histórias de um pescador
histórias de um pescador
histórias de um pescador
Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!
Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.
Entrevista<br />
THE<br />
BIG<br />
FISH<br />
<strong>histórias</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>pescador</strong><br />
Em <strong>um</strong>a quarta-feira ensolarada, nossa equipe foi até Balneário Camboriú conhecer<br />
<strong>um</strong> dos fundadores da Ceval, hoje Bunge, que figura na lista das empresas mais respeitadas<br />
e bem-sucedidas do país. O senhor Vilmar Schürmann nos recebe na porta do<br />
seu escritório e, simpático, nos convida para sentar ao redor da mesa <strong>de</strong> reunião. Tudo<br />
muito simples, tendo como <strong>de</strong>staque a vista para o mar.<br />
38 39
Entrevista<br />
Calmo e <strong>de</strong> voz baixa, não parece que logo na primeira pergunta<br />
ele nos contaria boa parte <strong>de</strong> sua vida. Disse que o pai veio da<br />
Alemanha e chegou a jogar futebol no Avaí, time catarinense. Pai<br />
<strong>de</strong> cinco filhos, falou <strong>um</strong> pouquinho <strong>de</strong> todos com carinho e orgulho<br />
por saber que cada <strong>um</strong> segue caminhos profissionais sólidos ou<br />
que está formando a própria família.<br />
Vilmar Schürmann nasceu em Florianópolis, em 22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
1942, e, aos sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, junto com os pais e os quatro<br />
irmãos, mudou-se para Bl<strong>um</strong>enau, on<strong>de</strong> estudou e viveu sua infância<br />
e adolescência. O último ano escolar, chamado na época <strong>de</strong><br />
terceiro científico, foi na capital paranaense, on<strong>de</strong> se formou engenheiro<br />
químico pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, em 1964.<br />
Após a formatura, já com <strong>um</strong> convite do Grupo Bunge, foi para o<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Quatro anos <strong>de</strong>pois, voltou para Santa Catarina<br />
e iniciou suas ativida<strong>de</strong>s como engenheiro na lista <strong>de</strong> projetos do<br />
BRDE, em Florianópolis. Até que o grupo Hering <strong>de</strong>cidiu investir<br />
em <strong>um</strong>a fábrica <strong>de</strong> óleo. Ingo Muller, funcionário da Hering, tinha<br />
planos <strong>de</strong> montar <strong>um</strong> negócio, aproveitando os recursos da Fun<strong>de</strong>sc,<br />
e <strong>de</strong> implantar <strong>um</strong>a nova ativida<strong>de</strong> na agricultura <strong>de</strong> Gaspar.<br />
Naquela época, era <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>sto projeto <strong>de</strong> fazer <strong>um</strong>a indústria <strong>de</strong><br />
óleo. Como não tinha conhecimento no ramo, surgiu a indicação do<br />
nome <strong>de</strong> Vilmar Schürmann. O Sr. Vilmar foi convidado a refazer o<br />
projeto e dirigi-lo. A Ceval, então, foi fundada oficialmente no dia 4<br />
<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1972.<br />
Falar da Ceval é obrigatório. Foram muitas conquistas, e o crescimento<br />
não foi apenas pessoal. Durante toda a nossa conversa, o<br />
Sr. Vilmar fazia questão <strong>de</strong> falar do trabalho em equipe e do incentivo<br />
em dar oportunida<strong>de</strong>s para aqueles que acreditam no futuro da<br />
empresa.<br />
Ele foi diretor geral e presi<strong>de</strong>nte da Ceval até 1997, quando o<br />
Grupo Hering <strong>de</strong>cidiu ven<strong>de</strong>r o controle acionário. A Bunge fez essa<br />
compra e o convidou a continuar presi<strong>de</strong>nte. Coinci<strong>de</strong>ntemente, a<br />
mesma empresa on<strong>de</strong> Vilmar teve sua primeira oportunida<strong>de</strong> profissional.<br />
Ficou no cargo durante oito anos, aposentando-se em<br />
2004 e <strong>de</strong>ixando a presidência para o também engenheiro químico<br />
Sérgio Waldrich, <strong>um</strong> dos <strong>de</strong>z primeiros funcionários da Ceval, on<strong>de</strong><br />
iniciou na empresa como office-boy.<br />
Antes da aposentadoria, Vilmar utilizou parte dos recursos da<br />
venda da Ceval, on<strong>de</strong> tinha <strong>um</strong>a participação acionária expressiva,<br />
na compra <strong>de</strong> terrenos <strong>de</strong> frente para o mar nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Balneário<br />
Camboriú e Bombinhas. Incrementou o setor hoteleiro da<br />
região com os empreendimentos Vila do Farol e Vila do Coral, em<br />
Bombinhas; e o Recanto das Águas, na praia dos Amores. Iniciou-<br />
-se aí sua atuação na área turística e na construção civil, pois, com<br />
os terrenos que havia adquirido, investiu em prédios resi<strong>de</strong>nciais.<br />
A seguir, o Sr. Vilmar nos conta como foi mudar a estratégia<br />
<strong>de</strong> diferenciação da Ceval e como foi o crescimento da empresa.<br />
Também fala sobre a relação entre o turismo e a sustentabilida<strong>de</strong><br />
em Santa Catarina, os caminhos que optou seguir quando<br />
se aposentou da Bunge e <strong>um</strong>a das gran<strong>de</strong>s paixões da sua vida, a<br />
pesca.<br />
BALNEÁRIO<br />
CAMBORIÚ<br />
Cida<strong>de</strong> escolhida para morar por Schürmann<br />
Vista da sacada<br />
40 41
Entrevista<br />
Revista DVA: Como foi <strong>de</strong>senvolvido o trabalho <strong>de</strong> fortalecimento<br />
da marca Ceval?<br />
Vilmar: Fizemos <strong>um</strong> trabalho em etapas porque, enquanto trabalhávamos<br />
com soja, éramos <strong>um</strong>a comodity, e o primeiro passo foi<br />
mudar a cabeça <strong>de</strong> quem se preocupava com custos e vol<strong>um</strong>e para<br />
trabalhar com produtos <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o com valor agregado. Investimos<br />
em propaganda, equipe <strong>de</strong> vendas e estratégias diferenciadas<br />
<strong>de</strong> marketing e posicionamento. Se antes tínhamos fábricas <strong>de</strong> sojas,<br />
passamos a investir em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição e especialização<br />
em exportação, buscando mercados on<strong>de</strong> pudéssemos esten<strong>de</strong>r<br />
esse segmento. Tivemos <strong>de</strong> adaptar a equipe e reforçar os conceitos<br />
<strong>de</strong> vestir a camisa e <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong>. Tínhamos <strong>um</strong> lema na Ceval:<br />
“tem sempre <strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> fazer melhor”. Passo a passo, conseguimos<br />
montar <strong>um</strong>a equipe bem treinada, buscamos parceiros internacionais,<br />
como o Instituto IMD (International Institute for Management<br />
Development), <strong>de</strong> Lausanne, na Suíça, on<strong>de</strong> vários funcionários foram<br />
fazer treinamento.<br />
42<br />
RDVA: Como era a gestão das marcas adquiridas pela Ceval?<br />
V: A Ceval iniciou com <strong>um</strong> capital mo<strong>de</strong>sto, processava 50 toneladas<br />
<strong>de</strong> soja por dia. Em 25 anos, fizemos <strong>um</strong> crescimento por<br />
aquisições, não só <strong>de</strong> soja, mas também <strong>de</strong> abatedouros <strong>de</strong> aves<br />
e suínos. Eram empresas separadas, mas com as tributações, em<br />
1990, constituíram <strong>um</strong>a só, trabalhando com marcas diferenciadas.<br />
RDVA: E como foi esse processo <strong>de</strong> aquisições e crescimento?<br />
V: Primeiro fizemos as aquisições em Santa Catarina e <strong>de</strong>pois no<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. On<strong>de</strong> se passou a cultivar soja, nós fomos atrás.<br />
Bahia, Mato Grosso, Maranhão, Piauí e outros locais. Expandimos<br />
nossas ativida<strong>de</strong>s para a Argentina, Índia e Bolívia. A Índia é <strong>um</strong><br />
gran<strong>de</strong> mercado on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvemos a marca Ceval. Chegamos<br />
a ser <strong>um</strong>a das cinco maiores exportadoras do país com transações<br />
acima <strong>de</strong> <strong>um</strong> milhão <strong>de</strong> dólares. Com a venda, a Ceval passou a<br />
ser outra empresa, a Bunge, e ass<strong>um</strong>iu o posto <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r no mercado<br />
mundial, já que está em mais <strong>de</strong> 40 países. Foi <strong>um</strong>a realização da<br />
Ceval também, pois a maioria dos funcionários que trabalham na<br />
Bunge era contratada da Ceval. Na época, tínhamos em torno <strong>de</strong><br />
30 engenheiros químicos, em diversas posições <strong>de</strong> administração<br />
da Bunge.<br />
“ Tínhamos <strong>um</strong> lema<br />
na Ceval: tem sempre<br />
<strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> fazer<br />
melhor.”<br />
RDVA - Por que o senhor <strong>de</strong>cidiu investir na compra <strong>de</strong> terrenos?<br />
Essas áreas já tinham <strong>um</strong> alto valor <strong>de</strong> mercado?<br />
V: Investi em terrenos porque tive a intuição <strong>de</strong> que seria <strong>um</strong> bom<br />
negócio no futuro, com maior valorização e menores riscos <strong>de</strong> moeda.<br />
Po<strong>de</strong>ria ter investido em bolsas ou títulos, mas achei que era<br />
<strong>um</strong>a área mais favorável com o crescimento do turismo. Viajando<br />
pelo mundo, vi diversos empreendimentos <strong>de</strong> sucesso. Santa Catarina<br />
tem <strong>um</strong>a natureza maravilhosa entre Florianópolis e Balneário<br />
Camboriú. Isso me motivou e resolvi investir. Acho que <strong>de</strong>u certo!<br />
RDVA: De on<strong>de</strong> o senhor herdou essa parte mais empresarial?<br />
Quais suas referências para tornar-se o que é hoje?<br />
V: Minha formação me <strong>de</strong>u <strong>um</strong> treinamento amplo, como engenhei-<br />
ro e como administrador. Tive <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong> no BRDE que<br />
me permitiu analisar bons negócios no mercado industrial. Pu<strong>de</strong> ver<br />
a forma <strong>de</strong> administrar empresas que tinham sucesso e observar<br />
todas as etapas <strong>de</strong> crescimento. Na Ceval, tive <strong>um</strong> sócio forte que<br />
me apoiou no crescimento em aquisição. Investimos e chegamos a<br />
ter ações na Bolsa <strong>de</strong> NY. Fomos sempre muito felizes nessa busca<br />
por recursos, pois chegamos a três bilhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> faturamento<br />
e ficamos entre os cinco maiores exportadores brasileiros. Essas<br />
vitórias, na nossa cultura, na nossa forma <strong>de</strong> agir, incentivavam os<br />
colaboradores. Sempre acreditei no trabalho em equipe e tive sucesso<br />
trabalhando com essa estratégia.<br />
RDVA: O senhor mantém e continua trabalhando com parte <strong>de</strong>ssa<br />
equipe?<br />
V: Os principais executivos que tenho atuando comigo hoje, eu conheço<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando administrava a Ceval. Alguns trabalham comigo<br />
há mais <strong>de</strong> 30 anos.<br />
LEALDADE<br />
“ Tivemos <strong>de</strong> adaptar a equipe e reforçar os<br />
conceitos <strong>de</strong> vestir a camisa e <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong>.”<br />
43
Entrevista<br />
RDVA: Como é ter a mesma equipe há tanto tempo?<br />
V: Tenho <strong>um</strong> hotel em Balneário Camboriú, que compartilho com<br />
todos os meus colaboradores através <strong>de</strong> <strong>um</strong>a empresa chamada Lealda<strong>de</strong><br />
Empreendimentos. Esse é <strong>um</strong> dos fatores que sempre fez<br />
com que a equipe se mantivesse unida, buscando não somente o<br />
próprio interesse. Nossas <strong>de</strong>cisões respeitam o consenso <strong>de</strong> toda a<br />
equipe. Com a experiência <strong>de</strong>ssas pessoas, conseguimos saber o<br />
que é <strong>um</strong> bom negócio e o que não é. É a cultura que <strong>de</strong>senvolvemos<br />
na Ceval e que ainda nos acompanha. Às vezes é melhor não ser a<br />
gran<strong>de</strong> estrela do mercado, mas ter pessoas motivadas que possam<br />
<strong>de</strong>senvolver o trabalho <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> grupo. É gratificante fazer o que<br />
se gosta e ter <strong>um</strong>a equipe que tem a mesma vonta<strong>de</strong>.<br />
RDVA: Como o senhor vê o <strong>de</strong>senvolvimento turístico na região e<br />
a relação <strong>de</strong>le com as questões <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>?<br />
V: Eu acho que nós temos <strong>de</strong> preservar a beleza natural. O mais<br />
importante é encontrar <strong>um</strong> equilíbrio entre investimentos no turismo,<br />
ações preventivas e como se relacionar com as instituições ambientais.<br />
São muitos órgãos <strong>de</strong> controle e alguns agem em interesse próprio.<br />
Infelizmente, tudo tem preço, não <strong>de</strong>veria ser assim. A melhor<br />
solução tem <strong>de</strong> ser para o crescimento <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>, não<br />
somente <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as pessoas. Isso <strong>de</strong>sencoraja novos empreendimentos.<br />
“Eu realizo pescas <strong>de</strong><br />
fundo no oceano a<br />
mais <strong>de</strong> 150 metros<br />
<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> e<br />
40 milhas náuticas<br />
distantes da costa.”<br />
RDVA: O empresário Eike Batista tinha planos <strong>de</strong> construir <strong>um</strong>a<br />
plataforma <strong>de</strong> petróleo na região <strong>de</strong> Biguaçu. O senhor acredita que<br />
o local po<strong>de</strong>ria ser aproveitado <strong>de</strong> outra forma?<br />
V: Eu acredito que Santa Catarina precisa <strong>de</strong> marinas e <strong>de</strong> locais<br />
para receber as pessoas que fazem turismo no mar. Em Florianópolis,<br />
por exemplo, não tem <strong>um</strong> espaço para receber os navios <strong>de</strong><br />
turistas com segurança, e a cida<strong>de</strong> merece <strong>um</strong> lugar assim. Acredito<br />
que a área que pertence ao empresário Eike Batista seria muito bem<br />
aproveitada como área turística. Eu conheço pessoas interessadas<br />
em investir ali, só é preciso avaliar as questões ambientais com os<br />
órgãos responsáveis.<br />
RDVA: Quais outras regiões do estado o senhor acredita que têm<br />
potencial turístico?<br />
V: No litoral catarinense, <strong>de</strong> São Francisco do Sul até Laguna,<br />
são muitas belezas naturais, mas faltam investimentos e negócios<br />
que atraiam visitantes durante todo o ano, como gran<strong>de</strong>s resorts.<br />
Temos também <strong>um</strong>a serra espetacular, é possível esten<strong>de</strong>r o que é<br />
feito em Gramado e Canela para a região <strong>de</strong> Urupema, Urubici e São<br />
Joaquim. Não seria ótimo? Acredito bastante nessa área como futuro<br />
<strong>de</strong>stino turístico.<br />
RDVA: O que o senhor gosta <strong>de</strong> fazer nas horas <strong>de</strong> lazer?<br />
V: Duas coisas: jogar dominó e pescar. Entre Balneário Camboriú<br />
e Bombinhas, tenho oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar a pesca, que é <strong>um</strong> esporte<br />
agradável, mas caro porque cost<strong>um</strong>o ir a lugares que não são<br />
muito próximos das praias. Eu realizo pescas <strong>de</strong> fundo no oceano a<br />
mais <strong>de</strong> 150 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> e 40 milhas náuticas distantes<br />
da costa. Na nossa região, os melhores lugares são os <strong>de</strong> preservação<br />
ambiental, como a área da Ilha do Arvoredo. Tenho <strong>um</strong> lado da<br />
família muito ligado ao mar. Meu irmão Vilfredo fez viagens com a<br />
família em <strong>um</strong> barco a vela com outras perspectivas. Eu tive sorte <strong>de</strong><br />
pescar peixes bonitos, e a pesca é <strong>um</strong>a satisfação pessoal, que me<br />
<strong>de</strong>ixa muito em paz. Sempre volto renovado.<br />
Em sua viagem mais recente, Vilmar esteve no Panamá. A aventura foi no Oceano Pacífico com o objetivo <strong>de</strong> pescar<br />
atuns e marlins azuis e negros. Peixes gran<strong>de</strong>s que não são cons<strong>um</strong>idos, ao contrário, são <strong>de</strong>volvidos ao mar.<br />
DIA DE SORTE<br />
A pesca do dourado com mais <strong>de</strong> 40 quilos quebra o<br />
recor<strong>de</strong> do Guiness Book.<br />
44 45