É o primeiro fundo florestal português
Fundo de Investimento pioneiro com rendimentos
médios de 4,7 por cento nos primeiros três anos
O primeiro fundo florestal português,
criado há cerca de três anos, investiu 20
milhões de euros em zonas de montanha
e desfavorecidas e proporcionou um rendimento
médio de 4,7 por cento ao ano,
segundo o seu director-geral. O fundo,
lançado em 2008, conta com investidores
públicos, o Instituto de Financiamento
da Agricultura e Pescas e privados, como a
Caixa Geral de Depósitos, Crédito Agrícola
SGPS, BES, Banif- Banco de Investimentos
e Fomentinvest Energia, e dedica-se à
compra e arrendamento de propriedades
para exploração florestal, gerindo actualmente
quase seis mil hectares de terra.
Luís Unas, o director-geral do Fundo
Floresta Atlântica, disse que o fundo
“ainda está em fase de estruturação” e
que o objectivo é atingir um rendimento
mínimo de 6 a 7 por cento quando entrar
em velocidade de cruzeiro. “Fazer investimento
numa zona de minifúndio demora
muito tempo, cada negócio demora seis
meses e a um ano: é preciso identificar os
proprietários, fazer avaliações, às vezes
registar as parcelas que podem ser tão
pequenas que o custo de regularização
administrativo excede os valores que
estamos a pagar pelo prédio. Daí que demora
algum tempo até atingirmos a velocidade
de cruzeiro”, justificou o gestor.
Em alguns anos, a rentabilidade pode
ser elevada, como aconteceu em 2010,
chegando aos 11,2 por cento, mas tudo
depende da fase de investimento. “Nesta
fase de compras de terras, novas plantações,
abertura de estradas, temos alguma
oscilação”, adiantou Luís Unas.
O Fundo dispõe de 5.600 hectares
distribuídos por 14 concelhos, dos quais
60 por cento estão arrendados, enquanto
os restantes foram adquiridos por 11,2
milhões de euros, concentrando as maiores
áreas em Vinhais, Covilhã, Portalegre
e Castelo Rodrigo.
As receitas provêm essencialmente
da venda da madeira sendo exploradas 17
espécies florestais, com predominância
do pinheiro-bravo, destinadas à indústria
do mobiliário, energia e fabrico de varas
e postes, mas a componente agrícola é
igualmente aproveitada. “Temos nogueiras,
amendoeira, cerejeira e castanheiros
e complementarmente uma série de produtos
que coexistem com a parte florestal,
como o mel e os cogumelos. Estamos
também a fazer ensaios de apanha de
flor de carqueja, folha de freixo e amoras
silvestres”, declarou Luís Unas, acrescentando
que o Fundo pode vir a obter ainda
receitas de carbono e de reservas de
caça turísticas. A flexibilidade do Fundo
é uma das principais vantagens. “Como
fazemos uma gestão integrada do ecossistema
florestal, conseguimos uma série
de receitas antecipadas. O problema do
investimento na floresta é o deferimento
da receita que pode levar 10 a 15 anos no
caso do pinheiro ou 40 no caso do sobreiro”,
sublinhou o mesmo responsável.
O director-geral destacou, por outro
lado, os impactos positivos para a economia
local e para o emprego, afirmando
que já foram criados cerca de 200 postos
de trabalho directos em zonas deprimidas
do interior. “Tentamos que os serviços e
a mão-de-obra sejam adquiridos localmente,
tentamos que o ‘outsourcing’ fique
na região”, garantiu.
Além disso, as parcerias com produtores
locais permitem “um volume de
produção maior”, dando mais visibilidade
às pequenas estruturas que beneficiam
de «escala e profissionalismo a nível de
escoamento, definição dos produtos e
marketing”.
A floresta sai também beneficiada,
pois o Fundo desenvolve “um programa
rigoroso” a nível da prevenção e gestão
de riscos, quer na componente de fogos,
quer de pragas e doenças. “Temos
equipas de sapadores próprias e estabelecemos
parcerias com juntas e com
protecção civil. Até agora tem corrido
muito bem: em três anos arderam apenas
cerca de 15 hectares”, congratulou-se
Luís Unas.
As florestas geridas pelo Fundo são
certificadas, ou estão em fase de certificações,
e a produção agrícola é biológica.
Presidente da ANEFA defende prioridades
Empresas florestais preocupadas com dados
sobre execução no Proder
As empresas florestais
estão preocupadas com
os dados que apontam
para uma execução de 89
por cento do Programa
de Desenvolvimento Rural
(ProDeR), quando em
Junho era de 57 por cento,
uma rápida evolução para
a qual a associação do
sector diz não encontrar
explicação.
“Ficámos a saber que 89 por cento
das verbas do ProDeR já estariam comprometidas.
O que não conseguimos entender
é como há quatro meses nos era
pedido para fazermos um esforço grande
junto dos proprietários para que aderissem”
ao programa e “passados três meses,
durante os quais não houve tempo
sequer para fazer os projectos, se vem
afirmar que 89 por cento do valor já está
comprometido”, explicou Pedro Serra
Ramos, presidente da Associação Nacional
de Empresas Florestais, Agrícolas e do
Ambiente (ANEFA).
As medidas florestais “começaram a
funcionar em Maio e entre as empresas
arranjarem clientes, porem os projectos
a funcionar, apresentarem planos de
gestão florestal e obterem aprovação,
não chegam os três meses para aquela
evolução”, defendeu Pedro Serra Ramos.
“É isto que ninguém consegue explicar: o
que aconteceu ao ProDeR que de repente
deixou de ser um monstro e um mar de
problemas”, insistiu. De qualquer modo,
“entre os diversos grupos parlamentares”
contactados “não havia certeza destes
números”, admitiu Pedro Serra Ramos.
Segundo o responsável, “alguém
avançou que esta evolução estaria associada
a compromissos das medidas
agro-ambientais”. A confirmar-se essa
situação, “numa altura em que o país precisa
de investimento, como é que se tira
dinheiro a um sector florestal que gera 15
por cento de exportações para agro-ambientais
que nada produzem e que é uma
transmissão de verbas por boas práticas
que são seguidas do ponto de vista ambiental
pelos agricultores”, questionou o
representante das empresas do sector.
Para a ANEFA, “a única coisa que o
conjunto de medidas agro-ambientais
faz é garantir uma sustentabilidade ambiental
que, neste momento, é aquilo que
teria menos prioridade”.
Acerca do cadastro florestal, outra área
em análise, Pedro Serra Ramos especificou
que foi feita uma tentativa para caminhar
para um modelo que “era o óptimo”, o do
Instituto Geográfico Português. “Nós já não
temos espaço, nem dinheiro para continuarmos
a trabalhar sem que haja uma base
cadastral que seja feita de uma forma muito
mais expedita e barata”, aproveitando
recursos já existentes, como o parcelário,
levantamentos feitos para Zonas de Intervenção
Florestal ou a cartografia feita para
incêndios, salientou.
Segundo os números citados pelo
presidente da ANEFA, a programação total
do ProDeR envolve 4.558 milhões de
euros e “nos dados oficiais” de 21 de Outubro
a taxa de realização era de 54 por
cento e a taxa de contratação de 60 por
cento. Em Junho, o Proder tinha 57 por
cento comprometido e 33 por cento executado,
acrescenta a associação.
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