edo. mais proximo de nós. a Scbastianopolis apparecia <strong>com</strong>o pos-<br />

suidora de clima húmido e quente. Justificava o seu ponto de vista. "O ar que corre<br />

pela cidade, porém, sente alguma differença na sua bondade, por motivos, em parte,<br />

inevitáveis Taes se consideram : 1.°. a baixeza do pavimento, em que se edificou a<br />

cidede. relativamente á superficie do mar; 2.°, a estagnação das aguas das chuvas;<br />

3.°. a pouca circulação do or. pelos edifícios c ruas mui estreitas; 4.°. os obstáculos<br />

que a entrada dos ventos quotidianos ou térreos, soprados do N. F.. N. c N. O.,<br />

encontra nos morros de São Bento, da Conceição, do Valongo até S. Diogo; e da<br />

parte do sueste, sul e suleste. nos do C astello, de Santo Antonio c na cordilheira de<br />

Santa Thereza. parallelas aos primeiros, que embaraçam o ingresso das viraçoens, dei-<br />

xando a cidade sepultada entre elles'. ROGERG<br />

<strong>Outubro</strong> —" <strong>1938</strong> 3


UMA<br />

VERDADEIRA<br />

E" um luxuoso volume, impresso cm roto-<br />

gravura, <strong>com</strong> cerca de quatrocentas paginas,<br />

contendo modas, bordados, crochets, deco-<br />

rações, todos os trabalhos de arte. os<br />

arranjos de casa, cuidados de belleza.<br />

conselhos, litteratura, sport, cinema e<br />

curiosidade. Verdadeiro e util encantamento<br />

para o espirito feminino.<br />

Pedidos á<br />

Travessa do Ouvidor, 34. — Rio.<br />

AN N U AR IO DAS SE N H ORAS<br />

4 IHustraçáo Brasileira


é<br />

CIDADE<br />

q r i: » R O T O i;<br />

X O H A S T K O D O " A X H A X G Ü E R A "<br />

O progresso<br />

tumultuario e vertiginoso do Brasil nto<br />

matou ainda o encanto de suas velhas cidades, cor?»<br />

os thesouros da arte colonial e as toscas relíquias que<br />

sairam das mãos dos nossos antepassados.<br />

Emquanto o litoral se moderniza atropeladamente e o<br />

proprio interior se vae deixando transformar, pouco a<br />

pouco, <strong>com</strong> a presença sugestionadora e todo-poderosa do<br />

avião, do trem de ferro e do automovel, muitos recessos do<br />

sertão conservam inalterada a physionomia dos tempo?<br />

coloniaes. Há cidades ainda, no vasto hinterland brasileiro,<br />

onde a vida parece ter parado ha cem anos. Entram-se<br />

as suas portas e é <strong>com</strong>o se penetrássemos, de repente, numa<br />

cidade, de um ou dois séculos atraz. E ha um grande<br />

encanto nessa visão retrospectiva do Brasil.<br />

Goyaz, a antiga capital do Estado, é uma dessas cidades<br />

velhas, melancólicas, socegadas, em cujas ruas a gente<br />

6 I Ilustração Brasileira<br />

(Photos M. Baldi)<br />

A celebre "Cruz<br />

"Anhanguera", na an<br />

capital de Goyaz.<br />

gundo a tradicção<br />

rente, foi erigida pelo<br />

sado bandeirante pa<br />

ta que penetrou, pri<br />

ro que ninguém, os<br />

tões brutos desta reg<br />

O mesmo chafariz, visto de perto<br />

A cidade de Goyaz, vista da torre da Capella de Santa Barbara


Um dos chafarizes mais bellos<br />

do Brasil colonial, na<br />

praça principal de Goyaz<br />

O sino de bronze da Capella<br />

de Santa Barbara<br />

encontra o Brasil menino, antes de acordar para<br />

a sua vida de nação autonoma.<br />

As immensas distancias preservaram-na do con-<br />

tacto da avassaladora onda de civilização que<br />

sobe do litoral. Sua grave e tristonha physiono-<br />

mia é puramente, authenticamente colonial.<br />

E atravez das ruas de casas baixas, parecem<br />

resoar os passos de uma éra distante, quando<br />

as bandeiras devassavam as virgens selvas nati-<br />

vas, povoadas de mysterios, de perigos e<br />

riquezas, todos igualmente irresistíveis.<br />

Os pés do "Anhanguera" levantaram o pó<br />

dessas estradas. Seus olhos banharam-se no<br />

deslumbramento ouro e verde desse risonho<br />

valle goyano. E suas mãos plantaram a cruz que<br />

ainda hoje, se levanta á entrada da cidade, <strong>com</strong>o<br />

um gesto,*ao mesmo tempó. piedoso.e ousaco,<br />

que se- projectasse do fundo das idades para o<br />

futuro.<br />

Olhando essas velhas paredes, essas ruas tortu-<br />

osas, vemos resurgir, do fundo da nossa consci-<br />

ência, o drama dos violadores da selva, esses<br />

bandeirantes que abriam as trilhas, que primeiro<br />

penetraram o recesso do sertão brasileiro e<br />

estenderam o mappa da colonia portugueza, até<br />

ás orlas da America hespanhola.<br />

<strong>Outubro</strong> 193? 7


A paisagem tranquilla da cidade é para nós<br />

<strong>com</strong>o uma pagina amarellecida pelo tempo. Esté<br />

cheia de passado, mas um passado vibrante,<br />

tumultuoso e heroico, um passado que parece<br />

cada vez mais vivo e mais bello, á proporção<br />

que nos distanciamos, porque nelle resôa o<br />

primeiro grito da nossa audacia, na epopéa das<br />

Bandeiras vencedoras do sertão e das distancias.<br />

8 IIlustração Brasileira<br />

as<br />

.-to*<br />

t t."<br />

Parece que estamos<br />

no sertão da Africa.<br />

Engano ! São tamaras<br />

— muito raras no<br />

Brasil, plantadas ainda<br />

no tempo colonial<br />

Capella antiga, em<br />

Areias, perto da<br />

velha capital de<br />

Goyaz.


N o Inácio, um dia, achei, mesclada á terra adusta,<br />

uma velha moeda azinhavrada e frusta, f>or séculos<br />

oculta ao claro sol romano.<br />

Ilegível ficara o texto; mas <strong>com</strong>igo trouxe-a, f>ara<br />

salvar do escuro lodo antigo a imperial efígie, e o<br />

nome soberano.<br />

Puz -me a pensar, em cjuanto a lavava, a f>olia: cjue<br />

símio ou cjue chacal me dá a luz deste dia? cjue<br />

obceno histrião vil? cíue sinistro tirano; Nero?<br />

o glotao Vitélio? o cunho, cjue ódio exa la, de<br />

Cômodo? o ieroz joeriil de Caracala?...<br />

ÇOuiz o acaso, uma vez, ser generoso e humano:<br />

não logrei discernir a hronzea elígie augusta; mas,<br />

na velha moeda azinhavrada e Irusta, li, <strong>com</strong> ôrato<br />

respeito, o nome de Trajano.<br />

CARLOS MAGALHÃES DE AZEREDO<br />

D A A C A D E M I A B R A S I L E I R A<br />

<strong>Outubro</strong> 1í>38 9


(Is novos horizontes<br />

ilo Passeio Publico<br />

Um vento de renovação sacudiu as frondes das<br />

velhas arvores do Passeio Publico, penteou-lhe a<br />

gramma e varreu-lhe os horizontes.<br />

Bastou que nascessem alguns arranha - céos em<br />

torno, que a Prefeitura alargasse uma rua,<br />

demolisse uma casa de diversões e alterasse o rra<br />

fego de vehiculos, para que o pequeno e antigo<br />

parque, encravado quase no centro urbano, remo-<br />

çasse cincoenta annos.<br />

A renovação operou-se cá fóra. Mas a impressão<br />

que se tem é que foram as arvores, a gramma, o<br />

pequeno lago artificial, o canal liliputiano e as<br />

estatuas de poetas, pintores, músicos e jornalistas,<br />

que se banharam nas aguas de juventa.<br />

Dos seus bancos, nos dias de sol, vêem-se descerrar<br />

os panoramas mais lindos da cidade, e o movi-<br />

mento ruidoso da "urbs" vastíssima e tentacular<br />

gyra em torno do pequeno oásis vivente <strong>com</strong>o um<br />

"carroussel" gigante.<br />

10 IllustrnçSo Brasileira


PHOTOS VOLTAIRE<br />

<strong>Outubro</strong> — 1033 11


A curiosidado é um bem e um mal, fonte inesgotável<br />

de prazeres e de amargas desilusões. O progresso e<br />

a sociedade originaram-se dos sentimentos primevos<br />

que cercavam o homem, no inicio do mundo : a<br />

curiosidade e o medo. O temor criou os deuses e a<br />

curiosidade a familia.<br />

Eva foi curiosa provando a maçã paradisiaca; e este<br />

error do vale, onde nasciam o Fison, Geon, Tigres e<br />

Eufrates, constitui a base da existencia humana. As<br />

religiões condenaram, sempre, os curiosos. Prometeu<br />

foi vitima do seu genío perscrutador; ainda hoje<br />

suas visceras são debicadas por atroz abutre, no<br />

Caucaso. A curiosidade pode ser dos sentimentos,<br />

das <strong>com</strong>oções, ou paixões, e da inteligência.<br />

Um zoído, o raio luminoso, um lugar secreto, os fru-<br />

tos, as flores, um fenomeno qualquer despertam, nos<br />

viventes, o anélito da percepção sensível. Qualquer<br />

animal é instintivamente curioso e os pitécos mos-<br />

tram-se os mais ardilosos, nas suas pesquizas, <strong>com</strong>o<br />

demonstraram Desor e Darwin. A criança possui, co-<br />

mo qualidades espirituais dominantes, a curiosidade<br />

o medo e a imitação, forças intimas, para o seu<br />

desenvolvimento. A vivacidade pueril é de todos co-<br />

nhecida e as intermináveis e embaraçosas perguntas,<br />

<strong>com</strong> que nos cercam os fedelhos, são a prova da sua<br />

insaturavel curiosidade. As traquinagens e os ma-<br />

lefícios infantis brotam desta qualidade psicologíca<br />

evolutiva.<br />

No domínio da patologia mental, vemos idiotas, im-<br />

becis, debeis psiquicos, que vivem a perscrutar pe-<br />

queninas coisas, produtoras, ás vezes, de grandes ma-<br />

les, por causa da curiosidade. São estes doentes ins-<br />

táveis, irritantes, metidiços, bisbilhoteiros, destruido-<br />

res, maléficos, por causa desta tendencia indomável,<br />

quase simiesca. Psicastenicos e angustiosos, quando<br />

tomados de estados de ansia e duvida, querem sa-<br />

ber da causa do fenomeno, das origens aflitivas dos<br />

seus padeceres. Levam nesta ansiedade, a ruminar co-<br />

moções, a penetrar no recesso da personalidade,<br />

para saberem as fontes verdadeiras dos sofreres in-<br />

solúveis. As moçoilas e rapazes têm um mundo in-<br />

finito de curiosidades no cerebro e a natural timi-<br />

dez da educação ínibe-se de tudo saber e tudo lo-<br />

grar. Que prazer espiritual, quando eles desvendam<br />

qualquer segredo, nos meandros misteriosos da se-<br />

xualidade. .. Os velhos são pouco curiosos; a senes-<br />

cencia, quase não os aguça a indagações.<br />

A curiosidade das <strong>com</strong>oções, ou <strong>com</strong>o se diz habi-<br />

tualmente, emotiva, é a mais forte e a que traz<br />

máximos sofrimentos. Não falemos das paginas do<br />

amor, da duvida, das paixões, em geral, em que o<br />

caçador de novidades, de sensações ir>editas, o mer-<br />

gulhador dos turbilhões sociais, saem quase sempre<br />

<strong>com</strong> a alma ferida e o coração cheio de gilvazes das<br />

perigosas experiencias. Os curiosos da fé são, amiú-<br />

de, torturados. San Tomé, aparece <strong>com</strong>o exemplo<br />

ciassico.<br />

Polonio foi atravessado, <strong>com</strong>o um rato, pela espada<br />

de Hamleto, por causa da sua baixa curiosidade.<br />

Xisto também foi vitima dos seus sentimentos bisbi-<br />

lhoteiros. No dominio das paixões dizem ser a mu-<br />

lher mais curiosa do que o homem. Pensam assim<br />

vários psicologos, <strong>com</strong>o Mantegazza, e o povo re-<br />

12 IHufttraçflo Brasileira<br />

pete, põe experiencia multisecular, que o carater fe-<br />

minil ó indagadiço e sagaz.<br />

"Elie ótait femme et <strong>com</strong>me tel ourieuse". escreveu<br />

Lamote. Que não protesteis, boníssimas leitoras, pois<br />

Eva vos ensinou o primeiro direito ao desconhecido.<br />

A curiosidade é feminina, pois, segundo Agostinho<br />

de Campos, o sexo das palavras origina-se do senti-<br />

mento que elas inspiram.<br />

Fonte do bom e do mal, disse eu no principio.<br />

Édipo foi o mais desgraçado dos mortais, porque,<br />

movido peia invencível curiosidade, decifrou o enigma<br />

da esfinge.<br />

Como diz Ingenieros ha curiosidades estereis e pro-<br />

veitosas. A curiosidade cientifica é tudo no progres-<br />

so, e dela, do cartesianismo, da ancia humana do<br />

<strong>com</strong>o e do porque brotou a filosofia, nasceu a ar-<br />

vore fecunda da ciência, cujos frutos sazonados tantos,<br />

tantos bens proporcionam ao homem. Esta santa curio-<br />

sidade guiou Newton, Laplace, Galileu, Colombo.<br />

Vasco da Gama, Bartolomeu de Gusmão, Marconi<br />

e os inventores, em geral, aos grandes descobrimentos.<br />

A instrução, disse Rousseau, fomenta a curiosidade.<br />

A senhora Stael, sem o saber, repetiu o mesmo prin-<br />

cipio. O aprendizado desenvolve a bossa dos perspi-<br />

A . A V H T K R ím K S I L O<br />

O a Academia Brasileira<br />

cazes. Mas es*e elemento psicoíogico, inato dos ho-<br />

mens, é. ás vezes, a arma traiçoeira e maldosa facul-<br />

dade, prejudicial em crianças malfeitoras, em mulhe-<br />

res corriqueiras, a qual fomenta a maledicência, a<br />

calunia, o boato, que ó o grande achado dos lábios<br />

anonimos da multidão, ilustra e intriga, propéle as<br />

<strong>com</strong>adres ás brigas caseiras, desenvolve a espiona-<br />

gem, a baixíssima espionagem de vários povos. Quan-<br />

tas vitimas da curiosidade, que produz ilusões perdi-<br />

das. desejos indomáveis, almas sangrentas, gritos de<br />

desespero, mortes, assassínios, e, ás vezes, vitorias...<br />

entre os indagadores das obscurezas do mundo, os<br />

insaciaveis de novidades <strong>com</strong>oventes e os esmiuça-<br />

dores de maldades !<br />

E' a curiosidade bem ou mal, bondosos leitores.<br />

Fatalidade do espirito, nobreza e mesquinhez, cami-<br />

nho para a gloria e para o degredo, luz e abismo,<br />

cujos símbolos estão em Prometeu e Édipo, Colom-<br />

bo, ou Pasteur ! O quericta Eça de Queiroz, a pro-<br />

posito dela, escreveu este conceito magnifico : —<br />

"Amigo meu, não desprezes a bisbilhotice. Ela é um<br />

impulso humano de latitude infinita, que, <strong>com</strong>o to-<br />

dos, vai do reles ao sublime. Por um lado, leva a<br />

escutar as portas e pelo outro a descobrir a Ame-<br />

• ••<br />

rica .


A gente aue habita alli, pelos arredores,<br />

baptizou-a <strong>com</strong> o nome de — "Pedra Balão".<br />

De facto, dentro das asperezas naturaes, ella<br />

guarda a forma de um enorme balão-charuto,<br />

tombado nos descampados mineiros. Em torno,<br />

a região parece arida. Não há sombra, nem<br />

animaes por perto. Uma solidão perfeita habita<br />

o logar. De modo que a grande pedra, collocada<br />

sobre outra que lhe serve de pedestal, se<br />

assemelha a um monumento<br />

A' sua sombra, talvez ninguém pense em<br />

dormir, pois o silencio impressionante do ermo<br />

penetra a alma e enxota o somno das palpebras<br />

da gente. Mas, mergulhado na grande calma<br />

que sobe da terra em repouso e que desce dos<br />

céos altos e claros, o espirito se desprende livremente<br />

nas azas da meditação.<br />

Fica no Sul de Minas a "Pedra Balão". Possivelmente,<br />

muita gente terá passado nas immediações<br />

sem notar-lhe a forma esquisita e<br />

sem reparar na estranha solidão que a cerca.<br />

Quem quer, porém, que lhe chegue aos pés e<br />

goze do agazalho de sua sombra e beba do silencio<br />

que a rodeia, não poderá deixar de sentir<br />

o profundo e singular encanto do monolitho<br />

de Poços de Caldas.<br />

9 m<br />

28<br />

PHOTO BALDI<br />

• • '<br />

% y.<br />

- S •<br />

r ^ l iW


IHustração Brasileira<br />

A<br />

s <strong>com</strong>memoraçoes do ^Oia da Patria» tiveram,<br />

este anno. um raro explcndor na Capital do Bra-<br />

sil. A parada escolar, realizada no domingo cjue pre-<br />

cedeu a data magna da Independencia, conseguiu<br />

empolgar a população cjuc se deslocou para o centro<br />

ur!)í no, afim de assistir ao l>rilliante desfile da ju-<br />

ventude das cseolas. Por sua vez, a revista militar<br />

foi das mais imponentes. A mais brilhante represen-<br />

tação de nossas forças de terra e mar, incluindo tro-<br />

pas polieiacs, desfilou deante do coreto presidencial,<br />

ar.rado na praça Deodoro, no c|ual se encontrava, ao<br />

lado do ( liefc do governo e altas autoridades fede-<br />

mes, o Chefe do listado Maior do Exercito Argen-<br />

tino . G eneral (j)uiroga. Os aspectos photograpbicos<br />

destas paginas dão-nos uma idéa das duas grandes<br />

paradas, <strong>com</strong> cjue foi <strong>com</strong>memorado o 7 de Setembro*<br />

este anno, na ( apitai da Republica.


<strong>Outubro</strong> — <strong>1938</strong> 15


Ilustração Brasileira<br />

PHOTOS M. BALDI


•e<br />

o meio da salada de<br />

estylos que formam<br />

os prédios residen-<br />

ciaes nos diversos bairros do<br />

Rio. existem construcções cujo<br />

bom gosto merece estimulo e<br />

admiração. E' uma destas a casa<br />

da rua Dom Pedrito, no Leblon,<br />

propriedade do Sr. Eric Hae-<br />

gler.<br />

O estylo colonial offereceu ac<br />

architecto, que a idealizou, am-<br />

pla margem para uma creação<br />

notável, tanto sob o ponto de<br />

vista da esthetica, <strong>com</strong>o sob o<br />

ponto de vista de <strong>com</strong>modidade.<br />

Completando a graça própria da architectura, o<br />

jardim de plantas brasileiras, entre as quaes sobre<br />

sahem as palmeiras e os cactos, apresenta um<br />

encanto especial.<br />

Casa e jardim formam um conjunto harmonioso e<br />

agradavel aos olhos de todos, proporcionando,<br />

assim, uma bella amostra do quanto se pôde tirar,<br />

em arte e belleza, do estylo colonial brasileiro.<br />

<strong>Outubro</strong> — 198817


F L É X A K l » E I H O<br />

Prof. cathcdratico na Escola Na-<br />

cional dc He lias Artes, Director<br />

do Curso dc Arte Decorativa<br />

IRetratísta fce Colombo<br />

EM GERAL. O ASPECTO ARTÍSTICO DA CIVILIZAÇÃO NUNCA VEM Á<br />

TONA. A QUANDO SE ESTUDA UM GRANDE MOMENTO HISTORICO. E ME-<br />

NOS AINDA SE A CURIOSIDADE SE LIMITA A DETERMINADO FACTO. NO<br />

ENTANTO. PARECE NÃO EXISTIR OUTRO NÚCLEO DE SUGGESTÃO. COMO<br />

A ARTE PLASTICA. PARA NOS DAR INFORMES VIVOS DAS ACTIVIDADES<br />

HUMANAS. EM CERTA ÉPOCA QUANDO COLOMBO DESCOBRIU A AMERICA<br />

QUAL SERIA O ESPIRITO DOMINANTE. EM ITALIA. NA PINTURA? NENHUM<br />

ARTISTA. SEU CONTEMPORÂNEO. TERIA TIDO OPPORTUNIDADE DE RE-<br />

TRATAL-O? POR OUTRO LADO. QUE OBRAS DE ARTE TERIAM IMPRESSIO-<br />

NADO SEUS OLHOS? A QUAL TECELÃO. NO OFFICIO PATERNO. NÃO TERIA<br />

O JOVEN FUTURO NAVESADOR CONHECIDO ELEMENTOS DE ARTE. PELO<br />

MENOS DA DECORATIVA?<br />

CREIO QUE AINDA NIN-<br />

GUÉM SE AVENTUROU<br />

A SEMELHANTE INVESTIGAÇÃO.<br />

ALÉM DO MAIS. SUA PRÓPRIA<br />

HISTORIA ESTANDO RAIADA DE<br />

LENDAS E A NEC DOTAS. E DE IN-<br />

VIOLÁVEIS SEGREDOS POR ELLE<br />

MESMO CREADOS. Dl FFICULTA<br />

EXAME SEVERO DE SUA PSY-<br />

CHOLOGI A. SUA NASCENÇA<br />

MESMA MOTIVA DUVIDAS DE<br />

TODA ORDEM.<br />

LONGE DE MIM. AGORA. PRE-<br />

TENDER ENSAIAR CONCEITOS<br />

NESSE CAMPO MOVEDIÇO E<br />

IMPRECISO. NÃO SEI MESMO SE<br />

VALERÁ APENAS DESTRUIR A<br />

IMAGEM POÉTICA E AVENTURO-<br />

SA QUE O TEMPO. COMO BOM<br />

TECELÃO. GEROU EM TORNO DE<br />

SUA FIGURA.<br />

E ESSA PH YSIONOMIA MESMA<br />

VIVE EM DUVIDA. COMO SERIA<br />

CHRISTOVÃO COLOMBO? É CO<br />

CONHECIMENTO DE TODOS QUE<br />

SE NÃO POSSUE RETRATO<br />

ALGUM AUTHENTICO DO DESCO-<br />

BRIDOR DA AMERICA. NO EN-<br />

TANTO. QUASI TODOS OSjHISTO-<br />

RlADORES ESTÃO ACCURDES EM<br />

DIZEL-O DE ESTATURA ELEVADA.<br />

DE POSSANTE ENVERGADURA.<br />

ROSTO CORADO. OLHOS AZUES<br />

CLAROS. CABELLOS RUIVOS...<br />

SERIA ASSIM? MAS UM DESCO-<br />

BRIDOR DO NOVO MUNDO.<br />

HOMEM DE VONTADE HERIL<br />

CARACTER INQUEBRANTÁVEL.<br />

AMBIÇÃO TENTACULAR. DEVA-<br />

NEIO ESPLOSIVO. JAMAIS PODE-<br />

RIA SER DE PEQUENO TALHO.<br />

PÁLLIDO E LANGOROSO ... A<br />

NOSSA IMAGINAÇÃO RECLAMA<br />

LÓGICA. COHERENCIA ENTRE O<br />

GRANDE FEITO E SEU AUTOR.<br />

PARA A MEDITAÇÃO. PARA A VIDA INTERIOR PODEMOS ACCEITAR O<br />

INFERM IÇO GRANDE PASCAL. OU MESMO O "DESCARTES" ENIGMÁTICO<br />

QUE FRANS HALLS IMMORTALIZOU NUM DOS MAIS VIVOS RETRATOS DA<br />

HUMANIDADE. MAS. PARA ACÇÃO. PRECISAMOS DE ALGUÉM COMO O<br />

• HENRIQUE XVIII " QUE HELBEIN ESTRAIU DAQUELLA TEMPESTUOSA<br />

REALIDADE.<br />

ENTANTO. O ' METROPOLITAN MUSEUM". DE NOVA YORK. POSSUE UM<br />

RETRATO DE CHRISTOVÃO COLOMBO. E QUE É AUTHENTICO . . .<br />

POR QUE NÃO TEL-O COMO VERÍSSIMO? SEU AUTOR É SEBASTIANO<br />

VENEZIANO. MAIS CONHECIDO POR SEBASTIANO DEL PIOMBO. DO OFFI-<br />

CIO EM QUE SE EMPREGOU. QUANDO SE DESENCANTOU DA PINTURA. POR<br />

DETERMINAÇÃO PAPAL. O ESTUDO DA ARTE DE PIOMBO É DOS MAIS<br />

18 Illuátr&ção Brasileira<br />

CURIOSOS APPARECENDO DEPOIS QUE GIORGlONE CREOU A " MANEIRA<br />

MODERNA" DE PINTAR. QUANDO A ESCOLA VENEZIANA SUBSTITUIU O<br />

"SFUMATO" FLORENT 'NO PELA "MORBIDEZZA". E EM QUE TICIANO SE<br />

FARIA O MESTRE SEM PAR. -VEMOL-O. EM ROMA. POR 1509. A CONVITE<br />

DE AGOSTINHO CHIGI PARA DECORAR A VILLA FARNESI NA. ORIUNDO DO<br />

ENSINAMENTO DE GIOVANI BELLINI E DO PROPRIO GIORGlONE. SEBAS-<br />

TIANO DEL PIOMBO VEIU ENCONTRAR. NA CIDADE ETERNA. AS DUAS<br />

CORRENTES FRAGOROSAS: DE RAPHAEL E DE MIGUEL ANGELO OS AR-<br />

TISTAS ESTAVAM IMPLACAVELMENTE DIVIDIDOS. O VENEZIANO NÃO<br />

DEIXOU DE AFEIÇOAR-SE A RAPHAEL CUJO. SENTIMENTO SUBTIL E DELI-<br />

CADO. COM UMA BRISA DE SENSUALIDADE. O ENCANTAVA; MAS. POR OU-<br />

TRO RUMO. NÃO RESISTIU Á<br />

SEDUCÇÃO CAPULTICA<br />

DO HOMEM DA CAPELLA<br />

S I X T I N A : E TOMOU A SI<br />

CARREGAR NAS ONDAS CRES-<br />

PAS SEU ENTHUSIASMO UM E<br />

OUTRO. DE SUAS RELAÇÕES<br />

COM O PRIMEIRO RESULTOU A<br />

" FORNARI NA ". QUE DURANTE<br />

TANTO TEMPO SE ACREDITOU.<br />

COMO SENDO DE RAPHAEL. E<br />

HOJE SE RECONHECE COMO DE<br />

SEBASTIANO.<br />

O RETRATO DO "METROPOLI-<br />

TAN" DE NOVA YORK. QUE SE<br />

REPRODUZ. APRESENTA O FI-<br />

GURANTE TANTO QUANTO NO<br />

SENTIDO DA DESCRIPÇÃO GE-<br />

RALMENTE ACCEITA. TEMOL-O<br />

DE ELEVADA ESTATURA DENTRO<br />

DAS PROPORÇÕES RELATIVAS.<br />

DE HOMBROS LARGOS. PODE-<br />

ROSOS. OLHOS CLAROS. A BOCA<br />

ASSERTOADA EM COMISSURAS<br />

DE VONTADE VALOROSA. COM<br />

LIGEIRO DESDEM. CABELLOS<br />

NATURALMENTE ONDULADOS E<br />

CRESPOS. A MÃO ESQUERDA<br />

TODA VISÍVEL AMPLA. DE LON-<br />

GOS DEDOS QUE VIERAM DA<br />

EDADE-MÉDIA PARA A RENAS-<br />

CENÇA'. . .<br />

DEPOIS DO PRIMEIRO ROTEIRO.<br />

COLOMBO FEZ AINDA. COMO É<br />

DE CONHECIMENTO DIDÁCTICO.<br />

MAIS TRES VIAGENS AO NOVO<br />

MUNDO: 1493. 1498. 1502.<br />

SEBASTIANO DEL PIOMBO<br />

MORREU EM 1547 E COLOMBO EM 1506. NÃO APPARECE NENHUMA CON-<br />

TRADICÇÃO DE DATAS. O MESTRE VENEZIANO PODERIA PERFEITAMENTE<br />

TEL-O RETRATADO. O RETRATO REPRODUZIDO REVELA UM HOMEM NA<br />

PLENITUDE DA EDADE: E COLOMBO DESCOBRIU A AMERICA AOS 41<br />

ANNOS. AO QUE PARECE O QUADRO DO "METROPOLITAN MUSEUM" DE<br />

NOVA YORK DEVE SER DE UM HOMEM AOS Cl NCOENTA ANNOS. ALÉM<br />

DO MAIS AQUELLA MANEIRA PASTOSA. UNCTUOSA. DE MODELADO<br />

LARGO. ALLI SE EVIDENCIA. TUDO NO RETRATO SE DESTACA PELO CON-<br />

TORNO. E NÃO PELA LINHA.<br />

NÃO ENCONTRO MOTIVO PARA DESAUTORIZAR QUE SEBASTIANO DEL<br />

PIOMBO HAJA RETRATADO O GRANDE DESCOBRIDOR. CUJA MEMORIA<br />

NESTE MEZ SE CELEBRA EM TODA A AMERICA.<br />

SENDO MAIS NOVO QUE COLOM-<br />

BO. POIS NASCEU EM 1485. NÃO<br />

VEJO POR QUE DEL PIOMBO.<br />

QUE SE FIZERA UMA ESPECIALI-<br />

DADE NO RETRATO DAS PER-<br />

SONALIDADES E M EVIDENCIA.<br />

NÃO PODERIA TER RETRATADO<br />

COLOMBO.


Nestes últimos annos, à praça Tifadonies tem soffrido uma tadîca) transformação.<br />

Os velhos prédios tem desapparecido, um a um, e em seu logar surgem enormes<br />

consfucções modernas, gigantes de cimento e aço, que espiam de muito alto o<br />

movimento trepidante das ruas.<br />

Há dez annos atraz, o antigo largo do Rocio em cujo centro se ergue a estatua<br />

de Pedro I, lançando aos espaços livres o grito de "Independencia ou Morte !" —<br />

era itto que se vê na photographia abaixo, tomada bem em frente da rua Pedro lt<br />

apanhando o velho Theatro Carlos Gomes.<br />

Hop, a praça vibra de movimento, as sombras das arvores vão ao encontro das<br />

sombras dos arranha-céos, e em tudo, ha uma nota intensa de cidade grande.<br />

As ilustrações desta pagina marcam dez annos de evolução na vida carioca.


Mesa <strong>com</strong> que concorreu Mme Santos<br />

Lobo na original exposição de Mesas Floridas<br />

levada a effeito pela Associação dos<br />

Artistas Brasileiros, iniciativa do arte e<br />

mundanismo que teve a maior repercussão.<br />

Foi-lhe conferido premio especial por ter<br />

trdo maior votação para todas as classificações<br />

parciaes do original certamen<br />

Illust ração Brasileira<br />

^ C ; «"'Jó<br />

*.


(TELA DE LUCÍLIA FRAG Al<br />

O R C H I D E A S


O MONUMENTO AOS MORTOS DA REVOLUÇÃO<br />

PAULISTA, DE 1932, QUE SE LEVANTA NA PROSPERA<br />

CIDADE DE SANTOS E QUE É, PELA SUA CONCEPÇÃO<br />

E PELA SUA EXECUÇÃO. UM ARROJADO TRABALHO<br />

DE ESCULPTURA, DEVIDO AO TALENTO DE DEL<br />

DEBBIO.<br />

VEMOS NA GRAVURA O CONJUNCTO E O BAIXO-<br />

RELEVO DESSA OBRA DE ARTE.


TELHADO d<br />

e ANDORINHAS<br />

(DO MEU CADERNO DE LEMBRANÇAS)<br />

5 . |0 - 36 Falei hoje aos estudantes da Faculdade de Direito do Estado<br />

do Rio, em sessão do Centro Acadêmico, e intitulei a breve palestra : — Cinco<br />

anos de primavera. Disse-lhes que soprava a braza amodorrada da lareira, re-<br />

cordando o meu tempo de estudante em Recife, a Recife do dealbar do século XX,<br />

no seu primeiro decenio. e eles teriam a explicação de ter eu intitulado Cinco<br />

anos de primavera, quando tivessem de ouvir <strong>com</strong>o escuto agora o cair das fo-<br />

lhas do caminho, e o desfolhar das rosas dos meus claros jardins. Só então <strong>com</strong>-<br />

prehenderiam esse vinculo de romantismo, porque <strong>com</strong> a serenidade que o tempo<br />

dá ás nossas inquietações, veriam que atrás é que ficou a primavera, — nos pri-<br />

meiros dias'da juventude, no ensaio do vôo para o mundo das esperanças, e en-<br />

tre aque ?as quatro paredes de casarão acadêmico, é que móra a Encantadora dos<br />

olhos verdes, a Felicidade. No entanto, passamos descuidados por ela, sem nos<br />

ape rcebermos dos seus encantos, e dos seus feitiços, sem que a tomemos nos<br />

braços toda nossa, sem que voluptuosamente a enterremos no coração, e nos im-<br />

pregnemos do seu perfume, bebendo, <strong>com</strong> febre e <strong>com</strong> delírio, atropeladamente,<br />

a taça do divino vinho que ela nos oferece. Só depois, só tarde nos advertimos<br />

do conselho dos gregos :<br />

"Beber da taça. gole a gole.<br />

Ter do perfume, e do sabor 0. . .<br />

Digo-lhes não estar, porém, <strong>com</strong> o conceito byroniano. de que "a lembrança da<br />

felicidade nâo é mais felicidade, e só a lembrança da dor. é dor ainda"» e prefiro<br />

ficar <strong>com</strong> a canção de Béranger, que a lembrança da mocidade nos remoça, eom-<br />

me on rénait nu souffle du printemps. . . Porque não ser felicidade, recordar que<br />

se foi feliz ? ! Aquele desdenhoso e ironico Tackeray, cuja pena castigou tão du-<br />

ramente cousas, homens e costumes do seu tempo, dizia que "quando mesmo se<br />

vivesse cem annos, ha certas paisagens de nossa mocidade que lembra-las é vive-<br />

las de novo, por milagre 0. Esse milagre, davam-me eles. os estudantes, levando-<br />

me de novo á terra natal, e á minha velha Faculdade do Convento do Espirito<br />

Santo. Revia a cidade de beira-mar. ouvia-lhe o barulho das aguas, a onda que<br />

québra nos arrecifes, o farol que abre o seu o!ho de monstro ás embarcações, as<br />

praias morer.as. os coqueiraes que se perdem de vista, as jangadas brancas ao<br />

longe, os velhos sobrados Je janelas azues. . . Disse-lhes que nunca se fala<br />

bastante do que se ama. . . Retrato-lhes o pedaço de Convento ve'ho, os<br />

corredores escuros, os <strong>com</strong>panheiros de estudo, os mestres que me ensinaram, e o<br />

tempo que me formou. Entre os mestres, evóco Gervásio Fioravanti. pro fessor<br />

de Penal, o poeta dos Mczes: -— baixo, gordanchudo, <strong>com</strong> o rosto <strong>com</strong> marca de<br />

variolas, um pince-nez de tartaruga, de grossos vidros. A principio, infundia-nos<br />

temor, dando impressão de uma severidade de carrasco. Mas, era só ouvil-o, que<br />

se tinha certeza de que a bondade humana morava naque'a alma.<br />

Era uni professor de voz incorpada. quente, harmoniosa, e se lhe fora dado arran-<br />

jar o período, diria : -- voz de côro eclesiástico, pela unção e pela melodia.<br />

Orador, sabia-se querido, festejado por seus alunos; por isso, era sempre <strong>com</strong><br />

eloquer.cia que lecionava, nunca deixando o tic de repetir o nome dos chefes das<br />

escolas penais: — Ferri. Ferri; Lombroso — Lombroso; Carrara — Carrara.<br />

Silveira Carvalho. — Antonio Fernandes da Silveira Carvalho — hoje austero des-<br />

embargador na Côrte de Apelação do Rio Grande do Sul. e uma das liras mais<br />

delicadas que já me foi dado ouvir, perfila-o <strong>com</strong> muita felicidade, nestas estrofes:<br />

"Criminalista e poeta. Hesito ás vezes.<br />

Não sei quando ele mais me deleitou.<br />

Si nos bonitos madrigaes dos Mczcs,<br />

Ou si nos mezes em que me ensinou.<br />

Lendo-o, ficava em sonhos bons imerso,<br />

E ouvindo sua prosa musical,<br />

Tinha a impressão que ele fazia verso<br />

Quando dava lições de Criminal. . .<br />

A D<br />

1> A<br />

L M<br />

A C A I> K M I A<br />

Gervásio Fioravanti dono de uma musa simples e feiticeira, era acima de tudo<br />

um repentista de primeira plana. E corria boca em Recife, o seguinte incidente<br />

que bem demonstra essa afirmação. Uma manhã, sua mulher escrevia a uma<br />

cunhada que fazia anos, felicitando-a, quando Gervásio atravessou a sala, ru-<br />

mando o banheiro, toalha ao ombro, assoviando. despreocupado, <strong>com</strong>o de seu<br />

habico. Vendo-o, sua esposa observou : — "Gervasinho, você não manda dizer<br />

nada a Lilita. hoje ?" O mestre deteve-se, perguntando: — "Já assinaste a<br />

carta ?". — "Já", respondeu ela, que havia enchido as quatro laudas, deixando<br />

apenas, em branco, um pedaço do papel, abaixo da assinatura. Fioravanti pegou<br />

imediftamente da pena, e escreveu, sem um minuto siquer para pensar : —<br />

"Aqui, no pequeno espaço,<br />

Que me ficou reservado.<br />

Cabe somente um abraço.<br />

— Mesmo assim, muito apertado...<br />

4 . 7 - HH — Inauguramos o busto de Olegário Mariano, no Passeio Pu-<br />

blico. Estão presentes altas autoridades do paiz, associações literarias. ministros,<br />

juizes, o Prefeito da Cidade, homens de letras, emfim a imensa legião dos seus<br />

admiradores. Está falando Fernando Magalhães, quando barafusta por entre a<br />

multidão que se <strong>com</strong>prime, uma menina da rua, <strong>com</strong> uma flor. . . E planta-se á<br />

primeira fila. Pareceu-me uma pequena vendedora de bilhetes, humilde, pobre-<br />

mente vestida. A certa altura, esforçando-se na ponta dos pés. pergunta-me bai-<br />

xinho: Não é a íesta do Poeta das Cigarras?... E á minha afirmativa, mur-<br />

mura contente, a rir pelos grandes olhos: Eu também vim...<br />

Para mim, o Poeta recebia nesse gesto a mais tocante homenagem da sua<br />

consagração.<br />

O - O - Converso <strong>com</strong> Luiz Murát sobre uma festa literaria que a<br />

cidade de Rezende, sua terra natal, lhe vae fazer, e o poeta das Ondas me fftz<br />

uma revelação. Não é filho da cidade fluminense de Rezende, <strong>com</strong>o todo o mundo<br />

-4 - 7 - ItH — Ribas Carneiro, datíblé<br />

de magistrado e homem de letras, após a inauguração do busto do Principe dos<br />

Poetas, entra no te'egrafo, e manda-lhe, afetuosamente brincalhão, o seguinte te-<br />

legrama: — Olegário Mariano. Rua Pompeu Loureiro, 36, Copacabana. Vi, ouvi,<br />

assisti, e aplaudi. Tudo cm louvor a ti.<br />

Imediatamente, o homenageado do dia pegou da pena, e respondeu também tele-<br />

graficamente: — Merci.<br />

A V<br />

H K A S 1 I. K R A<br />

pensa. Nasceu em uma fazenda de Itajahy,<br />

mas de lá saira <strong>com</strong> um ano de idade para<br />

Rezende. Rezende o adotara, e ele adotara<br />

^^Jk^ Rezende. DIzem-n°o seu filho, e ele proprio<br />

^^H^Hp' se diz, porque fora aí que vivera, crescera.<br />

* educara o seu espirito, e amara. . . E o seu<br />

i ^ P f ^ ^ ^ # livro do coração. — Sara — está cheio de<br />

^VW v a, .<br />

Cr / r 4 ^ Rezende, e do doce perfume desse amor. . .<br />

<strong>Outubro</strong> — <strong>1938</strong> 23


Estamos em plena zona equatorial, a tres graus,<br />

exactamente, da latitude Norte, nas ruinas do<br />

Castello de S. Joaquim, construído pelos por-<br />

tuguezes no século XVIII, para conter o avan-<br />

ço imperial da Hespanha. Por estes campos, em meia-<br />

dos do século XVII, a missão hespanhola de Cayá-Cayá,<br />

convertendo infiéis, incorporava novos crentes á causa<br />

do Christo e novos soidados ás bandeiras das Austrias.<br />

As ruinas estão nas margens do Tucutú, onde o grande<br />

rio, juntando-se ao Uraricoera (que quer dizer veneno-<br />

velho). forma o Rio Branco. Sentado á sombra de uma<br />

corpulenta mangueira, penso na eterna disputa entre<br />

lusos e castelhanos, ambos empenhados na gigantesca<br />

empresa de christianisar o mundo. Antonio, o bom guia,<br />

adverte-me :<br />

— Temos de partir; ainda restam seis horas de via-<br />

gem para chegarmos á villa.<br />

Marchámos e, ás primeiras horas da noite, attingimos<br />

(i pequena e attrahente povoação de Bôa Vista, fun-<br />

dada lá para 1870. Desde ali iniciam os veneráveis mon-<br />

jes benedictinos do Rio do Janeiro o seu trabalho de<br />

evangelisação sobre um territorio. cuja enorme exten-<br />

são ultrapassa 260.000 Icilometros quadrados. A villa<br />

conta actualmente pouco mais de 800 habitantes, é<br />

centro pecuário de primeira ordem (mais de 200.000<br />

cabeças de gado vaccum) e divide a ampla <strong>com</strong>arca<br />

em duas zonas : o Baixo Rio Branco, pantanoso, cober-<br />

to de espessas selvas, typicamente amazônicas, e o<br />

Alto Rio Branco, secco, montanhoso, de bom clima,<br />

caracteristicamente serrano. Nesta immensa região bra-<br />

sílica abundam indios de variadíssimas tribus e idio-<br />

mas : os Macuchis, os Tauipan, os Ingaricós. os Sere-<br />

cón, os Saparás, os Bapichanas, os Macus, os Sirienás.<br />

os Depanás, os Maiongón (chamados no Orenoco Ma-<br />

quiritaris) os temíveis Vaicás. etc.. etc.. umas já civi-<br />

lisaoas, outras á espera de melhores opportunidades<br />

para so desenvolverem e outras ainda em estado de<br />

indómita selvageria. Com um bom mappa á vista, e<br />

observando cuidadosamente as toponymias, podem se-<br />

guir-se facilmente as incursões civilisadoras pelo gran-<br />

de mosaico indígena. Destas toponymias, umas são elo-<br />

quentemente autochtones : Inacajuba, Caracaray. Cunha-<br />

pucá, A'acuara. . . — e outras typicamente missiona-<br />

rias : Sta. Maria. S. Francisco de Catarimani, N. S.<br />

do Carmo, Fazenda de S. Marcos, S. Bento. ..<br />

A <strong>com</strong>arca progride e se saneia rapidamente : já pos-<br />

sue !uz electrica, estação radio-telegraphica, automo-<br />

veis, escolas publicas, frigoríficos. .. Os animaes ter-<br />

ríveis que dominam na região são as onças, as serpen-<br />

tes — sucuriú, cascavel, surucucu e ja.araca. algumas<br />

de dez a doze metros — os jacarés, as piranhas e o<br />

peixe-e!ectrico, aqui denominado poraquê. Em geral,<br />

estes animaes constituem uma grande riqueza, pelo<br />

aproveitamento de suas pelles.<br />

Bôa Vista tornou-se um emporio industrial importante,<br />

desde que se iniciou a exploração das jazidas de ouro<br />

e diamantes, que es A as montanhas enthesou:am (já se<br />

encontraram vários diamantes de 5 quilates); centra-<br />

NAVEGANDO<br />

A I. Y A R O<br />

d<br />

CAS SOCIEDADES DE GEOGRA II<br />

lisa o intenso cornmercio dos vendedores de gado que<br />

aqui negociam, abastece a região fronteiriça da Ve-<br />

nezuela e o sul da Guyana ingleza, e está fadada a<br />

ser a cidade de primeira plana.<br />

Si. ao presente, sua vida é precaria. deve-se isso á<br />

falta de immigração e ao pouco valor das rezes (60$<br />

por cabeça, em termo médio) cotadas conforme o<br />

capricho dos tres únicos marchantes que monopolísam<br />

o mercado.<br />

Bôa Vista vive em torno do benemerito centro missio-<br />

nário. Cinco padres e dois irmãos leigos, mas treze<br />

madres, benedictinas também, construíram uma egreja<br />

magnifica, um hospita! bem dotado, amplas residên-<br />

cias conventuaes e escolas para ambos os sexos, que<br />

são muito frequentadas. Tive a honra de conhecer,<br />

<strong>com</strong> bastante intimidado, dois dos monjes : Frei Vi-<br />

cente de Oliveira Ribeiro, medico, brasileiro, especia-<br />

lisado no Instituto de Manguinhos. pessôa de virtudes<br />

exemplares e de singular cultura, e Frei Alcuino Meyer,<br />

que por si só poderia inspirar uma noveüa. Nasceu<br />

em St. Gallen (Suissa). Ainda estudante no cantão<br />

natal, poude conhecer, por acaso, uma revista em que<br />

certo viajante curioso se occupava da missão de Rio<br />

Branco. Ao principio simplesmente interessado, de-<br />

pois emocionado, e cheio de piedade ao saber, <strong>com</strong><br />

mais detalhe, da obra dos remotos evangelisadores,<br />

embarcou para o Brasi! e, contando só 18 annos, apre-<br />

sentou-se ao abbade mitraao do Rio; na secular Abba-<br />

dia carioca fez seu noviciado e. apenas ordenado,<br />

para aqui se trasladou, novo pioneiro do Catholicismo<br />

e da Cultura !<br />

Passei dois dias na Bôa Vista, e confesso que foram<br />

quarenta e oito horas de insophismavel feiicidade. Os<br />

naturaes são mui bondosos e de uma singeleza <strong>com</strong>mo-<br />

vedora, que de sonho poder viver sempre aqui!...<br />

Levantar-se ao romper do dia e saborear um bom café<br />

paulista, duas horas após o appotitoso prato de can-<br />

giquinha ou as rabanadas de pão <strong>com</strong> leite — aqui<br />

designadas "segura-peitc" —; o lunch no Café do<br />

Turco, jogando uma partida de dominó e. ao entar-<br />

decer, a ceia, que consiste em bôa carne <strong>com</strong> legu-<br />

mes e. á sobremesa, fructas abundantes; em seguida


M A D R I D E L I S B O A<br />

umas no-as de palestra ao relento, um Padre Nosso a<br />

São Sebastião — o santo mais estimado na devoção<br />

popular — ...a dormir em paz o na graça do Deus.<br />

Na :ancha Fama" navego, rio abaixo, rumo a Ma-<br />

naus. Nunca, <strong>com</strong>o agora, poderia recitar a copla an*<br />

dalusa :<br />

Dicen que no son tristes<br />

las despedidas;<br />

dile, a quien te lo diga,<br />

que se despida<br />

Aqui ficam amigos que tardarão a ser esquecidos :<br />

Sóror Rodegunda, heróica tal uma martyr : Frei Ri-<br />

beiro. que sonha <strong>com</strong> o prazer do morrer por Deus o<br />

pelo Brasil, aqui onde só Deus o o Brasil <strong>com</strong>prehen-<br />

derão os seus esforços; Frei Meyer, que amanhã irá<br />

ao campo, a correr léguas e mais léguas de selva vir-<br />

gem durante tros ou quatro mezes, a pé. sem provi-<br />

rõos, sem auxilio de ninguém, sujeito a todos os peri-<br />

gos: Raymundo Ucroa, um joven o amavel amigo de<br />

dois dias, quo <strong>com</strong> •anta gentileza me a<strong>com</strong>panhou<br />

por estas redondezas.<br />

Levamos mais de cinco ho r as de viagem. A' nossa di-<br />

reita, fica a serra Pari ma, onde se suppõe nascer o<br />

Mjcajay, e, á esquerda, as imponentes montanhas de<br />

Aiaquara (cuja altura excede de 1.000 metros) e os<br />

primeiros degraus do systema orographico de Peder-<br />

neiras. Um syrio. <strong>com</strong>panheiro de excursão, porfia em<br />

demonstrar-me o valor social de suas actividades mer-<br />

cantis, emquanto sua mulher Iracy (nome indigena que<br />

s-gimfica mãe do mel, isto é abelha), canta a meia<br />

voz rythmos estranhos e ancestraes, que adormecem<br />

qual urna canção do berço.<br />

Passámos a embocadura do Quitanahú, quo vem da<br />

Serra da Lua (até parece o titulo de um poema) o,<br />

horas adeante, entrámos na região das cachoeiras, for-<br />

madas nas nascentes do Caracarahy. Súbito, appare-<br />

ceu Cotove'o, onde se perdeu a (ancha "João Pedro",<br />

e as ruinas de Vista Alegre, junto aos lagos de Auiá,<br />

onde morreu o celebro ethnographo allemão Theodor<br />

Koch Grünberg, da expedição Rice (1924). Emociona<br />

o pensar que por aqui andaram Coutrcau, Ricardo e<br />

Roberto Schomburgk, Humboldt. Piclcwick, Oxford, Emi-<br />

lio Sr.etnlage... Além, ficam o poético lago de Araua-<br />

ry, as ruinas do Castello de São Philippe e a tragica<br />

Praia da Desgraça, também denominada M do Sangue' 1 ,<br />

em memoria da matança terrível que ali occorreu<br />

quando da sublevação dos indios Paravianas e Uapi-<br />

xanas.<br />

Por traz das margens deslumbrantes, occultas á indis-<br />

creção do turismo venatorio, escondem-se as habita-<br />

ções indígenas chagadas malocas, cobertas <strong>com</strong> fo-<br />

lhas do mir ; ty e <strong>com</strong> foihas do inajá. Ouve-se o tiro-<br />

teio dos caçadores de capivaras, cuja pelle é vendida<br />

a I0$000. Pelas cercanias, offorecendo-nos as mais<br />

prodigiosas tonalidades, verdejam grandes mattas de<br />

copahibos, cuja resina 6 altamento medicinal, o eleva-<br />

das e esbeltas embaúbas, de cujas folhas verdes e<br />

brancas se nutrem as antas: igapós que se esforçam<br />

por seccar charcos, e deiicadissimos araparis. de fo-<br />

lhas miudinhas, menores que as das mimosas.<br />

Não tenho á mão as famosas "Relações" do conde<br />

de Stradeil, nem o notável "Diccionario" de Silva<br />

Arauio, nem o "Diário" de Netterar, porém vou apren-<br />

dendo bastante na obra do Jacques Ourique, "O valle<br />

do Rio Branco". que o Pe. Meyer me emprestou, e<br />

iendo-o e recordando-o, passo horas e horas.<br />

Transpusemos a barra do Catarimaui, explorado, em<br />

1787, pelo Cel. Manue! da Gama Lobo do Almada,<br />

cujo rio é habitado, om suas nascentes, pelos bravios<br />

Maracanós; passámos o Anauá e chegámos á zona dos<br />

plácidos lagos de Boyassú, em cujas proximidades er-<br />

guia-re a vil'a do Sta. Maria, que os carmelitas luzos<br />

fundaram, em 1725. para contrapor-so á influencia dos<br />

iesuitas hespanhoos, aue se irradiava de Venezuela. Des-<br />

lumbra o rubro cálido das mangabeiras, cujos fructos<br />

texteis pendentes fazem lembrar as linguas de fogo do<br />

milagre de Pentecostes, e <strong>com</strong>move o drama milio-<br />

nário dos cipós, retorsos, sarmentosos, entrelaçados co-<br />

mo as serpentes do Laocoonto; assombra o pé cy-<br />

c'opico dos tanaris, cuja entrecasca é utilisada pelos<br />

solvicolas <strong>com</strong>o mortalha de cigarro, os ninhos gigan-<br />

tescos das avispás (aqui chamadas cabas), balouçan-<br />

do-se nas arvores seccas, que o voraz cupim car<strong>com</strong>eu.<br />

Sinto-mo optimamente entro esta gente in<strong>com</strong>paravel-<br />

mente offavel. De sua bondade dará idéia o seguinte<br />

episodio, historico em todos os seus detalhes : não ha<br />

muito tempo, regressava num barco egual a este certo<br />

cavalheiro norteamericano que, em pouco mais do<br />

moio anno, havia extrahido nestas paragens 350 con-<br />

tos de ouro. Trazia <strong>com</strong>sigo o preciosíssimo metal, o<br />

mostrava-o. <strong>com</strong> a maior naturalidade deste mundo,<br />

aos pobres <strong>com</strong>panheiros de viagem. Em seu torrão<br />

natal, seria necessaria uma esquadra em pé de guerra<br />

para protegel-o. e aqui não occorreu a ninguém uma<br />

idóia malfazeja.<br />

Navegando parallolamente o Siriuini, o depois de dez<br />

dias de expedição, desembocámos no Rio Negro, quo<br />

recorremos durante vinte e seis horas, até aportarmos<br />

a Manaus, o deslumbrante Pérola amazônica.<br />

<strong>Outubro</strong> — 1038 25


Cl úotieea<br />

Havia já tempos que minha filhinha me pedia:<br />

— Papai, manda concertar os olhos de Rosa<br />

Clara.<br />

Rosa Clara era uma boneca. A mais bonita<br />

das bonecas <strong>com</strong> que uma creança já brincou.<br />

Eu a trouxera de Nuremberg. Comprara-a na<br />

cidade das bonecas ao melhor fabricante do<br />

genero. Era mesmo uma preciosidade. Cbra<br />

de um artista que desaparecera após o aca-<br />

bamento, segundo me informara o proprietá-<br />

rio da fabrica. Tinha os movimentos naturais<br />

de uma creatura humana. Só faltava falar. De<br />

tudo, porém, o que mais impressionava em<br />

Rosa Ciara eram os olhos. Uns olhos negros,<br />

moveis e vivos, <strong>com</strong>o si tivessem surgido da<br />

naturesa e não da paciência de um operário.<br />

Afeiçoamo-nos de tal forma a esse enfe de<br />

porcelana que, no dia em que minha filha ro-<br />

lou <strong>com</strong> ela da escada, foi um pesar em .tossa<br />

casa. A menina nada sofrera, felizmente.<br />

Agarrada à boneca, defendera-se ne!a. Rosa<br />

Clara, porém, fora duramente castigada. Che-<br />

gara ao solo sem sentidos. Digo sem sentidos,<br />

porque, ao vê-la estendida cá em baixo, no-<br />

tamos todos que a expressão de seus o!hos<br />

mudara <strong>com</strong>pletamente. Havia perdido a<br />

vivacidade, o movimento que quasi a huma-<br />

nizava, passando a adquirir a fisionomia pa-<br />

rada de boneca. Andei por todos os cantos da<br />

cidade a procura de quem lhe re<strong>com</strong>puzesse a<br />

mola, de quem lhe reconstituísse o segredo dos<br />

olhos, dando-lhe novamente a expressão, que<br />

o acidente perturbara.<br />

Minha filha, sobretudo, ficara inconsolável.<br />

Era <strong>com</strong>o si a amiguinha houvesse cegado.<br />

Caprichosa e enternecida, até oculos me<br />

obriqou a mandar fazer para velar a cegueira<br />

de Rosa Clara. E foi engraçadíssimo, de uma<br />

<strong>com</strong>icidade que tocava às raias do sublime, o<br />

dia em que me prestei a coiocar nos olhos da<br />

boneca os vidros esfumados que minha filha<br />

exigira para disfarçar o pesar e o provável<br />

constrangimento de sua amiga.<br />

Não houve quem não extranhasse aqueie espe-<br />

táculo, achando-o caricato. Ora, uma boneca<br />

de óculos! Minha filha, que a principio se<br />

a<strong>com</strong>odara à situação, <strong>com</strong>preendeu o<br />

absurdo. E quiz evitá-lo, exigindo outro<br />

absurdo maior. Que eu restituísse o movimento<br />

aos olhos de Rosa Clara, devolverdo-<br />

Ihe aquela mesma vida que eles haviam perdido.<br />

Era por isso que, todas as tardes, deixava o<br />

consultorio mais cedo, <strong>com</strong> um embrulho em<br />

baixo do braço, e corria a via sacra, indo a<br />

todos os antiquarios e a todas as oficinas do<br />

genero, à procura de alguém que se quisesse<br />

encarregar de satisfazer aquele inocente capricho<br />

de creança.<br />

Excusado é dizer que outras providencias já<br />

havia tomado inutilmente. Escrevera à fabrica,<br />

en<strong>com</strong>endando outra boneca semelhante e<br />

prontificando-me a remeter a nossa para que<br />

fosse reparada a mola. O gerente respondera-me<br />

informando que não fabricava mais<br />

esse tipo e que o artista que a modelara<br />

adoecera e saíra da cidade, não havendo noticias<br />

dele.<br />

Experimentei a habilidade de uns quantos que<br />

me gabaram <strong>com</strong>o capazes de fazer a operação<br />

nos olhos de Rosa Clara. Tudo foi em<br />

balde. Minha filha, entretanto, não se convencia<br />

das dificuldades. E, na sua obstinarão<br />

infantil, entendia que não era possível deixar<br />

de encontrar quem lhe salvasse a vista de<br />

sua boneca.<br />

— Que eu fosse procurando!<br />

Entre beijos e abraços, ela me animava a<br />

caminhadas diarias, convencendo-me que era<br />

uma questão de saber procurar. Que pe r gun-<br />

tasse aos meus amigos, aos conhecidos! Um<br />

deles haveria de indicar a pessoa desejada.<br />

Era impossível que, no mundo, não existisse<br />

alguém que não soubesse ou não pudesse con-<br />

certar os olhos de uma boneca. E o seu racio-<br />

cinío firme, pertinaz, fazía-me esquecer os<br />

desânimos da vespera, as confissões de in-<br />

capacidade de todos <strong>com</strong> quem eu tratera,<br />

para voltar à procura daquele que faria nova-<br />

mente Rosa Clara ver, <strong>com</strong>o si de fato esti-<br />

vesse vendo a sua amiga.<br />

Por isso chegava em casa sempre cansado.<br />

Sem disposição para nada. Aquela peregri-<br />

nação constante pela oficina dos "faz tudo"<br />

deixava-me as pernas bambas. Nessa noite,<br />

porém, minha mulher lembrou-me uma obriga-<br />

ção a que não poderia fugir. Havia muitas<br />

semanas que eu não <strong>com</strong>parecia ás sessões da<br />

Academia de Medicina.<br />

— Sabes quem fala hoje? O dr. Aluizio<br />

Peres.<br />

— Ah! O Peres fala hoje?<br />

— Sim. Vai fazer uma conferencia a respeito<br />

da sensibilidade artistíca dos psicopatas.<br />

— O tema é interessante. O conferente,<br />

magnifico. Além de ser um expositor bri-<br />

lhante, o Peres é hoje autoridade no assunro.<br />

— Além disso, a palestra é ilustrada <strong>com</strong> pro-<br />

jeções cinematograficas, o que enriquece a<br />

documentação e amenisa a exposição.<br />

— Palavra que estou inclinado a ouvi-io.<br />

Assim, pelo menos, tiro um pouco da imagina-


a Oò VIVOÒ I L L U S T R A Ç Ã O D E C A L M O N<br />

ção a caça diaria ao concertador de bone-<br />

cas.<br />

Vesti-me e saí.<br />

Quando cheguei a Academia, a palestra do<br />

professor Peres ía em meio. Havia muita<br />

gente. O Peres era reputado <strong>com</strong>o um dos<br />

nossos melhores psiquiatras e os seus estudos<br />

estavam despertando o maior interesse nos<br />

círculos científicos e sociais. Além disso, sa-<br />

bia dar ás suas palestras um cunho interessante<br />

e original. Passou em revista diversos casos de<br />

sua clinica, no mani<strong>com</strong>io de que era direror.<br />

Exibiu desenhos, versos, contos, narrativas de<br />

vários clientes. Alguma dessas produções fa-<br />

riam inveja aos mais apurados e exquisitos<br />

poetas modernistas. Referiu-se demorada-<br />

mente à figura de um gravador, que nos inrer-<br />

valos da enfermidade, trabalhava <strong>com</strong> rara<br />

perfeição; de um violinista, que dava concer-<br />

tos sem nunca haver sabido o que era uma<br />

nota de musica; e de um operário, que ievava<br />

o dia inteiro a retocar a feição das bonecas<br />

que lhe davam, revelando paciência e cari-<br />

nho excepcionais <strong>com</strong> as obras que lhe caiam<br />

nas mãos.<br />

Esse pormenor não me passou despercebido.<br />

Pensei logo no desejo de minha filha. Quem<br />

sabe si o louco não daria um geito aos olhos<br />

de Rosa Clara?<br />

Terminada a palestra, procurei o Peres, soli-<br />

citando outras informações. E <strong>com</strong>binei <strong>com</strong><br />

ele enviar-lhe a boneca, afim de ver si o<br />

louco seria capaz de fazer aquilo que não<br />

conseguiam os homens de juizo perfeito.<br />

No d ia imediato, Rosa Clara seguia para o<br />

mani<strong>com</strong>io devidamente acondicionada, para<br />

que o doente do professor Peres lhe evami-<br />

nasse as molas e descobrisse o defeito.<br />

Não passou muito tempo. Uma semana de-<br />

pois, o Peres me avisava pelo telefone que o<br />

homem esiava ultimando o trabalho. E que eu<br />

devia ir no domingo seguinte, que era dia de<br />

visita, ver si o concerte ficara satisfatório.<br />

A hora aprazada, !á estava eu, inquieto por<br />

transmitir à minha filha uma soiução.<br />

Foram minutos de ansiedade. Uma enfermei-<br />

ra veio ao meu encontro e convidou-me a<br />

passar para uma saíinha, onde <strong>com</strong> surpresa e<br />

espanto, vi em torno de mim uma porção de<br />

bonecas inteiramente iguaes a Rosa Clara,<br />

<strong>com</strong> os mesmos cabelos, o mesmo riso, e<br />

principalmente, <strong>com</strong> aqueles olhos vivos, que<br />

eram o grande encanto de minha filha,<br />

f-iquei deslumbrado e, ao mesmo tempo,<br />

desapontado. Seria que aqueie homem se<br />

aproveitara de Rosa Ciara para montar um<br />

armazém de bonecas parecidas?<br />

Não me agradou a presunção. Uma ponta de<br />

egoísmo reciamava para minha filha o direito<br />

de possuir, <strong>com</strong> exclusividade, aquele modelo<br />

que eu trouxera de Nuremberg e de que- não<br />

vira jamais nenhuma copia.<br />

Quasi me irritei <strong>com</strong> aquele homem, que assim<br />

abusava de sua habilidade, multiplicando uma<br />

imagem que eu considerava privativa. Mas<br />

semelhante prevenção não durou muito. A<br />

enfermeira, vendo o meu interesse, abriu um<br />

armario onde havia outras bonecas idênticas,<br />

e logo me informou:<br />

— Ha muites méses que ele trabalha nisto.<br />

Leva noites e dias. Quasi não dorme. Vive<br />

pensando nelas. O mais interessante é que só<br />

faz este modelo.<br />

— E já descobriram a razão dessa preferen-<br />

cia? perguntei intrigado, desejoso de esclare-<br />

cer o mistério de tal uniformidade.<br />

— Já, respondeu a enfermeira, interrompendo<br />

a minha curiosidade coro um siiencio cuja in-<br />

tenção percebi.<br />

Estava satisfeito por haver encontraao o ho-<br />

mem capaz de haver realizado o desejo de<br />

minha filha; mas, ao mesmo tempo, aturdido<br />

m aquela profusão de bonecas inteiramente<br />

iguais ao modelo que eu possuia.<br />

Não demorou que eu viesse, sem o quere-, a<br />

ter a explicação daquilo tudo.<br />

Entrava naquele momento na salinha em que<br />

eu estava, uma senhora estrangeira, condu-<br />

zindo pela mão uma creança, que deveria ter<br />

dez anos, mais ou menos. As feições eram<br />

exatamente as feições de Rosa Cl*ra e de<br />

todas aquelas bonecas ali espadadas. Só os<br />

olhos não possuíam o mesmo mo . 'mento, em-<br />

bora fossem grandes e brilhantes<br />

A enfermeira confirmou a m : nro imnres-<br />

«<br />

são.<br />

— A mulher e a fiihinha do homem das bo-<br />

necas. Todos os domingos vêm visitá-lo. Re-<br />

pare.<br />

Aproximava-se então o homem genial que<br />

dera a Rosa Clara e a todas as suas creaturi-<br />

nhas de louça aqueles olhos vivos e belos.<br />

A menina recem-chegada foi ao encontro do<br />

pai. Subiu-lhe ao colo, tateando.<br />

Um raio de sol entrava pelas grades da janela,<br />

iluminando-lhe o rosto.<br />

Só então percebi tudo. E pude <strong>com</strong>preender<br />

a loucura daquele homem para colocar nos<br />

olhos de suas bonecas o movimento e a iuz<br />

que a natureza roubara aos oihos da filha


Gabriella Besanzoni Lage<br />

Foi, realmente uma nota interessante, pelo que<br />

U5ICA<br />

representou de inédito, o concurso de piano levado<br />

a effeito pela Associação dos Artistas Brasileiros.<br />

De facto, resolvendo estimular os nossos pianistas.<br />

ao mesmo tempo tirando-os do marasmo<br />

em que vivem e offerecendo-lnes uma opportunidade<br />

de conquistar dois prémios, a Associação promoveu uma animada <strong>com</strong>petição,<br />

que despertou real interesso. Basto saber que, embora as provas<br />

só tivessem sido disputadas por seis disputan+es, inscreveram-se pianistas em<br />

numero do dezesete. onze das quoes não confirmaram as suas inscrtpções, ficando.<br />

pois, fóra de <strong>com</strong>bate.<br />

Disputaram as provas : Anna Candida do Moraes Gomide. Aurelio da Silveira<br />

Honorina Silva, Lúcia Amálio da Silva, Mario de Azevedo e Opaía<br />

Lobo Peçanha, que oxecutaram, <strong>com</strong>o poça de confronto, uma "Suite" de<br />

Radamés Gnatalli, premiada no Concurso de <strong>com</strong>posições de 1936, e <strong>com</strong>o<br />

peças de escolha, respectivamente : "32 Variações", de Beethoven; "Tocata<br />

o foço", de Bach Busoni: ' 4." Bailada ", de Chopin; "Chaconne , de Bach-<br />

Busoni: "Poionalse", do Liszt, o "2. A Rhapsodia", de Liszt<br />

O juloamonto foi confiado a um jury de seis membros, cada um dos quaes<br />

<strong>com</strong>o representante do cada candidato; mas deante da manifestação calorosa<br />

e franca da sala, não foi muito diffici! chegar ao resultado, a que<br />

chegou, confirmando o primeiro logar 6 pianista Honorina Silva e o segundo,<br />

a Anna Cand da de Moraes Gomide e Mario de Azevedo, duas vezos empacado;<br />

nessa classificação.<br />

Justa <strong>com</strong>o foi, ta! decisão foi chorosamente applaudida pola sala que,<br />

dessa fôrma, premiou a idéa do concurso e os concurrentes.<br />

O confronto pubiico revelou, em cada candidato, um temperamento diverso :<br />

o ardente, de Anna Candida; o lyrico, de Aurelio da Silveira; o sonhador<br />

romântico, de Honorina Silva; o br'hante nervoso, de Lúcia Amálio cia Silva;<br />

o brilhante controiado. de Opala Lobo Peçanha e o de Mario de Azevedo,<br />

calmo, displicente, quasi frio.<br />

Uma idéa feliz, a da Associação dos Artis*as Brasileiros, que deve proseguir<br />

nas suas iniciativas sompre tão interessantes e tão úteis.<br />

A temporada lyríca officia!, do Theat^o Municipal, ebrreu animada. Entre os<br />

últimos espectáculos, impõe-se a ciiaçãb de Marouf", "Pelleas et Melisande"<br />

e "LVxrlesíonne", respectivamente de Henry Rabaud. Debussy e F. Ciléa, levadas<br />

<strong>com</strong> brilho e que representaram uma demonstração evidente da boa<br />

vontade da empreza concessionaria do Tneatro, para <strong>com</strong> os seus habituaes<br />

e assignantes.<br />

Dias d^ools, *iveram os habituaes da temporada mais uma edição gloriosa de<br />

"Madame Butterfly", em que Violeta Coe'ho Netto, póde-se dizer que esteve<br />

superior a si mesma, domirando o papei e a platéa fascinada.<br />

O espectáculo de gala da noite de 7 de Setembro foi dado <strong>com</strong> M Lo Schiavo",<br />

de Carlos Gomes, tendo <strong>com</strong>o momento culminante a celebre Alvorada".<br />

do 4.° acto, que, uma vez mais, eloctrisou o auditorio.<br />

28 Iljuslraçao Brasileira<br />

ARTEJ<br />

ARTÏfTAf<br />

As art'stas racionaes Julieta Azevedo, Aîaîde Briani, Adja'dina Fontanelle,<br />

Julia Fonseca e Germana de Lucena, cor.firmaiam, todas, a impressão deixada<br />

r.o anno passado o demonstraram franco progresso. Emfim, tudo correu<br />

bem numa temporada equilibrada e muito agradavol. pondo mais uma vez<br />

em destaque a obra notável da senhora Gabrielia Besanzoni Loge, que foi<br />

a animadora desse grande successo.<br />

O p"ano. Sempre cultivado <strong>com</strong> enthusiasmo. Lubka Koessa foi o nome novo<br />

dos uitimos dias. Temperamento<br />

<strong>com</strong>municativo, technica ultra desenvolvida.<br />

execução brilhante, phraseado<br />

feliz, estyio aprimorado... Que mais<br />

precisaremos dizer para que o leitor<br />

se convença de que a pianista poloneza<br />

que nos visitou ó. roalmente extraordinaria<br />

?<br />

A seu lado, isto é. figurando na relação<br />

dos recitalistas de piano, do mez,<br />

registramos o recital de Esther Naiberger,<br />

ta'ento real, que mal disponta<br />

para a vida, <strong>com</strong> a frescura de seus<br />

dozo onnos, e já se vê admirada o,<br />

applaudida — e quiçá, invejada. Sim,<br />

porque se alguma coisa ha que possa<br />

ser invejada, sem que o invejoso <strong>com</strong>metia<br />

o peccado mortal condemnado,<br />

é o talento alheio, especialmente o de<br />

uma menina aue. <strong>com</strong>o Esther Naiberger,<br />

surge <strong>com</strong> tantos requisitos para<br />

triumphar.<br />

Para finalisar, mais um nome femnino<br />

— o de Gilta de Medeiros, que estreou,<br />

<strong>com</strong> brilho, a serie de "recitaes<br />

de ex-alumnos", da Escola Nacional<br />

de Musica — inovação que se<br />

deve á nova direcção do antigo Instituto.<br />

Uma voz encantadora fez-se ouvir em<br />

um dos concertos afficiaes da Escola<br />

Nacional de Musica : Lucienne Tragin,<br />

da Opera Cómica de Paris. Programma<br />

curiosamente organisado em r " 1ononna va<br />

homenagem a dois génios apostos :<br />

Mozart o Ravel. Senhora de uma voz de crystal, a arte do Lucienne Tragin é<br />

uma fascinação.<br />

Outra voz encantadora, de timbre muito agradavel e de predicados technicos<br />

e artísticos rr.ufto cuidados : Lais Wallace. Annualmente ella realisa o seu<br />

recital, confirma os seus créditos de cantora e conquista novos louros. Foi<br />

o que succcdeu mais uma vez.<br />

Por fim, um concerto de sonatas para violino e piano. Dois nomes asseguraram<br />

de ante-mão o successo do programma : Oscar Borgerth e Arnaldo Estrella.<br />

São dois grandes artistas que seriam grandes mesmo se não fossem<br />

brasileiros. Por isso mesmo, foi uma noite triumphal para elles e para nós.<br />

Curioso contraste de temperamentos o desse casal que<br />

expõe no salão da Associação dos Artistas Brasileiros :<br />

ADTP< Oiqa-Mary e Raui Pedrosa ! Ao passo que a primeira<br />

7 faz da arte o instrumento <strong>com</strong> que procura traduzir as<br />

emoções agradaveis, que recebe das coisas amaveis e<br />

de que a vida está cheia, o sesegue<br />

caminho radicalmente opposparoce<br />

que só encontra interesse<br />

no lado horripilante da vida.<br />

Tão chocante contraste de temperamento<br />

manifesta-se nos mínimos detalhes : Dora<br />

Olga-Mary appella para a alegria de<br />

todas as cores da paleta, para imprimir<br />

na tela todas as emoções de su'alma de<br />

enfeitiçada da Belleza. Raul Pedrosa prefere<br />

o lápis, o nanlcim ou o carvão, para<br />

traduzir, <strong>com</strong> cores negras, as impressões<br />

que a vida lhe produz, e que mais parecem<br />

de um desilludído ou de um entediado.<br />

Os quadros de D. Olga Mary<br />

tem a vibração da realidade; os de Raul<br />

Pedrosa, a tortura do mysterio. A pintora<br />

canta, em cada tela, um hymno a<br />

OLGA MARY — O lunch de Kiici


Belleza. O pintor mortifica, em cada quadro, o<br />

seu espirito de asceta. A collecção Olga-Mary<br />

é uma apotheose á luz. A collecção Raul Pe-<br />

drosa uma homenagem á treva. Uma é um ver-<br />

dadei r o hymno ao sol. A outra, uma dolorosa<br />

marcha fúnebre. D. Olga-Mary canta a vida.<br />

Rau! Pedrosa está bem longe disso e envereda<br />

por um mundo desconhecido onde tudo é im-<br />

preciso e mysterioso. Tem-se a impressão do<br />

que a pintora procura fugir da tristeza, arejan-<br />

do o espirito; e que o pintor, ao contrario, re-<br />

pelle o bello saudavel e entrega-se. de alma e<br />

corpo, á uma meditação de philosopho e a uma<br />

concentração de sceptico.<br />

Mas dar-se-á, mesmo, que estamos deante de<br />

um sceptico ? O sr. Raul Pedrosa, <strong>com</strong> a sua<br />

intelligencia lúcida e vivaz, estará apenas usan-<br />

do do seu direito de apreciar a Belleza, pelo<br />

ponto de vista esthetico que mais de accordo<br />

está, realmente, <strong>com</strong> o seu temperamento ? Es-<br />

tamos, de facto, deante de uma individualida-<br />

de extranha por natureza, ou forçada por excen-<br />

tricidade ?<br />

Seja <strong>com</strong>o fôr, não queremos pôr em duvida a<br />

sinceridade da arte de Raul Pedrosa, muito em-<br />

bora ella só interesse aos que encaram a vida<br />

<strong>com</strong> pessimismo. Preferimos alegrar os olhos na<br />

arte <strong>com</strong>municativa <strong>com</strong> que a senhora Olga-<br />

Mary interpreta a natureza, tal <strong>com</strong>o ella se<br />

nos apresenta, luminosa e bella. A exposição é<br />

um attestado de que a talentosa pintora evolue<br />

todos os dias, no seu trabalho cuidadoso, pa-<br />

ciente e ininterrupto de procura.<br />

Penetramos no salão da Casa do Rio Grande<br />

e nossos olhos têm a impressão de apreciar uma<br />

legítima exposição de flores vivas. Emergindo<br />

da tela e enchendo o ambiente <strong>com</strong> a pujança<br />

berrante de seu colorido,, acacias e crysanda-<br />

iias, ervilhas do cheiro e orchidéos. rosas e<br />

hortencias dão á exposição da senhora Guiomar<br />

c agundes um ar festivo, que alegra os olhos e<br />

os satisfaz plenamente. Tem-se a impressão de<br />

que a predilecção da pintora por flores é indis-<br />

farçável e consti+ue um dos grandes enlevos de<br />

seu espirito. A senhora Guiomar Fagundes, po-<br />

rém, não pinta apenas flores. E' talentosa, ó<br />

viajada e é culta. E porque é culta, encontra,<br />

muitas vezes, nas paginas que lê. o assumpto<br />

que a empolga e que a sua arte passa do livro<br />

para a tela, <strong>com</strong>o se uma vara magica o tirasse<br />

do sonho para a realidade. RAUL PEDROSA - Metamorphose de Lucifer<br />

Outra exposição do mesmo género que desper-<br />

tou interesse e enthusiasmo nos meios artisticos<br />

do Rio. foi a o'e Lucília Fraga, no salão do Pa-<br />

lace Hotel.<br />

LUCÍLIA FRAGA —<br />

Rosas brancas e renda<br />

GUIOMAR FAGUNDES — Adormecida<br />

A "Ceia dos Cardeaes", é um poema que tem<br />

insoirado diversos quadros de alto valor pictori-<br />

co. Pelo thema tratado durante a ceia e pelo<br />

interesse que desperta entre os tres velhos sa-<br />

cerdotes, o assumpto adapta-se admiravelmente<br />

á sensibilidade emotiva dos pintores românticos.<br />

E eis porque não podia deixar de inspirar á se-<br />

nhora Guiomar Fagundes uma téla de real in-<br />

teresse e de grande expressão emotiva. O pró-<br />

prio Julio Dantas, extasiado, confessou que, se<br />

já não tivosse escripto aquelle poema na sua<br />

mocidade, seria capaz de escrevel-o agora, ins-<br />

pirado no quadro da senhora Guiomar Fa-<br />

gundes.<br />

Mais alguns poetas inspiraram á pintora quadros<br />

feiizes; e entre elles. Martins Fontes, quando<br />

disse que "Deus fez do lyrio a alma da mu-<br />

lher", e Eugénio de Castro, fazendo-a produzir<br />

a sua primorosa "Belkiss".<br />

Pintura suave, sem arrojo de technica, todo o<br />

interesse dos trabalhos da senhora Guiomar Fa-<br />

gundes não está apenas na riqueza da luz e do<br />

colorido, mas. principalmente, na solidez do de-<br />

senho. E não ó preciso dizer mais nada para<br />

enaltecer o mérito da pintora e o valor de sua<br />

obra.<br />

wtm<br />

Esta pintora apresentou ao publico 35 magnifi-<br />

cas té'as de apanhados de rosas, jarros das flo-<br />

res mais raras e preciosas, esplendidos recantos<br />

floridos, <strong>com</strong> mesas, crystaes, rendas, espelhos.<br />

Sobretudo, as flores são notáveis pela frescura<br />

e vivacidade do coiorido, assim <strong>com</strong>o o gosto<br />

da disposição em todos os arranjos. A exposi-<br />

ção de Lucília Fraga foi. para muita gente, uma<br />

revelação, e para todos os que entendem de<br />

arte constituiu motivo de admiração e de re-<br />

quintado prazer esthotico.<br />

<strong>Outubro</strong> K>38 2 9


VISÃO DO DESENGANO<br />

arla e dubla foi sempre a <strong>com</strong>preensão da vida. Encurta-la na<br />

sidade ou alonga-la na moderação, cada qual a entende a seu<br />

mesmo entre os espíritos mais iluminados. O conceito antigo da<br />

inferigeito,velhi-<br />

ce conformada e lorga, edificada na paciência e na virtude, jámais<br />

prevaleceu na simpatia dos homens : tem acentuado perfume de santidade para<br />

ser humano. A vida ensina, é certo, mas depois de experimentar no erro; taras<br />

recrescida: e desvios reiterados, insensivelmente, constituem a massa peccati —<br />

imposto fatal da inadvertência na preservação da saúde. Porque nós desejamos<br />

se:r:ore coisas proibidas e ambicionamos o que nos é recusado, dizia Rabeiais.<br />

O moto é aproveitar o instante fugidio, congestionado na volúpia a<br />

alegria fácil ou o gozo efemoro. Calcinar o momento que passa, para que passo<br />

deixando impressão. Desabotoar o riso na incontinência da gargalhada Dissipar<br />

onergias para provar mocidade. Irritar a sensação para esquecer o sentimento.<br />

Incendiar a ilusão para consumir nas chamas os melindres da vontade<br />

e as restrições da consciência. E' assim o caminho da velhice precoce, a pouco<br />

trecho 0a ex-stencia retratada e ostensiva nos estragos da senilidade.<br />

Era este sem duvida, o sentir de Montaigne quando afirmava, entre displicente<br />

e amargo: "prefiro ser velho menos tempo que sê-lo antes do tempo". Entretanto,<br />

não é possível diminuir o prazo da velhice, sem antecipa-la. Só a senilidade,<br />

<strong>com</strong> o seu cortejo de males, alcança, ás vezes, a morte, passando de vôo<br />

sobro o declínio dos derradeiros tempos da vida. Porque fugir á velhice? Não<br />

é ela <strong>com</strong>pulsoria o lógica fora da morte acidenta! ? Porque êsse terror db crepúsculo<br />

? O essencial é "saber ser velho, e poucos o sabem", dizia Voltaire. Melhor<br />

seria, certamente, <strong>com</strong>o queria o grande ironista, seu <strong>com</strong>patriota, que a<br />

mocidade tivesse seu lugar no fim da vida... Então dela teríamos, nas delicias<br />

do pecado, os melhores afagos da existencia; ou seja em plena idade da beleza,<br />

a aspiração paradoxal do fim na suprema ventura do amor.<br />

Mas em tudo sábia e previdente, a natureza concertou as idades em dois grandes<br />

períodos: o de ascenção e o declínio. Para acabar bem é mister bem <strong>com</strong>eçar.<br />

Conter o ímpeto na escalada para, do outro lado, suportar a vertigem<br />

da descida. Leüo pedira a Catão que lhe ensinasse a vencer o peso da idade.<br />

E o vulto antigo, em quem Cicero figurava a velhice exemplar, responde no celebre<br />

"dialogo sobre a velhice", (De senectute dialogue), manancial de sábios<br />

ccnseihos e de almo conforto, indispensável <strong>com</strong>o livro de cabeceira quando<br />

varnos a caminho da idade provecta. "Senescere se, multa in dies addiscentem",<br />

("envelheço, aprendendo todos os dias"), disse Solon. E <strong>com</strong>enta Cicero: "Viventem<br />

ením in bis studiís, laboribusque non íntelligitur quod senectus obrepat (aquele<br />

que vive, continuamente, no meio de seus estudos e trabalhos não sente que<br />

a velhice o atinge). E aír.da : ita sensim sine sonsu actas senescit; nec súbito frangitur<br />

sed diuturnitate extíngíntur" (Envelhece pouco a pouco, sem sobresaltos;<br />

sua vida não se interrompe de repente, mas se consome e extingue lentamente).<br />

A arte de envelhecer atnbue á cada idade prazeres e ocupações, reservas e<br />

advertências, dos minimos cuidados aos mais precípuos deveres. A euforia na<br />

•elhico só podo provir de uma mocidade bem conduzida; consolavam-se os antigos<br />

<strong>com</strong> a carga dos anos porque cedo preparavam a resistência. E tanto se<br />

consegue na conformidade <strong>com</strong> o tempo, no penhor da vida austera, nos gratos<br />

resaibos da tranquilidade espiritual. — E assim a "peior das calamidades" descarrega<br />

o fardo de suas culpas, culpando o responsável, isto é o próprio individuo<br />

que não soube dosar o esforço o empregar o tempo.<br />

Figurando certa vez a condição do surdo, isolado o só, quasi desambientado entre<br />

os aue o cercam, Robert de Flers, exclamou desconsolado : "a velhice é uma<br />

surdez". Dir-se-á que tudo depende do individuo : o surdo que formou o espirito<br />

no apreço das sãs leituras, viverá tempos adoante na <strong>com</strong>panhia dos livros. Assim<br />

30 IHustração Brasileira<br />

CLEMENTINO FRAGA<br />

o velho a quem Deus presorvou a visão e em quem a fortuna, nos melhores<br />

dias. acariciou na intimidade dos bons autores, suaves <strong>com</strong>panheiros dos momentos<br />

aspemos e das horas de desalento.<br />

O sentido da vida é bem diverso no individuo ou na especie; emquanto aquele<br />

muda e passa, esta subsiste, ostave 1 e perene. E a natureza revive cada dia noutros<br />

sêres, abrolha em novos sorrisos, flutua e galanteia, descontando na mocidado<br />

que surgo a mocidade ouo se perdeu ! . . . Ha um momento de estar de<br />

oé e outro de es+ar sentado, disse Salomão.<br />

Qje vale a tentativa de simular mocidade ? C vo'ho que força o movimento tão<br />

logo se denuncia na pressa da respiração e na ansiedade traidora; a velha que<br />

disfarça os ST.ÔÍS do tempo só de longe dá a ilusão de mocidade : face a face<br />

de alguém, <strong>com</strong>o á distancia de um espelho, só a si mesma consegue iludir.<br />

A proposito o'e um conceito melancolico sobre a vida sem a mocidade, Pinto<br />

de Carvalho, sangrando em saúde á beira do sessenienio, cumulou de louvores<br />

a velhice, á maneira de Cicero, nos transportes da eloquência, exclamou apologético<br />

: a velhice não é tão má quanto se pensa. Acudi por meu turno que devia<br />

ser peior do que se pensa...<br />

A's restrições eternas de que a velhice impede o trabaiho, diminue as forças,<br />

priva dos prazeres e aproxima da morte, Catão, o Censor, responde naquela apologia<br />

sobeiba, sempre invocada para matar as saudades do passado. Mas a velhice<br />

de Cicero é a de toda gente ? Todos lá chegam <strong>com</strong> espirito, cultura, fortuna,<br />

honras sociais e politicas ? Sem duvida a diferença de condição torna a<br />

velhice pesada ou suportável : do angulo dos aspectos individuais, multiforme<br />

e vário, a extremidade da vida será a melancolia conformada ou a tristeza do<br />

desencanto.<br />

A verdade é que a civilisação atual proscreve a velhice, parecendo retomar á<br />

fúria dos séculos barbaros, que, inapelavelmente, condenava a fraqueza e chegava<br />

a suprimir o declínio humano, fatal porque biologico. Hoje que tornamos<br />

ao predomínio da força na direção dos negocios públicos, passaram ao patrimônio<br />

do esquecimento, a prudência, a sagacidade, o conhecimento da vida. que<br />

dava á idade provecta a ascendência das qualidades mestras no governo dos homens.<br />

O velho perdeu o só prestigio que lhe restava no seio da <strong>com</strong>unhão humana;<br />

suspeito ou detestado, sua inutilidade é proclamada alto e bom som; mobilifa-se<br />

a juventude de todos os credos, faz praça do chamado dinamismo, que<br />

significa o predominio do mando, a razão bruta!, a orgia da força.<br />

Diz-se que o espirito revo!uc ; onário, o neo-ideolismo arde no cerebro da juventude.<br />

e <strong>com</strong>o no velho as chamas já se extinguiram, a mentalidade dominante<br />

no mundo de nossos dias não vai <strong>com</strong> a senectude. que foge aos impulsos, reflete<br />

para agir e mede as consequências na hora aguda do perigo. Parceira da<br />

experiência, a moderação é privilegio da idade avançada.<br />

No livro "Etsu, filie de Samourai", vem referida uma lenda oriental, em que por<br />

ordem de um déspota eram os velhos abandonados á morte no alto de uma<br />

montanha. Para o tirano só a força da juventude podia servir e felicitar. Vai<br />

senão quando, lendo ordenado que lhe trouxessem uma corda de cinzas, ninguém<br />

conseguia cumprir a ordem, quando uma velhinha, que a ternura de um filho<br />

havia subtraído á morte, escordendo-a no desvão da casa pobre, aconselhou <strong>com</strong><br />

verdadeiro sentido prático : "faça-se uma corda de palha trançada, estenda-se<br />

sobre uma pedra lisa e queime-se em noi*e calma".<br />

A corda de cinzas foi levada ao rei, que, entre louvores inquiriu do homem <strong>com</strong>o<br />

tinha chegado àquele resultado. Conhecia então a autoria verdadeira, ficou algum<br />

tempo pensativo o asperc senhor e disse sentencioso : ha vantagens mais<br />

preciosas que a força da juventude. Penitencio-me de ter esquecido a maxima :<br />

"avec la couronne de neige vient 'a sagesse". E a lei tiranica passou ao domínio<br />

da lenda.<br />

Em nossos dias os costumes sociais refletem o desamor pelo proximo mais idoso,<br />

e, valha a verdade, o proprio clima de família não tem para o velho a amenidade<br />

do outros tempos. Considerado um retardatário, os proprios conselhos, levados<br />

b < redito de sua experiência, chocam-se <strong>com</strong> a impertinência represada<br />

dos avançados, quando, por exceção não beÜscam o seticismo risonho e misericordioso<br />

dos menos educados modernamente. Hoje que os jovens de ambos os<br />

sexos excedem-se nos exercícios fisicos, despem-se e pigmentam-se horas a fio<br />

nas praias de banho, arrazam a mocidade e a frescura nas delicias pagãs do<br />

Carnaval hoje em dia que as moças guiam automoveis, fumam e bebem colctails.<br />

são perfeitamente inteiradas da literatura dos cinemas e da adjectivação<br />

dos rádios, ma! chega o tempo para a leitura de um romance amoroso ou<br />

policial...<br />

Nós outros que formamos a reserva de primeira linha da maturidade, recordando<br />

a nossa juventude respeitosa e tímida, em contraste <strong>com</strong> a de hoje, destravada<br />

e livre, achamos certo sentido naquele paradoxo atrevido de Gavarni, á vista de<br />

um adolescente escandalosamente moderno : "ainda não recebeu educação e já<br />

tão estúpido" !...<br />

Para estar em boas contas corri o momento o moço deve se revelar emancipado<br />

de quaesquer ascendências ou tutela, seja domestica, sócia! ou mesmo religosa.<br />

Novos tempos, costumes novos. A civilisação atual caminha noutros rumos. O<br />

velho pensa que a vida já não ensina, sorriem os moços de uma experiericia que<br />

se não ajus ; a ás imposições da época.<br />

Recorda Bertrand o fáto daquelle embaixador da Lacedemonia, que, assistindo<br />

a uma representação dramatica em Atenas, levantara-se para dar lugar a um<br />

ancião, sem outros previlegios. Hoje, mesmo nos veículos, nem jovens nem diplomatas<br />

cedem lugar a uma velha dama. E' certo que ás vezes por culpa delas.<br />

Lembro-me de ter assistido, num cinema do Rio, a uma cena deliciosamente cômica<br />

: um meço de cabellos brancos levantara-se para dar passagem a uma senhora<br />

idosa. Agradecendo, disso eia: "o senhor bem mostra que é do tempo<br />

antigo". Jurou então o jovem não mais sujeitar a sua invernia temporã ao castigo<br />

do tais elogios...<br />

(Conclúe na pag. 42)


35 IHuslinçao Brasileira


TïVuonA dLcuwisnwi<br />

® A embaixada de Portugal viveu horas de intenso brÜno<br />

social no dia em que o Sr. Embaixador e a Sra. Nobre de<br />

Melo ofereceram um grande "cock-tail" á Missão Economica<br />

que aqui se acha em visita oficial.<br />

Pelos amplos salões desfilaram: todo o Corpo Diplomático, a<br />

alta sociedade do Rio e as figuras mais representativas da<br />

colonia portuguesa.<br />

• O Sr. e a Sra. Antonio Leite Garcia ofereceram no<br />

Gavea-Golf Club uma ceia elegantíssima ao ilustre casai<br />

Warren Pearson.<br />

O agradavel ambiente do Gavea-Golf, decorado <strong>com</strong> fino<br />

gosto, ostentava grandes ramos de Jockey-Club.<br />

O ilustre banqueiro americano e Mrs. Pearson foram aivos<br />

de grandes atenções.<br />

Em torno dos homenageados sentaram-se, para a deliciosa<br />

ceia, Sr. e Sra. Antonio Leite Garcia — a Sra. Celia Leite<br />

Gama trasia um amplo vestido de "Mousseline" clara —<br />

Barão e Baronesa de Saavedra, Sr. e Sra. Carl Sylvester,<br />

Sr. Embaixador do Chile, Sra. Beatriz Sinmonsen—"toilette"<br />

branca bordada a ouro — Sr. e Sra. Walter Sarmanno.<br />

Em outros grupos: Sr. e Sra. Alvaro de Teffé, Visconde e<br />

Viscondessa de Carnaxide, Sr. e Sra. José Cortez, Sr. e<br />

Sra. Embaixador Oscar de Teffé, Sr. e Sra. Ranulpno<br />

Bocayuva, Sr. e Sra. Ju'io Monteiro, Sr. e Sra. Jos^-<br />

Willemsens, Sr. Antonio de Mesquita e Bonfir.<br />

O escritor francês Jean de Rovera centralisava um grupo<br />

<strong>com</strong> a sua conversa variada e culta.<br />

A Sra. de Rovera "en noir", ostentava jóias belíssimas, <strong>com</strong><br />

brilhantes raros pela sua dimensão e consequentemente peio<br />

seu alto valor que mais bonitas ainda ficavam contrastadas<br />

pela simolicidade do seu vestido preto; sobre os seus<br />

cabelos louros duas rosas vermelhas, pousadas entre os<br />

cachos, <strong>com</strong>pletavam o penteado 1900.<br />

A linda senhora Lucila Barrozo do Amaral, amplo vestido de<br />

"faille", branco, e téla de ouro segurando os seus cabelo:<br />

muito bem arranjados.<br />

Sr. e Sra. Antonio Victor dos Santos, Sr. e Sra. Vicenre<br />

Galliez, Sr. e Sra. Mario Lima Rocha.<br />

As dansas se mantiveram animadíssimas. Lá fóra o gramado<br />

e as arvores iluminadas tinham um verde belíssimo, lavada«<br />

que estavam todas as folhas pela chuva.<br />

• O Embaixador da Grã Bretanha e Lady Gurney abriram<br />

os salões da embaixada, em Santa Teresa para uma grande<br />

recepção oferecida aos ex-vice-reis da India, Marquez e<br />

Marqueza de Willington. Tudo que o Rio tem de mais fino<br />

se encontrou naquele ambiente "raffiné", tão sobrio e vão<br />

distinto da real embaixada britaníca.<br />

Os representantes de S.S. M.M. R R. o Rei Jorge Vi e<br />

Rainha Elisabeth ao lado dos hospedes de honra e do nosso<br />

introdutor diplomático Sr. Guimarães Gomes, receberam<br />

cumprimentos de todo o "Grand-monde", carioca.<br />

A Sra. Getúlio Vargas, vestido "bordeaux" grande chapoo<br />

<strong>com</strong> copa "d'aigrettes", Sra. Santos Lobo en "gris-perie",<br />

chapéo de "paradis", Sr. Ministro das Reiações Exteriores e<br />

Sra. Oswaldo Aranha, Comdor. Leitão da Cunha, Sr.<br />

Tristão da Cunha, Sr. Embaixador da Argentina o<br />

Sra. Julio Roca, Sra. Maria Luisa de Teffé, "en noir"<br />

imenso chapéo de veludo neqro <strong>com</strong> plumas azul e<br />

rosa; Sr. e Sra. Carlos Guiníe, Sra. Maria Cecilia G.<br />

Fontes, Sr. de La Bouchère. Sr. Oswaldo de Moraes<br />

Lindqren, Sra. Baronesa de Bomfim; "en bleu cendré"<br />

e lindos "rènards bleus", a Sra. Baronesa de Saavedra.<br />

Foi uma reunião elegantíssima.<br />

• Comemorando a entrada da primavera<br />

rea'isou-se no Country-Club uma linda festa<br />

em beneficio da Casa do Estudante que teve<br />

uma lista de patronesses, notável.<br />

O ambiente, decorado <strong>com</strong> chapéos de pair.a<br />

cheios de "bougainville", também conhecido<br />

por: primavera, tinha realmente um ar festivo-<br />

e as fitas coloridas sustentando os chapéos no-<br />

této, ainda emprestavam mais alegria ao-<br />

conjunto.<br />

A Sra. Darcy Vargas presidia uma granJc<br />

mesa, D. Laurinda Santos, uma outra; Sra.<br />

Leonor Marinho Guimarães; Sra. Anna Amé-<br />

lia; Sra. Leite Garcia, Sra. Tetra de Tef f e,<br />

Sra. Miranda Correia, Sra. Morena Sarrr.a-<br />

nho, Sra. Rosenburgo, Sta. Alzira Vargas,<br />

vestido branco <strong>com</strong> flores apiicadas.<br />

Um verdadeiro '"bouquet" de primaveras ra-<br />

diosas decoravam mais do que tudo a íinda<br />

reunião: Stas. Machado Guimarães, Stas.<br />

Laffayette Carvalho e Silva, Sta. Arlettc<br />

Mendes Gonçalves, a linda Sta. Penha Affon-<br />

seca e tantas outras encheram de vida e en-<br />

canto a festa da entrada da primavera que<br />

marcou <strong>com</strong> um tento de ouro a estação que<br />

passa. — J. DE A.


O Presidente da Republica fazendo a entrega do espadin a um dos alumnos da Escola Militar<br />

A mesa que presidiu a solemnidade da inauguração do Lyceu Literário Portuguez<br />

O mez passado, mez da Indepondencia, foi, sobretudo,<br />

o mez das grandes solemnidades cívicas. Sem querer<br />

insistir, aqui, no noticiário sobre as cerimonias <strong>com</strong>-<br />

memorativas do "Dia da Patria", entre as quaes sobre-<br />

sahiram, naturalmente, os desfiles da Juventude Es-<br />

colar e a parada militar de 7 de Setembro, não po-<br />

demos deixar de registar a brilhante festa cívica que<br />

foi a entrega dos espadins aos novos cadetes da Es-<br />

cola Militar, após o juramento 6 Bandeira. Como de<br />

praxe, a assistência <strong>com</strong>punha-se das mais altas auto-<br />

ridades nacionaes, principalmente militares, e do que<br />

ha de mais brilhante na sociedade brasileira.<br />

* Outra solennidade de beHo aspecto exterior e de<br />

grande significação, mas de um genero <strong>com</strong>pletamen-<br />

te diverso, foi a da inauguração dos serviços adminis-<br />

trativos da Associação Brasileira de Imprensa no pa-<br />

lacio novo que lhe servi ré de séde. Este acto realizou-<br />

se no ' Dia da Imprensa", e é impossível deixar de<br />

assignalar o cunho excepcional que assumiram as ma-<br />

nifestações publicai em *orno do prestigio da Casa<br />

« da classe, nessa data significativa. O Palacio da Im-<br />

prensa, parcialmente inaugurado, é um bello e impo-<br />

nente edifício de que se devem orgulhar, muito jus-<br />

tamente. todos os jornalistas do Brasil.<br />

* No capitulo de inaugurações, não se deve esque-<br />

cer a do novo edifício do Lyceu Literário Portuguez,<br />

outro palacio grandioso, construído em vigoroso estylo.<br />

Foi outra grande cerimonia, a que <strong>com</strong>pareceram as<br />

x iguras mais prestigiosas da cullura brasileira, os gran-<br />

des nornes da colonia portugueza, inclusive o embai-<br />

xador Nobre Mello. Presidiu-a o Ministro das Reia-<br />

çõos Exteriores. O Lyceu Literário Portuguez é uma<br />

das instituições que fóra do territorio lusitano, mais<br />

honram as nobilíssimas tradições de cultura da Patria<br />

de Camões.<br />

^ A cordialidade reinante entre o Brasil e os Esta-<br />

dos Unidos encontra sempre novas formas de expres-<br />

são e novos motivos de intensificação. O mez de Se-<br />

tembro não passou sem uma dessas beijas demonstra-<br />

ções que aprimoram as relações entre povos que se<br />

procuram e se <strong>com</strong>pletam, no terreno politico e eco-<br />

nomico. A visita do "Enterprise" ao Brasil foi um elo<br />

a mais na corrente de factos que fortificam, cada vez<br />

mais, a politica de boa visinhança e de collaboração<br />

existente entre o nosso paiz e a poderosa Republica<br />

da America do Norte. Ao mesmo tempo, ella offere-<br />

ceü á nossa população opportunidade para apreciar<br />

um dos mais bollos porta-aviões do mundo.<br />

Regressou, no mesmo mez, da Europa, o sr. Cláu-<br />

dio de Souza, um dos mais conhecidos escriptores bra-<br />

sileiros contemporâneos, presidente da Academia Bra-<br />

sileira de Letras e do PEN CLUB do Brasik O illustre<br />

litorato, que honra as paginas da "ILLUSTRAÇÂO<br />

Aspecto da inauguração dos serviços<br />

administrativos na nova séde da A.B.I.


BRASILEIPA" <strong>com</strong> una coliaboração constante e bri-<br />

ISantíssima, vem de tomar parte no Congresso Annual<br />

do PEN CLUB, o que', este anno, se realizou em<br />

P«-aya. <strong>com</strong> a presença das figuras mais notáveis do<br />

movimento intellectual de todo o mundo<br />

*l* No mez de <strong>Outubro</strong> corrente, realizar-se-á no Rio<br />

de Janeifo a I.' Exposição Philate'íca Internacional. No<br />

mez de Setembro, teve logar a installação dos servi-<br />

ços relaciorados <strong>com</strong> a referida Exposição, na séde do<br />

Club Pnilatclico do Brasi'. O numero de pessoas inte-<br />

ressadas nesse certamen, tanto no Brasil, <strong>com</strong>o fóra<br />

do nosso paiz, é incaculavel. pois são todos os colloc-<br />

cionadores do sellos. A I." Exposição Philatelica a<br />

reunir-se no Brasi! promette alcançar excepcional êxito,<br />

contando <strong>com</strong> o apoio das autoridades nacionacs.<br />

São Paulo, o grande Estado que leadera, em po-<br />

sição, por assim dizer, absoluta, a producção caféeira<br />

em nosso paiz, tem novo reoresentante na directoria<br />

do D. N. C.<br />

A escolha recaiu sobre a pessoa do sr. Oswaldo de<br />

Barros, conhecedor dos assumptos ligados é producção<br />

e ao <strong>com</strong>mercio de café e technico reputado em as-<br />

sumptos financeiros. O novo director do Departa-<br />

mento Nacional de Café jé assumiu as funcções do<br />

seu cargo.<br />

*l* No mez de Setembro, realizou-se no Rio de Ja-<br />

neiro um Congresso de Cirurgia, tendo reunido os no-<br />

mes conhecidos de cirurgiões brasileiros, assim <strong>com</strong>o<br />

os mestres dessa especialidade na Argentina e no<br />

Uruguay.<br />

Esse Congresso assignalou-se pelas demonstrações pra-<br />

ticas de cirurgia, verdadeiros concursos, a que assis-<br />

tiram, <strong>com</strong> grande proveito, médicos e estudantes desta<br />

Capital e os que puderam vir dos Estados. O certa-<br />

men demonstrou o adeantamento alcançado por essa<br />

technica na America do Sul.<br />

• O "Dia da Arvore" teve. este anno. a mais enthu-<br />

siastica <strong>com</strong>memoração, quer na metropole quer no in-<br />

terior do Paiz.<br />

Nesta Capital coube ao Ministério da Agricultura, á<br />

frente do qual se acha o Dr. Fernando Costa, orientar<br />

as <strong>com</strong>memorações. que tiveram lugar no Horto Flo-<br />

restal, onde foram plantadas varias arvores, pelo titu-<br />

lar daquelia pasta e outras autoridades presentes. Nes-<br />

sa occasião o poeta e acadêmico Adelmar Tavares,<br />

que foi o orador officia!, pronunciou brilhante oração,<br />

verdadeiro hymno é Arvore, sendo divulgado o plano<br />

co Ministro da Agricu'tura mediante o qual annuai-<br />

monte, em cada Município do Brasil serão plantadas<br />

pelas creanças das escolas, I .000 arvores, para que se<br />

processe, assim, o replantio das nossas florestas.<br />

O "Interprise" quando fundeava<br />

na bahia de Guanabara<br />

Dr o<br />

ct0;<br />

O Ministro da Agricultura. Dr. Fernando Costa,<br />

quando plantava uma das arvores no Horto Florestal<br />

Dr. Cl<br />

Acàd6rJ- Pm •<br />

Br*-- r


: « vlM.v<br />

os MONUMENTOS DA CHRISTANDADE _<br />

dral de Reims (França), nue vem le ser e ^ coi.oad<br />

r - r ^ r ' r « - — -<br />

36 Ilustração Brasileira<br />

* * * * s a í , a »<br />

f<br />

•<br />

r'<br />

I<br />

•<br />

» HORRORES DA GUERRA — Uma vista de Wansrsha. estação de estrada<br />

^ de ferro de Cantão, na China, depois que as bombas aereas japonezas realigw;<br />

saram o seu trabalho infernal. A estação foi o alvo para uma chuva<br />

«L de balas em successivos "raids" que causaram cerca de 6.000 mortes.<br />

UM PASSEIO EM AQUAPLANO — A luz e as<br />

queimaduras do sol são duas cousas a impedir<br />

que o aquaplano seja confortável. Betty Beaver e<br />

Doris Montgomery resolveram o caso — munindo-se<br />

de sombrinhas emquanto passeiam pelas<br />

axuas da Avaion Bay em frente ao famoso Catalina<br />

Casino — em Santa Catalina Is'and<br />

LINDAS DECORA.<br />

ÇOES P A RA MAE<br />

NATUREZA - I<br />

Ix>npr Beach, California,<br />

preparando-se para<br />

o proximo campeonato<br />

annual de navegação<br />

na costa do Pacifico.<br />

esses graciosos<br />

yachts de C> o 8 metros


Polo, ser.do um desporto de real utilidade<br />

para os cavaleirianos, é dos que impolgam a<br />

assistência pelos lances de destreza e vivacidade<br />

dos movimentos apresentados por seus<br />

executores. Permanecendo os oito jogadores em continuo<br />

galope, despertam vivas emoções pelo perigo a<br />

quo so expõem, onde se conjugam o adextramento dos<br />

ginetes <strong>com</strong> a afoitesa dos que os cavalgam.<br />

Originário da Inglaterra. surgi\j tal jogo entre nós, a<br />

cerca duma dezena de annos, atravez da Argentina,<br />

o desde logo despertou entusiasmo entre nossos ardorosos<br />

equitadores, sendo praticado em todos os corpos<br />

de cavalaria do Exercito e da Força Publica de<br />

Mir.as Geraes, extondondo-se hoje as quatro notáveis<br />

sociedades civis: ITANHANGÁ e GAVEA GOLFO<br />

CLUB, do Rio de Janeiro; HÍPICA PAULISTA e<br />

CENTRO HÍPICO DE JUiZ DE FÓRA.<br />

A PUGNA E O CAMPO<br />

O jogo consiste em conduzir á cavalo uma bola <strong>com</strong><br />

8 centímetros de diâmetros pesando 156 gramas, de<br />

nó de pinho ou raiz de bambú e <strong>com</strong> éla varar o goal<br />

adversário, servindo-se para isso dum taco de madeira<br />

em forma de martelo.<br />

A pugna se desenvolve num campb de 170 metros de<br />

<strong>com</strong>prido por 120 de largo, e que pode ir a 275 x 146<br />

3 8 Illustruçfio Brasileira<br />

mtrs., sendo circunscrito por taboas de 25 centímetros<br />

de altura que lhe servem de tabelas. Os goals<br />

são demarcados exclusivamente por dois postes verticais<br />

<strong>com</strong> 3 mtrs. de altura que distam entro si do<br />

7 1/2 mtrs. e sejam sucetiveis de cair para não ferir<br />

o cavalo que nele esbarro.<br />

O terreno deve ser perfeitamente plano, pois qualquer<br />

buraco p r enderá a bola, convindo porém que possua<br />

certa inclinação para facilitar o escoamento das aguas,<br />

evitando que os cavalos escorreguem. Não pode também<br />

ser árido, pois a bola pularia em demasia, mudando<br />

de direção; daí dever-se conserva-lo humedecido<br />

e plantado <strong>com</strong> grama rasteira e bem aparada.<br />

TEMPOS<br />

Uma partida de polo no Centro<br />

Hípico de Juiz de Fóra<br />

Os tempos duram oito minutos <strong>com</strong> tres de intervalo<br />

oara mudança de montadas. No México e Espanha<br />

jogam oito tempos; na Argentina e America do Nor-<br />

te sete e. na Inglaterra, Australia, índia e Africa do<br />

Sul, <strong>com</strong>o tambom entre nós, dura cada jogada seis<br />

tempos. O maior numero de tempos exige maior nu-<br />

mero de montadas pois, em regra, monta-se um ca-<br />

valo em cada tempo. A troca de campo dã-se sem-<br />

pre que so marca um goal, ou no fim do terceiro<br />

tempo, caso não se tenha marcado ponto algum.<br />

Major JOSÉ FAUSTINO DA SILVA FILHO<br />

do " R e g i m e n t o M a l l e t "<br />

CAVALOS E CAVALEIROS<br />

Os animais devem ser velozes, ardorosos, fortes, calmos<br />

e do media es\0h1r0 para que possam ser maneaveis<br />

e permitam o rodopio ou volta sobre a garupa,<br />

o que não será possivel em cavalos pesados e<br />

ao grande porte.<br />

A primeira condição a satisfazer pelo jogador é ser<br />

perfeito e destro cavaleiro, afim de ter independencia<br />

do movimentos no qalope-fargo e <strong>com</strong>pleto domínio<br />

sobre o cavaro para dirigi-lo convenientemente 6 menor<br />

ajuda. O melhor jogador será aquele que seja<br />

mais <strong>com</strong>pleto cavaleiro, o qual maiores resultados<br />

obieré si possuir cavalo perfeitamente adextrado.<br />

Cavalo mal domado é um perigo iminente para quem<br />

o monta e o coiceiro selo-ó para os demais; <strong>com</strong>prometendo<br />

qualquer vicio o bom êxito da equipe. Só o<br />

cavalo ligeiro e bem adextrado deve ser empregado<br />

no Polo.<br />

O jego bruto <strong>com</strong> o choque entro jogadores pode<br />

trazer gravíssimas consequências.<br />

O uso do capacete é indispensável <strong>com</strong>o proteção<br />

contra as bolas altas. As camisas devem ser de cor<br />

diversa para se distinguir os partidos, emquanto que<br />

o calção branco pode ser usado por todos.<br />

TÉCNICA DO JOGO<br />

C ieigo tem, a primeira vista, uma impressão errónea<br />

da técnica do Polo; pois que, de inicio parece que o<br />

conjunto da equipe ataca sempre que a bola passa<br />

para o campo adverso e quo caem todos na defesa<br />

si a bola volta ao seu campo.<br />

Uma atenção mais acurada mostra o engano em que<br />

labora. Dos quatro jogadores dois se encarregam do<br />

ataque e os outros dois da defesa.<br />

O inicio da partida é dado pelo juiz que <strong>com</strong>parece<br />

montado e joga a bola rente ao chão, entre os teames,<br />

que se defrontam distanciados de 4 '/j mtrs. do juiz.<br />

O jogador que se apodera da bola deve conduzi-la<br />

por tacadas successivas, e a toda a brida, em direção<br />

ao goal adversario.<br />

Os dianteiros se denominam I e 2 seguindo-se o 3<br />

e o 4.<br />

O n.° I — que é o mais avançado. — tem por missão<br />

principal evitar que o n.° 4 adversario apodere-


I L L U S T R A Ç Õ E S<br />

D E L E O P O L D O<br />

Jc9ac/crcs do<br />

se da bola, para o que deve tomar-lhe o passo, cruzando<br />

<strong>com</strong> ele seu taco de modo que não lhe seja<br />

possível passar a bola a seus dianteiros.<br />

Como missão secundaria deve, uma vez do posse da<br />

pelota, passa-la ao <strong>com</strong>panheiro que esteja melhor<br />

colocado para leva-la ao goal adversario.<br />

Si cumprir ambas as missões terá sido util ao conjunto<br />

e jogado bem e. se alem disso, tiver feito jogadas<br />

em goal, terá tido uma atuação notável.<br />

O n." 2 — é o explorador do ataque, — devendo nele<br />

colocar-se convenientemente para receber a bola e<br />

leva-la ao goal ou passa-la ao n.° I. si esto estiver<br />

em melhores condições. Na defesa devo impedir que<br />

o n.° 3 adversario pegue a bola, dando ou recebendo<br />

passes de seus <strong>com</strong>panheiros. Estando a bola entre ele<br />

e o goal contrario, deve tomar a dianteira dos adversários,<br />

apoderando-se da bola e levando-a, celeremente,<br />

ao goal. Embora tenha maior amplitude que qualquer<br />

outro, nem por isso deve monopoiizar a bola<br />

quando marchar ao ataque, e, nem mesmo <strong>com</strong> ela<br />

preocupar-se, — si na defesa; por isto que poderá<br />

atrapalhar o n.° 4, privando-o do desempenho de suas<br />

'unções.<br />

Os ns. I e 2 estarão bem <strong>com</strong>binados quando, continuamente,<br />

troquem de lugar. Tal permuta consiste<br />

mesmo na melhor garantia duma equipe para ter<br />

assegurada a sua vitoria.<br />

Baseando-se no axioma de que no polo o melhor colocado<br />

é quern vem atraz, creou-se a teoria de deverse<br />

abandonar a bola sempre que ela seja solicitada<br />

o o n.° 2, pela amplitude que tem no jogo. está constantemente<br />

a gritar : "deixa ! — deixa !". Tal excla-<br />

' vca ©o/f Club<br />

mação não deve ser atendida si <strong>com</strong> e.a se atinge<br />

o abuso egoistico de açambarcar o jogo, o que vai<br />

prejudicar a <strong>com</strong>binação, afastando a possibilidade<br />

dum melhor resuftado para o conjunto da equipe.<br />

O n.° 3 — ocupa a posição mais importante da equipe.<br />

devendo ser para ela escolhido o seu melhor jooador,<br />

pois que, seja ou rão o capitão do team, 6<br />

de fato quem tem de dirigir o jogo dos ns. I e 2. E<br />

para tanto necessita possuir muita segurança nas pegadas<br />

e ter uma noção exata do sitio para onde vai<br />

enviar a bola, que recebe do n.° 4 e devo fazer chegar<br />

ao alcance de um dos dianteiros, — aos quaes<br />

*om que apoiar <strong>com</strong>o parceiro que é do n.° 2.<br />

Na defesa importa secundar o n.° 4, resistindo a na-<br />

*uraj impulsão de avançar em demasia, pois que devo<br />

aí cuidar do n.° 2 contrario.<br />

O n.° 4 — é o principal elemento da defesa — o<br />

tem por isso que impedir aos contrários cheguem a<br />

dar tacadas em goa!. Deve pois ser dotado de muita<br />

ca!ma, ter perspicacia e rápido golpe de vista. A<br />

partir do momento em qe o Juiz lança a bola para<br />

o chão deve segui-ia <strong>com</strong> tranquilidade a uma distan-<br />

cia donde seja possivel toma-la aos advorsarios para<br />

restitui-la aos cous parceiros. Vindo a bola para o<br />

seu campo cumpre-!he a marcação do n.° I contra-<br />

rio. ombargando-lhe a carreira e evitando o passe<br />

entre seus adversarios.<br />

A X I O M A S<br />

Como qualquer outro esporte, tem o Polo os seus<br />

princípios fundamentais, aplicaveis ao conjunto das<br />

equipes, e que são :<br />

!.°) — Estando em terreno adversario, deve-se sempre<br />

centrar;<br />

2.°) — dentro do proprio terreno, convém jogar para<br />

um dos lados, salvo si poder avançar livremente pelo<br />

centro;<br />

3.°) — largar a bola sompre que pedida por parceiro<br />

e toma-la quando solicitada por adversario;<br />

4.°) — só pedir a bola quando estiver em situação de<br />

Iova-la por diante;<br />

5.°) — avançar sompre que puder sem monopolisar<br />

o bola-<br />

A pratica deste jogo se re<strong>com</strong>enda por desenvolver<br />

as qualidades de ardor, intrepidez e ousadia que tão<br />

necessários são ao cava'eriano.<br />

<strong>Outubro</strong> — 11*3$ 39


MELHORAMENTO NOS PORTOS BRASILEIROS<br />

OMICO<br />

Ult'mamen!e tem-se registado um grande e louvável esforço, no sentido de me-<br />

lhor equipar os portos de que se serve o <strong>com</strong>mercio dos Estados. Para o porto do<br />

Victoria, do Espirito Santo, foram approvadas obras na importancia de mais do<br />

20.000 conto, as quaes melhorarão ex-<br />

traordinariamente os serviços de carga<br />

e descarga no referido porto. Isso é<br />

importantíssimo para o Estado, cujo<br />

<strong>com</strong>mercio, atravez do escoadouro na-<br />

tural de Victoria, cresce, de dia paia<br />

dia.<br />

Uma vista do porto de Victoria 5 600 c° nfos -<br />

Outros portos estão sendo apparelha-<br />

dos, <strong>com</strong> grande empenho. No de<br />

Angra dos Reis, no Estado do Rio<br />

de Janeiro, por exemplo, estão sendo<br />

rea'izadas obras cujo custo orça po'<br />

No de Aracaiú fazem-se melhoramen-<br />

tos na importancia de quase 5.000<br />

conros e no de Belmonte executam-se serviços, na importância de 2.200 contos.<br />

Voira-se a falar nas obras do porto de Fortaleza, esperando-se que, finalmente,<br />

a capital do Ceará tenha um porto á altura do seu grande <strong>com</strong>mercio.<br />

O FINANCIAMENTO DA PRODUCÇÃO CITRICOLA<br />

Todos os annos, no segundo semestre, regista-se crise nos negocios de laranjas,<br />

entre nós. As exportações correm normalmente na primeira parte do anno. Na<br />

segunda, surgem graves di r ficu ! dados. Os citricultores queixam-se de imposições<br />

inaccei + aveis por parte dos <strong>com</strong>pradores. Os financiadores, por sua vez, allegam<br />

diff' uldades de ordem externa : incerteza no mercado, quéda de preços, effeito<br />

da concorrência, etc.<br />

Registrada a periodicidade desse phoromeno, seria de todo ponto desejável que<br />

o governo mandasse fazer investigações a respeito. Se fôr alguma difficuldade<br />

ce ordem externa, serão dadas, certamente, as providencias indispensáveis para<br />

vencel-as ou, pelo menos, diminuil-as. Caso, entretanto, se trato de manobra dos<br />

financiadores, visando <strong>com</strong>poNir os productores a deixar-lhes mais larga margem<br />

de lucros, então cabe ao governo intervir onergica e rapidamente em defesa dos<br />

citricultores biasileiros.<br />

Estos merecem o desvelado ampare por parte das autoridades nacíonaes, pois<br />

quo, pelo seu proprio esforço, inteiramente desajudados pelos podores públicos,<br />

crearam uma grande riqueza — a exportação de laranjas e demais frutas cítricas,<br />

a qual occupa actualmente o quarto logar entro os productos alimentícios que<br />

vendemos ao estrangeiro.<br />

As providencias dadas para facilitar o desenvolvimento do consumo da laranja<br />

no Rio do Janeiro indicam a bôa vontade o o espirito de cooperação de que<br />

so acha animado o Ministério da Agricultura, mas, evidentemente, não é bastan-<br />

te f ara resolver a questão e fazer calar as queixas dos productores.<br />

A balança mercantil italo-brasileira permanece íavoravel ao Brasil. E' conve-<br />

niente informar, entretanto, que o intercambio economico entre os dois paizes<br />

não se tom desenvolvido, <strong>com</strong>o seria de desejar, nos últimos annos, sobretudo<br />

depois da Guerra da Abyssinia, quando nossa attitude mereceu as mais vivas<br />

demonstraçõos de apreço por parte do governo italiano. Espera-se, entretanto,<br />

que em I938 se registo um augmento gera! das <strong>com</strong>pras o vendas entre os<br />

do.s paizes.<br />

Vista da mina de ferro de Passagem,<br />

em plena producção<br />

Pelos dados recentemente divulgados a res-<br />

poito da nossa producção siderúrgica, vê-se<br />

que, embora ainda não tenham creado a gran-<br />

de siderurgia no Brasil, não deixa de ser sensí-<br />

vel o augmento da nossa producção de ferro<br />

e de aço. De 1925 a 1937, fizemos notável<br />

progresso nesse particular conforme se pode<br />

ver dos números que aqui reproduzimos:<br />

I925 30.330<br />

I93C . . . . . . . . 59.200<br />

I933 89.240<br />

! 934 107.258<br />

1937 162.810<br />

Ferro Aço<br />

7.560<br />

20.985<br />

53.570<br />

61.680<br />

76.430<br />

O INTERCAMBIO COMMERCIAL POLONO-BRASILEIRO<br />

Ouí«"o paiz cujo <strong>com</strong>morcio nos deixa uma considerável margem de saldo é a<br />

Polonia.<br />

Conformo os dados publicados no "Boletim Economico" do Ministério das Re-<br />

lações Exteriores, durante o anno passado, o valor das nossas exportaçõos para<br />

a Polonia subiu a 665.000 contos do reis contra 490.000 contos em 1936.<br />

A importação de oroductos polonezes, no mesmo poriodo, foi de 329.000 contos<br />

de iéis, notando-se um augmento de 154.000 contos sobre o total alcançado em<br />

193o. quando importamos 175.000 contos.<br />

Os principaes productos brasileiros exportados para a Polonia foram o algodão<br />

e o café.<br />

A importação poioneza de algodão attinge, annualmente, cerca do 66.000 tone-<br />

ladas, podendo, portanto, em futuro proximo sor um importante mercado para<br />

o algodão brasileiro.<br />

A safra assucareira de <strong>1938</strong>/39 está avaliada em<br />

18.855.700 saccas de 60 kilos. Essa estimativa reali-<br />

zada, cuidadosamente, pelo Instituto do Álcool e do<br />

Assucar é pormenorizada, permittindo interessantes<br />

observações.<br />

A producção autorizada pelo referido Instituto é li-<br />

mitada a 17.743.434 saccos, sendo que, para os<br />

productores, foi fixado o limite de 14.543.434 saccos,<br />

Os maiores Estados productores foram : Pernambuco,<br />

5.200.000 saccas; Minas Geraes, 2.730.000; São<br />

Paulo. 2.710.000; Rio de Janeiro, 2.420.000 e Ala-<br />

goas, <strong>com</strong> 1.600.000. O consumo interno foi avalia-<br />

do em I5.9I9.I79 de saccas. O menor productor<br />

Touceira de canna de um foi ° Am «onas, P^o concorreu, sómente <strong>com</strong><br />

cannavial brasileiro 12.400 saccas de 60 kilos.<br />

EXPORTAÇÃO DE PELLES E COUROS<br />

Nos cinco primeiros mezes do corrente anno, exporrámos 21.606 toneladas de<br />

couros o pelles, no vaior do 86.253 contos, centra 25.424 toneladas e 118.278<br />

contos em iaual período de 1937. A differença para menos, nesse período, foi,<br />

consequentemente, de 3.318 toneladas no volume, o 32.025 contos no valor.<br />

Tanbem r.o preço se apurou reducção. pois a toneiada, que nos deu, o anno<br />

passado 4:652$. ieve agora o valor médio de 3:992$. apenas, <strong>com</strong> a differença,<br />

para menos, oe 600$ — a maior verificada nos últimos tempos.<br />

Na equivalência ouro, a quéda foi mais impressionante : de libras 39,7 em 1937,<br />

a tonelada de couros e pelles caiu, no corrente anno, para libras 28,2.<br />

Sr. Albortus Schnelfo, diroctor gerente da importante firma de artigos<br />

graphicos C. Fuerst ?< Cia., desta Capital, e uma das victimas do la-<br />

ínenravel desastre do avião "Anhangá", occorrido a 25 de Agosto.<br />

"Illustração Brasileira" manteve sempre estreito contacto <strong>com</strong> Albertus<br />

Schnelle tendo tido fartos ensejos de verificar suas altas qualidades d'e<br />

espirito e seus profundos conhecimentos da arte graphica.<br />

<strong>Outubro</strong> — 1038 41


AMPLIANDO O ARCABOUÇO<br />

ECONOMICO DO PAIZ<br />

Estamos incontestavelmente atravessando uma phase de verdadeira<br />

renovação de valores e substituição de methodos administrativos<br />

archaicos. Grandes problemas e iniciativas fecundas, preocupam os<br />

homens públicos, nesta hora dynamica de reconstrucção economica.<br />

Haja vista, neste momento as directrizes do Sr. Marques dos Reis no<br />

nosso maior Instituto de Credilo que se assignaiam peias realisações<br />

praticas e eíticienles em prol da economia nacional.<br />

Norteado, integrado pelo pensamento do governo na orbita do<br />

Estado Novo, o Banco do Brasil nesse afan de tudo melhorar e<br />

aperfeiçoar, attendendo ás necessidades das forças vivas da nação,<br />

procura expandir o credito por meio de suas agencias, impulsionando<br />

a actuação da Carteira de Credito Agricola e Industrial no justo<br />

anseio de levar os benefícios do credito a todos os rincões do paiz.<br />

Digna de mensão foi pois a resolução<br />

da Directoria, em sessão de 22 de<br />

Fevereiro, na louvável prudência de<br />

evitar instaílações dispendiosas cie agen-<br />

cias em zonas que ainda não apresen-<br />

tam coefficiente <strong>com</strong>mercial <strong>com</strong>pensa-<br />

dor, crear um novo typo de pequenos<br />

departamentos denominados sub-agen-;<br />

cias, de organisação mais simples que as<br />

actuaes agencias, mas que valerão<br />

<strong>com</strong>o verdadeiros desdobramentos da-<br />

quellas em virtude de lhe serem atlri-<br />

buidas as funcções mais importantes dos<br />

grandes departamentos <strong>com</strong>o sejam:<br />

recolhimento de depositos; emprestimos<br />

•y..*! a agricultores, industriais e <strong>com</strong>merci-<br />

àtv antes; cobrança de titulos; pagamentos<br />

Séde do Banco do Brasil P° r COnfa ^eiros, etc.<br />

Como se vê, são iniciativas de grande<br />

alcance, que incentivarão promissoriamente a producção e a economia<br />

nacional dada o beneficio da expansão do credito.<br />

SUB-AGENCIAS JÁ CRIADAS<br />

De accôrdo <strong>com</strong> o resolvido, em 22 de Abril, foi criada a sub-agencio<br />

ae Porto Velho, no Amazonas, e em 27 de Juiho, ar seguintes no<br />

nordéste e norte do paiz, para serem installadas immediatamente:<br />

Colatina, no Espirito Santo; Affonso Penna , Barra do Rio Grande;<br />

Caetité, Serrinha e Cannavieiras, na Bahia; Propriá e Laranjeiras, em<br />

Sergipe; Viçosa e Atalaia, em Alagoas; Caruaru e Escada, em<br />

Pernambuco; Patos, na Parahyba; Macau, no Rio Grande do Norte;<br />

Aracaty, Iguatú e Camocim, no Ceará; Caxias, no Maranhão; Campo<br />

Maior e Periperi, no Piauhy; Santarém, no Pará; Aquidauana e Ponta<br />

Porã, em Matto Grosso; e Ipamery, em Goyaz.<br />

A disseminação do credito bancario em bases accessiveis só benefícios<br />

trará ás fontes de energia e opulência do Brasil, pois o objectivo do<br />

Banco, creando esses Departamentos, não é a caça do lucro proprio,<br />

mas o melhor apparelhamento do arcabouço economíco da Nação.<br />

Nesse escopo, resolveu a nossa maior organisação de credito iniciar<br />

sua nova politica pelos Estados mais desprovidos de recursos bancarios,<br />

Os Estados Septentrionaes encarregando-se as Agencias sediadas nas<br />

Capitaes de indicar, <strong>com</strong> urgência, as localidades mais apropriadas<br />

para uma util actuação do Banco.<br />

Não se detem ahi a faina realisadora do Sr. Marques dos Reis para<br />

incrementar a riqueza nacional; resolveu, em união de vistas <strong>com</strong> a<br />

Directoria, crear sub-agencias em vários Municípios dos Estados do<br />

Espirito Santo, Minas Geraes, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco<br />

Parahyba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e Pará.<br />

Dentro em breve serão também creados as sub-agencias do Bras'i<br />

Meridional tornando-se assim uma grata e auspiciosa realidade o piano<br />

traçado pela alta administração do Banco do Brasil.<br />

Orientação indiscutivelmente benemerita a do Sr. Marques dos Reis,<br />

inatacavelmente patriótica cuja acção proveitosíssima, redundará num<br />

forte impulso ás forças productores do Brasil revigorando-as, tonifí-<br />

cando-as para um verdadeiro resurgimento da economia Nacional.<br />

THERMOMETROS PARA FEBRE<br />

é oAjlLLcl - JLcrrvcLcnru<br />

HORS CONCOURS<br />

42 IHustração Brasileira<br />

os defeitos de sua pelle?<br />

4 "maquillafcc" c util c está na mo-<br />

£m da, para realçar c avivar a bclle-<br />

2a de um rosto lindo. Mas n&o c vantagem<br />

usala <strong>com</strong>o disfarce para occultar<br />

defeitos ou imperfeições da pelle.<br />

Para isso. a sua utilidade dura horas<br />

apenas. O certo e Iralar a pelle, cor-<br />

rigindo c- removendo definitivamente<br />

os defeitos que lhe tiram o frescor c<br />

a mocidade. E isto será fácil <strong>com</strong> o<br />

uso continuado do Leite de Coloma.<br />

Leite de Coloma limpa, alveja c amacia<br />

a pelle ' Use o seguidamente c a Sra.<br />

cedo notará os seus benéficos cffcitos.<br />

VISÃO DO DESENGANO<br />

(Conclusão da pag. 30)<br />

O desprezo da sociedade atual pela velhice faz o rogalo da industria do "prolongar<br />

a mocidade"; multiplica institutos de beleza, proclama os milagres da cirurgia<br />

estetica e da fisioterapia da pele, oferece novas possibilidades ao charlatanismo<br />

diplomado, vencendo a ingenuidade feminina no pecado da simulação ou na<br />

ilusõo de roder pecar. "Corr.me une falence craquelée ou un plat on morceaux, un<br />

visage féminin peut á Deu-prés se ra<strong>com</strong>moder". São assim as heroinas á força<br />

que pensam espancar a velhice "a coups de batons. .. de rouge".<br />

Para aqueles que se despediram da mocidade é dolorosamente ridicula a preoccjpação<br />

de parecer jovem, forçando o cotejo e repetindo gestos e hábitos que a<br />

<strong>com</strong>postura pessoai desaconselha. Cada idade tem o seu momento, e pois diversos são<br />

os prazeres, go;tos e emoções. Não penso que a velhice deve ser a meditação<br />

oa morte; seria talvez uma forma de alcançar o *uturo, transitando pela densidade<br />

das sombras. Mais confortável<br />

é ainda a meia luz do<br />

crepusculo, e nele mergulhado<br />

o organismo que desaba,<br />

sente da vida os derradeiros<br />

lampejos. E depois a velhice é<br />

sofrimento, e sem sofrer que seria<br />

da humanidade ? Onde a<br />

virtude sem a realidade ou o<br />

temor do soffrimento ?<br />

O passado é a recordação. Premio<br />

ou tributo ? Quem sabe ?<br />

Mais vezes será tormento que<br />

doçura. Recordar o bem que já<br />

foi é ainda sentir; talvez sofrer<br />

agora <strong>com</strong> a lembrança querida;<br />

certo, sofrer duas vezes si<br />

a recordação é amarga. Porque<br />

recordar ? Dizia <strong>com</strong> razão<br />

aquela dama, que não queria<br />

envelhecer, ao <strong>com</strong>panheiro de<br />

outros tempos. E acudia enfezada<br />

: "poupa-me de recordações,<br />

detesto a quem recorda".<br />

Visão do desengano essa fatalidade<br />

biologica mais o será sem<br />

a quietude do coração; e agora.<br />

padecendo em dobro, a velhice<br />

é sombra e resto da vida.<br />

poeira e miragem, fumo e<br />

nada...<br />

MOVEIS<br />

TAPEÇARIAS<br />

DECORAÇÕES<br />

R A D I O S<br />

REFRIGERADORES<br />

COMPREM NA<br />

ITA Q U A L I D A D E<br />

GOSTO INCONFUNDÍVEL<br />

O MAIOR SORTIMENTO<br />

PREÇOS M O D IC O S<br />

CATETE, 55 A 61


A MISSÃO<br />

DE GONÇALVES DIAS NA EUROPA<br />

O cantor dcs Tymbiras não foi ao Volho Mundo nem<br />

para se divertir, nem para conhecer terras. Sua viagem,<br />

feita sob os auspícios do nosso Imperador, estava limi-<br />

tada á capita! íusilana, e o motivo, que a norteava,<br />

se cingia á cata de noticias preciosas e inéditas nos<br />

archivos d'além-mar para os nossos historiadores. Em<br />

varias das "Cartas" do Visconde de Porto Seguro, es-<br />

criptas em outubro de 1856, em Lisboa, deparam-se-nos<br />

trochos: que nos elucidam sob^e as actividades de<br />

nosso indianista longe da Patria.<br />

Na Carta I, lê-se: "...Elie acaba de chegar aqui e<br />

assegura-me que ao mais tardar em um anno regressa<br />

ao Rio..."<br />

Na Carta II: "...Agora porém o meu <strong>com</strong>provincia-<br />

no Gonçalves Dias pede a exoneração da missão que<br />

Gonçalves Dias — gesso de Baldinára<br />

lhe fôra confiada de examinar os archivos deste reino<br />

para o fim de fazer extrahir copias de todos os<br />

documentos que possam importar á nossa historia..."<br />

Na Carta VI: "...O Sr. Gonça'ves Dias porém sus-<br />

tenta que a!i [a Torre do Tombo] ainda se encontra-<br />

rão thesouros inapreciáveis, e é certo que o governo<br />

lhe re<strong>com</strong>mendou ultimamente que se applicasse de<br />

preferencia á exploração daqueUe Archivo cujos<br />

documentos têm em geral a vantagem da authenti-<br />

cidade.<br />

Devo dizer-lhe que o Sr. Dias muito pouca coisa co-<br />

piou deste archivo, pela maior parte pequenos<br />

documentos avulsos e emmassados. pertencentes á<br />

parte chronologica, de que ha um catalogo geral em<br />

livro grosso, e Índices especiosos juntos a cada masso".<br />

"Na BibÜotheca da Academia (Convento de Jesus)<br />

encontrou o Sr. Dias pouco, e copiou o melhor. Dei-<br />

xou-me porém ainda alguma cousa a respigar..."<br />

Na Carta VIII : ".. .Dei-me o trabalho de reler e re-<br />

volver os números da Revista do Instituto que ha na<br />

Academia (não ó collecção <strong>com</strong>pleta) e a sua His-<br />

toria Geral, e verifiquei que não só Gonçalves Dias,<br />

<strong>com</strong>o eu mesmo neste pouco tempo, fizemos copiar<br />

documontos já impressos, ou existentes no Brasil, e as<br />

deíles offerecidos e publicados por V. E.<br />

Os "Tumultos do Maranhão" por Teixeira de Moraes<br />

também elle (I. F. de Castilhos) os levou, mas o Gon-<br />

çalves Dias tirou uma copia d outro Ms. existente na<br />

Academia..."<br />

Na Carta IX : ".. .Fiquei pasmado <strong>com</strong> a noticia que<br />

me dá de haver-me já copiado o Ms. das "Calami-<br />

dades de Pernambuco", em 1844, e por quatro ou<br />

cinco moedas. Pois estas agora custaram 60 e tantos<br />

mil réis fortes, isto é a bagateHa de umas quatorze<br />

moedas porque o Gonçalves Dias ajustou alto maio<br />

todas as copias da Torre do Tombo a meia £ por<br />

auaoarno, se>am os documentos de caracteres antigos,<br />

ou sejam de letra moderna e intelligivel para todos.<br />

E fui eu que as paguei, bem que conste do seu rela-<br />

torio que foi eHe quem as mandou fazer.<br />

O Gonçalves Dias foi infeliz nisto: tirou esta copia, e<br />

diversas outras já tiradas, nomeadamente uma gran-<br />

de parte dos Ms. do Dr. Alexandre Rodrigues Ferrei-<br />

ra. e só depois de ti-<br />

radas, é que deu <strong>com</strong><br />

uma apostilla no res-<br />

pectivo indice, donde<br />

contava que o Drum-<br />

mond tinha levado<br />

esses manuscriptos.<br />

que existiam em du-<br />

plicata n a Acade-<br />

• ii<br />

mia... .<br />

Senhora: Os trabalhos escolhidos que Arte de Bordar publica,<br />

na maior variedade, tornam Arte de Bordar indispensável er.i<br />

todos os lares. Procure nos jornaleiros Arte de Bordar dês to<br />

Frequente o<br />

mês e cernfique-se disso.<br />

«itfVIP<br />

CASINO COPACABANA<br />

O Casino Aristocrático da Praia Aristocrático<br />

4 4 IUustraçao Brasileira


DA S A f<br />

Difecçao e fscripiorio<br />

Tfa»essa do OM, 34<br />

1 /<br />

KDICtti<br />

f<br />

/<br />

s / .V<br />

coo Q Î I I u ^ Î ^ l b<br />

))<br />

I i b o ^ A C H<br />

RIO DE JANEIRO<br />

l<br />

?<br />

«Pf 1 *'<br />

Redacçào e Officinas<br />

l Visconde de Itaûna. 419

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!