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Cristo leproso<br />
Ainda que o seu verdadeiro nome fosse<br />
Mathis Gothart Niethart, o artista passou<br />
para a história como Grünewald. Da sua<br />
vida não se sabe muito, excepto que foi<br />
colaborador directo do bispo de Mainz e<br />
pintor da corte do Príncipe Albrecht de<br />
Brandenburgo. A sua especialidade, pela<br />
qual ficou especialmente conhecido nos<br />
círculos da nobreza e da alta burguesia,<br />
foram os retratos e especialmente os<br />
retábulos religiosos. O retábulo de<br />
Isenheim, considerado a sua obra-prima<br />
que demorou cerca de quatro anos a<br />
terminar, foi pintado para ornamentar o<br />
hospital do mosteiro de Santo António,<br />
em Alsácia. O seu propósito era confortar<br />
os doentes de lepra que ocupavam o<br />
estabelecimento, pressagiando uma cura<br />
milagrosa. Dos onze corpos que compõem<br />
o retábulo, A crucificação é o mais cru,<br />
realista e, por vezes, o que mais identifica<br />
os pacientes com Jesus. O Crucificado de<br />
Grünewald não só está a padecer de uma<br />
cruel e prolongada agonia, como também<br />
sofre de lepra: a evidência médica está nas<br />
pústulas verdes que cobrem toda a sua pele.<br />
Demonstração de dor<br />
Ainda que a sua arte tenha nascido em<br />
pleno Renascimento alemão, ao mesmo<br />
tempo que Alberto Durero e Lucas<br />
Cranach, entre a sua obra e a dos seus<br />
contemporâneos há uma diferença<br />
abismal. Alheio à visão antropocêntrica<br />
e idealista do Renascimento, bem<br />
como à sua paleta luminosa e aos seus<br />
rostos plácidos, optou por uma arte<br />
que demonstra dor física e espiritual.<br />
Fervorosamente religioso, Grünewald<br />
viu na arte um meio para evangelizar<br />
e proclamar as verdades da Igreja,<br />
muitos mais do que uma forma de busca<br />
dos segredos ocultos da beleza. A sua<br />
identificação com os estilos da arte<br />
medieval, especialmente o gótico, reflectese<br />
claramente na obra A Crucificação. O<br />
fundo escuro em contraste com as cores<br />
fortes do primeiro plano, assim como o<br />
tamanho exagerado da figura de Jesus<br />
em comparação com as personagens à sua<br />
volta dão um tom angustiante à cena e<br />
sugerem que o mundo é um imenso espaço<br />
de dor e desolação, onde não existe outro<br />
consolo para além da fé.<br />
A sua obra sugere que o mundo<br />
é um imenso espaço de dor e<br />
desolação, onde não existe outro<br />
consolo para além da fé.<br />
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