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A HISTÓRIA CONTADA PELA CAÇA OU PELO CAÇADOR? - PACS

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cursos minerais e expostas a uma elevada volatilidade. Poucos atores, contudo, mencionaram ou<br />

refletiram sobre as implicações que esse endividamento pode ter ao reforçar uma determinada<br />

rota produtiva, calcada principalmente nas atividades primário-exportadoras, ou ao expor a economia<br />

a uma maior instabilidade ligada aos mercados financeiros globais e à especulação.<br />

Essas situações colocam em evidência o risco do comprometimento e do esgotamento dos recursos<br />

naturais (no caso, minerais e energéticos) e lançam dúvidas sobre a sustentabilidade econômica.<br />

Adicionalmente, implicam a consolidação nesses países de um processo de consumo e<br />

exploração agressiva de recursos minerais no médio e longo prazos. Cria-se um círculo vicioso<br />

que nem sempre se expressa na diversificação da economia: a descoberta de recursos minerais<br />

faz com que os seus governos passem a financiar suas atividades com o comprometimento desses<br />

recursos e que passem continuamente a contrair novos empréstimos para garantir a continuidade<br />

da exploração.<br />

Essa situação, nos coloca dois pontos para reflexão com relação à sua sustentabilidade e às consequências<br />

do endividamento sobre suas economias. de um lado, a importância da diversificação<br />

das economias, de modo a garantirem novas fontes de crescimento que substituam a extração<br />

dos recursos naturais quando os mesmo se esgotarem. Essa condição torna-se mais urgente<br />

na medida em que se acelera o comprometimento presente e futuro dos recursos naturais. de<br />

outro, o excessivo risco ao qual as economias estão expostas, tendo em vista que dependem de<br />

uma ou duas commodities que possuem preços extremamente voláteis, definidos no mercado<br />

internacional e bastante vulneráveis a ataques especulativos. Alguns países como Noruega e<br />

Angola vêm apostando na criação de fundos soberanos de riqueza.<br />

Nas entrevistas e conversas em Moçambique, compreendemos que o país encontra-se em um<br />

círculo vicioso com as doações internacionais. Seu orçamento para os gastos correntes depende<br />

em 45-7% de ajuda financeira de países europeus e do Banco Mundial, o grupo de Parceiros<br />

Programáticos (o chamado G19 79 ). Isso leva a uma dependência estrutural da ajuda internacional<br />

para “fechar as contas” do orçamento moçambicano. Essa situação implica grande interferência<br />

desses países em suas políticas nacionais macroeconômicas e setoriais, como no caso do Banco<br />

Mundial em relação ao setor de castanha:<br />

“O Banco pegou um programa grande que é chamado “ROTS”, para reabilitação das<br />

vias de comunicação, vias de acesso. (...) Não sabemos nunca quando vamos pagar<br />

isso porque cada “trans” que é feita pelo Banco Mundial é sempre pra cima de 350<br />

milhões de dólares para cada um dos programas do “ROTS”. E já fizeram ROtS, 1, 2,<br />

3 e 4. Não sei qual é o ROtS que está agora. Neste período nós poderíamos voltar<br />

a ter um setor da castanha com muita força e não conseguimos ter. Em primeiro<br />

lugar porque o Banco Mundial fez uma opção pela exportação bruta da castanha<br />

e pela não transformação. Não agrega valor e isso foi tudo exportado para a Índia,<br />

então a castanha voltou a não dar grandes índices ao Estado” (informação verbal 80 ).<br />

Ao mesmo tempo, a economia pouco se diversifica (dependendo grandemente de recursos minerais)<br />

dependendo de pacotes de atração de investimentos calcados na concessão de fartas<br />

(consideradas excessivas pelos atores entrevistados) isenções fiscais que reduzem a capacidade<br />

79 - Integram o G19 a Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, dinamarca, Comissão Europeia, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália,<br />

Noruega, Holanda, Portugal, Suécia, Suíça, Reino unido, o Banco Africano de desenvolvimento (BAd) e o Banco Mundial e seus membros<br />

associados, nomeadamente Nações unidas e Estados unidos da América.<br />

80 - Entrevista realizada com professor da universidade Lúrio (Nampula, Moçambique).

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