Ana em Veneza

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(AGAMBEN, 2007, p. 26). Muitas vezes a figura do acidioso era
confundida com a do preguiÄoso, haja vista a caracteràstica comum aos
dois da divagaÄÜo, do olhar voltado para o nada. Segundo o autor
italiano, o acidioso sofre por seu objeto de desejo, mas sofre por nÜo ter
forÄas para alcanÄÉ-lo. Ele torna esse mesmo objeto inatingàvel.
Fazemos menÄÜo a um interessante trecho do romance em que
Alberto Nepomuceno, citando um pequeno verso de seu mestre Tobias
Barreto, declara sua predileÄÜo por objetos inalcanÄÉveis:
Esta paixÜo que me devora o peito,
Esta sede que me abrasa as entranhas,
Para acalmÉ-la, ao menos por instantes,
Bastava um gole d’Égua em que te banhas.
(Meu mestre Tobias Barreto fala por mim. A
quadrinha Ç dele, que tanto se apaixonava por
mulheres inalcanÄÉveis.) (TREVISAN, 1998,
p.288)
Nepomuceno revela-se acidioso por mostrar carÉter semelhante
ao de seu mestre. Tivera em toda a narrativa somente amores se nÜo
impossàveis, inalcanÄÉveis, como a passageira do navio no qual ele
embarcou para a Europa, Suzy. O mÖsico cearense Ç um solitÉrio que se
perde em sua subjetividade e se deixa levar pelo turbilhÜo de fantasmas
oriundos de sua existÑncia melancâlica. Ele Ç um bastardo da
modernidade, porque esta nÜo abre espaÄo para sua reflexÜo fantasiosa.
A modernidade exige racionalidade e pragmatismo em detrimento da
atividade fantasmÉtica do acidioso.
Ao referir-se a Klibansky, Panofsky e Saxl, podemos entender
atravÇs de Agamben, mais adiante, a melancolia assim como era
analisada na Idade MÇdia:
A melancolia, ou bàlis negra (ìέλαιναχόλη), Ç
aquela cuja desordem pode provocar as
conseqéÑncias mais nefastas. Na cosmologia
humoral medieval, aparece associada
tradicionalmente ç terra, ao outono (ou ao
inverno), ao elemento seco, ao frio, ç tramontana,
ç cor preta, ç velhice (ou ç maturidade), e o seu
planeta Ç Saturno, entre cujos filhos o
melancâlico encontra lugar ao lado do enforcado,