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cuidadores familiares de idosos dementados - CFH - UFSC

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:: LEVIS :: Laboratório <strong>de</strong> Estudos das Violências :: <strong>CFH</strong> :: <strong>UFSC</strong> ::<br />

CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS DEMENTADOS: UMA REFLEXÃO SOBRE A<br />

DINÂMICA DO CUIDADO E DA CONFLITUALIDADE INTRA-FAMILIAR<br />

SILVIA MARIA AZEVEDO DOS SANTOS<br />

THEOPHILOS RIFIOTIS<br />

CRÉDITOS DOS AUTORES<br />

SILVIA MARIA AZEVEDO DOS SANTOS - Enfermeira, Professora Adjunta do Departamento <strong>de</strong> Enfermagem<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina - <strong>UFSC</strong>, membro efetivo do Grupo <strong>de</strong> Estudos sobre Cuidados <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

em Pessoas Idosas - GESPI/PEN/ <strong>UFSC</strong>. Mestre em Enfermagem pela <strong>UFSC</strong> e Doutora em Educação pela<br />

UNICAMP, com área <strong>de</strong> concentração em Gerontologia. Tem o título <strong>de</strong> Especialista em Gerontologia pela<br />

Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Geriatria e Gerontologia.<br />

THEOPHILOS RIFIOTIS - Antropólogo, Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> Antropologia Social da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina - <strong>UFSC</strong>. Coor<strong>de</strong>nador do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Antropologia<br />

Social - <strong>UFSC</strong>. Coor<strong>de</strong>nador do Laboratório <strong>de</strong> Estudos das Violências - LEVIS - <strong>UFSC</strong>. Mestre em Antropologia<br />

Social na Université René Descartes - Paris V e Doutor em Sociologia pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - USP.<br />

RESUMO<br />

Página 1 <strong>de</strong> 20<br />

Esse artigo apresenta e discuti as tensões, dilemas e conflitos experienciados por famílias cuidadoras <strong>de</strong> <strong>idosos</strong><br />

portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>mência. As reflexões contidas nesse trabalho tem por base uma pesquisa qualitativa realizada junto<br />

a doze famílias, on<strong>de</strong> utilizou-se a etnografia como referencial metodológico. O objetivo foi investigar como se<br />

instituí o papel <strong>de</strong> cuidador no contexto familiar e quais são os significados atribuídos pelas famílias à experiência <strong>de</strong><br />

cuidado. O estudo do universo dos <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong>mentados nos mostra o grau <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> da sua<br />

condição, sua insatisfação com o diagnóstico, o cansaço com as situações imprevisíveis criadas pelo portador, o<br />

sentimento <strong>de</strong> impotência e mesmo <strong>de</strong> inutilida<strong>de</strong> da sua condição frente a uma doença <strong>de</strong>generativa. Deste quadro<br />

complexo emergem conflitos que po<strong>de</strong>riam levar ao rompimento familiar, porém esses geralmente são condições<br />

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fundamentais para enfrentar e resolver divergências, tendo como conseqüência o fortalecimento das relações <strong>de</strong>ntro<br />

do núcleo familial.<br />

Palavras-chave: Cuidador, Idosos, Demências, Família, Conflito.<br />

Cuidadores Familiares <strong>de</strong> Idosos Dementados: uma reflexão sobre a dinâmica do cuidado e da<br />

conflitualida<strong>de</strong> intra-familiar<br />

Silvia Maria Azevedo dos Santos Theophilos<br />

Rifiotis<br />

1 – INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA<br />

O crescimento da população idosa é certamente um dos fenômenos mais marcantes do século XX, cujas implicações<br />

sociais são multifacetadas e já se fazem presentes no nosso quotidiano. O enfrentamento diário das transformações<br />

micro e macro-societais, para além da metáfora da inversão da pirâmi<strong>de</strong> etária, geralmente acompanhada <strong>de</strong><br />

discursos sobre os custos sociais (pensões e medicalização), tem colocado concretamente para um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

pessoas uma série <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong>correntes da reconfiguração das relações inter-geracionais e <strong>familiares</strong>, da busca<br />

<strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los valorativos do envelhecimento, da ressignificação do envelhecimento, da doença e da morte. Uma<br />

das dimensões que merece especial atenção, porque ainda é pouco conhecida na sua dinâmica quotidiana, é o<br />

aumento do grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> uma parcela crescente da população, das doenças crônico-<strong>de</strong>generativas, assim<br />

como uma maior <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> cuidados públicos e privados.<br />

Página 2 <strong>de</strong> 20<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stacam-se as mudanças significativas no quadro <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>, isto é,<br />

redução da incidência e morte por doenças infecto-contagiosas e aumento da incidência e morte por doenças crônico-<br />

<strong>de</strong>generativas típicas <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s mais avançadas. Entre elas, as cérebro-vasculares, que embora não sejam as<br />

principais causas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, apresentam efeitos <strong>de</strong>vastadores com altos custos afetivos e financeiros para o<br />

indivíduo e sua família. Entre as doenças cérebro-vasculares, as <strong>de</strong>mências do tipo Doença <strong>de</strong> Alzheimer, Demência<br />

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Vascular, Demência Mista (Alzheimer e Vascular), Demência Fronto-temporal, Demência por Corpos <strong>de</strong><br />

Lewy e Demência na Doença <strong>de</strong> Parkinson são as mais freqüentes e acometem milhões <strong>de</strong> pessoas em todo mundo, a<br />

ponto <strong>de</strong> terem sido eleitas como o principal foco <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ntre todas as doenças que afetam o cérebro nas<br />

últimas duas décadas (HINTON et al., 1999). Essas doenças têm um comportamento <strong>de</strong> doenças ida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

isto é, sua prevalência aumenta à medida em que a ida<strong>de</strong> também aumenta.<br />

De maneira geral, os estudos epi<strong>de</strong>miológicos apontam uma prevalência <strong>de</strong> <strong>de</strong>mências em <strong>idosos</strong> que variam<br />

<strong>de</strong> 1 a 2% nos indivíduos na faixa dos 60 a 65 anos; 20% na faixa dos 80 a 90 anos e 40% aos 91 anos ou mais<br />

(LUDERS & STORANI, 1996; BRIGGS, 1996; ALMEIDA, 2000; SAVONITI, 2000). Vale <strong>de</strong>stacar, que os casos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mências <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida são mais freqüentes em indivíduos nonagenários, ficando em torno <strong>de</strong> 48%<br />

(CRYSTAL et al., 2000). Foi encontrada uma pequena prevalência <strong>de</strong> <strong>de</strong>mências (1%) na população idosa na faixa<br />

dos 60 anos, porém a partir dos 85 anos ou mais a prevalência salta para aproximadamente 40% (BOLLA et al.<br />

2000) .<br />

Mister se faz lembrar que, a prevalência <strong>de</strong> <strong>de</strong>mências na velhice extrapola o evento biológico em si, uma vez<br />

que elas têm diferentes representações e repercussões no contexto econômico, político, social e cultural das pessoas e<br />

famílias por elas afetadas. Especialmente porque a família ainda é o lócus preferencial no processo <strong>de</strong> cuidar dos<br />

<strong>idosos</strong>, sejam eles <strong>de</strong>mentados ou não, conforme apontam os estudos da literatura internacional e brasileira. O que<br />

difere, no caso dos <strong>idosos</strong> <strong>de</strong>mentados, é o fato <strong>de</strong>sses requererem cuidados integrais diuturnamente. Assim, assumir<br />

a função <strong>de</strong> cuidador <strong>de</strong> um idoso <strong>de</strong>mentado não é um papel transitório, porque na maioria dos casos o portador irá<br />

viver 10 ou 20 anos em situação <strong>de</strong> crescente <strong>de</strong>pendência, requerendo atenção contínua nas 24 horas do dia. A<br />

maneira como as famílias lidam e se organizam para assumir estes cuidados é muito variada e muitas vezes<br />

envolvem outras pessoas que fazem parte do grupo doméstico, como as empregadas domésticas. É exatamente sobre<br />

as práticas concretas <strong>de</strong>senvolvidas no cuidado dos <strong>idosos</strong> <strong>de</strong>mentados, com suas estratégias, seus dilemas e<br />

conflitos, que <strong>de</strong>senvolvemos o presente texto. Procuramos assim colocar em evidência não um caráter prescritivo<br />

sobre como <strong>de</strong>vem atuar os <strong>cuidadores</strong>, mas recuperar através da pesquisa a sua fala, com seus reclamos,<br />

necessida<strong>de</strong>s e soluções quotidianamente construídas.<br />

No Brasil essa talvez seja uma situação um pouco mais caótica do que em outros países da Europa e América<br />

do Norte, porque aqui as famílias não contam com qualquer tipo <strong>de</strong> re<strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou social. Ainda que a<br />

Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Idoso, regulamentada pela Portaria 1395 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1999, reforce a importância<br />

<strong>de</strong> se estabelecer uma “parceria” que envolva “<strong>cuidadores</strong> profissionais” e “<strong>cuidadores</strong> leigos”. De tal modo, que a<br />

assistência domiciliar aos <strong>idosos</strong> fragilizados, oferecida pelos profissionais, compreenda também esclarecimentos e<br />

orientações aos <strong>cuidadores</strong> quanto aos cuidados que <strong>de</strong>vem ser prestados aos <strong>idosos</strong>, bem como o que fazer para<br />

garantir a manutenção <strong>de</strong> sua própria saú<strong>de</strong>. No caso da Doença <strong>de</strong> Alzheimer, <strong>de</strong>mência que mais comumente afeta<br />

a população idosa (algo em torno <strong>de</strong> 50% dos casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mências), foi criada a Portaria Nº 703/GM/2002. Essa<br />

propõe um programa <strong>de</strong> assistência aos portadores <strong>de</strong>sta doença e suporte a seus <strong>familiares</strong> <strong>de</strong>ntro do âmbito do<br />

Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - SUS -, mas que até o momento praticamente não saiu do papel, a exceção da distribuição<br />

gratuita <strong>de</strong> medicamentos, que mesmo assim ocorre <strong>de</strong> forma irregular.<br />

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Assim, o vir-a-ser um cuidador <strong>de</strong> um idoso <strong>de</strong>mentado no contexto domiciliar implica numa multiplicida<strong>de</strong><br />

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<strong>de</strong> interações, negociações, aproximações e separações, dilemas e conflitos interpessoais, que precisam ser<br />

melhor estudados. É importante lembrar que, num sentido mais amplo, a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência ten<strong>de</strong> a crescer<br />

com a ida<strong>de</strong>, levando a estimativas <strong>de</strong> que 40% da população com mais <strong>de</strong> 65 anos requer auxílio para ativida<strong>de</strong>s<br />

como compras, cuidar das finanças, preparar refeições, limpar a casa e que 10% necessita <strong>de</strong> auxílio para tarefas tão<br />

básicas quanto como tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, alimentar-se, etc. (RAMOS et al., 1993). O que mostra a<br />

importância <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> práticas quotidianas e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ampliação das pesquisas junto à população<br />

idosa para conhecer seus círculos domésticos, suas relações sociais e o tipo <strong>de</strong> apoio e ajuda mútua que po<strong>de</strong>m<br />

contar. Aliás, neste mesmo sentido o envelhecimento populacional <strong>de</strong>veria nos preocupar mais acentuadamente no<br />

que tange a vitimização <strong>de</strong> <strong>idosos</strong>, seja no âmbito familiar ou outro, que po<strong>de</strong> estar crescendo seja pelos maus-tratos<br />

e abusos <strong>de</strong> <strong>familiares</strong>, ou apropriação financeira realizada pelos mesmos [1] .<br />

É exatamente nos termos <strong>de</strong> situações limites, especificamente aquelas que envolvem um acentuado grau <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> pessoas idosas e as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atenção e cuidado que elas necessitam que colocamos em <strong>de</strong>bate<br />

o presente texto. Trata-se <strong>de</strong> um estudo sobre as práticas dos cuidados com pessoas idosas com <strong>de</strong>mência e a<br />

dinâmica familiar dos seus <strong>cuidadores</strong>, seus dilemas, estratégias e conflitos.<br />

Destacamos, em termos teóricos, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma revisão conceitual no campo da violência e da conflitualida<strong>de</strong><br />

como expressão <strong>de</strong> tensões e dilemas, geralmente consi<strong>de</strong>rados como momento <strong>de</strong> negação das relações sociais. Na<br />

perspectiva teórica adotada aqui, o conflito é uma categoria analítica <strong>de</strong> relações sociais, e não a sua negação como<br />

no discurso moral. Em outros termos, procuramos colocar em evidência a capacida<strong>de</strong> produtiva do conflito, como<br />

um dos autores <strong>de</strong>ste trabalho vem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo nos últimos anos (RIFIOTIS, 1997, 1999). Seguindo a tradição<br />

inaugurada por Simmel (1992), procuramos mostrar que o conflito, assim como a cooperação, faz parte da socieda<strong>de</strong>,<br />

é uma espécie <strong>de</strong> regulador social e fonte <strong>de</strong> mudanças sociais e é uma solução <strong>de</strong> tensões, restabelecendo unida<strong>de</strong>s<br />

em crise. Como mostramos no presente texto, os sentimentos e as cobranças e incompreensões são causa dos<br />

conflitos entre <strong>familiares</strong> e são os elementos <strong>de</strong> dissensão. Uma vez <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado o conflito, passamos por um<br />

movimento <strong>de</strong> proteção contra o dualismo que separa, abrindo-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma via que po<strong>de</strong> levar a uma<br />

nova unida<strong>de</strong>, ou nas palavras <strong>de</strong> Simmel: “o conflito é uma resolução das tensões entre contrários” (1992,p.20).<br />

Em síntese, a tendência <strong>de</strong> crescimento da parcela da população, <strong>cuidadores</strong> e portadores, envolvidos em situação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência, coloca a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um melhor conhecimento das suas dificulda<strong>de</strong>s para que possamos pensar<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte social que possam contribuir para um melhor enfrentamento das dificulda<strong>de</strong>s e possibilitar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para todos. Por esta razão consi<strong>de</strong>ramos oportuno focalizar as<br />

experiências quotidianas dos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong> <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>mências, a dinâmica do cuidado e da<br />

conflitualida<strong>de</strong> intra-familiar, a partir <strong>de</strong> um diálogo interdisciplinar e um exercício <strong>de</strong> reflexão a quatro mãos.<br />

2 – SINOPSE DA PESQUISA EMPÍRICA<br />

Página 4 <strong>de</strong> 20<br />

Frente a este contexto, tivemos o interesse <strong>de</strong> pesquisar os significados atribuídos pelos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong><br />

ao processo <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> um idoso <strong>de</strong>mentado, no espaço doméstico, e sua implicação no modo <strong>de</strong> vivenciar os<br />

dilemas e tensões nas experiências concretas quotidianas das famílias. Na busca <strong>de</strong> uma melhor compreensão <strong>de</strong>ssas<br />

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questões um dos autores <strong>de</strong>ste trabalho realizou uma pesquisa qualitativa inspirada no pensamento interpretativista<br />

<strong>de</strong> Geertz (1989) e nos referenciais da antropologia da saú<strong>de</strong>, utilizando a etnografia como referencial metodológico.<br />

O estudo foi realizado com doze famílias, das quais seis famílias eram <strong>de</strong> origem nipo-brasileira e seis famílias <strong>de</strong><br />

origem brasileira, resi<strong>de</strong>ntes no Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

A coleta dos dados foi feita nos domicílios, mediante agendamento e consentimento prévio, no período entre<br />

abril <strong>de</strong> 2000 e julho <strong>de</strong> 2001, com um mínimo três e um máximo <strong>de</strong> sete visitas a cada grupo familiar. Para essa<br />

etapa do estudo foi utilizada as técnicas <strong>de</strong> observação direta <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> e entrevistas abertas com os membros<br />

das suas famílias, procurando caracterizar-se as práticas e representações mobilizadas em torno do cuidado aos<br />

<strong>idosos</strong> <strong>de</strong>mentados. Optou-se por entrevistar outros membros <strong>de</strong> cada grupo familiar, além daquele que a literatura<br />

chama <strong>de</strong> “cuidador familiar primário”, para que pudéssemos alargar o horizonte da pesquisa restituindo a<br />

complexida<strong>de</strong> das relações, dilemas e conflitos mobilizados nas práticas dos cuidados. Assim, po<strong>de</strong>-se perceber ao<br />

longo da pesquisa que a doença afetava não somente a pessoa idosa e o “cuidador primário”, mas a toda sua família<br />

e que seria necessário buscar compreen<strong>de</strong>r melhor como ela repercutia nos outros membros da família. Por este<br />

motivo, em vários momentos, foram entrevistados os <strong>de</strong>mais membros <strong>de</strong> cada família a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se<br />

compreen<strong>de</strong>r como ocorriam as interações com outros <strong>familiares</strong> e suas relações com o idoso <strong>de</strong>mentado, bem como<br />

a organização familiar dos cuidados, formando uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte, como eles se articulavam para tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões, e como avaliavam as suas experiências <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>. Em outros termos, como se <strong>de</strong>finem os papéis <strong>de</strong><br />

<strong>cuidadores</strong>, as suas responsabilida<strong>de</strong>s e como elas são aceitas e rejeitadas, no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição da atribuição da<br />

posição <strong>de</strong> cuidador na sua pluralida<strong>de</strong>.<br />

Essas diferentes situações produziram registros <strong>de</strong> campo, representações da relações <strong>de</strong> parentesco entre os<br />

membros das famílias (heredogramas) e um corpus inicialmente constituído pela transcrição literal do conteúdo das<br />

entrevistas. Todo esse material foi utilizado no processo <strong>de</strong> análise dos dados, tendo sido realizada uma análise <strong>de</strong><br />

discurso com o apoio do programa computacional - QSR NUD*IST (Non-Numeric Unstructured Data, Ín<strong>de</strong>x,<br />

Searching and Theorizing). Através <strong>de</strong> uma análise profunda <strong>de</strong>sse material foi possível i<strong>de</strong>ntificar os principais<br />

eixos temáticos que <strong>de</strong>rivaram das falas <strong>de</strong>sses <strong>cuidadores</strong>, que foram: a construção da <strong>de</strong>mência como doença e a<br />

ressignificação do familiar como doente, o cuidador familiar na sua pluralida<strong>de</strong>, a complexida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong><br />

cuidar, o grupo doméstico e a dinâmica <strong>de</strong> interações com o cuidador familiar, tensões, dilemas e conflitos vividos<br />

pelos <strong>cuidadores</strong> 2.<br />

Desta forma, nossa proposta neste artigo é apresentar e discutir as relações interpessoais e os<br />

conflitos i<strong>de</strong>ntificados a partir <strong>de</strong> entrevistas e observações diretas junto a famílias cuidadoras <strong>de</strong> idoso <strong>de</strong>mentados.<br />

Assim, buscamos investigar os conflitos que mais comumente acontecem nas interações do cuidador com o<br />

portador; cuidador e os <strong>de</strong>mais membros da família; o cuidador com ele mesmo, ou seja, com os seus dilemas éticos<br />

e pessoais.<br />

3 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />

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A partir da revisão da literatura, <strong>de</strong> nossas observações <strong>de</strong> campo e das entrevistas realizadas, consi<strong>de</strong>ramos<br />

que a primeira gran<strong>de</strong> questão a ser abordada é a eleição da pessoa que exercerá as função <strong>de</strong> cuidador familiar<br />

principal. Buscamos dialogar com a literatura especializada no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver como se estabelecem as<br />

interações interpessoais, com suas tensões e conflitualida<strong>de</strong>s, e como acontece efetivamente a <strong>de</strong>finição do cuidador<br />

<strong>de</strong> um idoso portador <strong>de</strong> uma Síndrome Demencial.<br />

A dimensão fundamental da eleição do “cuidador familiar” está intimamente ligada ao campo das estruturas<br />

<strong>de</strong> parentesco e dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>, e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> obrigações e<br />

<strong>de</strong>veres. No âmbito <strong>de</strong>stas relações a questão <strong>de</strong> gênero ocupa posição central, o que fica evi<strong>de</strong>nciado nos trabalhos<br />

e pesquisas da literatura gerontológica, pois são as mulheres a gran<strong>de</strong> maioria do contingente <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> das<br />

pessoas idosas fragilizadas 3.<br />

É digno <strong>de</strong> nota, no entanto, que nas doze famílias com as quais trabalhamos<br />

encontramos também homens assumindo o papel <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> principais, ainda que, para tanto contassem com a<br />

ajuda <strong>de</strong> outros elementos da família ou <strong>de</strong> terceiros, geralmente do sexo feminino. Enten<strong>de</strong>mos que esta questão<br />

mereceria um estudo específico que nos permitisse compreen<strong>de</strong>r melhor como atua o cuidador do sexo masculino e<br />

se há diferenciação significativa na prática do cuidar.<br />

No que tange ao grau <strong>de</strong> parentesco lembramos que, o que interfere na escolha dos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong> são<br />

as relações <strong>de</strong> parentesco que estes mantêm com o idoso, pois geralmente é em torno da família, das articulações <strong>de</strong><br />

gênero e das gerações que se estabelecem ao longo <strong>de</strong> uma vida em comum que isso irá se <strong>de</strong>finir. Estudos e<br />

pesquisas realizados apontaram que em primeiro lugar é o cônjuge quem mais assume o papel <strong>de</strong> cuidador primário,<br />

não apenas pela proximida<strong>de</strong> afetiva, mas também pelas responsabilida<strong>de</strong>s assumidas no matrimônio e por<br />

obediência às normas e padrões sócio-culturais 4.<br />

Na nossa pesquisa observamos um comportamento bastante semelhante ao citado na literatura, mas cabe<br />

<strong>de</strong>staque especial para o fato <strong>de</strong> que em 60% das famílias existia a figura da “empregada doméstica”, que além <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenhar as funções para as quais fora contratada, tinha também um significativo papel no processo <strong>de</strong> cuidar do<br />

idoso <strong>de</strong>mentado. Isso só foi possível perceber-se porque fomos aos domicílios não apenas para fazer as entrevistas,<br />

mas também para fazer a observação in loco <strong>de</strong> tudo o que envolvia o processo <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> um idoso <strong>de</strong>mentado no<br />

contexto domiciliar. Dessa maneira, procuramos i<strong>de</strong>ntificar como se estabelecia a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte ao cuidador e as<br />

suas interações não somente no interior da família mas com todos os elementos do grupo doméstico. Parece-nos,<br />

que a figura da empregada doméstica ainda é bastante invisível na literatura referente a <strong>cuidadores</strong>, porém ela é uma<br />

gran<strong>de</strong> facilitadora do trabalho do cuidador possibilitando a esse inclusive assumir outros compromissos. Em<br />

síntese, a empregada doméstica está envolvida nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidado e atua como um mediador importante,<br />

inclusive para diminuir as tensões do cuidador principal.<br />

Página 6 <strong>de</strong> 20<br />

As faixas etárias dos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong> primários variam <strong>de</strong> acordo com a relativa hierarquia que existe<br />

em relação a sua escolha entre as gerações: entre os cônjuges a ida<strong>de</strong> média está em torno dos 70 anos, mas oscila na<br />

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faixa dos 60-75 anos. Vale lembrar que, não raramente, encontramos cônjuges <strong>cuidadores</strong> com 85 anos ou mais. Já<br />

entre as(os) filhas(os) e noras a faixa etária é uma pouco mais elástica, esten<strong>de</strong>ndo-se entre os 40-60 anos, com casos<br />

eventuais <strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong> um pouco superior, também. Ao nos referirmos a netas(os) como <strong>cuidadores</strong><br />

<strong>de</strong>vemos pensar que se trata <strong>de</strong> indivíduos saindo da adolescência e entrando na vida adulta e, portanto, numa forte<br />

quebra <strong>de</strong> expectativas dos projetos indivíduais 5.<br />

A escolha do cuidador está intimamente ligada à “proximida<strong>de</strong> física”, ou seja a pessoa da família que está<br />

mais próxima do portador, geralmente aquela que mora junto com o idoso ou com quem ele passa a residir, como por<br />

exemplo, no caso <strong>de</strong> uma nora. A proximida<strong>de</strong> física está intimamente ligada a relações <strong>de</strong> parentesco e mais<br />

especificamente à uma “proximida<strong>de</strong> afetiva”, <strong>de</strong>stacadamente conjugal ou filial. Além <strong>de</strong>sses critérios, citados por<br />

Men<strong>de</strong>s (1998) é possível encontrar-se em uma mesma família vários tipos <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong> (primários, secundários,<br />

terciários) 6 que ocupam posições diferentes <strong>de</strong> acordo com as circunstâncias, os diferentes períodos <strong>de</strong> evolução da<br />

doença e/ou da dinâmica familiar. Através das observações realizadas na pesquisa <strong>de</strong> campo o que parece se<br />

evi<strong>de</strong>nciar é que em uma mesma família vamos encontrar as mais diversas configurações <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>, que<br />

ocuparão maior ou menor <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> cuidados requeridos pelo portador e/ou condições<br />

do cuidador em executá-los. Po<strong>de</strong>ríamos chamar esta estrutura <strong>de</strong> "re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>" e a dinâmica <strong>de</strong> posições<br />

assumidas pelos diversos <strong>cuidadores</strong> chamamos <strong>de</strong> "balé <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>". Um cenário que longe <strong>de</strong> ser totalmente<br />

equilibrado e harmonioso está, como temos procurado mostrar até aqui, marcado também por controvérsias e pela<br />

falta <strong>de</strong> sincronia.<br />

Página 7 <strong>de</strong> 20<br />

As situações com maior tensão entre o cuidador e os <strong>de</strong>mais membros da família foi observada quando o<br />

cuidador principal não tem relação conjugal com o portador. A responsabilida<strong>de</strong> e o conseqüente <strong>de</strong>sgaste físico e<br />

emocional que acompanham o <strong>de</strong>sempenho das ativida<strong>de</strong>s diuturnas <strong>de</strong> cuidado, assim como a adaptação dos projetos<br />

individuais à condição <strong>de</strong> cuidador principal, são percebidos como mais problemáticos quando a relação entre<br />

cuidador e portador modifica mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> relacionamento intra-familiar. Apenas para dar um exemplo, po<strong>de</strong>mos<br />

imaginar que uma filha mais nova po<strong>de</strong> passar a ter ascendência sobre os <strong>de</strong>mais membros da família na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

cuidados e <strong>de</strong> gastos. Porém, a conflitualida<strong>de</strong> expressa em constantes reclamações e cobranças, geralmente<br />

acompanhadas por um reconhecimento do sacrifício, conferem ao cuidador uma certa ascendência no interior do<br />

grupo familiar. Aliás, não é raro que tal posição seja até mesmo disputada quando está envolvida uma herança.<br />

Como todos os quadros conflitivos, as situações <strong>de</strong> crise confun<strong>de</strong>m temporalida<strong>de</strong>s, fazendo ressurgir disputas<br />

antigas que se cruzam com situações atuais. Tal situação é possível <strong>de</strong> ser percebida nos seguintes relatos:<br />

"Minhas irmãs e meus irmãos vem todos os finais <strong>de</strong> semana aqui para casa para ajudar a cuidar <strong>de</strong><br />

minha mãe, nesses dias minhas irmãs assumem todos os cuidados, é quando eu posso sair. Mas minhas<br />

irmãs não são boas cuidadoras, ficam fazendo corpo mole, a que mais ajuda é a mais velha, ainda assim<br />

precisa ser lembrada. Eu já experimentei não lembrar o horário da troca <strong>de</strong> fraldas e elas <strong>de</strong>ixaram<br />

minha mãe quase todo dia sem trocá-la, foi necessário que eu perguntasse na meta<strong>de</strong> da tar<strong>de</strong> quando<br />

elas iriam trocas as fraldas da mãe? O mesmo acontece com a alimentação e o banho!...isso me<br />

incomoda, pois não consigo ficar totalmente <strong>de</strong>scansada e <strong>de</strong>spreocupada." (Brinco-<strong>de</strong>-<br />

Princesa - 42 anos - filha - Fnb 7 4)<br />

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"Minha vida mudou muito <strong>de</strong>pois que eles (sogros) vieram morar aqui, não temos uma folga e nos finais<br />

<strong>de</strong> semana sempre temos que passar lá e eles estão sempre se queixando <strong>de</strong> solidão. O meu marido<br />

esperava que outras pessoas da família fossem nos ajudar, mas o meu cunhado só passou a assumir mais<br />

<strong>de</strong>pois que as coisas pioraram muito. Ele quase não os procurava, mas eu ainda tive que ouvir <strong>de</strong>le que<br />

ele não fazia mais pelos pais porque eu não <strong>de</strong>ixava espaço...ele chegou a dar a enten<strong>de</strong>r que eu fazia<br />

tudo isso contando em receber ou ficar com parte da herança, isso ainda está trancado aqui..."<br />

(Lis - 34 anos - nora - Fb 8 1)<br />

"Meu marido está com gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s para enten<strong>de</strong>r a doença que sua mãe vem enfrentando e<br />

tenta negar tudo isso tratando-a com o máximo <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> possível, porém exigindo <strong>de</strong>la o que ela<br />

não tem mais condições <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r. Esta talvez seja uma forma <strong>de</strong> negação da realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> um<br />

problema que está sendo muito difícil <strong>de</strong> enfrentar...uma vez que só restou ele e uma irmã que mora nos<br />

EUA. Minha sogra foi passar uns tempos lá, mas minha cunhada não agüentou por muito tempo e<br />

antecipou sua viagem <strong>de</strong> volta para o Brasil."<br />

(Papoula - 44 anos - nora - Fb 6)<br />

"Eu gostaria muito <strong>de</strong> estudar, me especializar, meu marido cobra inclusive isso <strong>de</strong> mim, mas no<br />

momento eu não posso pois tenho que cuidar das crianças, faço todo o serviço da casa e trabalho fora<br />

todas as tar<strong>de</strong>s. Além disso não temos dinheiro sobrando que me permita pagar nada, pois assumimos<br />

todas as <strong>de</strong>spesas dos meus sogros."<br />

(Lis - 34 anos - nora - Fb 1)<br />

Por outro lado, foi possível também perceber que o cuidador surge através <strong>de</strong> uma relação, digamos, dialética<br />

com o não-cuidador, isto é, a medida em que um dos membros da família vai se comprometendo cada vez mais com<br />

o processo <strong>de</strong> cuidar do idoso, outro ou outros se <strong>de</strong>svencilham <strong>de</strong>le. O que não quer dizer que se omitam em<br />

participar ou em compartilhar questões financeiras, opiniões e sugestões quanto a encaminhamentos ou mesmo<br />

críticas quanto ao cuidado executado. Este tipo <strong>de</strong> dinâmica nunca acontece <strong>de</strong> forma tranqüila e linear, ou seja, as<br />

relações interpessoais quase sempre são bastante afetadas e possuem momentos <strong>de</strong> maior e menor conflitualida<strong>de</strong>,<br />

quase sempre relacionados as mudanças ocorridas na evolução da doença do idoso.<br />

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"A minha filha fala mãe, mas que paciência! Eu não agüento, eu não agüento ela diz! Então eu peço a<br />

Deus todo dia para me conservar enquanto ele existir, porque todo mundo tem ocupação fora <strong>de</strong> casa, e<br />

outra, paciência não são todas as pessoas que tem!...quero dizer que eu não tenho ninguém que diga olha<br />

eu vou ficar aqui algumas horas para você <strong>de</strong>scansar um pouco...eu não tenho!"<br />

(Bromélia - 75 anos - esposa - Fb 8)<br />

"Eu <strong>de</strong>cidi assumir os cuidados com os meus sogros porque esperei que os filhos tomassem alguma<br />

providência. Ninguém, ninguém se manifestou. Eu nunca perguntei o porque? Talvez eu até <strong>de</strong>vesse ter<br />

perguntado! Bom, <strong>de</strong>sculpas é que não faltam! A filha é quem mais <strong>de</strong>monstra algum sentimento <strong>de</strong> culpa<br />

e também <strong>de</strong> reconhecimento...Tomei para mim os cuidados com os meus sogros porque achei que era<br />

minha responsabilida<strong>de</strong>...Eu gostaria que todos ajudassem a cuidar!"<br />

(Margarida - 53 anos - nora - Fnb 7)<br />

Uma outra fonte importante <strong>de</strong> tensão para os <strong>familiares</strong> em geral e especialmente para os <strong>cuidadores</strong> é uma<br />

insatisfação com o diagnóstico da doença. Nas entrevistas são recorrentes as referências a falta <strong>de</strong> informações<br />

prestadas pelos médicos e profissionais da área da saú<strong>de</strong>. Enten<strong>de</strong>mos que a informação dada é consi<strong>de</strong>rada<br />

insatisfatória, ainda que claramente comunicada ao portador <strong>de</strong> uma síndrome <strong>de</strong>mencial e a seus <strong>familiares</strong>, quando<br />

esta se resume a um diagnóstico e a afirmação da inexistência <strong>de</strong> tratamento efetivo e da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cura.<br />

Há uma recusa por parte dos <strong>familiares</strong> do quadro fechado contido no diagnóstico cujas únicas perspectivas são o<br />

seu caráter progressivo e <strong>de</strong>generativo.<br />

A questão não <strong>de</strong>ve ser encarada apenas como uma simples recusa da realida<strong>de</strong> por parte dos <strong>familiares</strong>.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que os profissionais estão sendo solicitados a pensar no significado concreto do diagnóstico para a vida<br />

quotidiana dos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong>, e a contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ressignificação e<br />

mudança <strong>de</strong> comportamento que <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> um tal diagnóstico. Para além <strong>de</strong> uma trajetória terapêutica, na qual<br />

são mobilizados os <strong>familiares</strong> em busca <strong>de</strong> outros diagnósticos ou <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s terapêuticas, cuja análise é<br />

fundamental para compreensão da concepção <strong>de</strong> doença dos <strong>cuidadores</strong>, vejamos a seguir a complexida<strong>de</strong> do quadro<br />

e suas implicações nas práticas quotidianas dos <strong>cuidadores</strong>.<br />

A família e o portador só vão tomar consciência efetivamente das repercussões <strong>de</strong> tal doença à medida em<br />

que passam a conviver diariamente com alterações <strong>de</strong> comportamento que muitas vezes confun<strong>de</strong>m os <strong>cuidadores</strong>.<br />

De fato, dado o seu caráter intermitente, os distúrbios <strong>de</strong> cognição e memória na sua fase inicial pouco distinguem-se<br />

<strong>de</strong> comportamentos intencionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>satenção, <strong>de</strong>scuido ou simplesmente <strong>de</strong> teimosia, aumentando o stress do<br />

cuidador, elevando o seu grau <strong>de</strong> irritabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> tensão na sua relação com o familiar portador. Os <strong>de</strong>poimentos<br />

coletados com <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong> na pesquisa mostraram a importância <strong>de</strong>sta dimensão geradora <strong>de</strong> tensão e <strong>de</strong><br />

conflitos:<br />

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"A gente <strong>de</strong>morou a achar que ela estava doente porque ela sempre foi <strong>de</strong> fazer intrigas na família,<br />

inventava histórias e colocava uns contra os outros. Nós pensávamos até que ponto ela estava doente até<br />

que ponto estava mentindo?! Ai eu ficava intrigada, era difícil separar o que era doença e o que era<br />

fofoca."<br />

(Liz - 34 anos - nora - Fb 1)<br />

"Eu também brigava com ela porque quando ela ia me ajudar na cozinha<br />

ela nunca conseguia guardar as coisas no lugar certo, misturava tudo."<br />

(Petúnia - 61 anos - filha - Fnb 5)<br />

O quadro crônico-<strong>de</strong>generativo da <strong>de</strong>mência é um elemento crítico da situação do cuidador, pela grave quebra <strong>de</strong><br />

expectativa nos seus planos e projetos para um período que seria marcado pelo afastamento das exigências da vida<br />

quotidiana e a realização <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida mais tranqüilo. Fato este fortemente marcado para os <strong>cuidadores</strong><br />

cônjuges, sobretudo porque se dá principalmente num momento da vida em que os limites e o adiamento constante do<br />

lazer por causa do trabalho ou das <strong>de</strong>mandas dos filhos estaria superado. Muitos entrevistados relutaram em admitir<br />

que se trata <strong>de</strong> uma doença crônica e sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cura, saem <strong>de</strong>sesperados em busca <strong>de</strong> todo tipo <strong>de</strong><br />

tratamento, gastam todas as reservas financeiras disponíveis, mas principalmente exigem do portador muito mais do<br />

que ele po<strong>de</strong> oferecer, isto é, querem a todo custo que ele se mantenha bem, que apresente algum tipo <strong>de</strong> melhora,<br />

que dê conta das ativida<strong>de</strong>s que comumente <strong>de</strong>sempenhava com gran<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>. Assim, temos um quadro <strong>de</strong><br />

tensão, pois o cuidador é altamente exigente e o portador não consegue correspon<strong>de</strong>r e dá a esse a sensação <strong>de</strong> que na<br />

verda<strong>de</strong> não quer correspon<strong>de</strong>r, o que po<strong>de</strong>mos verificar nos seguintes exemplos:<br />

"Eu conheço minha mulher há mais <strong>de</strong> 30 anos, ela era excelente costureira e muito boa dona <strong>de</strong><br />

casa...eu sonhei em usar nossas economias para reformar a casa, trocar <strong>de</strong> carro e viajar com ela. Eu já<br />

gastei toda minha poupança com a doença <strong>de</strong>la. Eu já procurei todas as ajudas possíveis e continuo<br />

procurando tratamento para ela...não sei quando nós vamos po<strong>de</strong> viajar juntos! "<br />

(Girassol - 55 anos - marido - Fb 2)<br />

"Sempre que eu esqueço alguma coisa ele(marido) briga muito comigo, <strong>de</strong>ixando-me mais nervosa e ai<br />

mesmo que eu não lembro <strong>de</strong> mais nada."<br />

(Begônia - 71 anos - portadora - Fb 10)<br />

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"Eu digo você sabe, você sabe mais do que eu. Eu empurro assim mais que eu posso, só que tem hora que<br />

a gente se per<strong>de</strong> um pouco, tem hora que esgota...Eu faço tudo, tudo o que eu posso. O que ela está mais<br />

atrapalhada mesmo é para trocar a roupa. Ontem eu percebi que ela não tomou banho direito, ai eu<br />

falei: hoje você vai tomar banho e eu vou junto com você porque eu percebi que a bucha que a gente usa<br />

no banho ficou seca." (Lírio - 75 anos - marido - Fb 10)<br />

Para termos uma noção mais precisa da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta experiência, sobretudo nos seus momentos iniciais, é<br />

importante levar em conta que o próprio portador po<strong>de</strong> estar percebendo seus lapsos e que ele mesmo procura<br />

<strong>de</strong>sesperadamente dissimula-los e ocultar suas falhas. Ao ser <strong>de</strong>scoberto, geralmente pelo cuidador, ele tenta eximir-<br />

se da responsabilida<strong>de</strong> pelo atos cometidos. O que aumenta a <strong>de</strong>sconfiança do cuidador e por conseguinte po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar situação <strong>de</strong> confronto, pois a responsabilização per<strong>de</strong>-se na dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhar com o portador<br />

algo que ele nem está mais lembrado <strong>de</strong> ter feito ou dito. Percebe-se a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> que ambos têm <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r a doença e, para o familiar cuidador, <strong>de</strong> aceitar o doente. Como é possível constatar-se nestas falas:<br />

"Muitas vezes eu já pensei que minha sogra não está tão atrapalhada porque como é que ela não<br />

consegue fazer as coisa certas, mas sempre tem uma resposta pronta para dar on<strong>de</strong> todo mundo tem<br />

culpa menos ela, a razão é sempre <strong>de</strong>la, como consegue pensar assim?!"<br />

(Madressilva - 44 anos - nora - Fnb 5)<br />

"Meu marido perdia a paciência com a mãe e ficava danado com as coisas que ela me dizia...ele achava<br />

que não era doença e sim do temperamento <strong>de</strong>la...eu não ligava, não me ofendia, sabia que era da<br />

doença...eu tinha dó <strong>de</strong>la."<br />

( Sempre-Viva - 55 anos - nora - Fnb 3)<br />

"Meu marido exige coisas da mãe <strong>de</strong>le que ela não está po<strong>de</strong>ndo mais fazer...a ficha <strong>de</strong>le ainda não caiu<br />

com relação aos reais limites <strong>de</strong>la. Eu já percebi que há muito tempo ela não está mais conseguindo se<br />

servir direito, então eu passei a fazer o prato <strong>de</strong>la, mas mesmo assim ela <strong>de</strong>ixa cair comida na toalha e<br />

no chão, ai ele começa a chamar a atenção <strong>de</strong>la e ela diz: quem fez isso? Eu não fui! Ai ele revida...e eles<br />

vão batendo boca...ela sempre coloca a culpa em terceiros."<br />

(Papoula - 44 anos - nora - Fb 6)<br />

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Para a família a fase inicial é especialmente difícil porque, neste momento, a imagem que possuem do idoso é<br />

aquela construída ao longo <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> convivência e fortemente relacionada com os papéis <strong>de</strong>sempenhados por essa<br />

pessoa no contexto familial. Portanto, é ao longo do processo <strong>de</strong> evolução da doença e no exercício do papel <strong>de</strong><br />

<strong>cuidadores</strong> que a família vai lentamente refazendo essa imagem do idoso ao mesmo tempo em vai elaborando as<br />

perdas que essa mudança acarreta na vida <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les. Nos relatos isso aparece sempre através da comparação<br />

entre “como ele era” e “como ele está”, bem como nos seguidos questionamentos sobre até que ponto isso é<br />

realmente da doença ou um traço <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>.<br />

"Quando o médico aqui disse o que era a doença <strong>de</strong>le eu fiquei muito triste, chorei muito, muito, muito,<br />

eu só chorava...então meu filho falou que tinha um médico especialista nisso em São Paulo...eu tinha que<br />

ir levar ele a São Paulo toda vez, isso era muito difícil porque eu nunca tinha ido a São Paulo e não<br />

sabia andar lá, além disso tinha que cuidar <strong>de</strong>le porque senão ele se perdia...Passei um dia lá e não<br />

consegui tomar nem um copo d'água, cheguei em casa cansada, <strong>de</strong>sesperada e chorei muito, muito,<br />

muito. Assim, eu entendi que não podia mais contar com ele para nada, não tinha mais com quem dividir,<br />

eu tinha que resolver tudo sozinha e tinha que ser forte, pois tudo <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> mim dali para frente, ai<br />

pouco a pouco eu fui me acostumando e apren<strong>de</strong>ndo a lidar com ele. Por isso eu digo que ele é o meu<br />

nenê, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> para tudo."<br />

(Amor-Perfeito - 63 anos - esposa - Fnb 12)<br />

"Ele está completamente abobado, tem oras que fala bobagem, tem oras que não enten<strong>de</strong> as coisas,<br />

assim também é muito triste, pelo amor <strong>de</strong> Deus! É doloroso, eu choro porque eu falo, ele não merecia<br />

meu Deus! Ele sempre foi uma pessoa dinâmica, trabalhador, bom pai e bom marido, nunca fumou,<br />

nunca bebeu e agora está imprestável, é duro viu?!" (Bromélia - 75 anos -<br />

esposa - Fb 8)<br />

Nas entrevistas com os <strong>cuidadores</strong> são constantes os relatos das dificulda<strong>de</strong>s em lidar com o doente, que são<br />

sistematicamente acompanhados por <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong> impaciência. Percebemos, que na intensa interação<br />

que se constitui o ato <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> alguém diuturnamente haja um limite <strong>de</strong> paciência, on<strong>de</strong> a repetida persistência <strong>de</strong><br />

comportamentos consi<strong>de</strong>rados ina<strong>de</strong>quados, realizados pelo portador, leva ao rompimento <strong>de</strong>sse limite. Tal fato<br />

muitas vezes faz com que o cuidador venha a manifestar a sua raiva e até mesmo agredir o portador. Junto com esta<br />

situação <strong>de</strong> conflitualida<strong>de</strong> o cuidador passa a experimentar sentimentos <strong>de</strong> raiva em relação ao doente e a doença, ao<br />

mesmo tempo em que se culpa por sua falta <strong>de</strong> paciência e habilida<strong>de</strong> em lidar com a situação, e percebe, que<br />

procura <strong>de</strong>sesperadamente interagir com uma pessoa que não está mais ali.<br />

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Um sentimento amplamente relatado pelo <strong>cuidadores</strong>, associado a situações tidas como incompreensíveis, é o<br />

<strong>de</strong> vergonha e <strong>de</strong> evitação do convívio social mais amplo. São situações particularmente constrangedoras para os<br />

<strong>cuidadores</strong> ver o familiar <strong>de</strong>mentado <strong>de</strong>spir-se em público, abordar inesperadamente pessoas <strong>de</strong>sconhecidas na rua,<br />

não aten<strong>de</strong>r aos hábitos rotineiros <strong>de</strong> comer à mesa e mesmo não usar o banheiro para as suas necessida<strong>de</strong>s<br />

fisiológicas. Em tais situações diríamos que a discussão com o portador é ao mesmo tempo inútil e um modo <strong>de</strong><br />

expressar o seu <strong>de</strong>sagrado e embaraço, levando a um aumento <strong>de</strong> isolamento que provoca um aumento da tensão na<br />

relação com o portador. Os <strong>de</strong>poimentos dos <strong>familiares</strong> quase sempre <strong>de</strong>screvem essas situações com bastante<br />

emoção. Po<strong>de</strong>mos afirmar que, geralmente, estas manifestações <strong>de</strong> inconformismo, são eivadas <strong>de</strong> sentimentos<br />

contraditórios, notadamente um sentimento <strong>de</strong> culpa quando o cuidador volta a se dar conta dos limites efetivos do<br />

seu familiar, o que nos foi <strong>de</strong>scrito em várias situações da pesquisa e que retratamos sumariamente nas falas a seguir:<br />

"As vezes ele acerta e faz no vaso sanitário, mas sempre sou eu que tenho que limpá-lo e lavá-lo, mas as<br />

vezes eu não vejo e ele faz no bidê ai me dá muito trabalho porque entope tudo. E ele fala: tem<br />

obrigação, é obrigação tua, faz mesmo! Eu falo: mas já estou cansada! E ele retruca: é para estar<br />

cansada mesmo! De vez enquanto eu tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar um soco nele viu?! De vez enquanto eu dou<br />

um soquinho nele, e ele diz: não faz Bromélia! Não faz isso que eu te pego Bromélia! Porque, ah! Tenha<br />

dó, não é Sílvia! Cansada do jeito que eu estou e ele ainda fala que é obrigação minha, o que é isso?!"<br />

(Bromélia - 75 anos - esposa - Fb 8)<br />

"Eu pedia para ela me ajudar a preparar o almoço ou o jantar e não dava, ela não fazia nada certo! Eu<br />

tinha que dizer o tempo todo não é assim mamãe é <strong>de</strong>sse jeito, não é isso mamãe, é aquilo...eu falava<br />

tudo e ela errava sempre, eu tinha que repetir toda vez a mesma coisa e ela errava sempre e ainda não<br />

gostava quando eu corrigia, ela fechava o rosto ia e se fechava no quarto...Eu via que ela ficava<br />

chateada porque eu corrigia ela! ...agora ela não está fazendo mais nada, nada, nada porque quando<br />

queria me ajudar acabava que nós duas sempre brigávamos, mas a gente cansa, né!"<br />

(Petúnia - 61 anos - filha - Fnb 5)<br />

"Muitas vezes eu fiquei com sentimento <strong>de</strong> culpa, agora mesmo quando eles foram para casa do meu<br />

irmão eu pensei porque eu não tive mais paciência com mamãe? Será que não sou eu que não sei tratar<br />

com eles? Eu tinha que ter mais paciência eu sei que ela está doente, as quando as coisa acontecem, na<br />

hora a gente acaba brigando. Eu senti e sinto muita culpa!" (Petúnia - 61<br />

anos - filha - Fnb 5)<br />

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Um aspecto crítico da situação <strong>de</strong> conflitualida<strong>de</strong> é possibilida<strong>de</strong> ou necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> institucionalização do<br />

familiar <strong>de</strong>mentado. Trata-se <strong>de</strong> uma questão intrínsicamente polêmica pois através dos pontos <strong>de</strong> vistas divergentes<br />

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se consolidam as posições <strong>de</strong> sacrifício do cuidador principal, as reclamações <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> apoio, a reafirmação<br />

do amor filial e do valor das relações e dos compromissos intra-<strong>familiares</strong>. Na realida<strong>de</strong>, assiste-se a uma espécie <strong>de</strong><br />

dramatização <strong>de</strong> dilemas próprios da situação e que se apresentam para os <strong>familiares</strong> como sem solução conclusiva.<br />

É digno <strong>de</strong> nota neste sentido que raramente alguém assume a responsabilida<strong>de</strong> pela institucionalização e que o<br />

cuidador principal, que tanto sofre com a sua condição, é quem mais se opõe à institucionalização. Mesmo nos casos<br />

em que se opta por cuidados profissionais em instituições especializadas, resta ainda uma polêmica sobre a escolha<br />

da instituição e a divisão dos custos, quando os recursos do portador não são suficientes.<br />

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

"Eu sei <strong>de</strong> gente que ficou falando é porque tem que botar num asilo porque senão a sua mãe não vai<br />

agüentar! Eu já acho que não...a minha mãe já está com ida<strong>de</strong>, mas ela tem condições <strong>de</strong> estar lá perto<br />

<strong>de</strong>le...eu sei que ele gosta da casa <strong>de</strong>le." (Sempre-Viva - 55 anos - filha - Fnb 3)<br />

"Ai me falaram interna ele, mas on<strong>de</strong> eu vou internar ele? Uma que eu tenho dó e outra que eu não tenho<br />

condições! Eu não vou internar ele em qualquer lugar! Colocar ele numa clínica por 1 ou 2 meses para<br />

eu <strong>de</strong>scansar eu não tenho condições porque uma clínica é caro."<br />

(Bromélia - 75 anos - esposa - Fb 8)<br />

"Eu tive que internar a Camélia <strong>de</strong>pois que a empregada foi embora, eu não tinha condições <strong>de</strong> cuidar<br />

<strong>de</strong>la. Ela está muito bem cuidada na clínica...eu vou ficar com ela lá todos os dias. Eu estou fazendo<br />

das tripas o coração para pagar a clínica e o resto das <strong>de</strong>spesas."<br />

(Girassol - 55 anos - marido - Fb 2 )<br />

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Como apontamos no início <strong>de</strong>sse trabalho a rapi<strong>de</strong>z e a intensida<strong>de</strong> com que está se dando a transição<br />

<strong>de</strong>mográfica no nosso país tem por conseqüências fortes implicações societais, para as quais nos faltam informações<br />

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sobre a sua extensão e implicações no âmbito público e privado. Semelhante situação vem exigindo<br />

quotidianamente e num curto espaço <strong>de</strong> tempo reconfigurações <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los e práticas sociais, com mudanças <strong>de</strong><br />

valores, formas <strong>de</strong> convívio e <strong>de</strong> interação intergeracional, inclusive no interior das famílias.<br />

Múltiplas foram as <strong>de</strong>mandas e necessida<strong>de</strong>s dos <strong>idosos</strong> e seus <strong>familiares</strong> i<strong>de</strong>ntificadas em nossa pesquisa,<br />

sendo que para gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>ssas não havia preparação a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> meios e <strong>de</strong> formação. Observamos que a<br />

ausência <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou social, que oferecesse o apoio necessário à essas famílias, tornava mais<br />

difícil a vida quotidiana dos <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> <strong>idosos</strong> <strong>de</strong>mentados no domicílio. O que confirma o fato <strong>de</strong> que os únicos<br />

serviços disponíveis eram as instituições <strong>de</strong> longa permanência também chamadas <strong>de</strong> "casas <strong>de</strong> repouso".<br />

Constatamos, que essa era a última opção <strong>de</strong>sses <strong>cuidadores</strong>, pois <strong>de</strong>sejavam continuar cuidando <strong>de</strong> seus <strong>familiares</strong><br />

e só <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> fazê-lo quando se encontravam no limite <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer, que tal situação ainda se faz presente porque o pouco suporte disponível as famílias<br />

cuidadoras está restrito ao que é oferecido pelos planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e serviços privados. No entanto, a Política Nacional<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Idoso (regulamentada pela Portaria 1395/ 99) <strong>de</strong>fine que o cuidado com os <strong>idosos</strong> seja prioritariamente<br />

realizado pelos <strong>familiares</strong>, no contexto domiciliar, através <strong>de</strong> uma "parceria" que envolva <strong>cuidadores</strong> profissionais e<br />

<strong>cuidadores</strong> leigos. Além do mais, a referida "parceria", que sintetiza a Lei, pressupõe a figura <strong>de</strong> um único cuidador,<br />

não levando em consi<strong>de</strong>ração a importância <strong>de</strong> se estabelecer uma relação com toda a "re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong><br />

<strong>familiares</strong>" que cada grupo familiar <strong>de</strong>senvolve. Conforme observamos nessa pesquisa não existe a figura "do<br />

cuidador", mas uma "re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>" que se organizam para prestar o cuidado ao seu familiar através <strong>de</strong> uma<br />

dinâmica que ousamos chamar <strong>de</strong> balé <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>. Isto posto, fica evi<strong>de</strong>nte que toda e qualquer medida <strong>de</strong><br />

orientação, suporte social e emocional <strong>de</strong>ve buscar envolver o maior número <strong>de</strong> <strong>familiares</strong> que fazem parte <strong>de</strong>ssa<br />

re<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> que efetivamente se possa otimizar um trabalho em parceria.<br />

A reflexão aqui proposta aponta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos específicos sobre as mudanças nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

família e suas relações com o aumento <strong>de</strong> um segmento populacional com crescente grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, sobretudo<br />

num contexto como o brasileiro no qual os serviços públicos não têm conseguido aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas sociais,<br />

construindo na figura do “cuidador familiar” um campo <strong>de</strong> intervenção social sem o <strong>de</strong>vido apoio público, o que tem<br />

onerado significativamente os <strong>familiares</strong>. Concretamente, estão sendo multiplicadas as situações conflitivas sem que<br />

tenhamos apoio para que elas sejam moduladas, po<strong>de</strong>ndo resultar no limite crises até mesmo violentas, pela simples<br />

falta <strong>de</strong> um suporte técnico para os <strong>familiares</strong>.<br />

Afinal, como temos procurado <strong>de</strong>stacar na nossa análise, há uma "dança <strong>de</strong> <strong>cuidadores</strong>" no contexto familiar,<br />

ainda que ela não ocorra livre <strong>de</strong> tensões, dilemas e situações <strong>de</strong> conflitualida<strong>de</strong> ao longo <strong>de</strong> todo o processo.<br />

Ressaltamos a partir <strong>de</strong> nossa reflexão que os serviços <strong>de</strong> apoio aos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong> que visem minimizar as<br />

situações <strong>de</strong> conflitualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam observar basicamente a seguinte pauta:<br />

1. Distúrbios <strong>de</strong> cognição e memória dificultam a interação cuidador e portador.<br />

2. A família não consegue ter uma real compreensão sobre o que é a doença e como ela afeta o doente.<br />

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3. Existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconstrução da imagem que possuem do idoso, uma vez que associado a<br />

perda <strong>de</strong> papeis ocorre simultaneamente uma inversão dos mesmos. O cuidador busca insistentemente<br />

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por uma pessoa que não está mais ali.<br />

4. Há falta <strong>de</strong> paciência com a repetição <strong>de</strong> erros cometida pelo portador e a dificulda<strong>de</strong> do cuidador em<br />

trabalhar com os sentimentos <strong>de</strong> raiva e culpa.<br />

5. A família busca o isolamento social por sentir vergonha pelos comportamentos ina<strong>de</strong>quados do<br />

portador e por não saber como lidar com essas situações.<br />

6. O cuidador sente gran<strong>de</strong> frustração por perceber que há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar seus projetos <strong>de</strong> vida<br />

pela falta <strong>de</strong> perspectivas futuras para ele e o portador, ainda assim, busca insistentemente mantê-lo<br />

ativo no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s e competências.<br />

7. Ocorre disputa pelo po<strong>de</strong>r e competição entre os <strong>cuidadores</strong>.<br />

8. Existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver-se questões financeiras.<br />

9. Tensões na relação dialética da mútua <strong>de</strong>finição do cuidador com os não-<strong>cuidadores</strong>.<br />

10. Dificulda<strong>de</strong>s do cuidador na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pela institucionalização do portador.<br />

Em resumo, no universo dos <strong>cuidadores</strong> <strong>de</strong> pacientes com Síndrome Demencial as dificulda<strong>de</strong>s são<br />

quotidianas e nada po<strong>de</strong> resolvê-las <strong>de</strong>finitivamente. São quadros <strong>de</strong> longa duração sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reversão<br />

que precisam ser ressignificados para a constituição <strong>de</strong> novos arranjos intra-<strong>familiares</strong>, <strong>de</strong> uma revisão e<br />

redimensionamento <strong>de</strong> projetos pessoais, da construção <strong>de</strong> um novo lugar para a pessoa do parente <strong>de</strong>mentado, para<br />

as perdas e o sentimento <strong>de</strong> impotência frente a uma doença <strong>de</strong>generativa e progressiva, a limitação do convívio<br />

social, os sentimentos ambivalentes, entre outros. Em uma palavra, um quadro <strong>de</strong> tensões e dilemas que po<strong>de</strong>ria<br />

levar a um rompimento das relações <strong>familiares</strong>, e que no entanto, na maioria dos casos, gera condições <strong>de</strong> diálogo<br />

fundamentais para a expressão e o enfrentamento das divergências, com ganhos para os <strong>cuidadores</strong> e para o<br />

fortalecimento das relações intra<strong>familiares</strong>. Os momentos <strong>de</strong> crise, <strong>de</strong> conflito aberto, potanto po<strong>de</strong>m ser<br />

comparados como uma dramatização que permite aos agentes sociais <strong>cuidadores</strong> uma revisão <strong>de</strong> suas posições e o<br />

estabelecimento ou renovação dos seus pactos <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>, mostrando-se concretamente o caráter integrador do<br />

conflito.<br />

Enten<strong>de</strong>mos que o suporte e acompanhamento dos <strong>familiares</strong> <strong>cuidadores</strong> por profissionais <strong>de</strong>veria levar em<br />

conta que os momentos <strong>de</strong> conflito ao invés <strong>de</strong> serem interpretados como rupturas, po<strong>de</strong>m ser trabalhados como<br />

momentos <strong>de</strong>, digamos, reconciliação, nos quais são questionadas as bases dos relacionamentos e dos valores<br />

subjacentes, possibilitando a renovação, a mudança ou a reafirmação <strong>de</strong> pactos anteriormente acordados entre os<br />

<strong>familiares</strong>. Em síntese, é preciso possibilitar aos <strong>cuidadores</strong> <strong>familiares</strong>, no sentido amplo i<strong>de</strong>ntificado nesse trabalho,<br />

o conhecimento da dinâmica concreta do cuidado <strong>de</strong> <strong>familiares</strong> <strong>de</strong>mentados, incluindo a sua dimensão conflitiva.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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[1]<br />

Neste sentido é da maior urgência o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos sobre as <strong>de</strong>mandas específicas <strong>de</strong> segurança<br />

pública da população idosa, pois, por sua presença crescente no cenário político e social, ela atua cada vez mais<br />

como <strong>de</strong>finidora da agenda e das priorida<strong>de</strong>s sociais como tem mostrado os estudos internacionais neste campo<br />

(KINNON e MacLEOD, 1990).<br />

2 A discussão <strong>de</strong>talhada da pesquisa foi publicada por um dos autores <strong>de</strong>ste trabalho, SANTOS ( 2003).<br />

3 KRAMER e KIPNIS, 1995; HOOYMAN e KIYAK, 1995; ROSE-REGO et al., 1998; MENDES,1998; HINTON<br />

e LEVKOFF, 1999; YUASO, 2000; CALDAS, 2002; JANEVIC e CONNELL, 2001; SOMMERHALDER, 2001;<br />

ALVAREZ, 2001; NERI e SOMMERHALDER, 2001.<br />

4 BAUM e PAGE, 1991; PENNING, 1991; SILVERSTEIN e LITWAK, 1993; RAMOS, 1993; KRAMER e<br />

KIPNIS, 1995; SOMMERHALDER,2001; ALVAREZ, 2001.<br />

5 ROSE-REGO et al., 1998; HINTON e LEVKOFF, 1999; SOMMERHALDER, 2001; ALVAREZ, 2001;<br />

JANEVIC e CONNELL, 2001.<br />

6 Tipologia cunhada por SILVERSTEIN e LITWAK (1993).<br />

7 Fnb - sigla que utilizamos para <strong>de</strong>signar as famílias <strong>de</strong> origem nipo-brasileira.<br />

8 Fb - sigla que utilizamos para <strong>de</strong>signar as famílias <strong>de</strong> origem brasileira.<br />

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