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Carnaúba dos Dantas Portalegre Entrevista - Fundação Jose Augusto

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<strong>Portalegre</strong> - Jardim <strong>dos</strong> cajus e borboletas<br />

Por Gustavo Porpino<br />

Fotos: Anchieta Xavier<br />

Farinha com rapadura é um<br />

casamento perfeito para a gente<br />

do sertão. <strong>Portalegre</strong>, cidade serrana a<br />

420 km de Natal, conserva os méto<strong>dos</strong><br />

tradicionais de preparo da farinha de<br />

mandioca e da rapadura de cana-deaçúcar.<br />

O município, fundado em 1740<br />

pelos irmãos portugueses Carlos Vidal<br />

Borromeu e Clemente Gomes d’Amorim,<br />

herdou o nome da <strong>Portalegre</strong> portuguesa<br />

devido às semelhanças da paisagem<br />

serrana com a região do Alto Alentejo.<br />

A vila que deu origem a <strong>Portalegre</strong> foi<br />

instalada em 8 de dezembro de 1761<br />

pelo juiz Miguel Carlos Caldeira de<br />

Pina Castelo Branco, sendo elevada à<br />

categoria de município em 11 de abril<br />

de 1833.<br />

Subir os 650 metros de altitude da serra<br />

de <strong>Portalegre</strong> já não exige o esforço <strong>dos</strong><br />

desbravadores portugueses. Chegar ao<br />

alto da serra é constatar a abundância<br />

de cajueiros, principal fonte de renda<br />

da população, e poder apreciar a vista<br />

<strong>dos</strong> municípios vizinhos. O pôr-do-sol<br />

visto lá do alto é um deleite aos olhos e o<br />

clima ameno, principalmente nos meses<br />

de julho e agosto, convida os visitantes<br />

a saborear o queijo de coalho assado na<br />

chapa acompanhado de vinho.<br />

O terminal turístico da bica, um<br />

parque com fonte de água mineral a<br />

400 metros do centro, e o mirante<br />

Boa Vista são as principais atrações<br />

turísticas do município. A beleza das<br />

ingazeiras, timbaúbas, freijós e jatobás,<br />

em volta da bica, tornam o banho<br />

ainda mais bucólico. <strong>Portalegre</strong> tem<br />

também os sítios arqueológicos da<br />

Pedra do Leiteiro e Furna do Pelado,<br />

destinos bem procura<strong>dos</strong> para quem<br />

gosta de fazer trilhas. O prédio da antiga<br />

cadeia pública, construção do século<br />

XVIII, deve abrigar mais uma Casa de<br />

Cultura Popular, projeto da <strong>Fundação</strong><br />

José <strong>Augusto</strong> já presente em outros dez<br />

municípios.<br />

A centenária dança de São Gonçalo,<br />

realizada no Sítio Pêga, continua<br />

resistindo. E, para o bem da cultura<br />

popular, surgem outras manifestações<br />

folclóricas. O Auto de Cantofa,<br />

apresentação teatral em homenagem à<br />

índia Luíza Cantofa e sua neta Jandí,<br />

é ensaiado desde março de 2004 pelos<br />

alunos da escola municipal Filomena<br />

Sampaio de Souza.<br />

Comunidade negra mantém farinhada<br />

Já do lado de fora da casa de farinha<br />

do Rosário de Freitas, no Sítio Pêga,<br />

o visitante tem a impressão de ser<br />

transportado no tempo. O cenário nas<br />

terras do Pêga, a 7 km de <strong>Portalegre</strong>,<br />

no sentido do município de Francisco<br />

<strong>Dantas</strong>, remete ao período colonial.<br />

A comunidade negra, remanescente<br />

de quilombos, continua vivendo da<br />

agricultura de subsistência e os jumentos<br />

carregam caçuás feitos de couro de boi.<br />

O início do sítio é demarcado por uma<br />

timbaúba fron<strong>dos</strong>a e de tronco largo. A<br />

casa de farinha fica poucos metros depois<br />

da árvore ao lado de um curral com<br />

algumas cabeças de gado. A comunidade<br />

cria também bodes e porcos, mas nada<br />

representa melhor o lugar do que a<br />

chamada farinhada. O trabalho com<br />

a farinha envolve desde crianças até os<br />

mais velhos. As tarefas são divididas<br />

entre homens e mulheres.<br />

“Não se vive isolado no Pêga. A<br />

coletividade e a ajuda mútua são suas<br />

marcas. Um filho ajuda no roçado da<br />

mãe; um sobrinho bate o arroz da tia; um<br />

vizinho empresta algo a outro; e nessas<br />

trocas os laços são cria<strong>dos</strong> e reafirma<strong>dos</strong>”,<br />

explica a antropóloga Glória de Oliveira<br />

Morais, mestranda em Ciências Sociais<br />

pela UFRN. A pesquisadora escreveu<br />

“Filhos da Terra”, um estudo etnográfico<br />

das formas de sociabilidade e trabalho<br />

no sítio Pêga. A pesquisa, concluída em<br />

2002, faz parte do acervo da biblioteca<br />

municipal de <strong>Portalegre</strong>.<br />

80 Dezembro 2004 Dezembro 2004<br />

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