Psicoterapia Cognitivo Comportamental: Um Olhar ... - Ulbra
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PSICOTERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL: UM OLHAR<br />
DIFERENCIADO<br />
Elmo Hasse Klingenberg *<br />
Michele Inhaquites Schneider**<br />
Kleria Isolde Hirschfeld ***<br />
Sabina Olga Kislowski **<br />
INTRODUÇÃO<br />
A <strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva tem suas raízes numa matriz multidisciplinar chamada<br />
Ciências Cognitivas que, além da Psicologia Cognitiva, integram as neurociências,<br />
lingüística, a inteligência artificial e, em alguns momentos, a Filosofia. Foi a partir dos anos<br />
50 que se desenvolveu todo o aparato tecnológico cognitivo necessário para as ciências<br />
cognitivas, integrando-as às ciências da mente. Norteada por uma concepção epistemológica,<br />
“objetivista”, esta mudança atinge também as questões norteadoras da psicologia,<br />
principalmente a psicoterapia e todo o vocabulário simbólico que a define. A partir dele surge<br />
o princípio norteador da <strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva que considera as emoções derivadas dos<br />
padrões de pensamento que, pautados nas crenças, direcionam a maneira como as pessoas<br />
interpretam as situações a que estão expostas.<br />
Palavras chave: psicoterapia cognitiva, comportamental, ciências cognitivas.<br />
_____________________________________________________________________<br />
Este artigo é o resultado do trabalho do grupo de Estudos em Psicologia Cognitiva.<br />
* Acadêmico do curso de Psicologia ULBRA Guaíba<br />
* * Psicólogas egressas do curso de psicologia ULBRA Guaíba<br />
* * * Professora do Departamento de Psicologia ULBRA Guaíba
HISTÓRICO E FUNDAMENTOS<br />
No final dos anos cinqüenta, Albert Ellis propôs que os desajustes emocionais seriam<br />
produto das crenças irracionais. Surge daí um modelo de transtorno emocional que parte de<br />
uma hipótese que identifica a vulnerabilidade cognitiva, onde os significados atribuídos aos<br />
objetos e situações são entendidos como frutos diretos das representações da realidade e<br />
baseados no desenvolvimento da cognição (GONÇALVES, 1999).<br />
Na construção de bases teóricas, os pesquisadores buscam explicar a forma como<br />
atribuímos significados às experiências concretas que são também relevantes na construção<br />
da aprendizagem. Historicamente, podemos encontrar no pensamento do filósofo grego<br />
Epitecto os primeiros fundamentos destas noções: “Perturbam aos homens não as coisas,<br />
senão a opinião que dela têm" (GONÇALVES, 1999 P.98).<br />
Mais especificamente, a Terapia Cognitiva foi desenvolvida por Beck nos Estados<br />
Unidos, no início da década de sessenta. Em seus estudos, o autor busca estabelecer uma<br />
base empírica para a teoria da melancolia de Freud. Nesses termos, Beck focalizou seus<br />
estudos sobre a Depressão, privilegiando as características negativas do pensamento<br />
depressivo. Esses estudos levaram a estruturação de um modelo cognitivo da depressão<br />
(GONÇALVES, 1999).<br />
A idéia proposta foi que, independentemente das suas causas, a Depressão<br />
poderia ser concebida como uma perturbação no pensamento consciente, isto é, que os seus<br />
sintomas seriam decorrentes de um processamento cognitivo tipicamente pessimista. Sendo<br />
assim, a ocorrência dos sintomas era vista como de natureza consciente e, ao mesmo tempo,<br />
estes não estariam fora do controle do cliente, pois seu estado de humor e seu comportamento<br />
seriam conseqüência de uma visão distorcida de si, dos outros e do mundo.<br />
Hoje, sabe-se da influência neuropsicológica na Depressão, principalmente na<br />
Depressão Severa, fato que não pode ser negligenciado uma vez que tais implicações estão<br />
ligadas a gravidade do quadro depressivo, podendo interferir na proposta primordial da<br />
<strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva e na modificação dos pensamentos disfuncionais e, conseqüentemente,<br />
na mudança no comportamento.<br />
Essa proposta é fundamentada em paradigmas científicos, que funcionam como<br />
lentes, utilizados na identificação das distorções cognitivas. Trata-se de construtos utilizados,<br />
que são inerentes a orientação paradigmática da qual resulta o direcionamento epistemológico<br />
que rege o fazer em <strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva. Portanto, o objetivismo e o pragmatismo do<br />
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modelo cognitivo comportamental, antes de tudo, são uma forma de conceber e avaliar a<br />
realidade e uma forma de conceber a ciência psicológica e a respectiva prática terapêutica.<br />
Na sua abordagem, a <strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva admite a pluralidade de idéias, fato que a<br />
levou a expandir-se de tal forma, constituindo-se no que muitos autores chamam de “família”<br />
com muitas ramificações. Assim, temos a terapia cognitiva de Beck, a terapia racional<br />
emotiva de Ellis, a terapia comportamental cognitiva, a terapia construtivista, a terapia<br />
cognitiva analítica, a terapia cognitiva dialética, a reestruturação cognitiva, etc. (RANGÉ,<br />
2001).<br />
TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL, CARACTERIZAÇÃO.<br />
A Terapia Cognitiva <strong>Comportamental</strong> (TCC), como sistema psicoterapêutico, é fundamentada<br />
no modelo cognitivo que considera que a emoção e o comportamento são determinados pela<br />
forma como o indivíduo interpreta o mundo. No caso, as cognições ou interpretações refletem<br />
formas idiossincráticas de processar a informação e constituem a base dos transtornos<br />
emocionais, os quais são definidos como disfunções cognitivas.<br />
Na práxis, a Terapia Cognitiva <strong>Comportamental</strong> reflete a noção de esquemas<br />
construídos ao longo do desenvolvimento, cujo conjunto resume as percepções que o<br />
indivíduo tem da realidade externa, a partir de suas experiências históricas relevantes. No<br />
caso, surge o conceito de esquemas, que são definidos como superestruturas cognitivas que<br />
organizam as experiências do real, ao mesmo tempo em que guiam o foco da atenção. Utiliza-<br />
se do processo avaliativo na busca das questões básicas a serem consideradas na psicoterapia<br />
e que são: a concentração no comportamento observável, como este se mostra e, procura o<br />
esclarecimento das relações funcionais considerando sempre, as variáveis do meio e a estreita<br />
ligação entre avaliação e tratamento.(GONÇALVES, 1999)<br />
OBJETIVOS E DINÂMICA DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL<br />
Tendo como principio básico norteador a primazia das cognições sobre as emoções e<br />
comportamentos, o terapeuta, na Terapia Cognitiva, busca a reestruturação cognitiva a partir<br />
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de uma conceituação cognitiva trazida pelo cliente. Inicialmente, objetiva devolver-lhe a<br />
flexibilidade cognitiva através da intervenção sobre as suas cognições, visando a promoção de<br />
mudanças nas emoções e nos comportamentos que as acompanham. Utiliza para isso,<br />
diferentes técnicas que vai buscar na Psicologia <strong>Comportamental</strong>, tais como:<br />
dessensibilização, modelagem, reforço, abordagens psicoeducativas etc. (MUNIS, 2002).<br />
Através delas, o terapeuta pode identificar as crenças irracionais e trabalhar os pensamentos<br />
disfuncionais. Utiliza-se da diretividade e, através dela, focaliza os conflitos apresentados no<br />
“aqui-e-agora” trabalhando assim pensamentos e sentimentos atuais do cliente, baseados no<br />
foco do problema, na sua natureza e na gravidade, a fim de poder trabalhar o comportamento<br />
resultante.<br />
Utilizando-se das informações sobre o cliente, o terapeuta procura trabalhar de forma<br />
educativa auxiliando o paciente no esclarecimento do modelo cognitivo, de modo que ele<br />
possa refletir sobre a natureza do seu(s) problema(s), conhecer o processo terapêutico e<br />
prevenir supostas recaídas (McMULLIN, 2005).<br />
PROPOSTA TERAPÊUTICA ESTRUTURA DA SESSÃO TERAPÊUTICA<br />
Caracterizada por uma abordagem estruturada, a Terapia Cognitiva <strong>Comportamental</strong> se<br />
apóia em uma relação colaborativa entre o terapeuta e o paciente, na qual ambos têm um<br />
papel ativo no processo psicoterápico. Nesse sentido, busca não apenas a resolução dos<br />
problemas imediatos do cliente mas, também, através da reestruturação cognitiva, dotá-lo de<br />
um novo conjunto de técnicas e estratégias cognitivas para que, e a partir daí, possa ele<br />
processar e responder à realidade de forma funcional, sendo o funcional aqui definido como<br />
as formas que concorrem para a realização de metas potencialmente atingíveis. (McMULLIN,<br />
2005).<br />
No seu desenvolvimento, a Terapia Cognitiva se utiliza recursos como tarefas de<br />
casa, uma atividade que é integrada ao processo terapêutico e que consiste na realização de<br />
exercícios, utilizando habilidades adquiridas nas sessões, com o objetivo de aumentar a<br />
efetividade e a generalização dos efeitos da terapia. Além disso, outras técnicas cognitivas<br />
e/ou comportamentais são utilizadas como, por exemplo, para a modificação das crenças e do<br />
comportamento do paciente (SCOTT; MARK; WILLIAMS, 1994).<br />
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Assim estruturada, a Terapia Cognitiva segue uma seqüência de sessões<br />
previamente estabelecida, de acordo com as metas traçadas e período de tratamento ajustados<br />
com o cliente. No geral, o tempo necessário para trabalhar as dificuldades trazidas pelo<br />
cliente é de 16 a 20 sessões para alguns transtornos do Eixo I. No entanto, os Transtornos do<br />
eixo II, denominados estados de Transtornos da Personalidade, requerem um período maior<br />
de tratamento, sendo o seu tempo determinado pela gravidade do quadro em si. É preciso ter<br />
clara a questão relativa ao tempo de duração da terapia cognitiva, uma vez que cada cliente<br />
requer um tempo próprio para a elaboração de seu conflito. (SCOTT; MARK; WILLIAMS,<br />
1994).<br />
A princípio, este tempo de duração pode parecer curto. Porém, é justamente o curto<br />
espaço de tempo e a sua eficácia comprovada através de estudos empíricos em varias áreas de<br />
transtornos emocionais que diferenciam a <strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva de outras formas de<br />
psicoterapia.<br />
A RELAÇÃO CLIENTE TERAPEUTA<br />
Na terapia Cognitiva a relação colaborativa entre o terapeuta e o cliente possui um<br />
papel ativo no processo psicoterápico pois é esse tipo de relação que permite ao cliente<br />
aprender a identificar e modificar seus pensamentos.<br />
Essa aliança, uma vez estabelecida ao longo do processo terapêutico, permite ao<br />
terapeuta atuar diretamente sobre o sistema de esquemas e crenças trazidas pelo cliente, afim<br />
de promover sua reestruturação. No geral, o que se espera da relação entre terapeuta e cliente<br />
são momentos de encontro nas quais a interação entre os dois deve gerar compreensão<br />
implícita e, assim, aumentar de forma inconsciente o desenvolvimento terapêutico a partir de<br />
uma relação de alto nível (McMULLIN, 2005). Para o autor citado anteriormente, “são esses<br />
momentos que levam a mudanças significativas e duradouras no comportamento, pelo<br />
aumento nas possibilidades do cliente para desenvolver estratégias e para colocá-las em<br />
prática, bem como interagir com outras pessoas de forma satisfatória”.<br />
No entanto, esse processo só pode ocorrer num clima de cooperação ativa e<br />
incondicional entre paciente e terapeuta, ambos agindo cooperativamente no sentido de<br />
solucionar os problemas, de modo a permitir que o próprio cliente aprenda a identificar e<br />
modificar seus pensamentos. Nesse processo, a diretividade deve estar focalizada nos<br />
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problemas apresentados no “aqui-e-agora”, trabalhando pensamentos, sentimentos que levam<br />
aos comportamentos atuais do cliente, usando os dados da história passada apenas quando<br />
contribuem para maior compreensão de suas crenças.<br />
APLICAÇÃO PRÁTICA<br />
A Terapia Cognitiva <strong>Comportamental</strong> pode ser aplicada individualmente e também<br />
em grupos, tratando de problemas específicos como a depressão, transtornos de ansiedade,<br />
pânico, fobias, transtornos alimentares, e os transtornos de déficit de atenção e hiperatividade,<br />
entre outros. Além disso, o uso da <strong>Psicoterapia</strong> Cognitiva tem ainda se mostrado eficaz em<br />
problemas variados como: transtornos da personalidade, hipocondria, transtornos alimentares,<br />
problemas com abuso de álcool, portadores de disfunções sexuais, pacientes suicidas,<br />
esquizofrenia, transtornos bipolares, casais com dificuldades conjugais etc, tendo sempre<br />
como ponto de partida em comum no tratamento de todos os transtornos psicológicos, em<br />
qualquer modalidade, a identificação e modificação dos pensamentos e crenças disfuncionais<br />
que determinam o estado de humor ( RANGÉ, 2001).<br />
Nesse sentido, é importante salientar ainda sobre a aplicação da <strong>Psicoterapia</strong><br />
Cognitiva o fato da Psicologia Cognitiva <strong>Comportamental</strong> poder ser aplicada a pacientes de<br />
diversas idades (incluindo crianças e idosos) e de diferentes níveis educacionais, econômicos<br />
ou culturais.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A Terapia Cognitiva <strong>Comportamental</strong> surge como uma nova proposta de tratamento<br />
em resposta a necessidade de se ter um tratamento de curto prazo para um transtorno<br />
emergente, a Depressão, que havia se tornado um problema de saúde publica. Beck responde<br />
a esta solicitação buscando uma nova teoria com base empírica, fundamentada nos<br />
pensamentos cognitivos. Para trabalhar nesse sentido, são utilizadas técnicas advindas da<br />
Teoria <strong>Comportamental</strong> e cuja utilidade se mostra relevante em auxiliar o cliente no alcance<br />
dos seus objetivos.<br />
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Resumo<br />
A partir do seu surgimento, muitas investigações confirmaram a validade da terapia<br />
cognitiva em relação ao transtorno depressivo, como o estudo do Instituto Nacional de Saúde<br />
Mental dos EUA sobre depressão, em 1984. Aos poucos, outros transtornos também foram se<br />
incorporando, mostrando-se adequadamente tratáveis pelo enfoque cognitivo.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
GONÇALVES, F. A Introdução as <strong>Psicoterapia</strong>s Comportamentais. Coimbra: Quarteto<br />
Ed. 1999.<br />
MCMULLIN, E. R. Manual de Técnicas em Terapia Cognitiva. Porto Alegre: Artemed,<br />
2005.<br />
MUNIZ-JOICE,L. A modificação do comportamento: Teoria e Prática da <strong>Psicoterapia</strong> e<br />
Psicopedagogia Comportamentais. Lisboa: Ed. Novo Horizonte, 2002. ed. revisada.<br />
RANGÉ, Bernard (org.). <strong>Psicoterapia</strong> <strong>Comportamental</strong> e Cognitiva: pesquisa, prática,<br />
aplicação e problemas. Campinas: Editorial Psy, 1998.<br />
SCOTT, J.; Mark, J.; Beck, T. A. Terapia Cognitiva na Pratica Clinica. Porto Alegre:<br />
Artemed, 1994.<br />
A psicoterapia cognitiva tem suas raízes numa matriz multidisciplinar chamada de ciências cognitivas<br />
que também integram as neurociências, lingüística, psicologia cognitiva e a filosofia. Foi a partir dos anos 50<br />
que surgiram as ciências cognitivas.<br />
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A terapia cognitiva foi desenvolvida por Beck, na década de 60. Focando seus estudos especificamente<br />
sobre a depressão, elaborou o modelo cognitivo desta patologia que possibilitou a redução do tempo de<br />
tratamento e prolongou a manutenção dos benefícios obtidos.<br />
Atualmente, a psicologia comportamental se expandiu em várias ramificações tais como: teoria cognitiva<br />
de Beck, terapia racional emotiva de Ellis, teoria comportamental cognitiva, terapia cognitiva dialética,<br />
reestruturação cognitiva, entre outras .<br />
A terapia cognitiva comportamental valoriza e investiga as percepções que o indivíduo tem de sua<br />
realidade externa, a partir de suas experiências históricas relevantes. Caracteriza-se por ser uma abordagem<br />
estruturada que se apóia na relação colaborativa entre paciente e terapeuta na qual, ambos, possuem papel<br />
ativo no processo terapêutico.<br />
A psicoterapia cognitiva se diferencia de outras abordagens por demandar menor espaço de tempo,<br />
adequada à situação atual onde as pessoas, cada vez mais, têm o seu dia-a-dia dividido em múltiplos<br />
afazeres.<br />
Palavras chave: psicoterapia cognitiva, comportamental, ciências cognitivas.<br />
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