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Histeria - Fábio Belo

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<strong>Histeria</strong><br />

Breve introdução ao conceito a partir da<br />

Psicanálise<br />

Prof. Dr. <strong>Fábio</strong> <strong>Belo</strong><br />

fabiobelo76@gmail.com


O útero dos gregos<br />

No sexo feminino, o que se chama matriz ou<br />

útero é nelas como um ser vivo possuído pelo<br />

desejo de produzir filhos. Quando por longo<br />

tempo e apesar da época favorável, a matriz<br />

permaneceu estéril, ela se irrita perigosamente;<br />

agita-se em todos os sentidos dentro do corpo,<br />

obstrui as passagens do ar, impede a respiração,<br />

leva assim o corpo às piores angústias e ocasiona<br />

enfermidades de todos tipo.<br />

Platão. Timeu, Timeu,<br />

91c. Apud. Ramos, 2008, 20.<br />

Hipócrates<br />

Hystera Hystera = útero.


A Idade Média<br />

Historiadores também<br />

articulam as feiticeiras e<br />

os sintomas da<br />

possessão à histeria.<br />

“Não Não deixarás viva a<br />

maga” (Êxodo, 22, 18).<br />

Malleus Malleus Maleficarum –<br />

referência na luta contra<br />

a feitiçaria na Europa<br />

dos séculos XV a XVIII.


Charcot e a histérica<br />

Une leçon clinique à la Salpêtrière (1887) Pierre-André Brouillet


História em Paris<br />

No fim do século XIX, o problema que a<br />

histeria coloca ao método anátomo-clínico<br />

era importante.<br />

Charcot e Babinski se destacam.<br />

Charcot estuda a histeria através dos métodos<br />

ordinários da observação médica, dando à<br />

histeria a dignidade de uma doença como as<br />

outras.<br />

Babinski aponta para a ausência de qualquer<br />

lesão orgânica e funda o termo pitiatismo (o que<br />

se pode curar pela sugestão).


Pierre Janet<br />

De Charcot, pode-se dizer, duas correntes aparecem, bem<br />

distintas: Janet e Freud.<br />

Pierre Janet: sua tese O O estado estado mental mental das das histéricas foi<br />

defendida numa banca composta por Charcot e Richet. Ele<br />

defendia o exame face a face do paciente, mas ficava na<br />

investigação consciente. Considerava a histeria uma doença<br />

puramente psicológica, mas não recebia nenhuma etiologia<br />

sexual. A histérica tinha uma fraqueza inata da capacidade<br />

de síntese psíquica e um estreitamento no campo da<br />

consciência.<br />

Contra essa concepção, Freud se une a Breuer. Ele usa<br />

conceitos como estados hipnoides... Mas depois faz sua<br />

própria teoria com as noções de fantasia, defesa,<br />

inconsciente e sexual, principalmente.<br />

Detrator da Psicanálise por bastante tempo...


O médico artista<br />

Charcot utilizava a hipnose não para curar ou tratar<br />

de seus doentes, mas para demonstrar a solidez de<br />

fundamento de suas hióteses. Fabricava e suprimia<br />

sintomas histéricos a fim de demonstrar o caráter<br />

neurótico da doença.<br />

A tese de Didi-Huberman (1982) é que a histeria foi<br />

produzida por Charcot no Hospital Salpêtrière. Ele<br />

descrevia Salpêtrière como um “museu patológico<br />

vivo”, cujos recursos eram consideráveis...<br />

Desconsiderando a transferência, Charcot julgava<br />

estar fotografando a “histeria como ela é”. Ele não<br />

supunha que a catatonia da histérica bem podia ser<br />

uma pose...


Augustine em seu “estado normal”.<br />

O braço direito, na crise, sofria uma<br />

paralisia da sensibilidade...


Produzir a <strong>Histeria</strong><br />

Catalepsia provocado pelo barulho do diapasão e sonolência com contratura artificial.


Charcot e a crise<br />

Há uma crise bem descrita por Charcot:<br />

Pródromo (aura histérica): dores ovarianas,<br />

paplpitações, bolo histérico, distúrbios visuais.<br />

Período epileptóide: fase tônica.<br />

Período de contorções (clownismo).<br />

Período de transe ou de atitudes passionais,<br />

encontram-se em pleno sonho.<br />

Período terminal ou verbal.


Sexual<br />

Entre 1888 e 1893, Freud forja um novo conceito de<br />

histeria. Retoma de Charcot a ideia da origem<br />

traumática. Todavia, pela teoria da sedução, afirmou<br />

que o trauma tinha causas sexuais, sublinhando que<br />

a histeria era fruto de um abuso sexual realmente<br />

vivido pelo sujeito na infância.<br />

Charcot: Nesses Nesses casos, casos, é é sempre sempre a a coisa coisa genital, genital, sempre...<br />

Bernheim: segredos de de alcova...<br />

Chrobak (ginecologista vienense): penis penis normalis, dosim dosim<br />

repetatur.<br />

Cf. Trillat, 1991: 238-9


Freud, 1891 Breuer, 1897


Estudos sobre <strong>Histeria</strong> (1893-1895)<br />

Origem traumática: Os histéricos sofrem principalmente de<br />

reminiscências. (ESB, II, 43).<br />

Método clínico: ab-reação / catarse. / Hipnose ainda<br />

presente.<br />

Casos:<br />

Anna O. (Breuer), Emmy von N., Miss Lucy, Katharina, Elisabeth von<br />

R.<br />

O “não saber” do paciente histérico seria, de fato, um “não<br />

querer saber” – um não querer que poderia, em maior ou<br />

menor medida, ser consciente. A tarefa do terapeuta,<br />

portanto, está em superar, através de seu trabalho psíquico,<br />

essa resistência à associação. (ESB, II, 284).<br />

Aqui já se desmantelou o dispositivo da hereditariedadehereditariedadedegeneração.<br />

Ênfase conferida ao erotismo do sujeito nas<br />

suas diferentes formas sintomáticas de ser.


Carta 69<br />

Depois dessa primeira teoria com Breuer,<br />

Freud abandona sua neurotica. neurotica.<br />

[cf. Carta<br />

69, de 21 de setembro de 1897, para<br />

Fliess].<br />

Privilégio da fantasia e da realidade psíquica.<br />

Cf. Caso Dora. [1901/1905] (ESB, VII).<br />

Aparece com clareza, no tratamento, o<br />

conceito de transferência. transferência.<br />

(ESB, VII, 110).


Tipos<br />

Classe de neuroses que apresentam quadros clínicos muito<br />

variados. Há duas formas sintomáticas mais bem<br />

identificadas:<br />

<strong>Histeria</strong> de Conversão;<br />

<strong>Histeria</strong> de Angústia.<br />

Outros tipos:<br />

<strong>Histeria</strong> de retenção – os afetos não puderam ser ab-reagidos.<br />

<strong>Histeria</strong> de defesa – contra a histeria “hipnoide” e a de retenção, essa<br />

forma decorre da defesa contra representações suscetíveis de<br />

provocarem afetos desagradáveis.<br />

<strong>Histeria</strong> hipnoide – o sujeito não integra as representações que<br />

surgem durante o estado hipnoide.<br />

Importante: a defesa vai ganhando cada vez mais importância e<br />

deixando de lado essas outras nomeações.


<strong>Histeria</strong> de angústia<br />

A angústia é fixada de modo mais ou<br />

menos estável neste ou naquele objeto<br />

exterior (fobias).<br />

Na histeria de angústia, a libido que o<br />

recalque desligou do material patogênico<br />

não é convertida, convertida,<br />

mas libertada sob a<br />

forma de angústia.<br />

O deslocamento para um objeto fóbico é<br />

secundário ao aparecimento da angústia livre.


<strong>Histeria</strong> de conversão<br />

O conflito psíquico simboliza-se nos sintomas<br />

corporais mais diversos, paroxísticos (ex.:<br />

crise emocional com teatralidade) ou mais<br />

duradouros (ex.: anestesias, paralisias,<br />

“bola” faríngica etc.)<br />

Conversão do afeto para o corpo.<br />

Qual corpo? Num corpo simbólico: a histérica se<br />

comporta como se a anatomia não existisse. Os<br />

materiais com os quais constroi esse corpo são<br />

retirados da concepção popular que dele se tem.


Caráter histérico<br />

Sugestionabilidade – influenciável e inconstante.<br />

Mitomania – falsifica sua relação com o outro.<br />

Distúrbios sexuais – pares de opostos<br />

frigidez/insatisfação.<br />

Inconsistência da pessoa – falso personagem que<br />

vivem uma falsa existência.<br />

Desejo de substituir o princípio da realidade pelo<br />

princípio do prazer e da fantasia. Como se fosse<br />

uma criança.


Sonho do salmão defumado<br />

Uma mulher sonha que só tem em casa um pequeno salmão<br />

defumado. E desiste da ceia que deseja oferecer.<br />

Ela desejava caviar, mas pedira ao marido para não não lhe dar.<br />

[O que aconteceria se ela permitisse que seu homem lhe<br />

desse o que lhe falta? (Mayer, 1989: 40)]<br />

No dia anterior, conversava com uma amiga que elogiou<br />

seus jantares. Essa amiga era muito ossuda... E seu marido<br />

gostava das cheinhas. Detalhe: o marido, açougueiro,<br />

elogiava essa amiga ossuda...<br />

Salmão defumado, claro, é o prato predileto de sua amiga.<br />

Ela cria um desejo insatisfeito. Que é então o objeto do<br />

desejo? O desejo de um desejo, desejo que incide sobre a<br />

falta no Outro e não sobre o que causa essa falta (isso seria<br />

mera rivalidade).<br />

Cf. ESB, IV, 180-4.


Terceira<br />

Uma terceira teoria pode ser deduzida no<br />

texto freudiano a partir de seus textos<br />

sobre a feminilidade.<br />

O papel do complexo de Édipo;<br />

A oralidade;<br />

A passividade;


<strong>Histeria</strong> e Édipo<br />

A histérica, por não ter conseguido superar satisfatoriamente<br />

seu complexo de Édipo, fica fixada na fase fálica da evolução<br />

libidinal, isto é, submersa em mundo povoado por seres que ou<br />

são “fálicos” ou são “castrados”. É, em termos psicossexuais,<br />

uma menina ferida em seu narcisismo, pois considera o fato de<br />

não ter pênis como o resultado de uma castração, seja como for<br />

que a imagine. Quer vivencie o horror de encarnar um ser<br />

monstruoso a quem a mãe não deu o pênis que todos possuem,<br />

quer acredite com desespero que teve pensamentos ou atos<br />

“maus”, pelos quais lhe “tiraram” o pênis, tentará compensar<br />

este sentimento de intolerável inferioridade dissimulando o que<br />

ela percebe como falta, imperfeição ou defeito, com o desejo de<br />

ocupar um lugar de completude e perfeição. Lugar instável no<br />

qual precisa ser constantemente confirmada pelo desejo que é<br />

capaz de despertar no outro: pela perfeição de sua voz, pelo<br />

atrativo de suas roupas, pela beleza de seu corpo, pela agudeza<br />

de seu intelecto... (Mayer, 1989: 42)


Desejo insatisfeito<br />

A histérica precisa frequentemente criar um desejo<br />

insatisfeito não somente para mostrar a<br />

“insuficiência” do homem e para não se sentir<br />

humilhada ao gozar com aquele que é seu rival,<br />

mas também para manter vivo o desejo<br />

inconsciente de completude. Sua máscara de<br />

sofrimento encobre a menina que<br />

inconscientemente seguirá gozando com o ilusório<br />

encontro com um objeto idealizado e proibido ao<br />

qual não pode e nem quer renunciar.<br />

(Mayer, 1989: 43)


Hipocondria<br />

Do ponto de vista histórico, desde o séc. XVII, acreditava-se que a<br />

hipocondria fosse a perturbação moral masculina com sintomas<br />

corporais mais frequente, pois – diferentemente da histeria – um<br />

controle maior do sistema nervoso e das faculdades intelectuais sobre<br />

o corpo somático. Com isso, no homem, não existiria comumente na<br />

hipocondria a experiência convulsionária, como ocorria nas mulheres.<br />

(Cf. Birman, 2001: 106)<br />

Dentre as muitas diferenças diagnósticas, uma importante a se fazer<br />

entre a histeria e a hipocondria é que essa última expressa uma falta<br />

de simbolização (falta a palavra para designar aquilo que, do corpo,<br />

escapa à língua), ao passo que a conversão histérica manifesta um<br />

excesso de simbolização (o significante, aqui, anexa o corpo a ponto<br />

de lhe retirar a função orgânica) e um excesso de sexualização (os<br />

órgãos ou partes do corpo anexados pelo sintoma são levados a<br />

desempenhas um papel de zona erógena para o qual não foram<br />

destinados).<br />

No hipocondríaco, a afirmação é a de que não há castração. Ali onde<br />

o outro diz: “Mas eu não vejo nada”, ele insiste: “Mas sim, há alguma<br />

coisa! Olhe mais de perto!”


Uma teoria<br />

Ramos (2008) cita várias teorias sobre histeria que<br />

aparecem depois de Freud. Uma delas, a de Eric Brenman,<br />

propõe um modelo de mãe histerógena:<br />

(1) Essa mãe estaria subjugada pela angústia,<br />

comunicando ao filho que suas angústias são realmente<br />

catastróficas. (2) Como paliativo, ela transmitiria a ideia de<br />

que está tudo bem, provendo um modelo de identificação<br />

irreal. (3) Essa mãe encorajaria a negação da verdade<br />

psíquica. (4) Ela proveria sua criança de um amor externo<br />

idealizado, excessivamente indulgente e devotado,<br />

encorajando a dependência voraz e a hipersexualidade. (5)<br />

Por esses meios, a mãe evitaria a catástrofe psíquica. (Cf.<br />

Ramos, 2008: 126-7)


Teoria lacaniana<br />

A preocupação dos histéricos é de preservar o<br />

desejo, que é o único testemunho da existência do<br />

sujeito do inconsciente. Ao perder o desejo, na sua<br />

realização, o que estaria em risco seria o próprio<br />

inconsciente. Isto é, o ser do sujeito. O O que que o o<br />

desejo desejo deseja deseja é é continuar desejando. desejando.<br />

Os<br />

histéricos estão numa busca de si mesmos.<br />

O desejo insatisfeito tem a ver com o pai, com a<br />

inveja do pênis e com a castração.<br />

O corpo que se produz – a perfeição da beleza e<br />

não a perfeição obsessiva – visa obliterar a<br />

castração.


Lacaniana (cont.)<br />

Os histéricos desejam um mestre que lhe<br />

digam o que desejar.<br />

A interpretação de Nasio (1991) também é<br />

importante: o fantasma histérico como<br />

fantasma da castração feminina, fantasia de<br />

ser penetrada pelo corpo inteiro da mãe, de<br />

maneira a ter seu pequeno útero e sua<br />

vagina arrebentados. Essa fantasia teria o<br />

papel de defesa contra o gozo total e<br />

aniquilador. (Apud. Ramos, 2008: 173).


Lacaniana (cont. 2)<br />

Lacan, no seminário O O Avesso Avesso da da Psicanálise, Psicanálise,<br />

trata a histeria<br />

como um discurso.<br />

O discurso histérico é o oposto ao discurso do mestre.<br />

Retorna no discurso histérico o que o discurso do mestre<br />

recalcou.<br />

Divisão do sujeito: ali onde está representado, ele não está,<br />

ali onde ele está, não há significante que o diga. Não há<br />

portanto outro sujeito senão o sujeito que mente... sem o<br />

saber! Ele é exclusão da cadeia significante, retirada da<br />

ordem simbólica. A histeria define essa verdade freudiana<br />

de que não há sujeito senão mascarado. Não é à toa que a<br />

persona persona latina deu nome à noção ocidental de pessoa.<br />

A verdade desse discurso: o mestre está castrado...


o agente → o outro<br />

↑ ↓<br />

a verdade // a produção


Caso Clínico<br />

25 a., inúmeros sintomas fóbicos (zoofobia, agorafobia,<br />

dentista), físicos (vômitos, dores de cabeça, nó na garganta)<br />

e sintomas dissociativos (períodos de amnésia).<br />

Necessidade de comer quando sob tensão. Recentemente,<br />

“excessiva indulgência com o álcool”. Seu pai sofrera de<br />

alcoolismo crônico e morreu qdo. a pcte. tinha 14 anos.<br />

Mãe dominadora e narcísica. Dava comida quando a criança<br />

chorava. Muito repressiva com relação ao sexo.<br />

Sentia-se uma “sereia”: anestesiada da cintura para baixo.<br />

Promiscuidade sexual.<br />

Voracidade (sexual e alimentar): exprime ao mesmo tempo o<br />

desejo e a impossibilidade de satisfazê-lo.<br />

Caso citado por Judd Marmor em “Oralidade na personalidade<br />

histérica” (1953), apud. Ramos (2008: 85-95 e 257-9)


Teoria da Sedução Generalizada<br />

A essência da histeria é ser cênica e, portanto, concreta e<br />

corporal. O que o sujeito necessita encenar, isto é, “pôr<br />

de pé”, como dizem os diretores de teatro, senão o<br />

fantasma?<br />

O cênico na histeria é tentativa de tradução e de<br />

interpretação do excesso, do enigma que persegue o<br />

histérico, inclusive em seu sentimento de insatisfação, o<br />

excessivo enigma do outro.<br />

A A histeria pode pode ser ser vista vista como como um um efeito efeito extremo<br />

de de sedução.<br />

Passividade e e sedução se se articulam. articulam.<br />

Não importa<br />

tanto a pulsão parcial, mas a oral desempenha papel<br />

importante. O que está em questão é que a fantasia de<br />

passividade e dependência depois vai ter lugar<br />

privilegiado.


TSG – Cont.<br />

Se pensarmos na sedução originária, originária,<br />

a criança<br />

está na posição passiva, sendo objeto da ação do<br />

outro, ação essa que ela passará toda a sua vida<br />

tentando traduzir. Desse modo, então, pode-se<br />

interpretar a sedução histérica como de algum<br />

modo traduzindo, justamente como sedução, o<br />

enigma do outro. É como se se pusesse na posição<br />

passiva, que é a originária, mas fazendo cumprir a<br />

sedução, que foi a prerrogativa do outro na<br />

situação primitiva. Essa sedução talvez seja uma<br />

espécie de reprodução, mas em que a atividade do<br />

sedutor original, o outro adulto, se transforma em<br />

“função”, de seduzir, e a posição da criança,<br />

passiva, se mantém na cena.


O rancor da histérica<br />

Em seu texto, Masud Khan lembra que o histérico responde às faltas de<br />

uma maternagem-suficientemente-boa com um desenvolvimento sexual<br />

precoce. O resultado disso são a promiscuidade e as inibições que marcam<br />

suas experiências sexuais.<br />

Todo histérico acredita sinceramente que se seus anseios sexuais<br />

fossem gratificados, estaria curado. Eles atribuem sua incapacidade de<br />

conseguir esta gratificação com um companheiro à impossibilidade destes<br />

de os aceitar totalmente e os amar. (A culpa é do outro... O outro não dá<br />

conta...)<br />

Esta desconfiança em relação ao objeto gratificante adulto é préprécondicionada, no histérico, pelo caráter das primeiras experiências infantis.<br />

As necessidades corporais foram satisfeitas, mas as necessidades do eu não<br />

foram nem reconhecidas nem facilitadas, o que era essencial. Projetando<br />

essa situação passada numa atual, o rancor do histérico é que o novo<br />

objeto de amor não consegue distinguir entre os desejos do isso e as<br />

necessidades do eu.<br />

As lembranças que o histérico guarda de sua primeira infância são<br />

lembranças somáticas, relativas aos cuidados maternos, não servindo nem à<br />

elaboração psíquica nem à verbalização. Daí a demanda que os histéricos<br />

fazem, na situação clínica, de uma gratificação sensual e, esta demanda não<br />

podendo ser satisfeita, sua tendência a passar ao ato.


O Êxtase de<br />

Santa Teresa<br />

(1645-1652)<br />

Gian Lorenzo<br />

Bernini


Personalidades<br />

No seu texto sobre personalidade múltipla, Mikkel<br />

Boch-Jacobsen lembra como esse fenômeno<br />

midiático das décadas de 70-90, nos EUA, tem a ver<br />

com a histeria.<br />

A epidemiologia faz lembrar as crises histéricas nos<br />

internatos por “contágio”. Quando Sybil Sybil foi lançado,<br />

em 1973, houve um rápido crescimento de casos.<br />

200 antes de 1980.<br />

1000 em 1984.<br />

4000 em 1989<br />

Últimas estimativas: 30.000.


Histéria<br />

História, histeria: nenhuma forma patológica é mais<br />

sensível ao espírito do tempo. Fazer a história da<br />

histeria é também atribuir-lhe sintomas que não<br />

cessam de mudar. O histérico procura confundir os<br />

hábitos de pensamento socialmente aceitos,<br />

perturbar os referenciais do saber universitário<br />

pondo à mostra seus limites, seus avatares, seus<br />

percalços.<br />

A clínica da histeria conta a história da cultura, da<br />

sexualidade e dos discursos do saber que lhe<br />

solicitam uma forma de apresentação: é é dentro dentro de de<br />

um um espaço espaço de de saber saber que que a a histeria se se institui.. institui<br />

(Cf. Alonso, 2000: 86).


<strong>Histeria</strong>, historia<br />

A identidade do sujeito é sempre historicamente<br />

determinada, dependente de um contexto ideológico<br />

específico.<br />

<strong>Histeria</strong> aparece quando um sujeito começa a questionar<br />

ou a sentir desconforto com relação à sua identidade:<br />

“Você me diz que eu sou seu amado – o que há em mim<br />

que me faz ser isso? O que você vê em mim que faz você<br />

me deseja assim?”<br />

O problema para o histérico é distinguir o que ele é (seu<br />

verdadeiro desejo) daquilo que os outros veem ou desejam<br />

dele / nele.<br />

Žižek, 2006: 34-6.<br />

Por falar e por ser histórico, todo sujeito é histérico…


Saber inacabado<br />

A histeria mostra o saber inacabado.<br />

Saber do inconsciente, isto é, saber que<br />

não se sabe. O saber sobre sobre a histeria, de<br />

repente, deve se render ao saber da da<br />

histeria... sob o risco da perversão... mas<br />

essa já é outra história...


A lógica (perversa) da ciência<br />

Raquitismo – Revue Photographique des Hôpitaux de Paris


Bibliografia<br />

Alonso, Silvia Leonor. “O que não pertence a ninguém...” e as<br />

apresentações da histeria. In Fuks, L. B. e Ferraz, F. C. A A clínica clínica<br />

conta conta histórias. São Paulo: Escuta, 2000, pp. 81-102.<br />

Bollas, Christopher. Hysteria. London: Routledge, 2000.<br />

Borch-Jacobsen, Mikkel. Para introduzir personalidade múltipla. In<br />

Berlink, Manoel Tosta. (Org.). <strong>Histeria</strong>. <strong>Histeria</strong>.<br />

São Paulo: Escuta, 1997, pp.<br />

61-88.<br />

Birman, Joel. Gramáticas do do erotismo: a feminilidade e as suas<br />

formas de subjetivação em psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização<br />

Brasileira, 2001.<br />

Didi-Huberman, Georges. Invention de de l’hysterie: l’hysterie:<br />

Charcot et<br />

l’iconographie photographique de la Salpêtrière. Paris: Macula, 1982.<br />

Ey, Henry (et al.). Manual Manual de de psiquiatria. 5.ed. Trad. Paulo César<br />

Geraldes e Sonia Ionnides. Rio de Janeiro: Masson / Atheneu, s/d.<br />

Freud, Sigmund e Breuer, Joseph. Estudos sobre histeria [1893-5] [1893-5].. In<br />

Edição Edição Standard das das Obras Obras Psicológicas Completas de de Sigmund Sigmund Freud Freud<br />

[ESB], vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 1969.<br />

Freud, S. A interpretação dos sonhos [1900]. In ESB, vol. IV, Rio de<br />

Janeiro: Imago, 1969.


Bibliografia<br />

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o legado<br />

de Freud e Lacan. Trad. Vera Ribeiro e Ma. Luiza X. de A. Borges. Rio de<br />

Janeiro: Jorge Zahar, 1996.<br />

Khan, M. Masud R. O rancor da histérica. In Berlink, Manoel Tosta.<br />

(Org.). <strong>Histeria</strong>. <strong>Histeria</strong>.<br />

São Paulo: Escuta, 1997, pp. 49-59.<br />

Lacan, Jacques. O O seminário, livro livro 17: 17: o avesso da psicanálise, 1969- 1969-<br />

1970. Trad. Ari Roitman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.<br />

Laplanche, Jean & Pontalis, J-B. Vocabulário de de Psicanálise. Psicanálise.<br />

Trad. Pedro<br />

Tamen. São Paulo: Martins Fontes, 1992.<br />

Mayer, Hugo. <strong>Histeria</strong>. Trad. Ricardo Costa Sanguinetti. Porto Alegre:<br />

Artes Médicas, 1989.<br />

Roudinesco, Elisabeth & Plon, Michel. Dicionário de de Psicanálise. Psicanálise.<br />

Trad.<br />

Vera Ribeiro e Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.<br />

Ramos, Gustavo Adolfo. <strong>Histeria</strong> <strong>Histeria</strong> e e psicanálise depois depois de de Freud. Freud.<br />

Campinas: Unicamp, 2008.<br />

Trillat, Etienne. História História da da histeria. histeria. Trad. Patrícia Porchat. São Paulo:<br />

Escuta, 1991.<br />

Žižek, Slavoj. How How to to read read Lacan. Lacan. London: Norton & Co, 2006.

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