14.05.2013 Views

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O TENENTE-CORONEL - Oh! meu rico senhor Doutor Pinheirinho! Ainda bem que o encontro. (O<br />

Doutor e Fre<strong>de</strong>rico erguem-se.) Meu filho, <strong>de</strong>ixa-nos a sós por alguns momentos.<br />

O DOUTOR (À parte.) Ai, ai, ai!<br />

FREDERICO (Sain<strong>do</strong>, à parte.) - Como hei <strong>de</strong> me sair <strong>de</strong>sta alhada? (Vai sain<strong>do</strong> e encontra Dona<br />

Maria, que vem entran<strong>do</strong>.)<br />

DONA MARIA - Senhor Fre<strong>de</strong>rico, andava à procura <strong>do</strong> seu braço!<br />

FREDERICO - Aqui o tem, minha senhora! (Saem ambos <strong>de</strong> braço da<strong>do</strong>.)<br />

CENA V<br />

O DOUTOR, O TENENTE-CORONEL, <strong>de</strong>pois PASSOS PEREIRA, <strong>de</strong>pois DONA MARIA<br />

O TENENTE-CORONEL (Depois <strong>de</strong> alguma pausa, gravemente.) - Senhor Doutor Pinheirinho... ou<br />

por outro: Senhor Doutor Pinheiro... (Pausa.) Sentemo-nos. (Sentam-se.) O meu compadre Chico... ou<br />

por outra: Francis... eu creio que já lhe disse isto mesmo. (Pausa.) Enfim, Senhor Doutor... Homem.<br />

Vossa senhoria é um homem forma<strong>do</strong>, e eu nem no Congresso Agrícola falei... Dê o <strong>de</strong>sconto... (Em<br />

outro tom, escolhen<strong>do</strong> as palavras.) Sou pai, isto é, pai a<strong>do</strong>tivo... É a mesma coisa! É mais! Um pai<br />

a<strong>do</strong>tivo é pai e mãe. O Padre Antônio Vieira, no sermão <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo, diz que os filhos<br />

naturais se amam porque são filhos, e os filhos a<strong>do</strong>tivos são filhos porque se ama...<br />

PASSOS PEREIRA (Entran<strong>do</strong>.) - Ó Senhor Doutor Pinheiro! Senhor Dout.. (Estacan<strong>do</strong>.) Era<br />

segre<strong>do</strong>?<br />

O TENENTE-CORONEL (Levantan<strong>do</strong>-se.)<br />

- Não... não... falávamos..<br />

O DOUTOR (Vivamente, erguen<strong>do</strong>-se.) - Do Padre Antônio Vieira.<br />

O TENENTE-CORONEL (À parte.) - Fica para outra vez.<br />

PASSOS PEREIRA (Ao Doutor.) - Desejava falar-lhe em particular.<br />

O DOUTOR (À parte.) - Bom! Agora o outro!<br />

O TENENTE-CORONEL - Deixo-os. (Ao Doutor.) Logo falaremos. (Vai sain<strong>do</strong> e encontra-se com<br />

Dona Maria, que vem entran<strong>do</strong>.)<br />

DONA MARIA - Senhor Tenente-coronel, andava à procura <strong>de</strong> seu braço!<br />

O TENENTE-CORONEL - Aí o tem, Senhora Dona Maria!<br />

DONA MARIA (Sain<strong>do</strong> <strong>de</strong> braço da<strong>do</strong> ao Tenente-coronel, à parte.) - Por que não se quer <strong>casa</strong>r<br />

este homem, meu Deus? (Saem)<br />

CENA VI<br />

O DOUTOR, PASSOS PEREIRA. <strong>de</strong>pois RAIMUNDO, <strong>de</strong>pois DONA MARIA<br />

PASSOS PEREIRA - Senhor Doutor Pinheiro, o assunto é grave... Aqui tem uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

Sentemo-nos. (Sentam-se.)<br />

O DOUTOR (À parte.) - Eu <strong>de</strong>vo estar com uma cara...<br />

PASSOS PEREIRA (Depois <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> meditação, rompen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sabridamente o que assusta o<br />

Doutor.) - O <strong>casa</strong>mento, Senhor Doutor, é uma condição, por bem dizer, fatal da existência humana.<br />

Abaliza<strong>do</strong>s sociologistas... ou sociólogos, como queira... têm da<strong>do</strong> sobre a matéria a última palavra...<br />

Um pai educa uma filha, com to<strong>do</strong>s os esmeros sugeri<strong>do</strong>s pelo seu bom espírito e seu bom coração...<br />

Dói-lhe a alma <strong>de</strong> vê-la <strong>de</strong>pois entregue a carinhos <strong>de</strong> outra espécie; mas, ah! - infelizmente têm que se<br />

submeter ao regime comum da socieda<strong>de</strong>... Mas essa submissão, Senhor Doutor, não po<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>ve<br />

ser inteiramente passiva... Tenho para mim que um pai, digno <strong>de</strong>sse nome sublime, é obriga<strong>do</strong> a<br />

<strong>de</strong>senvolver tal ou qual ativida<strong>de</strong>, no intuito <strong>de</strong> atenuar os maus caprichos que por ventura estejam<br />

reserva<strong>do</strong>s pelo <strong>de</strong>stino a seus filhos. Concorda?<br />

O DOUTOR - Inteiramente.<br />

PASSOS PEREIRA (À parte.) - Veio <strong>de</strong>cora<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>casa</strong>. (Alto.) O senhor, quan<strong>do</strong> for pai... (Com<br />

certa autorida<strong>de</strong>,) o que há <strong>de</strong> ser!<br />

O DOUTOR (À parte.) - Meu Deus!<br />

308

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!