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uma leitura performática de Memórias Póstumas de Brás Cubas

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a relação com a rapi<strong>de</strong>z do estilo e a ida<strong>de</strong> não é mais <strong>uma</strong> associação concreta, mas<br />

apenas um efeito <strong>de</strong> estilo que <strong>de</strong>ve ser relativizado pela condição da autoria (o autor<br />

escreve <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morto, portanto não po<strong>de</strong> ter cinqüenta anos naquele capítulo), o<br />

leitor teria que <strong>de</strong>duzir a ida<strong>de</strong> em que se encontra <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong> na cena do capítulo<br />

CXXXIV pela <strong>leitura</strong> do resto do livro e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> que a forma <strong>de</strong> expressão da<br />

mensagem está “menos lesta”, comparar essa forma com a do texto anterior e <strong>de</strong>duzir<br />

a qual unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong> à diminuição do ritmo narrativo.<br />

Essa <strong>leitura</strong> <strong>performática</strong>, que se esten<strong>de</strong> também à representação da<br />

manipulação concreta das páginas do livro, como indica SILVA, 2006, solicita que o<br />

leitor atente para as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentido que o objeto livro é capaz<br />

<strong>de</strong> oferecer. A aptidão para a criação <strong>de</strong> <strong>leitura</strong>s diversas, correspon<strong>de</strong>ntes à<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combinatórias entre as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sentido do texto, se realiza <strong>de</strong><br />

forma incomparável no livro. Não é possível pensar qualquer outro veículo <strong>de</strong><br />

comunicação que tenha maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> <strong>leitura</strong>s pela articulação<br />

concreta <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua materialida<strong>de</strong> (páginas) do que o livro.<br />

Se essas combinatórias <strong>de</strong> páginas forem completadas com as <strong>leitura</strong>s referentes<br />

às intertextualida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser estabelecidas, tanto explícita quanto<br />

implicitamente, o livro torna-se um objeto <strong>de</strong> <strong>leitura</strong> ainda mais complexo.<br />

Por exemplo, o capítulo CLIV, Os navios <strong>de</strong> Pireu. Pelo contexto do enredo,<br />

po<strong>de</strong> ser lido como um diálogo entre um alienista, indicado por Quincas Borba para<br />

avaliar <strong>uma</strong> possível loucura <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong> e o próprio narrador personagem, e<br />

confere ao romance um sentido <strong>de</strong> relativização do estado <strong>de</strong> loucura. Ainda po<strong>de</strong> ser<br />

lido como <strong>uma</strong> antecipação da novela O Alienista, publicada originalmente em<br />

Estação, revista do Rio <strong>de</strong> Janeiro, entre 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1881 a 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1882, portanto posteiror à primerira aparição das <strong>Memórias</strong> Póst<strong>uma</strong>s <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong>,<br />

em 1880, na Revista Brasileira. Mas há ainda <strong>uma</strong> sugestão <strong>de</strong> crítica corrosiva à<br />

Apologia <strong>de</strong> Sócrates, <strong>de</strong> Platão, caso alguns elementos sejam levantados. O mais<br />

significativo <strong>de</strong>les, o diálogo entre o alienista e <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong> que parece parodiar o<br />

diálogo entre Sócrates e Meleto, quando o filósofo grego apresenta sua <strong>de</strong>fesa ao<br />

promotor que o acusara <strong>de</strong> “corromper a juventu<strong>de</strong>”. Na primeira parte, item XI,<br />

lemos a seguinte passagem:

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