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dissertacao completa - FaJe

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os comediógrafos, os tragediógrafos e os sofistas em sua diversidade, refletiam e falavam<br />

sobre as questões de seu tempo- e teremos um retrato da Atenas do fim do século V. Porém,<br />

neste cenário de conflito externo e interno, neste cenário de ebulição intelectual e artística, foi<br />

Sócrates que protagonizou um conflito particular na pólis, um conflito que culminou em sua<br />

condenação à morte e que passou à história, principalmente por meio dos escritos de Platão,<br />

como um “mito fundador da filosofia”, nas palavras de Brisson 3 .<br />

Contudo, a teoria de Vaz nos falava de um sujeito e de um evento históricos e não<br />

míticos. Assim, em primeira instância, tentamos nos desvencilhar da fascinante imagem<br />

eternizada por Platão e nos perguntamos: que atitudes e idéias do Sócrates histórico foram<br />

recebidas como transgressão a ponto de gerar um conflito ético particular e tão radical? Não<br />

procurávamos simplesmente a resposta que nos apresenta a graphé, isto é, a queixa-crime<br />

escrita pelos acusadores e cujo provável conteúdo -impiedade e corrupção dos jovens- chegou<br />

até nós pelos escritos de Platão, Xenofonte e Diógenes Laércio. Nem tampouco procurávamos<br />

apenas as razões políticas subjacentes às acusações formais, que aludem às relações de<br />

Sócrates com personagens como Alcibíades, Critias e Cármides, notoriamente figuras anti-<br />

democráticas. Em ambos os casos, inumeráveis estudos já tentavam esgotar estas causas.<br />

Enfim, não investigávamos apenas os prováveis delitos de Sócrates, mas a transgressão ética<br />

que seria o fulcro deste conflito, assim como teorizado por Vaz.<br />

É importante ressaltar que, na teoria de Vaz, este conceito de transgressão não indica<br />

uma conotação negativa de agir contra a lei, mas sim uma conotação positiva de um<br />

“transbordamento de uma plenitude de liberdade que os limites do éthos socialmente<br />

estabelecido não podem conter” 4 . Segundo Vaz, a transgressão que caracteriza o conflito ético<br />

apresenta dois momentos: um primeiro momento, negativo, no qual se sacrifica os limites<br />

traçados e a segurança proporcionada pelo éthos; e um segundo momento, positivo, no qual se<br />

alarga, supera ou transcende tais limites, anunciando a emergência de um novo éthos<br />

desenhado com um novo mundo de valores 5 . Assim, através desta relação dialética o indivíduo<br />

empírico nega a universalidade abstrata do éthos como normas e costumes e encontra a<br />

possibilidade de se realizar como indivíduo ético na universalidade concreta do éthos como<br />

hábito ou virtude, isto é, como práxis de um indivíduo ético, livre e responsável para traçar um<br />

caminho entre o “não-ser da recusa” ao éthos e o “ser do consentimento” ao agathón. De<br />

acordo com a teoria de Vaz, portanto, teria sido em busca de uma excelência, de um agir ético<br />

3 BRISSON, 2005. p.65.<br />

4 VAZ, 2000, p.34.<br />

5 VAZ, 2000, p.33.<br />

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