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F<br />

FÓRUM PERMANENTE DE TEATRO<br />

RECORDAR SETÚBAL COM FAFE NO HORIZONTE<br />

palcos<br />

Revista<br />

# 04<br />

novembro ‘12<br />

FERNANDO SOARES<br />

o encenador em discurso directo


editorial<br />

Hoje é o dia em que a Palcos lança o seu número quatro, dando a conhecer algumas<br />

novida<strong>de</strong>s no que diz respeito ao seu quadro <strong>de</strong> colaboradores. Após uma<br />

reorganização interna do elenco directivo, a qual correspon<strong>de</strong>u também a alterações<br />

na composição do quadro <strong>de</strong> colaboradores da revista trazendo um novo colaborador<br />

permanente, o Doutor João Maria André - Professor Catedrático na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, on<strong>de</strong> lecciona as áreas <strong>de</strong> Filosofia e do <strong>Teatro</strong>,<br />

colaborando também como tradutor, dramaturgo e encenador da Cooperativa<br />

Bonifrates, <strong>de</strong> Coimbra e do <strong>Teatro</strong> Académico <strong>de</strong> Gil Vicente, do qual foi Diretor <strong>de</strong><br />

2001 a 2005.<br />

Os <strong>de</strong>staques <strong>de</strong>ste número vão para o X Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> realizado em<br />

parceria com o GATEM - Grupo <strong>de</strong> Animação e <strong>Teatro</strong> Espelho Mágico, contando com o<br />

apoio do Município <strong>de</strong> Setúbal, nos dias 5, 6 e 7 <strong>de</strong> Outubro últimos - um Fórum em que<br />

Norberto Ávila e a sua dramaturgia foram alvo <strong>de</strong> uma merecida homenagem.<br />

Fernando Soares formador <strong>de</strong> atores, presença habitual dos Fóruns Permanentes da<br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>, será a figura que Manuel Ramos Costa irá entrevistar<br />

nas “conversas <strong>de</strong> bastidores”. Ficaremos também a conhecer um pouco mais sobre<br />

Fafe e o Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Vitrine, que será o anfitrião do próximo Fórum Permanente <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong>, nos dias 25, 26 e 27 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2013.<br />

Por intermédio do professor João Maria André seremos conduzidos, a partir <strong>de</strong>sta<br />

edição, a uma reflexão sobre o <strong>Teatro</strong> como instrumento pedagógico, sobre a<br />

articulação entre arte e educação como forma <strong>de</strong> potenciar a(s) aprendizagem(s).<br />

Também o doutor Rui Sérgio, da Fundação Inatel, sob a rubrica “boca <strong>de</strong> cena”, abordará<br />

o papel do <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Amadores no movimento cultural nacional, bem como o<br />

contributo que a Fundação Inatel, nosso parceiro no Concurso Nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>, tem<br />

dado no apoio à cultura amadora tradicional.<br />

Na senda <strong>de</strong> revelação <strong>de</strong> novos textos dramatúrgicos vamos prosseguir com a<br />

apresentação <strong>de</strong> mais um pequeno texto <strong>de</strong> teatro escrito por Elvira Oliveira do <strong>Teatro</strong><br />

Ensaio Raúl Brandão (Guimarães) intitulado “Tudo menos imitações”<br />

É pois com o contributo <strong>de</strong> pessoas que vivem, pensam, sentem e amam o <strong>Teatro</strong>, que a<br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> continua este seu percurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa intransigente<br />

<strong>de</strong>sta arte e divulgação das suas mais-valias.<br />

Fernando Rodrigues<br />

Director<br />

Revista<br />

#04 palcos<br />

01<br />

novembro ‘12


01<br />

03<br />

09<br />

12<br />

15<br />

17<br />

20<br />

editorial<br />

conversas <strong>de</strong> bastidores<br />

fernando soares<br />

estreia<br />

x fórum permanente <strong>de</strong><br />

teatro<br />

programa <strong>de</strong> sala<br />

grupo nun’ álvares<br />

fafe<br />

boca <strong>de</strong> cena<br />

teatro amador: uma<br />

referência local, um<br />

movimento nacional<br />

reportório<br />

teatro, arte e educação (i)<br />

sem palco<br />

Tudo menos imitações<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Proprieda<strong>de</strong><br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong><br />

Praça José Afonso, 15 E<br />

C. C. Colina do Sol, Loja 55<br />

2700-495 Amadora<br />

geral@fpteatro.pt<br />

www.fpteatro.pt<br />

Director<br />

Fernando Rodrigues<br />

Conselho Editorial<br />

Sandra Paula Barradas, Luis<br />

Men<strong>de</strong>s, Bruno Gomes e José<br />

Teles<br />

Colaboradores permanentes<br />

Manuel Ramos Costa e João<br />

Maria André<br />

Colaboraram neste número<br />

Rui Sérgio e Orlando Alves<br />

Grafismo e Paginação<br />

Gabinete <strong>de</strong> Comunicação /<br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong><br />

Periodicida<strong>de</strong> Semestral<br />

Edição Digital<br />

Os textos propostos para edição<br />

d e verã o re m e t i d o s p a ra<br />

revista.palcos@fpteatro.pt ,<br />

sendo objecto <strong>de</strong> avaliação<br />

prévia, por parte do Conselho<br />

Editorial.<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

02<br />

novembro ‘12


conversas <strong>de</strong> bastidores<br />

FERNANDO SOARES<br />

«ESTOU CÁ NA LUTA!»<br />

Manuel Ramos Costa<br />

Dramaturgo e Encenador<br />

Ouvi-lo dizer poesia é um encanto. Vê-lo a representar é uma emoção. Enche um<br />

palco. Enche uma alma. É das pessoas mais afetuosas e solidárias com quem já me cruzei<br />

neste pequeno mundo das artes. E bom. Bom em tudo o que faz, em tudo o que diz. O seu<br />

gesto é certeiro e acertada a sua palavra. Sempre.<br />

Atravessou a vida trabalhando e partilhando o pão da boca e do espírito. Fez o que<br />

estava ao seu alcance pela sua terra e pelas pessoas que reuniu à sua volta, nelas incutindo<br />

o gosto pelas coisas da História e da Cultura. Ensinou-as a voar e aceitou com prazer<br />

submeter-se tardiamente às provas do teatro ensinado, com sucesso. É um profissional<br />

que se mantém fiel à pessoa e ao artista que sempre foi. Muito humano. Muito talentoso.<br />

Muito crítico e exigente para consigo mesmo. E para com os outros também.<br />

A vida rebenta-lhe nas mãos sempre abertas e <strong>de</strong>rrama-se-lhe por entre os <strong>de</strong>dos<br />

em acesas paixões, paixões que o envolvem mas nunca o conseguem pren<strong>de</strong>r. Ele não é<br />

<strong>de</strong>le. Disso sempre teve consciência. É dos mundos. É das primaveras. Das palavras. Dos<br />

silêncios e… <strong>de</strong> Deus.<br />

Partilhámos <strong>de</strong> alguns acontecimentos culturais e naqueles em que ele foi o<br />

principal mentor, vi-o sempre maior do que ele próprio se podia imaginar: Queria,<br />

i<strong>de</strong>alizava, encorajava e, fazendo mexer todos os cor<strong>de</strong>linhos da cena, soltava a obra, para<br />

que as pessoas a pu<strong>de</strong>ssem agarrar pelos sentidos. Vê-lo a encenar, é ver os pássaros ao<br />

tempo <strong>de</strong> fazerem os ninhos, com a mestria <strong>de</strong> quem sabe ir mais alto e mais longe… E,<br />

como os pássaros, sempre humil<strong>de</strong>, sempre apaixonado e atento aos sóis, luas e ventos da<br />

vida.<br />

Ei-lo assim, tal como penso, aqui e agora, no diálogo que se segue.<br />

MRC – O que te dizem as palavras «sol» e «Liberda<strong>de</strong>»?<br />

FS – Há palavras que <strong>de</strong> tão «comuns» e <strong>de</strong> tão orgânicas que se tornaram, que dizer o que<br />

significam e ou falar <strong>de</strong>las como que se complica; é como explicar, porventura, porque e<br />

como se respira. Da importância <strong>de</strong>las – das palavras – temo que, <strong>de</strong> as ter por tão<br />

adquiridas, per<strong>de</strong>r a dimensão da sua real substância e importância. Isto preocupa-me<br />

cada vez mais. Direi, no entanto, que Sol e Liberda<strong>de</strong> são como a mesma coisa, porquanto<br />

absolutamente indispensáveis. Quero tê-los sempre e que saiba merecê-los.<br />

MRC – Fotografia?<br />

FS – Hoje manipula-se, tira-se e coloca-se o que se quiser nela. Conceptualmente, ao longo<br />

dos anos teve importâncias diferentes. Hoje faço <strong>de</strong>la uma ferramenta <strong>de</strong> pintura; direi:<br />

fotografo o que gostaria <strong>de</strong> pintar.<br />

MRC – Poesia?<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

03<br />

novembro ‘12


FS – Recorro ao Prof. José Hermano Saraiva. Poesia é A Alma da Gente.<br />

MRC – <strong>Teatro</strong>?<br />

FS – Livros e livros, mestrados e doutoramentos sobre a sua história, o que é e para que<br />

serve. Fico ainda pela resposta anterior: teatro é A Alma da Gente.<br />

MRC – Foi o teatro que te encontrou ou foste tu que encontraste o teatro?<br />

FS – Tenho a certeza absoluta que foi ele que chegou muito antes <strong>de</strong> mim.<br />

MRC – O que é ser-se ator?<br />

FS – Voltamos ao problema das <strong>de</strong>finições, não é? O Herberto Hél<strong>de</strong>r disse: (…) ninguém<br />

ama tão corporalmente como o ator (…). Com o corpo e com a alma. É verda<strong>de</strong>. O ator é<br />

isso.<br />

MRC – Como ator, qual foi a peça em que<br />

te estreaste? Conta como foi.<br />

FS – O Doido e a Morte, <strong>de</strong> Raul Brandão,<br />

já lá vão trinta e tal anos, no <strong>Teatro</strong> dos,<br />

então, TLP do Porto, com direção do Raul<br />

Leite. «Profissionalmente» A Lição <strong>de</strong> E.<br />

Ionesco, há cerca <strong>de</strong> doze anos, no <strong>Teatro</strong><br />

do Noroeste, em Viana do Castelo, com<br />

direção do Jorge Castro Gue<strong>de</strong>s. Foi<br />

muito agradável, uma e outra. Tempos<br />

diferentes, maturida<strong>de</strong> diferente,<br />

recursos diferentes, mas experiências<br />

muito boas, até porque se tivessem sido<br />

más, ter-me-ia ficado por aí.<br />

MRC – Além <strong>de</strong> ator és também<br />

encenador. Como te vês num e noutro<br />

papel? Estas duas pessoas dão-se bem?<br />

Completam-se? Ou preferem trabalhar<br />

separadamente?<br />

FS – Ser-se as duas coisas ao mesmo tempo e no mesmo espetáculo é muito complicado.<br />

Tenho muita dificulda<strong>de</strong> em fazê-lo. Falta espaço <strong>de</strong> leitura. Distanciação. Geralmente,<br />

quando interpreto e dirijo arranjo uma cobaia para <strong>de</strong> vez em quando po<strong>de</strong>r sair e<br />

observar.<br />

MRC – Quais foram os projetos teatrais mais marcantes da tua vida artística?<br />

FS – Não gosto muito <strong>de</strong> algumas coisas que fiz, sobretudo das que pelo trabalho que me<br />

<strong>de</strong>ram, e pela qualida<strong>de</strong> que atingiram e da importância que tiveram para a<br />

comunida<strong>de</strong>, se per<strong>de</strong>ram no caminho. Reconheço que em alguns projetos não fui<br />

suficientemente criterioso na escolha das pessoas em quem <strong>de</strong>leguei a continuida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse projeto. Tirando isso, tive e tenho o privilégio <strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da valia e<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

04<br />

novembro ‘12


dimensão dos projetos que criei e on<strong>de</strong> estive e estou envolvido, ter aprendido muito com<br />

tudo e em tudo, e ter dado o meu contributo para que outras pessoas, mormente jovens, se<br />

tenham igualmente enriquecido com esses trabalhos. No entanto, pelo contexto em que se<br />

<strong>de</strong>senvolve e pelas características muito particulares, atribuo uma satisfação e<br />

importância particulares ao trabalho que faço no contexto escolar e prisional.<br />

MRC – Que tipo <strong>de</strong> encenador és tu? Ou melhor, como ages e conduzes um elenco que<br />

vais encenar? És duro? Implacável?<br />

FS – Os atores com quem trabalho terão essa resposta. Seguramente que uns gostarão,<br />

outros não. Não me preocupe esse juízo. Preocupa-me, sim, o preparar-me o melhor<br />

possível para o meu trabalho, fazer uma avaliação constante do que faço e partilho com<br />

os que comigo trabalham. Interessa-me sempre as pessoas. O espetáculo não é um fim em<br />

si mesmo. Criar laços pessoais fortes com todos é o que <strong>de</strong>sejo. Não sei trabalhar doutro<br />

modo. Parte significativa do tempo <strong>de</strong> ensaios, ocupo-o a refletir sobres coisas passíveis <strong>de</strong><br />

constituírem pontes objetivas para os conteúdos do texto que estou a trabalhar, e isto pela<br />

simples razão <strong>de</strong> que, sobretudo no contexto Associativo e escolar, me interessar<br />

primeiramente que os atores crescem como seres humanos, e só <strong>de</strong>pois vêm aspetos<br />

artísticos. Em relação aos atores, não trabalho com «atores» para quem o teatro é uma<br />

«coisa» sem regras, sem respeito, sem humilda<strong>de</strong>, sem estudo e sem trabalho. Quando isto<br />

acontece alguém fica a mais. Como em qualquer ativida<strong>de</strong>, há trabalho e correlativas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s inerentes às funções <strong>de</strong> cada um. Se cada um cumprir as suas o<br />

resultado surge. Prefiro um ator, que, mesmo sem gran<strong>de</strong>s recursos, esteja sempre<br />

disponível para trabalhar, apren<strong>de</strong>r e ensinar. O <strong>Teatro</strong> precisa é <strong>de</strong>sta gente. Os outros<br />

não acrescentam nada.<br />

MRC –Dizem que não há propriamente uma dramaturgia portuguesa. Mesmo assim,<br />

que autores nacionais mencionarias dignos <strong>de</strong> serem representados?<br />

FS – Dizes bem: diz-se. Mas diz-se tanta coisa não é? Poesia para crianças? Literatura<br />

para crianças? Literatura africana? Dramaturgia clássica? Etc., etc. Já agora: será que<br />

existe dramaturgia sem dramaturgos? Não me interessa essa discussão. O que sei é que<br />

existem dramaturgos portugueses que escrevem excelentes textos. Para além dos<br />

habituais «clássicos«, gosto particularmente <strong>de</strong> outros «clássicos», e refiro apenas alguns<br />

que já trabalhei: Luís <strong>de</strong> Sttau Monteiro, Luís Francisco Rebelo, Hél<strong>de</strong>r Costa, Luísa Costa<br />

Gomes, José Jorge Letria, Jaime Rocha, e mais alguns.<br />

MRC – Que balanço fazes do teatro em Portugal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a revolução dos cravos? Achas<br />

que, finalmente, o nosso país está bem servido e no bom caminho?<br />

FS – Falar do <strong>Teatro</strong> em Portugal é como falar <strong>de</strong> quase <strong>de</strong> tudo, não é? Se hoje dizemos<br />

que isto não está nada bem, é porque o que se fez – na forma e conteúdo – não foi feito<br />

convenientemente. Não se projetou; não se articulou. O resultado não podia ser outro.<br />

MRC – Mesmo tendo em conta as fragilida<strong>de</strong>s do teatro feito nas associações, que<br />

valores ou importância lhe conferes?<br />

FS – A máxima importância. Qualquer ativida<strong>de</strong> artística sendo orientada competente e<br />

responsavelmente, constituiu uma excelente ferramenta no <strong>de</strong>senvolvimento integrado<br />

do ser humano. Digo, há muito tempo, que o teatro Associativo tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

criar sem os constrangimentos do mercado e <strong>de</strong> grupos. Existe a maior das liberda<strong>de</strong>s<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

05<br />

novembro ‘12


para o fazer. Todavia e observando o panorama do teatro Associativo, noto que existe um<br />

défice significativo a vários níveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo formação, e quando digo formação, não me<br />

refiro somente a questões técnicas. Repara: quem vai assistir aos espetáculos? Dos<br />

projetos Associativos on<strong>de</strong> trabalhei e trabalho, travo uma gran<strong>de</strong> luta no sentido <strong>de</strong><br />

sensibilizar os atores a assistirem a espetáculos sejam eles feitos por quem quer que seja.<br />

Dificilmente vão. É uma questão cultural no sentido alargado do termo. É necessário<br />

trabalhar neste campo. O ator tem <strong>de</strong> ser espectador. Tem <strong>de</strong> ser cúmplice.<br />

MRC – És licenciado em <strong>Teatro</strong>. Uma licenciatura tardia. Porquê?<br />

FS – Sempre gostei do ensino. Organizei a minha vida para tirar a licenciatura e po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>saguar no ensino. Infelizmente a conjuntura não favorece o <strong>de</strong>senvolvimento do meu<br />

<strong>de</strong>sejo. Este ano não arranjei escola para trabalhar, mas aguardo melhor sorte para o ano.<br />

Não <strong>de</strong>ito a toalha ao chão, isso não. Enquanto não vir os novos fazerem mais e melhor,<br />

estou cá na luta.<br />

MRC – Fala-nos da tua experiência no <strong>Teatro</strong> S. João. Foi assustadora? Conta.<br />

FS – Nunca programei a minha carreira artística. Não tinha nem tenho condições para o<br />

fazer. Muitas outras coisas me ocupam. Tudo foi acontecendo do modo mais natural. Há<br />

sempre alguém que vai reparando no que vou fazendo. Reconheço por isso, que <strong>de</strong> vez em<br />

quando sou um privilegiado. E aconteceu, como tinha já acontecido em relação ao <strong>Teatro</strong><br />

do Noroeste, à Seiva Trupe, ao <strong>Teatro</strong> do Bolhão ACE e a outros convites na área da Poesia.<br />

Reconheço, no entanto, que trabalhar no <strong>Teatro</strong> Nacional teve um encanto particular,<br />

sobretudo pelo que ganhei em ter trabalhado com o Nuno Carinhas, um ser humano<br />

extraordinário, e o ter privado e partilhado o meu trabalhado com um conjunto <strong>de</strong> colegas<br />

excelentes. Foi tudo muito natural, muito tranquilo. Aguardo a chegada <strong>de</strong> Fevereiro para<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

06<br />

novembro ‘12


me reencontrar com todos para voltarmos a apresentar Alma <strong>de</strong> Gil Vicente. Tenho<br />

sauda<strong>de</strong>s.<br />

MRC – O que estás presentemente a fazer, quer como ator quer como encenador?<br />

FS – Até Fevereiro, faço várias coisas. Como não arranjei escola para trabalhar este ano,<br />

estou a ultimar uma nova versão do Padre António Vieira (a partir dos sermões da<br />

Sexagésima e <strong>de</strong> Santo António aos Peixes), que vou interpretar. Como encenador estreio<br />

em Dezembro O Espelho e ainda A história da Boneca Abandonada, em dois projetos<br />

Associativos.<br />

MRC – Todos somos atraídos por projetos que, pela sua gran<strong>de</strong>za ou pela sua<br />

envergadura, vamos adiando. Quais são os teus, em ambos os casos (ator e encenador)?<br />

FS – Gostava <strong>de</strong> ter condições (ao nível <strong>de</strong> produção), para refazer: Portas Abertas (a<br />

partir da vida e obra do Padre Américo). Zé do Telhado e Camilo Castelo Branco. Refazer O<br />

Barão <strong>de</strong> Sttau Monteiro e gostava muito <strong>de</strong> fazer O coração <strong>de</strong> um pugilista <strong>de</strong> Lutz<br />

Hubner.<br />

MRC – O que te apraz dizer sobre os fóruns realizados pela <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong>?<br />

FS – Um trabalho necessário e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>. No entanto, e já o comuniquei, entendo<br />

que <strong>de</strong>vem re<strong>de</strong>finir, especialmente, o que se preten<strong>de</strong> com o vetor da formação.<br />

MRC – Que recado darias aos jovens que pensam estudar e fazer carreira no teatro?<br />

FS – Que não se esqueçam <strong>de</strong> que estão em Portugal. Que isso não os impeça – apesar <strong>de</strong> tal<br />

- <strong>de</strong> ter os seus sonhos e <strong>de</strong> os tentar materializar. Mas que sejam pragmáticos. «Dois<br />

licenciados em <strong>Teatro</strong>, por uma prestigiada escola americana, reencontraram-se alguns<br />

anos mais tar<strong>de</strong> e perguntam um ao outro quase em simultâneo: em que restaurante<br />

trabalhas?”<br />

MRC – Além do <strong>Teatro</strong>, que outras artes te emprestam alegria <strong>de</strong> viver?<br />

FS – Poesia, sobretudo poesia. Direi até que mais que o teatro. Tenho também vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voltar a pintar, e <strong>de</strong> me organizar para ter tempo para o cântico gregoriano.<br />

MRC – Fora da tua ação profissional, quais são os elos mais importantes que te pren<strong>de</strong>m<br />

à vida?<br />

FS – Filhos e netos, os amigos, as sauda<strong>de</strong>s da infância e dos que já não tenho comigo. Ter<br />

tempo para ler o muito que falta ler, ouvir a muita música que tenho, e estar simplesmente<br />

aqui no meio do monte com os meus cães usufruindo tudo com que a natureza me<br />

presenteia constantemente, e ser merecedor <strong>de</strong> tudo isso.<br />

MRC – Olhando para trás, que dirias, hoje, <strong>de</strong> ti mesmo?<br />

FS – Os poetas dizem isso muito bem. O Albano Martins disse: «Pertence-te ser homem e<br />

afirmar todos os dias que tens um compromisso: ser claro e brando como a luz e, como ela,<br />

necessário, e não <strong>de</strong>ixar crescer à tua porta ervas daninhas.» Cada dia que passa é um dia<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

07<br />

novembro ‘12


a menos, não é? Ficará quase tudo por fazer, no entanto, tento manter esse compromisso<br />

… O Pessoa dizia: (…) para ser gran<strong>de</strong> sê inteiro (…) Sê tudo em cada coisa (…) Põe<br />

quanto és no mínimo que fazes (…) Espero que os que me recordarem o façam com a<br />

maior das indulgências. Isso me «dará» um gran<strong>de</strong> sossego.<br />

MRC – Gostas das pessoas?<br />

FS – Um dia <strong>de</strong>stes disseram-me que estou menos falador. Sabes, tenho um medo enorme<br />

<strong>de</strong> dizer ou fazer o que não <strong>de</strong>vo, sobretudo aos <strong>de</strong> quem gosto. Tenho medo, se isso<br />

acontecer, <strong>de</strong> não ter tempo nem capacida<strong>de</strong> para o remediar. Isto apavora-me<br />

terrivelmente.<br />

MRC – De Deus?<br />

FS – Volto a Pessoa: (…) nunca o vi. Mas se Deus é as flores e os montes e o luar e o sol,<br />

então acredito nele. Acredito nele a toda a hora.<br />

E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste diálogo, apraz-me dizer, para terminar, que na sua voz, na voz que<br />

lhe vem do seu interior, todas as palavras são mais palavras. E sempre magníficas.<br />

Mérito seu. Privilégio nosso ouvi-lo.<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

08<br />

novembro ‘12


estreia<br />

X FÓRUM PERMANENTE DE TEATRO<br />

Setúbal 2012<br />

O Grupo <strong>de</strong> Animação e <strong>Teatro</strong> Espelho<br />

Mágico e a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong><br />

organizaram o Fórum, o Município <strong>de</strong> Setúbal<br />

e a Escola Secundária Sebastião da Gama<br />

foram os parceiros em toda a plataforma<br />

logística, os apoios chegaram do Inatel, do<br />

IPDJ e do TAS – <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Animação <strong>de</strong><br />

Setúbal.<br />

José Teles<br />

Director do Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong><br />

180 participantes... 20 companhias... Este é o saldo, positivo, da décima edição do<br />

Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> que aconteceu em Setúbal entre os dias 5 e 7 <strong>de</strong><br />

Outubro <strong>de</strong> 2012.<br />

Compareceram as associadas: Acção Teatral<br />

Artimanha, Agaiarte - Associação Gaia Arte<br />

Estúdio, Alma <strong>de</strong> Ferro - Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> -<br />

Associação Cultural <strong>de</strong> Torre <strong>de</strong> Moncorvo,<br />

CEGADA - Grupo <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>, Cénico <strong>de</strong> S.<br />

Joaninho - Clube Recreativo <strong>de</strong> São Joaninho,<br />

Contacto - Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Água<br />

Corrente <strong>de</strong> Ovar, GETAS - Centro Cultural <strong>de</strong><br />

Sardoal, Gota TeatrOficina, Grupo <strong>de</strong><br />

Animação e <strong>Teatro</strong> Espelho Mágico, Grupo <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> Palha <strong>de</strong> Abrantes, Grupo Mérito<br />

Dramático Avintense, Gruta Forte - Grupo <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> Amador, Metamorphose - Centro <strong>de</strong> Divulgação Artística, Páteo das Galinhas<br />

<strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Bico, <strong>Teatro</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Loures, <strong>Teatro</strong> Nova Morada, <strong>Teatro</strong> Olimpo -<br />

Associação Recreativa e Teatral dos Jovens e Amigos <strong>de</strong> Constantina, <strong>Teatro</strong> Passagem<br />

<strong>de</strong> Nível, <strong>Teatro</strong> Vitrine - Grupo Cultural e Recreativo Nun'Alvares, Tin.Bra (Grupo <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> Infantil <strong>de</strong> Braga) e ainda, a não associada Grupo Citânia Associação Juvenil.<br />

Dividiram-se pelos paineis <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Actores, com os formadores - PORFIRIO<br />

LOPES; FERNANDO SOARES; JORGE FRAGA; CARLOS ALVES; HUGO SOVELAS;<br />

POMPEU JOSÉ; <strong>de</strong> Encenação com ILDA TEIXEIRA; <strong>de</strong> Iluminação com PAULO PRATA<br />

RAMOS; <strong>de</strong> Cenografia e A<strong>de</strong>reços com os formadores JOÃO FONSECA BARROS e RITA<br />

TORRÃO respectivamente; Desenho <strong>de</strong> Som com PEDRO ESTEVES; <strong>de</strong> Caracterização<br />

com AURORA GAIA, Escrita Criativa com MANUEL RAMOS COSTA e o Painel <strong>de</strong><br />

Dirigentes Associativos com a formadora SANDRA PAULA BARRADAS.<br />

O autor homenageado, NORBERTO ÁVILA, marcou presença física e com a sua obra,<br />

UMA NUVEM SOBRE A CAMA e HISTÓRIAS DE HAKIM.<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

09<br />

novembro ‘12


Sexta-feira, dia 5 <strong>de</strong><br />

Outubro em Portugal - dia<br />

d e c o m e m o r a r a<br />

Implantação da Republica<br />

- na cida<strong>de</strong> sadina <strong>de</strong><br />

Setúbal - o GATEM, Grupo<br />

Animação e <strong>Teatro</strong> Espelho<br />

Mágico, implanta o cenário<br />

no Palco do renovado<br />

Fórum Luisa Todi.<br />

Dos mais diversos pontos<br />

do País, começam a chegar<br />

os participantes do Fórum<br />

Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>,<br />

para a formação, a aprendizagem, em suma, para participar num encontro em que o<br />

objectivo principal, tal como o dos i<strong>de</strong>ais Republicanos, é a educação.<br />

Com o auditório do Fórum Luisa Todi, praticamente esgotado, inicia-se o espectáculo,<br />

“PINÓQUIO” - adaptação livre <strong>de</strong> Céu Campos da obra <strong>de</strong> Carlo Collodi e assim são<br />

recebidos pela associada anfitriã e pela população da cida<strong>de</strong> os participantes no X<br />

Fórum. No final, tempo houve para constatar que este era o primeiro espectáculo <strong>de</strong><br />

teatro a acontecer após a renovação do Luisa Todi e como tal relembrar Carlos César,<br />

actor do <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Animação <strong>de</strong> Setubal, por ter sido esta a sua “casa”, foi um imperativo.<br />

Sábado, 6 <strong>de</strong> Outubro, logo pela manhã o secretariado está aberto, a cre<strong>de</strong>nciação é<br />

efectuada e no Auditório, a Cerimónia <strong>de</strong> Abertura começa no horário previsto, as<br />

alocuções são <strong>de</strong> boas vindas ao auditório renovado, à cida<strong>de</strong> e ao Fórum <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>, e,<br />

após se constatar que as ban<strong>de</strong>iras, incluindo a Nacional, estavam correctamente<br />

colocadas (não fosse acontecer como ao Presi<strong>de</strong>nte da República, no dia anterior nas<br />

comemorações da Implantação da República) o fórum arranca para o seu principal<br />

objectivo, os painéis <strong>de</strong> formação, em salas da Escola Secundária Sebastião da Gama.<br />

Após o jantar, <strong>de</strong> novo <strong>Teatro</strong> no Luisa Todi, <strong>de</strong>sta vez: “GRADIM À JANELA DA<br />

AUSÊNCIA” <strong>de</strong> Manuel Ramos Costa, pela CONTACTO – Companhia <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Água<br />

Corrente <strong>de</strong> Ovar. Pela noite <strong>de</strong>ntro, na Socieda<strong>de</strong> Musical Recreativa União<br />

Setubalense a tertúlia do Fórum com<br />

música ao vivo pelo “Os Canto Hondo” e<br />

ainda tempo para poesia <strong>de</strong> vários<br />

participantes, dos quais <strong>de</strong>stacamos a<br />

prestação <strong>de</strong> Aurora Gaia e Fernando<br />

Guerreiro. É neste ambiente que os<br />

subscritores do Manifesto 1% para a<br />

Cultura apresentam o seu projecto.<br />

Domingo <strong>de</strong> manhã os painéis recomeçam,<br />

com o ânimo <strong>de</strong> terminar e apresentar os<br />

resultados obtidos. Interrompem para o<br />

almoço, com a companhia dos golfinhos na<br />

sala dos Bombeiros e está na hora <strong>de</strong> voltar<br />

ao Fórum (a avenida até parecia que se<br />

tinha engalanado para nos receber). Dona<br />

Luísa Todi, esperava-nos à porta com o seu<br />

Revista<br />

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melhor vestido <strong>de</strong> noite <strong>de</strong> ópera. Entrámos, agra<strong>de</strong>cemos a todos, ouvimos a<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Município agra<strong>de</strong>cer a realização <strong>de</strong>sta edição na sua Cida<strong>de</strong>,<br />

curiosamente a primeira capital <strong>de</strong> distrito on<strong>de</strong> este evento se realiza e partimos para<br />

a apresentação do espectáculo produzido no âmbito <strong>de</strong>ste fórum:<br />

“UMA NUVEM SOBRE A CAMA” <strong>de</strong> Norberto Ávila<br />

Encenação e Interpretação: Formadores e Formandos dos Painéis <strong>de</strong> Actores<br />

Orientados pelos respectivos Formadores<br />

Cenografia e A<strong>de</strong>reços: Formandos dos Painéis <strong>de</strong> Cenografia e A<strong>de</strong>reços<br />

Iluminação – Formandos do Painel <strong>de</strong> Iluminação<br />

Sonoplastia: Formandos do Painel <strong>de</strong> Desenho <strong>de</strong> Som<br />

Caracterização: Formandos do Painel <strong>de</strong> Caracterização<br />

O autor dava-nos sinais <strong>de</strong> reconhecimento pelo trabalho e mostrando-nos isso, na<br />

Sexta-feira, ainda na estação dos comboios chega-nos sorri<strong>de</strong>nte, carregando a capa<br />

on<strong>de</strong> trazia uma exposição <strong>de</strong> cartazes da apresentação pelo mundo duma das suas<br />

obras “Histórias <strong>de</strong> Hakim”. Assiste e intervém em todos os momentos do Fórum,<br />

participa em painéis tanto com i<strong>de</strong>ias como, noutros, na concepção plástica.<br />

Falámos bastante, sobre o seu currículo, sobre a sua obra, encetámos contactos...<br />

Tirámos uma fotografia todos, assumindo a postura <strong>de</strong> que se tinha cumprido o Fórum.<br />

Despedimo-nos até à décima primeira edição do Fórum, com a certeza que o<br />

saberíamos muito em breve.<br />

Encetam-se contactos com o <strong>Teatro</strong> Vitrine e confirma-se:<br />

XI Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> - FAFE - 25, 26 e 27 <strong>de</strong> Janeiro 2013<br />

Até lá.<br />

Revista<br />

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programa <strong>de</strong> sala<br />

O Grupo Nun' Álvares foi fundado a 6 <strong>de</strong> Novembro<br />

<strong>de</strong> 1932. O objetivo primeiro, era dar ocupação aos<br />

jovens que os ajudasse na sua formação pessoal.<br />

Inicialmente aberto a rapazes, as raparigas<br />

esporadicamente tinham tido alguma ativida<strong>de</strong>. Só<br />

no ano <strong>de</strong> 1975 é que se tornaram membros <strong>de</strong><br />

pleno direito com a alteração dos estatutos.<br />

As primeiras ativida<strong>de</strong>s, foram música coral e teatro. Hoje, o Nun`Álvares, além <strong>de</strong>stas<br />

ativida<strong>de</strong>s, tem também Patinagem Artística, Hóquei em Patins, Futsal (7 equipas<br />

masculinas e femininas) Danças <strong>de</strong> Salão, Hip Hop, Ginástica, Kick Boxing, Música<br />

Regional e Aulas <strong>de</strong> Viola.<br />

Para toda esta ativida<strong>de</strong> dispõe o Grupo Nun` Álvares <strong>de</strong> se<strong>de</strong> própria com pavilhão<br />

<strong>de</strong>sportivo acoplado e outras infraestruturas. Mas antes <strong>de</strong> aqui chegar, o GNA que<br />

começou num local provisório dum salão paroquial e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> percorrer uma série <strong>de</strong><br />

instalações, felizmente instalou-se na se<strong>de</strong> atual.<br />

Hoje é Coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Utilida<strong>de</strong> Pública, Medalha <strong>de</strong> Ouro <strong>de</strong> Mérito Concelhio e<br />

Medalha <strong>de</strong> Prata do Município (Mérito e Gratidão) entre outras distinções.<br />

<strong>Teatro</strong> Vitrine<br />

Depois duma ação <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> teatro<br />

levada a efeito pela Câmara Municipal,<br />

um grupo remanescente <strong>de</strong>ssa ação<br />

juntou-se para fazer teatro. Sentindo<br />

necessida<strong>de</strong>s do ponto <strong>de</strong> vista<br />

organizacional e logístico, socorreram-se<br />

do GNA que os acolheu <strong>de</strong> braços abertos,<br />

fundindo-se com alguns elementos já<br />

resi<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>signados <strong>de</strong> “TEATRO<br />

VITRINE“, <strong>de</strong>dicados ao lema “Em representação <strong>de</strong> um sonho“.<br />

A Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste grupo tem sido contínua e hoje é já um ponto <strong>de</strong> referência no meio<br />

artístico fafense.<br />

Vários são os trabalhos e temáticas apresentadas, tentando a valorização pessoal e a<br />

satisfação do público amante <strong>de</strong> teatro.<br />

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FAFE<br />

sala <strong>de</strong> visitas do minho<br />

Fafe é uma jovem cida<strong>de</strong> do Minho, mas com origens antigas. Por aqui andaram povos<br />

como os Lusitanos e os Romanos que <strong>de</strong>ixaram marcas consi<strong>de</strong>ráveis, hoje pontos<br />

atrativos aos visitantes. É uma terra, pequena, mas com valor, pois possui inúmeros<br />

monumentos e agradáveis espaços ver<strong>de</strong>s.<br />

É também conhecida pelo lema “ Com Fafe ninguém fanfe”, lema esse que apareceu<br />

quando, há muitos anos atrás, se fez justiça a favor do Viscon<strong>de</strong> Moreira <strong>de</strong> Rei. Nesse<br />

tempo, como agora, o lema provoca um sorriso <strong>de</strong> simpatia por todos os fafenses.<br />

Talvez por isso e por ser uma pequena cida<strong>de</strong> que tão bem acolhe os visitantes, Fafe foi e<br />

ainda é consi<strong>de</strong>rada a Sala <strong>de</strong> Visitas do Minho, estando situada a 32 km da capital <strong>de</strong><br />

distrito, Braga.<br />

O concelho <strong>de</strong> Fafe possui uma<br />

á r e a d e 2 1 9 , 0 9 k m 2<br />

aproximadamente, <strong>de</strong> que<br />

fazem parte 36 freguesias, às<br />

q u a i s s e e n c o n t r a m<br />

circundadas pelos concelhos<br />

<strong>de</strong> Cabeceiras <strong>de</strong> Basto,<br />

Guimarães, Póvoa <strong>de</strong> Lanhoso,<br />

Felgueiras e Vieira do Minho.<br />

Fafe situa-se num vale entre a<br />

Serra da Lameira, os Montes da<br />

Penha e outras montanhas.<br />

Numa vista aérea <strong>de</strong>stacam-se<br />

t r ê s r i o s l a d e a d o s p o r<br />

arvoredo e que se espreguiçam<br />

pela periferia da cida<strong>de</strong>. São eles o Rio Ferro que tem a sua nascente para o lado <strong>de</strong><br />

Moreira <strong>de</strong> Rei, o Rio do Bugio que inicia o seu percurso para os lados <strong>de</strong> S. Gens e o Rio<br />

Vizela que acolhe os outros dois e <strong>de</strong>sagua no Rio Ave.<br />

O Rio Vizela está enriquecido com uma barragem na freguesia <strong>de</strong> Queima<strong>de</strong>la, po<strong>de</strong>ndo<br />

proporcionar aos visitantes o agradável sossego e frescura <strong>de</strong> uma praia fluvial la<strong>de</strong>ada<br />

pela verdura da natureza.<br />

O concelho <strong>de</strong> Fafe possui alguns monumentos históricos, <strong>de</strong>ixados pelos primeiros<br />

povos que por aqui passaram, tais como a civilização castreja <strong>de</strong> que é testemunho o<br />

castro <strong>de</strong> St.º Oví<strong>de</strong>o on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos ver vestígios das suas construções, e on<strong>de</strong> foi<br />

encontrada a estátua <strong>de</strong> um guerreiro Galaico, atualmente exposto no Museu Martins<br />

Sarmento em Guimarães.<br />

Existem ainda duas igrejas <strong>de</strong> estilo Românico apesar <strong>de</strong> se encontrarem já bastante<br />

Revista<br />

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capitais.<br />

adulteradas, são elas a Igreja<br />

Românica <strong>de</strong> Arões, construída<br />

no séc. XIII e a Igreja <strong>de</strong> S. Gens<br />

que é o que resta <strong>de</strong> um antigo<br />

Mosteiro <strong>de</strong> traça Românica.<br />

Existem ainda residências<br />

apalaçadas <strong>de</strong> arquitetura com<br />

fortes marcas brasileiras, uma<br />

vez que foram construídas por “<br />

brasileiros <strong>de</strong> torna-viagem “<br />

como forma <strong>de</strong> investir os seus<br />

Nestas arquiteturas é <strong>de</strong> salientar a Igreja Matriz <strong>de</strong> St.ª Eulália (séc. XVIII-XIX), o Solar<br />

do Santo Velho (séc. XVIII), o Solar da Luz (séc. XVIII-XIX) e o <strong>Teatro</strong>-Cinema construído<br />

em 1923 que apresenta uma bela fachada pintada.<br />

A Casa do Penedo situa-se na freguesia <strong>de</strong> Várzea Cova, concelho <strong>de</strong> Fafe, na região norte<br />

<strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong>vendo o seu nome ao facto <strong>de</strong> ter sido construída entre quatro rochas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s dimensões que integram a própria estrutura da casa.<br />

M a i s c o n c r e t a m e n t e , e s t a<br />

edificação localiza-se na Serra <strong>de</strong><br />

Fafe, a 10 km a nor<strong>de</strong>ste do centro<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fafe, em direção a<br />

Cabeceiras <strong>de</strong> Basto.<br />

A sua construção foi iniciada em<br />

1972 e durou cerca <strong>de</strong> dois anos,<br />

tratando-se <strong>de</strong> uma residência<br />

r u ra l , u t i l i z a d a p e l o s s e u s<br />

proprietários como <strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />

férias.<br />

A Casa do Penedo integra-se<br />

completamente na sua paisagem<br />

rural envolvente. A sua construção<br />

é na sua totalida<strong>de</strong> feita em rocha, à exceção das portas, janelas e telhado.<br />

O interior apresenta também um estilo rústico, on<strong>de</strong> a mobília, as escadas e os<br />

corrimões são feitos <strong>de</strong> troncos. O sofá, pensado ao estilo rústico, é feito em betão e<br />

ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> eucalipto e pesa 350 kg, fazendo <strong>de</strong>sta casa um local a visitar e que tem<br />

<strong>de</strong>spertado a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos turistas ao longo do mundo, face a sua<br />

originalida<strong>de</strong> e beleza. Não possui qualquer instalação eléctrica.<br />

Revista<br />

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oca <strong>de</strong> cena<br />

O TEATRO AMADOR:<br />

Uma referência local,<br />

um movimento nacional<br />

Rui Sérgio<br />

Fundação INATEL<br />

Hoje, quando o país atravessa uma crise que todos conhecemos, provocada por uma<br />

crise mundial, que teve mais ou menos impacto na portuguesa, segundo as várias<br />

sensibilida<strong>de</strong>s políticas, constatamos que cada vez mais sectores da socieda<strong>de</strong> civil são<br />

apoiados com programas governamentais ou europeus.<br />

É a função do Estado Social? Não é a função do Estado Social? A Realida<strong>de</strong> é que estes<br />

apoios existem, são indispensáveis à sobrevivência individual e coletiva. No entanto,<br />

ninguém diz que são subsídio<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Por que razão os únicos<br />

subsídio<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes neste país são as Mulheres e os Homens que teimam em a fazer<br />

<strong>Teatro</strong> em Portugal? É claro que é uma batalha antiga. É claro que o teatro em Portugal<br />

está em crise mesmo antes <strong>de</strong> existir crise em Portugal.<br />

É um chavão “o teatro está a passar uma gran<strong>de</strong> crise”. Mas é importante que se<br />

continue a falar da crise no teatro, porque sempre ouvi falar em crise no teatro. Quando<br />

se <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> falar na crise do teatro em Portugal, a questão é: o que é que aconteceu ao<br />

teatro em Portugal? O que é que aconteceu a Portugal?<br />

Os apoios à cultura são fundamentais e não são exclusivos <strong>de</strong> Portugal. É fundamental<br />

que a Secretaria <strong>de</strong> Estado da Cultura continue a apoiar o teatro em Portugal. É<br />

necessário que as regras sejam <strong>de</strong>finidas e claras. Que haja espaço para as companhias<br />

que fazem parte do tecido teatral português, que haja espaço para os novos projetos <strong>de</strong><br />

novos criadores que vão surgindo das escolas <strong>de</strong> formação, que haja espaço para o<br />

teatro amador. Que haja espaço para o <strong>Teatro</strong> em Portugal. Mas é preciso ter<br />

consciência que os apoios do po<strong>de</strong>r central ficam aquém dos orçamentos<br />

apresentados. É necessário diversificar a origem das receitas e dos suportes<br />

financeiros. Aqui, os <strong>Teatro</strong>s Municipais têm um papel importante como<br />

dinamizadores da ativida<strong>de</strong> Cultural da região.<br />

Exponenciar a ativida<strong>de</strong> das estruturas profissionais e amadoras da região fazedoras<br />

<strong>de</strong> cultura, diversida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong>, coproduzir espetáculos com as Companhias <strong>de</strong><br />

<strong>Teatro</strong> subsidiadas pela Secretaria <strong>de</strong> Estado da Cultura, sediadas na região, privilegiar<br />

as relações com as estruturas locais a nível programático, são alguns dos vetores <strong>de</strong><br />

atuação que os <strong>Teatro</strong>s e Centros Culturais Municipais <strong>de</strong>vem ter. Um <strong>Teatro</strong> Municipal<br />

não po<strong>de</strong> ser, não <strong>de</strong>ve ser apenas barriga <strong>de</strong> aluguer das gran<strong>de</strong>s produções nacionais,<br />

com as figuras mediáticas do momento.<br />

O papel da Fundação INATEL é o apoio à Cultura Amadora Tradicional. No caso<br />

específico do <strong>Teatro</strong> Amador existem dois programas <strong>de</strong> apoio: o PACA – Programa <strong>de</strong><br />

Apoio à Cultura Amadora e o PAAM – Programa <strong>de</strong> Apoio às Associações em<br />

Movimento. Mas o seu papel não se reduz apenas a estes dois programas. A formação<br />

<strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s dos grupos a nível distrital, após o levantamento feito<br />

nas visitas técnicas que vão <strong>de</strong> norte a sul do país e ilhas, dirigidas por profissionais da<br />

Revista<br />

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área; a parceria com a <strong>Fe<strong>de</strong>ração</strong> <strong>Portuguesa</strong> <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> Amador e com a Câmara<br />

Municipal da Póvoa do Lanhoso, no que diz respeito ao Concurso Nacional <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong>;<br />

os Concursos <strong>de</strong> Dramaturgia “Novos Textos” e “Prémio Miguel Rovisco” para<br />

incentivar a dramaturgia nacional; o apoio à Produção Teatral, com o apoio direto ao<br />

grupo <strong>de</strong> teatro Amador, vencedor do Concurso Nacional que vai produzir a<br />

encenação do texto vencedor do Concurso <strong>de</strong> Dramaturgia.<br />

É assim um projeto global, utilizando todas as ativida<strong>de</strong>s referentes ao teatro, numa<br />

perspetiva formativa que se reflita na qualida<strong>de</strong> do espetáculo e dar uma maior<br />

visibilida<strong>de</strong> ao <strong>Teatro</strong> Amador que se faz em Portugal e que é sistematicamente<br />

esquecido.<br />

A importância da intervenção na área da cultura amadora, as capacida<strong>de</strong>s e<br />

voluntarismo e a predisposição para trabalhar em re<strong>de</strong> com a Fundação formam um<br />

património único que <strong>de</strong>verá ser aprofundado. Trata-se, acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> saber<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e valorizar uma matriz <strong>de</strong> saberes e <strong>de</strong> práticas, sem a pretensão <strong>de</strong> impor<br />

mo<strong>de</strong>los culturais preconcebidos, estritamente ligados às raízes do nosso património<br />

cultural, promovendo em simultâneo uma melhor fruição dos tempos livres, através<br />

<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> incentivo que valorizem as iniciativas locais. Esta é uma parceria<br />

estratégica permanente, pautada por critérios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> estímulo à<br />

criativida<strong>de</strong> e ao <strong>de</strong>senvolvimento das práticas teatrais amadoras.<br />

As associações teatrais são afinal pequenos / gran<strong>de</strong>s centros culturais, são aquilo<br />

que po<strong>de</strong>mos apelidar <strong>de</strong> Pontos <strong>de</strong> Cultura (utilizando um termo <strong>de</strong> um programa<br />

que atualmente é <strong>de</strong>senvolvido no Brasil).<br />

Estes pontos culturais estruturam-se <strong>de</strong> maneiras diferentes, não têm uma matriz<br />

única, um mo<strong>de</strong>lo pré-<strong>de</strong>finido, mas têm um ponto em comum: a cultura, uma prática<br />

cultural que atravessa a socieda<strong>de</strong> portuguesa, que é transversal à socieda<strong>de</strong>. Sejam<br />

grupos <strong>de</strong> teatro, etnográficos, musicais que se <strong>de</strong>diquem à recolha das tradições<br />

populares e à recolha da tradição oral, que tenham uma prática formativa, pedagógica<br />

é esta a diversida<strong>de</strong> cultural, estes sabores e paladares, as cores que faz com que um<br />

pequeno país seja gran<strong>de</strong> e forte.<br />

Quando se caminha para uma socieda<strong>de</strong> ultraliberal, sem rumo, à beira do abismo,<br />

esta forma <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> estar, esta diversida<strong>de</strong> cultural, esta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção<br />

na comunida<strong>de</strong> cria capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistir, <strong>de</strong> operarmos as mudanças necessárias<br />

para o nosso <strong>de</strong>senvolvimento comunitário, local e regional.<br />

Estes pontos <strong>de</strong> cultura são fundamentais na comunida<strong>de</strong>. São pontos <strong>de</strong> encontro,<br />

são pontos on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>finem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, diferenças. Numa socieda<strong>de</strong> global, estes<br />

pontos <strong>de</strong> cultura são espaços em que as pessoas po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem agir localmente. A<br />

Cultura não é estática, é dinâmica. Ela <strong>de</strong>senvolve-se, muda com o passar do tempo.<br />

Não é um produto ou um conjunto <strong>de</strong> produtos, é um processo <strong>de</strong> e em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Um processo que origina riqueza e não apenas riqueza cultural. Os<br />

pontos <strong>de</strong> cultura são um motor local e comunitário no dinamismo, na produção <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ias, na criação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma imagem. Esta participação ativa, este<br />

interferir na realida<strong>de</strong> não é o futuro, mas ajuda a fazer o futuro.<br />

Para a INATEL Cultura é estratégico potenciar e aprofundar as relações <strong>de</strong><br />

colaboração e parceria com as associações culturais amadoras e garantir uma política<br />

nacional <strong>de</strong> apoios estruturados. O <strong>Teatro</strong> Amador tem um papel fundamental nesta<br />

riqueza cultural, neste refazer <strong>de</strong> consciências.<br />

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eportório<br />

TEATRO ARTE E EDUCAÇÃO (I)<br />

João Maria André<br />

Professor Catedrático<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra<br />

Não constitui qualquer novida<strong>de</strong> que o teatro tem um enorme potencial educativo. Se já<br />

no século XIX os principais responsáveis pela construção dos teatros nacionais<br />

afirmaram esse potencial, ele viu-se profundamente reconhecido quando, na<br />

passagem do século, e por efeito <strong>de</strong> uma coincidência <strong>de</strong> esforços que atravessaram<br />

toda a Europa, se começaram a implementar os programas <strong>de</strong> “<strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Arte” que<br />

haveriam <strong>de</strong> dar o nome, em primeiro lugar à companhia estabelecida em França por<br />

Paul Fort, na sequência do Théâtre Libre <strong>de</strong> Antoine, logo a seguir à companhia <strong>de</strong><br />

Stanislavski e Nemirovitch-Dantchenko, e pouco <strong>de</strong>pois, na Alemanha, à companhia <strong>de</strong><br />

Georg Fuchs, constituindo, igualmente uma ban<strong>de</strong>ira, na Inglaterra, da acção<br />

<strong>de</strong>senvolvida por Edward Gordon Craig. Na mesma altura, Maurice Pottecher<br />

estabelecia como divisa do seu Théâtre du Peuple, em Bussang, as palavras “Pela Arte,<br />

para a Humanida<strong>de</strong>”, aliando assim à explícita intervenção artística, uma clara intenção<br />

pedagógica do povo e para o povo.<br />

A longo do século XX essa intenção foi recorrentemente retomada, em nome <strong>de</strong> várias<br />

estéticas, sendo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar, sobretudo, todo o trabalho <strong>de</strong>senvolvido por B. Brecht em<br />

torno do teatro épico na sua aliança com um teatro didáctico, visando<br />

simultaneamente preencher o fim da arte, que é o divertimento, e a sua articulação com<br />

os dinamismos transformadores da socieda<strong>de</strong>. E, inspirado pelo mesmo objectivo <strong>de</strong><br />

articular fecundamente a arte com a vida social, toda a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida por<br />

Augusto Boal com o seu “teatro do oprimido” numa feliz convergência com a<br />

“pedagogia do oprimido” <strong>de</strong> Paulo Freire, se traduziu numa elevação do espectador à<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> actor, não apenas do teatro, mas também do mundo em que vive, como ele<br />

expressivamente refere num texto significativamente intitulado “a arte na política e a<br />

política da arte”: “o espectador, invadindo a cena, transforma-se em escultor, em<br />

músico, em poeta, em suma, entrando em cena e, mostrando, em acção, sua vonta<strong>de</strong>,<br />

sendo actor, sendo protagonista, o espectador se transforma em cidadão”.<br />

Nas últimas décadas do século XX, esta articulação entre teatro, arte e educação viu-se<br />

significativamente aprofundada por toda a atenção que, por um lado, foi sendo<br />

concedida ao projecto <strong>de</strong> uma educação artística e <strong>de</strong> uma educação pela arte, e que,<br />

por outro lado, no domínio da psicologia e das ciências cognitivas, levou à <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> outras dimensões da inteligência, para além das dimensões estritamente lógicas,<br />

postulando uma razão que pensa sentindo e que sente pensando, e superando assim a<br />

dicotomia que se foi instaurando ao longo <strong>de</strong> séculos no pensamento oci<strong>de</strong>ntal entre<br />

inteligência e emoção e entre razão e paixão, dicotomia essa que é her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> uma<br />

outra mais antiga e perturbadora e que se pren<strong>de</strong> com o dualismo entre a alma, o<br />

espírito, a mente ou a consciência e o corpo, na sua dimensão física e material. O<br />

cruzamento <strong>de</strong>stas tendências e a sua concretização pedagógica <strong>de</strong>u origem ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos serviços educativos que, constituindo extensões<br />

complementares importantes dos diversos equipamentos culturais como museus,<br />

Revista<br />

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teatros, salas <strong>de</strong> exposições, cinemas, casas da música, casas da cultura ou<br />

conservatórios, se vêm afirmando como as interfaces mais interventivas nesta aliança<br />

entre arte e educação. No nosso país, constituiu um momento alto neste percurso rumo<br />

à valorização da educação artística a realização da Conferência Mundial sobre<br />

Educação Artística, em Lisboa, em Março <strong>de</strong> 2006, e da Conferência Nacional sobre<br />

Educação Artística, no Porto, em Outubro <strong>de</strong> 2007.<br />

A articulação entre arte e educação, suposta no conceito <strong>de</strong> educação artística, seja na<br />

esfera do teatro, seja na esfera da música, do cinema, da pintura ou <strong>de</strong> outra qualquer<br />

disciplina artística, remete para diferentes experiências e para diferentes caminhos no<br />

âmbito da educação e da pedagogia e seria um erro olhá-los a todos como se <strong>de</strong> uma<br />

única realida<strong>de</strong> se tratasse. Esses diferentes caminhos po<strong>de</strong>riam configurar-se<br />

fundamentalmente a partir <strong>de</strong> três tipos: a educação pela arte, a educação para a arte e<br />

a educação na arte. Qualquer um <strong>de</strong>stes três tipos mobiliza diferentes estratégias,<br />

<strong>de</strong>ferentes competências e visa objectivos diferentes, ainda que em todos eles se<br />

procure fazer uma educação em que a arte é mobilizada enquanto campo especial <strong>de</strong><br />

intervenção pedagógica.<br />

A educação pela arte implica a mobilização dos recursos artísticos num contexto mais<br />

vasto da educação e tendo em vista finalida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ultrapassar os objectivos<br />

estritamente artísticos. Assim, quando, numa aula <strong>de</strong> Filosofia, a propósito <strong>de</strong> uma<br />

reflexão sobre as mudanças conceptuais envolvidas por um revolução científica, se<br />

leva uma turma a ver a peça Galileu Galilei <strong>de</strong> Bertolt Brecht, promovendo <strong>de</strong>pois um<br />

<strong>de</strong>bate na aula sobre os problemas suscitados pela peça, aquilo que se está<br />

<strong>de</strong>senvolver é o que se po<strong>de</strong>rá consi<strong>de</strong>rar, em termos rigorosos, uma estratégia <strong>de</strong><br />

educação pela arte. O mesmo se diga se, em vez <strong>de</strong> uma peça <strong>de</strong> teatro, se convidarem<br />

os alunos a ver o filme O Gran Torino, <strong>de</strong> Clint Eastwood, como forma <strong>de</strong> sensibilização<br />

para a multiculturalida<strong>de</strong> que atravessa as cida<strong>de</strong>s actuais, para os problemas <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> histórico-social que essa multiculturalida<strong>de</strong> suscita, e para as diferentes<br />

respostas, que vão do confronto político-i<strong>de</strong>olológico à indiferença ou ao diálogo e à<br />

interacção e cooperação interculturais, que as diferença <strong>de</strong> culturas po<strong>de</strong>m motivar.<br />

Também se um professor <strong>de</strong> inglês, para situar os seus alunos num contexto mais vivo<br />

<strong>de</strong> aprendizagem da língua, os levar a assistir a uma peça <strong>de</strong> teatro em inglês,<br />

trabalhando <strong>de</strong>pois algum do vocabulário e da linguagem mobilizados nessa<br />

experiência, é igualmente uma estratégia <strong>de</strong> educação pela arte no contexto do ensino<br />

da língua inglesa aquilo que nesta experiência está a ser implementado. Finalmente, se<br />

num <strong>de</strong>terminado município em que se registam problemas significativos <strong>de</strong> violência<br />

doméstica, os serviços culturais organizarem um conjunto <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s culturais a<br />

artísticas, tendo em vista uma consciência crítica sobre situações sociais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e uma mudança efectiva <strong>de</strong> práticas comportamentais,<br />

recorrendo a um ciclo <strong>de</strong> filmes ou a um conjunto <strong>de</strong> peças <strong>de</strong> teatro e <strong>de</strong> recitais <strong>de</strong><br />

poesia em que o problema da violência e da igualda<strong>de</strong>/diferença esteja presente, é<br />

ainda, mais uma vez, uma estratégia <strong>de</strong> educação pela arte que essa Câmara Municipal<br />

está a adoptar. Significa isto que, em todos estes casos, a arte não funciona tanto como<br />

um fim em si mesmo, mas como um recurso no contexto <strong>de</strong> um projecto educativo mais<br />

global que visa ou o ensino/aprendizagem <strong>de</strong> competências específicas no âmbito <strong>de</strong><br />

uma disciplina do curriculum escolar (como o ilustram os exemplos das Línguas ou da<br />

Filosofia a que atrás fizemos referência), ou a implementação <strong>de</strong> uma consciência<br />

crítica e <strong>de</strong> uma educação para uma cidadania activa e responsável, tirando partido dos<br />

valores políticos e morais que atravessam uma peça <strong>de</strong> teatro ou um filme, para além<br />

dos seus valores estritamente estéticos.<br />

Revista<br />

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palcos<br />

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A educação pela arte tem gran<strong>de</strong>s vantagens, mas tem, ao mesmo tempo um gran<strong>de</strong><br />

perigo, sendo necessário estar suficientemente consciente, tanto das vantagens,<br />

quanto dos perigos. As vantagens têm sobretudo a ver com o facto <strong>de</strong> se inscrever no<br />

quadro do que po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>signar como um paradigma estético para a educação,<br />

que é claramente distinto <strong>de</strong> um paradigma técnico ou tecnológico. Enquanto o<br />

paradigma técnico ou tecnológico é um paradigma analítico, predominantemente<br />

lógico, instrumental, objectivante e fragmentador, um paradigma estético é um<br />

paradigma holístico, unificador, que mobiliza uma razão sensível e afectiva e se<br />

relaciona com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira envolvente, unificadora, integradora e<br />

interdisciplinar do ser humano no relacionamento com a socieda<strong>de</strong>, com a natureza e<br />

com o mundo que o ro<strong>de</strong>ia. O paradigma estético mobiliza uma inteligência emotiva,<br />

enquanto o paradigma tecnológico mobiliza apenas uma inteligência lógica. O que<br />

significa que o paradigma estético da educação pela arte é um paradigma voltado para<br />

o homem todo e para todos os homens, na sua dimensão comunitária e ecológica e na<br />

solidarieda<strong>de</strong> que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada um, se estabelece entre as suas diferentes vertentes<br />

ou esferas, e que, numa projecção para fora, se estabelece com a comunida<strong>de</strong> dos<br />

homens e com a comunida<strong>de</strong> da natureza. Mas a educação pela arte tem também um<br />

gran<strong>de</strong> risco, ao qual convém estar atento para o prevenir e para não incorrer nas suas<br />

perversas consequências: o risco <strong>de</strong> instrumentalizar a própria arte em relação a fins<br />

que lhe são estranhos ou exteriores, transformando-a assim não num fim em si mesmo,<br />

que visa o prazer estético da sua contemplação, do seu exercício e da criação, mas num<br />

meio ao serviço <strong>de</strong> outros objectivos que nada têm a ver com a própria arte. No caso do<br />

teatro, utilizar o teatro como um mero meio panfletário <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias políticas, visando<br />

doutrinar os espectadores, transmitindo-lhes valores e pautas <strong>de</strong> acção e ensinandolhes<br />

como <strong>de</strong>vem agir em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a sua consciência crítica e estimulá-los a<br />

pensar pela sua própria cabeça (como algumas experiências da utilização da arte em<br />

regimes totalitários <strong>de</strong>monstram com toda a evidência), estar-se-ia a fazer uma<br />

“educação pela arte” que seria a negação da própria Arte e que seria, por isso, mesmo<br />

um mau serviço ao teatro, à arte e à cultura.<br />

Mas a educação pela arte não esgota as formas <strong>de</strong> educação artística. Duas outras<br />

formas concretizam diferentes estratégias <strong>de</strong> cruzamento entre arte e educação: a<br />

educação para a arte e a educação na arte. A elas voltaremos em futuras reflexões.<br />

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sem palco<br />

TUDO MENOS IMITAÇÕES<br />

Elvira Oliveira<br />

<strong>Teatro</strong> Ensaio Raul Brandão<br />

Texto produzido no âmbito do painel <strong>de</strong> escrita criativa, orientado por Manuel<br />

Ramos Costa, no VI Fórum Permanente <strong>de</strong> <strong>Teatro</strong> <strong>de</strong> Amadores, em Ansião,<br />

Outubro 2010.<br />

Sentados à mesa do pequeno-almoço, pai e filha conversam.<br />

Filha – Pai, tens <strong>de</strong> me comprar um gran<strong>de</strong> bolo <strong>de</strong> aniversário.<br />

Pai – Não queres mais nada?<br />

Filha – Nada? Mas quem é que nada aqui? Então eu não faço anos na semana que vem?<br />

Pai – Sim, e <strong>de</strong>pois? Des<strong>de</strong> o Natal que ainda não paraste <strong>de</strong> pedir coisas para o teu<br />

aniversário. Achas que nado em dinheiro?<br />

Filha – (Num aparte a meia voz) – Afinal, sempre há aqui alguém que nada... Nem que<br />

seja a seco. (Continua, agora directamente para o pai) Só te peço aquilo a que tenho<br />

direito. Não és tu que és o meu pai?<br />

Pai – (com alguma ironia amarga) Não. Tu é que és a minha filha, ora esta!<br />

(Mais con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte) Pronto, diz lá que bolo queres e como é que queres.<br />

Filha – Agora já estamos a enten<strong>de</strong>r-nos. Quero um bolo único, gran<strong>de</strong> e especial.<br />

Pai – Especial, como? Um bolo é um bolo, ponto final.<br />

Filha – Isso é o que tu pensas e o que tu dizes, mas eu não quero um bolo igual ao das<br />

minhas amigas. Tem <strong>de</strong> ser um muito especial, já disse!<br />

Pai – Como é que se faz um bolo, hem? Não é com ovos, açúcar, farinha, chocolate, leite,<br />

etc., etc.? Po<strong>de</strong> levar este ingrediente em vez do outro, mais ou menos quantida<strong>de</strong>, este<br />

ou aquele enfeite, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um bolo.<br />

Filha – É... o bolo dito normal, que as pessoas, ditas normais, mor<strong>de</strong>m e mastigam <strong>de</strong><br />

boca cheia e ficam a falar com ele empastelado nos <strong>de</strong>ntes: “ Ai... es...te<br />

bo...lo...está...mesmo ...uma....maravilha, nham, nham, nham!” Que nojo!<br />

Pai – Mas, então se não é um bolo <strong>de</strong>sses, que tipo <strong>de</strong> bolo é que tu queres? Não conheço<br />

outros...<br />

Revista<br />

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Filha – És mesmo, atrasado, retrógrado, pai, tecla 3! Sei lá!... Tu é que és mais velho, é<br />

que tens mais conhecimentos (<strong>de</strong> novo num aparte) Pelo menos é o que está sempre a<br />

dizer. Descobre tu. Eu só te digo que quero um bolo único, para surpreen<strong>de</strong>r as minhas<br />

amigas. Nada que seja igual, nada que se tenha visto antes, enten<strong>de</strong>s? Ou queres que te<br />

faça um <strong>de</strong>senho?<br />

Pai – Sim, claro, claro, parece-me que já entendi, minha filha querida. Po<strong>de</strong>s ficar<br />

<strong>de</strong>scansada que o teu bolo será mesmo especial. Surpreen<strong>de</strong>rás tudo e todos.<br />

Filha – Ainda bem, já não era sem tempo. Cansas a minha beleza com tantas perguntas e<br />

tantas hesitações. Vê se começas a ser um pai à maneira, mais mo<strong>de</strong>rno. Começo a ficar<br />

cansada <strong>de</strong> viver contigo.<br />

No dia do aniversário, com o salão cheio <strong>de</strong> amigas e amigos ruidosos, a filha num<br />

vestido único, inventado por um estilista também único, grita para o pai:<br />

Filha – Pai! Pai! Então esse bolo, quando é que o trazes? Estamos todos à espera.<br />

Pai – (do outro aposento) – Já levo, minha filha, já levo!<br />

Aparece com uma enorme caixa que quase não passa na porta do salão e parece<br />

extremamente pesada.<br />

Pai – Ufa! Que peso! Ora aqui está o teu bolo, po<strong>de</strong>s abrir.<br />

Filha – (abre a caixa e dá um grito) – Mas aqui não há nenhum bolo!...<br />

Pai – Ai isso é que há, minha filha. É tal como pediste enorme, único, nada igual aos<br />

inúmeros bolos que vemos por aí fora, nada <strong>de</strong> imitações!<br />

Filha – Eu não vejo bolo algum, pai!<br />

Pai – Ah, não? Mas olha, ele está aí, bem ao teu gosto, para surpreen<strong>de</strong>res os teus<br />

amigos e amigas, <strong>de</strong> acordo com o teu pedido, já te disse.<br />

Filha – Pai, estás a gozar comigo, a humilhar-me diante dos meus amigos...(chora com<br />

raiva)<br />

Pai – Mas não foste tu que me disseste que eu seria um atrasado mental se não<br />

<strong>de</strong>scobrisse o bolo que tanto querias? Não foste tu que pediste um bolo diferente <strong>de</strong><br />

todos os outros bolos, que não levasse nenhum dos ingredientes do costume, que não<br />

tivesse a <strong>de</strong>coração habitual, que não, que não, que não... Pois, aí tens. Queres, por<br />

acaso, bolo mais inimitável do que este? Até tu ficaste surpreendida, confessa!<br />

Filha – (chora ainda mais, mas agora sem raiva) Perdoa-me, pai. Eu mereci a lição. Sei o<br />

quanto me amas, o quanto te tens esforçado para me educares e dares tudo o que quero.<br />

Tens sido um pai ÚNICO! Amo-te muito! Perdoa-me!<br />

Ambos se abraçam num inimitável abraço, porque os abraços entre pais e filhos são<br />

sempre únicos, inimitáveis.<br />

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