Ana em Veneza
Ana em Veneza
Ana em Veneza
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
23<br />
da moda e da maquilag<strong>em</strong>. SÜo eles que a preparam e elevam-na ç<br />
condiÄÜo de obra de arte.<br />
Por um lado, hÉ um el<strong>em</strong>ento imutÉvel no belo que Ç impossàvel<br />
de ser acessado pela natureza humana. Por outro, hÉ um el<strong>em</strong>ento<br />
relativo que o encobre, que o contorna e que, apenas assim, o torna<br />
possàvel de ser experimentado, de modo que, para Baudelaire, o prâprio<br />
ser humano Ç feito dessa dualidade entre um inacessàvel e permanente, e<br />
um acessàvel e transitârio. Essa dualidade tambÇm se aplica ç arte, pois<br />
para ele “A dualidade da arte Ç uma consequÑncia fatal da dualidade do<br />
hom<strong>em</strong>” (BAUDELAIRE, 1995, p. 852).<br />
Walter Benjamin 8 nos resgata <strong>em</strong> seus estudos sobre Baudelaire e<br />
suas investigaÄÅes sobre a moda como um fenämeno inerente ç prâpria<br />
modernidade. O teârico al<strong>em</strong>Üo propÅe uma leitura de forma que a moda<br />
deixa de configurar somente como uma espÇcie de medida de t<strong>em</strong>po,<br />
mas tambÇm suscita a relaÄÜo do sujeito e com o objeto ou mercadoria.<br />
A teârica Susan Buck-Morss analisa <strong>em</strong> seu livro DialÑtica do olhar:<br />
Walter Benjamin e o projeto das Passagens o fenämeno da moda<br />
segundo o ponto de vista de Benjamin:<br />
Ora, a roupa fica, b<strong>em</strong> literalmente, na fronteira<br />
entre o sujeito e o objeto, o individual e o<br />
cosmos. Seu posicionamento certamente dÉ conta<br />
de sua significáncia <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>Ética atravÇs de toda<br />
a histâria. Na Idade MÇdia, a vestimenta<br />
“correta” era o que trazia o selo da ord<strong>em</strong> social:<br />
os adornos eram o reflexo de um cosmos<br />
divinamente ordenado e um signo da prâpria<br />
posiÄÜo ocupada nesse cosmos. è claro que a<br />
posiÄÜo social era estÉtica entÜo, assim como a<br />
natureza <strong>em</strong> que os seres humanos viam suas<br />
vidas refletidas; o acidente do nascimento<br />
determinava as suas possibilidades de morte.<br />
Contra esse pano de fundo, o momento positivo<br />
da era moderna se destaca claramente. Sua<br />
constante ánsia de “novidade”, da separaÄÜo do<br />
dado, identifica grupos geracionais cuja roupa<br />
simboliza um fim ç dependÑncia e ç firmeza<br />
8 Walter Benjamin caracteriza a modernidade atravÇs de uma consciÑncia do t<strong>em</strong>po. Valendose<br />
dessas observaÄÅes, Benjamin päde eleger a poesia de Charles Baudelaire como a que v<strong>em</strong><br />
atravÇs do olhar de um poeta moderno por excelÑncia. Benjamin identificou sua obra com o<br />
proletÉrio francÑs, com o submundo. Um herâi marcado pelo efÑmero.