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Guia Juvenil - Rota do Românico

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Uma <strong>Rota</strong> fundada nas<br />

memórias <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>, que<br />

convida a uma viagem inspira<strong>do</strong>ra<br />

a lugares com História,<br />

junto de singulares conjuntos<br />

monásticos, igrejas, capelas, memoriais,<br />

pontes, castelos e torres<br />

senhoriais, amadurecida em<br />

terra forjada de verde, repleta de<br />

saberes e sabores – o Tâmega e<br />

Sousa.<br />

Em Amarante, Baião, Castelo de<br />

Paiva, Celorico de Basto, Cinfães,<br />

Felgueiras, Lousada, Marco de<br />

Canaveses, Paços de Ferreira,<br />

Paredes, Penafiel e Resende<br />

descobre uma <strong>Rota</strong> de 58 monumentos<br />

românicos, ergui<strong>do</strong>s<br />

entre os séculos XI e XIV.<br />

Este lega<strong>do</strong> transporta-te para<br />

a fundação da Nacionalidade<br />

e ilustra a importância <strong>do</strong> território<br />

<strong>do</strong> Tâmega e Sousa na<br />

história da nobreza e das ordens<br />

religiosas em Portugal.<br />

T +351 255 810 706<br />

T +351 918 116 488<br />

F +351 255 810 709<br />

www.rota<strong>do</strong>romanico.com


ÍNDICE<br />

7 INTRODUÇÃO<br />

17<br />

22<br />

34<br />

37<br />

40<br />

40<br />

43<br />

47<br />

48<br />

61<br />

63<br />

64<br />

69<br />

73<br />

74<br />

79<br />

80<br />

84<br />

89<br />

95<br />

96<br />

108<br />

118<br />

PARTE UM<br />

O TERRITÓRIO DO TÂMEGA E SOUSA<br />

O território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa e a sua história em<br />

tempos medievais<br />

Personalidades medievais <strong>do</strong> Tâmega e Sousa<br />

A sociedade na Idade Média<br />

A vida quotidiana<br />

A alimentação<br />

O vestuário<br />

As casas<br />

A morte<br />

Os mosteiros e a vida monástica<br />

PARTE DOIS<br />

O ROMÂNICO<br />

Um tempo de mudanças<br />

A invenção <strong>do</strong> estilo românico<br />

O méto<strong>do</strong> construtivo<br />

Senhores e vassalos<br />

As relíquias<br />

Os lugares e os artistas<br />

A escultura<br />

A pintura e outras artes<br />

O poder <strong>do</strong>s símbolos<br />

Cristo, juiz de todas as coisas, e o papel da Virgem Maria<br />

PARTE TRÊS<br />

A ROTA DO ROMÂNICO<br />

<strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>, uma experiência fundada na história<br />

Percurso “Vale <strong>do</strong> Sousa”<br />

Percurso “Vale <strong>do</strong> Douro”<br />

Percurso “Vale <strong>do</strong> Tâmega”<br />

135<br />

GLOSSÁRIO


02<br />

03<br />

04<br />

01 Fachada ocidental, Mosteiro de Ferreira, Paços de Ferreira.<br />

02 Mapa da Europa, ano de 1200.<br />

03 Ara<strong>do</strong> de ferro.<br />

04 Peste Negra.<br />

8<br />

INTRODUÇÃO<br />

A Idade Média*, ao contrário <strong>do</strong> que se costuma pensar, não é<br />

um tempo de barbárie*, obscurantismo*, pobreza e ignorância, e<br />

não constitui uma época uniforme e coerente da História, mas<br />

sim um conjunto de vários perío<strong>do</strong>s bem diferencia<strong>do</strong>s que se<br />

sucedem entre o final <strong>do</strong> Império Romano* <strong>do</strong> Ocidente, no<br />

século V, e o <strong>do</strong> Império Romano <strong>do</strong> Oriente, no século XV. Nem<br />

podia deixar de assim ser, visto que, entre essas duas datas medeiam<br />

mil anos, durante os quais, naturalmente, muito se passou<br />

e modificou: a Europa nascida <strong>do</strong> desmembrar <strong>do</strong> Império<br />

Romano é completamente diferente da que se lança na aventura<br />

<strong>do</strong>s Descobrimentos*.<br />

O conceito de Idade Média surgiu no século XV, com os humanistas*,<br />

que identificaram desse mo<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> que se situava<br />

entre a Época Clássica* e o Renascimento*, como se fosse um<br />

tempo de mera transição entre essas duas eras, uma longa noite<br />

de trevas*. Houve, portanto, desde sempre um senti<strong>do</strong> pejorativo*<br />

liga<strong>do</strong> ao conceito de Idade Média, que o Iluminismo* <strong>do</strong><br />

século XVIII acentuou ainda mais. Esqueciam-se, porém, que durante<br />

os mil anos medievais muitos progressos foram alcança<strong>do</strong>s<br />

e houve desenvolvimentos notáveis a to<strong>do</strong>s os níveis.<br />

É na Idade Média que a Europa atual encontra as suas raízes, com<br />

a formação <strong>do</strong>s vários reinos que vieram a transformar-se nos<br />

países de hoje. Por outro la<strong>do</strong>, durante o perío<strong>do</strong> medieval surgiram<br />

inovações técnicas fundamentais, como o ara<strong>do</strong> de ferro,<br />

que rasgava a terra com mais eficácia, e formas de melhorar a<br />

fertilidade da terra, que permitiram aumentar a produção agrícola<br />

e, assim, alimentar uma população que, mais bem nutrida,<br />

pôde crescer e melhorar as suas condições de vida. Também foi<br />

um tempo de graves crises, conhecen<strong>do</strong> terríveis epidemias,<br />

como a Peste Negra*, além de muitos maus anos agrícolas e<br />

conflitos militares. Fome, peste e guerra, a trilogia* das desgraças<br />

que os homens medievais, profundamente religiosos, pediam a<br />

Deus que mantivesse à distância. Houve, portanto, tempos de<br />

prosperidade e tempos de crise que se foram suceden<strong>do</strong> ao longo<br />

da Idade Média.<br />

9


05<br />

10<br />

Do ponto de vista cultural, os séculos medievais foram extraordinariamente<br />

ricos e inova<strong>do</strong>res. Vejamos alguns exemplos. A partir<br />

de finais <strong>do</strong> século XII, fundaram-se as primeiras universidades,<br />

antepassadas das que hoje existem. Mas já antes os copistas*<br />

medievais vinham a desempenhar um papel fundamental na<br />

preservação da cultura escrita, tanto pagã* como cristã*, através<br />

<strong>do</strong> trabalho paciente de cópia <strong>do</strong>s livros antigos, sem o qual essas<br />

obras não teriam chega<strong>do</strong> até nós. Foi também durante a<br />

Idade Média, mais concretamente durante os séculos VIII e IX,<br />

que se criou e difundiu por toda a Europa ocidental o tipo de<br />

escrita que está na base das letras usadas hoje, nomeadamente<br />

neste <strong>Guia</strong> que estás a ler. Esse tipo de escrita sobreviveu, porque<br />

foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela imprensa de caracteres móveis, que é também<br />

uma invenção medieval verdadeiramente revolucionária, devida<br />

a Johannes Gutenberg, graças à qual se tornou possível reproduzir<br />

e difundir os livros de uma forma muito mais rápida, fácil<br />

e barata.<br />

Os homens medievais tinham consciência <strong>do</strong>s avanços alcança<strong>do</strong>s<br />

no seu tempo. Humildes, porém, face aos que os tinham<br />

antecedi<strong>do</strong>, consideravam-se como simples anões aos ombros de<br />

gigantes: viam mais longe e conseguiam atingir objetivos mais<br />

distantes e ambiciosos <strong>do</strong> que os seus antecessores, mas apenas<br />

porque dispunham <strong>do</strong> seu lega<strong>do</strong> para o poderem fazer.<br />

A Idade Média constitui uma fonte de inesgotável fascínio para<br />

o homem atual. Nela se forjou muito <strong>do</strong> que continua a povoar<br />

o nosso imaginário: lendas de castelos e tesouros escondi<strong>do</strong>s, de<br />

animais mitológicos como dragões e unicórnios*, histórias de<br />

cavaleiros que salvam <strong>do</strong>nzelas, de príncipes e princesas, fadas e<br />

magias, santos e demónios, feitos heroicos de to<strong>do</strong> o tipo.<br />

No território da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>, no Tâmega e Sousa, a Idade<br />

Média encontra-se ainda hoje bem presente, graças aos muitos<br />

monumentos aqui existentes que datam desse tempo e à sua<br />

própria história, pois foi então que se foi cimentan<strong>do</strong> a identidade<br />

particular deste território, de importância fundamental no<br />

05 Portal ocidental, Igreja de Sousa, Felgueiras.<br />

11


nascimento <strong>do</strong> próprio reino português. Por isso, o presente <strong>Guia</strong><br />

convida-te a uma viagem pela História, recuan<strong>do</strong> até aos séculos<br />

XI a XIV, para ficares a conhecer melhor este espaço, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

românico e os primórdios <strong>do</strong> reino de Portugal. Vais encontrá-lo<br />

dividi<strong>do</strong> em três partes: na primeira, fala-se em especial sobre o<br />

Tâmega e Sousa e a Idade Média em geral; a segunda diz respeito<br />

à arte românica; na terceira, conheceremos um pouco melhor a<br />

<strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> e os seus 58 monumentos.<br />

No final, um Glossário ajuda-te a descobrir o significa<strong>do</strong> de todas<br />

as palavras assinaladas com um asterisco (*).<br />

Boa viagem!<br />

06 Fachada ocidental, Igreja de São Martinho de Mouros, Resende.<br />

12 13<br />

06


08<br />

09<br />

07 Igreja de Sobretâmega, Marco de Canaveses.<br />

08 Vale <strong>do</strong> Douro, Resende e Baião.<br />

09 Vale <strong>do</strong> Sousa, Felgueiras.<br />

O TERRITÓRIO<br />

DO TÂMEGA E SOUSA<br />

E A SUA HISTÓRIA EM<br />

TEMPOS MEDIEVAIS<br />

Integra<strong>do</strong> no Entre-Douro-e-Minho, o vasto território <strong>do</strong> Tâmega<br />

e Sousa, com uma área de quase 2000 km 2 , é composto pelos<br />

municípios de Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de<br />

Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços<br />

de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende. Localiza<strong>do</strong> a pouca distância<br />

da cidade <strong>do</strong> Porto, beneficia de uma rede de acessos<br />

bem estruturada, com estradas que permitem alcançar rapidamente<br />

quer o litoral, quer as regiões <strong>do</strong> interior. Os seus cerca<br />

de 520000 habitantes (Censos 2011) correspondem a cerca de<br />

5% da população portuguesa e conta com uma percentagem de<br />

jovens das mais elevadas <strong>do</strong> País. Sente-se, no Tâmega e Sousa,<br />

tal como no resto de Portugal, uma tendência para a concentração<br />

da população nos centros urbanos (em especial os mais industrializa<strong>do</strong>s)<br />

e nas sedes concelhias, em detrimento das áreas<br />

rurais. No entanto, a paisagem agrária continua a <strong>do</strong>minar este<br />

território, que tem no turismo uma das suas grandes potencialidades<br />

de desenvolvimento.<br />

A atração por este território conta já longos séculos, pois o Tâmega<br />

e Sousa foi procura<strong>do</strong> pelos homens desde muito ce<strong>do</strong>. O<br />

seu clima, tempera<strong>do</strong> e pluvioso, aliou-se desde sempre à densa<br />

rede de cursos de água para propiciar a fertilidade das terras,<br />

protegidas <strong>do</strong>s frios e <strong>do</strong>s ventos de leste pelas montanhas <strong>do</strong><br />

Marão, o que atraía a população. Os terrenos de pasto abundavam,<br />

favorecen<strong>do</strong> a criação de ga<strong>do</strong>. A rede viária de hoje tem<br />

origens também longínquas, com criação de estradas por povos<br />

que se deslocavam, quer na sua vida quotidiana, quer em busca<br />

de novos espaços para se instalarem, tanto em tempo de paz<br />

como fugin<strong>do</strong> de invasores, ou ruman<strong>do</strong> em direção aos templos<br />

onde a<strong>do</strong>ravam os seus deuses.<br />

No alto <strong>do</strong>s montes, vestígios de castros* atestam a presença de<br />

comunidades humanas desde tempos muito antigos. Nos vales,<br />

numerosos povoa<strong>do</strong>s testemunham uma longa história de ocupa-<br />

16 17


ção. Conquista<strong>do</strong> por romanos, depois por suevos* e visigo<strong>do</strong>s*,<br />

o Tâmega e Sousa sofreu os reveses da guerra entre mouros* e<br />

cristãos* quan<strong>do</strong>, a partir de 711, aqueles foram avançan<strong>do</strong> pela<br />

Península Ibérica, num movimento imparável, de sul para norte,<br />

até serem trava<strong>do</strong>s nas Astúrias*. O <strong>do</strong>mínio árabe desorganizou<br />

as estruturas existentes e semeou a insegurança e o me<strong>do</strong> entre<br />

a população, atacada ora por muçulmanos, ora por cristãos.<br />

Durante bastante tempo, os espaços vizinhos <strong>do</strong> rio Douro tornaram-se<br />

uma espécie de terra de ninguém, até que no século IX<br />

o rei D. Afonso III das Astúrias fixou a fronteira na linha <strong>do</strong> Douro<br />

e colocou os territórios conquista<strong>do</strong>s sob o governo de condes*.<br />

De entre estes, contam-se Vímara Peres, que conquistou e repovoou<br />

o Porto, e Hermenegil<strong>do</strong> Guterres, que conseguiu <strong>do</strong>minar<br />

Coimbra no ano de 878. Esta situação alterou-se, porém, rapidamente,<br />

pois em finais <strong>do</strong> século X, sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> famoso<br />

Almançor*, novas investidas muçulmanas fizeram destruições<br />

rumo ao norte, conquistan<strong>do</strong> o Castelo de Aguiar de Sousa (Paredes)<br />

no ano de 995 e chegan<strong>do</strong>, <strong>do</strong>is anos mais tarde, a Santiago<br />

de Compostela (Espanha).<br />

O território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa permanecia muito próximo da<br />

fronteira e não deixou de viver sob a ameaça de ataques árabes,<br />

à qual se somou o me<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ataques vikings*, os quais, desde o<br />

século IX até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XI, atemorizaram o noroeste da<br />

Península Ibérica, incendian<strong>do</strong>, rouban<strong>do</strong> e matan<strong>do</strong> não apenas<br />

junto ao mar, mas também no interior, onde chegavam por via<br />

fluvial*.<br />

Os séculos X e XI conheceram ainda toda uma série de conflitos<br />

internos, relaciona<strong>do</strong>s com revoltas contra os reis de Leão*,<br />

lutas pela sucessão ao trono e questões entre condes e chefes<br />

guerreiros de menor categoria que se recusavam a submeter-<br />

-se à sua autoridade. Esta instabilidade política só terminou com<br />

a chegada ao poder de Fernan<strong>do</strong> Magno. Pacifica<strong>do</strong> o reino, o<br />

monarca pôde lançar-se numa campanha vitoriosa contra os<br />

10 Torre de Aguiar de Sousa, Paredes.<br />

18 19<br />

10


11 12<br />

CRONOLOGIA<br />

séc. V Fim <strong>do</strong> Império Romano <strong>do</strong> Ocidente<br />

séc. V-VI Reino <strong>do</strong>s Suevos<br />

séc. VI-VIII Reino <strong>do</strong>s Visigo<strong>do</strong>s<br />

711 Invasão muçulmana da Península Ibérica<br />

séc. IX Conquistas de D. Afonso III das Astúrias<br />

séc. X Ataques de Almançor<br />

1055-1064 Conquistas de D. Fernan<strong>do</strong> Magno de Leão e Castela<br />

c. 1070 Nascimento de Egas Moniz de Riba<strong>do</strong>uro<br />

1096 D. Henrique de Borgonha recebe o Conda<strong>do</strong> Portucalense<br />

c. 1109 Nascimento de D. Afonso Henriques<br />

1127 Cerco de D. Afonso VII a Guimarães<br />

1128 Batalha de S. Mamede<br />

1146 Morte de Egas Moniz de Riba<strong>do</strong>uro<br />

1185 Morte de D. Afonso Henriques<br />

1185 Subida ao trono de D. Sancho I<br />

c. 1195 Nascimento de D. Mafalda<br />

1211 Subida ao trono de D. Afonso II<br />

1215 Casamento de D. Mafalda com D. Henrique I de Castela<br />

1217 Morte de D. Henrique I de Castela<br />

1256 Morte de D. Mafalda<br />

REGIME SENHORIAL<br />

Sistema de organização social, económico e político que vigorou em<br />

Portugal durante a Idade Média e a Idade Moderna*, que se caracterizou<br />

pela existência de senhores e dependentes, liga<strong>do</strong>s uns aos<br />

outros por laços de vassalagem*. Os senhores eram detentores não<br />

só de terras, mas também da jurisdição sobre elas e de um conjunto<br />

de direitos que deveriam pertencer ao rei, mas foram por ele delega<strong>do</strong>s<br />

(ou perdi<strong>do</strong>s) em seu favor.<br />

muçulmanos, <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> a Beira e Coimbra entre 1055 e 1064,<br />

o que fez a linha da fronteira cristã chegar ao rio Mondego. O<br />

avanço para sul trouxe ao território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa uma paz<br />

mais dura<strong>do</strong>ura e, em consequência, melhores condições de vida<br />

para as populações.<br />

Simultaneamente, desenvolve-se aí, como em to<strong>do</strong> o Entre-<br />

-Douro-e-Minho, o regime senhorial*. As suas sementes tinham<br />

si<strong>do</strong> lançadas nos difíceis tempos anteriores, durante os quais<br />

to<strong>do</strong>s aqueles que detinham algum poder militar tendiam a<br />

exercê-lo por conta própria, já que nem a autoridade <strong>do</strong> rei nem<br />

a <strong>do</strong>s condes conseguia defender os territórios e as gentes em<br />

perigo. E assim, aos poucos, chefes guerreiros e importantes<br />

proprietários foram assumin<strong>do</strong> o exercício de poderes, como a<br />

proteção contra os inimigos e o exercício da justiça, que deviam<br />

pertencer ao monarca ou àqueles que este encarregava de governar<br />

em seu nome, passan<strong>do</strong> as populações a estar dependentes<br />

desses senhores.<br />

Em 1096, o impera<strong>do</strong>r D. Afonso VI de Leão e Castela* entregou a<br />

D. Henrique de Borgonha o Conda<strong>do</strong> Portucalense*, juntamente<br />

com a mão de sua filha ilegítima, D. Teresa, como recompensa<br />

pelos seus serviços. Já então se tinham desenvolvi<strong>do</strong> nesta região<br />

diversas linhagens* – os Sousas, os Riba<strong>do</strong>uros e os Baiões, que,<br />

com os senhores da Maia e de Bragança, foram as famílias nobres<br />

mais importantes durante o perío<strong>do</strong> de governo condal e, mais<br />

11 D. Afonso Henriques.<br />

12 Egas Moniz de Riba<strong>do</strong>uro.<br />

20 21


ainda, nos primórdios <strong>do</strong> reino de Portugal. Foram eles os principais<br />

alia<strong>do</strong>s de D. Afonso Henriques contra a sua mãe, D. Teresa,<br />

e contra os nobres galegos* que ela favorecia. Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> infante<br />

estiveram membros destas famílias, tanto na batalha de S.<br />

Mamede, em Guimarães, que deu ao jovem Afonso a autoridade<br />

sobre o Conda<strong>do</strong> Portucalense, como na sua ação governativa e<br />

militar que permitiu tornar Portugal num reino independente.<br />

PERSONALIDADES MEDIEVAIS<br />

DO TÂMEGA E SOUSA<br />

De entre esses nobres <strong>do</strong> território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa, Egas<br />

Moniz de Riba<strong>do</strong>uro assume um papel preponderante, uma vez<br />

que está relaciona<strong>do</strong> com o nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques,<br />

e com a fundação de Portugal.<br />

Sabemos que nasceu na década de 70 <strong>do</strong> século XI e que pertencia<br />

à família que <strong>do</strong>minava o território de Riba<strong>do</strong>uro, onde vários<br />

parentes seus fundaram ou tomaram sob sua proteção diversas<br />

casas monásticas, como os Mosteiros* de Paço de Sousa (Penafiel),<br />

Travanca (Amarante), Cárquere (Resende), Arnoia (Celorico<br />

de Basto), Pen<strong>do</strong>rada (hoje Alpen<strong>do</strong>rada), Tuías e Vila Boa <strong>do</strong><br />

Bispo, no Marco de Canaveses. Casou duas vezes, com senhoras<br />

ligadas também a famílias da nobreza, e teve um total de nove<br />

filhos, que deram lugar a linhagens importantes no século XII.<br />

O papel de Egas Moniz junto <strong>do</strong> primeiro rei português foi de<br />

grande importância. Primeiro, apoiou-o nas suas ambições de<br />

ficar à frente <strong>do</strong> Conda<strong>do</strong> Portucalense, estan<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong><br />

na batalha de S. Mamede, que, em 1128, o tornou responsável<br />

pelo governo desse espaço. Mais tarde, exerceu as funções de<br />

seu mor<strong>do</strong>mo-mor*, suceden<strong>do</strong> no cargo ao irmão mais velho,<br />

Ermiges Moniz. O rei, como recompensa pelos serviços presta<strong>do</strong>s,<br />

concedeu-lhe numerosos bens; e a sua confiança na família<br />

13 Portal sul, Igreja de Vila Boa de Quires, Marco de Canaveses.<br />

22 23<br />

13


14 <strong>do</strong> seu vali<strong>do</strong>* era tanta que veio a confiar à sua viúva, D. Teresa<br />

Afonso, a criação <strong>do</strong> seu filho e sucessor, o futuro rei D. Sancho I.<br />

15<br />

14 Túmulo de Egas Moniz, Mosteiro de Paço de Sousa, Penafiel.<br />

15 Túmulo de Egas Moniz, Mosteiro de Paço de Sousa, Penafiel.<br />

Egas Moniz faleceu em 1146 e foi sepulta<strong>do</strong> no Mosteiro <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r<br />

de Paço de Sousa (Penafiel), de que os Riba<strong>do</strong>uros detinham<br />

o direito de padroa<strong>do</strong>*. O seu túmulo tem grava<strong>do</strong> na<br />

tampa um epitáfio* que o recorda como “ínclito varão”, ou seja,<br />

homem ilustre, célebre. Um <strong>do</strong>s panos laterais da arca tumular,<br />

feito em época posterior, representa a lenda bem conhecida da<br />

sua viagem a Tole<strong>do</strong> (Espanha), acompanha<strong>do</strong> pela família, oferecen<strong>do</strong><br />

a vida ao rei de Leão como penhor da sua honra, por ter<br />

da<strong>do</strong> a sua palavra e não ter podi<strong>do</strong> cumpri-la.<br />

Recorde-se esta história: o rei de Leão e Castela, D. Afonso VII,<br />

filho de D. Raimun<strong>do</strong> e D. Urraca, cercava Guimarães, exigin<strong>do</strong><br />

vassalagem ao primo D. Afonso Henriques. Egas Moniz consegue<br />

pôr termo ao cerco, prometen<strong>do</strong> ao monarca que o infante lhe<br />

prestaria homenagem. Mas o jovem recusa fazê-lo, colocan<strong>do</strong> assim<br />

em causa a palavra dada pelo velho fidalgo, que vai então a<br />

Tole<strong>do</strong> com a família, de corda ao pescoço, disposto a pagar com<br />

a sua vida e a <strong>do</strong>s seus familiares a quebra <strong>do</strong> compromisso assumi<strong>do</strong>.<br />

Diante de tanta honradez, D. Afonso VII per<strong>do</strong>a-o e deixa-o<br />

partir em liberdade.<br />

Outra lenda, menos conhecida mas não menos interessante, associa<br />

também Egas Moniz e D. Afonso Henriques, contan<strong>do</strong>-nos<br />

que o senhor de Riba<strong>do</strong>uro teria pedi<strong>do</strong> aos condes D. Henrique<br />

e D. Teresa que lhe dessem a honra de criar o seu primeiro filho.<br />

Quan<strong>do</strong> o infante nasceu, viu-se que tinha uma deficiência nas<br />

pernas. Egas Moniz, porém, não desistiu de o criar e carinhosamente<br />

o fez, esperan<strong>do</strong> sempre conseguir uma cura, que viria a<br />

ser alcançada por intercessão de Nossa Senhora. Graças a este<br />

milagre, o aio* man<strong>do</strong>u construir uma igreja*, que estaria na<br />

origem <strong>do</strong> Mosteiro de Santa Maria de Cárquere (Resende), que<br />

faz também parte, atualmente, <strong>do</strong> conjunto de monumentos da<br />

<strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>.<br />

Estes episódios não são verdadeiros, pelo menos tal como chegaram<br />

aos nossos dias. Na sua origem podem estar alguns factos<br />

24 25


eais, mas que foram fantasia<strong>do</strong>s e amplia<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong>s séculos.<br />

Neste caso, há fortes indícios de que tais histórias tenham<br />

si<strong>do</strong> parcialmente inventadas por um trova<strong>do</strong>r* <strong>do</strong> século XIII,<br />

João Soares Coelho, descendente de Egas Moniz, que desejava<br />

valorizar-se através <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> prestígio <strong>do</strong>s seus antepassa<strong>do</strong>s.<br />

Não se pode afirmar com segurança que D. Afonso Henriques<br />

tenha si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> por aquele a quem a tradição recorda<br />

como seu aio. Na verdade, grande parte <strong>do</strong> que rodeia a figura<br />

<strong>do</strong> primeiro rei de Portugal encontra-se envolto em lendas e mitos,<br />

de tal forma que é difícil distinguir o que é verdadeiro ou<br />

não. Mas nem só de episódios reais se constitui a história de um<br />

povo: as lendas também fazem parte dela, e algumas tornam-se<br />

exemplos de qualidades humanas, como a que faz de Egas Moniz<br />

um símbolo de nobreza e de fidelidade à palavra dada, ou a que<br />

engrandece a figura de um rei que, nasci<strong>do</strong> deforma<strong>do</strong>, por intervenção<br />

divina se cura e se torna o valoroso guerreiro funda<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> reino português.<br />

D. Afonso Henriques é outra importante personalidade medieval<br />

<strong>do</strong> Tâmega e Sousa. De acor<strong>do</strong> com a tradição, como vimos, terá<br />

si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> junto <strong>do</strong>s senhores de Riba<strong>do</strong>uro, nas suas terras, e aí<br />

encontrou boa parte <strong>do</strong>s seus mais fiéis alia<strong>do</strong>s, que se uniram<br />

em seu re<strong>do</strong>r e o escolheram como líder para tomar nas suas<br />

mãos o governo <strong>do</strong> Conda<strong>do</strong> Portucalense. Pouco tempo depois,<br />

D. Afonso Henriques aban<strong>do</strong>nou este território e fez de Coimbra<br />

a sua capital. Assim se centrava mais a sul, onde a Reconquista*<br />

continuava e a influência das velhas linhagens senhoriais era menos<br />

intensa, impedin<strong>do</strong>-as desse mo<strong>do</strong> de exercerem uma maior<br />

influência sobre a sua pessoa.<br />

No entanto, será no Tâmega e Sousa que o primeiro rei vai criar o<br />

seu filho e herdeiro, D. Sancho I, entregue à viúva de Egas Moniz,<br />

D. Teresa Afonso. D. Sancho guardaria boas recordações <strong>do</strong>s seus<br />

tempos de meninice, dan<strong>do</strong>, por seu turno, a criar a D. Urraca Viegas,<br />

filha da sua ama, vários <strong>do</strong>s seus filhos. Entre eles, conta-se<br />

a infanta D. Mafalda, cuja memória se liga profundamente a este<br />

16 Fachada ocidental, Mosteiro de Cárquere, Resende.<br />

26 27<br />

16


17 território, pelo que vale a pena determo-nos um pouco sobre a<br />

figura desta princesa que veio a ser beatificada* pela Igreja, tal<br />

como as suas irmãs mais velhas, D. Teresa e D. Sancha.<br />

17 O Milagre de Santa Mafalda.<br />

Nascida entre finais de 1195 e inícios de 1196, Mafalda teve uma<br />

ama de leite, D. Ouroana Peres, antes de ser entregue aos cuida<strong>do</strong>s<br />

de D. Urraca Viegas de Riba<strong>do</strong>uro. Terá cresci<strong>do</strong> em Loure<strong>do</strong>,<br />

perto de Penafiel, onde a aia vivia, e onde, como os restantes<br />

membros da sua família, era senhora de muitos bens.<br />

À semelhança de outros parentes seus, também D. Urraca fun<strong>do</strong>u<br />

e protegeu um mosteiro, em Tuías, que veio a ser propriedade<br />

da infanta, tal como muitos outros bens que a ama lhe<br />

<strong>do</strong>ou em 1199, um ano depois da morte da rainha D. Dulce, mãe<br />

da pequena princesa. No <strong>do</strong>cumento de <strong>do</strong>ação, D. Urraca diz<br />

ter recebi<strong>do</strong> Mafalda como filha, o que já tem si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong><br />

como prova de que a teria verdadeiramente a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>; não sabemos<br />

se assim foi, mas tal <strong>do</strong>cumento evidencia, sem dúvida, o<br />

carinho que a ama sentia pela princesinha.<br />

Em 1211, a morte de D. Sancho I veio alterar a tranquilidade da<br />

vida de Mafalda. Logo que subiu ao trono, o seu irmão D. Afonso<br />

II pôs em causa um conjunto de <strong>do</strong>ações feitas em testamento<br />

por seu pai, que conferiam um enorme poder às infantas suas<br />

irmãs, em detrimento da Coroa. Tal sucedia porque, à época, não<br />

se distinguia ainda bem o património régio, ou seja, os bens pessoais<br />

<strong>do</strong> rei, <strong>do</strong> património da Coroa, aquele que pertencia ao Esta<strong>do</strong>,<br />

noção abstrata que nesta altura se começava ainda apenas<br />

a esboçar. D. Afonso II era aconselha<strong>do</strong> por homens forma<strong>do</strong>s<br />

em Leis, conhece<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Direito Romano* que, então, estava<br />

a tornar-se a base das teorias sobre a autoridade <strong>do</strong> monarca,<br />

teorias essas que conduziriam, lentamente, à centralização <strong>do</strong>s<br />

poderes deti<strong>do</strong>s pelos vários senhores somente nas mãos <strong>do</strong> rei.<br />

A questão entre o monarca e as suas irmãs acabou por se transformar<br />

numa verdadeira guerra civil, em que D. Mafalda, muito<br />

jovem ainda, pouco participou.<br />

Poucos anos volvi<strong>do</strong>s, em 1215, a infanta contraiu matrimónio<br />

com o rei D. Henrique I de Castela. Nessa altura, os casamentos<br />

28 29


égios eram assunto político, deven<strong>do</strong> os noivos obedecer aos<br />

pais ou a quem tinha autoridade para decidir por eles. Podia-<br />

-se contrair matrimónio quan<strong>do</strong> se era ainda de tenra idade, esperan<strong>do</strong><br />

depois, já casa<strong>do</strong>s, pela entrada na puberdade e pela<br />

altura em que o poderiam consumar. Assim sucedeu com D. Mafalda,<br />

cujo noivo era ainda criança. Mas antes de o casamento<br />

ser consuma<strong>do</strong> foi dissolvi<strong>do</strong> pelo papa Inocêncio III, devi<strong>do</strong> à<br />

proximidade de parentesco entre os noivos, que eram primos<br />

em grau muito chega<strong>do</strong>; e pouco depois, em 1217, D. Henrique I<br />

morreu. D. Mafalda regressou a Portugal, não deixan<strong>do</strong>, porém,<br />

de se intitular rainha de Castela até morrer e de usar as armas<br />

castelhanas no seu escu<strong>do</strong> heráldico.<br />

De volta ao seu reino natal, a infanta, agora rainha, instalou-se<br />

no Mosteiro de Arouca, que fazia parte <strong>do</strong> seu senhorio e se situava<br />

não muito longe <strong>do</strong> território onde tinha cresci<strong>do</strong>. Aí viveu<br />

a partir <strong>do</strong> ano em que enviuvou, não como freira, nem sequer<br />

como abadessa da comunidade religiosa que ali vivia, mas manten<strong>do</strong><br />

o seu estatuto de leiga*, mais adequa<strong>do</strong> à sua condição<br />

régia, tal como fizeram suas irmãs Teresa e Sancha, em Lorvão<br />

(Penacova) e em Celas de Coimbra, respetivamente. Mafalda foi<br />

senhora e protetora <strong>do</strong> Mosteiro de Arouca, que, por sua mão,<br />

aderiu à Ordem de Cister*, em 1224, assim se tornan<strong>do</strong> uma das<br />

primeiras casas femininas portuguesas obedientes a esta regra*.<br />

Apesar de recolhida em Arouca, D. Mafalda não deixou de percorrer<br />

o território onde crescera, tratan<strong>do</strong> de questões <strong>do</strong> seu<br />

património no Porto, em Bouças (atual Matosinhos), em Tuías<br />

(Marco de Canaveses), ou patrocinan<strong>do</strong> a construção de novas<br />

igrejas. Uma delas foi a <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Cabeça Santa (Penafiel),<br />

criada devi<strong>do</strong> à devoção da infanta por uma relíquia* (um crânio,<br />

daí o nome da igreja), que tinha fama de realizar milagres; outra,<br />

também em Penafiel, foi a de São Pedro de Abragão, onde uma<br />

inscrição <strong>do</strong> século XVII conserva a memória da sua funda<strong>do</strong>ra.<br />

18 Pormenor, Marmoiral de Sobra<strong>do</strong>, Castelo de Paiva.<br />

30 31<br />

18


19 A tradição associa também as origens das Igrejas de São Gens<br />

de Boelhe, em Penafiel, e São Nicolau de Canaveses, no Marco<br />

de Canaveses, à figura da beata Mafalda de Portugal. Em alguns<br />

casos, porém, a fundação destas e outras igrejas é atribuída, popularmente,<br />

também à sua avó, a rainha D. Mafalda de Saboia,<br />

esposa de D. Afonso Henriques.<br />

32<br />

De acor<strong>do</strong> com a lenda, D. Mafalda foi surpreendida pela morte<br />

a 1 de maio de 1256, em Rio Tinto (Gon<strong>do</strong>mar), quan<strong>do</strong> voltava<br />

de uma romagem à imagem de Nossa Senhora da Silva, na Sé <strong>do</strong><br />

Porto. Os <strong>do</strong>cumentos ainda existentes indiciam, contu<strong>do</strong>, que o<br />

verdadeiro lugar <strong>do</strong> seu falecimento terá si<strong>do</strong> o Mosteiro de Tuías<br />

(Marco de Canaveses). Certo é que o seu corpo foi conduzi<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> lugar onde morreu até Arouca, em cortejo fúnebre, cuja passagem<br />

terá fica<strong>do</strong> assinalada por vários memoriais*. Entre eles<br />

contam-se três que se incluem na <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>: os Memoriais<br />

da Ermida (Penafiel), de Sobra<strong>do</strong> (Castelo de Paiva) e de<br />

Alpen<strong>do</strong>rada (Marco de Canaveses).<br />

D. Mafalda deixou bens em testamento a várias instituições <strong>do</strong><br />

Tâmega e Sousa, como os Mosteiros de Paço de Sousa (Penafiel)<br />

e de Vila Boa <strong>do</strong> Bispo (Marco de Canaveses). Missas de aniversário<br />

deviam aí ser rezadas, recordan<strong>do</strong>-a e sufragan<strong>do</strong>* a sua<br />

alma. Mas a sua memória seria conservada acima de tu<strong>do</strong> através<br />

da aura de santidade que já a acompanhava em vida e que, depois<br />

de morta, rapidamente se difundiu a partir de Arouca, transforman<strong>do</strong>-se<br />

num verdadeiro culto à infanta. Quan<strong>do</strong>, no século<br />

XVII, se abriu o seu túmulo, encontrou-se o corpo incorrupto da<br />

“santa rainha”, inician<strong>do</strong>-se então um longo processo de reconhecimento<br />

pela Igreja da sua santidade, que culminou com a sua<br />

beatificação, em 1792 (ou 1793, segun<strong>do</strong> algumas fontes), pelo<br />

papa Pio VI, acompanhan<strong>do</strong> assim nos altares as suas irmãs Teresa<br />

e Sancha, já declaradas beatas no início <strong>do</strong> século XVIII. O<br />

culto a D. Mafalda é festeja<strong>do</strong> no dia 2 de maio.<br />

19 Pormenor, Memorial da Ermida, Penafiel.<br />

33


A SOCIEDADE<br />

NA IDADE MÉDIA<br />

Falámos, até agora, essencialmente de reis, fidalgos e princesas,<br />

ou seja, de membros de um <strong>do</strong>s grupos sociais privilegia<strong>do</strong>s da<br />

Idade Média, a nobreza. Olhemos um pouco para a organização<br />

social medieval.<br />

Imaginava-se então a sociedade dividida de acor<strong>do</strong> com a função<br />

que cada um nela desempenhava: os que rezavam por to<strong>do</strong>s<br />

(oratores, em latim) faziam parte <strong>do</strong> clero; os que lutavam pela<br />

defesa comum (bellatores) eram os nobres; os que trabalhavam<br />

para sustentar os restantes grupos sociais (laboratores) constituíam<br />

o povo. Dentro de cada um destes grupos, naturalmente,<br />

havia distinções, tanto no que toca à importância detida como<br />

em relação à sua riqueza. Por isso se costuma falar de alto e<br />

baixo clero, bem como de alta e baixa nobreza. Dentro das classes<br />

populares havia também diferenciações, relacionadas com o<br />

estatuto social, as profissões exercidas e os rendimentos que por<br />

elas recebiam.<br />

No seio <strong>do</strong> clero distinguia-se ainda o regular <strong>do</strong> secular, como<br />

aliás hoje também se faz, porque ambos continuam a existir: o<br />

primeiro é forma<strong>do</strong> por religiosos que vivem em comunidade, em<br />

mosteiros, de acor<strong>do</strong> com os preceitos de uma regra (<strong>do</strong> latim<br />

regula, daí a designação de “regular”) que, em geral, implicavam<br />

sempre, pelo menos, os votos de pobreza, castidade e obediência;<br />

o clero secular, assim chama<strong>do</strong> por viver junto <strong>do</strong> século, ou seja,<br />

no meio da população laica*, podia conservar património próprio<br />

e tinha a seu cargo o serviço das paróquias*, poden<strong>do</strong> também<br />

estar liga<strong>do</strong> a igrejas colegiadas* ou aos cabi<strong>do</strong>s* das catedrais.<br />

20 Músicos e cavaleiros <strong>do</strong> século XII.<br />

34 35<br />

20


21 A VIDA<br />

QUOTIDIANA<br />

22<br />

21 Cena de uma colheita e vindima no século XII.<br />

22 Cena festiva no século XIII.<br />

Diferentes funções e lugares na hierarquia social correspondiam,<br />

naturalmente, a quotidianos distintos. No território <strong>do</strong> Tâmega<br />

e Sousa a maioria <strong>do</strong>s laboratores dedicava-se ao trabalho rural,<br />

cultivan<strong>do</strong> cereais, vinha, linho, legumes e leguminosas várias,<br />

para além de fazerem crescer árvores de fruto, de criarem ga<strong>do</strong> e<br />

aves. Além disso, aproveitavam bem os produtos que os bosques<br />

e as florestas forneciam, como a madeira e a lenha, o mel, a cera,<br />

os juncos, o mato e também a caça. As suas existências pautavam-se<br />

pelo calendário das atividades agrícolas e pecuárias*,<br />

de acor<strong>do</strong> com cada estação <strong>do</strong> ano. O nascer e o pôr <strong>do</strong> sol<br />

marcavam, sempre, o início e o final das atividades diárias, que se<br />

iam suceden<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a cadência <strong>do</strong> toque <strong>do</strong>s sinos da<br />

igreja, anuncian<strong>do</strong> as horas de oração. Durante o inverno, quan<strong>do</strong><br />

os trabalhos agrícolas abrandavam, procedia-se a muitas outras<br />

tarefas: fiava-se o linho e a lã, trabalhava-se ao tear, faziam-se<br />

cestos e tu<strong>do</strong> aquilo que o frio e a falta de atividades nos campos<br />

permitiam ter tempo para levar a cabo.<br />

As festas religiosas, como os dias de merca<strong>do</strong> ou feira, quebravam<br />

a rotina de um quotidiano duro, em que a produção obtida<br />

com tanto esforço era, em grande medida, entregue como pagamento<br />

de rendas e foros* aos senhores.<br />

Homens e mulheres trabalhavam la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> tanto no campo<br />

como nas atividades artesanais. No entanto, à mulher estava especialmente<br />

destina<strong>do</strong> o trabalho <strong>do</strong>méstico e a criação <strong>do</strong>s filhos.<br />

A mortalidade infantil era extremamente elevada em toda a<br />

sociedade medieval, mas mais ainda nos meios menos favoreci<strong>do</strong>s.<br />

A esperança de vida também não era alta, apontan<strong>do</strong>-se em<br />

geral uma média que rondaria entre os 30 e os 40 anos. Membros<br />

de grupos sociais mais abasta<strong>do</strong>s, com melhor alimentação<br />

e condições de vida mais favoráveis, podiam, porém, aspirar a<br />

vidas bem mais longas.<br />

Falávamos da vida <strong>do</strong>s camponeses <strong>do</strong> Tâmega e Sousa e da<br />

distribuição <strong>do</strong> trabalho entre homens e mulheres. Fiar e tecer,<br />

36 37


labores a que já fizemos referência, eram reserva<strong>do</strong>s às mãos<br />

femininas. Os homens tinham a seu cargo outros trabalhos, que<br />

exigiam maior força; e sobre eles recaíam também as obrigações<br />

militares a que sempre estavam sujeitos, quer fossem homens<br />

livres*, quer dependessem de senhores.<br />

A vida destes últimos, como pelo que dissemos antes se adivinha,<br />

era bem diferente da <strong>do</strong>s laboratores. Os filhos, como vimos<br />

a propósito de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda, eram cria<strong>do</strong>s<br />

por amas, muitas vezes longe <strong>do</strong>s pais. Os rapazes preparavam-se<br />

desde tenra idade para o ofício das armas, aprenden<strong>do</strong> a andar<br />

a cavalo e a usar lanças, espadas e o restante armamento que<br />

um cavaleiro devia saber utilizar. As meninas eram educadas para<br />

vir a ser boas esposas, sen<strong>do</strong> peças importantes para as alianças<br />

familiares, procuran<strong>do</strong>-se que elas fizessem casamentos que<br />

servissem os interesses da linhagem.<br />

Justas*, torneios* e caçadas constituíam algumas das atividades<br />

preferidas pelos nobres; além de momentos de diversão, eram<br />

também ocasiões de treino da arte de cavalgar e <strong>do</strong> uso das armas.<br />

A caça, em muitos casos, era praticada com aves de rapina,<br />

designan<strong>do</strong>-se como arte da falcoaria o saber treiná-las para colaborar<br />

com o homem. A montaria, ou seja, a caça de animais de<br />

grande porte, era muito apreciada também pelos membros da<br />

aristocracia* medieval. As justas eram lutas entre <strong>do</strong>is cavaleiros<br />

arma<strong>do</strong>s de lança, que procuravam acertar com ela no adversário<br />

ou fazê-lo cair. Podiam ser parte de torneios, verdadeiros jogos<br />

de guerra entre conjuntos de cavaleiros, que usavam não apenas<br />

as lanças, mas as suas outras armas, nomeadamente a espada,<br />

assim se treinan<strong>do</strong> para lutas reais que viessem a suceder.<br />

Sobre o mo<strong>do</strong> de vida eclesiástico, em especial <strong>do</strong>s monges, falaremos<br />

em capítulo à parte. Por ora, vejamos alguns aspetos mais<br />

concretos <strong>do</strong> quotidiano da época e das diferenças que separavam<br />

os vários grupos sociais.<br />

23 Cena de caça na Idade Média.<br />

38 39<br />

23


A ALIMENTAÇÃO<br />

A alimentação, por exemplo, não era igual para to<strong>do</strong>s. Os privilegia<strong>do</strong>s<br />

tinham acesso fácil à carne e ao peixe, que constituíam<br />

uma parte muito substancial <strong>do</strong> seu sustento. Para as classes<br />

mais desfavorecidas, porém, esses eram luxos raros, basean<strong>do</strong>-se<br />

a sua alimentação, essencialmente, no pão (feito sobretu<strong>do</strong> de<br />

cereais considera<strong>do</strong>s de segunda categoria, como o milho grosso,<br />

o centeio e a cevada, sen<strong>do</strong> o trigo reserva<strong>do</strong> em especial para os<br />

mais abasta<strong>do</strong>s) e no vinho, a que se juntavam as leguminosas,<br />

como o feijão e a castanha que, na altura, tinha um papel de<br />

algum mo<strong>do</strong> semelhante ao que tem hoje a batata, a qual só<br />

depois <strong>do</strong>s Descobrimentos foi introduzida na dieta europeia.<br />

No que toca a temperos, não havia, como hoje, especiarias ao<br />

dispor de cada um para melhorar o sabor <strong>do</strong>s alimentos; estas<br />

eram merca<strong>do</strong>rias caríssimas, trazidas por caravanas de longínquas<br />

terras orientais, usadas mais no fabrico de medicamentos<br />

<strong>do</strong> que na alimentação diária. O próprio açúcar era um produto<br />

de luxo, usan<strong>do</strong>-se como a<strong>do</strong>çante, por via de regra, o mel.<br />

Os desequilíbrios alimentares destas dietas eram grandes. Se aos<br />

mais carencia<strong>do</strong>s faltavam proteínas, estas eram consumidas em<br />

excesso pelos mais ricos. Se uns eram toca<strong>do</strong>s pelo raquitismo*,<br />

os outros facilmente sofriam de obesidade.<br />

O VESTUÁRIO<br />

O vestuário de cada grupo social constituía, também, um fator<br />

de diferenciação. Os teci<strong>do</strong>s mais rudes, feitos de linho ou de<br />

lã, eram os usa<strong>do</strong>s pelas camadas inferiores da sociedade. Os<br />

mais ricos podiam adquirir panos de melhor qualidade, incluin<strong>do</strong><br />

a seda, tingi<strong>do</strong>s de variadas cores, muitos deles importa<strong>do</strong>s de<br />

Inglaterra, de Itália ou da Flandres*, onde a produção têxtil tinha<br />

atingi<strong>do</strong> um grande desenvolvimento.<br />

No século XII, o vestuário era bastante simples e muito semelhante<br />

para homens e mulheres. Usava-se uma camisa, de lã, linho<br />

ou seda, consoante a riqueza de cada um, que dava pelos pés,<br />

poden<strong>do</strong> ser arregaçada, pelo menos à frente, e presa à altura da<br />

cintura. Por cima, vestia-se uma túnica com mangas (compridas<br />

ou a três quartos), chamada brial* ou saia, cujo teci<strong>do</strong> variava<br />

quer em qualidade, quer em cores. Um manto ou capa, com ou<br />

sem capuz, servia de agasalho.<br />

No século XIII, a camisa passou a ser mais curta e a servir como<br />

peça interior, e surgiram as primeiras cuecas, designadas bragas*.<br />

As mangas da saia tornaram-se mais ajustadas e longas; o<br />

seu comprimento foi diminuin<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo. Por cima,<br />

vestia-se um pelote*, mais ajusta<strong>do</strong> ao corpo e chegan<strong>do</strong> um<br />

pouco abaixo <strong>do</strong> joelho, de mangas curtas ou cavas*. O manto<br />

de antigamente passou a ser um adereço de cerimónia, prefe-<br />

GUERREIRO MEDIEVAL<br />

BACINETE<br />

COTA DE MALHA<br />

SELA<br />

LANÇA<br />

VISEIRA<br />

ESCUDO<br />

MANOPLAS<br />

GUALDRAPA<br />

CANELEIRAS<br />

40 41<br />

ESPORAS


24 rin<strong>do</strong>-se agora o guardacós* ou a garnacha*: o primeiro era um<br />

sobretu<strong>do</strong>, com mangas, gola alta e capuz; a segunda, mais curta<br />

e aberta à frente, podia ou não ter mangas.<br />

25<br />

24 Cabeça com touca, Capela da Quintã, Paredes.<br />

25 Cabeça feminina com touca posta sobre lenço, Mosteiro de Cête, Paredes.<br />

O trajo das mulheres, composto também por camisa e brial de<br />

mangas largas, foi igualmente acrescenta<strong>do</strong> de um pelote a partir<br />

<strong>do</strong> século XIII. Este era muito compri<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> acabar numa<br />

cauda; abria à frente e não tinha mangas. Por cima, tal como os<br />

homens, usavam um manto ou uma garnacha. Os cabelos eram<br />

completamente tapa<strong>do</strong>s por uma touca de pano, posta sobre um<br />

véu ou lenço que passava sob o queixo.<br />

Os sapatos, muito semelhantes para os <strong>do</strong>is sexos, eram pontiagu<strong>do</strong>s<br />

e feitos de pano ou cabedal, os primeiros mais adequa<strong>do</strong>s<br />

para serem usa<strong>do</strong>s em casa. As solas eram separadas, poden<strong>do</strong><br />

prender-se aos sapatos por meio de correias.<br />

Para os camponeses, o vestuário até aos pés não era prático: usavam<br />

antes um saio* que dava pelo meio da perna, com mangas<br />

compridas, e protegiam as pernas com meias ou calças até às<br />

ancas.<br />

Para ajustar as vestes ao corpo, recorria-se a cintos de variadas<br />

larguras, que serviam também para suprir a falta de bolsos, pois<br />

prendiam-se neles algibeiras e bolsas. Atilhos e alfinetes seguravam<br />

e apertavam as roupas, só no século XIII se difundin<strong>do</strong> o uso<br />

<strong>do</strong>s botões.<br />

AS CASAS<br />

As habitações, naturalmente, diferiam também consoante a<br />

condição social e a riqueza de cada um. Torres* e paços senhoriais,<br />

tal como igrejas e mosteiros, destacavam-se na paisagem,<br />

pela sua altura e por serem construí<strong>do</strong>s em pedra. As casas comuns<br />

eram muito simples, sobretu<strong>do</strong> em centros populacionais<br />

de pequena dimensão, como eram as aldeias e vilas <strong>do</strong> território<br />

<strong>do</strong> Tâmega e Sousa.<br />

42 43


Durante muitos séculos, a madeira foi o material de construção<br />

por excelência, sen<strong>do</strong> substituída pela pedra já em tempos mais<br />

avança<strong>do</strong>s. As casas alinhavam-se nas ruas e tendiam a ser mais<br />

compridas <strong>do</strong> que largas. Podiam ter um só piso (designan<strong>do</strong>-se<br />

então como térreas) ou <strong>do</strong>is (sobradadas). O número de divisões<br />

variava, mas era sempre diminuto, caracterizan<strong>do</strong>-se os espaços<br />

pela sua múltipla funcionalidade: se houvesse uma única divisão,<br />

aí se fazia a comida, se trabalhava e descansava; haven<strong>do</strong> duas, a<br />

parte destinada ao repouso familiar ficava mais resguardada da<br />

rua, e na outra faziam-se os trabalhos <strong>do</strong>mésticos e profissionais.<br />

Efetivamente, a casa de morada era também onde se faziam e<br />

comercializavam os produtos <strong>do</strong>s varia<strong>do</strong>s ofícios. Para comodidade<br />

<strong>do</strong>s clientes, e para melhor controlar a forma como os<br />

vários mesteirais* eram pratica<strong>do</strong>s, criou-se o hábito de juntar<br />

nas mesmas ruas to<strong>do</strong>s os profissionais <strong>do</strong> mesmo ofício: assim<br />

surgiram as ruas <strong>do</strong>s sapateiros, <strong>do</strong>s ferreiros, <strong>do</strong>s ourives, que<br />

em tantas localidades ainda hoje existem, guardan<strong>do</strong> a memória<br />

dessa prática nascida em tempos medievais.<br />

No que toca ao mobiliário das casas, o móvel por excelência era<br />

a arca, que servia para guardar as mais variadas coisas no seu<br />

interior. Podia ser usada também como assento ou mesa e, com<br />

almofadas por cima, transformava-se em cama.<br />

Com o correr <strong>do</strong> tempo, as habitações aumentaram de tamanho,<br />

as divisões multiplicaram-se e ganharam funções diferenciadas e<br />

o mobiliário passou também a ser mais diversifica<strong>do</strong>.<br />

26 Fachada su<strong>do</strong>este, Torre de Vilar, Lousada.<br />

44 45<br />

26


27 A MORTE<br />

46<br />

Diferentes na vida, os homens medievais diferenciavam-se também<br />

na morte. Os que tinham bens para deixar deviam fazer<br />

testamentos antes de morrer, não apenas dispon<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus<br />

bens, mas usan<strong>do</strong> os seus rendimentos para garantir orações pelas<br />

suas almas.<br />

No século XII desenvolveu-se a crença no Purgatório, isto é, num<br />

lugar intermédio entre o Inferno e o Paraíso onde as almas ficariam<br />

durante o tempo necessário para se penitenciarem pelos<br />

peca<strong>do</strong>s cometi<strong>do</strong>s durante a vida. As orações pelas almas <strong>do</strong>s<br />

defuntos assumiram, desde então, uma enorme importância, pois<br />

ajudavam a diminuir esse tempo de sofrimento no Purgatório e a<br />

ganhar o Paraíso. As riquezas acumuladas neste mun<strong>do</strong> podiam,<br />

portanto, servir para <strong>do</strong>ações feitas a instituições religiosas ou de<br />

assistência na hora da morte e para garantir numerosas missas<br />

de sufrágio pelas suas almas.<br />

Os mais ricos e prestigia<strong>do</strong>s, tanto nobres como eclesiásticos<br />

(clero), continuavam a destacar-se depois de mortos, mandan<strong>do</strong><br />

fazer arcas tumulares, muitas vezes esculpidas ou com estátuas<br />

jacentes*, que eram normalmente colocadas à entrada <strong>do</strong>s templos,<br />

nas galilés* (corpo avança<strong>do</strong> que antecedia a entrada das<br />

igrejas) ou no seu interior. Outras vezes colocavam lápides* trabalhadas<br />

a tapar as campas rasas onde os seus corpos eram enterra<strong>do</strong>s.<br />

As restantes sepulturas não costumavam ter nenhuma<br />

individualização especial, exceto, em alguns casos, um epitáfio<br />

que indicava a inumação* naquele lugar de uma determinada<br />

pessoa. Alguns túmulos eram antropomórficos, ou seja, tinham<br />

a forma <strong>do</strong> corpo humano, com um espaço destaca<strong>do</strong> para a<br />

cabeça; encontram-se por vezes sepulturas deste tipo junto de<br />

igrejas, como resulta<strong>do</strong> de acha<strong>do</strong>s em espaços cemiteriais que,<br />

por via de regra, se situavam junto aos templos.<br />

27 Capela de D. Gonçalo Oveques, Mosteiro de Cête, Paredes.<br />

47


OS MOSTEIROS<br />

E A VIDA MONÁSTICA<br />

Num <strong>Guia</strong> sobre o Tâmega e Sousa na Idade Média, a temática<br />

<strong>do</strong>s mosteiros é obrigatória por duas razões. Antes de mais,<br />

porque eles desempenharam um papel fundamental na época<br />

medieval, que foi o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu maior desenvolvimento,<br />

assistin<strong>do</strong>-se então à criação de inúmeras casas monásticas,<br />

sujeitas a diversas regras, pelas quais monges e monjas pautavam<br />

as suas vidas consagradas ao serviço de Deus, ao trabalho<br />

e à oração. Por outro la<strong>do</strong>, o monaquismo* medieval português<br />

conheceu a sua expressão máxima precisamente no território <strong>do</strong><br />

Entre-Douro-e-Minho, no qual o Tâmega e Sousa e a <strong>Rota</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Românico</strong> se situam.<br />

Com efeito, aqui se desenvolveu, já durante os séculos VI e VII,<br />

um forte movimento de fundação de mosteiros, inspira<strong>do</strong> e dinamiza<strong>do</strong><br />

por São Martinho de Dume* e por São Frutuoso*. A<br />

partir de 711, a conquista da Península Ibérica pelos muçulmanos<br />

provocou o desaparecimento de grande parte das casas religiosas<br />

existentes, mas várias permaneceram mesmo sob <strong>do</strong>mínio<br />

islâmico, enquanto outras renasceram ou foram fundadas à medida<br />

que a Reconquista avançava para sul e se tornava possível<br />

reorganizar a vida nestes locais.<br />

Até aos finais <strong>do</strong> século XI, esses mosteiros mantiveram-se fiéis<br />

às tradições monásticas ibéricas anteriores à invasão árabe.<br />

Só nessa altura começou entre nós o tempo <strong>do</strong> monaquismo<br />

beneditino*, com a chegada à Península Ibérica <strong>do</strong>s monges que<br />

seguiam a regra de Cluny*, mosteiro francês onde foi adaptada,<br />

com grande sucesso, a mais conhecida e divulgada de todas as<br />

regras, criada por São Bento* de Núrsia no século VI, que tinha<br />

consegui<strong>do</strong> encontrar um equilíbrio harmonioso entre o trabalho<br />

e a oração para os seus segui<strong>do</strong>res.<br />

28 Mosteiro de Pombeiro, Felgueiras.<br />

48 49<br />

28


29 Em geral, nessa época os mosteiros pertenciam às famílias <strong>do</strong>s<br />

seus funda<strong>do</strong>res, que intervinham no seu governo e se faziam<br />

sepultar nas suas igrejas, além de usufruírem de uma série de<br />

direitos, como a aposenta<strong>do</strong>ria* (ou seja, o direito de se instalarem<br />

nos edifícios monásticos) ou a come<strong>do</strong>ria* (quer dizer, direito<br />

de ali receberem comida), em troca da proteção que proporcionavam<br />

às comunidades monásticas e <strong>do</strong>s bens fundiários que<br />

lhes <strong>do</strong>avam.<br />

29 Cena <strong>do</strong> trabalho num scriptorium medieval.<br />

Alguns <strong>do</strong>s mosteiros que fazem parte da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>,<br />

como Santa Maria de Pombeiro (Felgueiras), Salva<strong>do</strong>r de Paço<br />

de Sousa (Penafiel), São Pedro de Cête (Paredes) e Salva<strong>do</strong>r de<br />

Travanca (Amarante) aderiram à regra beneditina e nela se mantiveram<br />

até datas variáveis: no caso de Cête até ao século XVI,<br />

nos outros três até à extinção em Portugal, no século XIX, das<br />

ordens religiosas. Outros, como São Pedro de Ferreira (Paços de<br />

Ferreira), Santa Maria de Cárquere (Resende), Santo André de Ancede<br />

(Baião), Santa Maria de Vila Boa <strong>do</strong> Bispo (Marco de Canaveses),<br />

São Martinho de Mancelos e Salva<strong>do</strong>r de Freixo de Baixo<br />

(estes <strong>do</strong>is em Amarante), foram casas da Ordem <strong>do</strong>s Cónegos<br />

Regrantes de Santo Agostinho*, outra ordem que teve grande<br />

importância no Portugal desses séculos, e cujo principal centro<br />

foi o célebre Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde se encontram<br />

sepulta<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is primeiros reis de Portugal, D. Afonso<br />

Henriques e D. Sancho I.<br />

A criação de um mosteiro exigia a escolha de um local apropria<strong>do</strong>,<br />

junto a cursos de água e a terrenos férteis, de mo<strong>do</strong> a<br />

que ficasse garantida a satisfação de necessidades básicas da<br />

comunidade. Depois, havia que pensar nos vários edifícios que<br />

eram necessários. Para além da igreja, tinha de existir um espaço<br />

de habitação, composto por <strong>do</strong>rmitório, refeitório, cozinhas, uma<br />

enfermaria. Era precisa também uma sala para as reuniões da<br />

comunidade, chamada sala <strong>do</strong> Capítulo por nela se ler, to<strong>do</strong>s os<br />

dias, um capítulo da regra. Havia ainda o claustro*, com o seu<br />

jardim central, pelo qual se fazia a ligação entre a igreja e as<br />

outras dependências. Também não podiam faltar os aposentos<br />

<strong>do</strong> abade (nos mosteiros beneditinos) ou prior (nas comunidades<br />

regrantes), acomodações para acolher visitas e peregrinos, um<br />

50 51


PLANTA DE UM MOSTEIRO MEDIEVAL<br />

01<br />

17<br />

15<br />

01 Galilé ou Nártex<br />

02 Nave<br />

03 Coro<br />

04 Transepto<br />

05 Capela-mor<br />

06 Capelas Laterais<br />

07 Claustro<br />

16<br />

18<br />

02 03<br />

08<br />

19<br />

07<br />

08 Jardim ou Pátio<br />

09 Dormitório<br />

10 Escadas<br />

11 Sacristia<br />

12 Biblioteca<br />

13 Sala <strong>do</strong> Capítulo<br />

14 Latrinas<br />

15 Entrada <strong>do</strong> Mosteiro<br />

16 Celeiro<br />

17 Escadas<br />

18 Cozinha<br />

19 Refeitório<br />

20 Calefactorium<br />

cemitério, assim como celeiros, adegas, estábulos e outras dependências<br />

necessárias à exploração agrícola e ao sustento da<br />

comunidade.<br />

Os mosteiros desempenharam um papel fundamental no povoamento<br />

e na reorganização das áreas onde se implantavam. As<br />

suas igrejas funcionavam como sedes de paróquias que davam<br />

o apoio religioso necessário à população local. Nas suas propriedades,<br />

os camponeses encontravam trabalho e dentro <strong>do</strong>s seus<br />

muros to<strong>do</strong>s se podiam acolher, em caso de perigo. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

constituíam pontos de passagem de grande importância, tanto<br />

de religiosos como de viajantes e peregrinos, por eles circulan<strong>do</strong><br />

não só pessoas, como também ideias e conhecimentos. Eram,<br />

ainda, polos culturais por excelência, pois aí funcionavam escolas<br />

e copiavam-se e escreviam-se livros, que eram li<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s<br />

quer nos ofícios divinos, quer na formação <strong>do</strong>s monges. Esses li-<br />

20<br />

12<br />

04<br />

10<br />

09<br />

11<br />

13<br />

05<br />

06<br />

14<br />

vros eram normalmente <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s por padroeiros e benfeitores, ou<br />

então copia<strong>do</strong>s no scriptorium* pelos próprios religiosos, sen<strong>do</strong><br />

também possível enviar copistas a outras instituições onde as<br />

obras desejadas existiam, e que ali as elaboravam, contribuin<strong>do</strong><br />

desta forma, também, para a circulação de livros, de escritas e de<br />

cultura em geral.<br />

A vida comunitária seguia um modelo que se registava num livro<br />

próprio, o costumeiro. Dos mosteiros da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>, só<br />

um chegou até nós, pertencente a Santa Maria de Pombeiro (Felgueiras).<br />

Graças a esse costumeiro, que data <strong>do</strong> século XIII, podemos<br />

conhecer melhor a organização e a forma como decorria<br />

o quotidiano nesta casa beneditina. O abade era a figura central,<br />

a quem deviam obediência to<strong>do</strong>s os membros da comunidade<br />

formada pelos monges, que tinham a seu cargo o bom funcionamento<br />

da instituição. Esta acolhia também crianças, que eram ali<br />

educadas e participavam nas cerimónias litúrgicas e nas procissões;<br />

quan<strong>do</strong> cresciam, podiam tornar-se noviços, ou seja, candidatos<br />

a religiosos, que eram prepara<strong>do</strong>s por um mestre para<br />

a vida e disciplina conventuais. Havia ainda os conversos, uma<br />

espécie de irmãos leigos auxiliares, encarrega<strong>do</strong>s de serviços<br />

vários.<br />

Nas casas de maior dimensão, o abade contava com o auxílio <strong>do</strong>s<br />

oficiais, monges com funções específicas. Um deles era o prior, o<br />

líder da comunidade; um outro o ecónomo, encarrega<strong>do</strong> das finanças,<br />

<strong>do</strong>s arquivos, <strong>do</strong> cadastro <strong>do</strong>s bens, assim como da iluminação<br />

<strong>do</strong>s vários espaços e, ainda, <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s com o vestuário<br />

e o calça<strong>do</strong>. Ao sacristão cabia ter em ordem o templo e todas<br />

as alfaias litúrgicas. O celeireiro, que tratava <strong>do</strong> abastecimento<br />

<strong>do</strong> mosteiro e da distribuição <strong>do</strong>s víveres, era outro importante<br />

oficial. O espaço onde se comia estava sob a responsabilidade<br />

<strong>do</strong> refeitoreiro, sen<strong>do</strong> o encarrega<strong>do</strong> da adega quem distribuía<br />

o vinho e o pão. Já o armarius* tinha funções de ordem cultural<br />

e espiritual, caben<strong>do</strong>-lhe a responsabilidade sobre os livros: distribuía<br />

as obras que cada membro <strong>do</strong> convento devia ler durante<br />

a Quaresma*, mantinha uma lista sempre atualizada <strong>do</strong>s livros<br />

empresta<strong>do</strong>s e estava à frente <strong>do</strong> scriptorium, onde estes eram<br />

copia<strong>do</strong>s.<br />

52 53


30<br />

31<br />

32<br />

54<br />

Havia ainda outros oficiais, como o esmoler*, que distribuía<br />

comida, sapatos e roupas pelos pobres, que costumavam vir a<br />

Pombeiro em grande número, não só devi<strong>do</strong> à proximidade da<br />

estrada que ligava Portugal a Castela, como pela fama das suas<br />

esmolas generosas. Os mestres <strong>do</strong>s meninos tinham a seu cargo<br />

as crianças, a quem ensinavam a leitura, o canto e a liturgia*.<br />

O enfermeiro cuidava <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes, num espaço próprio. O hospedeiro<br />

recebia os hóspedes e os peregrinos, que ficavam também<br />

instala<strong>do</strong>s em edifício à parte. Havia ainda os vigilantes <strong>do</strong><br />

mosteiro, irmãos mais velhos encarrega<strong>do</strong>s de verificar o comportamento<br />

<strong>do</strong>s restantes religiosos.<br />

O costumeiro definia também os horários da vida monástica,<br />

que se adaptavam às estações <strong>do</strong> ano de mo<strong>do</strong> a aproveitar ao<br />

máximo as horas de sol. Ao longo <strong>do</strong> dia, reuniam várias vezes<br />

para rezar as chamadas horas canónicas: matinas, laudes, prima,<br />

terça, sexta, noa, vésperas e completas. No verão, os monges de<br />

Pombeiro levantavam-se pelas duas horas da manhã para rezar<br />

as matinas, a que se sucediam as laudes; regressavam então ao<br />

<strong>do</strong>rmitório, para se levantarem de vez assim que o dia nascesse.<br />

Lavavam então as mãos e voltavam à igreja pelas seis horas, para<br />

as orações de prima. De seguida, trocavam os sapatos de noite<br />

pelos de dia e reuniam-se na sala <strong>do</strong> Capítulo. Durante a reunião<br />

lia-se um capítulo da regra e tratava-se de questões de ordem<br />

administrativa e disciplinar; de seguida, assistiam à missa matinal.<br />

Pelas nove horas, era altura das orações de terça, seguin<strong>do</strong>-se<br />

a missa maior. Ao meio-dia voltavam à igreja para as rezas de<br />

sexta, findas as quais almoçavam. Depois da refeição havia um<br />

perío<strong>do</strong> de leitura, descanso ou conversa. Pelas 15 horas rezavam<br />

as orações de noa e, no final, tomavam uma bebida. Às 17 horas<br />

era a altura das vésperas, findas as quais vinha o jantar e um momento<br />

de leitura em voz alta, no coro. Pelas 19 horas e 30 minutos<br />

chegavam as completas, in<strong>do</strong>-se depois os monges deitar.<br />

30 Mosteiro de Freixo de Baixo, Amarante.<br />

31 Mosteiro de Vila Boa <strong>do</strong> Bispo, Marco de Canaveses.<br />

32 Fachada ocidental, Mosteiro de Mancelos, Amarante.<br />

55


Assim se passava o dia a dia <strong>do</strong>s monges, pauta<strong>do</strong> pelo ora et<br />

labora (reza e trabalha, em latim) defini<strong>do</strong> por São Bento, e pela<br />

devoção a Deus que constituía o principal objetivo das suas vidas.<br />

Hoje, os mosteiros estão vazios de monges, muitos <strong>do</strong>s edifícios<br />

conventuais desapareceram ou estão em ruínas; mas neles<br />

ainda ecoam os sons de outras eras, como os <strong>do</strong> canto gregoriano,<br />

música religiosa por excelência criada nesses longínquos<br />

tempos medievais que ainda hoje nos encanta pela sua beleza<br />

e simplicidade.<br />

33 Interior da nave central, Mosteiro de Pombeiro, Felgueiras.<br />

56<br />

33<br />

57


35 UM TEMPO DE<br />

MUDANÇAS<br />

A arte românica surgiu num momento em que a Europa ocidental<br />

se unificava religiosamente. Graças à reforma impulsionada<br />

pelo papa Gregório VII*, a<strong>do</strong>tou-se o mesmo ritual religioso em<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> católico a partir de finais <strong>do</strong> século XI. Ao mesmo<br />

tempo, a grande abadia de Cluny, em França, abraçava uma estratégia<br />

de expansão <strong>do</strong>s seus mosteiros e da sua regra monástica.<br />

Em pouco tempo, os cluniacenses tornaram-se os mais importantes<br />

monges e a sua forma de organização foi seguida em<br />

mais de mil mosteiros um pouco por toda a Europa, fazen<strong>do</strong> com<br />

que houvesse um verdadeiro Esta<strong>do</strong> religioso acima <strong>do</strong>s reinos<br />

que existiam ao tempo.<br />

Na Península Ibérica, os primeiros monges de Cluny começaram<br />

a chegar ainda na segunda metade <strong>do</strong> século XI, antes de existir<br />

o Conda<strong>do</strong> Portucalense. Em 1080, no Concílio* de Burgos (Espanha),<br />

a liturgia romana (ou gregoriana) foi a<strong>do</strong>tada e, nas décadas<br />

seguintes, a Península Ibérica viu chegar de França muitos<br />

religiosos que ocuparam os principais cargos como abades e bispos.<br />

O próprio conde D. Henrique, a quem D. Afonso VI de Leão e<br />

Castela entregou o Conda<strong>do</strong> Portucalense, em 1096, era francês.<br />

A formação de Portugal está implicitamente ligada a essa união<br />

entre política e religião. A mesma estratégia foi seguida por D.<br />

Afonso Henriques, que contou com poderosos alia<strong>do</strong>s na Igreja<br />

para afirmar Portugal como reino independente.<br />

Na transição para o século XII eram poucas as construções novas<br />

e monumentais que existiam. À exceção de alguns castelos no<br />

Norte e em re<strong>do</strong>r de Coimbra, não estava construída nenhuma<br />

das grandes catedrais e os primeiros mosteiros só então começavam<br />

a despontar. No território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa, sabe-se que<br />

o Mosteiro de Paço de Sousa (Penafiel) foi <strong>do</strong>s primeiros a ser<br />

construí<strong>do</strong>, nos finais <strong>do</strong> século XI, edifício que, pouco mais de<br />

100 anos depois, foi substituí<strong>do</strong> pelo que ainda existe.<br />

34 Portal ocidental, Mosteiro de Pombeiro, Felgueiras.<br />

35 Portal ocidental, Mosteiro de Ferreira, Paços de Ferreira.<br />

60 61


MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA<br />

O Mosteiro de Paço de Sousa (Penafiel) teve um templo sagra<strong>do</strong><br />

em 1088, de que restam ainda vestígios nas fachadas laterais <strong>do</strong><br />

transepto*. Na primeira metade <strong>do</strong> século XII, possivelmente já na<br />

década de 40, o templo foi enriqueci<strong>do</strong> com a Capela <strong>do</strong> Corporal,<br />

espaço funerário (panteão*) <strong>do</strong>s Riba<strong>do</strong>uros, incluin<strong>do</strong> Egas Moniz,<br />

de que resta, aparentemente, um capitel* com leões afronta<strong>do</strong>s.<br />

Este Mosteiro constitui, aliás, uma referência arquitetónica para<br />

os edifícios religiosos funda<strong>do</strong>s nesse perío<strong>do</strong>, aqui nascen<strong>do</strong> a<br />

corrente designada por “românico nacionaliza<strong>do</strong>”*, que compilou<br />

temas e elementos oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> românico de Coimbra, da Sé<br />

<strong>do</strong> Porto e da tradição pré-românica.<br />

A INVENÇÃO DO<br />

ESTILO ROMÂNICO<br />

O termo “românico” para designar a arte produzida pela cristandade*<br />

europeia antes <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> gótico* foi inventa<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is<br />

arqueólogos franceses no início <strong>do</strong> século XIX: Adrien de Gerville<br />

(1769–1853) e Auguste Le Prévost (1787–1859). Por oposição<br />

aos termos que até essa altura se usavam (“saxão” ou “norman<strong>do</strong>”),<br />

estes arqueólogos pretenderam salientar a coincidência<br />

histórica de a arte românica ter surgi<strong>do</strong> praticamente ao mesmo<br />

tempo que a invenção das línguas de cada país, os romanços*,<br />

aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong>-se então o latim como língua comum à Europa<br />

ocidental. Foi, no entanto, pela mão de outro historia<strong>do</strong>r, Arcisse<br />

de Caumont (1801–1873), que o termo vingou, sen<strong>do</strong> ainda hoje<br />

utiliza<strong>do</strong> para definir o estilo artístico cria<strong>do</strong> na Europa entre os<br />

séculos XI e XIII. Em Portugal este estilo persistiu até ao século<br />

XV, naquilo que alguns autores designam como “românico de<br />

resistência”*.<br />

A arte românica utilizou muitos <strong>do</strong>s ensinamentos da arte romana,<br />

que a antecedeu em mais de 1000 anos. O uso sistemático<br />

<strong>do</strong> arco* de volta perfeita, as abóbadas* de berço, a perfeição<br />

<strong>do</strong>s silhares* (blocos de pedra) que formavam as paredes e a<br />

espessura <strong>do</strong>s muros são características que a arte românica<br />

foi beber aos seus longínquos antepassa<strong>do</strong>s romanos. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, a origem da palavra “românico” está também presente no<br />

Romantismo*, movimento cultural <strong>do</strong> século XIX que pretendeu<br />

valorizar aquele momento da Idade Média em que nasceram as<br />

línguas próprias de cada país, precisamente o mesmo momento<br />

em que primeiro se materializou a arte românica.<br />

62 63


Apesar de este ter si<strong>do</strong> o primeiro grande estilo artístico medieval,<br />

utiliza<strong>do</strong> em praticamente toda a Europa, há muitas diferenças<br />

regionais e cronológicas. Em França, onde muitas regiões<br />

faziam parte de reinos, conda<strong>do</strong>s* e duca<strong>do</strong>s* distintos, as<br />

diferenças regionais fizeram-se sentir de forma muito vincada.<br />

Em Portugal, as variantes regionais são menos profundas e as<br />

diferenças entre monumentos são mais o resulta<strong>do</strong> da vontade<br />

<strong>do</strong>s seus encomenda<strong>do</strong>res e <strong>do</strong> tempo em que as construções<br />

foram realizadas. Ainda assim, é possível reconhecer alguns focos<br />

geográficos, sen<strong>do</strong> o <strong>do</strong> território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa um <strong>do</strong>s<br />

mais importantes e mais bem delimita<strong>do</strong>s em termos estilísticos<br />

de to<strong>do</strong> o País.<br />

O MÉTODO<br />

CONSTRUTIVO<br />

Com a grande renovação religiosa da Península Ibérica veio também<br />

a arte românica. Esta representava uma forma nova de<br />

construir, resulta<strong>do</strong> direto <strong>do</strong>s grandes melhoramentos técnicos<br />

que se verificaram no ocidente europeu a partir <strong>do</strong>s séculos X e<br />

XI. Como há muito não se via na Europa, o sistema construtivo<br />

românico permitia o uso da abóbada de forma sistemática, ao<br />

mesmo tempo que as paredes atingiam notável perfeição e aspeto<br />

muito cuida<strong>do</strong>.<br />

A crescente procura por este tipo de soluções fez com que as<br />

técnicas românicas fossem <strong>do</strong> conhecimento de mais arquitetos<br />

e mestres de obras e, em pouco tempo, to<strong>do</strong>s os mosteiros, igrejas,<br />

capelas*, ermidas*, palácios, castelos, torres e pontes passaram<br />

a ser construí<strong>do</strong>s da mesma forma – com muros de dupla<br />

face de blocos de pedra bem talha<strong>do</strong>s, arcos de volta perfeita<br />

e, quan<strong>do</strong> era possível, utilizan<strong>do</strong> espaços abobada<strong>do</strong>s assentes<br />

36 Mosteiro de Ancede, Baião.<br />

37 Ponte de Vilela, rio Sousa, Lousada.<br />

38 Torre, Castelo de Arnoia, Celorico de Basto.<br />

39 Interior da nave central, Mosteiro de Travanca, Amarante.<br />

64 65<br />

36 37<br />

38 39


em pilares* –, processo também promovi<strong>do</strong> pela expansão <strong>do</strong>s<br />

mosteiros, que procuravam criar novas áreas de povoamento, de<br />

poder e de cultura.<br />

São duas as características principais das construções românicas:<br />

o uso de silhares de grande dimensão (retangulares e de<br />

vértices bem defini<strong>do</strong>s e dispostos nas paredes em iso<strong>do</strong>mia*,<br />

não dispensan<strong>do</strong> o arquiteto o uso <strong>do</strong> nível* ou fio de prumo);<br />

e um sistema de construção em tramos* quadrangulares ou retangulares,<br />

que permitia repetir quantas vezes se quisesse um<br />

mesmo módulo espacial de suportes e abóbadas. A forma de<br />

arco mais utilizada foi a de volta perfeita, que era acompanhada<br />

pelo semicírculo da abóbada e assim reforçava a sensação de<br />

igualdade de to<strong>do</strong>s os elementos da obra. Através de muros cada<br />

vez mais perfeitos, grossos e coesos, por vezes paredes duplas<br />

ou reforçadas por contrafortes*, conseguiam-se edifícios mais<br />

eleva<strong>do</strong>s, ao mesmo tempo que se minimizavam as eventuais<br />

imperfeições que enfraqueciam as construções. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

o módulo quadrangular e retangular permitia que, por meio de<br />

suportes muito grossos, se lançassem abóbadas de berço ou de<br />

arestas (mais raras vezes cúpulas*), as quais depois eram repetidas<br />

consoante a dimensão pretendida <strong>do</strong> edifício.<br />

O peso das abóbadas de pedra sobre os muros fez com que muitas<br />

construções tivessem de ser reforçadas com contrafortes<br />

exteriores, que ajudavam a estabilizar o telha<strong>do</strong>. No interior as<br />

abóbadas eram suportadas por grossos pilares, normalmente em<br />

forma de cruz, assim distribuin<strong>do</strong> por mais pontos de apoio o<br />

peso das abóbadas.<br />

A flexibilidade da arquitetura românica permitiu que fosse aplicada<br />

tanto às grandes catedrais e às invencíveis fortalezas, como<br />

às pequenas igrejas paroquiais, às torres e aos mosteiros, e até<br />

às pontes e aos moinhos. Por vezes, as próprias igrejas assemelham-se<br />

a fortalezas, como ocorreu na Igreja de São Martinho de<br />

Mouros (Resende). Foi o sucesso deste méto<strong>do</strong> de construção,<br />

afinal tão simples que podia ser aplica<strong>do</strong> a qualquer obra, urbana<br />

ou rural, tanto para reis como para camponeses, que determinou<br />

PLANTA DE UMA IGREJA MEDIEVAL<br />

galilé<br />

(ou nártex)<br />

FACHADA ROMÂNICA<br />

imposta aduelas friso<br />

mísula<br />

nave central<br />

tímpano<br />

portal norte<br />

nave lateral portal sul<br />

rosácea<br />

cornija<br />

transepto<br />

capela lateral<br />

(ou absidíolo)<br />

capela-mor<br />

(ou abside)<br />

66 67<br />

portal ocidental<br />

(ou principal)<br />

cachorro<br />

arquivoltas<br />

capitel<br />

fuste<br />

base<br />

coluna


ESTALEIROS MEDIEVAIS<br />

O encomenda<strong>do</strong>r da obra, o<br />

rei (coroa<strong>do</strong> e empunhan<strong>do</strong> o<br />

cetro na mão direita), visita o<br />

estaleiro de uma igreja por si<br />

patrocinada. No estaleiro, os<br />

trabalha<strong>do</strong>res esforçam-se por<br />

mostrar o seu trabalho. Com<br />

macha<strong>do</strong>s, uns talham os blocos<br />

de madeira para as asnas*<br />

<strong>do</strong> telha<strong>do</strong>, então em construção. Outros, com escopros* denta<strong>do</strong>s,<br />

trabalham a pedra para terminar os elementos de suporte <strong>do</strong> muro<br />

que falta também construir. Tu<strong>do</strong> isto é explica<strong>do</strong> ao monarca pelo<br />

mestre de obras, que usa o esquadro para medir a correção <strong>do</strong>s ângulos<br />

da pedra e da madeira.<br />

Esta é a imagem de uma catedral<br />

na fase final de construção,<br />

em que falta apenas o<br />

telha<strong>do</strong> e alguns acabamentos.<br />

A construção <strong>do</strong> telha<strong>do</strong> era<br />

um processo difícil, que necessitava<br />

de máquinas de madeira<br />

de grande dimensão, com sistemas<br />

de roldanas, para içar os<br />

materiais a uma grande altura.<br />

No edifício fronteiro à catedral,<br />

numa varanda em forma de baldaquino*, o rei (o encomenda<strong>do</strong>r<br />

da obra) explica como quer que a construção fique. No adro*,<br />

trabalha<strong>do</strong>res talham a pedra para vários fins: enquanto uns se limitam<br />

a aparelhar silhares para as abóbadas e paredes, outros fazem<br />

as argamassas* e há ainda grupos mais especializa<strong>do</strong>s, responsáveis<br />

pelas esculturas. Um deles está mesmo a fazer uma estátua que<br />

representa o rei. Depois de talhadas, as pedras são encaminhadas<br />

para o mestre de obras, vesti<strong>do</strong> de cinzento, que as mede e confere<br />

a regularidade <strong>do</strong>s ângulos. Só depois estão aptas a ser utilizadas,<br />

sen<strong>do</strong> transportadas para o interior da catedral por homens que<br />

trazem pequenos capacetes.<br />

o próprio sucesso <strong>do</strong> estilo românico, como nova forma de construção<br />

para um novo tempo.<br />

No românico <strong>do</strong> Tâmega e Sousa pre<strong>do</strong>minam as construções de<br />

proporções mais modestas, normalmente de nave* única e uma<br />

só abside* (ou capela-mor). À exceção <strong>do</strong>s grandes Mosteiros de<br />

Travanca (Amarante), Paço de Sousa (Penafiel) e Pombeiro (Felgueiras),<br />

e <strong>do</strong> muito original interior da Igreja de São Martinho de<br />

Mouros, as igrejas paroquiais a<strong>do</strong>taram quase todas um modelo<br />

mais simples, em que a nave é coberta por teto de madeira e<br />

apenas a capela-mor é abobadada. Esta opção diminuía os custos<br />

<strong>do</strong> projeto e acelerava também a sua conclusão, conseguin<strong>do</strong>-se<br />

uma obra mais barata e rápida.<br />

Normalmente, a cabeceira* era também um espaço mais baixo<br />

que a nave, mais reserva<strong>do</strong> e para onde deveria convergir o olhar.<br />

O nosso românico utilizou sistematicamente as absides quadrangulares,<br />

que eram mais fáceis de construir. Só em casos mais<br />

raros, com maiores financiamentos e melhores mestres de obras,<br />

se realizaram cabeceiras circulares, como no Mosteiro de São Pedro<br />

de Ferreira (Paços de Ferreira), e mais raramente poligonais.<br />

SENHORES E VASSALOS<br />

Na época românica assistimos a uma reorganização <strong>do</strong> território.<br />

Nas cidades constroem-se castelos, muralhas, igrejas e catedrais.<br />

Nas vilas, aldeias e áreas rurais, o desenvolvimento da agricultura,<br />

assente numa relação feudal entre senhores e vassalos, levou<br />

a uma renovação da paisagem como até então não tinha si<strong>do</strong><br />

possível. Reis, nobres, bispos e monges passaram a deter grandes<br />

propriedades (honras* no caso <strong>do</strong>s nobres e coutos* quan<strong>do</strong> estavam<br />

na posse de uma instituição eclesiástica), onde a população<br />

agrícola trabalhava.<br />

Novas aldeias surgiram em re<strong>do</strong>r ou no interior das propriedades<br />

senhoriais, com a sua igreja, o seu forno, a eira*, a praça central,<br />

os caminhos, as pontes… Os camponeses reconheciam o poder<br />

68 69


40 <strong>do</strong> seu senhor, membro da corte e, por isso, liga<strong>do</strong> por sangue ao<br />

rei, ou membro <strong>do</strong> clero. Em Portugal, o feudalismo* não se impôs<br />

de forma tão efetiva, manten<strong>do</strong> o rei uma série de poderes,<br />

como o de cunhar moeda e exercer a justiça ao mais alto nível,<br />

e foi permiti<strong>do</strong> a muitos homens livres formar concelhos, que<br />

eram administra<strong>do</strong>s por grupos de cavaleiros-vilãos* sem relação<br />

senhorial com os nobres.<br />

70<br />

Em cada aldeia era essencial que existisse uma igreja, onde a<br />

população recolhia orientação espiritual, recebia o batismo, celebrava<br />

o casamento e realizava a cerimónia fúnebre. Em muitos<br />

casos, a vida social desenrolava-se junto à igreja. O seu alpendre*<br />

(caso o tivesse) servia como local de reunião e de anúncio<br />

de decisões. O adro servia para compra e venda de produtos. E<br />

ao re<strong>do</strong>r foram construídas as casas da câmara, o pelourinho* e<br />

outros equipamentos de apoio à comunidade.<br />

No século XII, o território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa era uma região<br />

agrícola na posse de importantes famílias da corte de D. Afonso<br />

Henriques, ou na dependência de mosteiros beneditinos e de cónegos<br />

regrantes. Aqui cresceram pequenas aldeias de camponeses,<br />

pequenos núcleos onde as comunidades se organizavam e<br />

daí partiam para trabalhar nas honras. Em cada aldeia construiu-<br />

-se uma igreja, muitas vezes patrocinada pela família nobre que<br />

detinha a terra, que assim manifestava o seu poder e a sua riqueza.<br />

A imagem robusta e de prestígio que uma igreja românica<br />

transmitia levou a que to<strong>do</strong>s os agentes sociais privilegia<strong>do</strong>s<br />

(reis, nobres, bispos, abades e priores) tivessem promovi<strong>do</strong> novas<br />

obras, recolhen<strong>do</strong> muitas vezes <strong>do</strong>ações de pessoas que viviam<br />

nas imediações. A pedra utilizada foi o granito da região, embora<br />

em outras áreas <strong>do</strong> país se tenha construí<strong>do</strong> em calcário (como<br />

em Coimbra e Lisboa) e até em tijolo (como em Bragança). A<br />

arte românica não utilizou apenas a pedra: é possível identificar<br />

numerosas estruturas de madeira, como soalhos, tetos, alpendres<br />

e os andaimes para se proceder à construção das paredes,<br />

e, por vezes, superfícies de argamassa com taipa*, revela<strong>do</strong>ra da<br />

40 Fachada sul, Igreja de Vila Verde, Felgueiras.<br />

71


RELICÁRIOS E LIPSANOTECAS<br />

As relíquias eram normalmente guardadas em relicários ou em lipsanotecas,<br />

que se destinavam a fins diferentes. Os relicários, onde<br />

eram expostas para serem vistas, podiam ter os mais varia<strong>do</strong>s feitios<br />

e tamanhos, desde pequenas caixas ou medalhões, cofres decora<strong>do</strong>s<br />

com maior ou menor riqueza, até objetos com o formato da<br />

própria relíquia: um osso <strong>do</strong> braço guarda<strong>do</strong> num relicário em forma<br />

de braço, um pedaço <strong>do</strong> Santo Lenho (ou seja, da madeira da cruz<br />

em que Jesus Cristo foi crucifica<strong>do</strong>) guarda<strong>do</strong> numa cruz. As lipsanotecas<br />

conservavam-nas longe <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong>s fiéis; são pequenas<br />

caixas, geralmente de madeira, que ficavam escondidas num espaço<br />

escava<strong>do</strong> no altar.<br />

a Cabeça Santa, Mosteiro de Ancede, Baião.<br />

b Cruz processional, Mosteiro de Ancede, Baião.<br />

c Cruz processional, Igreja de Gagos, Celorico de Basto.<br />

d Cruz processional, Igreja de Telões, Amarante.<br />

a b<br />

c d<br />

influência islâmica. Grande parte <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res havia feito<br />

parte <strong>do</strong> estaleiro da Sé Catedral <strong>do</strong> Porto. E nessas igrejas instalaram-se<br />

párocos, que administravam as cerimónias religiosas.<br />

AS RELÍQUIAS<br />

Na época românica, o culto das relíquias (restos <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>s<br />

santos ou seus objetos pessoais) assumiu uma dimensão até<br />

então nunca vista. A crença no poder de cura e proteção <strong>do</strong>s<br />

santos (intercessão), nas indulgências* proclamadas pela Igreja e<br />

na proximidade em relação a enterramentos de santos fez com<br />

que a população procurasse nestes homens e mulheres sagra<strong>do</strong>s<br />

a resposta para o perdão <strong>do</strong>s seus peca<strong>do</strong>s e a esperança de salvação<br />

eterna.<br />

Uma igreja era tão mais importante consoante a relevância das<br />

relíquias <strong>do</strong>s santos nela veneradas. A sepultura junto <strong>do</strong>s santos<br />

(ad sanctos) foi muito procurada na Idade Média. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, muitas vezes a existência de relíquias atraía as <strong>do</strong>ações de<br />

nobres e religiosos, que ali se pretendiam sepultar e assim obter<br />

o perdão para os seus peca<strong>do</strong>s. Nesta época, não era permiti<strong>do</strong><br />

aos leigos enterrarem-se dentro das igrejas (e mesmo os monges<br />

de algumas ordens tinham cemitérios anexos aos templos).<br />

Por isso, em certas igrejas ainda existem espaços que antecedem<br />

a fachada principal (galilés) e onde recebiam enterramento os<br />

nobres que assim o desejassem. No Mosteiro de Ferreira (Paços<br />

de Ferreira), ainda é possível ver as ruínas da sua galilé e a<br />

<strong>do</strong> Mosteiro de Pombeiro (Felgueiras) foi identificada há pouco<br />

tempo, através das escavações arqueológicas ali realizadas. Em<br />

Freixo de Baixo e em Mancelos (ambos em Amarante), como foi<br />

característica <strong>do</strong>s mosteiros da Ordem <strong>do</strong>s Cónegos Regrantes<br />

de Santo Agostinho, a galilé está associada a uma torre, que se<br />

anexa à fachada principal da igreja.<br />

Foi também na época românica que teve início a devoção de<br />

prestar culto diante de imagens de santos, como ainda hoje se<br />

pratica. A crença de que através da prece feita diretamente ao<br />

72 73


santo de devoção da sua igreja se conseguia com maior facilidade<br />

o perdão de peca<strong>do</strong>s levou a que muitos encomenda<strong>do</strong>res<br />

patrocinassem a realização de estátuas, as quais ganharam<br />

grande fama.<br />

Nas igrejas da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> ainda se conservam algumas<br />

dessas imagens medievais. A maior parte é já <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> gótico<br />

e, por isso, representam uma piedade mais próxima da Virgem<br />

Maria e das suas características humanas, como Nossa Senhora<br />

<strong>do</strong> Leite ou Nossa Senhora com o Menino.<br />

Para alcançar ainda maior proximidade para com os santos, vulgarizou-se<br />

muito a peregrinação, sobretu<strong>do</strong> a Roma (Itália) e a<br />

Jerusalém (Israel). A mais célebre e mais próxima de Portugal, todavia,<br />

tinha como destino a Catedral de Santiago de Compostela<br />

(Espanha), onde se pensava que tinha si<strong>do</strong> deposita<strong>do</strong> o corpo de<br />

São Tiago, um <strong>do</strong>s Apóstolos* envia<strong>do</strong>s por Jesus para difundir a<br />

sua mensagem e exemplo.<br />

OS LUGARES E<br />

OS ARTISTAS<br />

O artista românico é um homem especializa<strong>do</strong>, forma<strong>do</strong> por<br />

outros artesãos em estaleiros de mosteiros, catedrais, castelos ou<br />

igrejas. Sabe-se ainda pouco sobre estes homens que inventaram<br />

uma nova arte e a expandiram para toda a Europa. É de crer<br />

que o ofício passasse de pais para filhos, de tios para sobrinhos,<br />

pois não eram vistos como verdadeiros artistas, mas sim como<br />

oficiais mecânicos*. Só mais tarde, já no Renascimento, é que os<br />

artífices começaram a ganhar um estatuto social diferente e a<br />

serem reconheci<strong>do</strong>s como tal.<br />

Após um perío<strong>do</strong> de aprendizagem, na equipa de um mestre,<br />

alguns aprendizes ganhavam autonomia e partiam para outras<br />

41 Siglas de canteiro, Igreja de Boelhe, Penafiel.<br />

74 75<br />

41


paragens, em busca de trabalho. Normalmente, viajavam com<br />

as suas famílias, não livres de to<strong>do</strong>s os perigos que os caminhos<br />

daquela altura escondiam. Em pequenos grupos de pedreiros,<br />

trabalhavam onde houvesse uma construção a fazer. A divisão de<br />

tarefas, no caso <strong>do</strong>s pedreiros, era simples. Havia um mestre de<br />

obras, a quem competia a supervisão da empreitada e, não raras<br />

vezes, o assentamento das pedras, utilizan<strong>do</strong> o nível para verificar<br />

a exata altura das fiadas. Os restantes eram canteiros que aparelhavam<br />

a pedra e muitas vezes recebiam consoante o número de<br />

silhares que haviam afeiçoa<strong>do</strong>. É por isso que em algumas obras<br />

portuguesas <strong>do</strong> século XIII os blocos de pedra começam a aparecer<br />

com siglas* ou marcas, sinal <strong>do</strong> canteiro que os aparelhou e<br />

que por esse trabalho receberia o salário no fim <strong>do</strong> dia.<br />

Quanto aos escultores (mais conheci<strong>do</strong>s por canteiros ou<br />

mestres de imagens), a especialização <strong>do</strong> trabalho era maior.<br />

Normalmente, um ou <strong>do</strong>is escultores viajavam integra<strong>do</strong>s numa<br />

oficina de vários canteiros. Não raras vezes, escultores forma<strong>do</strong>s<br />

em distintos estaleiros coincidiram numa obra, como foi o caso<br />

da Igreja <strong>do</strong> Mosteiro de São Pedro de Ferreira (Paços de Ferreira),<br />

em que se identificaram três escultores diferentes.<br />

A construção de uma igreja românica era um processo moroso,<br />

que normalmente durava várias gerações. A escolha <strong>do</strong> local<br />

privilegiava anteriores sítios sagra<strong>do</strong>s (onde a tradição ou os<br />

vestígios materiais indicavam ter existi<strong>do</strong> um templo), embora<br />

também haja casos de escolha de locais sobranceiros ao povoa<strong>do</strong><br />

mais próximo, com terreno suficiente para definir um adro,<br />

um cemitério e um novo centro dentro da aldeia. Os grupos de<br />

pedreiros e canteiros eram incorpora<strong>do</strong>s em determinada fase<br />

da obra, mas raramente a terminavam. A construção iniciava-se<br />

pela cabeceira. Quan<strong>do</strong> esta estava concluída, podia sagrar-se<br />

(ver Sagração*) o altar-mor e começar a celebrar as cerimónias<br />

religiosas. Muitas vezes, decorriam anos até se avançar para a<br />

42 Capitel, Igreja de Real, Amarante.<br />

43 Fresta, Mosteiro de Cárquere, Resende.<br />

44 Capitel, Capela de Fandinhães, Marco de Canaveses.<br />

45 Cachorro, Igreja de São Cristóvão de Nogueira, Cinfães.<br />

76 77<br />

42 43<br />

44 45


46 obra das naves, e mais anos ainda até se terminar a construção,<br />

cuja última peça era o portal principal (ou ocidental). No caso<br />

<strong>do</strong>s mosteiros, seguia-se para o claustro e para as dependências<br />

anexas, o que facilmente faria com que uma construção demorasse<br />

50, 80 ou 100 anos a ser realizada.<br />

78<br />

A ESCULTURA<br />

A escultura românica é tão importante como a arquitetura. Enquanto<br />

esta ilustra a perfeição e força <strong>do</strong> novo estilo, a escultura<br />

ajuda a divulgar as mensagens mais importantes que a Igreja da<br />

época pretendia difundir. Nos primeiros tempos da arte românica<br />

em Portugal, os artistas limitaram-se a esculpir, em cachorros*<br />

e capitéis*, figuras geométricas ou vegetalistas, que tinham<br />

o seu simbolismo próprio, como as cruzes que ornamentavam<br />

alguns tímpanos* ou simples alusões ao Paraíso. Mas ainda antes<br />

<strong>do</strong>s mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XII as pedras começaram a ganhar vida e<br />

expressão.<br />

Com algumas exceções (especialmente nas catedrais), a escultura<br />

está ao alcance <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong>s fiéis, em posição elevada,<br />

mas perto o suficiente para ser vista e compreendida. As cenas<br />

esculpidas concentram-se nos pontos para onde o olhar se dirige,<br />

principalmente nos portais, nas janelas, nas frestas* e nos<br />

capitéis, mas também nos grandes blocos de pedra (chama<strong>do</strong>s<br />

cachorros ou modilhões) que sustentam as cornijas <strong>do</strong>s telha<strong>do</strong>s,<br />

ou nos monumentos funerários.<br />

O espaço disponível para esculpir era pequeno e aperta<strong>do</strong>, muitas<br />

vezes curvo. Por isso, os artistas adaptaram as formas aos<br />

suportes existentes. Não havia a pretensão de criar cenas reais,<br />

mas sim de exprimir emoções, cenários fantásticos em que o<br />

Bem e o Mal se defrontavam. As figuras aparecem deformadas<br />

propositadamente, a<strong>do</strong>tam expressões malignas e feias quan<strong>do</strong><br />

46 Nossa Senhora de Meine<strong>do</strong>, Igreja de Meine<strong>do</strong>, Lousada.<br />

79


se pretende representar o Mal e aproximam-se <strong>do</strong> ser humano<br />

em realismo ou são de uma beleza idealizada para representar<br />

o Bem.<br />

O portal ocidental é o local onde se concentram os temas mais<br />

importantes. Em alguns casos são composições muito complexas,<br />

recheadas de histórias e episódios que a população analfabeta<br />

pouco compreendia. Em Portugal, não existem essas<br />

grandes superfícies totalmente esculpidas, nem a própria escultura<br />

ganhou em dimensão. Mas ela está presente com as suas<br />

características essenciais e o seu objetivo – lembrar aos fiéis os<br />

ensinamentos da religião e os exemplos que devem seguir para<br />

alcançar a salvação da alma.<br />

Nas igrejas da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> a escultura pertence em grande<br />

parte ao final da época românica. Abundam já os capitéis com<br />

motivos geométricos e vegetalistas (fitomórficos*), mas subsistem<br />

muitos que integram animais como cães, bois, leões, serpentes<br />

ou as intrigantes beak-heads*. Surgem também capitéis com<br />

motivos mais fantásticos, como as sereias. São formas achatadas<br />

sobre o campo escultórico, esculpidas num relevo muito suave<br />

talha<strong>do</strong> a bisel*, cujo corte é feito na oblíqua, e evidencian<strong>do</strong> um<br />

extremo cuida<strong>do</strong> no desenho, aspetos que, a juntar aos longos<br />

frisos* <strong>do</strong> interior e exterior <strong>do</strong>s templos e às colunas com várias<br />

faces (prismáticas) <strong>do</strong>s portais e bases arre<strong>do</strong>ndadas, tão bem<br />

individualizam o capítulo românico que se escreveu no território<br />

<strong>do</strong> Tâmega e Sousa ao longo <strong>do</strong> século XIII.<br />

A PINTURA<br />

E OUTRAS ARTES<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que hoje vemos, as igrejas românicas não eram<br />

da cor da pedra. Os portais, os capitéis e as aduelas* <strong>do</strong>s arcos<br />

eram superfícies que recebiam revestimentos de várias cores e<br />

47 Fachada ocidental, Igreja de Airães, Felgueiras.<br />

80 81<br />

47


48 <strong>do</strong>uramentos. Os monumentos que integram a <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong><br />

não conservam sinais de pintura original. Mas na Igreja matriz<br />

de Sernancelhe, por exemplo, o arco triunfal ainda tem muitos<br />

vestígios de cor. Vermelhos, <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s (estas duas eram as cores<br />

mais nobres), azuis, verdes e ocres* eram as colorações mais<br />

utilizadas, mas nos casos da escultura figurativa e das estátuas<br />

de santos as cores aproximavam-se <strong>do</strong> quotidiano <strong>do</strong>s fiéis e as<br />

figuras ganhavam realismo e até dramatismo.<br />

Infelizmente, não sobreviveu até hoje qualquer vestígio de pintura<br />

mural* românica em Portugal. Pelo contrário, são muitas<br />

as igrejas da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> que conservam grandes composições<br />

murais <strong>do</strong>s séculos XV e XVI, usan<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> a técnica<br />

a fresco*. No arco triunfal da Igreja de Gatão (Amarante) e<br />

nas capelas-mores das Igrejas de Valadares (Baião) e de São Nicolau<br />

(Marco de Canaveses), os vestígios são ainda <strong>do</strong> século XV:<br />

composições coloridas, que representam santos da devoção particular<br />

daquelas igrejas, mas também aspetos mais complexos,<br />

como a representação <strong>do</strong> Inferno, ou da Natividade*.<br />

No século XVI, o gosto pela pintura mural multiplica-se. As semelhanças<br />

entre várias composições provam que os mesmos<br />

pintores ou oficinas participaram em empreitadas sucessivas.<br />

Conhecemos os nomes de alguns deles, como os mestres Delirante<br />

de Guimarães (na Igreja de Telões, Amarante), Arnaus (no<br />

Mosteiro de Pombeiro e na Igreja de Vila Verde, Felgueiras, e na<br />

Ermida <strong>do</strong> Vale, Paredes), Moraes (na Igreja de Santo Isi<strong>do</strong>ro,<br />

Marco de Canaveses) e a oficina de Bravães I (na Igreja de São Nicolau,<br />

Marco de Canaveses, e no Mosteiro de Freixo de Baixo,<br />

Amarante), entre outros. O gosto pela pintura mural continuou<br />

nos séculos seguintes e ainda é possível encontrar composições<br />

plenamente barrocas* (séculos XVII e XVIII) aplicadas a paredes<br />

românicas, como em Abragão (Penafiel) ou Vila Boa de Quires<br />

(Marco de Canaveses).<br />

48 Santa Catarina de Alexandria, Igreja de São Nicolau, Marco de Canaveses.<br />

82 83


Rarean<strong>do</strong> no nosso país os casos de igrejas pintadas na época<br />

românica, é na iluminura* que se encontram os melhores exemplos<br />

de pintura desse tempo. A cultura letrada, desenvolvida<br />

nos grandes mosteiros e em algumas catedrais, levou a que os<br />

scriptoria se especializassem em verdadeiras obras de arte, que<br />

eram depois conduzidas para outros mosteiros e aí voltavam a<br />

ser copiadas, assim se levan<strong>do</strong> o conhecimento a cada vez mais<br />

lugares. Texto e pintura combinavam-se de forma única para formar<br />

livros de grande valor, como a Bíblia <strong>do</strong> Mosteiro de Alcobaça<br />

ou o Apocalipse <strong>do</strong> Mosteiro de Lorvão (Penacova).<br />

O estilo românico não se limitou a obras de arquitetura, escultura<br />

e pintura. Também na ourivesaria e nas artes <strong>do</strong>s metais se<br />

registaram grandiosas criações. As principais são de carácter religioso,<br />

como cruzes, relicários e cálices, mas também se fizeram<br />

báculos*, cofres para relíquias e tesouros e mesmo retábulos*.<br />

Uma das mais célebres criações foi o cálice que D. Gueda Mendes<br />

ofereceu ao Mosteiro de Refojos de Basto (Cabeceiras de Basto),<br />

em 1152.<br />

O PODER DOS<br />

SÍMBOLOS<br />

Nos edifícios religiosos românicos to<strong>do</strong>s os elementos têm uma<br />

simbologia. A planta das igrejas, especialmente as catedrais e<br />

os grandes mosteiros, têm a forma de uma cruz, com um corpo<br />

compri<strong>do</strong> de uma ou três naves, uma nave transversal (transepto)<br />

a evocar os braços da cruz e uma cabeceira.<br />

A igreja é a Casa de Deus e <strong>do</strong>s santos que ali se veneram. É um<br />

edifício novo, cuida<strong>do</strong>, monumental, mesmo que as suas proporções<br />

sejam reduzidas. É um edifício diferente de to<strong>do</strong>s os outros.<br />

Possui um sino no topo, que chama os fiéis à oração, mas<br />

que também assinala quan<strong>do</strong> alguém morre, as horas <strong>do</strong> dia ou<br />

49 Inferno, Igreja de Valadares, Baião.<br />

84 85<br />

49


mesmo situações de perigo para a comunidade. A cabeceira, de<br />

acor<strong>do</strong> com a orientação canónica, volta-se para oriente, para<br />

Jerusalém (Israel), onde Jesus foi morto e onde simbolicamente<br />

se iniciou a Igreja Católica, e assim o altar recebe a primeira luz<br />

da manhã. O portal principal, pelo contrário, está volta<strong>do</strong> para<br />

ocidente, por aqui entran<strong>do</strong> os fiéis em dias festivos, já que normalmente<br />

se acedia ao interior por uma porta lateral. Passavam<br />

ainda primeiro pelo cemitério, onde os seus antepassa<strong>do</strong>s repousavam<br />

até ao dia <strong>do</strong> Juízo Final.<br />

Este portal principal é o “pórtico celeste”, que alguns autores<br />

também chamam de “pórtico da glória”, <strong>do</strong> “céu” ou da “salvação”.<br />

Era preciso que os fiéis o transpusessem para entrar na Casa<br />

de Deus. E era preciso que compreendessem, ainda que minimamente,<br />

o que ele representava. Normalmente, os portais eram<br />

protegi<strong>do</strong>s por um leão, um boi, guerreiros ou seres fantásticos<br />

que defendiam simbolicamente a entrada. Acima deles ilustram-<br />

-se cenas que apontam para o Bem e para o Mal. Monstros horren<strong>do</strong>s<br />

a devorar seres humanos alertavam para a existência <strong>do</strong><br />

Inferno como destino de quem não fosse correto e justo; aves<br />

num jardim a beber calmamente da mesma taça ou a partilhar<br />

um fruto ilustravam a certeza <strong>do</strong> Paraíso para aqueles que não se<br />

afastavam da Igreja e praticavam o Bem.<br />

Ao contrário <strong>do</strong>s portais, onde os temas religiosos se impõem,<br />

os cachorros (ou modilhões) e mísulas* receberam muitas vezes<br />

esculturas mais profanas. É comum verem-se aí retratos simples<br />

e imediatos <strong>do</strong> quotidiano das populações (músicos, saltimbancos,<br />

loucos...), ou representações <strong>do</strong>s vícios <strong>do</strong>s seres humanos:<br />

o barril em alusão ao vinho e mesmo figurações sexuais mais<br />

ou menos explícitas, como nos cachorros das Igrejas de Santo<br />

Isi<strong>do</strong>ro (Marco de Canaveses) ou de Tarouquela (Cinfães).<br />

50 Portal ocidental, Igreja de Tabua<strong>do</strong>, Marco de Canaveses.<br />

51 Capitéis, Igreja de Cabeça Santa, Penafiel.<br />

52 Portal ocidental, Igreja de Ribas, Celorico de Basto.<br />

53 Capitel, Igreja de Barrô, Resende.<br />

86 87<br />

50 51<br />

52 53


54<br />

55<br />

56<br />

57<br />

CRISTO, JUIZ DE TODAS AS COISAS,<br />

E O PAPEL DA VIRGEM MARIA<br />

Na Idade Média, acreditava-se que cada ser humano seria julga<strong>do</strong><br />

no dia <strong>do</strong> Juízo Final ou no dia em que o mun<strong>do</strong> acabasse.<br />

Não importava quanto tempo decorresse entre a morte física e<br />

esse momento de ressurreição para a eternidade. O protagonista<br />

desse Juízo Final era Jesus Cristo e, por isso, os tímpanos das<br />

mais importantes igrejas e mosteiros continham representações<br />

de Jesus a presidir ao julgamento e a separar as almas (Cristo<br />

Pantocrator*). A imagem <strong>do</strong> Filho de Deus é distante, fria, como<br />

de um verdadeiro juiz se tratasse, imbuí<strong>do</strong> da missão de julgar<br />

objetivamente a prestação de determina<strong>do</strong> ser humano durante<br />

a sua vida terrena, sem atenuantes ou preferências.<br />

A acompanhar Jesus Cristo na sua missão estão os principais elementos<br />

da corte celeste: os Evangelistas, que difundiram a palavra<br />

de Deus, representa<strong>do</strong>s na escultura por um anjo (Mateus),<br />

um leão (Marcos), um boi (Lucas) e uma águia (João); os principais<br />

santos, com destaque para os Apóstolos; e até os anciãos<br />

menciona<strong>do</strong>s no Livro <strong>do</strong> Apocalipse (o último livro da Bíblia)<br />

como testemunhas <strong>do</strong> julgamento.<br />

Nos monumentos da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> os tímpanos a<strong>do</strong>taram<br />

uma simbologia mais modesta, mas muito diversificada. Em Travanca<br />

(Amarante) ilustrou-se o Agnus Dei (Cordeiro de Deus),<br />

representação de um cordeiro que se deixou imolar pelo fogo,<br />

em referência ao sacrifício de Jesus para salvar a humanidade. Em<br />

Tarouquela (Cinfães) esculpiu-se uma exuberante Árvore da Vida,<br />

sinónimo <strong>do</strong> Paraíso, e em Paço de Sousa (Penafiel) conserva-se<br />

uma das mais enigmáticas representações, com uma Lua e um<br />

Sol sustenta<strong>do</strong>s por duas figuras, que podem representar o dia e<br />

a noite, o princípio e o fim <strong>do</strong>s tempos, to<strong>do</strong> o ciclo de vida na<br />

Terra subordina<strong>do</strong> à vontade de Deus. Em outros casos, o tímpa-<br />

54 Agnus Dei, Torre <strong>do</strong> Mosteiro de Travanca, Amarante.<br />

55 Lua e Sol, Mosteiro de Paço de Sousa, Penafiel.<br />

56 Árvore da Vida, Igreja de Tarouquela, Cinfães.<br />

57 Cruz vazada, Igreja de Unhão, Felgueiras.<br />

88 89


no foi trata<strong>do</strong> ainda mais sumariamente, com uma simples cruz<br />

vazada, a lembrar o românico da diocese de Braga, como acontece<br />

nas Igrejas de Unhão (Felgueiras) ou Jazente (Amarante).<br />

Se no exterior se pode ver normalmente o Juízo Final, o interior<br />

<strong>do</strong>s templos é mais reserva<strong>do</strong> ao ato de rezar. Aí poderia<br />

encontrar-se uma imagem da Virgem Maria, com o Menino Jesus<br />

ao colo, aquele mesmo Menino que, em adulto, se transformaria<br />

no juiz supremo de todas as almas. A devoção à Mãe de Jesus,<br />

enquanto intercessora para o perdão <strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s homens,<br />

tornou-se, em pouco tempo, numa das mais importantes crenças.<br />

As catedrais eram dedicadas a Santa Maria, tal como muitas<br />

igrejas paroquiais e quase to<strong>do</strong>s os mosteiros da Ordem de Cister,<br />

e no final da época românica, como que a anunciar um novo<br />

tempo, multiplicaram-se as representações da Virgem Maria, associadas<br />

a Jesus, ou nas chamadas Anunciações, que ilustravam<br />

a visita <strong>do</strong> arcanjo Gabriel a Maria, anuncian<strong>do</strong>-lhe que estava<br />

grávida <strong>do</strong> Filho de Deus.<br />

58 Nossa Senhora com o Menino, Igreja de Gatão, Amarante.<br />

90 91<br />

58


60<br />

Oceano<br />

Atlântico<br />

Porto<br />

Lisboa<br />

Região<br />

Norte<br />

PORTUGAL<br />

Faro<br />

ESPANHA<br />

59 Fachada ocidental, Mosteiro de Paço de Sousa, Penafiel.<br />

60 Mapas de enquadramento <strong>do</strong> Tâmega e Sousa.<br />

ROTA DO ROMÂNICO<br />

UMA EXPERIÊNCIA<br />

FUNDADA NA HISTÓRIA<br />

A <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> é um projeto turístico-cultural assente no<br />

património edifica<strong>do</strong> – mosteiros, igrejas, capelas, castelos, torres,<br />

pontes e memoriais – nasci<strong>do</strong> com a fundação da nacionalidade<br />

portuguesa e que testemunha o papel relevante deste território<br />

na história da nobreza e das ordens religiosas em Portugal.<br />

Desenhada, desde 1998, para os concelhos <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Sousa<br />

(Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes<br />

e Penafiel), a <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> alargou-se, em 2010, aos restantes<br />

municípios da NUT III – Tâmega (Amarante, Baião, Celorico<br />

de Basto, Cinfães, Marco de Canaveses e Resende).<br />

Têm si<strong>do</strong> diversos os campos de intervenção da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>.<br />

Procedeu-se a obras de conservação e salvaguarda <strong>do</strong>s monumentos<br />

e das áreas envolventes; qualificaram-se centenas de<br />

profissionais; produziram-se materiais de divulgação científica e<br />

promocional; instalaram-se centros de informação e realizaram-<br />

-se inúmeras atividades de animação turística, cultural e pedagógica,<br />

entre muitas outras ações.<br />

A <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> procura contribuir para o desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> território <strong>do</strong> Tâmega e Sousa, sen<strong>do</strong> constituída por um<br />

conjunto de 58 monumentos, distribuí<strong>do</strong>s por três percursos de<br />

visita: Vale <strong>do</strong> Sousa, Vale <strong>do</strong> Douro e Vale <strong>do</strong> Tâmega.<br />

94 95


PERCURSO<br />

VALE DO SOUSA<br />

Este percurso permite<br />

a descoberta, ao longo<br />

<strong>do</strong> vale <strong>do</strong> rio Sousa, de 19<br />

monumentos da <strong>Rota</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Românico</strong>. Inicia-se no<br />

Mosteiro de Santa Maria<br />

de Pombeiro, em Felgueiras,<br />

e termina no Memorial da<br />

Ermida, em Penafiel,<br />

passan<strong>do</strong> também pelos<br />

concelhos de Lousada,<br />

Paços de Ferreira e<br />

Paredes.<br />

96<br />

16<br />

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01 Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro Felgueiras<br />

Santa Maria de Pombeiro foi um <strong>do</strong>s mais importantes mosteiros<br />

beneditinos <strong>do</strong> Entre-Douro-e-Minho. Funda<strong>do</strong> por D. Gomes<br />

Echiegues e sua mulher Gontroda em 1102, teve origem numa<br />

antiga comunidade monástica. Apesar das extensas obras de<br />

que foi alvo nos séculos XVII e XVIII, conserva ainda a planta,<br />

os absidíolos e o portal principal da sua fundação medieval. Os<br />

capitéis <strong>do</strong> portal principal são um notável exemplo de escultura<br />

românica.<br />

02 Igreja de São Vicente de Sousa Felgueiras<br />

A Igreja de Sousa fazia parte de um conjunto conventual, cuja<br />

construção se concluiu no século XIII, como atesta a inscrição<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> portal norte, referin<strong>do</strong> a sua sagração solene no ano<br />

de 1214. O portal principal apresenta três pares de colunas e<br />

quatro arquivoltas*, desenvolvidas em profundidade, com bases<br />

bolbiformes* e em que um <strong>do</strong>s pares de colunas é octogonal. O<br />

tímpano possui, como decoração, uma cruz da Ordem de Malta*<br />

perfurada.<br />

03 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Unhão Felgueiras<br />

A construção original da Igreja de Unhão data <strong>do</strong> século XII, ten<strong>do</strong><br />

a sua traça si<strong>do</strong> estabelecida pelo Mestre Sisal<strong>do</strong>. Sagrada em<br />

1165 pelo arcebispo de Braga, D. João Peculiar, só seria concluída<br />

no século XIII, sen<strong>do</strong> muito remodelada no século XVIII. É um<br />

estimável testemunho da arquitetura românica portuguesa. O<br />

portal principal apresenta um conjunto de capitéis vegetalistas<br />

considera<strong>do</strong>s entre os melhores esculpi<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong> o românico<br />

<strong>do</strong> norte de Portugal.<br />

04 Ponte da Veiga Lousada<br />

Ponte de pedra de um só arco, ligeiramente quebra<strong>do</strong>, com aduelas<br />

estreitas e compridas que evidenciam marcas de canteiro<br />

(pedreiro), constitui o exemplo de travessia gótica, cujo perío<strong>do</strong><br />

de edificação se situará na primeira metade <strong>do</strong> século XV. É<br />

provável que a sua execução se deva aos abades <strong>do</strong> Mosteiro de<br />

Pombeiro (Felgueiras). A Ponte da Veiga inscreve-se na categoria<br />

de travessia paroquial ou municipal, asseguran<strong>do</strong> a circulação e o<br />

escoamento entre os férteis campos <strong>do</strong> rio Sousa.<br />

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100<br />

05 Igreja de Santa Maria de Airães Felgueiras<br />

A Igreja de Airães é um significativo exemplar da longa permanência<br />

<strong>do</strong> modelo construtivo da época românica no Vale<br />

<strong>do</strong> Sousa. Data <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIII, embora esteja <strong>do</strong>cumentada<br />

desde 1091. Apesar de apresentar três naves, da construção<br />

românica, originalmente de uma só nave, conservam-se a cabeceira<br />

e a parte central da fachada ocidental. O portal principal<br />

revela capitéis vegetalistas e um friso com um padrão de laços.<br />

06 Igreja de São Mamede de Vila Verde Felgueiras<br />

A referência <strong>do</strong>cumental mais antiga respeitante à Igreja de São<br />

Mamede de Vila Verde data de 1220. Integrava então o padroa<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro (Felgueiras). É constituída<br />

por uma única nave e cabeceira retangulares. Os vestígios<br />

da pintura mural mostram que a parede da cabeceira foi pintada<br />

à maneira de um altar, onde são identificadas as representações<br />

de S. Bento e provavelmente de S. Bernar<strong>do</strong>.<br />

07 Torre de Vilar Lousada<br />

A Torre de Vilar, mais <strong>do</strong> que uma construção militar, é um símbolo<br />

<strong>do</strong> poder senhorial sobre o território. Testemunha a existência da<br />

<strong>do</strong>mus fortis (ou casa forte), a residência senhorial fortificada, no<br />

Vale <strong>do</strong> Sousa. Terá si<strong>do</strong> construída entre a segunda metade <strong>do</strong><br />

século XIII e o início <strong>do</strong> século XIV. Segun<strong>do</strong> as Inquirições* de<br />

1258, Sancte Marie de Vilar era honra de D. Gil Martins e <strong>do</strong>s seus<br />

descendentes, da família <strong>do</strong>s Ribavizelas.<br />

08 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Aveleda Lousada<br />

A Igreja de Aveleda testemunha a persistência das formas românicas<br />

na arquitetura medieval portuguesa. Possui elementos de aspeto<br />

muito tardio, sintoma de uma construção que dificilmente<br />

será anterior ao final <strong>do</strong> século XIII ou mesmo ao início <strong>do</strong> século<br />

XIV, embora a fundação da Igreja remonte aos séculos XI ou XII.<br />

Igreja de uma só nave, com capela-mor igualmente de planta<br />

retangular, possui cobertura de madeira e uma estrutura muito<br />

simples.<br />

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102<br />

09 Ponte de Vilela Lousada<br />

De difícil datação, a Ponte de Vilela poderá ter si<strong>do</strong> construída<br />

no perío<strong>do</strong> de crescimento das necessidades de circulação no<br />

Vale <strong>do</strong> Sousa – século XIII – para ultrapassar o obstáculo natural<br />

constituí<strong>do</strong> pelo rio Sousa. Esta Ponte é composta por quatro arcos<br />

de volta perfeita apoia<strong>do</strong>s em três pilares. Este tipo de ponte<br />

inspira-se diretamente na tradição construtiva romana, da qual<br />

her<strong>do</strong>u um conhecimento prático de construção de grande resistência.<br />

10 Igreja de Santa Maria de Meine<strong>do</strong> Lousada<br />

Edifício de construção tardia, a Igreja de Santa Maria de Meine<strong>do</strong><br />

poderá corresponder à reedificação de um antigo mosteiro que<br />

se teria ergui<strong>do</strong> no mesmo local no século XI, reforman<strong>do</strong> uma<br />

antiga construção <strong>do</strong> século VII. O edifício atual datará <strong>do</strong> século<br />

XIII, facto atesta<strong>do</strong> pela inscrição datada de 1262 existente à<br />

entrada da Igreja. Meine<strong>do</strong> foi sede de uma diocese, liderada por<br />

um bispo, no século VI.<br />

11 Ponte de Espin<strong>do</strong> Lousada<br />

A Ponte de Espin<strong>do</strong> é formada por um só arco de volta perfeita<br />

apoia<strong>do</strong> em sóli<strong>do</strong>s pilares que arrancam diretamente das margens.<br />

As paredes revelam os sucessivos arranjos a que foram<br />

submetidas, com pedras de regularidade diversa. Ponte medieval<br />

de transição, mais tardia que a de Vilela, apresenta um tabuleiro<br />

em cavalete* ou <strong>do</strong>rso-de-burro que atesta o seu carácter mais<br />

gótico que românico.<br />

12 Mosteiro de São Pedro de Ferreira Paços de Ferreira<br />

A Igreja <strong>do</strong> Mosteiro de São Pedro de Ferreira é um <strong>do</strong>s mais<br />

singulares monumentos <strong>do</strong> românico português. Para além da<br />

excelência da sua arquitetura, nesta Igreja conjugam-se em harmonia<br />

fachadas e motivos ornamentais provenientes de diversas<br />

regiões e oficinas: Zamora–Compostela, Coimbra–Porto e Braga–<br />

–Unhão. Junto à fachada principal, conserva-se a ruína de uma<br />

galilé de função funerária, excelente testemunho deste tipo de<br />

construção.<br />

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13 Torre <strong>do</strong>s Alcofora<strong>do</strong>s Paredes<br />

Torre senhorial, símbolo de uma Idade Média problemática, a<br />

<strong>do</strong>mus fortis (ou casa forte) <strong>do</strong>s Alcofora<strong>do</strong>s tomou a designação<br />

a partir <strong>do</strong>s últimos senhores, descendentes <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res,<br />

provavelmente os de Urrô. Com <strong>do</strong>is pisos separa<strong>do</strong>s por pavimentos<br />

de madeira, a eles se acede por porta de arco de volta<br />

perfeita, rasgada no rés <strong>do</strong> chão. Destacam-se na Torre as duas<br />

janelas de sabor gótico. Estes elementos permitem-nos datar a<br />

estrutura <strong>do</strong> século XIV.<br />

14 Capela da Senhora da Piedade da Quintã Paredes<br />

Capela, ou ermida, como é referida em 1758, este pequeno<br />

templo comunitário próximo à velha estrada Porto–Penafiel foi<br />

dedica<strong>do</strong> nos tempos modernos à Virgem da Piedade. Da medievalidade<br />

(séculos XIII–XIV) subsiste a pequena capela-mor,<br />

primorosamente decorada ao nível da cornija sustentada por<br />

cachorros. No interior destaca-se o talhe cuida<strong>do</strong> das pedras, nomeadamente<br />

as que compõem o arco triunfal e que refletem a<br />

intervenção da época moderna que lhe acrescentou uma nave.<br />

15 Mosteiro de São Pedro de Cête Paredes<br />

A fundação <strong>do</strong> Mosteiro de Cête, que a tradição atribui a D.<br />

Gonçalo Oveques, remonta ao século X. Apesar da reforma da<br />

época gótica, esta Igreja é um testemunho da longa aceitação<br />

<strong>do</strong>s padrões românicos. Se o portal lateral norte deve ser considera<strong>do</strong><br />

como gótico, já o portal principal retoma aspectos <strong>do</strong><br />

românico tardio. Nos claustros merecem destaque algumas bem<br />

conservadas arcas tumulares de cavaleiros nobres.<br />

16 Torre <strong>do</strong> Castelo de Aguiar de Sousa Paredes<br />

Este Castelo situava-se na rede defensiva <strong>do</strong> território, a que os<br />

reis das Astúrias deram muita atenção. Em 995, foi ataca<strong>do</strong> por<br />

Almançor no seu avanço para Braga e Compostela, no contexto<br />

da Reconquista. Encabeçou uma “Terra” na reorganização <strong>do</strong> território<br />

<strong>do</strong> século XI e um importante “Julga<strong>do</strong>”, já no século XIII.<br />

Nos finais deste século o Castelo de Aguiar de Sousa terá si<strong>do</strong><br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. As ruínas revelam um castelo com uma torre descentrada<br />

face à muralha de planta oval.<br />

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17 Ermida da Nossa Senhora <strong>do</strong> Vale Paredes<br />

A Ermida <strong>do</strong> Vale é composta por nave retangular e cabeceira<br />

quadrangular, com cobertura de madeira. O arranjo <strong>do</strong> portal<br />

principal e a escultura que apresenta mostram como a resistência<br />

<strong>do</strong>s motivos românicos se prolongou no tempo. O edifício é<br />

precedi<strong>do</strong> por uma galilé de sabor clássico. Esta Ermida conserva<br />

vestígios de pintura mural, atribuída ao mestre Arnaus, com representações<br />

de Anjos Músicos.<br />

18 Mosteiro <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Paço de Sousa Penafiel<br />

Está liga<strong>do</strong> à família <strong>do</strong>s Riba<strong>do</strong>uros da qual provém Egas Moniz,<br />

famoso tutor <strong>do</strong> rei D. Afonso Henriques. Em 1106, Egas Moniz<br />

lega ao Mosteiro metade da sua fortuna, com a indicação de ali<br />

ser sepulta<strong>do</strong>. A sua arca tumular constitui uma das mais belas<br />

peças da escultura românica nacional. Nela estão esculpidas cenas<br />

da vida <strong>do</strong> aio, como o episódio da prestação de vassalagem<br />

em Tole<strong>do</strong>, a sua morte e cerimónias fúnebres.<br />

19 Memorial da Ermida Penafiel<br />

O Memorial da Ermida corresponde a um tipo de monumentos<br />

de que restam apenas seis exemplares em to<strong>do</strong> o território<br />

nacional. Estes monumentos deverão relacionar-se tanto com a<br />

colocação de túmulos, como com a evocação da memória de<br />

alguém, como ainda com a passagem de cortejos fúnebres. Segun<strong>do</strong><br />

a lenda, terá si<strong>do</strong> um ponto de paragem no transporte<br />

<strong>do</strong> corpo de D. Mafalda, filha de D. Sancho I, para o Mosteiro de<br />

Arouca.<br />

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23<br />

PERCURSO<br />

VALE DO DOURO<br />

Este percurso permite a descoberta, ao longo<br />

<strong>do</strong> vale <strong>do</strong> rio Douro, de 14 monumentos da<br />

<strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>. Inicia-se na Igreja de São<br />

Miguel de Entre-os-Rios, em Penafiel, e termina no<br />

Memorial de Alpen<strong>do</strong>rada, no Marco de Canaveses,<br />

passan<strong>do</strong> também pelos concelhos de Castelo de<br />

Paiva, Cinfães, Resende e Baião.<br />

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23 Igreja de São Miguel de Entre-os-Rios Penafiel<br />

A Igreja de Entre-os-Rios situa-se num importante território<br />

da época da Reconquista. A criação <strong>do</strong> território de Anégia está<br />

<strong>do</strong>cumentada desde o ano de 870. A primeira referência à Igreja<br />

remonta ao final <strong>do</strong> século XI. O atual templo não corresponde<br />

a uma época tão tardia. Foi alvo de uma reforma ocorrida no<br />

século XIV. É uma Igreja de uma só nave, retangular, com cobertura<br />

de madeira, com cabeceira de planta idêntica.<br />

24 Marmoiral de Sobra<strong>do</strong> Castelo de Paiva<br />

O Marmoiral de Sobra<strong>do</strong> é um monumento funerário forma<strong>do</strong><br />

por duas cabeceiras verticais com cruzes gravadas, onde se<br />

apoiam duas lajes horizontais. A superior é retangular e a inferior,<br />

correspondente a uma tampa sepulcral, apresenta formato<br />

arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong> na superfície. Tal como os Memoriais da Ermida<br />

(Penafiel) e de Alpen<strong>do</strong>rada (Marco de Canaveses), terá si<strong>do</strong> um<br />

ponto de paragem, segun<strong>do</strong> a lenda, no transporte <strong>do</strong> corpo de D.<br />

Mafalda, filha de D. Sancho I, para o Mosteiro de Arouca.<br />

25 Igreja de Nossa Senhora da Natividade de Escamarão<br />

Cinfães<br />

Igreja rural, foi fundada pelo Mosteiro de Alpen<strong>do</strong>rada (Marco de<br />

Canaveses), talvez no século XIV. Apesar <strong>do</strong> aspeto maciço da<br />

sua estrutura e da persistência da decoração de sabor românico,<br />

são visíveis as mudanças para o gótico: utilização <strong>do</strong> arco quebra<strong>do</strong>,<br />

que a janela da cabeceira é elemento principal. Implantada<br />

junto <strong>do</strong> rio Douro, Escamarão era a sede religiosa de um<br />

pequeno couto na foz <strong>do</strong> rio Paiva.<br />

26 Igreja de Santa Maria Maior de Tarouquela Cinfães<br />

Do mosteiro de monjas beneditinas apenas resta a velha Igreja,<br />

edificada no século XIII, onde a influência <strong>do</strong> românico está bem<br />

presente ao nível da decoração: as beak-heads <strong>do</strong> arco triunfal,<br />

<strong>do</strong>is homens com uma só cabeça, serpentes e sereias. Mosteiro<br />

rico, foi cobiça<strong>do</strong> por muitos que esperavam através dele obter<br />

prestígio e poder. Da linhagem <strong>do</strong>s Resendes à <strong>do</strong>s Pintos, o seu<br />

valioso património é testemunho desse percurso que terminou<br />

no século XVI.<br />

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112<br />

27 Igreja de São Cristóvão de Nogueira Cinfães<br />

Igreja implantada a meia encosta, que parece ter si<strong>do</strong> erguida ou<br />

reconstruída sobre estrutura anterior (<strong>do</strong>s séculos XII–XIII), dan<strong>do</strong><br />

assim expressão à lenda que refere a mudança da velha Igreja,<br />

numa noite, por mouros robustos. O atual edifício pertence à<br />

categoria de igrejas constituídas por diversidades estéticas, entre<br />

as quais se destacam as intervenções <strong>do</strong>s séculos XVII e XVIII<br />

que redefiniram o interior, nomeadamente através da edificação<br />

de altares laterais e <strong>do</strong> teto com caixotões decora<strong>do</strong>s.<br />

28 Ponte da Panchorra Resende<br />

Ponte de <strong>do</strong>is arcos com tabuleiro horizontal, a Panchorra liga<br />

as margens <strong>do</strong> rio Cabrum, em plena serra de Montemuro, a<br />

cerca de 1000 metros de altitude. Edificada no perío<strong>do</strong> moderno,<br />

constitui um importante testemunho de obra coletiva e de<br />

arquitetura tradicional destinada a assegurar o trânsito de carros<br />

agrícolas, pessoas e ga<strong>do</strong> no território da Panchorra, povoação<br />

com origem medieval, autonomizada antes <strong>do</strong> século XVI como<br />

paróquia dedicada a São Lourenço.<br />

29 Mosteiro de Santa Maria de Cárquere Resende<br />

Panteão da linhagem <strong>do</strong>s Resendes, Cárquere possui alguns elementos<br />

da sua estrutura inicial românica: a torre e uma fresta <strong>do</strong><br />

referi<strong>do</strong> panteão. Aqui surge um <strong>do</strong>s temas mais peculiares <strong>do</strong><br />

românico português, as beak-heads. O interior da igreja, embora<br />

tenha cresci<strong>do</strong> sobre a estrutura medieval, é fruto das intervenções<br />

gótica e maneirista*, de que são testemunhos a abóbada de<br />

nervuras da capela-mor e os portais principal e lateral norte.<br />

30 Igreja de São Martinho de Mouros Resende<br />

Monumento que se destaca no românico português, a Igreja de<br />

São Martinho de Mouros impressiona pela robustez da sua torre-<br />

-fachada. Porém, não obstante a sua aparência militar, nunca<br />

cumpriu funções que não fossem as religiosas. A sua edificação<br />

pode ter-se arrasta<strong>do</strong> por vários anos, resultan<strong>do</strong> na cessação<br />

<strong>do</strong> projeto original, que se pensa de três naves e cujo início corresponde<br />

ao interior da torre-fachada. No interior destaca-se a<br />

capela-mor profundamente alterada na época moderna.<br />

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114<br />

31 Igreja de Santa Maria de Barrô Resende<br />

Igreja de matriz românica, mas cuja estrutura e ornamentação<br />

anunciam já a chegada <strong>do</strong> gótico, é no interior que encontramos<br />

importantes testemunhos da construção medieval, de que<br />

se destaca o conjunto de capitéis <strong>do</strong> arco triunfal narran<strong>do</strong> cenas<br />

de caça. No seguimento da profunda remodelação barroca, a<br />

imagem da Virgem da Assunção, o retábulo maior e o Calvário de<br />

invulgares dimensões <strong>do</strong>minam e marcam o presente espaço.<br />

32 Igreja de São Tiago de Valadares Baião<br />

Igreja que se inscreve no românico de resistência, foi edificada<br />

em finais <strong>do</strong> século XIII, talvez sobre edifício anterior. Implantada<br />

num viçoso vale, incorpora a linguagem medieval <strong>do</strong>s paramentos<br />

exteriormente lisos com a gramática barroca que no interior<br />

marca toda a espacialidade. Entre ambas as cronologias, marcam<br />

presença as pinturas murais aplicadas nas paredes laterais e na<br />

parede <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> da capela-mor no século XV, provavelmente<br />

encomendadas por um <strong>do</strong>s abades desta Igreja, D. João Camelo<br />

de Sousa.<br />

33 Ponte de Esmoriz Baião<br />

Destinada a assegurar a passagem de pessoas e animais dentro<br />

<strong>do</strong> couto de Ancede, a Ponte de Esmoriz localiza-se quase à<br />

vista de duas importantes casas senhoriais da região: Esmoriz e<br />

Penalva. Unin<strong>do</strong> as margens <strong>do</strong> rio Ovil, com um único arco, de<br />

aduelas estreitas e compridas e aparelho bem corta<strong>do</strong>, suporta<br />

um tabuleiro ligeiramente levanta<strong>do</strong>, modelo comum e repeti<strong>do</strong><br />

desde a medievalidade. A Ponte de Esmoriz constitui um interessante<br />

exemplo de engenharia vernacular (tradicional).<br />

34 Mosteiro de Santo André de Ancede Baião<br />

Igreja e Mosteiro de Cónegos Regrantes, depois <strong>do</strong>s Dominicanos*,<br />

Ancede é testemunho de um importante centro económico<br />

e cultural. Ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> couta<strong>do</strong> em 1141, da velha igreja românica<br />

sobraram apenas a rosácea e parte das paredes laterais<br />

da capela-mor. No adro, a Capela <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong> Bom Despacho é<br />

um notável teatro onde pequenos palcos narram a vida de Cristo,<br />

exemplo da importância deste Mosteiro no perío<strong>do</strong> barroco*.<br />

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35 Capela da Senhora da Livração de Fandinhães Marco de<br />

Canaveses<br />

A atual Capela dedicada à Virgem da Livração já foi a igreja principal<br />

da paróquia de São Martinho de Fandinhães. A sua implantação,<br />

longe das vias de comunicação e das áreas povoadas junto<br />

ao vale <strong>do</strong> Douro, ocasionou a transferência e criação de uma<br />

nova sede paroquial, em Paços de Gaiolo. Permanece, assim, a<br />

memória desta estrutura românica, que, desmantelada ou projetada,<br />

alberga curiosos pormenores <strong>do</strong> trabalho artístico <strong>do</strong>s<br />

canteiros medievais.<br />

36 Memorial de Alpen<strong>do</strong>rada Marco de Canaveses<br />

Integran<strong>do</strong> um conjunto de monumentos memorativos, tipicamente<br />

portugueses e datáveis <strong>do</strong> século XIII, de que restam<br />

apenas seis exemplares, o Memorial de Alpen<strong>do</strong>rada distingue-se<br />

pelo seu bom esta<strong>do</strong> de conservação. Embora não nos mostre<br />

qualquer inscrição, sabemos que este monumento funerário,<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de dupla cavidade mortuária, foi edifica<strong>do</strong> para homenagear<br />

um cavaleiro, conforme nos indica a espada gravada no<br />

plinto que serve de base ao seu arco.<br />

117


PERCURSO<br />

VALE DO TÂMEGA<br />

Este percurso permite a descoberta, ao longo<br />

<strong>do</strong> vale <strong>do</strong> rio Tâmega, de 25 monumentos da<br />

<strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong>. Inicia-se na Igreja de São<br />

Pedro de Abragão, em Penafiel, e termina na<br />

Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Fervença, em Celorico de<br />

Basto, passan<strong>do</strong> também pelos concelhos <strong>do</strong><br />

Marco de Canaveses e Amarante.<br />

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20 Igreja de São Pedro de Abragão Penafiel<br />

A Igreja de Abragão conserva a cabeceira da época românica, testemunho<br />

significativo da arquitetura românica <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Sousa.<br />

No exterior, o friso composto por motivos geométricos recorda<br />

o mo<strong>do</strong> de decorar as igrejas das épocas visigótica e moçárabe*.<br />

Esta Igreja está <strong>do</strong>cumentada desde 1105. No entanto, a cabeceira,<br />

que a tradição atribui à iniciativa de D. Mafalda, filha <strong>do</strong> rei<br />

D. Sancho I, data <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> quartel <strong>do</strong> século XIII.<br />

21 Igreja de São Gens de Boelhe Penafiel<br />

A Igreja de Boelhe, edificada entre os mea<strong>do</strong>s e o final <strong>do</strong> século<br />

XIII, caracteriza-se por ser uma das mais conseguidas expressões<br />

decorativas <strong>do</strong> românico rural. Na fachada norte, os cachorros<br />

apresentam uma assinalável variedade de motivos que vão desde<br />

cabeças de touro até homens que transportam pedra. É de realçar<br />

a qualidade patente na construção <strong>do</strong>s muros, nos quais é visível<br />

uma apreciável quantidade de siglas geométricas e alfabéticas.<br />

22 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Cabeça Santa Penafiel<br />

O nome da Igreja de Cabeça Santa está liga<strong>do</strong> a uma devoção<br />

de D. Mafalda, filha <strong>do</strong> rei D. Sancho I, à relíquia de um personagem<br />

consagra<strong>do</strong> que aí se guardaria, a Cabeça Santa. Esta Igreja<br />

é um excelente exemplar para compreender a arquitetura românica<br />

portuguesa. O portal principal apresenta um tímpano<br />

com cabeças de bovídeos destinadas a proteger, simbolicamente,<br />

a entrada da Igreja. O portal sul possui um curioso saltimbanco,<br />

numa posição acrobática.<br />

37 Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa <strong>do</strong> Bispo Marco de<br />

Canaveses<br />

Cabeça de um importante património histórico, a sua fundação<br />

é associada à linhagem <strong>do</strong>s Gascos (ou Riba<strong>do</strong>uros), cujo poder<br />

senhorial se centrou nesta região após a Reconquista. É provável<br />

que a igreja românica, da qual só restam alguns testemunhos,<br />

tivesse si<strong>do</strong> edificada entre os seculos XII e XIII. Atualmente é<br />

expressiva da medievalidade, além <strong>do</strong>s túmulos, a ornamentação<br />

da fachada principal que indicia o carácter único que esta teria<br />

no seio <strong>do</strong> românico português.<br />

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38 Igreja de Santo André de Vila Boa de Quires Marco de<br />

Canaveses<br />

Esta Igreja, ligada na sua origem a um mosteiro, foi construída no<br />

segun<strong>do</strong> quartel <strong>do</strong> século XIII. Destaca-se a sua fachada principal<br />

composta por portal e janelão que ostentam capitéis com motivos<br />

simétricos de sabor vegetalista. Na fachada sul encontra-se<br />

um portal ricamente ornamenta<strong>do</strong>, estilisticamente inspira<strong>do</strong> no<br />

românico irradia<strong>do</strong> de Paço de Sousa (Penafiel). No interior são<br />

notáveis as intervenções <strong>do</strong>s séculos XVIII e XIX, nomeadamente<br />

ao nível <strong>do</strong>s altares e das pinturas da abóbada da capela-mor.<br />

39 Igreja de Santo Isi<strong>do</strong>ro de Canaveses Marco de<br />

Canaveses<br />

Igreja românica cuja construção remonta à segunda metade <strong>do</strong><br />

século XIII, inscreve-se num cruzamento de influências estilísticas<br />

provenientes de três áreas principais <strong>do</strong> românico português:<br />

Porto, Braga–Rates e bacia <strong>do</strong> Sousa. Destaca-se, no exterior, o<br />

seu elabora<strong>do</strong> portal principal e, no interior, o bem preserva<strong>do</strong><br />

conjunto de pintura a fresco que preenche parte da parede fundeira<br />

da capela-mor, com várias representações de santos, obra<br />

datada de 1536 e autografada por um pintor de nome Moraes.<br />

40 Igreja de Santa Maria de Sobretâmega Marco de<br />

Canaveses<br />

Igreja que se enquadra na categoria de românico de resistência<br />

(tardio), edificada posteriormente a 1320, conforme atesta<br />

o arranjo <strong>do</strong>s seus portais, sem colunas e capitéis. No portal<br />

principal, mísulas ornadas com meias esferas (pérolas*), um motivo<br />

românico com grande acolhimento nas bacias <strong>do</strong> Tâmega e<br />

Douro. Relaciona-se esta Igreja, desde a sua origem, com a Igreja<br />

de São Nicolau na outra margem <strong>do</strong> rio Tâmega e estas com a<br />

submersa ponte medieval de Canaveses.<br />

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41 Igreja de São Nicolau de Canaveses Marco de Canaveses<br />

Igreja edificada após 1320, representa um exemplo <strong>do</strong> românico<br />

de resistência, testemunha<strong>do</strong> pela ausência de colunas e capitéis<br />

no portal principal. Construída junto ao Tâmega, próxima de uma<br />

antiga via de ligação <strong>do</strong> litoral ao interior <strong>do</strong> vale <strong>do</strong> Douro, apresenta<br />

dimensões modestas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> intervencionada na época<br />

moderna, nomeadamente através da abertura de janelas. No seu<br />

interior destacam-se as pinturas murais a fresco, descobertas em<br />

1973, e que se julga terem integra<strong>do</strong> um conjunto de maiores<br />

dimensões.<br />

42 Igreja de São Martinho de Soalhães Marco de Canaveses<br />

Soalhães foi um território muito importante e cobiça<strong>do</strong> pela nobreza<br />

medieval. O interior da Igreja de Soalhães espanta pelo<br />

investimento que no século XVIII a ornamentou com painéis<br />

de azulejos, painéis em madeira relevada e talha que se estende<br />

além <strong>do</strong>s próprios altares. Dessa época persistem o portal principal,<br />

a moldura com pérolas <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> óculo* que o encima e<br />

o túmulo guarda<strong>do</strong> por arcossólio* na capela-mor.<br />

43 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Tabua<strong>do</strong> Marco de Canaveses<br />

Edifício enquadra<strong>do</strong> na categoria de românico de resistência, a<br />

Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Tabua<strong>do</strong> impressiona pela robustez da sua<br />

construção, acentuada pela torre sineira e pelos contrafortes que<br />

sustentam as paredes laterais. Da sua estrutura destaca-se o portal<br />

principal ornamenta<strong>do</strong> com elementos comuns ao românico<br />

<strong>do</strong> Tâmega e Sousa, como as cabeças de bois. No interior destaca-se<br />

a pintura mural que representa uma sagrada conversação<br />

entre Cristo juiz, São João Baptista e São Tiago.<br />

44 Ponte <strong>do</strong> Arco Marco de Canaveses<br />

Ponte de um só arco de volta perfeita, que sustenta um tabuleiro<br />

em cavalete, sobre o rio Ovelha. Os mestres pedreiros instalaram<br />

os seus alicerces em <strong>do</strong>is maciços rochosos das margens, formulan<strong>do</strong><br />

assim uma estrutura mais robusta e segura. Parte de uma<br />

rede municipal e paroquial de caminhos no antigo concelho de<br />

Gouveia, a Ponte <strong>do</strong> Arco é uma boa representante <strong>do</strong> modelo de<br />

travessias locais que se difundiu ao longo da época moderna.<br />

125


45 Igreja de Santa Maria de Jazente Amarante<br />

Integrada no conjunto de igrejas ditas de românico de resistência,<br />

Jazente preserva a simplicidade ornamental que caracterizaria o<br />

perío<strong>do</strong> da sua edificação. No exterior <strong>do</strong>mina a composição <strong>do</strong><br />

portal, remata<strong>do</strong> por tímpano onde se expõe uma cruz perfurada.<br />

No interior, preserva-se a imagem gótica que invoca o seu<br />

orago*, Santa Maria. A Jazente liga-se o nome <strong>do</strong> poeta Paulino<br />

Cabral, que marcou a segunda metade <strong>do</strong> século XVIII com os<br />

seus curiosos sonetos.<br />

46 Ponte de Fun<strong>do</strong> de Rua Amarante<br />

Num <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is canais de trânsito deriva<strong>do</strong>s de Amarante na<br />

direção <strong>do</strong> interior transmontano e <strong>do</strong> Alto Douro, a Ponte de<br />

Fun<strong>do</strong> de Rua, sobre o rio Ovelha, é uma robusta estrutura de pedra<br />

construída talvez no século XVII para substituição de travessia<br />

anterior. Constituída por quatro arcos desiguais, sobre os<br />

quais se sustenta um tabuleiro ligeiramente inclina<strong>do</strong>, assume-se<br />

na paisagem como importante obra de engenharia, por onde se<br />

escoavam pessoas e bens neste território da Península Ibérica.<br />

47 Igreja de Santa Maria de Gondar Amarante<br />

Igreja de pequenas dimensões, foi edificada no século XIII, dentro<br />

<strong>do</strong> apelida<strong>do</strong> românico de resistência (tardio). Foi cabeça de<br />

um mosteiro feminino, provavelmente funda<strong>do</strong> por indivíduo da<br />

linhagem <strong>do</strong>s Gundares. Foi secularizada em 1455, por ação de D.<br />

Fernan<strong>do</strong> da Guerra, arcebispo de Braga. A sua estrutura românica<br />

primitiva sofreu poucas transformações ao longo <strong>do</strong>s séculos.<br />

A arquivolta externa <strong>do</strong> portal principal exibe o motivo <strong>do</strong> enxaqueta<strong>do</strong><br />

(enxadreza<strong>do</strong>), tão caro ao românico português.<br />

126 127


48 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Lufrei Amarante<br />

Outrora igreja monástica, Lufrei passou a secular em 1455, à semelhança<br />

de Gondar. Aqui existiu uma comunidade feminina da<br />

ordem de São Bento da qual não restam vestígios. Implantada<br />

num vale, próximo <strong>do</strong> local de junção de <strong>do</strong>is pequenos cursos<br />

de água, a Igreja de Lufrei inscreve-se no chama<strong>do</strong> românico de<br />

resistência (tardio), testemunho da sua popularidade entre as comunidades<br />

rurais <strong>do</strong> norte de Portugal. No interior destaca-se a<br />

decoração com pinturas murais a fresco.<br />

49 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Real Amarante<br />

Antiga igreja matriz de Real (substituída em 1938), trata-se de<br />

um edifício ergui<strong>do</strong> no século XIV. A fachada principal revela um<br />

perío<strong>do</strong> que anuncia já a chegada <strong>do</strong> gótico: portal de arco ligeiramente<br />

quebra<strong>do</strong>, sem tímpano, colunas esguias com capitéis<br />

de escultura pouco volumosa e expressiva. Na fachada sul persiste<br />

um arcossólio com túmulo, cuja tampa ostenta uma espada<br />

gravada. No interior ainda se apreciam as cruzes de sagração,<br />

românicas e inscritas em círculo.<br />

50 Mosteiro <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Travanca Amarante<br />

Igreja monástica que se distingue, no contexto <strong>do</strong> património<br />

românico português, pelas invulgares dimensões e pela importância<br />

da sua ornamentação escultórica (ao nível <strong>do</strong>s capitéis) e<br />

pela extraordinária torre, onde se destaca o belo portal com um<br />

Agnus Dei (Cordeiro de Deus). Funda<strong>do</strong> na esfera de influência<br />

<strong>do</strong>s Gascos (tal como Vila Boa <strong>do</strong> Bispo, no Marco de Canaveses),<br />

Travanca constituiu, na Idade Média e muito além, um <strong>do</strong>s principais<br />

mosteiros masculinos <strong>do</strong> Entre-Douro-e-Minho.<br />

51 Mosteiro de São Martinho de Mancelos Amarante<br />

Reforma<strong>do</strong> em 1540, quan<strong>do</strong> passou aos religiosos <strong>do</strong>minicanos<br />

<strong>do</strong> Convento de São Gonçalo de Amarante, Mancelos constituiu-<br />

-se como um instituto monástico afeto aos Cónegos Regrantes<br />

de Santo Agostinho desde o século XII. Pelos vestígios da estrutura<br />

românica é provável que a sua edificação se tenha concluí<strong>do</strong><br />

no século seguinte. No interior, destacam-se as pinturas, no conjunto<br />

das quais uma, exposta na capela-mor, poderá representar<br />

o bispo frei Bartolomeu <strong>do</strong>s Mártires.<br />

128 129


130<br />

52 Mosteiro <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Freixo de Baixo Amarante<br />

Complexo monástico, implanta<strong>do</strong> em fértil vale, composto por<br />

igreja, torre sineira, vestígios <strong>do</strong> primitivo claustro e da primitiva<br />

galilé. Da construção românica subsiste a fachada da igreja. Composto<br />

por três arquivoltas, o portal principal evidencia capitéis<br />

finamente esculpi<strong>do</strong>s com animais e motivos vegetalistas. No<br />

interior, despoja<strong>do</strong> e singelo, merece observação atenta a pintura<br />

a fresco que representa a cena da A<strong>do</strong>ração <strong>do</strong>s Reis Magos (ou<br />

Epifania), atribuída à oficina de Bravães I.<br />

53 Igreja de Santo André de Telões Amarante<br />

Outrora igreja monástica, Telões era já no século XVI espaço<br />

seculariza<strong>do</strong> para onde convergiam as atenções da Colegiada de<br />

Guimarães que aqui detinha o direito de padroa<strong>do</strong>. Talvez assim<br />

se possa compreender a campanha artística que levou ao<br />

preenchimento das paredes da nave e capela-mor com pintura a<br />

fresco, de que resta hoje, apenas, um fragmento representan<strong>do</strong><br />

o nascimento de Jesus Cristo (Natividade). Edificada <strong>do</strong> século<br />

XII para o XIII, foi profundamente intervencionada nos séculos<br />

seguintes.<br />

54 Igreja de São João Baptista de Gatão Amarante<br />

A Igreja de Gatão é um monumento que assinala um arco cronológico<br />

de construção entre os séculos XIII e XIV, apresentan<strong>do</strong>-se<br />

como uma edificação onde se cruzam elementos românicos<br />

(a cornija com arquinhos da capela-mor e o portal principal)<br />

e outros que anunciam já o perío<strong>do</strong> moderno, nomeadamente<br />

o conjunto de pintura mural <strong>do</strong>s séculos XV e XVI patente na<br />

capela-mor e nave. Destaca-se na paisagem pela implantação<br />

isolada que acentua a sua singularidade.<br />

55 Castelo de Arnoia Celorico de Basto<br />

Castelo românico, situa<strong>do</strong> no topo da antiga Terra de Basto.<br />

Impõe-se na paisagem como fortaleza de origem roqueira (ver<br />

Castelo roqueiro*), sen<strong>do</strong> de destacar a sua torre de menagem,<br />

o torreão quadrangular e a cisterna*. Em baixo, a antiga vila<br />

de Basto (hoje conhecida como aldeia <strong>do</strong> Castelo), com o seu<br />

pelourinho, casa das audiências* e botica (farmácia), lembra a<br />

época de maior movimento, quan<strong>do</strong> por aqui passava importante<br />

estrada a ligar o Sousa ao Tâmega.<br />

131


132<br />

56 Igreja de Santa Maria de Veade Celorico de Basto<br />

Edifício de fundação medieval, cuja estrutura deve ter si<strong>do</strong> erguida<br />

no século XIII, a Igreja de Veade foi profundamente intervencionada<br />

nos séculos XVII e XVIII, por iniciativa de influentes<br />

senhores da Ordem de Malta. Da construção românica restam<br />

os portais laterais norte e sul, com ornamentação que liga esta<br />

Igreja aos templos medievais das bacias <strong>do</strong> Tâmega e Douro, e<br />

que deixam adivinhar a monumentalidade <strong>do</strong> edifício românico<br />

primitivo.<br />

57 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Ribas Celorico de Basto<br />

A Igreja de Ribas terá si<strong>do</strong> edificada de um só fôlego, dada a<br />

semelhança <strong>do</strong>s elementos que constituem a sua estrutura<br />

românica, <strong>do</strong>minada por um motivo ornamental muito caro à<br />

época, a pérola relevada. Contrastante, o interior, à semelhança<br />

da maioria das igrejas românicas, mostra bem como a estrutura<br />

da época medieval deu resposta às exigências <strong>do</strong> Concílio de<br />

Trento, acolhen<strong>do</strong> um abundante conjunto de talha <strong>do</strong>urada e<br />

de imagens de tipologia barroca.<br />

58 Igreja <strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r de Fervença Celorico de Basto<br />

Igreja de raiz românica, cuja capela-mor datará <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> quartel<br />

<strong>do</strong> século XIII, conforme testemunha a decoração <strong>do</strong>s capitéis<br />

e demais influências artísticas aí compiladas, provenientes <strong>do</strong>s<br />

estaleiros e edificações das regiões <strong>do</strong> Minho e <strong>do</strong> eixo Braga–<br />

–Rates e que permitiram a distribuição de motivos e modelos<br />

pelas igrejas da bacia <strong>do</strong> Tâmega e <strong>do</strong> Douro. A nave é obra da<br />

década de 1970, que pode ter até aproveita<strong>do</strong> parte da estrutura<br />

<strong>do</strong> primitivo corpo românico.<br />

133


61 Portal ocidental, Igreja de Tarouquela, Cinfães.<br />

Abóbada Estrutura que cobre um espaço entre muros chama<strong>do</strong> vão.<br />

Pode ser de pedra, mas na época medieval foi também utiliza<strong>do</strong> o tijolo.<br />

Chama-se abóbada de berço quan<strong>do</strong> adquire a forma semicilíndrica<br />

e abóbada de arestas quan<strong>do</strong> se optou por formar duas abóbadas de<br />

berço, as quais se interseccionam e formam quatro arestas. No perío<strong>do</strong><br />

gótico (ver), foi mais comum esta última solução, sen<strong>do</strong> as quatro arestas<br />

reforçadas por nervuras. Quan<strong>do</strong> tal acontece, chama-se à abóbada<br />

uma cruzaria de ogivas.<br />

Abside Espaço oriental de uma igreja (ver) medieval (ver Idade Média),<br />

na sequência da nave (ver) principal, onde se situa o altar-mor e, por<br />

isso, o local de onde se celebra a liturgia (missa). Na arte românica em<br />

Portugal, optou-se quase sistematicamente por absides quadrangulares,<br />

mas também podiam ser semicirculares ou poligonais. Nas igrejas mais<br />

modestas era o único espaço abobada<strong>do</strong>, mas também há muitos casos<br />

em que recebeu uma cobertura de madeira. Também se designa por<br />

capela-mor ou capela principal.<br />

Adro Terreiro em re<strong>do</strong>r da igreja (ver), geralmente separa<strong>do</strong> da via pública<br />

ou de terrenos priva<strong>do</strong>s por muro ou outro tipo de cerca, que servia<br />

de cemitério à comunidade paroquial.<br />

Aduela Pedra talhada de forma curva para formar os vários segmentos<br />

de um arco (ver).<br />

Aio Pessoa encarregada de criar e educar um filho de família nobre.<br />

Almançor (938–1002) Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Al-Andalus, designação da atual<br />

região da Andaluzia (Espanha) durante o perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>minação muçulmana.<br />

De seu nome Abu Amir Muhammad, recebeu o cognome de Almançor<br />

(que significa “O Vitorioso”) graças às suas muitas vitórias contra<br />

os cristãos peninsulares. O seu governo correspondeu ao auge <strong>do</strong><br />

império <strong>do</strong>s Omíadas (uma das dinastias muçulmanas que reinaram na<br />

Península Ibérica).<br />

Alpendre Telha<strong>do</strong> de uma água anexo a um muro, normalmente para<br />

proteger o espaço diante <strong>do</strong>s portais. Em muitas igrejas românicas ainda<br />

existem linhas de mísulas (ver) a denunciar a existência de alpendres nas<br />

fachadas principal e/ou laterais. Podiam ser suporta<strong>do</strong>s por pilares de<br />

madeira, embora também tenham existi<strong>do</strong> suportes em pedra, de que se<br />

conservam vestígios em algumas igrejas.<br />

136 137


Aposenta<strong>do</strong>ria Direito que os senhores tinham de receber alojamento,<br />

ou seja, de se instalarem em certas habitações, nomeadamente nos<br />

mosteiros (ver) de que eram funda<strong>do</strong>res ou padroeiros (ver Padroa<strong>do</strong>).<br />

Apóstolos Discípulos de Jesus Cristo (c. 6 a.C. – c. 30), acompanharam-<br />

-no durante grande parte da sua vida e foram por si envia<strong>do</strong>s para pregar<br />

o Evangelho cristão. Ao to<strong>do</strong>, são <strong>do</strong>ze: Pedro, André, Bartolomeu,<br />

Tiago Maior, Tomé, Filipe, Mateus, Simão, Judas Tadeu, Tiago Menor, João<br />

e Matias.<br />

Arco Elemento construtivo e de sustentação, composto por aduelas (pedras),<br />

que cobre uma abertura entre <strong>do</strong>is pontos fixos. O arco de volta<br />

perfeita, forma<strong>do</strong> por um semicírculo com um só centro, constitui uma<br />

das características mais marcantes da arte românica.<br />

Arcossólio Nicho em forma de arco escava<strong>do</strong> numa parede ou muro<br />

exterior de uma igreja conten<strong>do</strong> um túmulo.<br />

Argamassa Espécie de pasta usada para unir materiais de construção,<br />

feita de uma mistura de produtos como cal ou gesso, areia e água.<br />

Aristocracia Designa os membros da nobreza, das famílias mais importantes<br />

e influentes.<br />

Armarius Monge encarrega<strong>do</strong> da biblioteca de um mosteiro (ver), que<br />

era conservada num armarium (móvel próprio para guardar livros); podia<br />

ser também o responsável pelo trabalho no scriptorium (ver), distribuin<strong>do</strong><br />

as tarefas pelos vários escribas e ilumina<strong>do</strong>res e encarregan<strong>do</strong>-se de<br />

verificar se existiam to<strong>do</strong>s os materiais necessários à cópia <strong>do</strong>s livros.<br />

Arquivolta Molduras salientes de um arco (ver). No plural designa um<br />

conjunto de arcos, distribuí<strong>do</strong>s em forma de escada, que decoram a<br />

parte superior de um portal.<br />

Asnas Elementos de suporte <strong>do</strong>s telha<strong>do</strong>s, normalmente construí<strong>do</strong>s<br />

em madeira e dispostos de forma triangular (acompanhan<strong>do</strong> a inclinação<br />

desses mesmos telha<strong>do</strong>s), forman<strong>do</strong> uma espinha sobre a qual assenta<br />

a cobertura.<br />

Astúrias Região montanhosa <strong>do</strong> norte da Península Ibérica que não esteve<br />

sob <strong>do</strong>mínio muçulmano, onde se desenvolveu o reino <strong>do</strong> mesmo<br />

nome a partir da vitória sobre os mouros (ver) levada a cabo por Pelágio<br />

em Cova<strong>do</strong>nga, em 722. Foi <strong>do</strong> reino das Astúrias que partiram as primeiras<br />

incursões cristãs contra os territórios islâmicos, no que veio a dar<br />

origem à Reconquista (ver).<br />

Báculo Elemento distintivo de um bispo e de alguns abades, em forma<br />

de bastão e semelhante a um caja<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> por pastores para reunir o<br />

rebanho (em referência ao estatuto <strong>do</strong>s bispos como pastores de almas).<br />

A sua extremidade superior, chamada crossa, é curva, e foi aí que se concentrou<br />

o essencial da decoração escultórica, ou a aplicação de pedras<br />

preciosas.<br />

Baldaquino Extremidade superior de um portal, escultura ou retábulo<br />

(altar), poden<strong>do</strong> ser construí<strong>do</strong> em pedra, madeira, prata ou outro material,<br />

que enquadra uma obra de arte, forman<strong>do</strong> uma espécie de proteção<br />

superior. Na época românica, existiram baldaquinos no interior das igrejas,<br />

normalmente forma<strong>do</strong>s por quatro colunas e cobertura, constituin<strong>do</strong><br />

assim pequenos templetes associa<strong>do</strong>s ao altar.<br />

Barbárie Próprio <strong>do</strong>s bárbaros, denominação que os Romanos davam<br />

aos povos que não viviam no espaço <strong>do</strong> Império Romano (ver); hoje o<br />

termo é usa<strong>do</strong> para designar práticas cruéis, incultas, pouco civilizadas.<br />

Barroco Estilo artístico situa<strong>do</strong> genericamente entre os finais <strong>do</strong> século<br />

XVI e os mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII, mas que em Portugal se prolongou<br />

pela segunda metade <strong>do</strong> século XVIII. Arte cenográfica e exuberante, ao<br />

serviço da renovação espiritual promovida pela Roma papal, pretendeu<br />

ser uma arte de Poder, direta, luminosa, pujante e rica. No nosso país, o<br />

apogeu <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> barroco coincidiu com o reina<strong>do</strong> de D. João V (1689–<br />

–1750) e com a construção, entre outras obras notáveis, <strong>do</strong> majestoso<br />

Palácio Nacional de Mafra.<br />

Beatificada Adjetivo deriva<strong>do</strong> de beato, que vem <strong>do</strong> latim beatus que<br />

significa feliz. Beatificar é considerar alguém bem-aventura<strong>do</strong>, ou seja,<br />

como estan<strong>do</strong> no Paraíso e poden<strong>do</strong> interceder por quem se lhe dirige<br />

em oração. Na Igreja Católica, a beatificação constitui o primeiro passo<br />

para uma futura canonização, ou seja, para o reconhecimento da santidade<br />

e para o seu culto a nível universal.<br />

Beak-heads Motivos decorativos, provenientes da região anglo-saxónica<br />

(norte da Europa), que apresenta cabeças de animais com bicos<br />

proeminentes.<br />

138 139


Beneditino Que obedece à regra (ver) criada por São Bento (ver). A regra<br />

beneditina é um conjunto de normas escritas que visam organizar a<br />

vida comunitária nos mosteiros funda<strong>do</strong>s por São Bento. Esta regra deu<br />

grande importância à oração, à contemplação, à vida de renúncia, mas<br />

igualmente ao trabalho. O ora et labora (reza e trabalha) foi sempre a<br />

máxima mais conhecida desta regra.<br />

Bisel Técnica escultórica caracterizada por ser realizada de forma<br />

oblíqua sobre uma aresta, forman<strong>do</strong> superfícies levemente chanfradas<br />

(em forma de meia-lua). Aparece frequentemente na fase terminal da<br />

arte românica, e em particular nos monumentos ergui<strong>do</strong>s no século XIII<br />

na área <strong>do</strong>s rios Sousa e Tâmega.<br />

Bolbiforme Superfície que a<strong>do</strong>ta a forma de bolbo ou arre<strong>do</strong>ndada.<br />

Na arte românica <strong>do</strong> século XIII <strong>do</strong>s vales <strong>do</strong>s rios Sousa e Tâmega, as<br />

bases das colunas a<strong>do</strong>taram esta forma, constituin<strong>do</strong> esta uma das características<br />

formais que singulariza aquele núcleo artístico.<br />

Bragas Designação da peça de roupa interior usada na Idade Média (ver)<br />

que corresponde às cuecas masculinas de hoje.<br />

Brial Túnica com mangas compridas ou a três quartos que se vestia por<br />

cima da camisa, peça básica <strong>do</strong> vestuário medieval; também era designada<br />

por saia.<br />

Cabeceira Extremidade de uma igreja (ver), para além das naves (ver)<br />

ou transepto (ver), quan<strong>do</strong> existente, e onde se encontra o santuário.<br />

É constituída por diversos elementos, sen<strong>do</strong> o principal a abside (ver).<br />

É conotada com a cabeça de Jesus Cristo.<br />

Cabi<strong>do</strong> Conjunto de eclesiásticos (cónegos e/ou raçoeiros) liga<strong>do</strong> a uma<br />

catedral, que tem como principal missão auxiliar o bispo no governo da<br />

diocese e garantir a correta realização <strong>do</strong>s ofícios divinos.<br />

Cachorro Peça saliente <strong>do</strong> muro, na sua parte superior, que serve para<br />

suportar o telha<strong>do</strong>. Por essa função estrutural, os cachorros dispõem-se<br />

de forma equidistante entre si e foram <strong>do</strong>s suportes exteriores das igrejas<br />

e mosteiros (ver) que mais receberam decoração esculpida na Idade<br />

Média (ver). Também se designa por modilhão.<br />

Capela Pequeno edifício religioso, isola<strong>do</strong> ou anexa<strong>do</strong> a uma igreja (ver),<br />

mosteiro (ver), palácio ou hospital.<br />

Capitel Elemento decorativo normalmente coloca<strong>do</strong> entre uma coluna<br />

e o arranque <strong>do</strong> arco (ver). Geralmente tem a forma de cesto inverti<strong>do</strong><br />

e na época medieval foi um <strong>do</strong>s suportes mais utiliza<strong>do</strong>s para receber<br />

escultura.<br />

Casa das Audiências Local onde se administrava a justiça de um determina<strong>do</strong><br />

território.<br />

Castela Reino medieval da Península Ibérica forma<strong>do</strong> a partir de um<br />

conda<strong>do</strong> <strong>do</strong> reino de Leão (ver) que, pouco a pouco, foi ganhan<strong>do</strong> importância<br />

e autonomia, tornan<strong>do</strong>-se independente no século XI. No<br />

século XIII, Castela anexa Leão e passa a ser o maior e principal reino<br />

peninsular. Com o casamento entre D. Isabel I de Castela (1451–1504)<br />

e D. Fernan<strong>do</strong> II de Aragão (1452–1516), os Reis Católicos, no século<br />

XV, dá-se a unificação <strong>do</strong>s vários reinos peninsulares (com exceção de<br />

Portugal).<br />

Castelo roqueiro Designa as primeiras estruturas amuralhadas defensivas<br />

surgidas em Portugal ao longo <strong>do</strong>s séculos IX e X. Eram construídas<br />

sobre afloramentos rochosos, possuíam muralhas sem torres (ver), com<br />

pedras mal trabalhadas, definin<strong>do</strong> um pequeno espaço aberto.<br />

Castro Lugar fortifica<strong>do</strong> da Pré-História ou da Antiguidade, situa<strong>do</strong> no<br />

alto de montes; podia ser habita<strong>do</strong> em permanência ou servir de refúgio<br />

em casos de perigo.<br />

Cavaleiro-vilão Homem livre e rico o suficiente para possuir cavalo,<br />

que habitava fora das honras (propriedades <strong>do</strong>s nobres) ou <strong>do</strong>s coutos<br />

(propriedades da Igreja). Pertencia à classe <strong>do</strong> povo e vivia normalmente<br />

em concelhos cria<strong>do</strong>s pelo rei, ten<strong>do</strong> com este uma relação de vassalagem<br />

(ver).<br />

Cavalete Armação triangular que sustenta o tabuleiro de uma ponte.<br />

Cavas Aberturas no vestuário por onde passam os braços e, caso existam,<br />

se cosem as mangas.<br />

Cisterna Reservatório de água pluvial (chuva).<br />

Claustro Pátio interior de mosteiros (ver) e de igrejas (ver) onde viviam<br />

comunidades religiosas; de planta quadrangular, era forma<strong>do</strong> por um<br />

conjunto de quatro galerias em torno, normalmente, de um espaço ajar-<br />

140 141


dina<strong>do</strong>. Dava acesso a várias dependências, como o refeitório ou a sala<br />

<strong>do</strong> Capítulo (onde os monges ou cónegos se juntavam to<strong>do</strong>s os dias para<br />

ler um capítulo da regra (ver) que seguiam e tratar de assuntos varia<strong>do</strong>s<br />

da vida espiritual e material da comunidade), fazen<strong>do</strong> também a ligação<br />

entre os edifícios conventuais e a igreja.<br />

Cluny Povoação da Borgonha, na atual França, onde foi funda<strong>do</strong> no<br />

século X um mosteiro (ver) que obedecia a uma reforma da regra de<br />

São Bento (ver). O mosteiro não dependia de senhores nem <strong>do</strong> bispo,<br />

estan<strong>do</strong> diretamente sob a autoridade papal; e dava-se uma especial<br />

importância à vertente da oração <strong>do</strong> lema ora et labora (reza e trabalha)<br />

defini<strong>do</strong> por São Bento. Foi assim criada uma nova ordem, a Ordem de<br />

Cluny, que rapidamente se difundiu por toda a Europa Ocidental e foi,<br />

nos séculos XI e XII, o grande agente da reforma da Igreja impulsionada<br />

pelo papa Gregório VII (ver). A regra beneditina (ver) introduzida em Portugal<br />

a partir de finais <strong>do</strong> século XI era de obediência cluniacense.<br />

Colegiada Igreja paroquial que tem um cabi<strong>do</strong> (ver) forma<strong>do</strong> por cónegos<br />

ou raçoeiros (assim designa<strong>do</strong>s por receberem uma ração ou porção<br />

<strong>do</strong>s rendimentos da igreja), tal como sucede numa catedral.<br />

Come<strong>do</strong>ria Direito que os senhores tinham de receber refeições, nomeadamente<br />

nos mosteiros (ver) e igrejas de que eram funda<strong>do</strong>res ou<br />

padroeiros (ver Padroa<strong>do</strong>).<br />

Concílio Reunião das autoridades religiosas de uma determinada Igreja<br />

ou religião. Estas reuniões podiam ser ecuménicas, provinciais ou diocesanas<br />

e eram convocadas sempre que se pretendia modificar algumas<br />

regras que eram observadas por vários bispos. Um <strong>do</strong>s mais importantes<br />

concílios realizou-se em Trento (Itália), no século XVI, e ficou conheci<strong>do</strong><br />

também como o Concílio da Contra-Reforma.<br />

Conda<strong>do</strong> Território governa<strong>do</strong> por um conde ou condessa. Na Idade<br />

Média, os condes estavam imediatamente abaixo <strong>do</strong>s reis na pirâmide<br />

social e recebiam conda<strong>do</strong>s em atenção aos bons serviços que tinham<br />

desempenha<strong>do</strong>. Foi essa a razão de D. Henrique de Borgonha (1066–<br />

–1112) ter recebi<strong>do</strong> o Conda<strong>do</strong> Portucalense (ver), que deu origem ao<br />

reino de Portugal.<br />

Conda<strong>do</strong> Portucalense Território da Península Ibérica compreendi<strong>do</strong><br />

entre os rios Minho e Tejo, que reunia o espaço <strong>do</strong>s antigos conda<strong>do</strong>s<br />

de Portucale (nome antigo das atuais cidades de Porto e Gaia) e de<br />

Coimbra, entregue em 1096 a D. Henrique de Borgonha (1066–1112)<br />

por D. Afonso VI de Leão e Castela (1039–1109), e que esteve na base da<br />

formação de Portugal.<br />

Conde Ver Conda<strong>do</strong>.<br />

Contraforte Estrutura saliente, a<strong>do</strong>ssada a uma parede, que serve para<br />

dar maior solidez aos muros ou melhor suportar o peso das abóbadas<br />

(ver).<br />

Copista Aquele que copia. O nome era da<strong>do</strong>, na Idade Média, aos eclesiásticos<br />

encarrega<strong>do</strong>s de copiar os livros no scriptorium (ver).<br />

Couto Território governa<strong>do</strong> por uma instituição eclesiástica. Muitas vezes,<br />

quan<strong>do</strong> se fundava um mosteiro (ver), o rei ou os nobres que tinham<br />

terras na área definiam um couto, conjunto de terras muito amplo onde<br />

passava a ser admitida apenas a jurisdição <strong>do</strong>s monges <strong>do</strong> mosteiro.<br />

Cristandade Nome genérico da<strong>do</strong> ao conjunto de reinos que formavam<br />

parte da Igreja Católica na Idade Média (ver).<br />

Cristão Pessoa batizada, que segue a religião instituída por Jesus Cristo<br />

(c. 6 a.C. – c. 30).<br />

Cúpula Também designada de <strong>do</strong>mo, trata-se de uma abóbada (ver)<br />

semiesférica que cobre um espaço circular e não retangular ou quadrangular<br />

como as restantes abóbadas.<br />

Descobrimentos Conjunto de expedições marítimas portuguesas <strong>do</strong>s<br />

séculos XV e XVI que levaram à descoberta de terras até aí desconhecidas,<br />

como o continente sul-americano ou que até então não tinham si<strong>do</strong><br />

ainda atingidas por mar, como era o caso da Índia. Foram estas viagens<br />

que permitiram a expansão portuguesa, com o seu vasto império espalha<strong>do</strong><br />

por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

Direito Romano Sistema de leis cria<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> pelos Romanos,<br />

que o estenderam a to<strong>do</strong> o território por eles conquista<strong>do</strong>. Mesmo após<br />

a queda <strong>do</strong> Império Romano (ver), continuou a ser muito importante,<br />

influencian<strong>do</strong> fortemente a evolução <strong>do</strong> Direito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ocidental,<br />

sobretu<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> século XII.<br />

142 143


Dominicano Frade da Ordem Dominicana (ver).<br />

Duca<strong>do</strong> Território governa<strong>do</strong> por um duque ou duquesa. Os duca<strong>do</strong>s<br />

foram muito comuns em França, Inglaterra e no Sacro Império Romano-<br />

-Germânico e atuavam na prática como reinos independentes, que tinham<br />

as suas próprias alianças e estratégias de ampliação territorial.<br />

Eira Terreno plano e duro onde os cereais são coloca<strong>do</strong>s para serem malha<strong>do</strong>s,<br />

peneira<strong>do</strong>s e secos.<br />

Epitáfio Palavra derivada <strong>do</strong> grego, significan<strong>do</strong> literalmente “sobre o<br />

túmulo”. Designa um conjunto de palavras que se coloca nas sepulturas,<br />

elogian<strong>do</strong> o defunto. Podem ser grava<strong>do</strong>s sobre pedra ou em metal; as<br />

pedras com epitáfios designam-se por lápides.<br />

Época Clássica Designação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da História Antiga que abarca as<br />

civilizações grega e romana, as chamadas civilizações clássicas.<br />

Ermida Capela ou igreja pequena situada em local despovoa<strong>do</strong>, ermo.<br />

Esmoler Monge encarrega<strong>do</strong> de distribuir comida, sapatos, roupas e esmolas<br />

em geral pelos pobres que acorriam a um mosteiro (ver).<br />

Escopro Também chama<strong>do</strong> cinzel. Instrumento de metal destina<strong>do</strong> a<br />

talhar a pedra, composto por duas extremidades (uma de superfície cortante,<br />

afiada várias vezes; outra em forma de bola achatada para ser<br />

batida por maças de madeira ou metal). Foi um <strong>do</strong>s instrumentos mais<br />

usa<strong>do</strong>s pelos canteiros e escultores românicos.<br />

Evangelistas Os quatro autores <strong>do</strong>s Evangelhos que se encontram no<br />

Novo Testamento (parte mais recente da Bíblia, onde se relata a história<br />

de Jesus): Mateus, Marcos, Lucas e João. Na arte românica, quan<strong>do</strong> são<br />

representa<strong>do</strong>s os seus símbolos (anjo, leão, boi e águia, respetivamente)<br />

chama-se a essa composição Tetramorfo.<br />

Feudalismo Sistema de organização característico da sociedade medieval<br />

(ver Idade Média), em que todas as relações sociais e económicas<br />

estavam reguladas segun<strong>do</strong> uma pirâmide hierárquica. O rei era o vértice<br />

dessa pirâmide, a quem os nobres prestavam vassalagem (ver). Abaixo<br />

destes, estavam os dependentes (nobres de condição inferior e parte <strong>do</strong><br />

povo que trabalhava nas honras). O clero, muitas vezes composto por<br />

filhos segun<strong>do</strong>s da nobreza, não estava à margem desta relação, uma<br />

vez que política e religião eram conceitos uni<strong>do</strong>s. Assim, prestavam vassalagem<br />

ao rei e tinham também muitos dependentes ao seu serviço. O<br />

feudalismo regulava a relação entre os estratos sociais mas teve a sua<br />

base na economia agrária e rural, em que a posse da terra ditava o maior<br />

ou menor estatuto <strong>do</strong>s seus proprietários. Por isso, havia um conjunto<br />

muito grande de impostos sobre a terra e sobre a passagem em terra<br />

de nobres ou de religiosos, a que se chamava portagem. Em Portugal,<br />

o feudalismo não se impôs como em França ou Inglaterra, porque o rei<br />

dispôs sempre de muitas terras para criar concelhos, unidades administrativas<br />

territoriais que estavam na posse de conjuntos de homens livres<br />

<strong>do</strong> povo, e manteve sempre certos direitos que nunca passaram para<br />

as mãos <strong>do</strong>s senhores, como a cunhagem de moeda ou o exercício da<br />

justiça ao mais alto nível; por isso, é habitual falar-se em Portugal de<br />

regime senhorial (ver), em lugar de regime feudal.<br />

Fitomórfico O mesmo que vegetalista. Diz-se de um motivo escultórico<br />

ou pictórico que pretende imitar ou recriar um elemento natural da<br />

flora.<br />

Flandres Designação medieval da região <strong>do</strong> norte da Europa onde se<br />

localizam atualmente a Holanda (ou Países Baixos) e a Bélgica.<br />

Fluvial Relativo a rio.<br />

Foros Tipo de renda ou pensão que os não privilegia<strong>do</strong>s tinham de pagar<br />

ao senhor das terras onde habitavam ou que cultivavam.<br />

Fresco Uma das técnicas de pintura mural (ver) mais utilizadas pelos<br />

pintores <strong>do</strong> final da Idade Média (ver) e Renascimento (ver). Era aplicada<br />

sobre uma camada preparatória humedecida que, uma vez pintada, não<br />

podia ser retocada, ten<strong>do</strong> o pintor de executar a pintura final de forma<br />

rápida, enquanto o suporte se encontrava ainda fresco.<br />

Fresta Janela ou abertura muito apertada, que permite uma entrada<br />

muito escassa de luz. Foi frequente em algumas igrejas românicas, mas o<br />

seu uso está associa<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> a torres (ver) e castelos.<br />

Friso Elemento arquitetónico composto por superfície horizontal, forman<strong>do</strong><br />

uma banda. Na arte românica, aparece a rematar muros ou a<br />

marcar uma linha decorativa nas paredes ou prolongan<strong>do</strong> as impostas<br />

de um arco (ver).<br />

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Galegos Pessoas naturais ou habitantes da Galiza, região de Espanha<br />

situada a norte de Portugal.<br />

Galilé Espaço anexo à fachada principal, que serviu várias funções na<br />

Idade Média (ver): enterramento de pessoas não religiosas (como no<br />

Mosteiro de Pombeiro, em Felgueiras); espaço reserva<strong>do</strong> aos penitentes,<br />

a quem não era permitida a entrada permanente ou temporária na igreja<br />

(ver); espaço de preparação psicológica entre o mun<strong>do</strong> exterior (terreno<br />

e mundano) e o mun<strong>do</strong> interior da igreja (celeste e religioso). Também<br />

se designa por ante-igreja ou nártex.<br />

Garnacha Espécie de manto usa<strong>do</strong> por homens e mulheres a partir <strong>do</strong><br />

século XIII, aberto à frente, mais curto que o guardacós (ver), que podia<br />

ou não ter mangas.<br />

Gótico Estilo arquitetónico desenvolvi<strong>do</strong> na Europa ocidental entre os<br />

séculos XII e XV, caracteriza<strong>do</strong>, entre outros aspetos, pela forma ogival<br />

das abóbadas (ver) e <strong>do</strong>s arcos (ver).<br />

Gregório VII (c. 1020/1025–1085). De seu verdadeiro nome Hildebran<strong>do</strong>,<br />

Gregório VII foi papa durante apenas quinze anos, mas foi no seu<br />

tempo que se consumou a reforma romano-cluniacense (ver Cluny),<br />

processo que pretendeu reverter o Cristianismo às suas origens e unificar<br />

toda a Europa em termos religiosos, <strong>do</strong>utrinários e litúrgicos.<br />

Guardacós Peça de vestuário masculino usada a partir <strong>do</strong> século XIII,<br />

semelhante a um sobretu<strong>do</strong>, com mangas, gola alta e capuz.<br />

Homens livres Homens não dependentes de nenhuma autoridade<br />

senhorial. Prestavam vassalagem unicamente ao rei e podiam atuar e<br />

viver em territórios que não estivessem sob a jurisdição de nobres ou<br />

de eclesiásticos.<br />

Honra Território governa<strong>do</strong> por um nobre, cuja posse transitava para<br />

os seus filhos. As honras estavam associadas ao estatuto <strong>do</strong>s principais<br />

nobres, que as recebiam das mãos <strong>do</strong> rei para desenvolver o território,<br />

organizar os recursos e incrementar a agricultura. Como os coutos (ver),<br />

eram grandes extensões de terra, que por vezes tinham várias aldeias no<br />

seu interior.<br />

Humanistas Intelectuais <strong>do</strong> Renascimento (ver) que se dedicavam ao<br />

estu<strong>do</strong> das obras clássicas e viam o homem como centro de todas as<br />

coisas, pon<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> o teocentrismo, ou seja, uma visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> centrada<br />

em Deus.<br />

Idade Média Designação dada no Renascimento (ver) ao perío<strong>do</strong> de<br />

cerca de mil anos que medeia entre a queda <strong>do</strong> Império Romano (ver)<br />

<strong>do</strong> Ocidente, no século V, e a <strong>do</strong> Império Romano <strong>do</strong> Oriente, no século<br />

XV.<br />

Idade Moderna Designação atribuída ao perío<strong>do</strong> entre 29 de maio de<br />

1453, quan<strong>do</strong> ocorreu a tomada de Constantinopla (atual Istambul, na<br />

Turquia) pelos turcos otomanos, e 14 de julho de 1789, data da Revolução<br />

Francesa. Neste perío<strong>do</strong> histórico destacam-se os Descobrimentos<br />

(ver) e o Renascimento (ver), bem como, ao nível da arte, o Maneirismo<br />

(ver) e o Barroco (ver).<br />

Igreja Edifício cristão onde se reúnem os fiéis para assistir à celebração<br />

<strong>do</strong> culto. A igreja diferencia-se da capela por ser mais vasta e <strong>do</strong> oratório<br />

por servir ao culto público. Existem três graus principais na hierarquia<br />

das igrejas: Igreja Catedral, Igreja Primacial e Igreja Colegial. No patamar<br />

mais baixo da hierarquia temos a igreja paroquial. As igrejas abaciais, que<br />

pertencem às abadias, estão inseridas numa categoria à parte.<br />

Iluminismo Movimento intelectual europeu <strong>do</strong> século XVIII, que se<br />

define pela crença na razão humana e na sua capacidade de atingir a<br />

verdade e o conhecimento e de regenerar o mun<strong>do</strong>.<br />

Iluminura Forma de arte decorativa de um manuscrito medieval que<br />

consistia em desenhar letras e figuras, à pena ou a pincel, que eram depois<br />

pintadas com cores variadas, utilizan<strong>do</strong>-se muitas vezes também a<br />

folha de ouro na sua elaboração.<br />

Império Romano Funda<strong>do</strong> no século I a.C., foi a forma de organização<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Romano que se seguiu à República, e que se caracterizou<br />

pela concentração <strong>do</strong> poder nas mãos de uma só pessoa, o impera<strong>do</strong>r. A<br />

autoridade romana era exercida não apenas na cidade de Roma (Itália)<br />

e na Península Itálica, mas em to<strong>do</strong>s os vastos territórios que tinham<br />

si<strong>do</strong> conquista<strong>do</strong>s pelos poderosos exércitos romanos, e que atingiram a<br />

sua máxima extensão no início <strong>do</strong> século II d.C.. A partir <strong>do</strong> século IV, o<br />

Império passou a ser dividi<strong>do</strong> em duas partes, cada qual com o seu impera<strong>do</strong>r,<br />

uma a ocidente, com capital em Roma, e a outra a oriente, com<br />

capital em Constantinopla (cidade mandada construir pelo impera<strong>do</strong>r<br />

Constantino no local onde existia uma outra, de origem grega, chamada<br />

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Bizâncio). No século V, o Império Romano <strong>do</strong> Ocidente caiu, derrota<strong>do</strong><br />

pelos vários povos de origem germânica que entraram nas suas fronteiras.<br />

O Império Romano <strong>do</strong> Oriente, também conheci<strong>do</strong> como Império<br />

Bizantino, sobreviveu até ao século XV, altura em que Constantinopla<br />

(atual Istambul, na Turquia) caiu sob o <strong>do</strong>mínio otomano.<br />

Indulgência Perdão concedi<strong>do</strong> pelas autoridades religiosas católicas em<br />

troca de ofertas ou outras obras consideradas pias (de caridade). Durante<br />

a Idade Média (ver), foi uma das formas mais usadas para per<strong>do</strong>ar os<br />

peca<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Homens.<br />

Inquirições Designação atribuída ao procedimento administrativo que<br />

pretendia verificar quais as terras <strong>do</strong> rei que se encontravam na posse<br />

indevida <strong>do</strong> clero e da nobreza. As primeiras inquirições gerais em Portugal<br />

realizaram-se em 1220 e foram promovidas pelo rei D. Afonso II<br />

(1185–1223).<br />

Inumação O mesmo que enterramento ou sepultura.<br />

Iso<strong>do</strong>mia Sistema construtivo aplica<strong>do</strong> a paredes e muros realiza<strong>do</strong>s<br />

com silhares (ver) de extrema regularidade e idêntica dimensão entre<br />

si, os quais são dispostos em fiadas horizontais. A estabilidade e a durabilidade<br />

das paredes são obtidas através <strong>do</strong> assentamento linear <strong>do</strong>s silhares,<br />

não varian<strong>do</strong> as fiadas em altura. O aparelho românico diferencia-<br />

-se <strong>do</strong> pré-românico por ser plenamente isó<strong>do</strong>mo, ao contrário <strong>do</strong> seu<br />

antecessor, que revela ainda muitos casos de pseu<strong>do</strong>-iso<strong>do</strong>mia.<br />

Jacente Estátua que representa uma pessoa morta deitada.<br />

Justa Combate entre <strong>do</strong>is cavaleiros muni<strong>do</strong>s de lança e escu<strong>do</strong>, que<br />

se tentavam desarmar um ao outro, romper a lança <strong>do</strong> adversário ou<br />

derrubá-lo <strong>do</strong> cavalo. Constituía um <strong>do</strong>s entretenimentos preferi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

nobres medievais, que assim se preparavam para a atividade guerreira,<br />

que era a sua principal ocupação.<br />

Laico Pessoa que não pertence ao clero ou instituição que não está ligada<br />

à religião. O mesmo que leigo.<br />

Lápide Pedra que tem grava<strong>do</strong> um epitáfio (ver).<br />

Leão Reino da Península Ibérica nasci<strong>do</strong> da divisão <strong>do</strong> reino das Astúrias<br />

(ver) no século X, com capital na cidade <strong>do</strong> mesmo nome. Foi anexa<strong>do</strong><br />

definitivamente pelo reino de Castela (ver) no século XIII.<br />

Leiga Ver laico.<br />

Linhagem Sinónimo de estirpe, é a linha de descendência (ou ascendência)<br />

de uma determinada família nobre, por linha masculina.<br />

Lintel Também conheci<strong>do</strong> por padieira ou dintel. É um elemento arquitetónico<br />

que liga superiormente as ombreiras de um arco (ver) ou vão<br />

reto, sobre o qual por vezes se apoia o tímpano (ver).<br />

Liturgia Conjunto das cerimónias e orações determinadas para cada ato<br />

religioso.<br />

Maneirismo Tendência ou estilo artístico de raiz italiana correspondente,<br />

em Portugal, de uma maneira geral, à segunda metade <strong>do</strong> século<br />

XVI e primeira metade da centúria seguinte. Com raízes no Renascimento<br />

(ver), é visto como uma transgressão aos ideais clássicos para a arte,<br />

transpon<strong>do</strong>-os de maneira a que resultem obras ambíguas, despreocupadas<br />

com a rigidez clássica e que explorem efeitos inespera<strong>do</strong>s.<br />

Memorial Monumento ergui<strong>do</strong> em homenagem ou memória de algum<br />

acontecimento histórico ou pessoa. Na <strong>Rota</strong> <strong>do</strong> <strong>Românico</strong> estão incluí<strong>do</strong>s<br />

três (Ermida, Sobra<strong>do</strong> e Alpen<strong>do</strong>rada) <strong>do</strong>s seis memoriais deste tipo<br />

existentes em Portugal.<br />

Mesteirais Plural de mesteiral, termo que designa os artesãos da Idade<br />

Média (ver).<br />

Mísula Peça saliente <strong>do</strong> muro, diferencian<strong>do</strong>-se de modilhão ou cachorro<br />

(ver) por não se situar no topo de uma parede, poden<strong>do</strong> aparecer a<br />

meio, para sustentar um alpendre (ver). Aparece muitas vezes em muros<br />

como suporte de esculturas ou pequenos arcos, mais com função decorativa<br />

que estrutural.<br />

Moçárabe Arte <strong>do</strong>s moçárabes cristãos ibéricos que viviam em territórios<br />

conquista<strong>do</strong>s pelos muçulmanos (ver Mouros) <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> que<br />

vai da invasão pelos árabes da Península Ibérica (711) até ao final <strong>do</strong><br />

século XII.<br />

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Modilhão O mesmo que cachorro (ver).<br />

Monaquismo De monachus (monge, em latim), por sua vez deriva<strong>do</strong> da<br />

palavra grega “monos”, único, só. É o mo<strong>do</strong> de vida de quem aban<strong>do</strong>na<br />

a vida secular e entra num mosteiro (ver), passan<strong>do</strong> a viver de acor<strong>do</strong><br />

com uma regra (ver).<br />

Mosteiro Edifício religioso onde vivem os monges ou as monjas, governa<strong>do</strong>s<br />

por um abade ou uma abadessa, respetivamente. Havia mosteiros<br />

em que os monges levavam vida contemplativa e que eram construí<strong>do</strong>s<br />

fora <strong>do</strong>s povoa<strong>do</strong>s. Normalmente eram implanta<strong>do</strong>s em terras férteis e<br />

junto das principais vias de comunicação.<br />

Mor<strong>do</strong>mo-mor Do latim major (maior) e <strong>do</strong>mus (casa); era o nome<br />

da<strong>do</strong> ao oficial das cortes senhoriais e régias que tinha como encargo<br />

a sua administração; no reino português, foi o funcionário mais importante<br />

da estrutura governativa.<br />

Mouro Termo que começou por designar uma pessoa nascida na Mauritânia<br />

(norte de África). É usa<strong>do</strong> entre nós como sinónimo de árabe,<br />

muçulmano ou islâmico, ou seja, como um segui<strong>do</strong>r da religião instituída<br />

por Maomé (c. 570–632).<br />

Nártex O mesmo que galilé (ver).<br />

Natividade O mesmo que nascimento. Usa-se em especial para designar<br />

a representação <strong>do</strong> nascimento de Jesus Cristo (c. 6 a.C. – c. 30),<br />

em Belém (Palestina).<br />

Nave Espaço ou área longitudinal de uma igreja (ver) ou capela (ver),<br />

situa<strong>do</strong> entre a entrada principal e a cabeceira (ver), delimita<strong>do</strong> por elementos<br />

arquitetónicos de sustentação como paredes, muros, colunas,<br />

pilares, arcos, etc.<br />

Nível Na Idade Média (ver), o nível utiliza<strong>do</strong> era o fio de prumo, constituí<strong>do</strong><br />

por um fio com um elemento de metal na extremidade. Este<br />

instrumento era essencial para verificar se os blocos de pedra das paredes<br />

estavam exatamente to<strong>do</strong>s ao mesmo nível. Qualquer diferença no<br />

assentamento de paredes, por poucos centímetros que tivesse, era um<br />

sinal da fraqueza <strong>do</strong>s muros que colocava em risco to<strong>do</strong> o edifício.<br />

Obscurantismo De obscuro, designa um Esta<strong>do</strong> (país) em que se vive<br />

na escuridão, na ignorância.<br />

Ocre Argila de cor que varia entre o amarelo e o vermelho, usada como<br />

corante para fazer tinta.<br />

Óculo Pequena janela circular ou oval rasgada numa empena, numa<br />

fachada, etc., para iluminação e ventilação <strong>do</strong> espaço interior.<br />

Oficial mecânico Designação dada ao trabalha<strong>do</strong>r manual, ao artesão.<br />

Orago Entidade protetora que preside a igreja (ver), ermida (ver) ou<br />

capela (ver), que a comunidade toma por sua advogada, prestan<strong>do</strong>-lhe<br />

culto religioso. Também se designa por patrono.<br />

Ordem de Cister Ordem católica que pretendia reformar o ideal monástico,<br />

assim critican<strong>do</strong> os pretensos excessos em que haviam incorri<strong>do</strong><br />

os monges da Ordem de Cluny (ver). O seu principal impulsiona<strong>do</strong>r foi<br />

São Bernar<strong>do</strong> de Claraval (1090–1153). A Ordem pretendeu regressar à<br />

pureza <strong>do</strong> Cristianismo e à simplicidade da vida <strong>do</strong>s primeiros tempos.<br />

Os seus mosteiros (ver) foram implanta<strong>do</strong>s em locais ermos e de difícil<br />

acesso, onde os monges se podiam dedicar ao trabalho e à oração. Em<br />

Portugal, a principal casa cisterciense foi o Mosteiro de Alcobaça. Havia<br />

casas masculinas e outras femininas; de entre estas, uma das mais importantes<br />

foi o Mosteiro de Arouca, antiga fundação monástica que a<br />

beata D. Mafalda (c. 1195–1256) reformou, aí fazen<strong>do</strong> instalar monjas<br />

cistercienses.<br />

Ordem Dominicana Ordem fundada por São Domingos de Gusmão<br />

nos inícios <strong>do</strong> século XIII, também conhecida como a Ordem <strong>do</strong>s Frades<br />

Prega<strong>do</strong>res. Numa época em que o ofício da pregação era quase exclusivo<br />

<strong>do</strong>s bispos, esta Ordem deu grande importância à pregação em<br />

pobreza, preparan<strong>do</strong> os seus frades para essa obrigação.<br />

Ordem de Malta Também conhecida como a Ordem Militar <strong>do</strong> Hospital,<br />

teve origem no século X, num hospital perto de Jerusalém (Israel).<br />

Em 1113, foi reconhecida pelo papa Pascoal II (1099–1118). No início,<br />

os seus membros dedicavam-se apenas à assistência <strong>do</strong>s mais carencia<strong>do</strong>s,<br />

mas, a partir de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XII, começaram também a<br />

dedicar-se à atividade guerreira. Em Portugal, a Ordem fixou a sua sede<br />

no Mosteiro de Leça <strong>do</strong> Balio (Matosinhos), ainda por alturas <strong>do</strong> Con-<br />

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da<strong>do</strong> Portucalense (ver). O património <strong>do</strong>s Malteses concentrou-se, na<br />

sua maioria, a norte <strong>do</strong> rio Douro.<br />

Ordem <strong>do</strong>s Cónegos Regrantes de Santo Agostinho Ordem católica<br />

que seguia as normas de vida comum, ou seja, a regra (ver) preconizada<br />

por Santo Agostinho de Hipona (354–430). Os cónegos dedicaram-se<br />

ao ofício divino, ao estu<strong>do</strong> das escrituras, à direção de escolas e às obras<br />

de caridade. Em Portugal, os agostinhos tiveram grande poder na Idade<br />

Média, porque eram detentores de importantes casas monásticas, entre<br />

as quais se conta o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde D. Afonso<br />

Henriques (c. 1109–1185) e D. Sancho I (1154–1211) se fizeram sepultar.<br />

Padroa<strong>do</strong> Direito adquiri<strong>do</strong> pelo funda<strong>do</strong>r de certa igreja (ver) e lega<strong>do</strong><br />

aos seus descendentes que consistia em nomear ou representar<br />

ao benefício da mesma indivíduo da sua confiança. Ao detentor deste<br />

direito, chama<strong>do</strong> padroeiro, cabia arrecadar alguns <strong>do</strong>s rendimentos da<br />

igreja e supervisionar na construção da abside (ver).<br />

Pagão Termo que surge no tempo <strong>do</strong>s romanos (ver Império Romano),<br />

quan<strong>do</strong> o cristianismo se desenvolve, designan<strong>do</strong> aquele que seguia as<br />

tradições religiosas politeístas tradicionais, baseadas na crença em numerosos<br />

deuses (politeísmo).<br />

Panteão Edifício dedica<strong>do</strong> à memória <strong>do</strong>s Homens ilustres e onde se<br />

depositam os seus restos mortais.<br />

Pantocrator Típica representação de Jesus Cristo (c. 6 a.C. – c. 30) na<br />

arte românica, senta<strong>do</strong> no seu trono celeste, em majestade, com a mão<br />

direita evidencian<strong>do</strong> o sinal da justiça e a mão esquerda seguran<strong>do</strong> os<br />

Evangelhos. É uma representação de Cristo que preside (ou se prepara<br />

para presidir) ao Juízo Final, poden<strong>do</strong> aparecer rodea<strong>do</strong> pelos Evangelistas<br />

(ver) e/ou pelos Apóstolos (ver), por profetas, por santos e anciãos<br />

<strong>do</strong> Apocalipse.<br />

Paróquia Sinónimo de freguesia, designa a unidade em que se subdivide<br />

uma diocese (divisão territorial religiosa que tem à frente um bispo).<br />

O sacer<strong>do</strong>te que tem a seu cargo uma paróquia é o pároco (padre).<br />

Patrono O mesmo que orago (ver).<br />

Pecuária Criação de ga<strong>do</strong>.<br />

Pejorativo Adjetivo deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong> latim peiorare, ou seja, “tornar pior”.<br />

Diz-se de algo que tem um senti<strong>do</strong> negativo ou de desaprovação.<br />

Pelote Peça <strong>do</strong> vestuário medieval <strong>do</strong> século XIII que se usava sobre a<br />

camisa, ajustada ao corpo e chegan<strong>do</strong> abaixo <strong>do</strong> joelho; podia ter mangas<br />

curtas ou cavas (ver).<br />

Pelourinho Elemento arquitetónico composto por base, fuste e capitel<br />

(também chama<strong>do</strong> coroamento) que simbolizava a autonomia <strong>do</strong>s concelhos<br />

portugueses. Os mais antigos pelourinhos são da primeira metade<br />

<strong>do</strong> século XVI e <strong>do</strong> mesmo perío<strong>do</strong> da série de forais novos da<strong>do</strong>s<br />

por D. Manuel I (1469–1521). Ao longo <strong>do</strong>s séculos, aqui eram exibi<strong>do</strong>s<br />

os condena<strong>do</strong>s, que eram acorrenta<strong>do</strong>s ao pelourinho para que toda a<br />

comunidade soubesse <strong>do</strong> seu crime.<br />

Pérolas Ornamentação constituída por pequenas contas ou grãos esféricos<br />

aplica<strong>do</strong>s sobre uma moldura.<br />

Peste Negra Designação dada à grande epidemia de peste bubónica que<br />

a Europa sofreu em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIV. Transmitida pelas pulgas <strong>do</strong>s<br />

ratos, provocou a morte de cerca de um terço da população europeia.<br />

Pilar Elemento de suporte vertical, que pode ser isola<strong>do</strong> ou estar encosta<strong>do</strong><br />

a uma parede, que tem por função suportar as abóbadas (ver).<br />

Tem a secção retangular, mas também pode ser de secção cruciforme,<br />

ten<strong>do</strong> para isso colunas ou meias colunas a<strong>do</strong>ssadas, isto é, encostadas.<br />

Pintura mural Nome genérico da<strong>do</strong> a toda a pintura que é realizada<br />

sobre uma parede. Há várias técnicas de pintura mural, como a têmpera<br />

e o fresco (ver). Todas necessitam de uma camada preparatória, sobre a<br />

qual é aplicada a pintura final.<br />

Quaresma Perío<strong>do</strong> de quarenta dias que antecede a Páscoa cristã, que<br />

se prolonga desde a Quarta-Feira de Cinzas até ao Domingo de Ramos<br />

(<strong>do</strong>mingo anterior ao Domingo de Páscoa); é um tempo de preparação<br />

e penitência, durante o qual havia especiais obrigações nos mosteiros<br />

(ver), nomeadamente a de ler e meditar a Bíblia e obras de carácter<br />

religioso.<br />

Raquitismo Doença caracterizada pela falta de cálcio nos ossos, devida<br />

à carência de vitamina D; provoca problemas de crescimento e de deformação<br />

esquelética.<br />

152 153


Reconquista Designação dada pelos historia<strong>do</strong>res ao movimento cristão<br />

de conquista da Península Ibérica <strong>do</strong>minada pelos muçulmanos (ver<br />

Mouros), inicia<strong>do</strong> no século VIII. Em Portugal, a Reconquista terminou<br />

com a tomada definitiva <strong>do</strong> Algarve por D. Afonso III (1210–1279), em<br />

1253. A nível peninsular, porém, só ficou concluída no século XV, com<br />

a conquista <strong>do</strong> reino muçulmano de Granada pelos Reis Católicos (D.<br />

Isabel I de Castela e D. Fernan<strong>do</strong> II de Aragão), em 1492.<br />

Regime senhorial Sistema de organização social, económico e político<br />

que vigorou em Portugal durante a Idade Média (ver) e a Idade Moderna<br />

(ver), que se caracterizou pela existência de senhores e dependentes,<br />

liga<strong>do</strong>s uns aos outros por laços de vassalagem (ver). Os senhores eram<br />

não só de terras mas também da jurisdição sobre elas e de um conjunto<br />

de direitos que deveriam pertencer ao rei, mas foram por ele delega<strong>do</strong>s<br />

(ou perdi<strong>do</strong>s) em seu favor (ver Feudalismo).<br />

Regra Conjunto de normas regula<strong>do</strong>ras da vida de uma comunidade<br />

monástica. A mais conhecida das regras é a que foi criada, no século VI,<br />

por São Bento (ver) de Núrsia.<br />

Relíquia Parte <strong>do</strong> corpo ou objeto de uso pessoal de um santo utiliza<strong>do</strong><br />

para a veneração <strong>do</strong>s fiéis. Na Idade Média (ver), o culto das relíquias<br />

atingiu grandes proporções e muitas igrejas procuraram garantir<br />

relíquias para os seus templos, aumentan<strong>do</strong> assim o prestígio da sua<br />

casa e atrain<strong>do</strong> <strong>do</strong>ações pias (de caridade).<br />

Renascimento Também chama<strong>do</strong> Renascença, constitui um movimento<br />

cultural que surge primeiro em Itália, no século XIV, e se estende<br />

aos restantes países europeus nos séculos XV e XVI. Caracteriza-se pelo<br />

gosto pela cultura clássica greco-romana, que se pretende fazer renascer<br />

e se imita, tanto na arte como na arquitetura e na literatura. Ver<br />

Humanistas.<br />

Retábulo Peça artística colocada atrás de um altar, ou encostada a uma<br />

parede na cabeceira (ver) <strong>do</strong>s templos ou nas naves (ver). Na época<br />

românica, os retábulos começaram a ganhar relevância e tamanho, forman<strong>do</strong><br />

por vezes estruturas que acompanhavam as paredes das absides<br />

(capelas-mores) e absidíolos (capelas laterais). Era para os retábulos da<br />

abside que os crentes dirigiam o seu olhar enquanto rezavam, pelo que<br />

os retábulos românicos continham, normalmente, pinturas muito coloridas<br />

de Cristo ou de santos.<br />

Romanço Também designa<strong>do</strong> romance, nome genérico da<strong>do</strong> às línguas<br />

de cada país na Idade Média (ver), que combinavam o fun<strong>do</strong> latino de<br />

onde provinham com as características próprias da linguagem corrente<br />

falada no dia a dia. Português, mirandês, castelhano, galego, catalão, asturiano,<br />

francês, occitano, italiano, provençal, rético (Suíça), bolonhês,<br />

romeno são algumas das línguas que a Idade Média viu nascer entre os<br />

séculos X e XIII.<br />

<strong>Românico</strong> Estilo característico da arte que se desenvolveu na Europa<br />

entre os séculos XI e XIII. Utilizou muitos <strong>do</strong>s ensinamentos da arte romana<br />

(ver Império Romano), que antecedeu a arte românica em mais de<br />

mil anos. O uso <strong>do</strong> arco (ver) de volta perfeita, da abóbada (ver) de berço,<br />

a perfeição <strong>do</strong>s silhares (ver) que formavam as paredes e a espessura <strong>do</strong>s<br />

muros são algumas das principais características <strong>do</strong> estilo românico.<br />

<strong>Românico</strong> nacionaliza<strong>do</strong> Designação atribuída, por alguns autores, à<br />

corrente que teve como base a tradição pré-românica e que foi influenciada<br />

também por temas provenientes <strong>do</strong> românico de Coimbra e da Sé<br />

<strong>do</strong> Porto. O Mosteiro de Paço de Sousa (Penafiel) tornou-se um edifício-<br />

-padrão desta corrente, que influenciou o românico <strong>do</strong> Tâmega e Sousa.<br />

<strong>Românico</strong> de resistência Designação atribuída, por alguns autores, aos<br />

edifícios que foram construí<strong>do</strong>s seguin<strong>do</strong> a arquitetura românica num<br />

perío<strong>do</strong> tardio (séculos XIV e XV), no qual o estilo gótico (ver) já <strong>do</strong>minava.<br />

Romantismo Movimento cultural da primeira metade <strong>do</strong> século XIX<br />

que se caracterizava, entre outros aspectos, pelo gosto pela Idade Média<br />

(ver).<br />

Saio Espécie de camisa usada pelas classes populares medievais, que<br />

dava pelo meio da perna e tinha mangas compridas.<br />

Sagração Ritual que implicava a deposição de relíquias (ver) de vários<br />

santos numa cavidade no centro da mesa <strong>do</strong> altar de uma igreja. Concluí<strong>do</strong><br />

este ritual, o altar poderia ser usa<strong>do</strong> para as cerimónias religiosas.<br />

A realização da sagração não implicava que a igreja estivesse totalmente<br />

concluída. Quan<strong>do</strong> a sua construção se prolongava muito no tempo, a<br />

sagração poderia ocorrer por mais de uma vez.<br />

São Bento (c. 480–c. 547). Natural de Núrsia, na atual Itália, foi o funda<strong>do</strong>r<br />

da Abadia de Montecassino, no mesmo país, para a qual concebeu<br />

uma nova regra (ver) – Beneditina (ver) –, que se tornou a principal regra<br />

154 155


<strong>do</strong>s mosteiros (ver) <strong>do</strong> Ocidente medieval e inspirou muitas outras regulamentações<br />

da vida de comunidades religiosas.<br />

São Frutuoso Bispo de Braga e de Dume <strong>do</strong> século VII, teve, como o seu<br />

antecessor São Martinho de Dume (ver), um papel muito importante<br />

no desenvolvimento <strong>do</strong> monaquismo peninsular, ten<strong>do</strong> ele próprio si<strong>do</strong><br />

o cria<strong>do</strong>r de uma regra (ver) que foi a<strong>do</strong>tada pelos mosteiros (ver) que<br />

fun<strong>do</strong>u.<br />

São Martinho de Dume (c. 518–579). Nasci<strong>do</strong> numa região da atual<br />

Hungria, foi funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Mosteiro de Dume, nos arre<strong>do</strong>res de Braga,<br />

que se tornou um importante centro não apenas religioso, mas também<br />

cultural. Foi bispo de Braga, que era então a capital <strong>do</strong> reino suevo (ver).<br />

Teve um papel fundamental na conversão <strong>do</strong>s suevos ao cristianismo e<br />

na criação de mosteiros, bem como na cultura medieval portuguesa.<br />

Scriptorium Espaço específico de um mosteiro (ver) medieval (ver<br />

Idade Média) reserva<strong>do</strong> ao trabalho <strong>do</strong>s copistas e ilumina<strong>do</strong>res de<br />

manuscritos.<br />

Sigla Marca esculpida nos blocos de pedra que fazem parte das paredes<br />

das construções românicas e algumas góticas. Cada símbolo corresponde<br />

a um canteiro (pedreiro), que aí deixou a sua marca para que se pudesse<br />

contabilizar quantos blocos esse mesmo canteiro havia aparelha<strong>do</strong> num<br />

dia, ou numa semana, e assim receber o seu salário.<br />

Silhar Pedra aparelhada, esquadriada e lavrada, utilizada como elemento<br />

construtivo ou como revestimento de parede.<br />

Suevos Povo de origem germânica que penetrou no Império Romano<br />

(ver) e que se instalou no norte da Península Ibérica, ocupan<strong>do</strong> aproximadamente<br />

os territórios da Galiza e <strong>do</strong> norte de Portugal. Formaram<br />

um reino independente, com capital em Braga, que durou entre c. 409 e<br />

585, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> então anexa<strong>do</strong> pelos Visigo<strong>do</strong>s (ver).<br />

Sufragar Rezar pela alma de alguém.<br />

Taipa Material de construção feito de argila e cascalho.<br />

Tímpano Elemento em pedra que fecha a parte semicircular de um vão<br />

(abertura), origina<strong>do</strong> pela construção de um arco (ver). Pode ser delimita<strong>do</strong><br />

inferiormente por lintel (ver) ou ser ele próprio a desempenhar essa<br />

função. Na arte românica foi um <strong>do</strong>s suportes mais utiliza<strong>do</strong>s para receber<br />

escultura, nos portais.<br />

Torneio Nome da<strong>do</strong> a uma das atividades de competição guerreira praticadas<br />

pelos cavaleiros da Idade Média (ver) e <strong>do</strong> Renascimento (ver). Era<br />

uma espécie de simulação de batalha, em que havia regras bem definidas,<br />

procuran<strong>do</strong> evitar feridas graves ou mesmo mortes; transformou-se<br />

também num evento social e forma de comemorar momentos festivos,<br />

fazen<strong>do</strong>-se muitas vezes torneios por ocasião de casamentos ou batiza<strong>do</strong>s.<br />

Entre as várias lutas praticadas nos torneios, uma das mais populares<br />

era a justa (ver).<br />

Torre Construção elevada, geralmente de pedra ou tijolo, re<strong>do</strong>nda ou<br />

angular, que originalmente servia de defesa. Para além das torres sineiras,<br />

onde são coloca<strong>do</strong>s os sinos das igrejas (ver), as torres de menagem e de<br />

vigia, associadas às habitações senhoriais e aos castelos, constituem as<br />

principais tipologias de torres.<br />

Tramo Unidade espacial arquitetónica, quadrangular ou retangular, definida<br />

entre cada coluna ou pilar (ver) que suporta a cobertura. Se a nave<br />

(ver) de uma igreja (ver) tiver três colunas ou pilares, definin<strong>do</strong> assim<br />

três unidades espaciais antes <strong>do</strong> transepto (ver) ou da cabeceira (ver),<br />

diz-se que ela tem três tramos.<br />

Transepto Corpo transversal, de uma ou mais naves (ver), construí<strong>do</strong><br />

perpendicularmente à nave (ou naves) de um templo.<br />

Trevas O mesmo que escuridão.<br />

Trilogia Conjunto de três; no caso, costuma-se falar da trilogia <strong>do</strong>s<br />

males que estavam associa<strong>do</strong>s às crises medievais (ver Idade Média): as<br />

fomes, as pestes e as guerras.<br />

Trova<strong>do</strong>r Nome da<strong>do</strong> aos poetas medievais, de origem nobre, que<br />

compunham poesia e música para as suas cantigas em romance (ver<br />

Romanço).<br />

Unicórnio Animal mitológico semelhante a um cavalo, geralmente branco,<br />

com um único chifre em espiral. De acor<strong>do</strong> com a tradição, apenas<br />

uma <strong>do</strong>nzela (mulher) o conseguia <strong>do</strong>mar.<br />

156 157


Vali<strong>do</strong> Protegi<strong>do</strong>, favorito; alguém que goza da estima e proteção de<br />

outrem.<br />

Vassalagem Laço que unia um vassalo ao seu senhor (suserano), crian<strong>do</strong><br />

uma relação pessoal de dependência pela qual, em troca da proteção<br />

deste, o primeiro ficava obriga<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> um conjunto de obrigações para<br />

com ele (ver Feudalismo).<br />

Vikings Povos da Escandinávia (norte da Europa) que, entre os séculos<br />

VIII e XI, fizeram numerosas viagens marítimas de exploração, conquista<br />

e roubo pela costa europeia atlântica, semean<strong>do</strong> o me<strong>do</strong> entre as populações<br />

locais.<br />

Visigo<strong>do</strong>s Povo de origem germânica, um <strong>do</strong>s ramos em que se dividiram<br />

os go<strong>do</strong>s. Vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Balcãs, penetraram no Império Romano (ver)<br />

e ocuparam a sua parte europeia mais ocidental. Depois de criarem um<br />

reino com capital na atual cidade francesa de Toulouse, foram derrota<strong>do</strong>s<br />

pelos francos no século VI, passan<strong>do</strong> então a ter como único território<br />

de implantação a Península Ibérica, com capital em Tole<strong>do</strong> (Espanha). O<br />

reino visigo<strong>do</strong> terminou em 711, com a invasão árabe (ver Mouros).<br />

158<br />

62<br />

159


62 Mosteiro de Travanca, Amarante.<br />

NOTAS<br />

DE VIAGEM<br />

160 161


162<br />

FOTOGRAFIA DA CAPA<br />

TÚMULO DE EGAS MONIZ,<br />

MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA,<br />

PENAFIEL<br />

FICHA TÉCNICA<br />

PROMOTOR<br />

ROTA DO ROMÂNICO<br />

COORDENAÇÃO GERAL<br />

ROSÁRIO CORREIA MACHADO<br />

REVISÃO DA EDIÇÃO<br />

GABINETE DE PLANEAMENTO E<br />

COMUNICAÇÃO<br />

EXECUTOR<br />

GLORYBOX, LDA.<br />

COORDENAÇÃO<br />

GLORYBOX, LDA.<br />

PAULO CELSO FERNANDES MONTEIRO<br />

PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS<br />

TEXTOS<br />

MARIA DO ROSÁRIO MORUJÃO<br />

PAULO ALMEIDA FERNANDES<br />

CONSULTOR<br />

ANÍSIO MIGUEL DE SOUSA SARAIVA<br />

TEXTO DOS MONUMENTOS (ADAPTADO)<br />

LÚCIA ROSAS (COORD.) - FACULDADE<br />

DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO<br />

PORTO<br />

DESIGN GRÁFICO<br />

CATARINA SOUSA<br />

ILUSTRAÇÃO<br />

EDIÇÕES LIVRO BRANCO, LDA.<br />

FOTOGRAFIA<br />

ROTA DO ROMÂNICO<br />

R. SOUSA SANTOS<br />

DIGISFERA<br />

IMPRESSÃO<br />

CROMOTEMA – ARTES GRÁFICAS, LDA.<br />

TIRAGEM<br />

10.000<br />

EDIÇÃO<br />

1.ª · FEVEREIRO DE 2013<br />

ISBN<br />

978-989-98052-4-8<br />

DEPÓSITO LEGAL<br />

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