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PE - 932 - Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal

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MARÇO - ANO LXXXVIII - Nº <strong>932</strong> • €1,5<br />

dar a Deus o que é <strong>de</strong> Deus<br />

a igreja e o dinheiro<br />

ISSN 1646-5482


índice<br />

4<br />

Mártires e Confessores da Fé<br />

6<br />

Mordomia - um <strong>de</strong>safio<br />

para as <strong>Igreja</strong>s do Sul da Europa<br />

8<br />

A <strong>Igreja</strong> e o Dinheiro<br />

fundamentos bíblicos<br />

9<br />

O Dízimo<br />

10<br />

Dízimo - Preceito Cristão?<br />

12<br />

<strong>Igreja</strong> do Bebedouro<br />

uma comunida<strong>de</strong> ainda rural<br />

13<br />

O metodismo em Valdozen<strong>de</strong><br />

15<br />

Dar a Deus o que é <strong>de</strong> Deus<br />

16<br />

Pondo o que possuímos<br />

ao serviço <strong>de</strong> Deus<br />

17<br />

Os nossos dons espirituais<br />

19<br />

Que ano!!!<br />

20<br />

Oikoumene<br />

22<br />

Aconteceu<br />

24<br />

Brevemente<br />

Prezados Leitores<br />

A Equipa Redactorial do <strong>Portugal</strong><br />

Evangélico lamenta, profundamente,<br />

não ter publicado qualquer número no<br />

ano <strong>de</strong> 2008.<br />

Vários factores contribuíram para que<br />

não pudéssemos ir ao vosso encontro<br />

com um conjunto <strong>de</strong> artigos e notícias<br />

que sabemos serem do vosso apreço e,<br />

pelos quais, fosteis inquirindo ao longo<br />

<strong>de</strong>ste tempo <strong>de</strong> vazio editorial.<br />

É pois com satisfação que vos<br />

apresentamos este número que retoma<br />

o ciclo regular <strong>de</strong> publicações do nosso<br />

<strong>PE</strong>, agra<strong>de</strong>cendo a paciência que<br />

souberam <strong>de</strong>monstrar para connosco.<br />

Brevemente, voltaremos com outros<br />

números sendo que, este ano,<br />

privilegiaremos os 500 anos do<br />

nascimento do reformador João Calvino<br />

e os “2000 anos” do nascimento <strong>de</strong><br />

Paulo, o Apóstolo dos gentios.<br />

Finalmente, a Equipa Redactorial<br />

reitera o <strong>de</strong>sejo da vossa colaboração<br />

através da redacção <strong>de</strong> artigos diversos<br />

sobre as temáticas que acharem<br />

interessantes e pertinentes.<br />

Que o presente ano seja, à semelhança<br />

do que esperamos para todas as outras<br />

coisas, um tempo <strong>de</strong> recuperação e <strong>de</strong><br />

novos sinais.<br />

Entida<strong>de</strong> proprietária: <strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> Metodista Portuguesa • Directora: Estela Pinto Ribeiro Lamas<br />

Se<strong>de</strong> da Redacção: <strong>Igreja</strong> Metodista, Praça Coronel Pacheco 23, 4050-453 Porto • Tel. 222007410 • Fax 22086961<br />

Tiragem: 750 exemplares • Periodicida<strong>de</strong>: Quadrimestral • Registo no I.C.S. n.º 101560/74 • ISSN 1646-5482 • Depósito Legal n.º 201/84 • N.º contribuinte: 501081976<br />

Execução Gráfica: TIPAVE, Indústria Gráfica <strong>de</strong> Aveiro Lda. – Apartado 3049, Zona Industrial da Taboeira, 3801-903 Aveiro<br />

Grafismo: Eduardo Con<strong>de</strong> e Fernando Paulo • Equipa redactorial: Alexandra Silva, Eduardo Con<strong>de</strong>, Jorge Barros, José Leite e Pedro Brito<br />

Colaboraram ainda neste número: Ireneu Cunha, Joel Cortés, Manuel Pedro Cardoso, José M. Brissos Lino, Al<strong>de</strong>ri Sousa, Eva Michel, Eunice Alves, Ana Cristina Aço, Ricardo Gondim.<br />

A equipa redactorial é responsável pela selecção do material enviado pelos leitores, mediante critérios associados à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das duas instituições.<br />

O conteúdo dos artigos publicados e assinados é da responsabilida<strong>de</strong> dos seus autores. Os artigos não assinados são da responsabilida<strong>de</strong> da equipa redactorial.<br />

O conteúdo do <strong>Portugal</strong> Evangélico po<strong>de</strong> ser reproduzido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citando a origem.<br />

Assinatura individual nacional: 4,50 euros | Assinatura individual internacional: 9,00 euros | Assinatura benemérito: a partir <strong>de</strong> 12,00 euros


editorial<br />

Uma travessia do <strong>de</strong>serto<br />

... <strong>de</strong>safiados, <strong>de</strong>safiadas a mudar<br />

Será que as igrejas estão preparadas para apoiar<br />

os seus membros em momentos <strong>de</strong> crise? Será que<br />

as igrejas estão preparadas para apoiar os seus<br />

pastores chamados a pregar num tempo em que a<br />

Palavra mais do que nunca po<strong>de</strong> ser o elemento que<br />

suaviza a dor, po<strong>de</strong> ser a consolação por excelência<br />

do ser humano em <strong>de</strong>sespero? Será que as igrejas<br />

estão preparadas para co-adjuvar os governos em<br />

planos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> em tempos difíceis? Será que<br />

as igrejas estão preparadas para apoiar as massas,<br />

em vez <strong>de</strong> um número restrito <strong>de</strong> gente sem tecto?<br />

Será que as igrejas estão preparadas para provi<strong>de</strong>nciar<br />

ministério aos sem abrigos e aos fracos, as gran<strong>de</strong>s<br />

massas que se encontram a viver em situação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sespero?<br />

Numa passagem do Evangelho, encontramos os<br />

discípulos num barco, um barco real e concreto ...<br />

também nós, quantas vezes nos encontramos<br />

metidos, metidas num mesmo barco,<br />

metaforicamente falando, isto é, em situações que,<br />

por razões idênticas – a maior parte das vezes<br />

negativas, nos congregam e nos levam a reunir<br />

esforços, esforços que nos ajudam a converter as<br />

situações negativas em positivas como consequência<br />

dum relacionamento mais estreito com o nosso<br />

próximo, com a procura <strong>de</strong> uma melhor situação que<br />

nos faz (co)mover.<br />

Falamos <strong>de</strong> um movimento físico, externo, <strong>de</strong> uma<br />

mudança <strong>de</strong> posição, na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

um alvo que, juntos e juntas, perseguimos; falamos,<br />

também <strong>de</strong> um movimento anímico, interno – uma<br />

(co)moção, uma emoção que nos leva, <strong>de</strong> forma nem<br />

sempre perceptível, a uma mudança <strong>de</strong> ser, uma<br />

mudança <strong>de</strong> estar na vida, <strong>de</strong> estar com o outro, isto<br />

é, uma mudança da forma <strong>de</strong> nos relacionarmos e da<br />

intensida<strong>de</strong> e profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse relacionamento.<br />

No <strong>de</strong>curso da história da humanida<strong>de</strong>, tempos<br />

difíceis emergem ciclicamente e, por muito estranho<br />

que pareça, é nesses tempos árduos, penosos, que<br />

geralmente se erguem figuras que se <strong>de</strong>stacam pela<br />

forma como agem e se relacionam com o seu<br />

semelhante. Entre a enorme galeria, se ergue<br />

Policarpo, neste número do <strong>Portugal</strong> Evangélico,<br />

recordado e apontado como exemplo que nos <strong>de</strong>safia<br />

a testemunhar no tempo difícil que vivemos a nossa<br />

fé, o amor <strong>de</strong> Deus que nos inspira à solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Sabemos também que muitos dos nossos semelhantes<br />

têm necessida<strong>de</strong>s profundas e especiais, sejam elas<br />

<strong>de</strong> cariz psíquico, físico, material. Neste âmbito, um<br />

outro exemplo nos é apresentado como testemunho<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação – Ytzahak Perlman que usa o pouco<br />

que tem, melhor, o que lhe resta, para fazer algo<br />

maravilhoso. Em contrapartida, aqueles e aquelas que,<br />

por alguma razão, socialmente priveligiados/as, como<br />

é o caso da Sunamita e <strong>de</strong> Lídia, <strong>de</strong>scobrem formas<br />

inteligentes <strong>de</strong> administrar os seus bens para o serviço<br />

<strong>de</strong> Deus, para benefício daqueles que não possuem o<br />

suficiente. Mulheres que, tendo sido transformadas<br />

por Deus, souberam assumir uma nova mordomia,<br />

(re)orientando a sua activida<strong>de</strong> económica ao serviço<br />

das comunida<strong>de</strong>s em que se integravam.<br />

Mas quem, melhor do que Jesus, o mo<strong>de</strong>lo por<br />

excelência, para nos guiar nesse (co)mover – o<br />

movimento em direcção ao novo alvo e a emoção <strong>de</strong><br />

nos sentirmos unidos e unidas numa mesma<br />

<strong>de</strong>terminação? Quem, melhor do que Jesus, o mo<strong>de</strong>lo<br />

por excelência, para nos guiar nesse avançar no<br />

caminho que sulcamos, nesse avançar na travessia do<br />

<strong>de</strong>serto, em que nos encontramos, consequência da<br />

crise económica que abala o mundo? Quem, melhor<br />

do que Jesus, o mo<strong>de</strong>lo por excelência, para nos<br />

manter sempre <strong>de</strong>terminados/as porque sustentados/<br />

as, alimentados/as pelo amor <strong>de</strong> Deus?<br />

Como nos é lembrado, umas páginas mais adiante<br />

– “hoje, o profundo, o imenso <strong>de</strong>safio é darmos a<br />

Deus o que é <strong>de</strong>le, em vez <strong>de</strong> nos agarrarmos àquilo<br />

que consi<strong>de</strong>ramos ‘nosso’”. Daí que, as incursões<br />

feitas na Bíblia, na procura do sentido da prática do<br />

dízimo, nos tragam a certeza <strong>de</strong> que ela po<strong>de</strong><br />

constituir-se numa “bênção na experiência do cristão<br />

em dois sentidos (…) um <strong>de</strong>safio para a melhor<br />

administração da vida financeira”.<br />

Por que razão, então, com tantos exemplos e lições,<br />

<strong>de</strong>ixarmo-nos dominar pelo <strong>de</strong>sânimo e pelo<br />

<strong>de</strong>salento pelo facto <strong>de</strong> estarmos a fazer uma nova<br />

travessia do <strong>de</strong>serto, uma nova temporada<br />

economicamente dorida? Deixemos que a voz <strong>de</strong><br />

Jesus, a voz do Mestre dos mestres, nos acor<strong>de</strong> para<br />

uma nova realida<strong>de</strong> – uma vida vivida com<br />

<strong>de</strong>terminação, (re)orientada para a mordomia daquilo<br />

que a Deus pertence e que po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>terminante<br />

para a nossa própria vida e para a vida do nosso<br />

próximo!


4|portugalevangélico<br />

mártires<br />

confessores<br />

e<br />

Talvez muitos avós cristãos tivessem principiado<br />

assim a contar aos seus netos a história e Policarpo,<br />

Bispo mártir, criado na fé <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menino e que da<br />

boca do Apóstolo João ouvira relatos inesquecíveis<br />

das palavras e dos milagres <strong>de</strong> Jesus…<br />

Na verda<strong>de</strong>, durante os três primeiros séculos da<br />

nossa era os cristãos foram vítimas <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

cruéis perseguições – <strong>de</strong>z ao todo – algumas<br />

or<strong>de</strong>nadas por imperadores cruéis e <strong>de</strong>sumanos,<br />

outras por imperadores que foram <strong>de</strong>signados<br />

como gran<strong>de</strong>s e sábios governantes por<br />

qualificados historiadores. Numa das primeiras, lá<br />

pelos meados do século II (entre 150 a 160) sofreu<br />

martírio o Bispo Policarpo, da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Esmirna,<br />

uma das cida<strong>de</strong>s mencionadas no capítulo 2 <strong>de</strong><br />

Apocalipse quando insere as 7 cartas enviadas às<br />

<strong>Igreja</strong>s da Ásia Menor. Policarpo era já um<br />

respeitável ancião <strong>de</strong> 86 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, muito<br />

amado pelo seu povo, profundamente respeitado e<br />

consi<strong>de</strong>rado em toda a região pela sua santida<strong>de</strong>,<br />

pelo seu zelo pastoral e pelo seu saber, um digno<br />

continuador da missão apostólica daquele <strong>de</strong><br />

quem, segundo Ireneu <strong>de</strong> Leão e Eusébio <strong>de</strong><br />

Cesaréia, recebera directamente o testemunho<br />

apostólico, o autor do Quarto Evangelho, S. João,<br />

que se fixara em Éfeso, cida<strong>de</strong> rival <strong>de</strong> Esmirna. A<br />

causa remota do seu martírio foi a política<br />

centralizadora dos Césares romanos que, para<br />

po<strong>de</strong>rem manter unido um império tão vasto e tão<br />

diversificado – o mais vasto da História até àquele<br />

tempo – promoveram como factor <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> o<br />

culto ao Imperador, erigindo estátuas nas cida<strong>de</strong>s<br />

principais e impondo a celebração <strong>de</strong> rituais <strong>de</strong><br />

culto juntamente com jogos, lutas <strong>de</strong> gladiadores e<br />

execuções públicas <strong>de</strong> pessoas consi<strong>de</strong>radas como<br />

criminosas, entre elas as <strong>de</strong> cristãos <strong>de</strong>stacados que<br />

se recusavam a prestar esse culto idólatra, por<br />

consi<strong>de</strong>rarem que Senhor só havia um, o Senhor<br />

Jesus Cristo.<br />

Por esta razão os cristãos foram consi<strong>de</strong>rados e<br />

tratados como ateus, pois não se associavam ao<br />

culto oficialmente <strong>de</strong>cretado, nem a outros que<br />

tinham <strong>de</strong>uses materializados em imagens, antes<br />

diziam adorar um Deus invisível, espiritual, que não<br />

habitava em casas feitas por mãos <strong>de</strong> homens…<br />

Foi muitas vezes, infelizmente, bem fácil<br />

«Durante 86 anos servi ao meu<br />

Senhor; nunca me fez qualquer mal;<br />

como po<strong>de</strong>ria eu agora blasfemar do<br />

meu Rei que me salvou? Sou cristão,<br />

e se quiseres – procônsul – conhecer<br />

a minha fé, marca uma audiência e<br />

eu te farei da mesma uma<br />

exposição!»<br />

incendiar os ânimos da populaça ignara contra<br />

estes cristãos, transformando assim inofensivos<br />

cidadãos, que os seus lí<strong>de</strong>res espirituais ensinavam<br />

a respeitar as autorida<strong>de</strong>s constituídas, em vítimas<br />

dos extremos a que po<strong>de</strong>m chegar a brutalida<strong>de</strong> e<br />

cruelda<strong>de</strong>s humanas quando ao serviço <strong>de</strong><br />

fanatismos.<br />

Foi assim que o venerando Policarpo, durante<br />

uma <strong>de</strong>ssas perseguições se refugiara numa casa <strong>de</strong><br />

campo por pressão dos seus fiéis que não o<br />

queriam per<strong>de</strong>r, acabou por ser <strong>de</strong>nunciado por um<br />

jovem servo sob ameaça <strong>de</strong> tortura, e foi preso<br />

enquanto <strong>de</strong>scansava. Uma vez informado da<br />

presença dos seus captores, dirigiu-se-lhes<br />

tranquilamente, or<strong>de</strong>nou que lhes <strong>de</strong>ssem alimento<br />

e bebida e pediu-lhes que antes <strong>de</strong> o levarem cativo<br />

daquela casa o <strong>de</strong>ixassem orar com e pelos seus.<br />

Orou longamente como era seu hábito, pedindo<br />

pelos crentes e suas igrejas, por tudo e todos, e<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ixou-se conduzir, como um cor<strong>de</strong>iro às<br />

mãos dos seus algozes, imitando Jesus. Interrogado<br />

e instado pelo procônsul romano, que insistia em<br />

que ele sacrificasse à estátua do imperador e<br />

renegasse a Cristo, respon<strong>de</strong>u, assombrando todos<br />

com a sua dignida<strong>de</strong>, segurança e postura<br />

indómita: «Durante 86 anos servi ao meu Senhor;<br />

nunca me fez qualquer mal; como po<strong>de</strong>ria eu agora<br />

blasfemar do meu Rei que me salvou? Sou cristão, e<br />

se quiseres – procônsul – conhecer a minha fé,<br />

marca uma audiência e eu te farei da mesma uma<br />

exposição!»<br />

A populaça, informada <strong>de</strong>sta sua ousadia,<br />

clamou exigindo que fosse entregue aos leões. Mas


da fé<br />

como já se esgotará o período, nos jogos, da<br />

actuação das feras, <strong>de</strong>cidiram pela sua execução<br />

pelo fogo. Entre os mais diligentes na recolha da<br />

lenha para se erguer uma boa pira na arena<br />

estavam muitos ju<strong>de</strong>us, apesar <strong>de</strong> ser dia <strong>de</strong><br />

sábado, ajudando com zelo fanático os executores.<br />

Policarpo foi atado e trespassado com um golpe <strong>de</strong><br />

espada antes <strong>de</strong> incendiarem a fogueira. Dele só<br />

restaram os ossos, que outros cristãos<br />

piedosamente recolheram e procuraram conservar,<br />

guardando respeitosa memória do seu venerando<br />

bispo que tão corajosa confissão <strong>de</strong> fé fizera<br />

perante os pagãos.<br />

De martírios como os <strong>de</strong> Policarpo, <strong>de</strong> cristãos<br />

fiéis até à morte, que foram muitos, se cunhou a<br />

conhecida frase «O sangue dos mártires é semente<br />

da fé». Ao longo <strong>de</strong> muitas gerações e em situações<br />

e circunstâncias muito diferenciadas, indómitos<br />

cristãos, <strong>de</strong> todas as confissões, têm oferecido as<br />

suas vidas no altar do supremo sacrifício, imitando<br />

o seu Senhor e Mestre. Muitos <strong>de</strong>les em protesto<br />

contra os loucos dominadores <strong>de</strong>ste mundo,<br />

quando estes com idolátricas i<strong>de</strong>ologias<br />

preten<strong>de</strong>ram assegurar o seu po<strong>de</strong>r. Senhor só há<br />

um, o Senhor Jesus Cristo, testemunhavam os<br />

cristãos primitivos. Assim, quando os cristãos eram<br />

consi<strong>de</strong>rados ateus por não pactuarem com os<br />

po<strong>de</strong>res absolutos <strong>de</strong>terminados em imporem o seu<br />

férreo jugo sobre os homens, o que para os pagãos<br />

era ateísmo, mais não era senão a fé viva num<br />

único Deus verda<strong>de</strong>iro e em seu Filho Jesus Cristo,<br />

fé que permanece, enquanto do Império restam<br />

ruínas dispersas, admiráveis como testemunho <strong>de</strong><br />

passadas gran<strong>de</strong>zas humanas para pasmo dos<br />

turistas, mas ao mesmo tempo sinais <strong>de</strong> que todo o<br />

po<strong>de</strong>r humano é efémero e <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>r absoluto<br />

há um só, que permanece eternamente, <strong>de</strong>vendo os<br />

homens para Ele erguer seus corações em adoração<br />

e louvor. Saibamos nós também, no nosso tempo,<br />

testemunhar em oposição a todos quantos<br />

preten<strong>de</strong>m escravizar os seus semelhantes ao<br />

serviço das suas hediondas ambições e projectos <strong>de</strong><br />

domínio.<br />

Bispo Emérito Ireneu Cunha<br />

Policarpo<br />

no tempo<br />

em que<br />

os cristãos<br />

eram<br />

ateus…<br />

portugalevangélico|5


mordomia<br />

um <strong>de</strong>safio para as<br />

Não é a minha intenção fazer teoria sobre um<br />

tema que me manteve ocupado mais <strong>de</strong> 20 anos<br />

ao serviço da igreja, acho que po<strong>de</strong> ser mais<br />

interessante falar a partir das realida<strong>de</strong>s vividas<br />

e especialmente dos <strong>de</strong>safios que <strong>de</strong>vemos<br />

afrontar nas nossas igrejas a sul da Europa a<br />

partir do abandono da condição <strong>de</strong> igrejas<br />

“tuteladas economicamente” pelas igrejas irmãs<br />

da Europa central durante muitos anos.<br />

São muitas as coisas que necessitamos rever,<br />

assinalarei apenas três que me parecem mais<br />

importantes:<br />

- Aproveitamento dos nossos recursos<br />

humanos e materiais.<br />

- Revisão da nossa implantação em todos os<br />

lugares e a procura activa <strong>de</strong> uma maior<br />

colaboração entre as comunida<strong>de</strong>s, chegando<br />

se necessário a uniões físicas, a acordos ou a<br />

uma união <strong>de</strong> acções e serviços.<br />

- Reflectir profundamente sobre a Mordomia<br />

Cristã, não somente no sentido tradicional<br />

marcado pelo carácter económico, mas também<br />

o compromisso <strong>de</strong> tempo, <strong>de</strong> entrega absoluta<br />

que nos exige o cumprimento da Missão.<br />

É evi<strong>de</strong>nte que toda a transformação <strong>de</strong>ve<br />

efectuar-se a partir <strong>de</strong> uma rigorosa análise da<br />

realida<strong>de</strong>, a visão <strong>de</strong> uma situação não<br />

proporciona os dados actualizados, é preciso<br />

efectuar uma análise da nossa evolução<br />

tentando também projectar no futuro o <strong>de</strong>vir<br />

da igreja no seu conjunto (<strong>Igreja</strong>s, Missões e<br />

Obras Sociais).<br />

Aproveitamento<br />

dos recursos humanos<br />

e materiais existentes<br />

É preciso partir da constatação <strong>de</strong> que a<br />

estrutura das igrejas minoritárias, que surgiram<br />

e cresceram num contexto hostil, foi viabilizada<br />

economicamente com a ajuda <strong>de</strong> outras igrejas<br />

que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio e durante muitos anos<br />

contribuíram <strong>de</strong> forma muito significativa numa<br />

perspectiva <strong>de</strong> missão. Com o passar do tempo<br />

estas alcançaram um estatuto <strong>de</strong> <strong>Igreja</strong>s<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, no seu aspecto organizacional<br />

e eclesiológico, sem no entanto eliminar a<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> carácter económico.<br />

6|portugalevangélico<br />

Entre outros aspectos, a <strong>Igreja</strong> não<br />

<strong>de</strong>senvolveu uma lógica <strong>de</strong> aproveitamento do<br />

património <strong>de</strong> que dispomos, e é preciso<br />

reconhecer que tudo está, única e<br />

exclusivamente, ao serviço da sua missão como<br />

<strong>Igreja</strong>. Esta não tem ambições materiais, nem<br />

<strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou riqueza, <strong>de</strong>ve<br />

perseguir a utopia <strong>de</strong> dispor dos meios<br />

estritamente necessários para o cumprimento<br />

dos seus fins. Devemos reconhecer que a nossa<br />

situação actual dista muito <strong>de</strong>sta utopia,<br />

possuímos muitos templos com muitas<br />

possibilida<strong>de</strong>s mas que são pouco utilizados,<br />

nalguns casos por terem espaços <strong>de</strong>masiados<br />

gran<strong>de</strong>s em relação à activida<strong>de</strong> e membros das<br />

comunida<strong>de</strong>s locais, que se traduz numas<br />

poucas <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> utilização semanal efectiva.<br />

Uma das tarefas que <strong>de</strong>vemos impulsionar é a<br />

revisão em profundida<strong>de</strong> do conceito <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> e do seu uso.<br />

Outro elemento <strong>de</strong> vital importância assenta<br />

no aproveitamento dos recursos humanos. A<br />

existência <strong>de</strong> um bom número <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s,<br />

com um reduzido número <strong>de</strong> membros,<br />

atendidas por um pastor a tempo inteiro não é<br />

sustentável a partir <strong>de</strong> qualquer ponto <strong>de</strong> vista.<br />

Pensamos sempre em razões económicas que,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente existem e condicionam as<br />

possibilida<strong>de</strong>s, mas para além <strong>de</strong>stas<br />

po<strong>de</strong>ríamos invocar razões ainda mais<br />

transcen<strong>de</strong>ntes e a mais importante é o<br />

reconhecimento do direito e da obrigatorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todo o Ministro a ocupar-se plenamente na<br />

sua missão. É certo que, no início, o trabalho<br />

não é directamente proporcional ao tamanho<br />

das congregações mas é evi<strong>de</strong>nte que, a longo<br />

prazo, se não brotarem frutos tudo resulta numa<br />

acomodação à realida<strong>de</strong> envolvente, criando-se<br />

sinergias negativas entre pastor e comunida<strong>de</strong>.<br />

Não queremos renunciar a projectos <strong>de</strong><br />

missão que sempre exigem que os meios estejam<br />

na frente das necessida<strong>de</strong>s, é o “trigo <strong>de</strong><br />

semente” que toda a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>ve semear, mas<br />

há um tempo para cada coisa e acontece que,<br />

por vezes, se não há fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos planos<br />

originais, um projecto <strong>de</strong> missão se converte<br />

num projecto <strong>de</strong> instalação.


Não queremos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>satendidas as<br />

congregações mais pequenas e, portanto, com<br />

memos recursos, contudo <strong>de</strong>vemos procurar<br />

novas fórmulas para evitar que este fenómeno<br />

não se dê na <strong>Igreja</strong> com tanta profusão. A<br />

procura <strong>de</strong> pastores que possam compatibilizar<br />

igrejas do sul da europa<br />

a sua função pastoral com um emprego secular<br />

e o programa <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> leigos po<strong>de</strong>m<br />

permitir dispor, no futuro, <strong>de</strong> recursos que<br />

respondam ao princípio da sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

As comunida<strong>de</strong>s<br />

e a sua implantação<br />

Este enunciado muito sintético preten<strong>de</strong><br />

abordar a situação estratégica <strong>de</strong> muitas das<br />

nossas comunida<strong>de</strong>s, particularmente em<br />

lugares em que as distancias são muito<br />

reduzidas, com algumas excepções, refiro-me a<br />

Madrid e Barcelona. Em ambas cida<strong>de</strong>s mas<br />

sobretudo em Barcelona, convivem<br />

comunida<strong>de</strong>s com um tamanho notável em<br />

relação à média nacional, com comunida<strong>de</strong>s<br />

com um tamanho muito reduzido que apesar<br />

da nossa estrutura sinodal e solidária tem<br />

frequentemente sérias dificulda<strong>de</strong>s para<br />

conseguir os recursos necessários para a sua<br />

atenção pastoral, para cobrir os custos correntes<br />

(mantimento <strong>de</strong> edifícios, etc.).<br />

Uma das tarefas a levar por diante é efectuar<br />

uma revisão em profundida<strong>de</strong> dos vínculos <strong>de</strong><br />

trabalho entre as <strong>Igreja</strong>s, num leque <strong>de</strong> medidas<br />

que po<strong>de</strong>m ir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a partilha <strong>de</strong> pastores, a<br />

acordos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção que resultem em<br />

programas comuns e Conselhos comuns, até à<br />

plena união das comunida<strong>de</strong>s.<br />

Isto não quer dizer que uma possível união<br />

das comunida<strong>de</strong>s signifique abandonar<br />

<strong>de</strong>finitivamente os lugares <strong>de</strong> culto e zonas<br />

geográficas da cida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> continuar a ser um<br />

terreno <strong>de</strong> missão e po<strong>de</strong>m organizar-se<br />

activida<strong>de</strong>s (cultos, acções <strong>de</strong> evangelização,<br />

activida<strong>de</strong>s culturais, obras social, etc.) que<br />

garantam a presença da <strong>Igreja</strong>. Não<br />

consi<strong>de</strong>ramos imprescindível o mantimento das<br />

proprieda<strong>de</strong>s tal como estão. Será também<br />

necessário <strong>de</strong>senvolver políticas criativas que nos<br />

permitam a<strong>de</strong>quar os meios aos fins em cada<br />

momento.<br />

Neste sentido é importante para a Comissão<br />

Executiva o <strong>de</strong>senvolvimento do “Programa <strong>de</strong><br />

Evangelização” que <strong>de</strong>finimos já há alguns anos.<br />

Tomando como base uma comunida<strong>de</strong> pequena<br />

a i<strong>de</strong>ia é <strong>de</strong>senvolver um programa <strong>de</strong><br />

crescimento, dotando-o <strong>de</strong> um Pastor ou Pastora<br />

com uma reconhecida capacida<strong>de</strong> para o<br />

trabalho <strong>de</strong> missão e evangelização para que,<br />

esta experiência, a partir <strong>de</strong> um trabalho sério e<br />

rigoroso, seja um exemplo a ser retomado<br />

noutras comunida<strong>de</strong>s.<br />

Revisão<br />

da Mordomia Cristã<br />

A constatação <strong>de</strong> que temos um grave<br />

problema <strong>de</strong> aproveitamento dos recursos<br />

obriga-nos a convidar toda a <strong>Igreja</strong> a rever a sua<br />

praxis à luz da Palavra, da História e da Teologia<br />

e somente assim seremos capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

as nossas carências, o que nos falta para alcançar<br />

uma administração responsável dos bens da<br />

<strong>Igreja</strong>. A percepção, muito estendida, <strong>de</strong> que se<br />

não alcançávamos os nossos objectivos<br />

(especialmente os económicos), outros se<br />

encarregavam <strong>de</strong> os resolver, cremos<br />

sinceramente que chegou ao fim.<br />

Um dos aspectos que é necessário assinalar é<br />

a percepção <strong>de</strong> que existe no seio da <strong>Igreja</strong> um<br />

corte generacional em relação à importância da<br />

mordomia, os membros <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong> tem um<br />

sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> maior em relação<br />

às novas gerações. A manifestação <strong>de</strong>ste<br />

fenómeno esten<strong>de</strong>-se ao assumir <strong>de</strong> ministérios<br />

no seio da <strong>Igreja</strong>, seja em relação a novas<br />

vocações no campo da pregação ou para assumir<br />

responsabilida<strong>de</strong>s na direcção das comunida<strong>de</strong>s.<br />

Iniciámos um movimento, um processo <strong>de</strong><br />

revisão da nossa realida<strong>de</strong> actual. E este é o início<br />

<strong>de</strong> um caminho que dê à nossa igreja centenária<br />

um novo impulso, uma nova maneira <strong>de</strong> encarar<br />

o testemunho. Frequentemente esquecemos que<br />

a <strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> Espanhola é reconhecida em<br />

muitos âmbitos externos como portadora <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s valores <strong>de</strong>rivados das suas raízes<br />

eclesiológicas e teológicas, da sua abertura,<br />

profundamente ecuménica, <strong>de</strong>mocrática e<br />

solidária. A nossa influência no panorama<br />

protestante espanhol não assenta em critérios<br />

quantitativos, do número <strong>de</strong> membros ou <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s, é na realida<strong>de</strong> muito maior.<br />

Devemos sentir-nos orgulhosos disso mas<br />

sobretudo <strong>de</strong>vemos comprometer-nos até ao<br />

final com a herança que recebemos daqueles<br />

que nos prece<strong>de</strong>ram.<br />

O que interessa é que eu chegue ao fim da<br />

minha carreira e cumpra o encargo que o Senhor<br />

Jesus me <strong>de</strong>u, <strong>de</strong> pregar a Boa Nova do amor <strong>de</strong><br />

Deus. Actos 20,24<br />

portugalevangélico|7<br />

Joel Cortés - Presi<strong>de</strong>nte da Comissão Executiva da <strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> Espanhola


Para sabermos como <strong>de</strong>ve situar-se a <strong>Igreja</strong> em<br />

relação ao dinheiro, sublinhemos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo o<br />

ensino <strong>de</strong> que a <strong>Igreja</strong> é o Corpo <strong>de</strong> Cristo (I Cor.<br />

12,27) e o seu modo <strong>de</strong> pensar e agir têm <strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>terminados pelo modo <strong>de</strong> pensar e agir do<br />

Senhor, conforme nos é revelado nas Escrituras.<br />

Falar da atitu<strong>de</strong> que a <strong>Igreja</strong> ou os cristãos<br />

individualmente <strong>de</strong>vem ter em relação ao dinheiro é<br />

falar da atitu<strong>de</strong> que Cristo tem nos Evangelhos em<br />

relação ao mesmo assunto, porque ser <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong><br />

Cristo é ser o povo que segue a Cristo (João<br />

10,4,27), implicando o seguimento a i<strong>de</strong>ia da<br />

imitação (I Cor. 11,1; Ef.5,1; Fil. 2, 5). Ora, as<br />

Escrituras falam-nos do Cristo que nasceu e viveu<br />

pobre, que anunciou o Evangelho aos pobres<br />

(Mateus 11,5), e proclamou a pobreza como bemaventurança<br />

(Mateus 5, 3; Lucas 6,26). O leitor da<br />

Bíblia não tem dificulda<strong>de</strong> em perceber que estava<br />

certa a Teologia da Libertação quando falava da<br />

“opção <strong>de</strong> Cristo pelos pobres” e da consequente<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a <strong>Igreja</strong> não seja apenas uma<br />

<strong>Igreja</strong> com os pobres ou para os pobres, mas <strong>de</strong> ser<br />

a <strong>Igreja</strong> pobre e dos pobres.<br />

a igreja e o dinheiro:<br />

fundamentos bíblicos<br />

O dinheiro é necessário<br />

O dinheiro é uma invenção inteligente do<br />

homem para a organização das socieda<strong>de</strong>s e em<br />

princípio não há nenhum erro em utilizá-lo. O que é<br />

con<strong>de</strong>nado é o “amor do dinheiro”, a ganância, (I<br />

Ped. 5,2; I Tim. 6,10), não o dinheiro em si mesmo.<br />

Até no grupo inicial formado por Jesus e seus<br />

apóstolos houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar dinheiro (João<br />

12, 6), certamente obtido através <strong>de</strong> ofertas. A<br />

<strong>Igreja</strong> primitiva <strong>de</strong> Jerusalém é <strong>de</strong>scrita como uma<br />

comunida<strong>de</strong> que conheceu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer<br />

dinheiro com a venda <strong>de</strong> “proprieda<strong>de</strong>s e fazendas”<br />

para socorrer os mais necessitados (Actos 2,45;6,7).<br />

E quando os problemas materiais da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong><br />

Jerusalém aumentaram com a fome que sobreveio,<br />

o apóstolo Paulo levantou entre os cristãos da Ásia<br />

Menor uma colecta a favor dos “santos <strong>de</strong><br />

Jerusalém” (I Cor. 16,1ss), usando-se aqui “santos”<br />

no sentido <strong>de</strong> “cristãos”, “membros da<br />

comunida<strong>de</strong>”, mas obviamente era a “santos”<br />

pobres que o dinheiro se <strong>de</strong>stinava, e pobres eram<br />

nessa altura, muito provavelmente, a quase<br />

totalida<strong>de</strong> dos cristãos, incluindo os apóstolos. Por<br />

esses dias Pedro disse a um coxo mendigo: “Não<br />

tenho prata nem ouro” (Actos 3,6). Uma <strong>Igreja</strong><br />

pobre diante do homem pobre, numa perspectiva<br />

do nosso tempo da economia <strong>de</strong> especulação<br />

financeira em que a falta <strong>de</strong> dinheiro é vista como a<br />

8|portugalevangélico<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir, o que não aconteceria se a<br />

<strong>Igreja</strong>, como Pedro, não tivesse prata nem ouro mas<br />

tivesse a força para dizer ao que coxeia “Levanta-te<br />

e anda!” – e não forçosamente ao coxo fisicamente<br />

mas ao homem que caminha inseguro e sem<br />

esperança na estrada da vida.<br />

Embaixadores do Crucificado<br />

Cada cristão, a <strong>Igreja</strong> como um povo, <strong>de</strong>vem ter<br />

bem presente que o dinheiro que têm está sob esta<br />

palavra vinda pelo profeta Ageu: “Minha é a prata,<br />

e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos” (Ag.<br />

2,8). O modo como usamos o dinheiro que chega a<br />

nós tem <strong>de</strong> ter em conta que não somos, <strong>Igreja</strong> e<br />

crente, senão mordomos, responsabilizados pelo<br />

património d’Aquele a Quem tudo pertence (Salmo<br />

24,1). O Senhor não se <strong>de</strong>leita com sacrifícios nem<br />

holocaustos mas quer que an<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> coração<br />

quebrantado e contrito e que pratiquemos a justiça<br />

(Salmo 51,16; Amos 5,24). Nesta perspectiva,<br />

percebe-se, por exemplo, que não se trata <strong>de</strong> o<br />

cristão contribuir com <strong>de</strong>z por cento dos seus<br />

proventos para a sua <strong>Igreja</strong> (prática do Antigo Tes-<br />

tamento), mas <strong>de</strong> se oferecer a si mesmo, oferecer<br />

tudo quanto tem e é. Mas isto implica também,<br />

naturalmente, que as <strong>Igreja</strong>s <strong>de</strong>vem ser altamente<br />

responsáveis no modo como administram a “prata<br />

e o ouro” que lhes é entregue. Tem sido<br />

escandaloso saber pelos meios <strong>de</strong> comunicação<br />

como <strong>Igreja</strong>s mo<strong>de</strong>rnas espoliam ingénuos com<br />

dízimos e ofertas generosas para que os seus<br />

pastores vivam em casas ricas, transportando-se em<br />

carros <strong>de</strong> luxo e usufruindo salários <strong>de</strong> executivos. O<br />

chefe <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>sse tipo apresentou-se para<br />

dirigir num culto vestindo um fato caríssimo, <strong>de</strong><br />

alta marca. Como alguém manifestasse surpresa,<br />

explicou: “Não se admirem <strong>de</strong> me verem vestido<br />

como uma alta personalida<strong>de</strong>, pois eu sou um<br />

embaixador do Deus Todo-Po<strong>de</strong>roso!”. O problema<br />

é que o Senhor Todo-Po<strong>de</strong>roso veio a nós num<br />

homem comum, pobre e fraco, que disse:<br />

“Qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será<br />

servo <strong>de</strong> todos. Porque o Filho do homem não veio<br />

para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em<br />

resgate <strong>de</strong> muitos” (Marcos 10,44-45). É <strong>de</strong> Cristo<br />

crucificado que os cristãos são embaixadores<br />

(Efésios 6,20). E é só nessa perspectiva que a <strong>Igreja</strong><br />

e os cristãos po<strong>de</strong>m ser luz num mundo em que<br />

Mamon é senhor.<br />

Pastor Manuel Pedro Cardoso


“A última parte da pessoa que se converte a<br />

Deus é a carteira”. Esta conhecida expressão<br />

simboliza a dificulda<strong>de</strong> que alguns cristãos têm<br />

em lidar com as suas finanças no reino <strong>de</strong> Deus.<br />

O dízimo é prática corrente na generalida<strong>de</strong><br />

das igrejas evangélicas, e fundamenta-se em<br />

razões bíblicas, teológicas e <strong>de</strong> carácter prático.<br />

Bases bíblicas<br />

O dízimo era observado entre os povos<br />

antigos, existiu antes da Lei <strong>de</strong> Moisés (Abraão e<br />

Jacob), foi estabelecido e confirmado na Lei, mas<br />

também ao longo <strong>de</strong> todo o Antigo Testamento<br />

foi praticado, como no tempo <strong>de</strong> Amós (4:4), no<br />

reinado <strong>de</strong> Ezequias (2 Cr 31:2-5), nos dias <strong>de</strong><br />

Neemias (Nm 10:37,38; 12:44; 13:5, 12), e com<br />

Malaquias (Ml 3:8-10).<br />

No Novo Testamento, Jesus aprovou a prática<br />

do Dízimo, tanto <strong>de</strong> forma expressa (Mt 23:23),<br />

como tácita (Lc 11:42; 18:12). O dízimo é<br />

também legitimado pelo autor da Carta aos<br />

Hebreus, que apresenta duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />

sacerdócio, a <strong>de</strong> Levi e a <strong>de</strong> Melquise<strong>de</strong>que. Levi<br />

recebeu dízimos do povo, <strong>de</strong> acordo com a lei <strong>de</strong><br />

Moisés, e Melquise<strong>de</strong>que recebeu-os <strong>de</strong> Abraão,<br />

em tempos anteriores à Lei. Se o dízimo como<br />

instituição não se inicia com a lei, mas lhe é anterior,<br />

também não termina com a vigência <strong>de</strong>la.<br />

Sendo Melquise<strong>de</strong>que o símbolo do sacerdócio<br />

eterno <strong>de</strong> Cristo, e tendo ele recebido dízimos,<br />

faz sentido que a igreja os receba.<br />

O apóstolo Paulo também lhe faz referência<br />

implícita (1 Co 9:13-14).<br />

Princípios do reino<br />

Muitos dos princípios do reino <strong>de</strong> Deus são<br />

opostos aos princípios e valores do mundo. Se<br />

tenho <strong>de</strong>z e dou cinco, restam-me cinco. Mas a<br />

matemática do reino é diferente. Quando se dá a<br />

Deus Ele age sobrenaturalmente <strong>de</strong> modo a que<br />

nunca nada nos falte. Com Deus o menos tornase<br />

mais, e sem Deus acontece o contrário.<br />

O cristão sabe que nada é <strong>de</strong>le, tudo pertence<br />

a Deus. Sendo assim, o dízimo funciona como<br />

Pastor Brissos Lino - <strong>Igreja</strong> do Jubileu, Setúbal<br />

o<br />

dízimo<br />

prova <strong>de</strong> fé. Quando <strong>de</strong>volvemos a Deus <strong>de</strong>z por<br />

cento do que <strong>de</strong>le recebemos estamos a colocálo<br />

à prova. Foi Ele que disse: “Fazei prova <strong>de</strong><br />

mim”. Este é o único momento em que temos o<br />

direito <strong>de</strong> colocar Deus à prova.<br />

Reponsabilida<strong>de</strong><br />

dos membros<br />

A igreja é o conjunto dos fiéis, não o edifício.<br />

A responsabilida<strong>de</strong> pelo sustento da obra do<br />

Senhor pertence aos membros <strong>de</strong> cada igreja local.<br />

A prática do dízimo, além das ofertas<br />

alçadas, está relacionada com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

suprir as necessida<strong>de</strong>s financeiras da casa <strong>de</strong><br />

Deus. Contribuir para o sustento do centro <strong>de</strong><br />

adoração é mais do que um <strong>de</strong>ver do cristão, é<br />

um verda<strong>de</strong>iro privilégio, pois torna os fiéis<br />

participantes da Obra, verda<strong>de</strong>iros cooperadores<br />

<strong>de</strong> Deus.<br />

A lei da sementeira<br />

e da colheita<br />

Se alguém quer ser abençoado na sua vida<br />

financeira tem que semear no reino. Se semear<br />

amor colhe amor, se semear perdão, colhe<br />

perdão, se semear finanças colhe finanças.<br />

Ninguém colhe batatas se semear cebolas.<br />

Colhemos da mesma espécie do que semeamos.<br />

Mas este princípio não funciona apenas no<br />

tocante à qualida<strong>de</strong> da semente, mas também à<br />

quantida<strong>de</strong>. Quem semeia muito colherá muito,<br />

quem semeia pouco, pouco há <strong>de</strong> colher.<br />

Por muitas dificulda<strong>de</strong>s que o agricultor passe<br />

não cairá no erro grosseiro <strong>de</strong> comer as<br />

sementes. Ele sabe que precisa <strong>de</strong>las para as<br />

lançar à terra, pois são a garantia <strong>de</strong> que virá a<br />

colher, no seu tempo, o que semear.<br />

Mas é exactamente isto que acontece a muitos<br />

cristãos. Em vez <strong>de</strong> semear a semente que Deus<br />

lhes coloca na mão, comem-na… Quando chega<br />

a hora da sementeira não há semente para<br />

lançar à terra. E não havendo semente não<br />

haverá colheita. Pense nisso.<br />

portugalevangélico|9


A prática do dízimo é um tema controverso nas<br />

igrejas evangélicas, tendo, <strong>de</strong> um lado, <strong>de</strong>fensores<br />

apaixonados e, do outro, críticos ardorosos. Para<br />

alguns, é uma espécie <strong>de</strong> legalismo judaico preservado<br />

na igreja cristã. Para outros, trata-se <strong>de</strong> uma norma<br />

divina que tem valor permanente para o povo <strong>de</strong> Deus,<br />

na antiga e na nova dispensação. Os críticos do dízimo<br />

afirmam que a sua obrigatorieda<strong>de</strong> é contrária ao<br />

espírito do evangelho, pois Cristo liberta as pessoas<br />

das imposições da lei. Os <strong>de</strong>fensores alegam que essa<br />

posição é interesseira, porque permite às pessoas<br />

eximirem-se da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentar<br />

generosamente a igreja e as suas activida<strong>de</strong>s. O gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safio nesta área é encontrar o equilíbrio entre estas<br />

posições divergentes. O que está em jogo é uma<br />

questão mais ampla - o conceito da mordomia cristã,<br />

do uso que os cristãos fazem dos seus recursos e bens.<br />

Os dados bíblicos<br />

O dízimo (do latim <strong>de</strong>cimu) po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como<br />

a prática <strong>de</strong> dar a décima parte <strong>de</strong> todos os frutos e<br />

rendimentos para o sustento das instituições religiosas<br />

e dos seus ministros. Trata-se <strong>de</strong> um costume antigo<br />

e generalizado, sendo encontrado tanto no judaísmo<br />

como nas culturas vizinhas do Oriente Médio. Esta<br />

prática é claramente estabelecida no Antigo Testamento,<br />

sendo até mesmo anterior à lei <strong>de</strong> Moisés (Gn<br />

14.20; 28.22). O dízimo era <strong>de</strong>vido primariamente a<br />

Deus, como expressão <strong>de</strong> gratidão pelas suas bênçãos<br />

e como sinal <strong>de</strong> consagração. Mais tar<strong>de</strong>, tornou-se<br />

um preceito formal na vida religiosa dos hebreus (Lv<br />

27.30-32), sendo <strong>de</strong>stinado especificamente para o<br />

sustento dos levitas (Nm 18.21-24).<br />

No Deuteronómio, está associado a uma refeição<br />

comunitária festiva e ao auxílio aos necessitados<br />

(12.17-19; 14.22-29; 26.12-14). Às vezes era dado<br />

liberalmente (2Cr 31.5-6; Ne 10.37-39; 12.44) noutras<br />

ocasiões retido, fraudulentamente (MI3.8-1O).<br />

Nos escritos do Novo Testamento, o dizimo é<br />

mencionado explicitamente apenas nos Evangelhos e<br />

na epístola aos Hebreus, sempre em relação aos<br />

ju<strong>de</strong>us. Jesus aprovou a prática, mas censurou-a<br />

quando se tornava uma expressão <strong>de</strong> frio legalismo<br />

(Mt 23.23; Lc 11.42; 18.12; ver Am 4.4). Em Hebreus,<br />

é mencionado em conexão com Melquise<strong>de</strong>que, uma<br />

figura do sacerdócio <strong>de</strong> Cristo (7.1-10). As epístolas<br />

10|portugalevangélico<br />

Paulinas falam muito sobre ofertas para a<br />

comunida<strong>de</strong>, mas a sua ênfase maior é sobre as<br />

contribuições voluntárias (2Co 9.6-7). O Novo Testamento<br />

não fornece muitas informações sobre o<br />

sustento do trabalho regular da igreja. Todavia, as<br />

informações disponíveis <strong>de</strong>stacam atitu<strong>de</strong>s como<br />

gratidão, fé, amor e generosida<strong>de</strong> como motivações<br />

centrais da mordomia cristã.<br />

O dízimo na história<br />

No início da igreja, a informalida<strong>de</strong> e a simplicida<strong>de</strong><br />

das estruturas não exigiam muitos recursos para a<br />

sua manutenção. Não havia templos nem ministério<br />

a tempo integral (muitos lí<strong>de</strong>res eram “fazedores <strong>de</strong><br />

tendas”, como Paulo). A maior carência estava na área<br />

social ou beneficente. Daí a gran<strong>de</strong> ênfase nas ofertas,<br />

principalmente em situações <strong>de</strong> particular necessida<strong>de</strong><br />

(ver l Co 16.1-4; 2Co 8.1-9.15). No entanto, o princípio<br />

<strong>de</strong> que a contribuição <strong>de</strong>via ser marcada pelo<br />

<strong>de</strong>sprendimento e liberalida<strong>de</strong> manteve-se, como se<br />

po<strong>de</strong> ver na Didaquê, um manual eclesiástico do 2°<br />

século: “Tome uma parte do seu dinheiro, da sua<br />

roupa e <strong>de</strong> todas as suas posses, segundo lhe parecer<br />

oportuno, e os dê conforme o preceito” (13.7). No<br />

final do mesmo século, Ireneu <strong>de</strong> Lyon referiu-se aos<br />

cristãos como aqueles que “separam todas as suas<br />

posses para os propósitos do Senhor, entregando <strong>de</strong><br />

modo alegre e espontâneo as porções não menos<br />

valiosas da sua proprieda<strong>de</strong>” (Contra as heresias IVI8).<br />

Com o passar do tempo e a crescente<br />

institucionalização da igreja, houve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma forma padronizada <strong>de</strong> contribuição. Assim,<br />

recorreu-se ao prece<strong>de</strong>nte bíblico já conhecido e<br />

testado durante muito tempo - o dízimo. Ao longo<br />

dos séculos, ele tornou-se obrigatório - uma espécie<br />

<strong>de</strong> imposto eclesiástico - e na época <strong>de</strong> Carlos Magno<br />

passou a integrar a lei civil.<br />

No final da Ida<strong>de</strong> Média surgiram abusos quando<br />

os dízimos, em certos casos, se tornaram um<br />

instrumento para a compra <strong>de</strong> cargos eclesiásticos<br />

(simonia). Houve controvérsias quando as pessoas<br />

procuravam fugir ao pagamento dos dízimos<br />

enquanto outras tentavam apropriar-se <strong>de</strong>sses<br />

rendimentos para si mesmas. Os países que tinham<br />

igrejas estatais recolhiam os dízimos dos fiéis em troca<br />

do sustento da igreja e do pagamento dos salários


dos ministros (côngrua). No Brasil colonial, em virtu<strong>de</strong><br />

do sistema conhecido como “padroado”, o dízimo<br />

tornou-se o principal tributo arrecadado pelo estado<br />

português.<br />

Valida<strong>de</strong> actual<br />

A questão que se coloca é a seguinte - o dízimo é<br />

valido hoje em dia para os cristãos? É uma forma<br />

legítima <strong>de</strong> contribuição cristã? São muitos os factores<br />

a serem consi<strong>de</strong>rados na procura <strong>de</strong> uma resposta.<br />

Em primeiro lugar, é preciso atentar para o ensino<br />

bíblico global sobre o lugar que os bens <strong>de</strong>vem ter na<br />

vida do crente. Deus é o senhor e proprietário supremo<br />

<strong>de</strong> todas as coisas. Os seres humanos são mordomos,<br />

ou seja, administradores dos recursos e dádivas <strong>de</strong><br />

Deus. Aqueles que realmente o amam, que são gratos<br />

benefícios usufruídos plenamente na nova aliança.<br />

Dai, <strong>de</strong>corre o seguinte raciocínio: se Deus prescreveu<br />

o dízimo para o antigo povo <strong>de</strong> Israel, seria <strong>de</strong> se<br />

esperar que ele requeresse menos dos cristãos,<br />

<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> maiores dádivas? Portanto, muitos<br />

estudiosos concluem que o dízimo <strong>de</strong>ve ser, não o<br />

teto da contribuição cristã, mas o piso, o mínimo, o<br />

ponto <strong>de</strong> partida.<br />

Conclusão<br />

A questão do dízimo é tão difícil para muitos<br />

cristãos porque toca numa parte sensível da sua vida<br />

- o bolso. Parece excessivo entregar um décimo dos<br />

rendimentos a Deus, para a causa <strong>de</strong> Cristo. Nem<br />

todos têm o <strong>de</strong>sprendimento e a generosida<strong>de</strong> da<br />

pobre viúva elogiada por Jesus (Mc 12.41-44). Todavia,<br />

Dízimo preceito cristão?<br />

pelas suas bênçãos e querem servi-lo, sentir-se-ão<br />

movidos intimamente a contribuir para causas que<br />

engran<strong>de</strong>cem o seu nome.<br />

A segunda consi<strong>de</strong>ração é pragmática. A igreja é<br />

uma associação voluntária. Ela não tem outra fonte<br />

estável <strong>de</strong> sustento a não ser as contribuições dos<br />

seus membros. As ofertas ocasionais são,<br />

comprovadamente, insuficientes para aten<strong>de</strong>r a todas<br />

as necessida<strong>de</strong>s financeiras da comunida<strong>de</strong> cristã.<br />

Torna-se necessário um método <strong>de</strong> contribuição que<br />

seja regular, generoso e proporcional aos recursos dos<br />

fiéis.<br />

Outro argumento baseia-se numa comparação<br />

entre Israel e a igreja. Os cristãos enten<strong>de</strong>m que têm<br />

recebido bênçãos muito maiores que a antiga nação<br />

judaica. O que para esta estava na forma <strong>de</strong><br />

promessas, para os cristãos são realida<strong>de</strong>s concretas,<br />

presentes.<br />

A vinda do Messias, a sua obra <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção, os<br />

seus ensinos e dos seus apóstolos (o Novo Testamento),<br />

a dádiva do Espírito Santo e a revelação mais<br />

plena da vida futura são exemplos <strong>de</strong>sses gran<strong>de</strong>s<br />

o dízimo po<strong>de</strong> ser uma bênção na experiência do<br />

cristão em dois sentidos. Primeiro, como um <strong>de</strong>safio<br />

para a sua vida espiritual. Dar o dízimo pressupõe<br />

uma relação <strong>de</strong> amor, gratidão e compromisso com<br />

Deus e com as pessoas que serão beneficiadas com<br />

essa contribuição. Em segundo lugar, é também um<br />

<strong>de</strong>safio para a melhor administração da vida<br />

financeira. Muitas pessoas têm dificulda<strong>de</strong> em<br />

contribuir para a igreja e suas causas porque são<br />

financeiramente <strong>de</strong>sorganizadas, gastam mais do que<br />

po<strong>de</strong>m, não têm sentido <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s. A prática do<br />

dízimo produz uma disciplina que beneficia outras<br />

áreas da vida. Para aqueles que querem trilhar este<br />

caminho, a sugestão é que comecem a aumentar<br />

gradativamente a sua contribuição, até atingir o<br />

padrão do Antigo Testamento... e então ir além <strong>de</strong>le.<br />

Al<strong>de</strong>ri Souza <strong>de</strong> Matos<br />

Doutor em história da igreja pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boston<br />

portugalevangélico|11


do<br />

igreja<br />

bebedouro<br />

uma comunida<strong>de</strong> ainda rural<br />

Como apresentar resumidamente uma<br />

comunida<strong>de</strong> que, incluindo as suas mais antigas<br />

raízes, teve início na segunda década do século<br />

passado? Ocorrem-me três modos <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

a esta questão: a) remeter o leitor para o<br />

pequeno livro “Bebedouro – o Protestantismo do<br />

mundo rural” da autoria <strong>de</strong> Manuel P. Cardoso,<br />

pastor da congregação durante alguns anos; b)<br />

evitar a tentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver cronologicamente<br />

os factos mais relevantes que marcaram a<br />

história <strong>de</strong>sta congregação e c) falar do que me<br />

foi dado viver nos 30 anos em que a sirvo como<br />

pastor. Como já <strong>de</strong>vem ter compreendido, é este<br />

o caminho que seguirei, não po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

mencionar o facto <strong>de</strong> que a realida<strong>de</strong> que hoje<br />

vivemos se <strong>de</strong>ve à <strong>de</strong>dicação e empenho<br />

missionário <strong>de</strong> dois leigos que daqui partiram<br />

para o Brasil como emigrantes e lá <strong>de</strong>ixaram o<br />

“romanismo” trazendo <strong>de</strong> lá o “protestantismo”.<br />

Com os seus setenta anos <strong>de</strong> existência,<br />

localizada no concelho <strong>de</strong> Montemor-o-Velho, no<br />

distrito <strong>de</strong> Coimbra, a comunida<strong>de</strong> actual é a<br />

continuadora fiel dos seus pioneiros, sendo<br />

notável o número <strong>de</strong> membros <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

directos das primeiras famílias convertidas:<br />

filhos, netos e bisnetos! É certo que muitas<br />

coisas mudaram e obrigaram a comunida<strong>de</strong> a<br />

encontrar novas respostas para os novos<br />

<strong>de</strong>safios. A socieda<strong>de</strong> rural está longe <strong>de</strong> ser a<br />

mesma do passado: o fluxo migratório, a<br />

mecanização e as novas técnicas <strong>de</strong> produção e a<br />

fuga das novas gerações para as zonas urbanas e<br />

industriais tiveram, e ainda têm, reflexos directos<br />

na vida eclesial. Com a ausência dos muitos que<br />

saem diariamente para os seus empregos, sem a<br />

presença da camada jovem, estudando nas<br />

cida<strong>de</strong>s limítrofes, a vida paroquial concentra-se<br />

muito no fim-<strong>de</strong>-semana, particularmente aos<br />

Domingos.<br />

Para além da sua função primordial, ser<br />

testemunha e anunciadora da Vida que só existe<br />

plenamente em Cristo ressuscitado, a família<br />

protestante tem uma inserção social reconhecida<br />

e para tal muito contribuíram várias das suas<br />

iniciativas tanto do passado como do presente:<br />

12|portugalevangélico<br />

encabeçou o movimento da instalação da escola<br />

primária (que começou a funcionar no seu salão<br />

social), <strong>de</strong>u origem, com 20 dos seus membros,<br />

à criação <strong>de</strong> uma cooperativa agrícola (com mais<br />

<strong>de</strong> um milhar <strong>de</strong> sócios na actualida<strong>de</strong>), com um<br />

programa <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudos levou muitos<br />

jovens a concluírem os seus estudos<br />

universitários e politécnicos, continua<br />

oferecendo, em colaboração com instâncias<br />

oficiais, cursos <strong>de</strong> formação e reciclagem<br />

profissional, o seu coral tem actuado em quase<br />

todas as freguesias do concelho, os cursos <strong>de</strong><br />

música, as celebrações ecuménicas com as várias<br />

paróquias católicas romanas, etc.. Talvez isto, entre<br />

outras coisas, esteja na base da <strong>de</strong>cisão<br />

tomada pela Câmara Municipal e Junta <strong>de</strong><br />

Freguesia <strong>de</strong> atribuírem o nome <strong>de</strong> “Rua da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> <strong>Presbiteriana</strong>”, à mais<br />

importante via <strong>de</strong> ligação (a antiga “Estrada Principal”)<br />

do lugar e on<strong>de</strong> se encontra implantado o<br />

templo.<br />

A vida paroquial é bastante concorrida e<br />

animada, pois <strong>de</strong> entre a centena <strong>de</strong> pessoas que<br />

em média assistem aos cultos, existe um bom<br />

número <strong>de</strong> crianças e jovens. Os diferentes<br />

<strong>de</strong>partamentos – Escola Dominical, Mulheres,<br />

Jovens, Comissão <strong>de</strong> Obras, Junta Diaconal,<br />

Conselho da Comunida<strong>de</strong> – têm vida própria,<br />

mas todos concorrem para um fim comum: o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e bem-estar da família eclesial.<br />

A muitos <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>partamentos e grupos <strong>de</strong>vemse<br />

a organização <strong>de</strong> momentos festivos da vida<br />

comunitária: a Festa das Colheitas, a Passagem<br />

do Ano, o Dia da Mãe/Família, os almoços<br />

comunitários, os encontros sociais e recreativos.<br />

Enquanto paróquia rural, que ainda é, mas<br />

per<strong>de</strong>ndo cada vez mais esta i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, o<br />

Bebedouro <strong>de</strong>bate-se com o problema do<br />

envelhecimento dos seus membros dado o<br />

números <strong>de</strong> jovens e casais jovens partirem para<br />

o estrangeiro ou viverem em outros lugares do<br />

país. E são muitos os que já cá não estão... E são<br />

muitos os que se preparam para partir... E são<br />

cada vez menos, e mais idosos, os que ficam...<br />

Pastor José Manuel Leite


o<br />

metodismo<br />

em<br />

valdozen<strong>de</strong><br />

Em 1970-1971, uma onda <strong>de</strong> insatisfação agitou<br />

um local da província mais católica <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> - o<br />

Minho. Foi no lugar do Assento, o maior da<br />

freguesia <strong>de</strong> Valdozen<strong>de</strong>, perto da barragem da<br />

Caniçada na margem norte. E o assunto tinha<br />

fortes motivos religiosos. No dizer <strong>de</strong> alguém <strong>de</strong>sta<br />

al<strong>de</strong>ia, com cerca <strong>de</strong> trezentos habitantes, ‘não<br />

po<strong>de</strong>mos viver sem Deus’!<br />

Sem Deus não estavam, mas ficaram sem padre<br />

e sem serviços religiosos… Escrever em poucas<br />

linhas o que se passou, - e já lá vão trinta e oito<br />

anos - é tarefa quase impossível. Foram escritos<br />

muitos artigos, sob vários ângulos e opiniões, em<br />

diversos jornais e revistas, e pelo menos uma tese<br />

<strong>de</strong> Mestrado (Profª. Rosa Maria Barros Lopes).<br />

Realmente, o chamado ‘caso <strong>de</strong> Valdozen<strong>de</strong>’<br />

tornou-se uma referência incontornável. Tem<br />

aspectos principalmente eclesiais e espirituais, mas<br />

também sociológicos e culturais, e até políticos.<br />

Lembremos que faltavam mais <strong>de</strong> três anos para o<br />

25 <strong>de</strong> Abril. Al<strong>de</strong>ia sem electricida<strong>de</strong>, e que ficara<br />

sem bons campos, inundados pela barragem, a<br />

dois quilómetros, já há muito construída! E havia<br />

emigrantes em França e no Canadá, gente com<br />

novos horizontes, já tendo ouvido falar dos<br />

‘evangélicos’.<br />

O povo sentiu-se abandonado e <strong>de</strong>sprezado. O<br />

padre queria que todos (tendo igreja na al<strong>de</strong>ia)<br />

passassem a ir a outra igreja, andando vários<br />

quilómetros a pé, mesmo os idosos e no Inverno…<br />

Isto, tendo o padre carro e casa nesta al<strong>de</strong>ia! O<br />

povo tentou resolver a bem, e fez tentativas <strong>de</strong><br />

resolução, incluindo muitas diligências legais,<br />

percorrendo todos os escalões da hierarquia da<br />

<strong>Igreja</strong> Católica. Respostas sempre negativas ou<br />

evasivas, e o tempo arrastou-se <strong>de</strong>mais. Foi tomada<br />

uma <strong>de</strong>cisão, nesta terra com fortes hábitos<br />

comunitários.<br />

Em 7 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1971, um grupo <strong>de</strong><br />

representantes <strong>de</strong> Valdozen<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocou-se a Braga,<br />

e contactou pela primeira vez a <strong>Igreja</strong> Metodista. O<br />

portugalevangélico|13


culto <strong>de</strong>sse dia era dirigido por um pregador leigo<br />

do Porto, que <strong>de</strong>u o andamento <strong>de</strong>vido ao assunto.<br />

Assim, o contacto seguinte foi já com o Pastor Abel<br />

Lopes e foi resolvido visitar a al<strong>de</strong>ia para<br />

informação mais directa, e no local, consultando<br />

todo o povo. A <strong>Igreja</strong> Metodista não pretendia<br />

fazer proselitismo, mas simplesmente preencher<br />

uma lacuna espiritual, usando <strong>de</strong> prudência, para<br />

garantir uma continuida<strong>de</strong> sólida.<br />

Os primeiros cultos foram ao ar livre, na ‘eira do<br />

penedo’, mas pouco tempo <strong>de</strong>pois passaram a ser<br />

num palheiro, adaptado a capela, com uma cruz<br />

rústica e pequena pia baptismal <strong>de</strong> granito. Mas a<br />

compreensão do Presi<strong>de</strong>nte da Câmara <strong>de</strong> Terras do<br />

Bouro e inesperadas facilida<strong>de</strong>s 1 do Ministro do<br />

Interior permitiram que ainda antes <strong>de</strong> terminar<br />

1971 fosse lançada a ‘pedra angular’ do novo<br />

templo em local bem situado, sendo a inauguração<br />

poucos meses <strong>de</strong>pois!<br />

Começaram a ser mobilizadas muitas boasvonta<strong>de</strong>s,<br />

quer <strong>de</strong> igrejas Metodistas, quer <strong>de</strong><br />

pessoas individuais, sendo justo não esquecer que<br />

no primeiro ano houve também apoio <strong>de</strong> jovens da<br />

<strong>Igreja</strong> Lusitana, alguns <strong>de</strong>les fortemente<br />

politizados. Depois da situação ser avaliada mais<br />

em pormenor, uma das priorida<strong>de</strong>s foi o trabalho<br />

com as crianças. Começou-se por um<br />

acampamento, junto à praia da Madalena (ver o<br />

mar pela primeira vez). E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> construído um<br />

salão nas traseiras da igreja, foi iniciada uma<br />

creche/infantário. E foi melhorada a alimentação e<br />

a saú<strong>de</strong> infantil, nunca mais havendo funerais <strong>de</strong><br />

crianças. A D. Arminda Gonçalves Neves foi<br />

elemento primordial no apoio ao marido, o Pastor<br />

Abel Lopes.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, foi colocado um gran<strong>de</strong> préfabricado,<br />

e as condições <strong>de</strong> trabalho melhoraram.<br />

Passou também a haver um posto clínico, com sala<br />

<strong>de</strong> consultas e <strong>de</strong> curativos (Dr. João David) e um<br />

consultório <strong>de</strong>ntário (Dr. Anjos Pereira). Começou a<br />

ser possível alojar visitantes e voluntários.<br />

Conseguiu-se <strong>de</strong>senvolver mais do que se esperava<br />

inicialmente! Houve ajudas financeiras da Suíça -<br />

uma igreja <strong>de</strong> Zurique, outra <strong>de</strong> Genebra. E da<br />

<strong>Igreja</strong> Alemã <strong>de</strong> Ba<strong>de</strong>n, da <strong>Igreja</strong> Reformada da<br />

Holanda e <strong>de</strong> uma organização do Canadá. Além <strong>de</strong><br />

donativos locais e nacionais. Entretanto, foi<br />

assinada cooperação com a Segurança Social. O<br />

14|portugalevangélico<br />

trabalho melhorou muito - incluindo o<br />

aconselhamento pastoral - quando o Pt. Abel Lopes<br />

passou a residir lá.<br />

Realizaram-se numerosos campos <strong>de</strong> trabalho no<br />

Verão, dois ou três só com portugueses, e <strong>de</strong>pois<br />

muitos com alemães e dois com dinamarqueses. E<br />

um ecuménico, patrocinado pelo COJE (Conselho<br />

Ecuménico <strong>de</strong> Jovens da Europa). E<br />

simultaneamente, com ajuda holan<strong>de</strong>sa foram<br />

compradas diversas proprieda<strong>de</strong>s, e veio um<br />

engenheiro agrónomo, Hendrick Kieft e esposa, e<br />

mais tar<strong>de</strong> outro, Duco Lantig e esposa. O objectivo<br />

foi melhorar algumas técnicas agrícolas e a<br />

irrigação, lançando também as bases <strong>de</strong> uma<br />

cooperativa e <strong>de</strong> melhores condições do rebanho<br />

caprino comunitário. Este trabalho continua, mas<br />

hoje com autonomia total.<br />

Entretanto começou também o trabalho<br />

espiritual com crianças, por exemplo a Escola<br />

Dominical, <strong>de</strong>pois o apoio aos jovens, com<br />

organização <strong>de</strong> um grupo local, que ficou mais<br />

forte no tempo do Pastor Sifredo Teixeira, em que<br />

também foi formado o grupo musical ‘Trevo<br />

Alegre’.<br />

Fora também comprada e adaptada uma casa<br />

anexa (R/c e 1º andar) e a creche foi ampliada.<br />

Durante algum tempo funcionou uma pequena<br />

biblioteca. Um dos pontos altos foi, e ainda é, a<br />

Festa das Colheitas, com Culto <strong>de</strong> Acção <strong>de</strong> Graças,<br />

<strong>de</strong>sfile, festa e leilão. Houve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início o bom<br />

senso <strong>de</strong> manter os usos locais, rancho folclórico,<br />

trabalhos do linho, apicultura, etc. Hoje, muitos<br />

jovens têm trabalho local, ao contrário <strong>de</strong> outras<br />

al<strong>de</strong>ias com muita fuga para as cida<strong>de</strong>s. Para isso,<br />

contribuiu o trabalho social, que aumentou.<br />

O pré-fabricado foi <strong>de</strong>smantelado e substituído<br />

por uma gran<strong>de</strong> casa pastoral, com boas condições.<br />

O trabalho social irá passar para instalações<br />

próprias, noutro terreno em frente e há estatutos<br />

actualizados, já em vigência do Pr. Emanuel Dinis. A<br />

Câmara Municipal <strong>de</strong> Terras <strong>de</strong> Bouro, em 2007,<br />

atribuiu ao trabalho social a Medalha <strong>de</strong> Mérito<br />

Municipal.<br />

As épocas <strong>de</strong> celebrações especiais da igreja<br />

(Natal, Páscoa, Pentecostes, Festa das Mães,<br />

Aniversário da <strong>Igreja</strong>, Dia <strong>de</strong> Todos os Santos) são<br />

motivo <strong>de</strong> presença mais numerosa e mais<br />

interessada. Des<strong>de</strong> o início, só cerca <strong>de</strong> quatro<br />

famílias se mantiveram na <strong>Igreja</strong> Católica que, com<br />

o tempo, acabou por reabrir o seu trabalho local.<br />

Num texto tão resumido alguns acontecimentos<br />

e nomes ficaram omitidos ou esquecidos. Não<br />

houve essa intenção. O certo é que Valdozen<strong>de</strong> se<br />

tornou numa das quatro maiores igrejas locais do<br />

Metodismo português. Uma extraordinária<br />

coincidência foi o facto <strong>de</strong> a ‘entrada’ <strong>de</strong><br />

Valdozen<strong>de</strong> ter sido no ano em que a <strong>Igreja</strong><br />

Metodista Portuguesa celebrava o seu centenário.<br />

Deus quis dar-nos uma prenda…! E confiou em nós<br />

para a guardarmos.<br />

Que Deus continue a ser honrado com o seu<br />

trabalho nesta região.<br />

(Endnotes)


Pastora Eva Michel<br />

dar a Deus<br />

o que é <strong>de</strong><br />

Deus …<br />

Para ser franca <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início: eu não gosto <strong>de</strong> falar<br />

<strong>de</strong> dinheiro. Nem <strong>de</strong> lidar com ele… Fazer compras num<br />

centro comercial não me traz prazer por aí fora, ir ao<br />

banco ainda menos e preparar relatórios financeiros, nem<br />

falar. Claro, reconheço a importância do dinheiro, tanto<br />

na vida <strong>de</strong> cada um como na vida da igreja, mas,<br />

digamos, procuro não lhe dar mais atenção do que a<br />

absolutamente indispensável e – modéstia completamente<br />

à parte – julgo que Jesus não terá agido <strong>de</strong><br />

maneira muito diferente, nesta matéria. Ou estarei eu<br />

enganada?<br />

Certo: Jesus e os doze lidaram com dinheiro – caso<br />

contrário, nem os discípulos iam sugerir comprar pão<br />

para a multidão (Mc 6,37), nem seria preciso um<br />

administrador da caixa comum (Jo 12,6). Caixa esta que<br />

pressupõe ter havido quem para ela contribuia. Mais:<br />

parábolas como a dos talentos, a do servo endividado, a<br />

dos trabalhadores na vinha (Mt 25, 14 ss.; Mt 18, 23<br />

ss.; Mt 20,1 ss.) mostram que a realida<strong>de</strong> económica<br />

não está ausente da Bíblia e po<strong>de</strong> mesmo servir <strong>de</strong><br />

imagem para o Reino <strong>de</strong> Deus.<br />

Mas <strong>de</strong>pois, há o outro lado da história! Fico pasmada<br />

ao dar-me conta <strong>de</strong> como o dinheiro (muito dinheiro!)<br />

entra para financiar uma campanha <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sinformação”<br />

acerca da Páscoa: os guardas do túmulo <strong>de</strong> Jesus<br />

subornados para… divulgarem que o corpo <strong>de</strong> Jesus terá<br />

sido roubado enquanto eles dormitavam! Dinheiro,<br />

usado para <strong>de</strong>turpar, para eliminar a mensagem da Vida,<br />

da Ressurreição! Assim, no evangelho <strong>de</strong> Mateus (28,11<br />

ss.).<br />

Será uma passagem excepcional? De modo algum,<br />

como mostra até uma leitura superficial <strong>de</strong>ste mesmo<br />

evangelho: os discípulos não <strong>de</strong>vem levar dinheiro para<br />

o seu caminho, sublinha Mateus (Mt10, 9), o apego aos<br />

bens impe<strong>de</strong> o jovem rico <strong>de</strong> seguir Jesus (Mt 19,16ss),<br />

Judas trai o Mestre por 30 moedas (Mt 26,15). Quando<br />

uma mulher unge Jesus com um óleo muito caro, este<br />

critica os que não conseguem apreciar o profundo<br />

significado do gesto, lembrando-se apenas do dinheiro.<br />

Sem dúvida: ao longo <strong>de</strong> todo o seu evangelho, Mateus<br />

alerta-nos para o risco que correm os que não conseguem<br />

<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r-se do dinheiro – ou da sua preocupação com<br />

o dinheiro. E resume: não se po<strong>de</strong> servir a Deus e a<br />

Mamon (termo aramaico para <strong>de</strong>signar a riqueza Mt<br />

6,24) ao mesmo tempo.<br />

Costuma citar-se, neste contexto, a orientação <strong>de</strong><br />

Jesus: “Dai a César o que é <strong>de</strong> César e a Deus o que é <strong>de</strong><br />

Deus” (Mt 22,21), avançando-se <strong>de</strong>pois, quase<br />

irremediavelmente, ou para um apelo aos <strong>de</strong>veres cívicos<br />

dos cristãos (pagar os impostos) ou para sugerir que<br />

aumentem as suas contribuições para a igreja.<br />

Suspeito, porém, que as palavras <strong>de</strong> Jesus nos levem<br />

bem mais longe. Vivemos hoje numa socieda<strong>de</strong>, num<br />

mundo em que, como nunca antes, tudo é transformado<br />

em mercadoria, com consequências escandalosas:<br />

milhões sem água potável por não po<strong>de</strong>rem pagá-la;<br />

pessoas, inclusive entre os membros da nossa igreja, a<br />

terem <strong>de</strong> escolher entre comer ou ir ao médico pois a<br />

reforma não chega para ambos; divi<strong>de</strong>ndos chorudos<br />

para os accionistas <strong>de</strong> empresas que atingem lucros como<br />

nunca antes visto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem mandando para o<br />

<strong>de</strong>semprego milhares dos seus trabalhadores. Nunca<br />

antes a distribuição das riquezas neste mundo foi <strong>de</strong> tão<br />

extrema <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Até a vida (animais, plantas e inclusive<br />

partes do corpo humano) está a ser patenteada<br />

e, <strong>de</strong>ste modo, sujeita à comercialização.<br />

Confrontado com esta realida<strong>de</strong>, como reagiria Jesus?<br />

Po<strong>de</strong>ria ficar ele calado?<br />

Dar a Deus o que é <strong>de</strong> Deus: não significa isto<br />

empenharmo-nos com tudo o que somos e tudo o que<br />

temos para que este escândalo acabe? Hoje a questão<br />

não se coloca entre dar a César ou dar a Deus, pareceme,<br />

hoje o profundo, o imenso <strong>de</strong>safio é darmos a Deus<br />

o que é <strong>de</strong>le, em vez <strong>de</strong> nos agarrarmos àquilo que<br />

consi<strong>de</strong>ramos “nosso”.<br />

Um dia Jesus chama a atenção dos discípulos para<br />

uma viúva pobre que coloca os seus tostões no ofertório<br />

(Mc. 12,41-44). Que profundo carinho para esta mulher<br />

simples e sem nome, transparece das palavras <strong>de</strong> Jesus!<br />

Muito do dinheiro que a nossa igreja recebe é oferecido<br />

por pessoas como esta viúva e com a mesma <strong>de</strong>dicação.<br />

Sinto que esta realida<strong>de</strong> coloca uma enorme<br />

responsabilida<strong>de</strong> sobre os ombros das mulheres e dos<br />

homens que administram o dinheiro da igreja e o aplicam<br />

ao seu trabalho. Sempre que gastarmos dinheiro da<br />

igreja, recor<strong>de</strong>mo-nos, com o mesmo afecto com que<br />

Jesus olhou a viúva, daqueles que o ofereceram.<br />

Dito tudo isto, reconheço que talvez <strong>de</strong>va corrigir a<br />

minha observação inicial: afinal, o dinheiro não é <strong>de</strong> todo<br />

um tema neutro e irrelevante para Jesus e, portanto,<br />

para a nossa fé e a nossa vida como igreja. Quando Jesus<br />

entra na cida<strong>de</strong> e vê Zaqueu sentado na árvore,<br />

observando tudo à distância sem querer envolver-se<br />

<strong>de</strong>masiado – numa atitu<strong>de</strong> consumista, diríamos hoje!<br />

– Jesus vai ter com ele. “Hoje preciso <strong>de</strong> comer em tua<br />

casa!”. Mais uma história sobre o dinheiro. E sobre uma<br />

conversão que abre caminhos para a vida e para o futuro:<br />

a Zaqueu, a nós, à igreja.<br />

portugalevangélico|15


Pastora Eunice Alves<br />

pondo o que possuimos<br />

Deus<br />

ao serviço <strong>de</strong><br />

o exemplo da sunamita e <strong>de</strong> lídia<br />

As Escrituras não são pródigas em exemplos <strong>de</strong><br />

mulheres que se <strong>de</strong>staquem na socieda<strong>de</strong> em que<br />

estão inseridas. Isso não é <strong>de</strong> admirar tendo em conta<br />

os contextos históricos e sociais dos quais elas<br />

emergem.<br />

Contudo, algumas são <strong>de</strong> facto mencionadas, no<br />

Antigo e no Novo Testamentos, sempre em relação<br />

com os propósitos <strong>de</strong> um Deus que não faz acepção<br />

<strong>de</strong> pessoas.<br />

Gostaria <strong>de</strong> falar muito resumidamente <strong>de</strong> duas<br />

figuras <strong>de</strong> mulheres, a Sunamita e Lídia, as quais nos<br />

surgem das páginas da Bíblia, separadas por centenas<br />

e centenas <strong>de</strong> anos e vivendo em culturas bem<br />

diferentes. Porém, elas têm um traço em comum: a<br />

forma como generosamente contribuíram com os<br />

seus bens para a obra <strong>de</strong> Deus.<br />

A primeira, é uma mulher membro da tribo <strong>de</strong><br />

Sumam, por isso reconhecida como “Sunamita” (2<br />

Reis 4:8-10); a segunda, mais conhecida <strong>de</strong> todos nós,<br />

é a comerciante <strong>de</strong> púrpura chamada Lídia – não se<br />

sabe se por ser originária da região com o mesmo<br />

nome, mais propriamente da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tiatira (Actos<br />

16:13-15).<br />

A Sunamita é <strong>de</strong>scrita como uma mulher <strong>de</strong><br />

condição elevada no seio da sua tribo. Essa posição<br />

indicava que a sua família possuía bens ou riquezas,<br />

sobre os quais ela teria algum domínio, pois que ela<br />

sugere a seu marido a construção <strong>de</strong> um pequeno<br />

apartamento sobre o terraço da sua casa – certamente<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões - para acolher o profeta Eliseu,<br />

cada vez que ele se <strong>de</strong>slocava ao seu território para<br />

alguma cerimónia ou culto.<br />

No caso <strong>de</strong> Lídia, sabemos que ela comerciava um<br />

artigo <strong>de</strong> luxo: tecidos <strong>de</strong> púrpura, só usados por<br />

pessoas muito importantes. Através <strong>de</strong>sta informação<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r que ela seria uma mulher com<br />

liberda<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>pendência económica bastantes para<br />

manejar capital suficiente para as suas transacções<br />

comerciais. Embora não fosse regra uma mulher<br />

assumir esse cargo e responsabilida<strong>de</strong> no mundo<br />

greco-romano, essa circunstância era possível. O<br />

mesmo não acontecia na socieda<strong>de</strong> judaica.<br />

16|portugalevangélico<br />

Tanto no caso da Sunamita como no <strong>de</strong> Lídia, é<br />

<strong>de</strong>stacada a sua acção generosa: elas puseram as suas<br />

riquezas ao serviço dos servos <strong>de</strong> Deus, quer fosse o<br />

profeta Eliseu quer o apóstolo Paulo.<br />

O que po<strong>de</strong>mos, pois, retirar <strong>de</strong>stes exemplos <strong>de</strong><br />

mulheres, hoje, mesmo que a nossa situação<br />

económica não seja a mesma?<br />

Primeiro que tudo, a sua disponibilida<strong>de</strong> para<br />

servirem ao Senhor com os seus bens.<br />

Mais uma vez, este exemplo <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong> tem<br />

um toque feminino <strong>de</strong> espontaneida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> entrega.<br />

Mas também nele po<strong>de</strong>mos entrever um certo sentido<br />

prático das coisas. Notemos o caso da Sunamita, num<br />

episódio que, curiosamente, procura, apesar <strong>de</strong> tudo,<br />

não atropelar os costumes: o que ela <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, fá-lo<br />

passar pela aprovação do marido.<br />

Por sua vez, Lídia, após a conversão, surge-nos no<br />

seu ambiente familiar on<strong>de</strong> certamente a sua<br />

autorida<strong>de</strong> não era contestada, como se verifica no<br />

baptismo colectivo. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir, com alguma<br />

segurança, que a sua casa e os seus bens foram <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

logo disponibilizados para o trabalho apostólico, e<br />

que daquele lar surgiu uma nova comunida<strong>de</strong> cristã,<br />

aí reunida, na qual muito possivelmente Lídia teria<br />

um papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, até pelas suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

gestão <strong>de</strong> um negócio tão importante na região como<br />

era o do comércio <strong>de</strong> púrpura.<br />

Como segunda conclusão a retirar <strong>de</strong>ste pequeno<br />

estudo, a actuação <strong>de</strong> Lídia ensina-nos, também, que<br />

administrar o que temos com sabedoria ajuda-nos a<br />

saber utilizá-lo da melhor maneira para o serviço <strong>de</strong><br />

Cristo e da sua <strong>Igreja</strong>, especialmente no campo da<br />

evangelização e da educação cristã e suas diversas<br />

vertentes, assim como no campo da solidarieda<strong>de</strong> social,<br />

como é marca do Metodismo.<br />

Os “servos e servas <strong>de</strong> Deus”, hoje, continuam a<br />

precisar do apoio generoso e do empenhamento<br />

gracioso das mulheres que sentem o apelo <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo para o seguirem, tal como aquelas que seguiam<br />

os passos <strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Galileia, servindo-o com<br />

aquilo que possuíam (Lucas 8:1-3; Mateus 27:55 e<br />

Marcos 15:41).


os nossos<br />

dons espirituais<br />

“Portanto, procurai com zelo os melhores dons, e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente.”<br />

I Coríntios 12. 31<br />

Este é o versículo que encerra o capítulo 12 <strong>de</strong> I<br />

Coríntios, introduzindo logo aí, uma proposta curiosa:<br />

“eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente”.<br />

Com essas palavras, Paulo articula com firmeza<br />

paciente mas também muita ternura, a sua<br />

compreensão acerca dos dons espirituais, como esses<br />

dons contribuem para formar o ‘Corpo <strong>de</strong> Cristo’ sob<br />

o po<strong>de</strong>r do Espírito e o lugar do Amor nisso tudo –<br />

Amor como fundamento ‘<strong>de</strong> toda a obra, <strong>de</strong> tudo o<br />

que fazemos e pelo que vivemos’.<br />

A partir daqui, temos aquela pérola da Bíblia que é<br />

o capítulo sobre o amor (cap.13). Raras vezes foram<br />

escritas tão belas e profundas palavras sobre este<br />

tema. E essa compreensão do apóstolo parece ter<br />

amadurecido no contexto e também por causa dos<br />

conflitos dos ‘entusiastas’ coríntios.<br />

Foi com o capítulo 13, a reflectir sobre o amor como<br />

o dom supremo, que a diaconisa Zilda Cavaleiro dirigiu<br />

a <strong>de</strong>vocional <strong>de</strong> abertura do Encontro Nacional da<br />

Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Mulheres Metodistas, que aconteceu<br />

em Aveiro. Ao longo <strong>de</strong> 2008, já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Retiro<br />

Espiritual que tivera lugar em Braga, a FMM reflectiu<br />

sobre os Dons espirituais. Fomos reconduzidas/os<br />

à compreensão <strong>de</strong> que o Amor é o dom, o ‘caminho<br />

ainda mais excelente’, presente em todos os outros<br />

dons, quando inspirados pelo Espírito. Dessas<br />

reflexões, então realizadas, ficou-nos a certeza <strong>de</strong> que<br />

este é o dom que nos une e dá sentido à vida, que<br />

nos integra, para completarmos a obra do Senhor,<br />

junto do outro ou outra que está ali e nos <strong>de</strong>safia ao<br />

cuidado, ao amor.<br />

São os encontros, que vamos tendo ao longo do<br />

ano, que favorecem a proximida<strong>de</strong>. Não é esquecida<br />

a importância dos relatórios das diversas áreas <strong>de</strong><br />

actuação da FMM que não só informam, mas também<br />

conduzem ao questionamento que revela<br />

preocupação relativamente à forma como o trabalho<br />

é conduzido ou os recursos são aplicados. No seio da<br />

FMM, a passagem <strong>de</strong> testemunho é sentida já que na<br />

Direcção ainda contamos com algumas veteranas, mas<br />

novos nomes vão surgindo. A passagem <strong>de</strong><br />

testemunho e a abertura a novas vias é uma constante.<br />

A <strong>de</strong>mocracia também se faz sentir, já que todos os<br />

circuitos são representados na direcção. Os artigos<br />

dos bazares e o almoço revelam talentos, perfeição<br />

nos <strong>de</strong>talhes e gratuida<strong>de</strong>; mais uma vez, no ano <strong>de</strong><br />

2008, ajudaram na contabilida<strong>de</strong>, possibilitando<br />

algumas presenças, nos encontros, já que esse<br />

contributo suportou viagens.<br />

A expressão concreta <strong>de</strong> alguns dons é uma<br />

realida<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>mos olvidar; na música, na<br />

o amor como caminho<br />

e o fortalecimento da comunida<strong>de</strong><br />

portugalevangélico|17


poesia adaptada a tema musical e no resgate <strong>de</strong><br />

antigos hinos. Em coro, dueto ou solo. De forma especial,<br />

recordamos a reflexão conduzida pela diaconisa<br />

Estela sobre os Dons espirituais, que urge <strong>de</strong>scobrir,<br />

<strong>de</strong>senvolver em nós e em comunida<strong>de</strong>, colocando-os<br />

ao serviço, no encontro com as nossas irmãs e os<br />

nossos irmãos. Articulando com o Retiro Espiritual<br />

anterior, quando um certo <strong>de</strong>safio foi feito, algumas<br />

mulheres <strong>de</strong>ram forte (por vezes divertido)<br />

testemunho <strong>de</strong> como <strong>de</strong>senvolveram um dom (aquele<br />

que no <strong>de</strong>correr do ano lhes serviu <strong>de</strong> permanente<br />

<strong>de</strong>safio).<br />

Tivemos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver imagens e <strong>de</strong> reflectir<br />

sobre a inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> todos os dons, suprindo,<br />

ao mesmo tempo as necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> mas<br />

habilitando também, que é, como que dizer,<br />

enriquecendo quem põe ao serviço <strong>de</strong> outro(as) seu<br />

dom e que vem a fortalecer os laços entre todos e<br />

todas.<br />

Na mensagem que Estela Lamas preparou para o<br />

culto do ano anterior, as irmãs, então em retiro,<br />

pu<strong>de</strong>ram ouvir acerca dos ‘sinais <strong>de</strong> um tempo novo<br />

– a nova Aliança da qual Jesus é o autor’, que são ‘a<br />

abundância, a generosida<strong>de</strong> e a gratuida<strong>de</strong>, as três<br />

dimensões que constituem a entrega total <strong>de</strong> Jesus –<br />

a oferta da Sua Vida pela humanida<strong>de</strong> – Abundância,<br />

como na transformação da água em vinho, que marca<br />

o início do seu ministério.<br />

Seguindo a linha <strong>de</strong>ssas três dimensões que<br />

expressam a Vida em Plenitu<strong>de</strong>, no nosso encontro<br />

<strong>de</strong>ste ano, a nossa irmã Estela referiu o sentido da<br />

palavra ‘entusiasmo’ do grego, que literalmente<br />

significa ter Deus <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si. Expressa então a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> uma inspiração especial, uma luz que irradia e<br />

contagia – sinal forte da presença <strong>de</strong> um dom<br />

espiritual.<br />

Acima referi os conflitos dos ‘entusiastas’ coríntios<br />

que, resolutamente mas com ternura, Paulo teve que<br />

conter, discernindo ao mesmo tempo o sentido que a<br />

mensagem <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> cristã <strong>de</strong>ve ter na<br />

comunida<strong>de</strong>.<br />

O tempo era outro e aqueles que se opunham a<br />

Paulo e fomentavam divisões, arvoravam-se num<br />

18|portugalevangélico<br />

‘conhecimento’, numa ‘sabedoria’ que <strong>de</strong>sprezava a<br />

mensagem da cruz e este era o ‘outro lado da moeda’<br />

para o seu entusiasmo espiritual, a sua ‘intoxicação’<br />

com a liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sprezo pelos irmãos imaturos da<br />

comunida<strong>de</strong>. É possível que alguma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje<br />

se assemelhe a este quadro, que não é, contudo, a<br />

nossa realida<strong>de</strong>. Todavia importa agora reter a<br />

mensagem tal como Paulo a compreen<strong>de</strong>u e, nas<br />

palavras <strong>de</strong> G. Bornkam, a procurou transmitir: “A tudo<br />

isso Paulo se opõe resolutamente, medindo o<br />

entusiasmo do ‘espírito’ contra a cruz <strong>de</strong> Cristo. Não<br />

permitirá que seus opositores <strong>de</strong>sprezem a criação<br />

<strong>de</strong> Deus. Insiste que a responsabilida<strong>de</strong> pelos outros<br />

é mais importante do que a liberda<strong>de</strong> pessoal. “<br />

Essa reflexão sobre os ‘turbulentos entusiastas’ <strong>de</strong><br />

Corinto não nos <strong>de</strong>ve impedir <strong>de</strong> cultivar o entusiasmo<br />

em nós; afinal ele parece ser mais um dom, uma<br />

manifestação gratuita se é ‘Deus em nós’ que nos<br />

leva a querer partilhar e exprimir com alegria o temos<br />

já alcançado, pela graça – outra palavra que expressa<br />

gratuida<strong>de</strong>, abundância e generosida<strong>de</strong>!<br />

Estela Lamas, em sua mensagem, referia ainda que<br />

“o evangelista (na passagem das Bodas <strong>de</strong> Cana) nos<br />

revela uma característica <strong>de</strong> Jesus – Ele <strong>de</strong>ixa-se tocar<br />

e comover pelo sofrimento dos outros. Ele apresentase<br />

como um Deus sensível e próximo”.<br />

Ficamos assim com esta imagem do ‘Corpo <strong>de</strong><br />

Cristo’ com muitos membros igualmente importantes<br />

(Romanos 12:4-8 e <strong>de</strong> I Coríntios 12). E Paulo, no<br />

ensino sobre os dons espirituais numa comunida<strong>de</strong><br />

dividida, parece interromper o que está a dizer, para<br />

falar do amor e retomar logo a seguir este ensino<br />

(cap.12, 13 e 14 <strong>de</strong> I Coríntios). Não espanta em nada.<br />

Muita boa gente chega à mesma mensagem, como<br />

se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scoberta se tratasse, e talvez seja mesmo!<br />

Afinal, Sabedoria parece ser o conhecimento<br />

(nossos dons, capacida<strong>de</strong>s, ministérios...) quando<br />

conduzidos pelo Amor. … é em comunhão, em<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço que <strong>de</strong>scobrimos isso. … o<br />

Espírito, que nos anima, conduz e nos dá<br />

discernimento.<br />

Diaconisa Ana Cristina Aço


Que ano!!!<br />

Pastor Ricardo Gondim da Assembleia <strong>de</strong> Deus<br />

A macro história acontece em câmara lenta. De<br />

repente, os eventos ganham embalo e os factos<br />

multiplicam-se vertiginosamente. Dois mil e oito<br />

acelerou tanto que mal <strong>de</strong>u tempo para apanhar<br />

fôlego. Tirando as catástrofes naturais e os eventos<br />

previamente programados, como as Olimpíadas,<br />

a comunicação social cativou, mês após mês, a<br />

nossa atenção com notícias bombásticas. Tudo<br />

parecia ter potencial <strong>de</strong> alterar o futuro <strong>de</strong> forma<br />

dramática. Os tibetanos, aproveitando o clima <strong>de</strong><br />

euforia com a tocha olímpica, conseguiram expor<br />

para o mundo a opressão do regime chinês. Ingrid<br />

Berancourt, libertada <strong>de</strong> um cativeiro numa<br />

operação militar ainda não totalmente explicada,<br />

mostrou ao mundo o intrincado jogo geopolítico<br />

da América Latina - França, Estado Unidos e<br />

Colômbia participaram, <strong>de</strong> alguma forma, no<br />

resgate.<br />

Eventos impressionantes começaram a suce<strong>de</strong>rse<br />

numa cascata surpreen<strong>de</strong>nte lá pelo meio do<br />

ano. Barack Obama reuniu mais <strong>de</strong> duzentas mil<br />

pessoas em Berlim num comício - para quê, se os<br />

alemães não votam em presi<strong>de</strong>ntes americanos?<br />

Ainda no início do primeiro semestre, duas<br />

instituições financeiras gigantes pediram falência.<br />

A febre especulativa das hipotecas, do crédito fácil<br />

e das bolsas rebentou. Veio a avalancha. Triliões<br />

<strong>de</strong> dólares <strong>de</strong>sapareceram como fumo. E o mundo,<br />

estarrecido, passou a contemplar a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pressão, tão severa quanto a <strong>de</strong> 1929.<br />

O cenário africano continuou funesto. Não<br />

bastasse o sofrimento dos exilados <strong>de</strong> Darfur, veio<br />

o Congo. Os remanescentes do holocausto <strong>de</strong><br />

Ruanda continuaram a aterrorizar com os seus<br />

ódios étnicos. Resultado: milhões <strong>de</strong> inocentes<br />

fugiram para escapar da carnificina, mas, sem<br />

terem para on<strong>de</strong> ir, morreram <strong>de</strong> fome. O cenário<br />

ganhou proporções apocalípticas e a resposta<br />

mundial foi nada.<br />

Barack Obama venceu as eleições e o mundo<br />

celebrou. Bush <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se como um dos<br />

presi<strong>de</strong>ntes menos populares da história dos<br />

Estados Unidos. A vitória do primeiro afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte<br />

e sua ascensão ao posto <strong>de</strong> “homem<br />

mais po<strong>de</strong>roso do mundo” encantou muçulmanos,<br />

cristãos, quenianos e, principalmente, os her<strong>de</strong>iros<br />

do legado <strong>de</strong> Martin Luther King. Foi difícil impedir<br />

o arrepio aquando do <strong>de</strong>lírio das multidões no<br />

momento em que Obama foi <strong>de</strong>clarado vencedor.<br />

Em 2008, meninos e meninas também foram<br />

notícia pelos maus-tratos que sofreram. Alguém<br />

jogou Isabella por uma janela. Igor e João Victor,<br />

mortos pelo pai e pela madrasta, entristeceramnos.<br />

A polícia soltou crianças que estavam<br />

algemadas e amarradas pelos pés. A nação ainda<br />

não <strong>de</strong>spertou para a crua realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o Brasil,<br />

e muitos outros países no mundo, cuidam mal dos<br />

pequeninos.<br />

E agora, o que é que nos espera? Sabemos que<br />

em alguns aspectos, o mundo nunca mais será o<br />

mesmo. O racismo nos Estados Unidos, com<br />

certeza, per<strong>de</strong>rá a sua força. O cartel do tráfico<br />

colombiano ten<strong>de</strong> a enfraquecer. O projecto<br />

económico neoliberal terá que ser revisto; a aposta<br />

<strong>de</strong> que o mercado ajusta o próprio mercado<br />

mostrou-se perigosa. O Estado, através dos seus<br />

mecanismos, precisará <strong>de</strong> intervir para não <strong>de</strong>ixar<br />

que uma economia arraste o resto do mundo para<br />

a crise, gerando mais pobreza. Depois <strong>de</strong> verem<br />

bancos centenários a falir e a General Motors a<br />

revelar uma certa “falta <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z”, o resto do<br />

planeta colocou as barbas <strong>de</strong> molho; ninguém está<br />

a salvo.<br />

As preocupações mundiais continuarão<br />

contraditórias. O Haiti, assolado por furacões,<br />

continuará a <strong>de</strong>bater-se com a miséria a poucos<br />

quilómetros <strong>de</strong> um dos países mais rico do planeta.<br />

A Unesco, com poucos recursos para salvar vidas<br />

inocentes vê, no entanto, sobrar dinheiro para<br />

acudir às instituições bancárias. O interesse em<br />

<strong>de</strong>senvolver tecnologia que diminua a emissão <strong>de</strong><br />

gás carbono, continuará a não existir enquanto os<br />

stocks <strong>de</strong> petróleo continuarem abundantes,<br />

suprindo a <strong>de</strong>manda mundial.<br />

A história do violinista Ytzahak Perlman é<br />

comovente e serve <strong>de</strong> inspiração nestes tempos<br />

<strong>de</strong>licados. Perlman contraiu poliomielite aos 4 anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então caminha com a ajuda <strong>de</strong><br />

muletas. Apesar <strong>de</strong>sse impedimento, tornou-se um<br />

gran<strong>de</strong> violinista, um virtuose. Diz-se que, certa vez,<br />

no palco, sentou-se, colocou as muletas ao lado e<br />

posicionou o violino sob o queixo para começar a<br />

afiná-lo. De repente, com um ruído estri<strong>de</strong>nte, uma<br />

das cordas partiu-se. Quando todos esperavam que<br />

ele pedisse outra corda, fez um sinal ao maestro<br />

para começar e executou todo o concerto com<br />

apenas três cordas. No final, todos o ovacionaram<br />

<strong>de</strong> pé. Quando lhe <strong>de</strong>ram a palavra, disse: “A nossa<br />

tarefa é fazer música com o que resta”. Claro, todos<br />

enten<strong>de</strong>ram que as suas palavras se referiam à vida,<br />

e não a cordas partidas.<br />

Em 2009, a história continuará ambígua. Dores<br />

misturar-se-ão com a felicida<strong>de</strong>. Experimentaremos<br />

perplexida<strong>de</strong> e esperança, luto e festa, alheamento<br />

e solidarieda<strong>de</strong>, insultos e marchas pela paz; a rir<br />

ou a chorar, precisaremos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a fazer<br />

música com as cordas que nos restarem.<br />

Soli Deo Gloria<br />

portugalevangélico|19


Lukas Vischer,<br />

um dos maiores Protestantes<br />

do séc. XX<br />

Este gran<strong>de</strong> teólogo suíço faleceu, em Genebra,<br />

no ano passado. Figura maior do ecumenismo,<br />

Lukas Vischer esteve sempre ao serviço da<br />

reconciliação entre as <strong>Igreja</strong>s, da justiça social e do<br />

respeito e salvaguarda do meio ambiente,<br />

marcando em todas estas áreas uma influência<br />

internacional consi<strong>de</strong>rável.<br />

Nascido em 1926, fez os seus estudos teológicos<br />

em Basileia, Estrasburgo, Göttingen e Oxford. Pastor<br />

durante vários anos, começou a colaborar com<br />

o Conselho Mundial <strong>de</strong> <strong>Igreja</strong>s (CMI) em 1961<br />

como secretário <strong>de</strong> estudos teológicos do<br />

<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> “Fé e Constituição”, on<strong>de</strong> se<br />

encontram representadas todas as <strong>Igreja</strong>s, e do qual<br />

viria a ser Director durante longos anos.<br />

De 1962 a 1965, foi observador do CMI no<br />

Concílio Vaticano II, Em 1967 foi um dos<br />

fundadores da Declaração <strong>de</strong> Berna e com sua<br />

esposa, Bárbara, funda a secção suíça da ACAT<br />

(Acção dos Cristãos para a Abolição da Tortura).<br />

Após a sua jubilação do CMI, Lukas Vischer,<br />

prossegue a sua activida<strong>de</strong> como conselheiro para<br />

as questões <strong>de</strong> teologia e ética junto da Aliança<br />

Mundial das <strong>Igreja</strong>s Reformadas (AMIR) e do CMI.<br />

(ProtestInfo)<br />

Será Lutero<br />

reabilitado por Bento XVI ?<br />

Segundo o conceituado diário inglês “The<br />

Times”, <strong>de</strong> 2008, o Papa po<strong>de</strong>ria vir a reabilitar a<br />

pessoa e obra do reformador Martinho Lutero<br />

(1483-1546) no docorrer do mês <strong>de</strong> Setembro,<br />

após o encontro anual com 40 teólogos, que teria<br />

lugar em Castelgandolfo, sua residência <strong>de</strong> verão e<br />

20|portugalevangélico<br />

notícias do<br />

que teria como tema a figura <strong>de</strong> Lutero.<br />

Vozes autorizadas do Vaticano adiantavam que o<br />

Papa reabilitaria Martinho Lutero argumentando<br />

que nunca teria sido sua intenção dividir a <strong>Igreja</strong><br />

mas sim lutar contra os abusos e práticas <strong>de</strong><br />

corrupção da mesma.<br />

O Cardial Walter Kasper, Presi<strong>de</strong>nte do Conselho<br />

Pontifício para a Promoção da Unida<strong>de</strong> dos<br />

Cristãos, antecipava que estas <strong>de</strong>clarações dariam<br />

nova coragem ao diálogo ecuménico e<br />

contradiriam, até certo ponto, as afirmações feitas<br />

em Julho do ano anterior <strong>de</strong>negrindo a fé, a<br />

ortodoxa e protestante, ao não consi<strong>de</strong>rar estes<br />

dois ramos do cristianismo como verda<strong>de</strong>iras<br />

<strong>Igreja</strong>s. O mundo protestante continuará à espera<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentos.<br />

As <strong>Igreja</strong>s<br />

nas Auto-Estradas<br />

A Alemanha é o único país no mundo que tem<br />

uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> 32 igrejas espalhadas pelas autoestradas.<br />

15 <strong>de</strong>las são protestantes, 11 ecuménicas<br />

e 6 são católicas romanas.


oikoumene<br />

Graças a um estudo recente, elaborado pelo<br />

Centro <strong>de</strong> Pesquisa Sociais e Eclesiásticas da<br />

Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Freiburgo e <strong>de</strong> uma<br />

companhia <strong>de</strong> seguros, tornou-se possível conhecer<br />

o perfil dos visitantes <strong>de</strong>stes locais, perfil esse que<br />

constitui uma surpresa. Quando se pensava que a<br />

maioria dos automobilistas eram pessoas<br />

distanciadas das <strong>Igreja</strong>s e buscando um certo<br />

sentido espiritual para as suas vidas (este era um<br />

dos objectivos da construção <strong>de</strong>ssas capelas),<br />

chegou-se à conclusão que o visitante tipo é o<br />

homem católico romano, casado, com mais <strong>de</strong> 50<br />

anos e, na sua gran<strong>de</strong> maioria, fortemente ligado à<br />

sua <strong>Igreja</strong>. Mais <strong>de</strong> 60% dos visitantes interrogados<br />

neste inquérito, afirmaram frequentar regularmente<br />

a missa ou o culto nas suas paróquias.<br />

A maior parte param nestas igrejas por motivos<br />

espirituais (37%), enquanto outros o fazem para<br />

<strong>de</strong>scanso e momentos <strong>de</strong> calma (19%) e muitos as<br />

visitam por mera curiosida<strong>de</strong> (17%) (ProtestInfo)<br />

Os 60 anos<br />

do Conselho Mundial<br />

<strong>de</strong> <strong>Igreja</strong>s (CMI)<br />

O Comité Central do CMI, o órgão máximo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão entre as Assembleias mundiais, esteve<br />

reunido, em Genebra, em 2008, e, para além <strong>de</strong><br />

todos os assuntos presentes na agenda, celebrou o<br />

60.º aniversário do que é hoje o maior fórum<br />

cristão na promoção da unida<strong>de</strong> das <strong>Igreja</strong>s<br />

Criado, em Amesterdão, em 1948, o CMI, com<br />

se<strong>de</strong> em Genebra, vive hoje uma situação que a faz<br />

enfrentar <strong>de</strong>safios bastante diferentes dos <strong>de</strong> há<br />

sessenta anos, momento em que o mundo saía da<br />

segunda guerra mundial.<br />

Na sua origem, o CMI era constituído<br />

essencialmente por <strong>Igreja</strong>s europeias e norteamericanas<br />

<strong>de</strong> tradição protestante ou anglicana.<br />

Hoje, agrupa 347 <strong>Igreja</strong>s, implantadas em todos os<br />

países do mundo e, além das protestantes e<br />

anglicanas, as ortodoxas e as evangélicas. A <strong>Igreja</strong><br />

católica romana não é membro do CMI, mas<br />

coopera, <strong>de</strong> pleno direito, na Comissão “Fé e<br />

Constituição”.<br />

F oi organizada uma celebração ecuménica <strong>de</strong><br />

Acção <strong>de</strong> Graças pelos 60 anos do CMI, na Catedral<br />

<strong>de</strong> S. Pedro, em Genebra, na qual foi pregador o<br />

Patriarca Ecuménico Bartolomeu I. (ENI)<br />

700 Confissões Religiosas<br />

à espera…<br />

O Parlamento angolano analisa o fenómeno da<br />

proliferação anárquica das seitas e dos novos<br />

movimentos religiosos assim como o <strong>de</strong> novas<br />

<strong>Igreja</strong>s, afirmando que “<strong>de</strong>vemos tratar esta<br />

situação com bastante tacto, dado ela tocar o<br />

sentimento <strong>de</strong> muitos cidadãos.”<br />

Os <strong>de</strong>putados da 6.ª comissão do Parlamento,<br />

que se ocupa dos Assuntos Religiosos, juntamente<br />

com os representantes dos Ministérios da Cultura e<br />

da Justiça, reuniram-se para estudar esta situação à<br />

luz da Lei sobre o exercício da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consciência, <strong>de</strong> culto e <strong>de</strong> religião.<br />

Muitas das <strong>Igreja</strong>s africanas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

funcionam « como verda<strong>de</strong>iras empresas em favor<br />

dos seus auto proclamados pastores, e suas<br />

famílias, recolhendo receitas enormes dadas pelos<br />

fiéis, receitas essas, fraudulosamente transferidas<br />

para o estrangeiro.”<br />

Para a <strong>de</strong>putada Cândida Narciso, responsável da<br />

6.ª comissão, Angola jé reconheceu 83 confissões<br />

religiosas e 700 outras estão na lista <strong>de</strong> espera.<br />

(Allafrica)<br />

portugalevangélico|21


2008<br />

300 Anos do Nascimento<br />

do Rev. Charles Wesley<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> Metodista Portuguesa celebrou<br />

no <strong>de</strong>correr do ano transacto, através <strong>de</strong> um Concerto<br />

comemorativo na <strong>Igreja</strong> do Mirante, os 300 anos<br />

do nascimento <strong>de</strong> Charles Wesley, irmão do fundador<br />

da <strong>Igreja</strong> Metodista, e consi<strong>de</strong>rado o maior poeta do<br />

Metodismo e um dos maiores da <strong>Igreja</strong> do Oci<strong>de</strong>nte.<br />

Autor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 9.000 textos poéticos <strong>de</strong>stinados a<br />

celebrar a Fé e todas as facetas da vida e obra do<br />

Cristão.<br />

O Concerto foi dirigido pelo Rev. José Manuel<br />

Cerqueira e contou com a interpretação <strong>de</strong> vários<br />

exemplos da hinologia Metodista a cargo do Coro da<br />

<strong>Igreja</strong> Metodista do Mirante. Tivemos a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ouvir vários hinos em vários suportes: vinil, CD e<br />

pelo Coro propriamente dito. A par disto no que diz<br />

respeito à vida e dons <strong>de</strong> Charles Wesley, fomos<br />

guiados por um tema que serviu <strong>de</strong> base à introdução<br />

dos hinos: «Charles Wesley, Poeta ou Teólogo?» longe<br />

<strong>de</strong> querer ser uma biografia, foi uma série <strong>de</strong><br />

importantes apontamentos sobre viagens,<br />

experiências, ambiente familiar, circunstâncias<br />

criativas, relações culturais, e claro, religiosas e <strong>de</strong><br />

conversão.<br />

Foi um dia positivo em muitos aspectos, e também<br />

porque tivemos a <strong>Igreja</strong> do Mirante repleta <strong>de</strong> pessoas,<br />

sendo muitas <strong>de</strong>las visitantes.<br />

Sínodo Metodista<br />

A igreja do Mirante acolheu em 2008 o órgão<br />

máximo da <strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> Metodista Portuguesa,<br />

o Sínodo. Deve ser referida a presença do<br />

representante da <strong>Igreja</strong> Metodista do Reino Unido,<br />

Rev. Jonathan Kerry, <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>legação da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Presbiteriana</strong> composta pela Pastora Idalina Sitanela,<br />

Pastor José Salvador, Pastora estagiária Rute Salvador,<br />

Dr. David Valente e Dra. Dulce Ca<strong>de</strong>te. Pela <strong>Igreja</strong><br />

Lusitana e pelo COPIC esteve o Bispo D. Fernando<br />

Soares, pela Aliança <strong>Evangélica</strong> Portuguesa o Pastor<br />

22|portugalevangélico<br />

aconteceu<br />

Humberto Jorge, Vice-Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta organização;<br />

a Socieda<strong>de</strong> Bíblica <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> <strong>de</strong>legou no Bispo<br />

Emérito Ireneu Cunha, a sua representação. Pela Diocese<br />

da <strong>Igreja</strong> Católica-romana do Porto esteve<br />

presente o Bispo Auxiliar D. João Miranda.<br />

De entre os diversos pontos da Agenda <strong>de</strong> Trabalhos<br />

salientamos dois: a aprovação <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong><br />

objectivos que, com intenções realistas preten<strong>de</strong><br />

aumentar os contributos para os fundos centrais e o<br />

número <strong>de</strong> presenças, a nível local; o acolhimento<br />

por parte do Plenário dos testemunhos sobre a<br />

‘Caminhada para a Unida<strong>de</strong> com a <strong>Igreja</strong> <strong>Presbiteriana</strong>’<br />

ao nível das Regiões Centro e Sul e a aprovação <strong>de</strong><br />

uma proposta originária da igreja do Mirante,<br />

anteriormente aprovada no Plenário do Circuito do<br />

Porto, que consi<strong>de</strong>rava ser necessário organizar um<br />

‘Encontro Nacional Metodista’ para dar ao povo<br />

metodista a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esclarecimento,<br />

aprofundamento e avaliação da iniciativa.<br />

Centenário<br />

da <strong>Igreja</strong> do Monte Pedral<br />

A <strong>Igreja</strong> Metodista do Monte Pedral comemorou<br />

em 2008 o seu Centenário. A efeméri<strong>de</strong> foi celebrada<br />

com um Culto <strong>de</strong> Acção <strong>de</strong> Graças que contou com a<br />

presença do Bispo, Rev. Sifredo Teixeira, o Bispo<br />

Emérito, Rev. Ireneu Cunha, que também foi pastor<br />

<strong>de</strong>sta <strong>Igreja</strong> no passado, pastores do Circuito do Porto,<br />

Rev. Jorge <strong>de</strong> Barros, que recordou alguns pontos<br />

históricos dos 100 Anos <strong>de</strong> Vida da <strong>Igreja</strong>, Rev. José<br />

Manuel Cerqueira, tendo dirigido os Grupos Corais<br />

da <strong>Igreja</strong> do Mirante, Monte Pedral e a solista, Teresa<br />

Teixeira.<br />

Presentes ainda o Pastor Telmo Silva, da <strong>Igreja</strong><br />

Lusitana; o Padre Domingos <strong>de</strong> Oliveira, da <strong>Igreja</strong><br />

Católica-romana <strong>de</strong> Lor<strong>de</strong>lo do Ouro; representando<br />

também o movimento ecuménico; o representante<br />

da <strong>Igreja</strong> Alemã em <strong>Portugal</strong>, Peter Eisele; e o<br />

representante da Junta <strong>de</strong> Freguesia <strong>de</strong> Paranhos. O<br />

Grupo Coral da <strong>Igreja</strong> Metodista <strong>de</strong> Lor<strong>de</strong>lo do Ouro,<br />

dirigido pela irmã Carla Pirino, também participou no<br />

momento <strong>de</strong> louvor com o apoio <strong>de</strong> uma congregação<br />

que enchia a <strong>Igreja</strong> e composta, não só pelos membros<br />

locais e das várias <strong>Igreja</strong>s Metodistas da cida<strong>de</strong> invicta.<br />

O Diácono Fernando Falcão leu um texto sobre as<br />

memórias da vida <strong>de</strong> um dos membros mais idosos<br />

da congregação, o irmão Marques Gue<strong>de</strong>s.<br />

Antes do Culto terminar, foi <strong>de</strong>scerrada uma lápi<strong>de</strong><br />

à entrada da <strong>Igreja</strong>, para tornar esta ocasião<br />

memorável.<br />

No final, foi servido um Porto <strong>de</strong> Honra e uma fatia<br />

<strong>de</strong> Bolo <strong>de</strong> Aniversário, preparado e servido com muito<br />

carinho e satisfação pelos membros da <strong>Igreja</strong>,<br />

especialmente pelo grupo local <strong>de</strong> mulheres.<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 2008 foram ainda realizados<br />

diversos eventos espirituais, culturais e sociais no<br />

contexto das comemorações do Centenário da <strong>Igreja</strong>.


As 95 Teses<br />

<strong>de</strong> Martinho Lutero<br />

Organização, Tradução e Introdução <strong>de</strong> Dimas<br />

Almeida; Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Ciências das Religiões,<br />

Universida<strong>de</strong> Lusófona, 2008.<br />

Pela primeira vez em português as 95 teses <strong>de</strong><br />

Lutero, numa tradução a partir do original latino,<br />

prestam um tributo ao gran<strong>de</strong> Reformador e trazem<br />

um contributo para maior conhecimento em <strong>Portugal</strong><br />

da Reforma protestante do Séc. XVI,<br />

acontecimento que marca a aparição <strong>de</strong> um novo<br />

paradigma teológico, eclesial e social no Oci<strong>de</strong>nte<br />

cristão.<br />

(BEI)<br />

Projecto Algarve<br />

Vieram da Irlanda do Norte, casaram há 16 anos<br />

no dia 31 <strong>de</strong> Outubro, dia da Reforma, e têm duas<br />

filhas, Alana (quase 10 anos) e Lucy (5 anos). Eles são<br />

o James e a Érika Cochrane e estão no Algarve.<br />

Em Outubro 2007 a IEPP lançou o Projecto Algarve,<br />

uma iniciativa conjunta das igrejas presbiteriana e<br />

metodista em <strong>Portugal</strong>, cujo objectivo é implantar uma<br />

igreja no Algarve. Neste contexto o casal Cochrane<br />

foi convidado para assumir a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>ste<br />

ministério.<br />

Em Abril <strong>de</strong> 2008 a família fez uma visita breve ao<br />

Algarve on<strong>de</strong> se encontraram com algumas famílias<br />

presbiterianas e metodistas que ali moram e que<br />

manifestaram muito interesse em apoiarem o projecto<br />

Cristãos Inconformistas<br />

Manuel Pedro Cardoso, 2008<br />

Tem este título um livro escrito por Manuel Pedro<br />

Cardoso que conta a história da mais antiga<br />

comunida<strong>de</strong> protestante lisboeta. A história da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Presbiteriana</strong> <strong>de</strong> Lisboa, que remonta a 1868, é<br />

precedida da narrativa das dificulda<strong>de</strong>s com que se<br />

<strong>de</strong>bateram os portugueses que tiveram simpatia pelo<br />

pensamento da Reforma, como Damião <strong>de</strong> Góis, ou<br />

a<strong>de</strong>riram publicamente a ela, como João Ferreira <strong>de</strong><br />

Almeida, primeiro tradutor da Bíblia para português.<br />

Num período como o nosso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> confusão<br />

religiosa, a <strong>Igreja</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>de</strong> Lisboa comemora<br />

140 anos <strong>de</strong> existência sublinhando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um Cristianismo adulto e inconformista.<br />

(BEI)<br />

<strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> uma nova igreja.<br />

Dêmos graças e oremos pelo trabalho <strong>de</strong>sta família<br />

e pelos casais presbiterianos e metodistas que moram<br />

no Algarve.<br />

(BEI)<br />

portugalevangélico|23


or<strong>de</strong>nações<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Evangélica</strong> <strong>Presbiteriana</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong><br />

viveu, no fim-<strong>de</strong>-semana <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Fevereiro e 1<br />

<strong>de</strong> Março, uma jornada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> regozijo e<br />

acção <strong>de</strong> graças.<br />

Em dois dias consecutivos esta comunida<strong>de</strong><br />

cristã consagrou ao Ministério Presbiteral três<br />

jovens: a Pastora Maria Eduarda Titosse, a<br />

Pastora Sandra Reis e o Pastor Luís <strong>de</strong> Matos.<br />

As celebrações ocorreram nas igrejas<br />

Lisbonense e do Bebedouro, num contexto <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> emoção e gran<strong>de</strong> aparato mediático.<br />

As centenas <strong>de</strong> cristãos que, literalmente,<br />

encheram os espaços <strong>de</strong> culto testemunharam<br />

uma vez mais a Graça do Deus, Todopo<strong>de</strong>roso,<br />

para com a sua <strong>Igreja</strong>.<br />

Procuraremos dar maior enfoque <strong>de</strong>ste<br />

acontecimento no próximo número do <strong>PE</strong>.<br />

24|portugalevangélico<br />

brevemente<br />

Encontro sobre a Unida<strong>de</strong> dos Cristãos,<br />

promovido pelo COPIC no Centro Social da<br />

Cova e Gala, Figueira da Foz.<br />

07 <strong>de</strong> Março<br />

Assembleia Geral da Região Protestante do<br />

Centro em Mourisca do Vouga, pelas 16h.<br />

08 <strong>de</strong> Março<br />

Plenário da Fe<strong>de</strong>ração Metodista <strong>de</strong> Mulheres<br />

em Oliveira <strong>de</strong> Azeméis.<br />

14 <strong>de</strong> Março<br />

Reunião do Ministério Diaconal da <strong>Igreja</strong><br />

Metodista no Porto.<br />

Encontro <strong>de</strong> Formação sobre o diálogo entre<br />

metodistas e católicos romanos com a<br />

presença do Rev. Trevor Hoogard,<br />

representante do Conselho Europeu<br />

Metodista no Vaticano.<br />

21 <strong>de</strong> Março<br />

Sínodo da <strong>Igreja</strong> Metodista em Valdozen<strong>de</strong>.<br />

28 e 29 <strong>de</strong> Março<br />

Encontro Nacional do Departamento da<br />

Juventu<strong>de</strong> Metodista.<br />

17 a 19 <strong>de</strong> Abril<br />

II Encontro <strong>de</strong> Mulheres da Região<br />

Protestante do Centro em Aguada <strong>de</strong> Cima.<br />

18 <strong>de</strong> Abril<br />

Assembleia Geral do COPIC em Aveiro.<br />

25 <strong>de</strong> Abril<br />

Domingo da Juventu<strong>de</strong> Metodista.<br />

17 <strong>de</strong> Maio<br />

Festa <strong>de</strong> Pentecostes da Região Protestante<br />

do Centro na Figueira da Foz.<br />

31 <strong>de</strong> Maio<br />

programas televisivos<br />

2009<br />

12-Mar Fé dos Homens IEPP<br />

22-Mar Caminhos COPIC<br />

26-Mar Fé dos Homens IEMP<br />

16-Abr Fé dos Homens ILCAE<br />

26-Abr Caminhos COPIC<br />

30-Abr Fé dos Homens IEPP<br />

07-Mai Fé dos Homens IEMP<br />

28-Mai Fé dos Homens ILCAE

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