11.05.2013 Views

Leia a íntegra da decisão - Supremo Tribunal Federal

Leia a íntegra da decisão - Supremo Tribunal Federal

Leia a íntegra da decisão - Supremo Tribunal Federal

SHOW MORE
SHOW LESS

Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!

Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.

MEDIDA CAUTELAR NA RECLAMAÇÃO 14.772 BAHIA<br />

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO<br />

RECLTE.(S) :EDITORA ABRIL S/A<br />

ADV.(A/S) :ALEXANDRE FIDALGO E OUTRO(A/S)<br />

RECLDO.(A/S) :RELATOR DO RECURSO ELEITORAL<br />

1007320126050005 DO TRIBUNAL REGIONAL<br />

ELEITORAL DA BAHIA<br />

INTDO.(A/S) :NELSON VICENTE PORTELA PELEGRINO<br />

ADV.(A/S) :LUIZ VIANA QUEIROZ<br />

DECISÃO: Trata-se de reclamação, com pedido de medi<strong>da</strong> liminar,<br />

formula<strong>da</strong> com o objetivo de fazer preservar a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>decisão</strong><br />

que, proferi<strong>da</strong> pelo <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong>, nos autos <strong>da</strong><br />

ADI 4.451-MC-REF/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO, suspendeu a “(...)<br />

eficácia do inciso II e <strong>da</strong> parte final do inciso III, ambos do art. 45 <strong>da</strong><br />

Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento, dos §§ 4º e 5º do mesmo artigo”.<br />

Afirma, a parte ora reclamante, em síntese, para justificar o alegado<br />

desrespeito à autori<strong>da</strong>de decisória do julgamento proferido pelo <strong>Supremo</strong><br />

<strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong>, o que se segue:<br />

“A presente Reclamação tem por finali<strong>da</strong>de fazer garantir<br />

a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>decisão</strong> proferi<strong>da</strong> por esse E. <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong><br />

<strong>Federal</strong> nos autos <strong>da</strong> Ação Direta de Inconstitucionali<strong>da</strong>de<br />

(ADIN) nº. 4.451 que, ‘<strong>da</strong>ta venia’, foi desrespeita<strong>da</strong> pelo Exmo. Juiz<br />

JOSEVANDO SOUZA ANDRADE, do C. <strong>Tribunal</strong> Regional<br />

Eleitoral do Estado <strong>da</strong> Bahia, mediante a prolação <strong>da</strong> <strong>decisão</strong> ora<br />

anexa<strong>da</strong> (Doc. 04), que manteve sentença (Doc. 05) que condenou a<br />

Reclamante a publicar texto de resposta nos autos do Recurso<br />

Eleitoral nº. 10073.2012.605.0005, por entender que, apesar de<br />

constatar inexistir as figuras de calúnia, difamação e injúria, tal como<br />

alegado na inicial, foi cometido excesso de crítica.<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.


RCL 14.772 MC / BA<br />

Com efeito, a Reclamante sofreu Representação Eleitoral,<br />

fin<strong>da</strong><strong>da</strong> em direito de resposta, movi<strong>da</strong> por Nelson Vicente Portela<br />

Pellegrino, autua<strong>da</strong> sob nº. 10073.2012.605.0005, em trâmite o Juízo<br />

<strong>da</strong> 5ª Zona Eleitoral do Estado <strong>da</strong> Bahia, em razão de matéria<br />

jornalística publica<strong>da</strong> na revista VEJA (Doc. 06), tendo sido<br />

condena<strong>da</strong> a publicar texto de resposta, tudo com fun<strong>da</strong>mento legal no<br />

artigo 58, ‘caput’ e inciso I <strong>da</strong> Lei 9.504/97 c/c o artigo 16, inciso I,<br />

alínea ‘c’, <strong>da</strong> Resolução nº. 23.367/11, do TSE.<br />

Na fase recursal, a despeito <strong>da</strong> Reclamante demonstrar que o<br />

excesso de crítica não é fun<strong>da</strong>mento a embasar sua condenação, o<br />

<strong>Tribunal</strong> Regional Eleitoral do Estado <strong>da</strong> Bahia, por votação unânime,<br />

com voto condutor do aqui Reclamado, entendeu impingir ilicitude ao<br />

direito de crítica, estabelecendo, assim, uma peia a seu exercício (vide<br />

Doc. 04).<br />

Dessa feita, a condenação imposta à Reclamante afrontou<br />

<strong>decisão</strong> dessa E. Corte na cita<strong>da</strong> ADIN nº. 4.451, cuja autori<strong>da</strong>de<br />

deve ser preserva<strong>da</strong> com a procedência desta Reclamação, pelos<br />

motivos detalhados abaixo.” (grifei)<br />

O <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong> tem enfatizado, em sucessivas<br />

decisões, que a reclamação reveste-se de idonei<strong>da</strong>de jurídico-processual,<br />

quando utiliza<strong>da</strong>, como na espécie, com o objetivo de fazer prevalecer a<br />

autori<strong>da</strong>de decisória dos julgamentos emanados desta Corte, nota<strong>da</strong>mente<br />

quando impregnados de eficácia vinculante, como sucede com aqueles que<br />

deferem provimentos cautelares em sede de fiscalização normativa abstrata<br />

(RTJ 169/383-384 – RTJ 183/1173-1174):<br />

“O DESRESPEITO À EFICÁCIA VINCULANTE,<br />

DERIVADA DE DECISÃO EMANADA DO PLENÁRIO<br />

DA SUPREMA CORTE, AUTORIZA O USO DA<br />

RECLAMAÇÃO.<br />

- O descumprimento, por quaisquer juízes ou Tribunais, de<br />

decisões proferi<strong>da</strong>s com efeito vinculante, pelo Plenário do<br />

<strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong>, em sede de ação direta de<br />

inconstitucionali<strong>da</strong>de ou de ação declaratória de constitucionali<strong>da</strong>de,<br />

autoriza a utilização <strong>da</strong> via reclamatória, também vocaciona<strong>da</strong>, em<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

2


RCL 14.772 MC / BA<br />

sua específica função processual, a resguar<strong>da</strong>r e a fazer prevalecer,<br />

no que concerne à Suprema Corte, a integri<strong>da</strong>de, a autori<strong>da</strong>de e a<br />

eficácia subordinante dos comandos que emergem de seus atos<br />

decisórios. Precedente: Rcl 1.722/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO<br />

(Pleno).”<br />

(RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)<br />

Cabe examinar, de outro lado, se terceiros – que não intervieram no<br />

processo objetivo de controle normativo abstrato – dispõem, ou não, de<br />

legitimi<strong>da</strong>de ativa para o ajuizamento de reclamação perante o <strong>Supremo</strong><br />

<strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong>, quando promovi<strong>da</strong> com o objetivo de fazer restaurar o<br />

“imperium” inerente às decisões emana<strong>da</strong>s desta Corte proferi<strong>da</strong>s em<br />

sede de ação direta de inconstitucionali<strong>da</strong>de ou de ação declaratória de<br />

constitucionali<strong>da</strong>de.<br />

O Plenário do <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong>, a propósito de tal<br />

questão, ao analisar o alcance <strong>da</strong> norma inscrita no art. 28 <strong>da</strong><br />

Lei nº 9.868/99 (Rcl 1.880-AgR/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA),<br />

firmou orientação que reconhece, a<br />

terceiros , quali<strong>da</strong>de para agir, em<br />

sede reclamatória, quando necessário se torne assegurar o efetivo<br />

respeito aos julgamentos desta Suprema Corte, proferidos no âmbito de<br />

processos de controle normativo abstrato:<br />

“(...) LEGITIMIDADE ATIVA PARA A RECLAMAÇÃO<br />

NA HIPÓTESE DE INOBSERVÂNCIA DO EFEITO<br />

VINCULANTE.<br />

- Assiste plena legitimi<strong>da</strong>de ativa, em sede de reclamação,<br />

àquele – particular ou não – que venha a ser afetado, em sua esfera<br />

jurídica, por decisões de outros magistrados ou Tribunais que se<br />

revelem contrárias ao entendimento fixado, em caráter vinculante,<br />

pelo <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong>, no julgamento dos processos objetivos<br />

de controle normativo abstrato instaurados mediante ajuizamento,<br />

quer de ação direta de inconstitucionali<strong>da</strong>de, quer de ação declaratória<br />

de constitucionali<strong>da</strong>de. Precedente. (...).”<br />

(RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

3


RCL 14.772 MC / BA<br />

Vê-se , portanto, que<br />

assiste , à parte ora reclamante, plena<br />

legitimi<strong>da</strong>de ativa “ad causam” para fazer instaurar este processo<br />

reclamatório.<br />

Cumpre<br />

verificar , agora, se<br />

reclamação pode traduzir, ou não, hipótese<br />

a situação exposta na presente<br />

de<br />

ofensa<br />

à autori<strong>da</strong>de do<br />

julgamento que o <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong> proferiu, com<br />

eficácia<br />

vinculante , em sede de fiscalização normativa abstrata (ADI 4.451-MC-<br />

-REF/DF).<br />

O exame dos fun<strong>da</strong>mentos subjacentes à presente causa e a análise<br />

<strong>da</strong>s razões constantes <strong>da</strong> <strong>decisão</strong> ora reclama<strong>da</strong> parecem revelar, em juízo<br />

de sumária cognição, a existência, na espécie, de situação caracterizadora<br />

de desrespeito à autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>decisão</strong> proferi<strong>da</strong> pelo <strong>Supremo</strong><br />

<strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong> nos autos <strong>da</strong> ADI 4.451-MC-REF/DF, Rel. Min. AYRES<br />

BRITTO.<br />

É que as razões de decidir invoca<strong>da</strong>s no ato judicial ora questionado<br />

revelar-se-iam, aparentemente, em desconformi<strong>da</strong>de com aquelas que deram<br />

suporte à <strong>decisão</strong> proferi<strong>da</strong> pelo <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong> nos autos <strong>da</strong><br />

ADI 4.451-MC-REF/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO.<br />

Todos sabemos, e já tive o ensejo de salientar em <strong>decisão</strong> proferi<strong>da</strong><br />

na Pet 3.486/DF, de que fui Relator, que o exercício concreto, pelos<br />

profissionais <strong>da</strong> imprensa, <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de expressão, cujo fun<strong>da</strong>mento<br />

reside no próprio texto <strong>da</strong> Constituição <strong>da</strong> República, assegura, ao<br />

jornalista, o direito de expender crítica, ain<strong>da</strong> que desfavorável e em tom<br />

contundente, contra quaisquer pessoas ou autori<strong>da</strong>des, nota<strong>da</strong>mente<br />

contra aquelas que disputam man<strong>da</strong>tos eletivos, em contexto no qual<br />

deve, sempre, prevalecer o interesse público.<br />

Ninguém ignora que, no âmbito de uma socie<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em<br />

bases democráticas, mostra-se intolerável a repressão estatal ao<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

4


RCL 14.772 MC / BA<br />

pensamento, ain<strong>da</strong> mais quando a crítica – por mais dura que seja –<br />

revele-se inspira<strong>da</strong> pelo interesse público e decorra <strong>da</strong> prática legítima<br />

de uma liber<strong>da</strong>de pública de extração eminentemente constitucional<br />

(CF, art. 5º, IV, c/c o art. 220), tal como o <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong><br />

decidiu em julgamento de que fui Relator:<br />

“- A liber<strong>da</strong>de de imprensa, enquanto projeção <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des de<br />

comunicação e de manifestação do pensamento, reveste-se de<br />

conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras prerrogativas<br />

relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de informar, (b) o<br />

direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o<br />

direito de criticar.<br />

- A crítica jornalística, desse modo, traduz direito<br />

impregnado de qualificação constitucional, plenamente oponível<br />

aos que exercem qualquer ativi<strong>da</strong>de de interesse <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de em<br />

geral, pois o interesse social, que legitima o direito de criticar,<br />

sobrepõe-se a eventuais suscetibili<strong>da</strong>des que possam revelar as<br />

pessoas públicas ou as figuras notórias, exercentes, ou não, de cargos<br />

oficiais.<br />

- A crítica que os meios de comunicação social dirigem a<br />

pessoas públicas (e a figuras notórias), por mais dura e veemente<br />

que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as<br />

limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos de<br />

personali<strong>da</strong>de.<br />

- Não induz responsabili<strong>da</strong>de civil a publicação de matéria<br />

jornalística cujo conteúdo divulgue observações em caráter mor<strong>da</strong>z<br />

ou irônico ou, então, veicule opiniões em tom de crítica severa, dura<br />

ou, até, impiedosa, ain<strong>da</strong> mais se a pessoa, a quem tais observações<br />

forem dirigi<strong>da</strong>s, ostentar a condição de figura notória ou pública,<br />

investi<strong>da</strong>, ou não, de autori<strong>da</strong>de governamental, pois, em tal<br />

contexto, a liber<strong>da</strong>de de crítica qualifica-se como ver<strong>da</strong>deira<br />

excludente anímica, apta a afastar o intuito doloso de ofender.<br />

Jurisprudência. Doutrina.<br />

- O <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>Federal</strong> tem destacado, de modo<br />

singular, em seu magistério jurisprudencial, a necessi<strong>da</strong>de de<br />

preservar-se a prática <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de informação, resguar<strong>da</strong>ndo-se,<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

5


RCL 14.772 MC / BA<br />

inclusive, o exercício do direito de crítica que dela emana,<br />

ver<strong>da</strong>deira ‘garantia institucional <strong>da</strong> opinião pública’ (Vi<strong>da</strong>l Serrano<br />

Nunes Júnior), por tratar-se de prerrogativa essencial que se<br />

qualifica como um dos suportes axiológicos que conferem<br />

legitimação material ao próprio regime democrático.<br />

- Mostra-se incompatível, com o pluralismo de idéias (que<br />

legitima a divergência de opiniões), a visão <strong>da</strong>queles que<br />

pretendem negar, aos meios de comunicação social (e aos seus<br />

profissionais), o direito de buscar e de interpretar as informações,<br />

bem assim a prerrogativa de expender as críticas pertinentes.<br />

Arbitrária, desse modo, e inconciliável com a proteção<br />

constitucional <strong>da</strong> informação, a repressão à crítica jornalística, pois<br />

o Estado – inclusive seus Juízes e Tribunais – não dispõe de poder<br />

algum sobre a palavra, sobre as idéias e sobre as convicções<br />

manifesta<strong>da</strong>s pelos profissionais <strong>da</strong> Imprensa, não cabendo, ain<strong>da</strong>, ao<br />

Poder Público, estabelecer padrões de conduta cuja observância<br />

implique restrição indevi<strong>da</strong> aos ‘mass media’, que hão de ser<br />

permanentemente livres, em ordem a desempenhar, de modo pleno,<br />

o seu dever-poder de informar e de praticar, sem injustas<br />

limitações, a liber<strong>da</strong>de constitucional de comunicação e de<br />

manifestação do pensamento. Precedentes do <strong>Supremo</strong> <strong>Tribunal</strong><br />

<strong>Federal</strong>. Jurisprudência compara<strong>da</strong> (Corte Européia de Direitos<br />

Humanos e <strong>Tribunal</strong> Constitucional Espanhol).”<br />

(AI 690.841-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)<br />

Não se pode ignorar que a liber<strong>da</strong>de de imprensa, enquanto<br />

projeção <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de manifestação de pensamento e de comunicação,<br />

reveste-se de conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras<br />

prerrogativas relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de informar,<br />

(b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o direito de<br />

criticar.<br />

A crítica jornalística, desse modo, traduz direito impregnado de<br />

qualificação constitucional, plenamente oponível aos que exercem<br />

qualquer parcela de autori<strong>da</strong>de no âmbito do Estado ou, como na espécie,<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

6


RCL 14.772 MC / BA<br />

aos que participam de processo eleitoral, pois o interesse social<br />

sobrepõe-se a eventuais suscetibili<strong>da</strong>des que possam revelar as figuras<br />

públicas.<br />

Lapi<strong>da</strong>r, sob tal aspecto, a <strong>decisão</strong> emana<strong>da</strong> do E. <strong>Tribunal</strong> de<br />

Justiça do Estado de São Paulo, consubstancia<strong>da</strong> em acórdão assim<br />

ementado:<br />

“Os políticos estão sujeitos de forma especial às críticas<br />

públicas, e é fun<strong>da</strong>mental que se garanta não só ao povo em geral<br />

larga margem de fiscalização e censura de suas ativi<strong>da</strong>des, mas<br />

sobretudo à imprensa, ante a relevante utili<strong>da</strong>de pública <strong>da</strong><br />

mesma.”<br />

(JTJ 169/86, Rel. Des. MARCO CESAR – grifei)<br />

Vê-se, pois, que a crítica jornalística, quando inspira<strong>da</strong> pelo<br />

interesse público, não importando a acrimônia e a contundência <strong>da</strong><br />

opinião manifesta<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> mais quando dirigi<strong>da</strong> a figuras públicas em<br />

disputa de processo eleitoral, não traduz nem se reduz, em sua expressão<br />

concreta, à dimensão de abuso <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de imprensa, não se<br />

revelando suscetível, por isso mesmo, em situações de caráter ordinário, à<br />

possibili<strong>da</strong>de de sofrer qualquer repressão estatal ou de se expor a<br />

qualquer reação hostil do ordenamento positivo ou de se submeter, ain<strong>da</strong>,<br />

a qualquer outra medi<strong>da</strong> de restrição jurídica, como aquela decorrente<br />

do dever de publicar resposta formula<strong>da</strong> por quem foi criticado, tal como<br />

pude decidir em julgamento monocrático proferido nesta Suprema<br />

Corte:<br />

“LIBERDADE DE IMPRENSA (CF, ART. 5º, IV, c/c o<br />

ART. 220). JORNALISTAS. DIREITO DE CRÍTICA.<br />

PRERROGATIVA CONSTITUCIONAL CUJO SUPORTE<br />

LEGITIMADOR REPOUSA NO PLURALISMO POLÍTICO (CF,<br />

ART. 1º, V), QUE REPRESENTA UM DOS FUNDAMENTOS<br />

INERENTES AO REGIME DEMOCRÁTICO. O EXERCÍCIO<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

7


RCL 14.772 MC / BA<br />

DO DIREITO DE CRÍTICA INSPIRADO POR RAZÕES DE<br />

INTERESSE PÚBLICO: UMA PRÁTICA INESTIMÁVEL DE<br />

LIBERDADE A SER PRESERVADA CONTRA ENSAIOS<br />

AUTORITÁRIOS DE REPRESSÃO PENAL. A CRÍTICA<br />

JORNALÍSTICA E AS AUTORIDADES PÚBLICAS. A ARENA<br />

POLÍTICA: UM ESPAÇO DE DISSENSO POR EXCELÊNCIA.”<br />

(Pet 3.486/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)<br />

É certo que o direito de crítica não assume caráter absoluto, eis que<br />

inexistem, em nosso sistema constitucional, como reitera<strong>da</strong>mente<br />

proclamado por esta Suprema Corte (RTJ 173/805-810, 807-808, v.g.),<br />

direitos e garantias revestidos de natureza absoluta.<br />

Ocorre que o conteúdo <strong>da</strong> matéria jornalística que motivou o<br />

ajuizamento <strong>da</strong> presente causa parece traduzir o exercício concreto, pelo<br />

profissional <strong>da</strong> imprensa, <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de expressão, cujo fun<strong>da</strong>mento<br />

reside no próprio texto <strong>da</strong> Constituição <strong>da</strong> República, que assegura, ao<br />

jornalista, o direito de expender crítica, ain<strong>da</strong> que desfavorável e mesmo<br />

que em tom contundente, contra quaisquer pessoas ou autori<strong>da</strong>des, não<br />

importando se em disputa, ou não, de man<strong>da</strong>to eletivo.<br />

Não questiono a plena legitimi<strong>da</strong>de jurídico-constitucional do direito<br />

de resposta (CF, art. 5º, inciso V), cujo exercício depende, contudo, para<br />

viabilizar-se, seja no contexto de processos eleitorais, ou não, <strong>da</strong><br />

satisfação de determinados requisitos, que tenho, no entanto, ao menos<br />

em juízo de sumária cognição, por inocorrentes na espécie, considerados,<br />

para tanto, os fun<strong>da</strong>mentos de <strong>decisão</strong>, por mim proferi<strong>da</strong>, a propósito do<br />

direito de resposta (AC 2.695-MC/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO).<br />

Sendo assim, em face <strong>da</strong>s razões expostas e em juízo de estrita<br />

delibação, defiro o pedido de medi<strong>da</strong> liminar, em ordem a suspender,<br />

cautelarmente, a eficácia do acórdão proferido pelo E. <strong>Tribunal</strong> Regional<br />

Eleitoral do Estado <strong>da</strong> Bahia no Recurso Eleitoral nº 100-<br />

-73.2012.6.05.0005, sustando-se, em consequência, a publicação <strong>da</strong> resposta<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

8


RCL 14.772 MC / BA<br />

pretendi<strong>da</strong> pelo ora interessado.<br />

Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia <strong>da</strong> presente<br />

<strong>decisão</strong> ao E. <strong>Tribunal</strong> Regional Eleitoral do Estado <strong>da</strong> Bahia (Recurso<br />

Eleitoral nº 100-73.2012.6.05.0005) e<br />

ao Juízo <strong>da</strong> 5ª Zona Eleitoral de<br />

Salvador/BA (Representação Eleitoral nº 10073.2012.6.05.0005).<br />

Publique-se.<br />

Brasília, 19 de outubro de 2012 (18h05).<br />

Ministro CELSO DE MELLO<br />

Relator<br />

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O<br />

documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 2993195.<br />

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!