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O ego e o ID e outros trabalhos VOLUME XIX - ceapp

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essas novas experiências também como manifestações do Diabo, e quando, em maio de 1678,<br />

retornou a Mariazell, queixou-se de maligni Spiritûs manifestationes [‘manifestações do Espírito<br />

Mau’].<br />

Contou aos reverendos padres que sua razão para retornar era ter de solicitar ao<br />

Demônio devolver-lhe outro compromisso anterior, que fora escrito a tinta. Ainda desta vez a<br />

Santa Virgem e os piedosos padres ajudaram-no a conseguir o atendimento de seu pedido.<br />

Quanto à maneira por que isso aconteceu, no entanto, o relatório silencia. Ele simplesmente<br />

declara de modo sucinto: quâ iuxta votum redditâ [‘quando este foi devolvido de acordo com sua<br />

prece’] - ele orou de novo e recebeu de volta o pacto. Passado isso, sentiu-se inteiramente livre<br />

e ingressou na Ordem dos Irmãos Hospitalários.Mais uma vez temos ocasião de reconhecer<br />

que, apesar do intuito óbvio de seus esforços, o compilador não foi tentado a apartar-se da<br />

veracidade exigida de um caso clínico, pois não esconde o resultado da indagação que em 1714<br />

foi feita pelo Superior do Mosteiro dos Irmãos Hospitalários [em Viena], com referência à história<br />

posterior do pintor. O reverendo Pater Provincialis comunicou que o Irmão Crisóstomo havia sido<br />

repetidamente tentado pelo Espírito Mau, que tentara seduzi-lo a fazer um novo pacto (embora<br />

isso só acontecesse ‘quando ele bebera vinho um pouco em demasia’). Mas, pela graça de<br />

Deus, sempre fora possível repelir essas tentativas. O Irmão Crisóstomo morrera de febre<br />

héctica, ‘pacificamente e bem confortado’, no ano de 1700, no Mosteiro da Ordem, em Neustatt<br />

sobre a Moldávia.<br />

II - O MOTIVO PARA O PACTO COM O DEMÔNIO<br />

Se examinarmos esse compromisso com o Demônio como se fosse o caso clínico de um<br />

neurótico, nosso interesse se voltará, em primeira instância, para a questão de sua motivação,<br />

que, naturalmente, está intimamente vinculada à sua causa excitante. Por que alguém assina um<br />

compromisso com o Demônio? Fausto, é verdade, indagou desdenhosamente: ‘Was willst du<br />

armer Teufel geben?’ [‘O que tens a dar, pobre Diabo?’] Mas ele estava errado. Em troca de uma<br />

alma imortal, o Demônio tem muitas coisas a oferecer, que são altamente prezadas pelos<br />

homens: riqueza, segurança quanto ao perigo, poder sobre a humanidade e as forças da<br />

natureza, até mesmo artes mágicas, e, acima de tudo o mais, o gozo - o gozo de mulheres<br />

belas. Esses serviços desempenhados ou empreendimentos efetuados pelo Demônio são<br />

geralmente mencionados de modo específico no acordo que com ele é feito. Qual, então, foi o<br />

motivo que induziu Christoph Haizmann a fazer seu pacto?<br />

De modo bastante curioso, não foi nenhum desses desejos muito naturais. Para deixar o<br />

assunto além de qualquer dúvida, há apenas que ler as breves observações apostas pelo pintor<br />

às suas ilustrações das aparições do Demônio. Por exemplo, a legenda da terceira visão diz: ‘Na<br />

terceira ocasião dentro de um ano e meio, ele me apareceu sob essa forma abominável, em sua

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