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MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL

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articular essa linguagem com um racionalismo inato que, na análise do<br />

chinês e do hindu, levaria o ser à “iluminação divina, à verdade, à<br />

perfeição”. Nesse ponto, lembrávamos também do que pregava o<br />

idealismo alemão, sempre nos falando de uma luta (streben) da vida e<br />

do espírito, em concurso, para atingir a “verdade e a iluminação”, como<br />

pregavam Schelling e Hegel. Bem, depois de tanta gente buscando<br />

tanta luz, tanta verdade, não poderíamos admitir que o discurso<br />

neoliberal arrogasse a si o undécimo estágio da história.<br />

Neoliberalismo não pode ser, donc, “verdade nem iluminação”.<br />

Nesse ponto, Leary era sistemático: a única coisa que nos sobrava<br />

para fugir desse idealismo, absorvido pelo discurso neoliberal, era<br />

surfar o caos, questionar os valores do neoliberalismo, empregando<br />

agudas indagações que questionassem os memes ao osso. Como? A<br />

“competência” chomskiana e as demais visões históricas de um<br />

racionalismo básico a imbricar as línguas do mundo num eixo central,<br />

sistemática e tecnicamente racional, deveriam ser renegados. Aqui,<br />

nesse terreno conflagrado, para Leary, como seus companheiros de<br />

“surfar o caos” estavam Ludwig Wittgenstein, David Hume e Jean<br />

Piaget. Em outras palavras: a tarefa do viver não deveria adotar<br />

critérios tão racionais e objetivos. Surfar o caos seria uma nova<br />

experiência dos sentidos, em que vamos surfando como construtores<br />

da consciência e do julgar, baseados sobretudo na percepção. O surfar<br />

o caos estava para o empirismo assim como o explicar racionalmente<br />

estava para o neoliberalismo.<br />

Todo o discurso de Leary era socrático, desde sua prisão e fuga<br />

da cadeia de Folsom, escalando arame farpado, em 12 de setembro de<br />

1970. Leary se achava um novo Sócrates. Depois que Richard Nixon<br />

falou, em 1973, que Leary era o homem “mais perigoso da atualidade”,<br />

para o papa do LSD presente e passado se confundiam e ele passara<br />

mesmo a ser visto, entre verdades e zombarias, como um novo<br />

Sócrates. Admitia que o seu papel, como o de Sócrates, era corromper<br />

a juventude, fazendo as novas gerações questionarem a linguagem<br />

oficial. Herdeiro da análise do sistema a partir da Grécia Antiga, como<br />

Hannah Arendt, Timothy Leary via as coisas mais ou menos assim:<br />

na Grécia, somente a partir do Código de Dracon, em 624, a lei foi<br />

deixando de ser um fator de origem divina. Antes, dizia ele, jamais<br />

os homens deveriam fabricar leis, mas interpretá-las em seu caráter<br />

divino. O surgimento desse código penal, Dracon, limitou a<br />

onipotente interpretação das leis divinas pelos anciãos e nobres<br />

gregos, pelas suas funções no Areópago. Questionar, surfando a<br />

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