Estratégias de Conservação da Biodiversidade no Brasil - cesnors
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<strong>Estratégias</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong><br />
<strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>
<strong>Estratégias</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong><br />
<strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
2007<br />
Re<strong>de</strong> Marinho-Costeira e Hídrica do <strong>Brasil</strong>
Copyright@2007 Editora Fun<strong>da</strong>ção <strong>Brasil</strong> Ci<strong>da</strong>dão<br />
Editor responsável<br />
João Bosco Priamo Carbogim<br />
Assistência editorial<br />
Alessandra Peixoto<br />
Coor<strong>de</strong>nação do projeto<br />
Projeto gráfico<br />
Apoio técnico<br />
Fotos<br />
Impressão<br />
César Meyer Musso<br />
João Bosco Priamo Carbogim<br />
Mauri <strong>de</strong> Sousa<br />
Promosell Comunicação<br />
As fotos, quando não i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s, são <strong>de</strong> autoria<br />
e ou responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos autores, exceto as fotos ilustrativas que<br />
são <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Promosell Comunicação.<br />
Expressão Gráfica e Editora<br />
“<strong>Estratégias</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>”é uma publicação <strong>da</strong><br />
Rema <strong>Brasil</strong> - Re<strong>de</strong> Marinho-Costeira e Hídrica do <strong>Brasil</strong><br />
www.remaatlantico.org
ÍNDICE<br />
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO BRASIL: DESAFIOS PARA A SOCIEDADE<br />
ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO<br />
BRASIL-LIÇÕES A APRENDER<br />
CONSERVAÇÃO DA MARINHA NO BRASIL: DESAFIOS E OPORTUNIDADES<br />
RED CETÁCEOS: LA RED LATINO-AMERICANA PARA LA CONSERVACIÓN DE<br />
CETÁCEOS CON ÉNFASIS EN ÁREAS MARINAS PROTEGIDAS<br />
CONSERVAÇÃO DAS ANDORINHAS DO-MAR NAS ILHAS COSTEIRAS DO<br />
ESPÍRITO SANTO<br />
ÁREA MARINHA PROTEGIDA E RESERVA EXTRATIVISTA COMO<br />
INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO DA PESCA ARTESANAL<br />
E DA ECONOMIA COMUNITÁRIA<br />
MANEJO “IN SITU” DO GOLFINHO-ROTADOR NO PARQUE NACIONAL<br />
E NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DE FERNANDO DE NORONHA<br />
ABROLHOS: DESAFIOS PARA A PROTEÇÃO DO MAIOR ECOSSISTEMA<br />
CORALÍNEO DO ATLÂNTICO SUL<br />
ATIVIDADES DE MERGULHO COMO FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO EM<br />
ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS: AVANÇOS E DESAFIOS<br />
OS PINÍPEDES NO SUL DO BRASIL: UMA EXPERIÊNCIA DE BIOLOGIA DA<br />
CONSERVAÇÃO<br />
MOSAICOS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA<br />
DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NA MATA ATLÂNTICA<br />
CONFLITOS SÓCIO-AMBIENTAIS NA ZONA COSTEIRA E TECNOLOGIAS<br />
ALTERNATIVAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE MARINHA<br />
E DOS RECURSOS PESQUEIROS NO BRASIL - UM EXEMPLO DE CASO<br />
NO ESTADO DO PARANÁ<br />
PRIORIDADES PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: EXTINÇÃO<br />
ZERO, UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O CASO DO CEARÁ<br />
RESERVA NATURAL SERRA DAS ALMAS: LIÇÕES E DESAFIOS DE UM<br />
MODELO DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA<br />
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CONSERVAÇÃO DA<br />
BIODIVERSIDADE<br />
NO BRASIL:
Desafios para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
José Tru<strong>da</strong> Palazzo Jr. 1<br />
País megadiverso. Maior extensão soberana <strong>da</strong> Amazônia. Mais rico sistema <strong>de</strong> bacias hidrográficas do planeta.<br />
Maior mar jurisdicional <strong>da</strong> América Latina. Um dos países mais irresponsáveis na gestão <strong>da</strong> sua imensa riqueza natural. Esse<br />
é o <strong>Brasil</strong> em que vivemos e lutamos por uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais consciente, me<strong>no</strong>s perdulária e mais engaja<strong>da</strong> na <strong>de</strong>fesa do<br />
que resta <strong>de</strong> patrimônio natural após mais <strong>de</strong> 500 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> má gestão e abuso dos recursos naturais para a geração <strong>da</strong> efêmera<br />
riqueza <strong>de</strong> poucos à custa <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> todos.<br />
De fato, o país cujos governantes recentes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> partido ou i<strong>de</strong>ologia, historicamente propalam<br />
como cioso e zeloso <strong>da</strong> sua diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica, em qualquer corte <strong>de</strong> justiça <strong>de</strong> família seria interditado por seus parentes<br />
por insani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Enquanto <strong>no</strong>sso país avançou muito <strong>no</strong> que diz respeito à integração <strong>de</strong> sua eco<strong>no</strong>mia ao mercado global,<br />
mo<strong>de</strong>rnizando algumas práticas e <strong>no</strong>rmas que o fazem “<strong>de</strong>sejável” ao investidor do mundo globalizado, é forçoso reconhecer<br />
que o conjunto social que compõe o <strong>Brasil</strong> a<strong>de</strong>ntra o século XXI com práticas sociais e ambientais que só po<strong>de</strong>riam<br />
ser qualifica<strong>da</strong>s <strong>de</strong> irresponsáveis. Boa parte <strong>de</strong>ssas práticas, que sabi<strong>da</strong>mente levam à <strong>de</strong>sintegração do tecido social, por<br />
um lado, e à <strong>de</strong>terioração tanto <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> como <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> geração e manutenção <strong>de</strong> riquezas, por outro,<br />
estão alicerça<strong>da</strong>s na recusa direta dos políticos man<strong>da</strong>ntes - e <strong>da</strong> elite empresarial - em adotar políticas públicas e práticas<br />
gerenciais que levem em consi<strong>de</strong>ração a imperiosa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se conservar a base <strong>de</strong> recursos naturais do país, que<br />
inclui, em sua raiz, os ciclos hidrológicos naturais e a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> que aquinhoaram <strong>de</strong> maneira tão esplendorosa o território<br />
brasileiro.<br />
Enquanto mesmo os impérios econômico-militares do hemisfério <strong>no</strong>rte principiam a adotar padrões <strong>de</strong> consumo,<br />
gestão e socialização <strong>de</strong> sua diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica que incorporam a <strong>no</strong>ção inarredável <strong>de</strong> finitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse patrimônio – traduzidos<br />
esses padrões em medi<strong>da</strong>s para proteger áreas particularmente frágeis e ricas <strong>de</strong> ecossistemas naturais em parques,<br />
reservas e áreas <strong>de</strong> manejo especial; em incentivos e subsídios a fontes re<strong>no</strong>váveis e/ou alternativas <strong>de</strong> energia; e em sistemas<br />
<strong>de</strong> controle social que, ain<strong>da</strong> que imperfeitos, promovem e institucionalizam a participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> na gestão dos<br />
recursos naturais e <strong>no</strong> controle sobre sua apropriação –, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> seguimos reféns do dogma <strong>de</strong>senvolvimentista a qualquer<br />
custo, ora alavancado por um discurso oficialista <strong>de</strong> que é a conservação <strong>da</strong> Natureza o maior empecilho ao “progresso”.<br />
1 Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Coalizão Internacional <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre – IWC/BRASIL. E-mail: palazzo@terra.com.br<br />
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“Progresso” para quem? Para que? Com que parâmetros? Vale perguntar, se o discurso político-empresarial<br />
vigente bran<strong>de</strong> tal ban<strong>de</strong>ira sem fornecer qualquer indicativo <strong>de</strong> quem se beneficia com o <strong>de</strong>sperdício visível <strong>de</strong> água,<br />
energia, florestas, peixes, fundos públicos, para sustentar uma eco<strong>no</strong>mia cujos benefícios não parecem alcançar o conjunto<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para além dos ditos “programas sociais”, cujo resultado almejado e efetivo não se mostra ser a promoção <strong>de</strong><br />
oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ascensão sócio-econômico-cultural, mas sim o perpétuo cativeiro eleitoral na <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> benesses,<br />
que na<strong>da</strong> mais são do que uma breve migalha do que se subtrai ao patrimônio natural brasileiro para sustentar a ciran<strong>da</strong><br />
econômica vigente.<br />
Seria <strong>de</strong> se esperar que os muitos programas oficiais anunciados e até certo ponto financiados após a RIO-92<br />
tivessem resultado em planejamento e implementação <strong>de</strong> ações que estancassem esse processo histórico <strong>de</strong> (<strong>de</strong>)pre<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />
biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Na<strong>da</strong> mais falso. A produção <strong>de</strong> relatórios, realização <strong>de</strong> reuniões e edição <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s, indicando<br />
“priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s” para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira resultaram em mínima ação prática, em pouquíssimas áreas<br />
<strong>de</strong>creta<strong>da</strong>s como <strong>de</strong> proteção integral à biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, em programas <strong>de</strong> “uso sustentável” con<strong>de</strong>nados ao fracasso por<br />
falta <strong>de</strong> acompanhamento técnico e <strong>de</strong> punição <strong>da</strong>s transgressões. Enquanto a conservação segue na estante dos pla<strong>no</strong>s e <strong>no</strong><br />
âmbito <strong>da</strong>s conferências, workshops e seminários, a <strong>de</strong>vastação, essa segue célere e eficaz, irriga<strong>da</strong> com recursos públicos,<br />
seja na forma <strong>de</strong> transposição <strong>de</strong> rios já <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>dos e abusados pelos po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> sempre como o São Francisco, seja na construção<br />
leviana <strong>de</strong> complexos hidrelétricos <strong>de</strong> altíssimo impacto ambiental e baixíssimo retor<strong>no</strong> social, como Barra Gran<strong>de</strong> e<br />
Ma<strong>de</strong>ira. Tudo na escala <strong>de</strong> bilhões <strong>de</strong> reais e, como é amplamente sabido, terceirizado aos conglomerados <strong>de</strong> empreiteiras<br />
que retroalimentam o sistema político vigente com suas doações eleitorais. As medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mitigação e compensação <strong>de</strong>sses<br />
impactos releguem-se à mesma estante dos pla<strong>no</strong>s on<strong>de</strong> mofa o Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>, miserável<br />
e abandonado. Dizem os políticos governistas: se o órgão ambiental fe<strong>de</strong>ral ergue-se contra esse estado <strong>de</strong> coisas, exigindo<br />
que o estamento legal vigente seja cumprido, que se extinga esse órgão, substituindo-o por algo mais dócil, e se alterem as<br />
<strong>no</strong>rmas visando facilitar o que já é quase superior ao Estado brasileiro mesmo - o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir a Natureza sem contestação<br />
ou restrições.<br />
Está órfã, pois, a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira. Faliu-se, propositalmente, a estrutura estatal que a <strong>de</strong>veria resguar<strong>da</strong>r<br />
em <strong>no</strong>me e em benefício <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional e planetária. Qual o papel <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>de</strong>smobiliza<strong>da</strong>, fracamente<br />
educa<strong>da</strong>, eco<strong>no</strong>micamente fragiliza<strong>da</strong> e i<strong>de</strong>ologicamente patrulha<strong>da</strong> nesse contexto tão difícil?<br />
É esse o questionamento que permeia o dia-a-dia <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res brasileiros que trabalham efetivamente pela conservação<br />
<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Alguns, tendo vencido individualmente a primeira gran<strong>de</strong> luta contra a omissão e o<br />
imobilismo, vêm se organizando em coletivos atuantes, oferecendo seu próprio histórico <strong>de</strong> lutas e, vale <strong>no</strong>tar, contribuindo<br />
para resultados práticos em <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica brasileira e em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seu uso ambientalmente sustentável<br />
e socialmente justo pelos seus ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros do<strong>no</strong>s: as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que compõem a base <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional. Coletivos<br />
que estão se organizando sob a forma <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s, como a Rema <strong>Brasil</strong> 2 , oferecem a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para que ativistas<br />
reúnam suas vivências e especializações para, em conjunto, combater a visão <strong>de</strong>rrotista <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> biodiver-<br />
2 A Rema <strong>Brasil</strong> é constituí<strong>da</strong> por lí<strong>de</strong>res brasileiros que, <strong>de</strong> <strong>no</strong>rte a sul do país, contribuem para a conservação dos ecossistemas<br />
marinhos e costeiros, <strong>da</strong>s bacias hidrográficas e incentivam o <strong>de</strong>senvolvimento huma<strong>no</strong> sustentável. Surgiu como <strong>de</strong>sdobramento<br />
<strong>de</strong> uma iniciativa <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Avina, em 2003, <strong>de</strong> incentivar a formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação pela conservação marinho-costeira e<br />
hídrica <strong>no</strong> país.
si<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira é irreversível. Projetos e programas <strong>de</strong>senvolvidos por ca<strong>da</strong> um dos integrantes, por grupos e, em essência,<br />
as ações coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s pelo todo <strong>da</strong> re<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstram claramente que a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve se contrapor à cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
governamental com a <strong>de</strong>vastação através <strong>de</strong> ações concretas que aliem a conservação ao efetivo <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>monstrando,<br />
assim, que é possível prover a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> bens materiais e imateriais – cultura, educação, história,<br />
consciência, valores éticos – sem precisarmos <strong>de</strong>struir o planeta que <strong>no</strong>s nutre. Ao <strong>de</strong>monstrar que há vi<strong>da</strong>, progresso e<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia sem <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> Natureza, essas ações também <strong>de</strong>nunciam os ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros beneficiados com essa <strong>de</strong>struição, e<br />
cujo enriquecimento ilícito é o único e espúrio produto <strong>da</strong> má gestão ambiental.<br />
A Rema <strong>Brasil</strong> reúne características que a cre<strong>de</strong>nciam como motor <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça social positiva, também <strong>no</strong> que<br />
concerne à conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uma <strong>de</strong>las é a sua própria diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e complementari<strong>da</strong><strong>de</strong>, com uma varia<strong>da</strong><br />
gama <strong>de</strong> saberes, <strong>de</strong> procedências e <strong>de</strong> experiências. Essa diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> resulta numa robustez <strong>de</strong> visão e <strong>de</strong> ação, retrata<strong>da</strong> em<br />
ações concretas como as ações em <strong>de</strong>fesa do semi-árido brasileiro e do rio São Francisco e em múltiplas intervenções em temas<br />
tão especializados como a conservação dos cetáceos (baleias, botos e golfinhos), quando ações <strong>de</strong> integrantes <strong>da</strong> Rema<br />
<strong>Brasil</strong> serviram como berçário para uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> âmbito continental (RedCetáceos), foca<strong>da</strong> na conservação <strong>de</strong>sses animais<br />
muitas vezes ameaçados, sua inserção em áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s e seu uso não-letal para a promoção econômico-social<br />
em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s costeiras.<br />
As re<strong>de</strong>s têm o potencial para se erguer, portanto, pela conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> forma articula<strong>da</strong>,<br />
solidária e consciente. Principalmente, consciente <strong>de</strong> que <strong>no</strong>s momentos em que o Estado falha <strong>no</strong> cumprimento<br />
<strong>de</strong> suas obrigações, cabe à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia atuar – não substituindo o gover<strong>no</strong>, cujos integrantes <strong>de</strong>vem ser responsabilizados por<br />
ações e omissões <strong>da</strong><strong>no</strong>sas e obrigados, via pressões políticas e judiciais legítimas, a cumprir suas obrigações legais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />
<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>; mas sim organizando e implementando ações que assegurem o direito coletivo a coexistir, <strong>de</strong> forma<br />
perene e sustentável, com esse patrimônio inestimável que <strong>no</strong>s coube na formação <strong>da</strong> nação brasileira. Dentre essas ações,<br />
a execução <strong>de</strong> projetos e programas <strong>de</strong>monstrativos e multiplicadores <strong>de</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> como eixo central, <strong>de</strong> fato, mas<br />
também a <strong>de</strong>núncia vigorosa e a responsabilização firme, política, civil e criminal <strong>da</strong>queles que atentam contra a Natureza e<br />
a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ao privilegiar a <strong>de</strong>vastação.<br />
Coletivos atuantes são, <strong>de</strong> fato, poucos num mar <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios e <strong>de</strong> apatia social. Mas isso não se constitui em<br />
motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sânimo. Ao contrário, servem <strong>de</strong> estímulo na medi<strong>da</strong> em que se reconhece o volume e o alcance <strong>de</strong> realizações<br />
como os <strong>da</strong> Rema <strong>Brasil</strong>. O que se espera é que haja mais a<strong>de</strong>sões e mais multiplicadores rumo à construção afinal <strong>de</strong> uma<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional solidária e sustentável, em que a proteção <strong>de</strong> ambientes e espécies singulares, a colheita sustentável <strong>de</strong><br />
recursos naturais e seu compartilhamento eqüitativo, a valorização <strong>da</strong>s relações harmônicas entre gente e outros seres vivos<br />
sejam a tônica <strong>de</strong>sse <strong>no</strong>vo mundo possível em que todos nós acreditamos. Que ao participar ativamente <strong>da</strong>s articulações<br />
internacionais para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, em especial por meio <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> áreas naturais<br />
protegi<strong>da</strong>s representativos, eficientes e participativos, a Rema <strong>Brasil</strong> possa somar suas contribuições a <strong>de</strong> outros visionários<br />
práticos.<br />
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ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONSERVAÇÃO<br />
LIÇÕES A APRENDER<br />
Preocupações esporádicas com a <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> natureza <strong>de</strong>vido às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas existiram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Platão já se referia à antiga Grécia como o “esqueleto <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong>scarnado pela doença”. O Imperador Asoka,<br />
<strong>da</strong> Índia, <strong>no</strong> século III A.C. incentivava o plantio <strong>de</strong> árvores e mandou gravar em uma lápi<strong>de</strong> texto <strong>de</strong> lei citando que “as florestas<br />
não <strong>de</strong>vem ser queima<strong>da</strong>s, seja inutilmente, seja para <strong>de</strong>struir os seres vivos”. Recomen<strong>da</strong>ção plenamente váli<strong>da</strong> <strong>no</strong>s<br />
dias atuais, tantos séculos <strong>de</strong>pois! Não obstante, essas manifestações precoces em favor <strong>da</strong> natureza, <strong>de</strong>ntre outras também<br />
registra<strong>da</strong>s, ocorriam quando a população humana era rarefeita e as agressões puramente localiza<strong>da</strong>s e limita<strong>da</strong>s, em face<br />
<strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia disponível ain<strong>da</strong> rudimentar. Imensas áreas do planeta mantinham-se então praticamente intoca<strong>da</strong>s e assim<br />
permaneceram ain<strong>da</strong> por muitos séculos.<br />
No <strong>Brasil</strong>, são conheci<strong>da</strong>s diversas manifestações <strong>da</strong> Coroa Portuguesa em favor <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong>s florestas<br />
costeiras e dos manguezais, entre as quais a famosa Carta Régia <strong>de</strong> 1797, <strong>da</strong> qual se extrai o trecho “... sendo necessário<br />
tomar to<strong>da</strong>s as precauções para a conservação <strong>da</strong>s mattas do Estado do Brazil, e evitar que ellas se arruínem e <strong>de</strong>struam...”,<br />
<strong>de</strong>terminação que obviamente visava preservar interesses econômicos e garantir a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras valiosas,<br />
indispensáveis para a construção dos navios <strong>da</strong> época. Mais tar<strong>de</strong>, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>de</strong>stacam-se os cui<strong>da</strong>dos do <strong>no</strong>tável estadista<br />
José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e Silva com a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas florestas e com as práticas abusivas <strong>da</strong> caça às baleias. Posteriormente,<br />
ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> século XIX, <strong>no</strong> Ceará, o jornalista Thomaz Pompeu <strong>de</strong> Souza <strong>Brasil</strong>, em uma série <strong>de</strong> artigos, alertava para<br />
a <strong>de</strong>vastação naquele estado, então ain<strong>da</strong> possuidor <strong>de</strong> portentosas florestas. Essas citações comprovam que, embora poucas,<br />
algumas pessoas <strong>no</strong> país já se sensibilizavam com a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> natureza e previam suas maléficas conseqüências.
DA BIODIVERSIDADE NO BRASIL-<br />
Ibsen <strong>de</strong> Gusmão Câmara<br />
Lí<strong>de</strong>r <strong>da</strong> AVINA<br />
Nas primeiras déca<strong>da</strong>s do século XIX, começaram a surgir <strong>no</strong> mundo as primeiras iniciativas <strong>de</strong> vulto para<br />
preservar áreas naturais e sua flora e fauna. Em 1864, o gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> doou ao estado <strong>da</strong> Califórnia o vale do<br />
Yosemite, para “uso público, refúgio e recreação”, área que mais tar<strong>de</strong> se tor<strong>no</strong>u um dos mais espetaculares parques nacionais<br />
dos EUA. Em 1864, o Japão criou o Parque <strong>da</strong>s Três Vistas, embora sem <strong>de</strong><strong>no</strong>miná-lo parque nacional, o que somente se<br />
efetivou em 1931. A expressão “parque nacional” foi usa<strong>da</strong> pela primeira vez na Austrália, em 1879, com o estabelecimento<br />
do chamado The National Park, <strong>de</strong><strong>no</strong>minação mais tar<strong>de</strong> mu<strong>da</strong><strong>da</strong> para Royal National Park ; embora os EUA já houvessem<br />
tido antes a iniciativa <strong>de</strong> criar uma área natural protegi<strong>da</strong> em 1872, somente mais tar<strong>de</strong>, em 1883, ela foi batiza<strong>da</strong> como<br />
Yellowstone National Park. Na última déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>sse mesmo século, surgiu na África o Parque Nacional do Krüger, ao qual<br />
se seguiram vários outros <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s do século seguinte.<br />
Na América Latina, tiveram primazia o México, com o estabelecimento do Parque El Chico, em 1898, e a Argentina,<br />
em 1907, com a doação <strong>de</strong> terras para o Parque Nacional <strong>de</strong> Nahuel Huapi, só formalmente criado em 1934. No <strong>Brasil</strong>,<br />
o Engenheiro André Rebouças, certamente influenciado pela criação do parque <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, propôs em 1876 a criação<br />
<strong>de</strong> dois gran<strong>de</strong>s parques nacionais, um na ilha do Bananal, <strong>no</strong> rio Araguaia, e outro ao longo do rio Paraná, englobando as<br />
cataratas <strong>de</strong> Sete Que<strong>da</strong>s e do Iguaçu. Contudo, a primeira área natural protegi<strong>da</strong> cria<strong>da</strong> oficialmente <strong>de</strong> que se tem <strong>no</strong>tícia<br />
foi um peque<strong>no</strong> parque <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 170 hectares estabelecido em São Paulo, em 1898, hoje <strong>de</strong><strong>no</strong>minado Parque Estadual <strong>da</strong><br />
Capital. O primeiro parque nacional, o <strong>de</strong> Itatiaia, somente foi <strong>de</strong>cretado em 1937, e a ele logo se seguiram, em 1939, os do<br />
Iguaçu e <strong>da</strong> Serra dos Órgãos.<br />
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Ao longo <strong>da</strong> primeira meta<strong>de</strong> do século XX, diversas iniciativas relativas à <strong>Conservação</strong> foram sugeri<strong>da</strong>s ou<br />
adota<strong>da</strong>s em encontros internacionais. Medi<strong>da</strong>s foram propostas para proteção <strong>da</strong>s aves, dos animais selvagens africa<strong>no</strong>s, <strong>da</strong><br />
flora e <strong>da</strong> fauna em geral, e dos monumentos naturais. Em 1922, realizou-se o 1º Congresso Internacional para a Proteção <strong>da</strong><br />
Natureza, em Paris. Em 1930, instalou-se o Office Internationale pour la Protection <strong>de</strong> la Nature, em Bruxelas. A Segun<strong>da</strong><br />
Guerra Mundial interrompeu a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses esforços, mas, finalmente, em 1948 e sob os auspícios <strong>da</strong> UNESCO,<br />
criou-se em Fontainebleau com a participação <strong>de</strong> 33 países, <strong>de</strong>ntre eles o <strong>Brasil</strong>, a União Internacional para a Proteção <strong>da</strong><br />
Natureza, <strong>no</strong>me mais tar<strong>de</strong> trocado por União Internacional para a <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Natureza e Recursos Naturais (IUCN),<br />
hoje <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> União Mundial para a Natureza, com a mesma sigla. Ela representa muitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>s e centenas<br />
<strong>de</strong> organizações conservacionistas do mundo todo. A IUCN <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então vem sendo extremamente útil na padronização<br />
<strong>da</strong>s categorias <strong>de</strong> áreas naturais protegi<strong>da</strong>s, na elaboração <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s para proteção <strong>de</strong> espécies ameaça<strong>da</strong>s, na publicação<br />
<strong>da</strong>s listas mundiais <strong>de</strong>ssas espécies e em diferentes sugestões <strong>de</strong> procedimentos. A partir dos a<strong>no</strong>s 60 do século passado,<br />
incrementou-se a preocupação com a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> como um todo, passando-se a emprestar maior atenção<br />
à preservação dos ecossistemas e biomas na sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
No <strong>Brasil</strong>, o movimento em favor <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong><br />
gerou nas primeiras déca<strong>da</strong>s do século XX algumas<br />
iniciativas priva<strong>da</strong>s. A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Amigos <strong>da</strong>s Árvores<br />
patroci<strong>no</strong>u a 1ª. Conferência <strong>Brasil</strong>eira para a Proteção <strong>da</strong><br />
Natureza, em 1934. Em São Paulo, fundou-se em 1954, a<br />
Associação para a Defesa <strong>da</strong> Flora e <strong>da</strong> Fauna do Estado<br />
<strong>de</strong> São Paulo, ain<strong>da</strong> existente sob outra <strong>de</strong><strong>no</strong>minação.<br />
No Rio, em 1958, um grupo <strong>de</strong> visionários, preocupados<br />
com a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> natureza brasileira, criou a Fun<strong>da</strong>ção<br />
<strong>Brasil</strong>eira para a <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Natureza (FBCN), prestes<br />
a comemorar meio século <strong>de</strong> existência. Dentre muitas<br />
outras realizações, coube-lhe o mérito <strong>de</strong> organizar em<br />
1968 a primeira lista <strong>de</strong> espécies brasileiras ameaça<strong>da</strong>s,<br />
posteriormente oficializa<strong>da</strong> pelo gover<strong>no</strong> brasileiro. Mais<br />
tar<strong>de</strong>, várias outras organizações conservacionistas surgiram,<br />
<strong>de</strong>stacando-se <strong>de</strong>ntre elas a Fun<strong>da</strong>ção Pró-Natureza<br />
(FUNATURA), a Fun<strong>da</strong>ção Biodiversitas, a Fun<strong>da</strong>ção<br />
SOS Mata Atlântica e a Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção<br />
à Natureza (FBPN), às quais vieram juntar-se subsidiárias<br />
nacionais <strong>de</strong> fortes organizações estrangeiras, como o<br />
WWF-<strong>Brasil</strong> e a <strong>Conservação</strong> Internacional. Hoje, entre<br />
gran<strong>de</strong>s e pequenas, existem muitas centenas <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
conservacionistas <strong>no</strong> país.<br />
No que pesem o interesse existente em alguns<br />
setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e as iniciativas priva<strong>da</strong>s, nas primeiras<br />
déca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> República, entre 1889 e 1930, pouquíssimo<br />
se fez na esfera governamental em termos <strong>de</strong> conservação<br />
<strong>da</strong> natureza. O primeiro ato internacional relacionado com<br />
conservação do qual o país participou foi o Convênio <strong>da</strong>s<br />
Egretes, firmado em Paris em 1895, para a proteção <strong>da</strong>s<br />
garças, na época seriamente ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção, vítimas<br />
que eram <strong>de</strong> impiedosa caça pratica<strong>da</strong> principalmente<br />
<strong>no</strong> Pará. Em 1921, criou-se o Serviço Florestal, ao que se<br />
seguiram a promulgação do Código <strong>de</strong> Caça e Pesca e a<br />
do Código Florestal, ambas em 1934. Este último Código<br />
introduziu o i<strong>no</strong>vador conceito <strong>de</strong> limitação do direito <strong>de</strong><br />
proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, para “não causar <strong>da</strong><strong>no</strong> social”. Ain<strong>da</strong> sob a<br />
égi<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste Código, criaram-se 14 parques nacionais, sendo<br />
que oito somente em 1961, propiciados pelo interesse<br />
em <strong>Conservação</strong> <strong>de</strong>monstrado pelo então Presi<strong>de</strong>nte Jânio<br />
Quadros.<br />
13
14<br />
Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, quatro importantíssimos diplomas legais foram promulgados: o Novo Código Florestal (1965),<br />
a Lei <strong>de</strong> Proteção à Fauna (1967), a criação do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong> Desenvolvimento Florestal – IBDF (1967) e o <strong>de</strong>creto–<br />
lei <strong>de</strong> Proteção e Estímulos à Pesca (1967), com a posterior criação <strong>da</strong> Superintendência do Desenvolvimento <strong>da</strong> Pesca<br />
- SUDEPE. Essa legislação mais tar<strong>de</strong> sofreu modificações, mas conceitos relevantes foram por ela estabelecidos. Pela<br />
primeira vez, as florestas passaram a ser reconheci<strong>da</strong>s como bens <strong>de</strong> interesse comum, sobre elas “exercendo-se o direito<br />
<strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta lei estabelecerem”; a fauna silvestre, os<br />
abrigos e os criadouros naturais passaram a ser proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado; e foi proibi<strong>da</strong> a caça comercial, que anteriormente<br />
exercia pesado impacto sobre a fauna selvagem. O Novo Código Florestal estabeleceu também como responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
Po<strong>de</strong>r Público criar “Parques Nacionais, Estaduais, Municipais e Reservas Biológicas”, bem como “Florestas Nacionais,<br />
Estaduais e Municipais”.<br />
O IBDF, subordinado ao Ministério <strong>da</strong> Agricultura, foi durante 22 a<strong>no</strong>s o órgão fe<strong>de</strong>ral responsável pela conservação<br />
<strong>da</strong> natureza, exceto <strong>no</strong> que concerne à vi<strong>da</strong> aquática, cujo manejo coube à SUDEPE. Esta duali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atribuições<br />
criou áreas <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finição em relação a animais semi-aquáticos, como tartarugas marinhas, peixes-bois e jacarés, e a mamíferos<br />
aquáticos, como as baleias, cuja exploração comercial só foi proibi<strong>da</strong> em 1989.<br />
Em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> Conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s sobre o Ambiente Huma<strong>no</strong>, realiza<strong>da</strong> em Estocolmo em<br />
1972, criou-se em 1973 a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA. Devido ao especial interesse <strong>de</strong> seu primeiro<br />
Secretario, Paulo Nogueira Neto, pelas áreas naturais protegi<strong>da</strong>s, criou-se uma série <strong>de</strong> atos legislativos estabelecendo <strong>no</strong>vas<br />
categorias <strong>de</strong> áreas naturais protegi<strong>da</strong>s não previstas <strong>no</strong> Novo Código Florestal, tais como Estações Ecológicas, Áreas <strong>de</strong><br />
Proteção Ambiental, Áreas <strong>de</strong> Relevante Interesse Ecológico e Reservas Ecológicas. Caracterizaram-se assim dois sistemas<br />
paralelos <strong>de</strong> áreas naturais protegi<strong>da</strong>s, as <strong>da</strong> SEMA e as do IBDF, duali<strong>da</strong><strong>de</strong> que somente foi elimina<strong>da</strong> com a posterior<br />
criação do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA, em 1989, quando os dois órgãos foram<br />
a ele incorporados. Os problemas <strong>de</strong> conservação dos organismos aquáticos, porém, perduraram porque, embora a SUDEPE<br />
tenha sido também incorpora<strong>da</strong> ao IBAMA, a pesca continuou a ser controla<strong>da</strong> também por organismos e ministérios distintos.<br />
As administrações do IBDF e <strong>da</strong> SEMA, <strong>no</strong> período entre 1973 e 1989, foram extremamente produtivas quanto<br />
a criação <strong>de</strong> áreas naturais protegi<strong>da</strong>s, ou uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação (UCs), como eram mais conheci<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Foram<br />
estabeleci<strong>da</strong>s nesse espaço <strong>de</strong> tempo, ao todo, 18 Parques Nacionais, 27 Estações Ecológicas e 21 Reservas Biológicas,<br />
além <strong>de</strong> UCs <strong>de</strong> outras categorias me<strong>no</strong>s importantes para a <strong>Conservação</strong>, como as Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental e as Áreas<br />
<strong>de</strong> Relevante Interesse Ecológico. Merece <strong>de</strong>staque o fato <strong>de</strong> nesse período haverem surgido as primeiras UCs marinhas:<br />
a Reserva Biológica do Atol <strong>da</strong>s Rocas (1979) e os Parques Nacionais Marinhos <strong>de</strong> Abrolhos (1983) e <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong><br />
Noronha (1988). O e<strong>no</strong>rme volume <strong>de</strong> trabalho necessário à concretização <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas UCs mostrou-se em gran<strong>de</strong> parte<br />
facilitado pela cooperação <strong>da</strong> FBCN com a SEMA e o IBDF, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> essa Fun<strong>da</strong>ção, sendo uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> priva<strong>da</strong>,<br />
dispor <strong>de</strong> maior agili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ação para superar os entraves burocráticos envolvidos.
Os critérios adotados para a seleção e criação <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas áreas protegi<strong>da</strong>s eram diferentes na SEMA e <strong>no</strong> IBDF.<br />
Enquanto a primeira priorizava o aproveitamento <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s surgi<strong>da</strong>s, mediante um exame rápido e subjetivo <strong>da</strong>s<br />
áreas disponíveis, reduzindo assim as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação <strong>da</strong>s terras envolvi<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>mais trâmites burocráticos,<br />
o IBDF preferiu usar critérios <strong>de</strong> seleção mais científicos, especialmente na Amazônia; surgiram assim em 1879 e 1982,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> longos estudos, as Etapas I e II do Pla<strong>no</strong> do Sistema <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> do <strong>Brasil</strong>, somente em parte<br />
concretizado posteriormente.<br />
Ain<strong>da</strong> na vigência <strong>da</strong> SEMA e do IBDF, antes <strong>da</strong> incorporação<br />
<strong>de</strong> ambos ao IBAMA, foi contrata<strong>da</strong> uma organização não-governamental,<br />
a FUNATURA, para elaborar um anteprojeto <strong>de</strong> lei que<br />
consoli<strong>da</strong>sse e racionalizasse to<strong>da</strong> a legislação relativa às uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
conservação. Depois <strong>de</strong> longo tempo <strong>de</strong> estudo e <strong>de</strong> ampla consulta à<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, e já após a criação do IBAMA, o trabalho foi concluído e<br />
encaminhado ao Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA e,<br />
uma vez por ele <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente aprovado, foi apresentado ao Congresso<br />
para ser transformado em projeto <strong>de</strong> lei. Depois <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> tramitação<br />
conflituosa, durante os quais o projeto sofreu alterações e parcial <strong>de</strong>scaracterização,<br />
a lei foi aprova<strong>da</strong> em 2002, criando o Sistema Nacional<br />
<strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Natureza – SNUC. Talvez o maior <strong>de</strong>feito<br />
<strong>da</strong> <strong>no</strong>va lei tenha sido o estabelecimento <strong>de</strong> um número exagerado<br />
<strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> UCs previstas, 12 <strong>no</strong> total, algumas <strong>de</strong>las claramente<br />
redun<strong>da</strong>ntes e perfeitamente dispensáveis. Um importante conceito<br />
incorporado foi a divisão do conjunto <strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> UCs em dois<br />
grupos: as <strong>de</strong> Proteção Integral, precipuamente <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à proteção<br />
<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e as <strong>de</strong> Uso Sustentável, mais volta<strong>da</strong>s para os interesses<br />
<strong>de</strong> exploração econômica, supostamente sustentável, e seu uso<br />
por populações ditas tradicionais. Um dos aspectos favoráveis <strong>da</strong> <strong>no</strong>va<br />
lei foi o reconhecimento em uma lei <strong>da</strong> categoria Reserva Particular<br />
do Patrimônio Natural, já antes cria<strong>da</strong> pelo IBAMA mediante portaria,<br />
permitindo valiosa contribuição voluntária <strong>de</strong> proprietários privados<br />
para a conservação <strong>da</strong> natureza.<br />
Mesmo com os inegáveis avanços nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />
<strong>da</strong> natureza <strong>no</strong> país, muitos problemas graves persistem. A<br />
recente divisão do IBAMA e a criação do Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> (<strong>de</strong><strong>no</strong>minação ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, visto não<br />
ser justificável atribuir <strong>no</strong>mes <strong>de</strong> pessoas a órgãos públicos do setor<br />
executivo), sem um estudo mais aprofun<strong>da</strong>do <strong>da</strong> questão, é ain<strong>da</strong> uma<br />
incógnita quanto a seus futuros efeitos na <strong>Conservação</strong>. Resta melhor<br />
<strong>de</strong>finir quais as atribuições do Ministério do Meio Ambiente e as do<br />
<strong>no</strong>vo Instituto.<br />
Nos dois últimos períodos<br />
presi<strong>de</strong>nciais, o número e a extensão <strong>da</strong>s<br />
UCs <strong>de</strong>ram um e<strong>no</strong>rme salto, particularmente<br />
na Amazônia. Hoje o <strong>Brasil</strong> possui<br />
as maiores UCs <strong>de</strong> proteção integral<br />
em florestas tropicais existentes em todo<br />
o mundo e mesmo a <strong>de</strong>vasta<strong>da</strong> Mata<br />
Atlântica está tendo alguns <strong>de</strong> seus mais<br />
importantes fragmentos remanescentes finalmente<br />
protegidos. E, <strong>de</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
com o estipulado <strong>no</strong> Sistema, iniciativas<br />
altamente meritórias <strong>de</strong> alguns estados<br />
têm permitido o seu enriquecimento com<br />
um muito significativo número <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
estaduais, algumas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> extensão,<br />
<strong>de</strong>stacando-se especialmente nessas<br />
iniciativas os estados <strong>de</strong> São Paulo, Minas<br />
Gerais, Amazonas, Pará, Mato Grosso do<br />
Sul, Amapá e Tocantins.<br />
Justifica também menção a importante<br />
iniciativa <strong>de</strong> criação do programa<br />
Áreas Protegi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Amazônia – ARPA,<br />
para o estabelecimento e manutenção <strong>de</strong><br />
UCs na região, congregado esforços e<br />
vultosos recursos financeiros <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
estrangeiras, do WWF-<strong>Brasil</strong>, do Fundo<br />
<strong>Brasil</strong>eiro para a Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> – FUN-<br />
BIO e do Gover<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>eiro.<br />
15
16<br />
No que pese a gran<strong>de</strong> expansão do número e <strong>da</strong> área <strong>da</strong>s UCs <strong>no</strong>s diferentes ecossistemas já protegidos, ain<strong>da</strong> há<br />
<strong>de</strong>ficiências sérias <strong>de</strong> cobertura. Isto é especialmente ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro <strong>no</strong> que se refere ao bioma marinho, <strong>no</strong> qual existe e<strong>no</strong>rme<br />
<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> UCs; pouca atenção tem sido <strong>da</strong><strong>da</strong> a esse problema crucial. Torna-se urgentemente necessário repensar o<br />
SNUC quanto a este aspecto, sendo igualmente man<strong>da</strong>tório reexaminar to<strong>da</strong> a legislação <strong>de</strong> pesca, para que se possa <strong>de</strong> fato<br />
proteger os ecossistemas marinhos, viabilizando uma exploração racional e não pre<strong>da</strong>tória.<br />
Existe um inequívoco e sério conflito <strong>de</strong> idéias e <strong>de</strong> conceitos entre os conservacionistas clássicos, preocupados<br />
essencialmente com a preservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e os ditos sócio-ambientalistas, cujo interesse maior são as populações<br />
humanas, incluindo as chama<strong>da</strong>s populações tradicionais existentes <strong>no</strong> interior <strong>da</strong>s UCs. Ocorre também um crescente<br />
conflito conceitual entre os conservacionistas e os indigenistas, uma vez que em várias UCs ocorrem grupos <strong>de</strong> indígenas,<br />
já existentes à época <strong>de</strong> sua criação ou que as ocuparam posteriormente; a lei do SNUC previu que, nesses casos, <strong>de</strong>veriam<br />
ser propostas diretrizes “<strong>no</strong> prazo <strong>de</strong> cento e oitenta dias”, com vistas à regularização <strong>de</strong> eventuais superposições entre áreas<br />
indígenas e <strong>de</strong> conservação. Passados cinco a<strong>no</strong>s, os conflitos perduram e, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, continuam a se agravar, embora<br />
supostamente atenuados pelo <strong>no</strong>vo e esdrúxulo conceito <strong>de</strong> “dupla afetação”, segundo o qual a mesma área po<strong>de</strong>ria ser<br />
utiliza<strong>da</strong> para abrigar povos indígenas e aten<strong>de</strong>r à conservação, embora submeti<strong>da</strong> a administrações distintas e simultâneas,<br />
por órgãos com finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes, uma evi<strong>de</strong>nte e inevitável fonte <strong>de</strong> conflitos. O problema ain<strong>da</strong> mais se agrava com o<br />
reconhecimento <strong>de</strong> direitos semelhantes aos quilombolas.<br />
Persiste também o problema crônico <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> regularização fundiária <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong>clara<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação;<br />
sem regularizá-las, os direitos <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> coli<strong>de</strong>m com as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para<br />
acentuar a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> do problema, basta recor<strong>da</strong>r que o <strong>no</strong>sso primeiro parque nacional, o <strong>de</strong> Itatiaia, criado há 70 a<strong>no</strong>s,<br />
continua com questões fundiárias pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Muitos outros problemas perduram a<strong>no</strong> após a<strong>no</strong>. É agu<strong>da</strong> a falta <strong>de</strong> pessoal e <strong>de</strong> fiscalização nas UCs, e a caça<br />
ilegal ou exploração <strong>de</strong> recursos acontecem sem controle efetivo. Faltam em gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong>, em quase to<strong>da</strong>s as UCs, pesquisas<br />
científicas que permitam avaliar a dinâmica dos ecossistemas e o relacionamento entre as espécies, seu status e as<br />
ameaças a que estão sujeitas. Nos parques, falta estrutura para que os visitantes neles <strong>de</strong>sfrutem o contato com a natureza. E,<br />
com freqüência, em muitas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocorrem incêndios <strong>de</strong>vastadores e repetidos, sem que haja meios eficazes <strong>de</strong> combatêlos.<br />
E, para finalizar esta série <strong>de</strong> problemas, não se po<strong>de</strong>m esquecer as conseqüências ain<strong>da</strong> impon<strong>de</strong>ráveis <strong>da</strong>s<br />
mu<strong>da</strong>nças climáticas previstas, que po<strong>de</strong>rão provocar profun<strong>da</strong>s e dificilmente sanáveis alterações <strong>no</strong>s ecossistemas ilhados<br />
nas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação.<br />
Apesar <strong>de</strong> tantas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, algumas <strong>de</strong>las crônicas e inadmissíveis, é porém inegável que a <strong>Conservação</strong> <strong>no</strong><br />
<strong>Brasil</strong> tem alcançado vitórias muito expressivas. Se alcançarmos solucionar os problemas acima arrolados, e outros que<br />
po<strong>de</strong>riam ser também citados, <strong>no</strong>sso país será um dos mais <strong>de</strong>stacados do mundo em termos <strong>de</strong> proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Se alcançarmos solucionar os problemas mencionados acima e outros que po<strong>de</strong>riam ser também citados, <strong>no</strong>sso país será um<br />
dos mais <strong>de</strong>stacados do mundo em termos <strong>de</strong> proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.
18<br />
CONSERVAÇÃO MARINHA NO BRASIL:<br />
O Almirante Paulo <strong>de</strong> Castro Moreira <strong>da</strong> Silva, célebre incentivador <strong>da</strong> pesquisa do mar, dizia que não basta<br />
proclamar que as riquezas são <strong>no</strong>ssas; é preciso transformá-las em bens e <strong>de</strong>fendê-las <strong>da</strong> cobiça alheia.<br />
Centro <strong>de</strong> Comunicação Social <strong>da</strong> Marinha do <strong>Brasil</strong><br />
O <strong>Brasil</strong> é um país <strong>de</strong> superlativos também <strong>no</strong> que tange ao seu patrimônio marinho. Com<br />
mais <strong>de</strong> 8.000 km <strong>de</strong> costa, e aproxima<strong>da</strong>mente 3,6 milhões <strong>de</strong> quilômetros quadrados <strong>de</strong> águas jurisdicionais<br />
correspon<strong>de</strong>ntes, trata-se <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s nações com maior projeção legal e gerencial sobre<br />
espaços marinhos do planeta.<br />
Constata-se, entretanto, que o <strong>Brasil</strong> não tem correspondido à altura <strong>de</strong> sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
na gestão ambiental <strong>de</strong>sse imenso território, muito apropria<strong>da</strong>mente apeli<strong>da</strong>do <strong>de</strong> a “Amazônia Azul”,<br />
eis que, como a Amazônia ver<strong>de</strong>, está sendo crimi<strong>no</strong>samente <strong>de</strong>pre<strong>da</strong>do e abandonado pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
ditas responsáveis.<br />
Esse processo <strong>de</strong> abando<strong>no</strong> é, <strong>de</strong> fato, histórico e impossível <strong>de</strong> creditar a esse ou aquele<br />
gover<strong>no</strong> em particular. Não obstante, a i<strong>de</strong>ologização <strong>da</strong> gestão ambiental nacional em bases profun<strong>da</strong>mente<br />
equivoca<strong>da</strong>s, eiva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> preconceitos políticos e falsa “estética social” ao invés <strong>de</strong> boa técnica<br />
e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> administração, está agravando profun<strong>da</strong>mente esse problema na atual gestão. Este e outros<br />
equívocos precisam ser urgentemente discutidos e revertidos para que o mar brasileiro tenha futuro<br />
como fonte <strong>de</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>no</strong>s cabe conservar e usufruir <strong>de</strong> maneira racional.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES<br />
José Tru<strong>da</strong> Palazzo Jr. 1<br />
Um “Sistema” <strong>de</strong> Áreas Protegi<strong>da</strong>s que a Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
Construiu<br />
O arcabouço legal e administrativo que trata <strong>de</strong> meio ambiente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> reconhece a existência <strong>de</strong> um Sistema Nacional<br />
<strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>. Supostamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 este “sistema” estaria sendo construído com base num planejamento<br />
lógico, que privilegiasse áreas mais significativas e representativas <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional. Esse conceito – o <strong>de</strong> um pla<strong>no</strong><br />
governamental que dê an<strong>da</strong>mento à criação <strong>de</strong> um sistema nacional <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s é, em uma palavra, falso. Ain<strong>da</strong> que uma<br />
miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos tenha apontado e reiterado quais áreas merecem efetiva proteção do Estado como repositórios <strong>de</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
raríssimas são aquelas cuja <strong>de</strong>cretação foi, <strong>de</strong> fato, uma ação do Estado brasileiro <strong>de</strong> forma organiza<strong>da</strong>. Na imensa maioria <strong>da</strong>s vezes,<br />
em particular nas áreas marinhas e costeiras, a proposição, criação e implantação <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s se <strong>de</strong>u ou pelo esforço <strong>de</strong> indivíduos<br />
abnegados atuando - quase que subversivamente - <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> estrutura governamental, ou pela mobilização <strong>de</strong> instituições e<br />
setores organizados <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil. Sempre, essas forças in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes tiveram <strong>de</strong> atuar contra um Estado cuja priori<strong>da</strong><strong>de</strong> nunca<br />
foi a construção <strong>de</strong> um sistema representativo <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s.<br />
Assim, é essencial para o entendimento <strong>da</strong>s áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> reconhecer que a maioria <strong>da</strong>s que existem<br />
são fruto <strong>de</strong> ativismo, seja funcional, individual ou social, mas sempre ante um Estado reacionário e não o produto <strong>de</strong> um planejamento<br />
estratégico oficial. O Estado brasileiro e as forças políticas e econômicas que sustentam os oligarcas que o dominam, são por <strong>de</strong>finição<br />
inimigos <strong>da</strong> conservação territorial <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
1 Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Coalizão Internacional <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre – IWC/BRASIL. E-mail: palazzo@terra.com.br<br />
19
20<br />
Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> como a Reserva Biológica <strong>de</strong> Atol <strong>da</strong>s Rocas, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e a<br />
Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios po<strong>de</strong>m contar-se <strong>de</strong>ntre as cria<strong>da</strong>s por movimento endóge<strong>no</strong> <strong>no</strong>s órgãos ambientais fe<strong>de</strong>rais. Entretanto,<br />
outras como o Parque Nacional Marinho <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha, a Reserva Biológica do Arvoredo, as Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental<br />
do Anhatomirim e <strong>da</strong> Baleia Franca, e as Reservas Extrativistas <strong>de</strong> Corumbau e do Pirajubaé são produto direto <strong>da</strong> mobilização <strong>de</strong> atores<br />
sociais exter<strong>no</strong>s ao aparato governamental.<br />
Não havendo um efetivo compromisso do Estado brasileiro com a criação <strong>de</strong> um sistema coerente <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s, não<br />
é também <strong>de</strong> espantar que essa irresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> se esten<strong>da</strong> a sua implantação; é assim que a imensa maioria <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong><br />
fe<strong>de</strong>rais brasileiras, e em particular as <strong>de</strong> proteção integral, encontram-se hoje em estado <strong>de</strong> absoluta miséria e abando<strong>no</strong>, sem<br />
condições mínimas <strong>de</strong> assegurar sua proteção, quanto mais <strong>de</strong> colocá-las, efetivamente a serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> através <strong>de</strong> programas<br />
organizados <strong>de</strong> pesquisa, interpretação e acesso ao uso. Vem cabendo, uma vez mais à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil organiza<strong>da</strong>, obrigar por ações<br />
políticas e judiciais o Estado a cumprir seu papel, <strong>de</strong> forma a evitar a per<strong>da</strong> total <strong>de</strong> um “sistema” que é mais produto do ativismo social<br />
que <strong>de</strong> um planejamento governamental que mereça tal <strong>no</strong>me.<br />
Pesca, Crime ou Colheita?<br />
As áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s que o <strong>Brasil</strong> po<strong>de</strong>ria ter e não tem fazem falta diretamente a um outro segmento <strong>da</strong> intervenção<br />
nacional <strong>no</strong> mar: a pesca. Por um lado temos a pesca artesanal <strong>de</strong>sarticula<strong>da</strong> e <strong>de</strong>svaloriza<strong>da</strong> pelo Estado. O pouco <strong>de</strong> organização dos<br />
pescadores que o Estado subsidia através <strong>da</strong>s “Colônias” <strong>de</strong> pesca acabou por favorecer feudos eleitorais dos políticos <strong>de</strong> diversos matizes,<br />
conforme a região e a venali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s “li<strong>de</strong>ranças” <strong>de</strong>sses escritórios que <strong>de</strong>veriam <strong>da</strong>r apoio organizacional ao pescador artesanal.<br />
Felizmente, uma série <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> auto-organização <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais <strong>de</strong> pesca vem florescendo ao longo <strong>da</strong> costa,<br />
muitas <strong>de</strong>las resultando na proposição, adoção e gestão participativa <strong>de</strong> Reservas Extrativistas que, se não estão ain<strong>da</strong> em estado i<strong>de</strong>al<br />
<strong>no</strong> que tange à sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do uso dos recursos marinhos, ao me<strong>no</strong>s indicam o caminho para tanto e põem tais recursos a salvo <strong>da</strong><br />
pre<strong>da</strong>ção crimi<strong>no</strong>sa <strong>da</strong> pesca industrial.<br />
Esta, a pesca que <strong>de</strong>veria ser exclusivamente <strong>de</strong> mar aberto, mas que não per<strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> roubar aos artesanais o seu<br />
sustento, com incursões ilegais porém diuturnas às águas costeiras, é <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> objeto <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s mais indignas formas <strong>de</strong> apropriação e<br />
extorsão <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>: o “arren<strong>da</strong>mento” <strong>de</strong> embarcações pesqueiras estrangeiras, pelo qual se sanciona oficialmente a invasão <strong>de</strong><br />
interesses pesqueiros alienígenas <strong>no</strong> mar brasileiro. Tais “arren<strong>da</strong>mentos”, que contam com testas-<strong>de</strong>-ferro leais nas empresas <strong>de</strong> pesca<br />
sedia<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, são autorizados a pre<strong>da</strong>r sobre recursos pesqueiros cuja efetiva capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte sequer chegamos a avaliar corretamente.<br />
O recente programa REVIZEE, que principiou essa avaliação dos recursos vivos marinhos brasileiros, foi seguido <strong>de</strong> perto<br />
pelos empresários <strong>da</strong> pesca, que passaram a pre<strong>da</strong>r violentamente sobre ca<strong>da</strong> estoque <strong>de</strong> potencial media<strong>no</strong> <strong>de</strong> qualquer recurso estu<strong>da</strong>do.<br />
O resultado é público e <strong>no</strong>tório: a aca<strong>de</strong>mia, feita cúmplice involuntária do estupro <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso mar, indicou aos empresários o caminho <strong>da</strong><br />
pre<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> recurso pesqueiro que ain<strong>da</strong> tinha potencial econômico. Um após o outro esses recursos estão sendo literalmente minerados<br />
e levados à bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> extinção comercial, mas não sem antes enriquecer mais os já ricos armadores domésticos e internacionais.<br />
Durante <strong>de</strong>masiado tempo, mesmo as poucas restrições impostas formalmente à pesca industrial foram vastamente ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s,<br />
simplesmente porque, sem patrulha costeira, sem recursos <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental para fiscalização offshore, nem uma Marinha <strong>de</strong><br />
Guerra <strong>de</strong>centemente equipa<strong>da</strong>, o Estado brasileiro esteve ausente <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas águas jurisdicionais. Assim, as frotas pesqueiras industriais<br />
faziam o que bem queriam não apenas pescando irrestritamente, mas também matando, <strong>no</strong> <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, um sem-número<br />
<strong>de</strong> cetáceos, aves e quelônios, animais <strong>de</strong> captura proibi<strong>da</strong>, mas rotineiramente capturados por “aci<strong>de</strong>nte”. Essa situação passou a mu<strong>da</strong>r<br />
parcialmente, graças ao empenho <strong>de</strong> uma parte <strong>da</strong> burocracia estatal ambiental em implementar, inspirado e em gran<strong>de</strong> parte apoiado por<br />
programas <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> espécies (vi<strong>de</strong> abaixo) e pela boa experiência <strong>de</strong> outros países, um programa <strong>de</strong> observadores <strong>de</strong> bordo,<br />
programa esse que passou a registrar as ações <strong>da</strong>s frotas industriais <strong>de</strong> pesca e servir como força motriz para implementar medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
redução <strong>da</strong>s capturas inci<strong>de</strong>ntais e <strong>de</strong> cumprimento <strong>da</strong>s restrições <strong>de</strong> pesca aplicáveis. Po<strong>de</strong>-se afirmar sem erro que o programa <strong>de</strong> observadores<br />
<strong>de</strong> bordo, com seus subprodutos benéficos, é o mais importante passo <strong>da</strong>do <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
marinha em alto-mar, e para restabelecer a soberania do Estado brasileiro numa vasta região jurisdicional que até recentemente era terra<br />
– ou mar, melhor dito – <strong>de</strong> ninguém.
A I<strong>de</strong>ologização do Sistema <strong>de</strong> Áreas Protegi<strong>da</strong>s: uma<br />
Demagogia Irresponsável<br />
Como foi dito <strong>de</strong> início, não se po<strong>de</strong> atribuir a algum gover<strong>no</strong> nacional em particular a situação <strong>de</strong> histórico <strong>de</strong>scalabro que<br />
aflige a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e, em especial, a falência do sistema nacional <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s. Não obstante, a atual<br />
gestão fe<strong>de</strong>ral, que já se prolonga por dois man<strong>da</strong>tos, vem prestando uma lamentável contribuição à <strong>de</strong>terioração do sistema ao ter se<br />
recusado terminantemente a criar quaisquer <strong>no</strong>vas áreas protegi<strong>da</strong>s marinhas <strong>de</strong> proteção integral, ou seja, parques nacionais e reservas<br />
<strong>de</strong> proteção equivalente ou mais estrita.<br />
Não há qualquer sombra <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong> que as áreas marinhas <strong>de</strong> proteção integral, ou <strong>de</strong> uso indireto através <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
recreativas e educativas, são indispensáveis à boa gestão dos recursos marinhos. Exemplos claros <strong>de</strong>ssa premissa se acumulam, vindos<br />
<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as partes do mundo on<strong>de</strong> os Estados estão implementando tais reservas estritas como forma <strong>de</strong> promover a recuperação e o<br />
repovoamento <strong>de</strong> estoques pesqueiros. Sem a preservação <strong>de</strong> ambientes e sistemas-chave do complexo ecossistêmico marinho, em<br />
particular <strong>da</strong>queles ambientes mais produtivos e frágeis como os sistemas corali<strong>no</strong>s, os montes submari<strong>no</strong>s, os sistemas insulares e<br />
complexos estuari<strong>no</strong>s, não é possível sustentar a produção pesqueira <strong>de</strong> regiões inteiras. Logo, a proteção integral <strong>de</strong>sses ambientes é<br />
essencial para assegurar que, nas suas adjacências, a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira possa <strong>da</strong>r-se <strong>de</strong> forma sustentável.<br />
A<strong>de</strong>mais, o ecoturismo vinculado a áreas <strong>de</strong> proteção estrita vem aportando, também comprova<strong>da</strong>mente, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
costeiras do seu entor<strong>no</strong> recursos econômicos diretos <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dólares, em volume crescente, naqueles países que estão<br />
tendo a visão suficiente para implementar tais áreas com pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> uso público a<strong>de</strong>quados e monitorados pela autori<strong>da</strong><strong>de</strong> estatal <strong>de</strong><br />
forma a assegurar a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses usos que, por serem indiretos, não são me<strong>no</strong>s socialmente relevantes.<br />
A ascensão <strong>de</strong> um gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral auto<strong>de</strong><strong>no</strong>minado <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> levou, entretanto, à firme e <strong>de</strong>finitiva, ain<strong>da</strong> que irracional<br />
e espúria, <strong>de</strong>terminação do centro político <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>, com a complacência cala<strong>da</strong> do Ministério do Meio Ambiente, em não promover<br />
a criação <strong>de</strong> mais nenhuma área protegi<strong>da</strong> marinha <strong>de</strong> proteção integral. O MMA, aparelhado em diversos <strong>de</strong>graus pelo ferramental<br />
partidário, optou por i<strong>de</strong>ologizar o sistema <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong>ndo exclusiva atenção à criação <strong>de</strong> Reservas Extrativistas<br />
e similares, em que supostamente as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais – conceito que nem sempre correspon<strong>de</strong> a uso racional e sustentável –<br />
seriam as “melhores gestoras” dos recursos. Note-se que, para essa guina<strong>da</strong> i<strong>de</strong>ológica o MMA conta com a cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> explícita <strong>de</strong><br />
diversas mega-ONGs internacionais, que preferem a<strong>de</strong>rir cala<strong>da</strong>s à visão i<strong>de</strong>ológica e “estética” do “manejo tradicional”, na contramão<br />
mesmo do que estimulam e reivindicam em seus próprios países <strong>de</strong> origem. Não se questiona a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criação e efetiva implementação<br />
<strong>da</strong>s Reservas Extrativistas Marinhas e similares on<strong>de</strong> as mesmas sejam viáveis e tecnicamente <strong>de</strong>fensáveis como forma <strong>de</strong><br />
assegurar a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca tradicional. Também não se duvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que, se reconhecerem a finitu<strong>de</strong> dos recursos<br />
e impedirem os abusos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s imediatistas, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais (ou não) possam se auto-organizar<br />
<strong>de</strong> maneira a gerir recursos pesqueiros <strong>de</strong> forma sustentável. Acontece que na<strong>da</strong> disso é <strong>de</strong>sculpa para evitar a criação <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Conservação</strong> <strong>de</strong> proteção integral naqueles ambientes e situações em que, tecnicamente, seja evi<strong>de</strong>nte que se trata <strong>da</strong> melhor solução.<br />
Também a “gestão comunitária” dos recursos não po<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira nenhuma excluir a criação, manutenção e fiscalização <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />
exclusão <strong>de</strong> pre<strong>da</strong>ção dos recursos. É irresponsável ao extremo que o MMA esteja, ain<strong>da</strong> que dissimula<strong>da</strong>mente, adotando a visão<br />
<strong>de</strong> alguns pseudo-estudiosos <strong>da</strong> área social que preconizam a oposição entre parques nacionais e similares e o conceito <strong>da</strong>s reservas<br />
extrativas. Trata-se na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ferramentas complementares, e negar à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira o direito a parques nacionais marinhos e<br />
reservas <strong>de</strong> uso restrito é um equívoco sem justificativa, <strong>de</strong> conseqüências muito graves para o futuro <strong>da</strong> gestão ambiental <strong>no</strong> país<br />
A opção i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> gestão é particularmente lastimável à medi<strong>da</strong> em que se constata que (a) boa parte dos gestores fe<strong>de</strong>rais<br />
<strong>de</strong> meio ambiente é tecnicamente qualifica<strong>da</strong> para fazer melhor do que isso, e (b) ao me<strong>no</strong>s parte <strong>de</strong>ssa opção i<strong>de</strong>ológica dos<br />
chefes políticos do MMA, ain<strong>da</strong> que <strong>de</strong>sinforma<strong>da</strong> tecnicamente, é feita <strong>de</strong> boa-fé, apoia<strong>da</strong> em avaliações superficiais que lhes são<br />
ofereci<strong>da</strong>s tanto <strong>da</strong>s teses sociais como <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambientais. Não se <strong>de</strong>ram conta, to<strong>da</strong>via, que apoiar oficialmente o discurso<br />
<strong>de</strong>magógico <strong>de</strong> que todos po<strong>de</strong>m pre<strong>da</strong>r sobre tudo em todos os lugares é um crime <strong>de</strong> lesa-pátria, que <strong>de</strong>ve ser abertamente combatido<br />
por todos os que acreditam que uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> sustentável é possível. Não há qualquer justificativa plausível para a recusa terminativa<br />
do atual gover<strong>no</strong> brasileiro em consi<strong>de</strong>rar a criação <strong>de</strong> mais áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> proteção integral, senão a i<strong>de</strong>ologia equivoca<strong>da</strong><br />
dos dirigentes temporalmente responsáveis pela gestão ambiental <strong>no</strong> país.<br />
21
22<br />
Programas para Espécies Ameaça<strong>da</strong>s: Sucesso <strong>da</strong>s Parcerias<br />
Gover<strong>no</strong>-Socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
O quadro <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é, evi<strong>de</strong>ntemente, sombrio. Entretanto, algumas luzes se lançam<br />
por entre as frestas <strong>da</strong> burocracia imobilista, <strong>no</strong>vamente em função <strong>da</strong> atuação <strong>de</strong> alguns indivíduos <strong>de</strong>dicados e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil organiza<strong>da</strong>.<br />
É assim que projetos específicos <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> fauna marinha vêm contribuindo <strong>de</strong> forma crescente para que haja esperança<br />
na conservação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica brasileira.<br />
Por justiça, diga-se que a gênese <strong>de</strong>ssas parcerias <strong>de</strong>u-se <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> burocracia estatal <strong>de</strong> meio ambiente, com a criação do<br />
Projeto TAMAR em 1980, a partir – claro – <strong>de</strong> esforços <strong>de</strong> indivíduos compromissados com a conservação marinha. Depois <strong>de</strong>le, projetos<br />
tendo por foco <strong>de</strong> trabalho outras espécies ameaça<strong>da</strong>s, como a baleia jubarte e o peixe-boi marinho. Todos esses projetos ganhariam um<br />
salto <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, entretanto, com a criação <strong>de</strong> organizações não-governamentais que passaram a apoiá-los ou, em casos como o Instituto<br />
Baleia Jubarte, assumir integralmente a gestão dos programas <strong>de</strong> conservação.<br />
Essas parcerias incorporaram outras espécies-ban<strong>de</strong>ira ao longo do tempo e à medi<strong>da</strong> em que a estatal brasileira <strong>de</strong> petróleo, a<br />
Petrobras, firmou-se como a principal apoiadora financeira <strong>de</strong>sses projetos. Mais espécies (baleia franca, mero) ou grupos inteiros <strong>de</strong> fauna<br />
marinha relevante (albatrozes e petréis) passaram a ter programas nacionais efetivos <strong>de</strong> conservação. Em paralelo ao aporte material <strong>da</strong><br />
Petrobras, criaram-se parcerias <strong>de</strong> trabalho entre esses programas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e setores mais esclarecidos <strong>da</strong> burocracia governamental,<br />
<strong>da</strong>ndo origem à adoção <strong>de</strong> políticas públicas eficazes para assegurar a conservação <strong>de</strong>ssas espécies ameaça<strong>da</strong>s e seus ambientes-chave.<br />
De <strong>no</strong>vas áreas protegi<strong>da</strong>s à atuação efetiva em tratados internacionais, os projetos brasileiros <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> fauna marinha e suas<br />
parcerias <strong>de</strong> trabalho com as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> fauna têm se <strong>de</strong>stacado como <strong>no</strong>ta positiva.<br />
Um Futuro Sustentável para o Mar do <strong>Brasil</strong>?<br />
O que dizer do futuro diante <strong>de</strong> um quadro tão grave como o apresentado para a conservação marinha <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>? Que rumos<br />
<strong>de</strong>vem ser tomados imediatamente para evitar uma <strong>de</strong>terioração institucional ain<strong>da</strong> mais dificil <strong>de</strong> reverter?<br />
Elencamos, para análise e discussão dos leitores, alguns rumos que em <strong>no</strong>sso enten<strong>de</strong>r são necessários para que possamos<br />
salvar o que resta do inestimável patrimônio natural marinho brasileiro.<br />
Des-i<strong>de</strong>ologizar o planejamento e gestão do Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e retomar a criação e implantação<br />
<strong>de</strong> áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> proteção integral. A retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> razão pelos gestores fe<strong>de</strong>rais, ou seja, <strong>de</strong> implementar<br />
as priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> bioversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha segundo seus próprios pla<strong>no</strong>s (vi<strong>de</strong>, p. ex., http://www.mma.gov.br/in<strong>de</strong>x.<br />
php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=72&idMenu=3812&idConteudo=5282 ), é imperativo para que se obrigue o “núcleo duro” <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r do atual gover<strong>no</strong> (leia-se a Primeira-Ministra plenipotenciária na Casa Civil) a efetivar os processos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> mais Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Conservação</strong> Marinhas <strong>de</strong> proteção integral.<br />
Desafiar o imobilismo do po<strong>de</strong>r público usando recursos jurídicos. É inadmissível que o Estado brasileiro continue se<br />
omitindo na manutenção e ampliação do Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>, que é sua obrigação constitucional. Os atores<br />
sociais engajados <strong>no</strong> tema precisam mobilizar-se para lançar mão <strong>da</strong> via judicial como forma <strong>de</strong> obrigar a burocracia fe<strong>de</strong>ral a <strong>de</strong>stinar<br />
mais recursos materiais à conservação <strong>da</strong> Natureza e não apenas aos empreiteiros <strong>de</strong> eleição do “núcleo duro” do gover<strong>no</strong>, através <strong>da</strong>s<br />
faraônicas obras que têm constituído a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> política e administrativa fe<strong>de</strong>ral. Há em <strong>no</strong>sso enten<strong>de</strong>r suficiente base legal e alguma<br />
jurisprudência favorável a que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil obrigue o po<strong>de</strong>r público, não apenas fe<strong>de</strong>ral, mas nas suas diversas e igualmente omissas<br />
instâncias <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais níveis, a cumprir suas obrigações para com as áreas protegi<strong>da</strong>s.<br />
Fortalecer os processos <strong>de</strong> parceria com atores sociais na gestão <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>. Espelhado <strong>no</strong>s resultados<br />
positivos <strong>de</strong> diversas parcerias já existentes, como <strong>no</strong> caso dos projetos <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> fauna marinha, o Estado po<strong>de</strong>ria ampliar a sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gestão através do empo<strong>de</strong>ramento <strong>de</strong> diversos níveis <strong>de</strong> participação social na gestão <strong>da</strong>s áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s. Tomemos<br />
dois exemplos <strong>de</strong> distintos níveis <strong>de</strong> cooperação. Na Reserva Biológica do Atol <strong>da</strong>s Rocas, uma iniciativa inédita <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, mas muito
comum em outros países me<strong>no</strong>s atrasados <strong>no</strong> tema, está permitindo que se constitua um fundo <strong>de</strong> administração (espécie <strong>de</strong> trust fund)<br />
bancado por – raros ain<strong>da</strong> – empresários engajados, que permitirá salvar esta inestimável área protegi<strong>da</strong> <strong>da</strong> miserabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que afeta quase<br />
todo o resto do sistema <strong>de</strong> UCs brasileiras. É iniciativa a ser profusamente elogia<strong>da</strong> e replica<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as UCs em que isso for possível.<br />
Por outro lado, a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>da</strong> Baleia Franca está sendo consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> graças à existência <strong>de</strong> um Conselho Gestor em<br />
que boa parte <strong>da</strong>s instituições constituintes busca formar efetivas vias <strong>de</strong> colaboração com sua chefia – já seja apoiando a organização<br />
dos pescadores e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais em busca <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou acionando judicialmente o órgão fe<strong>de</strong>ral gestor para<br />
obrigar à realização <strong>de</strong> seu Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Manejo. Tomando diversas formas, a experiência brasileira mostra que o envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
civil po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser força motriz <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s, e só não evolui mais rapi<strong>da</strong>mente porque o Estado<br />
<strong>de</strong>ixa, sistematicamente, <strong>de</strong> cumprir sua parte, ou tenta con<strong>de</strong>nar essa participação a intermináveis seminários, conferências e workshops<br />
ao invés <strong>de</strong> privilegiar as ações práticas necessárias a fazer conservação.<br />
Engajar e valorizar setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> marginalizados pela i<strong>de</strong>ologização excessiva dos processos <strong>de</strong> discussão e<br />
implantação <strong>de</strong> áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s. Ain<strong>da</strong> que marginalmente o Estado permita a setores específicos <strong>de</strong> usuários dos recursos<br />
marinhos opinar e participar dos processos <strong>de</strong> gestão – caso dos pescadores artesanais em Reservas Extrativistas, por exemplo - o mesmo<br />
Estado é draconia<strong>no</strong> ao impedir que segmentos que <strong>de</strong>sfrutam dos recursos marinhos <strong>de</strong> maneira essencialmente não-pre<strong>da</strong>tória (por<br />
exemplo, os mergulhadores recreativos, dos quais se estima haver mais <strong>de</strong> 150.000 cre<strong>de</strong>nciados <strong>no</strong> país) recebam a mesma consi<strong>de</strong>ração<br />
quando se <strong>de</strong>termina a proteção <strong>de</strong> áreas marinhas. Esses usos essencialmente não-pre<strong>da</strong>tórios, que abrangem inter alia mergulho contemplativo,<br />
observação <strong>de</strong> fauna, vela e náutica or<strong>de</strong>nados, são irracionalmente consi<strong>de</strong>rados “elitistas”, uma visão míope que recusa-se a<br />
ver os benefícios econômicos, amplamente provados, <strong>da</strong> promoção or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> on<strong>de</strong> são<br />
pratica<strong>da</strong>s. A<strong>de</strong>mais, se essas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s não são mais dissemina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, é justamente porque não há espaços <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> sua<br />
prática or<strong>de</strong>na<strong>da</strong> para segmentos mais amplos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veria ser parte <strong>da</strong> missão <strong>de</strong> áreas naturais protegi<strong>da</strong>s em<br />
que o acesso <strong>de</strong>mocratizado ao <strong>de</strong>sfrute do lazer educativo <strong>no</strong> mar fosse promovido ativamente. Não é outra, senão a antipatia oficial pelo<br />
tema, a razão pela qual o Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Uso Público do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos encontra-se literalmente encalhado em Brasília<br />
há tempos; a burocracia fe<strong>de</strong>ral vigente não consi<strong>de</strong>ra priori<strong>da</strong><strong>de</strong> a gestão dos usos não-pre<strong>da</strong>tórios e sua promoção. Integrar a gestão e<br />
promoção <strong>de</strong>sses usos ao planejamento e criação <strong>de</strong> áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s é absolutamente vital para <strong>da</strong>r equi<strong>da</strong><strong>de</strong> e racionali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
ao Sistema e, mais ain<strong>da</strong>, fazer com ele receba recursos diretamente advindos do or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong>ssas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Universalizar o Programa <strong>de</strong> Observadores <strong>de</strong> Bordo nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pesqueiras e acelerar a adoção obrigatória <strong>de</strong><br />
medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> capturas inci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> fauna marinha. O Estado <strong>de</strong>ve acelerar a adoção compulsória do programa <strong>de</strong> observadores<br />
<strong>de</strong> bordo e, à medi<strong>da</strong> em que os conhecimentos técnico-científicos assim o recomen<strong>da</strong>rem, <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> redução e mitigação<br />
<strong>de</strong> capturas inci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> fauna em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca industrial exerci<strong>da</strong>s em águas jurisdicionais brasileiras. Isso <strong>de</strong>ver vir,<br />
evi<strong>de</strong>ntemente, acompanhado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> capacitação dos observadores e, principalmente, <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> garantias coercitivas que<br />
assegurem a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física e tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional dos mesmos contra a intimi<strong>da</strong>ção que, sabe-se, é constante on<strong>de</strong> quer que esse<br />
programa tenha sido implementado.<br />
Capacitar as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambientais e reaparelhar a Marinha do <strong>Brasil</strong> para a fiscalização <strong>da</strong>s extensões jurisdicionais<br />
marinhas brasileiras. Para que quaisquer programas <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha brasileira tenham êxito, o Estado<br />
precisa retomar sua presença soberana <strong>no</strong> espaço marítimo. Essa presença foi abandona<strong>da</strong> quase que completamente, não apenas pelas<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambientais mas também pelo Ministério <strong>da</strong> Defesa, ao permitir o continuado sucateamento <strong>da</strong> Marinha. É preciso pactuar um<br />
programa integrado que permita fazer com que a Marinha do <strong>Brasil</strong> volte a projetar <strong>no</strong>ssa soberania nas águas jurisdicionais, patrulhando<br />
efetivamente os espaços protegidos em estreita parceria com as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambientais fe<strong>de</strong>rais e mesmo outros atores sociais engajados,<br />
bem como assegurar que o or<strong>de</strong>namento pesqueiro seja efetivamente cumprido.<br />
Durante muito tempo a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil brasileira permitiu ao Estado <strong>da</strong>r as costas ao mar do <strong>Brasil</strong>, ou a seus gestores<br />
temporários <strong>de</strong>terminar priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s políticas que não condizem com a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger <strong>no</strong>sso mar, tendo em vista as<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s globais do país com a conservação dos ocea<strong>no</strong>s e, concomitantemente, o direito <strong>da</strong>s futuras gerações <strong>de</strong> brasileiros<br />
a <strong>de</strong>sfrutar <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha. É tempo <strong>de</strong> reverter esse abando<strong>no</strong>. Sabemos sermos poucos os que se preocupam<br />
em resgatar <strong>no</strong>sso mar do <strong>de</strong>scaso e do laissez-faire para os seus <strong>de</strong>pre<strong>da</strong>dores, mas temos esperança <strong>de</strong> que esse quadro po<strong>de</strong> ser<br />
revertido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que mais atores sociais rompam o silêncio cúmplice com que tais <strong>de</strong>scalabros até agora vêm sendo recebidos.<br />
23
24<br />
RED CETÁCEOS: LA RED LATINO-AMERICANA<br />
CON ÉNFASIS EN ÁREAS MARINAS<br />
Colaboradores: Márcia H. Engel – Instituto Baleia Jubarte • José Martins <strong>da</strong> Silva Jr.- Projeto Golfinho Rotador • José<br />
Tru<strong>da</strong> Palazzo Jr.- IWC/<strong>Brasil</strong> • Rodrigo García Píngaro – OCC/Uruguay<br />
Conservación <strong>de</strong> especies y Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s:<br />
integrando el enfoque<br />
A lo largo <strong>de</strong> su historia, las Áreas Protegi<strong>da</strong>s (APs) han evolucionado siguiendo diferentes objetivos – un<br />
proceso que se evi<strong>de</strong>ncia por la evolución en la <strong>no</strong>menclatura en las categorías <strong>de</strong> manejo y por la creación <strong>de</strong> sistemas<br />
nacionales <strong>de</strong> APs en diferentes países. Diferentes conceptos han sido integrados para incrementar el nivel <strong>de</strong> conciencia <strong>de</strong><br />
las comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s y su involucramiento en los principios <strong>de</strong> la conservación y, a consecuencia, optimizar la efectivi<strong>da</strong>d <strong>de</strong>l<br />
rol <strong>de</strong> las APs en la conservación <strong>de</strong> los espacios naturales.<br />
Sin embargo, la creación <strong>de</strong> un área protegi<strong>da</strong> y su implementación han sido procesos arduos en América Latina,<br />
y más aún cuando se trata <strong>de</strong> la creación <strong>de</strong> áreas restrictivas (en <strong>Brasil</strong>, las Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Protección Integral, equivalentes a
PARA LA CONSERVACIÓN DE CETÁCEOS<br />
PROTEGIDAS<br />
Mabel Augustowski (coord.)<br />
Centro <strong>de</strong> Estudos para a <strong>Conservação</strong> Marinha – CEMAR<br />
Coordinadora <strong>de</strong> la Red Cetáceos<br />
las categorías I y II <strong>de</strong> UICN). En ese ámbito, los programas para conservación <strong>de</strong> especies han tenido más suceso: históricamente,<br />
los proyectos <strong>de</strong> conservación <strong>de</strong> especies son mucho más recientes que la creación <strong>de</strong> APs, pero han evolucionado<br />
más rápi<strong>da</strong>mente en su efectivi<strong>da</strong>d que las APs. En el caso <strong>de</strong> las Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s (AMPs) especialmente,<br />
la protección proveí<strong>da</strong> a las especies amenaza<strong>da</strong>s y/o en peligro se viene evi<strong>de</strong>nciando como mucho más efectiva para<br />
involucrar las comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma amplia, convirtiendo el concepto <strong>de</strong> protección al ecosistema mari<strong>no</strong> en un tema <strong>de</strong><br />
comprensión más fácil para el público común.<br />
Las Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s (AMPs) son consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como la herramienta más efectiva para proteger la<br />
biodiversi<strong>da</strong>d, reservando espacios don<strong>de</strong> se prevengan los impactos <strong>de</strong> origen antrópico que se intensifican a lo largo <strong>de</strong><br />
la zona costera don<strong>de</strong> vive más <strong>de</strong>l 60% <strong>de</strong> la población mundial. Sin embargo, existe un alto grado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sco<strong>no</strong>cimiento<br />
sobre la necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> conservar el ambiente mari<strong>no</strong>, especialmente en aquellas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se encuentran bajo fuerte<br />
presión social.<br />
La conectivi<strong>da</strong>d <strong>de</strong>l medio mari<strong>no</strong>, las corrientes y otros procesos oceánicos, así como las migraciones <strong>de</strong> los<br />
animales y la dispersión <strong>de</strong> adultos y larvas evi<strong>de</strong>ncian que el ambiente mari<strong>no</strong> <strong>de</strong>be ser abor<strong>da</strong>do como un universo amplio<br />
que <strong>no</strong> se base solamente en un manejo local. Reco<strong>no</strong>cer la conectivi<strong>da</strong>d como un gran conjunto <strong>de</strong> interrelaciones proveí<strong>da</strong>s<br />
por los factores físicos, biológicos, químicos y geológicos en el ambiente mari<strong>no</strong>, así como entre el océa<strong>no</strong> abierto y<br />
25
26<br />
las zonas costeras, es esencial para la planificación y el manejo <strong>de</strong> las AMPs y para la conservación <strong>de</strong> las especies, pues<br />
a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> corrientes, vientos y <strong>de</strong>splazamiento <strong>de</strong> animales, se consi<strong>de</strong>ra también el trasporte <strong>de</strong> nutrientes, pre<strong>da</strong>dores y<br />
presas, así como <strong>de</strong> sustancias contaminantes y <strong>de</strong>splazamientos <strong>de</strong> ruidos que transcien<strong>de</strong>n provincias biogeográficas y<br />
fronteras políticas.<br />
En ese contexto, los cetáceos (ballenas, <strong>de</strong>lfines, toninas) tienen un rol fun<strong>da</strong>mental como herramienta <strong>de</strong> conscientización:<br />
son animales que se <strong>de</strong>stacan en el mar por su tamaño y por su comportamiento, su carácter altamente migratorio<br />
y la familiari<strong>da</strong>d natural que tienen con el ser huma<strong>no</strong> los convierte en “especies-ban<strong>de</strong>ra”, es <strong>de</strong>cir, especies cuyo apelo<br />
<strong>de</strong> preservación induce a la comprensión sobre la importancia <strong>de</strong> conservar el ecosistema mari<strong>no</strong>.<br />
En Lati<strong>no</strong>américa está representa<strong>da</strong> la mayoría <strong>de</strong> las especies <strong>de</strong> ballenas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>lfines y toninas, que habitan tanto las<br />
áreas cercanas a la costa como las zonas oceánicas. Son un importante patrimonio natural y que, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> su importante<br />
rol ecológico, están incorpora<strong>da</strong>s en los valores culturales, históricos y económicos <strong>de</strong> las diferentes comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
país.<br />
Como parte <strong>de</strong>l ecosistema mari<strong>no</strong>, los cetáceos están expuestos a los varios impactos causados por activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
humanas. Las AMPs constituyen una efectiva herramienta <strong>de</strong> manejo también para la protección <strong>de</strong> cetáceos y <strong>de</strong> su habitat,<br />
al prevenir (o al me<strong>no</strong>s reducir) en dichas áreas los efectos cumulativos y sinérgicos <strong>de</strong> varios agentes antropogénicos.<br />
Es importante compren<strong>de</strong>r que las diferentes amenazas a los cetáceos actúan en sinergia: la captura inci<strong>de</strong>ntal en re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
pesca, la <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ción <strong>de</strong> hábitat, la contaminación química y la polución so<strong>no</strong>ra <strong>de</strong> los océa<strong>no</strong>s, el movimiento <strong>de</strong> embarcaciones,<br />
la cacería, los cambios climáticos y otros impactos tienen sus efectos potenciados cuando actuando en conjunto.<br />
Por ejemplo, el aumento <strong>de</strong>l ruido en el ambiente mari<strong>no</strong> pue<strong>de</strong> potenciar las capturas en re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca y las colisiones<br />
con embarcaciones <strong>de</strong>bido a que los animales se <strong>de</strong>sorientan y tienen su percepción <strong>de</strong>l ambiente disminui<strong>da</strong>. Las AMPs, en<br />
estos casos, son consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s la única herramienta eficaz para proteger los cetáceos <strong>de</strong> los conjuntos <strong>de</strong> impactos1 .<br />
De acuerdo con Hoyt (in Agardy et al, 2007) al momento más <strong>de</strong> 350 AMPs en el mundo protegen al me<strong>no</strong>s<br />
parcialmente los habitat <strong>de</strong> cetáceos y se están proponiendo otras 175.<br />
Como animales que requieren áreas amplias para su sobrevivencia, con rutas migratorias que transcien<strong>de</strong>n los<br />
limites jurisdiccionales nacionales en la búsque<strong>da</strong> <strong>de</strong> ambientes para reproducción y/o alimentación, los cetáceos pasan a<br />
ser elementos visibles para la integración entre las AMPs y para la conscientización tanto <strong>de</strong> las comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s como <strong>de</strong> los<br />
diversos niveles <strong>de</strong> gobier<strong>no</strong>, promoviendo mecanismos <strong>de</strong> utilización sustentable <strong>de</strong> los recursos, como por ejemplo el<br />
turismo <strong>de</strong> observación.<br />
El turismo <strong>de</strong> observación se ha constituido en una alternativa sustentable frente a la cacería, el cual genera<br />
importantes beneficios ecológicos, culturales, educativos, sociales y económicos. Sus ingresos están valuados en más <strong>de</strong><br />
$1.500.000.000 dólares america<strong>no</strong>s anuales en más <strong>de</strong> 100 países y territorios, y contribuye a mejorar la cali<strong>da</strong>d <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> en<br />
las comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s costeras don<strong>de</strong> son practica<strong>da</strong>s 2 .<br />
1 Agardy et al., 2007<br />
2 Segundo Taller Internacional sobre Gestión y Uso No Letal <strong>de</strong> Cetáceos, La Pedrera, Uruguay, 18 al 21 <strong>de</strong> abril/2007. OCC, ICB,<br />
Fun<strong>da</strong>ción Cethus, IFAW.
Ampliando la protección: Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> AMPs<br />
En el principio <strong>de</strong> los años 2000, se evi<strong>de</strong>nció que las AMPs <strong>de</strong> forma individual son<br />
insuficientes para alcanzar las múltiplas necesi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservación en una región y la<br />
necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> establecer Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> AMPs conformando un complejo <strong>de</strong> sitios protegidos<br />
basado en los elementos <strong>de</strong> conectivi<strong>da</strong>d, que pudiesen <strong>da</strong>r soporte u<strong>no</strong> al otro 3.<br />
Los santuarios para conservación <strong>de</strong> ballenas son un ejemplo <strong>de</strong> cómo ese enfoque<br />
pue<strong>de</strong> aplicarse a la conservación <strong>de</strong> los cetáceos, una vez que los santuarios son<br />
áreas amplias que necesitan <strong>de</strong>sarrollar una estrategia <strong>de</strong> gestión 4 . Los varios marcos<br />
legales que justifican la estrategia <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s ecológicas se encuentran recopilados en<br />
Bennett & Wit (2001) y más recientemente se <strong>de</strong>sarrollaron conceptos específicos para<br />
las re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> AMPs, siendo la necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> su creación indica<strong>da</strong> en la Convención para<br />
la Diversi<strong>da</strong>d Biológica, la Cumbre para el Desarrollo Sostenible en 2002 y el Anexo V<br />
<strong>de</strong> la OSPAR 5 y la re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> AMPs se volvieron más comunes y un tema incluido en la<br />
agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> la CBD en el 2006 6 . Las re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> AMPs, su creación y manejo son intensamente<br />
discuti<strong>da</strong>s en el guía con las directrices para creación e implementación <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> AMPs producido por la Comisión Mundial <strong>de</strong> Áreas Protegi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> UICN 7.<br />
Re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> AMPs pue<strong>de</strong>n acomo<strong>da</strong>r las necesi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> muchas especies migratorias<br />
que se <strong>de</strong>splazan durante su ciclo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> en su búsque<strong>da</strong> por alimento, sitios para<br />
reproducción y crianza, y otros factores, o simplemente pue<strong>de</strong>n también acomo<strong>da</strong>r las especies<br />
resi<strong>de</strong>ntes que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n <strong>de</strong> habitats críticos para sobrevivir. Paralelamente, re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> AMPs pue<strong>de</strong>n convertirse en corredores mari<strong>no</strong>s don<strong>de</strong> se promueven los conceptos<br />
<strong>de</strong> acciones integra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> manejo, <strong>de</strong>sarrollando iniciativas más au<strong>da</strong>ces y abrangentes<br />
con mayor po<strong>de</strong>r en <strong>de</strong>spertar la conciencia <strong>de</strong> las comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> su responsabili<strong>da</strong>d<br />
en actuar activamente para conservar el patrimonio compartido.<br />
3 NRC, 2001.<br />
4 Leaper et al., 2003.<br />
5 Gubbay, 2006.<br />
6 CBD, 2006.<br />
7 WCPA/IUCN. 2007.<br />
27
28<br />
Evolucionando <strong>de</strong> una red <strong>de</strong> AMPs para una Red<br />
hacia la conservación <strong>de</strong> cetáceos en América Latina<br />
y las AMPs correlaciona<strong>da</strong>s<br />
El establecimiento <strong>de</strong> una Red <strong>de</strong> Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s para conservar los cetáceos surge inicialmente en<br />
América <strong>de</strong>l Sur en el 2004 hacia la conservación <strong>de</strong> ballenas, cuando se conformó un primer grupo <strong>de</strong> trabajo hacia la<br />
creación <strong>de</strong> la Red Su<strong>da</strong>mericana <strong>de</strong> Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s para la Conservación <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong>s Cetáceos, durante<br />
el taller realizado en Imbituba, Santa Catarina, <strong>Brasil</strong> (20 a 23 <strong>de</strong> Setiembre, 2004) 8 , con el apoyo <strong>de</strong> AVINA. El taller<br />
se realizó durante las conmemoraciones <strong>de</strong> la Semana <strong>de</strong> la Ballena Franca, anualmente promovi<strong>da</strong> por el Projeto Baleia<br />
Franca/IWC-<strong>Brasil</strong>.<br />
Durante aquel evento, se i<strong>de</strong>ntificó la necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> incrementar la actuación regional fortaleciendo la integración<br />
entre los países, principalmente <strong>de</strong>bido a las migraciones presenta<strong>da</strong>s por algunas especies <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cetáceos, con el principal<br />
objetivo <strong>de</strong> proveer un marco <strong>de</strong> trabajo para la conservación <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cetáceos, estableciendo acciones conjuntas,<br />
respetando la soberanía <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> u<strong>no</strong> <strong>de</strong> los países que la integran y manteniendo la eficacia <strong>de</strong> los esfuerzos nacionales y<br />
regionales.<br />
El foco inicial en los gran<strong>de</strong>s cetáceos se justifica por la ocurrencia en Su<strong>da</strong>mérica <strong>de</strong> por lo me<strong>no</strong>s 6 especies<br />
<strong>de</strong> ballenas que ocurren regularmente en la costa <strong>de</strong>l <strong>Brasil</strong> y <strong>de</strong> otros países <strong>de</strong>l Co<strong>no</strong> Sur: ballenas francas (Eubalaena<br />
australis), ballenas joroba<strong>da</strong>s (Megaptera <strong>no</strong>vaengliae), ballenas <strong>de</strong> Bry<strong>de</strong> (B.e<strong>de</strong>ni), ballenas minke (Balae<strong>no</strong>ptera acutorostrata),<br />
minkes antárticas (B.bonaerensis) y cachalotes (Physeter macrocephalus). También ocurren en Su<strong>da</strong>merica<br />
las ballenas azules (Balae<strong>no</strong>ptera musculus), ballenas azules pigmeas (B. musculus brevicau<strong>da</strong>), ballenas sei (B.borealis),<br />
ballenas fin (B.physalus), y ballenas francas pigmeas (Carperea marginata). De estas, tres son brin<strong>da</strong><strong>da</strong>s con proyectos<br />
específicos <strong>de</strong> investigación y conservación, que actúan integra<strong>da</strong>mente también para fortalecer y aprobar la propuesta <strong>de</strong><br />
creación <strong>de</strong>l Santuario <strong>de</strong> Ballenas <strong>de</strong>s Atlántico Sur en la Comisión Ballenera Internacional (CBI): las ballenas yubartas<br />
(M.<strong>no</strong>vaeangliae – Instituto Baleia Jubarte/<strong>Brasil</strong>), las ballenas francas (E.australis – Projeto Baleia Franca/IWC-<strong>Brasil</strong>,<br />
Organización para Conservación <strong>de</strong> Cetáceos-OCC/Uruguay, Instituto <strong>de</strong> Conservación <strong>de</strong> Ballenas-ICB/Argentina, Fun<strong>da</strong>ción<br />
Cethus/Argentina y Centro <strong>de</strong> Conservación Cetacea/Chile) y las ballenas <strong>de</strong> Bry<strong>de</strong> (B.e<strong>de</strong>ni – Projeto Baleia <strong>de</strong><br />
Bry<strong>de</strong>/Centro <strong>de</strong> Estudos para a <strong>Conservação</strong> Marinha-CEMAR/<strong>Brasil</strong>). En <strong>Brasil</strong>, las tres especies están directamente<br />
relaciona<strong>da</strong>s a AMPs, habiendo inclusive motivado la creación <strong>de</strong>l Área <strong>de</strong> Protección Ambiental <strong>de</strong> la Ballena Franca,<br />
en Santa Catarina, y la Zona <strong>de</strong> Amortiguamiento <strong>de</strong>l Parque Nacional Mari<strong>no</strong> <strong>de</strong> Abrolhos, en las provincias <strong>de</strong> Bahia<br />
y Espirito Santo (y que al momento están siendo discuti<strong>da</strong>s judicialmente <strong>de</strong>bido a la presión <strong>de</strong> grupos económicos!).<br />
Las ballenas-<strong>de</strong>-Bry<strong>de</strong> en la costa atlántica tienen su ocurrencia registra<strong>da</strong> en casi to<strong>da</strong>s las AMPs insulares <strong>de</strong> la costa <strong>de</strong><br />
São Paulo (Parque Estadual Marinho <strong>da</strong> Laje <strong>de</strong> Santos, islas Vitoria, Buzios e Ilhabela en el Parque Estadual <strong>de</strong> Ilhabela,<br />
Estación Ecológica Tupinambás y Parque Estadual <strong>de</strong> Isla Anchieta) 9 y pue<strong>de</strong>n potencialmente agregar a la conservación<br />
8 Intituciones participantes: Proyecto Ballena <strong>de</strong> Bry<strong>de</strong>/CEMAR-<strong>Brasil</strong>, Instituto Baleia Jubarte/<strong>Brasil</strong>, IWC/<strong>Brasil</strong>, IBAMA/CMA-Sul,<br />
IBAMA/PNM Abrolhos, IBAMA/CMA, Organización para la Conservación <strong>de</strong> Cetaceos/Uruguay, FREPLATA, Secretaria <strong>de</strong> Turismo<br />
Chubut/PCIA, Instituto <strong>de</strong> Conservación <strong>de</strong> Ballenas/Argentina, Fun<strong>da</strong>ción Cethus/Argentina, DIRECTEMAR <strong>de</strong> Arma<strong>da</strong> <strong>de</strong> Chile, Centro<br />
<strong>de</strong> Conservación Cetacea/Chile, Fund.ProNaturaleza/Mundo Azul-Peru y Pacific Whale Foun<strong>da</strong>tion/Ecuador.<br />
9 Datos <strong>de</strong>l Projeto Baleia <strong>de</strong> Bry<strong>de</strong>/CEMAR, vários autores.
<strong>de</strong> esta especie el incremento <strong>de</strong> la protección al ecosistema proveí<strong>da</strong> por estas AMPs. Los límites <strong>de</strong> ocurrencia <strong>de</strong> esta<br />
ballena aún <strong>no</strong> están bien establecidos y están siendo estudiados por el Proyecto Ballena <strong>de</strong> Bry<strong>de</strong>/Centro <strong>de</strong> Estudios para<br />
la Conservación Marina-CEMAR.<br />
La propuesta <strong>de</strong> creación <strong>de</strong>l Santuario fue inicialmente presenta<strong>da</strong> a la CBI por los gobier<strong>no</strong>s <strong>de</strong> <strong>Brasil</strong> y Argentina<br />
en las reuniones anuales <strong>de</strong> aquella comisión en el 2001 y 2002. A partir <strong>de</strong>l 2003, se incorporaron varios aspectos<br />
científicos, que fortalecieron aun más la propuesta e incrementaron la necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> acciones conjuntas entre los países<br />
su<strong>da</strong>merica<strong>no</strong>s hacia su aprobación. En el 2005, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> <strong>Brasil</strong> y Argentina, la propuesta pasó a ser presenta<strong>da</strong> también<br />
por el Gobier<strong>no</strong> <strong>de</strong> Sud Africa 10 .<br />
En Agosto <strong>de</strong>l 2006, en reunión realiza<strong>da</strong> en la Se<strong>de</strong> <strong>de</strong>l Instituto Baleia Jubarte en Praia do Forte (Salvador,<br />
Bahia, <strong>Brasil</strong>), se i<strong>de</strong>ntificó la necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> incluir a los pequeños cetáceos en la Red – representados por más <strong>de</strong> veinte<br />
especies <strong>de</strong> <strong>de</strong>lfines y toninas en las áreas marinas <strong>de</strong> Lati<strong>no</strong>américa - y <strong>de</strong> ampliar su área geográfica <strong>de</strong> acción, <strong>da</strong>do que<br />
hay procedimientos comunes, como por ejemplo el establecimiento <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas y principios éticos en la investigación y el<br />
en turismo <strong>de</strong> avistamiento. El enfoque también evolucionó, a medi<strong>da</strong> que se i<strong>de</strong>ntificó que la Red <strong>no</strong> <strong>de</strong>be ser compuesta<br />
solamente por AMPs, más bien <strong>de</strong>be ser por si misma una herramienta más para integrar las AMPs y las instituciones <strong>de</strong> la<br />
socie<strong>da</strong>d civil involucra<strong>da</strong>s en la conservación <strong>de</strong> cetáceos. Surge entonces la Red Lati<strong>no</strong>americana para la Conservación<br />
<strong>de</strong> Cetáceos con énfasis en Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s – Red Cetáceos, que pasa a tener un Núcleo Coordinador conformado<br />
por socios <strong>de</strong> AVINA especialistas en el tema y se <strong>de</strong>finen criterios para su organización interna.<br />
Finalmente, en Marzo <strong>de</strong>l 2007, se realiza en las instalaciones <strong>de</strong>l Centro <strong>de</strong> Estudos para a <strong>Conservação</strong> Marinha-CEMAR<br />
en la Praia Brava <strong>da</strong> Fortaleza (Ubatuba, SP, <strong>Brasil</strong>) la reunión plenaria <strong>de</strong> la Red Cetáceos, con integrantes <strong>de</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />
Uruguay, Argentina, Chile, Perú, Ecuador, Venezuela y Costa Rica, representando 17 instituciones enfoca<strong>da</strong>s en la conservación<br />
<strong>de</strong> cetáceos, con el principal objetivo <strong>de</strong> promover la integración regional a través <strong>de</strong> acciones conjuntas, hacia el<br />
fortalecimiento <strong>de</strong> políticas para la conservación <strong>de</strong> cetáceos y la implementación <strong>de</strong> Áreas Marinas Protegi<strong>da</strong>s correlaciona<strong>da</strong>s,<br />
así como el fortalecimiento <strong>de</strong> la presencia lati<strong>no</strong>americana en la Comisión Ballenera Internacional-CBI, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong><br />
promover el intercambio entre miembros <strong>de</strong> la Red que incluyan trabajos <strong>de</strong> investigación y educación ambiental y divulgar<br />
sus productos en los medios especializados y para el público común.<br />
Entre los varios productos resultantes <strong>de</strong> las acciones conjuntas, se <strong>de</strong>stacan el Taller sobre Foto-i<strong>de</strong>ntificación<br />
<strong>de</strong> Ballenas Yubartas (ocurrido a continuación <strong>de</strong>l 10 al 13 <strong>de</strong> abril, en CEMAR, con apoyo <strong>de</strong> AVINA) y la participación<br />
<strong>de</strong> varios miembros <strong>de</strong> la Red en 2do Taller Internacional sobre Gestión y Uso No Letal <strong>de</strong> Cetáceos (18 al 21 <strong>de</strong> abril, La<br />
Pedrera, Uruguay, organizado por organismos <strong>de</strong>l Gobier<strong>no</strong> uruguayo y organizaciones <strong>de</strong> la socie<strong>da</strong>d civil nacionales e<br />
internacionales (IFAW-Fondo Internacional para la Protección <strong>de</strong> los Animales y su Hábitat, Fun<strong>da</strong>ción Cethus, Instituto <strong>de</strong><br />
Conservación <strong>de</strong> Ballenas y Organización para la Conservación <strong>de</strong> Cetáceos).<br />
Entre los <strong>de</strong>safíos que se encuentran por <strong>de</strong>lante, las acciones <strong>de</strong> la Red Cetáceos tienen como foco principal la reunión <strong>de</strong> la<br />
CBI/2008, buscando medios <strong>de</strong> incrementar la efectivi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> las AMPs como herramienta para la conservación <strong>de</strong> cetáceos<br />
y <strong>de</strong> asegurar el impedimento a cualquier posibili<strong>da</strong>d <strong>de</strong> retroceso a activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cacería.<br />
10 Palazzo (coord.) et al. 2003, 2005.<br />
29
30<br />
Participan actualmente <strong>de</strong> la Red Cetáceos representantes <strong>de</strong> las<br />
siguientes instituciones 11 :<br />
BRASIL:<br />
Projeto Baleia <strong>de</strong> Bry<strong>de</strong> / Centro <strong>de</strong> Estudos para <strong>Conservação</strong> Marinha – CEMAR<br />
IWC/<strong>Brasil</strong>-Projeto Baleia Franca<br />
APA Baleia Franca<br />
Instituto Baleia Jubarte<br />
Re<strong>de</strong> Pró-UC<br />
Re<strong>de</strong> Cananéia<br />
Projeto Golfinho Rotador<br />
Núcleo <strong>de</strong> Educação e Monitoramento Ambiental - NEMA<br />
URUGUAY:<br />
Organización para la Conservación <strong>de</strong> Cetáceos (OCC)<br />
ARGENTINA:<br />
Instituto Conservación <strong>de</strong> Ballenas (ICB)<br />
Fun<strong>da</strong>ción Cethus<br />
Fun<strong>da</strong>ción Patagonia Natural<br />
Fun<strong>da</strong>ción Tierra Salvaje<br />
CHILE:<br />
Centro <strong>de</strong> Conservación Cetácea (CCC)<br />
ECUADOR<br />
Pacific Whale Foun<strong>da</strong>tion<br />
VENEZUELA<br />
Socie<strong>da</strong>d Ecológica Sea Vi<strong>da</strong><br />
COSTA RICA<br />
Volunteers in Environmental Development - VIDA<br />
Fun<strong>da</strong>ción PROMAR<br />
11 Por ser confirmado el ingreso <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> Colombia y Perú.
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31
32<br />
CONSERVAÇÃO DAS ANDORINHAS-DO-MAR<br />
As andorinhas-do-mar são aves marinhas especialmente vulneráveis aos distúrbios antrópi-<br />
cos, pois possuem pequenas áreas <strong>de</strong> reprodução concentrando um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> indivíduos em<br />
locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s especificas. As andorinhas-do-mar-<strong>de</strong>-bico-amarelo e as andorinhas-do-mar-do-bico-vermelho<br />
ocorrem em boa parte <strong>da</strong> costa do <strong>Brasil</strong>, porém nidificam reunidos em poucas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. No<br />
litoral brasileiro essas espécies nidificam entre abril e agosto, nas ilhas costeiras do Estado do Espírito<br />
Santo até Santa Catarina (ANTAS 1991; SICK 1997; EFE et al. 2000). Apesar <strong>de</strong> já terem sido registra<strong>da</strong>s<br />
nidificando em Ilhas isola<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro (SICK 1997), na ilha <strong>da</strong> Figueira em São Paulo<br />
e na Ilha Deserta em Santa Catarina (ESCALANTE et al. 1988) certamente as ilhas do Espírito Santo<br />
reúnem uma <strong>da</strong>s maiores populações reprodutivas <strong>da</strong> costa do Ocea<strong>no</strong> Atlântico e po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />
como um dos os locais mais importantes para a conservação <strong>de</strong>stas duas espécies (GOSHFELD &<br />
BURGER 1996, EFE et al. 2000).
NAS ILHAS COSTEIRAS DO ESPÍRITO SANTO<br />
Cesar Meyer Musso 1 & Luiz Augusto Macedo Mestre 2<br />
1 Coor<strong>de</strong>nador do Projeto Andorinhas-do-mar, AVIDEPA.<br />
2 Pesquisador-colaborador do Projeto Andorinhas-do-mar, AVIDEPA / CEMAVE.<br />
Andorinha-do-mar-<strong>de</strong>-bicoamarelo<br />
(Thalasseus sandvicencis<br />
eurygnatha)<br />
As andorinhas-do-mar-<strong>de</strong>-bico-amarelo<br />
(Thalasseus sandvicencis eurygnatha) me<strong>de</strong>m cerca<br />
<strong>de</strong> 40 cm <strong>de</strong> comprimento e pesam entre 130 e 280<br />
gramas; possuem bico e pés amarelos ou amarelos<br />
e pretos, corpo branco com dorso cinza e um capuz<br />
negro na época <strong>de</strong> reprodução. Estas aves ocorrem<br />
principalmente na parte leste <strong>da</strong> América do Sul,<br />
entre o Caribe e o Sul <strong>da</strong> Argentina.<br />
33
34<br />
Andorinha-do-mar-do-bicovermelho<br />
(Sterna hirundinacea)<br />
As andorinhas-do-mar-do-bico-vermelho<br />
(Sterna hirundinacea) possuem aproxima<strong>da</strong>mente<br />
43 cm <strong>de</strong> comprimento e pesam cerca <strong>de</strong> 180<br />
gramas. Estas aves têm corpo branco e dorso cinza e<br />
na época <strong>de</strong> reprodução apresentam um capuz negro<br />
contrastante. Seus pés e bico vermelhos são as principais<br />
características distintivas <strong>da</strong> espécie anterior.<br />
Esta espécie ocorre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sul do Peru e su<strong>de</strong>ste do<br />
<strong>Brasil</strong> (Espírito Santo) até o extremo sul <strong>da</strong> América<br />
do Sul, na Terra do Fogo (GOSHFELD & BURGER<br />
1996). As ilhas do Espírito Santo são dos poucos locais<br />
<strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong>sta espécie <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
Atualmente as principais medi<strong>da</strong>s para a conservação dos sítios reprodutivos <strong>de</strong>stas espécies<br />
<strong>no</strong> Espírito Santo são resultantes dos esforços <strong>da</strong> Associação Vila-velhense <strong>de</strong> Proteção Ambiental e<br />
do Centro Nacional <strong>de</strong> Pesquisa para a <strong>Conservação</strong> <strong>de</strong> Aves Silvestres (CEMAVE) – IBAMA.<br />
A Associação Vila-velhense <strong>de</strong> Proteção Ambiental (AVIDEPA), fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1984, <strong>de</strong>senvolve<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s ao monitoramento <strong>de</strong> aves marinhas e à conservação e recuperação <strong>de</strong><br />
alguns dos principais remanescentes dos ecossistemas costeiros <strong>no</strong> Espírito Santo. As atuações <strong>de</strong>sta<br />
organização não-governamental foram <strong>de</strong>cisivas na conservação <strong>da</strong>s andorinhas-do-mar <strong>no</strong> estado.<br />
Esta instituição trabalha em conjunto com o CEMAVE – IBAMA <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1988, <strong>de</strong>senvolvendo um dos<br />
programas <strong>de</strong> anilhamento mais longos e numerosos do <strong>Brasil</strong>. O “Projeto Andorinhas-do-mar” tem<br />
como objetivos, além do monitoramento <strong>da</strong> reprodução <strong>da</strong>s duas espécies <strong>de</strong> andorinhas-do-mar nas<br />
ilhas próximas <strong>de</strong> Vila Velha, ain<strong>da</strong> manejar estas ilhas, recompondo a vegetação nativa e removendo<br />
lixo e espécies exóticas <strong>de</strong> animais e vegetais. Nestes a<strong>no</strong>s, esta organização não-governamental também<br />
utilizou seus resultados em programas <strong>de</strong> educação ambiental <strong>da</strong>ndo oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a estu<strong>da</strong>ntes<br />
universitários e outros interessados em participarem do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.
Colônia <strong>de</strong> reprodução nas Ilhas Itatiaia. Ao fundo a orla <strong>de</strong> Vila Velha.<br />
Os locais <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong>s andorinhas-do-mar <strong>no</strong> Espírito Santo se concentram em ilhas e peque<strong>no</strong>s arquipélagos<br />
<strong>no</strong> litoral sul do Estado. Estas duas espécies <strong>de</strong> aves marinhas se concentram em colônias reprodutivas principalmente<br />
na Ilha Escalva<strong>da</strong> (Guarapari), nas Ilhas Itatiaia e Ilha dos Pacotes (Vila Velha) e na Ilha Branca (Itapemirim).<br />
As andorinhas-do-mar apresentam gran<strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> por nidificarem em poucas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e em gran<strong>de</strong>s colônias<br />
que po<strong>de</strong>m ser severamente impacta<strong>da</strong>s por ações humanas ou pela introdução <strong>de</strong> espécies exóticas. As ilhas <strong>no</strong> estado do<br />
Espírito Santo são um dos locais mais importantes para a conservação <strong>de</strong>stas duas espécies, pois reúnem uma <strong>da</strong>s maiores<br />
populações reprodutivas do Ocea<strong>no</strong> Atlântico.<br />
A Ilha Escalva<strong>da</strong> situa-se a 7.500 m <strong>da</strong> Praia <strong>de</strong> Setiba, <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Guarapari – ES. Esta ilha possui vegetação<br />
rasteira constituí<strong>da</strong> principalmente por gramíneas, como a salsa-<strong>da</strong>-praia (Ipomea pescaprae) e o feijão <strong>da</strong> praia<br />
(Canavalia rosea). Este é o local <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> andorinhas-do-mar mais afastado <strong>da</strong> costa <strong>no</strong> estado do Espírito Santo<br />
e o mais importante <strong>da</strong> costa do <strong>Brasil</strong>. Des<strong>de</strong> 1994 a vegetação exótica <strong>da</strong> ilha vem sendo maneja<strong>da</strong> pela AVIDEPA com<br />
objetivo <strong>de</strong> aumentar a área útil para a formação <strong>de</strong> ninhais. Neste manejo, a vegetação exótica é retira<strong>da</strong> e o solo mantido<br />
coberto com essa vegetação, evitando a erosão e dificultando a germinação <strong>de</strong>stas sementes.<br />
O arquipélago <strong>da</strong>s Ilhas Itatiaia é formado por sete ilhas localiza<strong>da</strong>s à 1000 m <strong>da</strong> Praia <strong>de</strong> Itapoã, em Vila<br />
Velha. Quatro <strong>de</strong>stas são pequenas ilhas rochosas quase sem vegetação, as outras três são maiores e possuem vegetação<br />
rasteira e arbóreo-arbustiva. As ilhas com vegetação <strong>de</strong>ste arquipélago são uma <strong>da</strong>s áreas mais utiliza<strong>da</strong>s para reprodução<br />
<strong>da</strong>s andorinhas-do-mar, do piru-piru (Haematopus palliatus) e um importante local <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> par<strong>de</strong>la-<strong>de</strong>-asa-larga<br />
(Puffinus lherminieri) <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, apenas registrado também em Fernando <strong>de</strong> Noronha - PE. Em 1990, a Avi<strong>de</strong>pa construiu<br />
uma base <strong>de</strong> apoio na ilha principal do arquipélago, auxiliando consi<strong>de</strong>ravelmente na fiscalização e manejo <strong>da</strong> ilha.<br />
35
36<br />
10.000 pares <strong>de</strong> andorinhas-do-mar reproduziram-se na Ilha Escalva<strong>da</strong> (Gurarpari – ES) em 2006<br />
Durante o monitoramento <strong>da</strong>s colônias reprodutivas <strong>da</strong>s andorinhas-do-mar é<br />
feita a marcação dos filhotes e adultos com anéis <strong>de</strong> metal. Os indivíduos são capturados<br />
manualmente e com auxilio <strong>de</strong> puçás e/ou cercos feitos com estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira uni<strong>da</strong>s com sacos <strong>de</strong> nylon ou ráfia abertos<br />
e costurados . Este método é mais eficiente para a captura <strong>de</strong> juvenis entre três<br />
e seis semanas, pois se locomovem muito antes <strong>de</strong> voar.<br />
O cerco é usado para reunir e aprisionar estes jovens, que são rapi<strong>da</strong>mente<br />
manuseados e soltos. As aves captura<strong>da</strong>s são marca<strong>da</strong>s com um anel<br />
<strong>de</strong> metal numerado e autorizado pelo CEMAVE – IBAMA. Essas anilhas po<strong>de</strong>m<br />
ter diferentes cores, o que auxilia na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> indivíduos marcados<br />
sem necessariamente serem manuseados.<br />
Ain<strong>da</strong> são recolhidos todos os indivíduos mortos e ovos inviáveis<br />
na colônia. Essa coleta sistemática <strong>de</strong> ovos e<br />
indivíduos mortos, além <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r na limpeza<br />
<strong>da</strong> colônia, auxilia na avaliação do tamanho<br />
<strong>da</strong> população reprodutiva, quando analisa<strong>da</strong><br />
em conjunto com os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> anilhamento.<br />
Ilhas Itatiaia (Vila Velha-ES)
Cercado utilizado para capturar os indivíduos jovens ain<strong>da</strong> incapazes <strong>de</strong> voar.<br />
Os indivíduos capturados são marcados com anilhas <strong>de</strong> metal numera<strong>da</strong>s pelo CEMAVE – IBAMA<br />
Os filhotes <strong>da</strong>s duas espécies <strong>de</strong> andorinhas-do-mar são nidífugos, porém, ficam em uma mesma área do ninhal.<br />
Assim, se forem capturados, anilhados e soltos nesta mesma área, po<strong>de</strong>m ser posteriormente localizados pelos pais, não<br />
prejudicando os posteriores cui<strong>da</strong>dos parentais.<br />
Entre o período <strong>de</strong> 1988 e 2006 foram anilhados 38.295 andorinhas-do-mar <strong>no</strong> estado do Espírito Santo. Deste<br />
total, foram marcados 34.686 indivíduos <strong>de</strong> Thalasseus sandvicencis eurygnatha e 3.609 indivíduos <strong>de</strong> Sterna hirundinacea.<br />
As duas espécies <strong>de</strong> andorinhas-do-mar foram observa<strong>da</strong>s reproduzindo-se e anilha<strong>da</strong>s em sete ilhas <strong>no</strong> estado do<br />
Espírito Santo (Ilha Escava<strong>da</strong>, I. Itatiaia, I. Branca, I. Galheta <strong>de</strong> Fora, I. dos Índios, I. dos Pacotes, I. Rasa). As ilhas on<strong>de</strong><br />
ocorreram maiores concentrações <strong>de</strong> andorinhas-do-mar <strong>no</strong>s períodos reprodutivos foram na Ilha Escalva<strong>da</strong>, nas Ilhas<br />
Itatiaia e na Ilha Branca.<br />
Entre o período <strong>de</strong> 1988 e 2005 foram recuperados 316 indivíduos <strong>da</strong>s duas espécies, sendo 287 Thalasseus<br />
sandvicencis eurygnatha e 29 Sterna hirundinacea. A porcentagem <strong>de</strong> recuperação foi igual a 0,8%, para as duas espécies,<br />
observa<strong>da</strong>s em conjunto ou separa<strong>da</strong>mente. Este resultado sugere que as duas espécies têm equivalentes possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para<br />
serem recaptura<strong>da</strong>s.<br />
As 287 Thalasseus sandvicencis eurygnatha marca<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Espírito Santo foram recupera<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Espírito Santo,<br />
em outros 11 estados brasileiros e em três províncias uruguaias. Destes indivíduos, 164 foram recuperados ain<strong>da</strong> estado do<br />
Espírito Santo, sendo que apenas 21 foram recapturados fora <strong>da</strong>s ilhas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />
37
38<br />
As andorinhas-do-mar-<strong>de</strong>-bico-amarelo recupera<strong>da</strong>s fora do Espírito Santo foram principalmente registra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s<br />
estados <strong>da</strong> Bahia (67 indivíduos), Rio <strong>de</strong> Janeiro (17), São Paulo (10), Santa Catarina (9) e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (8). Ain<strong>da</strong><br />
foram registrados indivíduos em Pernambuco (3), Paraná (2), Piauí (2), Paraíba (1) e Maranhão (1).<br />
Os indivíduos recapturados <strong>no</strong> Uruguai foram registrados na Laguna Garzon (Maldonado), na Barra do Chuí<br />
(Puimayén), na paria <strong>de</strong> San Luis (Canelones)..<br />
No mesmo período foram recuperados 29 indivíduos <strong>de</strong> Sterna hirundinacea marcados <strong>no</strong> Espírito Santo. Destes<br />
registros, 14 foram nas mesmas áreas <strong>de</strong> estudo, seis em São Paulo, quatro <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, três em Santa Catarina e um<br />
na Bahia. Importante observar que estas andorinhas-do-mar não ultrapassaram a Bahia, com apenas um registro <strong>no</strong> sul <strong>de</strong>ste<br />
estado. Esta colocação reafirma o limite <strong>de</strong> ocorrência <strong>da</strong> espécie registrado por Sick (1997) e Goshfeld & Burger (1996).<br />
Além disso, foi registrado um indivíduo em Punta Poper na Terra do Fogo, na Argentina. As andorinhas-do-mar-<strong>de</strong>-bicovermelho<br />
foram recupera<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s meses reprodutivos (junho, julho e agosto) <strong>no</strong> Espírito Santo e principalmente <strong>no</strong>s meses<br />
<strong>de</strong> outubro e <strong>de</strong>zembro nas outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora do estado.
No estudo <strong>de</strong> Efe et al. (2004), realizado nas mesmas áreas <strong>de</strong>ste estudo, foi observado que o comprimento médio<br />
dos ovos <strong>de</strong> Sterna sandvicencis eurygnatha é <strong>de</strong> 51,83 mm com lagura média <strong>de</strong> 35,91 mm (n=150), sendo que a maioria<br />
dos ovos (51,6%) apresentava uma coloração repleta <strong>de</strong> manchas escuras. Nas expedições realiza<strong>da</strong>s pela AVIDEPA em<br />
1993 e 1994 foram feitas medições <strong>de</strong> 812 ovos <strong>de</strong> S. hirundinacea e foi observado que o comprimento médio <strong>de</strong>stes é <strong>de</strong><br />
45,83 mm (± 3,7) com lagura média <strong>de</strong> 32,1 mm (± 3,4), pesando em média 26,2 gr (± 3,9).<br />
Em 20 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> monitoramento foi possível reunir importantes <strong>da</strong>dos sobre as populações <strong>de</strong> andorinhas-do-mar<br />
<strong>no</strong> Espírito Santo. Através <strong>de</strong>stes <strong>da</strong>dos conclui-se que as ilhas do Espírito Santo são um dos locais mais importantes para<br />
a reprodução <strong>de</strong> andorinhas-do-mar-<strong>de</strong>-bico-amarelo <strong>no</strong> mundo, pois abrigam cerca <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> população mundial estima<strong>da</strong><br />
para subespécie Thalasseus sandvicencis eurygnatha. Também é um dos locais mais importantes para a reprodução<br />
<strong>de</strong> andorinhas-do-mar-<strong>de</strong>-bico-vermelho <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, pois são uns dos poucos locais registrados on<strong>de</strong> esta espécie se reproduz<br />
<strong>no</strong> país. Desta maneira, os resultados do trabalho <strong>de</strong> monitoramento <strong>da</strong>s ilhas do Espírito Santo <strong>de</strong>monstram a urgência <strong>da</strong><br />
criação <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação nas ilhas do Espírito Santo, locais ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente protegidos pela legislação<br />
brasileira e pouco fiscalizados pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s competentes. É evi<strong>de</strong>nte a gran<strong>de</strong> importância ecológica <strong>de</strong>stes sítios para<br />
a conservação <strong>de</strong>stas duas espécies <strong>de</strong> andorinhas-do-mar.<br />
Bibliografia<br />
ANTAS, P.T.Z. 1991. Status and conservation of seabirds breeding in Brazilian waters. Pp. 141- 158,<br />
EFE, M.A.; J.L.X. NASCIMENTO; I.L.S. NASCIMENTO & C. MUSSO. 2000. Distribuição e ecologia reprodutiva <strong>de</strong><br />
Sterna sandvicensis eurygnatha <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Melopsittacus, Belo Horizonte, 3 (3):110-121.<br />
ESCALANTE, R.; T.R. AZEVEDO. & A. FREYESLEBEN. 1988. Nidificación <strong>de</strong>l gaviotin <strong>de</strong> cayena o <strong>de</strong> <strong>Brasil</strong> (Sterna<br />
sandvicensis eurygnatha) y <strong>de</strong>l gaviotin su<strong>da</strong>merica<strong>no</strong> (Sterna hirundinacea) em “Ilha Deserta” (Santa Catarina, <strong>Brasil</strong>).<br />
Programa y publicacion <strong>de</strong> resumenes, in V Reunión Ibero-Americana <strong>de</strong> Conservación y Zoologia <strong>de</strong> Vertebrados,<br />
Montevidéo, Uruguay, V- Gl-30.<br />
GOCHFELD, M. & BURGER, J. 1996. Family Sterni<strong>da</strong>e (Terns), In <strong>de</strong>l Hoyo, J., A. Elliott, and J. Sargatal, eds. Handbook<br />
of the Birds of the World. Vol. 3, Lynx Editions, Barcelona.<br />
SICK, H. 1997. Ornitologia <strong>Brasil</strong>eira, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Nova Fronteira. 912p.<br />
39
40<br />
ÁREA MARINHA PROTEGIDA E RESERVA<br />
DESENVOLVIMENTO DA PESCA ARTESANAL<br />
O Gover<strong>no</strong> Fe<strong>de</strong>ral e o Gover<strong>no</strong> do Estado do Ceará <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992 vêm investindo milhões <strong>de</strong> dólares para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do turismo <strong>no</strong> Ceará com empréstimos milionários do Banco Interamerica<strong>no</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento para<br />
financiar o projeto PRODETUR (Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento to Turismo) que se encontra na segun<strong>da</strong> fase. Assim foram<br />
construí<strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s <strong>no</strong> litoral, aeroportos e outras obras <strong>de</strong> infra-estrutura que são necessários para o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
estado, do turismo e outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas, como também para o bem-estar <strong>da</strong> população.<br />
Quem pouco viu essa chuva <strong>de</strong> dinheiro foram os moradores <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do litoral do Ceará, os mesmos<br />
que sofreram com a especulação imobiliária estimula<strong>da</strong> pelos investimentos na infra-estrutura para atrair investidores estrangeiros<br />
na construção <strong>de</strong> hotéis <strong>de</strong> luxo, resorts e condomínios (Nova Atlânti<strong>da</strong>, Resort do Pirata e outros) que estão à<br />
ven<strong>da</strong> <strong>no</strong>s mercados imobiliários internacionais. Também não houve investimentos para empo<strong>de</strong>ramento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do litoral para participar do <strong>de</strong>senvolvimento econômico local, <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong> pesca, <strong>da</strong> aqüacultura ou do turismo comunitário.<br />
Durante muito tempo os po<strong>de</strong>res públicos fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal ig<strong>no</strong>raram a crise <strong>da</strong> pesca <strong>da</strong> lagosta, que<br />
já era o mais importante recurso natural para exportação. Sucessivos presi<strong>de</strong>ntes do Ibama (enti<strong>da</strong><strong>de</strong> responsável pelo or<strong>de</strong>namento<br />
<strong>da</strong> pesca <strong>da</strong> lagosta) ig<strong>no</strong>raram o conceito precautório recomen<strong>da</strong>do pela FAO (Organização para Alimentação<br />
<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s) para o or<strong>de</strong>namento pesqueiro, sucumbindo às pressões políticas <strong>de</strong> empresários, armadores, prefeitos,<br />
<strong>de</strong>putados e senadores para levantar a proibição do uso <strong>da</strong> caçoeira (re<strong>de</strong> <strong>de</strong> emalhar) para pesca <strong>da</strong> lagosta, apesar do impacto<br />
negativo do uso <strong>de</strong>ste apetrecho <strong>de</strong> pesca.<br />
Três governadores do Ceará evitaram a todo custo implantar o Pla<strong>no</strong> Nacional do Gerenciamento Costeiro
EXTRATIVISTA COMO INSTRUMENTO PARA<br />
E DA ECONOMIA COMUNITÁRIA<br />
Autor: René Schärer<br />
Amigos <strong>da</strong> Prainha do Canto Ver<strong>de</strong>, <strong>Brasil</strong><br />
- GERCO, temendo que a proteção dos ecossistemas costeiros po<strong>de</strong>ria impedir o <strong>de</strong>senvolvimento industrial (Porto <strong>de</strong><br />
Pecêm), do turismo <strong>de</strong> massa e <strong>da</strong> carcinicultura irresponsável. Apenas algumas pequenas áreas <strong>de</strong> proteção ambiental<br />
ou programas <strong>de</strong> educação ambiental foram implantados para <strong>da</strong>r um aspecto ecológico ao PRODETUR. Áreas marinhas<br />
protegi<strong>da</strong>s (AMP), reservas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentáveis (SDR) ou reservas extrativistas (RESEX) não fazem parte <strong>da</strong><br />
gestão ambiental do gover<strong>no</strong> do Ceará. De fato, a única RESEX cria<strong>da</strong> <strong>no</strong> Ceará foi graças à luta <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> do Batoque<br />
que evitou que a empresa O<strong>de</strong>brecht entrasse <strong>no</strong> negocio turístico <strong>no</strong> Ceará.<br />
A pesca <strong>da</strong> lagosta <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> começou em 1955 <strong>no</strong> litoral leste do Ceará. O jereré foi o apetrecho usado pelos pescadores<br />
nas suas janga<strong>da</strong>s, que foram logo substituídos pelo manzuã, introduzido pelo america<strong>no</strong> Mr. Morgan que o trouxe<br />
<strong>da</strong> Flóri<strong>da</strong>. Estimulado por incentivos fiscais e financiamentos (muitas vezes a fundo perdido ou com pagamentos irrisórios)<br />
do Gover<strong>no</strong> na época <strong>da</strong> SUDEPE, <strong>de</strong>u-se a compra <strong>de</strong> barcos lagosteiros industriais e a construção <strong>de</strong> um parque industrial<br />
super dimensionados para os recursos pesqueiros existentes.<br />
O esforço <strong>de</strong> pesca cresceu muito rápido, levando em pouco tempo à insustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Para controlar o aumento do esforço com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> frota motoriza<strong>da</strong>, as primeiras medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento foram introduzi<strong>da</strong>s<br />
em 1964 (proibição <strong>da</strong> captura <strong>da</strong> lagosta ova<strong>da</strong> e proteção para as gran<strong>de</strong>s lagostas reprodutoras). Os pesquisadores<br />
<strong>da</strong> lagosta há tempo observavam que o principal motivo para os péssimos resultados econômicos e para a diminuição dos<br />
estoques era o excessivo esforço <strong>de</strong> pesca. “O aumento do custo <strong>de</strong> produção <strong>da</strong>s capturas <strong>de</strong> lagosta contribuiu para o<br />
aumento <strong>da</strong> crise econômica <strong>no</strong> setor lagosteiro, já bastante afetado pela elevação do custo <strong>de</strong> produção observado em a<strong>no</strong>s<br />
41
42<br />
anteriores, com o incremento do esforço <strong>de</strong> pesca (soma dos manzuãs ou outros apetrechos usados para capturar lagosta)<br />
sem o correspon<strong>de</strong>nte aumento <strong>da</strong> produção. Já em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70 se discutia a crise financeira vivencia<strong>da</strong> pela<br />
indústria lagosteira e se indicava o aumento do esforço <strong>de</strong> pesca como responsável por este fenôme<strong>no</strong> (PAIVA, 1976)”. “O<br />
elevado esforço <strong>de</strong> pesca sobre as populações <strong>de</strong> lagosta e o baixo índice <strong>de</strong> abundância caracterizam a existência <strong>de</strong> sobrepesca<br />
do esforço, mais importante, são responsáveis pelas sucessivas crises financeiras que vivenciam a indústria pesqueira<br />
e, principalmente os armadores (IVO,1996)”.<br />
Dos 350 barcos lagosteiros <strong>de</strong> ferro, não sobrou nenhum e <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20 empresas <strong>de</strong> processamento e exportação<br />
<strong>de</strong> mariscos, hoje apenas seis empresas ain<strong>da</strong> estão em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Sem a intervenção do estado a pesca <strong>da</strong> lagosta passou por uma transformação, como diz o antropólogo marítimo Antônio<br />
Carlos Diegues <strong>da</strong> USP <strong>no</strong> seu último livro. “Observa-se até uma re-artesanalização <strong>de</strong> algumas indústrias, como<br />
a <strong>da</strong> lagosta <strong>no</strong> Nor<strong>de</strong>ste, uma vez que muitos barcos <strong>da</strong> pesca empresarial abandonaram a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e passaram a comprar o<br />
produto dos barcos <strong>da</strong> pesca artesanal. Com a <strong>de</strong>claração <strong>da</strong> Zona Econômica Exclusiva a partir <strong>da</strong> III Conferência do Mar<br />
<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, alargando consi<strong>de</strong>ravelmente a faixa marítima sob jurisdição nacional, a importância <strong>da</strong> pesca artesanal<br />
<strong>de</strong>ve ser ain<strong>da</strong> mais enfatiza<strong>da</strong>, pois é sabido que a quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong> do potencial pesqueiro brasileiro se encontra <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>ssa área, até os limites <strong>da</strong> plataforma continental, explora<strong>da</strong>, em geral, pelos pescadores artesanais”. A frota à vela dos<br />
janga<strong>de</strong>iros do Ceará e do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte substitui a frota motoriza<strong>da</strong> que está sem viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica na zona<br />
costeira.<br />
A falta <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento e sobretudo a ,falta <strong>de</strong> fiscalização permitiu a concorrência <strong>de</strong>sleal dos barcos <strong>de</strong> compressor<br />
e a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesca consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pre<strong>da</strong>tória levando a lagosta para perto do colapso em 2006. Um<br />
estudo apresentado <strong>no</strong> CGSL (Comitê <strong>de</strong> Gestão <strong>da</strong> Pesca Sustentável <strong>da</strong> Lagosta) (SCHÄRER. 2005) mostra que a frota<br />
artesanal à vela não representa um perigo <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> esforço, e sim, uma chance para recuperação dos estoques <strong>de</strong> lagosta.<br />
Graças a uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> paradigma na gestão <strong>da</strong> pesca promovi<strong>da</strong> pelos técnicos do Ibama e <strong>da</strong> SEAP (Secretária<br />
Especial <strong>de</strong> Aqüacultura e Pesca), os pescadores e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil hoje são maioria <strong>no</strong> CGSL que foi responsável para
adotar as <strong>no</strong>vas medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento que estão sendo implanta<strong>da</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007. Uma mu<strong>da</strong>nça radical<br />
se consi<strong>de</strong>rarmos que, até 1992, os pescadores artesanais e as ONGs não tinham voz nem voto na gestão <strong>da</strong> pesca <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
O amadurecimento dos pescadores artesanais, incentivado pela campanha SOS Sobrevivência – a viagem <strong>de</strong> protesto <strong>de</strong><br />
uma janga<strong>da</strong> que saiu <strong>da</strong> Prainha do Canto Ver<strong>de</strong>, chegando 74 dias <strong>de</strong>pois <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro – levou à mobilização dos<br />
pescadores para reivindicar os direitos <strong>de</strong> participar na gestão do recurso e promover a pesca responsável como um <strong>no</strong>vo<br />
paradigma, baseado <strong>no</strong> Código <strong>de</strong> Conduta para Pesca Responsável <strong>da</strong> FAO.<br />
Em outubro <strong>de</strong> 2006 os membros do CGSL aprovaram a proposta do subcomitê científico para instalar a primeira<br />
Área Marinha Protegi<strong>da</strong> em uma área <strong>de</strong> pesca comercial <strong>no</strong> litoral brasileiro. A AMP se esten<strong>de</strong>rá pelos 54 km <strong>da</strong> costa do<br />
Município <strong>de</strong> Beberibe e será integra<strong>da</strong> com a Reserva Extrativista <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Prainha do Canto Ver<strong>de</strong> que está na<br />
fase final <strong>de</strong> aprovação <strong>no</strong> recém criado Instituto<br />
Chico Men<strong>de</strong>s.<br />
Assim que, finalmente, 15 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois<br />
do início do projeto PRODETUR, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável serão implanta<strong>da</strong>s e, mais<br />
importante ain<strong>da</strong>, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do litoral estarão<br />
participando <strong>da</strong> implantação e <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong><br />
zona costeira praticando a pesca responsável e<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s complementares como o eco-turismo<br />
comunitário, a agro-ecologia, arte, cultura, artesanato<br />
e outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para complementar a<br />
ren<strong>da</strong> familiar, sempre preservando os recursos<br />
naturais do Ceará.<br />
Referências Bibliográficas:<br />
IVO, TASSITO C. C. 1996. Biologia, pesca e<br />
dinâmica Populacional <strong>da</strong>s lagostas, Doutorado<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> São Carlos, S.P.<br />
PAIVA M.P. 1976. Estudo sobre a pesca <strong>de</strong> lagostas <strong>no</strong> Ceará, durante o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1975. Arq.<br />
Ciêc.Mar,<br />
v. 16, n. 1 pp.27-30<br />
SCHÄRER, R. e RIBEIRO DE LIMA, J. A. 2005. Estudo do “esforço <strong>de</strong> pesca” na pesca<br />
<strong>da</strong> lagosta em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do litoral do Ceará<br />
43
44<br />
MANEJO “IN SITU” DO GOLFINHO-<br />
E NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL<br />
Introdução<br />
A beleza natural <strong>da</strong>s ilhas e o aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por ecoturismo em uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação fizeram com<br />
que o número <strong>de</strong> turistas em Fernando <strong>de</strong> Noronha chegasse a 90 mil visitantes por a<strong>no</strong> em 2005 e 2006, bem como que o<br />
turismo se tornasse a principal ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica <strong>da</strong> ilha. A facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar golfinhos e o carisma <strong>de</strong>stes animais<br />
transformaram a observação <strong>de</strong> golfinhos em um dos principais atrativos turísticos do Arquipélago.<br />
Apesar <strong>da</strong> legislação <strong>de</strong> proteção às uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação garantir <strong>no</strong>rmas que minimizem impactos ambientais em Fernando<br />
<strong>de</strong> Noronha, o Arquipélago vem sofrendo com o crescimento do turismo e com o fluxo <strong>de</strong> pessoas que se mu<strong>da</strong>m para<br />
ocupar os postos <strong>de</strong> serviços que são criados, o que provocou o crescimento <strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> 100% em 12 a<strong>no</strong>s.<br />
Ao mesmo tempo em que o impacto ambiental negativo do turismo é evi<strong>de</strong>nte, esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é um forte agente<br />
sensibilizador <strong>da</strong>s questões ambientais e principal ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica local. Mas, para que esta conscientização aconteça,<br />
é fun<strong>da</strong>mental que a visitação seja orienta<strong>da</strong> por condutores conscientes e capacitados, que haja uma ampla distribuição<br />
<strong>de</strong> informação, que ocorra monitoramento científico <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e que o turismo conte com a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
local.<br />
A alta freqüência <strong>de</strong> golfinhos-rotadores, a falta <strong>de</strong> informações científicas e a iminência do crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado<br />
do turismo em Fernando <strong>de</strong> Noronha levaram à criação do Projeto Golfinho Rotador em 23 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1990.
ROTADOR NO PARQUE NACIONAL<br />
DE FERNANDO DE NORONHA<br />
Dr. Oc. José Martins <strong>da</strong> Silva Júnior<br />
O Projeto Golfinho Rotador tem como missão utilizar o carisma dos golfinhos, a pesquisa científica e os recursos<br />
disponíveis para: conservar o comportamento dos golfinhos, participar com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local do <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />
<strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha, conscientizar ilhéus e visitantes sobre a questão ambiental, disseminar o uso não letal <strong>de</strong><br />
golfinhos <strong>no</strong> mundo, incentivar alternativas <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s carentes do Nor<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong> e capacitar<br />
estu<strong>da</strong>ntes <strong>no</strong> estudo <strong>de</strong> cetáceos.<br />
A PETROBRAS é o patrocinador oficial do Projeto Golfinho Rotador, que é executado pelo Centro Mamíferos<br />
Aquáticos/Instituto Chico Men<strong>de</strong>s e pelo Centro Golfinho Rotador. A Administração do Distrito Estadual <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong><br />
Noronha, a Escola Arquipélago FN e o Parque Nacional Marinho <strong>de</strong> FN fornecem apoio institucional e <strong>de</strong> infra-estrutura.<br />
O Ministério do Turismo, a Fun<strong>da</strong>ção Banco do <strong>Brasil</strong>, a Fun<strong>da</strong>ção AVINA, a VIVO Telefônica, a BOVESPA, a CVC e a<br />
Atalaia Turismo são co-patrocinadores do Projeto Golfinho Rotador.<br />
Material e Métodos<br />
Área <strong>de</strong> Estudo<br />
O Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha (3051’ Sul <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong> e 32025’ Oeste <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong>) está distante 345<br />
45
46<br />
km do Cabo <strong>de</strong> São Roque <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Norte e situa-se na altura <strong>da</strong> bifurcação <strong>da</strong> corrente Sul Equatorial, que corre<br />
<strong>no</strong> sentido oeste (IBAMA, 1990). O clima tropical apresenta duas estações pluviométricas bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s: período seco, <strong>de</strong><br />
agosto a fevereiro; e período chuvoso, <strong>de</strong> março a julho. A precipitação média anual é <strong>de</strong> 1.300 mm 3, oscilando <strong>de</strong> 500 mm 3<br />
a 2.000 mm 3 (LINSKER, 2003).<br />
O Arquipélago é constituído por uma ilha principal, Fernando <strong>de</strong> Noronha, e 17 ilhas secundárias, totalizando<br />
uma área <strong>de</strong> 26 km 2 (IBAMA, 1990). A Ilha <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha possui 17 km 2, distribuídos longitudinalmente na<br />
direção sudoeste-<strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste, formando duas faces com 11 km <strong>de</strong> extensão. A face <strong>no</strong>roeste, <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> <strong>de</strong> Mar <strong>de</strong> Dentro,<br />
fica protegi<strong>da</strong> dos ventos predominantes. No Mar <strong>de</strong> Fora, a face su<strong>de</strong>ste, o mar é mais agitado. Quase todo o litoral <strong>da</strong> Ilha<br />
é rochoso e escarpado, principalmente na face su<strong>de</strong>ste e na extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> oeste <strong>da</strong> face <strong>no</strong>roeste, on<strong>de</strong> se localiza a Baía dos<br />
Golfinhos.<br />
A Baía dos Golfinhos possui o fundo predominantemente coberto por areias vulcânicas com rochas dispersas.<br />
A profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Baía vai <strong>de</strong> 0 a 25 metros, sendo em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 15 metros <strong>no</strong> centro. As encostas são bem íngremes<br />
e a ensea<strong>da</strong> não apresenta praias <strong>de</strong> areias, apenas praias <strong>de</strong> seixos rolados, com as águas chegando direto <strong>no</strong> penhasco<br />
(ALMEIDA, 1958). A Baía dos Golfinhos é a ensea<strong>da</strong> <strong>de</strong> águas mais calmas, transparentes e profun<strong>da</strong>s do Arquipélago<br />
(SILVA-JR., 1996).<br />
Devido à sua situação geográfica singular, por possuir espécies endêmicas, concentrar um potencial genético e<br />
por recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais e internacionais, Fernando <strong>de</strong> Noronha, além <strong>de</strong> ser constituído por duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> conservação, um parque nacional e uma área <strong>de</strong> proteção ambiental, recebeu <strong>da</strong> UNESCO o título <strong>de</strong> Patrimônio Natural<br />
<strong>da</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong> (IBAMA, 1990).<br />
Fernando <strong>de</strong> Noronha possui uma combinação única <strong>de</strong> características ambientais, sociais e econômicas <strong>de</strong>correntes<br />
<strong>de</strong> ser o maior arquipélago tropical do oceânico do Atlântico Sul e coexistir com uma população <strong>de</strong> 3500 moradores<br />
e receber cerca <strong>de</strong> 90 mil visitantes por a<strong>no</strong>.<br />
Métodos<br />
Para atingir sua missão, o Projeto Golfinho Rotador segue a clássica receita <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> fauna na natureza,<br />
<strong>de</strong>senvolvendo ações <strong>de</strong> pesquisa científica, criação <strong>de</strong> legislação específica, fiscalização e monitoramento do cumprimento<br />
<strong>da</strong> legislação ambiental, educação ambiental, criação <strong>de</strong> alternativas para geração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> população associa<strong>da</strong> e envolvimento<br />
comunitário. Estas ações são executa<strong>da</strong>s por meio <strong>de</strong> dois programas, <strong>de</strong> pesquisa <strong>da</strong> história natural dos golfinhosrotadores<br />
e <strong>de</strong> envolvimento comunitário.<br />
Programa <strong>de</strong> Pesquisa<br />
O Programa <strong>de</strong> Pesquisa do Projeto Golfinho Rotador consiste <strong>no</strong> estudo <strong>da</strong> história natural dos golfinhosrotadores.<br />
Os <strong>da</strong>dos aqui apresentados foram coletados entre setembro <strong>de</strong> 1990 e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006 por meio <strong>de</strong> seis subprogramas,<br />
cujas metodologias estão <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>s em Silva-Jr. (1996) e Silva-Jr. (2005): monitoramento <strong>da</strong> Baía dos Golfinhos,<br />
estudo <strong>da</strong> ecologia comportamental, catalogação dos golfinhos, caracterização genética, estudo <strong>da</strong> interação do turismo com<br />
os golfinhos e Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Encalhes <strong>de</strong> Mamíferos Aquáticos. Também foram analisa<strong>da</strong>s 32 horas <strong>de</strong> filmagens e cerca <strong>de</strong> 10
mil fotografias do catálogo fotográfico do Projeto Golfinho Rotador, que estão arquiva<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Centro Golfinho Rotador, em<br />
Fernando <strong>de</strong> Noronha.<br />
Programa <strong>de</strong> Envolvimento Comunitário<br />
O Programa <strong>de</strong> Envolvimento Comunitário consiste em uma série <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s por meio <strong>de</strong> três subprogramas:<br />
Educação Ambiental, Capacitação Profissional e Gestão Participativa <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha.<br />
Aqui se apresentam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s entre janeiro <strong>de</strong> 2001 e julho 2007.<br />
Os cursos profissionalizantes visaram capacitar jovens <strong>no</strong>ronhenses para o mercado <strong>de</strong> ecoturismo em vagas já<br />
existentes em pousa<strong>da</strong>s, operadoras <strong>de</strong> mergulho, agências <strong>de</strong> turismo receptivo e barcos <strong>de</strong> passeio, on<strong>de</strong> predominam funcionários<br />
vindos do continente. A metodologia escolhi<strong>da</strong> para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Capacitação Profissional em Ecoturismo com<br />
os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong> Escola AFN que tinham mais <strong>de</strong> 14 a<strong>no</strong>s foi a realização <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação em profissões relaciona<strong>da</strong>s ao<br />
ecoturismo em Fernando <strong>de</strong> Noronha.<br />
Por meio <strong>da</strong> Secretaria Executiva dos Conselhos Gestores <strong>da</strong> Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental e do Parque Nacional<br />
Marinho <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha, o Projeto Golfinho Rotador participou <strong>da</strong> implementação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> com as organizações<br />
não governamentais e órgãos governamentais <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha.<br />
Resultados e discussão<br />
Programa <strong>de</strong> pesquisa<br />
Entre janeiro <strong>de</strong> 1990 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, em 13.844 horas e 26 minutos durante 2.667 dias <strong>de</strong> observação,<br />
agrupamentos <strong>de</strong> golfinhos-rotadores entraram na ensea<strong>da</strong> em 2.526 dias (94,71%). A freqüência, número <strong>de</strong> golfinhos que<br />
entrou na ensea<strong>da</strong> por dia, variou <strong>de</strong> zero a 1961 (X=314,67; DP=244,44; N=2153). Foi observado que, em dias <strong>de</strong> vento<br />
su<strong>de</strong>ste, mais golfinhos entravam na Baía dos Golfinhos e, quando o vento soprou <strong>de</strong> <strong>no</strong>rte, me<strong>no</strong>s golfinhos entraram na<br />
ensea<strong>da</strong>. Na estação chuvosa, o número <strong>de</strong> rotadores que entraram na Baía dos Golfinhos foi me<strong>no</strong>r que na estação seca.<br />
O ciclo diário <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos golfinhos em Fernando <strong>de</strong> Noronha é o seguinte: alimentação <strong>no</strong>turna, movimento matinal<br />
em direção à Baía, chega<strong>da</strong> ao nascer do sol e saí<strong>da</strong> à tar<strong>de</strong> para as zonas <strong>de</strong> alimentação.<br />
Em observações subaquáticas percebeu-se que a Baía dos Golfinhos do Parque Nacional Marinho <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha<br />
é utiliza<strong>da</strong> pelos golfinhos-rotadores como área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, reprodução, cui<strong>da</strong>do dos filhotes e refúgio a ataques <strong>de</strong> tubarões.<br />
Os golfinhos-rotadores <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha foram catalogados pelos seguintes critérios: classe etária, sexo e as marcas<br />
naturais nas na<strong>da</strong><strong>de</strong>iras e <strong>no</strong> corpo. Uma análise prévia do catálogo <strong>de</strong> foto-i<strong>de</strong>ntificação do Projeto Golfinho Rotadora<br />
obtido entre 1990 e 2006, com mais <strong>de</strong> 30 mil fotografias e 800 golfinhos-rotadores i<strong>de</strong>ntificados, permitiu as seguintes<br />
afirmações: 54% eram adultos, 25% eram sub-adultos e 21% filhotes. Dos 150 i<strong>de</strong>ntificados sexualmente, 48% eram machos<br />
e 52% fêmeas.<br />
Um total <strong>de</strong> 171 amostras foi obtido nas duas coletas <strong>de</strong> pele dos golfinhos-rotadores em Fernando <strong>de</strong> Noronha.<br />
47
48<br />
Das amostras coleta<strong>da</strong>s, um total <strong>de</strong> 100 teve o sexo <strong>de</strong>terminado; <strong>de</strong>stes, 27 foram i<strong>de</strong>ntificados como fêmeas e 73 como<br />
machos. Destes 100 golfinhos, 82 estavam incluídos entre os animais avaliados como população única.<br />
A observação <strong>de</strong> golfinhos é um dos principais atrativos turísticos do Arquipélago. Em 2006, o IBAMA registrou<br />
a ocorrência <strong>de</strong> 2.261saí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> barco para observar golfinhos <strong>no</strong> Parnamar-FN, levando ao todo 44.433 visitantes. Em 2006,<br />
em média ca<strong>da</strong> turista <strong>de</strong>sembolsou para os prestadores <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha a importância <strong>de</strong> R$ 1.000,00<br />
(um mil reais), sendo 5% (R$ 50,00) em passeio <strong>de</strong> barco e <strong>de</strong>slocamento para o Mirante dos Golfinhos. Assim, os 90 mil<br />
visitantes <strong>de</strong> 2006 injetaram na eco<strong>no</strong>mia local cerca <strong>de</strong> R$ 4.500.000,00 (quatro milhões e quinhentos mil reais) somente<br />
<strong>no</strong> turismo <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> golfinhos. Como o número <strong>de</strong> entra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> golfinhos-rotadores na Baía dos Golfinhos em 2006<br />
foi <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 163.361, ca<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> um golfinho-rotador injeta na eco<strong>no</strong>mia local cerca <strong>de</strong> R$ 27,50 (vinte e sete reais e<br />
cinqüenta centavos).<br />
Em 73,4% <strong>da</strong>s interações houve impacto visível <strong>da</strong>s embarcações sobre o comportamento dos golfinhos. Foram<br />
registra<strong>da</strong>s seis diferentes estratégias dos grupos <strong>de</strong> golfinhos nesta interação: afastamento <strong>da</strong> costa em sentido alto mar<br />
(10,64%); acompanhamento <strong>de</strong> embarcações (9,57%); divisão/dispersão do grupo (43%); mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> direção <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento<br />
(32%); maior tempo <strong>de</strong> submersão (4,25%); ou fuga em “porpoise” (2,12%).<br />
O Centro Golfinho Rotador é responsável por executar em Fernando <strong>de</strong> Noronha o “nó” oceânico <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Encalhes<br />
<strong>de</strong> Mamíferos Aquáticos do Nor<strong>de</strong>ste, que tem por finali<strong>da</strong><strong>de</strong> realizar, coor<strong>de</strong>nar e prover, em âmbito regional, estudos<br />
oriundos <strong>de</strong> resgate, reabilitação, reintrodução e soltura <strong>de</strong> mamíferos aquáticos. Entre janeiro <strong>de</strong> 1990 e julho <strong>de</strong> 2006, 30<br />
encalhes <strong>de</strong> cetáceos foram registrados <strong>no</strong> Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha, sendo 68% <strong>de</strong> golfinhos-rotadores, 13% <strong>de</strong><br />
golfinhos-pintados. Os <strong>de</strong>mais registros foram <strong>de</strong> únicos para as espécies Stenella clymene, Globicephala macrorhynchus,<br />
Pepo<strong>no</strong>cephala electra e Ziphius cavirostris. E tem dois registros <strong>de</strong> odontocetos não i<strong>de</strong>ntificados.<br />
Programa <strong>de</strong> envolvimento comunitário<br />
Entre janeiro <strong>de</strong> 2001 e julho 2007 foram realiza<strong>da</strong>s<br />
247 oficinas ambientais e 76 excursões<br />
<strong>de</strong> campo, atingindo um público total <strong>de</strong> 2.715<br />
crianças. A parte teórica dos <strong>de</strong>bates ocorreu<br />
nas salas <strong>de</strong> aula <strong>da</strong> Escola AFN.<br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram conduzi<strong>da</strong>s com linguagem<br />
e recurso didático a<strong>de</strong>quado a ca<strong>da</strong> tema<br />
e faixa etária, valorizando-se o conhecimento<br />
prévio dos participantes para promover a construção<br />
<strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> maneira significativa<br />
e com o uso <strong>de</strong> ferramentas como DVD, <strong>da</strong>ta<br />
show e internet. As excursões <strong>de</strong> campo foram<br />
feitas na Baía dos Golfinhos, <strong>no</strong> Porto Santo<br />
Antônio, <strong>no</strong> Buraco <strong>da</strong> Raquel, Praia <strong>da</strong> Atalaia<br />
e na Usina <strong>de</strong> Tratamento e <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> final do Lixo.<br />
Nos meses <strong>de</strong> janeiro e fevereiro <strong>de</strong> 2005, 2006 e 2007 o Centro Golfinho Rotador executou as campanhas <strong>de</strong><br />
Educação Ambiental <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Férias Ecológicas. As Férias Ecológicas consistiram em uma série <strong>de</strong> ações educativas
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s com estu<strong>da</strong>ntes em férias escolares. A ca<strong>da</strong> a<strong>no</strong>, 100 crianças participaram <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, dividi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo<br />
com a faixa etária.<br />
O Projeto Golfinho Rotador manteve um técnico para orientar, fornecer binóculos e distribuir “fol<strong>de</strong>rs” explicativos<br />
aos turistas, que observam os golfinhos-rotadores <strong>no</strong> Mirante dos Golfinhos pela manhã. Semanalmente, foi ministra<strong>da</strong> uma<br />
palestra sobre golfinho-rotador aos visitantes e moradores <strong>da</strong> Ilha <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong> Visitantes do IBAMA.<br />
De março <strong>de</strong> 2005 a julho <strong>de</strong> 2007 foram ministrados os seguintes cursos: Produção <strong>de</strong> Artesanato, Hotelaria, Técnicas<br />
<strong>de</strong> Ecoturismo, Marinheiro Regional <strong>de</strong> Convés, Marinheiro Regional <strong>de</strong> Máquinas, Primeiros Socorros, Condutor <strong>de</strong><br />
Mergulho Autô<strong>no</strong>mo, Condutor <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Observação <strong>de</strong> Golfinhos, Condutor <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Observação <strong>de</strong> Aves, Condutor<br />
<strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Observação <strong>de</strong> Ecossistemas Recifais, Condutor <strong>de</strong> Geoturismo, Inglês, Informática Básica, Informática<br />
Avança<strong>da</strong>, Informática Aplica<strong>da</strong>, Gestão <strong>de</strong> Restaurantes e Hotéis e Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> Atendimento ao Turismo.<br />
Em 2005 e 2006, to<strong>da</strong>s as 620 vagas ofereci<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s 14 cursos <strong>de</strong> capacitação profissional foram preenchi<strong>da</strong>s. O índice <strong>de</strong><br />
aproveitamento geral dos cursos foi <strong>de</strong> 70%, sendo assim 415 alu<strong>no</strong>s foram capacitados em ecoturismo.<br />
O Parque Nacional Marinho e a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha, duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />
fe<strong>de</strong>ral do IBAMA, são administrados sob consultoria dos seus Conselhos Gestores, que reúnem 16 instituições<br />
governamentais e 14 organizações não governamentais envolvi<strong>da</strong>s com Fernando <strong>de</strong> Noronha. O Centro Golfinho Rotador é<br />
responsável pelas Secretarias Executivas dos dois Conselhos Gestores e, não só financiou todos os trabalhos como coor<strong>de</strong><strong>no</strong>u<br />
as 39 reuniões do Conselho Gestor <strong>da</strong> APA-FN e as 24 reuniões do Conselho do Parnamar-FN.<br />
Conclusão<br />
Até on<strong>de</strong> se conhece, é na Baía dos Golfinhos do Parque Nacional Marinho <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha que ocorre a<br />
maior concentração regular <strong>de</strong> golfinhos do mundo. Este fenôme<strong>no</strong> po<strong>de</strong> estar ameaçado pelo crescimento do turismo náutico<br />
<strong>no</strong> Arquipélago, assim se fez necessário a implementação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> manejo com avaliação e monitoramento<br />
contínuos.<br />
Somente com programas contínuos <strong>de</strong> capacitação profissional <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha<br />
será possível minimizar dois graves problemas sociais e ambientais: falta <strong>de</strong> perspectiva profissional dos adolescentes e crescimento<br />
artificial acelerado pela migração <strong>de</strong> pessoas para trabalhar na ilha.<br />
Bibliografia<br />
ALMEIDA, F. F. M. Geologia e Petrologia do Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBGE, 1958. 181p.<br />
IBAMA. Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Manejo do Parque Nacional Marinho <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha. Brasília: Ibama, 1990. 253p.<br />
LINSKER, R. (Ed.). Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha: O Paraíso do Vulcão. São Paulo (SP): Terra Virgem. 2003. 167 p.<br />
SILVA-JR., J. M. Aspectos do Comportamento do Golfinho-rotador, Stenella longirotris (Gray, 1828), <strong>no</strong> Arquipélago<br />
<strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha. 1996. 131p. Dissertação (Mestrado em Ocea<strong>no</strong>grafia Biológica) – Departamento <strong>de</strong> Ocea<strong>no</strong>grafia,<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, 1996.<br />
SILVA-JR., J. M. Ecologia comportamental do golfinho-rotador (Stenella longirostris) em Fernando <strong>de</strong> Noronha. 2005.<br />
120p. Tese (Doutorado em Ocea<strong>no</strong>grafia) – Departamento <strong>de</strong> Ocea<strong>no</strong>grafia, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, 2005.<br />
Financiamento: Petrobras, AVINA, Ministério do Turismo e Instituto Chico Men<strong>de</strong>s<br />
49
50<br />
ABROLHOS: DESAFIOS PARA A PROTEÇÃO<br />
DO ATLÂNTICO SUL<br />
O Complexo dos Abrolhos (56.000 km2) constitui um alargamento <strong>da</strong> plataforma continental leste brasileira<br />
que representa o maior e mais biodiverso ecossistema coralíneo do Ocea<strong>no</strong> Atlântico Sul Oci<strong>de</strong>ntal. Seu limite <strong>no</strong>rte correspon<strong>de</strong><br />
à foz do Rio Jequitinhonha, <strong>no</strong> extremo sul do estado <strong>da</strong> Bahia (lat. 15º45’S) e o limite sul é a foz do rio Doce (lat.<br />
19º40’S), <strong>no</strong> estado do Espírito Santo. Em sua porção mais extensa, em frente à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Caravelas, o banco alcança 240<br />
quilômetros <strong>de</strong> largura (Telles 1998). No banco dos Abrolhos são encontra<strong>da</strong>s 21 <strong>da</strong>s 22 espécies <strong>de</strong> corais que ocorrem em<br />
águas brasileiras, 8 <strong>da</strong>s quais endêmicas do <strong>Brasil</strong> e 2 endêmicas <strong>da</strong> Bahia. São 266 espécies <strong>de</strong> peixes cataloga<strong>da</strong>s (Dutra et.<br />
al 2005), <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a eco<strong>no</strong>mia local. O Banco dos Abrolhos é também local <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> 7 espécies<br />
<strong>de</strong> aves marinhas e sítio <strong>de</strong> alimentação e <strong>de</strong>sova <strong>de</strong> 5 espécies <strong>de</strong> tartarugas marinhas ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção. Associa<strong>da</strong>s<br />
a este rico ecossistema coralíneo, várias espécies <strong>de</strong> crustáceos, algas, moluscos e outros organismos são encontrados na<br />
região. As baleias jubarte (Megaptera <strong>no</strong>vaeangliae) se concentram <strong>no</strong> banco dos Abrolhos durante os meses <strong>de</strong> inver<strong>no</strong> e<br />
primavera (julho a <strong>no</strong>vembro) para reprodução e cria <strong>de</strong> filhotes. Através <strong>de</strong> levantamentos aéreos e cruzeiros <strong>de</strong> pesquisa realizados<br />
com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar o tamanho <strong>da</strong> população e a distribuição dos grupos <strong>de</strong> baleias jubarte ao longo <strong>da</strong> costa<br />
brasileira, o Instituto Baleia Jubarte constatou a importância do banco dos Abrolhos como a principal área <strong>de</strong> reprodução<br />
e cria <strong>da</strong> espécie em todo o Atlântico Sul Oci<strong>de</strong>ntal, concentrando 84% <strong>da</strong> população que ocorre ao longo <strong>da</strong> costa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o Rio Gran<strong>de</strong> do Norte até São Paulo (Andriolo et al. 2005). Devido a esta extrema importância biológica, é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />
área <strong>de</strong> extrema sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental e conseqüentemente prioritária para estratégias <strong>de</strong> conservação (MMA 2004). Por<br />
este motivo, cerca <strong>de</strong> 9% <strong>de</strong>sta região é coberta por áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s (AMPs). Primeiro parque nacional marinho
DO MAIOR ECOSSISTEMA CORALÍNEO<br />
Renato Cunha 1 & Márcia H. Engel 2<br />
1 Grupo Ambientalista <strong>da</strong> Bahia (GAMBÁ)<br />
2 Instituto Baleia Jubarte (IBJ)<br />
criado <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (1983), o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos/IBAMA abrange 91.300 hectares e protege uma porção<br />
relevante <strong>de</strong>ste rico e endêmico ecossistema, na porção <strong>no</strong>rte do banco.<br />
Ameaças e ações <strong>de</strong> conservação<br />
A sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental <strong>da</strong> região a torna especialmente vulnerável a impactos antrópicos <strong>de</strong> diversas fontes.<br />
O aumento do tráfego <strong>de</strong> embarcações comerciais, a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> petrolífera, a pesca pre<strong>da</strong>tória e mais recentemente a proposta<br />
<strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> um megaprojeto <strong>de</strong> carcinicultura constituem ameaças potenciais. Por outro lado, também <strong>de</strong>vido a esta<br />
extrema sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental, a região é alvo <strong>de</strong> diversos estudos científicos e projetos <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Des<strong>de</strong> 1988, o Projeto/Instituto Baleia Jubarte atua em conjunto com o IBAMA <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas ações na região.<br />
Várias organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil como a Funatura, a FBCN e o Centro <strong>de</strong> Pesquisa e Manejo <strong>de</strong> Abrolhos e universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
contribuíram neste processo. A construção <strong>de</strong> um terminal <strong>de</strong> barcaças para transporte <strong>de</strong> eucalipto na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Caravelas, em 2001, provocou a mobilização <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong> conservação e pesquisa nesta época atuantes na região<br />
em busca <strong>da</strong> minimização dos impactos <strong>da</strong> construção do terminal e posteriormente <strong>da</strong> navegação <strong>de</strong> barcaças sobre a fauna<br />
e flora locais. A partir <strong>de</strong> 2003, a batalha pela exclusão do banco <strong>de</strong> Abrolhos <strong>da</strong> 5ª Ro<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> Licitações promovi<strong>da</strong> pela<br />
Agência Nacional <strong>de</strong> Petróleo provocou <strong>no</strong>vamente a união <strong>de</strong> várias organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, atuando em conjunto<br />
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52<br />
com o IBAMA, em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> um objetivo maior: a proteção permanente do Complexo dos Abrolhos <strong>de</strong>sta e <strong>de</strong> outras fontes<br />
<strong>de</strong> impactos antrópicos negativos na região. Assim nasceu a Coalizão S.O.S. Abrolhos, atualmente constituí<strong>da</strong> por 21 organizações<br />
ambientalistas e <strong>de</strong> pesquisa.<br />
Ameaças/ações:<br />
Tráfego <strong>de</strong> barcaças para transporte <strong>de</strong> eucalipto e celulose<br />
Em 2001, o início <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um terminal <strong>de</strong> barcaças para transporte <strong>de</strong> eucalipto na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Caravelas,<br />
<strong>no</strong> extremo sul <strong>da</strong> Bahia, preocupou os ambientalistas, pesquisadores e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral quanto aos impactos que a<br />
construção do terminal, a dragagem do principal canal <strong>de</strong> acesso marítimo e a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> navegação ofereceriam à fauna e<br />
flora locais e ao longo <strong>da</strong> rota <strong>da</strong>s barcaças. Foram realiza<strong>da</strong>s audiências públicas e os estudos <strong>de</strong> impacto ambiental elaborados<br />
pela empresa foram analisados e discutidos pelos especialistas <strong>no</strong>s ecossistemas <strong>da</strong> região. Estas análises subsidiaram<br />
tecnicamente o IBAMA e o Centro <strong>de</strong> Recursos Ambientais <strong>da</strong> Bahia (CRA), órgão ambiental <strong>da</strong> Bahia, <strong>no</strong> estabelecimento<br />
<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> condicionantes ambientais <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a minimizar os impactos potenciais <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Foram então <strong>de</strong>senvolvidos estudos do impacto <strong>de</strong> sedimentos resultantes <strong>da</strong>s dragagens sobre os corais e organismos<br />
associados e sobre a pesca <strong>de</strong> camarão e sobre os hábitos do boto cinza, que tem <strong>no</strong> estuário on<strong>de</strong> está localizado<br />
o terminal <strong>de</strong> barcaças um local importante <strong>de</strong> repouso, alimentação e reprodução. A distribuição <strong>da</strong>s baleias jubarte na
egião foi estu<strong>da</strong><strong>da</strong> e orientou o estabelecimento <strong>de</strong> rotas <strong>de</strong> navegação <strong>da</strong>s barcaças <strong>no</strong>s locais <strong>de</strong> me<strong>no</strong>r concentração <strong>da</strong><br />
espécie, minimizando os riscos <strong>de</strong> colisão e a alteração do ciclo reprodutivo <strong>de</strong>stes animais. A construção posterior <strong>de</strong> outro<br />
terminal <strong>de</strong> barcaças na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Belmonte, ao <strong>no</strong>rte <strong>de</strong>sta área, mereceu <strong>da</strong> mesma forma um estudo rigoroso do potencial<br />
<strong>de</strong> impacto <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre os organismos <strong>da</strong> região. As rotas <strong>de</strong> navegação foram igualmente estabeleci<strong>da</strong>s nas áreas <strong>de</strong><br />
me<strong>no</strong>r risco para os cetáceos, assim como o estabelecimento <strong>de</strong> um programa permanente <strong>de</strong> monitoramento <strong>de</strong> encalhes <strong>de</strong><br />
cetáceos ao longo <strong>da</strong> rota para investigar eventuais colisões e mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stes animais. O Instituto Baleia Jubarte (IBJ)<br />
atuou em parceria com o IBAMA e a <strong>Conservação</strong> Internacional do <strong>Brasil</strong> na análise dos estudos <strong>de</strong> impacto e na sugestão<br />
<strong>da</strong>s rotas me<strong>no</strong>s impactantes.<br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> petrolífera<br />
Leilão <strong>de</strong> blocos para exploração <strong>de</strong> petróleo: No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2003, as organizações ambientalistas atuantes na<br />
região <strong>de</strong> Abrolhos foram surpreendi<strong>da</strong>s com a <strong>no</strong>tícia <strong>de</strong> que uma imensa porção dos bancos <strong>de</strong> Abrolhos e Royal Charlotte<br />
seria ofereci<strong>da</strong> pela Agência Nacional <strong>de</strong> Petróleo (ANP) em leilão internacional para concessão <strong>de</strong> blocos para exploração<br />
<strong>de</strong> petróleo, durante a 5ª. Ro<strong>da</strong><strong>da</strong> e Licitações. A fim <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> padrões e discutir a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> petróleo na mais sensível e biodiversa região <strong>da</strong> costa brasileira, a <strong>Conservação</strong> Internacional e parceiros<br />
não governamentais e acadêmicos, realizaram um estudo dos impactos potenciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>rramamentos <strong>de</strong> petróleo em função<br />
<strong>da</strong> presença <strong>de</strong> organismos sensíveis (corais, peixes, cetáceos, crustáceos e outros), baseado em mapas <strong>de</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
ambiental elaborados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA 2001). O estudo, “Avaliação dos impactos potenciais <strong>da</strong> exploração<br />
e produção <strong>de</strong> hidrocarbonetos <strong>no</strong> banco dos Abrolhos e adjacências” (Marchioro et al. 2003) subsidiou uma campanha<br />
nacional e internacional <strong>de</strong> conservação. Com base <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos científicos gerados por este estudo, as ONGs CI-<strong>Brasil</strong>,<br />
Instituto Baleia Jubarte, Fun<strong>da</strong>ção SOS Mata Atlântica, Fun<strong>da</strong>ção Corallus, Núcleo <strong>de</strong> Estudos e Monitoramento Ambiental/<br />
NEMA e Birdlife <strong>Brasil</strong>, apoia<strong>da</strong>s pela chefia do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos/IBAMA, propuseram ao Gover<strong>no</strong><br />
<strong>Brasil</strong>eiro a exclusão dos 263 blocos na área dos bancos dos Abrolhos e Royal Charlotte que a Agência Nacional <strong>de</strong> Petróleo<br />
pretendia leiloar nesta 5ª Ro<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> Licitações. Foi promovi<strong>da</strong> uma campanha junto à opinião pública e a discussão passou<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica, ONGs e gover<strong>no</strong> para to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. O resultado foi a exclusão neste leilão <strong>de</strong> quase to<strong>da</strong> a<br />
área proposta. Para os leilões <strong>de</strong> 2004 e 2005, após discussão com o IBAMA e com o suporte técnico-científico <strong>da</strong>s ONGs,<br />
a ANP <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> oferecer <strong>no</strong>vamente estes blocos. A discussão <strong>de</strong>u suporte, em 2006, à criação <strong>da</strong> Zona <strong>de</strong> Amortecimento<br />
do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s iniciativas mais significativas pró-conservação marinha<br />
já realiza<strong>da</strong>s pelo gover<strong>no</strong> brasileiro, criando mecanismos para a proteção dos bancos dos Abrolhos e Royal Charlotte.<br />
Entretanto, em junho <strong>de</strong> 2007, a portaria que instituiu a Zona <strong>de</strong> Amortecimento <strong>de</strong> Abrolhos foi suspensa pela Justiça<br />
Fe<strong>de</strong>ral, aten<strong>de</strong>ndo a ações <strong>da</strong>s Prefeituras locais que alegaram que o IBAMA não é competente para estabelecer zonas <strong>de</strong><br />
amortecimento. Esta questão permanece sob análise na justiça.<br />
Levantamentos <strong>de</strong> sísmica marinha: Também em 2003, <strong>de</strong>vido às incertezas quanto aos impactos negativos<br />
dos levantamentos <strong>de</strong> sísmica marinha em cetáceos e à importância <strong>da</strong> região para o ciclo reprodutivo <strong>da</strong> população <strong>de</strong><br />
baleias jubartes do <strong>Brasil</strong> e baseado <strong>no</strong> “princípio precautório”, o IBJ propôs ao IBAMA a proibição <strong>da</strong> sísmica na Bahia e<br />
Espírito Santo durante o período reprodutivo <strong>de</strong>stas baleias, <strong>de</strong> julho a <strong>no</strong>vembro. O IBAMA concordou em incorporar esta<br />
<strong>no</strong>rma <strong>no</strong>s Guias <strong>de</strong> Licenciamento <strong>de</strong> Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Petrolíferas na Costa <strong>Brasil</strong>eira e esta <strong>de</strong>terminação permanece efetiva<br />
53
54<br />
até os dias atuais. A discussão foi estendi<strong>da</strong> a outras áreas <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> espécies ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mamíferos marinhos<br />
(Pontoporia blainvillei, Eubalaena australis, Balae<strong>no</strong>ptera e<strong>de</strong>ni e Trichechus manatus) e para cinco espécies <strong>de</strong> tartarugas<br />
marinhas <strong>no</strong> litoral brasileiro. Como resultado <strong>de</strong>sta discussão uma <strong>no</strong>va Instrução Normativa estará sendo publica<strong>da</strong> em<br />
2007 com claros benefícios para a conservação.<br />
Carcinicultura<br />
Outro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio que a Coalizão SOS Abrolhos tem enfrentado na região é evitar a instalação do maior<br />
projeto <strong>de</strong> carcinicultura do país <strong>no</strong>s principais manguezais <strong>da</strong> região dos Abrolhos. Proposto pela Cooperativa <strong>de</strong> Criadores<br />
<strong>de</strong> Camarão do Extremo Sul <strong>da</strong> Bahia (Coopex), o projeto tem uma área <strong>de</strong> 1.517 hectares <strong>de</strong> manguezais e restingas <strong>no</strong><br />
município <strong>de</strong> Caravelas. Para instalação dos criatórios <strong>de</strong> camarão serão ocupados cerca <strong>de</strong> 900 hectares. Desse total, será<br />
<strong>de</strong>smata<strong>da</strong> uma área equivalente a 800 campos <strong>de</strong> futebol <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong> restinga, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> Área <strong>de</strong> Preservação Permanente<br />
(APP) pela legislação brasileira.<br />
Segundo levantamento realizado pelo Ibama, pesquisadores <strong>da</strong> UERJ e <strong>da</strong> ONG <strong>Conservação</strong> Internacional, na<br />
área <strong>de</strong> influência <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> camarão proposta pela Coopex, vivem 1.372 pessoas, em mais <strong>de</strong> 300 famílias, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
diretamente <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s extrativistas volta<strong>da</strong>s à mariscagem, à agricultura familiar e à pesca para sobreviver. Na<br />
região dos Abrolhos, cerca <strong>de</strong> 20 mil pessoas vivem <strong>da</strong> pesca artesanal e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> ambiental dos estuários <strong>da</strong><br />
região.<br />
A área do empreendimento, localiza<strong>da</strong> entre os rios Macaco e Massanga<strong>no</strong>, é forma<strong>da</strong> por manguezais, restingas,<br />
lagoas costeiras e nascentes, consi<strong>de</strong>rados Áreas <strong>de</strong> Preservação Permanente. Na região, que foi também consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> Extrema Importância Biológica pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 2002, está em estudo a criação <strong>de</strong> uma<br />
Reserva Extrativista.<br />
Mesmo com to<strong>da</strong> importância ambiental e social <strong>da</strong> área, o Gover<strong>no</strong> <strong>da</strong> Bahia entre os a<strong>no</strong>s 2002 e 2006, vinha<br />
incentivando a instalação do projeto na região, fomentando-o junto a empreen<strong>de</strong>dores e aprovando-o <strong>no</strong> Conselho Estadual<br />
do Meio Ambiente – Cepram, conce<strong>de</strong>ndo licença ambiental, mesmo com o posicionamento contrário <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ambientalistas<br />
e do Ministério Público Estadual. O atual gover<strong>no</strong>, que tomou posse em janeiro <strong>de</strong> 2007, diferente do anterior,<br />
que apoiava incondicionalmente o empreendimento, abriu um diálogo com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, especialmente com a Coalizão<br />
SOS Abrolhos, para rever o projeto e sua viabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
As experiências com a carcinicultura em outras regiões do <strong>Brasil</strong> revelam que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> não é sustentável<br />
do ponto <strong>de</strong> vista social e ambiental. Segundo <strong>da</strong>dos do relatório do Grupo <strong>de</strong> Trabalho <strong>da</strong> Câmara dos Deputados sobre<br />
Carcinicultura, <strong>de</strong> 2005, os impactos gerados pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> incluem <strong>da</strong><strong>no</strong>s aos ecossistemas e prejuízos sociais. A modificação<br />
do fluxo <strong>da</strong>s marés, a extinção <strong>de</strong> habitats <strong>de</strong> numerosas espécies, a disseminação <strong>de</strong> doenças entre crustáceos e a<br />
contaminação <strong>da</strong> água estão entre os impactos ambientais i<strong>de</strong>ntificados. Além <strong>de</strong>stes impactos, existe ain<strong>da</strong> um alto risco <strong>de</strong><br />
introdução <strong>de</strong> uma espécie exótica <strong>de</strong> camarão (espécie alvo <strong>da</strong> carcinicultura), proveniente <strong>da</strong>s águas do Ocea<strong>no</strong> Pacífico,<br />
<strong>no</strong>s manguezais on<strong>de</strong> existem hoje camarões e outros recursos pesqueiros. O relatório também revela que com o estabeleci-
mento <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> camarão, o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> espécies, a proibição <strong>de</strong> acesso às áreas <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> mariscos e a<br />
expulsão <strong>de</strong> pescadores acarretam conflitos <strong>de</strong> terra e empobrecimento <strong>da</strong>s populações tradicionais.<br />
Segundo <strong>da</strong>dos do Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento do Turismo <strong>no</strong> Nor<strong>de</strong>ste, mais <strong>de</strong> 90% dos turistas que<br />
freqüentam o Sul <strong>da</strong> Bahia estão em busca <strong>de</strong> atrativos naturais.<br />
Em contraparti<strong>da</strong>, a Coopex promete gerar 1.500 empregos, o que está muito aquém <strong>da</strong>s projeções dos ambientalistas. Nas<br />
gran<strong>de</strong>s fazen<strong>da</strong>s do Ceará, que tem porte similar ao do empreendimento proposto, foram gerados 0,2 empregos por hectare<br />
cultivado, o que significaria pouco mais <strong>de</strong> 450 postos para o empreendimento <strong>da</strong> Coopex.<br />
O projeto encontra-se hoje suspenso pela Justiça Fe<strong>de</strong>ral, aten<strong>de</strong>ndo à pedido do Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral,<br />
conce<strong>de</strong>u uma liminar que <strong>de</strong>termina que a competência do licenciamento é do IBAMA e não do Estado <strong>da</strong> Bahia, como<br />
estava ocorrendo. Apesar <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cisão a Coopex continua apostando <strong>no</strong> projeto, preparando-se para os próximos passos do<br />
processo <strong>de</strong> licenciamento ambiental.<br />
A Coalizão SOS Abrolhos<br />
Com objetivo <strong>de</strong> ampliar uma gran<strong>de</strong> e substancial articulação em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>ste rico patrimônio ambiental, foi<br />
forma<strong>da</strong> em 2003 a Coalizão SOS Abrolhos, hoje constituí<strong>da</strong> por 21 ONGs e movimentos sociais a nível local, estadual,<br />
nacional e internacional. Já <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> seu surgimento a Coalizão SOS Abrolhos conquistou uma vitória inédita para a conservação,<br />
ao impedir a exploração <strong>de</strong> petróleo e gás natural naquela área. A Coalizão é forma<strong>da</strong> pela Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ONGs <strong>da</strong> Mata<br />
Atlântica; Fun<strong>da</strong>ção SOS Mata Atlântica; <strong>Conservação</strong> Internacional (CI-<strong>Brasil</strong>); Instituto Terramar; Grupo Ambientalista<br />
<strong>da</strong> Bahia – Gambá; Instituto Baleia Jubarte; Environmental Justice Foun<strong>da</strong>tion – EJF; Patrulha Ecológica; Associação <strong>de</strong><br />
Estudos Costeiros e Marinhos <strong>de</strong> Abrolhos - ECOMAR; Núcleo <strong>de</strong> Estudos em Manguezais <strong>da</strong> UERJ; Movimento Cultural<br />
Arte Manha; Centro <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Huma<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas; Mangrove Action Project – MAP; Coalizão<br />
Internacional <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre - IWC/BRASIL; Aquasis – Associação <strong>de</strong> Pesquisa e Preservação <strong>de</strong> Ecossistemas Aquáticos;<br />
Agência <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong> Gerenciamento Costeiro; Centro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul<br />
<strong>da</strong> Bahia – CEPEDES; PANGEA - Centro <strong>de</strong> Estudos Sócio Ambientais, Instituto Bioma <strong>Brasil</strong>, Greenpeace e Associação<br />
Flora <strong>Brasil</strong>.<br />
Para o enfrentamento <strong>da</strong>s constantes ameaças à conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Abrolhos, a Coalizão vem <strong>de</strong>senvolvendo<br />
várias estratégias <strong>de</strong> atuação visando garantir sua proteção. No campo político tem mantido contato com várias<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas estaduais e fe<strong>de</strong>rais reivindicando a suspensão ou minimização dos impactos. No campo jurídico, vem<br />
acompanhando a tramitação <strong>da</strong>s ações na Justiça. No campo técnico, realiza estudos para melhor subsidiar os argumentos a<br />
serem colocados <strong>no</strong>s diálogos com os gestores públicos e com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral. Na comunicação, vem fazendo contatos<br />
com diversos meios <strong>da</strong> imprensa escrita e televisiva, para divulgar ca<strong>da</strong> vez mais a importância <strong>de</strong> Abrolhos e as ameaças<br />
que estão ocorrendo, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver campanhas <strong>de</strong> mobilização social para envolver um maior número <strong>de</strong> pessoas<br />
nesta luta. Atualmente a Coalizão está à frente <strong>da</strong> Campanha “SOS Abrolhos: Pescadores e Manguezais Ameaçados”.<br />
55
56<br />
Desafios e perspectivas<br />
A busca <strong>de</strong> um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro <strong>de</strong>senvolvimento sustentável está na or<strong>de</strong>m do dia <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as agen<strong>da</strong>s, dos gover<strong>no</strong>s,<br />
dos empresários e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, e se torna imperioso <strong>de</strong>finir políticas públicas consoantes com este caminho. Transformações<br />
planetárias vêm ocorrendo, como as mu<strong>da</strong>nças climáticas provoca<strong>da</strong>s pela emissão <strong>de</strong> combustíveis fósseis e<br />
queima<strong>da</strong>s, que precisam ser enfrenta<strong>da</strong>s para reverter o grau <strong>de</strong> ameaça que envolve a vi<strong>da</strong> <strong>no</strong> planeta.<br />
Iniciativas sustentáveis, como uma revisão <strong>no</strong>s padrões <strong>de</strong> produção e consumo, para torná-los ambientalmente sustentáveis<br />
e socialmente justos, <strong>de</strong>vem estar na agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma governança ambiental internacional.<br />
Um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para o <strong>Brasil</strong> precisa ser repensado para que incorpore os conceitos <strong>de</strong> justiça<br />
social e ambiental e priorize iniciativas que garantam a proteção dos diversos biomas brasileiros, ricos em biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado projetos como as usinas nucleares, a transposição do rio São Francisco e a ampliação <strong>da</strong> fronteira agrícola<br />
para a floresta amazônica.<br />
A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ssas práticas <strong>de</strong>ve ser feita com ampla participação e controle social. Um arcabouço institucional<br />
na área ambiental e a transversali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong>vem ser fortalecidos para que a questão ambiental não seja apenas uma<br />
figura <strong>de</strong> retórica.<br />
Na região <strong>de</strong> Abrolhos, o fortalecimento <strong>da</strong> gestão do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, <strong>da</strong>ndo condições<br />
estruturais e <strong>de</strong> recursos para uma melhor gestão e proteção, constitui uma priori<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser estabeleci<strong>da</strong> pelo Ministério<br />
do Meio Ambiente e pelo recém-criado Instituto Chico Men<strong>de</strong>s. Complementando a reestruturação do Parque, a criação<br />
<strong>da</strong> Reserva Extrativista <strong>de</strong> Cassurubá, para <strong>da</strong>r uma maior garantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento huma<strong>no</strong> para cerca <strong>de</strong> 20.000<br />
pescadores e marisqueiras que vivem na região, precisa ser viabiliza<strong>da</strong> com a maior brevi<strong>da</strong><strong>de</strong>, aten<strong>de</strong>ndo a uma <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local.<br />
A Coalizão SOS Abrolhos estará atenta a to<strong>da</strong>s estas questões para que possa contribuir para a proteção <strong>de</strong>ste<br />
importantíssimo patrimônio <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, priorizando a sua vocação natural. Isto somente será possível através <strong>da</strong> valorização<br />
<strong>da</strong> cultura local, <strong>da</strong> busca <strong>de</strong> soluções para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> pesca artesanal com mecanismos mais sustentáveis<br />
e do turismo ecológico ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente aplicado à conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> regional.
Agra<strong>de</strong>cimentos: Agra<strong>de</strong>cemos a Guilherme Dutra, <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> Internacional (CI-<strong>Brasil</strong>)<br />
pelo apoio na preparação <strong>de</strong>ste documento e a todos os membros <strong>da</strong> Coalizão S.O.S. Abrolhos pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalharmos<br />
integrados pela conservação efetiva do complexo dos Abrolhos. O Instituto Baleia Jubarte é patrocinado pela<br />
Petrobras. Márcia Engel e Renato Cunha são apoiados pela Fun<strong>da</strong>ção Avina.<br />
Referências:<br />
Andriolo, A.,Kinas, P. G.; Engel, M. H. & Martins, C. C. A. Monitoring humpback whale (Megaptera <strong>no</strong>vaeangliae) population<br />
in the Brazilian breeding ground, 2002 to 2005. Working Paper (SC/58/SH15) apresentado na Reunião Anual <strong>da</strong><br />
International Whaling Commission, St. Kitts and Nevis. 1998.<br />
Dutra, G.F., G.R. Allen, T. Werner, and S. A. McKenna (Eds.). 2005. A Rapid Marine Biodiversity Assessment of the Abrolhos<br />
Bank, Bahia, Brazil. RAP Bulletin of Biological Assessment 38. Conservation International, Washington, DC, USA.<br />
Marchioro, G.B., M.A. Nunes, G.F. Dutra, R.L. Moura & P.G.P. Pereira. 2006. Avaliação <strong>de</strong> impactos <strong>da</strong> exploração e<br />
produção <strong>de</strong> hidrocarbonetos <strong>no</strong> Banco dos Abrolhos e Adjacências. Megadiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> 2: 225-310.<br />
Ministério do Meio Ambiente. 2002. Avaliação e ações prioritárias para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s zonas costeira<br />
e marinha. 157 pp.<br />
Ministério do Meio Ambiente. 2004. Avaliação e i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s áreas e ações prioritárias para a conservação dos biomas<br />
brasileiros. 300 pp.<br />
Telles, M. D. 1998. Mo<strong>de</strong>lo trofodinâmico dos recifes em franja do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos – Bahia. Dissertação<br />
<strong>de</strong> Mestrado. Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> (FURG), Ocea<strong>no</strong>grafia Biológica. Rio Gran<strong>de</strong>, RS, <strong>Brasil</strong>, 150 p.<br />
57
58<br />
ATIVIDADES DE MERGULHO COMO<br />
EM ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS:<br />
O mergulho como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> turística em áreas<br />
naturais<br />
O mergulho recreacional é uma <strong>da</strong>s principais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s com o turismo em Áreas Marinhas Protegi<strong>da</strong>s<br />
(AMPs), que tem apresentado maior crescimento na última déca<strong>da</strong> apesar <strong>da</strong> crise econômica mundial. Associado ao<br />
aumento <strong>da</strong> populari<strong>da</strong><strong>de</strong> do turismo em áreas naturais, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> mergulho mais confiáveis<br />
e <strong>de</strong> custo me<strong>no</strong>s elevado, assim como <strong>de</strong> câmeras fotográficas e filmadoras (caixas estanque) subaquáticas digitais com<br />
mais facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização e edição, têm contribuído substancialmente para a difusão do mergulho e <strong>da</strong> fotografia e ví<strong>de</strong>o<br />
subaquáticos.<br />
O turismo <strong>de</strong> mergulho tem números significativos: segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Associação <strong>Brasil</strong>eira <strong>da</strong>s Empresas <strong>de</strong><br />
Turismo (2005), a indústria do mergulho movimenta anualmente 540 milhões <strong>de</strong> dólares em ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> equipamentos mundialmente<br />
e mais <strong>de</strong> 1 bilhão <strong>de</strong> dólares por a<strong>no</strong> em viagens e turismo. No <strong>Brasil</strong>, existem 65 mil mergulhadores realizando<br />
pelo me<strong>no</strong>s 12 mergulhos por a<strong>no</strong> e a ca<strong>da</strong> a<strong>no</strong> são formados <strong>no</strong>vos 15 mil mergulhadores.<br />
Embora o mergulho seja visto como uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>no</strong>fensiva ao ambiente marinho, os seus impactos passaram
FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO<br />
AVANÇOS E DESAFIOS<br />
Mabel Augustowski<br />
Centro <strong>de</strong> Estudos para a <strong>Conservação</strong> Marinha – CEMAR<br />
Coor<strong>de</strong>nadora Executiva<br />
a ser observados já <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90 com o reconhecimento <strong>de</strong> que, se sua prática for além dos limites sustentáveis po<strong>de</strong> causar<br />
sérios <strong>da</strong><strong>no</strong>s, alguns irreparáveis, ao ambiente marinho 1 . Diversos impactos resultantes <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s recreativas em recifes<br />
<strong>de</strong> coral foram <strong>de</strong>scritos por Salm et al. (2000) em publicação organiza<strong>da</strong> pela União Mundial para a Natureza (IUCN -<br />
The World Conservation Union) direciona<strong>da</strong> ao planejamento e manejo <strong>de</strong> AMPs marinhas e costeiras. De forma mais<br />
abrangente os impactos sobre diferentes ambientes marinhos, suas implicações sócio-econômicas nas AMPs e parâmetros<br />
para avaliação <strong>da</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do seu manejo passaram a ser amplamente discutidos buscando-se meios <strong>de</strong> difundir a informação<br />
e obter maior participação dos diferentes setores envolvidos 2 . Os ambientes insulares se <strong>de</strong>stacam nesse processo,<br />
pois as ilhas são mais procura<strong>da</strong>s para a prática do mergulho <strong>de</strong>vido à transparência <strong>de</strong> suas águas – que aumenta proporcionalmente<br />
à distância em relação ao continente - e às características conseqüentemente peculiares <strong>de</strong> sua fauna e flora, ao<br />
passo que os ecossistemas insulares são também mais frágeis em razão do seu isolamento.<br />
O mergulho po<strong>de</strong> ser praticado <strong>de</strong> várias formas, mas como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> turística não-extrativa (isto é, que não retira<br />
recursos naturais do ambiente) há duas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s principais: o “s<strong>no</strong>rkelling”/mergulho livre e o mergulho autô<strong>no</strong>mo.<br />
1 Dixon et al., 1993; Davis & Tis<strong>de</strong>ll 1995, 1996; Harriot et al., 1997, 2002; Hawkins et al. 1999; Monsalve, 1996.<br />
2 Pomeroy et al., 2004.<br />
59
60<br />
O primeiro utiliza apenas equipamento básico, mantendo-se principalmente na superfície com <strong>de</strong>sci<strong>da</strong>s rápi<strong>da</strong>s até em média<br />
3m <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Já o mergulho autô<strong>no</strong>mo (ou SCUBA - “Self Contained Un<strong>de</strong>rwater Breathing Apparatus”) utiliza<br />
sistemas que permitem a permanência do mergulhador em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>s maiores por uma ou mais horas, sendo os mais<br />
simples os cilindros <strong>de</strong> ar comprimido.<br />
O “alerta-geral” iniciado <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90 sobre os impactos gerados pelas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mergulho, fez com que<br />
algumas AMPs fossem fecha<strong>da</strong>s para essa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, muitas vezes gerando conflitos e falta <strong>de</strong> diálogo entre os responsáveis<br />
pelas AMPs, os empresários do turismo e os profissionais do mergulho. Entretanto, o mergulho recreacional é também enfocado<br />
como uma <strong>da</strong>s principais ferramentas <strong>de</strong> envolvimento do visitante com a AMP e com os valores não-materiais <strong>da</strong><br />
conservação em ambientes marinhos. De maneira similar ao que ocorre em trilhas terrestres, o mergulho recreacional – e<br />
particularmente o mergulho autô<strong>no</strong>mo – permite uma relação direta do visitante com o meio natural, oferecendo momentos<br />
<strong>de</strong> introspecção que estimulam os sentidos e a consciência corporal, ao mesmo tempo em que se <strong>de</strong>senvolve uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
física saudável sob a superfície <strong>da</strong> água, intercala<strong>da</strong> com a sociabilização a bordo <strong>da</strong>s embarcações <strong>de</strong> acesso à AMP - ou na<br />
própria AMP quando o <strong>de</strong>sembarque é possível. Além disso, a captação <strong>de</strong> imagens através <strong>da</strong> fotografia e ví<strong>de</strong>o subaquáticos<br />
tem efeito multiplicador, pois levam também ao público não-mergulhador o acesso visual indireto sobre o ambiente<br />
marinho e a beleza cênica do ecossistema, colaborando para a conscientização sobre a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser protegi<strong>da</strong>.<br />
Por outro lado, os principais impactos <strong>de</strong>correntes do mergulho como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> turística po<strong>de</strong>m ser tanto diretos<br />
como indiretos:<br />
- Impactos diretos: <strong>de</strong>correm <strong>da</strong> interação do mergulhador com a biota marinha, principalmente causados pelo<br />
pisoteio, manipulação, bati<strong>da</strong>s com as na<strong>da</strong><strong>de</strong>iras e outras partes do equipamento (reguladores, mangueiras, etc.).<br />
- Impactos indiretos: po<strong>de</strong>m ser tanto subaquáticos – por exemplo, resultantes <strong>da</strong> ressuspensão <strong>de</strong> sedimentos –<br />
como resultantes <strong>da</strong> operação (ex.: os impactos oriundos do tráfego e fun<strong>de</strong>io <strong>de</strong> embarcações, uso <strong>de</strong> motores, poluição por<br />
resíduos oleosos, contaminação por lançamento <strong>de</strong> matéria orgânica, etc.). De forma ampla, o conjunto <strong>de</strong> impactos resulta<br />
em um mal-funcionamento dos processos ecológicos e na ruptura <strong>de</strong> vínculos fun<strong>da</strong>mentais para os ciclos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Efeitos<br />
sociais também <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados, como por exemplo, a extrapolação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte <strong>da</strong> área <strong>de</strong> mergulho,<br />
isto é, a sobrecarga <strong>de</strong> mergulhadores <strong>no</strong> local, que prejudica a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> visitação e o nível <strong>de</strong> satisfação do visitante.<br />
A evolução do mergulho como prática <strong>de</strong> turismo<br />
sustentável e responsável<br />
Diante <strong>da</strong> constatação dos impactos e os conflitos gerados pela carência <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> manejo, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> regulamentações para a prática do mergulho recreacional em AMPs tor<strong>no</strong>u-se uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> iminente. Ain<strong>da</strong><br />
<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90, surgiram regulamentos em algumas AMPs isola<strong>da</strong>mente, mas mesmo após o a<strong>no</strong> 2000 não havia ain<strong>da</strong>, em<br />
nível mundial, um padrão mínimo <strong>de</strong> diretrizes para o mergulho.<br />
Um marco nesse processo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> foi a realização do Workshop “Diretrizes para o Mergulho Recreacional em<br />
Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>”, realizado em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2001, <strong>no</strong> Parque Estadual <strong>da</strong> Ilha Anchieta-Ubatuba, SP-<strong>Brasil</strong> 3 ,<br />
3 Uma realização <strong>de</strong>: PROILHAS/Instituto Florestal/SMA, Fun<strong>da</strong>ção Florestal/SMA, FBEM (Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasil</strong>eira <strong>da</strong>s Empresas <strong>de</strong> Mergulho),<br />
Grupo Marinho <strong>da</strong> UICN-CMAP/<strong>Brasil</strong> (União Mundial pela Natureza – Comissão Mundial <strong>de</strong> Áreas Protegi<strong>da</strong>s/<strong>Brasil</strong>), Associação<br />
Cunhambebe <strong>da</strong> Ilha Anchieta.
que reuniu representantes governamentais fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais, diretores dos principais parques marinhos sulamerica<strong>no</strong>s,<br />
representantes <strong>de</strong> ONGs nacionais e internacionais, pesquisadores, empresários e representantes <strong>de</strong> certificadoras<br />
<strong>de</strong> mergulho. Naquele evento, foi elabora<strong>da</strong> a “Carta <strong>da</strong> Ilha Anchieta para o Mergulho Recreacional em Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Conservação</strong>” , documento aprovado em consenso e que contém diretrizes e recomen<strong>da</strong>ções que constituem a base para a<br />
elaboração <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas em nível nacional e internacional4 .<br />
As diretrizes resultantes têm sido utiliza<strong>da</strong>s em diferentes instrumentos <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmatização, tais como cre<strong>de</strong>nciamento<br />
<strong>de</strong> operadores <strong>de</strong> mergulho do Parque Estadual Marinho <strong>da</strong> Laje <strong>de</strong> Santos5 , pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> manejo, bases gerais para<br />
visitação em Áreas Protegi<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>6 e na regulamentação <strong>da</strong> prática do mergulho na Reserva Marinha <strong>de</strong> Galápagos,<br />
Equador7. Foram também gera<strong>da</strong>s bases para capacitação <strong>de</strong> profissionais, que conduziram à realização do 1º Curso <strong>de</strong> Capacitação<br />
<strong>de</strong> Monitores Ambientais Subaquáticos, organizado pelo Parque Estadual Marinho <strong>da</strong> Laje <strong>de</strong> Santos, em 20038 .<br />
Através <strong>da</strong>quele curso, realizado em parceria com as empresas operadoras <strong>de</strong> mergulho, dive-masters e instrutores <strong>de</strong> mergulho<br />
adquiriram conhecimentos sobre processos ecológicos, aspectos físicos, químicos, biológicos e geológicos do Parque,<br />
formas <strong>de</strong> relacionamento com o visitante, legislação ambiental e formas <strong>de</strong> encaminhamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias ao Ministério<br />
Público, práticas interpretativas e <strong>de</strong> educação ambiental, além <strong>de</strong> primeiros-socorros, treinamento <strong>de</strong> flutuabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e segurança<br />
dos equipamentos e <strong>da</strong> embarcação.<br />
Campanhas <strong>de</strong> boas práticas têm surgido em diversos locais, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como em outros países. Os estudos<br />
têm se aprofun<strong>da</strong>do, buscando meios mais precisos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar limites para a visitação em áreas <strong>de</strong> mergulho e para<br />
avaliar e monitorar as alterações causa<strong>da</strong>s pelos impactos sobre a biota marinha. No Parque Nacional Galápagos, Equador,<br />
foi obtido um financiamento do Banco Interamerica<strong>no</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento (BID) para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um Programa<br />
<strong>de</strong> Manejo Ambiental que incluiu o Projeto <strong>de</strong> Pesquisa para o Manejo do Turismo <strong>de</strong> Mergulho durante o período 2004-<br />
20059 , que abrangia o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metodologia para <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte e levantamento <strong>da</strong> biota<br />
e mapeamento <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> mergulho em 74 sítios <strong>de</strong> visitação marinhos, seguido <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> boas práticas e bases<br />
para a elaboração do regulamento <strong>de</strong> mergulho. A iniciativa teve apoio <strong>de</strong> operadores <strong>de</strong> mergulho e <strong>de</strong> ONGs.<br />
Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais simples <strong>de</strong> facilitar o contato do público comum com a biota marinha têm sido <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s através<br />
<strong>da</strong> implantação <strong>de</strong> trilhas subaquáticas. Entretanto, o conceito <strong>de</strong> trilha ain<strong>da</strong> não está muito claro, pois enquanto em alguns<br />
locais as trilhas subaquáticas são um meio efetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver práticas interpretativas e <strong>de</strong> educação ambiental,<br />
promovendo mecanismos <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> instrutores e monitores e gerando alternativas <strong>de</strong> trabalho, há ain<strong>da</strong> trilhas que<br />
são apenas <strong>de</strong>marca<strong>da</strong>s como áreas <strong>de</strong> interesse para o mergulho turístico, sem um componente específico <strong>de</strong> orientação,<br />
monitoria e monitoramento.<br />
Contudo, o nível <strong>de</strong> conscientização do público que pratica o mergulho autô<strong>no</strong>mo sobre a importância <strong>de</strong> preservar<br />
o ecossistema marinho é hoje visivelmente mais elevado do que há <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s atrás, e a facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação por<br />
meios digitais tem colaborado na multiplicação e difusão dos princípios <strong>da</strong> conservação. Estão abertos, portanto, os canais<br />
para o diálogo entre os diferentes setores envolvidos nessa prática.<br />
4 Augustowski & Francine, 2002.<br />
5 D.O.E, Portaria do Diretor Geral do Instituto Florestal, Secretaria do Meio Ambiente/SP, 2002.<br />
6 Ministério do Meio Ambiente, Secret. Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e Florestas, DAP, 2006. Diretrizes para Visitação em Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>. 70p. (Áreas Protegi<strong>da</strong>s do<br />
<strong>Brasil</strong>, 3).<br />
7 Registro Oficial <strong>de</strong> Ecuador, 2005.<br />
8 Augustowski, M. Arquivos do Parque Estadual Marinho <strong>da</strong> Laje <strong>de</strong> Santos.<br />
9 Proyecto <strong>de</strong> Investigación para el Turismo <strong>de</strong> Buceo en la Reserva Marina <strong>de</strong> Galápagos. Programa <strong>de</strong> Manejo Ambiental <strong>de</strong> las Islas Galápagos. Proyecto MAE/<br />
PNG/BID – 1274/DC-EC.<br />
61
62<br />
Os <strong>de</strong>safios<br />
atuais<br />
O que resta fazer então? O <strong>de</strong>safio<br />
<strong>de</strong> tornar o mergulho uma prática<br />
<strong>de</strong> turismo efetivamente sustentável e<br />
compatível com a conservação do ecossistema<br />
marinho esbarra <strong>no</strong>vamente na<br />
fragmentação <strong>da</strong>s ações governamentais.<br />
Ain<strong>da</strong> são muito poucos os países lati<strong>no</strong>america<strong>no</strong>s<br />
em que se obtém apoio governamental para amparar a prática do mergulho em legislação nacional, como ocorreu<br />
na Reserva Marinha <strong>de</strong> Galápagos, Equador em 2005. Ain<strong>da</strong> assim, a efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> legislação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> dotação <strong>de</strong><br />
recursos huma<strong>no</strong>s, logísticos e financeiros para a sua implantação, fiscalização, divulgação e monitoramento.<br />
Alguns países passaram a buscar meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir padrões mínimos para as operações <strong>de</strong> mergulho e amparálos<br />
em mecanismos <strong>de</strong> certificação. Entretanto, esses mecanismos têm tido enfoque maior na operação <strong>de</strong> mergulho como<br />
prática turística (aspectos <strong>de</strong> segurança, capacitação mínima, características <strong>da</strong>s embarcações) do que na conservação,<br />
que é trata<strong>da</strong> em paralelo. A capacitação <strong>de</strong> guias e monitores <strong>de</strong> mergulho, por exemplo, <strong>de</strong>ve abranger padrões mínimos<br />
também para o nível <strong>de</strong> conhecimento sobre a biota e os processos ecológicos marinhos.<br />
Há muito se sabe que as Áreas Marinhas Protegi<strong>da</strong>s são o mecanismo mais efetivo para a conservação, pois além <strong>de</strong> reservas<br />
<strong>de</strong> áreas livres <strong>de</strong> impactos são também núcleos <strong>de</strong> ação para a proteção, conservação e educação e para o manejo do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento turístico. Entretanto, as AMPs ain<strong>da</strong> carecem <strong>de</strong> recursos para serem efetivas e a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas<br />
tem se mostrado exponencialmente <strong>de</strong>crescente nas últimas 2 déca<strong>da</strong>s, principalmente <strong>no</strong> que se refere às Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Conservação</strong> <strong>de</strong> Proteção Integral (<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Reservas Biológicas, Parques, Estações Ecológicas).<br />
Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, estamos muito mais <strong>de</strong>fasados em relação à veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> habitats do que somente pela criação<br />
<strong>de</strong> <strong>no</strong>vas AMPs: <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, por exemplo, a maioria <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação marinhas e costeiras cria<strong>da</strong>s há mais <strong>de</strong><br />
10 a<strong>no</strong>s ain<strong>da</strong> não possui pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo nem sua caracterização sócio-ambiental minimamente conheci<strong>da</strong>. Desse modo,<br />
teme-se que o impacto do turismo marinho possa <strong>de</strong>struir o que ain<strong>da</strong> nem se conhece cientificamente . Além disso, o<br />
monitoramento e controle <strong>de</strong> impactos gerados pelo turismo somente po<strong>de</strong> gerar bons resultados se houver prevenção <strong>de</strong><br />
outros impactos <strong>de</strong> forma eficiente, tais como a pesca ilegal, poluição, exploração mineral, impactos so<strong>no</strong>ros, implantação<br />
<strong>de</strong> equipamentos industriais como plataformas e dutos e outros.<br />
Portanto, para a efetivação do mergulho como prática <strong>de</strong> turismo sustentável e responsável em AMPs, algumas<br />
ações são recomendáveis em diferentes níveis: 1) <strong>no</strong> âmbito governamental, é preciso criar um setor específico que trate<br />
<strong>da</strong> visitação pública em AMPs, que atue coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>mente com setores equivalentes <strong>no</strong>s níveis estadual e municipal. 2) as<br />
ações <strong>de</strong>vem ser integra<strong>da</strong>s com as instituições representativas do mergulho (certificadoras) e <strong>de</strong> profissionais do mergulho<br />
que atuam <strong>no</strong> turismo. 3) <strong>de</strong>vem ser gerados mecanismos <strong>de</strong> regulamentação para os profissionais do turismo <strong>de</strong> mergulho.<br />
4) todos os processos <strong>de</strong> regulamentação e certificação <strong>de</strong>vem contar com a participação <strong>de</strong> órgãos ambientais e instituições<br />
não governamentais atuantes em conservação marinha. 5) <strong>de</strong>vem ser criados mecanismos <strong>de</strong> incentivo à realização <strong>de</strong> pesquisas<br />
científicas aplica<strong>da</strong>s ao manejo do turismo em AMPs que abranjam aspectos bio-ecológicos e sócio-econômicos.<br />
E, finalmente, é fun<strong>da</strong>mental sobretudo que se <strong>de</strong>dique vonta<strong>de</strong> política para dotar as AMPs dos recursos que
elas necessitam para um manejo efetivo, garantindo ações <strong>de</strong> proteção e conservação alia<strong>da</strong>s a um sólido embasamento<br />
técnico-científico, e <strong>de</strong>dicando às AMPs a serie<strong>da</strong><strong>de</strong> e a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira visão <strong>da</strong> repartição dos benefícios que elas provêem.<br />
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63
64<br />
OS PINÍPEDES NO SUL DO BRASIL: UMA<br />
Integrantes <strong>da</strong> CLASSE MAMMALIA e <strong>da</strong> ORDEM CARNIVORA, o grupo dos Pinípe<strong>de</strong>s reúne os leõesmarinhos,<br />
lobos-marinhos, focas e morsas. São 35 espécies viventes, distribuí<strong>da</strong>s em 3 famílias distintas, Phoci<strong>da</strong>e (19<br />
espécies), Odobeni<strong>da</strong>e (1 espécie) e Otarii<strong>da</strong>e (15 espécies) (Basti<strong>da</strong> et al., 2007). Os Pinípe<strong>de</strong>s constituem um grupo <strong>de</strong><br />
mamíferos aquáticos a<strong>da</strong>ptados à vi<strong>da</strong> aquática e terrestre. Das sete espécies que ocorrem <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o leão-marinho-do-sul<br />
(Otaria flavescens) e o lobo-marinho-do-sul (Arctocephalus australis) são as mais freqüentes. O lobo-marinho-subantártico<br />
(Arctocephalus tropicalis) e o elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina) são espécies ocasionais. O lobo-marinho-antártico<br />
(Arctocephalus gazella), a foca-caranguejeira (Lobodon carci<strong>no</strong>phagus) e a foca-leopardo (Hydrurga leptonyx) tem<br />
ocorrência rara (Silva, 2004).<br />
A Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> é uma ciência que trata <strong>da</strong> escassez e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos recursos vivos e ecossistemas.<br />
Abor<strong>da</strong> essas questões <strong>de</strong> forma multidisciplinar, por consi<strong>de</strong>rar que a integração criativa <strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong>s ciências<br />
naturais, sociais e políticas é essencial para implantar medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> proteção dos sistemas naturais on<strong>de</strong> o homem faz parte<br />
<strong>da</strong> paisagem. Na maioria dos casos, trata <strong>de</strong> problemas quantitativos, quando um ecossistema, habitat, espécie ou população<br />
estão sujeitos a algum tipo <strong>de</strong> limitação artificial, geralmente uma redução <strong>de</strong> espaço ou número (Soulé, 1986). Diferente<br />
<strong>da</strong>s ciências biológicas tradicionais, a Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> busca quebrar as barreiras entre a ciência pura e aplica<strong>da</strong>,<br />
propondo a integração <strong>da</strong>s experiências profissionais dos pesquisadores e gestores em problemas <strong>de</strong> conservação. Além<br />
disso, valoriza a contribuição <strong>de</strong> profissionais não-biologistas, reconhecendo que em muitos casos, as ciências sociais, a<br />
eco<strong>no</strong>mia e a política têm mais influência na conservação ou per<strong>da</strong> <strong>de</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> do que as Ciências Biológicas. E, por
EXPERIÊNCIA DE BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO<br />
Kleber Grübel <strong>da</strong> Silva - Sergio Curi Estima - Danielle Monteiro<br />
Projeto Mamíferos Marinhos do Litoral Sul – NEMA¹<br />
fim, em contraste com a concepção conservacionista tradicional, que se apóia em conceitos econômicos e filosóficos utilitaristas,<br />
a Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> reconhece o valor intrínseco <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> (Meffe & Carrol 1997a).<br />
Outra diferença marcante <strong>da</strong> “ciência <strong>no</strong>rmal” é que a Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> li<strong>da</strong> com problemas <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> provisória,<br />
<strong>no</strong>s quais são raras as situações em que se permite gastar tempo testando to<strong>da</strong>s as hipóteses relevantes, pois é imperativo<br />
tomar importantes <strong>de</strong>cisões, antes <strong>de</strong> se ter <strong>da</strong>dos suficientes que suportem completamente a <strong>de</strong>cisão, pois os riscos <strong>da</strong> nãoação<br />
po<strong>de</strong>m ser maiores do que uma ação ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> (Soulé, 1986). Meffe & Carrol (1997a) consi<strong>de</strong>ram a Biologia <strong>da</strong><br />
<strong>Conservação</strong> como uma resposta <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica à crise ambiental planetária. Seu <strong>de</strong>safio é aplicar os princípios<br />
<strong>da</strong> ecologia, biogeografia, genética <strong>de</strong> populações, eco<strong>no</strong>mia, sociologia, antropologia, filosofia e outras disciplinas <strong>de</strong> base<br />
teórica integrando-as e aplicando-as na prática para a manutenção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> planetária.<br />
Um dos projetos <strong>de</strong> conservação do NEMA¹, o Projeto Mamíferos Marinhos do Litoral Sul, foi iniciado em<br />
1988. Em 1991, estabeleceu um acordo <strong>de</strong> cooperação técnica com o IBAMA e implantou o Programa <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong><br />
e Manejo dos Pinípe<strong>de</strong>s, tendo como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s principais: fomentar a integração institucional <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> pesquisa que<br />
trabalham com a conservação dos Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; captar recursos para avaliar continuamente o status <strong>de</strong> conservação<br />
dos Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; monitorar os Refúgios <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> RS e na região costeira adjacente (censos, impactos e mor-<br />
¹ O Núcleo <strong>de</strong> Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA) é uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> priva<strong>da</strong> sem fins lucrativos. Cria<strong>da</strong> em em 1985 <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>-RS, tem como missão<br />
institucional harmonizar a relação do ser huma<strong>no</strong> com o seu ambiente. Entre seus principais objetivos, estão: <strong>de</strong>senvolver a consciência conservacionista nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
costeiras através <strong>da</strong> educação ambiental, e planejar e executar projetos que visem o conhecimento e o uso a<strong>de</strong>quado dos ambientes costeiros e marinhos.<br />
65
66<br />
Leões-marinhos, Otaria flavescens <strong>no</strong> Refúgio <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre (REVIS) do Molhe Leste<br />
tali<strong>da</strong><strong>de</strong>); realizar esforços para a implantação efetiva e gestão dos Refúgios <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre <strong>da</strong> Ilha dos Lobos (Torres-<br />
RS) e do Molhe Leste (São José do Norte-RS); orientar o manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s encalhados nas praias brasileiras (resgate e<br />
reintrodução); e realizar continuamente ações <strong>de</strong> educação ambiental junto às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s envolvi<strong>da</strong>s. Para a consecução<br />
<strong>de</strong>ssas ações, o Programa estabeleceu parcerias com instituições públicas e priva<strong>da</strong>s, que apoiam financeira, logística ou<br />
institucionalmente a execução <strong>de</strong> projetos específicos.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que, na Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> a tradução <strong>da</strong> teoria em prática é indispensável, e com base <strong>no</strong><br />
conhecimento gerado durante 15 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> pesquisa com Pinípe<strong>de</strong>s, relatamos as experiências práticas multidisciplinares realiza<strong>da</strong>s<br />
para minimizar os impactos e melhorar o estado <strong>de</strong> conservação dos Pinípe<strong>de</strong>s que utilizam o litoral sul do <strong>Brasil</strong>.<br />
Ações <strong>de</strong> conservação<br />
Pesquisas como subsídios para a conservação: O Projeto vem <strong>de</strong>senvolvendo sistematicamente estudos sobre<br />
a dinâmica populacional dos Pinípe<strong>de</strong>s, gerando mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> leões e lobos-marinhos <strong>no</strong>s Refúgios do <strong>Brasil</strong><br />
(Ilha dos Lobos e Molhe Leste²) e na região costeira do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Foram também realiza<strong>da</strong>s estimativas populacionais<br />
e <strong>de</strong> consumo alimentar <strong>da</strong>s duas espécies <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s mais freqüentes <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (O. flavescens e A. australis).<br />
Avaliações <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> interação com a pesca, e impactos antrópicos nas praias e Refúgios<br />
são realiza<strong>da</strong>s periodicamente. Os resultados são processados, avaliados e disponibilizados imediatamente para as instituições<br />
competentes <strong>de</strong> gestão e conservação dos mamíferos aquáticos.<br />
Criação <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>: De posse <strong>da</strong>s recomen<strong>da</strong>ções e indicações <strong>de</strong> vários pesquisadores para<br />
a criação <strong>de</strong> uma Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> para a proteção dos leões-marinhos <strong>no</strong> Molhe Leste (Pinedo, 1986; Rosas, 1989;<br />
2 Ilha dos Lobos: é a única ilha marinha <strong>da</strong> costa gaúcha, localiza<strong>da</strong> a 2 km <strong>da</strong> <strong>de</strong>sembocadura do Rio Mampituba, <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Torres –<br />
RS, é uma Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> Fe<strong>de</strong>ral, cria<strong>da</strong> em 1986 e recategoriza<strong>da</strong> em 2005 sob o status <strong>de</strong> Refúgio <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre (REVIS).<br />
Molhe Leste: é um dique <strong>de</strong> pedras com cerca <strong>de</strong> 4 km <strong>de</strong> extensão, o qual foi construído juntamente com o Molhe Oeste para fixar o canal<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembocadura <strong>da</strong> Lagoa dos Patos, que dá acesso ao Porto do Rio Gran<strong>de</strong>. Na porção final do Molhe Leste está localizado o REVIS do<br />
Molhe Leste.
Santos & Messias 1990a) a equipe do projeto elaborou um documento técnico que <strong>de</strong>finiu a categoria Refúgio <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre,<br />
do Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> (SNUC) como a mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, e propôs a criação <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Devido a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a competência multi-institucional <strong>de</strong> manejo <strong>da</strong> área para a navegação, segurança, gestão territorial<br />
e ambiental, inúmeras negociações com o IBAMA, Marinha, Prefeitura <strong>de</strong> São José do Norte e Superintendência dos<br />
Portos foram necessárias à implementação do Refúgio. Após os ajustes e concordância <strong>de</strong> todos os órgãos, foi envia<strong>da</strong> uma<br />
minuta <strong>de</strong> lei para a criação do Refúgio ao prefeito <strong>de</strong> São José do Norte. O Refúgio <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre do Molhe Leste <strong>da</strong><br />
Barra do Rio Gran<strong>de</strong> foi criado oficialmente através <strong>da</strong> Lei Municipal <strong>no</strong>. 007 <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1996.<br />
Elaboração e Implantação <strong>de</strong> Medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Mitigação <strong>de</strong> Impactos: Durante o período <strong>de</strong>ste trabalho, aconteceram<br />
duas gran<strong>de</strong>s obras <strong>no</strong> Molhe Leste. A primeira, ocorri<strong>da</strong> <strong>no</strong> período <strong>de</strong> 1995 a 1998, teve como objetivo a recuperação<br />
<strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong> do mesmo e a alteração <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> sua extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A segun<strong>da</strong> obra, inicia<strong>da</strong> em<br />
2001 (e que se encontra paralisa<strong>da</strong>), prevê a ampliação <strong>de</strong> 500 m <strong>da</strong> porção final do Molhe Leste. Através <strong>da</strong> parceria com<br />
o Departamento dos Portos (Ministério <strong>de</strong> Transportes) e com o consórcio construtor <strong>da</strong> obra, e com o acompanhamento<br />
do Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral, foram elaborados e executados para as duas obras projetos <strong>de</strong> mitigação e monitoramento<br />
dos impactos dos empreendimentos <strong>no</strong>s leões-marinhos <strong>no</strong> Refúgio do Molhe Leste. Os projetos contemplaram ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> monitoramento do impacto <strong>da</strong>s obras sobre os leões-marinhos; monitoramento <strong>da</strong>s ocorrências <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> REVIS<br />
<strong>da</strong> Ilha dos Lobos e <strong>no</strong> litoral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul; realização <strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> educação ambiental para operários e<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral; e implantação <strong>de</strong> estruturas físicas (rampas <strong>de</strong> acesso, coroamento inter<strong>no</strong> <strong>de</strong> pedras <strong>no</strong> vão central<br />
do Molhe Leste e interdição temporária do Molhe Oeste). Os projetos <strong>de</strong> mitigação apresentaram sucesso uma vez que os<br />
leões-marinhos estabeleceram um <strong>no</strong>vo equilíbrio <strong>de</strong> uso <strong>no</strong> refúgio, a<strong>da</strong>ptando-se bem aos tetrápo<strong>de</strong>s e à <strong>no</strong>va morfologia<br />
<strong>da</strong> extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> do molhe.<br />
Educação Ambiental: Consi<strong>de</strong>rando a educação ambiental como uma ação eficaz para a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> visão e<br />
atitu<strong>de</strong>s do homem em relação ao seu meio, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental são componentes permanentes do Projeto.<br />
Essas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s conforme as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
temporárias ou permanentes <strong>da</strong> conservação dos Pinípe<strong>de</strong>s e<br />
seus ambientes associados. As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental<br />
realiza<strong>da</strong>s durante o período <strong>de</strong> 1993 a 2007 tiveram como<br />
objetivo: divulgar conhecimentos sobre os Pinípe<strong>de</strong>s e os seus<br />
Refúgios <strong>no</strong> sul do <strong>Brasil</strong>; minimizar os principais problemas<br />
que afetam diretamente os leões-marinhos <strong>no</strong> sul do <strong>Brasil</strong> o<br />
conflito com os pescadores os distúrbios <strong>no</strong>s Refúgios (visitação<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> e obras) e o contato fortuito entre pessoas<br />
e Pinípe<strong>de</strong>s na praia. Para tal foram elabora<strong>da</strong>s e executa<strong>da</strong>s<br />
campanhas com metodologias e ações específicas para Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
Costeiras, Pescadores e Operários.<br />
Manejo A<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s: Todos os a<strong>no</strong>s<br />
ocorrem registros <strong>de</strong> encalhes <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s na costa do <strong>Brasil</strong>,<br />
Lobo-marinho, Arctocephalus australis na praia.<br />
principalmente nas praias do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Quando esses animais aparecem próximos a regiões habita<strong>da</strong>s ou com<br />
gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> pessoas, em geral, há uma forte sensibilização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que tenta <strong>de</strong> alguma forma aju<strong>da</strong>r o animal.<br />
Após várias experiências <strong>de</strong> manejo, foram elaborados e divulgados os procedimentos básicos para um manejo a<strong>de</strong>quado<br />
<strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s. Atualmente, esses procedimentos são adotados através <strong>da</strong> parceria entre o Programa <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e<br />
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68<br />
Manejo dos Pinípe<strong>de</strong>s (NEMA/IBAMA) e o Centro <strong>de</strong> Recuperação <strong>de</strong> Animais Marinhos (FURG), e são difundidos para<br />
instituições e grupos que trabalham com resgate e manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
Capacitação <strong>de</strong> Profissionais: A formação <strong>de</strong> profissionais capazes <strong>de</strong> trabalhar integrados entre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
teóricas e práticas necessárias para os projetos <strong>de</strong> conservação é essencial para ampliar e <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> aos projetos <strong>de</strong><br />
conservação <strong>da</strong> fauna marinha e seus ecossistemas, na costa brasileira. Durante este período, foram capacitados <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
técnicos e estagiários em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que tiveram como principal foco a conservação <strong>de</strong> mamíferos marinhos. A capacitação<br />
envolveu a elaboração <strong>de</strong> documentos científicos, a realização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> monitoramento e pesquisa, organização e<br />
planejamento, manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s, integração com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e atores sociais, educação ambiental, interpretação <strong>de</strong><br />
legislação, implantação e gestão <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e elaboração <strong>de</strong> projetos e captação <strong>de</strong> recursos.<br />
Planejamento Estratégico <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>: As ações <strong>de</strong> planejamento estratégico <strong>de</strong> longo prazo são as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> acompanhamento e colaboração na confecção <strong>de</strong> documentos oficiais sobre as políticas públicas <strong>de</strong> conservação<br />
<strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s. Nesse contexto, enquadra-se a elaboração pelo IBAMA do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação para os Mamíferos Aquáticos do<br />
<strong>Brasil</strong>, que tem como objetivo elaborar o pla<strong>no</strong> global <strong>de</strong> pesquisa e conservação para mamíferos aquáticos que ocorrem<br />
<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; a realização, em parceria com o IBAMA, em 2003, do I Encontro <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e Manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong><br />
<strong>Brasil</strong>, com a presença <strong>de</strong> 35 técnicos e pesquisadores <strong>de</strong> 27 grupos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> 9 estados brasileiros; e a participação na<br />
REMASUL, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> encalhes <strong>de</strong> mamíferos do sul do <strong>Brasil</strong>, que objetiva a implementação <strong>de</strong> ações integra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />
na costa Sul do <strong>Brasil</strong>.<br />
O estado <strong>de</strong> conservação dos pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
Os eventos climáticos que ocorrem na <strong>no</strong>ssa região (El Niño e tempesta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inver<strong>no</strong>) po<strong>de</strong>m influenciar a<br />
freqüência e o cro<strong>no</strong>grama <strong>de</strong> aparecimento <strong>da</strong>s espécies <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s. Porém, se comparados com os efeitos observados<br />
nas populações <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s do Pacífico Sul, não ocorrem impactos naturais significativos que gerem alterações populacionais<br />
nas espécies <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s que ocorrem <strong>no</strong> Litoral do RS. A espécie que parece ter mais sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> é o lobo-marinhodo-sul<br />
(Arctocephalus australis), pois esses fenôme<strong>no</strong>s climáticos po<strong>de</strong>m aumentar a freqüência <strong>de</strong> encalhes <strong>de</strong> filhotes<br />
<strong>de</strong>bilitados e mortos nas praias (Silva, 2004).<br />
A presença <strong>de</strong> doenças associa<strong>da</strong>s às populações <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s do litoral do <strong>Brasil</strong> ain<strong>da</strong> é uma incógnita, pois<br />
existem poucos trabalhos <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> diag<strong>no</strong>sticá-las, tanto em animais mortos como vivos. O grau <strong>de</strong> importância <strong>da</strong>s<br />
doenças como causadoras <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s e<br />
a potencial transmissão <strong>da</strong>s mesmas para outras espécies<br />
e huma<strong>no</strong>s precisa ser melhor investigados.<br />
Atualmente, a questão <strong>da</strong> caça não afeta os Pinípe<strong>de</strong>s<br />
que ocorrem na costa brasileira. Os registros <strong>de</strong> abate<br />
intencional <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s, freqüentes <strong>no</strong> século passado<br />
na Ilha dos Lobos, hoje estão restritos aos conflitos<br />
específicos <strong>da</strong> pesca, principalmente porque, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />
os mamíferos aquáticos são protegidos por fortes<br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> educação ambiental do Projeto Mamíferos Marinhos do Litoral Sul,<br />
com distribuição dos ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s escolares dos Pinípe<strong>de</strong>s para as crianças.<br />
instrumentos legais. Entre estes, po<strong>de</strong>mos citar a Portaria<br />
<strong>da</strong> SUDEPE <strong>no</strong>. 11, <strong>de</strong> 21/02/1986, que proibe a
perseguição, caça, pesca ou captura <strong>de</strong> peque<strong>no</strong>s Cetáceos, Pinípe<strong>de</strong>s e Sirênios em águas jurisdicionais brasileiras e a Lei<br />
<strong>no</strong>. 9605, <strong>de</strong> 12/02/98 (Lei dos Crimes Ambientais), que consi<strong>de</strong>ra crime contra a fauna matar, perseguir, caçar, apanhar<br />
ou utilizar espécimes <strong>da</strong> fauna silvestre, nativas ou em rota migratória, sem a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> permissão, licença ou autorização,<br />
bem como modificar, <strong>da</strong>nificar ou <strong>de</strong>struir ninhos, abrigos ou criadouros naturais. É importante salientar que o Uruguai e<br />
a Argentina adotam legislação semelhante à do <strong>Brasil</strong>, não permitindo o abate ou a comercialização <strong>de</strong> produtos oriundos<br />
<strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s, uma vez que a maioria <strong>da</strong>s espécies que utilizam a costa brasileira é oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong>sses<br />
países vizinhos. Esse fato reforça a importância e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer estratégias <strong>de</strong> proteção compartilha<strong>da</strong>s entre<br />
os países, em especial com o Uruguai e a Argentina.<br />
A espécie <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong> mais impacta<strong>da</strong> por ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s antrópicas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é o leão-marinho-do-sul Otaria flavescens,<br />
que tem uma intensa mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>vido às interações com a pesca. Essas interações ocorrem em to<strong>da</strong> a área <strong>de</strong><br />
sua distribuição (Ocea<strong>no</strong> Pacífico e Atlântico), e são <strong>de</strong> difícil solução. Apesar dos estudos realizados não <strong>de</strong>monstrarem<br />
uma tendência <strong>de</strong> redução populacional ou diminuição <strong>da</strong> ocupação dos Refúgios pela espécie, é necessária uma ação mais<br />
intensa <strong>de</strong> fiscalização junto aos barcos <strong>de</strong> pesca e pescadores, associa<strong>da</strong> a campanhas <strong>de</strong> conscientização específicas para<br />
esse público-alvo.<br />
Carvalho et al. (1996), estu<strong>da</strong>ndo as interações dos leões-marinhos com a pesca <strong>no</strong> litoral do RS, observaram que<br />
as interações são mais intensas <strong>no</strong>s meses <strong>de</strong> inver<strong>no</strong> e primavera, e na pesca artesanal que ocorre nas regiões mais próximas<br />
aos Refúgios. Descrevem ain<strong>da</strong> que os pescadores ten<strong>de</strong>m a superestimar os prejuízos causados pelos leões-marinhos.<br />
Com base <strong>no</strong>s estudos realizados consi<strong>de</strong>ram-se as interações entre leões-marinhos e a pesca como um efeito inerente a<br />
essa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> antrópica. Como Otaria flavescens é um pre<strong>da</strong>dor <strong>de</strong> topo que se distribui somente em regiões costeiras com<br />
gran<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira, essa espécie é um competidor natural do mesmo recurso.utilizado pela pesca. Devemos<br />
consi<strong>de</strong>rar ain<strong>da</strong> os <strong>de</strong>sequilíbrios tróficos que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira provoca, principalmente a pesca <strong>de</strong> arrasto, disponibilizando<br />
milhares <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> peixe em forma <strong>de</strong> rejeito e modificando o comportamento natural <strong>da</strong> espécie, induzindo o<br />
aprendizado <strong>da</strong>s populações <strong>de</strong> leões-marinhos ao acesso à comi<strong>da</strong> fácil. Baseado nestes argumentos e <strong>no</strong> peque<strong>no</strong> número<br />
relativo <strong>de</strong> leões-marinhos que ocupam a costa, adota-se aqui a conclusão <strong>de</strong> Szteren & Paez (2000), que cita que a eco<strong>no</strong>mia<br />
do setor artesanal seria mais influencia<strong>da</strong> por fatores como a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s populações <strong>de</strong> peixes; a competição em<br />
nível <strong>de</strong> mercado com a pesca industrial; e a alteração dos fundos marinhos <strong>de</strong>vido à pesca <strong>de</strong> arrasto, do que a interação<br />
com os leões-marinhos. To<strong>da</strong>via, estudos específicos <strong>da</strong>s interações entre os Pinípe<strong>de</strong>s e a pesca são necessários. Segundo<br />
Crespo et al (1996), esses estudos necessitam ser realizados sob um enfoque ecossistêmico, analisando as interações operacionais<br />
(<strong>da</strong><strong>no</strong>s à arte; captura <strong>de</strong> mamíferos presos) e interações específicas ou ecológicas (o uso comum dos recursos; e<br />
a transmissão <strong>de</strong> parasitas), bem como incluir a combinação simultânea <strong>de</strong> aspectos operacionais e específicos, culturais e<br />
socioeconômicos dos lugares on<strong>de</strong> as interações acontecem.<br />
A questão <strong>da</strong> poluição ain<strong>da</strong> não se faz <strong>no</strong>tar como impacto significativo <strong>no</strong>s Pinípe<strong>de</strong>s que ocorrem <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />
como o impacto dos resíduos portuários e <strong>de</strong>rrame <strong>de</strong> hidrocarbonetos observados por Lorenzani et al. (1990), Paez & Bonis<br />
(1998) e Salas et al. (2000) <strong>no</strong> Uruguai e Argentina. Porém, há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção aos possíveis impactos nas populações,<br />
<strong>de</strong>vido a aci<strong>de</strong>ntes com <strong>de</strong>rrames <strong>de</strong> substâncias químicas (petróleo, ácidos, etc...) principalmente junto aos leõesmarinhos<br />
que ocupam o Molhe Leste, próximo à região portuária <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>. Como pre<strong>da</strong>dores <strong>de</strong> topo, esse grupo<br />
tem especial capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bioacumular pestici<strong>da</strong>s e metais pesados. Concentrações expressivas <strong>de</strong>sses poluentes já foram<br />
encontra<strong>da</strong>s em várias espécies que ocorrem <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Esse fato gera preocupação e indica a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do monitoramento<br />
<strong>de</strong>ssa contaminação, em especial os DDTs, PCBs e metais pesados. O aumento <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong>sses poluentes po<strong>de</strong> afetar<br />
a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> população, diminuindo a imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e o potencial reprodutivo <strong>da</strong>s espécies.<br />
69
70<br />
Atualmente, os dois únicos Refúgios <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s do <strong>Brasil</strong> estão protegidos em forma <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>.<br />
Com isso, observou-se um aumento efetivo <strong>da</strong> proteção dos leões e lobos-marinhos e a redução dos impactos<br />
antrópicos nesses locais. Porém, há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a eficiência do manejo <strong>de</strong>ssas Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>. No<br />
caso do Refugio <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre <strong>da</strong> Ilha dos Lobos, é urgente a elaboração <strong>de</strong> seu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo, como forma <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar<br />
as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas que ocorrem <strong>no</strong> seu entor<strong>no</strong>. No caso do REVIS do Molhe Leste, é preciso monitorar a continui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> obra <strong>de</strong> ampliação, a possível re<strong>de</strong>finição dos limites <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e a posterior elaboração <strong>de</strong> seu pla<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong> manejo. Estudos específicos junto à Ilha dos Lobos em Laguna-SC, <strong>de</strong>vem ser realizados para avaliar a importância do<br />
local para os Pinípe<strong>de</strong>s e a viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transformá-la em área protegi<strong>da</strong>.<br />
A questão do manejo ina<strong>de</strong>quado dos Pinípe<strong>de</strong>s que aparecem <strong>de</strong>bilitados e/ou doentes nas praias, apesar <strong>de</strong><br />
não se constituir em um problema que afete as espécies do ponto <strong>de</strong> vista populacional, constitui-se em um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />
operacional e estrutural, uma vez que ocorrem freqüentes encalhes <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s em <strong>no</strong>ve estados brasileiros (Silva, 2004).<br />
Em muitos <strong>de</strong>sses estados, não existem estruturas operacionais organiza<strong>da</strong>s, capazes <strong>de</strong> recuperar e reintroduzir as espécies<br />
E um agravante, as reintroduções que são feitas in loco têm poucas chances <strong>de</strong> sucesso, porque estão muito longe dos sítios<br />
<strong>de</strong> origem <strong>de</strong>sses animais (<strong>de</strong>scanso ou reprodução). As experiências <strong>de</strong> manejo conheci<strong>da</strong>s indicam a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />
trabalho integrado entre as instituições, a implantação <strong>de</strong> um protocolo <strong>de</strong> procedimentos comum e a implantação <strong>de</strong> centros<br />
<strong>de</strong> reabilitação regionais com infra-estrutura e recursos huma<strong>no</strong>s capazes <strong>de</strong> executar o resgate, recuperação e reintrodução<br />
<strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />
Atualmente, são poucos os Pinípe<strong>de</strong>s que se encontram em cativeiro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Normalmente, são animais resgatados<br />
para serem recuperados e acabam ficando por a<strong>no</strong>s em exposição pública, em aquários, zôos, ou em outras estruturas.<br />
Há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar bem claro que os objetivos e protocolos requeridos para a recuperação <strong>de</strong> animais são muito diferentes<br />
dos procedimentos para a manutenção em cativeiro. A prática <strong>da</strong> manutenção <strong>de</strong> animais em cativeiro para simples<br />
exposição pública <strong>de</strong>ve ser bani<strong>da</strong>. Os animais que permanecerem em cativeiro, por motivos científicos, <strong>de</strong>verão ser acompanhados<br />
periodicamente, bem como avalia<strong>da</strong> a significância dos conhecimentos científicos produzidos durante o período<br />
do cativeiro. Por fim, há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer cumprir a Portaria do Ministério do Meio Ambiente <strong>no</strong>. 98 <strong>de</strong> 14/04/2000, que<br />
estabelece as <strong>no</strong>rmas para a manutenção <strong>de</strong> mamíferos aquáticos em cativeiro.<br />
Consi<strong>de</strong>rações a respeito <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> conservação<br />
A criação <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s é um dos principais instrumentos usados em Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> para atingir<br />
o seu principal objetivo: a proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Devido à característica antrópica multifuncional do Molhe Leste, a<br />
criação <strong>de</strong> uma área protegi<strong>da</strong> <strong>no</strong> local só foi possível porque o seu processo <strong>de</strong> criação contemplou os diferentes usos <strong>da</strong><br />
área e envolveu todos os segmentos na gestão. O processo <strong>de</strong> criação do REVIS do Molhe Leste encaixa-se <strong>no</strong> que Meffe<br />
& Carrol (1997b) consi<strong>de</strong>ram: os motivos biológicos (proteção <strong>de</strong> ecossistemas, conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e proteção<br />
<strong>de</strong> espécies-alvo) não são os únicos aspectos para a criação <strong>de</strong> reservas, seus efeitos antropológicos e culturais, bem como<br />
influências econômicas e políticas também precisam ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s. Devido à existência <strong>de</strong> apenas dois Refúgios <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s<br />
<strong>no</strong>s cerca <strong>de</strong> 8.000 km <strong>de</strong> costa do litoral brasileiro, a criação <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> não foi uma ação essencial<br />
para a proteção dos Pinípe<strong>de</strong>s na costa brasileira.<br />
A implantação <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s mitigadoras dos impactos <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> recuperação e ampliação do Molhe Leste, caracterizou-se<br />
como um caso típico <strong>da</strong> Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong>, pois lidou com um problema <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> provisória, on<strong>de</strong>
foi imperativo tomar <strong>de</strong>cisões importantes antes <strong>de</strong> ter <strong>da</strong>dos suficientes que suportem completamente a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> que os<br />
riscos <strong>da</strong> não-ação po<strong>de</strong>riam ser maiores do que uma ação ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> (Soulé, 1986). Pelas características do processo,<br />
po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar os três componentes principais do manejo <strong>de</strong>scritos por Carrol & Meffe (1997), ou seja, foi <strong>de</strong>finido o<br />
ecossistema como a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manejo, foi estabelecido um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> manejo flexível e a<strong>da</strong>ptativo e foram envolvidos os<br />
principais segmentos interessados na toma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões.<br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental realiza<strong>da</strong>s entre 1993 e 2007, para todos os segmentos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
mostraram-se eficientes na divulgação dos conhecimentos sobre os Pinípe<strong>de</strong>s e seus ecossistemas, bem como <strong>no</strong> envolvimento<br />
dos diversos segmentos contatados para a i<strong>de</strong>ntificação e busca <strong>de</strong> soluções dos problemas ambientais. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
do público-alvo ou <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> realiza<strong>da</strong>, todos os participantes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental sentiram-se<br />
valorizados e se mostraram receptivos aos conhecimentos disponibilizados e ávidos por contribuir com o seu conhecimento<br />
pessoal. Através <strong>da</strong> mídia <strong>de</strong> massa, milhões <strong>de</strong> pessoas tiveram acesso a informações sobre a ecologia dos Pinípe<strong>de</strong>s.<br />
Através <strong>de</strong> campanhas específicas, centenas <strong>de</strong> pescadores tomaram conhecimento sobre as leis <strong>de</strong> proteção dos Pinípe<strong>de</strong>s<br />
e discutiram as interações com a pesca. Através <strong>da</strong>s palestras, exposições e apresentação <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os, milhares <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s litorâneas do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul pu<strong>de</strong>ram conhecer e valorizar um pouco mais seu ambiente e os mamíferos<br />
marinhos. Apesar <strong>da</strong> difícil medição dos seus efeitos, consi<strong>de</strong>ra-se a educação ambiental como uma ação eficaz para a mu<strong>da</strong>nça<br />
<strong>da</strong> visão e atitu<strong>de</strong>s do homem em relação ao seu meio ambiente, e que po<strong>de</strong> gerar ações/soluções <strong>de</strong> harmonia para<br />
os problemas ambientais. É nesse sentido que Jakobson (1997) consi<strong>de</strong>ra que a educação é uma ferramenta essencial em<br />
todos os esforços <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> natureza e que as estratégias efetivas <strong>de</strong> conservação precisam incorporar estratégias <strong>de</strong><br />
comunicação e educação que possam mu<strong>da</strong>r o comportamento e as atitu<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s pessoas perante os recursos naturais.<br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> conseguir recuperar alguns animais que apareceram <strong>de</strong>bilitados<br />
na costa do <strong>Brasil</strong>, serviram para estabelecer e implantar procedimentos a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> resgate, recuperação e reintrodução<br />
<strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s. Albare<strong>da</strong> (2000) alerta que os encalhes <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s em setores <strong>de</strong>nsamente povoados gera na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
local ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> e expectativas, o que muitas vezes se traduz em intervenções particulares, com riscos para o operador e para<br />
o animal. Como a maioria dos animais <strong>de</strong>bilitados é <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, estas experiências serviram para estabelecer<br />
um relacionamento mais próximo com as pessoas leigas e como oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> orientação e conscientização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Um dos principais problemas <strong>da</strong> efetivação <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong> Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong> é disponibilizar profissionais<br />
capacitados a realizar essa tarefa. Meffe & Carrol (1997a) <strong>de</strong>screvem que os gestores precisam ser mais do que bons<br />
biólogos, eles necessitam ter capacitação e experiência em ecologia, eco<strong>no</strong>mia, sociologia, antropologia e filosofia para conseguirem<br />
a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma visão completa <strong>de</strong> manejo do mundo. Os profissionais capacitados para trabalhar com conservação<br />
e manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s tiveram um aprendizado pragmático, apren<strong>de</strong>ndo a elaborar as ações <strong>de</strong> conservação através do<br />
acompanhamento <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do projeto, e buscando conceitos através <strong>da</strong> bibliografia científica. Hoje, executam<br />
projetos <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> natureza em uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> não-governamental (NEMA) e <strong>no</strong> gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral (IBAMA). As sugestões<br />
elabora<strong>da</strong>s referentes às priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong> conservação dos Pinípe<strong>de</strong>s foram avalia<strong>da</strong>s pelo Grupo Temático<br />
<strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Mamíferos Aquáticos e incorpora<strong>da</strong>s ao Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>de</strong> Mamíferos Aquáticos (Fase I e II),<br />
e hoje orientam as ações prioritárias à conservação <strong>de</strong>ssas espécies <strong>no</strong> País. A realização do I Encontro <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e<br />
Manejo dos Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> possibilitou a integração <strong>de</strong> instituições que trabalham com estas espécies em todo o país, e<br />
alavancou processos importantes para implementar ações <strong>de</strong> conservação dos Pinípe<strong>de</strong>s, como a formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
encalhes, a sistematização <strong>de</strong> protocolos <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s e orientou a recategorização <strong>da</strong> Reserva Ecológica <strong>da</strong> Ilha<br />
dos Lobos como Refúgio <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre.<br />
71
72<br />
Da responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção e conservação<br />
dos pinípe<strong>de</strong>s<br />
A competência institucional para fazer cumprir as leis <strong>de</strong> proteção dos Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é do IBAMA (Instituto<br />
<strong>Brasil</strong>eiro dos Recursos Naturais Re<strong>no</strong>váveis e do Meio Ambiente), que é o órgão executor <strong>da</strong>s políticas públicas do Ministério<br />
do Meio Ambiente. Esse órgão tem se aprimorado <strong>no</strong> cumprimento <strong>de</strong>ssas funções ao longo do tempo, implantando<br />
Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>, pla<strong>no</strong>s estratégicos e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> encalhes. No entanto, há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a fiscalização,<br />
principalmente <strong>no</strong>s conflitos entre pescadores e leões-marinhos. Consi<strong>de</strong>rando ain<strong>da</strong> que os Pinípe<strong>de</strong>s e a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
<strong>Brasil</strong>, como um todo, representam um bem comum e Patrimônio <strong>da</strong> União, é <strong>de</strong> competência do Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral<br />
o acompanhamento <strong>da</strong> tarefa do IBAMA, <strong>de</strong>vendo agir <strong>de</strong> forma complementar, com a colaboração <strong>da</strong> Polícia Fe<strong>de</strong>ral<br />
na implementação <strong>da</strong>s leis correspon<strong>de</strong>ntes. Esses órgãos têm se mostrado atuantes e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia, principalmente <strong>no</strong><br />
acompanhamento dos impactos aos Pinípe<strong>de</strong>s nas Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> (REVIS Molhe Leste e REVIS Ilha dos Lobos)<br />
e na averiguação <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s nas praias. Quanto à contribuição dos especialistas <strong>no</strong> processo<br />
<strong>de</strong> conservação dos mamíferos marinhos, o assunto é polêmico. Enquanto alguns consi<strong>de</strong>ram que os pesquisadores <strong>de</strong>vem<br />
apenas se envolver com as questões científicas e acadêmicas, outros consi<strong>de</strong>ram que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> aos<br />
mamíferos aquáticos <strong>de</strong>veria se dispor a exercer uma função mais comprometi<strong>da</strong> com os problemas <strong>de</strong> conservação relacionados<br />
com a <strong>de</strong>struição irreversível dos ecossistemas marinhos mundiais (Campagna, 2000). Segundo Campagna (1996),<br />
os especialistas não são as pessoas que realmente ditam o futuro <strong>da</strong>s espécies que estu<strong>da</strong>m, principalmente porque as investigações<br />
raramente estão bem <strong>de</strong>senha<strong>da</strong>s para resolver problemas <strong>de</strong> conservação, e os resultados quase nunca permitem<br />
encontrar as causas imediatas do problema. Segundo Vie<strong>de</strong>rman et al. (1997), outro segmento importante <strong>no</strong>s processos <strong>de</strong><br />
conservação <strong>da</strong> natureza são as organizações não-governamentais, que muitas vezes fornecem uma janela para o mundo<br />
real para os cientistas, representam o pensamento <strong>da</strong>s pessoas que <strong>no</strong>rmalmente não são ouvi<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s <strong>de</strong>bates, e analisam os<br />
resultados dos pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ação, sintetizando-os e difundindo-os para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral. Nesse contexto, <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>stacado<br />
o importante e crescente papel <strong>da</strong>s ONGs ambientalistas <strong>no</strong> cenário <strong>da</strong> conservação do <strong>Brasil</strong>, que através <strong>de</strong> ações<br />
coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>spertam a consciência conservacionista <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral, pressionam os órgãos governamentais<br />
a executar suas tarefas e ain<strong>da</strong> estabelecem parcerias institucionais (acordos, convênios, projetos) para apoiar a execução<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> competência dos órgãos executores governamentais. Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong>,<br />
Vie<strong>de</strong>rman et al. (1997) consi<strong>de</strong>ram que o número <strong>de</strong> instituições que têm envolvimento direto com as ações <strong>de</strong> conservação<br />
<strong>de</strong>termina o sucesso ou a falha em alcançar os objetivos, <strong>de</strong>stacando ain<strong>da</strong> que as instituições educacionais e <strong>de</strong> pesquisa,<br />
órgãos governamentais <strong>de</strong> todos os níveis, enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s não governamentais, empresários, consumidores, instituições legais e<br />
religiosas e mídia têm um importante papel na promoção <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> natureza. A maioria <strong>da</strong>s ações realiza<strong>da</strong>s neste<br />
trabalho só foi possível <strong>de</strong>vido à participação e integração <strong>de</strong> vários segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ratificando as afirmações<br />
<strong>de</strong>ste autor. Vie<strong>de</strong>rman et al (1997) consi<strong>de</strong>ram que avançar <strong>da</strong> exatidão <strong>da</strong> ciência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus aspectos tradicionais e sua<br />
forma conheci<strong>da</strong>, para o complicado mundo <strong>da</strong> política, do planejamento e <strong>da</strong> administração pública é difícil para muitos.<br />
Porém, o cientista <strong>de</strong>ve também <strong>de</strong>sempenhar seu papel <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dão e seu objetivo não <strong>de</strong>ve ser somente criar conhecimento,<br />
mas garantir que o conhecimento seja usado para proteger os seus objetos <strong>de</strong> estudo, as espécies e ecossistemas do mundo.<br />
Outrossim, adotando a concepção <strong>da</strong> Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong>, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> dos pesquisadores perante
às questões do mundo real, consi<strong>de</strong>rando que a criação <strong>de</strong> conhecimento em conservação só tem utili<strong>da</strong><strong>de</strong> quando ele é<br />
transformado em ações <strong>de</strong> manejo. Ressalta-se ain<strong>da</strong> a importância <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na formação <strong>de</strong> profissionais capazes<br />
<strong>de</strong> realizar projetos <strong>de</strong> pesquisa compatíveis com as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação e, <strong>de</strong>ssa maneira, influenciar diretamente<br />
o futuro <strong>da</strong>s espécies que estu<strong>da</strong>m.<br />
Mapa <strong>de</strong> localização dos Refúgios <strong>de</strong> Pinípe<strong>de</strong>s<br />
<strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
Arroio<br />
Chuí<br />
Rio<br />
Gran<strong>de</strong><br />
Porto Alegre<br />
REVIS<br />
Molhe Leste<br />
Cabo <strong>de</strong> Santa<br />
Marta Gran<strong>de</strong><br />
Torres<br />
Ilhas dos Lobos<br />
54º 53º 52º 51º 50º 49º 48º<br />
28º<br />
29º<br />
30º<br />
31º<br />
32º<br />
33º<br />
34º<br />
73
74<br />
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Mestrado em Ocea<strong>no</strong>grafia Biológica - Fun<strong>da</strong>ção Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>.<br />
SALAS, J.H; LORENZANI, J.A.; GONZALEZ, E.F. & LORENZANI, J.C. 2000. Derrame <strong>de</strong> hidrocarburo em el porto<br />
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Especialistas en Mamíferos Acuáticos <strong>de</strong> América <strong>de</strong>l Sur. Bue<strong>no</strong>s Aires- Argentina, 30 <strong>de</strong> outubro a 3 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, 2000.<br />
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SILVA, K.G. 2004. Os Pinípe<strong>de</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Ocorrências, Estimativas Populacionais e <strong>Conservação</strong>. Tese <strong>de</strong> Doutorado –<br />
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<strong>de</strong>l Uruguay. 9ª Reunión <strong>de</strong> Trabajo <strong>de</strong> Especialistas en Mamíferos Acuáticos <strong>de</strong> América <strong>de</strong>l Sur. Bue<strong>no</strong>s Aires - Argentina,<br />
30 <strong>de</strong> outubro a 3 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro, 2000. Resumos p. 128<br />
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Sinauer Associates, Inc. Publishers. Sun<strong>de</strong>rland – Massachussets .721 p<br />
Apoiadores do Projeto:<br />
Centro <strong>de</strong> Mamíferos Aquáticos – IBAMA; Fundo Nacional do Meio Ambiente – MMA; Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção<br />
à Natureza; Fun<strong>da</strong>ção Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong>; Museu Ocea<strong>no</strong>gráfico – CRAM; Departamento dos Portos –<br />
Ministério dos Transportes; Superintendência do Porto do Rio Gran<strong>de</strong>; Procuradoria <strong>da</strong> República do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />
Polícia Fe<strong>de</strong>ral – Rio Gran<strong>de</strong> e Tribunal <strong>de</strong> Contas <strong>da</strong> União do RS.<br />
75
76<br />
MOSAICOS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO<br />
DA BIODIVERSIDADE NA MATA ATLÂNTICA<br />
O Bioma Mata Atlântica é um domínio com múltiplas fitofisio<strong>no</strong>mias. É constituído por um complexo <strong>de</strong> formações<br />
florestais e por um conjunto <strong>de</strong> ecossistemas extremamente alterados e ameaçados pela ação humana, resultando<br />
em um mosaico <strong>de</strong> paisagens com fragmentos vegetais <strong>de</strong> diferentes tamanhos, formas, condições ecológicas, níveis <strong>de</strong><br />
conservação e pressão distintos.<br />
Originalmente a Mata Atlântica se estendia por mais <strong>de</strong> 1.362.548 Km2, correspon<strong>de</strong>ndo a cerca <strong>de</strong> 15% do território<br />
brasileiro, espalhando-se por 17 Estados.<br />
Na área do Domínio <strong>da</strong> Mata Atlântica, encontram-se hoje cerca <strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> habitantes e <strong>de</strong> 3400 municípios<br />
(Anuário Mata Atlântica, CNRBMA, 2002). Localiza-se nesta área gran<strong>de</strong> parte dos maiores pólos industriais,<br />
agrícolas, químicos, petroleiros, portuários e turísticos do <strong>Brasil</strong>, respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong> 70% do PIB (Produto Inter<strong>no</strong><br />
Bruto) nacional.<br />
A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong>ste bioma leva à per<strong>da</strong> acelera<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. À sua<br />
gran<strong>de</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> vegetal está associa<strong>da</strong> uma importante diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> animal. Apresenta fauna abun<strong>da</strong>nte e diversa, sendo<br />
refúgio <strong>de</strong> várias espécies animais, muitas ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção. Com base na lista <strong>de</strong> espécies ameaça<strong>da</strong>s disponibiliza<strong>da</strong><br />
pelo IBAMA, cerca <strong>de</strong> 70% <strong>da</strong>s espécies ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> são <strong>da</strong> Mata Atlântica.<br />
O Bioma Mata Atlântica é caracterizado, por diversos estudos, como prioritário para a conservação <strong>no</strong> mundo.<br />
A Mata Atlântica encontra-se entre os cinco “hotspots” para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo, <strong>de</strong> acordo com a<br />
Conservation Internacional.
COMO ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO<br />
Heloisa Dias<br />
Coor<strong>de</strong>nadora Técnica do Instituto<br />
Amigos <strong>da</strong> Reserva <strong>da</strong> Biosfera <strong>da</strong> Mata Atlântica - Lí<strong>de</strong>r AVINA<br />
Ampliar e fortalecer as estratégias <strong>de</strong> ação <strong>no</strong> sentido <strong>da</strong> conservação <strong>de</strong>ste bioma, se faz necessário e urgente.<br />
Dentre as estratégia que vem <strong>de</strong>monstrando gran<strong>de</strong> eficácia <strong>de</strong>stacam-se o fortalecimento <strong>de</strong> Corredores Ecológicos e a<br />
criação <strong>de</strong> Mosaicos <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>.<br />
A constituição <strong>de</strong> Mosaicos <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e Áreas Protegi<strong>da</strong>s foi oficialmente prevista a partir<br />
do Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> - SNUC, através Lei Fe<strong>de</strong>ral Nº. 9.985-00, que diz em seu artigo 26:<br />
“Quando existir um conjunto <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas,<br />
e outras áreas protegi<strong>da</strong>s públicas ou priva<strong>da</strong>s, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto <strong>de</strong>verá ser feita <strong>de</strong><br />
forma integra<strong>da</strong> e participativa, consi<strong>de</strong>rando-se os seus distintos objetivos <strong>de</strong> conservação, <strong>de</strong> forma a compatibilizar a<br />
presença <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a valorização <strong>da</strong> sociodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>no</strong> contexto regional”.<br />
Com base <strong>no</strong> Decreto nº 4.340/ 2002, que regulamenta o SNUC, este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão integrado, mosaico, tem<br />
como objetivo compatibilizar, integrar e aperfeiçoar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, tendo em<br />
vista, especialmente os usos na fronteira entre uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o acesso às uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a fiscalização, o monitoramento e avaliação<br />
dos Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Manejo, a pesquisa científica e a alocação <strong>de</strong> recursos advindos <strong>da</strong> compensação referente ao licenciamento<br />
ambiental <strong>de</strong> empreendimentos com significativo impacto ambiental, assim como estreitar a relação com a população resi<strong>de</strong>nte<br />
na região do mosaico.<br />
A implementação dos Mosaicos exige que ações sejam planeja<strong>da</strong>s e executa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma integra<strong>da</strong>, objetivando<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>da</strong> região, priorizando a preservação <strong>da</strong> paisagem, <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s produtivas liga<strong>da</strong>s à cultura local, à mata e aos ambientes marinhos.<br />
77
78<br />
É preciso mu<strong>da</strong>r a visão <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação e áreas protegi<strong>da</strong>s como ilhas isola-<br />
<strong>da</strong>s, espaços auto-suficientes tanto administrativos quanto ecologicamentente, sem gestão<br />
territorial integra<strong>da</strong>. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação e áreas protegi<strong>da</strong>s são compostas <strong>de</strong> ecossistemas,<br />
que possuem uma biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> relevante, a qual, para sobreviver, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> interação saudável<br />
com a região on<strong>de</strong> estão localiza<strong>da</strong>s. Com isso, se faz necessário uma cooperação administrativa entre<br />
os diferentes atores presentes na região, para que possam garantir os processos ecológicos essenciais e<br />
assegurar o uso sustentável dos recursos naturais. É preciso ultrapassar os limites <strong>de</strong> suas Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />
planejar a gestão em conjunto pensando em uma escala que englobe todo<br />
o ecossistema a ser preservado e manejado <strong>de</strong> forma sustentável.<br />
( Tambellini,M. 2007).<br />
É imperativo que a criação dos Mosaicos contribua para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> áreas<br />
<strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s e corredores ecológicos, <strong>no</strong>s ambientes terrestres, marinhos e insulares, para que as condições <strong>de</strong> fluxo gênico<br />
em seu interior sejam assegura<strong>da</strong>s. É fun<strong>da</strong>mental que os Mosaicos promovam a conectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> física e funcional dos remanescentes<br />
<strong>da</strong> Mata Atlântica. Se consi<strong>de</strong>rarmos que mais <strong>de</strong> 70% <strong>de</strong>stes remanescentes estão em mãos <strong>de</strong> particulares<br />
e a gran<strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fortalecermos os mosaicos e corredores ecológicos, torna-se imprescindível o estabelecimento<br />
<strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong> apoio a criação <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação particulares e a estreita parceria do setor publico e<br />
privado para conservação e restauração dos biomas.<br />
Neste sentido, o <strong>Brasil</strong> se <strong>de</strong>staca por ser o primeiro país <strong>da</strong> América Latina que reconhece em seu Sistema <strong>de</strong><br />
Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> as reservas particulares <strong>de</strong> proteção natural –RPPNs ( SNUC- Lei 9985- Artigo 21).<br />
As RPPNs estão fazendo to<strong>da</strong> a diferença para o fortalecimento do SNUC e para viabilização <strong>da</strong> conservação<br />
<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e do uso sustentável dos recursos naturais..<br />
Existem hoje <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> várias iniciativas em âmbito fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, para formação <strong>de</strong> Mosaicos<br />
<strong>de</strong> Áreas Protegi<strong>da</strong>s públicas e priva<strong>da</strong>s.<br />
Destaco o “Programa <strong>de</strong> Mosaicos <strong>de</strong> UCs na Mata Atlântica”, coor<strong>de</strong>nado pela Reserva <strong>da</strong> Biosfera <strong>da</strong> Mata<br />
Atlântica que fomentou, através <strong>de</strong> um processo participativo, o reconhecimento, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006, <strong>de</strong> três <strong>no</strong>vos<br />
Mosaicos <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Mata Atlântica na região <strong>da</strong>s Serras do Mar e Mantiqueira e a posse dos seus<br />
Conselhos Gestores, em fevereiro <strong>de</strong> 2007, compostos por Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> Fe<strong>de</strong>rais, Estaduais, Municipais e<br />
Particulares, sendo eles:
Mosaico <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> região <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong><br />
BOCAINA – Mosaico Bocaina que abrange uma área <strong>de</strong> 221.754 hectares,<br />
9 municípios, e 10 Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e suas zonas <strong>de</strong> amortecimento,<br />
localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Vale do Paraíba do Sul, litoral sul do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
e litoral <strong>no</strong>rte do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Mosaico <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Região <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong><br />
Mantiqueira, “Mosaico Mantiqueira”, que abrange uma área com cerca <strong>de</strong><br />
445.615 hectares, 37 municípios e 19 Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e suas zonas<br />
<strong>de</strong> amortecimento.<br />
Mosaico <strong>da</strong> Mata Atlântica Central Fluminense, <strong>no</strong> estado do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, que abrange uma área com cerca <strong>de</strong> 233.710 hectares, 13 municípios<br />
e 22 Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e suas zonas <strong>de</strong> amortecimento.<br />
Antes <strong>de</strong>stes três mosaicos já haviam sido reconhecidos por portaria do Ministério do Meio Ambiente,em<br />
2005,um Mosaico <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>no</strong> Piauí, integrando duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e em 2006, um Mosaico abrangendo<br />
o litoral sul <strong>de</strong> São Paulo e litoral do Paraná.<br />
Os mosaicos <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s vêm sendo reconhecidos como um eficiente instrumento para gerir e integrar as<br />
diferentes uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação e suas zonas <strong>de</strong> amortecimento, fortalecendo uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> regional e a implementação<br />
<strong>de</strong> corredores ecológicos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitado, é claro, a auto<strong>no</strong>mia e as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> categoria <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
que os compõem. Este instrumento <strong>de</strong> gestão integra<strong>da</strong> ultrapassa limites políticos municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>ral, públicos<br />
e privados, promovendo, se bem utilizado, resultados positivos à conservação e ao fortalecimento do Sistema Nacional <strong>de</strong><br />
Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>.<br />
O Programa <strong>de</strong> Mosaicos vem se <strong>de</strong>stacando como um eficiente mecanismo <strong>de</strong> integração territorial e articulação<br />
institucional, fun<strong>da</strong>mental para a conservação e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>da</strong> Mata Atlântica.<br />
Referências Bibliográficas<br />
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vi<strong>da</strong> sustentável. São Paulo: Cultrix, 2005<br />
ALBUQUERQUE, J.L; DIAS,H; LINO, C.F; Mosaicos <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>no</strong> Corredor <strong>da</strong> Serra do Mar (Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s<br />
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LINO,C.F. – “Reserva Ecológica Integra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Serra do Paranapiacaba, Vale do Ribeira,SP” – Proposta técnica; Instituto<br />
Florestal <strong>de</strong> São Paulo, 1994.<br />
METZGER, J.P. O que é ecologia <strong>da</strong> paisagem? Biota Neotropica. V.1, n.12, 2001.<br />
PRIMACK, Richard B.; RODRIGUES, Efraim. Biologia <strong>da</strong> <strong>Conservação</strong>. Londrina: Planta, 2001.<br />
79
80<br />
CONFLITOS SÓCIO-AMBIENTAIS NA ZONA<br />
PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE<br />
PESQUEIROS NO BRASIL - UM<br />
Introdução<br />
A <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> uso sustentável nasceu com a Agen<strong>da</strong> 21 Global que preconiza a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos recursos<br />
naturais, dos quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão as gerações futuras. Em seu Capitulo XVII são recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s ações específicas<br />
para a conservação e uso sustentável dos ocea<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>ntre elas a criação <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> Marinha. Recursos<br />
marinhos futuros <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m integralmente <strong>da</strong> conservação marinha <strong>no</strong> presente. Infelizmente, as previsões ain<strong>da</strong> não são animadoras.<br />
A exploração dos recursos vivos marinhos ain<strong>da</strong> não aten<strong>de</strong> os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Cientistas pesqueiros<br />
publicaram recentemente um artigo polêmico na re<strong>no</strong>ma<strong>da</strong> revista Science (Worm et al., 2006) prevendo o esgotamento<br />
<strong>de</strong> todos os estoques comerciais <strong>de</strong> peixes até a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse século, caso medi<strong>da</strong>s drásticas <strong>de</strong> conservação e manejo não<br />
sejam toma<strong>da</strong>s.<br />
Sem dúvi<strong>da</strong> a importância <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha ocupa ca<strong>da</strong> vez mais o centro <strong>da</strong>s atenções <strong>no</strong>s foros<br />
internacionais sobre proteção ambiental, e a agen<strong>da</strong> política dos países costeiros preocupados em preservar seus recursos<br />
pesqueiros ameaçados pela sobrepesca. Áreas Marinhas Protegi<strong>da</strong>s (AMPs) são espaços do mar territorial on<strong>de</strong> a riqueza<br />
<strong>de</strong> espécies e os processos físicos e biológicos essenciais para a sua manutenção, são protegidos por lei contra qualquer tipo<br />
<strong>de</strong> interferência humana. Entretanto, a conservação marinha é um processo lento e complexo. Não bastam apenas redigir
COSTEIRA E TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS<br />
MARINHA E DOS RECURSOS<br />
EXEMPLO DE CASO NO ESTADO DO PARANÁ<br />
Fre<strong>de</strong>rico Brandini<br />
Professor Associado, Centro <strong>de</strong> Estudos do Mar <strong>da</strong> UFPR,<br />
Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Associação Mar<strong>Brasil</strong><br />
documentos internacionais, ratificar convenções, criar mecanismos legais <strong>de</strong> uso e fiscalização, <strong>de</strong>finir limites geográficos,<br />
divulgar fol<strong>de</strong>rs e pôsteres ilustrativos; Mecanismos <strong>de</strong> conservação e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s antrópicas não obe<strong>de</strong>cem as mesmas escalas<br />
<strong>de</strong> ocorrência espacial e temporal. A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> habitats costeiros é rápi<strong>da</strong>, sobretudo <strong>no</strong> meio aquático<br />
marinho on<strong>de</strong> a circulação e a ausência <strong>de</strong> barreiras naturais transportam poluentes, além <strong>da</strong> exploração <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
recursos, “garimpados” <strong>de</strong> forma tão intensa que já não conseguem mais se re<strong>no</strong>var.<br />
Atualmente existem cerca <strong>de</strong> 4600 AMPs em todo o mundo que representam 0,6% do ocea<strong>no</strong> global (Harris,<br />
2007). Cientistas e ambientalistas concor<strong>da</strong>m com a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação e recomen<strong>da</strong>m a proteção integral <strong>de</strong>, <strong>no</strong><br />
mínimo, 20% dos ocea<strong>no</strong>s contra a pesca pre<strong>da</strong>tória e o uso insustentável <strong>de</strong> seus recursos, <strong>de</strong> modo a garantir um mínimo<br />
<strong>de</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ecológica e comercial até o fim <strong>de</strong>sse milênio.<br />
Além do impacto provocado pela pesca <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>, o ecossistema marinho é vulnerável a todo tipo <strong>de</strong> impacto<br />
antrópico, sobretudo poluição química não bio<strong>de</strong>gradável e lixo sólido que compromete a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s costeiras.<br />
Somado a isso, a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> habitats sensíveis <strong>de</strong>vido a obras costeiras mal planeja<strong>da</strong>s compromete ain<strong>da</strong> mais a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
biológica e cênica <strong>da</strong> zona costeira, por si só um recurso inestimável, mas explora<strong>da</strong> totalmente na contramão <strong>da</strong>s vias <strong>da</strong><br />
sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> preconiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Capítulo XVII <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> 21 Global.<br />
81
82<br />
Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
recursos pesqueiros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
O mar brasileiro tem papel crucial em todos os aspectos do <strong>no</strong>sso legado histórico e cultural, bem como <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso<br />
arcabouço socioeconômico. Pesca, maricultura, turismo, transporte, comércio e habitação são ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s quotidianas em<br />
<strong>no</strong>ssa zona costeira. A pesca é uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> tradicional <strong>de</strong> importância social, histórica e cultural; O turismo, consi<strong>de</strong>rado<br />
a maior indústria mundial, representa mais <strong>de</strong> 7,5% do PIB brasileiro (Casimiro-Filho, 2002); E a maricultura, uma vocação<br />
mais recente, é mais um potencial sócioeconômico se <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> com metodologias ambientalmente sustentáveis. No<br />
entanto, o sucesso <strong>de</strong>ssas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s a longo prazo é ain<strong>da</strong> duvidoso pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diretamente <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha.<br />
Enquanto não for <strong>de</strong>finitivamente implanta<strong>da</strong> uma política integra<strong>da</strong> e co-participativa <strong>de</strong> conservação marinha <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />
que envolva todos os setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> exploração econômica na zona costeira ten<strong>de</strong> a gerar conflitos sócioambientais<br />
ca<strong>da</strong> vez piores.<br />
Por razões naturais o <strong>Brasil</strong> contribui com me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1% <strong>da</strong> produção pesqueira mundial. A costa brasileira é<br />
banha<strong>da</strong> pelo sistema <strong>de</strong> correntes <strong>de</strong> contor<strong>no</strong> oeste, cuja principal característica ambiental é o acúmulo <strong>de</strong> águas quentes<br />
oligotróficas pela ação dos Ventos Alíseos. Portanto, <strong>no</strong>ssas águas tropicais e sub-tropicais são pobres em nutrientes e,<br />
consequentemente, em estoques pesqueiros comerciais, se comparados com outros paises do continente america<strong>no</strong> como<br />
Chile, Peru, Argentina, Estados Unidos e Canadá. Portanto, a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira nacional tem mais valor social do que<br />
econômico.<br />
Apesar <strong>da</strong> pobreza em estoques comerciais, a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> habitats marinhos é a principal característica <strong>da</strong><br />
costa brasileira. Nossa principal riqueza cênica e heranca genética para as futuras gerações. São extensas praias are<strong>no</strong>sas,<br />
costões rochosos, manguezais, estuários, lagoas costeiras, recifes e fundos calcáreos, ilhas e bancos oceânicos, distribuídos<br />
ao longo dos 7367 Km <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> costa, entre o Cabo Orange na foz do Rio Ori<strong>no</strong>co (Lat 4º 30’ N) e a foz do Arroio Chuí<br />
(Lat 33° 45’ S). Temos o maior estuário (Amazonas, PA), a maior praia (Cassi<strong>no</strong>, RS), a maior lagoa costeira do mundo<br />
(Lagoa dos Patos, RS), e o único atol do Atlântico Sul (Rocas). Essa complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> fisiográfica abriga um estoque genético<br />
marinho <strong>de</strong> valor imensurável e pouco conhecido.<br />
É sobre esse mosaico <strong>de</strong> ecossistemas tropicais e subtropicais que os recursos pesqueiros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> são explorados<br />
pela pesca artesanal e, oportunisticamente, pela pesca industrial, ambas em <strong>de</strong>clínio tendo em vista o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pesca<br />
extrativista, con<strong>de</strong>nado a garimpar estoques sobre-explotados. Existem cerca <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> pescadores <strong>de</strong> peque<strong>no</strong> porte<br />
(pesca artesanal) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo quase que exclusivamente <strong>da</strong> extração pesqueira, com poucas alternativas <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>. Atualmente,<br />
a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social do pescador artesanal brasileiro encontra-se seriamente ameaça<strong>da</strong> <strong>de</strong>vido aos conflitos com a<br />
pesca industrial, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do lucro e <strong>da</strong> exploração <strong>de</strong> recursos específicos, a maioria em <strong>de</strong>clínio populacional ou já<br />
totalmente sobre-explotados (SEAP, 2004). É óbvio que, a longo prazo, o prejuízo <strong>de</strong>ssa disputa <strong>de</strong>sleal é mais <strong>da</strong> pesca<br />
artesanal, que tem pouca ou nenhuma alternativa <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>. Ao passo que a pesca comercial é mais diversifica<strong>da</strong>, com maior<br />
atuação geográfica e mais recursos tec<strong>no</strong>lógicos.
Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha e conflitos sócioeconômicos<br />
<strong>no</strong> Paraná<br />
O litoral do Estado do Paraná tem cerca <strong>de</strong> 80 km <strong>de</strong> extensão, pouco mais <strong>de</strong> 1% do litoral brasileiro. No entanto,<br />
abriga um mosaico complexo <strong>de</strong> habitats marinhos. Nos setores inter<strong>no</strong>s estuari<strong>no</strong>-lagunares dominam manguezais<br />
extensos e em ótimo estado <strong>de</strong> conservação, com bancos <strong>de</strong> Spartina alterniflora e pra<strong>da</strong>rias submersas adjacentes. No setor<br />
exter<strong>no</strong> dominam praias e fundos are<strong>no</strong>sas extensos, interrompidos por lajes rochosas submersas e poucas ilhas costeiras<br />
(Currais, Itacolomis e Figueira). Os recursos pesqueiros concentram-se <strong>no</strong>s sistemas lagunares inter<strong>no</strong>s e <strong>no</strong> mar aberto<br />
exposto, com mais <strong>de</strong> 98% <strong>de</strong> fundos are<strong>no</strong>sos cujos recursos são disputados continuamente pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> artesanal e<br />
frotas comerciais, na maioria oriun<strong>da</strong>s dos estados vizinhos. O valor social intrínseco <strong>da</strong> pesca na costa paranaense po<strong>de</strong><br />
ser comprovado pelos números: os recursos vivos <strong>da</strong> zona costeira sustentam atualmente 5687 pescadores artesanais e suas<br />
famílias, distribuídos em 198 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s costeiras tradicionais <strong>de</strong>sse litoral.<br />
No litoral paranaense a espécie-alvo explora<strong>da</strong> pela pesca comercial é o camarão sete-barbas (Xiphopenaues<br />
kroyeri). O arrasto para a captura do camarão não é seletivo, capturando indiscrimina<strong>da</strong>mente todos os organismos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
bêntica. A <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> física e biológica do substrato provoca<strong>da</strong> pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrasto compromete<br />
a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e social do pescador artesanal, uma vez que a re<strong>de</strong> captura e mata juvenis <strong>de</strong> organismos<br />
importantes para a subsistência <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais (Fig.1). E o pior <strong>de</strong>sse cenário é que além <strong>de</strong> não conseguir mais se<br />
sustentar <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>clínio dos estoques, ela também <strong>de</strong>gra<strong>da</strong> os estoques que ain<strong>da</strong> restam, impedindo a zona costeira <strong>de</strong><br />
cumprir o seu papel social, ou seja, o <strong>de</strong> sustentar as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais.<br />
a b c<br />
Fig.1. Conflito permanente entre a frota artesanal e comercial <strong>no</strong> Estado do Paraná. A pesca artesanal é mais seletiva e tem valor social (a). A espécie-alvo <strong>da</strong> pesca comercial (b)<br />
é o camarão sete-barbas (Xiphopenaues kroyeri) e o restante é composto por espécies <strong>de</strong> peixes e invertebrados bênticos, sem valor comercial, mas importantes para a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do ecossistema marinho e a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> socioeconômica do pescador artesanal. A fauna acompanhante (by-catch) <strong>da</strong> pesca <strong>de</strong> arrasto comercial às vezes correspon<strong>de</strong><br />
a 100% do produto pescado (c) (Foto a: fre<strong>de</strong>rico Brandini; Fotos b e c: Ariel Scheffer <strong>da</strong> Silva, Paraná, agosto <strong>de</strong> 2007).<br />
Além <strong>da</strong> pesca, a paisagem costeira atrai o turismo, a pesca esportiva recreacional e os esportes náuticos. Entre<br />
<strong>de</strong>zembro e março o litoral paranaense é habitado por cerca <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> turistas <strong>de</strong> várias regiões do estado e do país.<br />
Consequentemente a pressão antrópica sobre o ecossistema marinho é inevitável comprometendo ain<strong>da</strong> mais sua biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
83
84<br />
Tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> conservação marinha -<br />
a experiência do Paraná<br />
Apesar <strong>da</strong> legislação do <strong>de</strong>feso espacial e temporal, a fiscalização ambiental <strong>no</strong> mar do Paraná é <strong>de</strong>ficitária e não<br />
consegue controlar a pesca pre<strong>da</strong>tória em áreas e em períodos legalmente excluídos do arrasto. Para solucionar conflitos sociais<br />
e ambientais gerados pela disputa <strong>de</strong> um mesmo recurso por diversos segmentos sociais. Em 1997 O Centro <strong>de</strong> Estudos<br />
do Mar <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, sediado em Pontal do Paraná, criou um programa <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> habitats<br />
artificiais com base em diagnósticos ambientais e pesquisas sazonais <strong>de</strong> recrutamento e sucessão <strong>de</strong> espécies bênticas em<br />
substratos artificiais consoli<strong>da</strong>dos (Silva et al., 1997; Brandini & Silva, 2000; Silva, 2001). São ferramentas <strong>de</strong> gestão ambiental<br />
exclusivas do habitat aquático que vem sendo aplica<strong>da</strong>s com sucesso em diversos países (Seaman & Sprague, 1991;<br />
Seaman, 2000; Seaman & Jensen, 2000). A FAO (1990) e seu Código <strong>de</strong> Conduta para a Pesca Responsável (FAO, 1995)<br />
recomen<strong>da</strong>m o uso <strong>de</strong> habitats artificiais como ferramenta <strong>de</strong> conservação e gestão pequeira. No Paraná, o principal objetivo<br />
do programa era, e continua sendo, a criação <strong>de</strong> um corredor ecológico marinho, integrando habitats naturais e artificiais. As<br />
metas <strong>de</strong> longo prazo são (i) conservar a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha do Paraná, (ii) criar reservas <strong>de</strong> pesca e áreas <strong>de</strong> exclusão<br />
pesqueira protegi<strong>da</strong>s contra o arrasto <strong>de</strong> fundo e (iii) <strong>de</strong>senvolver a pesca artesanal e o turismo sustentável.<br />
Entre 1998 e 2002 foram assenta<strong>da</strong>s cerca <strong>de</strong> 1700 uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> concreto agrupa<strong>da</strong>s em 11 grupos<br />
recifais. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram feitas <strong>de</strong> concreto, com formas varia<strong>da</strong>s tais como cubos, cones vazados, trapézios truncados e<br />
“reef balls”, transportados com balsas e lança<strong>da</strong>s aleatoriamente em pontos georeferenciados (Fig.2a). Os resultados foram<br />
promissores impedindo a operação com re<strong>de</strong>s (Fig.2b) em pelo me<strong>no</strong>s 1% <strong>da</strong> plataforma rasa do Paraná e criando alternativas<br />
<strong>de</strong> uso <strong>de</strong> recursos marinhos através <strong>da</strong> pesca esportiva e do turismo subaquático (Fig.3), aliviando sobremaneira a<br />
pressão antrópica sobre os habitats naturais.<br />
a b<br />
Fig.2. Lancamento dos primeiros assentamentos em massa <strong>de</strong> habitats artificiais na plataforma rasa do Estado do Paraná em 1998 (a) e a comprovação do efeito anti-arrasto <strong>da</strong>s<br />
estruturas (b)
Fig.3.<br />
Os meros (Epinephelus itajara) são espécies ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção. Os <strong>no</strong>vos habitats atrairam individuos jovens e adultos que atualmente são estu<strong>da</strong>dos e protegidos<br />
com apoio do projeto PROMERO <strong>da</strong> Associação Mar<strong>Brasil</strong> (www.marbrasil.org) financiado pela Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza<br />
O efeito anti-arrasto dos <strong>no</strong>vos habitats alertaram para uma tec<strong>no</strong>logia mais eficiente para a exclusão do arrasto:<br />
a implantação <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas para impedir a operação com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arrasto <strong>de</strong> fundo. Foram seleciona<strong>da</strong>s como<br />
estruturas anti-arrasto tambores <strong>de</strong> 200 litros perfurados com trilhos <strong>de</strong> trem e preenchidos com pedra e concreto. Entre 1999<br />
e 2001 foram implanta<strong>da</strong>s as primeiras 50 <strong>de</strong>ssas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao longo <strong>de</strong> duas linhas paralelas a costa do Paraná, distantes 0,8<br />
e 1,8 milhas <strong>da</strong> praia. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s AA foram transporta<strong>da</strong>s com apoio <strong>da</strong> Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Pontal do Paraná e lança<strong>da</strong>s<br />
em pontos selecionados com apoio <strong>da</strong> Marinha do <strong>Brasil</strong> (Fig.4 a & b). Os resultados foram satisfatórios, diminuindo o<br />
arrasto <strong>de</strong> pesca comercial <strong>no</strong>s setores on<strong>de</strong> foram lançados.<br />
a b<br />
Fig.4. Transporte (a) e assentamento (b) <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s anti-arrasto na plataforma do Paraná entre 1999 e 2001<br />
Recentemente, o programa <strong>de</strong> exclusão do arrasto comercial tor<strong>no</strong>u-se um movimento social organizado. Com o<br />
apoio financeiro do gover<strong>no</strong> do Estado do Paraná e <strong>da</strong> Associação Mar<strong>Brasil</strong> (www.marbrasil.org), 300 pescadores artesanais<br />
discutiram em 5 reuniões públicas durante 4 meses, a elaboração <strong>de</strong> um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> assentamento <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s anti-arrasto<br />
e recifes artificiais em larga escala (Fig.5), visando excluir <strong>de</strong>finitivamente a pesca comercial <strong>da</strong>s águas paranaenses. O ar-<br />
85
86<br />
ranjo espacial <strong>da</strong>s estruturas foi proposto <strong>de</strong> modo a evitar o arrasto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s embarcações e, ao mesmo, tempo permitir a<br />
operação com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caceio praticado pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> artesanal. A plataforma paranaense foi setoriza<strong>da</strong> <strong>de</strong> acordo com<br />
as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca predominantes em ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e o arranjo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> setor foi a<strong>da</strong>ptado à rotina diária <strong>de</strong> pesca<br />
em ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Fig.5. Mapa <strong>da</strong> costa paranaense indicando o arranjo espacial em escala geográfica do sistema anti-arrasto e dos habitats artificiais (a) proposto durante 5 reuniões públicas<br />
entre junho e outubro <strong>de</strong> 2006 (b). Os pontos em ver<strong>de</strong> indicam a posição dos grupos <strong>de</strong> 120 recifes <strong>de</strong> recrutamento larval (c) e as marcações em vermelhos são uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
anti-arrasto (d).<br />
Além <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s anti-arrasto a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pescadores artesanais apoiaram também a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos<br />
habitats artificiais para exploração exclusiva <strong>da</strong> pesca artesanal, além do efeito anti-arrasto dos grupos assentados. Atualmente<br />
estão em fase <strong>de</strong> construção 6.000 <strong>no</strong>vas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> concreto específicas para o recrutamento <strong>de</strong> larvas (Fig.5c),<br />
visando recuperar estoques <strong>de</strong> peixes e invertebrados sobre-explorados. Essas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s serão assenta<strong>da</strong>s em 50 grupos recifais<br />
formados por 120 blocos quadriláteros. Os grupos <strong>de</strong> recifes articiais e as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s anti-arrasto serão distribuí<strong>da</strong>s em<br />
um grid <strong>de</strong> assentamentos ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a costa parananese entre as isóbatas <strong>de</strong> 10 e 20 metros até <strong>no</strong> máximo 6 milhas<br />
<strong>da</strong> costa.<br />
A experiência <strong>de</strong> conservação marinha <strong>no</strong> Paraná <strong>no</strong>s últimos 10 a<strong>no</strong>s comprovam a eficácia <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logias ambientais<br />
complementando a fiscalização e os mecanismos legais <strong>de</strong> proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e dos recursos vivos <strong>da</strong> zona
costeira. A metodologia <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> sistemas anti-arrasto e habitats artificiais, se aplica<strong>da</strong>s com critérios técnicos e<br />
científicos, po<strong>de</strong>m vir a ser a melhor alternativa para a conservação marinha e ao mesmo tempo a solução <strong>de</strong> graves conflitos<br />
sócio-ambientais que afligem a costa brasileira nas últimas déca<strong>da</strong>s.<br />
Refências<br />
Brandini F.P. & Silva A.S. 2000. Recifes artificiais vs biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> marinha: o exemplo do Estado do Paraná. V Simpósio<br />
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Seaman W. & Sprague L.M. 1991. Artificial Habitats for Marine and Freshwater Fisheries. Aca<strong>de</strong>mic Press, San Diego,<br />
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Relatório <strong>de</strong> Reunião Técnica não publicado.<br />
Silva A. S. 2001. Estrutura e dinâmica <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s epilÌticas <strong>de</strong> habitats artificiais e suas relações com os fatores ambientais<br />
na plataforma rasa do Estado do Paraná.Tese <strong>de</strong> Doutorado, Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />
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Silva E.T., Silva A.S., Brandini F.P. & Brusamolin F.P. 1997. Recifes Artificiais Marinhos (RAM): Uma proposta <strong>de</strong> conservação<br />
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Worm B., Barbier E.B., Beaumont N., Emmett Duffy J., Folke C., Halpern B.S., Jackson J.B.C., Lotze H.K., Micheli F.,<br />
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Services. Science 3 November 2006:<br />
Vol. 314. <strong>no</strong>. 5800, pp. 787 – 790<br />
87
88<br />
PRIORIDADES PARA A CONSERVAÇÃO DA<br />
DE CONSERVAÇÃO<br />
Estabelecer priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s é fun<strong>da</strong>mental para a alocação dos recursos disponíveis para alcançar objetivos <strong>de</strong> conservação.<br />
Quando estes objetivos são relacionados com a conservação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica - num mundo cuja mentali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
dominante baseia-se em estruturas políticas, econômicas, tec<strong>no</strong>lógicas e i<strong>de</strong>ológicas que vem promovendo a <strong>de</strong>struição<br />
e per<strong>da</strong> acelera<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> – o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio está em encontrar os melhores caminhos para minimizar a per<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> num cenário limitado <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e financeiros.<br />
A diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica <strong>de</strong> espécies e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos ecossistemas são proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s fun<strong>da</strong>mentais<br />
<strong>da</strong> Natureza, essenciais para o funcionamento dos ecossistemas naturais, e indispensáveis para a manutenção dos<br />
serviços ecológicos básicos para a vi<strong>da</strong> <strong>no</strong> planeta, como o suprimento e a purificação <strong>da</strong> água, a regeneração dos solos, a<br />
produção <strong>de</strong> alimentos, o controle <strong>de</strong> doenças e a regulação climática. A <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>stes serviços ambientais tem sido reconheci<strong>da</strong><br />
como uma <strong>da</strong>s principais barreiras para se alcançar os objetivos do milênio estabelecidos pelas Nações Uni<strong>da</strong>s.<br />
Nesse sentido, enquanto a <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tateia num longo caminho <strong>de</strong> tentativas e erros almejando alcançar<br />
um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, é preciso garantir a manutenção <strong>de</strong> alguns serviços ecológicos críticos para o funcionamento<br />
<strong>da</strong> biosfera e reduzir drasticamente a taxa <strong>de</strong> extinção <strong>de</strong> espécies a que hoje chegamos, cerca <strong>de</strong> mil vezes maior do<br />
que a taxa natural espera<strong>da</strong>.<br />
As principais formas <strong>de</strong> se priorizar a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> atualmente utilizam critérios <strong>de</strong> insubstituibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(rari<strong>da</strong><strong>de</strong>, en<strong>de</strong>mismos), vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> (níveis <strong>de</strong> ameaça) e utili<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong>r ênfase a espécies, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />
ecossistemas, ou centros <strong>de</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> regional (hotspots). Além disso, em se tratando do planejamento <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, existem métodos que utilizam o conhecimento existente
BIODIVERSIDADE: EXTINÇÃO ZERO, UNIDADES<br />
E O CASO DO CEARÁ<br />
Alberto Alves Campos<br />
AQUASIS – Associação <strong>de</strong> Pesquisa e Preservação <strong>de</strong> Ecossistemas Aquáticos<br />
Lí<strong>de</strong>r-parceiro Avina, Re<strong>de</strong> Marinho-Costeira e Hídrica – <strong>Brasil</strong><br />
sobre espécies ameaça<strong>da</strong>s numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> região, aliados a <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> geoprocessamento e informática, para<br />
i<strong>de</strong>ntificar as lacunas existentes numa re<strong>de</strong> ou sistema <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> (i.e., análise <strong>de</strong> lacunas ou gap analysis).<br />
Recentemente, o Ministério do Meio Ambiente utilizou ferramentas similares para a sua Avaliação <strong>de</strong> Áreas Prioritárias<br />
para a <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> (2007), porém a escassez <strong>de</strong> conhecimentos sobre a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira e seus<br />
níveis <strong>de</strong> ameaça dificultam este tipo <strong>de</strong> análise, e acabam se apoiando, em última instância, na experiência <strong>de</strong> campo <strong>de</strong><br />
alguns profissionais.<br />
Um outro enfoque bastante utilizado se baseia nas listas nacionais e internacionais <strong>de</strong> espécies ameaça<strong>da</strong>s, buscando<br />
espécies-ban<strong>de</strong>ira altamente ameaça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> extinção (a “fauna carismática”) que possuem um gran<strong>de</strong> valor simbólico<br />
e capturam mais facilmente a atenção do público e dos tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para a criação <strong>de</strong> áreas protegi<strong>da</strong>s e a condução<br />
<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> conservação. Quando a proteção <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> espécie é conduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma a conservar todo um<br />
ecossistema e suas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s bióticas associa<strong>da</strong>s, bem como os serviços ecológicos prestados por estes ambientes, estas<br />
são chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> espécies guar<strong>da</strong>-chuva.<br />
Um conceito <strong>de</strong> priorização para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> baseado em espécies globalmente ameaça<strong>da</strong>s<br />
é utilizado pela AZE (Alliance for Zero Extinction), uma iniciativa <strong>de</strong> diversas instituições conservacionistas internacionais<br />
que busca evitar a extinção <strong>de</strong> espécies através <strong>da</strong> proteção <strong>de</strong> seus habitats e mitigação <strong>de</strong> suas ameaças (www.zeroextinction.org).<br />
Neste artigo apresentamos uma estratégia <strong>de</strong> priorização <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> Ceará que busca<br />
evitar a extinção <strong>de</strong> espécies, utilizando alguns dos conceitos apresentados acima, especialmente o <strong>de</strong> espécies guar<strong>da</strong>-<br />
89
90<br />
chuva, vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao nível específico e populacional, conjuntos representativos <strong>de</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, en<strong>de</strong>mismos e conservação<br />
<strong>de</strong> habitats e serviços ambientais críticos. Esta estratégia, bem como as ações <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s para a sua consecução<br />
– conduzi<strong>da</strong>s pela ONG Aquasis com o apoio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Avina e diversos parceiros locais e internacionais – se baseia na<br />
conservação <strong>de</strong> áreas prioritárias através do envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> local e <strong>da</strong> criação e apoio à gestão <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>Conservação</strong> (públicas e priva<strong>da</strong>s).<br />
Áreas Prioritárias e Espécies-alvo<br />
A partir <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong> informações incluindo (a) a presença <strong>de</strong> aves e mamíferos Criticamente Em Perigo (CR); (b) a<br />
presença <strong>de</strong> populações ameaça<strong>da</strong>s, em nível estadual (<strong>de</strong> espécies endêmicas, migratórias, topo <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia); (c) um conjunto<br />
<strong>de</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> representativa para o estado relativa aos biomas caatinga, zona costeira e mata atlântica; (d) serviços<br />
ambientais; (e) áreas prioritárias para conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA<br />
2007); foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s as áreas prioritárias e os alvos <strong>de</strong> conservação que <strong>de</strong>vem orientar os trabalhos <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong><br />
Aquasis <strong>no</strong> estado (Tabela 1). Em segui<strong>da</strong>, apresentamos a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> área prioritária, com a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> suas<br />
espécies-alvo, as ações em an<strong>da</strong>mento, e os principais <strong>de</strong>safios relacionados às Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>.<br />
Tabela 1. Áreas prioritárias para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> Ceará e suas respectivas<br />
espécies guar<strong>da</strong>-chuva consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s Criticamente Em Perigo (CR) <strong>de</strong> extinção.<br />
1 Ain<strong>da</strong> não consta <strong>da</strong> lista oficial <strong>da</strong> IUCN pois a espécie foi reconheci<strong>da</strong> como taxon válido recentemente, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2007 consta <strong>no</strong> site <strong>da</strong> Bird<br />
Life, que avalia as aves ameaça<strong>da</strong>s para a IUCN, como CR. Na lista brasileira consta como CR com o <strong>no</strong>me Pyrrhura anaca.<br />
2 Na lista <strong>da</strong> IUCN consta como Vulnerável (VU), pois consi<strong>de</strong>ra a sub-população <strong>da</strong> Flóri<strong>da</strong>, que ain<strong>da</strong> é significativa; na lista do MMA consta como CR,<br />
pois a estimativa oficial é <strong>de</strong> me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 500 indivíduos em to<strong>da</strong> a costa brasileira.<br />
3 Consta nas listas <strong>da</strong> IUCN e MMA ain<strong>da</strong> como subespécie <strong>de</strong> Alouatta belzebul ululata, apesar <strong>de</strong> já ser reconheci<strong>da</strong> como espécie váli<strong>da</strong>.
Maciço <strong>de</strong> Baturité<br />
Objetivo: evitar a extinção do periquito cara-suja e divulgá-lo como um símbolo para a conservação <strong>da</strong>s matas úmi<strong>da</strong>s do<br />
Maciço <strong>de</strong> Baturité, envolvendo as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais, proprietários <strong>de</strong> terras e gestores ambientais.<br />
Espécie guar<strong>da</strong>-chuva: periquito cara-suja (Pyrrhura griseipectus).<br />
Status <strong>de</strong> conservação: Criticamente Em Perigo (CR),<br />
endêmico do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro.<br />
Estimativa populacional: me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 250 indivíduos.<br />
Ameaças: tráfico <strong>de</strong> animais silvestres e per<strong>da</strong> <strong>de</strong> habitat.<br />
Ambiente: matas úmi<strong>da</strong>s serranas, matas secas <strong>de</strong> encosta.<br />
Outros alvos <strong>de</strong> conservação: onze taxons <strong>de</strong> aves ameaça<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong> Serra <strong>de</strong> Baturité, como o pintor-<strong>da</strong>-serra-<strong>de</strong>-baturité (Tangara<br />
cya<strong>no</strong>cephala cearensis), o vira-folhas (Sclerurus scansor<br />
cearensis); uru (Odontophorus capoeira plumbeicollis) e o<br />
chupa-<strong>de</strong>nte-<strong>de</strong>-baturité (Co<strong>no</strong>pophaga lineata cearae).<br />
Principais ações <strong>de</strong> pesquisa e mobilização: caracterização<br />
<strong>da</strong> biologia reprodutiva e alimentar <strong>da</strong> espécie e <strong>de</strong>terminação<br />
<strong>da</strong> distribuição atual para elaboração <strong>de</strong> um Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>;<br />
campanha <strong>de</strong> envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> local; divulgação na mídia local e nacional; exposições <strong>de</strong> fotos sobre a<br />
biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> local; produção <strong>de</strong> documentário; incentivos à observação <strong>de</strong> aves e interpretação <strong>da</strong> Natureza.<br />
Estratégia com Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>: a APA Estadual do Maciço <strong>de</strong> Baturité engloba a quase totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s matas<br />
úmi<strong>da</strong>s, porém não possui Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Manejo, nem zoneamento e, atualmente, encontra-se sem um chefe resi<strong>de</strong>nte; as ações<br />
<strong>de</strong>vem concentrar-se <strong>no</strong> apoio à criação dos instrumentos <strong>de</strong> gestão <strong>da</strong> APA priorizando a conservação do periquito carasuja;<br />
e a criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Reservas Particulares (Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Proteção Integral) <strong>no</strong> Maciço <strong>de</strong> Baturité, on<strong>de</strong> até o<br />
momento 12 proprietários já assinaram carta <strong>de</strong> intenção para criação <strong>de</strong> reservas.<br />
Parceiros: Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza; Loro Parque Fun<strong>da</strong>ción (Espanha); Act for Nature (Monaco),<br />
Chester Zoo (Inglaterra), Zoologische Gesellschaft für Arten- und Populationsschutz (Fonds fuer bedrohte Papageien e<br />
Strun<strong>de</strong>n-Papageien-Stiftung) (Alemanha); SESC/Ceará; Hotel Escola SENAC <strong>de</strong> Guaramiranga; RPPN Serra <strong>da</strong> Pacavira.<br />
Chapa<strong>da</strong> do Araripe<br />
Objetivo: evitar a extinção do sol<strong>da</strong>dinho-do-araripe e divulgá-lo como um símbolo para a conservação <strong>da</strong>s águas na Chapa<strong>da</strong><br />
do Araripe, envolvendo as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais, proprietários <strong>de</strong> terras e gestores ambientais.<br />
Espécie guar<strong>da</strong>-chuva: sol<strong>da</strong>dinho-do-araripe (Antilophia bokermanni).<br />
Status <strong>de</strong> conservação: Criticamente Em Perigo (CR), única ave endêmica do Ceará.<br />
Estimativa populacional: cerca <strong>de</strong> 800 indivíduos (atualizado em 2006).<br />
Ameaças: per<strong>da</strong> <strong>de</strong> habitat, <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> nascentes e recursos hídricos.<br />
91
92<br />
Ambiente: matas úmi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> encosta<br />
<strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong> do Araripe.<br />
Outros alvos <strong>de</strong> conservação:<br />
serviços ambientais dos recursos<br />
hídricos, especialmente nesta região<br />
semi-ári<strong>da</strong>.<br />
Principais ações <strong>de</strong> pesquisa e<br />
mobilização: caracterização <strong>da</strong><br />
biologia reprodutiva e alimentar <strong>da</strong><br />
espécie, <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> população<br />
e distribuição atual; i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>da</strong>s principais ameaças; gran<strong>de</strong><br />
mobilização na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> local para<br />
discussão e publicação <strong>de</strong> um Pla<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> para a espécie (publicado<br />
em Novembro <strong>de</strong> 2006); campanha<br />
<strong>de</strong> envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
local; divulgação na mídia local e<br />
nacional; exposições <strong>de</strong> fotos sobre<br />
a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> local; produção<br />
<strong>de</strong> documentário; incentivos à observação<br />
<strong>de</strong> aves e interpretação <strong>da</strong><br />
Natureza.<br />
Estratégia com Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>:<br />
o habitat do sol<strong>da</strong>dinhodo-araripe<br />
(matas úmi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> encosta<br />
<strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong> do Araripe) encontra-se totalmente <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> APA Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong> do Araripe, porém esta UC <strong>de</strong> uso<br />
sustentável não tem sido suficiente para reduzir a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> habitat. Nesse sentido, as ações atuais concentram-se na criação<br />
<strong>de</strong> uma UC <strong>de</strong> Proteção Integral (Refúgio <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong> Silvestre) para a proteção <strong>da</strong>s encostas e as áreas <strong>de</strong> mananciais (com<br />
mais <strong>de</strong> 300 nascentes), conforme já mapeado e discutido com os atores sociais locais <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> espécie.<br />
Com o apoio do Conservation Lea<strong>de</strong>rship Programme está sendo prepara<strong>da</strong> uma proposta <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> para criação <strong>de</strong>sta<br />
Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Parceiros: Ibama (APA Chapa<strong>da</strong> do Araripe e Floresta Nacional do Araripe); Observadores <strong>de</strong> Aves <strong>de</strong> Pernambuco; Bird-<br />
Life/<strong>Brasil</strong>, SAVE; Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará; SESC/Ceará; Prefeitura Municipal do Crato; Ministério do Meio Ambiente;<br />
Fundo Nacional do Meio Ambiente; Conservation Lea<strong>de</strong>rship Programme (antigo BP Conservation Programme);<br />
BirdLife International; Conservation International; Fauna & Flora International; Wildlife Conservation Society; Disney<br />
Wildlife Conservation Fund
Zona costeira <strong>de</strong> Icapuí<br />
Objetivo: promover a conservação do habitat do peixe-boi<br />
marinho e divulgá-lo como um símbolo para a conservação<br />
<strong>da</strong> zona costeira <strong>de</strong> Icapuí, promovendo o uso racional dos<br />
recursos costeiros, o or<strong>de</strong>namento <strong>da</strong> pesca e do turismo.<br />
Espécie guar<strong>da</strong>-chuva: peixe-boi marinho (Trichechus manatus<br />
manatus).<br />
Status <strong>de</strong> conservação: Criticamente Em Perigo (CR).<br />
Estimativa populacional: me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 500 indivíduos na costa<br />
Norte e Nor<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong>.<br />
Ameaças: <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> estuários (especialmente por fazen<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> camarão), per<strong>da</strong> <strong>de</strong> habitat <strong>de</strong> alimentação pela<br />
<strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção dos fundos marinhos (bancos <strong>de</strong> capim-agulha);<br />
captura aci<strong>de</strong>ntal pela pesca <strong>de</strong> arrasto <strong>de</strong> camarão.<br />
Ambiente: águas costeiras (me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 10m <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>)<br />
e estuarinas.<br />
Outros alvos <strong>de</strong> conservação: conjunto <strong>de</strong> aves costeiras<br />
migratórias; espécies ameaça<strong>da</strong>s pela sobreexplotação<br />
(mero, Epinephelus itajara; lagostas, Panulirus spp); conjunto<br />
<strong>de</strong> biota marinha; manguezais; <strong>de</strong>lta <strong>de</strong> maré; serviços<br />
ambientais que mantêm a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira costeira.<br />
Principais ações <strong>de</strong> pesquisa e mobilização: elaboração<br />
<strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>talhados sobre a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> costeira <strong>da</strong><br />
região e propostas <strong>de</strong> gestão ambiental; elaboração <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong> Ação para o peixe-boi marinho na região; resgate e reabilitação <strong>de</strong> filhotes recém-nascidos <strong>de</strong> peixe-boi (a região é<br />
recordista nacional <strong>de</strong> encalhes <strong>de</strong> filhotes, <strong>de</strong>vido à redução <strong>de</strong> habitats <strong>de</strong> reprodução, os estuários); campanhas <strong>de</strong> sensibilização<br />
com pescadores; capacitação <strong>de</strong> agentes ambientais; mobilização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para evitar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sísmica<br />
e perfuração <strong>de</strong> poços <strong>de</strong> petróleo sobre os bancos <strong>de</strong> capim-agulha (5m <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />
Estratégia com Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>: esforços anteriores promoveram a criação <strong>de</strong> duas APAs municipais, porém<br />
sem qualquer manejo e reconhecimento, com pouco interesse <strong>da</strong> gestão municipal e sem resultados significativos para a<br />
conservação. A criação <strong>de</strong> uma Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> fe<strong>de</strong>ral marinha para o litoral leste do Ceará tem sido discuti<strong>da</strong><br />
há muitos a<strong>no</strong>s entre os atores locais e, a partir <strong>de</strong> 2007, com o apoio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Avina, os esforços anteriores estão<br />
sendo sistematizados para a produção <strong>de</strong> uma proposta compatível com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local e os usos a<strong>de</strong>quados dos recursos<br />
costeiros.<br />
Parceiros: CMA/Ibama (Centro Mamíferos Aquáticos); SESC/Ceará; Fun<strong>da</strong>ção <strong>Brasil</strong> Ci<strong>da</strong>dão; Instituto Terramar; Amigos<br />
<strong>da</strong> Prainha do Canto Ver<strong>de</strong>; Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará; Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Icapuí; Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong><br />
Proteção à Natureza.<br />
93
94<br />
Estuário do rio Timonha<br />
Objetivo: promover a conservação do habitat do peixe-boi marinho e divulgá-lo como um símbolo para a conservação do<br />
complexo estuari<strong>no</strong> dos rios Timonha/Ubatuba e Cardoso/Camurupim, promovendo a recuperação dos serviços ecológicos<br />
providos pelos estuários.<br />
Espécie guar<strong>da</strong>-chuva: peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus).<br />
Status <strong>de</strong> conservação: Criticamente Em Perigo (CR).<br />
Estimativa populacional: me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 500 indivíduos na costa Norte e Nor<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong>.<br />
Ameaças: <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> estuários (especialmente por fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> camarão), ocupação <strong>da</strong> linha <strong>de</strong> costa por equipamentos<br />
turísticos e <strong>de</strong> veraneio.<br />
Ambiente: águas costeiras (me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 10m <strong>de</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>) e estuarinas.<br />
Outros alvos <strong>de</strong> conservação: conjunto <strong>de</strong> aves costeiras migratórias; espécies ameaça<strong>da</strong>s pela sobreexplotação (como o<br />
mero, Epinephelus itajara; e o camurupim, Tarpon atlanticus); conjunto <strong>de</strong> biota marinha; manguezais e bancos submersos<br />
<strong>de</strong> fanerógamas; serviços ambientais que mantêm a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira costeira.<br />
Principais ações <strong>de</strong> pesquisa e mobilização: elaboração <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>talhados sobre a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> costeira <strong>da</strong> região<br />
e propostas <strong>de</strong> gestão ambiental; participação <strong>no</strong> Conselho Consultivo <strong>da</strong> APA do Delta do Parnaíba; campanhas <strong>de</strong> sensibilização<br />
com pescadores; a partir <strong>de</strong> 2005, a Fun<strong>da</strong>ção Avina tem apoiado ações na região, atualmente com o fomento à<br />
elaboração <strong>de</strong> um Diagnóstico <strong>da</strong> Pesca na região para subsidiar a criação <strong>de</strong> uma UC <strong>de</strong> Proteção Integral.<br />
Estratégia com Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>: o complexo estuari<strong>no</strong> em questão situa-se <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> APA do Delta do Parnaíba,<br />
na divisa dos estados do Ceará e Piauí. A e<strong>no</strong>rme dimensão <strong>de</strong>sta UC <strong>de</strong> Uso Sustentável dificulta a sua gestão e o
próprio gestor <strong>da</strong> APA recomen<strong>da</strong> a criação <strong>de</strong> uma UC <strong>de</strong> Proteção Integral. Nesse sentido, foi realizado um Diagnóstico<br />
na região e envia<strong>da</strong> uma proposta para criação <strong>de</strong>sta UC junto à Diretoria <strong>de</strong> Ecossistemas (DIREC) do Ibama. Após a<br />
avaliação do pedido <strong>de</strong> criação, foi realiza<strong>da</strong> uma vistoria <strong>de</strong> campo pelo Ibama, recomen<strong>da</strong>ndo a realização <strong>de</strong> estudos<br />
complementares (Diagnóstico <strong>da</strong> Pesca, levantamento fundiário), os quais estão em processo <strong>de</strong> elaboração com o apoio<br />
<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Avina.<br />
Parceiros: APA Delta do Parnaíba/Ibama; CMA/Ibama (Centro Mamíferos Aquáticos); Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará.<br />
Serra <strong>da</strong> Ibiapaba<br />
Objetivo: evitar a extinção do guariba-<strong>da</strong>-caatinga (Alouatta ululata) e divulgá-lo como um símbolo para a preservação <strong>de</strong><br />
áreas pouco <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Ibiapaba.<br />
Espécie guar<strong>da</strong>-chuva: guariba-<strong>da</strong>-caatinga<br />
(Alouatta ululata).<br />
Status <strong>de</strong> conservação: Criticamente<br />
Em Perigo (CR), um dos primatas mais<br />
ameaçados do <strong>Brasil</strong>, endêmico <strong>da</strong> região<br />
Nor<strong>de</strong>ste.<br />
Estimativa populacional: <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>,<br />
apenas alguns pontos <strong>de</strong> ocorrência conhecidos.<br />
Ameaças: caça, per<strong>da</strong> <strong>de</strong> habitat.<br />
Ambiente: matas secas <strong>de</strong> encosta.<br />
Outros alvos <strong>de</strong> conservação: <strong>no</strong>ve<br />
taxons <strong>de</strong> aves ameaça<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Serra <strong>de</strong><br />
Baturité, como o vira-folhas (Sclerurus<br />
scansor cearensis); e o maria-do-<strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste<br />
(Hemitriccus miran<strong>da</strong>e).<br />
Principais ações <strong>de</strong> pesquisa e mobilização:<br />
projeto em seus estágios iniciais<br />
<strong>de</strong> implantação e diag<strong>no</strong>se <strong>da</strong>s principais<br />
ameaças e do estado <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong><br />
espécie; <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> distribuição atual<br />
e conhecimentos básicos <strong>da</strong> biologia<br />
<strong>da</strong> espécie.<br />
Estratégia com Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>:<br />
criação <strong>de</strong> Reservas Particulares e Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>de</strong> Proteção Integral na Serra Ver<strong>de</strong>, um dos<br />
poucos refúgios conhecidos <strong>da</strong> espécie.<br />
Parceiros: CPB (Centro <strong>de</strong> Proteção <strong>de</strong> Primatas <strong>Brasil</strong>eiros/Ibama).<br />
95
96<br />
RESERVA NATURAL SERRA DAS ALMAS:<br />
DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA<br />
Um projeto para a conservação <strong>da</strong> Caatinga<br />
Em setembro e outubro <strong>de</strong> 1996, a TNC realizou reuniões com especialistas para i<strong>de</strong>ntificar áreas prioritárias<br />
para a conservação <strong>da</strong> Caatinga <strong>no</strong> Ceará com base na avaliação <strong>de</strong> material técnico existente (mapas temáticos, fotos<br />
aéreas, imagens <strong>de</strong> satélite e referências bibliográficas) e para a realização <strong>de</strong> um sobrevôo. Incialmente foram indica<strong>da</strong>s 29<br />
áreas conforme critérios <strong>de</strong> representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do bioma Caatinga, biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, presença <strong>de</strong> carnaúba e baixo índice <strong>de</strong><br />
alteração. A realização <strong>de</strong> um sobrevôo permitiu a checagem <strong>da</strong>s informações sobre estas áreas e a priorização <strong>de</strong> sete <strong>de</strong>las,<br />
assim classifica<strong>da</strong>s: três <strong>de</strong> máxima priori<strong>da</strong><strong>de</strong>, duas <strong>de</strong> alta, uma <strong>de</strong> baixa e uma que já era protegi<strong>da</strong>, a Estação Ecológica <strong>de</strong><br />
Aiuaba. Outras quatro áreas foram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como tendo potencial e continuaram <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> seleção caso as <strong>de</strong>mais<br />
não apresentassem bons resultados.<br />
Durante a estação <strong>de</strong> chuvas <strong>de</strong> 1997 foram realizados estudos <strong>de</strong> campo (botânica, solos e aves) nas cinco áreas<br />
<strong>de</strong> maior priori<strong>da</strong><strong>de</strong>, os quais apontaram três <strong>de</strong> maior riqueza. Nestas, os estudos prosseguiram, incluindo contatos com o<br />
Incra (Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária) e setores do gover<strong>no</strong> estadual, sobrevôos e visitas <strong>de</strong> campo<br />
para a <strong>de</strong>finição dos possíveis limites <strong>da</strong>s futuras reservas, cujos resultados elegeram a área <strong>de</strong> Poti Sul na Serra <strong>da</strong> Ibiapaba,<br />
<strong>no</strong> trecho <strong>de</strong><strong>no</strong>minado <strong>de</strong> Serra <strong>da</strong>s Almas, como a primeira priori<strong>da</strong><strong>de</strong> (TNC, 1999).
LIÇÕES E DESAFIOS DE UM MODELO<br />
BRASIL<br />
CEARÁ<br />
Crateús<br />
Associação Caatinga e The Nature Conservancy<br />
RNSA<br />
Localiza<strong>da</strong> <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Crateús,<br />
Ceará, na divisa com o Piauí, a Reserva<br />
Natural Serra <strong>da</strong>s Almas, manti<strong>da</strong> pela<br />
Associação Caatinga e reconheci<strong>da</strong><br />
pelo IBAMA como Reserva Particular<br />
do Patrimônio Natural - RPPN, conta<br />
hoje com 6.146 hectares que abrigam<br />
uma amostra representativa <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> Caatinga.<br />
97
98<br />
A Associação Caatinga<br />
Primeiro com o apoio técnico e financeiro <strong>da</strong> TNC e <strong>de</strong>pois graças a outros apoios e importantes<br />
parcerias estabeleci<strong>da</strong>s, a Associação Caatinga foi se fortalecendo e ampliando sua área <strong>de</strong> atuação<br />
e sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> parceiros. Hoje, além <strong>de</strong> atuar <strong>no</strong> manejo <strong>da</strong> Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas (RNSA),<br />
a Associação também atua em questões sócio-ambientais e conta com um portfólio abrangente <strong>de</strong> projetos<br />
integrados e complementares nas áreas <strong>da</strong> proteção ambiental, apoio à pesquisa, educação ambiental e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Pelo pioneirismo e o impacto positivo dos seus projetos na conservação<br />
do bioma Caatinga, a Associação recebeu reconhecimento público e diversos prêmios: Prêmio Banco Mundial <strong>de</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
(2002), a Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas recebeu o reconhecimento <strong>de</strong> Posto Avançado <strong>da</strong> Reserva <strong>da</strong> Biosfera <strong>da</strong><br />
Caatinga (2005), Prêmio Ambientalista Joaquim Feitosa (2006) e Prêmio Von Martius (2006). Em 2002, a Associação foi<br />
co-realizadora do III Congresso <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>, que aconteceu em Fortaleza, em parceria com a<br />
Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza e <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> Nacional Pró-Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong>. Atualmente, a instituição<br />
está representa<strong>da</strong> em fóruns <strong>de</strong> conservação locais, regionais e nacionais e recentemente foi eleita membro do Conselho <strong>de</strong><br />
Políticas e Gestão do Meio Ambiente do Estado do Ceará.<br />
Processo <strong>de</strong> aquisição <strong>da</strong>s áreas seleciona<strong>da</strong>s<br />
SEDE e CENTRO DE VISITANTES<br />
CENTRO ECOLÓGICO SAMUEL JOHNSON<br />
ESTRADA<br />
AÇUDE<br />
RIACHO<br />
NASCENTE<br />
TRILHAS<br />
A estratégia <strong>de</strong> aquisição <strong>da</strong>s terras adota<strong>da</strong><br />
pela TNC e Associação Caatinga foi <strong>de</strong> construir um<br />
bloco que viabilizasse a existência <strong>da</strong> reserva e que<br />
pu<strong>de</strong>sse, se fosse o caso, ser ampliado <strong>no</strong> futuro. Os<br />
procedimentos incluíram a caracterização <strong>da</strong> situação<br />
<strong>da</strong> área, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sua situação<br />
dominial e um estudo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> terras<br />
<strong>da</strong> região. As negociações foram conduzi<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
forma cui<strong>da</strong>dosa, difíceis <strong>no</strong> início e envolvendo a autorização<br />
<strong>de</strong> colheita <strong>da</strong>s roças a alguns meeiros após a<br />
aquisição <strong>da</strong>s áreas (Brant; Rocha, 2000a).<br />
A proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que permitia a formação do<br />
“bloco” <strong>de</strong> terras continuou em negociação, mas <strong>de</strong>vido<br />
à sobrevalorização e a manutenção <strong>de</strong> critérios para<br />
o estabelecimento do preço final, outras áreas só foram adquiri<strong>da</strong>s posteriormente. Assim, a estratégia adota<strong>da</strong> permitiu<br />
<strong>no</strong>vas ampliações <strong>da</strong> reserva para 5.646 ha e, recentemente, alcançar o objetivo <strong>de</strong> 6.146 hectares, como recomen<strong>da</strong>do pelo<br />
pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo, elaborado em 2001. As escrituras <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram unifica<strong>da</strong>s e o total do processo <strong>de</strong> aquisição<br />
dispen<strong>de</strong>u cerca <strong>de</strong> 800 mil dólares. Ressalta-se que o interesse <strong>de</strong> expansão <strong>da</strong> reserva sobrevalorizou o preço <strong>da</strong>s terras<br />
prioriza<strong>da</strong>s, dificultando <strong>no</strong>vas ampliações (Castro; Reed, 2004).
A Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas foi reconheci<strong>da</strong> como Reserva Particular do Patrimônio Natural, inicialmente,<br />
pela Portaria do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Re<strong>no</strong>váveis (Ibama) <strong>no</strong> 51 <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 2000 (4.750 ha) e, <strong>de</strong>pois, pela Portaria <strong>no</strong> 117 <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002 (494,50 ha), sendo que outros dois<br />
processos tramitam para a inclusão <strong>da</strong>s duas últimas áreas adquiri<strong>da</strong>s.<br />
A Reserva está localiza<strong>da</strong> <strong>no</strong> Sertão dos Inhamuns, <strong>no</strong> Município <strong>de</strong> Crateús (Ceará) e Buriti dos Montes (Piauí)<br />
e seu <strong>no</strong>me é referência à parte <strong>da</strong> serra <strong>de</strong> Ibiapaba on<strong>de</strong> está localiza<strong>da</strong>. Esta região é classifica<strong>da</strong> como <strong>de</strong> alta importância<br />
para a conservação pelo Ministério do Meio Ambiente e abriga uma amostra significativa <strong>da</strong> flora e fauna e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
biológicas do bioma Caatinga.<br />
Constituição e administração do fundo <strong>de</strong> doação<br />
O “endowment” financeiro, que po<strong>de</strong> ser traduzido como um fundo <strong>de</strong> doação, é um investimento que permite<br />
que uma doação <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ou dinheiro feito a uma instituição, grupo ou indivíduo resulte efeitos durante um maior<br />
período <strong>de</strong> tempo. É uma forma <strong>de</strong> manter ações ou suprir necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s contínuas ou <strong>de</strong> longo prazo. Neste investimento a<br />
doação não po<strong>de</strong> ser gasta ou transferi<strong>da</strong>, apenas parte ou o total <strong>de</strong> seus rendimentos po<strong>de</strong> ser utilizado sob <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s<br />
regras e para aten<strong>de</strong>r objetivos específicos(Endowment Selling, 2007).<br />
Esta foi a opção do projeto, que seguiu o <strong>de</strong>sejo e a preocupação pessoal do doador Samuel Johnson com a<br />
sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> futura dos resultados e benefícios gerados com as reservas. A meta<strong>de</strong> dos recursos doados foi aplica<strong>da</strong><br />
<strong>no</strong> fundo, cuja administração é efetua<strong>da</strong> pela TNC e cujo objetivo é auxiliar a manutenção <strong>da</strong> Associação Caatinga e <strong>da</strong><br />
Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas. A gran<strong>de</strong> vantagem do mo<strong>de</strong>lo assumido é a garantia <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Reserva, assegurando<br />
as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cotidianas e permitindo aos gestores <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> uma maior <strong>de</strong>dicação às <strong>de</strong>mais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, essenciais<br />
ao manejo <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. O saldo atual do fundo Samuel Johnson é <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente US$ 2.350.000,00 e permite<br />
um repasse <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 90 mil dólares anuais para a Associação Caatinga, com o objetivo <strong>de</strong> alcançar os 100 mil<br />
dólares por a<strong>no</strong>, em médio prazo.<br />
Resultados e contexto atual <strong>da</strong> Reserva<br />
A Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas é reconheci<strong>da</strong> como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> conservação que é classifica<strong>da</strong> como <strong>de</strong> Uso Sustentável pela Lei do Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong><br />
<strong>da</strong> Natureza (SNUC). Entretanto, a Reserva é maneja<strong>da</strong> como uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> proteção integral <strong>da</strong> categoria<br />
‘parque’, cujo principal objetivo é “a preservação <strong>de</strong> ecossistemas naturais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância ecológica e beleza<br />
cênica”, sendo nela possibilitado “a realização <strong>de</strong> pesquisas científicas e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação e<br />
interpretação ambiental, <strong>de</strong> recreação em contato com a natureza e <strong>de</strong> turismo ecológico” (<strong>Brasil</strong>, 2000).<br />
Os estudos já <strong>de</strong>senvolvidos na área <strong>da</strong> Reserva confirmam a riqueza <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Caatinga. Nas três<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fitofisionômicas dominantes - caatinga, mata seca e carrasco - foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s 419 espécies <strong>de</strong> plantas. Dessas,<br />
99
100<br />
25 são exclusivas do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro, sendo <strong>no</strong>ve <strong>de</strong>las<br />
endêmicas <strong>da</strong> Caatinga e outras quatro são espécies ameaça<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> extinção.<br />
Para a fauna já foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s 76 espécies <strong>de</strong> formigas,<br />
sendo uma rara e três ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>scritas pela ciência,<br />
e 93 espécies <strong>de</strong> aranhas, sendo <strong>no</strong>ve <strong>no</strong>vas espécies, <strong>da</strong>s<br />
quais quatro <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos gêneros. Para a herpetofauna, foram<br />
encontra<strong>da</strong>s 57 espécies, sendo 22 anfíbios, 02 anfisbenas, 19<br />
lagartos, 13 serpentes e um jacaré; índice relativamente alto.<br />
Delas, seis são espécies <strong>no</strong>vas para o Ceará, 16 são restritas<br />
ao Nor<strong>de</strong>ste e uma é endêmica do Estado. A riqueza <strong>da</strong>s aves<br />
na Reserva Serra <strong>da</strong>s Almas impressiona. Do total <strong>de</strong> 510 espécies<br />
conheci<strong>da</strong>s para a Caatinga, 218 foram registra<strong>da</strong>s na<br />
Reserva. Para mamíferos, até o momento, foram registra<strong>da</strong>s<br />
42 espécies, distribuí<strong>da</strong>s em sete or<strong>de</strong>ns, 18 famílias e 38<br />
gêneros.<br />
Na vizinhaça <strong>da</strong> Reserva existem aproxima<strong>da</strong>mente 1.700 famílias. De forma geral, a população apresenta<br />
baixíssimos níveis <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e <strong>de</strong>ficiência <strong>no</strong> acesso a emprego, terra, saú<strong>de</strong>, educação, água trata<strong>da</strong> e saneamento básico.<br />
A principal ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica é a agricultura <strong>de</strong> subsistência, sendo a aposentadoria a principal fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para<br />
muitas famílias, compostas por muitos jovens e adultos analfabetos. Este contexto implica em uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência dos<br />
recursos naturais para obtenção <strong>de</strong> produtos como lenha, carvão, estacas e material para construção, além <strong>de</strong> frutos, plantas<br />
medicinais, mel e carne <strong>de</strong> caça.<br />
A Reserva <strong>de</strong>senvolve ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção, manejo e monitoramento dos recursos naturais, pesquisa, uso<br />
público (visitação), educação ambiental e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>no</strong> entor<strong>no</strong>.<br />
Proteção<br />
As ações <strong>de</strong> proteção vinculam fiscalização e sensibilização <strong>de</strong> moradores do entor<strong>no</strong>, sendo foca<strong>da</strong>s, principalmente,<br />
em caça e queima<strong>da</strong>s. Ambas foram diag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong>s como muito intensas na região e com graves consequências<br />
à conservação <strong>da</strong> natureza na Reserva, sendo foco principal <strong>de</strong> duas estratégias (1 e 2) do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo. São questões<br />
relaciona<strong>da</strong>s a práticas produtivas e <strong>de</strong> subsistência muito comuns na região, sendo, por isso, vincula<strong>da</strong>s a outros projetos<br />
<strong>de</strong>senvolvidos <strong>no</strong> entor<strong>no</strong>, como a implantação <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrossilvipastoris em duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> e o projeto<br />
Apague essa Idéia.<br />
Este projeto <strong>de</strong> prevenção e combate a incêndios florestais é a estratégia (5) do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo e criou uma<br />
briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> combate a incêndios na Reserva, equipando e treinando 30 moradores do entor<strong>no</strong>. Também construiu 32 km <strong>de</strong><br />
aceiros <strong>no</strong> perímetro <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> (parte <strong>da</strong> estratégia 6) e dissemina os resultados <strong>de</strong> duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>monstrativas agrossil-
vipastoris na região e sensibiliza moradores <strong>de</strong> 12 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> sobre as queima<strong>da</strong>s controla<strong>da</strong>s, os prejuízos e<br />
perigos <strong>da</strong>s queima<strong>da</strong>s e incêndios florestais.<br />
Os quatro guar<strong>da</strong>-parques <strong>da</strong> reserva se revezam em ron<strong>da</strong>s periódicas <strong>de</strong> fiscalização, contudo, com resultados<br />
me<strong>no</strong>s efetivos por não terem “po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia”. Para contornar esta dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, os guar<strong>da</strong>-parques mapeiam e georeferenciam<br />
os locais com vestígios <strong>de</strong> caçadores e, com o apoio do Ibama e <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong> Policiamento Ambiental do<br />
Ceará, atuam <strong>no</strong>s locais <strong>de</strong> maior evidência <strong>de</strong> caça, o que já permitiu realizar flagrantes <strong>de</strong> caçadores. Atualmente, o gerente<br />
<strong>da</strong> reserva atua junto à promotoria <strong>de</strong> Crateús para que os próximos caçadores presos em flagrante na Reserva sejam<br />
enquadrados por crime ambiental oferecendo uma punição exemplar que <strong>de</strong>verá funcionar como medi<strong>da</strong> educativa <strong>no</strong><br />
sentido <strong>de</strong> coibir esse tipo <strong>de</strong> prática, funcionando <strong>de</strong> forma complementar às ações <strong>de</strong> sensibilização e educação ambiental<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pela equipe <strong>da</strong> Reserva <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003. De forma complementar também, a pedido <strong>da</strong> Associação<br />
Caatinga, a Polícia Fe<strong>de</strong>ral realizou uma semana <strong>de</strong> trabalhos sobre porte ilegal <strong>de</strong> armas <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva(Bensusan,<br />
2007 com complementações).<br />
Manejo e monitoramento dos recursos naturais<br />
O pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong>finiu três estratégias para o manejo dos recursos naturais, uma <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> áreas<br />
<strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s e duas para o controle <strong>de</strong> espécies exóticas, recomen<strong>da</strong>ndo tipos <strong>de</strong> ambientes e espécies para ca<strong>da</strong> e uma série<br />
<strong>de</strong> ações para o monitoramento dos recursos naturais <strong>da</strong> Reserva.<br />
A estratégia (7) <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
já i<strong>de</strong>ntificou, marcou e numerou 82 árvores matrizes <strong>de</strong><br />
espécies nativas para a coleta anual <strong>de</strong> sementes, que acontece<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004. As sementes são utiliza<strong>da</strong>s para a produção<br />
<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s viveiros <strong>da</strong> se<strong>de</strong> e do Centro Ecológico Samuel<br />
Johnson, sendo também parte do projeto 50.000 Carnaúbas.<br />
As mu<strong>da</strong>s são utiliza<strong>da</strong>s para a recuperação <strong>de</strong> áreas<br />
na Reserva e <strong>no</strong> entor<strong>no</strong>, como nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cabaças<br />
e <strong>no</strong> Assentamento Xavier em integração com os projetos<br />
<strong>de</strong> eco-<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>senvolvidos na região. Como resultado,<br />
várias áreas antes <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s já se encontram em<br />
processo <strong>de</strong> recuperação natural intermediária e avança<strong>da</strong><br />
(Bensusan, 2007 com complementações).<br />
A estratégia (8) <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> espécies vegetais exóticas ao longo <strong>de</strong> cursos d’água, principalmente <strong>de</strong> mangueiras,<br />
tem alcançado poucos êxitos com as experiências <strong>de</strong> anelamento e controle anual <strong>de</strong> proliferação. Um <strong>no</strong>vo projeto<br />
piloto <strong>de</strong> pesquisa foi elaborado e já está em execução, visando o controle <strong>da</strong> proliferação <strong>de</strong> mangueiras ao longo do riacho<br />
Melancias e a avaliação <strong>de</strong> qual técnica é mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para sua substituição gradual por espécies nativas, cujos resultados<br />
serão replicados em outras áreas. Esta ação também consi<strong>de</strong>ra a paisagem e o micro-habitat para diversas espécies criados<br />
pelas mangueiras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte ao longo do córrego (Bensusan, 2007 com complementações).<br />
101
102<br />
O controle <strong>de</strong> abelhas exóticas visa evitar a competição com abelhas nativas, aves e peque<strong>no</strong>s mamíferos por<br />
ocos <strong>de</strong> árvore para ninhos e alimento. Esta é a estratégia (9) do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo que ain<strong>da</strong> não foi implementa<strong>da</strong> <strong>de</strong>vido à<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> executá-la em áreas muito extensas e infesta<strong>da</strong>s, como é o caso <strong>da</strong> Reserva. Complementarmente, o projeto <strong>de</strong><br />
eco-<strong>de</strong>senvolvimento em execução <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> prevê o incentivo à meliponicultura (produção <strong>de</strong> mel com espécies nativas)<br />
nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cabaças e Xavier (Bensusan, 2007 com complementações).<br />
Pesquisa<br />
A Reserva possui um programa <strong>de</strong> pesquisa organizado e orientado pelo seu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo para, <strong>de</strong>ssa forma,<br />
contribuir com o manejo mais eficiente <strong>da</strong> área. Este documento <strong>de</strong>finiu um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> pesquisa e recomendou quatro linhas<br />
prioritárias, o que foi executado e aprimorado, havendo atualmente <strong>no</strong>rmas que especificam linhas prioritárias <strong>de</strong> pesquisa<br />
e critérios para avaliação <strong>da</strong>s propostas.<br />
Des<strong>de</strong> então, estudos foram <strong>de</strong>senvolvidos na Reserva, como: caracterização <strong>da</strong>s três fitofisio<strong>no</strong>mias (caatinga,<br />
carrasco e mata seca) realiza<strong>da</strong> pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará; levantamentos <strong>da</strong> avifauna pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual<br />
do Ceará; projeto do milênio e projeto PELD realizados pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará e apoiados pelo CNPq; avaliação<br />
do impacto <strong>da</strong> Reserva na percepção ambiental <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelona (em<br />
an<strong>da</strong>mento); análise <strong>da</strong>s variações <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Caatinga para suporte a estratégias regionais <strong>de</strong> conservação -BIO-<br />
CAAT com a coor<strong>de</strong>nação técnica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará e apoiado pelo Projeto <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> e Utilização<br />
Sustentável <strong>da</strong> Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Biológica <strong>Brasil</strong>eira (Probio) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que realizou AER <strong>no</strong>s<br />
a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 2003/2004; diagnóstico sócio-ambiental <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva e Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento Local<br />
Sustentável <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cabaças e Assentamento Xavier, pelo Instituto Sesemar; monitoramento <strong>de</strong> mamíferos<br />
e feli<strong>no</strong>s, pela Associação Caatinga, além do levantamento <strong>da</strong>s espécies nativas <strong>da</strong> Caatinga na Reserva com potencial<br />
olfativo do Projeto Plantas do Futuro (Bensusan, 2007 com complementações).<br />
Visitação<br />
Atualmente, a Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas possui duas estruturas <strong>de</strong> atendimento aos visitantes, resultados<br />
<strong>da</strong> estratégia (16) do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo, que previa a elaboração <strong>de</strong> um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> visitação, totalmente executado. O centro <strong>de</strong><br />
visitantes foi construído na região central <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, na parte <strong>da</strong> serra, junto à se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Reserva. O mesmo é composto por<br />
um alojamento para 18 pessoas, cozinha, refeitório, laboratório, escritório, área <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e uma área para exercícios ao<br />
ar livre. Em suas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, foram construí<strong>da</strong>s três trilhas ecológicas.<br />
A outra estrutura é o Centro Ecológico Samuel Johnson, inaugurado em outubro <strong>de</strong> 2006. Situa-se <strong>no</strong> ambiente<br />
<strong>de</strong> Caatinga (sertão) e mais próximo <strong>de</strong> Crateús. Dispõe <strong>de</strong> energia elétrica convencional. É composto por auditório com<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para 16 pessoas, cozinha, refeitório, um laboratório, boa estrutura <strong>de</strong> apoio para pesquisadores e viveiro para a
produção <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>s. Esta estrutura foi cria<strong>da</strong> para funcionar como Centro <strong>de</strong> Difusão Ambiental atuando na capacitação <strong>de</strong><br />
técnicos e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em boas práticas ambientais para a conservação e uso sustentável <strong>da</strong> Caatinga. Dele se acessam duas<br />
trilhas, sendo que uma <strong>de</strong>las liga o centro à se<strong>de</strong> <strong>da</strong> reserva e proporciona uma bela vista <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong>s Almas (Associação<br />
Caatinga, 2007).<br />
A Reserva possui <strong>no</strong>rmas para a visitação e condutores <strong>de</strong> trilhas treinados para acompanhar os visitantes nas<br />
trilhas que oferecem diferentes graus <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005, mais <strong>de</strong> 1.600 pessoas visitaram a Reserva, na<br />
maioria estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s escolas vizinhas (mais <strong>de</strong> 800). Em 2006 o perfil já começou a se ampliar, abrangendo também moradores<br />
do entor<strong>no</strong>, participantes <strong>de</strong> grupos organizados, participantes <strong>de</strong> cursos e parceiros <strong>da</strong> Reserva (Bensusan, 2007 com<br />
complementações). A visitação escolar tem sido promovi<strong>da</strong> na região através <strong>da</strong> capacitação <strong>de</strong> professores <strong>da</strong> re<strong>de</strong> local<br />
que busca mobiliz∑a-los para que utilizem a Reserva como laboratório vivo nas aulas <strong>de</strong> campo junto aos seus alu<strong>no</strong>s.<br />
Desenvolvimento sustentável <strong>no</strong> entor<strong>no</strong><br />
O histórico <strong>da</strong> reserva (Castro; Reed, 2004) mostra um processo gradual e positivo <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações<br />
junto ao entor<strong>no</strong>. Incialmente, as ações foram mais volta<strong>da</strong>s para o “lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> cerca”, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> viabilizar as<br />
condições mínimas <strong>de</strong> administração, logística, manutenção e preservação <strong>da</strong> Reserva. Nesta fase, as ações junto ao entor<strong>no</strong><br />
se limitavam a contatos informais e esporádicos com os vizinhos, principalmente em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> ações organiza<strong>da</strong>s e<br />
volta<strong>da</strong>s ao entor<strong>no</strong>, a carência <strong>de</strong> informações e a insuficiência <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s e financeiros, agravados pelo tamanho<br />
<strong>da</strong> área e dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso.<br />
Principalmente <strong>no</strong> início <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> Reserva e mesmo com os cui<strong>da</strong>dos tomados <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> compra<br />
<strong>da</strong> área, que incluiu o prazo para que os meeiros colhessem seus cultivos antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixarem as áreas, a Reserva foi critica<strong>da</strong><br />
por ter sido responsável pela ‘expulsão’ dos moradores <strong>da</strong>s áreas. Isto aconteceu porque com a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> proprietário<br />
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104<br />
e, portanto <strong>da</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> área para conservação, os moradores tiveram que se transferir para outras proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
rurais <strong>da</strong> região, geralmente dos mesmos proprietários que ven<strong>de</strong>ram as áreas para a Associação Caatinga. Além disso, o<br />
fato do projeto ser financiado por ‘pessoas <strong>de</strong> fora’ e o esquecimento <strong>de</strong> armadilhas <strong>de</strong> campo por pesquisadores envolvidos<br />
<strong>no</strong>s primeiros diagnósticos <strong>da</strong> Reserva, levantaram questionamentos e <strong>de</strong>sconfiança sobre os propósitos <strong>de</strong> preservação, dificultando<br />
a aproximação. Em <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2001, foi realiza<strong>da</strong> uma audiência pública na Câmara <strong>de</strong> Vereadores <strong>de</strong> Crateús,<br />
quando a Associação Caatinga respon<strong>de</strong>u a diversos questionamentos e apresentou <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente o projeto <strong>da</strong> Reserva, seus<br />
objetivos e ações previstas.<br />
Percebi<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho mais próximo com o entor<strong>no</strong>, o que foi bastante discutido internamente,<br />
inclusive <strong>de</strong>vido aos impactos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s (gado, caça, fogo) <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelos seus moradores sobre a reserva, iniciouse<br />
a expansão <strong>da</strong>s ações ‘abrindo as porteiras’. Assim, concomitante ao processo <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção física <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, foram<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ações específicas para o entor<strong>no</strong>, direciona<strong>da</strong>s à educação ambiental e ao <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável.<br />
A partir <strong>da</strong>í, foi elaborado um diagnóstico rural participativo, aprofun<strong>da</strong>ndo o estudo sócio-econômico, i<strong>de</strong>ntificando<br />
atores sociais e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas potenciais, viáveis e compatíveis com a conservação <strong>da</strong> Reserva para iniciar o<br />
<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável integrado para o entor<strong>no</strong>.<br />
De 2000 a 2006, a Associação Caatinga vem mu<strong>da</strong>ndo a sua política e trabalho com o entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva. A<br />
ampliação do portfólio <strong>de</strong> projetos e investimentos atuais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma visão sócio-ambiental é parte do esforço em <strong>de</strong>senvolver<br />
um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong>monstra o amadurecimento <strong>de</strong> sua atuação. Entre 2004 e 2006, foram aprovados vários<br />
projetos para investimento e incentivo <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong>, como: Projeto Bons Vizinhos, Projeto Natureza Jovem,<br />
Apague essa Idéia, Manejo Sustentável <strong>da</strong> Caatinga, o Consórcio Social <strong>da</strong> Juventu<strong>de</strong> Rural e o projeto <strong>de</strong> eco<strong>de</strong>senvolvimento,<br />
brevemente <strong>de</strong>scritos a seguir. Isto <strong>de</strong>monstra o compromisso <strong>da</strong> Reserva com o <strong>de</strong>senvolvimento local e, atualmente,<br />
sua função é auxiliar as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s áreas piloto a viabilizarem seus projetos locais, o que já está em <strong>de</strong>senvolvimento<br />
através dos processos <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> projetos e na busca <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas parcerias.<br />
Bons Vizinhos: o programa <strong>de</strong> educação ambiental foi iniciado como a realização do primeiro seminário sobre<br />
o meio ambiente em Crateús, seguido <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> uma comissão <strong>de</strong> educação ambiental para planejar e dirigir ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> educação ambiental e <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> capacitação para formar professores ‘multiplicadores-monitores’ <strong>da</strong>s escolas <strong>no</strong><br />
entor<strong>no</strong>. O programa contínuo <strong>de</strong> visitação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong>s escolas; o acompanhamento e assistência aos professores<br />
‘multiplicadores-monitores’ na promoção <strong>de</strong> educação ambiental e projetos ambientais nas escolas; a formação <strong>de</strong> condutores<br />
<strong>de</strong> trilhas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>; a visitação <strong>de</strong> outros grupos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> à reserva; encontros e reuniões nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do<br />
entor<strong>no</strong> para apresentar e discutir o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo; oficinas com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para tratar <strong>de</strong> temas prioritários para a conservação<br />
<strong>da</strong> Reserva e seu entor<strong>no</strong>; programa <strong>de</strong> rádio local ‘Minuto do Meio Ambiente’; teatro <strong>de</strong> rua, fantoche, campanhas<br />
e eventos especiais em <strong>da</strong>tas comemorativas; capacitação <strong>de</strong> grupos comunitários e associações; além <strong>de</strong> exposições sobre<br />
espécies ameaça<strong>da</strong>s <strong>da</strong> fauna e flora <strong>da</strong> Caatinga. O programa contou com recursos do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo e apoio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />
O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza.<br />
Natureza Jovem-Protetores <strong>da</strong> Serra: o projeto realiza oficinas informativas sobre diversos<br />
temas (sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, AIDS, drogas, alcoolismo, importância <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> Caatinga), cursos <strong>de</strong> capacitação (asso-
ciativismo e empreen<strong>de</strong>dorismo) e dissemina técnicas <strong>de</strong> arte, como<br />
rádio, teatro e artesanato em papel machê. Tanto os eventos (teatro<br />
e <strong>da</strong>nça) como o artesanto (peças <strong>de</strong> papel machê) são fontes alternativas<br />
<strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para os participantes do projeto. O projeto busca<br />
mobilizar os jovens <strong>da</strong> zona rural <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva a envolverem-se<br />
nas questões ambientais e contribui para a inclusão social e<br />
econômica <strong>de</strong>les. A primeira experiência foi inicia<strong>da</strong> com 120 jovens<br />
e concluiu em 2006 com 70, pois muitos <strong>de</strong>les já alcançaram os 18<br />
a<strong>no</strong>s e/ou se mu<strong>da</strong>ram <strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O projeto atuou em cinco comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do entor<strong>no</strong> e tem proposta <strong>de</strong> continuar e expandir sua<br />
atuação para outras seis comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>pois sete comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, contando com a participação dos jovens capacitados<br />
na primera etapa. O projeto contou <strong>no</strong> início com recursos do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo e do projeto Bons Vizinhos, apoiado pela<br />
Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza. Depois, recebeu apoio do Instituto Unibanco por dois a<strong>no</strong>s e foi agraciado<br />
com o prêmio Von Martius em 2006.<br />
Consórcio Social <strong>da</strong> Juventu<strong>de</strong> Rural realizou oficinas <strong>de</strong> capacitação e <strong>de</strong> formação<br />
pessoal com o objetivo <strong>de</strong> promover a inserção <strong>de</strong> jovens nas áreas do entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho. Apóia<br />
projetos <strong>de</strong> avicultura em duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong> horticultura em outras duas. Seu foco é a formação pessoal e qualificação<br />
profissional <strong>de</strong> jovens entre 16 e 24 a<strong>no</strong>s do meio rural, tendo apoio <strong>de</strong> dois programas do gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral: o Programa<br />
Nacional do Primeiro Emprego, do Ministério do Trabalho e do Emprego, e o Programa Nacional do Crédito Fundiário,<br />
do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O projeto partiu <strong>da</strong> articulação do Instituto Aliança, organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
civil. Na região, o projeto é li<strong>de</strong>rado pela Associação Caatinga, e foi iniciado em setembro <strong>de</strong> 2006 com 75 jovens, dos<br />
quais 40 participantes do Natureza Jovem.<br />
Projeto Manejo Sustentável <strong>da</strong> Caatinga iniciado em 2004 e estratégia (4) do pla<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong> manejo, promove ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>monstrativas agrossilvipastoris em duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> <strong>da</strong><br />
reserva com o objetivo <strong>de</strong> retirar as queima<strong>da</strong>s do sistema <strong>de</strong> produção dos agricultores locais e estimular práticas sustentáveis,<br />
melhorando as condições <strong>de</strong> solo e <strong>de</strong> produção. É <strong>de</strong>senvolvido em parceria com a Embrapa Capri<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Sobral,<br />
que oferece assistência técnica e <strong>de</strong>senvolve tec<strong>no</strong>logia a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> às condições do semi-árido, <strong>de</strong> baixo custo e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s<br />
à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos agricultores familiares. Na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Queima<strong>da</strong>s e <strong>no</strong> assentamento Xavier os agricultores aplicam<br />
as boas práticas em campo, comparando-as com as técnicas tradicionais e possibilitando uma discussão construtiva sobre<br />
o sistema produtivo, abrangendo questões como produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, proteção do solo e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os resultados ain<strong>da</strong><br />
são iniciais visto que transformar a prática tradicional é um processo lento e gradual, <strong>no</strong>rmalmente só alcançado <strong>no</strong> longo<br />
prazo.<br />
Apague Essa Idéia este projeto <strong>de</strong>senvolvido em 2005 e 2006 teve como objetivo estabelecer um<br />
programa <strong>de</strong> prevenção e combate a incêndios florestais na Reserva e seu entor<strong>no</strong> imediato, contando com o apoio do<br />
Fundo Nacional do Meio Ambiente e <strong>da</strong> Embaixa<strong>da</strong> dos Países Baixos. O projeto promoveu a realização <strong>de</strong> oficinas <strong>de</strong><br />
sensibilização junto aos agricultores e seus filhos, em 12 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong> e sobre queima<strong>da</strong> controla<strong>da</strong>, impacto<br />
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106<br />
<strong>de</strong> incêndios florestais e sistemas <strong>de</strong> produção alternativos. Também assegurou a aquisição <strong>de</strong> equipamentos para a briga<strong>da</strong><br />
voluntária <strong>da</strong> RPPN e a implantação <strong>de</strong> um aceiro em to<strong>da</strong> a circunferência <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, como previsto <strong>no</strong><br />
pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo. O projeto também apoiou o processo <strong>de</strong> elaboração dos Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Desenvolvimento Local Sustentável<br />
(PDLS) <strong>de</strong> Cabaças e do assentamento Xavier.<br />
Pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Desenvolvimento Local Sustentável (PDLS) esta estratégia<br />
(3) do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo, foi inicia<strong>da</strong> em 2003 com o diagnóstico <strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cabaças e do assentamento Xavier (áreas<br />
piloto). Esta ação <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou o apoio <strong>da</strong> Associação à elaboração dos PDLS <strong>de</strong>ssas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, com a contratação do<br />
Instituto Sesemar, ONG que assessora agricultores familiares, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> março e maio <strong>de</strong> 2006. Os pla<strong>no</strong>s foram elaborados<br />
<strong>de</strong> forma participativa e entregues às duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em outubro <strong>de</strong> 2006, quando se realizou uma oficina participativa<br />
para a elaboração <strong>de</strong> um projeto com base nas priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s levanta<strong>da</strong>s. A proposta final foi aprova<strong>da</strong> pelo Programa<br />
<strong>de</strong> Eco<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção O Boticário <strong>de</strong> Proteção à Natureza com o <strong>no</strong>me: Desenvolvimento Sócio-Ambiental<br />
<strong>da</strong>s Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cabaças e Assentamento Xavier <strong>no</strong> Entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas <strong>no</strong> Semi-Árido do<br />
Ceará.<br />
Desenvolvimento Sócio-Ambiental <strong>da</strong>s Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cabaças<br />
e Assentamento Xavier <strong>no</strong> Entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva Natural Serra<br />
<strong>da</strong>s Almas <strong>no</strong> Semi-Árido do Ceará tem por objetivo implementar as ações prioritárias do<br />
pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local sustentável (PDLS) na locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cabaças e assentamento Xavier, <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> <strong>da</strong> Reserva<br />
Natural Serra <strong>da</strong>s Almas. Visa contribuir para a conservação dos recursos naturais locais, a recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alternativas sustentáveis <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e o incremento na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s duas comu-
ni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Especificamente, busca a promoção do planejamento ambiental participativo e <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s áreas prioritárias<br />
para a conservação e recuperação; a capacitação dos produtores rurais em boas práticas <strong>de</strong> conservação do solo e gestão dos<br />
recursos hídricos, em recuperação e uso sustentável <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gra<strong>da</strong><strong>da</strong>s e em implantação <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> produção alternativos;<br />
o incentivo e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sustentáveis e <strong>de</strong> baixo impacto que gerem ren<strong>da</strong>; e do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> reflorestamento e recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> Reserva Legal e matas ciliares nas duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s piloto.<br />
Projeto 50 Mil Carnaúbas visa produzir 50 mil mu<strong>da</strong>s <strong>de</strong> carnaúbas e 15 mil <strong>de</strong> outras espécies<br />
nativas principalmente para reflorestar as matas ciliares nas áreas do projeto <strong>de</strong> eco<strong>de</strong>senvolvimento <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> e para<br />
que os municípios arborizem suas áreas urbanas, bem como para reflorestar algumas áreas <strong>da</strong> Reserva. Mu<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ste projeto<br />
serão utiliza<strong>da</strong>s num projeto <strong>de</strong> arborização urbana <strong>de</strong> Crateús, que está sendo <strong>de</strong>senvolvido em parceria com a Prefeitura local.<br />
Também é objetivo do projeto, <strong>no</strong> futuro, oferecer mu<strong>da</strong>s nativas para o mercado local e regional para a proteção e recuperação<br />
dos recursos hídricos (nascentes e matas ciliares), funcionando como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> geradora <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para a Reserva.<br />
Mapeamento <strong>de</strong> Solos e Cobertura Vegetal Atual <strong>da</strong> Reserva e<br />
Entor<strong>no</strong> foi concluído em junho <strong>de</strong> 2007 <strong>no</strong> âmbito do projeto <strong>de</strong> implementação do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Manejo <strong>da</strong> Reserva<br />
e direcionará futuras pesquisas em conservação <strong>de</strong> fragmentos vegetacionais, auxiliará nas pesquisas em an<strong>da</strong>mento com<br />
feli<strong>no</strong>s <strong>da</strong> Caatinga, auxiliará na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> fragmentos florestais bem conservados servindo <strong>de</strong> base para o fomento <strong>da</strong><br />
criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas RPPN <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> ampliando a conectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> na paisagem.<br />
A estratégia adota<strong>da</strong> pela Reserva ao longo do tempo foi investir na boa vizinhança, <strong>no</strong>s serviços ambientais<br />
oferecidos pela área, como o fornecimento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> suas três nascentes, e <strong>no</strong>s projetos sócio-ambientais já iniciados. As<br />
iniciativas <strong>de</strong> educação ambiental e melhores práticas, como também a <strong>de</strong> visitação, têm resultado em um ótimo relacionamento<br />
com comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do entor<strong>no</strong>, constantemente avaliado <strong>no</strong> planejamento mensal efetuado pela equipe <strong>da</strong> Reserva.<br />
Os projetos em <strong>de</strong>senvolvimento e o fomento <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> baixo impacto e uso sustentável dos recursos ain<strong>da</strong><br />
são localizados, porém, a estratégia é estabelecer um cinturão agro-ecológico pela ação integra<strong>da</strong> dos diversos projetospiloto<br />
do entor<strong>no</strong> e, em longo prazo, implementar um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento integrado para a região. Des<strong>de</strong> 2005, o<br />
investimento dos projetos <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> é superior ao investimento na manutenção e gestão <strong>da</strong> Reserva. O Centro Ecológico<br />
Samuel Johnson funcionará como centro <strong>de</strong> difusão ambiental para disseminar boas práticas <strong>de</strong> conservação e uso sustentável<br />
<strong>da</strong> Caatinga, com base nas experiências exitosas <strong>de</strong>sses projetos. Assim, <strong>da</strong> mesma forma como as ações com o entor<strong>no</strong><br />
foram integra<strong>da</strong>s e intensifica<strong>da</strong>s <strong>no</strong> processo contínuo <strong>de</strong> implementação <strong>da</strong> reserva, esta estratégia irá aliar-se a métodos<br />
<strong>de</strong> planejamento <strong>da</strong> paisagem (RPPN, reservas legais e áreas <strong>de</strong> preservação permanente <strong>no</strong> entor<strong>no</strong>) para estabelecer corredores<br />
e reduzir o isolamento do ambiente natural <strong>da</strong> Reserva.<br />
Ao longo dos a<strong>no</strong>s, a Associação Caatinga vem consoli<strong>da</strong>ndo na Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas um mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> conservação para a Caatinga, baseado numa visão <strong>de</strong> integração <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação com as priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento local sustentável. Nesta abor<strong>da</strong>gem a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação assume um papel importante na dinâmica do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento local, em que a área protegi<strong>da</strong> contribui para a melhoria <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> através do fomento a práticas<br />
<strong>de</strong> conservação e uso sustentável nas áreas do entor<strong>no</strong> e do investimento social, contribuindo para a redução <strong>da</strong> pressão<br />
ambiental sobre a área e para o estabelecimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> confiança e cooperação com as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais.<br />
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108<br />
Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> Reserva Natural Serra<br />
<strong>da</strong>s Almas, relacionando os diferentes projetos<br />
em an<strong>da</strong>mento.<br />
Vários foram os <strong>de</strong>sdobramentos positivos atuais do <strong>de</strong>senvolvimento do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> Caatinga<br />
implementado na Reserva. Ela teve papel <strong>de</strong>cisivo e <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança na criação <strong>da</strong> Associação Asa Branca dos proprietários<br />
<strong>de</strong> RPPN do Ceará, Piauí e Maranhão e a articulação <strong>da</strong> mesma com o movimento nacional coor<strong>de</strong>nado pela Confe<strong>de</strong>ração<br />
Nacional <strong>de</strong> RPPN. A Associação Caatinga pelo trabalho pioneiro <strong>de</strong> conservação na Serra <strong>da</strong>s Almas foi uma <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>doras<br />
do Comitê Estadual <strong>da</strong> Reserva <strong>da</strong> Biosfera <strong>da</strong> Caatinga do Ceará e foi i<strong>de</strong>alizadora <strong>da</strong> Aliança <strong>da</strong> Caatinga, em parceria<br />
com a TNC. A Aliança foi instituí<strong>da</strong> oficialmente em 2007, é inspira<strong>da</strong> <strong>no</strong> sucesso e impactos positivos <strong>da</strong> parceria entre as<br />
duas instituições na implementação <strong>da</strong> Reserva e po<strong>de</strong>rá servir <strong>de</strong> referência aos futuros processos <strong>de</strong> criação e gestão <strong>de</strong><br />
RPPN na Caatinga. A Aliança representa uma articulação institucional forma<strong>da</strong> por oito instituições comprometi<strong>da</strong>s com a<br />
conservação <strong>da</strong> Caatinga e visa ampliar e consoli<strong>da</strong>r a conservação neste bioma. Atualmente, a Associação Caatinga está<br />
replicando a sua experiência <strong>de</strong> gestão na Reserva, através <strong>da</strong> implementação do projeto <strong>de</strong> elaboração do pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo<br />
<strong>da</strong> RPPN Ambientalista Francy Nunes na Caatinga do Ceará, que será a segun<strong>da</strong> RPPN do Estado a ter o seu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />
manejo.<br />
COMITÊ ESTADUAL<br />
RBCAA<br />
CINTURÃO<br />
AGROECOLÓGICO<br />
MODELO DE CONSERVAÇÃO<br />
PLANO<br />
DE MANEJO<br />
ICMS ECOLÓGICO<br />
DO CEARÁ<br />
VISITAÇÃO<br />
MANEJO<br />
ECOLÓGICO<br />
DA MAMONA<br />
PDLS DAS COMUNIDADES<br />
DO ENTORNO<br />
INCENTIVO ÀS<br />
RPPN<br />
FORTALECIMENTO DAS<br />
RPPN DA CAATINGA<br />
PROJETO NATUREZA<br />
JOVEM - PROTETORES<br />
DA SERRA<br />
BRIGADA<br />
VOLUNTÁRIA<br />
PLANO<br />
INTEGRADO<br />
DE PESQUISA<br />
CAPACITAÇÃO<br />
E EDUCAÇÃO<br />
AMBIENTAL
Lições do processo <strong>de</strong> implementação<br />
Em me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s, a implementação <strong>da</strong> Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas já concretizou várias etapas essenciais<br />
para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação: a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> terra, a <strong>de</strong>claração oficial, o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo que<br />
inclui a análise <strong>da</strong>s ameaças à biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o pessoal mínimo capacitado, infra-estrutura volta<strong>da</strong> ao manejo e às funções<br />
<strong>da</strong> categoria <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, manutenção a longo prazo (fundo <strong>de</strong> doação), ONG responsável pelo manejo e capaz <strong>de</strong> captar<br />
recursos, <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> linhas e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisa, programa <strong>de</strong> treinamento e capacitação, ações <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> que<br />
envolvem educação ambiental e melhores práticas para mitigar os efeitos <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s ameaças à conservação <strong>da</strong><br />
reserva, além <strong>da</strong> implementação do uso público principalmente voltado à estu<strong>da</strong>n<strong>de</strong>s <strong>da</strong> região e <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> monitoramento<br />
dos recursos naturais. Neste processo, vale <strong>de</strong>stacar que algumas experiências e metodologias <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pela Associação<br />
Caatinga na gestão <strong>da</strong> Reserva Natural <strong>de</strong> Serra <strong>da</strong>s Almas po<strong>de</strong>m ser aplica<strong>da</strong>s em outras RPPNs e mesmo em outras<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação públicas.<br />
- Processo <strong>de</strong> seleção <strong>da</strong>s áreas: foi utilizado um método simples e rápido, fun<strong>da</strong>mentado em critérios técnicos<br />
<strong>de</strong> relevância ecológica e integri<strong>da</strong><strong>de</strong> do ambiente natural. O resultado é constantemente confirmado pelas pesquisas<br />
efetua<strong>da</strong>s na Reserva, que evi<strong>de</strong>nciam a riqueza <strong>de</strong> sua biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
- Estratégia <strong>de</strong> aquisição: foram i<strong>de</strong>ntificados “blocos <strong>de</strong> terras” que viabilizassem a conformação <strong>da</strong> reserva<br />
ao longo do tempo, ou seja, a ampliação <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> inicia<strong>da</strong> a aquisição <strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s áreas. No caso <strong>de</strong> Serra <strong>da</strong>s Almas, o<br />
processo foi positivo e permitiu alcançar a configuração e o tamanho <strong>de</strong>sejados.<br />
- Programa <strong>de</strong> pesquisa voltado ao manejo: tem auxiliado a Reserva na obtenção <strong>de</strong> informações importantes<br />
para o monitoramento dos recursos naturais e controle <strong>de</strong> espécies exóticas, monitoramento <strong>de</strong> caça e feli<strong>no</strong>s, em<br />
que a pesquisa já é uma ação <strong>de</strong> manejo.<br />
- Programa <strong>de</strong> treinamento/estágio: po<strong>de</strong> ser replica<strong>da</strong> em outras RPPN e uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação públicas.<br />
Po<strong>de</strong>ria ser estabelecidos programas <strong>de</strong> apoio por instituições <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e pesquisa, em colaboração com órgãos <strong>de</strong><br />
fomento à pesquisa (CNPq e as fun<strong>da</strong>ções estaduais <strong>de</strong> amparo a pesquisa), para oferecer uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bolsa ao recém-graduado<br />
ou pós-graduado para possibilitar sua participação em treinamento ou estágio, com período pré-<strong>de</strong>terminado,<br />
oferecido e sob responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação. O programa po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r diferentes tipos bolsas, como<br />
estudos e <strong>de</strong> trabalho, e em diferentes temas, como: gestão <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, monitoramento <strong>de</strong> recursos naturais, controle <strong>de</strong><br />
exóticas, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com o entor<strong>no</strong> (a<strong>da</strong>ptado <strong>de</strong> Bensusan, 2007).<br />
- Pla<strong>no</strong> manejo: o primeiro pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo dispen<strong>de</strong>u me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> um a<strong>no</strong> para a sua elaboração e foi direcionado à<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> alvos para conservação e à redução <strong>de</strong> suas ameaças, resultando em um documento conciso, objetivo e voltado<br />
ao alcance <strong>de</strong> resultados. Certamente, merece aprimoramento, mas algo que não impediu que sua execução alcançasse<br />
importantes êxitos na consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
- O entendimento do entor<strong>no</strong>: a análise <strong>da</strong>s ameaças aos alvos <strong>de</strong> conservação, efetua<strong>da</strong> <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo,<br />
evi<strong>de</strong>nciou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> para proteger recursos e o sistema natural <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong><strong>da</strong> a existência<br />
<strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s impactantes, como caça e queima<strong>da</strong>s para plantio. Por isso, além <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção, foram propostas<br />
estratégias <strong>de</strong> sensibilização <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s sobre a importância <strong>da</strong> conservação e incentivo a práticas produtivas <strong>de</strong><br />
109
110<br />
me<strong>no</strong>r impacto <strong>no</strong> entor<strong>no</strong>.<br />
As primeiras intervenções foram tími<strong>da</strong>s e para respon<strong>de</strong>r a questionamentos <strong>da</strong> população do entor<strong>no</strong> e, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> percebi<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aproximação, foram iniciados projetos piloto em algumas <strong>de</strong> suas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e, atualmente,<br />
o investimento em projetos <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> é maior que <strong>de</strong>ntro dos limites <strong>da</strong> Reserva.<br />
A atuação é <strong>de</strong> integrar estes projetos para reduzir as ameaças e, em longo prazo, incrementar os indicadores<br />
ambientais e sociais <strong>no</strong> entor<strong>no</strong>, fortalecendo a colaboração <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s na proteção e influenciando na melhoria <strong>da</strong><br />
condição <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> suas populações. Indo mais além e <strong>da</strong> mesma forma como as ações com o entor<strong>no</strong> foram integra<strong>da</strong>s e<br />
intensifica<strong>da</strong>s ao processo contínuo <strong>de</strong> implementação <strong>da</strong> reserva, a estratégia é possibilitar, em longo prazo, um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento integrado para o entor<strong>no</strong> e região e promover um <strong>no</strong>vo <strong>de</strong>senho <strong>da</strong> paisagem, diminuindo o isolamento <strong>da</strong><br />
Reserva.<br />
- Integração <strong>de</strong> diferentes níveis <strong>de</strong> planejamento: a execução integra<strong>da</strong> do planejamento estratégico<br />
institucional como o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo <strong>da</strong> reserva e sua aplicação na rotina mensal <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> tem se mostrado exitosa.<br />
Isto po<strong>de</strong> ser verificado tanto na ampliação do leque <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> Associação Caatinga sem prejuízo, ou melhor, com<br />
adição <strong>de</strong> valor, às ações <strong>da</strong> Reserva. Até setembro <strong>de</strong> 2007 estará concluí<strong>da</strong> a avaliação e revisão do Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> Manejo que<br />
permitirá a <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas estratégias e metas para a Reserva até 2011.<br />
- Programa <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> recursos para manutenção <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação:<br />
o Programa Adote 1 hectare é uma idéia comum e bem sucedi<strong>da</strong> em outros países, po<strong>de</strong>ndo inspirar outras formas <strong>de</strong> contribuição<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação (Bensusan, 2007). Inclusive, é uma forma <strong>de</strong> divulgar e disseminar<br />
a importância <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> natureza e do papel <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, bem como, um mecanismo para que a<br />
população compreen<strong>da</strong>, se aproprie e se envolva em prol <strong>da</strong> real implementação <strong>de</strong>ssas áreas.<br />
- Criação <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va ONG para o manejo <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>: a criação e estabelecimento <strong>de</strong> uma<br />
associação com objetivo <strong>de</strong> conservar a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Caatinga, inicialmente por meio do manejo <strong>da</strong> Reserva Natural<br />
Serra <strong>da</strong>s Almas, foi uma iniciativa ousa<strong>da</strong> e extremamente positiva. Em me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve a<strong>no</strong>s, a Associação Caatinga já alcançou<br />
várias etapas <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Reserva, administrando e executando seu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> manejo, bem como<br />
captando recursos para estas ações e <strong>no</strong>vos projetos <strong>de</strong> conservação e melhores práticas <strong>de</strong> manejo dos recursos naturais <strong>da</strong>
Caatinga, obtendo muitos êxitos.<br />
O planejamento institucional e sua execução permitiram que a Associação conquistasse sua in<strong>de</strong>pendência financeira pela<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> recursos para seus projetos e progredisse para uma autação na conservação do bioma, além <strong>da</strong><br />
fronteira <strong>da</strong> Reserva. Já consquistou espaço e reconhecimento <strong>no</strong> Ceará e <strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste e começa a atuar <strong>no</strong> Piauí e em vários<br />
fóruns <strong>da</strong> região, tendo como principal objetivo “estabelecer-se como centro <strong>de</strong> referência na conservação <strong>da</strong> Caatinga até<br />
2011. Este resultado reforça a importância <strong>no</strong> incremento na quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil<br />
envolvi<strong>da</strong>s com a proteção <strong>da</strong> Caatinga e <strong>de</strong> mitigar a fragmentação extrema <strong>de</strong>sse bioma, o que também se relaciona com<br />
a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> biológica <strong>da</strong> Reserva (Bensusan, 2007).<br />
- A administração <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>: uma rápi<strong>da</strong> comparação entre <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Reserva Serra <strong>da</strong>s Almas e outras<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação públicas <strong>de</strong> proteção integral fe<strong>de</strong>rais e estaduais (Grupo <strong>de</strong> trabalho sobre sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> financeira<br />
do Fórum Nacional <strong>de</strong> Áreas Protegi<strong>da</strong>s) do mesmo porte, mostra algumas pequenas diferenças. O número <strong>de</strong><br />
funcionários na Reserva é só um pouco superior à média <strong>da</strong>quelas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (um gerente ou técnico especializado, quatro<br />
guar<strong>da</strong>s-parque um técnico <strong>de</strong> projetos e dois administrativos), contudo possui mais equipamentos (um carro e três motocicletas,<br />
comparado a média <strong>de</strong> apenas um carro) e gasta me<strong>no</strong>s rercursos para sua manutenção (R$ 45,00 por hectare ao<br />
a<strong>no</strong>, enquanto a média <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, R$ 69,00, valor que inclui os custos <strong>de</strong> manuteção <strong>de</strong> um conselho consultivo, não<br />
existente na Reserva). Além disto, a maior parte <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas não possui as condições <strong>de</strong> infra-estrutura mínima<br />
ao manejo nem realiza o mesmo grau <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> Reserva. Assim, po<strong>de</strong>-se afirmar que há uma melhor eficiência na<br />
administração dos recursos <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong>s Almas, o que certamente se acentuará se os tempos <strong>de</strong> existência também forem<br />
comparados.<br />
- Criação <strong>de</strong> um fundo <strong>de</strong> doação para a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> mínima <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>: sem<br />
dúvi<strong>da</strong>, uma imensa diferença na Reserva é a existência do fundo <strong>de</strong> doação (endowment), que assegura recursos para<br />
seu funcionamento básico e, com isso, gera um imenso benefício. Esta garantia mínima permite que seu pessoal dispen<strong>da</strong><br />
esforço e tempo para a captação <strong>de</strong> recursos para <strong>no</strong>vos projetos, algo precioso muitas vezes dispendido para a manutenção<br />
básica. O fundo é essencial para garantir a in<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e possibilitar a captação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos recursos, contudo,<br />
afirmar que sua existência seria a única causa <strong>da</strong> gestão melhora<strong>da</strong> seria muito simplista.<br />
Uma consi<strong>de</strong>ração importante e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> influência para o alcance <strong>de</strong> resultados mais eficientes na administração<br />
<strong>da</strong> Reserva <strong>de</strong>ve estar relaciona<strong>da</strong> à forma <strong>de</strong> implementação, que é executa<strong>da</strong> por projetos. A própria uni<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />
resultado <strong>de</strong> um projeto e sempre atuou com pla<strong>no</strong>s e projetos, administrando ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, prazos e resultam em prestação<br />
<strong>de</strong> contas técnicas e financeiras periódicas aos seus gestores e doadores. Analisando suas ações, percebe-se a promoção <strong>de</strong><br />
<strong>no</strong>vas idéias e sempre um caminho progressivo para <strong>no</strong>vos projetos. Da mesma forma, quem alcança bons<br />
resultados em um projeto tem mais facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir apoio para outros. Assim, além<br />
do fundo, é muito importante salientar que o apoio e impulso inicial <strong>de</strong><br />
um projeto po<strong>de</strong> ser uma gran<strong>de</strong> vantagem, tanto pela disponibilização<br />
<strong>de</strong> recursos para a implementação básica, como pelo aprendizado em<br />
gerenciamento por resultados em conservação. Também vale ressaltar<br />
que na estratégia <strong>de</strong> criação <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> é importante<br />
avaliar-se a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong> fundo vinculado à área a<br />
partir dos recursos <strong>da</strong> criação contribuindo <strong>de</strong>sta forma para a manutenção<br />
e sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> área protegi<strong>da</strong>.<br />
111
112<br />
Fragili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>no</strong>vos <strong>de</strong>safios<br />
Um dos maiores e mais difíceis <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> Reserva e <strong>de</strong> todo sistema <strong>de</strong> conservação é a fragmentação <strong>de</strong> seus<br />
ambientes naturais e a insularização <strong>de</strong> suas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Os processos sistêmicos, geradores e mantenedores <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
não estão restritos aos limites <strong>de</strong> uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m também <strong>de</strong> uma integri<strong>da</strong><strong>de</strong> mínima com o resto <strong>da</strong> paisagem,<br />
situação agrava<strong>da</strong> pelas perspectivas <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças climáticas. Para as RPPN esta questão é ain<strong>da</strong> mais complexa, visto<br />
que, <strong>no</strong>rmalmente, suas áreas por serem bem me<strong>no</strong>res que as <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação públicas. Ao tratar <strong>de</strong>ste nível,<br />
percebemos a fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema. Entretanto, se verificarmos a real situação <strong>da</strong> Caatinga, a perspectiva é muito mais<br />
otimista.<br />
Atualmente, a Caatinga possui me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 600 mil hectares ou 1% <strong>de</strong> sua extensão protegi<strong>da</strong> por uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação<br />
<strong>de</strong> proteção integral (Ibama, 2007). As RPPN já compreen<strong>de</strong>m cerca <strong>de</strong> 65 mil hectares do bioma, o equivalente a<br />
8% <strong>da</strong> área do total <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação nesse bioma (Bensusan, 2007). Muitas vezes, as RPPN po<strong>de</strong>m ‘adicionar’<br />
para o conjunto <strong>de</strong> áreas públicas, aumentando a conservação em áreas adjacentes, promovendo pesquisas e disseminando<br />
idéias e alternativas. Um levantamento sobre o papel <strong>da</strong>s RPPN (Pinto et al, 2006 apud Bensusan, 2007) mostrou que as<br />
mesmas efetuam contribuições relevantes à proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Sem dúvi<strong>da</strong>, neste seu pouco tempo <strong>de</strong> existência, a Reserva Natural Serra <strong>da</strong>s Almas já fez e apren<strong>de</strong>u muito.<br />
Agora, o maior <strong>de</strong>safio é continuar o processo <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção aprimorando o manejo e a conservação na área <strong>da</strong> Reserva,<br />
concomitante à busca <strong>de</strong> resultados efetivos <strong>da</strong>s ações <strong>no</strong> entor<strong>no</strong> para a ampliação do cinturão agro-ecológico e a consoli<strong>da</strong>ção<br />
do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> conservação em construção. Captar recursos para a Caatinga não é tarefa fácil, visto ser este o bioma<br />
<strong>no</strong>rmalmente ‘colocado em segundo pla<strong>no</strong>’. A região enfrenta problemas graves <strong>de</strong> pobreza e carência <strong>de</strong> infra-estrutura e<br />
serviços básicos. O mercado ain<strong>da</strong> não valoriza a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente os serviços <strong>da</strong> natureza. O país apresenta pouca efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
na organização e promoção do ecoturismo, serviços tão importantes para a efetivação <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, sensibilização<br />
<strong>da</strong> população e transformação para uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais sustentável. O setor privado ain<strong>da</strong> é muito tímido em<br />
iniciativas i<strong>no</strong>vadoras e efetivas <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s social e ambiental. Em suma, as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os <strong>de</strong>safios<br />
são sempre e<strong>no</strong>rmes quando o caminho passa por mu<strong>da</strong>nças econômicas, políticas, culturais e <strong>de</strong> comportamento.<br />
Singular <strong>no</strong> início, técnica e efetiva <strong>no</strong> processo, a história <strong>de</strong> Serra <strong>da</strong>s Almas permitiu o alcance <strong>de</strong> importantes<br />
resultados para a conservação <strong>da</strong> Caatinga e é um bom exemplo que po<strong>de</strong> ser aproveitado e a<strong>da</strong>ptado <strong>no</strong> caminho <strong>de</strong> outras<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s à efetiva conservação <strong>da</strong> natureza.
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Relatório final. TNC : Brasília.<br />
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Relatório final. TNC : Brasília.<br />
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Fe<strong>de</strong>ral e institui o Sistema Nacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Conservação</strong> <strong>da</strong> Natureza e dá outras providências.<br />
Castro, C. R., Reed. P. G. 2004. Reserva Particular do Patrimonio Natural Serra <strong>da</strong>s Almas: etapas na criação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
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TNC. s/d. Biografia – Samuel Curtis Johnson (Sam). Documento inter<strong>no</strong> <strong>da</strong> TNC: Brasília (mimeo.).<br />
113
A Re<strong>de</strong> Marinho-Costeira e Hídrica do <strong>Brasil</strong> reúne 36 lí<strong>de</strong>res apoiados pela AVINA.<br />
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www.amarribo.org.br<br />
Fre<strong>de</strong>rico Brandini - (41) 3455-1333 r-224 / 9196-8646 / 3455-110 - brandini@ufpr.br - www.marbrasil.org<br />
Gilberto Sales - (48) 3233-4031 (casa) / (48) 9149-7429/ (48) 3236-2015 (trab) - gilsales@tamar.org.br - www.tamar.org.br<br />
Heloisa Dias - (11) 6232-5728 (trab) (11)9977-8499/(27)9941-8954 (11)6262-1010/6203-1802 (casa) - helodias@uol.com.br - helocnrbma@uol.com.br<br />
www.rbma.org.br/<br />
João Bosco Carbogim - (85) 3261- 3673/ 3242-5757/ 3264-0156 - boscocarbogim@promosell.com.br<br />
João Suassuna - (81) 3441-5900 ramal 284/9128-6672/ 3268-0303 / 3442-3312 - josu@fun<strong>da</strong>j.gov.br - www.fun<strong>da</strong>j.gov.br<br />
José Augusto Saraiva Peixoto - (71)8815-5460 3321-3672/2201-8342 - j.a.saraiva@ig.com.br<br />
José Martins <strong>da</strong> Silva Jr. - (81)3619-1295/(81) 9945-0144 - rotador@golfinhorotador.org.br - www.golfinhorotador.org.br<br />
José Roberto Cal<strong>da</strong>s Pinto - 71)9155-0779 / 3633-1824 / 3633-4259 / 3633-1752 - zepromar@hotmail.com - zepescador@gmail.com - www.promar.org.br<br />
José Tru<strong>da</strong> Palazzo Jr. - (48) 9973-0977/3255-2922 - Brazilian_wildlife@terra. com.br - info@baleiafranca.org.br - www.baleiafranca.org.br<br />
Leinad Carbogim - (85)9909-5959 / 3268-2778 / 3261-3673 - leinad@webcabo.com.br - www.brasilci<strong>da</strong><strong>da</strong>o.org.br<br />
Luciana <strong>da</strong> Silva - (81)91366784 / 3466-8324 (casa) - ludomanguezal@gmail.com - ludomangue@hotmail.com<br />
Luiz Roberto Santos Moraes - (71) 3203-9783 / 3329-1237 - moraes@ufba.br - www.eng.ufba.br<br />
Mabel Augustowski - (12) 3832-4149 / (12) 8121-1616 (12) 3842-2484 (casa) - mabelaug@uol.com.br<br />
Manuel Sanches - (21)9384-0896 - mps@ccard.com.br msanches@alumni.ksg.harvard.edu<br />
Marcos Campolim - (13)8125-9860/3851-1660(casa) (13)3851-1163-1108 (parque) 3851-1201 - marcoscampolim@yahoo.com.br<br />
Marcia Engel - (71) 3676-1463 / 9972-2464 / 81278964/ 9715-6075 - m.engel@terra.com.br - www.baleiajubarte.com.br<br />
Maria Ângela Azevedo Guagni Dei Marcovaldi - (71) 3676-1020 / 9982-0382/9198-0270 - neca@tamar.org.br - www.tamar.org.br<br />
Mauro Mai<strong>da</strong> - (81)3676-2901/9262-7681/ 3676-1437/3676-1310/3676-2901 (81)9915-8088 (Beatrice) - mauro.mai<strong>da</strong>@ibama.gov.br -<br />
www.recifescosteiros.org.br/<br />
Miguel Mila<strong>no</strong> - (41) 3340-2650/9995-9903 - mila<strong>no</strong>@fun<strong>da</strong>caoboticario.org.br - www.fun<strong>da</strong>caoboticario.org.br<br />
Padre Josafá Carlos <strong>de</strong> Cirqueira - (21) 3114-1463/3114-1120 - josafa@geo.puc-rio.br - www.puc-rio.br/<br />
Renato Pêgas Paes <strong>da</strong> Cunha - (71) 3240-6822/ 9983-2871/ 3342-0925 (casa) - gamba@gamba.org.br - renato@gamba.org.br rppcunha@terra.com.br<br />
www.gamba.org.br/<br />
René Scharer - (88) 3413-1426 (casa) (85) 3226-4154/3226-2476 - fishnet@uol.com.br - www.terramar.org.br/<br />
Severi<strong>no</strong> Soares Agra Filho - (71) 3203-9793/3332-5339 (casa) - severi<strong>no</strong>@ufba.br - www.eng.ufba.br<br />
Sezifredo Paulo Alves Paz - (11) 9181-7455 (41) 3329-2526 - sezi@matrix.com.br - www.i<strong>de</strong>c.org.br<br />
Silva<strong>no</strong> Silvério <strong>da</strong> Costa - (11) 6472-5302(Trab) (11)9914-1852 - silva<strong>no</strong>costa@saaeguarulhos.sp.gov.br - www.assemae.org.br/<br />
Soraya Tupinambá - (85) 3226-2476 / 3226-4154 3247-6042 / 8816-9216 - vanini@fortalnet.com.br - vanini@terramar.org.br - www.terramar.org.br/<br />
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