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<strong>Histeria</strong><br />
Breve introdução ao conceito a partir da<br />
Psicanálise<br />
Prof. Dr. <strong>Fábio</strong> <strong>Belo</strong><br />
fabiobelo76@gmail.com
O útero dos gregos<br />
No sexo feminino, o que se chama matriz ou<br />
útero é nelas como um ser vivo possuído pelo<br />
desejo de produzir filhos. Quando por longo<br />
tempo e apesar da época favorável, a matriz<br />
permaneceu estéril, ela se irrita perigosamente;<br />
agita-se em todos os sentidos dentro do corpo,<br />
obstrui as passagens do ar, impede a respiração,<br />
leva assim o corpo às piores angústias e ocasiona<br />
enfermidades de todos tipo.<br />
Platão. Timeu, Timeu,<br />
91c. Apud. Ramos, 2008, 20.<br />
Hipócrates<br />
Hystera Hystera = útero.
A Idade Média<br />
Historiadores também<br />
articulam as feiticeiras e<br />
os sintomas da<br />
possessão à histeria.<br />
“Não Não deixarás viva a<br />
maga” (Êxodo, 22, 18).<br />
Malleus Malleus Maleficarum –<br />
referência na luta contra<br />
a feitiçaria na Europa<br />
dos séculos XV a XVIII.
Charcot e a histérica<br />
Une leçon clinique à la Salpêtrière (1887) Pierre-André Brouillet
História em Paris<br />
No fim do século XIX, o problema que a<br />
histeria coloca ao método anátomo-clínico<br />
era importante.<br />
Charcot e Babinski se destacam.<br />
Charcot estuda a histeria através dos métodos<br />
ordinários da observação médica, dando à<br />
histeria a dignidade de uma doença como as<br />
outras.<br />
Babinski aponta para a ausência de qualquer<br />
lesão orgânica e funda o termo pitiatismo (o que<br />
se pode curar pela sugestão).
Pierre Janet<br />
De Charcot, pode-se dizer, duas correntes aparecem, bem<br />
distintas: Janet e Freud.<br />
Pierre Janet: sua tese O O estado estado mental mental das das histéricas foi<br />
defendida numa banca composta por Charcot e Richet. Ele<br />
defendia o exame face a face do paciente, mas ficava na<br />
investigação consciente. Considerava a histeria uma doença<br />
puramente psicológica, mas não recebia nenhuma etiologia<br />
sexual. A histérica tinha uma fraqueza inata da capacidade<br />
de síntese psíquica e um estreitamento no campo da<br />
consciência.<br />
Contra essa concepção, Freud se une a Breuer. Ele usa<br />
conceitos como estados hipnoides... Mas depois faz sua<br />
própria teoria com as noções de fantasia, defesa,<br />
inconsciente e sexual, principalmente.<br />
Detrator da Psicanálise por bastante tempo...
O médico artista<br />
Charcot utilizava a hipnose não para curar ou tratar<br />
de seus doentes, mas para demonstrar a solidez de<br />
fundamento de suas hióteses. Fabricava e suprimia<br />
sintomas histéricos a fim de demonstrar o caráter<br />
neurótico da doença.<br />
A tese de Didi-Huberman (1982) é que a histeria foi<br />
produzida por Charcot no Hospital Salpêtrière. Ele<br />
descrevia Salpêtrière como um “museu patológico<br />
vivo”, cujos recursos eram consideráveis...<br />
Desconsiderando a transferência, Charcot julgava<br />
estar fotografando a “histeria como ela é”. Ele não<br />
supunha que a catatonia da histérica bem podia ser<br />
uma pose...
Augustine em seu “estado normal”.<br />
O braço direito, na crise, sofria uma<br />
paralisia da sensibilidade...
Produzir a <strong>Histeria</strong><br />
Catalepsia provocado pelo barulho do diapasão e sonolência com contratura artificial.
Charcot e a crise<br />
Há uma crise bem descrita por Charcot:<br />
Pródromo (aura histérica): dores ovarianas,<br />
paplpitações, bolo histérico, distúrbios visuais.<br />
Período epileptóide: fase tônica.<br />
Período de contorções (clownismo).<br />
Período de transe ou de atitudes passionais,<br />
encontram-se em pleno sonho.<br />
Período terminal ou verbal.
Sexual<br />
Entre 1888 e 1893, Freud forja um novo conceito de<br />
histeria. Retoma de Charcot a ideia da origem<br />
traumática. Todavia, pela teoria da sedução, afirmou<br />
que o trauma tinha causas sexuais, sublinhando que<br />
a histeria era fruto de um abuso sexual realmente<br />
vivido pelo sujeito na infância.<br />
Charcot: Nesses Nesses casos, casos, é é sempre sempre a a coisa coisa genital, genital, sempre...<br />
Bernheim: segredos de de alcova...<br />
Chrobak (ginecologista vienense): penis penis normalis, dosim dosim<br />
repetatur.<br />
Cf. Trillat, 1991: 238-9
Freud, 1891 Breuer, 1897
Estudos sobre <strong>Histeria</strong> (1893-1895)<br />
Origem traumática: Os histéricos sofrem principalmente de<br />
reminiscências. (ESB, II, 43).<br />
Método clínico: ab-reação / catarse. / Hipnose ainda<br />
presente.<br />
Casos:<br />
Anna O. (Breuer), Emmy von N., Miss Lucy, Katharina, Elisabeth von<br />
R.<br />
O “não saber” do paciente histérico seria, de fato, um “não<br />
querer saber” – um não querer que poderia, em maior ou<br />
menor medida, ser consciente. A tarefa do terapeuta,<br />
portanto, está em superar, através de seu trabalho psíquico,<br />
essa resistência à associação. (ESB, II, 284).<br />
Aqui já se desmantelou o dispositivo da hereditariedadehereditariedadedegeneração.<br />
Ênfase conferida ao erotismo do sujeito nas<br />
suas diferentes formas sintomáticas de ser.
Carta 69<br />
Depois dessa primeira teoria com Breuer,<br />
Freud abandona sua neurotica. neurotica.<br />
[cf. Carta<br />
69, de 21 de setembro de 1897, para<br />
Fliess].<br />
Privilégio da fantasia e da realidade psíquica.<br />
Cf. Caso Dora. [1901/1905] (ESB, VII).<br />
Aparece com clareza, no tratamento, o<br />
conceito de transferência. transferência.<br />
(ESB, VII, 110).
Tipos<br />
Classe de neuroses que apresentam quadros clínicos muito<br />
variados. Há duas formas sintomáticas mais bem<br />
identificadas:<br />
<strong>Histeria</strong> de Conversão;<br />
<strong>Histeria</strong> de Angústia.<br />
Outros tipos:<br />
<strong>Histeria</strong> de retenção – os afetos não puderam ser ab-reagidos.<br />
<strong>Histeria</strong> de defesa – contra a histeria “hipnoide” e a de retenção, essa<br />
forma decorre da defesa contra representações suscetíveis de<br />
provocarem afetos desagradáveis.<br />
<strong>Histeria</strong> hipnoide – o sujeito não integra as representações que<br />
surgem durante o estado hipnoide.<br />
Importante: a defesa vai ganhando cada vez mais importância e<br />
deixando de lado essas outras nomeações.
<strong>Histeria</strong> de angústia<br />
A angústia é fixada de modo mais ou<br />
menos estável neste ou naquele objeto<br />
exterior (fobias).<br />
Na histeria de angústia, a libido que o<br />
recalque desligou do material patogênico<br />
não é convertida, convertida,<br />
mas libertada sob a<br />
forma de angústia.<br />
O deslocamento para um objeto fóbico é<br />
secundário ao aparecimento da angústia livre.
<strong>Histeria</strong> de conversão<br />
O conflito psíquico simboliza-se nos sintomas<br />
corporais mais diversos, paroxísticos (ex.:<br />
crise emocional com teatralidade) ou mais<br />
duradouros (ex.: anestesias, paralisias,<br />
“bola” faríngica etc.)<br />
Conversão do afeto para o corpo.<br />
Qual corpo? Num corpo simbólico: a histérica se<br />
comporta como se a anatomia não existisse. Os<br />
materiais com os quais constroi esse corpo são<br />
retirados da concepção popular que dele se tem.
Caráter histérico<br />
Sugestionabilidade – influenciável e inconstante.<br />
Mitomania – falsifica sua relação com o outro.<br />
Distúrbios sexuais – pares de opostos<br />
frigidez/insatisfação.<br />
Inconsistência da pessoa – falso personagem que<br />
vivem uma falsa existência.<br />
Desejo de substituir o princípio da realidade pelo<br />
princípio do prazer e da fantasia. Como se fosse<br />
uma criança.
Sonho do salmão defumado<br />
Uma mulher sonha que só tem em casa um pequeno salmão<br />
defumado. E desiste da ceia que deseja oferecer.<br />
Ela desejava caviar, mas pedira ao marido para não não lhe dar.<br />
[O que aconteceria se ela permitisse que seu homem lhe<br />
desse o que lhe falta? (Mayer, 1989: 40)]<br />
No dia anterior, conversava com uma amiga que elogiou<br />
seus jantares. Essa amiga era muito ossuda... E seu marido<br />
gostava das cheinhas. Detalhe: o marido, açougueiro,<br />
elogiava essa amiga ossuda...<br />
Salmão defumado, claro, é o prato predileto de sua amiga.<br />
Ela cria um desejo insatisfeito. Que é então o objeto do<br />
desejo? O desejo de um desejo, desejo que incide sobre a<br />
falta no Outro e não sobre o que causa essa falta (isso seria<br />
mera rivalidade).<br />
Cf. ESB, IV, 180-4.
Terceira<br />
Uma terceira teoria pode ser deduzida no<br />
texto freudiano a partir de seus textos<br />
sobre a feminilidade.<br />
O papel do complexo de Édipo;<br />
A oralidade;<br />
A passividade;
<strong>Histeria</strong> e Édipo<br />
A histérica, por não ter conseguido superar satisfatoriamente<br />
seu complexo de Édipo, fica fixada na fase fálica da evolução<br />
libidinal, isto é, submersa em mundo povoado por seres que ou<br />
são “fálicos” ou são “castrados”. É, em termos psicossexuais,<br />
uma menina ferida em seu narcisismo, pois considera o fato de<br />
não ter pênis como o resultado de uma castração, seja como for<br />
que a imagine. Quer vivencie o horror de encarnar um ser<br />
monstruoso a quem a mãe não deu o pênis que todos possuem,<br />
quer acredite com desespero que teve pensamentos ou atos<br />
“maus”, pelos quais lhe “tiraram” o pênis, tentará compensar<br />
este sentimento de intolerável inferioridade dissimulando o que<br />
ela percebe como falta, imperfeição ou defeito, com o desejo de<br />
ocupar um lugar de completude e perfeição. Lugar instável no<br />
qual precisa ser constantemente confirmada pelo desejo que é<br />
capaz de despertar no outro: pela perfeição de sua voz, pelo<br />
atrativo de suas roupas, pela beleza de seu corpo, pela agudeza<br />
de seu intelecto... (Mayer, 1989: 42)
Desejo insatisfeito<br />
A histérica precisa frequentemente criar um desejo<br />
insatisfeito não somente para mostrar a<br />
“insuficiência” do homem e para não se sentir<br />
humilhada ao gozar com aquele que é seu rival,<br />
mas também para manter vivo o desejo<br />
inconsciente de completude. Sua máscara de<br />
sofrimento encobre a menina que<br />
inconscientemente seguirá gozando com o ilusório<br />
encontro com um objeto idealizado e proibido ao<br />
qual não pode e nem quer renunciar.<br />
(Mayer, 1989: 43)
Hipocondria<br />
Do ponto de vista histórico, desde o séc. XVII, acreditava-se que a<br />
hipocondria fosse a perturbação moral masculina com sintomas<br />
corporais mais frequente, pois – diferentemente da histeria – um<br />
controle maior do sistema nervoso e das faculdades intelectuais sobre<br />
o corpo somático. Com isso, no homem, não existiria comumente na<br />
hipocondria a experiência convulsionária, como ocorria nas mulheres.<br />
(Cf. Birman, 2001: 106)<br />
Dentre as muitas diferenças diagnósticas, uma importante a se fazer<br />
entre a histeria e a hipocondria é que essa última expressa uma falta<br />
de simbolização (falta a palavra para designar aquilo que, do corpo,<br />
escapa à língua), ao passo que a conversão histérica manifesta um<br />
excesso de simbolização (o significante, aqui, anexa o corpo a ponto<br />
de lhe retirar a função orgânica) e um excesso de sexualização (os<br />
órgãos ou partes do corpo anexados pelo sintoma são levados a<br />
desempenhas um papel de zona erógena para o qual não foram<br />
destinados).<br />
No hipocondríaco, a afirmação é a de que não há castração. Ali onde<br />
o outro diz: “Mas eu não vejo nada”, ele insiste: “Mas sim, há alguma<br />
coisa! Olhe mais de perto!”
Uma teoria<br />
Ramos (2008) cita várias teorias sobre histeria que<br />
aparecem depois de Freud. Uma delas, a de Eric Brenman,<br />
propõe um modelo de mãe histerógena:<br />
(1) Essa mãe estaria subjugada pela angústia,<br />
comunicando ao filho que suas angústias são realmente<br />
catastróficas. (2) Como paliativo, ela transmitiria a ideia de<br />
que está tudo bem, provendo um modelo de identificação<br />
irreal. (3) Essa mãe encorajaria a negação da verdade<br />
psíquica. (4) Ela proveria sua criança de um amor externo<br />
idealizado, excessivamente indulgente e devotado,<br />
encorajando a dependência voraz e a hipersexualidade. (5)<br />
Por esses meios, a mãe evitaria a catástrofe psíquica. (Cf.<br />
Ramos, 2008: 126-7)
Teoria lacaniana<br />
A preocupação dos histéricos é de preservar o<br />
desejo, que é o único testemunho da existência do<br />
sujeito do inconsciente. Ao perder o desejo, na sua<br />
realização, o que estaria em risco seria o próprio<br />
inconsciente. Isto é, o ser do sujeito. O O que que o o<br />
desejo desejo deseja deseja é é continuar desejando. desejando.<br />
Os<br />
histéricos estão numa busca de si mesmos.<br />
O desejo insatisfeito tem a ver com o pai, com a<br />
inveja do pênis e com a castração.<br />
O corpo que se produz – a perfeição da beleza e<br />
não a perfeição obsessiva – visa obliterar a<br />
castração.
Lacaniana (cont.)<br />
Os histéricos desejam um mestre que lhe<br />
digam o que desejar.<br />
A interpretação de Nasio (1991) também é<br />
importante: o fantasma histérico como<br />
fantasma da castração feminina, fantasia de<br />
ser penetrada pelo corpo inteiro da mãe, de<br />
maneira a ter seu pequeno útero e sua<br />
vagina arrebentados. Essa fantasia teria o<br />
papel de defesa contra o gozo total e<br />
aniquilador. (Apud. Ramos, 2008: 173).
Lacaniana (cont. 2)<br />
Lacan, no seminário O O Avesso Avesso da da Psicanálise, Psicanálise,<br />
trata a histeria<br />
como um discurso.<br />
O discurso histérico é o oposto ao discurso do mestre.<br />
Retorna no discurso histérico o que o discurso do mestre<br />
recalcou.<br />
Divisão do sujeito: ali onde está representado, ele não está,<br />
ali onde ele está, não há significante que o diga. Não há<br />
portanto outro sujeito senão o sujeito que mente... sem o<br />
saber! Ele é exclusão da cadeia significante, retirada da<br />
ordem simbólica. A histeria define essa verdade freudiana<br />
de que não há sujeito senão mascarado. Não é à toa que a<br />
persona persona latina deu nome à noção ocidental de pessoa.<br />
A verdade desse discurso: o mestre está castrado...
o agente → o outro<br />
↑ ↓<br />
a verdade // a produção
Caso Clínico<br />
25 a., inúmeros sintomas fóbicos (zoofobia, agorafobia,<br />
dentista), físicos (vômitos, dores de cabeça, nó na garganta)<br />
e sintomas dissociativos (períodos de amnésia).<br />
Necessidade de comer quando sob tensão. Recentemente,<br />
“excessiva indulgência com o álcool”. Seu pai sofrera de<br />
alcoolismo crônico e morreu qdo. a pcte. tinha 14 anos.<br />
Mãe dominadora e narcísica. Dava comida quando a criança<br />
chorava. Muito repressiva com relação ao sexo.<br />
Sentia-se uma “sereia”: anestesiada da cintura para baixo.<br />
Promiscuidade sexual.<br />
Voracidade (sexual e alimentar): exprime ao mesmo tempo o<br />
desejo e a impossibilidade de satisfazê-lo.<br />
Caso citado por Judd Marmor em “Oralidade na personalidade<br />
histérica” (1953), apud. Ramos (2008: 85-95 e 257-9)
Teoria da Sedução Generalizada<br />
A essência da histeria é ser cênica e, portanto, concreta e<br />
corporal. O que o sujeito necessita encenar, isto é, “pôr<br />
de pé”, como dizem os diretores de teatro, senão o<br />
fantasma?<br />
O cênico na histeria é tentativa de tradução e de<br />
interpretação do excesso, do enigma que persegue o<br />
histérico, inclusive em seu sentimento de insatisfação, o<br />
excessivo enigma do outro.<br />
A A histeria pode pode ser ser vista vista como como um um efeito efeito extremo<br />
de de sedução.<br />
Passividade e e sedução se se articulam. articulam.<br />
Não importa<br />
tanto a pulsão parcial, mas a oral desempenha papel<br />
importante. O que está em questão é que a fantasia de<br />
passividade e dependência depois vai ter lugar<br />
privilegiado.
TSG – Cont.<br />
Se pensarmos na sedução originária, originária,<br />
a criança<br />
está na posição passiva, sendo objeto da ação do<br />
outro, ação essa que ela passará toda a sua vida<br />
tentando traduzir. Desse modo, então, pode-se<br />
interpretar a sedução histérica como de algum<br />
modo traduzindo, justamente como sedução, o<br />
enigma do outro. É como se se pusesse na posição<br />
passiva, que é a originária, mas fazendo cumprir a<br />
sedução, que foi a prerrogativa do outro na<br />
situação primitiva. Essa sedução talvez seja uma<br />
espécie de reprodução, mas em que a atividade do<br />
sedutor original, o outro adulto, se transforma em<br />
“função”, de seduzir, e a posição da criança,<br />
passiva, se mantém na cena.
O rancor da histérica<br />
Em seu texto, Masud Khan lembra que o histérico responde às faltas de<br />
uma maternagem-suficientemente-boa com um desenvolvimento sexual<br />
precoce. O resultado disso são a promiscuidade e as inibições que marcam<br />
suas experiências sexuais.<br />
Todo histérico acredita sinceramente que se seus anseios sexuais<br />
fossem gratificados, estaria curado. Eles atribuem sua incapacidade de<br />
conseguir esta gratificação com um companheiro à impossibilidade destes<br />
de os aceitar totalmente e os amar. (A culpa é do outro... O outro não dá<br />
conta...)<br />
Esta desconfiança em relação ao objeto gratificante adulto é préprécondicionada, no histérico, pelo caráter das primeiras experiências infantis.<br />
As necessidades corporais foram satisfeitas, mas as necessidades do eu não<br />
foram nem reconhecidas nem facilitadas, o que era essencial. Projetando<br />
essa situação passada numa atual, o rancor do histérico é que o novo<br />
objeto de amor não consegue distinguir entre os desejos do isso e as<br />
necessidades do eu.<br />
As lembranças que o histérico guarda de sua primeira infância são<br />
lembranças somáticas, relativas aos cuidados maternos, não servindo nem à<br />
elaboração psíquica nem à verbalização. Daí a demanda que os histéricos<br />
fazem, na situação clínica, de uma gratificação sensual e, esta demanda não<br />
podendo ser satisfeita, sua tendência a passar ao ato.
O Êxtase de<br />
Santa Teresa<br />
(1645-1652)<br />
Gian Lorenzo<br />
Bernini
Personalidades<br />
No seu texto sobre personalidade múltipla, Mikkel<br />
Boch-Jacobsen lembra como esse fenômeno<br />
midiático das décadas de 70-90, nos EUA, tem a ver<br />
com a histeria.<br />
A epidemiologia faz lembrar as crises histéricas nos<br />
internatos por “contágio”. Quando Sybil Sybil foi lançado,<br />
em 1973, houve um rápido crescimento de casos.<br />
200 antes de 1980.<br />
1000 em 1984.<br />
4000 em 1989<br />
Últimas estimativas: 30.000.
Histéria<br />
História, histeria: nenhuma forma patológica é mais<br />
sensível ao espírito do tempo. Fazer a história da<br />
histeria é também atribuir-lhe sintomas que não<br />
cessam de mudar. O histérico procura confundir os<br />
hábitos de pensamento socialmente aceitos,<br />
perturbar os referenciais do saber universitário<br />
pondo à mostra seus limites, seus avatares, seus<br />
percalços.<br />
A clínica da histeria conta a história da cultura, da<br />
sexualidade e dos discursos do saber que lhe<br />
solicitam uma forma de apresentação: é é dentro dentro de de<br />
um um espaço espaço de de saber saber que que a a histeria se se institui.. institui<br />
(Cf. Alonso, 2000: 86).
<strong>Histeria</strong>, historia<br />
A identidade do sujeito é sempre historicamente<br />
determinada, dependente de um contexto ideológico<br />
específico.<br />
<strong>Histeria</strong> aparece quando um sujeito começa a questionar<br />
ou a sentir desconforto com relação à sua identidade:<br />
“Você me diz que eu sou seu amado – o que há em mim<br />
que me faz ser isso? O que você vê em mim que faz você<br />
me deseja assim?”<br />
O problema para o histérico é distinguir o que ele é (seu<br />
verdadeiro desejo) daquilo que os outros veem ou desejam<br />
dele / nele.<br />
Žižek, 2006: 34-6.<br />
Por falar e por ser histórico, todo sujeito é histérico…
Saber inacabado<br />
A histeria mostra o saber inacabado.<br />
Saber do inconsciente, isto é, saber que<br />
não se sabe. O saber sobre sobre a histeria, de<br />
repente, deve se render ao saber da da<br />
histeria... sob o risco da perversão... mas<br />
essa já é outra história...
A lógica (perversa) da ciência<br />
Raquitismo – Revue Photographique des Hôpitaux de Paris
Bibliografia<br />
Alonso, Silvia Leonor. “O que não pertence a ninguém...” e as<br />
apresentações da histeria. In Fuks, L. B. e Ferraz, F. C. A A clínica clínica<br />
conta conta histórias. São Paulo: Escuta, 2000, pp. 81-102.<br />
Bollas, Christopher. Hysteria. London: Routledge, 2000.<br />
Borch-Jacobsen, Mikkel. Para introduzir personalidade múltipla. In<br />
Berlink, Manoel Tosta. (Org.). <strong>Histeria</strong>. <strong>Histeria</strong>.<br />
São Paulo: Escuta, 1997, pp.<br />
61-88.<br />
Birman, Joel. Gramáticas do do erotismo: a feminilidade e as suas<br />
formas de subjetivação em psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização<br />
Brasileira, 2001.<br />
Didi-Huberman, Georges. Invention de de l’hysterie: l’hysterie:<br />
Charcot et<br />
l’iconographie photographique de la Salpêtrière. Paris: Macula, 1982.<br />
Ey, Henry (et al.). Manual Manual de de psiquiatria. 5.ed. Trad. Paulo César<br />
Geraldes e Sonia Ionnides. Rio de Janeiro: Masson / Atheneu, s/d.<br />
Freud, Sigmund e Breuer, Joseph. Estudos sobre histeria [1893-5] [1893-5].. In<br />
Edição Edição Standard das das Obras Obras Psicológicas Completas de de Sigmund Sigmund Freud Freud<br />
[ESB], vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 1969.<br />
Freud, S. A interpretação dos sonhos [1900]. In ESB, vol. IV, Rio de<br />
Janeiro: Imago, 1969.
Bibliografia<br />
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o legado<br />
de Freud e Lacan. Trad. Vera Ribeiro e Ma. Luiza X. de A. Borges. Rio de<br />
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Lacan, Jacques. O O seminário, livro livro 17: 17: o avesso da psicanálise, 1969- 1969-<br />
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Trillat, Etienne. História História da da histeria. histeria. Trad. Patrícia Porchat. São Paulo:<br />
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Žižek, Slavoj. How How to to read read Lacan. Lacan. London: Norton & Co, 2006.