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descarregar - Federação Portuguesa de Teatro

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A educação pela arte tem gran<strong>de</strong>s vantagens, mas tem, ao mesmo tempo um gran<strong>de</strong><br />

perigo, sendo necessário estar suficientemente consciente, tanto das vantagens,<br />

quanto dos perigos. As vantagens têm sobretudo a ver com o facto <strong>de</strong> se inscrever no<br />

quadro do que po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>signar como um paradigma estético para a educação,<br />

que é claramente distinto <strong>de</strong> um paradigma técnico ou tecnológico. Enquanto o<br />

paradigma técnico ou tecnológico é um paradigma analítico, predominantemente<br />

lógico, instrumental, objectivante e fragmentador, um paradigma estético é um<br />

paradigma holístico, unificador, que mobiliza uma razão sensível e afectiva e se<br />

relaciona com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira envolvente, unificadora, integradora e<br />

interdisciplinar do ser humano no relacionamento com a socieda<strong>de</strong>, com a natureza e<br />

com o mundo que o ro<strong>de</strong>ia. O paradigma estético mobiliza uma inteligência emotiva,<br />

enquanto o paradigma tecnológico mobiliza apenas uma inteligência lógica. O que<br />

significa que o paradigma estético da educação pela arte é um paradigma voltado para<br />

o homem todo e para todos os homens, na sua dimensão comunitária e ecológica e na<br />

solidarieda<strong>de</strong> que, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada um, se estabelece entre as suas diferentes vertentes<br />

ou esferas, e que, numa projecção para fora, se estabelece com a comunida<strong>de</strong> dos<br />

homens e com a comunida<strong>de</strong> da natureza. Mas a educação pela arte tem também um<br />

gran<strong>de</strong> risco, ao qual convém estar atento para o prevenir e para não incorrer nas suas<br />

perversas consequências: o risco <strong>de</strong> instrumentalizar a própria arte em relação a fins<br />

que lhe são estranhos ou exteriores, transformando-a assim não num fim em si mesmo,<br />

que visa o prazer estético da sua contemplação, do seu exercício e da criação, mas num<br />

meio ao serviço <strong>de</strong> outros objectivos que nada têm a ver com a própria arte. No caso do<br />

teatro, utilizar o teatro como um mero meio panfletário <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias políticas, visando<br />

doutrinar os espectadores, transmitindo-lhes valores e pautas <strong>de</strong> acção e ensinandolhes<br />

como <strong>de</strong>vem agir em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a sua consciência crítica e estimulá-los a<br />

pensar pela sua própria cabeça (como algumas experiências da utilização da arte em<br />

regimes totalitários <strong>de</strong>monstram com toda a evidência), estar-se-ia a fazer uma<br />

“educação pela arte” que seria a negação da própria Arte e que seria, por isso, mesmo<br />

um mau serviço ao teatro, à arte e à cultura.<br />

Mas a educação pela arte não esgota as formas <strong>de</strong> educação artística. Duas outras<br />

formas concretizam diferentes estratégias <strong>de</strong> cruzamento entre arte e educação: a<br />

educação para a arte e a educação na arte. A elas voltaremos em futuras reflexões.<br />

Revista<br />

#04<br />

palcos<br />

19<br />

novembro ‘12

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