17.05.2013 Views

Análise dos dilemas e desafios na trajetória da organização sindical ...

Análise dos dilemas e desafios na trajetória da organização sindical ...

Análise dos dilemas e desafios na trajetória da organização sindical ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Análise</strong> <strong>dos</strong> <strong>dilemas</strong> e <strong>desafios</strong> <strong>na</strong> <strong>trajetória</strong> <strong>da</strong> <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong><br />

assistentes sociais em Sergipe<br />

Albany Mendonça Silva 1<br />

albanymendonca@hotmail.com<br />

Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de trabalho: Resulta<strong>dos</strong> de investigaciones<br />

Eixo temático: Relación del Trabajo Social com los movimeintos socieales<br />

Palavras chaves: Trajetória, Organização Política, Sindicato, Serviço Social,<br />

Neoliberalismo.<br />

I- introdução<br />

Este estudo é parte integrante <strong>da</strong> pesquisa mais ampla do NPDSS- Núcleo de<br />

Pesquisa do Departamento de Serviço Social, intitula<strong>da</strong> “Trajetória <strong>da</strong> História <strong>da</strong><br />

Assistência e <strong>da</strong>s Organizações Políticas do Serviço Social”. Neste artigo, busca-se<br />

a<strong>na</strong>lisar os <strong>dilemas</strong> e <strong>desafios</strong> do processo de <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> Assistentes<br />

Sociais em Sergipe, <strong>na</strong> perspectiva de entender os determi<strong>na</strong>ntes históricos que<br />

influenciaram <strong>na</strong> criação, extinção do sindicato e no debate recente acerca <strong>da</strong> reabertura<br />

<strong>dos</strong> sindicatos.<br />

Entende-se que estu<strong>da</strong>r a <strong>organização</strong> política <strong>dos</strong> assistentes sociais possa<br />

contribuir para a compreensão do processo de luta travado pelos profissio<strong>na</strong>is <strong>na</strong><br />

conquista de direitos e <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção do projeto ético político. Segundo Abramides<br />

“recuperar e registrar a memória do processo de lutas <strong>da</strong> nossa categoria profissio<strong>na</strong>l, ele<br />

pode e deve servir como contribuição pe<strong>da</strong>gógica para a continui<strong>da</strong>de de luta e<br />

<strong>organização</strong>” (1996, p.17).<br />

A perspectiva teórico-metodológica adota<strong>da</strong> para a realização <strong>da</strong> pesquisa<br />

embasou-se <strong>na</strong> pesquisa histórica, entendi<strong>da</strong> como: “a descoberta cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>a, exaustiva e<br />

diligente de novos fatos históricos, a busca crítica <strong>da</strong> documentação que prove a<br />

existência <strong>dos</strong> mesmos, permite sua incorporação ao escrito ou a revisão e interpretação<br />

nova <strong>da</strong> história” (RODRIGUES, 1978, p. 21). Foram adota<strong>dos</strong> os seguintes<br />

procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica, levantamento e análise documental<br />

(atas, boletins, jor<strong>na</strong>is, relatórios, teses e monografias) localiza<strong>dos</strong> no NPDSS e no<br />

CRESS (Conselho Regio<strong>na</strong>l de Serviço Social) a partir do preenchimento de 162 fichas<br />

1 Assistente social, professora do departamento de Serviço Social <strong>da</strong> UFRB- Universi<strong>da</strong>de Federal do Recôncavo <strong>da</strong> Bahia.<br />

Mestre em Educação pela UFS. Ponencia presenta<strong>da</strong> en el XIX Semi<strong>na</strong>rio Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social.<br />

El Trabajo Social en la coyuntura latinoamerica<strong>na</strong>: desafíos para su formación, articulación y acción profesio<strong>na</strong>l.<br />

Universi<strong>da</strong>d Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009.<br />

1


padroniza<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> realização de seis entrevistas com profissio<strong>na</strong>is e professores que<br />

participaram do processo de <strong>organização</strong> política.<br />

É importante considerar que antes <strong>da</strong> formação de sindicato, a <strong>organização</strong> <strong>dos</strong><br />

assistentes sociais passou por profun<strong>da</strong>s transformações ocorri<strong>da</strong>s <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza jurídica<br />

<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de, que passou de um caráter mais cultural, com a criação <strong>da</strong>s ABAS 2 , para<br />

revestir de um conteúdo mais político, quando se transformou em APAS 3 e depois<br />

Sindicato. É importante salientar que o debate sobre a formação <strong>sindical</strong> no seio <strong>da</strong><br />

categoria dá-se no contexto histórico de <strong>organização</strong> política <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> trabalhadores.<br />

Recuperar o debate sobre a desativação e reativação <strong>dos</strong> sindicatos no contexto de<br />

enfraquecimento <strong>da</strong> <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> tem polarizado o debate no seio <strong>da</strong> categoria.<br />

Colocando em ce<strong>na</strong> no debate contemporâneo a polarização sobre a reativação <strong>da</strong><br />

<strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> assistentes sociais. Portanto, tal estudo tor<strong>na</strong>-se relevante <strong>na</strong><br />

perspectiva de recuperar a <strong>trajetória</strong> política <strong>dos</strong> assistentes sociais e de situar o debate a<br />

polêmica no seio <strong>da</strong> categoria sobre a retoma<strong>da</strong> <strong>dos</strong> sindicatos num contexto de crise e<br />

enfraquecimento do poder <strong>sindical</strong>.<br />

II- Dilemas e <strong>desafios</strong> <strong>da</strong> <strong>organização</strong> política em sergipe<br />

Historicamente, a <strong>trajetória</strong> <strong>da</strong> <strong>organização</strong> política do assistente social está<br />

vincula<strong>da</strong> à dinâmica do movimento <strong>sindical</strong> brasileiro. É dentro desse contexto que são<br />

construí<strong>da</strong>s as bandeiras de lutas e as ações em prol <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> direitos <strong>dos</strong><br />

assistentes sociais enquanto classe trabalhadora. Em nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, em 1948, cria-se a<br />

Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), e dez anos depois é implanta<strong>da</strong> em<br />

Sergipe. Nessa primeira fase <strong>da</strong> <strong>organização</strong> política percebe-se que a enti<strong>da</strong>de sofre a<br />

influência conservadora <strong>da</strong> igreja assumindo um caráter mais cultural. Nesse momento a<br />

enti<strong>da</strong>de não possui uma articulação com os movimentos sociais e sindicais, restringindo-<br />

se a luta pela sedimentação do Serviço Social, enquanto profissão, a partir <strong>da</strong><br />

implementação <strong>da</strong>s estratégias de ampliação do espaço profissio<strong>na</strong>l no estado.<br />

A partir de 1964, com a deflagração do golpe, o governo passou a intervir em<br />

milhares de sindicatos e impedir quaisquer tentativas de contestação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil<br />

através <strong>da</strong> intensificação <strong>da</strong> repressão policial e do desmonte <strong>da</strong> <strong>organização</strong> do<br />

movimento operário. É dentro desse contexto que a <strong>organização</strong> <strong>dos</strong> assistentes sociais<br />

2<br />

ABAS – Associação Brasileira de Assistentes Sociais foi cria<strong>da</strong> em 1958 e desativa<strong>da</strong> em 1968 no contexto <strong>da</strong> ditadura<br />

militar<br />

3<br />

APAS-SE- Associação Profissio<strong>na</strong>l <strong>dos</strong> Assistentes Sociais<br />

2


“sofreram os reveses advin<strong>dos</strong> com o golpe militar e que atingiram to<strong>da</strong>s as formas de<br />

<strong>organização</strong> <strong>da</strong> classe trabalhadora em geral, bem como os mecanismos de expressão e<br />

manifestação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil” (ABRAMIDES, 1995, P.112).Nacio<strong>na</strong>lmente, sofre os<br />

rebatimentos <strong>da</strong> ditadura , sendo desativa<strong>da</strong>. Entretanto, em nível local, a ABAS/SE,<br />

continuou a funcio<strong>na</strong>r com ativi<strong>da</strong>des escassas. Segundo depoimento de um <strong>dos</strong><br />

entrevista<strong>dos</strong>, isto só foi possível, porque a enti<strong>da</strong>de tinha um cunho cultural que lhe foi<br />

atribuído e estava atrela<strong>da</strong> ao Ministério do Trabalho, enquanto nos demais esta<strong>dos</strong> a<br />

enti<strong>da</strong>de já tinha assumido a conotação de APAS, enti<strong>da</strong>de de caráter pré-<strong>sindical</strong>.<br />

Apesar de a ditadura impedir as manifestações de classe trabalhadora, nota-se que nesse<br />

período alguns profissio<strong>na</strong>is conseguiram se agluti<strong>na</strong>r em torno <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de, visando a<br />

construção de estratégias para discutir a reali<strong>da</strong>de como uma forma de contestação para<br />

se contrapor ao regime. É nessa perspectiva que a enti<strong>da</strong>de, em alguns momentos,<br />

utilizou-se <strong>da</strong> conotação cultural e promoveu cursos de aperfeiçoamento, embutindo a<br />

discussão sobre a reali<strong>da</strong>de social <strong>da</strong>quele período. Como ilustra o depoimento: “acho<br />

que uma coisa muito importante que a gente fez foi <strong>da</strong>r uma conotação um pouco<br />

diferente ao que estava estabelecido que seria a ABAS, quer dizer, é uma associação<br />

cultural, então a gente extrapolou o sentido de cultura, que aliás, tem um sentido mais<br />

amplo (...) vamos rediscutir esse termo e vamos transformar a ABAS não em fazedora de<br />

curso, vamos ultrapassar, a gente tentou levar justamente para não fazer esses cursos<br />

específicos (...) vamos discutir a socie<strong>da</strong>de, a conjuntura” (sujeito de pesquisa 2).<br />

Com a intensificação <strong>da</strong> repressão política <strong>da</strong> ditadura, após 1968, com o decreto<br />

AI- 5 – Ato institucio<strong>na</strong>l nº 58, considerado o mais terrível instrumento <strong>da</strong> força lançado<br />

pelo regime ditatorial, e em segui<strong>da</strong> com as medi<strong>da</strong>s adota<strong>da</strong>s pelo governo Médice “o<br />

campeão do poder ditatório”, a ABAS/SE é desativa<strong>da</strong>.<br />

No fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970, com o processo de redemocratização do país, o<br />

movimento <strong>sindical</strong> ressurge com to<strong>da</strong> força e passa a promover várias manifestações e<br />

greves, como uma estratégia de luta pela restituição <strong>dos</strong> direitos civis e políticos. Segundo<br />

Car<strong>dos</strong>o: “<strong>na</strong> visão de Celso Frederico o ciclo grevista, que se inicia com a greve de<br />

1978(greve do ABC paulista), marca um momento novo <strong>na</strong> história <strong>da</strong> classe<br />

trabalhadora, trazendo para um plano em termos políticos, a presença operária nos<br />

debates sobre a redemocratização do país” (1995, p. 198). É dentro desse contexto que<br />

são lança<strong>da</strong>s as bases para a construção do novo <strong>sindical</strong>ismo, a partir <strong>da</strong> criação do PT(<br />

Partido <strong>dos</strong> Trabalhadores) em 1980 e a construção <strong>da</strong> CUT ( Central Única <strong>dos</strong><br />

3


Trabalhadores) em 1983, os quais passam a <strong>da</strong>r um novo direcio<strong>na</strong>mento ao movimento<br />

<strong>sindical</strong>.<br />

Em 1977, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente o processo de retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>organização</strong> política do<br />

Assistente Social ocorre em sintonia com esse processo de redemocratização <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de civil e construção do novo <strong>sindical</strong>ismo, ou <strong>sindical</strong>ismo autêntico, que se<br />

colocava como “<strong>sindical</strong>ismo combativo, classista e de massa, que passa a fazer parte do<br />

cenário político brasileiro, contrapondo-se ao <strong>sindical</strong>ismo atrelado ao Estado e a<br />

estrutura <strong>sindical</strong> corporativa her<strong>da</strong><strong>da</strong> do período Getulista” (CARDOSO, 1995, p.211).<br />

Outro aspecto importante no processo de <strong>organização</strong> <strong>dos</strong> assistentes sociais foi à<br />

influência ideológica basea<strong>da</strong> no marxismo, que consegue hegemonia no seio <strong>da</strong><br />

categoria .<br />

Inicia-se uma nova fase, tanto para o Serviço Social enquanto profissão,<br />

como para o conjunto <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des sindicais <strong>dos</strong> assistentes sociais.<br />

Nesta nova fase, prevalece o debate político no interior destas<br />

enti<strong>da</strong>des, que, se por um lado, possibilitou a aproximação <strong>dos</strong><br />

profissio<strong>na</strong>is à reali<strong>da</strong>de em que atuam, provocou, também, resistências<br />

por parte <strong>da</strong>queles que se mantinham ideologicamente liga<strong>dos</strong> aos<br />

valores cristãos, de paz e harmonia social ( FONSECA, 2001, p.1-2)<br />

Tomando como referência o movimento <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, a ABAS/SE começou a se<br />

reestruturar suas ações e discutir o processo de formação <strong>da</strong> <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong>. Esse<br />

movimento ganha uma visibili<strong>da</strong>de no seio <strong>da</strong> categoria a partir <strong>da</strong> criação em nível<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l do CENEAS (Comissão Executiva Nacio<strong>na</strong>l de Enti<strong>da</strong>des de Assistentes<br />

Sociais), em 1979 e a criação do ANAS (Associação Nacio<strong>na</strong>l de Assistentes Sociais), em<br />

1983. Tais enti<strong>da</strong>des contribuíram de forma decisiva para que em nível local a ABAS<br />

travasse discussões no sentido de fazer o processo de transição para construção de uma<br />

enti<strong>da</strong>de pré-<strong>sindical</strong> e <strong>sindical</strong>. A APAS/SE é cria<strong>da</strong> no ano de 1981 como um estágio<br />

preparatório para a <strong>organização</strong> em sindicato, tendo em vista o receio <strong>da</strong> categoria quanto<br />

a criação do sindicato face a conjuntura política do país de transição do período militar<br />

para a democracia. Pode-se perceber essa questão <strong>na</strong> verbalização de um <strong>dos</strong><br />

entrevista<strong>dos</strong>: “falar em sindicato, falar em associação profissio<strong>na</strong>l, falar nisso era um<br />

terror, porque a gente estava no momento <strong>da</strong> ditadura e todo mundo, todo mundo não,<br />

uma boa parte sabia o que significava isso, associação e sindicato é comunista. E aí a<br />

gente tem que ter uma discussão com a categoria para mostrar a importância disso, e por<br />

outro lado, era favorecido pela conjuntura, pelas greve no ABC, então é um momento de<br />

transição, que é muito conturbado, <strong>da</strong>í a importância dele”( sujeito de pesquisa 4).<br />

4


É importante destacar que o processo de formação <strong>da</strong> APAS/SE ocorreu no<br />

momento que em nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> começa a discutir um novo<br />

redirecio<strong>na</strong>mento para o movimento <strong>sindical</strong> com a consoli<strong>da</strong>ção do novo <strong>sindical</strong>ismo.<br />

Para Fonseca<br />

o movimento político <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> assistentes sociais brasileiros, desde a<br />

criação do CENEAS e, com maior ênfase, a partir <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ANAS,<br />

desenvolve-se numa perspectiva política de ruptura com a estrutura<br />

<strong>sindical</strong> vigente, atrela<strong>da</strong> ao Estado, muito embora sua operacio<strong>na</strong>lização<br />

tenha se <strong>da</strong>do através de organismos corporativos”( Idem, p. 2).<br />

Dentre as propostas e bandeiras de luta do movimento <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> assistentes<br />

sociais, cabe frisar o processo de luta pela construção do Piso Salarial do Assistente<br />

Social, o qual movimentou to<strong>da</strong> a categoria com o slogan: “queremos dez mínimo, somos<br />

quarenta mil”. Na perspectiva de subsidiar a luta pelo Piso Salarial foi realiza<strong>da</strong> uma<br />

pesquisa em nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sobre as condições de salário e trabalho do profissio<strong>na</strong>l. Para<br />

tanto, ca<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de fez um levantamento sobre a reali<strong>da</strong>de salarial do assistente social e<br />

simultaneamente se travou uma discussão sobre a fixação <strong>dos</strong> critérios para a definição<br />

do salário mínimo profissio<strong>na</strong>l de acordo com os índices do DIESSE (ABRAMIDES, Idem ,<br />

p.124).<br />

Em nível local , a ABAS e depois APAS constitui uma comissão para estu<strong>da</strong>r a<br />

situação salarial e as condições de trabalho em Sergipe, pesquisando em 26 instituições<br />

do Estado de Sergipe, atingindo 50 % do universo. Conforme a verbalização de uma <strong>da</strong>s<br />

entrevista<strong>da</strong>s: “a pesquisa é importante, não pelo imediato que era o resultado <strong>da</strong><br />

pesquisa, mas de como fazer a articulação com a categoria, o piso salarial era uma coisa<br />

que motivava as pessoas, queriam discutir seu piso. Acho que também era um momento<br />

que se <strong>da</strong>va em nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l com outras categorias, todo mundo queria definir o seu<br />

piso (...) a intenção não era trabalhar só o piso salarial, a pesquisa, mas exatamente fazer<br />

com que a categoria se articulasse politicamente aí o eixo a questão salarial, a pesquisa<br />

trabalhava vários outros itens, as condições de trabalho, o mercado de trabalho” (sujeito<br />

de pesquisa 3). E em 1982 foi elaborado um projeto de lei sobre o Piso Salarial com base<br />

<strong>na</strong> pesquisa e apresentado no IV CBAS. Tal projeto deu entra<strong>da</strong> no Congresso Nacio<strong>na</strong>l.<br />

Durante o período de transição do projeto, <strong>na</strong> perspectiva de afirmação <strong>dos</strong> direitos são<br />

promovi<strong>da</strong>s várias manifestações em todo o país. Em nível local, a enti<strong>da</strong>de fez<br />

interseção junto a representantes parlamentares de Sergipe, envia telegramas e participa<br />

com a i<strong>da</strong> de representantes à Brasília.<br />

5


Em Sergipe o processo de criação do sindicato, em 1985, ocorre no momento em<br />

que a ANAS encabeça a discussão acerca <strong>da</strong> nova estrutura <strong>sindical</strong> a partir <strong>da</strong> extinção<br />

<strong>dos</strong> sindicatos por categoria. As divergências políticas e ideológicas liga<strong>da</strong> aos grupos<br />

políticos do PC do B e do PT presentes no movimento <strong>sindical</strong> acentuam no processo de<br />

formação <strong>da</strong>s chapas para concorrer às eleições do sindicato. O grupo político sob a<br />

influência do PT perde as eleições e forma um grupo de oposição a diretoria do sindicato,<br />

conhecido como GASS (Grupo Alter<strong>na</strong>tivo de Serviço Social ), o qual estabelece uma<br />

articulação orgânica com a CUT e com a ANAS. Enquanto que a diretoria do sindicato,<br />

sob a influência do PC do B faz oposição a ANAS, defendendo a perspectiva <strong>dos</strong><br />

sindicatos corporativos, liga<strong>dos</strong> a CGT( Central Geral <strong>dos</strong> Trabalhadores). Na segun<strong>da</strong><br />

gestão do sindicato assume o grupo ligado ao GASS com o propósito de fazer as<br />

discussões sobre a questão <strong>da</strong> unici<strong>da</strong>de <strong>sindical</strong> e encaminhar o processo de extinção<br />

do sindicato.<br />

Conforme o depoimento que segue, esse aspecto é reforçado: “a proposta do grupo<br />

que assumiu o sindicato era a extinção do mesmo, ou melhor, fazer a extinção e transição,<br />

encaminhar os profissio<strong>na</strong>is para os grandes sindicatos, ao qual estavam liga<strong>dos</strong> (..) então era<br />

encaminhar os assistentes sociais, fazer essa discussão com os assistentes sociais dentro do seu<br />

local de trabalho, esclarecendo que para o grupo, essa proposta do assistente social se perceber<br />

enquanto mais um trabalhador e não reforçar a coisa do corporativismo do profissio<strong>na</strong>l liberal. A<br />

chapa tinha clareza que fazer a transição, encaminhar as discussões que permitissem aos<br />

profissio<strong>na</strong>is de perceberem que as discussões políticas, salariais, <strong>da</strong>s condições de trabalho que<br />

tinha que ser trava<strong>da</strong> dentro do sindicato de trabalho deles e não um sindicato a parte e essa<br />

coisa a gente fez discussões em várias enti<strong>da</strong>des”( sujeito de pesquisa 6).<br />

Depois de um longo processo de luta e discussão sobre a questão salarial, a<br />

<strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> assistentes sociais inspira<strong>da</strong> pela construção <strong>da</strong> nova estrutura<br />

<strong>sindical</strong>, aprova<strong>da</strong> em 1986, decide pela extinção <strong>dos</strong> sindicatos corporativos e propõe<br />

que a avaliação <strong>da</strong> discussão salarial deve ser incorpora<strong>da</strong> às lutas <strong>dos</strong> trabalhadores<br />

contra a exploração e condições de trabalho nos sindicatos por ramo de produção. Tal<br />

fato provoca redefinições <strong>na</strong> <strong>organização</strong> <strong>da</strong> luta <strong>dos</strong> assistentes sociais. Conforme ilustra<br />

o depoimento: “depois foi a<strong>na</strong>lisado que foi equivoca<strong>da</strong> a questão de se trabalhar o piso<br />

salarial. A gente avançou tanto que chegou a conclusão que o piso salarial era um<br />

retrocesso. Só que <strong>na</strong>quele momento ele, a pesquisa serviu para articular a categoria”<br />

(sujeito de pesquisa 3).<br />

Com a extinção do sindicato de Sergipe, em 1992, esperava-se que o<br />

direcio<strong>na</strong>mento político assumido pela categoria fosse fortalecer os CRESS, enquanto<br />

6


epresentação política <strong>dos</strong> assistentes sociais nos sindicatos por ramo de produção.<br />

Observa-se a partir <strong>da</strong> avaliação <strong>dos</strong> sujeitos que esse processo não ocorreu como se<br />

esperava: “a gente não conseguiu ca<strong>na</strong>lizar os assistentes sociais para os outros<br />

sindicatos maiores, quer dizer, isso a gente avaliou logo, os assistentes sociais não<br />

passaram trabalhar nos sindicatos, quem já continuou, mas muita gente ficou solta, nem<br />

sindicato maior, nem sindicato de assistentes sociais. O CRESS que deveria preencher<br />

essa lacu<strong>na</strong> até de certa forma as gestões começaram a <strong>da</strong>r outra visão” (sujeito de<br />

pesquisa 3).<br />

Portanto, no cenário político <strong>dos</strong> anos 1990, que coloca em ce<strong>na</strong> a ofensiva<br />

neoliberal, marca<strong>da</strong> por um processo de mu<strong>da</strong>nças no mundo do trabalho, a saber:<br />

flexibilização <strong>dos</strong> merca<strong>dos</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, flexibilização (precarização) <strong>dos</strong><br />

contratos de trabalho, subcontratação <strong>da</strong>s relações de trabalho, privatizações <strong>da</strong>s<br />

empresas estatais, e , consequentemente enfraquecimento do poder <strong>sindical</strong>, há uma<br />

retoma<strong>da</strong> do debate sobre o ressurgimento <strong>da</strong> <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> <strong>dos</strong> assistentes<br />

sociais em Sergipe, em articulação com a Federação Nacio<strong>na</strong>l de Assistentes Sociais<br />

(Fe<strong>na</strong>s) 4 .<br />

Corroborando com Ramos, o debate sobre a <strong>organização</strong> política <strong>dos</strong> assistentes<br />

sociais polariza dois campos divergentes:<br />

um (que) agluti<strong>na</strong> parte <strong>da</strong> categoria, que, em consonância com o<br />

projeto ético-político profissio<strong>na</strong>l, bem como com a proposta <strong>da</strong> nova<br />

estruturação <strong>sindical</strong>, pela quebra do corporativismo e unificação <strong>da</strong>s<br />

lutas do conjunto <strong>da</strong>s classes trabalhadoras, defende a <strong>sindical</strong>ização<br />

por ramo de ativi<strong>da</strong>de; o outro não defende isso nessa conjuntura,<br />

mantendo em funcio<strong>na</strong>mento uma enti<strong>da</strong>de <strong>sindical</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong><br />

categoria que investe <strong>na</strong> reabertura <strong>dos</strong> sindicatos de assistentes<br />

sociais, sob a alegação de que os ramos não foram estruturas<br />

consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s e, portanto, os sindicatos profissio<strong>na</strong>is devem continuar<br />

<strong>da</strong>ndo prosseguimento às lutas <strong>da</strong> categoria, o que representa um<br />

processo político diante <strong>da</strong> superação histórica construí<strong>da</strong> pelo<br />

<strong>sindical</strong>ismo de massas( 2008, p. 54)<br />

Contudo, o movimento de re<strong>organização</strong> <strong>sindical</strong>, no interior <strong>da</strong> profissão, tem<br />

crescido bastante e conseguido visibili<strong>da</strong>de nos fóruns <strong>da</strong> categoria, trazendo<br />

preocupações <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que “aparentemente se mostra progressista, mas em<br />

essência é reacionária, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que contribui para manter a consciência política <strong>da</strong><br />

categoria no nível econômico-corporativo, reforçando práticas isola<strong>da</strong>s do conjunto <strong>da</strong>s<br />

lutas <strong>da</strong>s classes trabalhadoras” (Idem, p.57). Por outro lado, até que ponto a estrutura<br />

4 FENAS foi cria<strong>da</strong> em 2000 tendo os sindicatos filia<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong> do Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Rio Grande do<br />

Sul, Ceará, Caxias do Sul, Belém e Per<strong>na</strong>mbuco.<br />

7


<strong>sindical</strong> garantirá ganhos trabalhistas para os profissio<strong>na</strong>is <strong>na</strong> dinâmica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

atual em que a classe trabalhadora tem sofrido os rebatimentos <strong>da</strong> crise. Percebe-se<br />

ain<strong>da</strong> que a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>organização</strong> política <strong>dos</strong> assistentes sociais vai numa<br />

perspectiva de busca de reconhecimento do que pela defesa de um projeto societário em<br />

que coloca em ce<strong>na</strong> o protagonismo <strong>da</strong> classe trabalhadora.<br />

Considerações fi<strong>na</strong>is<br />

Esse estudo possibilitou compreender a <strong>trajetória</strong> política <strong>dos</strong> assistentes sociais<br />

inseri<strong>dos</strong> <strong>na</strong> dinâmica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de capitalista, especialmente no bojo do movimento<br />

<strong>sindical</strong>, como um mecanismo importante no processo de luta <strong>dos</strong> assistentes sociais,<br />

enquanto classe trabalhadora, <strong>na</strong> conquista <strong>dos</strong> direitos trabalhistas, políticos e civis.<br />

Por fim, enfocamos a relevância de fomentar essa reflexão como uma contribuição<br />

para a <strong>organização</strong> do assistente social, especialmente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> <strong>na</strong> reflexão de<br />

Abramides “os <strong>desafios</strong> hoje se direcio<strong>na</strong>m no sentido de saber tirar lições de todo este<br />

processo organizativo e de lutas que <strong>na</strong>sce e se desenvolve, ousando romper com as<br />

formas oficiais e corporativas, sedimenta<strong>dos</strong> no <strong>sindical</strong>ismo brasileiro”. (1995, p.299). É<br />

nessa direção que entendemos que há necessi<strong>da</strong>de de aprofun<strong>da</strong>r o debate sobre o<br />

processo <strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>organização</strong> <strong>sindical</strong> marcado pelo arrefecimento <strong>da</strong>s lutas<br />

trabalhistas e per<strong>da</strong>s de direito.<br />

8


Referências bibliográficas<br />

ABRAMIDES, M.B.C. O Novo Sindicalismo e o Serviço Social: <strong>trajetória</strong> e<br />

processo de luta de uma categoria. 1978 a 1988. São Paulo: Cortez,1995.<br />

____________Prática e Perspectiva <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong> Categoria <strong>dos</strong> Assistentes<br />

Sociais do ponto de vista: formação profissio<strong>na</strong>l, político <strong>sindical</strong>, <strong>da</strong> garantia do exercício<br />

profissio<strong>na</strong>l e do movimento estu<strong>da</strong>ntil, São Paulo, IV CBAS.<br />

1991.<br />

ANTUNES, R.C. O que é Sindicalismo. 18 ed. São Paulo: Editora Brasiliense,<br />

CARDOSO,F.G. Organização <strong>da</strong>s Classes Subalter<strong>na</strong>s: um desafio para o<br />

Serviço Social. São Paulo: Cortez, Maranhão: Editora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do<br />

Maranhão, 1995.<br />

FONSECA,C.C. <strong>da</strong>. Os Assistentes Sociais e a Organização Sindical. In: VIII<br />

CBAS. (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)2001, Rio de Janeiro: 2001, CD-<br />

ROM.<br />

FILHO, A.O.S. A criação e extinção do Sindicato de Assistentes Sociais do<br />

Estado de Sergipe. Trabalho de Conclusão de Curso. Universi<strong>da</strong>de Tiradentes, Aracaju.<br />

1993.<br />

MONTANO, C. Terceiro Setor e Questão Social: crítica ao padrão emergente de<br />

intervenção social. São Paulo: Cortez,2002.<br />

RODRIGUES, J.H. A Pesquisa História no Brasil, 3ª edição, São Paulo:<br />

Brasileira, 1978.<br />

RAMOS, S. R e SANTOS, T.R.M <strong>dos</strong>. Dilemas e <strong>desafios</strong> do movimento <strong>sindical</strong><br />

brasileiro: a particulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>organização</strong> <strong>dos</strong> (as) assistentes sociais. Serviço<br />

Social.&Socie<strong>da</strong>de. Nº. 94 . Ano XXIX junho 2008.<br />

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!