12.05.2013 Views

dissertacao completa - FaJe

dissertacao completa - FaJe

dissertacao completa - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma citação que deixa evidente um interesse pela investigação da natureza por parte de<br />

Sócrates. No entanto, logo em seguida, ele cita, também livremente, uma outra passagem das<br />

uvens que deixa apenas subentendido este mesmo interesse e esta mesma imagem de um<br />

Sócrates naturalista. Nesta nova imagem Aristófanes apresenta Sócrates de uma maneira ainda<br />

mais jocosa: a comédia apresentaria “um tal Sócrates, por ali a dar voltas, afirmando caminhar<br />

nos ares e bobageando muitas outras bobagens (19c: Swkra/th tina_ e0kei~ perifero/menon<br />

fa/skonta/ te a0erobatei~n kai_ a1llhn pollh_n fluari/an fluarou~nta)”. Mas, por que<br />

caminha nos ares e que bobagens diz este Sócrates? Aqui, na Apologia, ele não explica; na<br />

comédia, porém, é o próprio Sócrates que se justifica: “ando pelos ares e especulo <br />

sol (225: a0erobatw~ kai_ perifronw~ ton_ h3lion)”, “pois nunca teria encontrado,<br />

corretamente, as coisas relativas aos corpos celestes se não tivesse suspendido a inteligência e<br />

misturado o leve pensamento com o semellhante, o ar (225-230: ou0 ga_r a1n pote<br />

e0chu~ron o0rqw~v ta_ mete/wra pra/gmata, ei0 mh_ krema/sav to_ no/hma kai_ th_n fronti/da<br />

lepth_n katamei/cav e0v to_n o3moion a0e/ra)”. Assim, este tal Sócrates identifica o pensamento,<br />

phrontís, com o ar, aér, e Aristófanes, por sua vez, identifica o pensamento de Sócrates com o<br />

pensamento de alguns naturalistas para quem o ar era o princípio de todas as coisas: Diógenes<br />

de Apolônia (DK 64 A 7) e Arquelau 59 (DK 60 A 11,12). Portanto, também nesta segunda<br />

citação, ainda que na Apologia Platão não a explique -e aqui é preciso notar, isto serve bem ao<br />

objetivo de ressaltar esta imagem em seu perfil mais jocoso- o que está em questão é ainda<br />

uma investigação da natureza por parte de Sócrates. Aristófanes retrata um tolo, é fato; mas<br />

um tolo que se interessa pela investigação da natureza.<br />

Contudo, definitivamente, este não é o Sócrates da Apologia. Por isso, logo de início,<br />

percebemos uma dupla negação acerca deste pretenso conhecimento naturalista. Primeiro uma<br />

negação inplícita, à medida que repete a expressão tal Sócrates (18b: tiv Swkra/thv; 19c:<br />

Swkra/th tina_) mostrando assim não ser este nada além de um tipo, um personagem, e, em<br />

seguida, uma negação explícita, à medida que afirma: “eu não entendo nada de tais assuntos,<br />

nem muito nem pouco (19c: w0n e0gw_ ou0de_n ou1te me/ga ou1te smikro_n pe/ri e0pai5w)”.<br />

Interessante notar aqui o uso muito sugestivo do verbo epaío (e0pai5w), que admite tanto o<br />

significado de entender, compreender, ser conhecedor de algo, quanto o significado de prestar<br />

ouvidos, o que pode conferir ao discurso de Sócrates outra dupla negação: nem ele seria<br />

conhecedor, ou de tais matérias citadas anteriormente como antigas acusações ou de tais<br />

bobagens que agora faz apenas alusão, nem ele daria ouvidos a quem as conhece ou professa.<br />

59 Interessante observar que Diógenes Láercio (Vidas, II,16) cita Arquelau como mestre de Sócrates.<br />

42

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!