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Os aloprados, por Paulo Brossard* - STF

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ARTIGOS<br />

Zero Hora/RS ­- Artigos ­- pág.: 13, Seg, 25 de Junho de 2012<br />

Ministros Aposentados (<strong>Paulo</strong> Brossard)<br />

<strong>Os</strong> <strong>aloprados</strong>, <strong>por</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Brossard*</strong><br />

Se não estou em erro, nas eleições de 2006, ocorreu<br />

um fato inédito, a negociação de “dossiê”<br />

supostamente comprometedor de um candidato ao<br />

governo de São <strong>Paulo</strong>. Segundo informações da<br />

polícia divulgadas pela imprensa, a peça em<br />

referência fora elaborada <strong>por</strong> dois sedizentes<br />

empresários estabelecidos em Cuiabá e oferecida ao<br />

“então chefe do Grupo de Informações do PT, Jorge<br />

Lorenzetti”, que, <strong>por</strong> sua vez, credenciou dois<br />

militantes para examinar os documentos oferecidos e<br />

encaminhar a negociação; parece que tudo se<br />

processou nesse sentido, uma vez que, já em São<br />

<strong>Paulo</strong>, no Hotel Ibis Aero<strong>por</strong>to, reuniram­-se<br />

vendedores e compradores, estes levando consigo o<br />

preço avençado de R$ 1.700.000 – um milhão e<br />

setecentos mil reais, quando, “na madrugada de 15 de<br />

setembro”, no mencionado hotel, a presença da<br />

Polícia Federal causou a dispersão da reunião,<br />

restando no local a massa de dinheiro destinada ao<br />

pagamento do “dossiê”. O fato, <strong>por</strong> sua evidente<br />

gravidade, chegou ao conhecimento do então<br />

presidente da República, Luiz Inácio da Silva, o qual<br />

minimizou o caso e como se fosse de somenos disse<br />

que era coisa de “<strong>aloprados</strong>”. Recorrendo a esse<br />

vocábulo da gíria que tem, entre outros, o sentido de<br />

amalucado ou meio irresponsável... nisso ficou, e o<br />

vocábulo presidencial correu mundo. E, <strong>por</strong> incrível<br />

que possa parecer, não se falou mais no assunto e em<br />

branca nuvem se passaram seis anos! <strong>Os</strong> <strong>aloprados</strong><br />

marcaram presença na cidade das letras.<br />

Passados seis anos, o caso voltou à tona. Ainda, pela<br />

imprensa, se ficou a saber que o Ministério Público<br />

Federal oferecera denúncia contra nove <strong>aloprados</strong><br />

compradores e não sei quantos vendedores do<br />

“dossiê”, e o juiz competente da 7ª Vara Criminal da<br />

Justiça Federal do Estado de Mato Grosso recebeu a<br />

denúncia.<br />

Este o resumo dos dados, aliás, já divulgados, que<br />

dão ideia da insigne gravidade registrada entre nós e<br />

só depois de seis anos ressuscita do túmulo em que<br />

jazia, podendo comprometer o processo partidário e<br />

parlamentar e, em consequência a representação<br />

popular, envenenando a higidez dos poderes<br />

Executivo e Legislativo. Esse o aspecto, sobre todos,<br />

que a mim mais impressiona. A demora, seis anos, a<br />

despeito da objetividade dos fatos, foi mais que<br />

exagerada e evidentemente nociva à decência<br />

institucional. De outro lado, quem recorre a esse<br />

expediente para ter uma vantagem eleitoral, uma vez<br />

eleito, terá escrúpulo em cometer uma ilicitude ainda<br />

que graúda? Vale lembrar que o então candidato, que<br />

seria o beneficiário deste expediente, é hoje o ministro<br />

da Educação. Quer dizer, essa prática, tolerada <strong>por</strong><br />

ser coisa de <strong>aloprados</strong>, vicia e contamina o exercício<br />

da política, que há de ser limpa e nobre ou não será<br />

política. Se os <strong>aloprados</strong>, na designação presidencial,<br />

possuem a habilidade de juntar R$ 1,7 milhão num<br />

repente, não devem ser tão <strong>aloprados</strong> como disse o<br />

passado chefe do governo. Com efeito, o fato de<br />

terem abandonado no hotel a dinheirama levada para<br />

pagamento do “dossiê”, está a mostrar que só podem<br />

ser afeitos a dis<strong>por</strong> de somas fartas, ou os <strong>aloprados</strong><br />

de <strong>aloprados</strong> não têm nada... O fato é lamentável sob<br />

todos os aspectos e tanto mais surpreendente quando<br />

o episódio teve como cenário o “Partido dos<br />

Trabalhadores”, e o trabalhador sabe o que custa de<br />

trabalho, zelo, competência profissional e dedicação<br />

para embolsar o seu salário, honradamente havido.<br />

*Jurista, ministro aposentado do <strong>STF</strong>


Zero Hora/RS ­- Artigos ­- pág.: 13, Seg, 18 de Junho de 2012<br />

Ministros Aposentados (<strong>Paulo</strong> Brossard)<br />

Boas lembranças, <strong>por</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>Brossard*</strong><br />

ARTIGOS<br />

<strong>Os</strong> jornais da semana passada me trouxeram<br />

lembranças de dois fatos, bem diferentes entre si, mas<br />

ambos de significação em suas respectivas áreas. O<br />

primeiro lembra os 10 anos decorridos da mudança do<br />

Hospital da Criança Santo Antônio da Avenida Ceará<br />

para o grande complexo da Santa Casa, com entrada<br />

pela Avenida Independência, fato este que me fez<br />

lembrar da inauguração do primeiro hospital pediátrico<br />

no Brasil, que desde os alicerces até seu<br />

funcionamento contou com a dedicação do seu<br />

primeiro diretor, o doutor Décio Martins Costa.<br />

Aproveito a ocorrência para recordar que era uma<br />

personalidade múltipla, como médico, professor,<br />

pediatra consagrado, político desde estudante,<br />

sempre filiado ao Partido Libertador, deputado<br />

estadual, candidato ao governo do Estado. A lhaneza<br />

de trato e firmeza de caráter, sem esquecer a fé<br />

religiosa, eram atributos da sua personalidade.<br />

Armando Câmara, que tinha faculdade de sintetizar a<br />

característica dominante de uma personalidade em<br />

meia dúzia de palavras, referindo­-se a seu amigo de<br />

geração e de vizinhança na Rua da Igreja, disse que<br />

Décio era um homem feito de barro, mas tocado <strong>por</strong><br />

Deus. Testemunhei sua alegria quando da<br />

inauguração do Santo Antônio à frente de um corpo de<br />

notáveis profissionais, bem como suas apreensões em<br />

face das inevitáveis dificuldades emergentes. Só a<br />

morte o afastou do hospital da sua especial afeição.<br />

Foi das melhores pessoas que a vida me permitiu<br />

conhecer e cuja memória me pareceu o<strong>por</strong>tuno<br />

recordar quando o Santo Antônio completa 10 anos de<br />

mudança de endereço sem deixar de ser o admirável<br />

Hospital da Criança.<br />

O segundo fato diz respeito à patrona dos festejos<br />

farroupilhas neste ano, dona Nilza Lessa, viúva do<br />

saudoso intelectual Luiz Carlos Barbosa Lessa.<br />

Pode­-se dizer que a homenagem ora prestada em<br />

caráter sem precedentes envolve a memória do<br />

apaixonado cultor das coisas rio­-grandenses.<br />

Recordo­-me nitidamente quando o Lessinha, como o<br />

chamava (uma vez que o Lessa, para mim, era o meu<br />

colega <strong>Paulo</strong> Barbosa Lessa, grande advogado,<br />

professor e mais tarde juiz insigne), juntamente com<br />

Paixão Côrtes, ambos os dois fundaram o primeiro<br />

Centro de Tradições Gaúchas – CTG 35. Gerações de<br />

gaúchos ilustres e amantes das coisas da terra<br />

haviam passado, e ninguém tivera a lembrança de<br />

zelar pela conservação de antigas tradições que<br />

começavam a ser esquecidas quando dois jovens,<br />

estudantes no Julinho, lançavam à terra as sementes<br />

do que viria a ser a mais bem­-sucedida iniciativa no<br />

sentido de conservar o que ainda sobrevivia a respeito<br />

e, a partir desse espólio cultural, complementá­-lo, e<br />

assim restaurar boa parte do que fora esquecido. A<br />

comprovar que não estou fazendo lisonja graciosa ao<br />

CTG, cujas sementes guardam no coração Paixão<br />

Côrtes e Barbosa Lessa, uma vez lançadas à terra,<br />

tomaram conta de coxilhas e canhadas, da fronteira<br />

ao centro do Estado, do Planalto ao Norte, irmanando<br />

os numerosos descendentes de alemães e italianos e<br />

dos demais imigrantes e, em pouco tempo, se<br />

converteram na mais im<strong>por</strong>tante entidade popular do<br />

Rio Grande. É muito, mas não é tudo, <strong>por</strong>que desde<br />

algum tempo o CTG virou uma instituição nacional que<br />

se estende da querência onde nasceu ao extremo<br />

norte do país e nesses longes, como pedaços do Rio<br />

Grande, estão fortemente enraizados. São Centros de<br />

Tradições Gaúchas pelo Brasil.<br />

O caminhão impôs a estrada, com ela o posto de<br />

combustível, muitas vezes local de pouso e de<br />

alimento, e o CTG chegou com o vento e a saudade<br />

dos novos bandeirantes que foram deixando tradições<br />

gaúchas pegadas de galho em terras distantes.<br />

*Jurista, ministro aposentado do <strong>STF</strong>

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