MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL
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com uma árvore. Mesmo no meio das vivências mais estranhas<br />
procedemos dessa maneira: inventamos a maior parte da vivência e<br />
dificilmente somos levados a não contemplar, como ‘inventores’, qualquer<br />
acontecimento. Tudo isso quer dizer: estamos fundamentalmente e desde<br />
sempre habituados a mentir. Ou, para me expressar em termos mais<br />
virtuosos e hipócritas, enfim, mais agradáveis: somos muito mais artistas<br />
do que julgamos”. (ABM, 119)<br />
Acusamos donos de mídia de editar seu produto somente no que<br />
tange aos seus instintos de sobrevivência empresarial. Voltemos a<br />
Nietzsche: “Admitindo que nada seja ‘dado’ como real, a não ser o<br />
nosso mundo de desejos e paixões, que não possamos descer ou<br />
ascender a nenhuma ‘realidade’ que não a dos nossos instintos, pois<br />
pensar é apenas uma inter-relação desses instintos (ABM, 54)”; “O<br />
texto que desapareceu sob a interpretação” (ABM, 56); “Não há<br />
fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral desses<br />
fenômenos”. (ABM, 99)<br />
Nietzsche é o pai do jornalismo quântico, que se segue.<br />
O físico dinamarquês Niels Bohr defendia que todas as<br />
características envolvidas num fenômeno deveriam constar como<br />
análise desse fenômeno, a título de sermos imparciais. Trocando em<br />
miúdos: quando você coloca um termômetro para medir a temperatura<br />
da água, o termômetro, que está frio, altera a temperatura da<br />
água quente, quando nela inserido. Ou seja: a temperatura em que<br />
estava o termômetro, que mede a temperatura da água, deve constar<br />
nas anotações do experimento. Por outra: buscando uma remota<br />
“objetividade” é no mínimo interessante descrever características do<br />
objeto que analisa o fenômeno.<br />
Como falar em “objetividade jornalística”, nesses termos? Está<br />
claro, desde o começo do século 20, pelo menos, que não existe<br />
objetividade. O ato de observar alguém altera esse alguém: observador<br />
altera observado. Qualquer beletrista de física sabe que em 1927, aos<br />
26 anos de idade, o físico alemão Werner Karl Heisenberg, nascido<br />
em Wurzburg, publicou em Zeitscrift fur Physik seu artigo “Sobre o<br />
conteúdo perceptivo da cinemática e da mecânica quântica teórica”.<br />
Ali descrevia: para detectar a posição de um elétron circulante em um<br />
átomo, é necessário que seja iluminado. Mas essa iluminação,<br />
radiante, emite partículas, que se chocam com o elétron e alteram a<br />
sua posição. Portanto, as características do objeto que analisa o<br />
fenômeno alteram o fenômeno.<br />
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