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Ana em Veneza

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39<br />

indica a sobrevivÑncia da histâria passada dentro<br />

do presente, expressando com claridade palpÉvel<br />

que o fetiche desfeito fica tÜo vazio de vida que<br />

sâ o traÄo da concha material permanece.<br />

(BUCK-MORSS, 2002, p.201)<br />

Em seguida analisa a caveira como cont<strong>em</strong>plaÄÜo barroca como<br />

“imag<strong>em</strong> da vaidade da existÑncia humana e a transitoriedade do poder<br />

terreno” (BUCK-MORSS, 2002, p.202). A caveira representa uma das<br />

imagens fundamentais do teârico al<strong>em</strong>Üo, pois carrega consigo toda<br />

carga simbâlica da modernidade, ao mostrar que tudo Ç efÑmero. Daà<br />

resulta sua forte ligaÄÜo com a histâria, pois “Na alegoria, a histâria<br />

aparece como natureza <strong>em</strong> decadÑncia ou ruàna (...)” (BUCK-MORSS,<br />

2002, p.209). No capàtulo intitulado Rumo a Roma, o narrador profere<br />

acerca de Alberto Nepomuceno que “Tratava-se de mera questÜo de<br />

t<strong>em</strong>po: na verdade, apenas algumas horas, atÇ estares ç beira – como de<br />

fato estivestes – de tornares-te parte dessa grande ruàna universal que Ç a<br />

histâria” (TREVISAN, 1998, p.324). Trevisan atravÇs deste gesto<br />

entende a histâria nÜo como um contànuo cronolâgico e unitÉrio, mas,<br />

atravÇs da imag<strong>em</strong> da ruàna, as diversas formas <strong>em</strong> que a prâpria histâria<br />

pode se manifestar.<br />

Portanto, t<strong>em</strong>os no Barroco as reflexÅes melancâlicas sobre a<br />

decadÑncia por vir. Esse Ç o elo da leitura de Benjamin sobre a<br />

modernidade atravÇs do Barroco 15 . O esfacelamento da “Erfahrung”<br />

15 A orig<strong>em</strong> do drama trÄgico al<strong>em</strong>Ço Ç a obra que lÑ a modernidade atravÇs do espectro da<br />

estÇtica do Barroco, atravÇs de suas alegorias, fragmentos, sob o olhar da melancolia e<br />

decadÑncia. Aspirando ao desabrochar na sua pâs-histâria, ou seja, na salvaÄÜo psicanalàtica da<br />

palavra. TÇdio e melancolia representam uma resposta ao tratamento fragmentÉrio sobre o<br />

conhecimento, formalizado na fundaÄÜo de teorias e princàpios de toda ciÑncia moderna que<br />

encontra sua orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> um desvio retrabalhado por Benjamin. No Trauerspiel a melancolia<br />

constitui a desolaÄÜo da alma diante da inexorabilidade do destino. A indiferenÄa resultante<br />

desse sentimento, a sensaÄÜo de falta de sentido do esforÄo do hom<strong>em</strong>, das coisas no seu<br />

entorno preparam o t<strong>em</strong>peramento melancâlico e faz<strong>em</strong> dele a mentalidade de uma era que<br />

sucumbe desmotivada da aÄÜo, uma vez que ela Ç reprimida pelo rigor das novas teorias da<br />

Reforma Religiosa. A ideia de paraàso eterno ou de uma suspensÜo do t<strong>em</strong>po, desenvolvida por<br />

essa Çpoca, faz contraponto ç pressÜo de um destino privado de transcendÑncia e repercute na<br />

representaÄÜo panoramÉtica da histâria do Trauerspiel, liderada pelo inconsciente, pela<br />

dissoluÄÜo dos limites entre presente, passado, como um desvio da pressÜo do mundo finito e<br />

exalado no sentimento de fugacidade e ef<strong>em</strong>eridade das coisas. A leitura barroca da melancolia<br />

enquanto sentimento natural do hom<strong>em</strong> motiva a saàda no artifàcio que se realiza na estÇtica<br />

cÑnica do drama da alegoria, como expressÜo da convenÄÜo da Çpoca. Essa foi a dificuldade<br />

enfrentada por Benjamin para a aceitaÄÜo de seu trabalho, que resultou no fracasso para<br />

ingressar como professor na Universidade de Frankfurt. Benjamin propÅe, de forma corajosa,<br />

que a estÇtica barroca contrapÅe-se ao Classicismo na RepÖblica de Weimar, ou seja, <strong>em</strong> pleno

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