Baixar em seu computador (Grátis) - Comunidade Bom Pastor
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DEDICAÇÃO<br />
Ofereço esta obra<br />
às pessoas que não<br />
possu<strong>em</strong> alma pequena!<br />
1
O jardineiro<br />
de Madalena!<br />
Acolher é evangelizar<br />
Acolher é formar<br />
Acolher é amar<br />
<strong>Comunidade</strong> Acolhimento <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong><br />
2
<strong>Comunidade</strong> Acolhimento <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong><br />
Estrada Municipal do Varjão, 1641<br />
Bairro Novo Horizonte<br />
CEP 13.212-590 Jundiaí – SP<br />
Fone: (11) 4582-4163<br />
Site: www.comunidadebompastor.com.br<br />
E-mail: escritorio@comunidadebompastor.com.br<br />
Blog: http://gilbertobegiato.blogspot.com/<br />
"Qu<strong>em</strong> olha o vento não s<strong>em</strong>eia.<br />
Qu<strong>em</strong> olha as nuvens não sega"<br />
Largitur pluvias, ubi vult divina potestas.<br />
Jundiaí, 25 de dez<strong>em</strong>bro de 2010 - Brasil<br />
Natal do Menino Jesus<br />
3
Sumário<br />
Esta obra relata a história do Felipe, um jov<strong>em</strong><br />
órfão de pai e mãe.<br />
Após a trágica morte de <strong>seu</strong> pai, ele t<strong>em</strong> um<br />
encontro com Emanuel.<br />
Este encontro mudaria totalmente a sua vida.<br />
Emanuel o convida a descobrir o Reino de Deus.<br />
Felipe aceita e inicia uma aventura na qual volta ao<br />
passado e vive a história de Adão, Abraão, Moisés, Josué,<br />
Caleb, Davi, Elias, Maria, Jesus e outros.<br />
Uma história de ficção misturada com fatos reais<br />
que levarão você a sonhar com um mundo melhor.<br />
A obra não t<strong>em</strong> pretensão de ser um estudo<br />
religioso. É poética e traz uma mensag<strong>em</strong> espiritual, de<br />
cura e amor a você.<br />
surpreenderá!<br />
Qu<strong>em</strong> é o Jardineiro de Madalena? Leia e se<br />
4
PREFÁCIO I<br />
Ao ler o Jardineiro de Madalena, você terá a<br />
sensação de estar sentando na poltrona de um teatro, ou<br />
talvez numa sala de cin<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> determinados momentos<br />
você terá dúvidas se trata da história de Felipe, de alguém<br />
que você conhece ou da sua própria história.<br />
O fato é que será impossível iniciar essa leitura<br />
s<strong>em</strong> querer saber o que lhe espera na página seguinte.<br />
Atualmente nos diz<strong>em</strong>: “Sonhar é perda de t<strong>em</strong>po,<br />
o que precisamos é viver a realidade, ser produtivos e<br />
entregar resultados”.<br />
Não levanto a polêmica sobre esse assunto, mas<br />
afirmo, é preciso sonhar, é libertador sonhar.<br />
O Jardineiro de Madalena nos leva a participar do<br />
sonho de muitas pessoas, que ao longo da História da<br />
Salvação mudaram o mundo através da realização de <strong>seu</strong>s<br />
sonhos.<br />
Desta forma, convido a você leitor, a <strong>em</strong>barcar<br />
nesta história e permitir-se o envolvimento passo a passo.<br />
Deus vai falar com você, Deus vai utilizar deste<br />
instrumento para lhe curar e lhe acolher <strong>em</strong> Seu Sagrado<br />
Coração.<br />
5
Você irá descobrir, que pela ótica de Deus, toda<br />
situação de tristeza e perda pode ser revertida <strong>em</strong> alegria e<br />
Vida <strong>em</strong> Abundância.<br />
Você quer ser acolhido pelos braços do Pai? Deixe<br />
que ele lhe encontre nesta história.<br />
Quanto ao escritor, tenho caminhado ao <strong>seu</strong> lado nos últimos 10(dez)<br />
anos, o tenho como meu “diretor espiritual”, onde através de sua<br />
prática do evangelho e o abundante Dom da Sabedoria, o mesmo é<br />
capaz de <strong>em</strong> poucas palavras me gerar alimento intelectual e espiritual<br />
por um grande período; experimente desse alimento você também.<br />
6<br />
Claudinei Santana<br />
Engenheiro<br />
Coordenador e Vocalista da Banda Católica Coração do Rei<br />
Co-Fundador da <strong>Comunidade</strong> Acolhimento <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong><br />
Responsável Pelo Projeto Águas Profundas
PREFÁCIO II<br />
Falar deste livro fica relativamente fácil, pois<br />
conheço o Gilberto, que é um hom<strong>em</strong> que d<strong>em</strong>onstra<br />
claramente que ama a Deus e sua Igreja.<br />
De forma profunda, no decorrer deste livro<br />
poder<strong>em</strong>os observar muitas vezes a expressão: “Reino de<br />
Deus”.<br />
Nos últimos meses que tenho ouvido as pregações<br />
do Gilberto posso ver nitidamente que ele está no Reino de<br />
Deus e vive o Reino Deus cada dia <strong>em</strong> sua vida. Tenho<br />
louvado a Deus por me ter permitido andar do lado de um<br />
hom<strong>em</strong> como o Gilberto.<br />
O Jardineiro de Madalena nos leva a uma viaj<strong>em</strong><br />
no t<strong>em</strong>po ou no Kairós de Deus onde o passado, presente e<br />
futuro para Deus é o hoje.<br />
Este livro é uma ficção extr<strong>em</strong>amente animadora,<br />
que qualquer pessoa queria e gostaria de viver; é<br />
<strong>em</strong>polgante e cheio de lições que nos faz refletir sobre a<br />
vida s<strong>em</strong> Deus.<br />
Durante a leitura você fará uma viaj<strong>em</strong> pela bíblia<br />
conhecendo assim homens e mulheres que se dedicaram<br />
ao Senhor de todo o coração, muitos com fraquezas<br />
7
s<strong>em</strong>elhantes às nossas, porém nunca deixando de confiar e<br />
amar o Senhor sobre todas as coisas.<br />
O Jardineiro de Madalena também pode ser e deve<br />
ser recomendado para aqueles que de alguma forma estão<br />
longe de Deus e que não conhece a bíblia e <strong>seu</strong> poder de<br />
transformação.<br />
Que Deus use deste livro <strong>em</strong> sua vida meu querido<br />
leitor e que através dele você possa ter um encontro com o<br />
Pai das Luzes para que sua vida seja totalmente iluminada<br />
por Aquele que te amou e a si mesmo se entregou, Jesus<br />
Cristo.<br />
<strong>Pastor</strong> Paulo Barcaro<br />
Fundador do Grupo Acolher.*<br />
Grupo Acolher: Grupos de irmãos de diversas denominações religiosas que se<br />
reún<strong>em</strong> para partilha da Palavra e oração <strong>em</strong> comum situado na Cidade de<br />
Jundiaí – SP.<br />
8
O sonho de Felipe<br />
Era uma tarde ensolarada, ele levantou os olhos ao<br />
céu e olhou o azul, teto do <strong>seu</strong> novo lar.<br />
Felipe estava abatido acabara de voltar do enterro<br />
de <strong>seu</strong> pai e como vivia de favor na casa de sua tia que<br />
ofendia a ele e o <strong>seu</strong> pai resolveu partir s<strong>em</strong> rumo.<br />
Sua mãe faleceu ainda quando era criança.<br />
Desde que sua mãe faleceu vivia com o pai na casa<br />
cedida pela tia, que muitas vezes o ofendia e desmerecia<br />
sua presença e de <strong>seu</strong> pai naquela casa.<br />
Felipe t<strong>em</strong> dezoito anos! Na poça da água <strong>em</strong><br />
frente ao banco da praça onde se encontrava refletia sua<br />
imag<strong>em</strong>: loiro de olhos azuis, franzina e cumprido! Tinha<br />
os olhos enormes e um sorriso largo que quase nunca<br />
usava. Uma das poucas vezes <strong>em</strong> que sorria era quando<br />
<strong>seu</strong> pai chegava cansado do trabalho e ele corria na rua até<br />
a esquina pulava no braço do pai e sorria alegr<strong>em</strong>ente, isso<br />
quando criança.<br />
Era justamente isto que Felipe agora via naquela<br />
poça d‟água o rosto de <strong>seu</strong> pai. Podia sentir o cheiro do<br />
suor que <strong>seu</strong> pai tinha quando chegava do trabalho, não<br />
havia um cheiro melhor do que este. Felipe olhou da praça<br />
9
uma esquina e desejou ardent<strong>em</strong>ente poder abraçar <strong>seu</strong> pai<br />
pelo resto da sua vida, pois nada mais importava para ele<br />
do que aquele abraço carinhoso de <strong>seu</strong> pai.<br />
Porém, Felipe l<strong>em</strong>brou-se que <strong>seu</strong> pai nunca mais o<br />
teria nos braços e de <strong>seu</strong>s olhos azuis escorreram lágrimas<br />
que pingaram na poça d‟água distorcendo sua imag<strong>em</strong>.<br />
Assim estava Felipe totalmente transformado pela<br />
desilusão e pela solidão que o cercava.<br />
E por ali ficou horas pensando e refletindo o que<br />
fizera de tão mau para merecer o infortúnio que<br />
duplamente a vida lhe ofereceu: a ausência de mãe e de<br />
pai. E gritou olhando para o céu:<br />
- Deus porque me abandonou?<br />
A tarde já declinava e a noite já o envolvia naquela<br />
praça quando Felipe se deu conta do que havia feito.<br />
Abandonara o lar da sua tia, e agora para onde ir? Onde<br />
dormir? O que fazer?<br />
Pouco importava, Pensou ele que, viver já não<br />
tinha mais sentido! Sua razão de vida era <strong>seu</strong> pai!<br />
pai!<br />
Neste instante chorou amargamente a morte de <strong>seu</strong><br />
Deitou-se então no banco da praça. Observou a<br />
estátua de um hom<strong>em</strong> com uma ovelha <strong>em</strong> <strong>seu</strong>s ombros,<br />
10
um cajado <strong>em</strong> suas mãos e parecia que o olhava<br />
atentamente com um leve sorriso enquanto a ovelha<br />
parecia estar triste. Na estátua abaixo <strong>em</strong> uma placa estava<br />
escrito: Praça <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong>!<br />
O cansaço por fim foi vencendo, então Felipe<br />
virou-se deitado para cima e enquanto observava as<br />
estrelas do céu, <strong>seu</strong>s olhos foram se fechando.<br />
cantar:<br />
Neste instante pareceu ouvir:<br />
- Filho, segura firme na mão do Pai!<br />
Ao fundo <strong>em</strong> alguma igrejinha ali ouvia o coral<br />
Se as águas do mar da vida, quiser<strong>em</strong> te afogar<br />
Segura na mão de Deus e vai<br />
Se as tristezas desta lida, quiser<strong>em</strong> te sufocar<br />
Segura na mão de Deus e vai<br />
Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus<br />
Pois ela, ela te sustentará<br />
Não t<strong>em</strong>as, segue adiante, e não olhes para trás<br />
Segura na mão de Deus e vai<br />
Se a jornada é pesada, e te cansa a caminhada<br />
Segura na mão de Deus e vai...<br />
11
Antes que terminasse de ouvir a música dormiu.<br />
Uma luz muito forte e intensa invadiu o sono de<br />
Felipe que acordou assustado, não conseguia abrir os<br />
olhos direito, era como se alguém tivesse acendido uma<br />
lâmpada b<strong>em</strong> <strong>em</strong> cima do <strong>seu</strong> rosto. L<strong>em</strong>brou-se de sua tia<br />
que quando queria acordá-lo acendia a luz do <strong>seu</strong> quarto e<br />
ele ficava bravo com esta atitude.<br />
Será que tudo foi um sonho, ou melhor, um<br />
pesadelo e que não estava mais naquela praça e que <strong>seu</strong><br />
pai estava vivo?<br />
Então sentiu que uma mão segurava a sua b<strong>em</strong><br />
firme. A impressão que teve era que aquela mão era de <strong>seu</strong><br />
pai. Ele apertou aquela mão e disse:<br />
- Pai, que bom que está aqui.<br />
Ouviu então a voz lhe responder:<br />
- S<strong>em</strong>pre estive aqui.<br />
Neste momento <strong>seu</strong>s olhos acostumaram com a luz<br />
e pode ver que ao <strong>seu</strong> lado havia um estranho e deu um<br />
pulo. Olhou ao <strong>seu</strong> redor e viu a praça onde passara a<br />
noite.<br />
Não era um sonho. Era um pesadelo real!<br />
Indignado perguntou rispidamente àquele hom<strong>em</strong><br />
qu<strong>em</strong> era e porque segurava sua mão?<br />
12
O hom<strong>em</strong> era alto, tinha um s<strong>em</strong>blante sereno e<br />
transmitia muita paz! Parecia que reluzia o t<strong>em</strong>po todo. O<br />
hom<strong>em</strong> lhe respondeu:<br />
- Eu Sou Emanuel!<br />
Felipe quase n<strong>em</strong> ouviu a resposta de Emanuel,<br />
abaixou a cabeça e foi tomado por uma tristeza medonha,<br />
a saudade de <strong>seu</strong> pai era muito forte e ele não conseguia<br />
tirar isso da sua cabeça. Desejava nunca mais sair daquela<br />
praça e se pudesse morreria ali de desgosto.<br />
respondeu:<br />
Emanuel então lhe perguntou:<br />
- Por que esta tão triste?<br />
Felipe olhou para ele e os olhos lacrimejaram e<br />
- Não lhe interessa.<br />
Emanuel com um sorriso retrucou:<br />
- Pode a tristeza durar até o anoitecer, mas a alegria<br />
logo v<strong>em</strong> no amanhecer.<br />
Felipe bravo respondeu:<br />
- Me deixe <strong>em</strong> paz, vá <strong>em</strong>bora.<br />
Respondeu desta forma, mas não estava tão certo<br />
assim. Desde que Emanuel apareceu naquela praça ele<br />
sentia-se aliviado, pois agora tinha uma companhia e além<br />
do mais sentia uma paz muito grande.<br />
13
- Eu lhe ofereço a paz! Disse Emanuel.<br />
Felipe então se sentou no banco e outra vez <strong>seu</strong>s<br />
pensamentos fugiram para longe e l<strong>em</strong>brou-se que certa<br />
vez estava muito bravo com a vida e pediu que <strong>seu</strong> pai o<br />
deixasse <strong>em</strong> paz. Seu pai o beijou, abraçou-o fort<strong>em</strong>ente e<br />
disse: Estamos juntos filho e isso é o que importa.<br />
novamente.<br />
- Juntos... é o que importa...<br />
Pronunciou Felipe <strong>em</strong> voz alta e chorou<br />
- Felipe não desanima! Tenha fé! Acredite, é<br />
possível transformar suas angústias <strong>em</strong> vitória! - Disse<br />
Emanuel.<br />
- Como posso acreditar se os motivos me faz<strong>em</strong><br />
pensar ao contrário. - Falou Felipe.<br />
Neste momento espantou-se pelo fato de Emanuel<br />
pronunciar <strong>seu</strong> nome e disse:<br />
- Você me conhece? Da onde? Como sabe meu<br />
nome? Diga o que você quer?<br />
Com um sorriso, Emanuel respondeu:<br />
- Sim eu lhe conheço pelo <strong>seu</strong> nome. Conheço você<br />
antes que fosse formado no seio de sua mãe. Fui eu que<br />
lhe dei este nome. Eu quero ser <strong>seu</strong> amigo.<br />
14
Felipe pensou: qu<strong>em</strong> esse sujeito pensa que é?<br />
Meus pais me deram este nome e já não tenho mais eles<br />
perto de mim.<br />
você!<br />
- Seus pais partiram e a vida continua pra eles e pra<br />
Felipe espantou-se ainda mais. Como ele poderia<br />
saber que <strong>seu</strong>s pais partiram! Estava no enterro? Era<br />
algum parente! Um policial que o procurava? Não parecia<br />
nada disso. Mas o fato de saber tanto da sua vida fez com<br />
que ganhasse a confiança de Felipe que então o<br />
questionou:<br />
alegria?<br />
- Como posso transformar minhas angústias <strong>em</strong><br />
- Não disse que podia transformar suas angústias<br />
<strong>em</strong> alegria - disse Emanuel e continuou - Eu disse que<br />
você poderia transformar suas angústias <strong>em</strong> vitória! A<br />
ausência de <strong>seu</strong>s pais será s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>brada com tristeza<br />
por você! Mas se você quiser pode transformar uma<br />
aparente derrota <strong>em</strong> vitória. Mas também se desejar<br />
poderá lamentar a vida toda como um coitado.<br />
Felipe ironizou:<br />
15
- O que você sabe sobre sofrer a ausência de<br />
alguém? É muito fácil falar de algo que você não está<br />
sentindo.<br />
falando.<br />
Emanuel fitou-o com amor e disse:<br />
- Pode ter certeza, meu amigo, eu sei do que estou<br />
- O que faço da minha vida? Felipe agora se<br />
entregava <strong>em</strong> <strong>seu</strong> cansaço.<br />
- Venha comigo conhecer o Reino de Deus.<br />
- Reino de Deus? - Indagou Felipe<br />
- Sim! Disse Emanuel.<br />
- O que é isso? E onde fica?<br />
- É um tesouro valioso e qu<strong>em</strong> o encontra, encontra<br />
a própria felicidade. E fica muito mais próximo do que<br />
você imagina.<br />
Felipe pensou que nada tinha a perder, já havia<br />
desistido da vida. O que viesse agora não poderia ser pior<br />
do que a ausência de <strong>seu</strong> pai.<br />
Então lhe disse:<br />
- Como posso confiar <strong>em</strong> você! Como saberei se<br />
você não me levará <strong>em</strong> algum lugar perigoso? Que<br />
garantia você me dá?<br />
Emanuel disse:<br />
16
- Confiança se adquire com o t<strong>em</strong>po! Quanto ao<br />
lugar não levarei você <strong>em</strong> nenhum lugar que não queira ir,<br />
e como disse, o Reino de Deus está aqui. A garantia você<br />
descobrirá quando conhecer o Reino.<br />
- Pod<strong>em</strong>os começar pela porta do Paraíso! O que<br />
você acha? Perguntou Emanuel<br />
- Porta? Que porta? Disse Felipe.<br />
- Esta! Emanuel apontou à sua frente e de repente<br />
apareceu uma porta que se abriu.<br />
17
O sonho de Adão<br />
Felipe entrou pela porta junto com Emanuel e<br />
avistou no batente da porta que estava escrito:<br />
Porta do Paraíso! Alfa e Ômega! Princípio e Fim!<br />
Será um condomínio, pensou Felipe. Mas ao entrar<br />
pela porta logo percebeu que aquilo era extraordinário! As<br />
paisagens e a beleza natural transmitiam uma paz e<br />
segurança como nunca <strong>em</strong> sua vida havia experimentado.<br />
- Que lugar maravilhoso – gritou Felipe.<br />
- Meu Pai é muito caprichoso. - Disse Emanuel.<br />
- Seu pai? - Perguntou Felipe.<br />
- Sim!<br />
- Ele é dono de tudo isso?<br />
- Sim!<br />
- Então você é rico?<br />
- Digamos que sim!<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou que <strong>seu</strong> pai vivia numa pendura<br />
danada. Com muito sofrimento e trabalho mantinha o<br />
necessário <strong>em</strong> casa. Era jardineiro e que muitas vezes era<br />
obrigado a trabalhar nos finais de s<strong>em</strong>ana.<br />
Felipe então disse a Emanuel:<br />
- Você é feliz! Além de ter um pai, ele é rico.<br />
18
Emanuel respondeu:<br />
- Felipe o fato de se ter um pai não significa<br />
necessariamente felicidade. Há muitos que têm os pais e<br />
não são felizes ou não valorizam o que têm. E a felicidade<br />
não se encontra na riqueza material e nas grandes posses.<br />
A dignidade e honestidade de <strong>seu</strong> pai val<strong>em</strong> muito mais do<br />
que a riqueza injusta e egoísta. Por isso meu Pai criou tudo<br />
isto para <strong>seu</strong>s filhos.<br />
-Você t<strong>em</strong> mais irmãos? - Perguntou Felipe.<br />
- Sim! Todos aqueles que faz<strong>em</strong> a vontade de meu<br />
Pai são meus irmãos e minhas irmãs.<br />
Emanuel por fim disse:<br />
- E quanto à exploração que <strong>seu</strong> pai sofria<br />
trabalhando tantas horas por dia e s<strong>em</strong> descanso é<br />
inaceitável e detestável por Deus. Por isso criou e ordenou<br />
o respeito ao dia santo. O trabalho foi feito para o hom<strong>em</strong><br />
e não o hom<strong>em</strong> para o trabalho.<br />
Felipe gostou do que Emanuel lhe disse, pois por<br />
diversas vezes o trabalho de <strong>seu</strong> pai tirava dele a alegria da<br />
convivência e da presença tão importante de <strong>seu</strong> pai <strong>em</strong><br />
sua vida.<br />
Felipe disse:<br />
19
s<strong>em</strong>pre?<br />
- Você costuma ler os pensamentos das pessoas<br />
Emanuel sorriu e disse:<br />
- Sim, mas só comento quando for para curar a<br />
alma das pessoas.<br />
Neste exato momento Felipe arregalou os olhos e<br />
apontou à sua frente dizendo.<br />
- Veja! Uma luz enorme!<br />
Uma forma maravilhosa se mexia à sua frente, mas<br />
não mostrava o rosto, quase que se via suas costas. Parecia<br />
ser um ser magnífico e de uma presença única<br />
inexplicável.<br />
Felipe ficou extasiado, já não falava, não sabia<br />
explicar, mas queria ver Aquele Ser pelo resto da sua vida.<br />
É como se ele encontrasse, como que num passe de<br />
mágica o equilíbrio e a segurança total da sua vida, o que<br />
mais tarde definiu a Emanuel com a palavra: realização.<br />
- O que ele está fazendo? - Perguntou Felipe.<br />
- Está criando a obra mais bela e mais amada por<br />
Ele: a humanidade.<br />
- Mas com barro?<br />
- Do pó vieste e para o pó voltará. Disse Emanuel.<br />
20
Então Felipe notou que aquele barro foi-se<br />
formando como um vaso nas mãos do oleiro, uma peça<br />
formidável, era uma figura humana, um hom<strong>em</strong>, que<br />
Aquele Ser parecia estar fazendo com tanto cuidado.<br />
Transparecia neste momento um amor incomparável e<br />
imensurável àquela criatura de barro. Quando então viu<br />
que Ele se inclinava para aquele boneco de barro e tocou<br />
com o <strong>seu</strong> lábio a boca do boneco.<br />
- O que ele esta fazendo? Está beijando o boneco<br />
de barro? Perguntou Felipe.<br />
- Sim, está soprando através de um beijo a vida<br />
para <strong>seu</strong> filho, a criatura mais bela. É o Ruah! - Disse<br />
Emanuel todo feliz - Meu Pai é amor!<br />
Felipe estava encantado com o que via, não podia<br />
definir com palavras humanas o que ali acontecia. Viu<br />
diante de <strong>seu</strong>s olhos um boneco de barro se transformar<br />
<strong>em</strong> um ser humano belo. E tudo isso com um beijo de pai.<br />
L<strong>em</strong>brou que quando era criança beijava <strong>seu</strong> pai e sua mãe<br />
na boca.<br />
Felipe extasiado afirmou:<br />
- O criador e sua criatura.<br />
Emanuel retrucou:<br />
- O Pai e <strong>seu</strong> filho amado.<br />
21
Felipe não via o rosto do Pai, mas tinha a sensação<br />
que aquele Ser Maravilhoso e misterioso l<strong>em</strong>brava muito<br />
<strong>seu</strong> pai. Também achou o hom<strong>em</strong> ali criado muito<br />
parecido com todas as pessoas que conhecia. Então<br />
perguntou a Emanuel:<br />
- Parece que eu conheço o filho! Sua aparência é de<br />
alguém conhecido?<br />
Emanuel respondeu:<br />
- A humanidade é a imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de Deus.<br />
E continuou:<br />
- Este hom<strong>em</strong> se chama Adão. A humanidade é sua<br />
extirpe. E todos são parecidos com o Pai. Ele amou tanto a<br />
humanidade que a fez parecido com Ele: hom<strong>em</strong> e mulher.<br />
Neste instante Felipe observou que o Pai estava<br />
falando algo ao hom<strong>em</strong> que criou, mostrou uma árvore<br />
esquisita e outra muito bela. Depois mostrou diversas<br />
árvores, um pomar enorme e diversos frutos.<br />
Felipe então fez a seguinte observação:<br />
- Nossa! Quanta abundância! Aqui o hom<strong>em</strong><br />
jamais passará fome.<br />
- É Felipe, o Pai não é nenhum pouco econômico<br />
quando se trata de providenciar o que o hom<strong>em</strong> precisa.<br />
22
- Uma coisa que nunca entendi é o porquê de gente<br />
passando fome se o mundo é tão providente? - Disse<br />
Felipe.<br />
- Por causa do egoísmo. O Pai constrói e o hom<strong>em</strong><br />
destrói. O Pai reparte e o hom<strong>em</strong> retém para si.<br />
- O que eles estão conversando? Por que os<br />
animais estão todos ali ao redor do hom<strong>em</strong> e do Pai e não<br />
atacam e n<strong>em</strong> são agressivos?<br />
- O Pai está dizendo ao hom<strong>em</strong> que toda a criação<br />
está a serviço dele. Aquilo se chama harmonia. No<br />
princípio era assim.<br />
Neste momento Adão foi tomado de um profundo<br />
sono e o Pai tirou de sua costela uma mulher. Felipe achou<br />
a cena hilariante. Viu que o hom<strong>em</strong> estava triste e agora<br />
via Adão feliz observando a mulher diante de <strong>seu</strong>s olhos.<br />
- Emanuel! Já vi muitas piadas a respeito disso.<br />
Diz<strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> é melhor porque a mulher é uma<br />
cópia do original. Por outro lado ouvi as mulheres dizendo<br />
que o hom<strong>em</strong> é um rascunho da mulher.<br />
Emanuel sorrindo disse:<br />
- Também já ouvi muito destas piadas. Mas eu<br />
prefiro a interpretação que algumas pessoas faz<strong>em</strong> deste<br />
momento. Diz<strong>em</strong> que a mulher foi tirada da costela de<br />
23
Adão porque possui a mesma igualdade que o hom<strong>em</strong>. Se<br />
tivesse sido tirado dos pés diriam que é escrava, inferior.<br />
Se tivesse tirada da cabeça, que era superior a ele. Então<br />
Deus tirou da costela para mostrar a igualdade entre o<br />
hom<strong>em</strong> e a mulher. Do mais qualquer observação que<br />
tenha como objetivo inferiorizar uma das partes é fruto de<br />
uma disputa mesquinha e vazia.<br />
Felipe.<br />
- Em sua opinião qu<strong>em</strong> é superior? - Perguntou<br />
- Superior é aquele que se faz servo. É o que não<br />
t<strong>em</strong> medo de morrer pelo outro. O hom<strong>em</strong> completa a<br />
mulher e a mulher completa o hom<strong>em</strong>.<br />
perguntou:<br />
Felipe começou a pegar intimidade com Emanuel e<br />
- E qu<strong>em</strong> não joga <strong>em</strong> nenhum dos dois times?<br />
Emanuel respondeu:<br />
- Deus não faz acepção de pessoas. Deus sabe tudo,<br />
conhece tudo e, portanto não pode ser preconceituoso, t<strong>em</strong><br />
um conceito claro e real e por isso é misericórdia e ama a<br />
todos igualmente. O importante é saber que qu<strong>em</strong> ama não<br />
erra.<br />
- E Deus? Ele é hom<strong>em</strong>?<br />
Emanuel respondeu:<br />
24
- Deus não t<strong>em</strong> sexo.<br />
- Então porque o chama de Pai?<br />
- É uma forma que encontramos para ser entendido<br />
pela humanidade.<br />
- Antropomorfismo. Falou Felipe b<strong>em</strong> baixinho,<br />
l<strong>em</strong>brando que na escola aprendera o significado desta<br />
palavra que significava uma forma de pensamento que<br />
atribui características ou aspectos humanos a Deus.<br />
A Desobediência<br />
Felipe então observa um diálogo meio áspero entre<br />
o hom<strong>em</strong> e a mulher. Vê uma serpente no galho daquela<br />
árvore exótica. Parecia que Eva conversava com a<br />
serpente e Adão então estendeu a mão e pegou do fruto<br />
daquela árvore e comeu. Percebeu nos olhos do hom<strong>em</strong> e<br />
da mulher um s<strong>em</strong>blante horrível e um desespero. O que<br />
havia naquela árvore? Que fruto era aquele que trazia tanta<br />
dor ao hom<strong>em</strong> e a mulher? Então olhou para Emanuel e<br />
pela primeira vez viu no <strong>seu</strong> s<strong>em</strong>blante e nos <strong>seu</strong>s olhos<br />
um ar de preocupação e decepção. O olhar de Emanuel era<br />
quase s<strong>em</strong>pre um olhar de serenidade e amor. Felipe<br />
percebeu que o olhar da serpente era uma contradição ao<br />
25
olhar de Emanuel. A serpente parecia raivosa, invejosa e<br />
presunçosa. Quando Adão comeu do fruto ela riu<br />
sarcasticamente, sua risada causou um t<strong>em</strong>or a Felipe que<br />
se arrepiou todo e l<strong>em</strong>brou-se de quando tinha muito medo<br />
e gritava pelo pai que o abraçava a noite <strong>em</strong> sua cama e o<br />
fazia dormir novamente. Seu sentimento era o mesmo,<br />
sentia-se desprotegido e queria gritar pelo pai. Seu<br />
sentimento de derrota, os rostos de Adão e Eva e o sorriso<br />
da serpente o fizeram tr<strong>em</strong>er. Mas nada se comparava a<br />
preocupação que Emanuel apresentava. Para quebrar a<br />
tensão disse:<br />
- Veja! Eles estão se cobrindo com folhag<strong>em</strong> e<br />
Adão e Eva choraram. Porque ele esta se escondendo?<br />
- Por que ele comeu do fruto da árvore da ciência<br />
do b<strong>em</strong> e do mal.<br />
- E não podia?<br />
- O Pai lhe disse que podia comer de todas as<br />
árvores do Jardim do Éden, inclusive da árvore da vida e<br />
que viveriam eternamente felizes, menos da árvore da<br />
ciência do b<strong>em</strong> e do mal. Esta árvore lhe traria<br />
independência e uma total consciência do que é certo e<br />
errado e, portanto teriam que responder pelas suas atitudes<br />
26
e decisões. Por isso a partir de agora também precisarão<br />
trabalhar para manter suas vidas e experimentarão a morte.<br />
- Eles sabiam disso? - Perguntou Felipe.<br />
- Sim. Quando o hom<strong>em</strong> não quer saber, sua<br />
consciência o avisa.<br />
Felipe na verdade estava pensando que se o hom<strong>em</strong><br />
e a mulher houvess<strong>em</strong> obedecido a Deus, talvez <strong>seu</strong> pai<br />
estivesse vivo.<br />
Por que a vida lhe ofereceu este destino tão<br />
amargo? Então lhe veio uma idéia, talvez pudesse chegar<br />
perto de Deus no paraíso e lhe fazer estas perguntas. Seu<br />
pai s<strong>em</strong>pre dizia que Deus t<strong>em</strong> resposta para tudo. Mas<br />
quando foi perguntar a Emanuel ele viu uma das cenas<br />
mais fortes e marcantes da sua vida. Viu Deus se<br />
aproximando de Adão como s<strong>em</strong>pre fazia à hora da brisa<br />
da tarde e chamando-o pelo nome. Adão se escondera,<br />
pois estava envergonhado da sua nudez e da sua<br />
desobediência. Neste momento Felipe pode l<strong>em</strong>brar-se<br />
que quando aprontava as suas, <strong>seu</strong> pai o chamava<br />
insistent<strong>em</strong>ente e ele se escondia às vezes debaixo da<br />
cama, às vezes <strong>em</strong> cima do forro e outra vez punha-se a<br />
chorar copiosamente para não sofrer as correções que na<br />
maioria das vezes ele merecia. Mas tantas outras vezes ele<br />
27
levava bronca do pai porque sua tia inventava as coisas.<br />
Quando sofria correção por merecer doía mais, pois<br />
carregava o r<strong>em</strong>orso de ter errado. Já desejou por diversas<br />
vezes que <strong>seu</strong> pai morresse e agora sentia r<strong>em</strong>orso de não<br />
ter amado e beijado mais <strong>seu</strong> pai.<br />
Felipe viu Adão sair do meio das árvores do jardim<br />
com a cabeça baixa. Houve um pequeno diálogo. Deus<br />
apontou para a porta do Éden e Adão e sua mulher<br />
partiram dali. Parecia que o Pai estava zangado... ou triste?<br />
Felipe pensou: “quantas vezes eu fiz meu pai chorar por<br />
causa de mim!”<br />
Felipe começou a chorar copiosamente, não sabia<br />
por que, mas sentia uma profunda tristeza. Tudo que<br />
aconteceu de ruim na sua vida aflorou <strong>em</strong> sua mente nesta<br />
hora. A solidão, o medo, a raiva, o ódio, a depressão, as<br />
doenças que já teve e a pior de todas as suas dores: a<br />
morte da sua mãe e principalmente de <strong>seu</strong> pai com qu<strong>em</strong><br />
conviveu há mais t<strong>em</strong>po. Aquele silêncio de Adão que não<br />
respondeu ao chamado do Pai parecia eternizado no<br />
t<strong>em</strong>po. Nunca imaginara um silêncio incomodar tanto<br />
quanto o silêncio do hom<strong>em</strong> e da mulher no paraíso.<br />
Felipe começou a berrar violentamente para Deus:<br />
28
aqui!<br />
- Pai eu estou aqui! Pai eu estou aqui! Pai eu estou<br />
Emanuel colocou a mão sobre o ombro dele,<br />
abraçou-o e chorou junto com ele. Depois disse:<br />
- Não fique triste eu estou aqui.<br />
Então Felipe desabafou:<br />
- Por que s<strong>em</strong>pre decidimos errado. Por que não<br />
conseguimos enxergar o que é essencial. Porque será que<br />
quase s<strong>em</strong>pre não sab<strong>em</strong>os o que fazer na vida?<br />
- Este não é o probl<strong>em</strong>a maior da humanidade. O<br />
agravante não é ter dúvidas, fraquezas e limitações. O<br />
probl<strong>em</strong>a é quando o hom<strong>em</strong> acha que sabe tudo e se faz<br />
de forte e sabido. Quando o hom<strong>em</strong> se sente auto-<br />
suficiente e todo poderoso. Se Adão tivesse a consciência<br />
que é feito de barro, portanto é limitado e possui fraquezas<br />
não desobedeceria a Deus. Quando o vaso de barro se acha<br />
de ferro ou feito a ouro enquanto não cai viverá s<strong>em</strong>pre da<br />
ilusão que é inquebrantável.<br />
Felipe interrompeu ainda <strong>em</strong> soluços e disse:<br />
- Este é o probl<strong>em</strong>a da humanidade. S<strong>em</strong>pre faz o<br />
que não deve. S<strong>em</strong>pre age como se fosse o senhor da<br />
criação.<br />
29
- Meu amigo o probl<strong>em</strong>a não é agir como senhor<br />
da criação, mas sim como um administrador irresponsável.<br />
Se o hom<strong>em</strong> se comportasse como senhor e administrador<br />
da criação a protegeria e a preservaria. Falou Emanuel<br />
enquanto enxugava as lágrimas de Felipe.<br />
- Se no centro, <strong>em</strong> destaque, estava a árvore da<br />
vida, cujo fruto podia oferecer a felicidade eterna, eles<br />
preferiram se igualar a Deus comendo da árvore da ciência<br />
do b<strong>em</strong> e do mal. Não entendo quanta burrice! Ao invés de<br />
sonhar com a felicidade preferiram o pesadelo de viver<strong>em</strong><br />
infelizes. Afirmou Felipe.<br />
- Fruto proibido é mais gostoso! Porém deixa um<br />
amargo muito grande na vida das pessoas. Consequências<br />
quase irreparáveis. Soluções doloridas. E o mais triste de<br />
tudo isto é que as pessoas sab<strong>em</strong> que estão agindo errado.<br />
O segredo da felicidade Felipe é carregar dentro de si o<br />
sonho de Deus!<br />
- Viver o Reino de Deus! O que mais me<br />
impressionou foi o fato de Adão e Eva não conseguir<strong>em</strong><br />
olhar a face de Deus. Agora entendo porque eu não via sua<br />
face enquanto falava com Adão. O erro de Adão e Eva foi<br />
ouvir aquela maldita serpente. - Disse Felipe.<br />
30
- O erro de Adão e Eva foi querer fazer de Deus a<br />
sua imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança, ao invés de ser<strong>em</strong> a imag<strong>em</strong> e<br />
s<strong>em</strong>elhança de Deus. Adão culpou Eva que por sua vez<br />
culpou a serpente. O hom<strong>em</strong> quase s<strong>em</strong>pre não assume os<br />
<strong>seu</strong>s erros, é mais fácil culpar o outro. E quando não t<strong>em</strong><br />
ninguém para culpar a culpa cai nos ombros de Deus que<br />
por sua vez assumiu toda a culpa sozinho. Mas isso você<br />
vai entender nesta nossa caminhada ao Reino de Deus. -<br />
Afirmou Emanuel.<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou que por diversas vezes culpou a<br />
Deus, sua tia e <strong>seu</strong> pai, <strong>seu</strong>s professores e o mundo pelos<br />
<strong>seu</strong>s fracassos e desilusões. Estava muito triste consigo<br />
mesmo.<br />
Emanuel colocou as mãos nos ombros de Felipe e<br />
apontou para a porta do Éden e disse:<br />
- Vamos daqui! Nunca mais este Paraíso será o<br />
mesmo com a ausência do Pai e dos <strong>seu</strong>s filhos.<br />
- Acredito que <strong>em</strong> toda a minha vida nunca mais<br />
sentirei tanta angústia como senti hoje no silêncio de Adão<br />
e Eva. - Disse angustiado Felipe.<br />
- Estamos só começando com nossa jornada a<br />
busca do Reino de Deus! T<strong>em</strong> muita <strong>em</strong>oção ainda pela<br />
frente. E pode ter certeza sentirá ainda algo muito mais<br />
31
forte do que você imagina. Pois para um impacto violento<br />
como este só um impacto ainda maior para solucionar.<br />
A sensação que Felipe possuía era de que nunca<br />
mais <strong>em</strong> sua vida poderia ver a face do Pai. E<br />
estranhamente o sentimento que permaneceu <strong>em</strong> <strong>seu</strong><br />
coração após esta experiência do Paraíso era o de querer<br />
ver a face de Deus. O que esta face t<strong>em</strong> que não pod<strong>em</strong>os<br />
enxergar? Por que Deus era tão d<strong>em</strong>ocrático e que permite<br />
o livre arbítrio para <strong>seu</strong>s filhos irresponsáveis? Por que<br />
não intervém drasticamente na história e não elimina os<br />
maus? Por que não protegeu meu pai e minha mãe da<br />
morte? Por quê?<br />
Enquanto refletia, partiram <strong>em</strong> silêncio e com a<br />
sensação de que esta primeira experiência lhe trouxe mais<br />
dúvidas do que respostas. Porém o encontro com Deus<br />
suavizou a saudades que tinha do pai.<br />
32
O sonho de Abrão<br />
Felipe estava agora sentado no banco da praça e<br />
olhava encantado para o céu estrelado. Pensava se<br />
algumas daquelas estrelas que brilhavam no céu seriam<br />
<strong>seu</strong> pai ou sua mãe? O que acontecia com as pessoas<br />
depois da morte? Sentia também que o paraíso lhe trouxe<br />
uma cura para sua alma e que algumas feridas haviam sido<br />
tratadas naquele lugar. Porém também teve a sensação de<br />
que carregava uma culpa daquele lugar. Pensava que<br />
estava ficando louco com toda aquela jornada que fez, e se<br />
realmente existiu o jardim do Éden. Percebeu que sentado<br />
ao <strong>seu</strong> lado estava Emanuel que via as estrelas do céu<br />
balbuciando algumas palavras <strong>em</strong> uma língua estranha<br />
como se estivesse rezando. Parecia uma criança falando<br />
com o pai. Felipe sentia a presença de Emanuel ali e ouvia<br />
o som de suas palavras, mas não conseguia tirar os olhos<br />
do céu. Neste dia parecia que o céu estava muito mais<br />
estrelado. Com os olhos fixos para o alto perguntou a<br />
Emanuel:<br />
- O paraíso, este tal Jardim do Éden existiu? E o<br />
que vimos ali foi real?<br />
33
Emanuel também olhando fixamente para o céu<br />
interrompe sua oração e responde:<br />
- O Paraíso do Éden existe no desejo de cada<br />
pessoa <strong>em</strong> reconciliar com o Criador sua volta à dignidade<br />
e à felicidade plena. O paraíso é um estado de espírito que<br />
só é possível existir se você acreditar na felicidade. Dentro<br />
de cada pessoa existe a árvore da ciência do b<strong>em</strong> e do mal.<br />
Existe a árvore da vida e todos os frutos necessários para<br />
buscar a felicidade. Tudo na vida, Felipe, é uma questão<br />
de escolha. E só chegamos ao paraíso se antes soubermos<br />
sonhar. Ninguém chega a lugar nenhum se antes não<br />
aprender a sonhar. E por não saber sonhar com o que vale<br />
a pena Adão e Eva se auto- expulsaram do paraíso.<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou que quando chegava à hora de<br />
dormir aproximava de <strong>seu</strong> pai e pedia a benção. O pai o<br />
abençoava e desejava bons sonhos. Felipe por diversas<br />
vezes sonhava com sua mãe sorrindo e abraçando com<br />
carinho. Era uma mulher bela. Quando estava triste<br />
costumava sonhar acordado também com coisas boas. Seu<br />
pai dizia que ele vivia no mundo dos sonhos<br />
Emanuel levantou-se do banco e disse:<br />
- V<strong>em</strong> e segue-me!<br />
34
- Para onde vamos! Respondeu Felipe ainda com<br />
os olhos para as estrelas.<br />
- Vamos para a cidade de Ur.<br />
- Onde fica este lugar? É ali o Reino de Deus?<br />
- Não! Já lhe disse que o Reino de Deus está mais<br />
próximo do que você imagina. Ur fica muito distante<br />
daqui.<br />
Felipe abaixou os olhos e viu à sua frente que a<br />
poça de água continuava do mesmo jeito e que não refletia<br />
mais o rosto de <strong>seu</strong> pai. Parecia que <strong>seu</strong> pai estava cada<br />
vez mais distante. Apenas viu refletida naquelas águas<br />
muitas estrelas que brilhavam fort<strong>em</strong>ente no céu. Foi se<br />
dando conta que estava sentado <strong>em</strong> uma relva e ao <strong>seu</strong><br />
lado uma imensa escuridão que faziam as estrelas<br />
brilhar<strong>em</strong> com mais intensidade. Levantou a cabeça e viu<br />
que já não estava mais sentado no banco da praça.<br />
Perguntou assustado:<br />
- Onde estamos? Que lugar estranho é este?<br />
- Estamos <strong>em</strong> Ur, terra natal de Abraão, meu amigo<br />
no ano de 1.800 A.C. - respondeu Emanuel<br />
- Como vi<strong>em</strong>os parar aqui?<br />
- Pela porta da praça, respondeu Emanuel.<br />
- Outra porta? Quantas portas aquela praça têm?<br />
35
Emanuel sorriu e disse:<br />
- Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será<br />
salvo, tanto entrará e sairá e encontrará pastagens.<br />
- Você é a porta? Perguntou Felipe.<br />
- O <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong> é a porta! Respondeu Emanuel.<br />
E continuou:<br />
- Eis que estou a porta e bato: se alguém ouvir a<br />
minha voz e me abrir a porta, entrarei <strong>em</strong> sua casa e<br />
cear<strong>em</strong>os, eu com ele e ele comigo.<br />
Felipe nesta hora levantou-se e s<strong>em</strong> dar ouvidos ao<br />
Emanuel lhe dissera começou a observar como aquele<br />
lugar era diferente. Não tinha a magia e n<strong>em</strong> a beleza do<br />
paraíso, mas as estrelas brilhavam com tamanha<br />
intensidade e a quantidade de estrelas parecia ser<br />
infindável.<br />
- Emanuel, disse ele, porque as estrelas estão<br />
brilhando tão forte assim?<br />
Emanuel respondeu pacient<strong>em</strong>ente:<br />
- Você mora na área urbana e por isso os homens<br />
que ali moram há muito já não pod<strong>em</strong> ver um céu<br />
estrelado. As luzes artificiais escond<strong>em</strong> o brilho das<br />
estrelas e sua quantidade. O hom<strong>em</strong> do campo sabe muito<br />
36
<strong>em</strong> do que estou falando. No campo a escuridão faz com<br />
que as estrelas aparec<strong>em</strong> mais e com maior intensidade.<br />
- Aqui o céu é muito lindo! E a noite não parece ser<br />
tão assustadora. Disse Felipe<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou-se que lá no morro onde mora, a<br />
noite s<strong>em</strong>pre era assustadora. Quase s<strong>em</strong>pre havia tiroteio<br />
e balas perdidas. Foi <strong>em</strong> uma destas situações que sua mãe<br />
faleceu com uma bala perdida que entrou pelo barraco e<br />
acertou <strong>em</strong> cheio suas costas atingindo <strong>seu</strong> coração.<br />
Estava de pé lavando as louças depois de um dia todo,<br />
atarefada com <strong>seu</strong> serviço. Foi esta história que ouviu de<br />
<strong>seu</strong> pai a respeito da morte da mãe. Felipe tinha 8 anos.<br />
Nunca soube da onde veio aquela bala. Seu pai dizia que<br />
depois daquele dia nunca mais sua vida foi a mesma.<br />
Pensou diversas vezes de desistir de viver, mas sentia a<br />
mão de Deus que o segurava. Mas s<strong>em</strong>pre dizia que Felipe<br />
era o que o motivava continuar <strong>em</strong> pé. Felipe chorou<br />
novamente com esta l<strong>em</strong>brança deitou-se na relva e<br />
dormiu de tristeza. Refletiu consigo: “qual meu motivo<br />
para viver?”<br />
Emanuel percebeu que sua alma estava triste e<br />
preferiu calar-se apenas observando <strong>seu</strong> sono. Beijou-o na<br />
testa e balbuciou <strong>em</strong> <strong>seu</strong> ouvido:<br />
37
- O Pai lhe ama!<br />
Felipe dormiu com esta frase com uma paz no<br />
coração, pois quando <strong>seu</strong> pai o colocava na cama dizia<br />
s<strong>em</strong>pre que o amava, então dormia com uma imensa<br />
segurança. Fazia isso s<strong>em</strong>pre até sua idade agora. Felipe<br />
nunca chegava mais tarde <strong>em</strong> casa, por causa do perigo do<br />
morro à noite e principalmente porque gostava de ouvir<br />
<strong>seu</strong> pai lhe dizer antes de dormir que o amava. O que<br />
estava cada vez mais raro de acontecer, pois <strong>seu</strong> pai<br />
trabalhava muito e chegava tarde <strong>em</strong> casa.<br />
Emanuel então encostou-se <strong>em</strong> um canto e disse:<br />
- Se todos os pais soubess<strong>em</strong> a importância de um<br />
abraço, um beijo e palavra de amor e carinho, <strong>seu</strong>s filhos<br />
estariam motivados e não precisariam buscar no mundo o<br />
que não receb<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>seu</strong>s lares. As coisas essenciais da<br />
vida são simples e Deus deixou ao alcance de todos. Mas<br />
os homens prefer<strong>em</strong> complicar o que é simples. Buscam a<br />
felicidade onde ela não está, oferece aos <strong>seu</strong>s filhos a<br />
matéria como solução de alegria pagando com o preço da<br />
sua ausência e distanciamento.<br />
A manhã chegou toda radiante o sol nascia e então<br />
Felipe acordando pode ver a beleza de todo aquele vale.<br />
Percebeu que estava disposto e com uma sensação de<br />
38
alegria. A noite foi-se <strong>em</strong>bora e junto com ela a tristeza.<br />
L<strong>em</strong>brou-se então da primeira frase que ouviu de Emanuel<br />
quando o conheceu: “A tristeza pode durar até o anoitecer,<br />
mas alegria logo v<strong>em</strong> no amanhecer”.<br />
<strong>em</strong>endou:<br />
- Nada como um dia após o outro. Disse Emanuel e<br />
- <strong>Bom</strong> dia!<br />
Felipe com um ar de alegria olhou para Emanuel<br />
que parecia mais reluzente que comumente era. Disse:<br />
- <strong>Bom</strong> dia! Sinto uma sensação muito grande de<br />
alívio nesta manhã. Como que uma esperança se<br />
renovando dentro de mim e não sei por que, mas me<br />
parece que ter<strong>em</strong>os uma missão que promete hoje.<br />
Emanuel o olhou com carinho e disse:<br />
- Hoje conhecer<strong>em</strong>os um amigo. Um filho muito<br />
amado por Deus. Hoje você conhecerá como começou<br />
concretamente a História da Salvação, ou como gosto de<br />
chamar, o Reino de Deus. Disse Emanuel.<br />
Felipe notara que podia ouvir o barulho dos<br />
pássaros e do local, diferente do paraíso que só conseguiu<br />
ouvir o chamado de Deus a Adão e os <strong>seu</strong>s passos. Mas<br />
preferiu não se l<strong>em</strong>brar deste momento, pois mexeu muito<br />
com suas l<strong>em</strong>branças e <strong>seu</strong>s traumas.<br />
39
- Felipe, quando quer<strong>em</strong>os curar uma ferida é<br />
preciso limpá-la, tratá-la e para isso é necessário mexer<br />
nela. Não se cura uma ferida aberta se não tiver a corag<strong>em</strong><br />
de tratá-la. Afirmou Emanuel.<br />
- Você lendo meus pensamentos de novo! Parece<br />
que é mais fácil ignorar e deixar a ferida curar sozinha do<br />
que mexer nela. Disse Felipe<br />
- Ferida mal tratada pode se tornar ferida para<br />
s<strong>em</strong>pre. Disse Emanuel<br />
Felipe observou que se aproximava um hom<strong>em</strong><br />
idoso, porém muito forte e rústico com <strong>seu</strong> rebanho.<br />
Perguntou:<br />
- Qu<strong>em</strong> é ele?<br />
- Seu nome é Abrão, por enquanto, Deus o<br />
chamara de Abraão que significa mais ou menos <strong>em</strong> sua<br />
língua Pai Excelso, Pai de todos ou líder de todos.<br />
- Tipo Paizão! Disse Felipe sorrindo.<br />
- Isso mesmo, gargalhou Emanuel, é a melhor<br />
definição que já ouvi. Emanuel disse ainda:<br />
- Aqui você poderá ouvir algumas conversas, por<br />
isso está ouvindo o som do lugar.<br />
- Desta vez o Pai não tirou o som ambiente, disse<br />
Felipe sorrindo mais uma vez.<br />
40
Emanuel sentia Felipe um pouco mais leve e<br />
percebeu que a experiência da orig<strong>em</strong>, do paraíso lhe fez<br />
muito b<strong>em</strong>.<br />
rindo.<br />
Felipe estava falador e disse:<br />
- Quantos anos este senhor t<strong>em</strong>?<br />
- 75 anos. Respondeu Emanuel.<br />
- Então está no bico do corvo. Disse Felipe ainda<br />
- Está na idade da experiência. Quando você é<br />
jov<strong>em</strong> faz diversas coisas para acertar uma. Quando se t<strong>em</strong><br />
a idade da maturidade e experiência acerta mais vezes<br />
agindo menos. A maturidade ensina que com o esforço<br />
menor e sabedoria você acaba realizando mais. Disse<br />
Emanuel.<br />
Neste momento Felipe ouve como se fosse um<br />
trovão, um barulho forte, mas da onde vinha, o t<strong>em</strong>po<br />
estava limpo. Então percebeu que era do céu e era uma<br />
voz que dialogava com aquele hom<strong>em</strong>:<br />
- Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai, e<br />
vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande<br />
nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás<br />
uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te<br />
41
abençoar<strong>em</strong>, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoar<strong>em</strong>,<br />
todas as famílias da terra serão benditas <strong>em</strong> ti.<br />
Felipe se sente amedrontado e quase que s<strong>em</strong><br />
levantar a cabeça nota que Abrão estava no chão com o<br />
rosto escondido e parecia com muito mais medo que ele.<br />
Aquela voz parecia algo diferente, as palavras tinham<br />
tanto poder e tanta força que quase Felipe respondeu: “eu<br />
estou aqui me envia também”. Felipe sentiu uma<br />
segurança enorme ouvindo esta voz. L<strong>em</strong>brou-se da voz<br />
do pai e da sua presença, pois s<strong>em</strong>pre sentia seguro ao<br />
lado do pai. Seu pai era sua segurança e a certeza que<br />
tinha que ninguém mais do que ele o amava e lhe queria<br />
b<strong>em</strong>. S<strong>em</strong>pre viu <strong>seu</strong> pai como um herói, aquele que com<br />
certeza não pensaria duas vezes <strong>em</strong> dar a própria vida para<br />
o proteger. Culpava às vezes <strong>seu</strong> pai inconscient<strong>em</strong>ente<br />
pela morte da sua mãe, porque ele não a protegeu? Porque<br />
se era tão forte não pode estar ao lado dela? Quando<br />
pensava <strong>em</strong> sua mãe era a única vez que colocava <strong>em</strong><br />
dúvida a força de <strong>seu</strong> pai e consequent<strong>em</strong>ente a admiração<br />
que tinha por ele. Certa vez <strong>em</strong> meio a uma discussão<br />
culpou <strong>seu</strong> pai pela morte da mãe e pela primeira vez <strong>em</strong><br />
sua vida viu lágrimas rolar<strong>em</strong> do rosto do <strong>seu</strong> pai. Naquele<br />
dia Felipe descobriu verdadeiramente o que significa<br />
42
arrependimento. Se pudesse enfiaria a cabeça dentro da<br />
terra como um avestruz de tanta vergonha e raiva de si<br />
mesmo. Seu pai não merecia ouvir aquilo.<br />
Enquanto pensava estas coisas viu Abraão se<br />
afastar e deixar o <strong>seu</strong> rebanho e partir com o s<strong>em</strong>blante<br />
preocupado e feliz. Felipe por sua vez se sentia muito<br />
feliz. O sentimento que teve durante esta experiência lhe<br />
trouxe na alma como que uma esperança. A sensação era<br />
que uma criança estava sendo gerada neste momento do<br />
chamado de Abraão e que as dúvidas e os traumas que<br />
afloraram <strong>em</strong> si quando viu Adão se esconder começava a<br />
diluir-se como se o sol estivesse nascendo e iluminando<br />
todo um novo dia. Também notou que o s<strong>em</strong>blante de<br />
Emanuel irradiava a mesma luz que tinha o rosto de Deus<br />
no paraíso e que ao contrário daquele s<strong>em</strong>blante<br />
preocupado também na hora da negação de Adão, agora<br />
havia alegria e muita Paz! Apesar que estes sentimentos<br />
s<strong>em</strong>pre permaneciam no olhar e s<strong>em</strong>blante de Emanuel<br />
mesmo na hora da tensão.<br />
- E agora o que será da vida de Abraão? Seus<br />
filhos? Sua mulher? Como pode um hom<strong>em</strong> nesta idade<br />
abandonar tudo o que t<strong>em</strong> para seguir uma voz do além? Ir<br />
43
para uma terra que n<strong>em</strong> conhece? Perguntou Felipe a<br />
Emanuel.<br />
- O chamado de Deus não se vive com certezas<br />
humanas e sim com a fé.<br />
Felipe interrompe e pergunta:<br />
- O que é Fé?<br />
Emanuel respondeu:<br />
- É o fundamento da esperança, é uma certeza a<br />
respeito do que não se vê. Será ela que de agora <strong>em</strong> diante<br />
fará a glória de Abraão.<br />
Emanuel continuou:<br />
- Abraão não t<strong>em</strong> filhos, aliás, antes de Deus se<br />
manifestar a ele, era o <strong>seu</strong> único sonho. Sua mulher Sara é<br />
estéril. A vida para Abrão não tinha mais alegria e sentido,<br />
já que pra esta época, ter filho é sinal de benção e as coisas<br />
mais importantes para o hom<strong>em</strong> e para a mulher são a<br />
terra, um nome e sua posteridade. Que adianta ter tantas<br />
riquezas, um nome respeitado e não ter uma posteridade<br />
para dar continuidade a tudo isso? E esta posteridade<br />
entenda como um filho hom<strong>em</strong>, o primogênito. É o que<br />
eles pensavam nesta época.<br />
- Deus pensa assim? Perguntou Felipe.<br />
44
- Não! Deus está acima de todo pensamento e de<br />
toda cultura. Os pensamentos de Deus não são os<br />
pensamentos dos homens. Portanto quando alguém está<br />
<strong>em</strong> Deus sua decisão e <strong>seu</strong>s pensamentos estão b<strong>em</strong> mais<br />
próximos do que vocês chamam de realização. Porém<br />
Deus ama e respeita a liberdade dos <strong>seu</strong>s filhos e por isso<br />
age na cultura <strong>em</strong> sintonia com a forma de agir e pensar do<br />
ser humano desde que isto não fira os princípios básicos<br />
da dignidade e da verdade.<br />
então a fé?<br />
- O que fez Abraão responder a este chamado foi<br />
- A princípio não! Disse Emanuel.<br />
- Como assim, não entendi. Afirmou Felipe.<br />
- Qual é o sonho maior de Abrão? Perguntou<br />
pacient<strong>em</strong>ente Emanuel.<br />
gargalhada.<br />
- Ter um filho! Disse Felipe soltando uma<br />
Emanuel sentia que Felipe estava cada vez mais<br />
livre de <strong>seu</strong>s traumas e que a jornada para o Reino de Deus<br />
estava lhe fazendo muito b<strong>em</strong>.<br />
Emanuel?<br />
- Por que me olha assim? O que esta pensando<br />
45
- Olho <strong>seu</strong> sorriso. Se soubesse o b<strong>em</strong> que lhe faz e<br />
que faz aos outros o <strong>seu</strong> sorriso não o continha tanto para<br />
si.<br />
Felipe ficou corado, mas mesmo assim tinha<br />
vontade enorme de rir. Então teve a corag<strong>em</strong> de dizer o<br />
porquê da gargalhada:<br />
- Abraão vai morrer s<strong>em</strong> realizar <strong>seu</strong> sonho. Disse<br />
rindo b<strong>em</strong> alto.<br />
- Se refere à idade dele? Disse Emanuel<br />
- Sim, com setenta e cinco anos....<br />
- Sei, não precisa falar....<br />
- Ainda b<strong>em</strong> que lê pensamentos. Disse Felipe.<br />
- Felipe... Felipe... Para Deus nada é impossível.<br />
Então Felipe voltando ao assunto anterior<br />
questionou a Emanuel:<br />
- Então Deus enganou a Abraão quando lhe disse<br />
que sua posteridade seria grande, foi uma forma de<br />
motivar e convencer?<br />
- Deus não engana! A fé não é uma motivação e<br />
sim uma certeza. Disse Emanuel e prosseguiu:<br />
- Eu lhe disse que para Deus nada é impossível.<br />
Abraão terá um filho. Mas quando ele se refere a esta<br />
46
numerosa posteridade não se referia necessariamente ao<br />
filho dele.<br />
- Então aquele senhor de setenta e cinco anos vai<br />
fazer um filho? Disse Felipe rindo.<br />
- Não! Dois: um com a escrava e outro com sua<br />
mulher. Com a escrava fez por desobediência a Deus e por<br />
não acreditar na promessa de Deus <strong>em</strong> sua vida. O<br />
resultado foi desastroso iniciou uma guerra s<strong>em</strong> fim. Mas<br />
antes que diga alguma piada quero lhe informar que sua<br />
mulher a Sara riu duvidando do poder de Deus e Ele ficou<br />
muito bravo com ela. Falou Emanuel rindo como que se<br />
desse um cheque mate <strong>em</strong> Felipe.<br />
Felipe por sua vez engoliu sua saliva e achou<br />
melhor não brincar com a situação, mesmo achando toda<br />
esta história por d<strong>em</strong>ais estranha. Felipe também l<strong>em</strong>brou<br />
quase que ligeiramente que toda vez que não ouvia os<br />
conselhos do pai se dava muito mal.<br />
Então Felipe pediu a Emanuel que lhe explicasse o<br />
que aconteceu verdadeiramente naquela manifestação de<br />
Deus na vida de Abraão. O que representava tudo aquilo e<br />
por que sentiu um ar de alívio no sim de Abraão <strong>em</strong><br />
resposta à desobediência de Adão.<br />
47
a benção<br />
Emanuel então começou a explicar o sentido<br />
daquele chamado e a importância que representava a toda<br />
humanidade.<br />
- Abraão recebeu de Deus a tríplice dimensão de<br />
ser abençoado. Traduzindo um pouco para sua língua a<br />
palavra benção na língua da bíblia <strong>em</strong> hebraico pod<strong>em</strong>os<br />
definir <strong>em</strong> três palavras: o substantivo beraka, o verbo<br />
barek e o adjetivo baruk.<br />
- Parece que esta me ofendendo, que palavras<br />
estranhas. Disse Felipe.<br />
- Estranha pode parecer, mas que t<strong>em</strong> um sentindo<br />
muito forte na vida de uma pessoa diante de Deus.<br />
Definiria <strong>em</strong> poucas palavras que é esta benção que Deus<br />
espera de <strong>seu</strong>s filhos na terra. Mas que infelizmente os<br />
<strong>seu</strong>s filhos distorc<strong>em</strong> ou procuram apenas uma destas três<br />
definições e por isso não compreend<strong>em</strong> o Reino de Deus<br />
<strong>em</strong> sua vida.<br />
Felipe interrompe novamente e diz:<br />
- Então vai dizer pra mim a senha de entrada no<br />
Reino de Deus?<br />
48
- Se dependesse de você ou de alguma senha<br />
jamais entraria no Reino de Deus. Não o estou<br />
subestimando, apenas quero lhe dizer que o Reino de Deus<br />
é dado gratuitamente e é acessível a todos, não precisa de<br />
senhas e n<strong>em</strong> esforços desnecessários, basta abrir o<br />
coração para o que é mais importante e essencial da vida.<br />
- Se é tão simples porque então as pessoas não<br />
ader<strong>em</strong> a este Reino? Perguntou Felipe.<br />
- São muitos os chamados, mas poucos os<br />
escolhidos. Disse Emanuel<br />
Felipe não entendeu direito que quis dizer, mas<br />
estava curioso para saber o que significava aquelas<br />
palavras estranhas que definiam a benção e que por conta<br />
própria chamou de senha para O Reino de Deus.<br />
- Então me explique o que Deus ofereceu a<br />
Abraão? Que palavras são aquelas que me disse e o que<br />
significa? Perguntou Felipe afoito.<br />
Felipe notou que após a convivência com Emanuel<br />
ele foi pensando menos <strong>em</strong> <strong>seu</strong> pai com dor e l<strong>em</strong>brava<br />
mais com orgulho e alegria do t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que estiveram<br />
juntos.<br />
- Vamos para a primeira palavra, o substantino<br />
beraka. Disse Emanuel e prosseguiu.<br />
49
- A palavra beraka é a dimensão da benção que se<br />
refere à gratuidade de Deus na vida de uma pessoa. Tudo<br />
aquilo que Deus oferece como b<strong>em</strong> tanto no sentido<br />
profano a matéria, humano como também espiritual. Seria<br />
a prosperidade, sua generosidade, riquezas. Define a<br />
benevolência de Deus aos homens principalmente nas suas<br />
necessidades materiais. O beraka é s<strong>em</strong>pre uma<br />
abundância, o b<strong>em</strong>-estar que o povo da bíblia chamava de<br />
Paz!<br />
- Seria como era o paraíso? Muita água, muitos<br />
frutos, tudo de forma abundante?<br />
- Sim! Inclui também vestimentas, moradia,<br />
alimento enfim os bens duráveis e os bens espirituais tão<br />
necessários a Paz almejada por vocês. Disse Emanuel.<br />
E continuou:<br />
- Na vida de Abraão ele teve tudo isso <strong>em</strong><br />
abundância. Deus lhe prometeu o beraká dizendo: “Farei<br />
de ti uma grande nação, eu te abençoarei e exaltarei o teu<br />
nome...”<br />
- Mas ele d<strong>em</strong>onstra um ar triste. Disse Felipe<br />
- Sim. A humanidade por não entender plenamente<br />
os mistérios de Deus <strong>em</strong> sua vida, mesmo que tenha tudo,<br />
s<strong>em</strong>pre quer algo a mais. É a tal insatisfação.<br />
50
- Eterna insatisfação. Meu pai dizia isso toda vez<br />
que eu reclamava algo com ele. Disse Felipe<br />
Emanuel riu e disse:<br />
- Não lhe disse que o hom<strong>em</strong> não conhece os<br />
mistérios de Deus a ponto de não conseguir enxergar o que<br />
não se vê, com os olhos da carne? Eternidade só existe<br />
para a felicidade.<br />
- Então é por isso que as pessoas só vão para igreja<br />
quando precisam de algo para pedir? L<strong>em</strong>bro-me que um<br />
amigo meu dizia pra eu ir à igreja que lá aprenderia não<br />
ser tão revoltado com a morte de minha mãe.<br />
Pela primeira vez Felipe falou naturalmente deste<br />
assunto <strong>em</strong> voz alta. É como se ele não quisesse ouvir de<br />
alguém e de si próprio que sua mãe era falecida. Odiava as<br />
pessoas que tinha pena dele ou então que lhe perguntasse<br />
de sua mãe. Quantas vezes chateado olhava <strong>seu</strong>s amigos<br />
todos com a mãe ao lado e ele se sentia envergonhado e<br />
diferente.<br />
E <strong>em</strong>endou:<br />
- Como que se eu fosse à igreja, Deus me traria de<br />
volta a minha mãe. Uma vez eu disse a ele que eu iria se<br />
ele prometesse que Deus devolveria a minha mãe.<br />
51
Emanuel percebeu que o clima ficou um pouco<br />
tenso, mas sentiu-se aliviado pelo fato de Felipe agora<br />
externar <strong>seu</strong>s sentimentos de revolta <strong>em</strong> voz alta. Isso faria<br />
muito b<strong>em</strong> a ele. Guardar os sentimentos e ter medo de<br />
mostrar sua fragilidade fez com que fosse muito infeliz na<br />
vida.<br />
- Pois é Felipe, não existe probl<strong>em</strong>a algum as<br />
pessoas ir<strong>em</strong> pra igreja ou <strong>em</strong> suas casas ou onde b<strong>em</strong><br />
entender<strong>em</strong> elevar sua oração até Deus e fazer <strong>seu</strong> pedido.<br />
É pra isso também que existe o Pai. Mas fazer da religião<br />
ou da fé pessoal um mercado de negócios com Deus onde<br />
fé é uma atitude única de interesse, ou como se diz, de<br />
uma via só: Deus ouvir ter obrigação de atender aos<br />
pedidos de <strong>seu</strong>s filhos mimados e infantis na fé é no<br />
mínimo desprezar a si próprio como filho ou ao Criador<br />
como Pai.<br />
- É o que acontece quando se vende prosperidades<br />
e promessas para enriquecimento pessoal. Vejo muita<br />
gente fazer isso. Quanto mais milagres e curas se vend<strong>em</strong><br />
ou oferec<strong>em</strong> parece que mais os salões estão cheios. Disse<br />
Felipe.<br />
- É justamente isso! As pessoas quer<strong>em</strong> só receber,<br />
são egoístas com Deus com o próximo que necessita e s<strong>em</strong><br />
52
perceber consigo mesmo. Viv<strong>em</strong> uma religião de mercado.<br />
Disse Emanuel.<br />
- O nome é berrrrrrrrrr.... Felipe tentou falar a<br />
palavra, mas não se l<strong>em</strong>brava.<br />
- Beraká! Disse Emanuel e completou:<br />
- O beraká é muito importante para vida do<br />
hom<strong>em</strong>, por isso Deus <strong>em</strong> sua Providência fez tudo com<br />
sobra e abundância. Mas se o hom<strong>em</strong> ficar buscando e<br />
vivendo só o beraká nunca entenderá ou experimentará<br />
qu<strong>em</strong> verdadeiramente é o Pai. O Universo foi criado e<br />
preparado para agir <strong>em</strong> favor da felicidade do hom<strong>em</strong>,<br />
tudo foi projetado para o b<strong>em</strong> e para dar tudo certo para a<br />
humanidade. Quando o hom<strong>em</strong> intervém negativamente<br />
no Universo ou na lógica da Criação, fazendo mau uso da<br />
sua liberdade e das coisas então o beraká não acontece na<br />
vida das pessoas.<br />
- A árvore da Ciência do b<strong>em</strong> e do mal. Cabe ao<br />
hom<strong>em</strong> decidir <strong>seu</strong> destino. Disse Felipe<br />
- Na verdade coube a Deus redimir a humanidade<br />
para trazê-la de volta ao <strong>seu</strong> destino determinado. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Não entendi! Falou Felipe<br />
53
Emanuel.<br />
- Até o final desta jornada entenderá. Afirmou<br />
Toda vez que Emanuel se referia a Deus estar<br />
consertando os erros da humanidade, pensou Felipe, ele<br />
d<strong>em</strong>onstrava um ar de realização por algo que fez por<br />
todos nós. Percebeu que Emanuel não queria falar sobre<br />
isso ou então que estava esperando a hora exata para falar,<br />
então mudou de assunto dizendo:<br />
significa?<br />
- E a outra dimensão da palavra benção, o que<br />
- O verbo barek. Disse Emanuel<br />
- Sim! Esta palavra aí, o que significa? Falou meio<br />
atrapalhado Felipe.<br />
- Se beraká é a gratuidade de Deus o barek é uma<br />
forma de agradecer os dons recebidos abençoando os<br />
irmãos. Significa abençoar, bendizer, benzer. Disse<br />
Emanuel<br />
- Meu pai s<strong>em</strong>pre me abençoava antes de dormir e<br />
quando sai pra estudar ou trabalhar pedia sua benção.<br />
Disse orgulhoso Felipe.<br />
- Também inclui esta forma de cortesia. Qu<strong>em</strong><br />
abençoa ass<strong>em</strong>elha-se ao Pai, torna-se divino. Depois de<br />
Deus, a fonte da vida é os pais e a eles compete abençoar.<br />
54
- Quando tiver meus filhos quero também<br />
oferecer a eles a benção. Amava muito quando meu pai<br />
fazia isso comigo, s<strong>em</strong>pre me sentia protegido pela sua<br />
benção. É como se ele <strong>em</strong> nome de Deus desse aval para<br />
minha vida. Disse feliz Felipe.<br />
O coração de Felipe estava amolecendo cada vez<br />
mais com a companhia de Emanuel. Até então naquele<br />
banco da praça havia só sentimento de desistir de tudo.<br />
Desejava morrer ali. Agora sutilmente dizia que quando<br />
tiver filhos... Algo novo estava acontecendo <strong>em</strong> sua vida,<br />
<strong>seu</strong> coração de pedra se transformava <strong>em</strong> coração de<br />
carne, uma nova esperança brotava de <strong>seu</strong> coração. Um<br />
milagre! O verdadeiro ou mais belo milagre que poderia<br />
uma pessoa experimentar: a conversão que traz a alegria e<br />
a esperança da vida.<br />
- A benção de Deus s<strong>em</strong>pre faz brotar a vida! Disse<br />
Emanuel com convicção e força.<br />
- Então o barrooooko é importante né? Disse Felipe<br />
todo enrolado com as palavras novamente.<br />
- Sim o barek é muito importante, disse Emanuel<br />
rindo da dificuldade que Felipe encontrava para guardar a<br />
pronuncia das palavras. E continuou:<br />
55
- Tão importante é receber, o beraká, quanto dar o<br />
barek. Diria que até é mais importante oferecer do que<br />
receber. Pois qu<strong>em</strong> dá com alegria compreende o que é ser<br />
feliz. Qu<strong>em</strong> dá na verdade recebe muito mais.<br />
Felipe:<br />
Emanuel então cantou a seguinte canção para<br />
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.<br />
Onde houver ódio, que eu leve o amor;<br />
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;<br />
Onde houver discórdia, que eu leve a união;<br />
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;<br />
Onde houver erro, que eu leve a verdade;<br />
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;<br />
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;<br />
Onde houver trevas, que eu leve a luz.<br />
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais<br />
Consolar, que ser consolado;<br />
compreender, que ser compreendido;<br />
amar, que ser amado.<br />
Pois, é dando que se recebe,<br />
é perdoando que se é perdoado,<br />
e é morrendo que se vive para a vida eterna.<br />
56
- Eu já ouvi muito esta canção! Ela é linda! Meu<br />
pai cantava constant<strong>em</strong>ente esta canção para eu dormir<br />
quando era pequeno. Disse Felipe<br />
- Ela é muito linda! É de meu amigo Francisco.<br />
Um dos filhos mais amado do Pai. Disse com satisfação<br />
Emanuel.<br />
E continuou:<br />
- Então não basta apenas reter para si as coisas de<br />
Deus é preciso partilhar. A pessoa é abençoada por Deus<br />
e, portanto para ass<strong>em</strong>elhar-se com o Pai deve também ser<br />
uma fonte de benção para o outro. A maioria das pessoas<br />
só quer receber. Se nos t<strong>em</strong>plos os fiéis foss<strong>em</strong> uma fonte<br />
de benção para o mundo com certeza o mundo seria<br />
melhor. Não se deve buscar apenas os milagres e as curas.<br />
Não enxerga a Deus qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> <strong>seu</strong>s olhos voltados para o<br />
próprio umbigo. O filho obediente procura conhecer a<br />
Fonte da cura e dos milagres e não apenas beber dela. E<br />
obediente são aqueles que ao conhecer<strong>em</strong> O Manancial; a<br />
Fonte da Água Viva tornam-se riachos, vertentes desta<br />
fonte para aqueles que precisam de bênçãos levando e<br />
espalhando vida por onde andam.<br />
- Então por isso Deus disse a Abraão: “ tu será uma<br />
fonte de benção...todas as famílias da terra serão benditas<br />
57
<strong>em</strong> ti.” Disse Felipe repetindo a voz de Deus que<br />
inexplicavelmente ficou marcada <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração.<br />
- Sim Felipe, agora entende que Deus está fazendo<br />
através de Abraão, uma nova aliança, cujo beneficiário<br />
desta benção são todos os filhos de Adão e Eva. Quando o<br />
silêncio de Adão marcou profundamente você trazendo<br />
<strong>seu</strong>s traumas a superfície da sua consciência, o sim de<br />
Abraão trouxe a cura e libertação, o barek, à sua<br />
consciência e ao <strong>seu</strong> coração. Toda a humanidade será<br />
abençoada pela vocação de Abraão. Toda a humanidade<br />
será abençoada pelo sim de todos os filhos obedientes ao<br />
Pai, isso vocês na terra chamam de salvação universal.<br />
- Por isso Deus o chamou e mudou <strong>seu</strong> nome para<br />
Abraão, pois seria como que um Paizão de todos nós. E<br />
acrescentou ainda:<br />
- Eu acho que não tenho nada para oferecer. Disse<br />
Felipe ao mesmo t<strong>em</strong>po ansioso para descobrir <strong>seu</strong> dom e<br />
triste por achar-se tão fraco.<br />
Emanuel olhou novamente <strong>em</strong> <strong>seu</strong>s olhos e disse:<br />
- Nunca diga que não t<strong>em</strong> nada para oferecer, pois<br />
estará ofendendo qu<strong>em</strong> lhe criou. Deus a todos distribui<br />
dons e capacidade. A ninguém falta o beraká. Como<br />
58
também a ninguém falta a capacidade de oferecer algo, o<br />
barek. Pois é Deus qu<strong>em</strong> dá e qu<strong>em</strong> capacita <strong>seu</strong>s filhos.<br />
Felipe silenciou após esta resposta, pois calou<br />
fundo sua alma, e toda vez que Emanuel o olhava com<br />
aquele olhar, parecia que impregnava sua alma, penetrava<br />
<strong>seu</strong>s sentimentos mais escondidos. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />
que incomodava, trazia um alento à sua alma. Era como o<br />
olhar de <strong>seu</strong> pai quando o aconselhava ou corrigia. Sabia<br />
s<strong>em</strong>pre que <strong>seu</strong> pai fazia aquilo por amá-lo.<br />
uma frase:<br />
Então com voz b<strong>em</strong> baixa Emanuel concluiu com<br />
- Se soubesses o dom de Deus, e qu<strong>em</strong> é que te diz:<br />
dá-me de beber, certamente lhe pediria tu mesmo, e ele te<br />
daria uma água viva.<br />
Felipe não compreendeu direito o que Emanuel<br />
falou, mas também não quis questionar já que a resposta<br />
anterior já foi um belo puxão de orelha. Simplesmente<br />
desejou beber desta água viva, não sabia b<strong>em</strong> o que era,<br />
mas sabia que faria muito b<strong>em</strong> à sua vida.<br />
- Felipe! Se você soubesse o b<strong>em</strong> que um sorriso<br />
pode fazer para alguém você entenderia então que dom<br />
maravilhoso existe dentro de você. Deus não espera de<br />
você atos heróicos e n<strong>em</strong> o cobra para isso. Mas atitudes<br />
59
simples do dia a dia pod<strong>em</strong> fazer muita diferença na vida<br />
de alguém.<br />
Felipe foi levado novamente pelos pensamentos e<br />
l<strong>em</strong>brou-se que quando tinha nove anos sentia muita falta<br />
de sua mãe. L<strong>em</strong>brava nesta idade b<strong>em</strong> pouco da<br />
aparência dela. Guardou apenas alguns gestos como<br />
quando ela dava banho nele. Quando o beijava e o levava<br />
para cama no colo. Também não se esquecia de algo muito<br />
engraçado que fazia todo dia para acordá-lo, fazia cócegas<br />
<strong>em</strong> <strong>seu</strong> pé e ele fingia estar dormindo até que era vencido<br />
pelas cócegas que a mãe fazia. Eles riam juntos e sua mãe<br />
preparava <strong>seu</strong> leite achocolatado e ela ficava ali o olhando<br />
e passando a mão <strong>em</strong> <strong>seu</strong> cabelo. O resto do dia ela ficava<br />
o t<strong>em</strong>po todo correndo atrás dos afazeres da casa e<br />
dividindo a atenção com ele. Quando sua mãe faleceu<br />
Felipe bloqueou o que aconteceu naquele dia. Só sabe que<br />
nunca mais a viu. Seu pai tinha que trabalhar e então pediu<br />
para Lúcia se pudesse olhar <strong>seu</strong> filho até que achasse<br />
alguém para cuidar dele. Lúcia era uma moça doce, de<br />
uma candura e de um coração admirável, todos gostavam<br />
dela lá na comunidade do morro. Ela era voluntária do<br />
Centro Comunitário. Lúcia tratava muito b<strong>em</strong> Felipe.<br />
Felipe a amava tanto que quando teve que morar com sua<br />
60
tia nunca mais experimentou o amor f<strong>em</strong>inino. Sua tia era<br />
ranzinza e melancólica. Felipe teve que aprender a fazer<br />
<strong>seu</strong> leite e preparar <strong>seu</strong> café. Outras vezes ela ficava<br />
depressiva e n<strong>em</strong> a comida fazia. Um dia Felipe pediu a<br />
<strong>seu</strong> pai que o levasse ao Centro Comunitário, pois estava<br />
muito triste e queria ficar com a Lúcia. Quando chegou lá<br />
e havia muitas crianças, não sabia a história daquelas<br />
crianças e porque elas ficavam ali. Para Felipe ele era o<br />
único a sofrer na vida. Sentou-se num cantinho e ficou<br />
cabisbaixo. Lúcia veio e sentou-se no chão ao <strong>seu</strong> lado e<br />
com um sorriso lhe disse:<br />
- Você está triste? Com saudades de sua mãe. Eu<br />
sei. Também fui educada longe de meus pais. Mas quero<br />
lhe dizer que na vida tudo superamos. Que nessas horas o<br />
importante é você chorar e esperar que o t<strong>em</strong>po cure todas<br />
as suas feridas. Não fique triste assim. Deus lhe ama<br />
muito.<br />
Lúcia lhe deu um abraço muito forte e lhe<br />
transmitiu um sorriso angelical o que fez com que<br />
chorasse. Ficou aquele dia inteirinho ao <strong>seu</strong> lado. Felipe<br />
não tinha tanta certeza se Deus o amava realmente, mas o<br />
sorriso, a atenção e o abraço de Lúcia pareciam o beijo, o<br />
sorriso e o abraço de Deus <strong>em</strong> sua vida. A frase de<br />
61
Emanuel martelava sua mente: “atitudes simples do dia a<br />
dia pod<strong>em</strong> fazer muita diferença na vida de alguém”.<br />
Felipe voltou para casa neste dia consolado e esperando<br />
que o t<strong>em</strong>po curasse todas as suas saudades da mãe.<br />
Depois deste dia ele travou <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração e <strong>em</strong> sua<br />
mente as l<strong>em</strong>branças da mãe que agora viam novamente<br />
<strong>em</strong> sua m<strong>em</strong>ória.<br />
- Felipe você não pode imaginar a magnitude da<br />
gratidão de Deus por todas as pessoas que oferec<strong>em</strong> sua<br />
vida como benção na vida dos que mais precisam.<br />
Felipe balançou a cabeça confirmando o que<br />
Emanuel disse e b<strong>em</strong> baixinho falou:<br />
E disse:<br />
- Eu posso imaginar o quanto Deus é grato!<br />
Falou isso com a imag<strong>em</strong> de Lúcia <strong>em</strong> sua mente.<br />
- Mas me diga e o terceiro significado da palavra<br />
benção, baruk. Desta vez Felipe não <strong>em</strong>baraçou todo com<br />
a palavra.<br />
- O adjetivo de benção na língua hebraica, ou seja,<br />
baruk é o mais forte de todos os termos de benção. Diria a<br />
você que é o âmago da fórmula típica de benção do povo<br />
da bíblia. Para você ter uma idéia da forma que tinha esta<br />
palavra é que era usada para qu<strong>em</strong> Deus havia chamado ou<br />
62
evelava <strong>seu</strong> poder e a sua generosidade, com a seguinte<br />
expressão: “Bendito seja Felipe”. Também era usada esta<br />
etimologia para se referir ao próprio Deus: “Bendito seja<br />
Deus”.<br />
- Seria então alguém santo? Disse Felipe.<br />
- O baruk, é um termo usado para alguém que<br />
<strong>em</strong>ana de sua pessoa o divino. Aquele que é consagrado e<br />
que consagrou sua vida para Deus. Enquanto o santo<br />
revela sua grandeza a Deus, o bendito abençoado revela<br />
sua inesgotável generosidade.<br />
- Meu pai costuma falar que a melhor maneira de<br />
agradecer a Deus é retribuindo o que Ele fez. Disse Felipe.<br />
costurou:<br />
- Justamente. Falou entusiasmado Emanuel e<br />
- Eu te bendigo ó Pai porque escondestes estas<br />
coisas aos sábios e entendidos e a revelastes aos<br />
pequeninos.<br />
Felipe.<br />
- S<strong>em</strong>pre achei meu pai sábio. Falou orgulhoso<br />
- Sim Felipe, se você seguir os passos do <strong>seu</strong> pai<br />
será um grande hom<strong>em</strong>.<br />
<strong>em</strong>ocionado.<br />
- Eu sei, quero ser igual a ele. Disse Felipe<br />
63
Emanuel então concluiu <strong>seu</strong> pensamento a respeito<br />
da palavra Baruk:<br />
- Portanto baruk é aquele que compromete com<br />
Deus, com o outro e consigo mesmo. Toma a sua cruz e<br />
sacrifica sua vida por causa do Reino de Deus com a<br />
certeza que recobrá-la-á, pois qu<strong>em</strong> encontra O Reino de<br />
Deus, encontra o tesouro mais valioso de sua vida. E aí<br />
daquele que ofender um pequenino de Deus.<br />
- Por isso Deus disse a Abraão: Abençoarei aqueles<br />
que abençoar<strong>em</strong>, e amaldiçoarei aqueles que te<br />
amaldiçoar<strong>em</strong>. Disse Felipe.<br />
- Sim. Também por ser baruk, Abraão carregou<br />
consigo a dura tarefa de abandonar sua terra, sua família e<br />
a casa de <strong>seu</strong> pai para ir a uma terra estranha. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Então para que eu encontre o Reino de Deus eu<br />
preciso abandonar minha casa, meus pais e tudo o que<br />
tenho? Pra mim vai ser moleza. Não tenho mais nada nesta<br />
vida. Disse Felipe meio aliviado e desacorçoado ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po.<br />
- É Felipe quanto menos apego uma pessoa t<strong>em</strong><br />
mais fácil é compreender o Reino de Deus. Tantas mais<br />
posses uma pessoa t<strong>em</strong> mais comprometida esta <strong>em</strong><br />
64
mantê-las e menos t<strong>em</strong>po t<strong>em</strong> para viver o que é essencial<br />
na vida. Disse Emanuel.<br />
- Então o caminho para o Reino de Deus é o<br />
sofrimento e a pobreza? Perguntou indignado Felipe.<br />
- Não Felipe! O caminho para o Reino de Deus é a<br />
libertação de todo sofrimento. É a liberdade!Qu<strong>em</strong> quer<br />
entrar no Reino de Deus precisa renunciar a si mesmo.<br />
Precisa aprender a ter s<strong>em</strong> tomar posse. E qu<strong>em</strong><br />
compreende o Reino geralmente é o que t<strong>em</strong> um coração<br />
de pobre por isso é baruk, é b<strong>em</strong>-aventurado. Nisto esta a<br />
verdadeira natureza da benção, ela é uma explosão interior<br />
na vida do eleito que não se detém para si, mas o eleva<br />
para a benção maior que é Deus, convidando o mundo<br />
todo a louvá-lo como uma confissão pública da sua<br />
Existência dando Ação de Graças por sua generosidade.<br />
Felipe pensativo definiu assim a lição do dia:<br />
- Então entendi que se quero amar Deus<br />
verdadeiramente devo acolher sua gratuidade, o beraká,<br />
ser gratuidade na vida do irmão sendo fonte de benção,<br />
barek, e comprometendo como escolhido e consagrado ao<br />
amor de Deus sendo baruk. Certo?<br />
- Bravo!!! Disse Emanuel e prosseguiu:<br />
65
- O chamado de uma pessoa passa necessariamente<br />
por estas três realidades ou momentos:<br />
Primeiro momento: a vida e tudo que é necessário<br />
para sustentá-la, ou seja, o beraká.<br />
Segundo momento: a felicidade. Deus ao criar a<br />
vida o fez para que a humanidade seja feliz. E sendo feliz<br />
e realizado ela deve retribuir sendo fonte de benção, e ao<br />
retribuir descobre a verdadeira felicidade, ou seja, o barek.<br />
Terceiro momento: a missão. Todos os homens<br />
possu<strong>em</strong> um chamado de Deus para amar, para isso é<br />
preciso tomar posse de toda benção, comprometendo-se<br />
com o Reino de Deus, sendo irradiação deste amor a todos<br />
de forma generosa e desprendida; o baruk.<br />
Felipe sorriu e sentiu que tinha crescido muito<br />
neste dia sua visão e comportamento diante de Deus. Mas<br />
ainda carregava o desejo de questionar a Deus o porquê da<br />
morte da mãe e do <strong>seu</strong> pai. Por que <strong>seu</strong> pai teve que ficar<br />
enfermo e vim a falecer. Porque teria ele que perder tanto<br />
o pai e mãe. Sentia que algo injusto acontecera <strong>em</strong> sua<br />
vida. Então perguntou a Emanuel:<br />
- Emanuel, posso lhe fazer um pedido?<br />
- Sim!<br />
66
- Gostaria de fazer uma pergunta a Deus que me<br />
incomoda muito. Quando chegarmos ao Reino de Deus lá<br />
eu poderei questioná-lo?<br />
- Sim Felipe! Pode questioná-lo o t<strong>em</strong>po todo e<br />
quando quiser. Pode até ofendê-lo que nunca será<br />
castigado por isso. Pode discordar dEle e ele lhe amará<br />
s<strong>em</strong>pre. Quando encontrar com Ele faça sua pergunta.<br />
- Obrigado Emanuel, farei sim, apesar do medo que<br />
possa ser sua resposta.<br />
- Não tenha medo! Ele é o Pai! O Pai ama<br />
incondicionalmente <strong>seu</strong> filho e jamais fará algum mal a<br />
ele. Pois é impossível Deus deixar de amar e sua essência<br />
é ser <strong>Bom</strong> e por isso não faz mal a ninguém.<br />
A tarde já declinava e a noite os envolvia. Felipe<br />
não gostava muito da noite. S<strong>em</strong>pre lhe trazia uma<br />
melancolia e tristeza. A noite só era boa quando <strong>seu</strong> pai<br />
estava <strong>em</strong> casa, pois assim ele podia desfrutar da sua<br />
presença, mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre o trabalho do <strong>seu</strong> pai permitia<br />
isso.<br />
Não sabia da onde Emanuel arrumava a refeição,<br />
mas s<strong>em</strong>pre se alimentavam e a comida s<strong>em</strong>pre era o<br />
necessário. Dizia que o Pai providencia a <strong>seu</strong>s filhos o<br />
67
necessário. Que qu<strong>em</strong> sabe viver do necessário, sabe viver<br />
o Reino também.<br />
Felipe adormeceu novamente admirando as estrelas<br />
do céu que nesta noite estavam ainda mais reluzentes que<br />
a noite anterior.<br />
Sonhar alto<br />
Mas <strong>seu</strong> sono durou muito pouco. Emanuel o<br />
acordou durante a madrugada e disse-lhe:<br />
- V<strong>em</strong> e segue-me!<br />
Felipe meio mal humorado e cansado disse-lhe:<br />
- De novo?<br />
Emanuel lhe disse:<br />
- Vai se acostumando. Qu<strong>em</strong> quer viver o Reino de<br />
Deus não pode escolher horário e n<strong>em</strong> controlar o t<strong>em</strong>po.<br />
Pois o Filho do Hom<strong>em</strong> virá a qualquer hora, portanto<br />
vigiai!<br />
bravo Felipe.<br />
- Às vezes você não fala coisa com coisa. Disse<br />
- Tudo o que falo, não falo por mim, mas meu Pai<br />
que estás no céu é minha test<strong>em</strong>unha. Disse Emanuel<br />
68
- Seu Pai t<strong>em</strong> explicação para me dar e eu não vejo<br />
a hora de encontrá-lo para que me responda minhas<br />
dúvidas. Disse Felipe consternado.<br />
- Então v<strong>em</strong> e segue-me eu te levarei até o Pai!<br />
Pois Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Qu<strong>em</strong> me vê,<br />
vê o Pai. Disse Emanuel<br />
- Vamos! Vamos logo, pois não sei por onde andou<br />
esta noite, pois está com assunto b<strong>em</strong> esquisito. Disse<br />
Felipe impaciente.<br />
Chegaram ao local e Felipe avistou um hom<strong>em</strong><br />
ainda mais idoso que Abraão e que parecia estar orando no<br />
meio da noite.<br />
Então ouviu novamente a voz de Deus como que<br />
um trovão todo poderoso e ao mesmo t<strong>em</strong>po amável.<br />
Mesmo cansado Felipe se animou, pois toda vez que ouvia<br />
a voz de Deus sua alma acalmava e <strong>seu</strong>s sentimentos<br />
tornavam brandos e sua m<strong>em</strong>ória lhe l<strong>em</strong>brava de coisas<br />
boas da sua vida. Sentia-se como que <strong>em</strong>briagado pela voz<br />
e pela presença forte de Deus que transmitia uma paz<br />
maravilhosa.<br />
A voz no meio da noite disse:<br />
- Nada t<strong>em</strong>as, Abrão! Eu sou o teu protetor, tua<br />
recompensa será muito grande. Levanta os <strong>seu</strong>s olhos para<br />
69
os céus e conta as estrelas se és capaz. Levanta os olhos e<br />
do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o<br />
oriente e para o ocidente: toda a terra que vês, eu a darei a<br />
ti e aos <strong>seu</strong>s descendentes para s<strong>em</strong>pre. Tornarei tua<br />
posteridade tão numerosa como o pó da terra, se alguém<br />
puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a<br />
tua posteridade. Levanta-te, percorre a terra <strong>em</strong> toda a sua<br />
extensão, porque eu tá hei de dar”<br />
Felipe olhou para Emanuel que estava com os<br />
olhos escancarados para Abrão e disse:<br />
- Emanuel que promessa grande Deus fez na vida<br />
deste hom<strong>em</strong>. N<strong>em</strong> o reconheci. Dormi vinte e cinco anos,<br />
pois da última vez que me mostrou ele tinha 75 anos?<br />
- Felipe eu me encanto com todas as promessas de<br />
Deus na vida da humanidade. Quanto ao t<strong>em</strong>po não se<br />
prende a isso. Estar<strong>em</strong>os indo de um t<strong>em</strong>po ao outro num<br />
piscar de olhos. Pois Deus é o Senhor do t<strong>em</strong>po. O T<strong>em</strong>po<br />
de Deus não é o <strong>seu</strong> t<strong>em</strong>po. Para você ter uma idéia<br />
humana do t<strong>em</strong>po de Deus, diria que o t<strong>em</strong>po dele é<br />
s<strong>em</strong>pre o hoje. Tudo acontece agora para Deus.<br />
- Emanuel aconteceu uma coisa muito estranha<br />
enquanto ouvia a voz de Deus falando com Abraão.<br />
- O que foi?<br />
70
- Quando Deus mandou Abraão olhar as estrelas do<br />
céu, eu vi muitos rostos conhecidos naquelas estrelas<br />
sorrindo e brilhando de felicidade.<br />
- Felipe, quando Deus disse que a posteridade de<br />
Abraão seria tão numerosa quanto às estrelas do céu se<br />
referia a todo ser vivente na terra no t<strong>em</strong>po de Abraão e no<br />
<strong>seu</strong> t<strong>em</strong>po. Os que já morreram, os que estão vivos e os<br />
que ainda virão a nascer. Por isso esta descendência tão<br />
numerosa quanto às estrelas e os grãos de areia. É a<br />
promessa de que todas as famílias serão abençoadas <strong>em</strong><br />
Abraão, inclusive a sua.<br />
- Pois, então Emanuel, eu vi o rosto de meu pai e<br />
de minha mãe brilhando lá no céu. Eu vi também meu<br />
rosto próximo ao deles. Não me contive e chorei, mas foi<br />
de felicidade, pois pareciam estar tão felizes e tão b<strong>em</strong>.<br />
Emanuel.<br />
- Pode ter certeza Felipe, eles estão felizes. Disse<br />
- Nunca imaginei que o Reino de Deus começasse<br />
desta forma tão linda como foi esta noite. Há tantos anos<br />
atrás, aqui neste lugar inicia uma promessa de amor e<br />
aliança de Deus com sua humanidade através de Abraão.<br />
71
- Deus nos faz sonhar. Enxergar além de nossos<br />
limites. Compreender suas obras e experimentar suas<br />
maravilhas <strong>em</strong> nossa vida. Disse Emanuel. E completou:<br />
acrescentou:<br />
- Ninguém como Deus.<br />
- Você o ama tanto Emanuel? Perguntou Felipe.<br />
- Amo-o com amor infinito. Disse Emanuel e<br />
- O Reino de Deus é um sonho maravilhoso na vida<br />
da humanidade e só o enxerga qu<strong>em</strong> sabe sonhar. Deus<br />
motivou a Abraão a sonhar com as suas promessas e<br />
enxergar o sonho de Deus que é o amor a toda a<br />
humanidade. Mas Abraão ainda não compreendeu direito<br />
isso, mas vai entender, pois é um hom<strong>em</strong> de fé.<br />
- Como assim, ele não se encantou com toda aquela<br />
promessa feita por Deus, eu quase não consegui fechar a<br />
boca de tão encantado que estava. Disse Felipe.<br />
- Você não ouviu o que ele falou para o Pai depois<br />
de todas estas promessas? Perguntou Emanuel<br />
- Não! Estava tão encantado com o rosto de minha<br />
mãe e de meu pai naquelas estrelas que não notei a<br />
resposta de Abraão diante da promessa de Deus <strong>em</strong> sua<br />
vida. Ele com certeza vibrou e louvou a Deus?<br />
- Não!<br />
72
- Não? Então o que disse?<br />
- Abrão disse o seguinte: “Senhor Javé, que me<br />
dareis vós? Eu irei s<strong>em</strong> filhos...” afirmou Emanuel.<br />
- Tá louco? Depois de uma promessa daquela? Das<br />
estrelas brilhando <strong>em</strong> cima da sua cabeça representando<br />
cada pessoa desta terra ont<strong>em</strong>, hoje e s<strong>em</strong>pre. Ser o Pai de<br />
todos, de uma história de amor tão linda entre Deus e<br />
todas suas criaturas, e ele preocupado <strong>em</strong> ter um filho?<br />
Que cabeça dura este Abrão, heim?<br />
- Felipe quase todos os homens se parec<strong>em</strong> com<br />
Abrão, sonham pequeno. Buscam as coisas que passam,<br />
colocam sua vida e sua confiança <strong>em</strong> bens t<strong>em</strong>porais,<br />
almejam por puro complexo de inferioridade espiritual os<br />
valores menores da vida e deixam passar o que permanece<br />
para s<strong>em</strong>pre. Pensam que são ricos, mas acumulam bens<br />
que as traças consom<strong>em</strong> e a ferrug<strong>em</strong> destrói, não<br />
enxergam os grandes tesouros que Deus t<strong>em</strong> dado<br />
gratuitamente a cada um com abundância e fidelidade. Por<br />
isso são infelizes!<br />
- Não me conformo com Abrão preocupado com<br />
<strong>seu</strong> filho enquanto Deus oferecia tamanha posteridade<br />
para ele?<br />
73
- Felipe a humanidade esta s<strong>em</strong>pre chorando e<br />
lamentando coisas pequenas diante da grandeza de Deus.<br />
Quando alguém consegue olhar para o alto e sonhar o<br />
sonho de Deus <strong>em</strong> sua vida ele supera todas as suas<br />
fraquezas e os probl<strong>em</strong>as que pareciam ser tão grandes <strong>em</strong><br />
sua vida diminu<strong>em</strong> e se tornam insignificante diante de<br />
poder viver o sonho de Deus. É preciso olhar e sonhar com<br />
as estrelas! Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> medo de sonhar jamais conhecerá a<br />
realização.<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou-se que quando conheceu Emanuel<br />
estava no banco da praça lamentando a morte do pai e da<br />
sua mãe. L<strong>em</strong>brou que a vida inteira sua justificou <strong>seu</strong>s<br />
probl<strong>em</strong>as pessoais e sua revolta no fato de não possuir<br />
uma mãe. E o pior de tudo era que agora ele tomou a<br />
consciência que sua irritação quando tinham dó dele ou<br />
perguntavam sobre sua mãe era na verdade um caso mal<br />
resolvido por ele mesmo e que no fundo era ele próprio<br />
que qu<strong>em</strong> mais possuía pena de si mesmo. Corou de raiva<br />
e vergonha por ser tão mesquinho e tão insensível a ponto<br />
de nunca ter percebido que <strong>seu</strong> pai também sofrera com a<br />
ausência de sua amada esposa. Desta vez não chorou como<br />
de costume, mas prometeu a si mesmo que ao invés de<br />
lamentar olharia para o céu e as estrelas com mais<br />
74
frequência e agradeceria a Deus pela sua vida e pelo que<br />
podia oferecer a si mesmo e ao outro. L<strong>em</strong>brou-se do que<br />
disse Emanuel: Viver o sonho de Deus é olhar para o alto<br />
e ver que todas as estrelas brilham felizes pelo <strong>seu</strong> sim a<br />
Deus.<br />
Felipe abraçou Emanuel e disse:<br />
- Obrigado!<br />
Felipe foi tomado pelo cansaço e deitou-se na<br />
relva, os olhos voltados para o céu. Nunca mais depois<br />
deste dia, ou melhor, desta noite, ele sentiu depressão e<br />
tristeza quando chegava a noite.<br />
- Qual será nossa canção de hoje? Perguntou<br />
sorrindo Felipe a Emanuel.<br />
- Canção?<br />
- Sim. Gostei de dormir com sua canção. Soltando<br />
uma gostosa gargalhada.<br />
O sorriso de Felipe era contagioso. Um dom<br />
maravilhoso que Deus havia lhe oferecido. Emanuel disse<br />
certa vez a ele que <strong>seu</strong> sorriso era como uma estrela<br />
brilhando no céu. Não tinha como negar um pedido <strong>seu</strong><br />
acompanhado deste sorriso. Então Emanuel cantou:<br />
75
Por causa de um certo reino, estradas eu caminhei<br />
Buscando, s<strong>em</strong> ter sossego, o reino que eu vislumbrei<br />
Brilhava a Estrela Dalva e eu quase s<strong>em</strong> dormir,<br />
buscando este certo reino e a l<strong>em</strong>brança dele a me<br />
perseguir!<br />
Por causa daquele reino, mil vezes eu me enganei!<br />
Tomando o caminho errado, errando quando acertei!<br />
Chegava ao cair da tarde, e eu quase s<strong>em</strong> dormir,<br />
buscando este certo reino e a l<strong>em</strong>brança dele a me<br />
perseguir!<br />
Um filho de carpinteiro que veio de Nazaré,<br />
mostrou-se tão verdadeiro, pôs vida na minha fé<br />
Falava de um novo reino, de flores e de pardais,<br />
de gente arrastando a rede, que eu tive sede da sua paz!<br />
O filho de carpinteiro falava de um mundo irmão;<br />
De um Pai que era companheiro de amor e libertação<br />
Lançou-me um olhar profundo, gelando o meu coração;<br />
Depois me falou do mundo, e me deu o selo da vocação!<br />
Agora qu<strong>em</strong> me conhece, pergunta se eu encontrei<br />
o reino que eu procurava, se é tudo o que eu desejei<br />
E eu digo pensando nele: no meio de vós está<br />
o reino que andais buscando, e qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> amor<br />
compreenderá!<br />
76
Jesus me ensinou de novo, as coisas que eu aprendi,<br />
por isso eu amei meu povo e o Livro da Vida eu li<br />
E <strong>em</strong> cada menina moça, <strong>em</strong> cada moço rapaz,<br />
eu sonho que a minha gente será s<strong>em</strong>ente de eterna paz!<br />
Deus.<br />
- Que música bonita! De qu<strong>em</strong> é? Disse Felipe.<br />
- Do meu amigo Zezinho. Um filho amado de<br />
- Deus t<strong>em</strong> muitos filhos amados pelo jeito?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Todos são muito amados por Ele. Disse Emanuel<br />
Felipe adormeceu.<br />
77
o sacrifício<br />
Já era dia novamente e Felipe que havia dormindo<br />
ouvindo canção, acorda agora com Emanuel cantando:<br />
Pode a tristeza durar até o anoitecer<br />
Mas a alegria logo v<strong>em</strong> no amanhecer<br />
Quero acordar cantando e louvando o meu Senhor<br />
Quero acordar cantando e louvando o meu Senhor e Rei<br />
Pode a tristeza durar até o anoitecer<br />
Mas a alegria logo v<strong>em</strong> no amanhecer<br />
Quero acordar cantando e louvando o meu Senhor<br />
Quero acordar cantando e louvando o meu Senhor e Rei<br />
Quero acordar cantando e louvando o meu Senhor e Rei<br />
Emanuel.<br />
- Você gosta desta mensag<strong>em</strong>? Perguntou Felipe.<br />
- É um salmo do meu amigo Davi. Respondeu<br />
- Onde vamos hoje? Em pé e com uma disposição<br />
enorme Felipe perguntou a Emanuel.<br />
- Venha e segue-me. Disse Emanuel.<br />
- Quando você fala isso lá v<strong>em</strong> aventura! Disse<br />
sorrindo Felipe.<br />
78
Emanuel reparou que Felipe agora ria s<strong>em</strong>pre e que<br />
<strong>seu</strong> sorriso era espontâneo e que realmente a caminhada<br />
pelo Reino de Deus lhe fazia, cada vez mais, muito b<strong>em</strong> a<br />
ele.<br />
- Qu<strong>em</strong> é esta criança? Perguntou Felipe.<br />
Felipe observou que Abraão levava ao <strong>seu</strong> lado<br />
uma criança, um jumento, algumas pessoas e lenha. Não<br />
imaginava o impacto e as cenas que experimentaria e<br />
estava por vir agora. Não d<strong>em</strong>orou muito e aprendeu que<br />
viver o Reino de Deus é uma experiência maravilhosa e<br />
surpreendente.<br />
- É Isaac! Filho de Abraão e Sara. Disse Emanuel<br />
- Deus cumpriu! Disse extasiado Felipe.<br />
- Deus s<strong>em</strong>pre cumpre, Ele é Providência. Olhe e<br />
ter<strong>em</strong>os uma lição de Fé e Providência.<br />
- O que vão fazer? Perguntou Felipe enquanto<br />
Abraão subia uma montanha parecida com o morro onde<br />
morava, a única diferença era que no morro haviam muitos<br />
barracos.<br />
- Deus deu a seguinte ord<strong>em</strong> a Abraão: “Toma teu<br />
filho, teu único filho a qu<strong>em</strong> tanto amas, Isaac; e vai à<br />
terra de Moriá, onde tu o oferecerás <strong>em</strong> holocaustos sobre<br />
um dos montes que eu te indicar”.<br />
79
- Holocausto? Perguntou Felipe s<strong>em</strong> entender.<br />
- Sim, Deus pediu que matasse <strong>seu</strong> filho para<br />
oferecer como holocausto, ou oferta. Disse Emanuel.<br />
- Tá Louco? Como Deus pode pedir que alguém<br />
faça tal maldade, Ele não é Amor? Falou Felipe.<br />
Emanuel.<br />
- Deus é amor! Calma Felipe apenas olhe. Disse<br />
Então Felipe ouviu Abraão dizer as pessoas que<br />
estavam juntas com ele:<br />
- Ficai aqui com o jumento, eu e o menino vamos<br />
até lá mais adiante para adorar, e depois voltar<strong>em</strong>os a vós.<br />
Felipe observou que Abraão colocou a lenha nos<br />
ombros de <strong>seu</strong> filho enquanto ele levava nas mãos um<br />
fogo e uma faca e então Isaac disse ao <strong>seu</strong> pai enquanto<br />
caminhavam juntos:<br />
- Meu pai.<br />
- Que há meu filho.<br />
Continuou Isaac:<br />
- T<strong>em</strong>os aqui o fogo e a lenha, mas onde está a<br />
ovelha para o holocausto?<br />
Esta frase <strong>em</strong>ocionou profundamente Felipe. Com<br />
os olhos lacrimejado não acreditava no que estava vendo.<br />
Como poderia um pai sacrificar um filho tão inocente?<br />
80
Como poderia Abraão entregar <strong>seu</strong> maior sonho naquele<br />
lugar? Como poderia ser tão insensível a este ponto ou<br />
então tão maluco?<br />
- Deus, respondeu-lhe Abraão, providenciará ele<br />
mesmo uma ovelha para o holocausto meu filho.<br />
E Eles contiuaram o caminho.<br />
Quando chegaram ao local, Abraão edificou um<br />
altar; colocou nele a lenha, amarrou Isaac no altar sobre a<br />
lenha. Depois estendendo a mão, tomou a faca para imolar<br />
<strong>seu</strong> filho.<br />
Felipe entrou no desespero. Começou a berrar com<br />
a mesma intensidade que berrou no paraíso: Chega!<br />
Chega! Pare <strong>seu</strong> desgraçado! Você é louco? Pare!<br />
Então virou-se para Emanuel e disse aos berros:<br />
- Faça alguma coisa! E começou a esmurrar<br />
Emanuel e dizendo com toda a força:<br />
- Por que você matou minha mãe? Por que você<br />
matou meu pai? Me diga? Por que?<br />
Emanuel o abraçou fort<strong>em</strong>ente enquanto ele<br />
chorava deseperadamente nos <strong>seu</strong>s ombros.<br />
Ouviu-se então a voz de Deus a Abraão:<br />
- Abraão! Abraão!<br />
- Eis-me aqui. Respondeu Abraão.<br />
81
- Não estendas a tua mão contra o menino, e não<br />
lhes faça nada. Agora sei que t<strong>em</strong>es a Deus, pois não me<br />
recusastes teu próprio filho, teu filho único.<br />
Felipe estava com o coração saindo pela boca.<br />
Agarrou-se <strong>em</strong> Emanuel de tal forma que sentia dor pelo<br />
corpo inteiro. Na sua l<strong>em</strong>brança viu <strong>seu</strong> pai no caixão,<br />
como se estivesse sobre aquele altar. Chorava<br />
copiosamente agora, pois no enterro só pode sentir ódio e<br />
conter as lágrimas. Emanuel o segurou firm<strong>em</strong>ente com<br />
uma tal presença que Felipe sentia não estar só! No enterro<br />
de <strong>seu</strong> pai haviam poucas pessoas. Não conhecia <strong>seu</strong>s<br />
parentes, pois moravam muito longe e eram tão pobres<br />
quanto eles. Sua tia chorava e repetia por diversas vezes<br />
que ficaria sozinha no mundo. Alguns vizinhos a<br />
consolavam. Felipe pensara como ficar sozinha? Esta<br />
maldita vivia nos expulsando da sua casa. Mas nada se<br />
comparou no momento do enterro. Quando viu <strong>seu</strong> pai<br />
sendo colocado naquela cova indigna e rasa ele sentiu o<br />
que poderia chamar de verdadeira solidão. Fim de tudo.<br />
Ali naquela cova foi enterrado o que lhe restava na vida.<br />
Foi enterrado o pouco de alegria que possuía. Naquela<br />
cova Felipe sentiu-se enterrado para s<strong>em</strong>pre. Ele morreu e<br />
com ele toda a esperança que lhe restava.<br />
82
Felipe observou que Abraão se aproximou de uma<br />
moita e havia ali um cordeiro preso pelos chifres entre os<br />
espinhos; e tomando-o, ofereceu <strong>em</strong> holocausto <strong>em</strong> lugar<br />
de <strong>seu</strong> filho. Esta ultima cena do cordeiro imolado ficou<br />
gravada no coração e na mente de Felipe, pois sentia que<br />
agora o coração de Emanuel batia com muita violência no<br />
peito e que suas mãos, <strong>seu</strong>s pés, <strong>seu</strong> lado direito e sua<br />
cabeça sangravam. Mais tarde compreenderia o porquê.<br />
a Abraão:<br />
Então ouviu uma voz novamente do céu que disse<br />
“Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que<br />
fizestes isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único,<br />
eu te abençoarei. Multiplicarei a tua posteridade como as<br />
estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela<br />
possuirá a porta dos teus inimigos, e todas as nações da<br />
terra desejarão ser benditas como ela, por que obedecestes<br />
a minha voz”.<br />
Felipe quis questionar Emanuel que significado<br />
tinha aquela experiência para que ele pudesse entender o<br />
Reino de Deus, mas notou que desta vez parecia que tal<br />
experiência mexeu muito com Emanuel. Emanuel estava<br />
silencioso e de certa forma feliz. Tinha trocado as vestes e<br />
83
não apresentava mais que estava todo sujo de sangue.<br />
Olhava para o infinito.<br />
Emanuel então disse:<br />
- Quer falar sobre o que aconteceu?<br />
- Sim gostaria muito de falar, mas acho que você<br />
está cansado. Disse Felipe ainda meio s<strong>em</strong> jeito por ter<br />
esmurrado por diversas vezes <strong>seu</strong> amigo.<br />
Emanuel.<br />
- Que meu cansaço a outros descanse. Cantou<br />
Felipe riu-se pela descontração e disse:<br />
- Outra música de outro amigo?<br />
- Sim! Chama-se a barca! Disse Emanuel.<br />
E <strong>em</strong>endou:<br />
- Então me fale o que você presenciou hoje?<br />
- Um fato do qual pouco entendi! Disse Felipe.<br />
- Como por ex<strong>em</strong>plo? Perguntou Emanuel<br />
- Como Deus pode pedir algo assim para alguém?<br />
- Deus não pediu para si, pediu para o próprio<br />
Abraão, para você e para todos os que Ele ama.<br />
- Como assim? Não foi uma prova do amor de<br />
Abraão que Deus lhe pediu? Perguntou felipe.<br />
- Deus não necessita de que prov<strong>em</strong>os nada a Ele.<br />
Se você amar a Deus, Deus continua sendo Deus, mas se<br />
84
você não amá-lo Deus continua sendo Deus. Nossas<br />
atitudes não interfere <strong>em</strong> nada a Deus. Quando Deus age<br />
desta forma esta pensando e agindo pelos <strong>seu</strong>s filhos.<br />
Aliás Deus age s<strong>em</strong>pre pensando na humanidade. Ele ama<br />
incondicionalmente <strong>seu</strong>s filhos. Disse Emanuel.<br />
- Então ele pediu que Abraão entregasse <strong>seu</strong> filho<br />
não como prova de amor? Então qual foi o real motivo?<br />
Disse Felipe s<strong>em</strong> entender o que fez Deus.<br />
Emanuel.<br />
- Felipe qual é a missão de Abraão? Perguntou<br />
- Ser uma fonte de benção à todas as famílias da<br />
terra. Disse Felipe.<br />
- Abraão foi chamado por Deus para iniciar uma<br />
história muito importante a História da Salvação. Esta<br />
história apresentaria ao mundo a salvação que v<strong>em</strong> de<br />
Deus. Em Abraão, Deus quis se mostrar aos homens a<br />
qu<strong>em</strong> tanto ama para ser conhecido. O hom<strong>em</strong> ao<br />
encontrar a fonte da sua orig<strong>em</strong> estará também<br />
encontrando a razão de sua existência. Diria que uma<br />
nação que esquece sua história e nega sua orig<strong>em</strong> é uma<br />
nação fadada à morte. O hom<strong>em</strong> quanto mais se aproximar<br />
da orig<strong>em</strong>, mais estará se aproximando da felicidade e da<br />
sua realização. Portanto terá vida e vida <strong>em</strong> abundância.<br />
85
- E o que Isaac t<strong>em</strong> a ver com isso? Perguntou<br />
Felipe ainda s<strong>em</strong> entender direito.<br />
- Quando Deus mostrou as estrelas do céu e os<br />
grãos de areia a Abraão e prometeu que sua descendência<br />
seria tão enorme, o que Abraão falou para Deus?<br />
Questionou Emanuel.<br />
- Perguntou sobre o <strong>seu</strong> filho! Deus falava de um<br />
sonho maior e ele estava preocupado com <strong>seu</strong> próprio<br />
umbigo e por isso não conseguiu olhar para aquelas<br />
estrelas e ver todos os <strong>seu</strong>s filhos que somos nós. Certo?<br />
Disse felipe com tom de aluno que estudou muito b<strong>em</strong><br />
para a prova.<br />
- Nota dez pra você Felipe? Então o que você<br />
deduz? Questionou Emanuel.<br />
- O que eu deduzo? Felipe tentou raciocinar,<br />
encontrar a lógica desta pergunta, mas a resposta não veio<br />
à sua mente e então <strong>em</strong>endou triste:<br />
- Nove e meio. Não sei.<br />
Rindo, Emanuel respondeu:<br />
- O que todo ser humano faz constant<strong>em</strong>ente diante<br />
do chamado de Deus, cria ídolos.<br />
- Ídolos? Perguntou Felipe.<br />
86
- Ídolos são coisas ou pessoas que criamos <strong>em</strong><br />
nossa vida e os colocamos no lugar de Deus. Geralmente<br />
pensamos que eles não morr<strong>em</strong> e que resolverão todos os<br />
nossos probl<strong>em</strong>as. Afirmou Emanuel.<br />
- Meu ídolo era meu pai. Disse Felipe chateado.<br />
- Admirar alguém Felipe não é pecado, mas<br />
colocar alguém no lugar de Deus <strong>em</strong> sua vida é uma das<br />
atitudes mais graves que uma pessoa pode cometer <strong>em</strong> sua<br />
vida. Sabe porque?<br />
Felipe balançou a cabeça gesticulando<br />
negativamente.<br />
Emanuel.<br />
- Você já viu uma eclipse total do sol? Perguntou<br />
- Sim.<br />
- Pois um ídolo é como a lua <strong>em</strong> uma eclípse total<br />
do sol. A eclípse ocorre quando a Lua está entre terra e o<br />
sol. A lua é b<strong>em</strong> menor que o sol, porém consegue cobrir a<br />
luz imensa do sol dando a falsa impressão que é maior que<br />
o sol. O ídolo se coloca entre Deus e a pessoa e escurece a<br />
visão do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação a Deus. O hom<strong>em</strong> não<br />
consegue enxergar Deus <strong>em</strong> sua vida pois colocou um<br />
valor como se fosse maior do que Deus. Fica cego! Não<br />
enxerga a dimensão de Deus <strong>em</strong> relação a dimensão do<br />
87
ídolo <strong>em</strong> sua vida. Alguém que cegamente colocou toda a<br />
sua vida nas mãos de um ídolo viverá na ilusão a vida toda<br />
e não encontrará a razão maior da sua vida que é Deus.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Agora entendi! Abraão tinha Isaac como um ídolo<br />
<strong>em</strong> sua vida? Disse Felipe.<br />
- Sim Felipe! Não é só os filhos que t<strong>em</strong> o pai<br />
como ídolo, os pais também idolatram <strong>seu</strong>s filhos. Mas no<br />
caso de Abraão especificamente desde que Isaac nasceu<br />
abandonou o chamado de Deus, expulsando da sua casa<br />
<strong>seu</strong> outro filho que teve com a escrava, e s<strong>em</strong> notar,<br />
desistiu do que o motivava que era uma descedência<br />
numerosa, já que pra ele descedência era sinônimo de<br />
sonho realizado, ter um filho.<br />
Felipe interrompeu e disse:<br />
- Isaac era a lua na vida de Abraão.<br />
- Pois então idolatrar alguém e colocá-lo na vida<br />
como razão maior a ponto de desistir de tudo por causa<br />
deste ídolo é algo detestável para Deus, que sabe que<br />
quanto mais alguém se afasta dEle, mas se aproxima da<br />
desilusão e da tristeza.<br />
Felipe ficou b<strong>em</strong> pensativo. Havia dito que preferia<br />
morrer do que ficar s<strong>em</strong> <strong>seu</strong> pai e sua mãe. Por não possuir<br />
88
Deus como propriedade maior <strong>em</strong> sua vida, se sentiu s<strong>em</strong><br />
rumo e s<strong>em</strong> direção quando lhe partiu o ídolo da sua vida<br />
<strong>seu</strong> pai.<br />
Emanuel continuou:<br />
- Ao tentar imolar <strong>seu</strong> único filho, o que havia de<br />
mais importante <strong>em</strong> sua vida, Abraão tomou consciência<br />
da sua missão como paizão, conforme você gosta de dizer,<br />
e principalmente educou <strong>seu</strong> filho Isaac a respeitar e amar<br />
a Deus como propriedade maior da vida. Com isso Isaac<br />
com a morte de <strong>seu</strong> Pai Abraão continuou transmitindo e<br />
vivendo a história de salvação, ou como prefiro chamar, O<br />
Reino de Deus para atingir toda a humanidade formando<br />
esta grande família de filhos de Abraão. Se todo pai e mãe<br />
educass<strong>em</strong> <strong>seu</strong>s filhos para amar a Deus e ser<strong>em</strong> imag<strong>em</strong> e<br />
s<strong>em</strong>elhança dEle a humanidade viveria o Reino de Deus e<br />
a justiça prevaleceria entre vocês. A maioria das pessoas<br />
procuram Deus não porque o ama e sim por interesse e na<br />
maioria das vezes pela dor.<br />
- Então Deus jamais permitiria que alguém<br />
entregasse <strong>seu</strong> filho único para ser imolado? Não deixaria<br />
que Abraão fizesse tal ato?<br />
- Entregar <strong>seu</strong> filho único, não diria isso, pois você<br />
vai conhecer alguém que entregou nesta nossa caminhada.<br />
89
Mas no caso de Abraão, não pediria n<strong>em</strong> que imolasse <strong>seu</strong><br />
filho, só permitiu que Abraão quase imolasse para que<br />
tomasse consciência de sua missão e não colocasse a vida<br />
de toda uma humanidade na ignorância de qu<strong>em</strong> realmente<br />
é Deus e da sua real importância na vida de <strong>seu</strong>s filhos.<br />
Emanuel notou que Felipe silenciou e percebeu que<br />
lhe queria ainda lhe falar algo que o incomodava então lhe<br />
disse:<br />
experiência?<br />
- Felipe respondi todas as perguntas desta nova<br />
- Sim! Falou meio s<strong>em</strong> jeito, s<strong>em</strong> corag<strong>em</strong> de tocar<br />
no assunto do sangue que escorreu das mãos, dos pés, do<br />
lado e da cabeça de Emanuel e o por que <strong>seu</strong> coração<br />
disparou violent<strong>em</strong>ente quando apareceu o cordeiro na<br />
moita de espinho.<br />
Emanuel então lhe falou:<br />
- Quando conhecer o Reino de Deus entenderá o<br />
que aconteceu comigo. Disse Emanuel sorrindo.<br />
Felipe sentiu conformado e aliviado pelo fato de<br />
Emanuel ler <strong>seu</strong>s pensamentos e comentar aquilo, somente<br />
aquilo que ele gostaria que comentasse ou que precisasse<br />
comentar, como Emanuel gostava de dizer, para sua cura.<br />
Felipe sentia que ainda precisava completar algo da sua<br />
90
jornada rumo ao Reino de Deus e que precisava fazer ali<br />
naquela terra de Abraão.<br />
lhe:<br />
Emanuel colocou as mãos <strong>em</strong> <strong>seu</strong> ombro e disse-<br />
- Vamos voltar para a praça, esta fase da<br />
caminhada já terminamos.<br />
- Emanuel, por favor me deixe fazer algo aqui, que<br />
para mim é muito importante. Disse Felipe meio<br />
apreensivo.<br />
- Deixo Felipe. Acredite vai lhe fazer muito b<strong>em</strong>.<br />
Será extr<strong>em</strong>amente dolorido, mas você precisa resolver<br />
isso <strong>em</strong> sua vida.<br />
- Pode me levar ao monte onde Abraão quase<br />
imolou <strong>seu</strong> filho? Pediu Felipe.<br />
- Sim ao monte Javé-Yiré. Vamos!<br />
Estavam no pé do monte e Felipe pediu a Emanuel<br />
se pudesse deixar que ele fizesse sozinho o que tinha que<br />
fazer.<br />
Felipe.<br />
Emanuel lhe entregou a lenha e o fogo.<br />
- Os cordeiros carregarei <strong>em</strong> meu coração. Disse<br />
- Vá, Corag<strong>em</strong>! Que a fé de Abraão lhe<br />
acompanhe! Disse Emanuel.<br />
91
Enquanto subia o monte Felipe pensava se<br />
conseguiria imolar <strong>seu</strong> holocausto a Deus. Entregar <strong>seu</strong>s<br />
ídolos. Seu coração disparou e um medo invadiu sua vida.<br />
O caminho de Javé-Yiré era um caminho de entrega e total<br />
confiança no Pai. Todos passam por este caminho,<br />
pensava ele, mas muitos desistiam. Felipe parecia ouvir<br />
vozes que diziam: Eu tenho filhos não posso agora? Meu<br />
trabalho não me deixa? Besteira este negócio de ficar<br />
procurando Deus. Não tenho t<strong>em</strong>po. Não tenho dom. Não<br />
posso. Não me pertube. Não vejo necessidade. Bando de<br />
carolas. Quanto mais reza pior fica. Quanto mais oro mais<br />
tentação aparece. Não consigo fazer a vontade de Deus....<br />
Depois sentiu um imenso silêncio, parecido com o silêncio<br />
de Adão no paraíso. Seus traumas e decepções estavam<br />
todos aflorando agora <strong>em</strong> sua mente. Pensou <strong>em</strong> desistir<br />
quando um fio de esperança se acendeu <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração<br />
que lhe dizia que estava perto da sua liberdade.<br />
A resposta de Abraão ao <strong>seu</strong> filho Isaac lhe veio à<br />
sua mente: “Deus, provindeciará”. Felipe então repetia<br />
insistent<strong>em</strong>ente: Deus provê, Deus proverá! Deus provê,<br />
Deus proverá! Deus provê, Deus proverá! Deus provê,<br />
Deus proverá! Deus provê, Deus proverá! Deus provê,<br />
Deus proverá!<br />
92
E quando chegou à frente do altar disse b<strong>em</strong> forte<br />
antes de fazer o Holocausto: “Deus provê, Deus proverá,<br />
Para aquele que crê, nada faltará”<br />
Pôs a madeira sobre o altar, ateou fogo estendeu<br />
suas mãos e berrou:<br />
teus.”<br />
“Pai! Lhe entrego meu pai e minha mãe. Eles são<br />
Caiu de joelhos e chorou como nunca <strong>em</strong> sua vida.<br />
E como nunca <strong>em</strong> sua vida sentiu-se livre, uma liberdade<br />
interior, uma alma lavada e um desejo imenso de dizer a<br />
Deus o que sentia agora e o fez com um último grito:<br />
- Deus Pai eu te amo!!!! Eu tenho somente a ti!<br />
L<strong>em</strong>brou-se da frase que Abraão ouviu de Deus:<br />
“Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizestes isso<br />
e não me recusaste, eu te abençoarei”<br />
Felipe disse b<strong>em</strong> baixinho:<br />
- Beraká, Barek e Baruk.<br />
Neste momento Emanuel se aproximou, abraçou-o,<br />
beijou-lhe a testa e disse:<br />
- Filho, você é uma benção!<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou-se que toda vez ouvia isso de <strong>seu</strong><br />
pai, que tinha costume de s<strong>em</strong>pre o beijar na testa e o<br />
abraçar quando ele queria elogiá-lo e agradecê-lo pelo <strong>seu</strong><br />
93
caráter e pela obediência que tinha quando <strong>seu</strong> pai lhe<br />
pedia algo.<br />
– Vamos! Terminei! Disse Felipe.<br />
94
O sonho de Felipe<br />
Agora estavam eles novamente no banco da praça.<br />
Em frente a eles a estátua do <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong>. Felipe notara<br />
que esta imag<strong>em</strong> já não era tão estranha pra ele e que a<br />
ovelha que o <strong>Pastor</strong> carregava <strong>em</strong> <strong>seu</strong>s ombros parecia<br />
estar mais feliz. Quando da primeira vez que avistou a<br />
imag<strong>em</strong>, o <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong> sorria, mas a ovelha parecia muito<br />
triste. Agora não, a ovelha sorria nos ombros do <strong>Bom</strong><br />
<strong>Pastor</strong>. Felipe pensou que estivesse louco e sorriu com tal<br />
situação. Notou também que havia uma frase escrita que<br />
dizia: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”. Felipe<br />
parecia um pouco incomodado e precisava fazer uma coisa<br />
e então tomou a iniciativa. Levantou-se, subiu <strong>em</strong> pé no<br />
banco olhou para Emanuel e disse-lhe:<br />
- Por favor levanta-se.<br />
Felipe era s<strong>em</strong>pre muito orgulhoso, dificilmente<br />
pedia perdão, ofendera muitas vez <strong>seu</strong>s amigos, <strong>seu</strong> pai e<br />
sua tia, jogando suas revoltas <strong>em</strong> cima deles. Pelo que<br />
l<strong>em</strong>bra nunca <strong>em</strong> sua vida havia pedido perdão a alguém,<br />
mesmo sabendo que estava errado e colocando <strong>em</strong> risco<br />
sua amizade e <strong>seu</strong> relacionamento com qu<strong>em</strong> amava.<br />
95
Emanuel levantou de frente a Felipe que por sua<br />
vez o abraçou fort<strong>em</strong>ente e disse:<br />
- Me perdoe por ter socado você. Se você não<br />
quiser me perdoar eu aceitarei, pois sei que fui muito<br />
arrogante e injusto com o que eu fiz.<br />
Emanuel o abraçou com carinho e disse:<br />
- Felipe! Você é um amigo a qu<strong>em</strong> amo muito.<br />
S<strong>em</strong>pre lhe perdoarei. Meu amor e meu perdão serão<br />
s<strong>em</strong>pre infinitos a você. Nada poderá afastar você da<br />
minha amizade. Disse Emanuel <strong>em</strong>ocionado.<br />
- Emanuel, me prometa por favor. Prometa nunca<br />
me abandonar. As pessoas que muito amo s<strong>em</strong>pre me<br />
deixam sozinho. Me prometa por favor.<br />
abandonarei.<br />
- Juro por mim mesmo, que jamais lhe<br />
Felipe sentiu a força desta palavra, pois foram as<br />
mesmas palavras que Deus havia falado no monte Javé-<br />
Yiré a Abraão.<br />
Emanuel ainda disse:<br />
- Pode uma mulher esquecer-se daquele que<br />
amamenta? Não ter ternura pela fruto das suas entranhas?<br />
E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria<br />
96
nunca. Eis que estás gravado na palma de minhas mãos,<br />
tenho s<strong>em</strong>pre sob meus olhos tuas muralhas.<br />
Felipe sentiu pela primeira vez na vida que desta<br />
vez alguém não o abandonaria. Emanuel ficaria ao lado<br />
dele e ele tinha certeza disso. Não sabia como explicar,<br />
mas tarde definiu como fé. Chorou nos ombros de<br />
Emanuel enquanto olhava a imag<strong>em</strong> do <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong> e a<br />
ovelha sorrindo. E disse:<br />
- Quando vi todo aquele sangue <strong>em</strong> você, achei que<br />
tivesse lhe machucado todo com os meus socos. Não<br />
entendia o porquê, me senti descontrolado e na hora estava<br />
cego de ódio e raiva por tudo o que aconteceu <strong>em</strong> minha<br />
vida. Então agi daquela forma horrível.<br />
Emanuel sorriu e disse:<br />
- Eu atraio sobre mim todas as suas mágoas e <strong>seu</strong>s<br />
pecados, pois para isso estou aqui, para salvar sua vida de<br />
toda derrota. Sou <strong>seu</strong> amigo e amigo verdadeiro serve para<br />
isso. Quantos aos socos que me deu, não foram fortes e<br />
n<strong>em</strong> foram eles que me feriram. Estas feridas eu as trago<br />
<strong>em</strong> mim para redenção de toda a humanidade.<br />
Felipe disse:<br />
- São chagas não cicatrizadas?<br />
Emanuel respondeu:<br />
97
- São estigmas de amor! Chagas que curam!<br />
Felipe percebeu que Emanuel não gostava de falar<br />
sobre este assunto ou preferia esperar o momento correto.<br />
L<strong>em</strong>brou que Emanuel prometera a ele que explicaria no<br />
devido momento então não insistiu mais neste assunto.<br />
Felipe notara que à sua frente tinha uma<br />
churrasqueira improvisada, sobre ela carnes assadas e um<br />
saco de pão.<br />
- Como você faz isso? Perguntou Felipe ao ver<br />
aquilo e feliz por ver comida, pois estava morrendo de<br />
fome.<br />
- Todo vós que estais sedentos vinde à nascente das<br />
águas, vinde comer, vós que não tendes alimento. Vinde<br />
comprar trigo s<strong>em</strong> dinheiro, vinho e leite s<strong>em</strong> pagar. Disse<br />
Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- É assim que se vive o Reino de Deus? Perguntou<br />
- Viver o Reino de Deus é Buscar o Senhor, já que<br />
ele se deixa encontrar, invocai-o, já que está perto. Falou<br />
Emanuel.<br />
Disse Felipe.<br />
- Nossa como gosto de churrasco. Parece picanha?<br />
- É sim!<br />
98
- Desse jeito vou querer viver o Reino de Deus<br />
s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> minha vida. Disse rindo Felipe.<br />
- Eu prefiro pão com peixe. Disse Emanuel.<br />
Felipe achou estranho o que Emanuel disse e<br />
começou a rir b<strong>em</strong> alto. E disse:<br />
- Você às vezes é muito engraçado!<br />
Após se alimentar<strong>em</strong> Felipe começou a pensar<br />
quantos dias estava ali. Se as pessoas do morro o estavam<br />
procurando e sua tia? <strong>Bom</strong>! Sua tia, achava ele nessas<br />
horas estava dando graças a Deus pelo <strong>seu</strong> sumiço. Pensou<br />
<strong>em</strong> Lúcia sua amiga e também l<strong>em</strong>brou-se da sua<br />
namorada a Bianca...<br />
Ah! Bianca! Ela era linda! Morena de olhos<br />
castanhos. Parecia uma boneca! S<strong>em</strong>pre que a avistava <strong>seu</strong><br />
coração batia forte e <strong>seu</strong> desejo era abraçá-la pelo resto da<br />
sua vida. Dizia s<strong>em</strong>pre pra ele que se não casasse com<br />
Bianca morreria solteiro. Seu sonho era casar com Bianca<br />
e ter filhos. Não moraria no morro, compraria uma mansão<br />
e seria um grande <strong>em</strong>presário. Estava cansado de viver<br />
naquele lugar e ser aprendiz de jardineiro com <strong>seu</strong> pai. Seu<br />
pai s<strong>em</strong>pre lhe dizia que a profissão de jardineiro era<br />
colorir o mundo de cores naturais e perfumar o ambiente<br />
com o cheiro das flores. Seu pai amava o que fazia. Mas<br />
99
Felipe ficava incomodado toda vez que lhe chamavam do<br />
filho do jardineiro ou aprendiz de jardineiro.<br />
Felipe então disse a Emanuel:<br />
- Seu pai fazia o que?<br />
- Era carpinteiro. Respondeu Emanuel.<br />
Felipe queria falar de Bianca com Emanuel, mas o<br />
achava muito puro, tipo inocentão de mais. Achava que<br />
seria uma conversa meio perdida e também sua timidez o<br />
atrapalhava para falar destas coisas.<br />
Emanuel interrrompeu <strong>seu</strong> pensamentos:<br />
- Está apaixonado?<br />
Felipe corou de vergonha. Esquecia o t<strong>em</strong>po todo<br />
que Emanuel podia ler <strong>seu</strong>s pensamentos. E para disfarçar<br />
falou meio ríspido:<br />
- Ainda b<strong>em</strong> que Deus é sábio.<br />
- Por que diz isso? Falou Emanuel com o sorriso<br />
entre os lábios.<br />
- Porque ao nos criar não permitiu que os homens<br />
ouviss<strong>em</strong> os pensamentos uns dos outros. Pois dessa<br />
forma poderíamos ter uma vida privada. Meu pai dizia que<br />
é feio ouvir conversas do outro. Também acho feio ler os<br />
pensamentos alheios. Disse Felipe com ar de seriedade e<br />
s<strong>em</strong> graça ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />
100
e disse:<br />
Desta vez foi Emanuel que soltou uma gargalhada<br />
- Que posso fazer se sou assim? E do mais você me<br />
chamou de inocentão. Riu ainda mais Emanuel.<br />
Felipe então riu junto com Emanuel. Enquanto<br />
estava no pensamento não parecia tão engraçado esta<br />
palavra, mas agora dita <strong>em</strong> voz alta e justamente por<br />
Emanuel ficou muito engraçado. E concluiu tentando<br />
consertar:<br />
- Pessoas boas geralmente parec<strong>em</strong> inocentes<br />
d<strong>em</strong>ais, às vezes dá até receio de falar alguma coisa,<br />
vamos dizer, meio diferente com elas. A Lúcia, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, parecia tão... tão...<br />
- Inocentona. Disse Emanuel rindo.<br />
- Sim! Disse Felipe s<strong>em</strong> graça.<br />
- Mas são estas pessoas que entend<strong>em</strong> melhor o<br />
que é paixão e amor e suas diferenças. Disse Emanuel.<br />
- Então estou apaixonado por uma menina, a<br />
Bianca. Acho que ela é a mulher da minha vida. Penso que<br />
se não casar com ela não casarei mais com ninguém, e só<br />
de pensar que ela pode estar <strong>em</strong> outros braços morro de<br />
raiva. Ela é perfeita! Disse Felipe.<br />
101
preocupado.<br />
- Você esta apaixonado. Disse Emanuel com ar de<br />
- Isso é mal? É grave? T<strong>em</strong> r<strong>em</strong>édio pra isso?<br />
Disse Felipe com ar de preocupação e depois rindo.<br />
- Depende. Disse Emanuel. E acrescentou:<br />
- Se ficar apenas na Paixão pode ser muito grave e<br />
o diagnóstico é um desastre à frente. Disse Emanuel.<br />
- Então aperte o cinto. Disse Felipe.<br />
amor ou paixão?<br />
- A paixão é um sentimento muito especial, porém<br />
contraditório ao mesmo t<strong>em</strong>po, pois é frágil e perigoso. A<br />
paixão cega a ponto de você achar que aquela pessoa é<br />
perfeita. E ai está o erro muitas vezes. Pois você sente uma<br />
sensação maravilhosa o que lhe deixa frágil e vulnerável<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po, como se o mundo fosse apenas colorido<br />
e que a felicidade ao lado de qu<strong>em</strong> você ama seria só<br />
flores e uma alegria s<strong>em</strong> fim. Como se aquela pessoa que<br />
voce está apaixonda fosse uma resposta a todas as suas<br />
indignações e solução para todos os <strong>seu</strong>s probl<strong>em</strong>as<br />
afetivos. Na paixão as pessoas inconscient<strong>em</strong>entes<br />
imaginam que a amada é uma princesa e que o príncipe<br />
102
virá <strong>em</strong> um cavalo branco. Tudo é lindo. Você só pensa<br />
nela e ela não sai da sua cabeça por nenhum instante. Ela é<br />
única e completa. Certo?<br />
Felipe meio s<strong>em</strong> graça confirma e ri do jeito que<br />
Emanuel falava e gesticulava.<br />
Emanuel continuou:<br />
- Mas t<strong>em</strong> um grande perigo aí.<br />
- Qual? Perguntou Felipe atento.<br />
- É no momento <strong>em</strong> que a fantasia e vislumbração<br />
passa e fica o que é real. Quando você descobre que se<br />
tratando de hom<strong>em</strong> e mulher não há perfeição. Quando<br />
você descobre que não existe só primavera na vida a dois.<br />
Que o frio, o calor também estarão presentes <strong>em</strong> suas<br />
vidas. Quando um dos dois transfere suas decepções e<br />
carências exigindo que o outro o preencha. Carência de<br />
mãe e de pai. Carência de atenção e carinho. As<br />
dificuldades que passarão juntos. Alguns de vocês<br />
chamam isso de amor cego.<br />
sorrindo.<br />
- É muito ruim! Disse Felipe desanimado.<br />
- Não Felipe! É bom d<strong>em</strong>ais! Disse Emanuel<br />
E continuou:<br />
103
- É bom porque Deus criou tudo isso. Para que o<br />
hom<strong>em</strong> e a mulher se conhecess<strong>em</strong> e se tornasse uma só<br />
carne e uma só vida.<br />
- Mas s<strong>em</strong> paixão? Disse Felipe.<br />
- Não! Apaixonados mas dispostos a viver o amor.<br />
O amor se renova, se transforma, cria. O amor faz com<br />
que você aceite a limitação do outro perdoando,<br />
compreendendo e completando-se. O amor no<br />
relacionamento mantém s<strong>em</strong>pre o desejo e a afeição pelo<br />
outro. O amor é um desejo sincero pelo outro, pelo que ele<br />
é e não pelo que t<strong>em</strong>. A paixão é um interesse forte de<br />
apenas satisfação. Qu<strong>em</strong> ama morre pelo outro, qu<strong>em</strong> esta<br />
apaixonado quer suprir suas carências humanas e por isso<br />
mais espera do que oferece. O amor permanece e paixão<br />
s<strong>em</strong>pre passa. A paixão não alimenta o amor. Mas o amor<br />
alimenta a paixão.<br />
Felipe gostou do que ouviu! E comentou:<br />
- Por isso que casamento está fora de moda hoje?<br />
- O amor e o que é essencial está fora da moda dos<br />
homens. Disse Emanuel. E completou:<br />
- A humanidade é contradição: ag<strong>em</strong> como se o<br />
amanhã não existisse, ou, ag<strong>em</strong> como se o hoje não<br />
existisse. Não consegue encontrar um equílibrio entre o<br />
104
hoje e o amanhã. E quando não encontram este equilíbrio<br />
tornam-se infelizes e jogam a culpa no ont<strong>em</strong>. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Como assim? Agora você complicou.<br />
- Quando o hom<strong>em</strong> pensa <strong>em</strong> sua vida e que quer<br />
ser na vida ele pensa no futuro dele. Mas geralmente pensa<br />
isso quando se trata de profissão, realização pessoal, etc.<br />
Quando se casa ele não pensa se aquela pessoa que<br />
escolheu seria a ideal para ser mãe, ou pai, de <strong>seu</strong>s filhos.<br />
É egoísta e pensa <strong>em</strong> <strong>seu</strong>s sentimentos, <strong>em</strong> <strong>seu</strong> próprio<br />
umbigo, por isso a paixão fala mais alto do que o amor na<br />
vida desta pessoa. Por isso muitos casamentos se<br />
desfaz<strong>em</strong>. A família é como uma terra sagrada e lá o ar<br />
que se respira é o amor, a água que se bebe é a<br />
comprenssão e o sol que ilumina é o perdão. O que<br />
começa errado não pode terminar certo. E quando casam<br />
descobre o dia a dia ao lado de alguém, o hoje, então<br />
tomam consciência que dinheiro, realização pessoal,<br />
desejos incontroláveis, paixão não segura um casamento<br />
para s<strong>em</strong>pre. Então as promessas que faz<strong>em</strong> no altar se<br />
desfaz como um castelo de areia. Quando isso acontece<br />
diz<strong>em</strong> infantilmente: eu não tinha experiência, meus pais<br />
não educaram.... como se o passado fosse culpado pelo<br />
105
que não fizeram no presente. O hoje não existirá mais e se<br />
você não viver com amor estará s<strong>em</strong>pre falando do<br />
passado, do que não fez e poderia ter feito. Portanto Felipe<br />
não se constroe um relacionamento duradouro e sadio<br />
construindo castelo e se realizando profissionalmente. Pois<br />
s<strong>em</strong> o amor nada nesta vida t<strong>em</strong> sentido.<br />
- Hoje é o t<strong>em</strong>po de Deus. Disse Felipe.<br />
- Então vamos ser feliz hoje sendo responsável por<br />
aqueles que cativamos e amamos e por aqueles também<br />
que não amamos, porém precisam de nosso amor.<br />
- Eu não tenho mais ninguém nesta vida que amo.<br />
Os que eu tanto amava partiram e eu aceitei esta realidade<br />
<strong>em</strong> minha vida lá no altar de Abraão. Penso que todos os<br />
que precisam encontrar o Amor deveriam subir a<br />
montanha Javé- Yiré e fazer sua oferenda. Dói muito, mas<br />
é libertador. Disse Felipe.<br />
- Esta montanha é o coração da pessoa. Esta aí um<br />
lugar onde as pessoas não t<strong>em</strong> o costume de se aproximar.<br />
Lugar santo! É importante visitar <strong>seu</strong> coração s<strong>em</strong>pre e<br />
fazer uma limpeza do que esta sujo e não presta, pois um<br />
coração magoado, triste ou com ódio é um lugar santo<br />
profanado e uma vida infeliz e doente. Disse Emanuel.<br />
106
- Eu recitei uma poesia na escola sobre o coração,<br />
disse Felipe, ela é assim:<br />
Um casebre pequenino,<br />
perdido no horizonte.<br />
Uma alma de menino,<br />
abandonado no alto monte.<br />
Um lugar de solidão,<br />
do silêncio e do pensamento;<br />
cujo o endereço é a meditação.<br />
Guardião do sentimento.<br />
Baú das l<strong>em</strong>branças,<br />
do t<strong>em</strong>po e das saudades<br />
feito velho, feito criança<br />
de todas as idades.<br />
Um casebre escondido,<br />
<strong>em</strong> uma montanha distante,<br />
<strong>em</strong> um lugar do infinito<br />
num abismo arrasante.<br />
107
Na fonte do saber,<br />
na estrada da felicidade,<br />
no centro do ser,<br />
na pura liberdade.<br />
Um casebre acolhedor,<br />
chão santo<br />
morada do Amor!<br />
sede do encanto.<br />
Um casebre diferente,<br />
lugar de esperança,<br />
ligado ao corpo e a mente,<br />
ligado ao perdão e a vingança.<br />
Um casebre sedento,<br />
um humilde abrigo,<br />
deixado ao relento...<br />
um tesouro esquecido.<br />
- Então conforme eu dizia, eu não tenho mais<br />
pessoas que eu amo, e por isso não tenho<br />
responsabilidades até que eu cative alguém. Disse Felipe<br />
pensando <strong>em</strong> Bianca.<br />
108
- Eu disse que você é responsável por qu<strong>em</strong> ama e<br />
por qu<strong>em</strong> não ama também e que necessita do <strong>seu</strong> amor.<br />
Pois que vantag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> para aquele que ama só os amigos?<br />
Deveis amar também vosso inimigo. Esta é a diferença<br />
que existe <strong>em</strong> alguém que quer viver o Reino de Deus.<br />
Disse Emanuel.<br />
Felipe se l<strong>em</strong>brou da sua tia. A única parente que<br />
possuía perto dele. Teria que amar sua tia? Não! Ela não.<br />
Emanuel havia dito que deveria amar qu<strong>em</strong> não o ama e<br />
precisa dele. Sua tia não precisava dele. Ele e <strong>seu</strong> pai que<br />
precisavam de sua tia, pois morava, de favor naquela casa.<br />
Ele ouvia as resmungações da sua tia todo dia e as ofensas<br />
dela ao <strong>seu</strong> pai. Ele precisava dela quando sua mãe faleceu<br />
e ela o tratava como hóspede <strong>em</strong> sua casa. Nunca chorou<br />
<strong>em</strong> <strong>seu</strong>s ombros n<strong>em</strong> sequer ofereceu para ouví-lo na sua<br />
dor e sofrimento. Ao invés de ajudá-lo contribuiu ainda<br />
mais para sua saudades da mãe. E se não bastasse teria<br />
agora que ouvir suas blasfêmias contra <strong>seu</strong> pai que partira.<br />
Não! Ela não precisa de mim, pensara ele. Será feliz com<br />
minha ausência, se é que sabia o que significava ser feliz?<br />
Felipe então pensou aliviado: Ser feliz é viver o Reino de<br />
Deus! Mas ainda faltava alguma coisa para preencher<br />
109
totalmente a sua alma. Deve ser porque ainda não chegou<br />
no Reino de Deus.<br />
- Felipe precisa dormir. Amanhã ter<strong>em</strong>os mais uma<br />
caminhada para o Reino de Deus. Disse Emanuel<br />
- Não vejo a hora! Estou me sentindo muito b<strong>em</strong>!<br />
Disse Felipe muito feliz. E perguntou:<br />
- Qual será a próxima porta? T<strong>em</strong> mais montes<br />
pela frente? Falou Felipe entusiasmado pelo que aconteceu<br />
no monte Javé-Yiré. E perguntou novamente:<br />
- O que significa Javé-Yiré?<br />
- O Senhor proverá! Disse Emanuel e acrescentou:<br />
- Quanto à sua primeira pergunta passar<strong>em</strong>os pela<br />
Porta do Êxodo e subir<strong>em</strong>os a Montanha do Monte Horeb.<br />
Mas antes que me pergunte amanhã saberá. Vamos<br />
dormir.<br />
- Posso declamar mais uma poesia no lugar da<br />
música? Ela fala da diferença entre o amor e a paixão?<br />
Disse Felipe rindo.<br />
- Sim. Gosto muito de poesia. Disse Emanuel.<br />
110
Paixão é o encanto pela vida.<br />
Amor é a vida.<br />
Paixão gera conflitos.<br />
Amor gera soluções.<br />
Paixão é agradecimento.<br />
Amor é reconhecimento.<br />
Paixão é um limite.<br />
Amor é eternidade.<br />
Paixão é ilusão.<br />
Amor é real.<br />
Paixão se ausenta.<br />
Amor permanece.<br />
Paixão é eu, você, as coisas...<br />
Amor é nós.<br />
Paixão é estático.<br />
Amor se renova...cria...<br />
Paixão escraviza.<br />
Amor liberta.<br />
Paixão cega.<br />
Amor abre horizontes.<br />
A paixão sonha.<br />
O amor realiza.<br />
Paixão gera medo.<br />
111
Amor gera confiança.<br />
Paixão é atração física.<br />
Amor é atração total.<br />
Paixão é monólogo.<br />
Amor é diálogo.<br />
Paixão v<strong>em</strong> do mundo.<br />
Amor v<strong>em</strong> de Deus.<br />
A paixão vê as cores da primavera.<br />
O amor vê: as flores da primavera,<br />
o sol do verão, o frio do inverno,<br />
os frutos do outono.<br />
Amar é estar apaixonado.<br />
É estar encantado com a vida,<br />
sendo a vida você.<br />
É encarar os conflitos<br />
junto com você.<br />
É estar agradecido por<br />
reconhecer <strong>em</strong> você a graça.<br />
É respeitar o <strong>seu</strong> limite,<br />
tornando-lhe única e eterna.<br />
É poder saber que da minha ilusão<br />
consegui tornar você real.<br />
112
É sentir sua ausência<br />
E pedir que fique.<br />
É ver meu eu <strong>em</strong> você<br />
E sentir que somos nós e que<br />
tudo é nosso.<br />
É parar no t<strong>em</strong>po... no espaço...<br />
No pensamento... e ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />
Renovar... criar...<br />
É estar escravizado <strong>em</strong> você<br />
e sentir-se livre para lhe amar.<br />
É estar cego para um outro<br />
relacionamento por ter certeza que<br />
você é o meu horizonte que se abre.<br />
É viver sonhando com nossa realização.<br />
É ter medo de lhe perder devido<br />
a confiança que tenho <strong>em</strong> <strong>seu</strong> amor.<br />
É sentir-me atraído pelo <strong>seu</strong> corpo<br />
como parte íntegra do <strong>seu</strong> espírito,<br />
da sua forma de ser.<br />
É dizer a mim mesmo como eu lhe amo,<br />
e por isso o quanto quero lhe falar.<br />
É ver o mundo como um presente imenso<br />
que Deus nos deu para nele vivermos o amor.<br />
113
É viver todas as estações do ano<br />
com o colorido da primavera.<br />
É dizer a você que estou apaixonado<br />
por que lhe amo.<br />
114
O sonho de Moisés<br />
- Felipe acorda novamente com uma música de<br />
Emanuel que alegr<strong>em</strong>ente cantava:<br />
Irmão sol com irmã luz, trazendo o dia pela mão<br />
Irmão céu de intenso azul a invadir o coração, Aleluia!<br />
Irmãos, minhas irmãs, vamos cantar nesta manhã,<br />
Pois, renasceu mais uma vez, a criação das mãos de Deus.<br />
Irmãos, minhas irmãs, vamos cantar, aleluia, aleluia,<br />
aleluia!<br />
Minha irmã, terra que ao pé dá segurança de chegar<br />
Minha irmã, planta que está suav<strong>em</strong>ente a respirar, aleluia!<br />
Irmã flor que mal se abriu fala do amor que não t<strong>em</strong> fim<br />
Água irmã que nos refaz e sai do chão cantando assim:<br />
Aleluia!<br />
Passarinhos, meus irmãos, com mil canções a ir e vir<br />
Homens, todos, meus irmãos, que nossa voz se faça ouvir:<br />
Aleluia<br />
- Mais uma bonita música. Com certeza de mais<br />
um amigo. Disse Felipe.<br />
115
- É uma das minhas preferidas para cantar de<br />
manhã. E não é um novo amigo é do Francisco também.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Qu<strong>em</strong> foi Francisco? Parece gostar tanto dele?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Franscisco morava <strong>em</strong> Assis era um jov<strong>em</strong> rico e<br />
abandonou tudo para acolher os pobres. Como gostava de<br />
dizer: “unindo-se à irmã pobreza”. Apareceram sobre <strong>seu</strong><br />
corpo as cincos chagas de Jesus. Disse Emanuel.<br />
- O Centro Comunitário que Lúcia faz parte<br />
chama-se São Francisco. Disse Felipe.<br />
- Felipe agora precisamos ir para O monte Horeb.<br />
Disse Emanuel.<br />
Felipe então viu à sua frente abrir-se uma porta<br />
cujo nome era Êxodo.<br />
Ao chegar<strong>em</strong> no local num gesto que mais tarde<br />
Felipe entendeu como simbólico e respeitoso, Emanuel<br />
abaixou-se e tirou suas sandálias dos pés. Felipe ao<br />
observar tal gesto fez o mesmo, tirou <strong>seu</strong> tênis e sua meia<br />
e ficou descalço.<br />
- Onde estamos? Perguntou Felipe.<br />
- Na montanha Horeb. Falou Emanuel.<br />
116
Felipe.<br />
- E o que vai acontecer aqui? Ansioso perguntou<br />
- Daqui a pouco chegará Moisés que está<br />
apascentando o rebanho de <strong>seu</strong> sogro Jetro. Disse Emanuel<br />
- Qu<strong>em</strong> é Moisés? Al<strong>em</strong> de ser <strong>seu</strong> amigo é claro.<br />
Perguntou Felipe com a expectativa de que haveria ali<br />
mais uma experiência forte de Deus.<br />
- Moisés é um hebreu. Foi educado <strong>em</strong> um palácio.<br />
Entregue por sua mãe à filha de Faraó, para que não o<br />
matass<strong>em</strong> quando criança. Disse Emanuel.<br />
- Eu já ouvi falar de Faraó, fica no Egito. Mas<br />
porque tentaram matar Moisés? Perguntou Felipe.<br />
- Na verdade tentaram matar as crianças dos<br />
hebreus porque estavam multiplicando o povo e Faraó teve<br />
medo que o número elevado deste povo, que é escravo no<br />
Egito, pudesse ter força para alcançar a libertação. E por<br />
isso mandou matar as criançinhas.<br />
- Eu conheço esta história, agora me l<strong>em</strong>brei,<br />
assisti um filme que mostrou esta história. T<strong>em</strong> as dez<br />
pragas, o mar que se abriu e o povo entrou por ele e depois<br />
ficaram quarenta anos andando pelo deserto à busca da<br />
terra prometida. Disse Felipe.<br />
117
- É isso mesmo Felipe esta saída do povo do Egito<br />
para a terra prometida é conhecido como êxodo. E Moisés<br />
depois de adulto teve que sair fujido de lá pois matou um<br />
guarda Egípcio, pois este estava maltratando um hebreu.<br />
Disse Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- Em que parte desta história estamos? Perguntou<br />
Neste momento diante dos olhos de Felipe viu uma<br />
moita pegando fogo e sobre ela um anjo. Se aproxima<br />
então um hom<strong>em</strong> que deixa <strong>seu</strong> rebanho e vai para perto<br />
da moita. Tal espetáculo chamou a atençao de Moisés que<br />
observava extasiado tal maravilha.<br />
chamou:<br />
Então do meio da moita ouviu uma voz que lhe<br />
- Moisés! Moisés!<br />
- Eis me aqui! Respondeu ele.<br />
Neste momento Felipe sentiu indigno de estar<br />
naquele solo. Sentiu um tipo de t<strong>em</strong>or e percebeu que<br />
Moisés também sentia a mesma coisa que ele. O rosto de<br />
Moisés mostrava <strong>seu</strong> medo diante do que presenciava. E a<br />
voz continou:<br />
- Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos<br />
teus pés, porque o lugar <strong>em</strong> que te encontras é uma terra<br />
118
santa. Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de<br />
Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó.<br />
Tanto Felipe quanto Moisés escondeu o rosto e não<br />
ousava olhar para Deus. E Deus continuou:<br />
- Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no<br />
Egito, e ouvi <strong>seu</strong>s clamores por causa dos <strong>seu</strong>s opressores.<br />
Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para<br />
fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma<br />
terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do<br />
heteu, e do amorreu, e do perizeu, e do heveu, e do<br />
jebu<strong>seu</strong>. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel é<br />
vindo a mim, e também tenho visto a opressão com que os<br />
egípcios os oprim<strong>em</strong>. V<strong>em</strong> agora, pois, e eu te enviarei a<br />
Faraó para que tires o meu povo do Egito.<br />
Então Moisés disse a Deus:<br />
- Qu<strong>em</strong> sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os<br />
filhos de Israel?<br />
E Deus disse:<br />
- Certamente eu serei contigo; e isto te será por<br />
sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado este<br />
povo do Egito, servireis a Deus neste monte.<br />
Então disse Moisés a Deus:<br />
119
- Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes<br />
disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me<br />
disser<strong>em</strong>: Qual é o <strong>seu</strong> nome? Que lhes direi?<br />
E disse Deus a Moisés:<br />
- EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás<br />
aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.<br />
Neste momento Emanuel coloca a mão sobre os<br />
ombros de Felipe e diz:<br />
- Partimos daqui! Coloque <strong>seu</strong> calçado e vamos.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Pensei que iríamos andar pelo deserto e ver todas<br />
as pragas e conhecer o Egito de perto? Falou<br />
decepcionado Felipe.<br />
- Isso você pode assistir <strong>em</strong> um filme! Por<br />
enquanto é importante saber como começou a história do<br />
êxodo e senti-la pessoalmente. Disse Emanuel e concluiu<br />
perguntando:<br />
- Então o que você experimentou hoje?<br />
- Hoje é um t<strong>em</strong>po propício para experiências, se<br />
eu não as viver agora o hoje não existirá mais. Disse<br />
Felipe l<strong>em</strong>brando-se do que aprendera com Emanuel sobre<br />
a importância de viver o agora.<br />
120
completou:<br />
- <strong>Bom</strong> Discípulo. Disse Emanuel satisfeito. E<br />
- Então o que sentiu?<br />
Felipe tinha consciência que Emanuel sabia o que<br />
sentia, mas que o fazia externar <strong>seu</strong>s sentimentos, pois é<br />
como se acendesse a chama da compreensão dentro de si e<br />
principalmente a tomada de consciência do que havia<br />
acontecido. Além do mais ao comentar iniciava-se um<br />
mergulho profundo no entendimento das coisas do Reino<br />
de Deus que a cada experiência se revelava mais perto do<br />
que imaginava.<br />
- Tive a sensação de querer ficar ali no monte<br />
Horeb pelo resto da minha vida olhando a sarça ardente.<br />
Era maravilhoso ver aquilo arder no fogo e não se<br />
queimar. Mas não tanto pela cena <strong>em</strong> si, mas pela presença<br />
de Deus naquele lugar. Toda vez que vejo sua<br />
manifestação tenho vontade de não partir mais daquele<br />
lugar. Disse Felipe.<br />
- Haverá um lugar que definitivamente<br />
permanecerá e que jamais desejará sair.<br />
- É o Reino de Deus? Perguntou Felipe.<br />
- É o Reino dos Céus.<br />
121
- Meus pais dev<strong>em</strong> estar b<strong>em</strong> felizes por lá, fico<br />
tranqüilo <strong>em</strong> saber disso, pois aprendi que o melhor<br />
presente para desejar a alguém que amamos é a felicidade<br />
eterna. Disse Felipe <strong>em</strong> paz!<br />
- Para oferecer esta Felicidade eu dou a minha<br />
vida! Disse Emanuel. E voltando ao assunto anterior<br />
comentou:<br />
- Pois então, quando t<strong>em</strong>os experiências de Deus<br />
<strong>em</strong> nossa vida, geralmente quer<strong>em</strong>os ficar por toda vida<br />
nesta experiência. Esta experiência pode ser positiva ou<br />
negativa dependendo da atitude de qu<strong>em</strong> a descobriu.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Como assim? Como pode uma experiência<br />
Divina ser negativa? Perguntou Felipe quase que<br />
discordando.<br />
- Quando esta Experiência ou conhecimento leva<br />
as pessoas ao iluminismo descomprometido com o<br />
próximo. Quando a descoberta desta pessoa a leva olhar<br />
para o céu e se esquecer que <strong>seu</strong>s pés estão na terra.<br />
Sonhar é muito bom e importante. Permanecer somente no<br />
sonho é perigoso. A realização de um sonho se faz quando<br />
aquele que sonha t<strong>em</strong> os pés no chão. Olhos para o céu e<br />
pés firmes na terra. Para que um sonho se concretize é<br />
122
necessário desejar a sua realização. Realiza um sonho<br />
qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> medo de errar ou agir. Todo sonho leva a<br />
pessoa a se arriscar, por isso quando alguém sonha, mas<br />
não leva <strong>em</strong> conta as consequências do <strong>seu</strong> sonho pode se<br />
machucar. Esta ferida se chama ilusão. Disse Emanuel.<br />
- Quando diferenciar se um sonho é válido ou não?<br />
Perguntou Felipe.<br />
Emanuel respondeu com uma poesia.<br />
Valeu a pena?<br />
Tudo vale a pena<br />
Se a alma não é pequena.<br />
Qu<strong>em</strong> quer passar além do Bojador<br />
T<strong>em</strong> que passar além da dor.<br />
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,<br />
Mas nele é que espelhou o céu.<br />
- Fernando Pessoa! Disse Felipe.<br />
- Vejo que realmente gosta de poesias. Pois então<br />
quando o desejo de <strong>seu</strong> sonho é um b<strong>em</strong> maior, é um<br />
desejo divino pode ter certeza que os céus e o universo<br />
conspirarão para que se realize. O que cabe ao sonhador é<br />
123
acreditar e realizar. O que cabe aos céus é iluminar e<br />
enviar. Disse Emanuel.<br />
sorrindo.<br />
- Eu quero ter um sonho divino! Disse Felipe<br />
- Se quer, se deseja do fundo do coração ele<br />
acontecerá. Mas nunca se esqueça que sonhar é andar por<br />
terras desconhecidas onde existe a ilusão, a dor, o cansaço,<br />
a incompreensão, as dúvidas, as renúncias, o medo, a<br />
solidão...<br />
Felipe interrompe Emanuel e diz:<br />
- T<strong>em</strong> que passar além da dor. Deus ao mar o<br />
perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.<br />
- Justamente Felipe. A mãe durante nove meses<br />
sente o incômodo de carregar um filho no ventre. No parto<br />
sente a dor. Mas o sonho e amor pelo bebê faz<strong>em</strong> com que<br />
tudo isso seja superado. O sonho é um parto cujo bebê é a<br />
realização.<br />
- A visão do céu apaga todo sofrimento. Disse<br />
ainda Emanuel.<br />
- Esquec<strong>em</strong>os a sarça ardente? Disse Felipe<br />
querendo entender o que aconteceu no monte Horeb.<br />
- Não, Felipe! Estamos justamente falando dela. A<br />
sarça ardente é muito bonita, é como o amor de Deus,<br />
124
queima o interior, mas s<strong>em</strong> consumir o que você é. Deus<br />
não viola a identidade e n<strong>em</strong> a liberdade humana.<br />
Simplesmente o leva ao encontro daquilo que você<br />
realmente é; a sua orig<strong>em</strong>, o <strong>seu</strong> existir e o <strong>seu</strong> fim. Por<br />
isso você se sentiu b<strong>em</strong> ali. Pois quando Deus se manifesta<br />
tudo fica claro. É impossível alguém se sentir mal diante<br />
de Deus. A não ser que?...<br />
- Quê? Perguntou Felipe afoito.<br />
- Que você fique só querendo olhar para sarça<br />
ardente. Então o que parece ser um sonho maravilhoso<br />
torna-se um pesadelo, leva ao fanatismo, ao julgamento,<br />
torna a pessoa um falso moralista e dono absoluto das<br />
verdades divinas. Então o que deveria ser um sinal da<br />
presença de Deus, transforma-se <strong>em</strong> escândalo. Disse<br />
Emanuel de forma séria e decidida.<br />
- É o fanatismo que leva as pessoas a matar <strong>em</strong><br />
nome de Deus. Outras julgam que são os únicos santos e<br />
outros parec<strong>em</strong> que falam mais do inferno do que do céu.<br />
Disse Felipe.<br />
- Justamente. Disse Emanuel. E acrescentou:<br />
- Pior que fazer de Deus a sua imag<strong>em</strong> e<br />
s<strong>em</strong>elhança é profanar a imag<strong>em</strong> de Deus na vida das<br />
pessoas. Há muitos que anunciam um deus que não existe.<br />
125
Falam de um deus carrasco. Falam de um deus de<br />
prosperidade apenas. Falam de um deus distante. Falam de<br />
um deus indiferente.<br />
126
desculpas<br />
Felipe.<br />
- Moisés entendeu isso <strong>em</strong> sua vida? Perguntou<br />
- Sim, mas custou um pouco para Deus convencê-<br />
lo. Disse Emanuel sorrindo.<br />
Emanuel.<br />
- Como assim? Perguntou Felipe.<br />
- Ele tentou esquivar-se do chamado. Disse<br />
- Pudera, pensa b<strong>em</strong> Moisés ir até o Faraó e diante<br />
de <strong>seu</strong> povo e dizer que o “Eu Sou” mandou ele ali para<br />
libertar <strong>seu</strong> povo? Com um nome estranho desse?<br />
Emanuel riu-se da espontaneidade e sinceridade de<br />
Felipe. E disse:<br />
Moisés.<br />
- Felipe na verdade Deus não deu um nome a<br />
- Não! Perguntou Felipe com a convicção de que<br />
ouviu este nome.<br />
um nome.<br />
Emanuel.<br />
- Ele disse que existia! Apenas isso! Deus não t<strong>em</strong><br />
- Como assim?<br />
- Por que <strong>seu</strong> pai lhe deu um nome? Perguntou<br />
127
- Para me identificar. Disse Felipe.<br />
- Identificar ou diferenciar do que?<br />
- De outras pessoas, uai!<br />
- Pois então! Não é o caso de Deus. Não exist<strong>em</strong><br />
outros deuses. Ele é o único. Se desse um nome a Moisés<br />
estava dizendo indiretamente que entre os deuses ele era o<br />
fulano de tal. Entende! Se existe um só Deus não há<br />
necessidade de identificar-se ou diferenciar-se. Ele disse<br />
que existe e que está presente.<br />
- Legal! Difícil é relacionar com alguém que não<br />
t<strong>em</strong> nome. Disse Felipe.<br />
- Pior é se relacionar com alguém que não existe!<br />
Ao não deixar que Moisés rotulasse <strong>em</strong> Deus uma imag<strong>em</strong><br />
falsa do que ele realmente é faz com que nós relacionamos<br />
com a verdadeira imag<strong>em</strong> de Deus. Disse Emanuel.<br />
- Qual é então a verdadeira imag<strong>em</strong> de Deus?<br />
Perguntou Felipe meio que tentando achar uma solução<br />
para poder falar com Deus.<br />
confuso.<br />
- Ele é aquele que é. “Eu sou”. Disse Emanuel.<br />
- Meu Deus! Exclamou Felipe ainda um pouco<br />
Emanuel rindo-se disse:<br />
128
- Então vocês fizeram isso para poder definir Deus,<br />
já que vocês têm dificuldades <strong>em</strong> tratar com coisas<br />
superiores.<br />
- Isso o que? Perguntou Felipe.<br />
- Chamar “Aquele que é” de Deus ou Senhor!<br />
Disse Emanuel.<br />
- E o que Deus é? Felipe n<strong>em</strong> sabia mais por que<br />
fez esta pergunta.<br />
Emanuel.<br />
- Deus é amor! E qu<strong>em</strong> ama permanece nele. Disse<br />
- Voltando ao assunto anterior, porque Moisés<br />
tentou esquivar-se? Felipe perguntou para dar<br />
continuidade ao mesmo assunto e conformado com a<br />
última definição de Deus, o Amor!<br />
- A maioria das pessoas que ader<strong>em</strong> ou acham que<br />
aderiram ao Reino de Deus ficam parado diante da sarça<br />
ardente. Disse Emanuel.<br />
- Como assim? Perguntou Felipe.<br />
- Esta fronteira entre a santidade e o desejo é onde<br />
a maioria pára e prefere não prosseguir o caminho. A<br />
maioria morre na fronteira da santidade. Olham a terra da<br />
santidade, sab<strong>em</strong> como chegar lá, mas prefer<strong>em</strong> viver na<br />
129
ilusão da admiração alienante da sarça que arde, mas não<br />
consome.<br />
- Quando assisti ao filme de Moisés ele morreu na<br />
fronteira de Canaã. Não experimentou a terra prometida. É<br />
como se ele depois de tudo o que fez, depois de ir além do<br />
deserto e enfrentado a murmuração do povo e a<br />
perseguição do Egito morresse na praia. Achei muito triste<br />
esta história e perguntei como Deus poderia permitir<br />
aquilo para um hom<strong>em</strong> como Moisés? Disse Felipe<br />
indignado.<br />
- Felipe! Pode ter a certeza que Moisés foi muito<br />
além do deserto. Diria que ele foi mais além!<br />
- Ele viu o Reino de Deus?<br />
- Viu o Reino de Deus e o Reino dos Céus. Não<br />
merecia continuar ouvindo as murmurações do povo <strong>em</strong><br />
Canaã e ver o que aconteceu depois que o povo entrou <strong>em</strong><br />
Canaã. O povo pecou, esqueceu-se de tudo que havia<br />
passado no deserto e cometeu erros e absurdos diante de<br />
Deus. Disse Emanuel.<br />
- Somos assim, viv<strong>em</strong>os errando, agindo como<br />
crianças inocentes e ao mesmo t<strong>em</strong>po arteiras. Somos<br />
infantis. T<strong>em</strong>os medo de amadurecer. De viver feliz.<br />
T<strong>em</strong>os medo da realização. Somos irresponsáveis. T<strong>em</strong>os<br />
130
dificuldades de enxergar o essencial. Quando as<br />
consequências chegam então choramos, esperneamos. É<br />
incrível como só assim abaixamos a crista e humilhamos.<br />
Disse Felipe.<br />
- É o Êxodo Felipe! O t<strong>em</strong>po todo o hom<strong>em</strong> está<br />
saindo de situações que ele próprio cria. É a passag<strong>em</strong> da<br />
morte para a vida. É a Páscoa! E quando se trata do<br />
hom<strong>em</strong> é um círculo vicioso de idas e vindas. De<br />
conversão e pecado. De acertos e erros. Disse Emanuel<br />
- Esta é a humanidade! Disse Felipe.<br />
- Que Deus tanto ama! Disse Emanuel.<br />
- Sorte nossa! Que existe Alguém como Deus, que<br />
t<strong>em</strong> paciência e que confia <strong>em</strong> nós. Disse Felipe<br />
consolado.<br />
- Como pod<strong>em</strong>os viver Deus realmente então?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- É deixar que o fogo do amor de Deus queime <strong>seu</strong><br />
interior e que consuma sua vida doando-se ao Reino de<br />
Deus. Consumir sua vida a Deus é entregar-se a Ele e ao<br />
<strong>seu</strong> chamado, servindo a qu<strong>em</strong> mais precisa. Este<br />
consumir não significa morrer, mas viver algo que vale a<br />
pena. O que pro mundo parece ser derrota, fracasso,<br />
loucura é a força divina que existe <strong>em</strong> você. Pois a loucura<br />
131
de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de<br />
Deus é mais forte do que os homens. Quando você assim<br />
viver perderá o sossego, mas encontrará a Paz. Afirmou<br />
Emanuel.<br />
Emanuel.<br />
- A maioria das pessoas quer sossego. Disse Felipe.<br />
- E por isso não t<strong>em</strong> sossego e n<strong>em</strong> paz! Disse<br />
- Você disse que Moisés teve dificuldades para<br />
aceitar? Aceitar o que?<br />
- Quando Moisés viu Deus na sarça ardente qual<br />
foi a ord<strong>em</strong> de Deus a ele? Perguntou Emanuel.<br />
Moisés:<br />
- Libertar <strong>seu</strong> povo! Disse Felipe.<br />
Emanuel então repetiu as palavras de Deus a<br />
- Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no<br />
Egito, e ouvi <strong>seu</strong>s clamores por causa dos <strong>seu</strong>s opressores.<br />
Emanuel continuou dizendo:<br />
- V<strong>em</strong> agora, pois, e eu te enviarei a Faraó para que<br />
tires o meu povo do Egito.<br />
E comentou por fim:<br />
- Pode ter a certeza Felipe que estar à frente da<br />
sarça ardente é mais cômodo que libertar o povo da<br />
escravidão. Lidar com gente é s<strong>em</strong>pre um desafio muito<br />
132
grande. Porém é b<strong>em</strong> mais compensador do que estar à<br />
frente da sarça ardente. Desde que você não espere<br />
reconhecimento, resultados dos homens e sim de Deus.<br />
- Poxa vida: o mar se abrindo, a sarça acesa, as<br />
pragas eram as partes deste filme que eu mais gostava.<br />
Disse Felipe com cara de coitado.<br />
- Mas o Reino de Deus é feito de sinais<br />
extraordinários também. Disse Emanuel e <strong>em</strong>endou:<br />
<strong>em</strong>ocionou?<br />
- Porém qual foi o momento que mais lhe<br />
- Felipe ficou um pouco pensativo e respondeu:<br />
- Na hora que o povo estava na outra marg<strong>em</strong> livre<br />
do exército e da escravidão.<br />
- Pois b<strong>em</strong>! A liberdade foi conquistada não pelo<br />
comodismo e sim pela ação e pela luta. Acreditaram no<br />
<strong>seu</strong> potencial e capacidade e por isso venceram o exército<br />
de Faraó.<br />
Felipe pensou no povo que morava no morro.<br />
Muitas vezes parecia que o povo acomodava e aceitava a<br />
situação. Quantas vezes ele se sentia envergonhado de<br />
dizer que morava ali no morro. Ele e Bianca diziam que<br />
<strong>seu</strong>s sonhos era casar<strong>em</strong> e sair dali. Moisés poderia ter se<br />
acomodado no palácio de Faraó ou então na vidinha ao<br />
133
lado da mulher e do sogro, porém lutou pela liberdade de<br />
<strong>seu</strong> povo.<br />
Emanuel disse:<br />
- Tudo isto aconteceu com oração, intercessão e<br />
principalmente com a fé de qu<strong>em</strong> soube sonhar o sonho de<br />
Deus na vida deste povo.<br />
- Você disse que Moisés tentou esquivar-se? Disse<br />
Felipe ainda insistindo neste assunto.<br />
- Sim Felipe, Ele usou de três desculpas que todos<br />
os homens usam para esquivar-se da vontade de Deus <strong>em</strong><br />
sua vida. Disse Emanuel.<br />
- Quais foram? Perguntou Felipe agora sentindo<br />
que a resposta definitivamente seria respondida.<br />
- A primeira desculpa foi:<br />
“Eles não me crerão, n<strong>em</strong> me ouvirão e vão dizer<br />
que o Senhor não me apareceu”.<br />
Disse Felipe.<br />
- A velha desculpa <strong>em</strong> jogar a culpa <strong>em</strong> alguém!<br />
- O verdadeiro líder convence e motiva <strong>seu</strong> povo e<br />
o péssimo líder o culpa para esconder sua própria<br />
covardia. Disse Emanuel.<br />
- Qual foi a solução achada por Deus a Moisés para<br />
convencê-lo desta primeira desculpa? Perguntou Felipe.<br />
134
- Disse que sinais o acompanhariam <strong>em</strong> sua missão<br />
e deu alguns ex<strong>em</strong>plos práticos destes sinais, como por<br />
ex<strong>em</strong>plo, um cajado tornar-se serpente, uma cura de lepra,<br />
e águas do rio Nilo transformada <strong>em</strong> sangue. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Nossa! Então isso funcionou?<br />
- Se sinais funcionass<strong>em</strong> Felipe, o mundo inteiro<br />
viveria o Reino de Deus, pois os sinais estão o t<strong>em</strong>po todo<br />
acontecendo e n<strong>em</strong> por isso são suficientes para que os<br />
homens entendam e creiam <strong>em</strong> Deus.<br />
- E a segunda desculpa? Perguntou Felipe.<br />
- Moisés disse: “Ah, Senhor! Eu não tenho o dom<br />
da palavra; nunca o tive, n<strong>em</strong> mesmo depois que falastes<br />
ao vosso servo; tenho a boca e a língua pesadas”.<br />
- É mesmo! Moisés era gago. Disse Felipe<br />
l<strong>em</strong>brando o filme.<br />
Emanuel.<br />
- Então quando a culpa não é do outro, é de Deus.<br />
- Como assim? Perguntou Felipe.<br />
- Qu<strong>em</strong> dá o dom de falar a alguém? Falou<br />
- É verdade. Respondeu Felipe.<br />
- As pessoas que não quer<strong>em</strong> comprometer-se com<br />
o Reino de Deus geralmente diz<strong>em</strong> que não t<strong>em</strong><br />
135
capacidade Qu<strong>em</strong> distribui os dons? Entende. Quando<br />
Deus falou para Adão porque ele tinha comido do fruto<br />
proibido ele disse: “A mulher que o Senhor colocou ao<br />
meu lado me fez fazer isso.” Pronto! Deus era o culpado.<br />
Existe muita gente que faz este tipo de jogo com Deus.<br />
Mas não sab<strong>em</strong> que estão enganando a si próprios.<br />
Também não imaginam quantas pessoas deixam de<br />
encontrar a libertação da escravidão pelas suas omissões.<br />
Deus cobrará os talentos que deu a cada um.<br />
Felipe.<br />
- O que Deus respondeu a Moisés? Perguntou<br />
- “Vai, pois, eu estarei contigo quando falares, e<br />
ensinar-te-ei o que terás a dizer”. Em outras palavras a<br />
obra é minha eu farei acontecer. De ti eu espero apenas o<br />
<strong>seu</strong> sim.<br />
- E a terceira desculpa? Perguntou Felipe.<br />
- A terceira desculpa foi jogar a responsabilidade<br />
para outra pessoa. Moisés disse: “Ah! Senhor! Mandai<br />
qu<strong>em</strong> quiserdes!<br />
- Tirar o corpo fora. Disse Felipe.<br />
- Sim. Ou seja, eu não tenho nada a ver com isso. É<br />
assim que as pessoas ag<strong>em</strong>. O probl<strong>em</strong>a não é meu! Não<br />
sab<strong>em</strong> que a injustiça e a falta de amor também de certa<br />
136
forma o atingirão. Um <strong>em</strong>purra para o outro a<br />
responsabilidade. Em certas ocasiões diz<strong>em</strong>: “Eu não<br />
tenho este dom que você t<strong>em</strong>.” Não assum<strong>em</strong> e não<br />
ajudam qu<strong>em</strong> assume.<br />
- E Deus o que disse desta vez?<br />
- Se irritou! Disse Emanuel. E continuou:<br />
- Deus se irrita com a hipocrisia daqueles que<br />
deveriam ajudar a libertar o povo mais sofrido, mas são<br />
omissos. O pecado da omissão é um dos piores que um ser<br />
humano pode ter.<br />
Felipe então entendeu a lição do dia e sentia nesta<br />
nova experiência a vontade de realizar algo que estivesse<br />
<strong>em</strong> <strong>seu</strong> alcance e que Deus lhe confiaria. L<strong>em</strong>brou-se que<br />
certa vez estava no Centro Comunitário e Lúcia lhe pediu<br />
que ajudasse lá. Ele disse pra Lúcia que não tinha o dom<br />
que ela tinha. Disse também que o povo dali era<br />
acomodado e que havia gente melhor que ele para ajudá-<br />
la.<br />
Então disse Felipe a Emanuel:<br />
- Eu s<strong>em</strong>pre admirei Lúcia e <strong>seu</strong> trabalho, mas<br />
nunca consegui me colocar a disposição para ajudá-la.<br />
Achei que ela possuía ajuda do poder público e que<br />
<strong>em</strong>presários colaboravam com o trabalho <strong>seu</strong>. Um dia me<br />
137
disse que a ajuda vinha da Providência de Deus. Ela<br />
s<strong>em</strong>pre repetia: Deus Provê, Deus Proverá, Para aquele<br />
que crê nada faltará. Ela dizia que eles eram um grupo de<br />
pessoas que possuíam suas famílias e suas preocupações,<br />
mas que repartiam suas vidas com as pessoas lá do morro.<br />
Falou-me que geralmente as pessoas mais simples é que<br />
ajudavam a obra. O trabalho dela é muito bonito. Não faz<br />
acepção de pessoas e credo. Acolh<strong>em</strong> todos e percebo que<br />
t<strong>em</strong> um amor e preocupação muito grande com a vida da<br />
gente. Depois de meu pai ela foi a segunda pessoa que<br />
mais me amou. Disse Felipe muito <strong>em</strong>ocionado.<br />
- Deus ama muito Lúcia e todo aquele povo. No<br />
mundo há poucas pessoas que se preocupam <strong>em</strong> doar a<br />
vida ou ajudar qu<strong>em</strong> precisa. Poucos que anunciam o<br />
Reino de Deus. Poucos são os que enxergam além do<br />
deserto. Mas este pouco é como um grão de mostarda,<br />
assim é o Reino de Deus, e como suas atitudes são divinas,<br />
possu<strong>em</strong> uma força tão grande, que como a s<strong>em</strong>ente de<br />
mostarda, torna-se uma enorme árvore, onde meus filhos<br />
prediletos e sofridos se assentam e desfrutam da sombra<br />
desta árvore. Pode ter certeza de uma coisa Felipe, Lúcia<br />
escolheu a melhor parte e não lhe será tirada. Qu<strong>em</strong> muito<br />
ama, muito será amada no Reino dos Céus.<br />
138
- Para viver o Reino de Deus t<strong>em</strong> que ser como a<br />
Lúcia? T<strong>em</strong> que estar num lugar assim? Perguntou Felipe.<br />
Emanuel.<br />
- O Reino de Deus acontece aonde há amor! Disse<br />
- Onde a alma não é pequena. Disse Felipe.<br />
- Por isso são poucos que encontram este Reino.<br />
Mas a maioria que não enxergam não é maldade é que são<br />
condicionadas a pensar<strong>em</strong> e agir<strong>em</strong> com alma pequena.<br />
Por isso quando encontrar o Reino de Deus l<strong>em</strong>bre-se o<br />
que disse Teresa:<br />
Nada te perturbe<br />
Nada te espante<br />
Tudo passa,<br />
Só Deus não muda.<br />
A paciência<br />
Tudo alcança<br />
Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> a Deus,<br />
Nada lhe falta.<br />
Só Deus basta<br />
139
O sonho de Caleb e Josué<br />
Emanuel olhou carinhosamente para Felipe e<br />
percebeu que estava cansado. Então lhe disse:<br />
- Antes de irmos <strong>em</strong>bora daqui gostaria que<br />
presenciasse mais uma experiência. Percebo que você esta<br />
um pouco cansado.<br />
Felipe podia até estar cansado, mas estava a cada<br />
dia mais apaixonado pelas coisas de Deus e queria muito<br />
aprender e adquirir sabedoria. Pensava consigo mesmo,<br />
que queria estar preparado quando encontrasse o Reino de<br />
Deus.<br />
Então disse a Emanuel:<br />
- Não! Não estou cansado. Estou motivado <strong>em</strong><br />
encontrar este Reino, pois agora é o que me motiva a<br />
viver. Vamos eu quero seguir meu caminho, ou melhor, os<br />
caminhos de Deus. Para onde ir<strong>em</strong>os?<br />
- O Reino de Deus não se vive pela motivação, eis<br />
aí um perigo e uma armadilha para qu<strong>em</strong> caminha por ele.<br />
O Reino de Deus se vive pela fé. E nós vamos para a<br />
fronteira de Canaã. Disse Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- Minha nossa! Eu verei a terra prometida! Disse<br />
140
- Não se <strong>em</strong>polgue tanto, pois a beleza do lugar<br />
está na liberdade e na vitória de uma conquista. N<strong>em</strong> tanto<br />
pelo lugar. É justamente isso que vai aprender ali a olhar<br />
com os olhos da fé. Assim quando encontrar o Reino de<br />
Deus possa enxergar nele toda a beleza que possui. Disse<br />
Emanuel rindo.<br />
Emanuel parou perto de um lago para que se<br />
banhass<strong>em</strong>. E depois se alimentaram. Então partiram para<br />
Canaã.<br />
Enquanto eles caminhavam, Emanuel cantou uma<br />
música divertida que <strong>em</strong>polgou Felipe também. Eles<br />
cantavam:<br />
Caminhando eu vou para Canaã<br />
Oi, glória a Deus, caminhando eu vou para Canaã.<br />
Se você não vai, não me impeça de ir<br />
Oi, glória a Deus, caminhando eu vou para Canaã.<br />
Eu tenho um lar lá <strong>em</strong> Canaã<br />
Oi, glória a Deus, caminhando eu vou para Canaã.<br />
Você t<strong>em</strong> um lar lá <strong>em</strong> Canaã<br />
Oi, glória a Deus, caminhando eu vou para Canaã.<br />
141
Chegaram ao deserto de Farã e então Felipe<br />
observou que Moisés estava selecionando alguns homens<br />
que eram príncipes <strong>em</strong> Israel. Eram ao todo doze homens<br />
representando as doze tribos de Israel. E deu a seguinte<br />
ord<strong>em</strong>:<br />
- Ide pelo Negeb e subi a montanha. Examinai que<br />
terra é essa, e o povo que a habita, se é forte ou fraco,<br />
pequeno ou numeroso. Vede como é a terra onde habita, se<br />
é boa ou má, e como são suas cidades, se muradas ou s<strong>em</strong><br />
muros; examinai igualmente se o terreno é fértil ou estéril,<br />
e se há árvores ou não. Corag<strong>em</strong>! E trazei-nos dos frutos<br />
da terra.<br />
a Moisés:<br />
Passados quarenta dias voltaram bravos e disseram<br />
- Fomos à terra aonde nos enviastes. É<br />
verdadeiramente uma terra onde corre leite e mel, como se<br />
pode ver por esses frutos. Mas os habitantes dessa terra<br />
são robustos, suas cidades grandes e b<strong>em</strong> muradas; vimos<br />
ali até mesmo filhos de Enac.<br />
Caleb fez calar o povo que começava a murmurar<br />
contra Moisés e disse:<br />
- Vamos e apoder<strong>em</strong>o-nos da terra, porque<br />
pod<strong>em</strong>os conquistá-la.<br />
142
Mas os outros que tinham ido com ele, diziam:<br />
- Não somos capazes de atacar esse povo; é mais<br />
forte do que nós.<br />
E diante dos filhos de Israel depreciaram a terra<br />
que tinham explorado:<br />
- A terra que exploramos devora os <strong>seu</strong>s habitantes:<br />
os homens que vimos ali são de uma grande estatura;<br />
vimos até mesmo gigantes, filhos de Enac, da raça dos<br />
gigantes: parecíamos gafanhotos comparados com eles.<br />
Toda a ass<strong>em</strong>bléia pôs-se a gritar e chorou aquela<br />
noite. Todos murmuravam contra Moisés e Aarão dizendo:<br />
- Oxalá tivéss<strong>em</strong>os morrido no Egito ou neste<br />
deserto! Escolh<strong>em</strong>os um chefe e volt<strong>em</strong>os para o Egito.<br />
Caleb e Josué rasgaram suas vestes e disseram:<br />
- A terra que percorr<strong>em</strong>os é muito boa. Se o Senhor<br />
nos for propício, introduzir-nos-á nela e no-la dará, é uma<br />
terra onde corre o leite e mel. Somente não vos revolteis<br />
contra o Senhor, e não tenhais medo do povo dessa terra,<br />
devorá-lo-<strong>em</strong>os como pão. Não há mais salvação para<br />
eles, porque o Senhor está conosco. Não tenhais medo<br />
deles.<br />
143
Toda a ass<strong>em</strong>bléia estava a ponto de apedrejá-los,<br />
quando a glória do Senhor apareceu sobre a Tenda de<br />
Reunião a todos os israelitas. O Senhor disse a Moisés:<br />
- Até quando me desprezará este povo? Até quando<br />
não acreditarão <strong>em</strong> mim, apesar de todos os prodígios que<br />
fiz no meio dele?<br />
Neste momento diante dos olhos de Felipe tudo<br />
dissipou. E ele e Emanuel agora estavam sentados <strong>em</strong><br />
baixo de árvore e à sua frente um cesto cheio de frutas:<br />
cachos de uvas, figos, romãs e <strong>em</strong> um recipiente o mel.<br />
Felipe estava atordoado com a rapidez dos acontecimentos<br />
que passaram diante de <strong>seu</strong>s olhos. Foi mais de quarenta<br />
dias <strong>em</strong> um piscar de olho. L<strong>em</strong>brou-se que Emanuel lhe<br />
falou para não se prender no t<strong>em</strong>po. Mas sua cabeça ainda<br />
rodava e a imag<strong>em</strong> que ficou foi do povo com as pedras<br />
nas mãos querendo apedrejar Moisés, Aarão <strong>seu</strong> irmão,<br />
Caleb e Josué.<br />
- Come das frutas. Elas são deliciosas. Disse<br />
Emanuel quebrando <strong>seu</strong>s pensamentos.<br />
- Nossa! Desta vez fiquei um pouco tonto diante da<br />
rapidez dos fatos ocorridos. Disse Felipe e pegando um<br />
cacho de uva.<br />
144
- Ainda diz<strong>em</strong> que Deus tarda, mas não falha.<br />
Disse Emanuel.<br />
rindo.<br />
- Imagino se Ele fosse mais rápido, disse Felipe<br />
- As pessoas quer<strong>em</strong> que <strong>seu</strong>s pedidos sejam<br />
ouvidos imediatamente, não t<strong>em</strong> paciência para esperar.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Quer<strong>em</strong>os imediatamente e do jeito nosso. Disse<br />
Felipe ainda l<strong>em</strong>brando o que aconteceu na fronteira de<br />
Canaã.<br />
- Sofre as d<strong>em</strong>oras de Deus, espera com paciência,<br />
humilha teu coração, não te perturbes no t<strong>em</strong>po da<br />
infelicidade, na dor, permanece firme, na humilhação t<strong>em</strong><br />
paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e<br />
a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo caminho da<br />
humilhação. Disse Emanuel<br />
- Não é fácil! Disse Felipe.<br />
- Quando não se t<strong>em</strong> paciência na vida se perde<br />
muitos momentos agradáveis e se faz muitos momentos<br />
desagradáveis. Disse Emanuel.<br />
- Abraão por não ter paciência fez um filho com a<br />
escrava. Disse Felipe.<br />
145
- Por falta de paciência, exist<strong>em</strong> muitos filhos<br />
machucados e carentes, muitas obras não completadas,<br />
muitas pessoas não convertidas, muitos sonhos desfeitos.<br />
Muitos pais tristes, muitas mulheres <strong>em</strong> solidão, muitos<br />
maridos cansado e principalmente muito t<strong>em</strong>po perdido. O<br />
hom<strong>em</strong> moderno corre o t<strong>em</strong>po todo e não alcança o<br />
objetivo maior, o que permanece. Qu<strong>em</strong> não sabe esperar<br />
corre s<strong>em</strong> alcançar. Qu<strong>em</strong> aprendeu a arte de esperar<br />
alcança no andar. E esperar <strong>em</strong> Deus é receber o que é<br />
necessário até quando dorme.<br />
- Às vezes penso que se meu pai tivesse trabalhado<br />
menos poderia aproveitar sua presença b<strong>em</strong> mais. Sei que<br />
fazia isso para um futuro melhor pra mim. Mas se<br />
tivéss<strong>em</strong>os passeado mais, brincado mais, dialogado mais<br />
acho que não seria tão ranzinza como eu era. De todas as<br />
dores que carreguei <strong>em</strong> minha vida, inclusive a ausência<br />
de minha mãe, o fato de meu pai estar vivo e eu não poder<br />
estar ao lado dele é pior dor. Pois agora lamento não ter<br />
aproveitado sua presença. Se ele soubesse que ia morrer<br />
com certeza teria trabalhado menos e ficado mais ao meu<br />
lado. Quando perguntei a Lúcia se ela soubesse que iria<br />
morrer o que faria? Surpreendi-me com sua resposta:<br />
“Continuaria fazendo o que faço.”<br />
146
Emanuel comentou:<br />
- A maioria das pessoas não pensaria assim. Ela<br />
carrega a certeza de que faz a vontade de Deus. Combati o<br />
bom combate. Viver para mim é Cristo, morrer é lucro.<br />
Assim já não sou qu<strong>em</strong> vive, mas Cristo vive <strong>em</strong> mim.<br />
- Qu<strong>em</strong> disse isso? Perguntou Felipe<br />
- Paulo meu amigo. E prosseguiu no assunto:<br />
- Os verdadeiros valores da vida se alcançam com<br />
paciência. Qu<strong>em</strong> se precipita perde o que há de melhor na<br />
vida.<br />
- Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> pressa come cru. Qu<strong>em</strong> espera<br />
alcança. Disse Felipe.<br />
- Mais importante que esperar é saber se vale a<br />
pena o que se espera. Disse Emanuel.<br />
- Se for uma espera nobre, eu imagino que o céu se<br />
movimenta todo para ajudar. Disse Felipe.<br />
- Pedi e recebereis. Justamente Felipe.<br />
- Por isso que muitas vezes não receb<strong>em</strong>os o que<br />
pedimos. Disse Felipe.<br />
- Vejo o caso do povo de Canaã. Não conquistaram<br />
a terra prometida, pois não souberam confiar e esperar a<br />
vontade de Deus. Disse Emanuel.<br />
147
- Como assim? O povo não entrou na terra<br />
prometida? Mas eu s<strong>em</strong>pre achei que Israel havia<br />
conquistado Canaã? Disse Felipe.<br />
- O povo de Israel conquistou sim, mas com uma<br />
geração nova. Os que tinham vinte anos para cima não<br />
entraram na terra prometida, morreram no deserto. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Nossa! Aquele povo que murmurava o t<strong>em</strong>po<br />
todo não desfrutou da liberdade de viver na terra da<br />
promessa?<br />
- Justamente! Por não possuír<strong>em</strong> a mentalidade de<br />
liberdade, foram reféns de si próprio e morreram no<br />
deserto da ignorância e da impaciência. Entrou uma<br />
geração nova com mentalidade nova na terra de Canaã.<br />
Com exceção de Caleb e Josué que pensavam com<br />
dignidade e com espírito de verdadeira liberdade. Assim é<br />
o Reino de Deus, só entra por ele qu<strong>em</strong> é livre. Disse<br />
Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- O que é ter pensamento de liberdade. Perguntou<br />
- Vejamos a atitude daquele povo na fronteira de<br />
Canaã. Disse Emanuel e prosseguiu:<br />
148
- Moisés escolheu doze homens representando as<br />
doze tribos para ser<strong>em</strong> espiões de Canaã, a terra<br />
prometida. Foram até a Terra e viram que a terra possuía<br />
cachos de uvas, romã, figos e leite e mel corriam pelo <strong>seu</strong><br />
território. Viram também os gigantes de Enac. Voltaram<br />
para Moisés e quais foram suas narrações e<br />
comportamento? Perguntou Emanuel.<br />
- Vieram revoltados com pedras nas mãos e<br />
queriam apedrejar a Moisés e <strong>seu</strong> irmão Aarão, também<br />
Caleb e Josué. Disse Felipe.<br />
- E queriam trocar de líder e voltar para a<br />
escravidão do Egito. Geralmente o povo escolhe líderes<br />
para escravizá-los. Comer cebola! Trabalhar como<br />
escravos naquele lugar. Em troca de um esforço<br />
t<strong>em</strong>porário de luta pela liberdade preteriam a escravidão<br />
para o resto das suas vidas. Isto é mentalidade de<br />
escravidão. Disse Emanuel.<br />
- Caleb e Josué discordaram deles e defenderam<br />
Moisés. Disse Felipe.<br />
- Sim! Por que possuíam pensamentos de<br />
liberdade. E por possuír<strong>em</strong> uma mentalidade de liberdade<br />
conseguiam enxergar b<strong>em</strong> mais longe que os outros.<br />
Enquanto os outros enfatizaram os gigantes de Enac, Josué<br />
149
e Caleb enfatizaram os cachos de uva, o leite e o mel que<br />
corriam naquele lugar, os figos e as romãs. Mas<br />
principalmente o que tinham de maior valor que era a<br />
presença do Senhor que os ordenou e ensinou-os a lutar<br />
por liberdade.<br />
- Por isso entraram <strong>em</strong> Canaã. Disse Felipe.<br />
- Sim! Por isso ao invés de valorizar o probl<strong>em</strong>a,<br />
gigantes de Enac, valorizaram o que tinham como maior<br />
que os gigantes de Enac. Se eles eram enormes, maior era<br />
<strong>seu</strong> Senhor e maior era o sonho que tinham de liberdade.<br />
Por isso enxergaram as frutas e o leite e mel naquela terra.<br />
Quando carregamos sentimentos nobres e divinos ao invés<br />
de gritarmos de desespero, chorarmos e lamentarmos a<br />
vida inteira murmurando, nos alegramos pelas conquistas<br />
que a vida nos oferece. Disse Emanuel.<br />
- Por isso somos tristes e comportam-nos o t<strong>em</strong>po<br />
todo como derrotados. Disse Felipe.<br />
- Muitas pessoas sofr<strong>em</strong> um sofrimento que<br />
inventaram para si como se fosse o gigante de Enac. Além<br />
de sofrer faz o outro sofrer. Se conseguisse desviar os<br />
olhos de Enac e olhasse para Deus enxergariam também<br />
os cachos de uva, as romãs, os figos e o leite e o mel que<br />
adoçam e que estão presentes na sua vida, e aí certamente<br />
150
descobririam que Enac não é tão enorme quanto parece<br />
ser. Disse Emanuel.<br />
- Poxa que bonito. Caleb e Josué foram os únicos<br />
daquela geração que conquistou a terra de Canaã por<br />
enxergar tudo isso. Disse Felipe.<br />
- Caleb e Josué não eram homens de ficar<br />
criticando e murmurando. Eles fizeram história e não<br />
apenas parte da história. Disse Emanuel.<br />
- Espírito de liberdade. Disse Felipe.<br />
- Para enxergar o Reino de Deus é preciso aprender<br />
a degustar o verdadeiro sabor da vida. Sentir o gosto da<br />
uva. Qu<strong>em</strong> coloca sua vida para fazer o b<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
enxergará os cachos de uva na sua vida. É impossível ser<br />
infeliz qu<strong>em</strong> ama! Disse Emanuel.<br />
- Mas a tantas pessoas tristes que padec<strong>em</strong> por<br />
amor a alguém? Disse Felipe.<br />
- Justamente! Padec<strong>em</strong> porque limitaram o sentido<br />
do amor. Ao invés de amar o Amor, amam um ídolo.<br />
Falou Emanuel.<br />
- Mesmo a mãe pelo filho? Disse Felipe.<br />
- Se o filho for sua única razão de vida com certeza<br />
se transformará <strong>em</strong> um Enac. Disse Emanuel.<br />
151
Felipe pensou consigo mesmo: Eu sei b<strong>em</strong> o que é<br />
isso. Coloquei meu pai como se fosse a única coisa da<br />
vida. Tudo girava <strong>em</strong> torno dele, era minha segurança,<br />
meu único porto. Até que precisei passar pelo que passei<br />
para descobrir que a vida é cheia de oportunidades e que a<br />
chance de ser feliz é muito maior do que ser triste. S<strong>em</strong>pre<br />
atrelei a minha infelicidade na ausência da minha mãe e<br />
quase repeti o mesmo erro com a ausência de meu pai.<br />
Mas Emanuel me ensinou que ser feliz é questão de<br />
escolha, ou melhor, de enxergar as diversas belezas e<br />
oportunidades da vida.<br />
religião?<br />
Felipe perguntou:<br />
- Para viver o Reino de Deus é preciso de uma<br />
- Para viver o Reino de Deus é preciso amar. Na<br />
verdade o hom<strong>em</strong> não conquista o Reino de Deus. O<br />
Reino de Deus é qu<strong>em</strong> conquistou a humanidade,<br />
regenerando-a e salvando-a da escravidão perpétua. Disse<br />
Emanuel. E acrescentou:<br />
- A religião compete ligar o céu com a terra<br />
fazendo acontecer o Reino de Deus aqui e agora. Viver<br />
uma religião é estar s<strong>em</strong>pre próximo à Fonte da felicidade<br />
o que necessariamente não faz do religioso um especialista<br />
152
do Reino, pois n<strong>em</strong> todos beb<strong>em</strong> desta fonte que é Deus.<br />
Viv<strong>em</strong> na igreja murmurando, perseguindo, acusando,<br />
difamando e o mais grave afastando as pessoas da<br />
verdadeira imag<strong>em</strong> de Deus, já que compete a eles falar<strong>em</strong><br />
do Pai. Viver a religião como fonte renovadora de fé e<br />
amor a Deus é beber da água da felicidade e levar desta<br />
água a qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> sede.<br />
- Então se eu não conseguir enxergar este Reino e<br />
não saber como vivê-lo, mesmo assim eu experimentarei<br />
suas delícias e <strong>seu</strong>s frutos? Disse Felipe.<br />
- A terra prometida foi conquistada pelo Reino de<br />
Deus. Vivê-la a partir de agora é uma decisão que deve ser<br />
tomada pela consciência da liberdade. Só enxerga o Reino<br />
de Deus que t<strong>em</strong> olhos para a verdadeira liberdade. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Eu quero ser livre! Disse Felipe entusiasmado.<br />
- Então enfrente os paradigmas s<strong>em</strong> ter medo das<br />
pedradas e incompreensões que o mundo pode oferecer.<br />
Pelos cachos de uvas, os frutos que colherá, valerá a pena.<br />
Disse Emanuel.<br />
- E não são valores materiais. Disse Felipe.<br />
- São valores espirituais. Portanto elevados e<br />
compreendidos com o coração e a alma. Disse Emanuel.<br />
153
- Então é preciso crer? Perguntou Felipe.<br />
- Crer e praticar! Os dez líderes que representam as<br />
dez tribos foram vencidos e exterminados da face da terra,<br />
pois não conseguiram enxergar o potencial que<br />
carregavam. As duas tribos representadas por Caleb e<br />
Josué, conhecidas como Judá, venceram na história e<br />
mantiveram a promessa e a realização do Reino de Deus.<br />
Disse Emanuel.<br />
tia de Felipe<br />
Felipe agora pensava nas pessoas que viviam este<br />
Reino <strong>em</strong> suas vidas. Eram pessoas felizes. Uma<br />
felicidade não de explosões e risos, mas de uma alegria<br />
perene. Algumas apesar de carregar um grande sofrimento<br />
<strong>em</strong> vida se comportavam como que se tivess<strong>em</strong> a certeza<br />
das soluções de <strong>seu</strong>s probl<strong>em</strong>as. Este Reino de Deus<br />
muitas vezes encantou pessoas que ele jamais acreditaria:<br />
drogados, pessoas violentas, gente s<strong>em</strong> esperança, crianças<br />
mal tratadas, pessoas traumatizadas, gente que estava<br />
depressiva, casais que viviam <strong>em</strong> pé de guerra, etc. Por<br />
outro lado pensou nas pessoas que nunca estavam felizes.<br />
154
Pessoas que até pisaram na terra prometida, mas<br />
depreciaram a terra. Sua tia era assim.<br />
- Por que será que t<strong>em</strong> pessoas que não consegu<strong>em</strong><br />
enxergar os cachos de uva? Perguntou Felipe.<br />
- Às vezes pelo simples fato de que alguém nunca<br />
lhes falou ou avisou que ali exist<strong>em</strong> cachos de uva. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Minha tia murmura o t<strong>em</strong>po todo e pelo jeito a<br />
vida toda. Disse Felipe.<br />
- Então diga a ela que você é um cacho de uva que<br />
Deus colocou na vida dela. Disse Emanuel.<br />
Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- Só se for um cacho podre. Disse Felipe.<br />
- Você conhece a história dela? Perguntou<br />
- Não! Só sei que ela perdeu o marido. Disse<br />
- O marido e o filho. Disse Emanuel.<br />
- Ela teve um filho? Perguntou Felipe.<br />
- Sim <strong>seu</strong> maior sonho. Falou Emanuel.<br />
- Mas eu nunca o conheci! Disse Felipe.<br />
- Ela o perdeu <strong>em</strong> <strong>seu</strong> ventre. Com três meses de<br />
gestação. Foi agredida com chutes e socos pelo <strong>seu</strong> esposo<br />
que bebia muito e era agressivo. Tal situação acarretou um<br />
155
probl<strong>em</strong>a grave na vida dela que nunca mais pode ter um<br />
filho. Seu esposo morreu de cirrose. Então aquela mulher<br />
que era uma menina meiga e gentil se transformou <strong>em</strong><br />
alguém amarga. Com isso a impediu de enxergar os<br />
cachos de uva na vida dela. Disse Emanuel.<br />
Felipe ficou chateado por nunca ter perguntado a<br />
ela o que havia acontecido. E disse:<br />
- Não conhecia sua história.<br />
- Para acolher alguém com o coração de Deus e<br />
com o olhar do Reino de Deus é preciso conhecer a<br />
história dele. Por isso Deus ama, pois sabe o que acontece<br />
com cada um de <strong>seu</strong>s filhos. Os homens acham que<br />
resolv<strong>em</strong> uma situação mandando matar aquela pessoa.<br />
São medíocres. Não se resolve uma situação complicada<br />
com soluções simplistas. Na maioria das vezes este tipo de<br />
discurso é usado contra os pobres.<br />
Disse Felipe.<br />
- Minha tia perdeu o esposo e o filho. Era sozinha.<br />
- Não Felipe, ela não era sozinha. Tinha você e o<br />
irmão que a amava muito. Mas ela preferiu valorizar o<br />
gigante de Enac ao invés dos cachos de uva <strong>em</strong> sua vida.<br />
- S<strong>em</strong>pre me senti um estranho para ela e um<br />
dependente de favores dela. Disse Felipe.<br />
156
- Seu pai foi morar ali para fazer companhia a ela.<br />
Ele precisava de alguém que o olhasse, mas não era isso<br />
que fazia com que estivesse ali, quando reclamava a ele,<br />
só não foi <strong>em</strong>bora, pois era solidário com o sofrimento<br />
dela. Por conhecer a história dela ele sabia que era<br />
importante estar ali. Quando você viu sua tia chorar no<br />
enterro de <strong>seu</strong> pai, aquilo era honesto. Sua tia amava muito<br />
<strong>seu</strong> pai e pensava que estava atrapalhando a vida dele por<br />
segurar vocês ai com ela. Por isso expulsava vocês dali<br />
para que <strong>seu</strong> pai encontrasse alguém e que esse alguém<br />
fosse uma madrasta boa para você. Ela s<strong>em</strong>pre fazia esta<br />
oração ao Pai do céu. Mas <strong>seu</strong> pai jamais abandonaria sua<br />
irmã. Sua tia era cunhada e amiga de sua mãe e quando<br />
você teve que ir morar ali ela ficou com medo de apegar a<br />
você e ter que um dia vê-lo partir para s<strong>em</strong>pre como<br />
aconteceu com <strong>seu</strong> filho que não nasceu. Por causa do<br />
medo, ela deixou de experimentar o quanto é saboroso um<br />
cacho de uva.<br />
- Puxa vida! Não sei o que falar. Que besteira dela,<br />
eu desejava um beijo, um sorriso, um carinho dela. Chorei<br />
muitas vezes à noite <strong>em</strong> meu quarto querendo o aconchego<br />
dela. Disse Felipe.<br />
157
- E ela chorava querendo poder lhe abraçar e beijar<br />
e dizer que você e <strong>seu</strong> pai eram as únicas coisas<br />
importantes na vida dela.<br />
- Que t<strong>em</strong>po perdido entre nós. Disse Felipe<br />
desacorçoado e arrependido.<br />
- L<strong>em</strong>bra-se que o t<strong>em</strong>po que importa é o hoje.<br />
Disse Emanuel acariciando o cabelo de Felipe e<br />
abraçando-o carinhosamente.<br />
Felipe que pensara que tinha chorado tudo que<br />
tinha direito na vida nesta jornada chora agora no ombro<br />
de Emanuel.<br />
- Se ela um dia experimentar o quanto é importante<br />
este abraço e este carinho, tenho certeza que sua vida será<br />
muito melhor. Disse Emanuel.<br />
Felipe pela primeira vez se preocupou<br />
sinceramente como estava sua tia. Se sua fuga de casa lhe<br />
trouxe mais um infortúnio a tantos que já havia sofrido. Se<br />
agora ela estava desesperada procurando-o. Então<br />
Emanuel disse:<br />
- O t<strong>em</strong>po pertence a Deus não se prenda nele e<br />
confie quando procurar o Reino de Deus <strong>em</strong> sua vida tudo<br />
dará certo.<br />
158
Felipe e Emanuel agora se ajeitavam para dormir.<br />
Felipe dormiu pensando <strong>em</strong> sua tia. Pela primeira vez não<br />
dormiu pensando <strong>em</strong> mortos, mas <strong>em</strong> vivos. Pensava ele,<br />
enquanto chorava pelos mortos deixou de amar qu<strong>em</strong><br />
estava vivo. A vida lhe passou <strong>em</strong> frente e não a<br />
experimentou. Prometera agora chupar todos os cachos de<br />
uvas que houvess<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua vida e que aqueles que lhe<br />
sobrar<strong>em</strong>, e eram muitos, partilharia com qu<strong>em</strong> precisava.<br />
Enquanto sonhava acordado ouviu Emanuel<br />
declamar uma poesia que mais tarde disse ser do poeta<br />
Oswaldo Begiato.<br />
Oração a mim mesmo.<br />
Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.<br />
Falar menos. Chorar menos.<br />
Ver nos olhos de qu<strong>em</strong> me vê<br />
a admiração que eles me têm<br />
e não a inveja que prepotent<strong>em</strong>ente penso que seja.<br />
Escutar com meus ouvidos atentos<br />
e minha boca estática,<br />
as palavras que se faz<strong>em</strong> gestos<br />
e os gestos que se faz<strong>em</strong> palavras<br />
159
Permitir s<strong>em</strong>pre<br />
escutar aquilo que eu não tenho<br />
me permitido escutar.<br />
Saber realizar<br />
os sonhos que nasc<strong>em</strong> <strong>em</strong> mim<br />
e por mim<br />
e comigo morr<strong>em</strong> por eu não os saber sonhos.<br />
Então, que eu possa viver<br />
os sonhos possíveis<br />
e os impossíveis;<br />
aqueles que morr<strong>em</strong><br />
e ressuscitam<br />
a cada novo fruto,<br />
a cada nova flor,<br />
a cada novo calor,<br />
a cada nova geada,<br />
a cada novo dia.<br />
Que eu possa sonhar o ar,<br />
sonhar o mar,<br />
sonhar o amar,<br />
sonhar o amalgamar.<br />
Que eu me permita o silêncio das formas,<br />
dos movimentos,<br />
160
do impossível,<br />
da imensidão de toda profundeza.<br />
Que eu possa substituir minhas palavras<br />
pelo toque,<br />
pelo sentir,<br />
pelo compreender,<br />
pelo segredo das coisas mais raras,<br />
pela oração mental<br />
(aquela que a alma cria e<br />
que só ela, alma, ouve<br />
e só ela, alma, responde).<br />
Que eu saiba dimensionar o calor,<br />
experimentar a forma,<br />
vislumbrar as curvas,<br />
desenhar as retas,<br />
e aprender o sabor da exuberância<br />
que se mostra<br />
nas pequenas manifestações<br />
da vida.<br />
Que eu saiba reproduzir na alma a imag<strong>em</strong><br />
que entra pelos meus olhos<br />
fazendo-me parte supr<strong>em</strong>a da natureza,<br />
criando-me<br />
161
e recriando-me a cada instante.<br />
Que eu possa chorar menos de tristeza<br />
e mais de contentamentos.<br />
Que meu choro não seja <strong>em</strong> vão,<br />
que <strong>em</strong> vão não sejam<br />
minhas dúvidas.<br />
Que eu saiba perder meus caminhos,<br />
mas saiba recuperar meus destinos<br />
com dignidade.<br />
Que eu não tenha medo de nada,<br />
principalmente de mim mesmo:<br />
- Que eu não tenha medo de meus medos!<br />
Que eu adormeça<br />
toda vez que for derramar lágrimas inúteis,<br />
e desperte com o coração cheio de esperanças.<br />
Que eu faça de mim um hom<strong>em</strong> sereno<br />
dentro de minha própria turbulência,<br />
sábio dentro de meus limites<br />
pequenos e inexatos,<br />
humilde diante de minhas grandezas<br />
tolas e ingênuas<br />
(que eu me mostre o quanto são pequenas<br />
minhas grandezas<br />
162
e o quanto é valiosa a minha pequenez).<br />
Que eu me permita ser mãe,<br />
ser pai,<br />
e, se for preciso,<br />
ser órfão.<br />
Permita-me eu ensinar o pouco que sei<br />
e aprender o muito que não sei,<br />
traduzir o que os mestres ensinaram<br />
e compreender a alegria<br />
com que os simples traduz<strong>em</strong> suas experiências;<br />
respeitar incondicionalmente<br />
o ser;<br />
o ser por si só,<br />
por mais nada que possa ter além de sua essência,<br />
auxiliar a solidão de qu<strong>em</strong> chegou,<br />
render-me ao motivo de qu<strong>em</strong> partiu<br />
e aceitar a saudade de qu<strong>em</strong> ficou.<br />
Que eu possa amar<br />
e ser amado.<br />
Que eu possa amar mesmo s<strong>em</strong> ser amado,<br />
fazer gentilezas quando recebo carinhos;<br />
fazer carinhos mesmo quando não recebo<br />
gentilezas.<br />
163
Que<br />
eu jamais fique só,<br />
mesmo quando<br />
eu me queira só.<br />
Amém.<br />
164
O sonho de Davi<br />
Quando o Espírito de Deus<br />
se move <strong>em</strong> mim eu rezo como o Rei Davi.<br />
Eu rezo, eu rezo, eu rezo como o Rei Davi.<br />
Quando o Espírito de Deus<br />
se move <strong>em</strong> mim eu pulo como o Rei Davi.<br />
Eu pulo, eu pulo, eu pulo como o Rei Davi.<br />
Eu rezo como o Rei Davi. Eu pulo como o Rei<br />
Davi.<br />
Quando o Espírito de Deus<br />
se move <strong>em</strong> mim eu luto como o Rei Davi.<br />
Eu luto, eu luto, eu luto como o Rei Davi.<br />
Eu rezo como o Rei Davi. Eu pulo como o Rei<br />
Davi.<br />
Eu luto como o Rei Davi.<br />
Felipe acordou com o cântico alegre de Emanuel.<br />
Esfregou o olho não acreditando no que estava vendo.<br />
Emanuel gesticulava enquanto cantava. Era muito<br />
engraçado. Felipe deu um pulo e acompanhava a canção e<br />
tentava imitar os gestos de Emanuel. E ficaram cantando e<br />
gesticulando até se cansar<strong>em</strong>. Então Emanuel e Felipe<br />
165
iam, pois pareciam duas crianças alegres e bobas. Felipe<br />
rindo disse:<br />
- Você parecia um moleque.<br />
- Se você não for como uma criança não entrará no<br />
Reino de Deus. Disse Emanuel.<br />
- Como assim? Perguntou Felipe.<br />
Parecia que cada vez que Emanuel tocava no nome<br />
Reino de Deus isso fazia Felipe se interessar dobrado. Ele<br />
se sentia encantado com a idéia de um dia descobrir este<br />
Reino.<br />
- A criança espera s<strong>em</strong>pre a proteção dos pais. Ela<br />
esta lá ou no colo quando bebê, ou quando pequenina<br />
esperando s<strong>em</strong>pre o olhar dos pais e nenhum pouco<br />
preocupada com as coisas da vida. Ela não t<strong>em</strong> dívidas,<br />
qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> são os pais. Elas viv<strong>em</strong> o momento. Se brigam<br />
daqui a pouco faz<strong>em</strong> as pazes. Viv<strong>em</strong> cada dia. Viv<strong>em</strong><br />
cada situação com intensidade. Se gostam ri<strong>em</strong>. Se não<br />
gostam faz<strong>em</strong> careta. Não fing<strong>em</strong>, a não ser quando os<br />
adultos lhe ped<strong>em</strong> para fingir. São puras e inocentes. Estes<br />
pequeninos são os mais amados de Deus. Aí daqueles que<br />
ofend<strong>em</strong> um destes pequeninos. Viver o Reino de Deus é<br />
ser como elas. Viver o presente. Acreditar que tudo está<br />
sobre o controle do Pai do Céu. Que não existe um lugar<br />
166
mais seguro do que estar sobre os olhos do Pai. Ser criança<br />
é confiar plenamente <strong>em</strong> Deus.<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou-se que quando era criança s<strong>em</strong>pre<br />
gostou muito do morro. Lá havias muitas brincadeiras.<br />
Diversões e muitas crianças. Quando se tornou jov<strong>em</strong><br />
começou a olhar o morro com preconceito e também as<br />
pessoas. Não sabia por que, mas agora que conheceu<br />
Emanuel ele sente uma vontade enorme de viver pelo resto<br />
da sua vida perto da sua gente e do <strong>seu</strong> povo. E disse<br />
alegre:<br />
- Eu adquiri de volta minha esperança desde que<br />
lhe encontrei, pois já não tinha esperança alguma.<br />
- Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> esperança sonha. Só sonha qu<strong>em</strong><br />
espera. Disse Emanuel.<br />
- Eu espero fazer algo pelo meu povo lá no morro.<br />
Algo que vale a pena. Disse Felipe com um sorriso de<br />
criança feliz.<br />
- Eu lhe disse que O Reino de Deus está b<strong>em</strong> mais<br />
próximo do que imagina? Disse Emanuel realizado.<br />
Felipe voltou a sorrir, pois l<strong>em</strong>brou-se da cena de<br />
Emanuel pulando que n<strong>em</strong> uma criança. E Disse:<br />
- Pensei que as pessoas de Deus foss<strong>em</strong> toda<br />
carrancuda, séria e brava.<br />
167
- Como pode ser carrancuda, brava, uma pessoa<br />
que se sente livre para amar? Disse Emanuel.<br />
- Já conheci muita gente que ficava gritando,<br />
amaldiçoando, pessoas que diziam ser de Deus e que<br />
pareciam tão tristes na escolha que fizeram. Nunca tinham<br />
t<strong>em</strong>po para os outros. Parec<strong>em</strong> que fog<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>po todo de<br />
alguma coisa. De si próprios, sei lá. Se sent<strong>em</strong> donas da<br />
verdade. Disse Felipe.<br />
- Elas não são livres. Não descobriram o Reino de<br />
Deus. Não se sent<strong>em</strong> realizadas no que faz<strong>em</strong> e por isso ao<br />
invés de anunciar acabam escandalizando. Disse Emanuel.<br />
- Moisés e Abraão pareciam muito sérios. Todos os<br />
personagens do Reino são assim? Perguntou Felipe.<br />
- Não! Eles eram um pouco vividos e a idade<br />
também não permitia fisicamente ser<strong>em</strong> tão moleques.<br />
Mas, mais importante não são as aparências e sim o<br />
espírito. Para fazer o que fizeram é necessário um espírito<br />
inovador, espírito jov<strong>em</strong>, entusiasmo. O Reino de Deus se<br />
vive com entusiasmo. A maioria das pessoas perde o<br />
entusiasmo de viver na liberdade de espírito. Isso é se<br />
manter jov<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>po todo. Ao contrário, exist<strong>em</strong> tantos<br />
jovens de idade que possu<strong>em</strong> espírito envelhecido. Não<br />
168
viv<strong>em</strong> com entusiasmo, sonham pequeno e parec<strong>em</strong> mais<br />
mortos do que vivos.<br />
- Destes personagens existiu algum entusiasmado,<br />
tipo, igual a você? Disse Felipe rindo.<br />
- Meu amigo Rei Davi. Ele sim era alegre. Fazia<br />
salmos e dançava alegr<strong>em</strong>ente na presença de Deus. Quer<br />
conhecê-lo?<br />
- Sim eu quero. Disse Felipe.<br />
- Estamos no t<strong>em</strong>po dele, enquanto dormia, eu o<br />
trouxe para cá.<br />
- Além de conhecer meus pensamentos, conhece<br />
antecipadamente minha vontade? Disse Felipe.<br />
- Vamos dizer que eu o conheço muito b<strong>em</strong>. Disse<br />
Emanuel. E ordenou:<br />
- Felipe feche os olhos.<br />
Felipe fechou os olhos. Ainda <strong>em</strong> sua mente estava<br />
ele e Emanuel dançando, de olhos fechados, manteve o<br />
sorriso nos lábios.<br />
- Éfeta! Abre! Disse Firme Emanuel.<br />
Ao abrir os olhos viu que estava <strong>em</strong> uma casa.<br />
- Onde estamos?<br />
- Na casa de Davi, <strong>em</strong> Belém.<br />
- É ele? Apontou para o hom<strong>em</strong> que estava ali.<br />
169
- Não! Ele é Isaí, pai de Davi. Esta esperando o<br />
profeta Samuel que virá daqui a pouco e ungirá um de<br />
<strong>seu</strong>s filhos como rei de Israel. Os profetas é que ungiam o<br />
rei da nação naquela época. Vou lhe permitir desta vez ler<br />
os pensamentos deles. Não entusiasme, será só desta vez.<br />
Cada filho de Isaí será apresentado para o profeta Samuel,<br />
cujo Deus dirá ao profeta qual deles será o ungido. Agora<br />
silêncio, Samuel está à porta.<br />
Neste momento Samuel chega à casa de Isaí. Logo<br />
que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: -<br />
“Certamente é este o ungido do Senhor”.<br />
Mas o Senhor disse-lhe<br />
- “Não te deixe impressionar pelo <strong>seu</strong> belo<br />
aspecto, n<strong>em</strong> pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O<br />
que o hom<strong>em</strong> vê não é o que importa: o hom<strong>em</strong> vê a face,<br />
mas o Senhor olha o coração”.<br />
Samuel.<br />
Isaí chamou Abinadap e fê-lo passar diante de<br />
- “„Não é tão pouco este, pensou Samuel, que o<br />
Senhor escolheu”.<br />
Samuel.<br />
Isaí fez passar Sama.<br />
- “Não é ainda este que escolheu o Senhor”, pensou<br />
170
Isaí mandou vir assim os <strong>seu</strong>s setes filhos diante do<br />
profeta, que lhe disse:<br />
- “O Senhor não escolheu nenhum deles.”<br />
E ajuntou:<br />
- “Estão aqui todos os teus filhos?”<br />
- “Resta ainda o mais novo, confessou Isaí, que<br />
está pastoreando as ovelhas.”<br />
Samuel ordenou a Isaí:<br />
- “Manda buscá-lo, pois não nos por<strong>em</strong>os à mesa<br />
antes que ele esteja aqui.”<br />
E Isaí mandou buscá-lo. Ele era louro, de belo<br />
olhos e mui formosa aparência.<br />
O Senhor disse:<br />
- “Vamos, unge-o: é ele.”<br />
Samuel tomou o corno do óleo e ungiu-o no meio<br />
dos <strong>seu</strong>s irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito<br />
do Senhor apoderou-se de Davi.<br />
Emanuel falou novamente a Felipe:<br />
- Fecha os <strong>seu</strong>s olhos.<br />
Felipe fechou os olhos.<br />
- Éfeta. Abre-te.<br />
171
Felipe abriu os olhos e viu uma grande pastag<strong>em</strong><br />
com muitas ovelhas. Era muito lindo o local que estavam.<br />
Emanuel disse:<br />
- É aqui que o Rei Davi pastoreia suas ovelhas e foi<br />
daqui que ele escreveu <strong>seu</strong> lindo salmo sobre o <strong>Bom</strong><br />
<strong>Pastor</strong>. Emanuel então cantou:<br />
Pelos prados e campinas verdejantes eu vou<br />
É o Senhor que me leva a descansar<br />
Junto às fontes de águas puras repousantes eu vou<br />
Minhas forças o Senhor vai animar<br />
Tu és, Senhor, o meu pastor<br />
Por isso nada <strong>em</strong> minha vida faltará<br />
Tu és, Senhor, o meu pastor<br />
Por isso nada <strong>em</strong> minha vida faltará (nada faltará)<br />
Nos caminhos mais seguros junto d'Ele eu vou<br />
E pra s<strong>em</strong>pre o Seu nome eu honrarei<br />
Se eu encontro mil abismos nos caminhos eu vou<br />
Segurança s<strong>em</strong>pre tenho <strong>em</strong> suas mãos<br />
Ao banquete <strong>em</strong> sua casa muito alegre eu vou<br />
Um lugar <strong>em</strong> Sua mesa me preparou<br />
Ele unge minha fronte e me faz ser feliz<br />
E transborda a minha taça <strong>em</strong> Seu amor<br />
172
Com alegria e esperança caminhando eu vou<br />
Minha vida está s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> suas mãos<br />
E na casa do Senhor eu irei habitar<br />
E este canto para s<strong>em</strong>pre irei cantar<br />
- Nossa que música linda. Senti uma confiança e<br />
um descanso interior muito grande. Disse Felipe.<br />
- Você precisa ouvir Davi cantar com a Harpa.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Ele é um músico? Perguntou Felipe.<br />
- É um pastor de profissão, um músico pela paixão<br />
e se tornará um Rei pela missão. Disse Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- Admiro as pessoas que cantam e tocam. Disse<br />
- Uma pregação atinge <strong>em</strong> primeiro a razão, ou<br />
seja, a compreensão. Depois atinge o coração. Se o<br />
coração estiver aberto atinge a alma de uma pessoa. A<br />
música não. Ela vai direto à alma e preenche o coração<br />
mesmo quando não há a compreensão impregnando a<br />
razão. A pregação pede licença. A música entra direto,<br />
pois sua suavidade já é um pedido de licença. A boa<br />
pregação convence. A boa música cativa. Uma pregação<br />
pode ser esquecida, uma música dificilmente é esquecida.<br />
173
A pregação faz você geralmente pensar. A música faz<br />
você sonhar e rezar duas vezes.<br />
- Por isso que você gosta de cantar. Disse Felipe.<br />
- Qu<strong>em</strong> canta reza duas vezes. Já dizia meu amigo<br />
Agostinho. Disse Emanuel.<br />
- Então qual foi a lição de hoje sobre o chamado de<br />
Davi? Perguntou Felipe.<br />
Disse Felipe.<br />
Felipe.<br />
Emanuel.<br />
- O que você viu e ouviu? Perguntou Emanuel.<br />
- Vi que Deus escolheu Davi não pela aparência.<br />
- Sim Felipe. Deus olha o coração. Falou Emanuel.<br />
- É engraçado como Deus chama alguém? Disse<br />
- O que você acha de engraçado? Perguntou<br />
- É que desde o Paraíso nenhum dos personagens:<br />
Adão, Eva, Abraão, Moisés transmitia uma segurança <strong>em</strong><br />
relação à importante missão de representar Deus na<br />
História de Salvação. Disse Felipe.<br />
- Porque você acha que eles não tinham preparo?<br />
Perguntou Emanuel.<br />
- Sei lá! Adão e Eva tinha tudo no Paraíso e<br />
meteram as mãos pelos pés. Abraão era um idoso e quase<br />
174
que colocou a missão <strong>em</strong> maus caminhos, quando pensou<br />
apenas <strong>em</strong> <strong>seu</strong> filho Isaac. E Moisés tentou de todas as<br />
formas se esquivar do chamado, mostrava uma<br />
insegurança e era gago. Davi dos irmãos era o que menos<br />
tinha aparência. Entende! Se fosse uma <strong>em</strong>presa nenhum<br />
deles seria selecionados. A sociedade os teria descartado.<br />
Disse Felipe.<br />
- Pois então hoje aprendeu uma lição para o resto<br />
de sua vida. O que o mundo descarta, o que parece frágil e<br />
fraco, Deus escolhe para fazer deste filho e sua missão um<br />
sinal da força divina. Disse Emanuel.<br />
- No entanto eles no decorrer da sua missão<br />
mostraram atitudes nobres e de uma imensa corag<strong>em</strong>.<br />
Vestiram a camisa, literalmente falando, e deram a vida<br />
pela missão que lhes foi confiado. Foram heróis na<br />
simplicidade e na limitação que possuíam e isto tornou a<br />
missão deles mais bonita ainda. Disse Felipe, encantado a<br />
cada dia mais com os fatos que estava experimentando e<br />
presenciando.<br />
disse:<br />
- L<strong>em</strong>bra-se o que o Senhor disse a Samuel? Ele<br />
- “Não te deixe impressionar pelo <strong>seu</strong> belo aspecto,<br />
n<strong>em</strong> pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o<br />
175
hom<strong>em</strong> vê não é o que importa: o hom<strong>em</strong> vê a face, mas o<br />
Senhor olha o coração”.<br />
- Que mensag<strong>em</strong> linda esta. Se Deus olhasse o<br />
aspecto, ou então se estivesse passado no recrutamento de<br />
alguma <strong>em</strong>presa, eles seriam recusados. Imagina alguém<br />
recrutando uma pessoa gaga, um idoso, um menino<br />
raquítico. Mas Deus não. Ele olha o coração. Disse Felipe.<br />
- As pessoas são olhadas como negócio. Investe <strong>em</strong><br />
alguém, como se investe <strong>em</strong> uma máquina, por ex<strong>em</strong>plo.<br />
Por isso esta sociedade perdeu muito os bons princípios, a<br />
moral e o respeito. Uma <strong>em</strong>presa não contrata alguém que<br />
t<strong>em</strong> princípios e ética. Investe naquele que aparent<strong>em</strong>ente<br />
d<strong>em</strong>onstra ambição. Uma <strong>em</strong>presa prefere ter um<br />
ambicioso ao lado a um justo. O que é tolice tornou-se<br />
sabedoria e capacidade. O que é capacidade e caráter<br />
tornou-se tolice. É a inversão de valores. Disse Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- Uma pessoa é avaliada pelo que produz. Disse<br />
- É Felipe, mas as pessoas que t<strong>em</strong> ética e moral<br />
produz<strong>em</strong> muito mais que se possa imaginar. Confiança é<br />
tudo. Disse Emanuel.<br />
- Foi isso que Deus viu <strong>em</strong> Davi e nos outros<br />
também? Perguntou Felipe.<br />
176
- Deus olhou o coração deles. Eram pessoas<br />
sofridas, solitárias e descomprometidas com a vida.<br />
Quanto menos a pessoa se sente importante mais ela<br />
entrega-se a Deus. Abraão considerado um amaldiçoado,<br />
pois sua mulher Sara era estéril e isso era sinônimo na<br />
época de maldição. Deus o chama dizendo que será uma<br />
fonte de benção. Moisés, quando menino perdeu a própria<br />
orig<strong>em</strong>, quando descobre mata um soldado de Faraó para<br />
defender um compatriota, o suficiente para descobrir que<br />
Faraó não o tinha como filho, pois mandou prendê-lo.<br />
Estava foragido e s<strong>em</strong> a mordomia e a riqueza intelectual e<br />
material do palácio que vivia. Davi era o mais novo dos<br />
irmãos, portanto, pensando na escala de que o primogênito<br />
era oferecido a Deus, o mais novo deveria ficar junto ao<br />
pai. Era um simples camponês e não foi preparado para<br />
um dia partir. Deus escolhe os pequenos e humildes e faz<br />
da vida destes uma alternativa maravilhosa e<br />
compensadora de vida. Lutaram e defenderam o <strong>seu</strong> povo.<br />
Abraão inicia a História de salvação. Moisés liberta o<br />
povo da escravidão do Egito e da continuidade na História<br />
da Salvação e Davi torna-se rei de Israel. Dele e de <strong>seu</strong><br />
povo descende o Messias, o libertador. Veja a importância<br />
destes personagens. Disse Emanuel.<br />
177
- Então Davi tornou-se um rei? Perguntou Felipe.<br />
- Sim lutou contra tudo e contra todos. Venceu e<br />
conquistou não só definitivamente a terra como também a<br />
simpatia de todo o <strong>seu</strong> povo que o amava muito como Rei,<br />
pois foi justo e bom. Disse Emanuel.<br />
- Foi ele que lutou contra o gigante Golias e o<br />
venceu? Disse Felipe.<br />
- Sim! Enquanto que os profissionais diziam que<br />
esta luta era invencível e que a derrota era certa, Davi não<br />
ficou preso a paradigmas e enfrentou o gigante com a<br />
confiança e a fé que tinha de um poder maior que era<br />
Deus. Não era um profissional robotizado pela ambição e<br />
pelo óbvio e sim um sonhador que por causa de <strong>seu</strong>s<br />
limites sabia inovar e criar. Disse Emanuel.<br />
- Fantástico! Ele foi valente. Disse Felipe.<br />
- Ele como todos os que consegu<strong>em</strong> enxergar o<br />
Reino de Deus são especiais. Não ag<strong>em</strong> apenas pela razão<br />
e lógica. Não se enquadram ao esqu<strong>em</strong>a pré-definido pela<br />
maioria. Não se curvam a tentação do ser, do ter e do<br />
poder pelo simples fato de se mostrar<strong>em</strong> e ser<strong>em</strong><br />
respeitados pelos outros. Disse Emanuel.<br />
- O diferenciado é aquele que enxerga além do<br />
óbvio. Disse Felipe.<br />
178
- Exato. E digo mais: o diferenciado enxerga o<br />
essencial e busca a verdadeira felicidade s<strong>em</strong> se importar<br />
com o que diz<strong>em</strong> os outros. E faz isso com dignidade,<br />
respeito e amor. O diferenciado t<strong>em</strong> caráter. Disse<br />
Emanuel.<br />
Disse Felipe.<br />
- Por isso foram perseverantes e grandes homens.<br />
- Lá no céu nós chamamos isso de Sabedoria. Aqui<br />
vocês falam que a pessoa t<strong>em</strong> personalidade. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Você disse que Davi era alegre e extrovertido.<br />
Ele parecia tão tímido. Tão frágil. Disse Felipe.<br />
- Já vi muita gente tímida se transformar pelo<br />
poder de Deus. Disse Emanuel.<br />
- Davi foi um desses? Deus o mudou para<br />
extrovertido? Disse Felipe.<br />
- Não! Deus não o mudou, jamais Deus agride a<br />
liberdade e o jeito de ser de alguém O que Deus fez foi<br />
motivar a Davi a descobrir <strong>seu</strong> potencial e o que realmente<br />
ele é. Mas l<strong>em</strong>bra-se motivação e auto-ajuda não são<br />
suficientes é preciso fé. Disse Emanuel.<br />
- Um grande Rei, só isso. Disse Felipe sorrindo.<br />
179
- Um Rei amado e querido por Deus e pelo povo. A<br />
inteligência está justamente aí, quando alguém consegue<br />
conviver com diversas pessoas e personalidades s<strong>em</strong><br />
perder a sua própria personalidade e respeitando a do<br />
outro. Disse Emanuel.<br />
- Davi foi um líder, na verdadeira concepção da<br />
palavra. Disse Felipe.<br />
- Realmente. Após ele nenhum outro rei conseguiu<br />
agregar todo o povo ao <strong>seu</strong> lado. Disse Emanuel.<br />
- Lá no morro t<strong>em</strong> um sujeito, O Negão, que é<br />
responsável da Associação de Bairro, ele é muito<br />
respeitado lá, pois luta pelo povo e t<strong>em</strong> caráter. Ele é<br />
honesto, simples e duro na queda. Enfrenta até policial<br />
quando precisa defender alguém inocente. Suas palavras<br />
têm força. Todo o morro se orgulha dele.<br />
- Isso é viver o Reino! Disse Emanuel.<br />
Felipe ficou pensativo com que Emanuel disse.<br />
Enxergar o Reino seria lutar por uma causa que vale a<br />
pena. Seria viver uma liderança diferente, um projeto<br />
social ou mesmo um projeto de solidariedade? Então<br />
Emanuel disse:<br />
- Viver o Reino de Deus é ser luz e sal da terra<br />
onde você está. Não importa o que escolheu para você,<br />
180
desde que seja digno e honesto e solidário a qu<strong>em</strong> precisa.<br />
É ir além do deserto, é carregar o sonho de Deus dentro de<br />
você e fazê-lo acontecer na vida das pessoas que estão ao<br />
<strong>seu</strong> redor, <strong>em</strong> especial àquelas que mais necessitam. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Assim seja! Respondeu Felipe com o coração<br />
batendo forte e desejando viver este Reino <strong>em</strong> sua vida.<br />
Rei Davi<br />
- Vamos dar mais uma olhada <strong>em</strong> Davi agora como<br />
Rei. Disse Emanuel.<br />
- Vamos! Disse Felipe entusiasmado.<br />
Felipe estava feliz e a cada dia tinha certeza que<br />
tinha encontrado uma razão maior para sua vida.<br />
L<strong>em</strong>brou-se <strong>em</strong> particular de sua namorada, a Bianca, que<br />
s<strong>em</strong>pre lhe dizia que queria sair do morro. Que lá não<br />
tinha futuro de vida. O povo do morro a achava muito<br />
exibida. Até Lúcia ficava consternada com as atitudes<br />
dela. Certa vez Lúcia disse que pior que rico metido, é<br />
pobre metido a rico. Pensou também <strong>em</strong> alguém que<br />
s<strong>em</strong>pre teve um carinho diferente. Era a Clara, filha do<br />
Negão, que assim como o pai, era batalhadora e estava<br />
181
s<strong>em</strong>pre no Centro Comunitário ajudando Lúcia. Toda vez<br />
que ele ia lá sentia alegria <strong>em</strong> vê-la e quando conversavam<br />
a prosa ia longe e ele sentia que s<strong>em</strong>pre saia preenchido<br />
depois da conversa com ela. Mas ela parecia tão<br />
indiferente a namorar, <strong>seu</strong>s assuntos eram diversos e sua<br />
vida um poço de intensidade e paixão por tudo na vida e<br />
principalmente pela doação do povo do morro. Falava com<br />
orgulho e respeito de <strong>seu</strong> pai. Amava sua mãe e dizia que<br />
nunca seria uma mulher tão combatente e forte como a<br />
mãe. Ela tinha princípios e caráter. Uma honestidade e<br />
uma liberdade interior muito grande. Felipe tinha receio<br />
dela, algo nela o fazia inseguro, mexia com <strong>seu</strong>s<br />
sentimentos e principalmente o deixava s<strong>em</strong>pre corado<br />
quando ela ria e às vezes o abraçava com carinho. Ela era<br />
linda, mulata e de um sorriso maravilhoso. Não falava mal<br />
de ninguém. Cumprimentava a todos e era cumprimentada<br />
por todos. Conhecia o nome de cada pessoa. B<strong>em</strong> ao<br />
contrário de Bianca que andava de nariz <strong>em</strong>pinado e que<br />
dizia s<strong>em</strong>pre que não gostava de misturar com esta<br />
gentinha. Falava que Clara era enjoativa e brega e que <strong>seu</strong><br />
pai era um pobre sonhador. Felipe se sentia s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong><br />
ao lado de Clara, mas sentia uma atração física muito forte<br />
pela Bianca. Então disse baixinho:<br />
182
- Paixão é atração física e amor é atração total.<br />
Felipe olha à sua frente e vê uma das cenas mais<br />
interessante que já observou <strong>em</strong> sua vida. À frente de um<br />
baú estava o rei Davi com <strong>seu</strong> povo vestido com um tipo<br />
de tanga s<strong>em</strong>inu, pulava e dançava com o povo, soltando<br />
gritos de alegria e tocando a trombeta. Olhou de longe<br />
uma mulher que parecia furiosa, mais tarde, descobriu que<br />
era Micol, mulher de Davi. Davi instalou o baú, que mais<br />
tarde Felipe descobriu que era a Arca da Aliança, dançou,<br />
pulou, ofereceu holocaustos, sacrifícios pacíficos. O mais<br />
interessante é que ele e Emanuel puseram-se a dançar e a<br />
cantar junto com o povo. Aquilo era contagiante e trazia<br />
uma alegria muito grande no coração de Felipe. Davi<br />
então abençoou o povo e distribuiu alimentos. Quando<br />
voltava para casa para levar a benção à sua família, Micol<br />
sua esposa disse-lhe:<br />
- Como se distinguiu hoje o rei de Israel, dando-se<br />
<strong>em</strong> espetáculo às servas de <strong>seu</strong>s servos e descobrindo-se<br />
s<strong>em</strong> pudor, como qualquer um do povo.<br />
Davi lhe deu a seguinte resposta:<br />
- Foi diante do Senhor que dancei. E me abaixei<br />
ainda mais, e me aviltarei aos teus olhos, mas serei<br />
honrado pelas escravas de que falaste.<br />
183
Neste instante Emanuel coloca a mão sobre o<br />
ombro de Felipe e o leva para os prados e pastagens ali<br />
perto e diante de um riacho banham-se e se alimentam.<br />
Felipe percebeu que os alimentos que estavam sendo<br />
servido por Emanuel eram os mesmos que Davi distribuiu<br />
para o povo: bolo, pedaço de carne e uma torta. Felipe<br />
então disse:<br />
- Você aproveitou a festa.<br />
- Nós também merec<strong>em</strong>os o alimento afinal de<br />
contas dançamos juntos na presença de Deus. Disse<br />
Emanuel feliz.<br />
- Nossa! Que cara maluco este Davi. Um rei ficar<br />
só de tanga e dançar alegre diante daquela arca. Levou até<br />
uma bronca da mulher. Disse Felipe alegre.<br />
- Davi era feliz, pois vivia o sonho de Deus <strong>em</strong> sua<br />
vida. Disse Emanuel.<br />
- Por que ele agiu desta forma? Perguntou Felipe.<br />
- A Arca da Aliança significa a presença de Deus<br />
no meio do <strong>seu</strong> povo. A roupa que Davi usava é uma veste<br />
ritual dos sacerdotes, b<strong>em</strong> como do rei, quando este<br />
exercia a função-sacerdotal. Disse Emanuel.<br />
- E as danças, o ritual, o jeito doido de ele gritar e<br />
dançar? Perguntou Felipe.<br />
184
- Esta postura faz parte da personalidade de Davi.<br />
Disse rindo Emanuel.<br />
- Ele é um rei simples e humilde. O povo amava-o<br />
muito. Ele por sua vez d<strong>em</strong>onstra um grande amor por<br />
Deus e respeito. T<strong>em</strong> a consciência do que faz e porque<br />
faz. Disse Felipe.<br />
- Por isso se tornou um grande rei. Um rei que t<strong>em</strong><br />
os olhos e o coração voltados para <strong>seu</strong> povo. O povo<br />
percebe quando é amado. E personalidade é justamente o<br />
que não faltou a Davi. Disse Emanuel.<br />
- Por isso respondeu à sua mulher: “Foi diante do<br />
senhor que dancei.” Disse Felipe.<br />
- Pode ter a certeza de que sua resposta foi sincera.<br />
Seu amor a Deus era enorme e s<strong>em</strong>pre que agia diante de<br />
algo sagrado, como por ex<strong>em</strong>plo, a Arca da Aliança, ele<br />
fazia com o entendimento, a alma e o coração. Pouco<br />
importava o que sua esposa pensava, o importante é que<br />
fez diante de Deus. T<strong>em</strong> muita gente que se deixa<br />
influenciar pelo que a esposa, esposo, filhos pensam e<br />
cobram; não possu<strong>em</strong> personalidade. Para Davi sua<br />
resposta e sua obediência se deviam <strong>em</strong> primeiro lugar a<br />
Deus. Disse Emanuel.<br />
185
- Que festa vibrante, se fosse lá no morro, durava<br />
até a madrugada. O povo de lá é festivo, um povo sofrido,<br />
mas feliz. Disse Felipe.<br />
Felipe estava aprendendo agora uma nova lição de<br />
vida. Com Adão aprendeu a entender e aceitar suas<br />
misérias. Com Abraão aprendeu a acreditar e entregar sua<br />
vida como benção e as coisas que s<strong>em</strong>pre amou como<br />
secundário <strong>em</strong> relação a Deus. Com Moisés aprendeu que<br />
deveria desejar a liberdade e enxergar os frutos e as<br />
bênçãos de Deus <strong>em</strong> sua vida, os cachos de uva como<br />
futuramente s<strong>em</strong>pre se referia ao falar das coisas boas.<br />
Agora com Davi aprendeu a amar <strong>seu</strong> povo e ter orgulho<br />
da sua orig<strong>em</strong>.<br />
- Davi era um rei que sabia orar diante de Deus,<br />
escreveu salmos, mas o mais bonito é que s<strong>em</strong>pre era<br />
grato e reconhecia a grandeza e o poder <strong>em</strong> sua vida.<br />
Apesar de ser rei e ter poder, ele jamais deixou de amar e<br />
reconhecer o poder maior que era de Deus. Louvava e <strong>seu</strong><br />
louvor era contagiante. Só louva qu<strong>em</strong> reconhece. Só<br />
reconhece qu<strong>em</strong> é grato. É grato qu<strong>em</strong> retribui o que<br />
recebe. Davi é amado por Deus e pelo povo, pois fez do<br />
<strong>seu</strong> reinado e do poder que recebeu para servir e não<br />
186
dominar. Quer conhecer alguém verdadeiramente?<br />
Perguntou Emanuel.<br />
acrescentou:<br />
- Sim. Respondeu Felipe.<br />
- Dê-lhe poder. Respondeu Emanuel. E<br />
- Todo poder v<strong>em</strong> de Deus. E o poder é dado para<br />
ser usado como serviço. Não como tirania.<br />
- A maioria das pessoas que t<strong>em</strong> poder é arrogante<br />
e insensível e usam para benefício próprio. Alguns se<br />
tornam até ditadores. Disse Felipe.<br />
Emanuel.<br />
- Quanto mais recebestes mais será cobrado. Disse<br />
- O sonho de Davi era ser rei? Perguntou Felipe.<br />
- Não, o sonho de Davi era construir o T<strong>em</strong>plo de<br />
Deus. Disse Emanuel.<br />
- Nossa que sonho! Achei que um sujeito chegar a<br />
ser rei e ser amado e respeitado por todo o povo seria um<br />
sonho realizado <strong>em</strong> sua vida. Disse Felipe.<br />
- Isto é o que torna as pessoas de Deus diferente<br />
das outras. Enquanto a maioria se sentiria realizado com a<br />
perspectiva de ser um rei, Davi sonhava fazer uma casa<br />
para Deus. Mas construir um T<strong>em</strong>plo no coração de Davi<br />
187
significava muito mais do que um prédio, significava <strong>seu</strong><br />
amor e zelo pelas coisas de Deus. Disse Emanuel.<br />
- E ele construiu? Perguntou Felipe.<br />
- Não! Deus não permitiu que construísse, ao invés<br />
disso, Deus pediu que Davi construísse sua casa. Disse<br />
Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- Não construiu? Ele não tinha casa? Perguntou<br />
- Qu<strong>em</strong> construiu o T<strong>em</strong>plo foi <strong>seu</strong> filho Salomão.<br />
E ele não tinha uma casa de rei. Disse Emanuel.<br />
- Não entendo, se Davi tinha este sonho e era<br />
pensando <strong>em</strong> Deus, porque Deus não abençoou esta sua<br />
decisão. Disse Felipe.<br />
- O maior zelo não v<strong>em</strong> de estruturas e<br />
construções. Elas geralmente faz<strong>em</strong> com que as pessoas se<br />
sent<strong>em</strong> aprisionadas, pois estarão s<strong>em</strong>pre dependendo de<br />
ajuda, e quanto mais estruturas, menos livre se sentirá um<br />
filho de Deus. Francisco dizia isso. O maior zelo que você<br />
pode oferecer a Deus não é a construção de um T<strong>em</strong>plo,<br />
de uma casa, um palácio, e sim defender e libertar a vida<br />
de qu<strong>em</strong> sofre. Eis o sonho de Deus na vida de Moisés.<br />
Para Abraão ele disse, deixa sua terra, <strong>seu</strong>s bens, sua<br />
família e até pediu <strong>seu</strong> único filho, mesmo não aceitando.<br />
188
Entende! As pessoas do <strong>seu</strong> t<strong>em</strong>po pensam que agradam a<br />
Deus com estruturas, mas a maioria esta preocupada com<br />
sua instituição. Outros se acham bons administradores na<br />
proporção que constro<strong>em</strong> e dão lucro. Deus não chama<br />
administradores, Deus escolhe pastores. Há muitos<br />
pastores que abandonam suas ovelhas se escondendo atrás<br />
da administração. Davi pastoreava suas ovelhas com<br />
justiça e amor. Deus espera isso como atitude mais ousada<br />
e santa.<br />
Neste instante Emanuel colocou a mão nos ombros<br />
de Felipe, olhou fixamente nos olhos e disse:<br />
- Você está à busca do Reino de Deus. Não o<br />
busque esperando ver estruturas, n<strong>em</strong> ouro, n<strong>em</strong> prata.<br />
Não o procure nas riquezas humanas. Não o busque nos<br />
palácios. Não o busque na grandeza e n<strong>em</strong> nas aparências.<br />
L<strong>em</strong>bra-se do que o Senhor disse a Samuel a respeito de<br />
Davi. Não busque rodeado de gente e n<strong>em</strong> onde exist<strong>em</strong><br />
multidões. Sua plenitude e sua presença se faz<strong>em</strong> nos<br />
humildes e simples. Entenda muito b<strong>em</strong> o que eu lhe digo,<br />
pois ele poderá passar despercebido diante de <strong>seu</strong>s olhos<br />
ou então vivê-lo a vida inteira num reino que você<br />
construiu na verdade baseado <strong>em</strong> <strong>seu</strong>s sonhos ambiciosos.<br />
Infelizmente as pessoas só acreditam <strong>em</strong> alguém ou<br />
189
alguma obra quando esta v<strong>em</strong> acompanhada de multidões,<br />
de estruturas, de artistas, de riquezas e aparências. O<br />
Reino de Deus nada t<strong>em</strong> a ver com estas coisas. Onde<br />
Deus mais se mostra é onde a maioria menos enxerga. Por<br />
isso o Reino de Deus veio e não o receberam. O mais triste<br />
de tudo isso é que apesar de estar escrito tudo isso as<br />
pessoas do <strong>seu</strong> t<strong>em</strong>po conseguiram transformar uma<br />
realidade de santidade, simplicidade e uma realidade<br />
voltada aos pequenos a uma realidade de riquezas e<br />
opulências que nada t<strong>em</strong> a ver com o Reino de Deus. Não<br />
entenderam o Reino, não entenderam Francisco e não<br />
entenderão o que é essencial. Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> ouvidos ouça!<br />
Neste momento Felipe engoliu seco. Ficou com<br />
receio de não conhecer o Reino de Deus. Pensativo e<br />
inseguro teve vontade de até desistir. Emanuel lhe disse:<br />
- Felipe, você s<strong>em</strong>pre esteve perto do Reino de<br />
Deus. Não fuja às suas origens e entenderá e acolherá o<br />
Reino de Deus <strong>em</strong> sua vida.<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou-se do morro. Cada casinha ali<br />
simples. O povo humilde e sofrido pela situação social e<br />
pelo preconceito. Ali havia artistas, poetas, desenhistas,<br />
escritores, profissionais, gente de muita capacidade.<br />
Porém a injustiça social não permitia ser<strong>em</strong> vistos.<br />
190
Emanuel sorrindo disse a Felipe:<br />
- Vamos voltar para a praça.<br />
Felipe acenou com a cabeça e fechou <strong>seu</strong>s olhos.<br />
Estava muito cansado com todas as informações. Esta<br />
caminhada começou com danças e terminou com um peso<br />
enorme. Parecia que precisava decidir <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração o<br />
que realmente queria da sua vida: realizar <strong>seu</strong> sonho<br />
pessoal, profissional ou viver o sonho de Deus. Sabia que<br />
um não atrapalhava o outro, pois aprendera que era<br />
possível viver <strong>seu</strong> sonho desde que este sonho o levasse a<br />
viver o sonho de Deus. Felipe parecia decidido que não<br />
sairia mais do morro e que lutaria pela liberdade de <strong>seu</strong><br />
povo. E que sua decisão pessoal agora teria que antes<br />
passar pelo filtro do zelo a Deus. Não entendia o porquê,<br />
mas estava com muitas saudades de Lúcia, da sua Tia e<br />
ansioso por conversar com Clara. Ela entenderia o que<br />
aconteceu com ele. Já Bianca iria rir da sua cara. Felipe<br />
estava admirado de como sua vida, ou melhor, suas<br />
decisões tinham mudado tão radicalmente nestes dias que<br />
esteve a caminho do Reino de Deus. Então pensou na frase<br />
de Emanuel a respeito de Davi: “Deus não o mudou,<br />
jamais Deus agride a liberdade e o jeito de ser de alguém o<br />
que Deus fez foi motivar a Davi a descobrir <strong>seu</strong> potencial<br />
191
e o que realmente ele é.” Felipe percebeu que nesta<br />
jornada a busca do Reino de Deus ele encontrou consigo<br />
mesmo e estava descobrindo qu<strong>em</strong> ele é.<br />
192
O sonho do profeta Elias.<br />
Agora estavam no banco da praça. Felipe encostou<br />
a cabeça no banco e perguntou a Emanuel:<br />
- Qual é a música de hoje?<br />
- Davi cometeu erros e pecou e se arrependeu<br />
profundamente. Por mais obediente que fosse e fiel ele<br />
chegou a falhar. Então vou cantar esta canção de um<br />
salmo:<br />
Por melhor que seja alguém,<br />
chega o dia <strong>em</strong> que há de faltar.<br />
Só o Deus vivo a palavra mantém<br />
e jamais Ele há de falhar.<br />
Quero cantar ao Senhor, s<strong>em</strong>pre, enquanto eu viver<br />
Hei de provar <strong>seu</strong> amor, <strong>seu</strong> valor e <strong>seu</strong> poder.<br />
Nosso Deus põe-se do lado<br />
dos famintos e injustiçados,<br />
dos pobres e oprimidos,<br />
dos injustamente vencidos.<br />
Quero cantar ao Senhor, s<strong>em</strong>pre, enquanto eu viver<br />
Hei de provar <strong>seu</strong> amor, <strong>seu</strong> valor e <strong>seu</strong> poder.<br />
Ele barra o caminho dos maus,<br />
193
que exploram s<strong>em</strong> compaixão;<br />
Mas dá força ao braço dos bons,<br />
que sustentam o peso do irmão.<br />
Quero cantar ao Senhor, s<strong>em</strong>pre, enquanto eu viver<br />
Hei de provar <strong>seu</strong> amor, <strong>seu</strong> valor e <strong>seu</strong> poder.<br />
Esse é o Nosso Deus.<br />
Seu poder permanece s<strong>em</strong>pre,<br />
Sua força é a força da gente.<br />
Vamos todos louvar nosso Deus.<br />
Quero cantar ao Senhor, s<strong>em</strong>pre, enquanto eu viver<br />
Hei de provar <strong>seu</strong> amor, <strong>seu</strong> valor e <strong>seu</strong> poder.<br />
Felipe estava cada vez mais <strong>em</strong> paz! Sentia-se leve<br />
e extr<strong>em</strong>amente grato por encontrar dentro de si mesmo a<br />
liberdade de ser o que realmente era. Sua orig<strong>em</strong> simples e<br />
sua vontade de crescer e amadurecer na fé numa formação<br />
humana sólida e equilibrada. Desejava se formar. Gostava<br />
muito de ciências humanas. Mas com a intenção de se<br />
tornar rico procurava uma formação que lhe desse retorno<br />
financeiro. Mas agora não. Decidiu que se formaria<br />
naquilo que gosta. Que o retorno financeiro não pagaria o<br />
preço de um sonho. Por isso decidiu partir para áreas<br />
humanas como s<strong>em</strong>pre gostou. Aprendeu que deveria<br />
194
viver o sonho de Deus, e que neste sonho priorizaria sua<br />
felicidade. Depois pensava ele, poderia oferecer sua<br />
formação para trabalhar e preparar pessoas para o Reino<br />
de Deus que é um Reino de Justiça.<br />
Felipe acorda com pingos de água que ca<strong>em</strong> sobre<br />
<strong>seu</strong> rosto. Abre os olhos e percebe que o t<strong>em</strong>po se fechou.<br />
Uma grande nuv<strong>em</strong> negra está sobre sua cabeça. Enquanto<br />
que Emanuel inicia mais um dia com a alegria costumeira<br />
de qu<strong>em</strong> estava s<strong>em</strong>pre de b<strong>em</strong> com a vida.<br />
Felipe.<br />
- Nossa! Parece que vai cair um pé d‟água! Falou<br />
- Ter<strong>em</strong>os uma t<strong>em</strong>pestade! Falou Emanuel.<br />
O T<strong>em</strong>po se fechou, começou uma enorme<br />
ventania e os raios e trovões assustadores. Felipe parecia<br />
que nunca tinha visto um t<strong>em</strong>poral tão feio. Os ventos<br />
eram violentos. As árvores balançavam de um lado ao<br />
outro. T<strong>em</strong>ia que algum raio pudesse atingir uma delas. As<br />
águas agora eram torrenciais e ele estava ensopado.<br />
Começou a t<strong>em</strong>er. Nas ruas descia uma enxurrada enorme.<br />
Parecia que as águas levariam tudo.<br />
- Precisamos nos esconder. Disse Felipe assustado<br />
com a violência dos ventos e raios.<br />
- Ficamos <strong>em</strong> baixo da árvore. Disse Emanuel.<br />
195
Felipe notara que Emanuel s<strong>em</strong>pre estava muito<br />
tranquilo. Não apresentava medo e mostrava uma<br />
confiança s<strong>em</strong>pre grande. Era sereno e transmitia muita<br />
paz. Apesar de toda aquela t<strong>em</strong>pestade, Felipe se sentia<br />
seguro ao lado de Emanuel. Como que a sensação de que<br />
por pior que fosse qualquer t<strong>em</strong>pestade, ao lado de<br />
Emanuel, tudo poderia se acalmar. E foi justamente isso<br />
que aconteceu.<br />
Emanuel.<br />
- T<strong>em</strong> medo da t<strong>em</strong>pestade, Felipe? Perguntou<br />
- Tenho! Lá no morro as pessoas dev<strong>em</strong> estar<br />
desesperadas. S<strong>em</strong>pre quando acontece uma chuva desta<br />
proporção há desmoronamento. Minha tia deve estar com<br />
muito medo, quando começa uma t<strong>em</strong>pestade ela me<br />
chama, me abraça e pede para eu orar com ela. Quando<br />
meu pai esta lá ele s<strong>em</strong>pre se senta ao lado dela e oram<br />
juntos. Disse Felipe.<br />
- Por pior que seja uma t<strong>em</strong>pestade na vida da<br />
gente ela s<strong>em</strong>pre passa. Disse Emanuel.<br />
- Esta parece que não vai passar nunca. Disse<br />
Felipe meio que sorrindo.<br />
Emanuel.<br />
- Passará Felipe. Todas elas passam. Disse<br />
196
- Quando estou <strong>em</strong> minha casa a noite e escuto a<br />
chuva no telhado s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>bro de uma canção que meu<br />
pai cantava pra mim. Ela é assim:<br />
Para mim, a chuva no telhado,<br />
é cantiga de ninar,<br />
mas o pobre meu irmão,<br />
para ele a chuva fria,<br />
vai entrando <strong>em</strong> <strong>seu</strong> barraco,<br />
e faz lama pelo chão...<br />
Como posso, ter sono sossegado,<br />
se no dia que passou, os meus braços eu cruzei...<br />
Como posso ser feliz, se ao pobre meu irmão,<br />
eu fechei o coração, meu amor eu recusei...<br />
Para mim, o vento que assovia,<br />
é noturna melodia,<br />
mas o pobre meu irmão,<br />
ouve o vento angustiado,<br />
pois o vento esse malvado,<br />
lhe desmancha o barracão...<br />
Neste momento Emanuel parecia chorar, ou era a<br />
água da chuva que descia <strong>em</strong> <strong>seu</strong> rosto. Emanuel levantou-<br />
197
se e começou a cantar junto com Felipe esta cantiga.<br />
Enquanto cantava ele estendeu sua mão para o céu e a<br />
t<strong>em</strong>pestade parou, como se tivesse obedecendo às suas<br />
ordens.<br />
- Muito das desgraças que acontec<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>seu</strong><br />
t<strong>em</strong>po são fruto do egoísmo e da incompetência que os<br />
humanos têm <strong>em</strong> administrar o que Deus na sua infinita<br />
bondade ofereceu. Deus é próspero e tudo fez <strong>em</strong><br />
abundância, mas os homens tomaram para si o que não<br />
lhes é devido, uns poucos roubaram o que deveria ser de<br />
todos e por isso a injustiça faz com que desgraças<br />
acontec<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>po todo. Muitas doenças, tragédias e<br />
tristezas foram criadas pelos homens. Um dia descobrirão<br />
claramente o que o mau uso e a ganância desenfreada<br />
fizeram e criaram de mal para vocês mesmos. Deus jamais<br />
deixou de abençoar <strong>seu</strong> povo com chuvas torrenciais de<br />
graças. De graça recebestes e de graça deveis dar. Quando<br />
não se obedece ao que Deus pede acontece a desgraça.<br />
Deus s<strong>em</strong>pre ordena para o b<strong>em</strong> de <strong>seu</strong>s filhos. Mas<br />
jamais Deus desistirá de <strong>seu</strong>s filhos amados. Ele confia na<br />
humanidade e se exist<strong>em</strong> poucos que desrespeitam,<br />
exist<strong>em</strong> outros que são sinais do reino de Deus no meio da<br />
humanidade. Por eles e pelos sofrimentos e doações destes<br />
198
se faz acontecer o Reino de Deus. Na b<strong>em</strong> da verdade é<br />
um pouco, um resto, mas que faz a diferença. Um pouco<br />
de fermento, fermenta toda a massa.<br />
Felipe estava molhado e tr<strong>em</strong>endo de frio.<br />
Desejava sua casa. Saudades da sua cama. Um banho<br />
quente. Trocar de roupa.<br />
- Vamos precisamos caminhar mais um pouco <strong>em</strong><br />
direção ao Reino de Deus. Disse Emanuel.<br />
- Aonde vamos? T<strong>em</strong> chuveiro lá? Roupa lavada?<br />
<strong>Bom</strong> café e algo para comer? Perguntou Felipe sorrindo.<br />
- T<strong>em</strong> sim! T<strong>em</strong> água. T<strong>em</strong> o que comer, uma<br />
comida milagrosa. Roupa não é probl<strong>em</strong>a. Disse Emanuel<br />
sorrindo.<br />
- Para onde vamos? Perguntou Felipe.<br />
- Vamos voltar ao Monte Horeb. Disse Emanuel.<br />
Neste momento se abre novamente a porta e Felipe<br />
passa por ela e encontra novamente um lugar tranqüilo<br />
com sol.<br />
- Que lugar é este? Perguntou Felipe.<br />
- Monte Carmelo. Tome as vestes, banhe-se. O<br />
alimento virá depois. Disse Emanuel.<br />
Neste momento Felipe vê um hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> destaque<br />
ao centro <strong>em</strong> frente a um altar, acompanhado de muitos<br />
199
outros e de uma multidão de pessoas observando. Ele<br />
escarnecia e dizia aqueles homens:<br />
- Gritai com mais força, pois seguramente ele é<br />
deus; mas está entretido <strong>em</strong> alguma conversa, ou ocupado,<br />
ou <strong>em</strong> viag<strong>em</strong>, ou estará dormindo...e isso o acordará.<br />
- Qu<strong>em</strong> é ele? Perguntou Felipe.<br />
- É o profeta Elias e os sacerdotes de Baal!<br />
Respondeu Emanuel<br />
Aqueles homens diante do altar com um cordeiro<br />
invocavam com força por Baal, retalhavam-se com<br />
espadas até se cobrir<strong>em</strong> de sangue. Mas não acontecia<br />
nada. Parecia que este deus Baal realmente era surdo.<br />
Então Elias chamou todos os outros ao <strong>seu</strong> redor.<br />
Preparou o altar, colocou a lenha, o boi <strong>em</strong> pedaços, e<br />
esparramou muita água sobre o altar. Então ele se<br />
aproximou e fez a seguinte oração:<br />
- Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel,<br />
saibam todos hoje que sois o Deus de Israel, que eu sou o<br />
vosso servo e que por vossa ord<strong>em</strong> fiz todas estas coisas.<br />
Ouvi-me, Senhor, ouvi-me: que este povo reconheça que<br />
vós, Senhor, sois Deus, e que sois vós que converteis os<br />
<strong>seu</strong>s corações!<br />
200
Neste momento desceu do céu um fogo e consumiu<br />
o holocausto, a lenha, as pedras, a poeira e até mesmo a<br />
água.<br />
O povo prostrou-se com o rosto por terra e gritava:<br />
- O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!<br />
Neste momento Emanuel retirou Felipe dali.<br />
Achou melhor que ele não presenciasse o que viria depois.<br />
Ele levou Felipe ao alto do monte e ali ficaram para<br />
aguardar a próxima experiência que estava para acontecer.<br />
Emanuel tirou as sandálias dos pés. Felipe ao observar<br />
também tirou <strong>seu</strong> calçado. Enquanto descansavam <strong>em</strong> uma<br />
sombra Felipe lhe perguntou:<br />
tirar as sandálias<br />
lugar?<br />
- Agora onde estamos? Parece que conheço este<br />
- No Monte Horeb! Respondeu Emanuel<br />
- A montanha de Moisés. Por isso tirou as<br />
sandálias, pois é um lugar santo? Perguntou Felipe.<br />
- Sim Felipe! Tirar as sandálias dos pés e ficar<br />
descalço é uma atitude significativa.<br />
201
- Me explique, por favor. Aqui t<strong>em</strong>os tantas pedras<br />
e a areia do deserto é quente. Disse Felipe.<br />
- A sandália representa a dignidade de uma pessoa.<br />
Representa também estar calçado: a sua condição social,<br />
<strong>seu</strong> status diante da sociedade. Adão e Eva andavam<br />
descalços e nus, pois não precisavam viver de aparências.<br />
Após o pecado se sentiram nus, despidos e por isso se<br />
vestiram. Portanto não puderam mais pisar <strong>em</strong> solo santo,<br />
saíram do paraíso. Tirar as sandálias é despir-se de tudo<br />
aquilo que você pensa que é para ser o que você realmente<br />
é diante de Deus. Pois só quando você abre mão do <strong>seu</strong><br />
status, de sua condição social, de <strong>seu</strong>s conhecimentos e<br />
orgulhos é que Deus então pode entrar e realizar a vontade<br />
<strong>em</strong> sua vida. Tirar as sandálias também nos leva a pensar<br />
<strong>em</strong> purificação, visto que ela acumula as impurezas dos<br />
caminhos por onde passamos. Quando estamos diante de<br />
Deus não importa qu<strong>em</strong> eu penso que sou, qual foi meu<br />
passado, o que importa é acolher sua vontade. Qu<strong>em</strong><br />
chega coberto de razões e conhecimentos não permanece<br />
<strong>em</strong> solo santo. Pisar um lugar sagrado é preciso estar<br />
descalço e deixar de fora tudo o que impede a sua<br />
comunhão com Deus. Chegar a um lugar sagrado com<br />
verdades pré-estabelecidas é nunca encontrar a verdade<br />
202
absoluta. Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> os pés calçados, ou seja, não possui<br />
humildade, não permanece <strong>em</strong> lugar santo. Veja o caso de<br />
Moisés, ele foi educado e criado para ser rei, para<br />
escravizar, com a mentalidade do Egito, do Faraó. Quando<br />
tirou as sandálias ele foi reeducado por Deus para libertar<br />
e não oprimir. Portanto tirar as sandálias é mais que uma<br />
atitude física é uma decisão de mudança, de conversão e<br />
mentalidade. Para conhecer o Reino é preciso andar<br />
descalço do <strong>seu</strong> eu, das suas vaidades e calçar-se com<br />
atitudes de santidade e reverência diante daquele que é o<br />
Santo dos Santos. Ao tirar minhas sandálias quis que<br />
tomasse esta atitude também para que entendesse que com<br />
humildade e simplicidade saberá viver o Reino de Deus<br />
<strong>em</strong> sua vida. Quero que a cada experiência e encontro com<br />
Deus verdadeiro possa sair calçado e vestido de pureza e<br />
santidade. Portanto sonhe s<strong>em</strong>pre com os pés no chão e<br />
não calçado com suas vaidades e desejos pessoais.<br />
- E com os olhos <strong>em</strong> Deus! Disse Felipe.<br />
- Sim! Sonhe alto! Sonhe o sonho de Deus <strong>em</strong> sua<br />
vida! Completou Emanuel.<br />
- O que houve foi um desafio do profeta Elias aos<br />
sacerdotes de Baal? Perguntou Felipe sobre o fato anterior.<br />
203
- Sim! Elias convocou os mais de quatrocentos<br />
sacerdotes de Baal e pediu que eles invocass<strong>em</strong> o deus<br />
deles e nada aconteceu, quando Elias invocou o Deus de<br />
Abraão, Isaac... então desceu fogo do céu e devorou todo o<br />
holocausto. Com isso Elias provou que havia um único<br />
Deus.<br />
Falou Felipe.<br />
- Nossa que corag<strong>em</strong> e ousadia teve o profeta Elias.<br />
- Sim é preciso muita corag<strong>em</strong> para enfrentar Baal<br />
<strong>em</strong> sua vida. Disse Emanuel.<br />
- O que é significa Baal? Perguntou Felipe.<br />
- Baal representa toda divindade que alguém<br />
coloca <strong>em</strong> sua vida. São os ídolos que tomam o lugar de<br />
Deus na vida dos homens. Baal é descrito como um deus<br />
s<strong>em</strong>ita e era adorado pelos Cananeus e Fenícios. Baal<br />
significa "O Senhor". A pessoa s<strong>em</strong> notar deixa que Baal<br />
se torna senhor e proprietário da sua vida. Baal era<br />
principalmente um deus do sol, chuva, trovões, fertilidade<br />
e da agricultura e, <strong>em</strong> algum momento, ele ultrapassa o<br />
deus da água, Yam.<br />
- Se ele não existe porque Elias teria que ter muita<br />
corag<strong>em</strong> para enfrentá-lo? Perguntou Felipe.<br />
204
- Ele não existe como deus, pois só existe um só<br />
Deus. Mas está presente na vida das pessoas como<br />
realidade ilusória e enganadora. As pessoas criam ídolos<br />
<strong>em</strong> sua vida e ele passa a existir, mas como fantasia. N<strong>em</strong><br />
por isso deixa de fazer estragos na vida de um idolatra.<br />
Tudo aquilo que você deposita como confiança absoluta e<br />
solução para sua vida e que não é Deus é então Baal. Baal<br />
toma o lugar que deve ser de Deus e ao invés de você ter<br />
Deus como Senhor da sua vida ilusoriamente toma Baal<br />
como senhor. O dinheiro, os bens t<strong>em</strong>porais, o poder, o<br />
prestígio, a fama, a prosperidade quando colocados como<br />
b<strong>em</strong> supr<strong>em</strong>o tornam-se o Baal na vida de alguém.<br />
Enfrentar Baal é como jogar fogo do céu queimando toda<br />
mentira e apegos desnecessários.<br />
- É como dizia meu pai: T<strong>em</strong> coisas que o dinheiro<br />
não compra. Disse Felipe l<strong>em</strong>brando-se dos conselhos<br />
sábios de <strong>seu</strong> pai.<br />
- Justamente. Além de não comprar, como diz <strong>seu</strong><br />
pai, Baal retira da vida da pessoa o que é essencial. Não se<br />
pode servir a Deus e ao dinheiro. A prioridade jamais deve<br />
ser o lucro desmedido e sim a dignidade humana. Muitos<br />
se vend<strong>em</strong> a Baal trocando a vida pela morte, a dignidade<br />
205
pela indignidade, os valores que permanec<strong>em</strong> pelos<br />
valores que passam. Disse Emanuel.<br />
Disse Felipe.<br />
- Foi justamente isso que o profeta Elias enfrentou?<br />
- Sim! Todo profeta t<strong>em</strong> a missão de anunciar o<br />
Reino e denunciar as injustiças que aniquilam este Reino.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Eu quero ser profeta! Disse Felipe.<br />
- Então peça a Deus corag<strong>em</strong> e ousadia. Pois<br />
enfrentará os paradigmas e arrumará muitos inimigos <strong>em</strong><br />
sua vida. Disse Emanuel.<br />
- Quero enfrentar todos os sacerdotes de Baal com<br />
poder de fogo de Elias. Disse Felipe.<br />
- Este enfrentamento não se dá através de impactos<br />
como você viu ali no altar. Geralmente é uma luta diária<br />
persistente e perseverante. Que deve ser antes de tudo<br />
interior. É uma busca de você mesmo onde deverá a cada<br />
dia convencer a si mesmo a renunciar o que é<br />
desnecessário e optar por valores verdadeiros. Esta batalha<br />
interior se consegue com muita oração e convicção. É<br />
como dizer todo dia, eu venci, por hoje eu enfrentei e<br />
venci. E acima de tudo olhar para o céu e dizer: O pão<br />
nosso de cada dia. O altar onde se dá esta batalha é o<br />
206
coração. Todo dia t<strong>em</strong> que pedir que o fogo de Deus<br />
queime os ídolos que exist<strong>em</strong> dentro de si. Esta batalha é<br />
espiritual e só é compreendida com a alma e, portanto<br />
vencida com a firme decisão que v<strong>em</strong> da fé.<br />
- Meu pai e minha tia oravam todo dia antes das<br />
refeições a oração do pai nosso. Disse Felipe.<br />
- Vencer Baal não é ver fogo do céu todo dia<br />
descendo e sim manter o fogo de Deus todo dia aceso <strong>em</strong><br />
<strong>seu</strong> coração. Disse Emanuel.<br />
- Como faço para manter este fogo aceso?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Ter<strong>em</strong>os uma experiência muito bonita do profeta<br />
Elias. E saberá o que fazer para manter o fogo de Deus<br />
aceso dentro de si. Disse Emanuel.<br />
- Vamos para onde agora? Disse Felipe ansioso<br />
para aprender cada vez mais.<br />
- Voltar<strong>em</strong>os aqui no Monte Horeb. Agora vamos<br />
ao encontro de Elias. Disse Emanuel.<br />
- O Monte de Moisés. Disse Felipe.<br />
- O Monte da Oração. O monte s<strong>em</strong>pre é um lugar<br />
de adoração e oração. Lugar de encontro com Deus. Para o<br />
povo da bíblia os mandamentos se resumiam <strong>em</strong> Lei e<br />
Profeta. A Lei representada por Moisés e profeta<br />
207
epresentado por Elias. Portanto os dois se encontram no<br />
mesmo lugar: Monte Horeb que representa o Reino de<br />
Deus. A Lei e os Profetas têm <strong>seu</strong> sentido na compreensão<br />
e no serviço ao acolhimento do Reino de Deus.<br />
Felipe então viu se aproximar o profeta Elias no<br />
Monte Horeb. Estava abatido. Cabisbaixo depois de ter<br />
andado um dia no deserto, sentou-se debaixo de uma<br />
árvore.<br />
- Porque Elias está tão desanimado. Agorinha de<br />
pouco esta mandando fogo do céu, num espetáculo de<br />
poder e força de Deus. Como pode estar assim agora?<br />
- Como eu te disse. Caminhar na presença de Deus<br />
é saber viver o cotidiano e não viver de espetáculos<br />
extraordinários o t<strong>em</strong>po todo. Disse Emanuel.<br />
- Mas já desanimou? É estranho! Algo aconteceu<br />
com ele? Perguntou Felipe.<br />
- Ele enfrentou Baal que representava o poder de<br />
uma mulher chamada Jezabel, a rainha, que com ódio<br />
mandou que matasse o profeta Elias. Ele está aqui<br />
foragido e com medo. É o que eu digo, é preciso muita<br />
corag<strong>em</strong> para enfrentar Baal, pois mexerá com mordomias<br />
de muita gente, será incompreendido e perseguido.<br />
Mandar fogo descer do céu é fácil manter este fogo aceso<br />
208
no coração durante a perseguição e no cansaço é o desafio<br />
de qu<strong>em</strong> quer ser profeta de Deus. Acreditar enxergando o<br />
extraordinário qualquer um acredita. Acreditar no<br />
cotidiano da vida, no deserto e também na secura é para<br />
qu<strong>em</strong> ama de verdade.<br />
- É verdade. O fato de ser órfão de mãe me deixava<br />
triste e com revolta com Deus. Mas eu ponderava, quando<br />
meu pai faleceu então joguei todo meu ódio e culpa <strong>em</strong><br />
Deus.<br />
- Felipe não se culpe por isso. Passou um momento<br />
muito difícil da sua vida. Deus se sentiria triste se você<br />
não tivesse falado o que realmente sentia <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração.<br />
Sua oração chegou até Ele e jamais Deus se ofenderia.<br />
L<strong>em</strong>bra-se, espiritualmente falando, nada pode atingir a<br />
magnitude e Bondade de Deus por você. Quando precisar<br />
desabafar, grite e Deus estará ao <strong>seu</strong> lado s<strong>em</strong>pre.<br />
A conversa foi interrompida por uma frase de Elias<br />
que disse a Deus:<br />
- “Basta, Senhor, disse ele; tirai-me a vida, porque<br />
não sou melhor que meus pais”.<br />
Felipe agacha-se e olha frente a frente a Elias que<br />
havia adormecido de tanta tristeza. Dos <strong>seu</strong>s olhos<br />
escorr<strong>em</strong> lágrimas. Ele se l<strong>em</strong>brou daquele dia <strong>em</strong> que<br />
209
estava no banco da praça e o desejo do <strong>seu</strong> coração era o<br />
mesmo do desejo de Elias. Desejou a morte e não via mais<br />
razão alguma para viver. E por não possuir um sonho que<br />
superasse sua dor preferiu a morte. Felipe chorando como<br />
se estivesse olhando para si próprio disse:<br />
- Elias! Acredite! Não desista! Eu sei do que estou<br />
falando. Também pensava assim, mas Emanuel me<br />
ensinou a sonhar o sonho de Deus. Há muitas razões que<br />
dev<strong>em</strong> nortear <strong>seu</strong> coração e não a mesquinhez de desejar<br />
a própria morte, sim, existe milhares, milhões de pessoas<br />
que precisam do <strong>seu</strong> test<strong>em</strong>unho profético. Não tenha<br />
medo. Deus é nossa esperança e quando o conhec<strong>em</strong>os<br />
descobrimos uma maneira renovada de viver. Você pode!<br />
Acredite por favor, não desista antes de conhecer esta<br />
caminhada maravilhosa que é o Reino de Deus. Olhe as<br />
estrelas do céu, olhe os grãos de areias. Veja quantos<br />
cachos de uva exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua vida. Deus é maior que<br />
Jezabel! Nós vencer<strong>em</strong>os!!!!<br />
Emanuel <strong>em</strong>ocionou-se profundamente. Abaixou-<br />
se junto a Felipe. Colocou a mão no ombro de Felipe e<br />
Elias e disse:<br />
- Levanta-te e come<br />
210
Elias e Felipe olharam e viram junto deles um pão<br />
cozido debaixo da cinza, e um vaso de água. Comeram,<br />
beberam e Elias de tão desacorçoado que estava deitou-se<br />
e dormiu novamente.<br />
- Emanuel tocou novamente nos ombros de Felipe<br />
e Elias e disse:<br />
- Levanta-te e come, porque tens um longo<br />
caminho a percorrer.<br />
Elias e Felipe levantaram-se, comeram e beberam<br />
e, com o vigor daquela comida, parecia que Felipe havia<br />
adquirido uma força enorme, uma vitalidade como se<br />
estivesse sustentado por diversos dias. Emanuel lhe<br />
explicou que aquele alimento dera energia suficiente para<br />
Elias caminhar quarenta dias no deserto até a montanha<br />
Horeb. Disse a Felipe que aquele alimento o sustentaria<br />
agora até o final da jornada para encontrar o Reino de<br />
Deus. Na verdade esta jornada representava um t<strong>em</strong>po<br />
necessário de mudança de mentalidade que Felipe e Elias<br />
precisavam passar. O número quarenta na Bíblia significa<br />
um período completo. Era preciso que adquirisse a idade<br />
adulta da fé. Quarenta anos a terra é lavada de toda<br />
imundice na criação. Quarenta anos é o t<strong>em</strong>po que o povo<br />
ficou no deserto. Quarenta é o t<strong>em</strong>po da maturidade.<br />
211
Felipe estava a cada dia mais maduro na fé e pronto para<br />
<strong>em</strong> breve experimentar o que seria o maior impacto da sua<br />
vida: O Reino de Deus!<br />
Felipe.<br />
- Que pão delicioso, que alimento poderoso. Disse<br />
- É o pão do céu! T<strong>em</strong> gosto de céu! Disse<br />
Emanuel sorrindo.<br />
- É melhor do que a picanha que me preparou.<br />
Disse Felipe sustentado e alimentado.<br />
- T<strong>em</strong> proteínas que você n<strong>em</strong> imagina. São<br />
proteínas espirituais. Acredite é apenas um aperitivo do<br />
verdadeiro Pão do Céu. Daquele que se fez alimento e<br />
sustento para salvação de toda a humanidade. Falou<br />
Emanuel.<br />
- Às vezes eu acho você um pouco complicado,<br />
meio enigmático. Disse Felipe.<br />
- Quando conhecer o Reino de Deus entenderá o<br />
que estou falando. Disse Emanuel rindo do jeito de Felipe.<br />
A brisa ligeira<br />
Agora estavam no Monte Horeb novamente, desta<br />
vez Felipe tomou a iniciativa e tirou o calçado. E disse:<br />
212
- Quero estar despido para compreender o que<br />
Deus quer me falar neste dia. Quero estar nu de todos os<br />
meus pensamentos para que Deus me acolha como sou.<br />
Quero estar despido de toda a minha verdade para<br />
conhecer a verdade de Deus. Quero estar nu do meu<br />
passado para acolher o presente que Deus me oferece.<br />
Quero estar despido principalmente da minha imag<strong>em</strong>,<br />
para ser imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança do Pai. Disse Felipe com<br />
convicção e fé.<br />
- Os quarentas dias vividos com o pão descido do<br />
céu lhe fizeram muito b<strong>em</strong> à sua maturidade. Disse<br />
Emanuel feliz pelo progresso de Felipe.<br />
Emanuel.<br />
voz lhe falou:<br />
- Vamos para perto daquela caverna. Continuou<br />
Elias estava ali, passara a noite inteira. Então uma<br />
- “Que fazes aqui, Elias?”<br />
Ele respondeu:<br />
- “Estou devorado de zelo pelo Senhor, o Deus dos<br />
exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa<br />
aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos<br />
profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e quer<strong>em</strong> tirar-me<br />
a vida”.<br />
213
O Senhor disse-lhe:<br />
- “Sai e conserva-te <strong>em</strong> cima do monte na presença<br />
do Senhor: ele vai passar”.<br />
Nesse momento passou diante do Senhor um vento<br />
impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava<br />
os rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento.<br />
Depois do vento, a terra tr<strong>em</strong>eu; mas o Senhor não estava<br />
no tr<strong>em</strong>or de terra. Passado o tr<strong>em</strong>or de terra, acendeu-se<br />
um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do<br />
fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo<br />
Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-<br />
se a entrada da caverna. Uma voz disse-lhe:<br />
- “Que fazes aqui Elias?”<br />
Ele respondeu:<br />
- “Consumo-me de zelo pelo Senhor, o Deus dos<br />
exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa<br />
aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos<br />
profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e quer<strong>em</strong> tirar-me<br />
a vida.”<br />
Damasco”.<br />
O Senhor disse-lhe:<br />
- “Retoma o caminho do deserto, na direção de<br />
214
Elias partiu! Felipe e Emanuel ficaram ali na<br />
caverna. Felipe teve vontade de permanecer <strong>em</strong> silêncio.<br />
Sentia uma brisa suave bater <strong>em</strong> <strong>seu</strong> rosto. Parecia que<br />
uma mão o acariciava. Sentia um alento e descanso<br />
enorme. Sentiu-se amado e protegido. Aquela brisa suave<br />
de tão normal que era lhe transmitia a simplicidade da sua<br />
vida.<br />
- Que brisa gostosa! Disse Felipe enquanto<br />
avistava Elias partindo para o deserto.<br />
- Esta brisa suave é como o ar que respiramos. Está<br />
s<strong>em</strong>pre nos mantendo vivo, mas não perceb<strong>em</strong>os a sua<br />
importância. Imagine se um dia o ar faltar, ou a água,<br />
enfim o essencial para vida. Assim é Deus. Está presente<br />
como esta brisa que acaricia <strong>seu</strong> rosto. Ele é essencial para<br />
a vida. Ele é a força que rege todo o Universo <strong>em</strong> favor da<br />
humanidade. Não cobra por isso, é discreto e s<strong>em</strong>pre<br />
presente. Os homens na maioria das vezes não nota sua<br />
presença, pois Ele não se impõe. Mas se Ele faltar nada<br />
existirá. Porém nunca faltará, pois s<strong>em</strong>pre existiu e s<strong>em</strong>pre<br />
existirá. Ele é a razão da vida. A Ele e somente a Ele<br />
pertence a vida. Seu amor é como este ar que respira, o<br />
amor de Deus gera vida. Eu fui gerado por Deus no amor.<br />
Eu e o Espírito de Deus. Eu o amo e Ele me ama com<br />
215
amor incondicional. Nós amamos a humanidade com amor<br />
incondicional. Disse Emanuel como que <strong>em</strong>briagado pela<br />
presença perene daquela brisa.<br />
- Elias parece que partiu preocupado? Imagino que<br />
o caminho do deserto seria sua última escolha. Disse<br />
Felipe.<br />
- Geralmente a humanidade não escolhe o que é<br />
primordial, Deus é comumente sua última escolha e<br />
quando o hom<strong>em</strong> está cansado, Deus é a sua primeira<br />
escolha de descarte. Disse Emanuel.<br />
- Escolher Deus é optar pela felicidade. É uma<br />
escolha inteligente. Disse Felipe.<br />
- Mas os homens diz<strong>em</strong> que não t<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po para<br />
esta escolha. Disse Emanuel.<br />
- T<strong>em</strong>po é uma questão de preferência. Se<br />
soubéss<strong>em</strong>os o quanto é importante Deus <strong>em</strong> nossas vidas<br />
preferiríamos a Deus não como primeira escolha, e sim<br />
como necessidade. Não faz<strong>em</strong>os favor a Deus optando por<br />
Ele, decidimos por nós e pela nossa felicidade quando<br />
Deus é minha preferência. Disse Felipe.<br />
- Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não<br />
te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos<br />
céus, para dizeres: Qu<strong>em</strong> subirá por nós aos céus, que no-<br />
216
lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? N<strong>em</strong><br />
tampouco está além do mar, para dizeres: Qu<strong>em</strong> passará<br />
por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça<br />
ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está<br />
mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a<br />
cumprires. Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o<br />
b<strong>em</strong>, e a morte e o mal; Porquanto te ordeno hoje que<br />
ames ao SENHOR teu Deus, que andes nos <strong>seu</strong>s<br />
caminhos, e que guardes os <strong>seu</strong>s mandamentos, e os <strong>seu</strong>s<br />
estatutos, e os <strong>seu</strong>s juízos, para que vivas, e te<br />
multipliques, e o SENHOR teu Deus te abençoe na terra a<br />
qual entras a possuir. Porém se o teu coração se desviar, e<br />
não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido para te<br />
inclinares a outros deuses, e os servires. Então eu vos<br />
declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolongareis<br />
os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que,<br />
entrando nela, a possuas; os céus e a terra tomo hoje por<br />
test<strong>em</strong>unhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e<br />
a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para<br />
que vivas, tu e a tua descendência, amando ao SENHOR<br />
teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele;<br />
pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para<br />
217
que fiques na terra que o SENHOR jurou a teus pais, a<br />
Abraão, a Isaac e a Jacó, que lhes havia de dar.<br />
- Que palavra forte e bonita. Tudo esta ao nosso<br />
alcance. É só desejar que e o Reino acontecerá <strong>em</strong> nossa<br />
vida. Disse Felipe.<br />
- Justamente Felipe, sábias palavras. Cresceu<br />
quarenta anos <strong>em</strong> um. Disse Emanuel admirando sua<br />
maturidade espiritual. E prosseguiu:<br />
- Qual foi sua experiência de hoje?<br />
- Vi que Elias estava no Monte Horeb <strong>em</strong> profundo<br />
zelo por Deus. O Monte que é o local do encontro e da<br />
oração. Hoje me tocou muito a forma como Deus se<br />
manifestou a Elias.<br />
- Elias não estava ali por causa de Deus. N<strong>em</strong> por<br />
causa de <strong>seu</strong> zelo. Também não estava <strong>em</strong> oração. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Não? Perguntou Felipe meio decepcionado<br />
consigo mesmo.<br />
- Felipe n<strong>em</strong> toda expressão de oração ou devoção<br />
é necessariamente sincera ou correta. Há pessoas que se<br />
escond<strong>em</strong> atrás de uma devoção convencional, oram com<br />
os lábios, mas o coração esta distante. Alguns faz<strong>em</strong> da fé<br />
uma alternativa convencional para alcançar objetivos<br />
218
particulares e sonhos pessoais. É impossível adorar a Deus<br />
de coração sincero e permanecer insensível a realidade<br />
onde se encontra. Todo zelo a Deus leva a uma missão<br />
concreta. Disse Emanuel.<br />
- Como eu sei que não estou louvando de forma<br />
convencional? Perguntou Felipe<br />
- Se o fruto da sua oração e devoção leva-o amar.<br />
Disse Emanuel.<br />
Felipe.<br />
- E Elias não estava ali por amor? Perguntou<br />
- Não! Ele estava ali escondido e com medo da<br />
rainha Jezabel que o jurou de morte. Disse Emanuel.<br />
Disse Felipe.<br />
- Poxa! Mas a experiência que teve foi tão intensa.<br />
- Por que a experiência não depende de você, é<br />
gratuidade e v<strong>em</strong> de Deus. Deus não olha a fraqueza<br />
humana para agir. Ele age porque t<strong>em</strong> poder e não pela<br />
força do hom<strong>em</strong>. Elias estava com medo e quando um<br />
profeta t<strong>em</strong> medo de anunciar e denunciar ele perde a sua<br />
maior essência e, portanto perde também sua identidade. O<br />
louvor convencional é um fato grave e acontece<br />
justamente na vida de qu<strong>em</strong> se acostumou com a graça e<br />
perdeu <strong>seu</strong> primeiro amor.<br />
219
- Por isso Deus perguntou a ele o que estava<br />
fazendo ali? Foi então um puxão de orelha? Perguntou<br />
Felipe.<br />
- Sim! Foi uma tomada de consciência da<br />
verdadeira missão de um profeta. O que Elias disse a<br />
Deus? Ele disse: ““Estou devorado de zelo pelo Senhor, o<br />
Deus dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a<br />
vossa aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os<br />
vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e quer<strong>em</strong><br />
tirar-me a vida”.<br />
- É mesmo! Então ele se escondeu no Monte<br />
Horeb? Falou Felipe.<br />
- Sim se escondeu numa fé de conveniência. É<br />
muito confortável justificar sua miséria e <strong>seu</strong> medo se<br />
escondendo. Os covardes se escond<strong>em</strong> enquanto que o fiel<br />
expõe sua vida. Porque quando você expõe sua vida, é<br />
perseguido e criticado. Ninguém joga pedra <strong>em</strong> árvores<br />
s<strong>em</strong> frutos. Respondeu Emanuel.<br />
- Lá no morro o Negão é amado por muitos, mas<br />
exist<strong>em</strong> aqueles que o critica. Diz<strong>em</strong> que ele recebe<br />
dinheiro público e também é patrocinado por grupos de<br />
interesse. Ele já chegou a levar uma surra à noite por<br />
pessoas que quiseram fazê-lo calar. Mas ele é forte, não<br />
220
desiste e depois que apanhou ganhou mais força ainda. O<br />
povo parece que se uniu a ele e isto intimidou uma nova<br />
retaliação. Disse Felipe.<br />
- Pois então, Elias disse: “que os israelitas<br />
abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos<br />
altares e passaram os vossos profetas ao fio da espada”. Se<br />
tudo isso estava acontecendo, aonde o profeta deve estar?<br />
Perguntou Emanuel.<br />
- Deve estar onde precisa? Disse Felipe meio<br />
inseguro na resposta.<br />
- Justamente! É muito fácil ser profeta na<br />
montanha, distante da necessidade do povo. Deus o<br />
chamou para ser profeta aonde a palavra precisa ser<br />
s<strong>em</strong>eada. Disse Emanuel.<br />
- Mas ele tava jurado de morte pela rainha Jezabel.<br />
Aja corag<strong>em</strong> para enfrentar o poder. Disse Felipe.<br />
- Por falta de corag<strong>em</strong> exist<strong>em</strong> pessoas morrendo<br />
de fome, s<strong>em</strong> terra, s<strong>em</strong> direitos e s<strong>em</strong> a presença forte de<br />
Deus. É nessas condições que realmente você encontra<br />
pessoas que t<strong>em</strong> unção. Que estão morrendo de zelo por<br />
Deus! Disse Emanuel.<br />
221
- Literalmente falando! O Negão já foi jurado de<br />
morte várias vezes. Mas ele não arreda o pé de lá. Disse<br />
Felipe.<br />
- As pessoas pod<strong>em</strong> tirar a vida de alguém, mas<br />
não pod<strong>em</strong> comprar a alma e n<strong>em</strong> a dignidade de alguém.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Portanto Deus é Poderoso! Disse Felipe.<br />
- Sim! Deve-se ter medo não de qu<strong>em</strong> tira o corpo<br />
e sim que faz perder a alma. Disse Emanuel.<br />
- E Elias estava preocupado com sua vida. Ele<br />
disse: “Só eu fiquei, e quer<strong>em</strong> tirar-me a vida”. Comentou<br />
Felipe.<br />
- Não é fácil manter a fé nestas circunstâncias.<br />
Continuou Felipe.<br />
- Por isso é preciso de muita disciplina e<br />
determinação. Eis o segredo de uma vocação firme e<br />
consistente. Disse Emanuel.<br />
- Como se mantém disciplina e determinação?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Deus disse a Elias para ir ao alto do Monte na<br />
presença do Senhor, pois ele vai passar. Você precisa<br />
manter a disciplina do que lhe leva a enxergar o Senhor<br />
222
<strong>em</strong> sua vida e a determinação de procurá-lo s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> sua<br />
vida onde ele realmente está. Disse Emanuel.<br />
- Onde ele realmente está? Perguntou Felipe.<br />
- Está comumente no murmúrio de uma brisa<br />
ligeira. Geralmente Deus é procurado nos sinais<br />
extraordinários. Qu<strong>em</strong> o procura assim não está<br />
interessado <strong>em</strong> comprometer-se com <strong>seu</strong> projeto e sim no<br />
que Deus pode oferecer. Pois comprometer-se é dar a vida.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Pensei que quando veio aquele vento impetuoso e<br />
violento que até fendia a montanha e rachava as rochas, o<br />
tr<strong>em</strong>or de terra e o fogo, fosse a presença de Deus. Disse<br />
Felipe.<br />
- Mas foi na ligeira brisa que você sentiu a<br />
presença dEle. Disse Emanuel.<br />
- Senti uma enorme paz! Como que se o Pai<br />
estivesse acariciando meu rosto com aquele vento<br />
tranquilo que batia <strong>em</strong> meu rosto. Disse Felipe.<br />
- Qu<strong>em</strong> vive atrás de sinais e de graças apenas, não<br />
conhece o Senhor e viverá da ignorância da sua real<br />
presença. Disse Emanuel.<br />
- O que é a brisa ligeira? Perguntou Felipe?<br />
223
- A brisa ligeira é o cotidiano da sua vida. É no dia<br />
a dia que você realmente vive Deus. Tr<strong>em</strong>ores, vento<br />
impetuoso, fogo não são comuns. A brisa é comum. O ar<br />
que respiramos é comum. Portanto viver Deus é como<br />
respirar o ar. Deve estar o t<strong>em</strong>po todo <strong>em</strong> sintonia com o<br />
<strong>seu</strong> amor. É ser fiel a Deus nas pequenas coisas. Qu<strong>em</strong><br />
não é fiel nas pequenas coisas da vida como poderá ser nas<br />
grandes? O t<strong>em</strong>po todo Deus está ao <strong>seu</strong> lado e dando<br />
sinais da sua presença. Estes pequenos sinais na verdade é<br />
que são necessários para sua sobrevivência espiritual,<br />
assim como o ar que respira, a água que bebe, o sol que<br />
lhe ilumina. N<strong>em</strong> perceb<strong>em</strong>os sua existência às vezes, mas<br />
eles não pod<strong>em</strong> faltar, pois não haverá condições de vida.<br />
Deus é assim! Tão discreto. É poderoso, mas ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po simples. Ele não pode faltar à sua vida. É Ele que<br />
sopra o ar, Ruah, da vida <strong>em</strong> você. O sorriso de uma<br />
criança, o alimento cotidiano, o trabalho, a saúde, o nascer<br />
e o por do sol, a oração, o perdão, o pão de cada dia, a<br />
chuva, um abraço, um beijo, a natureza, os bens t<strong>em</strong>porais<br />
necessários para sua sobrevivência, os filhos, a esposa, o<br />
esposo, o pai, a mãe, a família, a amizade, uma mão que<br />
lhe estende quando mais precisa, enfim tudo que parece<br />
ser tão comum é a presença perene de que Deus está ao<br />
224
<strong>seu</strong> lado. Valorizar os sinais cotidianos e essenciais à sua<br />
felicidade é sentir a presença de Deus.<br />
Felipe refletiu sobre sua vida. Estava s<strong>em</strong>pre<br />
correndo para lá e para cá. Quando <strong>seu</strong> pai o chamava para<br />
ajudá-lo no serviço de jardineiro ele murmurava pela<br />
vergonha de ser aprendiz de jardineiro e pelo trabalho <strong>em</strong><br />
si que não gostava. Passava poucas vezes no centro<br />
comunitário para falar com a Lúcia. Não dialogava com<br />
sua tia. Às vezes n<strong>em</strong> bebia água necessária e quanto<br />
t<strong>em</strong>po fazia que n<strong>em</strong> reparava no nascer e por do sol. Seu<br />
t<strong>em</strong>po era preenchido por reclamações e murmurações do<br />
tipo: não ter mãe, não suportar sua tia, não ser feliz, não<br />
gostar do que o pai fazia, não entender porque Lúcia<br />
perdia tanto t<strong>em</strong>po no Centro Comunitário. Ficava o maior<br />
t<strong>em</strong>po da sua vida ao lado de Bianca falando do futuro,<br />
sonhando com dinheiro, menosprezando o morro e as<br />
pessoas de lá. Falando mal da sua vida. Se pudesse voltar<br />
ao t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que <strong>seu</strong> pai estava vivo pegaria uma enchada<br />
e o convidaria a trabalhar <strong>em</strong> algum jardim. Como pode<br />
ser tão egoísta e não perceber que era esta a hora que Deus<br />
proporcionava a ele ficar junto com qu<strong>em</strong> mais amava.<br />
Muitas vezes <strong>seu</strong> pai puxava assunto com ele e ele mal<br />
humorado o desprezava. Se pudesse voltar ficaria a vida<br />
225
inteira no jardim ao lado do pai, é o que mais desejava<br />
hoje. No jardim cotidiano da sua vida a flor mais bela era<br />
<strong>seu</strong> pai e ele não percebeu. Deus passou e eu não vi.<br />
L<strong>em</strong>brou-se do que <strong>seu</strong> pai lhe disse certa vez <strong>em</strong> um<br />
destes jardins: “Filho nós colh<strong>em</strong>os o que plantamos na<br />
vida”. Então disse a Emanuel:<br />
- A gente colhe o que planta.<br />
- Felipe, se colhe o que planta. Plante agora, pois o<br />
que não plantar hoje, amanhã não poderá colher e o hoje<br />
que não plantou é ont<strong>em</strong>, portanto não poderá plantar<br />
mais. Então olhe suas mãos, olhe os berakas da sua vida, e<br />
hoje poderá no cotidiano da sua vida preparar um belo<br />
jardim. Amanhã com certeza as flores estarão rindo pra<br />
você. Disse Emanuel.<br />
- Hoje eu quero ser feliz. Hoje eu quero plantar.<br />
Hoje eu serei o jardineiro da minha vida. Disse Felipe.<br />
- Seja s<strong>em</strong>pre um aprendiz do Jardineiro Divino,<br />
pois é nas pequenas coisas que encontramos Deus. Disse<br />
Emanuel sorrindo.<br />
- Sabe que eu estou sentindo orgulho de ser<br />
aprendiz de jardineiro. Meu pai me ensinou que a vida<br />
pode ser mais colorida se eu plantar e cultivar flores de<br />
226
afeto e carinho. Eu deveria ter aprendido isso enquanto<br />
meu pai estava vivo. Disse Felipe.<br />
- O que passou...passou. Hoje você está maduro<br />
para enxergar isso. Hoje você pode fazer a diferença.<br />
Hoje! Felipe lança <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração a s<strong>em</strong>ente do perdão a<br />
si mesmo. Disse Emanuel.<br />
Felipe sentiu um alívio grande dentro de si.<br />
Repetiu muitas vezes: eu me perdou! Felipe agora estava<br />
com a alma mais leve do que nunca. Havia perdoado a si<br />
mesmo.<br />
- Então Elias após esta experiência compreendeu o<br />
que Deus queria dele? Perguntou Felipe.<br />
- Deus falou a ele após esta experiência que<br />
voltasse para o deserto, que representa enfrentar suas<br />
dificuldades e <strong>seu</strong> medo. Ele voltaria para onde estava<br />
jurado de morte. Lá Deus o queria morrendo de zelo.<br />
Disse Emanuel.<br />
- Ele foi morto? Perguntou Felipe.<br />
- Elias foi arrebatado ao céu <strong>em</strong> vida por uma<br />
carruag<strong>em</strong> de fogo. Ninguém morre servindo a Deus. Pois<br />
a promessa de Deus na vida daquele que o ama e serve é<br />
Vida <strong>em</strong> Plenitude. Qu<strong>em</strong> vive Deus não morre: eterniza.<br />
É Vida Eterna!<br />
227
- Ser fiel por alguns momentos é fácil, permanecer<br />
fiel pelo resto da vida é disciplina e determinação. Para<br />
isso é preciso não almejar por sinais extraordinários e sim<br />
saber respirar a brisa suave da presença de Deus por toda a<br />
vida. Disse Felipe.<br />
- Bonita lição deste dia. Quando falo <strong>em</strong> sonhar o<br />
sonho de Deus, não falo do extraordinário, da ambição de<br />
ser de Deus a todo custo, falo do cotidiano. Daquilo que se<br />
constrói diariamente a cada passo de uma vez. É degustar<br />
o sabor de ser feliz ao lado de Deus <strong>em</strong> sua vida. Então<br />
quando olhar para o passado verá que as pequenas coisas<br />
fizeram uma enorme diferença na vida de qu<strong>em</strong> amou.<br />
Poderá olhar para o futuro de alma lavada e de consciência<br />
tranquila, pois s<strong>em</strong>easte um futuro melhor. Mas não se<br />
esqueça nunca que tudo acontece hoje e, portanto hoje<br />
viva o sonho de Deus. Disse Emanuel.<br />
- Quero fazer muitas pessoas felizes! Disse Felipe.<br />
- Muitas pessoas não é pequena coisa. Como disse<br />
minha amiga e amada Teresa de Calcutá: “Por uma alma<br />
vale a pena. Posso ser uma gota no oceano, mas s<strong>em</strong> esta<br />
gota o oceano seria menor”. Disse Emanuel.<br />
- Serei uma gota. Disse Felipe<br />
228
- Então não carregará o peso de fazer muito e sim a<br />
satisfação de fazer com intensidade o que faz. Deus é<br />
qu<strong>em</strong> faz! A você cabe o desejo sincero e não<br />
convencional de desejar servir. Subir ao monte é<br />
justamente buscar na oração sincera, aquela que brota do<br />
coração e que lhe dá o desejo de ser de Deus. Disse<br />
Emanuel.<br />
- Amém! Assim seja! Eu quero! Disse Felipe <strong>em</strong><br />
uma solene profissão de fé.<br />
229
O sonho de Maria<br />
Após um ótimo sono inicia-se um novo dia e<br />
Emanuel estava como s<strong>em</strong>pre cantando:<br />
Vou lhe contar uma história<br />
de uma jov<strong>em</strong> chamada Maria,<br />
<strong>em</strong> Nazaré da Galiléia<br />
outra igual eu não sei se existia.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
resolveu se casar com José.<br />
Vou começar minha história<br />
rel<strong>em</strong>brando as garotas de então,<br />
<strong>em</strong> Nazaré da Galileia<br />
o assunto era libertação.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
resolveu assumir sua fé.<br />
Vou prosseguir minha história,<br />
rel<strong>em</strong>brando as idéias que havia,<br />
230
<strong>em</strong> Nazaré da Galileia<br />
a mulher muito pouco valia.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
foi a santa mulher de José.<br />
Vou recordar nesta história<br />
as batalhas que o mundo hoje trava,<br />
<strong>em</strong> Nazaré da Galileia<br />
lá também já se massificava.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
inda não conhecera José.<br />
A jov<strong>em</strong> senhora um dia<br />
recebeu um recado divino,<br />
por ela o amor nasceria<br />
a verdade seria um menino.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
aceitou, mas não disse a José.<br />
Vou lhe falar da agonia,<br />
231
que nos dois corações se criou,<br />
pois ela explicar não podia<br />
e o marido, julgar não ousou.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
mereceu o amor de José.<br />
Para Belém noite e dia,<br />
caminharam pro recenseamento,<br />
ninguém deu abrigo a Maria,<br />
não havia mais alojamento.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
se tinha cabelos morenos,<br />
só sei que no ventre daquela flor,<br />
rejeitaram o libertador.<br />
Vou terminar minha história,<br />
recordando os casais de hoje <strong>em</strong> dia,<br />
<strong>em</strong> Nazaré da Galileia<br />
o divórcio também existia.<br />
Não sei se eram verdes <strong>seu</strong>s olhos,<br />
não sei se foi loira ou morena,<br />
só sei que Maria de Nazaré,<br />
foi fiel a <strong>seu</strong> Deus e a José.<br />
232
- Mais uma música, e esta conta a história de uma<br />
mulher. A música é de qu<strong>em</strong>? Qu<strong>em</strong> é esta mulher?<br />
Perguntou Felipe.<br />
Emanuel.<br />
- A música é do meu amigo Zezinho. Disse<br />
- Você gosta das músicas dele! Falou Felipe.<br />
- Sim! Um dos meus preferidos. Disse Emanuel.<br />
- E a mulher qu<strong>em</strong> é ela? Perguntou Felipe.<br />
- A criatura mais singela e mais bela que eu<br />
conheci. Felipe! Ela é minha mãe! Disse Emanuel.<br />
- Eu gostaria de conhecer sua mãe. Disse Felipe.<br />
- Você a conhecerá e acredite nunca mais se<br />
esquecerá dela. Disse Emanuel.<br />
- Você é um filho coruja! Cuidado para não<br />
idolatrá-la. Disse Felipe se l<strong>em</strong>brando da lição que teve<br />
sobre ídolos com Emanuel.<br />
- Não existe este perigo. Qu<strong>em</strong> a ama encontra-se<br />
com Deus. Disse Emanuel.<br />
- Ela deve ser uma santinha! Para aguentar o filho<br />
que t<strong>em</strong>. Disse Felipe rindo e brincando com Emanuel.<br />
233
- Pode acreditar! Ela é a mulher mais bendita e<br />
realmente não foi fácil suportar minha cruz. Disse<br />
Emanuel.<br />
Emanuel agora com ar de preocupação olha com<br />
ternura para Felipe e diz:<br />
- Chegou o momento de você conhecer o Reino de<br />
Deus. E eu preciso falar com você sobre algo muito<br />
importante, mas antes que eu diga quero que continue<br />
s<strong>em</strong>pre acreditando <strong>em</strong> mim. Eu disse a você que não o<br />
abandonaria e não abandonarei. Você acredita <strong>em</strong> mim?<br />
Disse Emanuel.<br />
Felipe ficou meio preocupado com a forma como<br />
Emanuel falou. E respondeu:<br />
- Eu acredito. Você me trouxe a alegria de viver.<br />
Me fez sonhar com o que vale a pena. Eu estou cheio de<br />
planos e sonhos. Minhas mãos estão cheias de s<strong>em</strong>entes.<br />
Meu coração está repleto de alegria e confiança. Algo<br />
estranho e muito bom esta me acontecendo. Eu tenho<br />
esperança. Antes de conhecê-lo sentia ausência de tudo.<br />
Parecia que minha vida era um inferno. Era um mendigo<br />
de sonhos. Você me ofertou mais do que um<br />
assistencialismo, me ofertou a dignidade e a felicidade.<br />
234
Sou um cidadão do infinito. Tenho um Pai e um amigo<br />
que me ama e está ao meu lado, o que preciso mais?<br />
Emanuel o abraçou fort<strong>em</strong>ente, <strong>seu</strong>s olhos<br />
lacrimejaram. E disse:<br />
- Amigo precisamos partir. V<strong>em</strong> e segue-me e<br />
conhecerás o Reino de Deus.<br />
Felipe ficava muito feliz quando Emanuel o<br />
chamava de amigo. Sentia que tinha uma missão muito<br />
grande <strong>em</strong> sua vida que o faria um dos amigos de<br />
Emanuel.<br />
- Hoje vamos conhecer sua mãe? Perguntou Felipe.<br />
- Sim Felipe! Mas você irá s<strong>em</strong> mim pelo menos<br />
do jeito que estamos caminhando nesta jornada rumo ao<br />
Reino de Deus.<br />
Emanuel.<br />
- Como assim? S<strong>em</strong> você? Perguntou Felipe.<br />
- Lhe enviarei um guia para sua caminhada. Disse<br />
- Mas você prometeu que não me deixaria? Felipe<br />
estava triste e preocupado.<br />
- Eu prometi e não deixarei, mas tenho uma missão<br />
a cumprir. Estará vivendo no t<strong>em</strong>po de Deus esta missão<br />
comigo. Porém não poderá passar pelo que tenho que<br />
passar. Disse Emanuel.<br />
235
Disse Felipe.<br />
- O que t<strong>em</strong> que passar? Perguntou Felipe.<br />
- Terei que sofrer muito. Falou Emanuel.<br />
- Então eu vou junto com você e sofr<strong>em</strong>os juntos.<br />
- Meu amigo. Fico feliz que queira repartir meu<br />
sofrimento. Mas acredite você não suportaria. Por isso<br />
quero lhe dizer algo. Você estará conhecendo o Reino de<br />
Deus. Estará vendo o Reino sofrer muito. Uma dor<br />
violenta. Sei que é um jov<strong>em</strong> forte, pois passou pelo<br />
sofrimento. Não desespere e n<strong>em</strong> desista de ir até as<br />
últimas consequências desta caminhada. L<strong>em</strong>bra-se<br />
estar<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre juntos e eu prometo que nos<br />
encontrar<strong>em</strong>os mais uma vez deste jeito que esta me<br />
vendo para nos despedirmos. Porém convém que eu vá,<br />
porque se eu não for o Paráclito não virá a vós. E quando<br />
Ele vier convencerá você de todas as verdades a meu<br />
respeito e a respeito de Deus. Haveis de estar triste agora,<br />
mas sua tristeza se transformará <strong>em</strong> alegria. Pois o que<br />
tenho que fazer é para garantir a você, <strong>seu</strong>s pais a Vida<br />
Eterna. Confie <strong>em</strong> mim! Não se perturbe o vosso coração.<br />
Corag<strong>em</strong>! Eu venci o mundo!<br />
Os dois se abraçaram <strong>em</strong> um profundo silêncio.<br />
Felipe sentia <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração que chegara a hora de<br />
236
conhecer o Reino de Deus. Confiava <strong>em</strong> <strong>seu</strong> amigo. Sabia<br />
que suas palavras eram dignas de confiança. Emanuel foi<br />
se afastando até que sumiu diante de <strong>seu</strong>s olhos. O fato de<br />
Emanuel prometer que ainda se viriam fez com que Felipe<br />
segurasse as lágrimas, pois estas palavras lhe trouxeram<br />
conforto e segurança.<br />
- Shalow Felipe! Alguém lhe tocara no ombro e lhe<br />
deseja um tipo de saudação.<br />
Felipe se voltou e viu um ser magnífico à sua<br />
frente. Estava curvado <strong>em</strong> sinal de respeito. Transmitia<br />
também muita paz e tranqüilidade.<br />
magnífico.<br />
- Estou aqui para lhe servir. Disse aquele ser<br />
- Me servir? Qu<strong>em</strong> é você?<br />
- Sou o Arcanjo Rafael.<br />
- Você é um anjo? Perguntou Felipe.<br />
- Sim! Na verdade um Arcanjo! Disse Rafael<br />
- O que é um Arcanjo? T<strong>em</strong> mais lá no céu?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Arcanjo significa Anjo principal ou Príncipe dos<br />
anjos. E a palavra Anjo, por sua vez, significa mensageiro.<br />
Somos Três anjos b<strong>em</strong> conhecidos: Miguel que significa<br />
<strong>em</strong> hebraico: "Qu<strong>em</strong> como Deus". Ele é um dos sete<br />
237
espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um<br />
dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. Gabriel<br />
que significa "Força de Deus" ou "Deus é a minha<br />
proteção". É muito conhecido devido a sua singular<br />
missão de mensageiro; Foi ele que anunciou o Reino de<br />
Deus o qual tanto procura.<br />
Felipe.<br />
- E você é o Rafael? Qual sua missão? Perguntou<br />
- Meu Nome significa “Deus curou” ou “Medicina<br />
de Deus”. Estou aqui para suavizar e curar <strong>seu</strong> coração.<br />
Mas na verdade guiarei <strong>seu</strong>s passos rumo ao Reino de<br />
Deus. Disse Rafael.<br />
- E porque se curva diante de mim que não sou<br />
nada? Eu que devo me curvar diante de você. Você que é<br />
o chefe! Falou Felipe.<br />
- Estou aqui <strong>em</strong> profunda obediência e amor a<br />
Emanuel. Disse Rafael.<br />
- Então Emanuel que é o chefão? Perguntou Felipe.<br />
- Ele é o meu Senhor! Disse Rafael com certo ar de<br />
orgulho e felicidade.<br />
acrescentou:<br />
- Qu<strong>em</strong> me dera ter asas para voar. Falou Felipe. E<br />
238
- O poeta Saramago disse: "Que os homens são<br />
anjos nascidos s<strong>em</strong> asas, é o que há de mais bonito, nascer<br />
s<strong>em</strong> asas e fazê-las crescer."<br />
- Muito bonito. Porém quanto maior for <strong>seu</strong> vôo<br />
maior dever ser sua humildade. Quanto maior a altura,<br />
pior o tombo. Disse Rafael.<br />
- Aprendi com Emanuel a criar asas e a sonhar<br />
vivenciando com intensidade o que vale a pena. Nas<br />
pequenas coisas, na brisa ligeira, no cotidiano construir<br />
um mundo melhor. Disse Felipe.<br />
Rafael.<br />
Rafael.<br />
- Todos nós aprend<strong>em</strong>os com Emanuel. Disse<br />
- Pelo jeito ele t<strong>em</strong> muitos amigos. Disse Felipe.<br />
- Ele é Amigo! Por isso o admiramos. Respondeu<br />
- Minha vida depois que o conheci mudou, agora<br />
t<strong>em</strong> sentido. Disse Felipe.<br />
Rafael.<br />
Felipe.<br />
- Ele é um ex<strong>em</strong>plo para todos nós! Exclamou<br />
- Sua mãe deve ter muito orgulho dele. Falou<br />
- Quer conhecê-la? Perguntou Rafael.<br />
- Sim!<br />
239
- Então vamos. Neste momento Rafael bateu as<br />
asas e se esqueceu que Felipe não voava. Olhou para baixo<br />
e voltou.<br />
- Desculpe. Disse Rafael<br />
- Cara que bonito o que fez. Disse Felipe extasiado<br />
com o vôo de Rafael.<br />
Então Rafael pediu que Felipe fechasse os olhos e<br />
que abrisse novamente. Quando abriu os olhos estava <strong>em</strong><br />
uma casa.<br />
- Onde estamos? Perguntou Felipe.<br />
- Na casa de Maria. Mãe de Jesus!<br />
- Mãe de Jesus? Perguntou Felipe.<br />
- Sim! Na casa da mãe de Emanuel! Você não<br />
queria conhecê-la? Perguntou Rafael.<br />
- Então Emanuel é Jesus? E estamos na casa de<br />
Maria Santíssima? Meu Deus! Disse Felipe extasiado.<br />
Felipe começou a olhar ao <strong>seu</strong> redor. Tudo parecia<br />
tão simples. Tão pequena aquela casa. Era muito b<strong>em</strong><br />
arrumada. Um lar que transmitia muita paz. Felipe<br />
sonhava com uma casa com mãe e pai. Quantas vezes ele<br />
pensou, se sua mãe estivesse ali na sua casa e com <strong>seu</strong> pai.<br />
Desejava muito saber o que é um lar com mãe e pai.<br />
Quando dizia a <strong>seu</strong> pai que sentia falta de uma mãe, ele<br />
240
s<strong>em</strong>pre lhe respondia que sua mãe estava lá no céu<br />
olhando por ele. Que sua mãe sentia orgulho do filho que<br />
ele era. Às vezes notava que <strong>seu</strong> pai ficava no canto da<br />
casa olhando para longe como que com saudades da<br />
esposa. Ele dizia que a amava muito e que não via mais<br />
sentido <strong>em</strong> procurar outra esposa. Que sua mulher ele a<br />
conquistou com muito custo e insistiu até conseguir tê-la<br />
<strong>em</strong> <strong>seu</strong>s braços. Disse que um dia com receio de pedi-la<br />
<strong>em</strong> namoro tomou uns goles a mais para tomar corag<strong>em</strong> e<br />
quando se aproximou dela levou um não. Ela lhe disse que<br />
daquele jeito não aceitaria um hom<strong>em</strong> ao <strong>seu</strong> lado. Então<br />
ele ficou envergonhado da sua atitude e sóbrio pediu-lhe<br />
então <strong>em</strong> outro dia sua mão. Ela aceitou. Disse que foi um<br />
dos momentos mais felizes da sua vida. Na verdade, foram<br />
dois, ele dizia: o sim de sua mãe e <strong>seu</strong> nascimento.<br />
L<strong>em</strong>bro-me que quando falava de <strong>seu</strong> casamento, dizia<br />
s<strong>em</strong>pre: O que um hom<strong>em</strong> precisa para ser feliz?<br />
Riquezas? Dinheiro? Fama? Eu sou feliz porque tenho<br />
uma esposa que me ama e um filho que eu tanto amo. Seu<br />
pai era assim, simples. Mas quando partiu sua esposa ele<br />
praticamente mudou. Brincava menos e trabalhava muito.<br />
Mas s<strong>em</strong>pre foi um pai carinhoso e afetuoso. Felipe então<br />
s<strong>em</strong>pre pensava, se minha mãe estivesse aqui <strong>em</strong> casa tudo<br />
241
seria diferente. A ausência de mãe é uma dor inexplicável.<br />
Assim definia s<strong>em</strong>pre Felipe. É como se ele tivesse<br />
perdido parte de sua personalidade. É como se houvesse<br />
uma história interrompida <strong>em</strong> sua vida. Uma ausência<br />
dolorida e um desejo constante de sentir o abraço e o<br />
carinho de qu<strong>em</strong> mais lhe importava. Esta era a sua<br />
verdade: ninguém jamais substituiria a ausência de sua<br />
mãe.<br />
Neste momento entra alguém no cômodo <strong>em</strong> que<br />
estava. Uma jov<strong>em</strong> menina. Era linda! De um s<strong>em</strong>blante<br />
doce e tranquilo. Parecia tão frágil! Tão f<strong>em</strong>inina! Estava<br />
arrumando a casa e parecia sorridente e feliz. Recitava<br />
uma oração:<br />
A minha alma glorifica o Senhor<br />
E o meu espírito se alegra <strong>em</strong> Deus, meu Salvador.<br />
Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva:<br />
De hoje <strong>em</strong> diante me chamarão<br />
b<strong>em</strong> aventurada todas as gerações.<br />
O Todo-Poderoso fez <strong>em</strong> mim maravilhas:<br />
Santo é o <strong>seu</strong> nome.<br />
A sua misericórdia se estende de geração <strong>em</strong> geração<br />
Sobre aqueles que o t<strong>em</strong><strong>em</strong>.<br />
242
Manifestou o poder do <strong>seu</strong> braço<br />
E dispersou os soberbos.<br />
Derrubou os poderosos de <strong>seu</strong>s tronos<br />
E exaltou os humildes.<br />
Aos famintos encheu de bens<br />
E aos ricos despediu de mãos vazias.<br />
Acolheu a Israel, <strong>seu</strong> servo,<br />
L<strong>em</strong>brado da sua misericórdia,<br />
Como tinha prometido a nossos pais,<br />
A Abraão e à sua descendência para s<strong>em</strong>pre<br />
- Qu<strong>em</strong> é ela? Perguntou Felipe.<br />
- É Maria, filha de Joaquim e Ana. A mãe de Jesus.<br />
Disse Rafael como que admirando aquela criatura.<br />
- Minha Nossa Senhora! Ela parece ter uns 16<br />
anos? Disse Felipe.<br />
- Na verdade ela t<strong>em</strong> quinze. Disse Rafael.<br />
- Então ainda vai d<strong>em</strong>orar pra ela receber o convite<br />
do anjo. Disse Felipe.<br />
interrompeu.<br />
- Não! Gabriel esta chegando! Disse Rafael.<br />
- Como assim com quinze anos?... Rafael o<br />
243
- Nesta época as mulheres se casavam com menos<br />
idade. Disse Rafael.<br />
- Ela t<strong>em</strong> uma beleza diferente. Disse Felipe.<br />
- A mulher mais bela de corpo e alma, a beleza de<br />
<strong>seu</strong> interior transcende <strong>seu</strong> natural agraciado. Disse<br />
Rafael.<br />
- S<strong>em</strong>pre imaginei que Maria fosse mais velha<br />
quando foi chamada por Deus para ser a mãe do Salvador.<br />
Disse Felipe.<br />
- É muito engraçado isso. Na terra poucas pessoas<br />
têm a clara consciência de qu<strong>em</strong> realmente foi Maria. Ela<br />
é muito amada, mas as pessoas costumam fantasiar e<br />
<strong>em</strong>belezar tanto, que o mais importante acaba passando<br />
despercebido que é a sua humanidade e santidade real.<br />
Disse Rafael.<br />
- É verdade, achei que tinha na cabeça uma aréola<br />
e que fosse toda iluminada. Que fosse algo tipo...<br />
continuou:<br />
- Um anjo? Disse Rafael.<br />
- Sim! Disse Felipe rindo.<br />
- Ela é mais do que os anjos. Disse Rafael e<br />
- Ela não t<strong>em</strong> genealogia e sua classe social não<br />
pode ser mais inferior: mulher, leiga, jov<strong>em</strong>, não casada,<br />
244
de uma cidade s<strong>em</strong> relevância e de uma região tão suspeita<br />
como a Galiléia, pouco religiosamente falando. Nas<br />
palavras próprias, se situa entre os pobres. Disse Rafael.<br />
Disse Felipe.<br />
- Deus é realmente desconcertante e surpreendente.<br />
- Deus! Neste momento Rafael curva-se com que<br />
acaba de pronunciar e prossegue:<br />
- É a Ele que a vida de Maria pertence. É a única e<br />
mais valiosa propriedade que ela carrega. Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> Deus<br />
(Rafael se curva novamente) não precisa de status,<br />
genealogia e riquezas. Maria foi a criatura humana mais<br />
plena de graça.<br />
Maria e diz:<br />
Neste momento aparece o anjo Gabriel diante de<br />
- Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.<br />
Maria parece que espantada e perturbada com tal<br />
saudação. Então o anjo Gabriel lhe disse:<br />
- Não t<strong>em</strong>as, Maria, pois encontrastes graça diante<br />
de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe<br />
porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á<br />
Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de<br />
<strong>seu</strong> pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o<br />
<strong>seu</strong> reino não terá fim.<br />
245
Maria perguntou ao anjo:<br />
- Como se fará isso, pois não conheço hom<strong>em</strong>?<br />
Respondeu-lhe o anjo:<br />
- O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do<br />
Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente<br />
santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.<br />
Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na<br />
sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por<br />
estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.<br />
Então disse Maria:<br />
- Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se <strong>em</strong> mim<br />
segundo a tua palavra.<br />
O anjo afastou-se dela.<br />
Rafael pediu que Felipe partisse com ele<br />
novamente e Felipe lhe pediu:<br />
de Maria.<br />
- Por favor, me deixe só um momento aqui aos pés<br />
- Pode ficar Felipe! Disse Rafael.<br />
aos pés de Maria<br />
Felipe se aproximou de Maria, ela estava sentada,<br />
com um sorriso nos lábios, <strong>seu</strong> coração parecia bater forte.<br />
246
Estava pensativa e com os olhos fechados <strong>em</strong> oração.<br />
Então Felipe sentou-se ao chão e olhando para ela<br />
começou a falar:<br />
- Mãe! Sei que t<strong>em</strong> tantos filhos neste mundo. Que<br />
conhece tantas mães e pais. Sei que um dia conforme sua<br />
oração as gerações lhe proclamarão b<strong>em</strong> aventurada. Ao<br />
contrário da maioria que conhece, eu faço parte de uma<br />
minoria. Não tenho mãe. E eu preciso lhe falar. Ela<br />
morreu quando tinha oito anos e eu sinceramente falando,<br />
sou carente de <strong>seu</strong> amor. Não sei o que é conselho de mãe.<br />
Não sei o que é um beijo de mãe. Não sei que gosto t<strong>em</strong><br />
colo de mãe. Nos meus documentos s<strong>em</strong>pre coloco órfão<br />
de mãe. Ela morreu com um tiro nas costas enquanto<br />
cuidava de mim. Eu não sei qu<strong>em</strong> a matou. Só sei que ela<br />
não voltará mais e sei também que o vazio de mãe não se<br />
preenche, pois s<strong>em</strong>pre aprendi que mãe só t<strong>em</strong> uma. Nas<br />
minhas redações na escola eu não podia falar de mãe.<br />
Chorei muito sua ausência. Na hora que ia pra cama<br />
desejava como ninguém que fizesse cócegas <strong>em</strong> meus pés<br />
e nunca mais você voltou para me dar sua benção. Só<br />
quero agora lhe agradecer por ter me amado. Pois se na<br />
l<strong>em</strong>brança carrego a saudades de você, posso dizer que<br />
carrego também a l<strong>em</strong>brança que enquanto era viva me<br />
247
amou com um amor que não existe <strong>em</strong> lugar nenhum que<br />
é o carinho e amor de mãe. Emanuel me ensinou que na<br />
vida não dev<strong>em</strong>os fazer muito e sim pouco, mas com<br />
intensidade. Minha vida ao <strong>seu</strong> lado durou apenas oito<br />
anos e eu fui amado com intensidade. Obrigado Mãe!<br />
Felipe agora soluçava e chorava como ninguém.<br />
Mas tarde dissera a Rafael que na sua dor sentia o sorriso<br />
de Maria.<br />
Rafael estava <strong>em</strong>ocionado. Entendia agora porque<br />
Emanuel lhe confiara sua missão. Estava diante de alguém<br />
que por ter sofrido muito era também amado muito.<br />
lhe:<br />
Rafael levantou Felipe do chão abraçou-o e disse-<br />
- Vamos! Emanuel pediu que eu explicasse tudo o<br />
que experimentarmos daqui para frente.<br />
Felipe levantou-se com os olhos fixos <strong>em</strong> Maria.<br />
Saiu da sua presença e estava agora na sombra de uma<br />
árvore. Quieto e pensativo.<br />
- Eu precisava muito falar aquilo. Disse Felipe.<br />
- Eu sei! Sou um anjo! Mas entendo as<br />
necessidades de vocês. Por isso tenho o dom da cura. Para<br />
servir a humanidade. E sei que de todas as ausências que<br />
exist<strong>em</strong>, a pior depois da ausência de Deus é a ausência de<br />
248
mãe e pai. Há tantos pais e mães que têm filhos e são tão<br />
ausentes na vida deles. Há tantos filhos que t<strong>em</strong> pai e mãe<br />
que são ausentes na vida deles. Às vezes parece que os<br />
humanos têm medo da felicidade e do amor. A maior parte<br />
das curas que realizo são carências afetivas. Disse Rafael.<br />
- Maria parecia tão amada! D<strong>em</strong>onstrava uma paz<br />
e um equilíbrio tão grande. E tudo isso na simplicidade.<br />
Disse Felipe.<br />
- Ana e Joaquim a amaram muito e a educaram<br />
para viver Deus. Não existe felicidade maior ou presente<br />
maior para oferecer ao filho do que a presença de Deus e<br />
viver <strong>seu</strong> sonho. Disse Rafael.<br />
- O sonho de Maria era ser a Mãe de Jesus?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- O sonho <strong>em</strong> ser a mãe do salvador estava no<br />
coração e na vida de toda crente daquela época. Pois o<br />
povo acreditava que seriam libertos da escravidão de<br />
Roma e tornaria uma nação livre com a vinda do Messias.<br />
Mas particularmente <strong>em</strong> se tratando de Maria creio que<br />
dificilmente ela pensava <strong>em</strong> ser a escolhida para ser a Mãe<br />
de Jesus. Ela não tinha ambição nenhuma humanamente<br />
falando a não ser uma pessoa consagrada e fiel a Deus.<br />
Qualquer mulher de <strong>seu</strong> t<strong>em</strong>po poderia pensar ou desejar<br />
249
ser a mãe do Messias. Não ela! Ela se achava indigna a tal<br />
missão. Não pelo pecado, pois era pura e sim pela<br />
humildade sincera que tinha.<br />
- Por isso ela perturbou-se e até mostrou um<br />
espanto com tal saudação? Perguntou Felipe.<br />
- Sim! Esta perturbação se deve, apesar de quinze<br />
anos apenas, a sua maturidade e consciência que uma<br />
visita do céu representa na vida de alguém. Disse Rafael.<br />
- Você a admira muito? Falou Felipe.<br />
- Nós a veneramos lá no céu. Pois ela disse sim a<br />
uma história de amor e salvação à humanidade. E este era<br />
o sonho de Maria ser alguém fiel e servidora de Deus.<br />
Disse Rafael.<br />
- Como Deus é desconcertante! Chama uma<br />
menina de quinze anos, de uma história simples de vida e<br />
faz dela a portadora da salvação da humanidade. Ela<br />
parece ser tão frágil. Tão jov<strong>em</strong>. Tão inocente.<br />
- As aparências enganam. Disse Rafael<br />
- Sim eu aprendi isso. Vendo para todos os que<br />
Deus chamou nesta jornada, inclusive Maria, sinto que<br />
posso oferecer algo também. Disse Felipe. E <strong>em</strong>endou:<br />
- Não tanto como eles, mas um pouco, pois aprendi<br />
a aceitar minha miséria.<br />
250
- A melhor forma de enxergar sua miséria é ver o<br />
poder de Deus que existe <strong>em</strong> você. Disse Rafael.<br />
Disse Felipe.<br />
- Mas não corre o risco de eu achar que sou bom!<br />
- Então pense s<strong>em</strong>pre assim: O que fiz de bom foi<br />
Deus qu<strong>em</strong> fez. O que fiz de mal foi minha miséria qu<strong>em</strong><br />
fez. Peça perdão, se aceite e continue s<strong>em</strong>pre caminhando<br />
e tentando. Disse Rafael.<br />
- O Êxodo! Certo?<br />
- Sim! Fugir do pecado e buscar a Terra Prometida:<br />
a santidade. Disse Rafael.<br />
- Porque Emanuel não me disse que era Jesus?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Por que você precisava estar preparado para<br />
entender no momento certo. Você passou por um processo<br />
de conversão, de entendimento e compreensão dos fatos.<br />
Disse Rafael.<br />
- Por que ele escolheu o nome de Emanuel?<br />
- Este é um dos nomes que o profeta Isaias lhe deu<br />
entre tantos: Isaias disse: “Porque um menino nos nasceu,<br />
um filho se nos deu, e o principado está sobre os <strong>seu</strong>s<br />
ombros, e se chamará o <strong>seu</strong> nome: Maravilhoso,<br />
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da<br />
251
Paz.” Mas Emanuel t<strong>em</strong> um significado maior quando o<br />
profeta Isaias se refere a este nome.<br />
- O que significa? Perguntou Felipe a cada vez<br />
querendo aprender mais.<br />
- Emanuel significa: Deus Conosco. É O Deus que<br />
está presente na vida de <strong>seu</strong> povo. O profeta Isaias se<br />
refere a ele com estas palavras duras: “Ouvi, casa de Davi:<br />
Não vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis<br />
também cansar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor<br />
vos dará um sinal: uma virg<strong>em</strong> conceberá e dará à luz um<br />
filho, e o chamará Emanuel.<br />
- Então o nascimento do menino Jesus de uma<br />
virg<strong>em</strong> é o grande sinal. Disse Felipe.<br />
- Sim Felipe! À humanidade foi dado o Sinal, que é<br />
Deus se humanizando e vindo morar entre vocês. É a<br />
encarnação do verbo. E o verbo se fez carne e veio morar<br />
entre nós. Não adianta pedir sinais a Deus na sua vida se<br />
não acolher o Sinal maior que é Emanuel. Disse Rafael.<br />
pensativo.<br />
- Puxa vida! Sinto-me indigno! Disse Felipe meio<br />
- Indigno? Por quê? Perguntou Rafael.<br />
- Estive ao lado de Emanuel e n<strong>em</strong> imaginava que<br />
era o Filho de Deus que veio entre nós. O menino nascido<br />
252
da virg<strong>em</strong>. Que honra para mim! É que Ele é tão simples<br />
que n<strong>em</strong> percebi que estava com Jesus. Eu sentia meu<br />
coração queimar quando ele me falava das coisas de Deus,<br />
mas não o reconheci. Disse Felipe.<br />
- Não se martirize! Na maioria das vezes os<br />
homens não enxergam Deus onde ele está. Disse Rafael.<br />
- Então Emanuel é o Reino? Perguntou Felipe.<br />
- Sim! Ele é o Reino de Deus entre nós! Quer viver<br />
o Reino? Viva Jesus! Siga os <strong>seu</strong>s passos. Viva suas<br />
palavras. Ele se fez tão claro e simples e os homens não<br />
consegu<strong>em</strong> entendê-lo. O <strong>seu</strong> reino é um Reino de amor.<br />
Disse Rafael.<br />
- Maria carregou dentro de <strong>seu</strong> ventre o Reino de<br />
Deus! Começou a história com Adão e Eva, passou por<br />
diversos personagens: Abraão, Isaac, Moisés, Profetas... e<br />
aconteceu no ventre de uma mulher a promessa. Disse<br />
Felipe.<br />
- A nova Eva trouxe <strong>em</strong> <strong>seu</strong> ventre a mais bela<br />
promessa! Em Jesus encarnado toda a humanidade<br />
eternizou-se. Disse Rafael.<br />
- Então consumou a vontade de Deus na vida de<br />
todos nós: a felicidade plena e eterna de <strong>seu</strong>s filhos. Disse<br />
Felipe.<br />
253
Rafael.<br />
Felipe.<br />
- Cabe a nós anunciar esta Boa Nova a todos. Disse<br />
- Precisamos converter e salvar as pessoas? Falou<br />
- Não Felipe! Qu<strong>em</strong> converte e salva é Jesus.<br />
Dev<strong>em</strong>os levar este Reino para as pessoas a fim de que<br />
encontr<strong>em</strong> a verdadeira felicidade e realização <strong>em</strong> suas<br />
vidas aqui e gora! Disse Rafael.<br />
- Hoje é t<strong>em</strong>po de divulgar e viver, conforme me<br />
ensinou Emanuel.<br />
- Hoje é o t<strong>em</strong>po de Deus! Confirmou Rafael.<br />
- Este nascimento se deu através do Espírito Santo?<br />
Maria não se casou com José?<br />
- Sim! O nascimento se deu através do Espírito<br />
Santo e José se casou com Maria. Disse Rafael.<br />
Felipe.<br />
- E como José acreditou nesta história? Perguntou<br />
- No inicio ele iria assumir a criança e depois<br />
fugiria para que Maria não fosse apedrejada <strong>em</strong> praça<br />
pública por ser mãe solteira, um costume daquela época.<br />
Para não difamar Maria, José partiria e sairia como<br />
culpado desta história. Porém, José teve um sonho e neste<br />
254
sonho o anjo lhe avisou. E Ele ficou ao lado de Maria.<br />
Mais tarde veio a falecer.<br />
- Então Deus agiu no sonho de José. E Emanuel<br />
também perdeu <strong>seu</strong> pai? Perguntou Felipe.<br />
- Sim! Falar através dos sonhos de alguém é uma<br />
das diversas formas que Deus t<strong>em</strong> para falar com <strong>seu</strong><br />
povo. Disse Rafael.<br />
- Por isso que ele me disse que entendia muito b<strong>em</strong><br />
a perda de meu pai. Às vezes acho que estou vivendo um<br />
sonho. Tudo isso que estou passando parece um sonho.<br />
Disse Felipe.<br />
- É um sonho real. Disse Rafael.<br />
- Então Maria foi viúva e também perdeu <strong>seu</strong> filho<br />
morto na cruz? Falou Felipe se l<strong>em</strong>brando do filme que<br />
assistiu.<br />
- Sim! Disse Rafael.<br />
- Como ela suportou tudo isso? Deve ter se<br />
revoltado? Ela compreendia tudo o que lhe acontecia? Já<br />
sei Gabriel aparecia para confortá-la e avisar o que estava<br />
acontecendo, certo? Perguntou Felipe.<br />
- Errado! Depois que Gabriel saiu da sua presença<br />
nunca mais a visitou. Sua compreensão dos fatos se dava<br />
pela fé que tinha. Mas o que mais encantou nesta mulher é<br />
255
que ela não queria explicações e n<strong>em</strong> exigia compreensão<br />
dos fatos. Ela acreditava e pronto. Sua atitude era guardar<br />
tudo no silêncio do coração.<br />
- Não seria melhor Deus enviar um anjo a ela e lhe<br />
consolar ou explicar as coisas, ou mesmo, um sinal para<br />
que ficasse tranquila? Falou Felipe.<br />
- Qu<strong>em</strong> precisa de sinais visíveis? Qu<strong>em</strong> precisa<br />
questionar a Deus? Qu<strong>em</strong> faz indagações e exige<br />
explicações? Qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> fé! Maria é uma mulher de fé!<br />
A fé é sua resposta. Para você dimensionar a fé desta<br />
mulher, o que a torna entre as criaturas a mais bendita é<br />
que ela não queria entender e n<strong>em</strong> compreender o que<br />
estava acontecendo. Simplesmente e humild<strong>em</strong>ente<br />
confiava e aceitava o que acontecia <strong>em</strong> sua vida na certeza<br />
de que a Deus pertence a sua vida. E se a Ele pertence<br />
tudo concorrerá para o <strong>seu</strong> b<strong>em</strong> ou para b<strong>em</strong> de alguém.<br />
Felipe ficou comovido com esta explicação.<br />
L<strong>em</strong>brou-se que disse a Emanuel que quando se encontrar<br />
com Deus faria suas indagações. Aprendeu que quando<br />
exist<strong>em</strong> dúvidas é porque falta a fé. Agora ele não tinha<br />
mais perguntas para fazer, pois diante de Emanuel tudo se<br />
iluminava e tudo fica claro. Que o sofrimento passageiro<br />
256
não se compara à alegria <strong>em</strong> acolher e viver o Reino de<br />
Deus.<br />
- Tudo o que acontece <strong>em</strong> nossa vida é vontade de<br />
Deus? Perguntou Felipe.<br />
- N<strong>em</strong> tudo Felipe! T<strong>em</strong> muitas coisas que<br />
acontec<strong>em</strong> pela casualidade da vida. Outras por que o livre<br />
arbítrio foi mal utilizado pelo hom<strong>em</strong>. Uma coisa é certa a<br />
dor não é vontade de Deus. Ele não se sente b<strong>em</strong> com o<br />
sofrimento de <strong>seu</strong>s filhos. Jamais desejaria que um filho<br />
<strong>seu</strong> sofresse. Por isso no <strong>seu</strong> respeito à liberdade do<br />
hom<strong>em</strong> transformou a dor e o sofrimento <strong>em</strong> força. Parece<br />
estranho o que vou lhe falar, mas o sofrimento, a dor leva<br />
muitas vezes as pessoas para uma realização maior, um<br />
entender para o que é essencial. Na dor o hom<strong>em</strong> l<strong>em</strong>bra-<br />
se dos <strong>seu</strong>s limites e com isso enxerga mais o outro, está<br />
mais propício a compreender o sofrimento alheio. A<br />
maioria das pessoas não procura Deus por amor e sim pela<br />
dor.<br />
- É meio estranho também o que eu vou falar, mas<br />
penso que se não fosse a tragédia que passei na vida não<br />
teria humildade <strong>em</strong> enxergar o Reino de Deus <strong>em</strong> minha<br />
vida. A dor me fez encontrar Emanuel. Disse Felipe.<br />
257
- Mas a dor não é o caminho pelo qual Deus optou<br />
para encontrar <strong>seu</strong>s filhos e sim o amor.<br />
Rafael interrompe o assunto e diz:<br />
- Venha! Vamos para o caminho de Belém! Ver o<br />
recém nascido Jesus. Disse Rafael.<br />
menino Jesus<br />
Enquanto caminhavam para Belém, Felipe foi<br />
notando pelos caminhos uma euforia e alegria dos<br />
pastores. Por eles passaram pastores glorificando e<br />
louvando a Deus. Chegaram diante do presépio. Rafael<br />
inclinou-se <strong>em</strong> profunda adoração o que fez Felipe imitá-<br />
lo. Ficaram assim por alguns minutos <strong>em</strong> silêncio. Do alto<br />
dos céus Felipe ouvia como que anjos cantando, parecia<br />
ser uma multidão, um exército de seres celestes que<br />
louvava a Deus e dizia: “Glória a Deus no mais alto dos<br />
céus e na terra paz aos homens de boa vontade”<br />
Felipe levantou a cabeça e observou então o lugar<br />
que a humanidade ofereceu ao menino Jesus nascer.<br />
Tomou corag<strong>em</strong> e ficou <strong>em</strong> pé. Enquanto Rafael estava<br />
<strong>em</strong> profunda adoração. Felipe abaixou-se tirou o calçado e<br />
com os pés no chão observava algo que nunca imaginou<br />
258
<strong>em</strong> sua vida. Já havia pensado muito nisso. Pensou<br />
consigo mesmo se eu não estiver descalço não entenderei<br />
o presépio. O Natal para ele, depois da morte de sua mãe,<br />
era s<strong>em</strong>pre um t<strong>em</strong>po de tristezas e angústias. Dizia que<br />
odiava o T<strong>em</strong>po de Natal. Aproximou-se do presépio e viu<br />
José, Maria e <strong>seu</strong> amigo Emanuel: um bebê. Era um lugar<br />
rústico, aparent<strong>em</strong>ente s<strong>em</strong> nenhuma dignidade, pelo<br />
menos antes disso acontecer. Parecia com um barraco.<br />
Felipe <strong>em</strong>ocionou-se e pensou consigo mesmo: “Jesus<br />
nasceu no morro”. Sim aquele presépio se parecia com<br />
alguns barracos do morro. Aquela menina de dezesseis<br />
anos estava deitada com a criança. No presépio s<strong>em</strong>pre a<br />
via <strong>em</strong> oração. Era muito diferente do que s<strong>em</strong>pre<br />
imaginou. Era tudo muito, mas muito simples. José<br />
aparentava muito mais velho do que Maria. Mas parecia<br />
muito com <strong>seu</strong> pai. Tinha um rosto de hom<strong>em</strong> vivido e<br />
sofrido. Mas principalmente aparentava honestidade.<br />
Felipe não se conformava com que estava vendo. Para ele<br />
aquele cenário era familiar. Tudo se parecia com o local<br />
onde morava. O menino Jesus chorava e Maria o<br />
amamentava. José parecia com os pais do morro, Maria<br />
com as meninas mães do morro e o menino Jesus as<br />
crianças que povoavam o morro. Os pastores que tinham<br />
259
aparências rudes ajudaram a acolher Jesus. Os pastores,<br />
José, Maria e o menino Jesus eram s<strong>em</strong>elhantes ao povo<br />
do morro. Era gente boa! Felipe sentia um orgulho naquele<br />
momento, pois o <strong>seu</strong> povo se parecia com a Família de<br />
Nazaré. Eles estavam desprovidos de tudo; de justiça<br />
humana, de aparências, de um lugar decente, de<br />
acolhimento, de honraria, de respeito público. Mas tinham<br />
paz! Sim! Pensava Felipe, Paz na terra aos homens de boa<br />
vontade. Todos aqueles pastores que os acolhia<br />
representavam todas as pessoas que com boa vontade<br />
acolh<strong>em</strong> o amor <strong>em</strong> sua vida. Felipe então tomou<br />
consciência do dia: É Natal! Onde as pessoas do <strong>seu</strong><br />
t<strong>em</strong>po estarão agora? Nas lojas? Comendo e bebendo?<br />
Brigando <strong>em</strong> família? As televisões anunciando Papai<br />
Noel e vendendo sonhos baratos ou caros para as pessoas<br />
<strong>em</strong> nome do aniversário do menino Jesus. N<strong>em</strong> agora e<br />
n<strong>em</strong> depois o menino Jesus encontra uma casa decente<br />
para morar. Felipe imagina o grande acontecimento que se<br />
dá diante de <strong>seu</strong>s olhos e iluminado pelo espírito de Natal<br />
ele sorri junto com o exército celeste e canta e dança como<br />
Rei Davi diante da Arca da Aliança que é Maria: “Glória a<br />
Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens de<br />
260
oa vontade”. E assim s<strong>em</strong> parar foi pulando e gritando e<br />
cantando:<br />
Glória, Glória, Aleluia Louv<strong>em</strong>os o Senhor!<br />
Na beleza do que v<strong>em</strong>os, Deus nos fala ao coração.<br />
Tudo canta: Deus é Grande, Deus é <strong>Bom</strong> e Deus é Pai.<br />
É <strong>seu</strong> Filho Jesus Cristo, qu<strong>em</strong> nos une pelo amor,<br />
Louv<strong>em</strong>os o Senhor!<br />
Deus nos fez comunidade pra vivermos como irmãos,<br />
Braços dados, todos juntos, caminhamos s<strong>em</strong> parar,<br />
Jesus Cristo vai conosco, Ele é Jov<strong>em</strong> como nós,<br />
Louv<strong>em</strong>os o Senhor!<br />
Jesus Cristo é Alegria, Jesus Cristo é o Senhor.<br />
Da vitória sobre a morte deu a todos o penhor.<br />
Vencer<strong>em</strong>os a tristeza, vencer<strong>em</strong>os o t<strong>em</strong>or, Louv<strong>em</strong>os o<br />
Senhor!<br />
Felipe olhou para o alto e lá estava Rafael <strong>em</strong> plena<br />
alegria com todos os anjos. O céu se alegrava pela vinda<br />
do menino Jesus aos homens na terra.<br />
Rafael então desceu e abraçou Felipe com muita<br />
força e entusiasmo e disse:<br />
- Feliz Natal! O verdadeiro Natal!<br />
261
Ambos ficaram ainda mais um pouco <strong>em</strong> profunda<br />
admiração e adoração ao menino Jesus. Em cima do<br />
presépio estava uma enorme estrela brilhando. O que mais<br />
encantava Felipe era a família de Nazaré ali reunida.<br />
L<strong>em</strong>brou-se do que lhe disse Emanuel:<br />
- Você está à busca do Reino de Deus. Não o<br />
busque esperando ver estruturas, n<strong>em</strong> ouro, n<strong>em</strong> prata.<br />
Não o procure nas riquezas humanas. Não o busque nos<br />
palácios. Não o busque na grandeza e n<strong>em</strong> nas aparências.<br />
O Reino de Deus nada t<strong>em</strong> a ver com estas coisas. Onde<br />
Deus mais se mostra é onde a maioria menos enxerga. Por<br />
isso o Reino de Deus veio e não o receberam.<br />
- Vamos Felipe, sinto que não tenho nada para lhe<br />
explicar esta noite. Você deve ter sentido o que aconteceu<br />
aqui. Disse Rafael.<br />
Felipe percebia que agora as coisas estavam mais<br />
claras para ele. Realmente não queria nenhuma<br />
explicação. O importante é que depois dos <strong>seu</strong>s oitos anos,<br />
pela primeira vez celebrou um Natal feliz.<br />
262
O sonho de Deus<br />
- Você não estás com fome? Esqueci de te oferecer<br />
alimento. Nós os anjos nos alimentamos de pão celestial.<br />
Perguntou Rafael.<br />
- Não estou. Desde que comi do pão descido do<br />
céu que Deus enviou ao profeta Elias não senti mais fome.<br />
Disse Felipe.<br />
Disse Rafael.<br />
- Ele vai lhe sustentar por um bom t<strong>em</strong>po ainda.<br />
Felipe ainda estava encantado com o nascimento<br />
do menino Jesus. E perguntou:<br />
- O sonho de Deus foi o nascimento de Jesus?<br />
- Não! N<strong>em</strong> o nascimento de Jesus e n<strong>em</strong> o <strong>seu</strong><br />
padecimento. Disse Rafael.<br />
- Então a morte de Jesus na cruz não é vontade de<br />
Deus? Ele não enviou <strong>seu</strong> Filho para nos salvar?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- O sonho de Deus é a criação, <strong>em</strong> especial a<br />
humanidade. Jamais Deus desejaria que Jesus sofresse e<br />
padecesse na cruz. Emanuel desejou salvar a humanidade<br />
e está disposto a pagar o alto preço pelos erros da<br />
humanidade. Mas a cruz não é o ideal e n<strong>em</strong> o fim último<br />
263
de sua missão aqui na terra e sim a salvação dos homens.<br />
Vamos dizer assim: colocar de volta nos trilhos o tr<strong>em</strong> que<br />
descarrilou. Jesus é o novo Adão! Entende?<br />
humanidade?<br />
- Sim! Então Emanuel veio para salvar a<br />
- Sim! Para levar a humanidade de volta ao<br />
Paraíso, à sua orig<strong>em</strong> e princípio, ou seja, a felicidade. O<br />
desejo e sonho de Deus é que a humanidade seja s<strong>em</strong>pre<br />
feliz. Só existe uma fonte verdadeira desta felicidade que é<br />
Deus! Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Encontrar-<br />
se com Deus é trilhar pelo Caminho que é Jesus. Trilhar<br />
pelo Caminho que é Jesus é viver o Reino de Deus e,<br />
portanto desejar a felicidade plena. A criação então se<br />
realiza e realizado é o Criador. Disse Rafael.<br />
- Então entendo Deus quando olho para Jesus?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Jesus veio para revelar plenamente qu<strong>em</strong> é o Pai.<br />
Ele é a revelação plena de Deus aqui na Terra. Disse<br />
Rafael.<br />
- Mas o mundo já não conhecia Deus?<br />
- A verdadeira imag<strong>em</strong> de Deus estava distorcida<br />
pela maneira humana <strong>em</strong> que vocês homens criaram a <strong>seu</strong><br />
respeito. Disse Rafael.<br />
264
Disse Felipe.<br />
- Criamos um deus à nossa imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança.<br />
- <strong>Bom</strong> discípulo! A imag<strong>em</strong> de Deus foi distorcida.<br />
Muitas coisas que falavam dEle não eram verdadeira e o<br />
pior é que cada dia que passava os homens desconheciam<br />
qu<strong>em</strong> era verdadeiramente Deus. Para você ter uma idéia,<br />
dizia antes de Jesus, que Deus estava ao lado só dos que<br />
tinham riqueza, que Deus castigava <strong>seu</strong>s filhos. Falavam<br />
que os doentes eram amaldiçoados por Deus, porque<br />
pecaram ou porque <strong>seu</strong>s pais pecaram. Colocaram Deus<br />
atrás de um véu e só podiam falar com Ele os<br />
especializados da fé. Sua imag<strong>em</strong> era associada mais ao<br />
terror do que ao amor. Então Emanuel veio para falar que<br />
Deus é Pai e que ama a todos. Falar que Deus está ao lado<br />
do fraco e desprotegido. Que as pessoas que sofr<strong>em</strong> são<br />
amadas por Ele. Veio para destruir paradigmas e construir<br />
o sonho de Deus na vida dos pequenos. Jesus é a face de<br />
Deus que Moisés tanto desejou ver, mas não podia, pois a<br />
Justiça de Deus é incompreendida pelos homens. Então<br />
Deus se humanizou e mostrou a verdadeira face que é<br />
Jesus. Em Jesus, Deus se fez presente na vida do <strong>seu</strong> povo<br />
e não só para uma classe privilegiada. Pelo contrário, se<br />
fez pobre e simples, parecido com os mais sofridos<br />
265
homens da Terra. Foi além! Se humilhou de tal forma que<br />
sua imag<strong>em</strong> foi transfigurada não pela mentira dos homens<br />
e sim pelo amor <strong>em</strong> plenitude cedido no sofrimento da<br />
cruz.<br />
- O presépio tinha cara do morro. Disse Felipe.<br />
- No Morro, moram as pessoas que se diz<strong>em</strong> mais<br />
importantes da Terra? Perguntou Rafael.<br />
- Não! Disse Felipe.<br />
- Então penso que se Deus escolhesse um lugar<br />
para morar e nascer seria lá. Disse Rafael.<br />
- Se é louco! Fala baixo! Vai ofender muita gente<br />
influente! Disse Felipe rindo.<br />
- Foi assim que mataram a Jesus, ele incomodou.<br />
As pessoas prefer<strong>em</strong> viver na ilusão e na fantasia. Usam<br />
máscaras e odeiam a verdade. Disse Rafael.<br />
- As pessoas precisam ser curadas e suas máscaras<br />
arrancadas. Disse Felipe.<br />
- É preciso tirar as sandálias dos pés. Achei muito<br />
bonito <strong>seu</strong> respeito e devoção pelo presépio. Falou Rafael.<br />
- Aprendi com Emanuel. Disse Felipe orgulhoso.<br />
- Você definiu muito b<strong>em</strong>. A humanidade esta<br />
fragilizada e enferma. Minha missão como anjo da cura é<br />
muito grande. Disse Rafael.<br />
266
- Nunca fui de frequentar igreja, n<strong>em</strong> sei por que<br />
Emanuel me escolheu. Não conheço a bíblia. Queria muito<br />
aprender e saber o que Jesus fez aqui na Terra. Disse<br />
Felipe com sede e fome da Palavra Sagrada.<br />
- Felipe, a escolha é pura gratuidade de Deus e eu<br />
posso com ajuda do Todo Poderoso fazer você passar pela<br />
experiência dos discípulos de Jesus. Será uma experiência<br />
intensa e rápida. Falou Rafael.<br />
- Eu quero! Eu desejo muito conhecer Jesus! Disse<br />
Felipe entusiasmado e com uma vitalidade e energia que<br />
lhe veio do pão descido do céu.<br />
- Farei assim! Você passará por todos os<br />
momentos, com exceção, de três, a última ceia, a cruz e a<br />
ressurreição. Em dois destes momentos, Emanuel me<br />
pediu que estivesse s<strong>em</strong>pre próximo a você e que a<br />
experiência da cruz fosse feita com a sua aceitação. Mas<br />
depois discutimos isso, agora feche os <strong>seu</strong>s olhos, diante<br />
de você aparecerá como um filme tudo o que Jesus disse e<br />
fez.<br />
Felipe fechou os olhos e então começou o que<br />
parecia um filme <strong>em</strong> alta rodag<strong>em</strong> passar à sua frente:<br />
“Filipe disse a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e<br />
isso nos basta”. Respondeu Jesus: “Filipe! Aquele que me<br />
267
viu, viu também o Pai. Se me conhecêsseis, também<br />
certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o<br />
conheceis, pois o tendes visto. Não vos deixarei órfãos.<br />
Voltarei a vós. Aquele que t<strong>em</strong> os meus mandamentos e os<br />
guarda, esse que me ama e aquele que me ama será amado<br />
por meu pai, e eu o amarei e manifestar-me-ei a ele. ”<br />
Então após estas palavras de Jesus para <strong>seu</strong><br />
discípulo Filipe, começou aparecer diante dos olhos de<br />
Felipe cenas que retratavam as obras de Jesus.<br />
Felipe viu Maria levantar-se <strong>em</strong> ir para casa da<br />
prima Isabel. No rosto de Maria estava estampada sua<br />
alegria. Viu João Batista batizar Jesus e uma pomba<br />
pousar sobre ele. E a voz de Deus que dizia: “Tu és meu<br />
filho muito amado; <strong>em</strong> ti ponho aminha afeição” João<br />
Batista gritou apontando para Jesus: “Eis o cordeiro de<br />
Deus que veio tirar o pecado do mundo. Eu não sou digno<br />
de desatar suas sandálias. Que eu diminua e que ele<br />
cresça.” Viu Jesus durante quarenta dias no deserto sendo<br />
tentado por Satanás. Olhou os discípulos sendo escolhido<br />
por Jesus. Viu João Batista ser morto e decapitado por<br />
pregar com corag<strong>em</strong>. Viu a sogra de Pedro sendo curada.<br />
Viu os pescadores deixar<strong>em</strong> suas redes e ouvir de Jesus:<br />
“Doravante serás pescador de homens.” Ouviu muitos<br />
268
sermões de Jesus onde falava s<strong>em</strong>pre de humildade e<br />
amor. Rezou o Pai Nosso. Viu Jesus falar que os pardais<br />
eram menos importantes que ele. Viu o afeto e amor que<br />
Jesus tinha com os enfermos. Curou leprosos, libertou<br />
end<strong>em</strong>oniados, fez diversas curas. Acalmou a t<strong>em</strong>pestade.<br />
Curou o servo de centurião. Curou cego que gritava <strong>em</strong><br />
<strong>seu</strong> caminho. Curou paralíticos. Ouviu todas as parábolas<br />
que Jesus contava. Encantou-se com a parábola do <strong>Bom</strong><br />
<strong>Pastor</strong>, do Filho Pródigo e tantas outras. Viu a<br />
multiplicação dos pães. Ouviu as palavras duras de Jesus<br />
aos religiosos da sua época. Ouviu sobre o perdão. Viu um<br />
rico se afastar triste de Jesus por não conseguir abandonar<br />
tudo e entrar no Reino de Deus. Viu Jesus entrando <strong>em</strong><br />
Jerusalém <strong>em</strong> grande festa. Depois com chicote nas mãos<br />
expulsar os vendilhões do T<strong>em</strong>plo. Viu a figueira<br />
amaldiçoada se secar. Ouviu Jesus falar do Amor como<br />
maior mandamento. Viu Jesus sendo acolhido e amado por<br />
uma mulher que lavou <strong>seu</strong>s pés com perfume e lágrimas e<br />
enxugou-os com <strong>seu</strong>s cabelos. Viu Maria sentada aos <strong>seu</strong>s<br />
pés e Marta trabalhando na lida da casa. Viu a profissão de<br />
fé de Pedro e logo depois Jesus chamando-o de Satanás.<br />
Viu uma mulher com h<strong>em</strong>orragia tocar-lhe a orla do<br />
manto e ser curada. Os amigos do paralítico trazendo <strong>seu</strong><br />
269
amigo pelo teto para ser curado por Jesus. Entrou na Festa<br />
de Caná da Galiléia e participou de um casamento e ouviu<br />
Maria dizer aos servos: “Fazei tudo o que Ele vos<br />
mandar”. Viu a transfiguração e Moisés e Elias ao lado de<br />
Jesus. Viu Zaqueu sobre a árvore e Jesus dizendo: “Hoje a<br />
salvação entrou <strong>em</strong> sua casa”. Viu a viúva depositar tudo o<br />
que tinha no cofre do T<strong>em</strong>plo e ser elogiada por Jesus. Viu<br />
Jesus ressuscitar Lázaro e o filho da viúva. Viu o<br />
publicano bater no peito e pedir perdão. Ouviu Jesus dizer:<br />
"Estive com fome... e me deste de comer; Estive com<br />
sede... e me deste de beber... Estive preso... e foste me<br />
visitar." Participou da conversa da Samaritana. Foi<br />
chamado de amigo e disse que daria a vida pelos <strong>seu</strong>s<br />
amigos. Tudo foi passando tão rápido, mas Felipe podia<br />
viver com intensidade cada momento. Conheceu Jesus de<br />
uma forma tão intensa que não pode deixar de se<br />
apaixonar e admirar o Filho de Deus. No fim parecia que<br />
Jesus olhou para ele <strong>em</strong> uma das passagens e lhe disse:<br />
“Eu vim para fazer a vontade do meu Pai” e acrescentou<br />
“Vai e faze o mesmo”.<br />
Rafael toca-lhe no ombro e diz:<br />
- E aí conheceu melhor <strong>seu</strong> amigo Emanuel?<br />
270
- Sim! Ele falou o t<strong>em</strong>po todo de amor. Diria que<br />
não só falou, mas suas ações e atos eram puro amor o<br />
t<strong>em</strong>po todo. Ele cativa! Suas palavras e <strong>seu</strong> poder faz<strong>em</strong> a<br />
gente mergulhar no que é essencial. Seu olhar penetrava a<br />
alma das pessoas e <strong>seu</strong> agir era encanto o t<strong>em</strong>po todo. Ele<br />
parecia ser poesia e música. Nunca <strong>em</strong> minha vida conheci<br />
alguém tão admirável. Ele parecia ser irmão, ser pai e<br />
amigo. Não falava para aparecer, <strong>seu</strong> discurso era simples.<br />
Mas o mais importante que suas atitudes não eram<br />
filosóficas e n<strong>em</strong> discursos jogado ao vento. Ele era real!<br />
Suas palavras eram concretas. Sua vida e atitudes estavam<br />
<strong>em</strong> sintonia o t<strong>em</strong>po todo com <strong>seu</strong> discurso. Em poucas<br />
palavras poderia dizer que nunca <strong>em</strong> minha vida encontrei<br />
um ser humano tão próximo do divino.<br />
- Jesus é tão humano quanto divino. Disse Rafael.<br />
- Como disse Pedro: Ele é o Cristo, o Filho do<br />
Deus Vivo! Disse Felipe.<br />
o amor<br />
Rafael.<br />
- O que lhe chamou mais atenção? Perguntou<br />
271
- Tudo! Mas quando aquele doutor da Lei lhe fez a<br />
pergunta para pô-lo a prova: “Mestre, qual é o maior<br />
mandamento da lei? Sua resposta foi como se estivesse<br />
inculcado <strong>em</strong> minha cabeça a sua vontade para minha<br />
vida. Disse Felipe.<br />
- “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu<br />
coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Disse<br />
Rafael.<br />
Felipe prosseguiu:<br />
- “Este é o maior e o primeiro mandamento. E o<br />
segundo, s<strong>em</strong>elhante a este, é: Amarás teu próximo como<br />
a ti mesmo”.<br />
e os profetas.”<br />
Rafael concluiu:<br />
- “Nesses dois mandamentos se resum<strong>em</strong> toda a lei<br />
- Lei e Profetas: Moisés e Elias. Eles estavam na<br />
montanha da transfiguração. Que momento lindo aquele.<br />
Deu vontade de nunca mais sair de lá. Disse Felipe.<br />
- Mas a vontade de Jesus era partir para Jerusalém<br />
onde irá morrer. Disse Rafael.<br />
- Por isso antes desta experiência da transfiguração<br />
ele falou da renúncia: “Se alguém quiser vir comigo,<br />
renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” Porque<br />
272
aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas aquele<br />
que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-<br />
la-á. Que adianta o hom<strong>em</strong> ganhar o mundo inteiro, se<br />
v<strong>em</strong> prejudicar a sua vida? Ou que dará o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> troca<br />
de sua vida?” Disse Felipe e continuou:<br />
- Ele nos deu a lição que Moisés e Elias tiveram<br />
<strong>em</strong> sua vida. Não era para ficar a vida inteira admirando a<br />
sarça ardente e n<strong>em</strong> ficar morrendo de zelo no Monte<br />
Horeb e sim descer para o deserto que nesta passag<strong>em</strong><br />
representa Jerusalém para libertar todo o povo da<br />
escravidão do pecado. O Êxodo, a Páscoa!<br />
- Fantástico! Você é um discípulo de Cristo! E<br />
ainda n<strong>em</strong> experimentou a sala de Pentecostes. Disse<br />
Rafael.<br />
- É o que mais desejo agora: ser discípulo de<br />
Cristo! Não sei por onde começar e como fazer, só sei que<br />
quero. Disse Felipe.<br />
- Comece amando. Disse Rafael.<br />
- Hã! Sim! Falávamos do amor a Deus e ao<br />
próximo. Esta passag<strong>em</strong>, porque ficou tão gravada <strong>em</strong><br />
meu coração e mente? Perguntou Felipe.<br />
- Por que deve ser o que é essencial para uma vida<br />
cristã. Qu<strong>em</strong> ama vive o Reino de Deus na sua plenitude.<br />
273
Você pode imaginar quantos mandamentos existiam no<br />
t<strong>em</strong>po de Jesus?<br />
- Quantos? Perguntou Felipe.<br />
- 613 mandamentos! Que deveriam estar na ponta<br />
da língua daquele que quisesse obedecer a Deus e amá-lo.<br />
Eram 365 negativos, o que você não deveria fazer e 248<br />
positivos, o que deveria fazer. Agora eu lhe pergunto: o<br />
povo com esta quantidade de mandamentos conseguiria<br />
guardá-los e vivenciá-los? Os Doutores da lei se achavam<br />
os únicos dignos de compreender a vontade de Deus, pois<br />
diziam ser<strong>em</strong> os únicos conhecedores destes<br />
mandamentos. Enquanto o povo era espiritualmente<br />
subjugado incapaz.<br />
- Então por isso Jesus resumiu tudo <strong>em</strong> uma única<br />
palavra: o amor. Qu<strong>em</strong> ama pratica a Lei. Disse Felipe.<br />
- Discípulo Sábio. Disse Rafael.<br />
- N<strong>em</strong> tanto! Então o que significa amar a Deus de<br />
todo coração, de toda alma e de todo o espírito e o<br />
próximo como a si mesmo? Perguntou Felipe.<br />
- Coração, alma e espírito para o povo da bíblia<br />
t<strong>em</strong> um significado mais amplo que vocês ocidentais. E<br />
continuou Rafael:<br />
274
- Amar a Deus de todo o coração! Coração para<br />
vocês l<strong>em</strong>bra apenas a vida afetiva. Para o povo da bíblia,<br />
o hebreu, concebe o coração como “interior” do hom<strong>em</strong>.<br />
Além dos sentimentos o coração contém também as<br />
recordações e as idéias, os projetos e as decisões. Deus<br />
deu ao hom<strong>em</strong> um coração para pensar. É o lugar onde o<br />
hom<strong>em</strong> encontra Deus, é a fonte da sua personalidade<br />
consciente, inteligente e livre. Lugar onde faz suas opções<br />
decisivas, lugar da Lei não escrita. E prosseguiu:<br />
- Amar a Deus de toda a tua alma! A alma para o<br />
povo hebreu está longe de ser uma “parte” que com o<br />
corpo compõe o ser humano, a alma designa o hom<strong>em</strong> na<br />
sua totalidade, enquanto animado por um espírito de vida;<br />
<strong>em</strong> virtude da sua relação com o Espírito, à alma indica no<br />
hom<strong>em</strong> a sua orig<strong>em</strong> espiritual, esta “espiritualidade” t<strong>em</strong><br />
raízes profundas no mundo concreto. Continuou:<br />
- Amar a Deus de todo espírito. Espírito aqui<br />
designa num ser <strong>seu</strong> el<strong>em</strong>ento essencial e inaferrável,<br />
aquilo que o faz viver e aquilo que dele <strong>em</strong>ana s<strong>em</strong> que ele<br />
queira, aquilo que <strong>em</strong> grau máximo é ele próprio e aquilo<br />
de que ele não pode dispor como dono. A palavra hebraica<br />
ruah é o sopro da vida. Portanto amar a Deus é amá-lo na<br />
nossa totalidade. Amá-Lo com total entrega de si mesmo.<br />
275
Com que você é, tanto com que você conhece como com o<br />
que não conhece de si próprio.<br />
E finalizou:<br />
- “E o segundo, s<strong>em</strong>elhante a este, é: Amarás o teu<br />
próximo como a ti mesmo” O amor a Deus (horizontal)<br />
passa necessariamente pelo amor ao meu próximo<br />
(vertical). É o sinal da cruz onde Cristo deu provas do <strong>seu</strong><br />
amor por nós. “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas<br />
odeia <strong>seu</strong> irmão, é mentiroso”. A palavra amor que se<br />
exprime de realidades totalmente diferentes. O amor entre<br />
o hom<strong>em</strong> e a mulher (eros), o amor de amizade (philia) e o<br />
amor que torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se<br />
busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento<br />
da felicidade; procura, ao invés, o b<strong>em</strong> do amado: torna-se<br />
renúncia, está disposto ao sacrifício, antes procura-o.” É o<br />
amor Ágape. E só ama o outro qu<strong>em</strong> ama a si próprio. Pois<br />
ninguém oferece aquilo que não t<strong>em</strong>.<br />
- Então Jesus nos ensina que a prática da Lei é o<br />
Amor, e por isso, não dever ser um peso e sim satisfação.<br />
E quando se vive o Amor a Lei liberta e realiza. Disse<br />
Felipe.<br />
Falou Rafael.<br />
- Emanuel deve estar com muito orgulho de você.<br />
276
- Imagino que t<strong>em</strong> orgulho do <strong>seu</strong> anjo também,<br />
pois sinto que estou muito b<strong>em</strong> acompanhado. Disse<br />
Felipe rindo.<br />
- Nossa função maior como anjo é ser boa<br />
companhia. Disse Rafael um pouco mais solto.<br />
- A parábola da ovelha perdida e achada e do filho<br />
perdido e achado é comovente. Agora entendi o que<br />
aquela estátua na praça representa. É o <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong> que foi<br />
atrás da ovelha perdida. Eu sou a ovelha que estava<br />
perdida, e Emanuel, o <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong>, encontrou e me trouxe<br />
um sentido novo para viver. Disse Felipe se l<strong>em</strong>brando do<br />
sorriso da ovelha depois que ele começou a caminhar com<br />
Emanuel.<br />
- Todas as passagens, gestos e palavras de Jesus<br />
nos tocam profundamente. E o mais importante é que<br />
Deus Está conosco. Disse Rafael.<br />
- Emanuel! Deus Conosco! Tenho saudades dele<br />
quando caminhava comigo. Ele prometeu que apareceria<br />
para mim mais uma vez. Agora só o vejo, mas não posso<br />
falar com Ele. Disse Felipe.<br />
- Sei! Ele prometeu, ele cumpre. Disse Rafael.<br />
277
a eucaristia<br />
- Vamos Felipe! Para a última ceia de Jesus!<br />
Rafael então disse a Felipe:<br />
- Preciso que me ajude a preparar a sala <strong>em</strong> que o<br />
mestre comerá a Páscoa. Vista estas roupas e calce as<br />
sandálias. Vamos agora para o lugar da última ceia.<br />
Felipe vestiu a roupa típica daquela época e junto<br />
com Rafael bateu na porta de um sobrado. O hom<strong>em</strong> saiu,<br />
era o dono do sobrado. Rafael alugou uma sala da parte de<br />
cima. Depois pegou uma bilha de água entregou a Felipe.<br />
E disse:<br />
- Vou te levar até a entrada da Cidade e dois<br />
homens, Pedro e João virão a ti. Não diga nada, apenas<br />
acene para que eles te sigam e os traga aqui. Fique<br />
tranquilo que eles desta vez poderão te ver.<br />
Felipe fez como Rafael lhe pediu e ficou na entrada<br />
da cidade com a bilha de água nas mãos. Aproximaram<br />
dois homens que o seguiram até o sobrado e lá<br />
encontraram Rafael também vestido a caráter. Os homens<br />
perguntaram a Rafael:<br />
- O Mestre pergunta-te onde está a sala <strong>em</strong> que<br />
comerei a Páscoa com os meus discípulos?<br />
278
Rafael os levou para o andar de cima e lá os<br />
discípulos de Jesus fizeram os preparativos.<br />
Felipe percebe que ele e Rafael não estão mais a<br />
caráter. Então chegada a hora Jesus, pôs-se à mesa e com<br />
eles os apóstolos. Felipe nota que existe todo um ritual<br />
para celebrar a Páscoa e acompanha atentamente cada<br />
passo daquela celebração. Encanta-se principalmente com<br />
a simplicidade com que Jesus celebrou. Todos sentados à<br />
mesa e era uma celebração de todos. Uma celebração<br />
muita bonita <strong>em</strong> que os que estavam sentados à mesa<br />
pareciam extr<strong>em</strong>amente confortáveis. Não havia discursos<br />
cumpridos e excesso de sinais desnecessários. Tudo era<br />
muito simples e que l<strong>em</strong>brava uma família reunida. Toda a<br />
celebração era acompanhada de comida e bebida. Parecia<br />
um banquete <strong>em</strong> família. Para cada gesto havia um<br />
simbolismo, até para comer a sobr<strong>em</strong>esa. O local tinha<br />
sido impecavelmente limpo. Tudo iniciou com o pôr do<br />
sol. Havia sobre a mesa um tipo de erva, um pão, um ovo,<br />
e um cordeiro assado. E a bebida era vinho sendo tomado<br />
e abençoado <strong>em</strong> diversos momentos. Houve uma séria de<br />
cânticos e melodias. A última delas era um desejo de estar<br />
novamente <strong>em</strong> Jerusalém o ano que v<strong>em</strong> e um pedido que<br />
279
estabeleça o Reino de Deus. Jesus parecia que inovou<br />
durante a celebração ao surpreender a todos dizendo:<br />
- Tenho desejado ardent<strong>em</strong>ente comer convosco<br />
esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos digo: não tornarei a<br />
comê-la até que ela se cumpra no Reino de Deus.<br />
Depois ao distribuir o vinho e o pão l<strong>em</strong>brou<br />
novamente que beberia e comeriam somente depois que o<br />
Reino de Deus chegasse.<br />
Então ele pegou o pão e deu graças, partiu-o e<br />
ofereceu aos discípulos e disse:<br />
- Isto é o meu corpo, que é dado por vós, fazei isto<br />
<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória de mim.<br />
Com o cálice fez a mesma coisa e disse:<br />
- Este cálice é a Nova Aliança <strong>em</strong> meu sangue, que<br />
é derramado por vós.<br />
Foi também durante a ceia que Jesus tomou uma<br />
atitude que espantou <strong>seu</strong>s discípulos que ficaram quase<br />
s<strong>em</strong> reação com exceção de Pedro.<br />
Jesus depôs de suas vestes e cingiu-se com uma<br />
toalha. Deitou água numa bacia e começou a lavar os pés<br />
dos apóstolos um por um. Inclusive de Judas Iscariotes<br />
que o iria trair e enxugava os pés com a toalha que se<br />
havia cingido.<br />
280
Jesus disse:<br />
Pedro não quis que Jesus lavasse <strong>seu</strong>s pés. O que<br />
- Se eu não tos lavar, não terás parte comigo.<br />
O que Pedro respondeu com pressa:<br />
- Senhor, não somente os pés, mas também as<br />
mãos e a cabeça.<br />
Os apóstolos olhavam para Jesus s<strong>em</strong> compreender<br />
o que havia acontecido e estavam envergonhados. Jesus<br />
então disse:<br />
- Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e<br />
Senhor, e dizeis b<strong>em</strong>, porque eu sou. Logo, se eu, vosso<br />
Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis<br />
lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o ex<strong>em</strong>plo para<br />
que, como eu vos fiz, assim façais também vós. Em<br />
verdade, <strong>em</strong> verdade vos digo: o servo não é maior que o<br />
<strong>seu</strong> Senhor, n<strong>em</strong> o enviado é maior daquele que o enviou.<br />
Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob as<br />
condições de as praticardes. Rafael retira Felipe da sala e<br />
o convida a andar pelas ruas de Jerusalém.<br />
- Interessante! Disse Felipe.<br />
- O que? Perguntou Rafael.<br />
281
- Que quando a gente imagina ou vê todas estas<br />
cenas <strong>em</strong> filme ou que alguém falou, elas são geralmente<br />
diferentes.<br />
- Por que diz isso? Perguntou Rafael.<br />
Felipe notara que Rafael não podia ler <strong>seu</strong>s<br />
pensamentos como Emanuel fazia. E disse:<br />
- S<strong>em</strong>pre imaginei que os personagens da bíblia<br />
eram pessoas diferentes, tipo....<br />
- Anjos! Disse Rafael rindo.<br />
- Sim! Falou Felipe rindo alto. E <strong>em</strong>endou:<br />
- E são pessoas normais. Maria estava na lida da<br />
casa e eu s<strong>em</strong>pre achei que quando o anjo apareceu a ela<br />
estava <strong>em</strong> oração. Davi estava pastoreando. Abraão me<br />
parecia estar na lida do dia a dia. Moisés apascentava o<br />
rebanho de Jetro <strong>seu</strong> sogro, João, Pedro e André estavam<br />
pescando. E esta celebração é diferente, todos estavam<br />
sentados a uma mesa e tudo era muito familiar. Jesus mais<br />
parecia um pai do que um chefe sabe lá? Disse Felipe.<br />
- Obrigado pelo anormal. Mas certa vez, Emanuel<br />
disse que quando o Filho do hom<strong>em</strong> vier, as pessoas<br />
estarão fazendo as coisas cotidianas da vida e usou como<br />
ex<strong>em</strong>plo o trabalho. Portanto acolher o Reino de Deus não<br />
é ter momentos com Deus e sim viver Deus o momento<br />
282
todo. Gabriel encontrou Maria preparada, por isso a<br />
chamou de “Cheia de Graça” e ainda disse: “O Senhor está<br />
contigo.”<br />
- No cotidiano, ou seja, na brisa ligeira, Deus está<br />
presente. Disse Felipe.<br />
- Sim! O probl<strong>em</strong>a é que vocês humanos fantasiam<br />
d<strong>em</strong>ais as coisas de Deus e acabam criando uma realidade<br />
que não existe. Então esperam sinais extraordinários para<br />
compreender e viver Deus <strong>em</strong> suas vidas. Quando se<br />
fantasia d<strong>em</strong>ais é para fugir da realidade. Então Deus<br />
passa despercebido, mesmo você achando que está <strong>em</strong><br />
pleno louvor a Ele. Veja o caso de Maria, tudo foi de uma<br />
extr<strong>em</strong>a simplicidade e de uma realidade muitas vezes<br />
cruel na vida dela, mas ela não ficou esperando sinais<br />
extraordinários para acreditar e n<strong>em</strong> anjos vindo do céu<br />
para lhe informar. Disse Rafael.<br />
- Sou tão diferente de Maria! Emanuel me visitou e<br />
agora estou ao lado de um anjo e só assim estou<br />
conseguindo ver. Disse Felipe.<br />
- Não sei se consola <strong>seu</strong> coração. Mas ai está a<br />
beleza de ser humano. Pois é nas fragilidades que Deus se<br />
faz presente. Na dor enaltece a presença do amor. Você<br />
está enxergando por que permitiu que Emanuel entrasse<br />
283
<strong>em</strong> sua vida e mostrasse <strong>seu</strong>s caminhos. Cabe a você<br />
agora, aprender e amadurecer sua fé, não exigindo de<br />
Deus um milagre por dia para acreditar. Disse Rafael.<br />
- Somos uma contradição o t<strong>em</strong>po todo. Se estiver<br />
tudo b<strong>em</strong>, nos esquec<strong>em</strong>os de Deus. Se estivermos na dor<br />
recorr<strong>em</strong>os a Ele. Na maioria das vezes o buscamos não<br />
para mudar de vida e sim para que faça nossas vontades e<br />
por aquilo que pode nos oferecer.<br />
- Amar a Deus é servir! É lavar os pés uns dos<br />
outros. É comprometimento <strong>em</strong> fazer o b<strong>em</strong> s<strong>em</strong> olhar<br />
para qu<strong>em</strong>. É morrer para que o outro, viva. Tudo isso esta<br />
representado no pão s<strong>em</strong> ázimo da Páscoa. Disse Rafael.<br />
- O pão e o vinho. Jesus disse que era <strong>seu</strong> corpo e<br />
sangue? Perguntou Felipe.<br />
- Sim o pão representa <strong>seu</strong> corpo e o vinho o <strong>seu</strong><br />
sangue que seria ofertado na cruz. Disse Rafael.<br />
- Enquanto eu fechei os olhos e vi toda a história<br />
de Jesus. Em uma das cenas que presenciei, Ele estava<br />
falando do Pão da Vida, fez um discurso um pouco mais<br />
profundo de si mesmo, disse que as pessoas o procuravam<br />
não pelo milagre e sinais e sim para comer do pão e<br />
convidou as pessoas a trabalhar<strong>em</strong> não pela comida que<br />
284
fenece e sim a que dura eternamente, e que ele o Filho do<br />
hom<strong>em</strong> era o sinal de Deus.<br />
Como disse o profeta Isaias sobre o sinal: “de uma virg<strong>em</strong><br />
nascerá um menino”. Jesus disse ainda: “Eu sou o pão da<br />
vida: aquele que v<strong>em</strong> a mim não terá fome, e aquele que<br />
crê <strong>em</strong> mim jamais terá sede”. Presenciei algo que<br />
entristeceu meu coração: os discípulos de Jesus que<br />
estavam ao <strong>seu</strong> lado por interesses pessoais, sinais e<br />
matéria abandonaram-no e deixaram de ser<strong>em</strong> discípulos<br />
murmurando: “Isto é muito duro! Qu<strong>em</strong> o pode admitir?”<br />
Então vi uma profissão de fé maravilhosa de Pedro quando<br />
Jesus perguntou a eles se também iriam abandoná-lo e<br />
Pedro respondeu: “Senhor, a qu<strong>em</strong> iríamos nós? Tu tens as<br />
palavras da vida eterna. E nós cr<strong>em</strong>os e sab<strong>em</strong>os que tu és<br />
o Santo de Deus.”<br />
- A maioria das pessoas não quer comprometer-se<br />
com o Reino. Prefer<strong>em</strong> apenas usufruir do que este Reino<br />
pode oferecer de bom. Por isso não suportam uma<br />
pregação mais profunda. Não suportam uma perseguição.<br />
Viv<strong>em</strong> na beira do caminho ou na beira d‟água e não<br />
mergulham no que é essencial. O Reino de Deus para estas<br />
pessoas não é uma prioridade e sim um desencargo de<br />
consciência e quando precisam abrir mão de alguma coisa<br />
285
escolh<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre como primeira opção o Reino de Deus.<br />
E por não viver<strong>em</strong> o Reino de coração, alma e espírito<br />
carregam o que parece um fardo ao invés da libertação. É<br />
comum encontrar pessoas que professam conhecer o<br />
Reino de Deus e que viv<strong>em</strong> murmurando e de mal humor.<br />
Priorizar o Reino de Deus é abrir mão de sonhos pessoais<br />
para viver o sonho de Deus.<br />
- Viver o Reino de Deus é sentir-se feliz e livre <strong>em</strong><br />
sentar à mesa e celebrar a vida na simplicidade do pão e<br />
do vinho, pois lá tudo é familiar. Disse Felipe.<br />
- Sim! Jesus escolheu duas coisas comuns do <strong>seu</strong><br />
t<strong>em</strong>po: o pão e o vinho e transformou-as através da sua<br />
benção <strong>em</strong> corpo e sangue dado e derramado por nós na<br />
cruz.<br />
- Como é difícil enxergar na simplicidade, no<br />
cotidiano, na brisa ligeira a presença fiel de Deus <strong>em</strong><br />
nossa vida. Disse Felipe.<br />
- Eis o maior desafio, a ousadia de qu<strong>em</strong> quer viver<br />
Deus. Disse Rafael.<br />
- Maria foi extr<strong>em</strong>amente ousada no silêncio do<br />
coração. Disse Felipe.<br />
- Todos aqueles que silenciosamente dão sua vida<br />
pelo Reino é como o pão e o vinho consagrado naquela<br />
286
mesa da última ceia. Se parec<strong>em</strong> com Jesus! Então sim se<br />
faz sentido o corpo e sangue de Jesus na vida concreta de<br />
cada mártir. Qu<strong>em</strong> não morre para as coisas do mundo,<br />
para si e para o outro não vive para o Reino de Deus.<br />
Disse Rafael.<br />
- Jesus nos ensinou isso lavando os pés de <strong>seu</strong>s<br />
discípulos. Se Ele que era o Senhor lavou os pés,<br />
imaginamos então nós que somos servos do <strong>seu</strong> amor.<br />
Disse Felipe.<br />
- Cabe a nós desejar e acreditar que tudo é<br />
possível. Disse Rafael.<br />
- “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se <strong>em</strong> mim,<br />
segundo a tua palavra” Professou Felipe repetindo as<br />
palavras de Maria ao anjo Gabriel.<br />
Rafael.<br />
- E que os anjos digam: Amém! Finalizou o anjo<br />
287
O sonho de Emanuel!<br />
Buscai primeiro o Reino de Deus<br />
E a sua justiça<br />
E tudo mais vos será acrescentado<br />
Aleluia! Aleluia!<br />
Não só de pão o hom<strong>em</strong> viverá,<br />
Mas de toda palavra<br />
Que procede da boca de Deus<br />
Aleluia! Aleluia!<br />
Se vos persegu<strong>em</strong> por causa de mim<br />
Não esqueçais o porquê<br />
Não é o servo maior que o Senhor<br />
Aleluia! Aleluia!<br />
Enquanto caminhavam pelas ruas de Jerusalém,<br />
Rafael cantava. Felipe não parecia nenhum um pouco<br />
exausto, aquele pão, tinha uma proteína fabulosa. Mas o<br />
pão repartido por Jesus na última ceia dizendo ser <strong>seu</strong><br />
corpo é que realmente impressionou Felipe. A singeleza<br />
daquele momento e toda a simplicidade que a<br />
288
acompanhava ficaram impregnados eu sua mente e <strong>em</strong> <strong>seu</strong><br />
coração. O pão consagrado representava o alimento que<br />
era o corpo de Cristo. Felipe não sentia fome do pão<br />
material e sim deste pão espiritual. Felipe estava na região<br />
de Canaã, a terra Prometida, agora conhecida como<br />
Palestina. Enquanto andava reparava nas casas e nas ruas<br />
de Jerusalém. O solo palestino é bastante contrastante. Em<br />
algumas áreas é quase totalmente árido e havia muitos<br />
carneiros. Em outras regiões, porém, é bastante fértil, com<br />
um número diversificado de plantas. A Palestina apresenta<br />
um grande número de vales, grotas naturais, montanhas,<br />
desertos e depressões b<strong>em</strong> como diversas áreas férteis. Em<br />
um dos destes lugares mais alto Felipe observou encantado<br />
uma enorme construção.<br />
O aspecto externo do edifício impressionava o<br />
espírito e os olhos. Ele era recoberto de todos os lados por<br />
espessas placas de ouro, a luz do sol refletia nele com tal<br />
intensidade que obrigou Felipe a retirar os olhos como<br />
diante dos raios do sol. Parecia uma montanha nevada,<br />
pois onde não era recoberto de ouro, o era de mármore<br />
mais branco. No alto, era eriçado de pontas de ouro<br />
agudas.<br />
289
Disse Felipe.<br />
- Olha que construção mais linda! Que espetáculo!<br />
- É o T<strong>em</strong>plo de Jerusalém. Disse Rafael.<br />
- O sonho de Davi. Exclamou Felipe.<br />
- Que virou pesadelo. Disse Rafael.<br />
- Por quê? Perguntou Felipe.<br />
- Este T<strong>em</strong>plo é a representação de todo o poder<br />
desta época <strong>em</strong> Jerusalém. Poder Econômico, Poder<br />
Religioso, Poder Legislativo. Ali se concentra o culto, o<br />
Sinédrio e a fonte maior de riqueza. Disse Rafael.<br />
- L<strong>em</strong>bro-me que Jesus entrou no T<strong>em</strong>plo, com<br />
chicote nas mãos e parecia enfurecido com os cambistas.<br />
Disse Felipe.<br />
- Eles exploravam os mais pobres nas festas que ali<br />
aconteciam. O T<strong>em</strong>plo foi profanado pelo dinheiro e pela<br />
ambição. Além de ter servido como justificativa para<br />
matar Jesus. Disse Rafael.<br />
- Como assim? Perguntou Felipe.<br />
- Levaram Jesus diante de Caifás e com duas<br />
test<strong>em</strong>unhas o acusaram de ter falado: “Posso destruir o<br />
t<strong>em</strong>plo de Deus e reedificá-lo <strong>em</strong> três dias.”<br />
- E ele disse isso mesmo?<br />
290
- Não! Era uma acusação falsa. Jesus na verdade<br />
disse: “Destruí vós este t<strong>em</strong>plo, e eu o reerguerei <strong>em</strong> três<br />
dias”. O T<strong>em</strong>plo de Jerusalém foi destruído no ano 70<br />
D.C. e quando Jesus referiu a reerguê-lo <strong>em</strong> três dias se<br />
referia ao <strong>seu</strong> corpo que três dias após a morte<br />
ressuscitaria dos mortos.<br />
Rafael.<br />
- Por que tanta maldade? Perguntou Felipe.<br />
- O poder, o ser e o ter falam mais alto. Disse<br />
- Então imagino que o T<strong>em</strong>plo também ajudava a<br />
sustentar o poder de Roma, por isso eles convenceram<br />
Caifás. Disse Felipe.<br />
- Com certeza. Felipe! No <strong>seu</strong> t<strong>em</strong>po exist<strong>em</strong><br />
guerras inventadas para manter o poder de alguns. Muitos<br />
inocentes morr<strong>em</strong> de todas as formas para manter o<br />
poderio econômico. Disse Rafael.<br />
- Exist<strong>em</strong> fatos absurdos, situações onde faltam<br />
provas e dados consubstanciais para justificar certas<br />
violências. Mas o mundo se cala acreditando <strong>em</strong> coisas<br />
s<strong>em</strong> anexo. Disse Felipe.<br />
- As pessoas se calam por omissão, ou por medo<br />
e/ou por conveniência. Disse Rafael.<br />
Rafael pegou no ombro de Felipe e disse:<br />
291
- Felipe chegou a hora de Jesus entregar sua vida<br />
por todos nós. Estes momentos serão de profunda<br />
angústia. São cenas de muita violência e dor. Sei que já<br />
assistiu filmes a este respeito, mas nada é comparado com<br />
que realmente sentirá. O que verá e experimentará marcará<br />
profundamente sua vida. Todos nós que amamos Jesus<br />
gostaríamos muito que isso não fosse necessário. N<strong>em</strong><br />
Deus optou por isso, mas na sua infinita sabedoria venceu<br />
a morte pela fraqueza. A maioria das pessoas não<br />
compreende ou prefere não aceitar o que realmente<br />
aconteceu na cruz. Você verá coisas que atingirão<br />
diretamente a sua vida. E a dor de Emanuel, nosso Senhor<br />
e amigo, deixará marcas profundas <strong>em</strong> você. Então você é<br />
livre para decidir se quer ou não passar pela experiência<br />
do calvário <strong>em</strong> sua vida. Disse Rafael.<br />
- Não sei! Estou com muito medo. Como posso<br />
querer enxergar alguém que amo sofrer? Disse Felipe.<br />
- Fazer outros sofrer<strong>em</strong> é uma prática comum entre<br />
os homens. Faz-se sofrer de fome pelo egoísmo. Faz-se<br />
sofrer de solidão pela ambição. Faz-se sofrer de dor pela<br />
ingratidão. Faz-se sofrer de r<strong>em</strong>orso por não ter amado...<br />
Fazer o sofrer é uma especialidade da humanidade. Disse<br />
Rafael.<br />
292
- Então com que força eu suportarei alguém que se<br />
fez sofrimento pela libertação e cujo ato grave foi ter<br />
amado d<strong>em</strong>ais. Disse Felipe.<br />
- Com a aceitação e resignação. Disse Rafael.<br />
- Será que eu consigo? Perguntou aflito Felipe.<br />
- Não sei se conseguirá. Mas sei que Deus não<br />
permite um sofrimento maior que possa suportar. Sei<br />
também que aquele que quer viver o Reino de Deus s<strong>em</strong> a<br />
perspectiva da cruz jamais o entenderá. Disse Rafael.<br />
- O que devo pensar durante <strong>seu</strong> sofrimento?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Você t<strong>em</strong> um ponto ao <strong>seu</strong> favor <strong>em</strong> relação<br />
aqueles que estiver<strong>em</strong> ali e que amam a Jesus. Você<br />
conhece a história e sabe que ele ressuscitou e venceu a<br />
morte. Pense na ressurreição. A aceitação resignada da<br />
cruz se faz na perspectiva da reação que v<strong>em</strong> com a luz da<br />
ressurreição. Pois não existiria a ressurreição s<strong>em</strong> a<br />
passag<strong>em</strong> pela cruz. Disse Rafael.<br />
- Não posso abandoná-lo agora. Disse Felipe.<br />
- Mas l<strong>em</strong>bra-se que Ele prefere que as pessoas não<br />
sofram por isso. Ele carregou nossas dores. Não faz<br />
questão que estejam sofrendo por causa dele. Ele me disse<br />
que pela cruz você será curado. Não faça por Ele e sim por<br />
293
você mesmo. Por isso conseguiu que até algumas pessoas<br />
que o amava não estivesse ali ao pé da cruz. Agora vamos<br />
t<strong>em</strong>os uma pequena missão a cumprir. Disse Rafael.<br />
o calvário<br />
Felipe estava vestido a caráter novamente e junto<br />
com Rafael estavam próximos a um jumentinho.<br />
Aproximaram alguns homens que começaram a<br />
desprender o jumentinho foi quando Rafael perguntou a<br />
eles:<br />
jumentinho?<br />
devolverá.<br />
- Ei, que estais fazendo? Por que soltais o<br />
Eles responderam:<br />
- O Senhor precisa dele, mas daqui a pouco o<br />
Rafael acenou com a cabeça e deu um sinal para<br />
que levass<strong>em</strong> o jumentinho. Logo depois Felipe se viu<br />
vestido normalmente e também Rafael estava como um<br />
anjo.<br />
Rafael o levou à entrada de Jerusalém e Felipe viu<br />
Jesus montado naquele jumentinho e o povo todo ao <strong>seu</strong><br />
294
edor estendendo <strong>seu</strong>s mantos e espalhando ramos de<br />
árvores pelo <strong>seu</strong> caminho e aclamando:<br />
“Hosana! Bendito o que v<strong>em</strong> <strong>em</strong> nome do Senhor!<br />
Bendito o reino que vai começar, o reino de Davi, nosso<br />
pai! Hosana no mais alto dos céus!”<br />
Rafael agora leva Felipe a um lugar onde se<br />
chamava Pretório. Jesus estava vestido de púrpura, <strong>em</strong> sua<br />
cabeça uma coroa de espinho e as pessoas ali o saudavam<br />
dizendo: “Salve, rei dos judeus!” Davam-lhe na cabeça<br />
com uma vara, cuspiam nele e lhes davam bofetadas e<br />
depois punham-se de joelhos como para homenageá-lo.<br />
Depois de ter<strong>em</strong> escarnecido dele, tiraram-lhe a púrpura,<br />
deram-lhe de novo as vestes e conduziram-no fora para o<br />
crucificar.<br />
Felipe viu o sangue que escorreu dos espinhos que<br />
cravaram sua cabeça e a dor deveria ser violenta, eram<br />
espinhos enormes. Viu os guardas batendo <strong>em</strong> Jesus. Viu<br />
um hom<strong>em</strong> maravilhoso, procurado por muitos e agora<br />
humilhado diante dos guardas que o escarneciam. Felipe<br />
não se conteve e começou a chorar. Jesus estava<br />
desfigurado já pelas agressões. Chorou pela amizade e<br />
pelo respeito que tinha por Emanuel, mas chorou<br />
principalmente por acreditar que ninguém mereceria tal<br />
295
sofrimento, muito menos qu<strong>em</strong> só falou de perdão e amor.<br />
Felipe l<strong>em</strong>brou-se de toda humilhação que já havia<br />
passado na vida pela sua condição social e por ser órfão e<br />
pensou consigo nenhuma delas se comparava ao que Jesus<br />
agora estava passando. Alguém que t<strong>em</strong> o Universo aos<br />
<strong>seu</strong>s pés ao invés da coroa de ouro recebeu a coroa de<br />
espinhos. Ao invés do trono a cruz. Ao invés da fama a<br />
humilhação.<br />
Felipe olhou o povo persuadido pelos sacerdotes e<br />
anciãos, optar<strong>em</strong> pela libertação de Barrabás ao invés de<br />
Jesus. Alguns daquele povo estavam gritando Hosana<br />
enquanto Jesus entrava sentado no jumentinho <strong>em</strong><br />
Jerusalém. Os religiosos que deveriam entender Jesus<br />
foram os que motivaram o povo a crucificá-lo. Então<br />
Pilatos mandou açoitar ainda mais Jesus e o entregou para<br />
ser crucificado.<br />
Pelo caminho havia uma enorme multidão que o<br />
acompanhava e mulheres que batiam no peito e o<br />
lamentavam. Jesus olha para elas e diz: “Não choreis sobre<br />
mim, mas chorais sobre vós mesmas e sobre os vossos<br />
filhos.”<br />
Ao <strong>seu</strong> lado também dois malfeitores caminhavam<br />
para o calvário.<br />
296
Jesus passou por Felipe carregando a cruz até o<br />
calvário. Um hom<strong>em</strong> lhe ajudou a carregar a cruz.<br />
Chegando <strong>em</strong> Gólgota o pregaram na cruz. A cada prego<br />
Felipe sentia as suas forças minar<strong>em</strong>. À direita e a<br />
esquerda crucificaram também os dois malfeitores<br />
também.<br />
Felipe via aquilo tudo e parecia estar <strong>em</strong>briagado<br />
pela dor. Os soldados que o levavam dividiam suas vestes<br />
e as sortearam. A multidão conservava lá e observava.<br />
Enquanto que os príncipes dos sacerdotes escarneciam de<br />
Jesus, dizendo: “Salvou a outros, que se salve a si próprio,<br />
se é o Cristo, o escolhido de Deus!”. Do mesmo modo<br />
zombavam dele os soldados que diziam: “Se és os rei dos<br />
judeus, salva-te a ti mesmo”. O olhar e as gargalhadas dos<br />
sacerdotes e dos guardas l<strong>em</strong>braram o olhar e gargalhada<br />
da serpente no paraíso. Tudo aquilo causou <strong>em</strong> Felipe o<br />
mesmo t<strong>em</strong>or que sentiu no Paraíso.<br />
Felipe olhou ao <strong>seu</strong> redor e viu que ali estavam<br />
muitas pessoas que eram conhecidas por eles. Políticos,<br />
trabalhadores, profissionais de todas as profissões, artistas,<br />
guardas, religiosos, escritores, cantores, compositores,<br />
domésticas, mães, pais, filhos... que diante de Pilatos<br />
haviam gritado: crucifica-o! Felipe também notou qu<strong>em</strong><br />
297
não estava ali: as crianças, os enfermos: leprosos, cegos,<br />
aleijados e todos o que pela lei da época não poderiam se<br />
misturar no meio do povo, pois eram considerados<br />
impuros. Felipe olhou as mulheres que choravam,<br />
algumas delas tinham a fama de má vida. E viu um dos<br />
ladrões na cruz enquanto o outro difamava Jesus, dizer:<br />
“Para nós isto é justo: receb<strong>em</strong>os o que merec<strong>em</strong>os pelos<br />
nossos crimes, mas este não fez mal algum.” E<br />
acrescentou: “Jesus l<strong>em</strong>bra-te de mim, quando tiveres<br />
entrado no teu Reino!” Jesus respondeu-lhe: “Em verdade<br />
te digo: hoje estarás comigo no paraíso.” Felipe l<strong>em</strong>brou-<br />
se do Paraíso onde Deus no <strong>seu</strong> amor infinito havia criado<br />
o <strong>seu</strong> maior sonho a humanidade, esta que agora o<br />
mandava crucificar. Felipe então sentiu que a esperança do<br />
paraíso estava de volta. E l<strong>em</strong>brou-se do que disse Jesus:<br />
“Em verdade vos digo que os publicanos e as<br />
prostitutas vos precederão no Reino de Deus.”<br />
Felipe olha para Emanuel. Ele não tinha aparência<br />
humana de tão desfigurado e sofrido. Não possuía<br />
nenhuma graça e n<strong>em</strong> beleza. Felipe tentava tirar os olhos<br />
de Jesus, era algo muito horrível, <strong>seu</strong> aspecto não seduzia.<br />
Diante de Felipe aquele hom<strong>em</strong> parecia agora um verme,<br />
era desprezível, parecia uma escória, hom<strong>em</strong> das dores,<br />
298
experimentado pelo sofrimento. Felipe até tentava olhar<br />
para ele, mas <strong>seu</strong> rosto se virava. Parecia o ser mais<br />
amaldiçoado. Havia nele um sofrimento maior do que o<br />
sofrido fisicamente. Como que se todo o pecado, a<br />
maldade, as enfermidades estavam sendo carregados por<br />
ele naquela cruz. Parecia que Deus o havia abandonado,<br />
ferido e o humilhado. Felipe teve uma sensação de ódio e<br />
violência por Jesus. Teve a sensação que todos aqueles<br />
sentimentos ruins, que vieram a ele quando Adão comeu<br />
do fruto proibido, estavam sendo jogados como pedras <strong>em</strong><br />
Jesus na cruz. Sua resignação, <strong>seu</strong> silêncio rebatia o<br />
silêncio de Adão no paraíso quando o Pai o chamava.<br />
Felipe notou que suas mãos estavam acirradas e que <strong>em</strong><br />
uma delas havia uma pedra. Largou a pedra assustado.<br />
Então l<strong>em</strong>brou-se quando lá no monte Javé-Yiré socou<br />
Emanuel e começou a chorar violentamente. Naquela<br />
ocasião Emanuel lhe falou quando pediu perdão:<br />
- Eu atraio sobre mim todas as suas mágoas e <strong>seu</strong>s<br />
pecados, pois para isso estou aqui, para salvar sua vida de<br />
toda derrota. Sou <strong>seu</strong> amigo e amigo verdadeiro serve para<br />
isso. Quantos aos socos que me deu, não foram fortes e<br />
n<strong>em</strong> foram eles que me feriram. Estas feridas eu as trago<br />
<strong>em</strong> mim para redenção de toda a humanidade.<br />
299
Felipe lhe perguntara:<br />
- São chagas não cicatrizadas?<br />
O que Emanuel lhe respondera:<br />
- São estigmas de amor! Chagas que curam!<br />
Felipe tentava olhar a todo custo o rosto de Jesus,<br />
então suplicando disse: “Jesus tende piedade de mim”. E<br />
repetiu isso aos gritos e chorando por diversas vezes.<br />
Ele já não tinha mais força para ficar <strong>em</strong> pé. Suas<br />
pernas amoleceram e ele foi vencido pela dor violenta que<br />
via <strong>em</strong> Jesus Crucificado. Olhou ao lado e viu João<br />
prostrado também. Estavam de pé só Maria sua mãe e as<br />
mulheres que a acompanhava. Olhou para Maria, agora ela<br />
parecia ter uns 50 anos. Que mulher estupenda. Que força<br />
ela tinha. Quantas mães suportariam ver tal sofrimento?<br />
Ainda mais o sofrimento de não poder sofrer no lugar do<br />
filho. Seu silêncio, <strong>seu</strong> olhar e estar de pé diante da cruz.<br />
O que Deus não permitiu a Abraão o havia permito a<br />
Maria: entregar <strong>seu</strong> único filho para holocausto a todos<br />
nós.<br />
Felipe l<strong>em</strong>bra-se o que perguntara a Emanuel a<br />
respeito de Deus pedir a vida de Isaac:<br />
300
- Então Deus jamais permitiria que alguém<br />
entregasse <strong>seu</strong> filho único para ser imolado? Não deixaria<br />
que Abraão fizesse tal ato?<br />
- Entregar <strong>seu</strong> filho único, não diria isso, pois você<br />
vai conhecer alguém que entregou nesta nossa caminhada.<br />
Mas no caso de Abraão, não pediria n<strong>em</strong> que imolasse <strong>seu</strong><br />
filho, só permitiu que Abraão quase imolasse para que<br />
tomasse consciência de sua missão e não colocasse a vida<br />
de toda uma humanidade na ignorância de qu<strong>em</strong> realmente<br />
é Deus e da sua real importância na vida de <strong>seu</strong>s filhos.<br />
Agora Maria entregava <strong>seu</strong> único filho para que<br />
toda a humanidade compreendesse o que Deus é capaz de<br />
fazer por amor a humanidade.<br />
Felipe então vê que Jesus olha com um amor<br />
imenso a Maria e João e diz:<br />
- “Mulher, eis aí teu filho”<br />
Depois disse a João:<br />
- Eis aí tua mãe.<br />
Felipe acolheu Maria neste momento <strong>em</strong> <strong>seu</strong><br />
coração e aprendeu com ela que mesmo que a gente perca<br />
uma pessoa que ama, não pod<strong>em</strong>os nunca perder a fé. Pois<br />
hoje estar<strong>em</strong>os todos no Paraíso.<br />
Então ouviu Jesus dizer:<br />
301
- Tenho sede.<br />
Felipe então respondeu:<br />
- Eu quero matar a sua sede. Quero levar a todas as<br />
pessoas suas palavras e <strong>seu</strong>s gestos. Quero matar a sede de<br />
todos aqueles que sofr<strong>em</strong> como tu nesta cruz. Quero levar<br />
água viva que jorra o t<strong>em</strong>po todo. Eu quero Senhor matar<br />
sua sede <strong>em</strong> cada irmão e irmã que grita por um copo<br />
d‟água.<br />
Então por fim Jesus exclamou na cruz:<br />
“Eli, Eli, lammá sabactáni? Deus, meu Deus, por<br />
que me abandonastes?<br />
Felipe entendeu que era a exclamação de todos<br />
que sofr<strong>em</strong> e ped<strong>em</strong> pela ajuda de Deus. Naquela cruz<br />
Jesus assumiu o sofrimento total de <strong>seu</strong> pecado. Naquele<br />
dia na praça ele havia perguntado por que Deus o havia<br />
abandonado? A resposta de Deus foi um menino nascido<br />
de uma virg<strong>em</strong> que se chama Emanuel.<br />
Então Jesus lançou um grande brado e disse: “Pai,<br />
nas tuas mãos entrego o meu espírito” E dizendo isso,<br />
expirou.<br />
Aquele grito pareceu com o grito e a dor de todos<br />
os que sofr<strong>em</strong> injustiça.<br />
302
Felipe ficou sabendo que o véu do T<strong>em</strong>plo onde os<br />
homens diziam estar Deus, o Santo dos Santos havia se<br />
rasgado <strong>em</strong> duas partes. Rafael posteriormente lhe<br />
explicava que o local sagrado agora onde Deus habita é a<br />
vida das pessoas, pois vocês é o t<strong>em</strong>plo do Espírito Santo,<br />
disse ele.<br />
E quando tudo parecia terminado e as forças de<br />
Felipe já estavam esgotadas aconteceu o que Felipe<br />
chamou mais tarde de um verdadeiro impacto <strong>em</strong> sua vida.<br />
Um soldado veio com uma lança e abriu-lhe o lado<br />
direito de Jesus, saindo imediatamente água e sangue.<br />
Felipe deu um imenso berro: Naaaaaaaaaaaaão!<br />
Rodopiou e <strong>seu</strong>s olhos se escureceram e caiu por<br />
terra. Pois neste instante ele viu Abraão enfiar a faca no<br />
cordeiro que havia Deus providenciado na moita entre os<br />
espinhos. Também viu uma espada transpassar a alma de<br />
Maria. E quase tudo ao mesmo t<strong>em</strong>po viu um menor sendo<br />
alvejado por balas, com o revolver <strong>em</strong> mãos ao ser<br />
atingido <strong>seu</strong> tiro desviou-se e atingiu sua mãe que caiu<br />
diante de Felipe. No chão Felipe chora desesperadamente<br />
enquanto olha o corpo de Jesus nos braços de Maria.<br />
L<strong>em</strong>brou-se que aquele menor era um morador do morro<br />
que sofria violência na sua própria casa e que entrou nas<br />
303
drogas por falta de apoio. Então Felipe repetiu uma das<br />
frases que ouviu de Jesus na cruz:<br />
- Pai, perdoa-lhes; porque não sab<strong>em</strong> o que faz<strong>em</strong>.<br />
304
O sonho da Humanidade<br />
Rafael carregou Felipe que estava exausto e o<br />
levou para uma piscina chamada Siloé. Felipe se banhou e<br />
recuperou suas forças. O dia estava sombrio. Havia uma<br />
grande tristeza no ar. Felipe não queria n<strong>em</strong> conversar.<br />
Rafael o levou para outro lugar no Monte das Oliveiras.<br />
Felipe reconheceu o lugar. Ali Jesus disse ao Pai: “Pai, se<br />
é de teu agrado, afasta de mim este cálice. Não se faça,<br />
todavia, a minha vontade, mas sim a tua”. Um anjo o<br />
consolou. Felipe l<strong>em</strong>brou como Jesus era humano. Sentiu<br />
todas as dores e <strong>seu</strong> sofrimento fora tão grande que suou<br />
sangue. Felipe não tinha vontade alguma de se levantar<br />
dali. Rafael respeitou <strong>seu</strong> silêncio, pois parecia que estava<br />
tão cansado quanto Felipe. Felipe dormiu vencido pela<br />
canseira.<br />
- Levantai-vos, orai, para não cairdes <strong>em</strong> tentação.<br />
Disse Rafael ao acordar Felipe.<br />
Felipe estava melhor. Parecia mais confiante. Não<br />
sabia o porquê, mas estava com uma sensação de que algo<br />
novo estava para acontecer. Tinha um sentimento de que<br />
aconteceria uma ótima notícia. L<strong>em</strong>brou-se de um amigo<br />
305
que s<strong>em</strong>pre dizia: “Quando algo ruim acontece é porque<br />
algo muito bom vai acontecer”. Olhou para Rafael e disse:<br />
- A carne é fraca, mas meu espírito está forte.<br />
- Que bom ouvir isso, fiquei muito preocupado<br />
com você. Disse Rafael.<br />
- Nossa! Parece que dormi tanto... Disse Felipe.<br />
- Apenas dois dias. Disse Rafael.<br />
- Dois dias?<br />
- Sim! Queria que estivesse muito descansado, pois<br />
o que vai experimentar será a maior alegria da sua vida.<br />
Disse Rafael.<br />
- O que eu vou experimentar?<br />
- O sonho e a realização que a humanidade tanto<br />
procura. Disse Rafael.<br />
- Foi muito difícil enfrentar a cruz. Disse Felipe.<br />
- Foi difícil para todos nós. Disse Rafael.<br />
- Num primeiro momento pensei <strong>em</strong> desistir ao<br />
enfrentar aquela dor toda, mas parecia que quanto mais a<br />
recusava mais pesada ela ficava. Disse Felipe.<br />
- Quanto mais você enfrenta a cruz mais pesada ela<br />
fica, quando você resigna e aceita a cruz ela torna-se leve.<br />
É um dos mistérios do sofrimento.<br />
306
- Coloquei na minha cabeça que aquilo era<br />
necessário. Disse Felipe.<br />
- N<strong>em</strong> o d<strong>em</strong>ônio que com toda sua maldade<br />
imaginava que Deus resgataria sua humanidade pelo<br />
aparente fracasso da cruz. Ninguém imaginava tal atitude<br />
de Deus. Disse Rafael.<br />
- Nós programamos nossa mentalidade para ver a<br />
vitória no que traz o resultado imediato. Quando<br />
deveríamos perseguir a vitória que traz resultados<br />
duradouros. Disse Felipe.<br />
Rafael.<br />
- Na cruz todos os homens foram salvos. Disse<br />
- Jesus d<strong>em</strong>onstrou amor até para os que o<br />
ignoravam. Disse Felipe.<br />
- Felipe! Agora preciso levar você para o sepulcro<br />
de Jesus. Lá terei que deixá-lo, pois tenho uma missão a<br />
cumprir. Você terá uma experiência maravilhosa. Depois<br />
de tanto sofrimento você encontrará a alegria que<br />
permanece e que só Deus poderá lhe ofertar.<br />
- Eu devo ser um cara chato! Disse Felipe.<br />
- Por que diz isso? Perguntou Rafael.<br />
- Por que as pessoas estão s<strong>em</strong>pre me deixando.<br />
Disse Felipe triste pela despedida de Rafael.<br />
307
- Não olhe nesta perspectiva. Agora que<br />
experimentou o caminho do calvário pense com a<br />
sabedoria da cruz. Disse Rafael.<br />
- Como deve ser meu pensamento?<br />
- As pessoas não part<strong>em</strong>! Ressuscitam! Pois<br />
estarão eternamente <strong>em</strong> <strong>seu</strong> coração e <strong>em</strong> sua história.<br />
Disse Rafael.<br />
- Muito obrigado por ser meu anjo guia, protetor e<br />
curador de minhas chagas. Sou muito grato por me ensinar<br />
as coisas de Deus. Disse Felipe.<br />
- Eu que agradeço sua amizade, pois os anjos só<br />
são vistos por aqueles que acreditam nele. E você não é<br />
chato, é uma pessoa muito especial e cativa os que se<br />
aproximam de você. Agora vamos. Disse Rafael.<br />
No primeiro dia que se seguia ao sábado Rafael<br />
levou Felipe ao sepulcro de Jesus.<br />
Era madrugada e Felipe viu a pedra que fechava o<br />
sepulcro, r<strong>em</strong>ovida.<br />
- Felipe fica aqui fora e aguarde. Eu terei que<br />
entrar no sepulcro para cumprir mais uma missão. Disse<br />
Rafael.<br />
Diante de Felipe apareceram algumas mulheres que<br />
traziam um tipo de aroma. Se assustaram ao ver o sepulcro<br />
308
aberto e entraram para ver. Estavam atônitas e s<strong>em</strong> saber o<br />
que realmente havia acontecido. Foi quando Rafael<br />
apareceu diante delas e disse:<br />
- Por que buscais entre os mortos aquele que está<br />
vivo? Não está aqui, mas ressuscitou.<br />
Elas saíram correndo dali. Estavam radiantes de<br />
felicidade. Felipe <strong>em</strong>ocionou-se e então tomou<br />
consciência do que havia acontecido. E não podia<br />
acreditar que estava experimentando na própria vida, ali<br />
naquele lugar, a alegria de encontrar o sepulcro vazio.<br />
Felipe teve vontade de gritar para o mundo que Emanuel<br />
<strong>seu</strong> amigo estava vivo. Então ele disse com força:<br />
- Ele vive! Ele vive! Ele vive! E vive <strong>em</strong> mim!<br />
Caiu de joelhos e chorou feliz. Era um dia<br />
maravilhoso. O por do sol era diferente. Depois de tantos<br />
dias nublados agora via o universo sorrindo para a notícia<br />
deste dia: Jesus está Vivo! Olhou para Rafael e este abriu-<br />
lhe um sorriso e disse:<br />
- “Onde está, ó morte, a tua vitória?<br />
- Ele está Vivo! Emanuel Vive! E está entre nós!<br />
Disse Felipe rindo e chorando ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />
- Nós venc<strong>em</strong>os! Disse Rafael e começou a cantar:<br />
309
Ressuscitou, ressuscitou, ressuscitou! Aleluia!<br />
Aleluia, aleluia, aleluia! Ressuscitou!<br />
Ó morte, onde estás, ó morte? Qu<strong>em</strong> és tu ó morte?<br />
Qual a tua vitória?<br />
Alegria, irmãos alegria, nós hoje cantamos, o<br />
Senhor ressurgiu!<br />
Com Cristo, nós ressuscitamos, juntos<br />
proclamamos: o Senhor nos salvou!<br />
Neste momento passaram por eles Pedro e João<br />
que vieram correndo. João chegou primeiro, mas só espiou<br />
e não entrou. Pedro chegou e entrou no sepulcro. Pedro<br />
saiu com o s<strong>em</strong>blante pensativo. João estava com um<br />
sorriso enorme e transmitia uma certeza e uma alegria.<br />
João viu e creu. Felipe disse b<strong>em</strong> baixo:<br />
- O discípulo amado por Jesus. Qu<strong>em</strong><br />
verdadeiramente ama conhece o Amor.<br />
Os discípulos foram <strong>em</strong>bora e permaneceu ali<br />
Maria Madalena chorando! Felipe olhou para ela, queria<br />
tanto lhe contar que Cristo está Vivo. Admirou o amor e<br />
amizade que ela tinha por Jesus. As mulheres, desde o<br />
calvário, d<strong>em</strong>onstravam sensibilidade a tudo o que<br />
acontecia com Jesus. Eram as mais fiéis.<br />
310
o jardineiro<br />
Neste momento aconteceu algo surpreendente na<br />
vida de Felipe, ele ouviu uma voz:<br />
- Filho!<br />
Felipe reconheceu a voz e não podia acreditar no<br />
que veria agora. Ele voltou-se e viu <strong>seu</strong> pai diante dele.<br />
- Pai.<br />
- Meu filho, você está aqui? Você está b<strong>em</strong>?<br />
Perguntou <strong>seu</strong> pai.<br />
- Sim Pai! Estou muito b<strong>em</strong>. Mas como isso pode<br />
acontecer? Como pode estar aqui? Felipe foi perguntando<br />
e num impulso abraçou <strong>seu</strong> pai com muito amor e carinho.<br />
Ficaram abraçados e se beijando. O pai de Felipe<br />
estava vestido de jardineiro e cheirava o suor do trabalho.<br />
- Como o senhor pode estar aqui se faleceu? Disse<br />
Felipe espantado.<br />
- Estava morto e revivi. Tinha me perdido e fui<br />
achado. Afirmou o pai de Felipe.<br />
- Mas como isso foi possível? Perguntou ainda<br />
Felipe atônito com o que presenciava.<br />
311
- Quando Jesus entregou <strong>seu</strong> espírito naquela cruz,<br />
os sepulcros se abriram na mansão dos mortos e os corpos<br />
de muitos justos ressuscitaram. Saíram das suas<br />
sepulturas, entraram na cidade Santa depois da<br />
ressurreição de Jesus e pareceram a muitas pessoas.<br />
Emanuel me permitiu falar contigo antes de ser levado<br />
com ele no Paraíso.<br />
- E por que está vestido com a roupa do trabalho?<br />
Perguntou Felipe.<br />
- Morri de infarto fulminante enquanto lidava com<br />
a terra e cuidava de um jardim. L<strong>em</strong>bra-se? Disse <strong>seu</strong> pai.<br />
- Como poderia esquecer. Hoje é o t<strong>em</strong>po de Deus!<br />
Tudo está acontecendo agora. Disse Felipe.<br />
- Hoje estou aqui! Disse <strong>seu</strong> pai.<br />
- Pai! Preciso lhe falar. Disse Felipe.<br />
- Filho antes deixe eu lhe dizer algumas coisas que<br />
gostaria muito que soubesse. Se eu pudesse voltar ao<br />
passado juro a você que trabalharia menos e estaria mais<br />
ao <strong>seu</strong> lado. Deixei um dinheiro guardado para você. Mas<br />
aquele dinheiro não compra o t<strong>em</strong>po que desperdicei e o<br />
qual me levou a estar distante de você. Queria muito pegar<br />
você <strong>em</strong> meu colo mais vezes. Beijar-lhe muito mais do<br />
que beijei. Brincar com você. Gostaria de chegar mais<br />
312
cedo do meu trabalho para lhe oferecer meu sorriso, meu<br />
carinho, minha benção. Quantas vezes eu chegava à noite<br />
<strong>em</strong> casa e lhe via dormindo e lhe beijava a testa e lhe<br />
oferecia minha benção e você não podia ver aquilo. Jamais<br />
trabalharia no domingo! Passaria este dia abençoado ao<br />
<strong>seu</strong> lado. Como pude ser tão insensível e não perceber que<br />
a ausência de sua mãe lhe trazia solidão e que precisava<br />
mais do que qualquer outra criança a presença do <strong>seu</strong> pai.<br />
Imagino quantas vezes você sozinho chorou a ausência<br />
dela e minha, quando poderia lhe oferecer meu ombro.<br />
Nenhum dinheiro paga ou apaga a falta de amor e carinho.<br />
Não vi você crescer. Não vi você chorar. Não vi você<br />
jogar futebol. Nunca olhei <strong>seu</strong> caderno. Poucas vezes parei<br />
para lhe escutar. Pensei que estava fazendo algo tão belo<br />
trabalhando o t<strong>em</strong>po todo para <strong>seu</strong> b<strong>em</strong>. Mas Filho, estava<br />
me escondendo das saudades e da dor que sentia pela<br />
ausência de sua mãe. Fui egoísta! Então a felicidade<br />
passou despercebida <strong>em</strong> minha vida e o que era essencial,<br />
ou seja, você, eu deixei de lado. Pedi a Emanuel que me<br />
desse a chance de lhe pedir perdão. Então ele me ofereceu<br />
esta chance, esses minutos que para mim será uma<br />
eternidade. Ele me ofereceu muito mais. Falou do amor a<br />
você e consolou <strong>seu</strong> coração. Não compreendia que<br />
313
imenso valor t<strong>em</strong> Deus, pois eu com certeza lhe<br />
ofereceria. Pois eu lhe amo muito! E como pai quero que<br />
tenha <strong>em</strong> sua vida o que é melhor.<br />
Neste momento o pai de Felipe não conteve e<br />
chorou e abraçou <strong>seu</strong> filho e o beijou. Felipe estava<br />
comovido e feliz, pois aqueles minutos eram b<strong>em</strong> mais<br />
valiosos que todo o t<strong>em</strong>po que teve para estar ao lado do<br />
pai. Felipe então lhe disse:<br />
- Pai, eu sei o quanto me ama. Sei agora que tudo o<br />
que fez foi por amor. E sei que qu<strong>em</strong> ama não erra. Eu<br />
também tive minhas culpas. Ficava amargurado com a<br />
ausência da mamãe e brigava e descontava muitas vezes<br />
no senhor. S<strong>em</strong>pre lhe admirei tanto. Quando partiu<br />
naquele dia eu estava no banco da praça e desejava mais<br />
do que qualquer coisa sentir o cheiro do <strong>seu</strong> suor. L<strong>em</strong>bra<br />
pai quando eu esperava o senhor voltar do trabalho, e o via<br />
vindo lá da esquina e corria abraçá-lo. O senhor ria e me<br />
pegava no colo. Você é meu herói, e quero ser digno e ter<br />
o caráter e a honestidade que s<strong>em</strong>pre d<strong>em</strong>onstrou <strong>em</strong> sua<br />
vida. Teus ensinamentos e conselhos eu vou utilizá-los<br />
pelo resto da minha vida. E se pecou por excesso de amor<br />
é lógico que está perdoado. Eu é que preciso do <strong>seu</strong><br />
perdão. Estou muito feliz por que Emanuel lhe viu como<br />
314
justo para levá-lo à felicidade eterna. Sabe pai eu aprendi<br />
tantas coisas com Emanuel. Eu perdoei todas as minhas<br />
mágoas. Estou cheio de sonhos e esperança. Minha vida<br />
agora t<strong>em</strong> sentido. Pai eu também ressuscitei. Eu te amo!<br />
Felipe e <strong>seu</strong> pai se abraçam felizes por tudo que<br />
Deus proporcionou <strong>em</strong> suas vidas.<br />
- Filho agora eu tenho que partir. O anjo Rafael me<br />
levará. Fique com Deus! Estou feliz por ver você feliz.<br />
Disse <strong>seu</strong> pai.<br />
- Pai, a sua benção! Vá com Deus!<br />
- Deus lhe abençoe!<br />
Neste momento Rafael se aproxima de Maria<br />
Madalena e pergunta-lhe:<br />
puseram.<br />
- Mulher, por que choras?<br />
Maria Madalena respondeu:<br />
- Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o<br />
Então o pai de Felipe se aproximou de Maria<br />
Madalena e lhe perguntou:<br />
respondeu:<br />
- Mulher, por que choras? Qu<strong>em</strong> procuras?<br />
Maria Madalena olhando para o jardineiro,<br />
315
- Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e<br />
eu o irei buscar.<br />
Felipe viu o anjo Rafael pegar no braço de <strong>seu</strong> pai<br />
e os dois partir<strong>em</strong>. E então Emanuel chamou Maria<br />
Madalena:<br />
- Maria!<br />
Voltando-se ela, exclamou:<br />
- Rabôni!<br />
O encontro foi maravilhoso. Felipe pode<br />
experimentar, o que <strong>em</strong> sua vida e <strong>em</strong> sua missão<br />
experimentaria muitas vezes, a maravilha da ressurreição.<br />
Maria Madalena e Jesus se abraçaram. Felipe viu os olhos<br />
e o rosto de Maria Madalena irradiar uma alegria tamanha<br />
que chegava a parecer com a luz e irradiação que Emanuel<br />
apresentava agora ressuscitado. L<strong>em</strong>brou-se do que lhe<br />
havia falado Rafael, quando falou da fraqueza humana:<br />
“Mas ai está a beleza de ser humano. Pois é nas<br />
fragilidades que Deus se faz presente. Na dor enaltece a<br />
presença do amor. Você está enxergando por que permitiu<br />
que Emanuel entrasse <strong>em</strong> sua vida e mostrasse <strong>seu</strong>s<br />
caminhos.” Maria Madalena viu Jesus Ressuscitado por<br />
que na sua fragilidade permitiu que Deus fosse sua força.<br />
316
Por que creu ficou ali esperando e por isso acolheu Jesus<br />
Vivo.<br />
disse:<br />
Maria Madalena quis segurar Jesus ali, mas ele lhe<br />
- Não me retenhas, porque ainda não subi ao meu<br />
Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.<br />
Felipe encantou-se com estas palavras, pois Jesus<br />
dizia que Deus Pai era de todos. Então l<strong>em</strong>brou que<br />
quando os discípulos lhe pediram para ensiná-los a orar<br />
ele começou assim: “Pai nosso...”<br />
Maria Madalena correu para anunciar aos<br />
discípulos que ela tinha visto o Senhor.<br />
Felipe ajoelhou-se diante de Emanuel, agachou-se<br />
e tirou o calçado. E disse:<br />
- Meu Senhor e meu Deus!<br />
Emanuel o puxou pelos braços, o abraçou forte e<br />
lhe beijou no rosto. Felipe o segurou abraçado com<br />
força também. Estava com muitas saudades de Emanuel.<br />
Emanuel lhe disse:<br />
- A paz esteja contigo.<br />
- Ela está diante de meus olhos. Disse Felipe.<br />
- Meu amigo! Acho que sua jornada está<br />
terminando. Disse Emanuel.<br />
317
- Não! Ela está só começando. Pois agora que eu<br />
conheci o Reino de Deus quero vivê-lo com intensidade e<br />
fé.<br />
- Fico feliz <strong>em</strong> lhe ver feliz. Mas agora tenho que<br />
partir, porém estarei s<strong>em</strong>pre perto de você. Quando me ver<br />
partir eu enviarei meu Espírito Santo e ele lhe ensinará<br />
tudo o que precisa saber sobre como vivenciar o Reino de<br />
Deus. Peça a ele todo dia que o acompanhe e eu estarei<br />
com você. Ele lhe dará força e será minha test<strong>em</strong>unha até<br />
os confins do mundo. Disse Emanuel o abraçando e se<br />
despedindo.<br />
- Muito obrigado! Não sou digno! Sei disso! Por<br />
isso agradeço o que fez por mim naquela cruz e por<br />
permitir que eu o conheça. Agora que eu encontrei este<br />
Reino quero vivê-lo pelo resto da minha vida.<br />
- Eu lhe abençoou e lhe guardo. Mostro a minha<br />
face e lhe concedo a minha graça. Eu volto o rosto para<br />
você e lhe ofereço a paz!<br />
- Amém!<br />
- Agora preciso partir, pois preciso resgatar uma<br />
amizade sincera. Levantar a auto-estima de um amigo,<br />
pois agora é ele o próximo escolhido para conduzir o<br />
Reino de Deus.<br />
318
O sonho do morro<br />
- Felipe! Felipe! Felipe!<br />
Felipe acorda com alguém o balançando e percebe<br />
que está na Praça do <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong> novamente.<br />
aqui?<br />
- O que está fazendo aqui? Você passou a noite<br />
Felipe então vê Lúcia à sua frente.<br />
- Noite? Que dia é hoje? Perguntou Felipe.<br />
- Hoje é segunda-feira! Depois do enterro você<br />
veio para cá? Passou a noite aqui? Perguntou Lúcia.<br />
b<strong>em</strong>?<br />
- Meu pai foi enterrado ont<strong>em</strong>? Perguntou Felipe.<br />
Lúcia ficou preocupada com Felipe. E disse:<br />
- Olha! Eu sinto muito que aconteceu! Você está<br />
- Sim, eu estou! Nunca estive tão b<strong>em</strong> na minha<br />
vida. Disse Felipe com um sorriso largo.<br />
- Você fica muito mais bonito quando sorri, Felipe.<br />
- Eu sei. Emanuel me disse isso. Falou Felipe.<br />
- Emanuel? Perguntou Lúcia.<br />
- Sim é uma história cumprida. Então o enterro do<br />
meu pai foi ont<strong>em</strong>? Perguntou Felipe.<br />
319
Lúcia.<br />
- Sim! Você t<strong>em</strong> certeza que está b<strong>em</strong>? Falou<br />
- Ele me disse que não era para eu preocupar-me<br />
com o t<strong>em</strong>po. Disse Felipe.<br />
Lúcia.<br />
- Ele qu<strong>em</strong>? Perguntou Lúcia.<br />
- Já lhe disse: Emanuel. Falou Felipe rindo.<br />
- O único Emanuel que conheço é Jesus. Disse<br />
- Pois então! Foi ele. Mas deixa pra lá. Agora tenho<br />
muitas coisas para fazer. Mais tarde irei lá ao Centro<br />
Comunitário e explico todinho pra você. Preciso muito<br />
falar com você. Mas me diga você estava me procurando?<br />
Disse Felipe.<br />
- Não! É que todo dia cedo venho trazer pão e leite<br />
àquele mendigo que está deitado ali no chão. Pelo jeito<br />
alguém esta noite roubou-lhe a cama que é este banco que<br />
estava deitado. Disse Lúcia rindo.<br />
Neste momento o mendigo se aproxima e diz:<br />
- Meu anjo trazendo o pão do céu!<br />
Lúcia ri e comenta com Felipe:<br />
- Ele s<strong>em</strong>pre diz isso!<br />
Felipe então se l<strong>em</strong>bra do que Jesus ensinou:<br />
- Estive com fome e me destes de comer.<br />
320
Felipe l<strong>em</strong>bra-se da sua tia e diz a Lúcia:<br />
- Minha tia deve estar preocupada.<br />
- Felipe, por favor, não brigue mais com ela, ela já<br />
sofreu muito nesta vida.<br />
- Não brigarei nunca mais. Disse Felipe.<br />
Lúcia notara que Felipe estava muito diferente. Ele<br />
ria o t<strong>em</strong>po todo. Estava muito feliz. Ficou preocupada<br />
com ele. Achou que estava delirando de saudades de <strong>seu</strong><br />
pai. Mas gostava de vê-lo rindo.<br />
Comunitário.<br />
- Lúcia mais tarde eu passo lá no Centro<br />
Felipe dá um abraço forte <strong>em</strong> Lúcia. Dá-lhe um<br />
beijo no rosto. E agradece por tudo que ela fez na vida<br />
dele. Lúcia nunca recebeu um abraço de Felipe. Enquanto<br />
a beijava olhou para o mendigo que lhe sorriu, fez um<br />
positivo para ele.<br />
Então Felipe partiu para o morro alegre e cantando.<br />
Lúcia olha para o mendigo com cara de qu<strong>em</strong> não<br />
estava entendendo nada e lhe diz:<br />
- Eu nunca perguntei <strong>seu</strong> nome. Como se chama?<br />
- Emanuel. Disse o mendigo.<br />
321
Enquanto que Felipe corria e quando chegou perto<br />
do morro tirou o caçado dos pés e subiu. Chegou à sua<br />
casa e entrou.<br />
Procurou sua tia que estava sentada à mesa<br />
cabisbaixa e triste. Parecia que estava naqueles dias de<br />
depressão. Então Felipe a chamou:<br />
- Tia Maria.<br />
Tia Maria levantou-se de um pulo olhou para<br />
Felipe e não conteve a alegria de vê-lo ali. Estava<br />
preocupada, não havia dormido e estava pensando <strong>em</strong> ir à<br />
delegacia para dar parte de <strong>seu</strong> sumiço. Felipe lhe disse:<br />
- Tia eu voltei! Quero minha vida toda morar com<br />
a senhora. Perdoe-me se a deixei preocupada esta noite.<br />
Nunca mais farei isso com a senhora.<br />
bronca.<br />
Tia Maria agora aliviada lhe dá uma grande<br />
Felipe sorri com o jeito ranzinza de tia Maria e<br />
abraça com muito carinho e a beija diversas vezes e diz:<br />
- Tia Maria. Você é tudo que tenho <strong>em</strong> minha vida.<br />
E não adianta brigar comigo, pois eu vou estar ao <strong>seu</strong> lado<br />
pelo resto da minha vida. Eu te amo! E queira ou não<br />
aceitar: nós somos o que sobrou de nossa família.<br />
322
Tia Maria chora com estas palavras de Felipe. E<br />
meio que desengonçada e b<strong>em</strong> mais dócil começa a<br />
arrumar a mesa e preparar o café da manhã e diz:<br />
- Deve estar com fome, meu filho. Senta e come.<br />
Enquanto Felipe sentava-se para comer, tia Maria<br />
passava a mão <strong>em</strong> <strong>seu</strong> cabelo. Felipe l<strong>em</strong>brou-se do lhe<br />
disse Emanuel: “A família é como uma terra sagrada e lá o<br />
ar que se respira é o amor, a água que se bebe é a<br />
compreensão e o sol que ilumina é o perdão. Você é<br />
responsável por qu<strong>em</strong> ama e por qu<strong>em</strong> não ama também e<br />
que necessita do <strong>seu</strong> amor. Pois que vantag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> para<br />
aquele que ama só os amigos? Deveis amar também vosso<br />
inimigo. Esta é a diferença que existe <strong>em</strong> alguém que quer<br />
viver o Reino de Deus.”<br />
Clara<br />
Felipe tomou um belo banho. Se vestiu e estava<br />
para sair novamente quando sua tia Maria lhe perguntou:<br />
- Vai sair? Vai namorar? Disse Ela.<br />
- Eu vou sair sim! Mas iria lhe avisar. Tia eu vou<br />
ver minha namorada, mas não é para namorar e depois<br />
323
passarei para falar com Clara e Lúcia. Depois voltarei para<br />
casa. Se precisar de algo sabe onde me encontrar.<br />
menino.<br />
Tia Maria estava feliz. Felipe parecia outro<br />
Felipe vai ao encontro de Bianca. Ela estava linda<br />
como s<strong>em</strong>pre. Vivia s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong> arrumada e perfumada.<br />
Veio ao encontro de Felipe para lhe beijar. Felipe parecia<br />
meio distante, então ele lhe falou:<br />
- Bianca! Preciso lhe falar algo. Eu não quero mais<br />
namorar com você. Andei pensando sobre nossa vida e <strong>em</strong><br />
nossos sonhos. E ultimamente tenho tido outros sonhos.<br />
Quero morar aqui e cuidar da minha tia. E penso que não<br />
conseguiria viver <strong>em</strong> outra realidade que não seja viver a<br />
minha orig<strong>em</strong>. Entende?<br />
- Felipe! Eu sei que você está meio chateado com a<br />
morte de <strong>seu</strong> pai e isto está fazendo você falar estas<br />
besteiras.<br />
Felipe a interrompe:<br />
- Não é besteira. Eu amo meu povo. Amo minha<br />
tia. E quero ficar aqui. Terminou! Nosso relacionamento<br />
chegou ao fim.<br />
Bianca indignada diz:<br />
324
- Acho bom mesmo! Você é muito brega! Aprendiz<br />
de jardineiro. Adeus.<br />
Felipe sorri aliviado. E pensou consigo:<br />
- Livrei-me de uma enrascada.<br />
Felipe correu para falar com Clara. Chegando lá<br />
encontrou com Clara na Associação de Bairro. Clara era<br />
simples. Muito bonita. Era uma menina resolvida. De b<strong>em</strong><br />
com a vida. Tinha personalidade e opinião própria. Muito<br />
inteligente e sabia b<strong>em</strong> o que queria da vida. Tudo isso<br />
incomodava Felipe. Clara s<strong>em</strong>pre dizia que os homens<br />
tinham medo de mulher resolvida e independente.<br />
- Olá Clara!<br />
- Olá Felipe!<br />
Clara se aproximou de Felipe e o abraçou com<br />
muita força e lhe disse:<br />
- Meus sinceros sentimentos. Estava preocupada<br />
com você. Acabei de falar com meu pai que deveria ter<br />
descido para sua casa b<strong>em</strong> cedo para conversar com você.<br />
Pois, com certeza mais tarde estaria na casa de Bianca.<br />
- Agradeço sua preocupação. Realmente, eu saí<br />
cedo e fui falar com Bianca. Disse Felipe.<br />
Disse Clara.<br />
- Não disse? Você e Bianca não se desgrudam.<br />
325
- Você quer dizer não desgrudava né?<br />
- Como assim? Perguntou Clara.<br />
- Nós terminamos. Não estamos namorando e não<br />
vamos namorar mais.<br />
Clara sentiu certa alegria e sorriu.<br />
- Vim aqui para falar com o <strong>seu</strong> pai.<br />
Clara também achou Felipe meio estranho e<br />
chamou <strong>seu</strong> pai.<br />
Negão o abraçou e lhe disse:<br />
- Meu filho! Sinto muito que lhe aconteceu, <strong>seu</strong> pai<br />
era respeitado e amado por todos nós. S<strong>em</strong>pre ajudou<br />
muito com nosso trabalho aqui no morro. Quero que você<br />
saiba que não é possível substituir <strong>seu</strong> pai, mas conte<br />
comigo no que precisar. Eu, minha esposa e minha filha<br />
estar<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre juntos com você.<br />
Felipe se sentiu comovido. S<strong>em</strong>pre Negão o<br />
abraçava e o chamava de filho, fazia isso com todos os<br />
jovens do morro que por sua vez tinham respeito a ele.<br />
Felipe enxugou os olhos e disse-lhe:<br />
- Eu estou b<strong>em</strong>. Vim aqui para oferecer minha<br />
ajuda aqui na Associação. Gostaria muito de ajudar este<br />
povo a conquistar a liberdade e a cidadania. Disse Felipe.<br />
326
- Você preocupado com o povo daqui. Não é você<br />
que quer mudar-se daqui o quanto antes. Disse Clara.<br />
- Eu mudei! Agora sou livre! Por favor, me aceita!<br />
Negão olhou bravo para Clara e disse a Felipe:<br />
- Filho, seja b<strong>em</strong> vindo.<br />
Felipe olhou para Clara e lhe sorriu e agora s<strong>em</strong><br />
medo da sua independência, deu-lhe um beijo no rosto e<br />
lhe disse:<br />
- Vai ter que me suportar muito <strong>em</strong> sua vida!<br />
Mãe de Clara deu uma enorme risada. Pois<br />
percebera que qu<strong>em</strong> ficou s<strong>em</strong> jeito desta vez foi ela.<br />
Felipe então desceu para o Centro Comunitário São<br />
Francisco e conversou todo aquele dia com Lúcia<br />
contando tudo o que havia acontecido com ele. Lúcia se<br />
alegrou com a história de Felipe.<br />
experiência.<br />
- Eu acredito! Disse Lúcia após ouvir sua<br />
- Eu sabia que você acreditaria. Pois você s<strong>em</strong>pre<br />
me falou de Emanuel. Disse Felipe.<br />
- Fico muito feliz que você conheceu o Reino de<br />
Deus. E também estou feliz por Emanuel estar feliz com<br />
minha missão. Às vezes parece que o cansaço vai me<br />
vencer. Disse Lúcia.<br />
327
Felipe l<strong>em</strong>brou-se da música A Barca que Emanuel<br />
cantou, e disse:<br />
ouvir.<br />
- Que <strong>seu</strong> cansaço a outros descans<strong>em</strong>. E disse:<br />
- Quero participar do trabalho daqui, posso ajudar?<br />
Lúcia ficou muito feliz com o que acabara de<br />
- Sim, é lógico que pode. Seja b<strong>em</strong> vindo!<br />
Felipe então voltou para casa e encontrou sua casa<br />
toda limpa. Na mesa estava o jantar b<strong>em</strong> preparado.<br />
Parecia comida de domingo. Sua tia estava muito feliz ao<br />
vê-lo voltar. Juntos sentaram-se à mesa e Felipe fez uma<br />
oração simples e que aprendera com Rafael:<br />
“Senhor daí pão a qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> fome! E fome de<br />
justiça a qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> pão! Abençoai esta nossa refeição.<br />
Obrigado Senhor!<br />
Naquela noite Felipe e sua tia conversaram muito e<br />
riram das coisas que ela contava de <strong>seu</strong> pai quando<br />
criança. Sua tia também lhe contou a história da sua vida.<br />
Felipe voltou a falar para ela que nunca a deixaria. Que<br />
precisava muito dela e que na vida dele ela era sua família.<br />
328
Fim<br />
Felipe casou-se com Clara. Teve quatro filhos:<br />
Francisco, Teresa, João e Maria. Felipe s<strong>em</strong>pre esteve ao<br />
lado dos filhos. Estudou e pagou <strong>seu</strong>s estudos com o<br />
dinheiro que <strong>seu</strong> pai lhe deixou, formou-se Doutor <strong>em</strong><br />
Ciências Sociais. Todo dia Felipe pela manhã começava o<br />
dia perguntando: “Emanuel! <strong>Bom</strong> Dia! Qual será a<br />
aventura de hoje?” Viveu o resto da sua vida ao lado da<br />
Tia Maria que acolheu <strong>seu</strong>s filhos como netos. Tia Maria<br />
dava aulas de pintura, como voluntária no Centro<br />
Comunitário, e nunca mais teve depressão. Francisco,<br />
Lúcia, João e Maria a chamava de vovó. Felipe, Clara<br />
juntos com Negão tornaram-se a voz do morro <strong>em</strong> defesa<br />
dos direitos e cidadania daquele povo. Felipe nunca mais<br />
viu Bianca que se mudou dali. Entre as aulas e<br />
conferências que dava, pois virou um professor respeitado,<br />
ele e Lúcia desenvolveram vários trabalhos sociais que<br />
beneficiaram o povo daquele lugar.<br />
Entre os trabalhos que se destacaram o que mais<br />
marcou o morro para s<strong>em</strong>pre foi o Projeto Vida Colorida!<br />
Nele Felipe ensinava as pessoas a desenvolver e cuidar de<br />
jardim. O morro inteiro virou um enorme canteiro de<br />
329
jardim. Por onde se via, <strong>em</strong> cada canto havia milhares de<br />
flores e árvores que <strong>em</strong>belezavam as ruas e as casas das<br />
pessoas. Lá <strong>em</strong> cima do morro e ao redor eles venceram o<br />
deslizamento repondo a vegetação para que a água que<br />
descia pelas encostas do morro perdesse a velocidade ou<br />
infiltrasse no solo criando a voçoroca. Construíram<br />
terraços <strong>em</strong> forma de degraus a fim de proteger o solo da<br />
ação das águas pluviais.<br />
Na primavera o morro ficava todo colorido. Os<br />
turistas visitavam o morro, pois ele ficou famoso pela<br />
beleza das flores. O morro ganhou um nome: Bairro<br />
Jardim e virou um ponto turístico que trazia benefícios ao<br />
povo do bairro.<br />
Lá <strong>em</strong> cima no topo do bairro Jardim havia um<br />
belo bosque e Felipe construiu uma estátua de Emanuel de<br />
braços abertos toda iluminada.<br />
Felipe foi promovido lá no bairro de aprendiz de<br />
jardineiro para o Jardineiro. Todos o conheciam como o<br />
Jardineiro.<br />
Quando faleceu levantaram uma estátua ao lado de<br />
Emanuel. A estátua era de um Jardineiro que apontava<br />
para Emanuel. Elas eram iluminadas e se acendiam de<br />
forma sincronizada. Quando a estátua do Jardineiro<br />
330
apagava a de Emanuel se acendia e ficava mais intensa.<br />
Na estátua do jardineiro estava uma placa com os dizeres:<br />
Por que choras? Qu<strong>em</strong> procuras? Na estátua de Emanuel<br />
estava escrito: O Reino de Deus está aqui!<br />
331
O sonho do escritor<br />
Meu sonho é anunciar o Reino de Deus para que<br />
todas as pessoas o encontr<strong>em</strong> e sejam felizes!<br />
Se você leu esta obra e sonhou junto comigo eu<br />
peço que não interrompa esse sonho.<br />
Divulgue para mais pessoas, envie para alguém,<br />
tire uma cópia e juntos vamos s<strong>em</strong>ear um mundo melhor.<br />
L<strong>em</strong>bra-se: para cativar é necessário entusiasmo<br />
pelo Reino. Divulgue e espalhe esta obra com alegria e<br />
convicção.<br />
É somente isso o que humild<strong>em</strong>ente lhe peço.<br />
Não é uma corrente, é apenas um humilde pedido<br />
de qu<strong>em</strong> abriu mão do valor financeiro para realizar o<br />
sonho de fazer você sonhar com O Reino de Deus!<br />
Obrigado!<br />
332
<strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong>.<br />
BIOGRAFIA<br />
Gilberto é fundador da <strong>Comunidade</strong> Acolhimento<br />
Autor dos livros:<br />
1 - Deus enviou um profeta! Você o acolheu?<br />
2 – Lançai as redes!<br />
3 – Vinde, Bendito!<br />
4 – Gratia Plena<br />
Um dos onze filhos que Miltom e Regina tiveram.<br />
Casou <strong>em</strong> 1994 com a Regina e tiveram os filhos:<br />
Felipe (nascituro), Mariana (treze anos) e Juliana (dez<br />
anos).<br />
Participou de diversos segmentos na Igreja:<br />
S<strong>em</strong>inarista, Vicentino, Legionário de Maria, Congregado<br />
Mariano, <strong>Comunidade</strong> de Jovens, <strong>Pastor</strong>ais e Catequista.<br />
Em 1982 conheceu a Renovação Carismática<br />
Católica e através da experiência do Pentecostes teve a<br />
certeza do amor de Deus.<br />
Em 2002 aos 36 anos de vida fundou a<br />
<strong>Comunidade</strong> Acolhimento <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong>.<br />
333
A <strong>Comunidade</strong> t<strong>em</strong> como carisma o Acolhimento<br />
baseado na tríplice dimensão: acolher é amar, é<br />
evangelizar, é formar.<br />
A <strong>Comunidade</strong> Acolhimento <strong>Bom</strong> <strong>Pastor</strong> através<br />
de <strong>seu</strong> carisma prega a Palavra de Deus onde é convidada<br />
e realiza um trabalho social de promoção humana e<br />
cidadania através do Projeto Madre Teresa de Calcutá.<br />
334