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Intranets e portais corporativos como ferramentas ... - Sergio Martins

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CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO – MBA

ADMINISTRAÇÃO E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES – CASI

AVISO LEGAL

Qualquer citação deste trabalho sem o devido crédito e referência é ilegal, sendo

passível de execução judicial e penas previstas em lei. Vale lembrar que com as

tecnologias disponíveis atualmente qualquer infração desta natureza é facilmente

detectada. Agradecemos a compreensão.

SERGIO DE CASTRO MARTINS

JUSSARA MOORE DE FIGUEIREDO

INTRANETS E PORTAIS CORPORATIVOS COMO

FERRAMENTAS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

EM SOCIEDADES DE ADVOCACIA

Orientador: Newton Meyer Fleury

NITERÓI

2005


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO – LATO SENSU

MBA EM ADMINISTRAÇÃO E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

INTRANETS E PORTAIS CORPORATIVOS COMO FERRAMENTAS DE GESTÃO DO

CONHECIMENTO EM SOCIEDADES DE ADVOCACIA

APROVADO EM

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

MONOGRAFIA APRESENTADA POR

Sergio de Castro Martins

Jussara Moore de Figueiredo

______________________________________________

Prof. Newton Meyer Fleury

______________________________________________

Prof. Rafael de Toledo

_______________________________________________

Prof. Martius Vicente Rodriguez y Rodriguez

2


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO – LATO SENSU

MBA EM ADMINISTRAÇÃO E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

Sergio de Castro Martins

Jussara Moore de Figueiredo

INTRANETS E PORTAIS CORPORATIVOS COMO FERRAMENTAS DE GESTÃO DO

CONHECIMENTO EM SOCIEDADES DE ADVOCACIA

MONOGRAFIA APRESENTADA À

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PARA OBTENÇÃO DO CERTIFICADO DE

PÓS-GRADUAÇÃO – LATO SENSU – MBA EM

ADMINISTRAÇÃO E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

ORIENTADOR: PROFESSOR NEWTON MEYER FLEURY

3


M375 Martins, Sergio de Castro

Intranets e portais corporativos como ferramentas de

gestão do conhecimento em sociedades de advocacia/

Sergio de Castro Martins e Jussara Moore de Figueiredo

– Niterói : UFF, 2005.

104 p.

Monografia (Pós-Graduação em Administração e

Sistemas de Informações - MBA) Universidade Federal

Fluminense, 2005.

Orientador : Profº Newton Meyer Fleury

1. Intranets. 2. Portais corporativos. 3. Gestão do

conhecimento. I. Figueiredo, Jussara Moore. II. Título.

4


“Quando um paradigma muda, tudo volta a zero.

Seu sucesso no passado não garante seu futuro,

e o impossível hoje pode ser o padrão de amanhã.”

5

Joel Barker


RESUMO

Análise do setor jurídico brasileiro à luz da Gestão do Conhecimento e do uso de

Tecnologias da Informação. Analisa as sociedades jurídicas e a utilização das Intranets e

Portais Corporativos como diferenciais estratégicos em serviços jurídicos, abarcando e

disseminando o conhecimento aplicado desenvolvido por estas sociedades e as

tendências do uso destas tecnologias no cenário jurídico brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Intranets, Portais Corporativos, Gestão do Conhecimento,

Sociedades de Advocacia.

6


ABSTRACT

Analysis of the Brazilian juridical field under the Knowledge Management and the use

of the Information Technologies’ perspective. It analyses the Lawyer firms and the use

of Intranets and Corporate Portals as strategic differentials in juridical practice, including

and spreading these firms developed knowledge as well as the tendencies of using such

technologies in the Brazilian juridical market.

KEY-WORDS: Intranets, Corporate Portals, Knowledge Management, Law Firms.

7


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Eventos econômicos, políticos e sociais e ramos jurídicos

correspondentes ......................................................................... 35

Tabela 2 - Quadro de advogados no Brasil .....................................................36

Tabela 3 - Distribuição geográfica dos escritórios de advocacia ......................37

Tabela 4 - Distribuição por porte das sociedades de advogados .......................37

Tabela 5 - Ranking dos escritórios de advocacia brasileiros

(dezembro de 2000) .................................................................... 38

Tabela 6 - Esquema característico da Sociedade Industrial...............................55

Tabela 7 - Esquema comparativo entre Sociedade Industrial e Sociedade da

Informação .................................................................................57

Tabela 8 - Esquema entre Dados, Informação e Conhecimento . ......................62

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Departamentos constituintes de uma sociedade de advocacia...........47

Figura 2 - Entidades do ecossistema de informações estratégicas de

sociedades de advocacia................................................................. 68

Figura 3 - Fontes formais de Informação de sociedades de advocacia ............. 70

Figura 4 - Papel estratégico da Biblioteca em sociedades de advocacia........... 74

Figura 5 - Papel estratégico do Bibliotecário ou agente do conhecimento em

sociedades de advocacia ................................................................ 75

Figura 6 - Esquema representativo de construção de conhecimento em

sociedades de advocacia ............................................................... 75

Figura 7 - Imagem front-page de Intranet de um escritório jurídico do

Rio de Janeiro ............................................................................... 82

Figura 8 - Imagem da seção economia da Intranet .......................................... 83

Figura 9 - Imagem da seção cursos da Intranet .............................................. 83

Figura 10 - Imagem front-page de Portal Jurídico Corporativo de um escritório

jurídico do Rio de Janeiro .............................................................. 89

8


SUMÁRIO

1. O PROBLEMA ......................................................................................... 11

1.1. Introdução .......................................................................................... 11

1.2. Suposição ............................................................................................ 15

1.3. Objetivos da Pesquisa ..........................................................................16

1.3.1 Objetivo Final ...............................................................................16

1.3.2 Objetivos Intermediários ...............................................................16

1.4 Relevância do estudo .......................................................................... 16

2. METODOLOGIA ..................................................................................... 19

2.1. Tipo de pesquisa...................................................................................19

2.1.1 Quanto aos fins ............................................................................ 19

2.1.2 Quanto aos meios ........................................................................ 19

2.2. Delimitação da Pesquisa .................................................................... 20

2.2.1 Universo de Estudo .....................................................................20

2.2.2 Referências Temporais ............................................................... 21

2.2.3 Foco do objeto de estudo ............................................................21

2.3. Coleta de dados ................................................................................. 21

2.3.1 Do levantamento bibliográfico ....................................................21

2.3.2 Do estudo de caso ....................................................................... 22

2.4. Tratamento dos dados .........................................................................22

2.4.1 Dados do levantamento bibliográfico .......................................... 22

2.4.2 Dados do Estudo de caso............................................................. 22

2.5. Limitações do método ........................................................................ 22

3. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................24

3.1. Sistemas de Informação .....................................................................24

3.1.1 Intranets ..................................................................................... 25

3.1.2 Portais Corporativos ................................................................... 26

3.2. Gestão do Conhecimento .................................................................. 28

3.3. Sociedades de advocacia .....................................................................29

3.4. Mercado Jurídico Brasileiro .............................................................. 30

3.4.1 As Sociedades de advocacia .......................................................36

3.4.2 Sociedades de advocacia: características e requisitos estratégicos 42

3.4.3 Serviços estratégicos e ferramentas para gestão do

conhecimento em Sociedades de advocacia .........................................45

9


3.5 Gestão do conhecimento .................................................................. 51

3.5.1 Panorama histórico ..................................................................... 51

3.5.1.1 A Sociedade Industrial ....................................................53

3.5.1.2 Sociedade da Informação e do Conhecimento .................56

3.5.2 Características e aspectos da Gestão do Conhecimento ............... 59

3.5.3 Gestão do Conhecimento em sociedades de advocacia ................63

3.5.4 Agentes do Conhecimento e Editores Corporativos .................... 69

3.6 Tecnologias de Informação como ferramentas de Gestão do

Conhecimento .......................................................................................... 77

3.6.1 Intranets: aplicações e benefícios .................................................78

3.6.2 Portais Corporativos: a evolução das Intranets..............................85

4. CONCLUSÃO ............................................................................................ 91

4.1 Considerações Finais ....................................................................... 95

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................... 97

10


1. O PROBLEMA

1.1 Introdução

Este trabalho pretende fazer uma análise sobre as novas modalidades de gerência, uso e

disseminação da informação através de ferramentas como as Intranets e os Portais Corporativos no

âmbito da área jurídica e, em particular, nas sociedades de advocacia. Entre os diversos Sistemas de

Informações disponíveis atualmente, as Intranets e Portais ocupam uma posição de destaque no que

concerne à produção e gerência de conteúdo de informações para transformação em conhecimento

aplicado em uma corporação.

Pretende-se, assim, ao analisar a atuação e o modo de operação destas ferramentas, investigar o

ecossistema, os fluxos e os ciclos da informação dentro das empresas e os impactos gerenciais –

culturais e profissionais – na performance coletiva e individual nas organizações que atuam no ramo

jurídico. Também se verificará a importância das Intranets e dos Portais Corporativos na gerência

do conhecimento aplicado – produzido e compartilhado – e os benefícios provenientes de sua

utilização.

As revoluções provocadas pelo fenômeno da globalização econômica têm levado as empresas a

vivenciarem cada vez mais a necessidade de aperfeiçoar seus modelos estratégicos de gestão,

provocando mudanças radicais na forma como acessam, processam e disseminam a informação.

Sobre a importância do processo de informação dentro de uma empresa, pode-se constatar que

“A informação é o mais importante ativo de nossa sociedade (...) Em qualquer setor onde estejamos, seja na

indústria ou em serviços, a informação está começando a mudar radicalmente a forma por meio da qual fazemos

negócios.” (Czerniawska, Potter, 1998)

No ambiente corporativo moderno, é fácil constatar que o uso da informação ainda é estratégico,

pois a forma de processar a informação no âmbito gerencial pode ser um fator de extrema vantagem

competitiva.

No sistema atual de gestão, informações estratégicas precisam chegar a seus usuários de maneira

estruturada e organizada sistematicamente, possibilitando a sua transformação em conhecimento.

Para Koulopoulos,

“O sucesso (das empresas) depende menos da quantidade de informação de que você dispõe do que do número

de conexões que você pode estabelecer para ligar as informações às pessoas.” (Koulopoulos, Palmer, 2001, p.

58)

11


Entende-se neste trabalho informação como sendo o dado trabalhado, inserido em um contexto e

que tenha utilidade para usuários específicos. Aqui, concebe-se a informação como “Dados

categorizados, analisados, sumarizados e colocados em um contexto. Informação,

consequentemente, são dados dotados de relevância e propósito” (Bahra, 2001).

Encontrou-se ainda em Goldrat o texto que endossa a afirmativa acima:

“(...) O que tenho nos meus arquivos são dados. O que vocês geralmente pedem é informação. Sempre vi a

informação como parte dos dados necessários para se tomar uma decisão. E para isto, sinceramente, a maioria

dos meus dados eram simplesmente inadequados (...) O que eu comecei a perceber é que informação é algo

diferente.” A informação é a resposta à pergunta feita. (grifo nosso). (1998 , p. 319).

Apresenta-se também algumas definições de conhecimento, encontrada na literatura especializada:

“Domínio, teórico ou prático, de um assunto, uma arte, uma ciência, uma técnica etc; competência, experiência,

prática.” (Houaiss, 2001 p. 219)

“Informação valiosa da mente humana, que inclui reflexão, síntese e contexto.”

(Davenport, 1998, p. 89)

“Informação em ação… No contexto comercial e organizacional, o conhecimento é aquilo que as pessoas em

uma empresa sabem acerca de seus clientes, produtos, processos, erros e acertos, seja este conhecimento tácito

ou explícito.” (O’ Dell ; Grayson Jr. , 2000 p. 104).

Considerando os conceitos acima expostos, o presente trabalho propõe-se a estudar/observar as

Intranets e Portais Corporativos como ferramentas de diferencial estratégico, verificando o modo

como alteram e/ou interferem nos processos de informação e na performance das sociedades de

advocacia.

Pode-se definir Intranet como Sistemas de Informações que utilizam as tecnologias web, seus

protocolos e funcionalidade em rede privada para integrar vários setores da empresa e agilizar

processos. Seu conteúdo pode variar de empresa para empresa, mas no âmbito jurídico elas tendem

a possuir modelos e padrões muito similares. Segundo O´Brien,

“Uma Intranet é uma rede interna a uma organização que utiliza tecnologias da internet, tais como navegadores e

servidores de rede, editoração de documentos, banco de dados em linguagem HTML, hipermídia etc., para

fornecer um ambiente de internet, dentro da empresa para compartilhamento de informações, comunicações,

colaboração e suporte a processos empresariais.” (O´Brien, 2003, p. 214)

No que se refere a Portais Corporativos, Saulo Figueiredo (2002) afirma que tais Portais

“Podem ser definidos como uma aplicação tipicamente web, desenvolvida para funcionar como interface única e

personalizada do ambiente eletrônico de trabalho, provendo aos usuários conteúdo, informação, acesso a

12


aplicações, colaboração e conhecimentos necessários a plena atuação, envolvendo todo relacionamento com os

stakeholders da empresa.” (Figueiredo, 2002)

Este trabalho, ao analisar as Intranets e Portais Corporativos como ferramentas de gestão de

informações e conhecimento, não discorrerá sobre os aspectos técnicos ou tecnológicos destes

Sistemas de Informação. Desta forma, não se analisará aqui assuntos como linguagens de

programação, interfaces, plataformas ou tipo de maquinário. Sob o foco abordado, as Intranets e os

Portais Corporativos – serão analisados como ferramentas estratégicas de negócio para a

administração de informações e do conhecimento produzido pela organização.

Considera-se ferramentas estratégicas, ou diferencial estratégico, tudo o que possa destacar as

empresas dentre as demais e elevar sua produtividade e competitividade, agregando valor aos seus

negócios. Como diferencial estratégico, pode-se entender como

“criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um diferente conjunto de atividades. (...) Não basta que uma

empresa diminua seu tamanho e aumente sua eficiência e rapidez, por mais importantes que sejam essas tarefas,

ela também precisa ser capaz de se reavaliar, regenerar suas estratégias centrais e reinventar seu setor. Em suma,

uma empresa também precisa ser capaz de ser diferente.” (Prahalad, C. K., 1998)

Definidos os objetos de estudo, este trabalho focará também, como universo de análise, o mercado

jurídico brasileiro. Assim como as empresas dos vários ramos e segmentos do mercado, as

sociedades jurídicas vêm adotando cada vez mais Sistemas de Informações para gerenciar os fluxos

de informação – seja para uso próprio ou para interface com os clientes.

Entende-se como sociedades de advocacia os grandes escritórios jurídicos, nomeados segundo o

jargão da área, por possuírem características distintas, tais como:

• Possuir grande número de advogados;

• Atuar em vários ramos das Ciências Jurídicas;

• Ter representação – filiais ou parcerias – em outros estados brasileiros;

• Possuir representatividade qualitativa e influência no mercado jurídico brasileiro.

Para estas sociedades, os Sistemas de Informações são indispensáveis: na interface com os clientes

e junto aos órgão judiciais, estes sistemas devem ser atualizados constantemente. No processo

interno de informação, em particular, é da mesma forma indispensável otimizar o processo de

informações para a qualidade de seus serviços e produção de conhecimento.

13


Ao abordar a questão dos processos de informações em ambientes corporativos, se analisará

também a importância da Gestão do Conhecimento nestas organizações. Segundo Barron (2000) a

Gestão do Conhecimento caracteriza-se como:

“Abordagem sistemática e integrada, para identificar, gerenciar e compartilhar todos os ativos da empresa,

incluindo bases de dados, documentos, políticas e procedimentos, bem como a sua “expertise” adquirida e não

articulada, e a experiência detida individualmente pelos trabalhadores.” (Bahra, 2001, p. 97)

Também segundo o consultor Tadeu Cruz,

“Gestão do Conhecimento é um conjunto formado por metodologias e tecnologias que têm por finalidade criar

condições para identificar, integrar, capturar, recuperar e compartilhar conhecimento existente em qualquer tipo

de organização.” (Cruz, 2002)

Desta forma, serão analisados os fatores do desenvolvimento da construção do conhecimento

através das Intranets e dos Portais Corporativos, mediante a reformulação/remodelagem nos

processos de transferência de informação dentro das sociedades de advocacia. Também serão

analisados os profissionais que desenvolvem e editam estas ferramentas, considerando seus perfis,

como pré-requisito a esta atividade.

1.2 Suposição

Conforme o exposto acima, este trabalho visa analisar os processo de informação e Gestão de

informações e conhecimento nas sociedades de advocacia através do uso das Intranets e dos Portais

Corporativos, partindo do pressuposto de que tais Sistemas constituem-se em diferenciais

estratégicos, atuando na remodelagem de processos de informação e interferindo de forma

significativa na performance e nos resultados destas organizações. Pretende-se também destacar

exemplos bem-sucedidos de escritórios que utilizam estes sistemas e as vantagens e benefícios

adquiridos em comparação à época em que não as utilizavam.

14


1.3 Objetivos da pesquisa

1.3.1 Objetivo Final

O objetivo final deste trabalho é mostrar os benefícios da utilização das Intranets e dos Portais

Corporativos nos processos de gestão da informação e do conhecimento gerados pelas sociedades

de advocacia em seu âmbito de atuação.

1.3.2 Objetivos Intermediários

a) Analisar os processos de informação dentro das sociedades de advocacia;

b) Investigar como as Intranets e Portais Corporativos – usados como ferramentas de diferencial

estratégico – está atuando neste contexto;

c) Apontar critérios para reformulação dos processos de informação;

d) Analisar, através de exemplos reais, as performances das sociedades de advocacia após a

implementação de Intranets e/ou Portais Corporativos.

1.4 Relevância do estudo

Muitos autores e teóricos caracterizam os tempos atuais – notadamente a partir da década de 40 –

como a Era da Informação, assim como caracterizam a atual sociedade ocidental como Sociedade

da Informação e Sociedade do Conhecimento.

As revoluções provenientes da microinformática permitem que pessoas e sociedades compartilhem

dados, informação e conhecimento em velocidades cada vez maiores, senão em tempo real, muito

embora tais dados e informações não estejam ordenados ou estruturados sistematicamente.

Atualmente o universo de dados e informações é extremamente caótico, onde os dados são cada vez

mais volumosos e dispersos e as informações cada vez menos qualitativas. No âmbito corporativo,

tais ocorrências se tornaram um problema gerencial significativo.

15


Nas sociedades de advocacia, em particular, o excesso de oferta de dados e informações jurídicas

prejudica a performance dos advogados e colaboradores, que não dispõem de tempo nem perícia

necessária para o garimpo de informações de qualidade. Da mesma forma, fatores como

confiabilidade e atualidade dos dados e informações são cada vez mais demandados por este tipo de

corporação.

No mercado jurídico, além da concorrência predatória, tal o volume de advogados atuantes e à

disposição do mercado, informações desatualizadas e obtidas de fontes duvidosas acarretam sérios

prejuízos financeiros às sociedades e aos clientes, além de macular a marca jurídica da empresa 1 .

Ao mesmo tempo em que cuidam de causas processuais, as sociedades de advocacia muitas vezes

oferecem serviços de assessoria e consultoria, devendo assim, estarem atualizadas nas suas

respectivas áreas de atuação.

Há uma grande tendência global pela busca de controle, estruturação e veiculação dos dados e

informações, assim como técnicas cada vez mais refinadas de armazenagem, mineração e

garimpagem, fazendo com que tais fatores tornem-se vitais no processo gerencial. Não

diferentemente, organizações que atuam no ramo jurídico buscam, da mesma forma, tais recursos

como ferramentas estratégicas para o sucesso corporativo.

Por se tratar de um trabalho de cunho predominantemente bibliográfico, embora com exemplos de

casos, pretende-se levantar problemas reais nos processos de informação que ainda se verificam em

tais organizações e, ao mesmo tempo, fornecer parâmetros e referenciais para soluções no que se

refere a processos de informação e Gestão do Conhecimento. Problemas como os acima citados

estão presentes no cotidiano social, e não somente no mundo corporativo, merecendo, desta forma,

uma atenção mais especializada e investigativa.

Estudos como este no mundo jurídico são raros e pode-se considerar, assim, que trabalhos que

contemplem tanto pesquisa de campo, estudos de caso ou levantamento bibliográfico são

consideravelmente significativos para a construção do conhecimento científico na sua respectiva

área de investigação.

No que se refere aos objetivos pessoais, nós, autores deste trabalho, nos interessamos especialmente

por este tema pelo fato de possuirmos formação nas áreas Biblioteconômicas e Documentais, e por

1 Como em qualquer outro ramo de atividade, sociedades de advocacia são organizações que prezam por seu nome e,

freqüentemente, sofrem severas crises de credibilidade junto a seus clientes.

16


conta disto, julgarmos que os processos de informação e documentação, assim como o livre acesso

a estes, são aspectos primordiais e essenciais para o pleno desenvolvimento pessoal, profissional e

social do ser humano.

Quanto à relevância acadêmica, não podemos deixar de lado a interdisciplinaridade que permeia a

nossa área de atuação. O curso que ora realizamos aborda basicamente os conceitos da

Administração e Sistemas de Informação, que são necessários para a concretização e

implementação dos processos que vamos abordar. Desta forma, esperamos com este trabalho

contribuir para a construção de conhecimento na área das Ciências Sociais Aplicadas, e ampliar a

cobertura das análises e estudos que é extremamente limitada.

Espera-se, também, que este estudo possa contribuir para eventuais soluções de problemas de

ordem processual e sistêmica no âmbito das informações em sociedades de advocacia, beneficiando

a sociedade no que diz respeito aos trâmites jurídicos e judiciais, questão consideravelmente

problemática e no qual a sociedade é diretamente afetada.

17


2. METODOLOGIA

2.1 Tipo de pesquisa

Tomando-se por base o critério de classificação de pesquisa apresentado por Vergara (1990), se

dividirá a pesquisa em dois escopos: quanto aos fins e quanto aos meios.

2.1.1 Quanto aos fins

A pesquisa consistirá em levantamento bibliográfico, adicionado de exemplos reais. A pesquisa

bibliográfica se faz necessária para uma fundamentação teórica sobre os seguintes assuntos: Gestão

do Conhecimento; Intranets e Portais Corporativos e; Mercado de escritórios jurídicos. Os exemplos

pretendem ilustrar a pesquisa, fornecendo o status de eventos concretos e consolidados sobre as

proposições de que trata este trabalho.

2.1.2 Quanto aos meios

A pesquisa consistirá em levantamento bibliográfico com exemplos de casos reais.

A pesquisa bibliográfica se faz necessária para uma fundamentação teórica sobre os seguintes

assuntos:

Intranets e Portais Corporativos;

• Gestão do Conhecimento;

• Mercado Jurídico.

Os elementos de estudo de caso pretende fornecer o status de eventos concretos e consolidados

sobre as proposição de que trata este trabalho.

18


2.2 Delimitação da pesquisa

2.2.1 Universo de estudo

O estudo proposto pretende abordar os processos de informação à luz da gestão de informações e

conhecimento em sociedades de advocacia consideradas representativas de sua classe no cenário

jurídico nacional. Para adoção de tal representatividade, se terá como base os estudos do Panorama

Setorial, conceituada publicação da Gazeta Mercantil que analisa o mercado jurídico brasileiro,

desde seu histórico até seus indicadores e tendências atuais, assim como a performances e

características das sociedades de advocacia que operam no país.

A proposta de pesquisa abrange o segmento jurídico, considerando somente as sociedades de

advocacia, não elucidando outras instituições – de caráter predominentemente não comercial –

como Tribunais, Procuradorias, Ouvidorias, Autarquias, entre outras. Tais instituições são

popularmente chamadas judiciárias e não jurídicas, não contempladas, assim, no escopo de

investigação deste trabalho.

Sendo assim, adotou-se como base os dados e critérios do Panorama Setorial, embora não

limitando-se à ele. Numa análise específica do mercado jurídico brasileiro, considerou-se também

questões mais relevantes para análise das sociedades de advocacia, tais como:

• Possuir mais de 30 advogados;

• Número de ramos das Ciências Jurídicas em que atua;

• Ter representação – filiais ou parcerias – em outros estados brasileiros;

• Possuir representatividade qualitativa e influência no mercado jurídico brasileiro.

• Investimentos em Tecnologia da Informação

19


2.2.2 Referências temporais

Como a evolução das Tecnologias da Informação é extremamente rápida, percebeu-se a necessidade

de analisar sua utilização peças sociedades de advocacia brasileiras nos anos de 2003 a 2005,

traçando um recorte do status neste período de seus processos internos de informação.

2.2.3 Foco do objeto de estudo

No presente trabalho não serão analisadas questões de ordem técnica e tecnológica destes Sistemas

de Informação. Como já mencionado anteriormente, não serão analisados assuntos como linguagens

de programação, interfaces, plataformas ou tipo de maquinário. As Intranets e os Portais

Corporativos serão analisados como ferramentas estratégicas de negócio para a gestão de

informações e do conhecimento produzido pelas sociedades de advocacia para seu uso privativo.

Sua abordagem será examinada no nível gerencial e pretenderá mostrar sua influência e impacto

cultural no ambiente corporativo.

2.3 Coleta de dados

2.3.1 Do levantamento bibliográfico

Será realizada através de levantamento das teorias e conceitos inerentes ao trabalho nas diversas

fontes disponíveis (primárias e secundárias) – livros, periódicos, dicionários, teses, dissertações,

manuais e internet. Esta pesquisa se dará tanto de forma física, com visitas a bibliotecas e centros de

documentação como também de forma virtual, mediante busca de assuntos e artigos na Internet.

2.3.2 Do estudo de caso

Se analisará um caso específico de uma sociedade de advocacia que se enquadra nos parâmetros e

ambiente de análise, de modo a ilustrar as questões apresentadas na pesquisa.

20


2.4 Tratamento dos dados

2.4.1 Dados do levantamento bibliográfico

Na escolha da pesquisa metodológica, é necessário visualizar o que se investigar, de modo a

verificar qual o tipo de pesquisa mais adequada aos seus objetivos.

Serão considerados os dados e informações dos teóricos da área em que trata o objeto de estudo, sob

critérios que visam:

• Confiabilidade

• Atualidade

• Influência acadêmica

• Experiência profissional

2.4.2 Dados do estudo de caso

O tratamento utilizado para os dados do estudo de caso será qualitativo, onde serão estruturados

dados e informações para ilustração dos assuntos abordados. Tal tratamento possibilitará uma coleta

de insumos e subsídios suficientes para uma análise adequada a este estudo.

2.5 Limitações do método

O método escolhido para estudo apresenta as seguintes limitações:

a) a subjetividade dos pesquisadores na interpretação dos conceitos abordados;

b) a dificuldade de acesso aos dados;

c) a necessidade de se captar os pontos relevantes, às vezes não expressos diretamente, para a

obtenção de melhores resultados.

21


3. REFERENCIAL TEÓRICO

Conforme proposto, se procurará conceituar alguns termos que se encontram explícitos ou

implícitos no tema do trabalho e que são fundamentais para o entendimento das proposições e

suposições que serão apresentadas. Os conceitos teóricos que embasarão o trabalho estão listados a

seguir.

3.1 Sistemas de Informação

As Tecnologias da Informação, assim como os sistemas de informação, foram e ainda são

extremamente estudados por muitos teóricos acadêmicos, além de profissionais com experiências

concretas que se especializaram neste assunto. Dentre os teóricos selecionados, alguns deles,

mencionados abaixo, embasarão esta pesquisa.

Ao discorrer sobre Sistemas de Informação, O´Brien (2003) sustenta que:

“[...] é um conjunto organizado de pessoas, sistemas, hardware, software, redes de comunicações e recursos de

dados que coleta, transforma e dissemina as informações em uma organização. (...) As pessoas têm recorrido aos

sistemas de informação para se comunicarem entre si, utilizando desde a alvorada da civilização uma

diversidade de dispositivos físicos, instruções e procedimentos de processamento de informação, canais de

comunicações e dados armazenados.” (O´Brien, 2003, p. 69)

Costuma-se afirmar, no mercado profissional de Tecnologia da Informação, que a utilização destes

sistemas já não é mais estratégica, uma vez que quase todas as empresas de médio e grande porte já

os possuem em determinados níveis. Entretanto, ainda se pode diferenciar estrategicamente as

empresas que as utilizam, pois o tratamento de dados e informações consiste numa prática

extremamente complexa, onde umas empresas são mais hábeis que outras no que se refere a esta

manipulação.

Na análise de Alestandro Rosini e Angelo Palmisano (2003), os Sistemas de Informações dividem-

se em quatro tipos, tais como:

• Sistemas de Informações Transacionais ou Operacionais

• Sistemas de Informações Especialistas

• Sistemas de Informações Gerenciais

• Sistemas de Apoio à Decisão

22


Entre estes tipos de sistemas de informação, os Sistemas de Apoio à Decisão serão a base de

análises do presente trabalho tomando-se como referência o aspecto gerencial. Embora todos os

Sistemas de Informação devam alinhar-se ao planejamento e aos negócios da empresa, estes

sistemas, em particular, “são desenvolvidos para atender às necessidades do nível estratégico da

organização” (Rosini; Palmisano, 2003).

Na abordagem de Laudon & Laudon (2001), os Sistemas de Apoio à Decisão visam aumentar o

desempenho corporativo, onde os administradores é que são os clientes, as organizações são o

contexto e todos os colaboradores são os produtores e os leitores da informação.

Entre os Sistemas de Apoio à Decisão estão as Intranets, foco principal de análise deste trabalho,

que terá seu embasamento teórico em alguns dos autores abaixo examinados.

3.1.1 Intranets

Conforme já mencionado, O´Brien (2003) considera que:

“Uma Intranet é uma rede interna a uma organização que utiliza tecnologias da internet, tais como navegadores e

servidores de rede, editoração de documentos, banco de dados em linguagem HTML, hipermídia etc., para

fornecer um ambiente de internet, dentro da empresa para compartilhamento de informações, comunicações,

colaboração e suporte a processos empresariais.” (O`Brien, 2003, p .214)

As Intranets são ferramentas de extremo potencial que, por ser uma tecnologia relativamente nova,

não foi explorada ainda em todos os seus recursos. Projetadas tanto como Bibliotecas Digitais ou

Portais Corporativos, elas integram a empresa como um todo, interligando os vários departamentos

e as partes interestadas 3 , auxiliando na produção de conhecimentos aplicado aos negócios da

empresa.

No caso de sociedades de advocacia, que mantêm interfaces direta com seus cliente para acesso de

peças processuais jurídicas, as Intranets podem ser configuradas como extranets, permitindo acesso

remoto, embora controlado, a seu conteúdo.

Laudon (2001), assim como O´Brien (2003), são convergentes na caracterização das Intranets como

redes privativas fechadas – ou VPNs (Virtual Private Nets) – considerando que:

3 No mundo corporativo, tais partes interessadas também são conhecidas como Stakeholders.

23


“As Intranets são projetadas para serem redes abertas, seguras e internas, de fácil acesso e navegação para os

usuários finais. (...) As extranets são redes que conectam alguns dos recursos das Intranets de uma empresa com

outras organizações e indivíduos. (...) Atualmente, muitas organizações utilizam as redes virtuais privadas para

estabelecer Intranets e extranets seguras.” (O`Brien, 2003, p. 118)

Nas sociedades de advocacia as Intranets, além de seguras, são acessadas facilmente, requerendo

treinamentos básicos e navegação bem próximo do intuitivo. Ao congregar várias pessoas e

departamentos, estas redes fechadas permitem o livre fluxo de informações. Se bem estruturadas e

gerenciadas na rede, possibilitam grande produção de conhecimento aplicado e fornecem um amplo

diferencial estratégico às organizações que as utilizam.

3.1.2 Portais corporativos

Portais Corporativos costumam ser apresentados na literatura especializada como Intranets mais

evoluídas, possuindo características e tecnologias que os destacam destas últimas no que se refere a

interatividade, segurança e processos em si mesmos. Embora sejam mais completos na abrangência

dos processos internos de comunicação de uma empresa, nem sempre podem ser o mais indicado

para atender suas necessidades de informação.

Ao analisar os tipos de Portais Corporativos, Dias destaca os vários tipos existentes, a começar pela

definição original de Portal:

“Há três ou quatro anos 4 , o que era chamado de Portal era conhecido como máquina de busca, cujo objetivo era

facilitar o acesso às informações contidas em documentos espalhados pela internet. Inicialmente, as máquinas de

busca possibilitavam ao usuário da Internet localizar documentos a partir de pesquisas booleanas e navegação

associativa entre links. Para reduzir ainda mais o tempo de busca na Internet e auxiliar os usuários menos

experientes, vários sites de busca incluíram categorias, isto é, passaram a filtrar sites e documentos em grupos

pré-configurados de acordo com seu conteúdo - esportes, meteorologia, turismo, finanças, notícias, cultura etc. O

passo seguinte foi a integração de outras funções, como, por exemplo, as comunidades virtuais e suas listas de

discussão, chats em tempo real, possibilidade de personalização dos sites de busca (My Yahoo!, My Excite etc.)

e acesso a conteúdos especializados e comerciais. Esta nova concepção de máquina de busca é que passou a ser

chamada de portal.” (Dias, 2001)

Sobre Portais Corporativos, Dias 5 sustenta que

“Portais de informações empresariais são aplicativos que permitem às empresas libertar informações

armazenadas interna e externamente, provendo aos usuários uma única via de acesso à informação personalizada

necessária para a tomada de decisões de negócios. (...) o portal de informações empresariais ou EIP (Enterprise

Information Portal) é considerado uma oportunidade emergente de mercado, uma estratégia de negócios,

constituindo-se em um conjunto de aplicativos de software que consolida, gerencia, analisa e distribui

informações não só internamente, como também para o ambiente externo à organização, incluindo ferramentas

de inteligência de negócios, gestão de conteúdo, data warehouse, gestão de dados e informações.” (Dias, 2001

apud. Shilakes & Tylman, 1998)

4

Como o artigo foi escrito em 2001, constata-se que o tempo a que a autora se referia era 1996-1998,

aproximadamente.

5

Baseada no relatório da empresa Merryl Linch, desenvolvido pela consultoria Shilakes & Tylman, em 1998.

24


Os Portais Corporativos, como ferramentas de negócio podem se constituir de várias formas, ou

vários tipos, de forma a atender as necessidades de informação das empresas. No caso das

sociedades de advocacia, a utilização de Portais Corporativos pode maximizar o uso de recursos

informacionais transcendendo a Intranet, uma vez que é possível a customização do Portal ajustado

a cada área ou departamento de atuação profissional. Desta forma, como ferramentas de negócio

alinhadas aos objetivos corporativos, Cyrineu Terra destaca que

“Os Portais Corporativos oferecem uma grande capacidade para que as empresas embarquem em transformações

significativas de seus modelos de negócios para alinhar os objetivos, as motivações e os contextos de informação

de todos os funcionários e da empresa estendida: clientes, parceiros e fornecedores. Se forem devidamente

implementados e apoiados por transformações gerenciais que fomentem a confiança, os Portais Corporativos

também podem estabelecer a base e o ambiente para o desenvolvimento de relacionamentos além dos limites da

empresa. As conseqüências esperadas desta visão podem incluir ciclos de inovação mais rápidos, melhores

ambientes de aprendizado, melhor atendimento ao cliente, alinhamento de parceiros e, finalmente, receitas

maiores e custos reduzidos.” (Terra, 2002)

No âmbito das sociedades de advocacia, estas possibilidades e benefícios oferecidos pelos Portais

Corporativos serão analisados mais pormenorizadamente neste trabalho, de modo a destacar suas

influências nos processos internos de informação à luz da Gestão do Conhecimento.

3.2 Gestão do Conhecimento

A Gestão ou Gerência do Conhecimento (Knowledge Management) é um dos pontos-chave do

presente trabalho, razão última da existência dos sistemas de informação aqui mencionados nas

corporações como um todo, e nas sociedades de advocacia em particular.

Na definição de Gestão do Conhecimento, alguns autores foram examinados de forma mais seletiva.

Dentre eles, Martius Rodriguez y Rodriguez (2002), Tadeu Cruz (2002), Chun Wei Choo (2003) e

Thomas Davenport (2002) apresentaram os trabalhos mais abrangentes relacionados ao assunto

junto a seus respectivos objetos de estudo.

Para Rodriguez y Rodriguez, a Sociedade Industrial deu lugar à Sociedade da Informação ou

Sociedade do Conhecimento a partir do surgimento do primeiro computador. Assim, nesta

sociedade, o Conhecimento possui certas particularidades como sendo “tácito, orientado a ações,

sustentado por regras, mutante e tem valores intangíveis” (2003, p. 22).

Na definição de Tadeu Cruz, muitas empresas “não sabem que sabem, não sabem o que sabem e

não sabem porque sabem” (2002, p.28-29). Tadeu Cruz define Gestão do Conhecimento como:

25


“Conjunto formado por metodologias e tecnologias que têm por finalidade criar condições para identificar,

integrar, capturar, recuperar e compartilhar conhecimento existente em qualquer tipo de organização.” (Cruz,

2002, p. 31)

Thomas Davenport, em sua análise sobre o assunto, elabora uma abordagem ecológica da

informação para a Gestão do Conhecimento. Entende-se como abordagem ecológica um sistema –

ou ecossistema – que permeia todo o fluxo de informação e conhecimento na organização, se

retroalimentando a todo instante. O conhecimento nas empresas e na sociedade se dá pela

organização da informação em quatro níveis: “informação não-estruturada, capital intelectual ou

conhecimento, informação com base em papel e informação com base em computadores.”

(Davenport, 2002, p. 27)

Diferentemente das teorias sobre Sistemas de Informação, as teorias sobre Gestão do Conhecimento

ainda não esgotaram o assunto e ainda possuem muitos valores a serem considerados. Ao se abordar

este conceito no presente trabalho, serão analisados todos os elementos que compõem a sua

estrutura, tais como dados, informação e conhecimento. Estas estruturas são fundamentais para a

produção do conhecimento nas sociedades jurídicas, onde serão traçados paralelos entre a prática

jurídica e a administração/Gestão do Conhecimento produzido.

3.3 Sociedades de advocacia

Ao analisar o ambiente jurídico brasileiro, este trabalho terá como fonte os textos de Lara Cristina

de A. Selem e os estudos do caderno Panorama Setorial, editado pela Gazeta Mercantil. Estudos

setoriais sobre a área jurídica são particularmente escassos pelo fato de que a maioria das

sociedades de advocacia – atores principais e objetos de estudo neste caso – são sociedades

limitadas e, como tal, não possuem obrigação legal de explicitar números e contas ao público

tornando, assim, extremamente difícil a mensuração do peso destas sociedades no mercado jurídico.

Somando-se a isso, estas sociedades têm o sigilo como regra imperativa, dificultando análises mais

precisas sobre suas atuações. Por tudo isso, os estudos sobre o mercado jurídico, além de escassos,

têm sua precisão aproximada, e não taxativa, sobre este setor. Os estudos de Selem e os do

Panorama Setorial são uns dos poucos e mais completos sobre o tema e, por este motivo, basearão

as análises deste trabalho.

Será aqui enfocado as sociedades de advocacia, onde os advogados atuam de forma coletiva e

colaborativa. Tal enfoque baseia-se no fato de que estas sociedades movimentam mais de 90% dos

26


trâmites e processos jurídicos, subprodutos e serviços agregados. Existem metodologias que

diferem para a mensuração da importância e peso setorial de cada sociedade.

A Latin Lawyers, entidade que estuda sociedades de advocacia na América Latina, adota

basicamente o tamanho de cada sociedade e o número de associados. A CESA – Centro de Estudo

das Sociedades de Advogados e o CEAE – Centro de Estudos de Administração de Escritórios de

Advocacia são entidades que debatem as tendências e especializações da área, além de guias,

notícias e promoção de eventos, mas seus estudos e publicações são restritos aos associados.

3.4 Mercado Jurídico Brasileiro

Tal como esclarecido anteriormente, se analisará aqui o mercado jurídico com enfoque nos serviços

dos advogados, diferindo este dos serviços ditos judiciários, representado pelos tribunais – juízes,

promotores, desembargadores e magistrados de todos os níveis – que não serão considerados no

escopo deste trabalho.

Analisar o mercado jurídico no Brasil é uma tarefa extremamente complicada, visto que a prática

profissional do advogado, ou de sociedades de advogados, são notadamente sigilosas em seus

trâmites, proporcionando, desta forma, dificuldades e percalços adicionais às análises deste setor.

Como a esmagadora maioria das sociedades de advocacia são consideradas sociedades civis,

diferentemente de sociedades limitadas ou anônimas, de caráter explicitamente mercantil, não

possuem obrigatoriedade de divulgação de seus números contábeis ou carteira de clientes ao grande

público, devendo tão somente informações aos órgãos de classe – Ordem Federal ou Estadual de

advogados – ou entidades afins, como o Centro de Estudo das Sociedades de Advogados, Centro de

Estudos de Administração dos Escritórios de Advocacia, entre outros.

Da mesma forma, existem poucos estudos abertos ao público sobre o setor, uma vez que a maioria

destes são restritos a associados. Entre as entidades que publicam regularmente dados e informações

sobre o setor jurídico, deve-se destacar os já citados Centro de Estudo das Sociedades de

Advogados e o Centro de Estudos de Administração dos Escritórios de Advocacia. Outro grande

difusor de informações é o caderno Panorama Setorial, renomada publicação da Gazeta Mercantil,

que editou em 2002 um extenso trabalho sobre o ramo jurídico, sendo considerada por especialistas

como obra de referência no assunto.

27


Um dos aspectos mais importantes, em se tratando de análise do setor jurídico, é o fato de que cada

país tem um perfil único e particular de formato jurídico e judiciário. Estas diferenças ocorrem

devido às particularidades políticas, culturais e econômicas dos países e seus poderes – Legislativo,

Executivo e Judiciário.

No caso do Brasil, o histórico das atividades advocatícias tem início formal no tempo do Império,

embora já se tenha notícia de sua prática no período colonial, onde a advocacia era exercida por

bacharéis formados pela Universidade de Coimbra (Hapner, 2002). Com a regulamentação dos

cursos de Olinda e São Paulo, em 1827, e a criação do Instituto da Ordem dos Advogados

Brasileiros, em 1843, a atividade profissional de advocacia tem seu início.

Em 1930, com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil, o Instituto acima mencionado é

renomeado e passa a se chamar Instituto dos Advogados do Brasil, tendo como atividades principais

o desenvolvimento e o fomento da cultura e ciência jurídica entre os advogados. No ano seguinte,

em 1931, é criado o Regulamento da Ordem dos Advogados do Brasil, adotando o modelo de Paris

(Barreaus de Paris), que dispunha, entre outras coisas, sobre a prática liberal da profissão. Este

Regulamento perdurou até 1963, quando a Lei n. 4.215 conferiu aos advogados e suas associações

um caráter institucional. Por fim, em 1994, foi criado o Estatuto da Ordem dos Advogados do

Brasil, que dispõe sobre as atuais atribuições concernentes à profissão de advogado.

Segundo Lara Selem, três figuras são necessárias para a execução e administração da justiça: O

Advogado, o Promotor e o Juiz, onde “o primeiro postula, o segundo fiscaliza e o último julga, cada

um desempenhando seu papel de modo paritário, sem hierarquia”. (2004, p.48). No caso do

Advogado, que é o centro de análise deste trabalho, seu ofício divide-se em basicamente duas

vertentes, salvo algumas exceções. A primeira é conhecida como advocacia de assessoramento e a

segunda, por seu turno, é chamada advocacia curativa.

A advocacia de assessoramento, ou assessoria jurídica, é também conhecida como advocacia

preventiva, consistindo numa prática cada vez mais crescente no mercado jurídico brasileiro, devido

à grande demanda de serviços em áreas extremamente complexas e delicadas, como danos morais,

Direito Tributário e Direito do Consumidor, além de áreas emergentes, como Bio-Direito e Ciber-

Direito. Serviços de advocacia de assessoramento, ou assessoria jurídica, encontram amplo mercado

em grandes e médias empresas, onde as variações dos preços cobrados podem variar em até 600%.

28


A chamada advocacia curativa refere-se à prática tradicional de processos judiciais, tais como

processos trabalhistas, cíveis, criminais, tributários, entre outros. Este tipo de advocacia foi

predominante ao longo do século XX, onde as variedades e complexidades das questões cotidianas

ainda não permitiam significativas divisões ou multiplicação de serviços mais especializados. Esta

advocacia curativa, ou advocacia processual, ainda é a base do sistema jurídico, movimentando

mais de 70% dos valores monetários envolvidos na área jurídica.

Um terceiro tipo de prática advocatícia também deve ser considerado, embora tenha uma

representatividade mínima em termos de serviços jurídicos. Este tipo é a advocacia de pareceres,

onde alguns advogados ou escritórios jurídicos, reconhecidos como autoridades em determinados

assuntos, emitem pareceres doutrinários a seus clientes ou associados. Embora, como já dito, este

tipo de prática tenha representatividade estatística mínima no mercado pode, entretanto,

movimentar milhões de Reais anuais, cifras que não podem ser ignoradas. Como se verá mais

adiante, este tipo de serviço é praticado, sobretudo, pelas chamadas boutiques jurídicas, sociedades

altamente especializadas em uma ou mais áreas do Direito.

O setor jurídico, assim como diversos outros setores, experimentou um crescimento extraordinário a

partir do início dos anos 90. Desde a década de 30 até o final dos anos 80, o setor manteve-se

estável, variando muito pouco seus indicadores de performance. Na década de 80, devido ao

período de hiperinflação, o setor jurídico estava seriamente estagnado, assim como a economia

como um todo.

Com a abertura do mercado no governo Collor, em 1990, a economia assiste a um crescimento

exponencial, uma vez que produtos, bens e serviços diversos inundaram o mercado brasileiro. No

setor financeiro, da mesma forma, o capital externo vindo de investidores financiou boa parte do

crescimento econômico e provocou mudanças de ordem política, impelindo os poderes executivo e

legislativo a rever e reestruturar os modelos antiquados do sistema tributário, econômico e político

que vigorava até então.

Tais mudanças começaram efetivamente com o advento do Plano Real, que estabilizou a inflação

galopante que assolava a economia há décadas e aumentou consideravelmente a circulação de

capital no mercado, seja na elevação do poder de compra do consumidor médio, seja no fomento às

atividades empresariais. Enquanto muitas empresas e investidores quebraram no período

imediatamente anterior ao Plano Real, com o fim dos investimentos em mercados negros, overnight

entre outros, outras reestruturaram-se para sobreviver, revendo sua imagem ante o público

29


consumidor e redesenhando seus processos produtivos ou de serviços – prática que ficou conhecida

como reengenharia, muito adotada na metade dos anos 90.

Uma vez tendo que rever suas práticas administrativas e processos internos, face à abertura do

mercado e estabilidade da moeda, muitas empresas tiveram, da mesma forma, que reconquistar o

consumidor. Importando a tendência vigente no início dos anos 90 em países da Europa e Estados

Unidos, onde o foco no cliente tornou-se questão de ordem, a classe empresarial viu surgir algo até

então inédito no que se refere aos seus direitos e deveres em relação a seus compradores: o Código

de Defesa do Consumidor, instituído em 1990, no mesmo ano da abertura do mercado. Criado para

fiscalizar, regular e intermediar as relações de compra e venda, teve como aliado fiscal os diversos

Procons (programas regionais ou estaduais de proteção e defesa do consumidor), surgidos ou

ressurgidos em diversos estados como órgão fiscais intensamente atuantes.

Com a abertura do mercado ao investimento externo e às importações, tornou-se necessário também

regular diversos setores – estratégicos ou não – para lidar com esta nova realidade econômica. A

partir da metade dos anos 90, uma série de privatizações foi implementada pelo governo do então

presidente Fernando Henrique Cardoso, onde companhias do ramo de eletricidade, mineração,

telecomunicações e outras, de igual importância, saíram do controle estatal para serem geridas pela

iniciativa privada, cabendo ao governo somente o papel de fiscalizador, através das recém criadas

agências regulatórias 2 .

Todos estes eventos, provocados pela abertura do mercado, foram extremamente complexos e

difíceis de serem administrados. O poder Legislativo viu-se pressionado a criar infindáveis leis,

decretos, emendas constitucionais e outras normas e o Executivo, em sua eterna disputa de

interesses partidários, sancionou grande número de atos normativos e legislativos. Porém, coube – e

ainda cabe – ao poder Judiciário e ao setor jurídico a parte mais delicada: intermediar os conflitos

sociais e econômicos decorrentes das legislações criadas às pressas e, muitas vezes, sem o

planejamento necessário para, senão evitá-los, minimizá-los.

Como já foi dito, o processo de abertura do mercado provocou uma reviravolta econômica que

interferiu diretamente no setor jurídico, ocasionando uma explosão de processos judiciais. Nas

sociedades de advocacia, em particular, isto representou uma grande oportunidade de crescimento

financeiro e ampliação da carteira de clientes, sobretudo pessoas jurídicas, uma vez que quase todas

30


as empresas diretamente afetadas pelas reformas econômicas 3 precisariam de assistência e

orientação jurídica para a execução de seus negócios. Inúmeros advogados passaram a se associar

para assistir a setores inteiros: no processo de privatização, caso de energia, mineração e

telecomunicações, vários escritórios com especialidade em fusões e aquisições emergiram de forma

exponencial. Da mesma forma, com o Código de Defesa do Consumidor, vários grupos se

destacaram, e ainda o fazem, de modo a assistir tanto aos interesses de empresas quando de

consumidores. Outro setor de destaque é o Direito Tributário, um dos mais complexos, visado por

mais da metade das sociedades de advocacia brasileiras. Devido aos trâmites e legislações

controversas, é um ramo especialmente lucrativo para as sociedades de advocacia, e extremamente

problemático para o meio empresarial, uma vez que assuntos de ordem tributária e fiscal, além de

movimentar somas de bilhões de reais anuais, ainda têm na polêmica legislativa e jurisprudencial

sua principal tônica.

Da mesma forma que os eventos acima descritos provocaram mudanças na área jurídica, ao mesmo

tempo, com o advento da internet no Brasil em 1994-1995, de assuntos relacionados à clonagem,

em 1997, e questões de protocolos ambientais, em fins dos anos 90, advogados e sociedades de

advocacia tiveram que buscar maiores especializações. Assim, inúmeros cursos, palestras e

congressos, forma realizados a fim de preparar estes profissionais para os desafios que o século XXI

estava por trazer. A tabela 1 indica alguns eventos e as especializações jurídicas necessárias para o

tratamento jurídico.

Tabela 1- Eventos econômicos, políticos e sociais e ramos jurídicos correspondentes

Eventos Área do Direito

Fusões e aquisições Direito Societário / Direito Comercial

Código de Defesa do Consumidor Direito Civil / Direito do Consumidor

Sistema Fiscal, Financeiro e Tributário Direito Tributário

Advento da Internet e pirataria digital Ciber-Direito

Assuntos de clonagem, Biopirataria, Genética Bio-Direito

Assuntos ambientais Direito Ambiental

Propriedade Intelectual e Patentes Direito Autoral

2 Entre as agências regulatórias constam a Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações e Aneel - Agência Nacional

de Energia Elétrica, assim como a ANP - Agência Nacional do Petróleo, criadas após as privatizações para a

fiscalização das operações das concessionárias de seus respectivos ramos.

31


3.4.1 As Sociedades de advocacia

A cada ano, mais de 40.000 advogados são lançados no mercado de trabalho, em sua maioria na

região sudeste. Segundo dados da Ordem dos Advogados do Brasil, em abril de 2004, havia mais de

400.000 advogados atuantes em todo o território nacional, conforme consta na tabela 2.

Tabela 2- Quadro de advogados no Brasil*

SECCION

AL

ADVOGADO +

SUPLEMENTAR

ESTAGIÁRIO SOMA

AC 1.029 26 1.055

AL 3.095 33 3.128

AM 2.220 162 2.382

AP 640 2 642

BA 10.036 1.316 11.352

CE 7.252 549 7.801

DF 10.664 1.435 12.099

ES 5.076 185 5.261

GO 10.363 1.749 12.112

MA 3.034 153 3.187

MG 39.555 53 39.608

MS 5.162 183 5.345

MT 3.677 1.541 5.218

PA 5.822 274 6.096

PB 3.840 258 4.098

PE 10.620 652 11.272

PI 1.968 48 2.016

PR 22.730 348 23.078

RJ 75.425 15.420 90.845

RN 3.296 251 3.547

RO 1.531 76 1.607

RR 353 8 361

RS 30.390 4.041 34.431

SC 10.772 618 11.390

SE 1.836 177 2.013

SP 145.784 18.294 164.078

TO 1.321 64 1.385

Soma 417.491 47.916 465.407

* Fonte: OAB – abril de 2004

Os últimos dados referentes ao número de sociedades de advocacia no Brasil, realizado pelo Centro

de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA), indicam que há quase 400 escritórios entre seus

afiliados, tal como mostra a tabela 3.

3 Reformas aqui entendidas como todos os eventos provenientes do processo de abertura de mercado, inclusive o Plano

Real e o programa de privatizações.

32


Tabela 3 – Distribuição geográfica dos escritórios de

advocacia*

UF Número de

escritórios

Em %

São Paulo 211 53,6

Rio de Janeiro 53 13,5

Minas Gerais 34 8,6

Distrito Federal 26 6,6

Paraná 20 5,1

Rio Grande do Sul 15 3,8

Santa Catarina 9 2,3

Pernambuco 8 2,0

Bahia 4 1,0

Goiás 4 1,0

Ceará 3 0,8

Espírito Santo 3 0,8

Amazonas 1 0,3

Mato Grosso 1 0,3

Pará 1 0,3

Rio Grande do Norte 1 0,3

Total 394 100,0

Fontes: Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA)

* Associados ao CESA em agosto de 2001.

Só o estado de São Paulo responde por mais de 50 % de afiliados, embora tal fato ocorra pelo fato

desta entidade (CESA) ter atividades mais efetivas neste estado. Quanto ao cadastro das sociedades

e seus números, a grande maioria de seus afiliados possuem até cinco associados, conforme consta

na tabela 4.

Tabela 4 – Distribuição por porte das sociedades de advogados**

Número de advogados Número de sociedades Participação (em %)

Até 5 4.854 97,27

De 6 a 10 89 1,78

De 11 a 20 29 0,58

Mais de 20 18 0,36

Total 4.990 100,0

Fontes: Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA) e Panorama Setorial.

* No Estado de São Paulo em agosto de 2001.

Tais números refletem apenas os associados desta entidade, uma vez que a Ordem dos Advogados

do Brasil não disponibiliza números de sociedades de advocacia em seus meios de comunicação.

Entretanto, segundo o levantamento do Panorama Setorial, havia mais de 5.000 sociedades

somente no Estado de São Paulo, indicando ainda uma tendência de crescimento cada vez maior

deste número.

33


A medição de indicadores do setor jurídico é extremamente difícil, uma vez que sociedades de

advocacia, como sociedades civis, não têm obrigação fiscal de divulgação de seus números

contábeis. Por causa disto, publicações como a Latin Lawyers 4 e Panorama Setorial elaboram seus

rankings unicamente no número de advogados sócios destas sociedades. Tido por especialistas na

área como referência, o Panorama Setorial da Gazeta Mercantil, lista seu ranking tal como mostra a

tabela 5:

Tabela 5 – Ranking dos escritórios de advocacia brasileiros (dezembro de 2000)*

Posição Escritório Número de Fundação

Advogados Sócios

1° Pinheiro Neto 255 50 1942

2° Tozzini, Freire, Teixeira e Silva 228 50 1976

3° Demarest & Almeida 198 30 1948

4° Machado, Mmeyer, Sendacz e pice 183 21 1972

5° Veirano 152 19 1972

6° Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. E

Quiroga

140 18 1991

7° Trench, Rossi e Watanabe (Baker e

Mckenzie)

123 25 1959

8° Azevedo Sette 76 17 1967

9° Levy & Salomão 70 11 1989

10° Dannemann, Siemsen, Bigler & Ipanema 66 26 1900

Moreira

11° Goulart Penteado, Iervolino e Lefosse 60 9 1987

12° Ulhôa Canto, Rezende e Guerra 55 55 1940

13° Barbosa Müssnich & Aragão 55 11 1995

14° Xavier, Bernardes, Bragança 54 6 1995

15° Lilia, Huck, Malheiros, Otranto, Ribeiro, 46 44 1993

Camargo e Messina

16° Hapner & Kroetz Advogados 40 2 1983

17° Felsberg, Pedretti, Mannrich e Aidar 39 11 1970

18° Souza, Cescon Avedissian, Barrieu e Flesch 31 9 2001

19° Vieira, Rezende, Barbosa e Guerreiro 30 8 1995

20° Momsen, Leonardos & Cia 30 9 1919

Como se viu, o processo de abertura econômica e os eventos decorrentes deste forçaram muitos

advogados a se associarem em sociedades e buscarem especializações referentes às suas áreas de

atuação. Para o ramo jurídico, estável até o final dos anos 80, estes eventos provocaram uma

explosão de processos judiciais, seja para regulamentação dos processos de fusão e aquisição de

companhias, seja no Direito do Consumidor, ou no Direito Tributário, além de setores mais

especializados e não tradicionais, como Direito Ambiental, Bio-Direito e Ciber-Direito. Esta

explosão, aliado aos imperativos de uma maior especialização, tornou praticamente inviável a

execução individual de serviços jurídicos para grandes clientes.

4 Publicação independente que congrega os maiores escritórios da América Latina.

34


Ao final dos anos 80, a esmagadora maioria das sociedades de advocacia possuía não mais do que 5

sócios ou advogados. Ao final dos anos 90, entretanto, já contavam mais de 50, representando um

aumento, em média, de mais de 1000% em seu quadro de profissionais. Da mesma forma, as

maiores bancas ou possuem filiais em vários estados brasileiros – geralmente nos grandes centros,

Como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador – ou possuem associados,

como outros escritórios, partilhando serviços de forma simbiótica.

Na concepção de Selem (2004, p.50), a prática advocatícia pode ser executada por:

• Profissional assalariado

• Profissional liberal

• Profissional liberal societário

Ainda segundo ela, esta profissão tem caráter coletivo e colaborativo, embora geralmente um titular

ou representante endosse por final suas atividades. Sobre o seu escopo, a Ordem Federal dos

Advogados do Brasil instituiu alguns provimentos, tais como:

• Provimento nº 23, de 1965, permitindo às sociedades de advocacia representar, assistir,

assessorar e defender perante a Administração Pública direta ou indireta, e perante as entidades

privadas.

• Provimento nº 66, de 1988, que regulamenta sobre a abrangência e a forma de cobrança pelos

serviços.

• Provimento nº 69, de 1989, que dispões sobre a obrigatoriedade de se praticar a advocacia

somente sociedades devidamente registradas.

Ainda sobre a regulamentação das sociedades de advocacia, Selem (2004, p.53) lembra que o

Estatuto da OAB, em seus artigos 15 a 17, dispõe que:

• As sociedades não têm por fim atuar na advocacia como empresa, mas possibilitar que seus

advogados possam realizar seu ofício de forma mais racional e organizada;

• Todos os sócios sejam necessariamente advogados;

• As sociedades não tenham por fim outro que não seja o de permitir que seus sócios pratiquem a

advocacia;

• As sociedades tenham registro diferenciado das demais sociedades civis;

• As sociedades não possuam características mercantis (ou empresariais).

35


Selem (2004, pg.54) lembra ainda que, ainda que associado a alguma banca jurídica, ao advogado é

permitido advogar em proveito pessoal, muito embora isso geralmente ocorra fora das instalações

da sociedade a qual faz parte, salvo algumas exceções.

Sobre os elementos legais para a constituição de uma sociedade de advocacia, Selem cita alguns,

tais como:

• Constituição

• Registro

• Livros contábeis

• Sócios

• Capital social

• Nome

• Formato administrativo

• Sócio-gerente

• Advogado associado

• Advogado empregado

• Filiais

• Sociedades associadas

Também na concepção do Código Civil (2003, artigos 966 e 983), as sociedades de advogados são

consideradas sociedades simples, não podendo, assim, possuir caráter mercantil. Desta forma, não

podem exercer atividades estranhas à advocacia e só podem contar como sócios advogados inscritos

na Ordem (OAB).

Ainda sob a ótica de Selem (2004, p.53, apud Neto Lôbo, 1994, p.76), cabe às sociedades de

advogados “regular, e disciplinar relações recíprocas entre advogados, no que pertine,

fundamentalmente, à vida administrativa e financeira do grupo (...) a remuneração dos resultados

obtidos com a remuneração do trabalho dos advogados e disciplina do expediente do escritório”.

No que tange ao aspecto colaborativo, enquanto organização essencialmente colaborativa, a

sociedade de advocacia é “aquela constituída por dois ou mais advogados para permitir ou facilitar

o exercício da advocacia em regime de colaboração recíproca, com disciplinamento do expediente e

36


da divisão dos resultados patrimoniais auferidos no atendimento que os advogados a ela vinculados

prestam para os clientes”. (Selem, 2004, p.53)

Para Hapner, embora destaque que a constituição de sociedades de advocacia, tal como concebida

nos provimentos da OAB e no Código Civil, não tem por objetivo a prática mercantil, ou mesmo

advocatícia, e sim a função de facilitar a relação recíproca entre advogados, ele chama a atenção

para o fato de que estas normas somente protegem o profissional e seu feudo, caracterizando-a

como unipessoal, não permitindo que profissionais de outras áreas agreguem seus serviços ou

colaborem mais efetivamente para as atividades da sociedade:

“Quando a lei traz o conceito de sociedade de advogados, preocupa-se mais com a proteção daqueles que

exercem a profissão. Quando fala que "deve ser constituída por dois ou mais advogados", elimina a possibilidade

de que profissionais de outras áreas participem da sociedade e de que esta seja unipessoal. Ser unipessoal não é

tão relevante, mas a restrição de participação de outros profissionais parece afastar importantes colaboradores da

área administrativa, de estratégia, cultura organizacional e pessoal. Este fato tem sido danoso à possibilidade de

obtenção de uma prática eficiente; pode-se dizer que a curva global de aprendizagem do exercício da advocacia é

mais acentuada que a maioria das empresas de outros setores. Apenas recentemente, mesmo assim uma minoria,

que sociedades de advogados têm contratado profissionais especializados na área de gestão de negócios.”

(Hapner, 2002, p.20)

No que se refere aos motivos da constituição de uma sociedade de advocacia, Hapner constata

alguns, tais como: necessidade de especialização ante à demanda e complexidade dos assuntos

empresariais; atendimento à demanda multidisciplinar de determinados serviços de natureza fiscal,

com associação até mesmo a outras bancas embora ele lembre que esta seja uma prática vetada

pela Ordem dos Advogados do Brasil; e por medida econômica, uma vez que, em prestações de

serviços unilaterais, o imposto incidente seria em torno de 27,5%. Desta forma, em sociedades de

advocacia, optante pelo lucro presumido, tais impostos caem a 13,7%, facilitando, inclusive, a

distribuição do lucro entre os associados.

Entre outros fatores que incitam à criação de sociedades, pode-se destacar o grande número de

processos, tornando seu acompanhamento e gestão extremamente penosos para a prática individual

e, enfim, pela grande competição existente no ramo, face aos advogados notadamente mais

reconhecidos em seus respectivos ramos de atuação. Hapner (2002, pg.26) também observa que a

questão de investimentos em Tecnologia da Informação em um mercado cada vez mais competitivo

tem sido um fator cada vez mais impositivo nas sociedades de advocacia, seja em sua constituição,

administração e relacionamento com seus clientes. Tal questão será abordada no item 4.3 deste

trabalho.

3.4.2 Sociedades de advocacia: características e requisitos estratégicos

37


Uma vez definido o conceito de sociedades de advocacia e de seu histórico, se discorrerá aqui sobre

as características e as qualidades necessárias para a administração destas sociedades, bem como

alguns conceitos de estratégias para aumento da competitividade neste setor. Embora seja vetado

seu aspecto mercantil, como se viu, as sociedades de advocacia necessitam de estratégias e práticas

de gestão altamente eficientes, uma vez que a concorrência no mercado jurídico é acirrada, tal como

em qualquer outro setor.

Sociedades de advogados, em sua essência, são instituições de prestação de serviços, onde o

elemento humano é um fator chave – senão vital – para o sucesso de seus empreendimentos. Tendo

como moeda de troca a oferta de bens intangíveis, seu maior ativo é representado por seu pessoal,

notadamente seu capital intelectual, que são o corpo de advogados e o pessoal de suporte. No

capítulo 3.5 deste trabalho será feita uma análise mais aprofundada do setor de serviços, cabendo

aqui a caracterização societária sugerida acima.

Com a explosão já mencionada no setor de serviços, muitas sociedades de advocacia passaram a

contar, em seus quadros de funcionários, com pessoal de apoio. Estes são geralmente divididos em

departamentos, cada qual extremamente importante para a operacionalidade das atividades da

sociedade. Dentre alguns departamentos, pode-se citar:

• Contabilidade

• Financeiro e Receita

• Digitação

• Administrativo

• Biblioteca

• Arquivo

• Centro de Processamento de Dados e suporte técnico

No primeiro semestre de 2004, em pesquisa realizada através das web-pages institucionais das 40

maiores sociedades de advocacia 5 , mais de 80% delas declaravam pelo menos um destes

departamentos em funcionamento em suas instalações. O crescimento e a importância destes

departamentos está diretamente relacionado à dinâmica do mercado jurídico e às exigências atuais

da clientela deste setor. Tais variáveis exigem cada vez mais eficiência dos escritórios e estes, por

seu turno, passaram a depender cada vez mais destes serviços.

5 Pesquisa realizada na web pelos autores deste trabalho no 1º semestre de 2004.

38


No que diz respeito ao corpo de advogados, um dos aspectos fundamentais para o sucesso da

sociedade é o compartilhamento de conhecimento. Embora pareça simples, esta é uma questão

extremamente delicada, pois muitas vezes a concorrência não se apresenta somente fora da

organização, mas dentro dela própria. Esta questão é agravada pelo fato de alguns advogados, por

serem muito bem versados em determinados assuntos, vetam ou boicotam suas idéias de forma a

garantir sua influência e participação, comprometendo a performance da sociedade como um todo.

Outro aspecto importante a se destacar é a vaidade inerente aos advogados mais bem sucedidos,

refletindo um espírito individualista e egocêntrico, fruto de uma imagem tradicional e secular do

profissional de Direito, sendo ele a própria estrela, em detrimento dos colegas de profissão, dos

profissionais colaboradores e, principalmente, do cliente.

De modo a pontuar uma última característica que se observa entre os profissionais da área jurídica,

pode-se observar um relativo desdém com as Tecnologias de Informação que são oferecidas pelo

mercado para o aprimoramento de seus serviços. Muitos advogados ainda minimizam tais

instrumentos, considerando-os meros luxos não essenciais ao andamento ou à qualidade de seus

serviços.

Além disso, deficiências de ordem administrativa são a tônica deste setor, onde a esmagadora

maioria das sociedades é gerenciada sem qualquer critério ou planejamento, seja no âmbito

estratégico ou operacional. Da mesma forma, setores internos como Recursos Humanos ou Suporte

tendem a ser ineficientes e engessados, comprometendo mais ainda a performance destas

sociedades.

Todas estas características são largamente observadas entre profissionais da área jurídica, embora

este perfil esteja mudando – ainda que muito lentamente – por força das circunstâncias do mercado.

Sobre isso, Lara Selem discorre que

“Para os escritórios continuarem a prover serviços de qualidade para seus clientes, eles devem desenvolver e

implementar práticas empresariais, de gerenciamento e de supervisão para a complexa e dinâmica natureza do

ambiente jurídico. Muitos sócios e associados, entretanto, não foram treinados para pensar e se comportar como

pessoas de negócios, gerentes ou supervisores. Faculdades de Direito se mostram geralmente com pouca

iniciativa na preparação de seus graduandos para assumir estas responsabilidades e os advogados

costumeiramente não possuem interesse ou tempo para adquirir tais habilidade. Como resultado, os escritórios de

advocacia e seus comitês de gestão têm sido vagarosos para responder àqueles que anseiam pelo

desenvolvimento e implementação de estruturas organizacionais únicas, práticas gerenciais e tecnológicas

necessárias para maximizar os lucros, aumentar a produtividade, aumentar a satisfação dos clientes e promover a

satisfação profissional, tanto para os colaboradores jurídicos, como para os não-jurídicos”.

(Selem, 2004, p.192)

39


Sobre as características necessárias para uma gestão eficiente de uma sociedade de advocacia,

Selem (2004, p.191-196) baseia-se nos níveis de qualidade de escritórios norte-americanos para

enumerá-las. Conforme ela observa, é necessário possuir habilidades de cunho operacional, como

• Habilidades de relacionamento com clientes

• Habilidades de desenvolvimento de clientes

• Habilidades empresariais gerais

• Operações e procedimentos empresariais

E habilidades no que se pode denominar de Organização e Métodos, como

• Administração do próprio trabalho

• Administração do trabalho de terceiros

Em suas considerações conclusivas, Lara Selem reconhece que, para enfrentar os novos desafios do

século XXI, é preciso uma mudança de mentalidade gerencial aliada a uma atualização constante,

tanto nas especialidades de atuação quanto no investimento em novas tecnologias. Conforme ela

observa,

“(...) a última década apresentou uma alteração significativa na demanda por serviços jurídicos mais

especializados, na evolução tecnológica e de comunicação entre empresas, nas alterações do perfil da atividade

econômica, através da expansão geográfica das grandes corporações e pelos processos de privatização, fusão e

aquisição de empresas. Tais alterações de cenário desencadearam uma série de necessidades urgentes nos

escritórios de advocacia, como maior desempenho técnico, melhor controle de qualidade, atualização tecnológica

constante e equilíbrio financeiro”. (Selem, 2004, p.211)

Embora todas estas questões sejam essencialmente importantes para uma moderna e eficiente gestão

de escritórios jurídicos, serão considerados, segundo a proposta deste trabalho, somente os aspectos

de Gestão de Informações e Conhecimento através do uso de ferramentas como Intranets e Portais

Corporativos.

3.4.3 Serviços estratégicos e ferramentas para Gestão do Conhecimento em Sociedades de

advocacia

Conforme se viu, devido ao momento altamente competitivo em que atravessam quase todos os

setores, especialmente o jurídico, uma administração e gestão eficientes tornam-se imprescindíveis

para a sobrevivência de empresas e instituições. Mesmo elucidando metodologias para o

desenvolvimento e implantação de estratégias de mercado, Lara Selem constata que raríssimas

bancas ou sociedades de advocacia possuem competências para tais empreendimentos. Ao discorrer

40


sobre estas competências, entretanto, ela não menciona a importância dos serviços prestados pelos

departamentos de apoio que são extremamente importantes para a viabilidade dos

empreendimentos.

Muitas empresas e sociedades de diversos setores contam com departamentos operacionais e

estratégicos. Os departamentos operacionais são exigidos nos aspectos fiscais e legais, tal como os

departamentos de contabilidade, recursos humanos, financeiro, entre outros. Tais departamentos,

embora tenham sua utilidade no que se propõem, não agregam necessariamente valor estratégico

aos negócios e projetos destas instituições. No caso de sociedades de advocacia, tais departamentos

têm desempenho burocrático e têm auxílio limitado na construção de conhecimento produzido pelos

advogados.

Os departamentos estratégicos podem ser concebidos como departamentos que agregam valor pela

captura e disseminação de conhecimento especializado, muitas vezes sob demanda e geralmente

customizado. Entre tais departamentos, encontram-se as Bibliotecas, Arquivos, Centros de

Informação, Centros de Documentação, Mediatecas, Videotecas e Centros de Processamento de

Dados ou equivalentes 6 , além dos eminentes Centros de Inteligência Empresarial, Inteligência da

Concorrência e Contra-Inteligência. Todos estes departamentos geram reais benefícios e são

amplamente analisados pela literatura especializada nos mais diversos setores. Num esquema

genérico, estes departamentos podem ser representados tal como mostra a Figura 1:

DEPARTAMENTOS

ESTRATÉGICOS

BIBLIOTECA

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO

INTELIGÊNCIA DE MERCADO

TECNOLOGIA

CÍVEL TRIBUTÁRIA PENAL

ADMINISTRAÇÃO

(DIRETORES DE

SOCIEDADE)

COMERCIAL,

SOCIETÁRIO E

AFINS

STAFF - ÁREAS DE ATUAÇÃO JURÍDICA

TRABALHISTA

ARQUIVO

CONTABILIDADE

ADMINISTRATIVO

TECNOLOGIA

PROPRIEDAD

E INDUSTRIAL

E AFINS

Figura 1: Departamentos constituintes de uma sociedade de advocacia

DEPARTAMENTOS

OPERACIONAIS

OUTRAS

41


No caso de sociedades de advocacia, as maiores bancas geralmente contam com tais departamentos,

porém raramente utilizam mais de três dos acima citados. Em pesquisa 7 realizada através dos

websites destas sociedades, mais de 80% delas afirmavam possuir Bibliotecas e Centro de

Processamento de Dados. Muitos também contam com Arquivos, embora estes tenham cada vez

mais caráter legal e fiscal do que propriamente estratégico. Seus websites institucionais geralmente

oferecem informações gerais e especializadas, como seus boletins e publicações intelectuais, além

da estrutura do escritório. Estes servem de contato com seus clientes, onde informações processuais

e propostas comerciais são disponibilizadas por extranet. Tais websites, entretanto, quase nunca são

utilizados como ferramentas estratégicas para gerência de informações e conhecimento interno, de

modo a auxiliar o corpo de advogados na condução de suas atividades.

Serviços estratégicos são entendidos, no escopo das sociedades de advocacia, como aqueles que

agregam valor e permitem o desenvolvimento de conhecimento especializado aplicado aos negócios

e empreendimentos. Tais serviços são prestados geralmente por dois tipos de colaboradores: por

consultores externos prática no mercado jurídico cada vez menos adotada e por funcionários

internos, lotados nos referidos departamentos aqui considerados estratégicos. Estes serviços, se bem

conduzidos e administrados, podem ser convertidos em excepcional vantagem estratégica, conforme

se analisará no item 3.5.4 deste trabalho.

No desenvolvimento das atividades jurídicas, o capital intelectual das bancas – advogados e

colaboradores – devem ser extremamente bem informados, atualizados e especializados, uma vez

que a demanda do mercado por serviços jurídicos, bem como a competição por estes, requer tais

condições. Estas condições, traduzidas num cenário real de referência, são proporcionadas por

fatores externos, como cursos acadêmicos e atualizações profissionais, e por fatores internos, como

os referidos serviços especializados, embora tais serviços também possam ser oferecidos também

por elementos externos, como os consultores.

No rastro da explosão que o setor jurídico apresentou, pelo aumento do número de bancas, dos

associados desta e de clientes em potencial, pôde-se constatar também um proporcional aumento de

serviços externos oferecidos por consultores dos mais diversos ramos do direito. Seja no setor

aduaneiro, tributário, cível ou penal, vários websites e portais de serviços jurídicos foram lançados

6 Departamentos como Centro de Processamento de Dados – CPDs – podem ser denominados pelos mais diversos

nomes, tais como Centro de Suporte, Departamento de Tecnologia, Departamento de Informática, entre outros.

7 Pesquisa realizada pelos autores deste trabalho no primeiro semestre de 2004.

42


para disputar a preferência dos escritórios, assemelhando-se, assim, à bolha tecnológica vivida pelas

empresas de tecnologia no vale do silício americano, onde, ao estouro desta, muitas empresas

encerraram suas atividades com a mesma rapidez com que surgiram.

Da mesma forma, diversos Portais jurídicos, no Brasil, são lançados e são liquidados na mesma

proporção, ocasionando, por isso mesmo, ampla desconfiança entre os profissionais de Direito.

Além disso, muitos destes Portais, embora ainda não tenham sido liquidados, encontram-se

desatualizados e abandonados, comprometendo o aprendizado intelectual e profissional dos

advogados, fator este que se reflete em seus serviços. Somente uns poucos Portais gozam de

prestígio, mas são limitados muitas vezes a apenas uma área de atuação, com a agravante de

raramente personalizar seus serviços. Assim, estes poucos Portais fornecem serviços para muitos

escritórios, pouco oferecendo, portanto, em termos de customização ou personalização a cada um de

seus clientes. Por extensão, alguns também utilizam outros canais de comunicação com os

escritórios, como contato por telefone, fax e correio eletrônico, mídias por onde também se prestam

serviços de consultoria.

Estas desvantagens dos serviços externos de consultoria de informações, no meio jurídico,

configuram alguns problemas para as sociedades de advocacia no atendimento a seus clientes: no

que se refere a consultas por e-mail ou fax, estes consultores demoram consideravelmente na

resposta. E em seus Portais, inflados e com uma variedade de informações impertinentes, acabam

afastando os advogados e reduzindo o acesso.

Na prática jurídica, algumas informações são essenciais para a manutenção da qualidade dos

serviços dos advogados. Uma boa banca jurídica necessita de um excelente acesso aos seguintes

conteúdos informacionais, que podem ser bibliográficos ou digitais:

• Acesso a notícias do mundo jurídico

• Acesso a Legislações e notícias de Legislações

• Acesso a repertório de decisões (Jurisprudências) de tribunais e notícias de decisões

• Acesso à produção intelectual das Ciências Jurídicas (comumente conhecida como Doutrina

Jurídica)

• Acesso a Indicadores Econômicos e Financeiros

• Acesso a Calendário de Obrigações Fiscais

• Acesso a Informativos e Boletins temáticos

43


• Acesso a pesquisas livres na Internet

• Acesso a jornais e revistas (generalistas ou especializados)

Outros tipos de informações também podem ser citados, como aqueles que divulgam cursos e

eventos na área jurídica e, por extensão, na área política e econômica. Estes são os requisitos

informacionais básicos a serem trabalhados pelos advogados para a construção de conhecimento

aplicado aos seus negócios.

Serviços internos de informações especializadas ou estratégicas, prestados por colaboradores –

funcionários – contratados pela banca, podem ser oferecidos pelos centros de informações mais

especializados, como as Bibliotecas, Centros de Informação/Documentação e Centros de

Inteligência Competitiva. Estes últimos, entretanto, são quase inexistentes nas sociedades de

advocacia, de modo que tais serviços são geralmente oferecidos e realizados pelas Bibliotecas ou

Centros de Documentação.

Da mesma forma, estas sociedades raramente utilizam ferramentas de captura e disseminação

seletiva de informações de modo a gerar conhecimento, como Intranets ou Portais Corporativos.

Como se viu, seus websites funcionam quase sempre em nível operacional, fornecendo em sua

extranet – quando existem – somente informações básicas de andamento processual a clientes. Seus

departamentos de Tecnologia ou Processamento de Dados, da mesma forma, são utilizados, ou

subutilizados, como meros Help-Desks, limitando-se apenas ao cabeamento de rede, conserto de

maquinário e treinamento de usuários em níveis elementares.

Outra constatação é que raramente os setores, estratégicos ou operacionais, se integram ou

auxiliam-se mutuamente, ocasionando verdadeiros feudos departamentais isolados entre si. Tais

evidências, ao que parece, ainda não foram observadas com a devida atenção pelos líderes ou sócios

da maioria das sociedades. Pode-se perceber, também, que embora a literatura levantada na análise

do setor jurídico enfoque vários requisitos administrativos e planejamentos estratégicos para uma

gestão eficiente e competitiva dos escritórios, não se observam discorrências sobre estes

departamentos auxiliares. Os aspectos estratégicos destes serviços especializados em informação

serão melhor analisados no capítulo 3.5.4 deste trabalho, juntamente com o caráter estratégico dos

departamentos e pessoal envolvidos.

44


3.5 Gestão do Conhecimento

Gestão do Conhecimento (Knowledge Management), ou Gerência do Conhecimento, é um conceito

novo e muito controverso nos meios acadêmicos e empresariais. Muitos teóricos e analistas ainda

discutem suas definições, fronteiras e particularidades, de tal maneira que qualquer conceito ou

teoria sobre este tema está longe de ser tomado como paradigma. Existem, porém, referenciais mais

ou menos consensuais que moldam esta recente prática de estratégia empresarial.

Analisar a prática da Gestão do Conhecimento no mundo corporativo moderno requer um estudo de

suas raízes temporais, bem como as condições que influenciaram – e ainda influenciam – seu

desenvolvimento. É igualmente importante, também, considerar as condições sociais e empresariais

que alicerçaram as práticas da Gestão do Conhecimento nos dias de hoje.

3.5.1 Panorama histórico

O que se entende hoje por “Gestão do Conhecimento” é fruto direto das formas administrativas de

ponta adotadas, sobretudo, por empresas expressivas em seus cenários de atuação. Aqui, o conceito

de ponta é entendido no sentido de pioneirismo no que se refere a estratégias administrativas

globais, considerando-se todas as variáveis, em níveis micro e macro, do ambiente no qual se insere

uma empresa ou sociedade.

Surgido nos Estados Unidos e no Japão, o conceito atual de Knowledge Management ou Gestão do

Conhecimento está interligado a questões epistemológicas inerentes ao seu próprio termo:

Conhecer. Tadeu Cruz, analisando sob a ótica filosófica o termo Conhecer ou Cognoscere, forma

latina que dá sentido ao termo sustenta inicialmente dois tipos de conhecimento: o vulgar e o

científico. O conhecimento vulgar se caracteriza pela percepção em nível cognitivo de que um

fenômeno, evento ou objeto existe. O conhecimento científico, mais analítico, considera as causas

prováveis ou comprováveis que levaram tais coisas a ocorrerem. Em outras palavras, no

conhecimento vulgar pode-se conceber QUE uma coisa existe ou acontece; no conhecimento

científico, doutra forma, concebe-se ou analisa-se PORQUE ele existe o acontece. (Cruz, 2002,

p.29)

Embora o termo Gestão do Conhecimento esteja ligado ao atual conceito de Gestão do

Conhecimento, prática contemporânea de administração dos saberes, seus precedentes, entretanto,

são remotos e não devem ser ignorados. Gerir conhecimento pressupõe efetivar, antes de tudo,

45


algumas atividades básicas como organizar o conhecimento, prática que pode ser ramificada em

métodos como classificação, catalogação, indexação, entre outras.

As primeiras tentativas de se organizar o conhecimento são muito antigas, datando dos tempos das

primeiras bibliotecas da antigüidade. Ao longo do tempo, os encarregados das bibliotecas 13 de

várias partes do mundo – sobretudo no ocidente – trataram de organizar e sistematizar o

conhecimento disponível, cabendo até então somente a eles executar esta atividade, visto que

ofícios desta natureza eram extremamente raros. Estes encarregados eram geralmente escribas e

organizavam o conhecimento de maneira rudimentar, quase sempre pelo assunto ou tema. (Mey,

1995, p.22)

A atividade de organização do conhecimento permaneceu precária até o início do século XX,

quando alguns filósofos e lingüistas estabeleceram metodologias científicas de sistematização até

hoje utilizadas. No rastro da “febre” de catalogação e classificação proveniente do florescimento

das atividades científicas do século XIX 14 , foram desenvolvidos códigos de catalogação e

classificação para abarcar todo o conhecimento produzido pelo homem, tal como o Código Decimal

de Dewey e o Código Decimal Universal. Tais códigos classificaram o conhecimento em 10 áreas

ou ramos do conhecimento, desde as ciências puras, arte, religião, até as ciências aplicadas e

tecnológicas. Estes códigos, se reconhecidos como técnicas ou tecnologias para Gestão do

Conhecimento, são atualmente obsoletos em sua proposta, mas foram ferramentas extremamente

úteis e eficientes para a sociedade que então se desenvolvia no início do século XX: a sociedade

industrial.

Para entender o que hoje se concebe como Gestão do Conhecimento, num sentido histórico, é

necessário considerar os fatores que provocaram sua ascensão. Assim, sendo desenvolvida e

adotada especialmente no ambiente empresarial, deve-se considerar os cenários empresarias desde o

início do século XX, quando emergiram as primeiras teorias da Administração.

13 Considerou-se aqui a utilização do termo “encarregados das bibliotecas”, ao invés de “bibliotecários”, uma vez que

este último concerne à profissão devidamente legalizada e regulamentada no século XX em várias partes do mundo.

46


3.5.1.1 A Sociedade Industrial

Embora se sustente que o início formal das sociedades humanas se deu na era da Sociedade

Agrícola, se destacará aqui uma análise somente a partir do advento da Sociedade Industrial, uma

vez que este trabalho foca um tema ambientado entre esta e a Sociedade da Informação e do

Conhecimento.

Muitos autores afirmam que a Sociedade Industrial começou à época da Revolução Industrial e

terminou nos anos 40 do século XX, com o advento do primeiro computador. Rodriguez y

Rodriguez (2002, p.16-19) ressalta que, com o advento da máquina a vapor, em fins do século

XVIII, iniciava-se uma nova era de industrialização em que as indústrias, os transportes, a energia e

o Estado formavam sua base de sustentação. No início do século XX, em particular, surgiram as

primeiras teorias de cunho científico das práticas de administração, quase todas sub-produzidas

principalmente pelas idéias de Max Weber, Frederick Taylor e Henry Fayol.

Uma das características mais marcantes da Sociedade Industrial é a burocracia. Em muitas

organizações e empresas, ela se reflete na hierarquia administrativa e na centralização das decisões.

Para ilustrar este aspecto, Rodriguez y Rodriguez destaca que

“Naquela época, a burocracia foi iniciada no Governo e implantada nas grandes organizações, sendo o Governo

um dos primeiros a utilizar um sistema de organização hierárquica. Também é mundialmente aceito que, em

1920, a General Electric foi a primeira empresa do mundo a implantar uma estrutura organizacional hierárquica.

(...) Na implantação da Sociedade Industrial, a burocracia foi de fundamental importância, pois substituiu o

favoritismo e o nepotismo reinante nas organizações. Foi considerado o sistema mais eficiente para o tratamento

das liberdades básicas, já que permitia organizar a divisão do trabalho, fazendo duma profissão o processo de

gerenciamento e decisão, fornecendo regras de forma organizada, além de permitir que muitos especialistas

pudessem trabalhar de forma coordenada dentro de um objetivo comum. Além disso, a burocracia aprofundou o

conhecimento e formalizou o poder nas organizações, permitindo na época a geração de produtos de forma

mecanizada e em larga escala.” (Rodriguez y Rodriguez, 2002, p.19)

Sobre a produção em larga escala, outra característica da Sociedade Industrial, muita ênfase

também foi dada no estudo dos tempos e movimentos, de modo a racionalizar a produção e, por

conseguinte, produzir mais sem necessariamente produzir melhor. Sobre isso, Hapner mostra que

“Frederick Taylor (1856-1917) produziu os primeiros ensaios sobre a racionalização da produção industrial,

elaborando importantes conceitos de comando e controle. No princípio, a Administração Científica concentrou-se

na análise minuciosa das tarefas realizadas pelos trabalhadores cada movimento, cada pequeno esforço

buscando aprimorar todos os detalhes que pudessem levar a ganhos de produtividade. Aprimorando à exaustão

seus movimentos, cada trabalhador transformou-se em um especialista em poucas e pequenas rotinas básicas do

14 De modo ilustrativo, pode-se citar o famoso caso de Charles Darwin na classificação das espécies animas.

47


processo produtivo. Uma das primeiras críticas que se faz sobre o fordismo é relacionada à perda, do trabalhador,

da visão do todo causada pela intensificação da especialização.” (Hapner, 2002, p.35)

Produzir, no auge da Sociedade Industrial, significava oferecer produtos tangíveis, fabricados com

rapidez e precisão, em grande escala, sem maiores preocupações com qualidade. O setor de serviços

ainda engatinhava num ambiente em que o cliente é quem deveria se adaptar o que lhe era

oferecido.

De modo a esquematizar o cenário das organizações típicas da Sociedade Industrial, Rodriguez y

Rodriguez (2002, p. 20; 79-80) monta um painel interessante de seus aspectos, tal como se observa

na tabela 6:

Tabela 6 – Esquema característico da Sociedade Industrial

Sociedade Industrial

No que tange ao modelo burocrático No que tange às características das Organizações

• Estrutura organizacional hierárquica;

• Organiza a divisão do trabalho;

• Profissionaliza a atividade gerencial;

• Estabelece regras para alcance dos objetivos

comuns;

• Formaliza o Poder nas organizações;

• Especializa o conhecimento;

• Gerencia os investimentos;

• Produz de modo mecânico, padronizado e em

larga escala;

• Padroniza os salários;

• Confere autoridade do chefe;

• Potencializa o poder da informação

• Linha hierárquica de comando;

• Especialização por função;

• Padronização de procedimentos de trabalho e

processos de produção;

• Carreira baseada em promoções por

competência;

• Relações impessoais de trabalho;

• Coordenação e autoridade centralizada e

realizada em níveis verticais;

• Centralização de recursos e informações

Sob a atual ótica Administrativa, tais características engessam qualquer organização, embora se

deverá lembrar que, à época, tais procedimentos eram bastante coerentes e necessários ao bem estar

do empreendimento.

Uma organização típica da Sociedade Industrial focalizava seus esforços na produção de bens

tangíveis, representados basicamente por Produtos. O setor de Serviços naquele período era

periférico, restringindo-se basicamente a assistências técnicas dos produtos. Com este perfil, a

produção era então voltada para os processos e para os produtos, inundando o mercado com bens

que, muitas vezes, não atendam às necessidades dos consumidores.

48


No mundo corporativo, os valores empresariais da Sociedade Industrial eram bastante ortodoxos,

levando em consideração coisas extremamente tangíveis:

• Contabilidade: a empresa era avaliada pelo seu valor contábil;

• Patrimônio tangível: os únicos “patrimônios” reconhecidos eram os imóveis, maquinários, linha

de produção etc;

• Número de funcionários como referências de “grandeza” e custos;

• Garantia de retorno e vanguarda nas patentes requeridas de suas conquistas de pesquisa e/ou

produção.

Estes valores, assim, caracterizaram toda uma era na administração dos negócios, principalmente

nos países dito centrais. No Brasil, em particular, estas características pouco diferiram e, na

verdade, refletiram estes mesmos valores.

Um fator histórico extremamente importante para o desenvolvimento da Sociedade Industrial foi,

ironicamente, seu motivo de declínio, uma vez que motivou o surgimento de uma nova era no que

se refere às práticas de Administração. Após a Primeira Guerra Mundial, uma explosão

bibliográfica inundou as comunidades militar, científica e acadêmica. Esta explosão acentuou-se

ainda mais após a Segunda Guerra Mundial devido às conquistas científicas provenientes de

pesquisas no campo bélico. Estudos de balística, ondas (radares), aviação e eletrônicos,

principalmente, motivaram inúmeros estudos e publicações que, em volume de dados e informações

gerados, não poderiam ser abarcados facilmente pelos meios tradicionais de controle bibliográfico.

Nas Guerras, os eventos ocorridos geraram Dados e estes, estudados e analisados, converteram-se

em um mundo de Informações. Teve-se aí dois ingredientes-chave da maturidade – e conseqüente

declínio – da Sociedade Industrial.

A tecnologia mecânica e eletrônica, em particular, fez surgir artefatos que se tornariam essenciais

no controle de informações. Nascido para controlar rotas balísticas e cálculos militares, o

computador Eniac 15 , subproduto deste período, foi considerado o ponto no qual findou a Sociedade

Industrial e nasceu a nova Sociedade da Informação. Rodriguez y Rodriguez (2002, p.16-19), cita

vários autores que concordam que aquele que foi considerado o primeiro computador iniciou uma

nova era social, baseada notadamente na Tecnologia da Informação.

15 Abreviação em inglês para computador e integrador numérico eletrônico.

49


3.5.1.2 A Sociedade da Informação e do Conhecimento

Como se viu, as configurações tecnológicas e sociais surgidas após a Segunda Guerra Mundial

mudaram radicalmente os processos de comunicação e informação. Seja no âmbito acadêmico-

científico, seja no âmbito empresarial, tais mudanças iniciaram uma nova era: a Era da Informação.

A chamada Era da Informação considerou – e ainda considera – paradigmas distintos daqueles que

referenciavam a era anterior. Tangibilidade, produção em massa, foco nos produtos e processos,

administração centralizada e vertical, tudo isso passou a ser relativizado nesta nova era. A título de

comparação, Rodriguez y Rodriguez (2002, p.47) justapõe esta mudança e relaciona as

características e diferenças entre as duas eras na tabela a seguir.

Tabela 7 – Esquema comparativo entre Sociedade Industrial e Sociedade da Informação

Sociedade Industrial Sociedade da Informação

• Prédios, móveis e equipamentos;

• Patentes;

• Receitas, custos, contas a pagar;

• Sistemas computacionais;

• Rede de computadores;

• Infra-estrutura física de distribuição;

• Produção.

• Capacidade das pessoas;

• Carteira de clientes (e conhecimentos destes);

• Liderança, valores e cultura;

• Imagem, valor e força da marca do mercado;

• Rede de relacionamentos;

• Logística;

• Pesquisa e desenvolvimento.

Estas comparações referem-se ao meio empresarial e são apenas superficiais, uma vez que as

diferenças, na prática, são mesmo imensuráveis. A Era da Informação notabilizou-se, antes de tudo,

pela explosão bibliográfica que inundou os meios midiáticos, jornalísticos, acadêmicos, científicos,

sociais e empresariais. Com o advento e a crescente sofisticação das Tecnologias de Informação,

tendo como ícone os micro-computadores, o volume bibliográfico multiplicou-se

exponencialmente, e a informação, unidade-símbolo desta nova era, foi compactada e digitalizada

em sistemas binários de representação. Quando do surgimento da internet – a rede mundial de

computadores interligados – a informação transcendeu os muros institucionais de centros militares

e universidades, disseminando-se visceralmente em todos os níveis acima mencionados,

confundindo-se mesmo com o conceito de civilização: a nova civilização, ou a nova sociedade.

No aspecto empresarial ou corporativo – escopo deste trabalho – A Sociedade da Informação

apresentou novos desafios e demandou estratégias mais eficazes de administração e conduta. Foi

necessário, assim, repensar todos os referenciais e paradigmas que vigoravam até então, pois os

valores corporativos de décadas passadas tornaram-se obsoletos e administrativamente

insustentáveis.

50


Neste novo mundo da Sociedade da Informação, alavancado pela comunicação de massa, a

informação é veiculada de forma abundante e desordenada. Mesmo o conceito de comunicação de

massa difere da comunicação feita na Sociedade Industrial: se ali a informação se dava no aspecto

um-todos, atualmente pode-se afirmar que a comunicação de massa circula no ambiente todos-

todos.

No ambiente de negócios, entendendo-se aqui o ambiente empresarial, a Sociedade da Informação

trouxe à tona conceitos revolucionários. Nunca antes houve preocupação com a imagem da empresa

frente ao mercado e aos seus consumidores, tampouco com a imagem de sua marca. Também o

conhecimento produzido pela empresa, antes negligenciado, agora é visto como a própria riqueza da

empresa, o conhecimento per se. As Tecnologias da Informação evoluíram, sobretudo, para atender

especificamente a este novo mundo corporativo, mola-mestra do desenvolvimento e pesquisa de

novas tecnologias. Sendo assim, pode-se compreender o motivo pelo qual muitas empresas, nos dias

de hoje, aplicam Sistemas de Informações – especialistas, sistemas de mineração de dados, entre

outros – para capturar o conhecimento residente no seu corpo de funcionários. Estes, por sua vez,

dividem o foco do negócio com os clientes/consumidores finais.

Este conhecimento tácito, intangível em sua característica, contrapõe-se ao conhecimento explícito

anteriormente alardeado pelas companhias. Em termos atuais, muitas empresas perceberam que o

conhecimento explícito em si não abarcava o potencial estratégico que caracteriza o conhecimento

informal. Este foco ainda tem sido muito discutido e pesquisado por muitos teóricos, uma vez que é

extremamente difícil delimitar o campo de conhecimento estratégico e corporativo.

Numa abordagem mais elucidativa, pode-se caracterizar a Sociedade do Conhecimento como uma

sociedade em rede, tal como exemplifica Manuel Castells:

“O próprio capitalismo passa por um processo de profunda reestruturação caracterizado por maior flexibilidade

de gerenciamento; descentralização nas empresas e sua organização em redes tanto internamente (B2E) quanto

em suas relações com outras empresas (B2B); considerável fortalecimento do papel do capital via-à-vis o

trabalho, com o declínio concomitante da influência dos movimentos de trabalhadores; individualização e

diversificação cada vez maior das relações de trabalho; (...) intervenção estatal para desregular os mercados de

forma seletiva e desfazer o estado do bem-estar social com diferentes intensidades e orientações, dependendo da

natureza das forças e instituições políticas de cada sociedade; aumento da concorrência econômica global... ”

(Castells, 2003, p.39-40)

A lista de características, segundo Castells, parece infindável e mesmo que se reconheça uma

descrição formidável ainda assim estaria longe de facetar a complexidade da dita Sociedade em

Rede ou Sociedade da Informação. Na mesma linha, considerando as Tecnologias da Informação,

51


tão presentes nos dias de hoje, Castells ainda constata que a tecnologia, enquanto ferramenta de

transformação social, não determina a sociedade, mas confunde-se com ela própria e com sua

história: segundo ele, a tecnologia é a sociedade. (Castells, 2003, p. 43). Isto posto, ao analisar não

somente a tecnologia enquanto oficina, mas a Tecnologia da Informação nos tempos atuais –

entendendo-se aí a Sociedade da Informação – Castells discorre que esta não pode mais ser

dissociada do desenvolvimento econômico, político ou social.

Diante destas premissas, não é difícil conceber a Sociedade da Informação como uma sociedade

essencialmente colaborativa, onde grupos de nações, empresas ou indivíduos colaboram e

compartilham informações e conhecimentos para o cumprimento de seus objetivos. Em maior ou

menor grau, ou de diferentes maneiras, informações e conhecimentos sempre são compartilhados e

nisso consiste uma das maiores características da era atual. Desta forma, capturar e otimizar estas

interconexões, ou possibilitar estas práticas torna-se o maior desafio do mundo corporativo

moderno. Para isso, torna-se essencial a instituição de equipes e departamentos especializados, além

da adoção de ferramentas tecnológicas que viabilizem este processo. Estes fatores serão analisados

mais adiante.

3.5.2 Características e aspectos da Gestão do Conhecimento

Caracterizar Gestão do Conhecimento é bem difícil, por todas as implicações que concernem à

complexidade do termo. Sob a ótica abordada, entretanto, que diz respeito à prática contemporânea

de administração de informação para produção de conhecimento, tal tarefa se torna mais plausível.

A Gestão do Conhecimento, num primeiro momento, refere-se à administração dos conhecimentos

produzidos pela empresa, através da canalização de dados e informações pelo uso, principalmente,

de Sistemas de Informações. Estes sistemas podem ser Sistemas Especialistas, Data-Warehouses,

Data-Minning, Intranets e Portais Corporativos, entre outros. O conhecimento deve ser capturado e

inserido em tais sistemas de modo a criar uma central de inteligência para beneficiar os usuários e a

empresa como um todo.

Muito já se discutiu e ainda se discute sobre a forma de capturar tais conhecimentos. Eles podem

estar explícitos, já armazenados, ou tácitos, abstratos, residindo no intelecto dos funcionários e

colaboradores. Porém, no ritmo empresarial contemporâneo, não se pode descartar o uso de

ferramentas tecnológicas para tal propósito. Embora não sejam essenciais, no sentido global do

52


assunto, Thomas Davenport sustenta que elas são acessórios, pois a Gestão do Conhecimento deve

ser conduzida de forma ecológica, onde as informações possam ser recicladas de modo a criarem

conhecimento e estes, por sua vez, beneficiam a empresa. Esta é uma visão bem holística, tendo

como referência os usuários reais da informação. Esse ecossistema da informação pode ser

concebido como ele próprio destaca:

“A abordagem comumente aceita para o gerenciamento de informações – investimento em novas tecnologias, e

só – simplesmente não funciona. Os administradores precisam, na verdade, de uma perspectiva holística, que

possa assimilar alterações repentinas no mundo dos negócios e adaptar-se às sempre mutantes realidades sociais.

Essa nova abordagem, que chamo de ecologia da informação, enfatiza o ambiente da informação em sua

totalidade, levando em conta os valores e as crenças empresariais sobre informação (cultura); como as pessoas

realmente usam a informação e o que fazem com ela (comportamento e processos de trabalho); as armadilhas que

podem interferir no intercâmbio de informações (política); e quais sistemas de informação já estão instalados

apropriadamente (tecnologia)” (Davenport, 2002, p. 12)

Analisar a Gestão do Conhecimento requer, também, considerar seus constituintes: Dados e

Informações. Como se viu, a explosão bibliográfica no período entre-guerras, e após este, fez surgir

uma superabundância destes fatores, anteriormente desqualificados 16 . Além de elementos da Gestão

do Conhecimento, os Dados e Informações são elementos presentes em toda e qualquer Tecnologia

da Informação.

Uma das melhores definições de Dados pode ser encontrada no trabalho de Davenport. Ele define

Dados como “observações sobre o estado do mundo” (Davenport, 2002, p.19). Para ele, Dados são

elementos simples, contábeis, facilmente quantificáveis e explícitos. São eventos que ocorrem em

algum universo de atuação ou observação.

Sobre Informações, ele sustenta que são “dados dotados de relevância e propósito”, utilizando-se da

visão de Peter Drucker. Aí inicia-se toda uma rede de controvérsia, uma vez que Informações são,

antes de tudo, interpretações de dados e estas podem ser as mais diversas.

Um outro elemento da Gestão do Conhecimento é, naturalmente, e talvez o mais importante, o

Conhecimento. Também aqui se poderá acatar a definição lúcida e racional de Davenport, definindo

o Conhecimento como

“A informação mais valiosa e, conseqüentemente, mais difícil de gerenciar. É valiosa precisamente porque

alguém deu à informação um contexto, um significado, uma interpretação: alguém refletiu sobre o conhecimento,

acrescentou a ele sua própria sabedoria, considerou suas implicações mais amplas. (...) o termo também implica a

síntese de múltiplas fontes de informação. O conhecimento (...) é muitas vezes tácito, existindo simbolicamente

16 Considera-se que estes conceitos eram subvalorizados antes das Guerras Mundiais, tornando-se fatores estratégicos

após a Segunda Guerra e, sobretudo, durante a Guerra Fria.

53


da mente humana, sendo difícil de explicitar. O conhecimento pode ser incorporado em máquinas, mas é de

difícil categorização e localização. Quem quer que já tenha tentado transferir conhecimento entre pessoas ou

grupos sabe como é árdua a tarefa. Os receptores devem não apenas usar a informação, mas também reconhecer

que de fato constitui conhecimento”. (Davenport, 2002, p.19-20).

Num esquema geral, Davenport considerou estes três elementos constituintes da Gestão do

Conhecimento como parte de um mesmo processo, sendo muito difícil dissociá-los. Eles podem ser

esquematizados numa tabela, tal como ilustra a tabela 8:

Tabela 8 – Esquema entre Dados, Informação e Conhecimento

Dados Informação Conhecimento

Simples observações sobre o

estado do mundo

• Facilmente estruturado;

• Facilmente obtido por

máquinas;

• Freqüentemente

quantificado;

• Facilmente transferível.

Fonte: (Davenport, 2002, p.18)

Dados dotados de relevância e

propósito

• Requer unidade de análise;

• Exige consenso em relação ao

significado;

• Exige necessariamente a

mediação humana.

Informação valiosa na mente

humana

• Inclui reflexão, síntese e

contexto;

• De difícil estruturação;

• De difícil captura em

máquinas;

• Freqüentemente tácito;

• De difícil transferência.

A literatura especializada aponta alguns problemas sobre o modo de se praticar a Gestão do

Conhecimento. Um deles diz respeito exatamente à localização do conhecimento e outro, à sua

captura. Além disso, mesmo que se consiga capturar, é necessário filtrá-los, pois nem todo o

conhecimento pode ser aplicável ou alinhado aos negócios. Conhecimentos tácitos – aqueles

residentes no intelecto dos próprios funcionários da empresa – são frutos da experiência destes na

interação com os problemas e são enriquecidos, proporcionalmente, com o nível de capacitação

acadêmica e profissional dos colaboradores. Este conhecimento informal coletivo, ou corporativo,

não é homogêneo e muitas vezes são conflitantes.

Outro problema inicia-se com o primeiro: pelo fato do conhecimento coletivo não ser homogêneo,

torna-se difícil capturá-los para disseminação – ou explicitação. Transformar conhecimento tácito

em conhecimento explícito requer ampla habilidade do topo corporativo, que deve considerar,

preferencialmente, uma metodologia ecológica do ciclo de informações que irão circular na

empresa. Tecnologias de Informação são hoje indispensáveis para estes propósitos, mas somente

serão eficazes se atenderam às estratégias ecológicas implantadas. Instalar aparatos tecnológicos

sem referenciais deste tipo poderá acarretar sérios prejuízos, caracterizando uma empreitada sem

rumo e, muito possivelmente, fracassada.

54


A partir desta concepção, Chun Wei Choo concorda com Thomas Davenport sobre a necessidade da

organização do conhecimento segundo uma visão holística. Em seu trabalho sobre o assunto 17 ,

Choo aponta alguns meios que as organizações utilizam para consumir informações

estrategicamente, ou, em outras palavras, como as organizações usam a informação de forma

estratégica e competitiva. Sobre isto, ele discorre que,

“(...) a organização usa a informação para dar sentido às mudanças do ambiente externo. A empresa vive num

mundo dinâmico e incerto, precisando garantir um suprimento confiável de materiais, recursos e energia. Assim,

a força e a dinâmica do mercado moldam seu desempenho. (...) A Segunda arena do uso estratégico da

informação é aquela em que a organização cria, organiza e processa a informação”. (Choo, 2003, pg.27-29)

Como já foi visto, analisar todas as facetas do que se conhece como Gestão do Conhecimento não é

tarefa das mais fáceis, visto o número interminável de definições e variáveis. Mesmo assim, pode-se

mencionar aqui os pontos mais importantes referentes a este assunto. Para uma análise mais

direcionada e específica, se discorrerá a seguir sobre a Gestão do Conhecimento aplicada à área

jurídica, isto é, como sociedades de advocacia podem aplicar esta prática e os benefícios

decorrentes desta adoção.

3.5.3 Gestão do Conhecimento em sociedades de advocacia

Ao ouvir sobre Gestão do Conhecimento, a associação imediata e inevitável que se faz é com as

grandes empresas transnacionais que, quase sempre por cultura implícita e procedência, vende a

idéia de grande organização, controle e vanguarda. Mesmo assim, não são necessariamente todas as

empresas transnacionais que fazem uso das práticas de Gestão do Conhecimento. Cada vez mais

esta vem sendo adotada, mas pode-se perceber ligeira vantagem para aquelas empresas típicas da

Era da Informação e do Conhecimento. Empresas transnacionais conhecidas como tradicionais não

têm tido rapidez ou velocidade suficientes para a mudança cultural necessários a programas desta

natureza. Este é um retrato das empresas do mundo todo, tanto na Europa, como nos Estados

Unidos e mesmo no Brasil.

No que se refere às sociedades de advocacia, cujo escopo é o objeto deste trabalho, as práticas de

administração por Gestão do Conhecimento são quase inexistentes. No final do ano de 2004, muitos

escritórios de advocacia clamavam já ter ao menos ouvido falar de Gestão de Informações e

17 A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir

conhecimento e tomar decisões, Ed. Senac, 2003.

55


Conhecimento, mas a maioria julga que esta questão não é essencial à condução de seus negócios.

Escritórios jurídicos acreditam que, antes de tudo, são advogados e não administradores, lembrando

que seu ofício consiste primordialmente na prática da advocacia. Desta forma, julgam que só este

fato – fazer bem o que sabem – é por si só elemento de sucesso em seus empreendimentos.

Muitos advogados e escritórios jurídicos ainda consideram sua profissão bem glamourosa,

entendendo que prestam grandes benefícios à sociedade e considerando que seus nomes são sua

marca, refletindo nitidamente uma verdadeira vaidade. Sob esta ótica, eles acham que podem, sem

maiores problemas, conduzir seus negócios nestas condições. Na verdade, esta particularidade

provém da história desta profissão, vista pelo imaginário popular como uma profissão de grande

status e elevado nível social.

Entretanto, como não podia ser diferente, o mercado cuida de enquadrar certas características e não

perdoa administrações de cunho amador, motivo pelo qual os advogados, para sobreviver

profissionalmente nos dias de hoje, devem se especializar cada vez mais e procurar administrar suas

bancas da forma mais profissional e competitiva possível. É verdade, por outro lado, que a prática

advocatícia é bem protegida e delimitada por legislação, cabendo somente a advogados executarem

os serviços afins. Porém, devido à concorrência e ao elevado número de advogados atuantes no

país, formas de administração mais profissionais e eficientes se fazem necessárias. Se antes seus

clientes eram mais passivos em seu comportamento, hoje eles estão cada vez mais exigentes,

requerendo mais transparência e atuando cada vez mais, acompanhando todas as etapas de seus

processos e trâmites jurídicos.

Por conta disto, já se pode observar algum esforço no sentido de cultivar nos advogados e

sociedades de advocacia uma mentalidade diferenciada de gestão. Algumas consultorias voltadas

para esta finalidade já podem ser observadas em atuação no mercado. Lara Selem é uma das

pioneiras neste sentido, treinando permanentemente advogados e juristas em assuntos como

Marketing Jurídico e Gestão do Conhecimento em escritórios de advocacia.

Sobre a questão da aplicação de programas de Gestão do Conhecimento em escritórios, Selem

sustenta que

“O objetivo empresarial das organizações modernas é atingir excelência operacional no uso de seus recursos

estratégicos: pessoas e conhecimento. Mas, embora muita atenção seja dedicada ao estudo de pessoas, o

conhecimento, enquanto recurso empresarial, é pouco estudado, e a Gestão do Conhecimento ainda é um sonho

distante em quase todas as empresas brasileiras, que continuam medindo o sucesso de seus processos em

toneladas, horas, metros e reais – sem identificar explicitamente a importância do conhecimento. No caso dos

escritórios de advocacia, estes têm se utilizado do trabalho de advogados para levar em frente atividades que

56


geram conhecimento, tais como a criação de documentação de precedentes jurídicos, a manutenção atualizada da

base legislativa e jurisprudencial, dentre outras tantas, através da utilização sistemática da tecnologia. No entanto,

as condições de mercado têm se mostrado mais duras e os escritórios de advocacia podem enxergar a Gestão do

Conhecimento como uma atividade não-essencial (por não ser faturável) e entender que, caso já implantada, é

passível de ser cortada e eliminada para manter a rentabilidade da firma e, caso contrário, pode nem vir a ser

cogitada. De qualquer forma, entender que a Gestão do Conhecimento é uma atividade não-essencial não é o

melhor enfoque a ser dado a este tema. A Gestão do Conhecimento vai para o coração do escritório e produz uma

gama de benefícios que pode ajudá-lo a sobreviver em tempos difíceis e prosperar em melhores.”

(Selem, 2003 )

Sob o ponto de vista de Selem, bem como observações diretas junto aos escritórios e sociedades de

advocacia, a prática de Gestão do Conhecimento é vista com desconfiança e incompreensão, sendo

considerada como malabarismo gerencial. Na verdade, ainda não existe uma cultura orientada para

esta direção. Esta cultura, ou mentalidade, ainda está sendo cultivada através de um processo lento,

embora progressivo, e o mercado tende a torná-la, enfim, indispensável num futuro próximo.

Programas de Gestão do Conhecimento em sociedades de advocacia podem se mostrar bastante

benéficos e frutíferos, contribuindo de maneira eficaz para a administração do conhecimento –

tácito e explícito – gerado e aplicado. Lara Selem reconheceu quatro características nestas

sociedades que a fazem produzir conhecimento:

“Quando se pensa em implantar um Sistema de Gestão do Conhecimento, o foco é, com freqüência, em

Tecnologia da Informação, mas esse é só um canal para alojar e disseminar o conhecimento. A implantação do

Sistema de Gestão do Conhecimento necessita que seja identificado o tipo de conhecimento que o escritório de

advocacia deveria compartilhar para beneficiar a sua performance. Geralmente, há quatro fontes de

conhecimento em escritórios de advocacia:

• Material publicado, como recursos bibliotecários, inclusive material on line (a característica-chave é que

este material pode ser adquirido);

• Conhecimento pessoal e experiência dos advogados e demais membros da equipe do escritório (contido nas

cabeças das pessoas e expressado pelo comportamento delas);

• Conhecimento contido no produto de trabalho de um advogado, por exemplo, pareceres, acordos, petições,

etc. (pode ser localizado no sistema de processamento de texto e arquivos de papel, e pode ser recolhido e

computadorizado);

• Conhecimento especialmente desenvolvido, como por exemplo, precedentes criados por profissionais de

suporte ao trabalho dos advogados.

O Sistema de Gestão do Conhecimento deve focar na criação, captura e disseminação do conhecimento e

informação provenientes das diversas fontes que apóiam os objetivos estratégicos do escritório. É bom lembrar

que administrar tal conhecimento pode não significar necessariamente codificá-lo num sistema de computador. O

conhecimento tácito (ou seja, o conhecimento contido nas cabeças das pessoas), por exemplo, é sempre melhor

transferido diretamente entre as pessoas. Nesta situação, o Sistema de Gestão do Conhecimento poderia facilitar

colocando as pessoas umas em contato com as outras.”

(Selem, 2003)

A identificação de Selem das fontes geradoras de conhecimento numa sociedade de advocacia é

bastante oportuna e elucidativa, abarcando realmente quase a totalidade delas. É importante

57


essaltar que fontes de informações confiáveis e atualizadas são características essenciais para o

pleno desenvolvimento das atividades jurídicas, pois influenciam diretamente na performance de

operações de uma sociedade de advocacia, da mesma forma que reforçam a imagem da marca do

escritório junto ao mercado e a seus clientes.

Uma das fontes mais importantes de informação e conhecimento são, sem dúvida alguma, materiais

bibliográficos ou publicações on-line oferecidos aos advogados por uma verdadeira indústria

periférica especializada nesta área. Inúmeros jornais, revistas, boletins, artigos, ensaios,

monografias, teses e produtos dos mais diversos tipos, como softwares e bases de dados, inundaram

o mercado jurídico nos últimos anos e tais materiais contam com grande popularidade e confiança

dos advogados.

No âmbito jurídico, tais fontes de informações – e conhecimento – são conhecidas ou

cognominadas como doutrina jurídica, item extremamente prezado neste setor. Estas doutrinas são

eternos referenciais na elaboração de peças de processos jurídicos, como mandados de segurança,

petições, agravos e demais instrumentos inerentes ao ofício jurídico. Além disso, são fontes de

informações inesgotáveis e incrivelmente numerosas, publicadas diariamente nos mais diversos

meios.

Doutrinas em livros ainda são muito respeitadas e consultadas, servindo de base para trabalhos mais

elaborados, ou quando se possui mais tempo para confecção. Entretanto, as publicações de

doutrinas on-line são bastante atualizadas e conferem o respaldo no que tange à atualidade, fator

que pesa contra os livros: embora se publique muitos livros no mercado editorial jurídico,

freqüentemente encontram-se desatualizados, visto a dinâmica desta área. Além disso, são fontes de

informação muita caras e nem sempre os advogados ou escritórios podem adquiri-lo a toda hora.

Em adição às aqui mencionadas doutrinas há também, como observou Lara Selem, o material

intelectual produzido pelo corpo de advogados. Seus pareceres e publicações, bem como seus

processos, costumam ser incorporados aos acervos de Bibliotecas e Arquivos, servindo de

referencial para novas consultas, principalmente para utilização na resolução de casos semelhantes.

No que se refere ao conhecimento ou informações tácitas – residentes no intelecto dos advogados –

em 95% dos casos eles simplesmente não são utilizados. Como já foi dito, não há entre as

sociedades de advocacia uma cultura orientada a esta prática. Um dos motivos é a vaidade dos

advogados mais renomados, que os impelem a vetar ou boicotar colegas de trabalho, deixando de

58


compartilhar seu conhecimento técnico. Outro motivo importante seria a falta de experiência e

perícia administrativa das grandes bancas face à recência das condições mercadológicas requeridas

e importas pelo mercado pós anos 90.

Embora possa ser possível identificar estas fontes de informações e conhecimento nas sociedades de

advocacia, raramente elas encontram-se disponíveis de imediato para o acesso do Staff 18 . No Brasil,

como em muitos outros países, estas sociedades têm cada vez mais empregado Sistemas de

Informações digitais com a finalidade de disponibilizá-las. Este é um fator que causa bastante

preocupação nos advogados, pois tais sistemas costumam ser caros e, além disso, precisam de

suporte especializado em tempo integral.

No capítulo sobre mercado jurídico, mencionou-se o fato de que muitas sociedades de advocacia

possuem pessoal e departamentos de apoio. Entre tais departamentos, o Departamento de

Informática e a Biblioteca costumam ser reconhecidos como os mais indicados para a condução de

programas de Gestão de Informações e Conhecimento. Departamentos como Financeiro, Recursos

Humanos e outros possuem seus propósitos informativos, porém agem no universo de informações

operacionais. O Departamento de Informática e a Biblioteca, de outro modo, operam no âmbito de

serviços de informações consideradas estratégicas, fornecendo elementos e insumos a serem

consumidos pelos advogados para utilização no cerne de seu trabalho. Estes departamentos são

produtores de recursos de inteligência competitiva, que agregam valores informativos vitais para a

prática profissional. A figura a seguir ilustra de modo esquemático a integração e o encaixe destes

departamentos:

Figura 2 – Entidades do ecossistema de informações estratégicas de sociedades de advocacia

Biblioteca Informática Staff

Emissor Canal Receptor

Como em muitos outros setores, a Biblioteca é um dos principais produtores e veiculadores de

informações ou de produtos de informações. À ela muitos profissionais recorrem para obter as

informações estratégicas. Biblioteca aqui entende-se em seu conceito mais genérico, onde seu nome

pode variar conforme o contexto. Entre seus sinônimos, pode-se citar Centro de Documentação e

Centro de Informação. Da mesma forma, Mediatecas, Videotecas e congêneres podem constituir o

18 Staff - No contexto das sociedades de advocacia, refere-se ao corpo executivo e operacional de advogados.

59


departamento que, no imaginário social, entende-se como Biblioteca. Por sua natureza, é um

departamento cuja incumbência cabe no papel de agente do conhecimento ou editor corporativo.

Como agentes do conhecimento ou editores corporativos, entendem-se os bibliotecários e outros

profissionais devidamente especializados, como jornalistas, que podem executar serviços de

produção de informações estratégicas. A veiculação pode ser feita tanto por estes profissionais

quanto por profissionais especializados em informática. No capítulo seguinte, será analisada a

importância das atividades dos departamentos envolvidos com as informações estratégicas e a

importância do papel dos agentes do conhecimento e editores corporativos.

3.5.4 Agentes do Conhecimento e Editores Corporativos

As sociedades de advocacia possuem características organizacionais bem peculiares, diferindo em

sua estrutura de outras organizações empresariais. Embora seu organograma possa assemelhar-se a

qualquer outro tipo de empresa, geralmente não há a necessidade de intercâmbio de informações

entre as áreas jurídicas em que atua. Assim, como não são empresas propriamente ditas, visto a

regulamentação própria deste setor, diferem das empresas de mercado no que diz respeito à

informação e compartilhamento desta.

Os advogados que praticam determinados tipos de direito não necessitam de informações ou

conhecimento de outras áreas jurídicas, uma vez que não lhe serão úteis. A título de exemplo,

informações e conhecimentos sobre Direito do Trabalho não são utilizados em Direito Tributário,

ou Penal etc. Por este motivo, é natural existirem feudos informacionais nas sociedades de

advocacia. Devido a esta particularidade, diferem, como já foi dito, de outras empresas, onde a

veiculação está no plano de todos-todos, onde qualquer informação é útil no relacionamento intra-

departamental. Os departamentos setoriais ou áreas do Direito das sociedades de advocacia só

consomem informações dos departamentos periféricos, como Recursos Humanos, Financeiro,

Biblioteca, Arquivo, Informática, entre outros. No que tange às informações provenientes de fontes

externas, os departamentos jurídicos consomem informações de produtos bibliográficos ou

eletrônicos oferecidos por inúmeras empresas especializadas.

Quase todos os advogados admitem faltar-lhes tempo para aperfeiçoarem-se em suas especialidades

e, da mesma forma, admitem ter certa dificuldade de coletar informações úteis ao seu ofício.

Produtos bibliográficos geralmente são caros e costumam ficar centralizados na Biblioteca, onde

60


sua disponibilidade se dá através de longas filas de espera, ocasionando freqüentemente desistência

de sua leitura. Produtos eletrônicos são geralmente bem utilizados, embora os advogados se

queixem da poluição de informações e do perfil generalista destes produtos. Segundo pesquisa de

usabilidade realizada pelos autores deste trabalho em um grande escritório jurídico, apenas 28% das

informações oferecidas por estes produtos eletrônicos lhes são úteis ou relevantes para a sua prática

profissional.

Analisando estes problemas sob a ótica ecológica de Thomas Davenport, pode-se perceber que, no

caso das sociedades de advocacia, a organização é extremamente fragmentada. As informações

formais são feudalizadas e utilizadas no formato mostrado na figura 3. Além disso, as trocas de

informações e conhecimentos informais entre advogados ocorrem somente entre profissionais de

um mesmo setor.

Figura 3 - Fontes formais de Informação de sociedades de advocacia

Fontes de Informação

Internet

(Sites diversos e

publicações

eletrônicas)

Direito

Tributário Direito Civil Direito Penal

Biblioteca

Arquivo

Intranet e

banco de dados

(quando há)

Direito

Trabalhista ~ Outros

Neste esquema de utilização de informações, percebe-se claramente a necessidade de organização e

estruturação das fontes de informações formais. Reconhecendo a limitação das informações que

ocorrem de fontes informais, um trabalho de gestão de conteúdo de dos departamentos de apoio e

dos agentes de conhecimento são indispensáveis.

Como se viu anteriormente, os agentes do conhecimento são extremamente importantes neste

sentido, considerando a estrutura do ecossistema de informação de sociedades de advocacia.

Davenport (2002, p.140-148) identifica estes agentes, listando-os como

61


• Bibliotecários

• Programadores

• Analistas de Sistemas

• Administradores de Banco de Dados

• Gerente de Recursos de Informação

• Administradores de Redes e Sistema

Seguindo esta lista de profissionais da informação, é fácil constatar a predominância de

especialistas em informática e sistemas digitais. Este fato reflete o panorama corporativo atual,

sobretudo nos Estados Unidos e Europa. A figura do Bibliotecário se insere neste contexto não

necessariamente como um especialista de informática, mas de informações. Entretanto,

diferentemente dos especialistas em informática, reconhecidos como profissionais da informação

que operam em seu canal ou veículo, o Bibliotecário vem a ser um profissional da informação que

opera em sua fonte, embora em Bibliotecas ele seja o próprio veículo. Davenport, em uma oportuna

observação, sustenta que o Bibliotecário é o mais apto dentre os profissionais da informação no que

diz respeito ao conteúdo, uma vez que está mais familiarizado com ele. Além disso, o Bibliotecário

possui especialização em leitura técnica de conteúdos e capacidade de captação de informações

mais apurada, proporcionando grande vantagem aos demais profissionais. Em suas palavras,

“Ainda que o papel do bibliotecário possa incluir a difusão de dados, ele está mais habilitado a lidar com

conteúdos. Bibliotecários estão mais familiarizados com as informações com que lidam que a maior parte dos

profissionais da informação. Administrando não só com informações de fontes internas, mas também as obtidas

externamente, bibliotecários empresariais começaram a expandir o escopo de suas habilidades e a trabalhar mais

diretamente com os usuários. Dessa forma, souberam usar seus serviços para conferir vantagem competitiva à

empresa.” (Davenport, 2002, p.142-143)

Esta visão de Davenport reflete bem seu ponto de vista holístico, onde a importância que ele

reconhece na figura do Bibliotecário traduz uma de suas preocupações. Segundo ele, as Tecnologias

da Informação ou os Sistemas de Informação não devem ser considerados um fim em si mesmo,

embora os profissionais especializados nesta área tendem assim a considerar. As Tecnologias da

Informação devem, em última instância, atender às reais necessidades de informação da empresa e

seu tipo deve ser adequado às características organizacionais.

Yara Rezende, por sua vez, lembra a importância de departamentos como as Bibliotecas para a

Gestão do Conhecimento das organizações, bem como a importância dos profissionais da

informação:

“O atendimento das demandas de informação destes profissionais tem sido realizado por meio dos diferentes

tipos de sistemas de informação, criados nas últimas décadas. O modelo mais antigo é o da tradicional biblioteca

62


técnica de empresa, representada, em geral, por uma sala com acervos de livros, periódicos e normas técnicas

mantidos, na maioria das vezes, com limitados recursos orçamentários, e que, freqüentemente, acabava se

transformando em um depósito de livros e revistas, recebidos na empresa. Tais bibliotecas atuavam como

microespelhos de bibliotecas especializadas e universitárias, tendo como foco de atuação o acúmulo de acervo

com o objetivo de atender às demandas internas da empresa. Em seguida, viveu-se a fase dos centros de

documentação, que nada mais eram do que as mesmas bibliotecas de empresa, porém de menor tamanho e que

tentavam ser mais seletivos quanto à abrangência de seus acervos. Ao mesmo tempo, surgiram os centros de

informação, cuja proposta, em alguns casos, ia além de simplesmente guardar livros e publicações, para se

arriscar em primitivas seleções e análises de conteúdo, embriões dos atuais sistemas de inteligência competitiva.

No início dos anos 90, viveu-se o boom das bibliotecas virtuais de empresa, cujo foco de atuação é o acesso à

informação em vez do acúmulo de acervos. Mais do que armazenar informação em pilhas de publicações e

documentos e despender recursos com isso, compreendese que ser estratégico é saber onde encontrar a

informação certa, de maneira rápida e custo-efetiva”. Rezende (2002)

Rezende cita alguns tipos de agentes do conhecimento que se encontram em atuação no mercado:

• Agentes Criativos – que utilizam a informação para solução de problemas;

• Agentes Intérpretes – que interpretam informações para identificação de novos negócios;

• Agentes Intermediários – intermediários entre a informação/conhecimento e o usuário final;

• Agentes gestores do conhecimento – que administram o capital intelectual da organização.

Estas definições são bastante elucidativas, traçando claramente o perfil dos profissionais da

informação conhecidos como agentes do conhecimento. Uma vez definido a importância destes

agentes, bem como seus tipos, Rezende destaca também a importância dos departamentos do

conhecimento:

“Este é o momento atual em que se encontram as empresas: elas começam a se dar conta da importância de se

administrar o conhecimento produzido, visto que ele agrega valor ao negócio. Em conseqüência, essas empresas

passam a ter uma nova perspectiva da gestão da informação, onde não basta somente gerir informações. Hoje, o

mais importante é a administração da informação que gera conhecimento, além da própria administração do

conhecimento criado. A evolução da biblioteca técnica interna para centro de documentação, seguida do centro

de informação, da biblioteca virtual, do centro de inteligência e, agora, o centro de conhecimento, mostra de

maneira flagrante que, ao longo do tempo, os sistemas de informação para negócio foram perdendo valor

enquanto ativo físico ou acervos. Ao mesmo tempo, esses sistemas passam a ter valor pela expertise em acessar,

analisar e interpretar a informação, pois é desta maneira que o conhecimento adquire tanto ou mais valor que a

informação propriamente dita com a qual o sistema trabalha.” Rezende (2002)

Estes pontos de vista encaixam-se às sociedades de advocacia, pois levam em consideração sua

estrutura informacional. Observando os problemas levantados anteriormente, pirotecnias

tecnológicas estão longe de serem indicadas em qualquer caso. Como se viu, gerir conhecimento

neste setor é, antes de tudo, gerir conteúdo, uma vez que as trocas de informações e conhecimento

se dá nos moldes apontados anteriormente. No caso de sociedades de advocacia, o mais indicado

seria a instituição de programas de gestão de informações baseados na edição de conteúdo

corporativo, realizado por profissionais pertinentes, para canalizar as informações provenientes das

63


fontes formais. Eisenberg (2004), outro especialista no assunto, aponta algumas características

necessárias ao editor corporativo:

• Legitimidade

• Tangibilidade

• Credibilidade

• Sintonia com a diretoria

• Adaptação à língua da empresa

• Mensuração dos resultados

• Atração e comunicação junto aos funcionários

• Disseminar conceitos

• Posicionamento

Estas características, como se pôde observar, serão mais bem adaptadas no trabalho de edição

corporativa se utilizarem ferramentas adequadas. O trabalho de edição em sociedades de advocacia,

levando em consideração os problemas levantados, bem como as fontes mencionadas

anteriormente, deve refletir a ecologia inerente ao contexto. As figuras 4 a 6 justificam e traduzem a

estrutura da gestão de informações neste contexto:

Figura 4 – Papel estratégico da Biblioteca em sociedades de advocacia

Fornecimento de insumos (informação

estruturada e personalizada) ao corpo

de advogados

Processamento do conhecimento

e envio posterior ao arquivo

BIBLIOTECA

Pesquisa, extração e coleta no

universo de dados para estruturação

(Transformação de dados em informação)

STAFF

Processam a informação adquirida para

construção de conhecimento aplicado

ARQUIVO

Arquivamento do conhecimento

processado como referencial estratégico

para casos semelhantes

64


Figura 5 – Papel estratégico do Bibliotecário ou agente do conhecimento em sociedades de advocacia

Dados brutos

Dados refinados

STAFF

BIBLIOTECÁRIO

UNIVERSO DE DADOS

(Internet, Bases de Dados,

Publicações eletrônicas)

CONHECIMENTO

A ser produzido pelo

corpo de advogados

INFORMAÇÃO

Filtrada e organizada

pelo Editor Corporativo

Figura 6 – Esquema representativo de construção de conhecimento em sociedades de advocacia

ADVOGADOS

CONHECIMENTO

INFORMAÇÃO

UNIVERSO DE DADOS

(Internet, Bases de Dados,

Publicações eletrônicas)

BIBLIOTECA

A Biblioteca geralmente exerce o papel de mediador entre o corpo de advogados e as fontes de

informação. Na figura 4, é exibido o ciclo de informações formais em sociedades de advocacia. A

Biblioteca fornece insumos de informações para o staff processá-las a fim de produzir

conhecimento aplicado. Na prática, as informações são recebidas pelos advogados na forma de

artigos, ensaios, índices, legislação, jurisprudência etc. para serem estudados e aplicados em seus

processos ou assessorias jurídicas.

A figura 5 apresenta o papel de filtragem da Biblioteca junto ao universo de dados existente.

Adicionando-se a figura 6, pode-se inferir a importância do serviço de veiculação de informações

neste tipo de organização. O serviço da Biblioteca é filtrar os dados e transformá-los em

65


informações. Advogados raramente executam de forma satisfatória a busca de dados. Muitos nem

sabem mesmo onde encontrar informações jurídicas, fato agravado pelo fato de também não terem

noção de como obter informações personalizadas. A Biblioteca atua como elo, tal como mostrado

nas figuras 5 e 6, entre o staff e as informações.

Se como veiculadora de informações a Biblioteca tem um papel altamente estratégico, no que se

refere à edição ela pode agregar valores ainda mais consideráveis. Para Davenport,

“As Bibliotecas não criam nem melhoram informações. Em vez disso, elas tombam, catalogam e armazenam

informações. Raramente as sintetizam ou reestruturam; deixam essa tarefa para o usuário. Contudo, em um

ambiente ecologicamente orientado, a equipe de informação deve constantemente gerar novos significados a

partir dos dados armazenados.” (Davenport, 2002, p.143)

Pode-se entender como criação de significados o valor que se agrega à informação que é oferecida.

Entretanto, à uma Biblioteca tradicional, ocupando um espaço físico, agregar valores é

extremamente difícil. Neste modelo, um usuário procura uma informação, obtêm-na (ou não) e se

retira. Para transcender esta limitação (limitação observada por Davenport, 2002, p.141), torna-se

necessário a reconfiguração dos veículos de transmissão de informações. Uma vez entendendo o

ciclo de informações em uma sociedade de advocacia, tal como mostrado nas figuras acima, uma

atuação em conjunto com os Bibliotecários e outros profissionais da informação é essencial para a

construção de um ambiente ecologicamente correto. Neste ponto, com toda a estrutura ecológica

construída, as chances de Sistemas de Informações terem sucesso aumentam consideravelmente,

proporcionando à Biblioteca transcender suas paredes e agregar valor aos serviços de Informação

que presta. Um trabalho em conjunto com outros profissionais da informação, especialmente

àqueles ligados à informática, possibilitará a execução de serviços de extrema qualidade e com

grande performance.

Agregar valor, neste caso, significa editar conteúdos. Assim, para um editor de conteúdo – ou

agente do conhecimento – as Tecnologias da Informação criam possibilidades imensuráveis para

este empreendimento. Estas tecnologias ou ferramentas corporativas, desenvolvidas para o

tratamento e veiculação de informações, estão a cada dia mais potentes e complexas. Consideradas

elementos essenciais na instituição de programas de Gestão de Informações e Gestão do

Conhecimento, se analisará a seguir as potencialidades, vantagens e desvantagens destes sistemas.

66


3.6 Tecnologias de Informação como ferramentas de Gestão do Conhecimento

No mundo corporativo moderno, falar de Gestão do Conhecimento sem mencionar as Tecnologias

da Informação que a suportam seria um equívoco. Sistemas de Informações digitais dos mais

diversos tipos já se encontram profundamente arraigados na cultura corporativa contemporânea. O

grande segredo para o sucesso – entendendo-se aqui sucesso como o retorno ou benefício recebido

– é saber encaixar as peças certas: tipo de organização, o modelo de informação e as ferramentas

corretas.

Do que se observa disponível no mercado como ferramentas de apoio ou suporte à Gestão do

Conhecimento, as Intranets e Portais Corporativos são os mais considerados devido às suas

versatilidades e grandes potencialidades como veiculadores de informações. Há, da mesma forma,

várias ferramentas que manipulam e oferecem dados estratégicos: Os ERPs 18 , os mineradores de

dados, e os armazéns de dados. Entretanto, estas ferramentas estão orientadas para modelos mais

dinâmicos de organizações ou empresas, onde os departamentos são extremamente interativos entre

si. No caso das sociedades de advocacia, Sistemas desta natureza não são recomendados, pois em

seu modelo ou ecossistema de informações não comporta o tipo ou a estrutura destes sistemas.

Embora estes sistemas também possam fazer parte de Intranets, ou mesmo de Portais Corporativos,

geralmente são sistemas à parte, com acesso restrito a seus usuários. Eles veiculam na maioria das

vezes dados, que são lidos pelos departamentos específicos – no caso da diretoria, os mineradores

de dados – que transformam estes dados em informações. Entretanto, as Intranets e Portais

Corporativos têm em si mesmos valores adicionais e estratégicos agregados de forma mais

completa, uma vez que servem de suporte aos editores corporativos ou agentes do conhecimento.

3.6.1 Intranets: aplicações e benefícios

Para analisar Intranets e Portais corporativos é necessário considerar antes seus conceitos: que é ou

no que consiste uma Intranet? O nome por si mesmo já define uma particularidade: rede fechada.

Entretanto, uma empresa ou organização pode possuir várias Intranets, uma para cada área, ou

departamento, ou finalidade. E cada uma delas pode utilizar uma plataforma ou uma tecnologia

específica. Como exemplo, pode-se conceber que uma sociedade de advocacia possua duas

intranets: uma editada pela Biblioteca, com informações estratégicas e outra só com banco de

processos, com informações operacionais.

18 Enterprise Resource Planning - Planejamento de Recursos Corporativos.

67


No início deste trabalho, alertou-se que o tipo de Intranet aqui analisado seria aquele que se refere à

veiculação de informações estratégicas – primeiro caso do exemplo – e não aquele de cunho

operacional. Neste trabalho, o foco naquelas de perfil estratégico adequa-se ao objeto de estudo que

se pretende: Intranets e Portais como ferramentas estratégicas de Gestão do Conhecimento. Este

motivo já determina um escopo bastante específico, facilitando, assim, a tarefa da análise.

Uma Intranet é uma das ferramentas mais indicadas para a realização do trabalho de um gestor de

informações ou agente do conhecimento. Começando com uma definição mais técnica, uma Intranet

consiste de uma rede de computadores interna, onde se utilizam os protocolos da Internet, seus

programas e seus conceitos. Em um ambiente corporativo, suas potencialidades são imensuráveis,

sobretudo devido ao fato de que as Tecnologias da Informação se desenvolvem a passos largos,

tornando-se difícil, assim, explorar ou conceber completamente todos os recursos que esta

ferramenta pode oferecer. Segundo O´Brien,

“Uma Intranet é uma rede interna a uma organização que utiliza tecnologias da internet, tais como navegadores e

servidores de rede, editoração de documentos, banco de dados em linguagem HTML, hipermídia etc., para

fornecer um ambiente de internet, dentro da empresa para compartilhamento de informações, comunicações,

colaboração e suporte a processos empresariais.” (O´Brien, 2003, p. 214)

Uma de suas características mais evidentes é a possibilidade de integração de vários tipos de dados

e informações de fontes diversas e nos mais diferentes formatos. Esta foi uma conquista

revolucionária desta tecnologia e, ao que parece, conquistou um espaço em caráter definitivo nos

meios empresariais, governamentais e sociais. Entretanto, como já identificado no capítulo anterior,

nem todos os tipos de Intranets são adequados aos problemas das sociedades de advocacia. Estas

organizações necessitam, ao que se viu, de uma Intranet orientada especificamente para suas

particularidades de informações e, sobretudo, deve ser editada por um profissional de informação

adequadamente qualificado, tal como os agentes e editores mencionados anteriormente.

Ricardo Saldanha também define Intranet da seguinte forma:

“Desde que Intranet é Intranet, a primeira coisa que alguém faz é pensar nela como um repositório de

informações. Isso advém do fato de que as redes são infovias, o que nos leva a deduzir que há uma natural

vocação embutida aí. Assim, colocar num local central, acessível a todos, a documentação que antes estava

restrita a um departamento é a primeira iniciativa que tomamos. Eis que surge a “Intranet-biblioteca”, o ponto de

encontro da informação.”

(Saldanha, 2003, parte 8)

Partindo destes pressupostos, na estrutura informacional das sociedades de advocacia uma Intranet

eficiente deverá conter os seguintes itens relacionados abaixo:

68


• Produção Intelectual do Escritório;

• Notícias do mundo jurídico e político, atualizadas diariamente;

• Notícias de legislação, atualizadas diariamente;

• Notícias de Decisões dos Tribunais, atualizadas diariamente;

• Transmissão de Web-TVs ao vivo;

• Cursos on-line;

• Códigos;

• Constituições;

• Estatutos;

• Regimentos;

• Regulamentos;

• Links;

• Jurisprudências;

• Súmulas;

• Modelos de Contratos e Petições;

• Acervo de livros e revistas da Biblioteca

• Disponibilização de boletins e informativos on-line;

• Sugestões bibliográficas e documentais;

• Indicadores econômicos e financeiros;

• Calendário de obrigações fiscais – Federal, Estadual e Municipal;

• Divulgação de cursos e eventos atualizados semanalmente;

• Multimídia e softwares agregados;

• Serviços on demand (sob solicitação, como pesquisas etc.);

• Serviços interativos (votações, enquetes, formulários, questionários on-line)

Estes são alguns quesitos que preenchem necessidades básicas de informações necessárias para a

construção de conhecimento pelos advogados. Intranets com tais conteúdos têm amplas vantagens

sobre websites jurídicos comerciais, uma vez que estes adotam uma linha de serviços mais

generalistas.

Os websites e portais jurídicos comerciais surgiram em grande número sobretudo no final dos anos

90, no rastro da explosão da área jurídica. Como já visto anteriormente, este setor viveu uma

verdadeira reviravolta no início da década de 1990, fator que, aliado também ao aparecimento da

Internet, fez surgir inúmeros Portais e websites jurídicos. Ao final de 2004, muitos destes websites

69


já deixaram de existir. Um dos motivos observados seria o caráter generalista de tais websites, que

padronizou seu conteúdo de modo a abarcar grande fatia do mercado. Com a necessidade de

especialização das sociedades de advocacia, estes websites, ao invés de especializarem-se,

generalizaram seus serviços, ocasionando sua falência em médio prazo. Alguns websites jurídicos

especializados hoje já têm perfis mais especializados, sendo direcionados a um ou outro ramo do

Direito. Ocorre ainda que, devido à sua estrutura e fartura de recursos, algumas empresas mantêm

websites voltados para várias áreas do Direito, conseguindo índices técnicos satisfatórios de

personalização.

Por conta disto, é justamente nesta lacuna que as Intranets podem exercer um papel visceral atuando

em seu próprio contexto, suprindo as carências deixadas pelos websites comerciais. Construídas

pelos profissionais de Informática, e editadas por Bibliotecários, editores corporativos ou agentes do

conhecimento – entendendo-se aí até mesmo os jornalistas – as Intranets podem ser encaradas não

como um luxo, mas como uma ferramenta de inteligência competitiva altamente revolucionária.

Elas são os próprios websites jurídicos privativos e personalizados das sociedades de advocacia,

desenvolvidas e editadas especialmente para atender suas necessidades de informação.

Isto posto, há que se mencionar que nem todos os tipos ou níveis de Intranets são relevantes ou

indicados para qualquer caso. Entendendo que cada sociedade de advocacia tem um perfil

informacional, ou ecológico, deve-se da mesma forma entender que nem todos os níveis de

sofisticação das Intranets servirão a seus propósitos. Neste caso, interatividade em excesso pode

incorrer em grande erro estratégico, pois os departamentos não necessariamente precisam

intercomunicar-se, à exceção daqueles advogados lotados em uma mesma área. Estes sim, precisam

partilhar dados, informações e conhecimentos, uma vez que atuam num mesmo feudo profissional

e, conseqüentemente, informacional. A interatividade, neste contexto, deve-se referir somente a

enquetes, seleções e votações on-line, entre outras funções, todas pertinentes a conteúdo. A figura 7

apresenta, de modo ilustrativo, uma Intranet de um escritório jurídico sediado no Rio de Janeiro.

70


Figura 7 – Imagem front-page de Intranet de um escritório jurídico do Rio de Janeiro

Esta front-page da Intranet de um escritório jurídico no Rio de Janeiro contém, senão todos, a

maioria dos elementos da listagem acima mencionada. Em sua parte esquerda, embaixo, pode-se

verificar a seção dos canais, ou bases de dados à ela integrados, desenvolvidos especificamente para

este escritório. Também podem ser notados serviços adicionais como destaques, serviços e

multimídia, além de outras seções, enriquecendo o conteúdo do sistema. No canto superior à

esquerda encontra-se um tema publicitário – neste caso, fazendo referência ao próprio sistema – que

pode ser utilizado também como fonte de renda adicional, oferecendo-se o espaço a parceiros ou

fornecedores.

Um grande benefício das Intranets é a possibilidade da oferta de conteúdos multimidiáticos, como

Web-TVs ao vivo ou sob demanda, cursos on-line e materiais diversos, como reportagens, filmes,

material de treinamento, entre outros. Práticas emergentes de aprendizado, como o e-learning

(aprendizado on-line) também podem ser bastante explorados. No caso de sociedades de advocacia,

programas de e-learning proporcionam grande aprendizado, com a vantagem de poupar o tempo do

usuário e ser acessível em qualquer horário (on-demand), tal como mostram as figuras 8 e 9:

71


Figura 8 – Imagem da seção economia da Intranet

Figura 9 – Imagem da seção cursos da Intranet

Além do aspecto instrumental ou de treinamento, estas tecnologias multimidiáticas também

permitem o entretenimento corporativo. Muitos canais de TVs podem ser acessados ao vivo e

também podem ser exibidos, em horários programados ou não, curta-metragens, entrevistas,

reportagens ou documentários. Sob normas específicas, estes canais poderão ser abertos em horários

pré-determinados pelo editor de conteúdo – horário de almoço, por exemplo – para não prejudicar o

andamento do expediente corporativo.

As bases de dados integrantes destas Intranets, da mesma forma, devem acompanhar a demanda por

informações especializadas e típicas da área jurídica. Sociedades de advocacia devem ter como

prioridades banco de dados atualizados e personalizados. Outro ponto importante é a rapidez do

processo de acesso, normalmente ao clique do mouse de seu computador, em sua mesa de trabalho.

Em pesquisa realizada no referido escritório jurídico no Rio de Janeiro, esta questão mostrou-se

bastante relevante na produtividade corporativa: antes da implantação da Intranet, um advogado que

necessitasse de um Código deveria fazer solicitação por telefone à Bibliotecária. Esta, por seu turno,

localizava o Código na estante, preparava o protocolo de autorização de fotocópia e o enviava,

juntamente com o Código, ao departamento de serviços administrativos, que tirava as fotocópias.

Algum tempo depois, e na pesquisa passaram-se quase uma hora, devido ao grande número de

cópias de modo a atender todo o escritório, o Código retornava com suas cópias à Biblioteca. A

Bibliotecária, então, encaminhava as cópias para o advogado solicitante.

Este processo, extremamente arcaico e obsoleto nos dias atuais, demorou quase uma hora e meia.

Este tempo perdido, em se tratando de um escritório jurídico que presta serviços de assessoria,

compromete forçosamente a performance do advogado em questão, pois se pôde notar mais um

agravante: Códigos, impressos em formato de livros, são freqüentemente desatualizados. No

72


momento em que foram impressos, evidentemente, estavam em dia com a legislação. Entretanto, os

textos de Códigos podem mudam de um mês a outro, ocasionando obsolescência de seu conteúdo.

Oferecido desta forma, comprometeu o trabalho do advogado e o escritório teve sérios prejuízos e

revezes no que tange à sua imagem junto ao cliente.

Todos estes problemas foram suprimidos quando este escritório adotou uma Intranet, ilustrada pela

figura 7. Num caso semelhante, quando a Intranet já estava devidamente implantada, um advogado

recebeu telefonema de um cliente nas portas de uma delegacia, pronto para ser detido. Ao clique do

mouse, enquanto falava ao telefone ministrando instruções ao cliente e falando com o delegado, o

advogado acessou partes do Código Penal específicas do caso e, logo após, acessou o banco de

dados com modelos de habeas corpus 19 para ser preparado, procedimento que aconteceu enquanto

falava ao telefone.

No trabalho de desenvolvimento e gerência da Intranet, o papel do editor corporativo, ou agente do

conhecimento é extremamente significativo. Seu trabalho tende a influenciar diretamente a

performance de seus usuários, e questões como atualidade, confiabilidade e qualidade das fontes de

informações e conteúdo devem ser alvos de freqüente preocupação. Neste aspecto, tanto

Bibliotecários quanto jornalistas possuem vantagens naturais para tal atividade: no caso de

jornalistas, uma Intranet pode ser identificada como a publicação on-line de um jornal ou revista,

devendo-se manter os mesmos atributos qualitativos próprios ao empreendimento; e no caso de

Bibliotecários, seria a versão digital de uma Biblioteca inteira, com todos os atributos inerentes a

este departamento.

Estas Intranets podem se mostrar bastante vantajosas, diminuindo custos e unificando informações,

além de potencializar a performance geral dos advogados, como se viu acima. Porém, deve-se notar

que Intranets têm níveis de atuação, diferindo amplamente suas funções de um nível a outro. Uma

Intranet com mais recursos tecnológicos pode vir a se tornar um Portal Corporativo de primeiro

grau; este, por sua vez, pode evoluir para um pleno Portal Corporativo, de última geração 20 . As

relações entre as Intranets e os Portais Corporativos serão analisadas no capítulo a seguir.

19 Habeas corpus - ação para garantir a liberdade de locomoção; liberdade de ir e vir; usado para reprimir ou impedir

prisão ou constrangimento ilegais.

20 Última geração ao tempo que é concebido e implantado.

73


3.6.2 Portais Corporativos: a evolução das Intranets

O conceito de Portal Corporativo ainda não foi totalmente compreendido e suas denominações,

delimitações e potencialidades estão longe de estarem esgotadas. Esta falta de compreensão se deve,

em parte, pelas mais variadas formas e estruturas assumidas e incorporadas a esta ferramenta.

Aliado a isto, as tecnologias e sistemas que compõem os Portais são cada vez mais sofisticados, não

sendo possível, assim, conceber os limites de suas potencialidades.

Sobre o próprio conceito de Portal, Cláudia Dias constata que

“Há três ou quatro anos 21 , Há três ou quatro anos, o que hoje é chamado de portal era conhecido como máquina

de busca, cujo objetivo era facilitar o acesso às informações contidas em documentos espalhados pela Internet.

Inicialmente, as máquinas de busca possibilitavam ao usuário da Internet localizar documentos a partir de

pesquisas booleanas e navegação associativa entre links. Para reduzir ainda mais o tempo de busca na Internet e

auxiliar os usuários menos experientes, vários sites de busca incluíram categorias, isto é, passaram a filtrar sites

e documentos em grupos pré-configurados de acordo com seu conteúdo - esportes, meteorologia, turismo,

finanças, notícias, cultura etc. O passo seguinte foi a integração de outras funções, como, por exemplo, as

comunidades virtuais e suas listas de discussão, chats em tempo real, possibilidade de personalização dos sites de

busca (My Yahoo!, My Excite etc.) e acesso a conteúdos especializados e comerciais. Essa nova concepção de

máquina de busca é que passou a ser chamada de portal.”

(Dias, 2001)

Iniciando a era dos Portais com as máquinas de busca, logo este conceito expandiu-se para outras

instâncias, agregando mais serviços digitais. Os conhecidos Portais comerciais oferecem, além da

máquina de busca, serviço como salas de batepapo, conta de correio eletrônico, lojas virtuais e uma

série de canais sobre os mais diversos assuntos. Além disso, cada vez mais novos elementos são

incorporados aos Portais comerciais, aumentando, assim, o escopo de sua definição.

No que se entende por Portais Corporativos, Cláudia Dias cita o relatório da empresa Merryl Linch,

de 1998, que menciona pela primeira vez o termo “portal de informações empresariais”. Sob esta

definição, ela conclui que

“Portais de informações empresariais são aplicativos que permitem às empresas libertar informações

armazenadas interna e externamente, provendo aos usuários uma única via de acesso à informação personalizada

necessária para a tomada de decisões de negócios.”

(Dias, 2001)

Outro autor, Figueiredo, afirma que os Portais

“Podem ser definidos como uma aplicação tipicamente web, desenvolvida para funcionar como interface única e

personalizada do ambiente eletrônico de trabalho, provendo aos usuários conteúdo, informação, acesso a

21 Como o artigo foi escrito em 2001, constata-se que o tempo a que a autora se referia era 1996-1998,

aproximadamente

74


aplicações, colaboração e conhecimentos necessários a plena atuação, envolvendo todo relacionamento com os

stakeholders da empresa.” (Figueiredo, 2002)

Dentre as fontes de informações consultadas para a elaboração deste trabalho, os estudos de Cláudia

Dias se mostraram os mais pertinentes tanto na elucidação do conceito de Portal ou Portal

Corporativo, quanto pela definição dos tipos de Portais existentes. Por sua vez, Ricardo Saldanha,

observa que

“Para que uma Intranet evolua, duas coisas são fundamentais: ela precisa passar a ser mais dinâmica do que

estática e seu conteúdo precisa cada vez mais aproximar-se dos objetivos estratégicos da empresa. Isso significa

dizer, grosso modo, que os serviços devem ganhar espaço e a produtividade deve vir não só com a economia de

tempo gasto com tarefas administrativas, mas também ao permitir acesso rápido e fácil aos sistemas corporativos.

Nesse ponto, Intranets passam a ser chamadas de Portais Corporativos” (Saldanha, 2003, parte8)

A relação, comparação e justaposição entre Intranets e Portais Corporativos foi bem abordada por

Cyrineu Terra, em uma trabalho extremamente abrangente sobre o assunto. Ele sustenta que mesmo

Intranets podem ser consideradas Portais Corporativos, diferindo somente no grau de interação e

alcance tecnológico, embora sejam voltados para o mesmo objetivo, alinhado com os objetivos

estratégicos de uma organização. Em sua concepção de Portal Corporativo, todas as referências a

este termo são adicionadas o termo conhecimento. Assim, em seus trabalhos sobre o assunto,

Cyrineu Terra considera que todo Portal Corporativo é, em última instância, um Portal Corporativo

do Conhecimento – PCdC, idéia também compartilhada por Tadeu Cruz (2002), que se refere a esta

ferramenta nos mesmos termos.

Uma vez concebidos os termos de Portais Corporativos, torna-se necessário analisar seus tipos e

características. Dias (2001) reconhece alguns dos mais comuns tipos de Portais Corporativos,

variando em seu contexto de aplicação. São eles:

• Portais Públicos

• Portais Corporativos propriamente ditos, ou institucionais

• Portais de suporte à decisão

• Portais de Informações ou Conteúdo

• Portais de negócios

• Portais de processamento corporativo

• Portais especialistas

• Portais de suporte ao processamento corporativo

• Portais do conhecimento

• Portais de informações empresariais

75


Cruz (2002), por sua vez reconhece, além de alguns destes, mais outros tipos de Portais

Corporativos:

• Portais generalistas

• Portais verticais

• Portais de conhecimento

• Portais de negócio

• Portais compostos

Esta lista de tipos de Portais tende a aumentar com o tempo e com as incessantes conquistas

tecnológicas, fato que contribui para tornar, como já dito, difícil a tarefa de definição tanto do

conceito quanto dos tipos dos Portais Corporativos. Pelo que se viu, é fácil perceber que Portais

Corporativos são evoluções tecnológicas de Intranets de primeiro grau, muito embora isso implique

em questões delicadas.

Uma delas é que, somente pelo fato de possuir maior instrumentação tecnológica não quer dizer seja

uma aplicação obrigatória e linear que as organizações devam obedecer. Como se viu

anteriormente, qualquer utilização de ferramentas desta natureza deve obedecer aos padrões

ecológicos das organizações e, sobretudo, deve estar alinhado aos objetivos estratégicos de

informações. Isto quer dizer que não necessariamente os Portais Corporativos devam ser

perseguidos como o ápice da conquista tecnológica. Portais Corporativos, em muitos casos, podem

ser menos indicados a determinados perfis corporativos do que as Intranets de primeiro grau. Este

caso pode ser eventualmente aplicado às sociedades de advocacia.

Um Portal Corporativo desenhado para atender estas sociedades deve, da mesma forma que as

Intranets de primeiro grau, considerar as características deste tipo de organização. Neste caso

específico, um Portal Corporativo implantado em escritórios jurídicos pode ser identificado como

Portal Jurídico Corporativo, observando-se uma nomenclatura mais adequada, adicionado-a na

lista de tipos de Portais mencionada acima. Um portal deste tipo não difere muito dos Portais

comerciais jurídicos oferecidos pelas empresas do mercado que atendem as bancas. Assim, sendo

editado por profissionais de perfil já analisado neste trabalho, tem a vantagem – da mesma forma

que as Intranets – de personalizar seu conteúdo e apontá-los para as necessidades dos usuários.

76


No caso das sociedades de advocacia, uma diferença marca, entretanto, os Portais Jurídicos

Corporativos e as Intranets de primeiro grau: o teor mais dinâmico e catalisador do primeiro, muito

embora ele não tenha, da mesma forma que a Intranet, que integrar necessariamente os

departamentos. Sua vantagem consiste num nível que se pode considerar mais completo, conforme

se pode perceber na figura 9:

Figura 10 - Imagem front-page de Portal Jurídico Corporativo de um escritório jurídico do Rio de Janeiro

A figura 10 exibe um sistema de informações voltado para sociedades de advocacia. Este é um

exemplo real de um Portal implantado em um escritório do Rio de Janeiro, e pode-se perceber as

diferenças entre este Portal e a Intranet mostrada na figura 7. Neste caso, o sistema começa a diferir

em seu desenho, no formato Portal, assemelhado aos Portais comerciais. A diferença, assim,

consiste no fato de que este Portal possui um sistema de notícias – e de busca destas – que inexiste

no modelo de Intranet anterior.

Analisando de modo mais detalhado, o editor corporativo deste escritório edita as notícias que serão

disponibilizadas no Portal no dia seguinte. Dependendo da tecnologia utilizada, bem como do

número de pessoal disponível, estas notícias poderiam ser disponibilizadas no mesmo dia, até na

mesma hora. Isto dependeria da demanda ou da necessidade informacional do escritório. Pode-se,

77


da mesma forma, personalizar as notícias oferecendo conteúdos apropriados aos departamentos ou

áreas de atuação: notícias de Direito Penal, Trabalhista, Tributário, entre outras.

Outra vantagem deste modelo é que cadernos especiais temáticos podem ser editados, abrangendo

um assunto que esteja em evidência, como, por exemplo, a Nova Lei de Falências, Novo Código

Civil, etc. Neste caso, poder-se-ia ter um site – caderno especial – dentro de outro site – o próprio

Portal Jurídico Corporativo – embora isto possa ser feito no modelo de Intranet da figura 7. As

mídias digitais que foram mencionadas anteriormente poderiam constar neste sistema, valorizando

ainda mais as potencialidades deste Portal. No que se refere à interatividade com o usuário, este

Portal da figura 10 oferece aos usuários enquetes, votações on-line, trívias, jogos e agendas, tudo

isso agregado ao sistema, sugerindo o elemento considerado por Cyrineu Terra como diferenciador

entre as Intranets e os Portais: a amplitude tecnológica que concerne à interatividade e à interface

ante o usuário.

78


4. CONCLUSÃO

Analisar aspectos de um setor que começou a se reinventar somente nos últimos 15 anos é

extremamente difícil, porquanto não há, efetivamente, uma literatura vasta para referências. Os

paradigmas para embasamento são bastante escassos e, na literatura, somente uns poucos trabalhos

ou pesquisas discorrem sobre assuntos que, embora tratando do mesmo setor, não necessariamente

referem-se aos objetos de estudo aqui enfocados.

Inicialmente, quando da definição dos temas deste trabalho, estabeleceu-se que as pesquisas se

embasariam em estudos de casos e pesquisas de campo, de modo a fornecer elementos que

confirmassem – ou não – os pressupostos iniciais dos autores: que programas de Gestão do

Conhecimento e Informações aplicados através de ferramentas ou Sistemas de Informações como

Intranet e Portais Corporativos influenciam a performance das sociedades de advocacia,

potencializando seus processos internos de informação e, conseqüentemente, seus resultados finais,

como maior valor agregado aos seus serviços, melhoria da qualidade destes e construção de

conhecimento corporativo em suas áreas de atuação.

Entretanto, no período das pesquisas de campo, não foram encontradas sociedades de advocacia que

utilizassem suficientemente tais ferramentas para demonstração neste trabalho; e grande parte delas

nunca ouviram falar de Gestão do Conhecimento. No máximo, exibiam seus websites e acreditavam

que, por possuí-los, já tinham feito muito mais do que o necessário. Em alguns casos, o website

hospedava a produção intelectual do staff, mantendo boletins e outros informativos, de modo a

explicitar o que julgavam ser seus conhecimentos. Em quase todos os casos, tais websites forneciam

acesso aos clientes do status ou andamento de seus processos jurídicos, como agravos, mandados de

segurança, pareceres, entre outros. Do universo verificado, no centro do Rio de Janeiro, área que

congrega as maiores bancas deste setor, este foi o painel encontrado no período inicial de pesquisas.

Na literatura especializada encontrada, por sua vez, no que diz respeito ao ambiente do setor

jurídico, foram encontrados com mais facilidade trabalhos e publicações concernentes a assuntos

como Marketing jurídico e Gestão de escritórios jurídicos. Sobre Gestão do Conhecimento e Gestão

de Informações em escritórios jurídicos, só se encontrou uma publicação: um texto/artigo de Lara

Selem (2003) sobre a Gestão do Conhecimento em sociedades jurídicas. Não se encontrou na

literatura referências sobre o uso de Intranets e Portais nestas organizações. Sobre tecnologias,

especificamente, encontrou-se um estudo de caso de Paulo Hapner (2002) que analisa o modo de

79


como dois dos maiores escritórios do país utilizam seus websites como promoção de seus serviços,

utilizando tecnologias de e-commerce e e-business.

Materiais mais fartos foram encontrados sobre Gestão do Conhecimento, Intranets e Portais de

modo mais amplo e genérico, tendo em vista suas aplicações em praticamente todos os ramos de

negócios do atual mundo corporativo. Sobre publicações referentes ao setor jurídico, somente

aspectos estatísticos e históricos foram encontrados numa excelente publicação, o Panorama

Setorial, que forneceu insumos extremamente significativos sobre o assunto, minimizando, desta

forma, a necessidade de pesquisas de campo que se fariam redundantes e mesmo desnecessárias.

Obras de Lara Selem (2004), em determinados momentos, se mostraram muito úteis sobre este

setor, complementando os dados e informações do Panorama Setorial. Não foi possível,

infelizmente, ter acesso a todos os materiais de instituições como CEAE – Centro de Estudos de

Administração dos Escritórios de Advocacia – e CESA – Centro de Estudo das Sociedades de

Advogados – órgãos que estudam e publicam trabalhos importantes sobre o setor. Estas instituições

restringem o acesso de documentos somente aos associados, não sendo possível a terceiros contato

com tais publicações.

Ao final deste trabalho, sob tudo o que se levantou de materiais e fontes de pesquisa; considerando-

se as limitações impostas pelos motivos acima mencionados; e aplicando o conhecimento obtido

pelos estudos, pôde-se concluir que:

a) sobre Gestão do Conhecimento e práticas administrativas das sociedades de advocacia:

1. Grande parte das sociedades de advocacia ainda são administradas de forma amadora, sem

critérios específicos no que se refere a política de Recursos Humanos; alocação de recursos

financeiros; Planejamento Estratégico e Marketing e; administração de suas informações e

produção intelectual;

2. A grande maioria das sociedades de advocacia não conhece programas de Gestão do

Conhecimento, bem como sua utilidade ou aplicação;

3. Sociedades de advocacia ainda consideram programas de Gestão de Informações e Gestão

do Conhecimento como malabarismos administrativos, não dando a importância devida a

tais assuntos. Isto também se estende a programas como Marketing e Estratégia Corporativa;

4. Muitas sociedades de advocacia não se consideram uma empresa, e, por isso, não

desenvolvem um comportamento corporativo. Advogados associados em escritórios

jurídicos se definem como sociedades civis, que vem a ser um tipo de organização distinta

do que se entende como empresa.

80


) sobre Tecnologias da Informação e ferramentas afins utilizadas pelas sociedades de advocacia:

1. Tecnologias de Informações, Sistemas de Informações e ferramentas afins ainda despertam

grande desconfiança entre os advogados. Eles ainda têm muita resistência a sistemas deste

tipo devido a pouca diferença que atribuem ao custo-benefício;

2. Quando adotam tais sistemas, raramente o fazem por iniciativa própria; o fazem geralmente

ou por sugestão do pessoal de apoio ou para exibição a clientes e parceiros;

3. A maioria das grandes sociedades de advocacia possui websites como cartão de visitas,

subutilizando suas potencialidades estratégicas;

4. Somente uma das sociedades levantadas possuía ferramentas de Gestão do Conhecimento,

como Portal Jurídico Corporativo, nos moldes e configurações que se expôs neste trabalho,

fator que inviabilizou um estudo mais abrangente através de pesquisa de campo.

c) sobre a literatura especializada no assunto em questão:

1. A literatura específica sobre o tema proposto neste trabalho – Intranets e Portais

Corporativos como ferramentas de Gestão do Conhecimento em sociedades de advocacia – é

ainda extremamente escassa, senão quase inexistente; O material acessado com relativa

fartura refere-se a estes assuntos e seu sentido mais genérico e conceitual.

No que se refere às tendências observadas à luz do tema proposto: mediante os estudos aqui

obtidos; das fontes pesquisadas; e de observações in loco do mercado jurídico em geral, e das

sociedades de advocacia em particular, pôde-se concluir que:

a) Sobre as tendências administrativas das sociedades de advocacia:

1. Há uma tendência de profissionalização administrativa, ocasionada pelas pressões do

mercado e pelas consultorias oferecidas por profissionais especializados neste sentido;

2. Os critérios seletivos dos recursos humanos estão se tornando cada vez mais rigorosos, seja

para contratação de estagiários, advogados ou pessoal de apoio;

3. Embora, como se viu, muitos advogados ainda não conheçam conceitos como Gestão do

Conhecimento, pode-se notar uma crescente procura por novas idéias de gestão,

principalmente por jovens advogados recém-formados. Esta tendência é quase inexistente,

porém, entre advogados veteranos.

b) sobre Tecnologias da Informação e ferramentas afins utilizadas pelas sociedades de advocacia:

1. Devido à desconfiança e ao ceticismo que as sociedades de advocacia têm ante os Sistemas

de Informação, a tendência à adoção destas ferramentas é bastante inexpressiva;

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2. Os Sistemas de Informações mais utilizados são bases de dados com os processos de

clientes; estes sistemas são ainda as únicas ferramentas que justificam investimentos mais

significativos, embora o leque de investimento esteja aumentando de modo tímido, mas

crescente.

c) sobre a literatura especializada no assunto em questão:

1. A literatura especializada sobre Gestão do Conhecimento, Intranets e Portais Corporativos

está em franca expansão, onde materiais diversos, como publicações eletrônicas, artigos,

ensaios e livros têm abordado os mais variados temas que se utilizam de tais assuntos.

Entretanto, sobre a aplicação destes conceitos e ferramentas pelas sociedades de advocacia

até o momento da conclusão deste trabalho, não se encontrou indícios de expansão da

literatura especializada.

4.1 Considerações finais

Estas conclusões foram constatadas até fevereiro de 2005, analisando as grandes sociedades de

advocacia do Rio de Janeiro, muitas delas, por sua vez, representativas de sua classe como as

maiores e mais influentes no Brasil. Devido à contemporaneidade do tema tratado neste trabalho, é

natural que a literatura seja ainda escassa, sendo provável que, em ambientes acadêmicos, esteja-se

fazendo pesquisas relevantes sobre o assunto.

No tocante às pesquisas de campo e estudos de caso, pesquisar aspectos de sociedades de

advocacia, como se viu na justificativa deste trabalho, é extremamente difícil, visto que tais

organizações são bastante sigilosas no que diz respeito às suas atividades, trâmites e planejamentos.

Pelo que se pôde perceber, felizmente, as novas gerações de advogados, mais integrados à realidade

corporativa que vigora no mundo moderno, podem em médio e longo prazo mudar este panorama,

oferecendo praças para pesquisas mais relevantes sobre o setor em vários sentidos, abrindo caminho

para uma rica literatura proveniente de tais estudos.

Sobre os programas acadêmicos que contemplam tais áreas, é notável a emergência de inúmeras

linhas de pesquisa, seja em especializações, mestrados e doutorados, abordando os temas aqui

enfocados. Estes temas não mais podem ser ignorados e, por serem decisivos estrategicamente,

muito ainda há o que se pesquisar.

Para o mercado jurídico, assim como para as sociedades de advocacia, estudos desta natureza só

serão significativos se contarem com a colaboração dos profissionais envolvidos. Desta forma, este

82


mercado – das sociedades de advocacia – só tem a ganhar com tais pesquisas, uma vez que estas

proporcionarão, sem dúvida alguma, elementos amplamente significativos para aplicação

pragmática, seja no âmbito de gestão, planejamento estratégico, serviços de informações, Marketing

jurídico, entre muitas outras.

Para aqueles que estudam os assuntos aqui abordados, como Gestão do Conhecimento, Intranets,

Portais Corporativos e sociedades de advocacia, espera-se que este trabalho forneça um painel real,

oportuno e significativo sobre uma área bem específica e singular, fornecendo dados e informações

relevantes para pesquisas posteriores. Espera-se, também, que mais e novas linhas de pesquisa em

todos os níveis acadêmicos contemplem estas áreas tão importantes e atuais, de modo a produzir

estudos e paradigmas que certamente enriquecerão a literatura e beneficiarão seus usuários.

Finalmente, para os autores deste trabalho, esta pesquisa foi extremamente gratificante devido ao

seu caráter pioneiro sobre temas socialmente tão relevantes. Acreditamos que serviços jurídicos

desenvolvidos com qualidade, organização e excelência em sua gestão beneficiarão toda a

sociedade. E acreditamos, também, que o papel das conquistas tecnológicas para estas finalidades é

irreversível e indispensável, juntamente com os novos e revolucionários conceitos de gestão aqui

expostos.

Para os potenciais pesquisadores e interessados nos temas abordados neste trabalho, os autores

instituíram um website que ficará disponível em caráter permanente, sendo atualizado

constantemente. Visa-se, assim, dar continuidade às pesquisas e auxiliar trabalhos futuros mediante

disponibilização de textos, notícias e links para websites diversos, aumentando assim o leque de

acesso à literatura sobre tais assuntos. Este website pode ser acessado em http://monografia-

casi21.sites.uol.com.br.

83


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