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Mulheres da Raia, uma história contada na primeira ... - LabCom - UBI

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296 A<strong>na</strong> Catari<strong>na</strong> Pereira<br />

expectativas; nós deveríamos fazer o mesmo e colocar-nos mais vezes<br />

<strong>na</strong> <strong>primeira</strong> fila.<br />

Pela minha experiência pessoal e profissio<strong>na</strong>l, posso dizer que ser<br />

mulher (e jovem), num primeiro momento, é <strong>uma</strong> barreira. Sobretudo<br />

quando decides <strong>da</strong>r o primeiro passo e não há um trabalho ou <strong>uma</strong> experiência<br />

que suporte as tuas palavras. Em reuniões decisivas muitas<br />

vezes tive que enfrentar posturas mal-educa<strong>da</strong>s e pouco agradáveis<br />

de quem se colocava à minha frente. Convém dizer que não eram só<br />

homens: em alguns casos esta postura também era adopta<strong>da</strong> por mulheres.<br />

Nesses momentos apetecia-me <strong>da</strong>r um golpe em cima <strong>da</strong> mesa,<br />

mas o melhor golpe que dei foi o filme.<br />

Ca<strong>da</strong> vez que entro n<strong>uma</strong> sala de reuniões sinto que o olhar é mais<br />

desconfiado. Os cinco primeiros minutos de ca<strong>da</strong> conversa são determi<strong>na</strong>ntes;<br />

eu estou consciente de que tenho que demonstrar algo mais<br />

para que me levem a sério. Mas quando o trabalho e as capaci<strong>da</strong>des<br />

são visíveis a barreira desaparece. A igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des no<br />

cinema, como no resto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, é um processo inevitavelmente<br />

lento. A ruptura com a tradição masculi<strong>na</strong> <strong>da</strong> profissão e a mu<strong>da</strong>nça<br />

de mentali<strong>da</strong>de é impossível de materializar-se de um dia para outro.<br />

Mas agora temos a nossa grande oportuni<strong>da</strong>de que não podemos desaproveitar.<br />

ACP: Acreditas que pode existir <strong>uma</strong> sensibili<strong>da</strong>de femini<strong>na</strong> que<br />

transparece nos filmes realizados por mulheres?<br />

DG: Temos as mesmas capaci<strong>da</strong>des e a mesma possibili<strong>da</strong>de de<br />

olhar, mas é lógico que exista <strong>uma</strong> sensibili<strong>da</strong>de diferente. Isto não é<br />

positivo nem negativo. Simplesmente somos diferentes por <strong>na</strong>tureza e<br />

isso, por vezes, também é visível <strong>na</strong> expressão cinematográfica. Acho<br />

que esta questão é curiosa no tratamento <strong>da</strong> nudez: o homem cost<strong>uma</strong><br />

dissecar as partes do corpo, e a mulher cost<strong>uma</strong> tratar a nudez como um<br />

corpo inteiro, um todo. Em grande parte dos filmes feitos por homens<br />

há <strong>uma</strong> necessi<strong>da</strong>de de representação do poder masculino através do<br />

corpo ou de objectos (pistolas, <strong>na</strong>valhas...) e, por vezes, <strong>uma</strong> excessiva<br />

fragilização <strong>da</strong> figura femini<strong>na</strong>. Mas isto são impressões que não se<br />

podem generalizar. O mais importante é o descobrimento por parte <strong>da</strong><br />

mulher de que também pode olhar. Eles olham-nos, somos conscientes<br />

do seu olhar sobre nós, mas o descobrimento está em que nós, também<br />

podemos fazê-lo.

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